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contabilidade rural

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TRN/TITULO 
1/1 
BR 3300023 
 
E15/B/M/V 
CARNEIRO, J.; CARNEIRO. E. 
TRATADO DE CONTABILIDADE V. 3. CONTABILIDA-
DE RURAL 
 
2. ED. 
[NP] (BRAZIL) 
1933 228 P. (PT) 
ADMISTRAÇÃO RURAL; CONTABILIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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T R A T A D O 
 
DE 
 
C O N T A B I L I D A D E 
 
POR 
 
J U V E N A L C A R N E I R O 
 
E 
 
E R Y M A C A R N E I R O 
 
 
Diretor da Contabilidade do Estado de Minas; 
advogado; Professor de Contabilidade 
 
 
 
 
 
VOLUME III 
 
 
 
CONTABILIDADE RURAL 
 
 
 
2.ª EDIÇÃO 
 
 
 
1 9 3 3 
 
CALVINO FILHO 
 
E D I T O R 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
I CAPITULO 
 
 
DA CONTABILIDADE 
RURAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LIÇÃO I 
 
 
Da Contabilidade Rural 
 
Sumario: — Conceito. Contabilidade Rural ou Agraria. 
Sua extensão. 
 
DA CONTABILIDADE RURAL 
 
Contabilidade Rural é a especialisação da Contablida- 
de que se ocupa dos atos e fatos administrativos das empre- 
zas rurais. 
Estabelecimentos rurais ou agrarios são todos aqueles 
que são localisados nos campos e que têm por fim a explora- 
ção das terras (agricultura stricto-sensu) ou a creação de 
animais (pecuaria). 
A Contabilidade Rural, de acôrdo com a nossa divisão 
da Contabilidade (1) póde ser Publica ou Privada. Geral- 
mente é Privada, pois que os estabelecimentos agrarios são 
via de regra instituições particulares. Quando se tratar, 
porém, de empreza agraria publica, isto é, emprezas rurais 
do governo (fazendas modelos, campos de sementes, de ex- 
perimentação, etc.) a Contabilidade aí aplicada será consi- 
derada publica. 
 
DA CONTABILIDADE RURAL OU AGRARIA 
 
A Contabilidade Rural, tambem é denominada Agra- 
ria. Outros preferem dar-lhe a denominação de Contabili- 
dade Agricola. Principalmente os autores da lingua por- 
 
 
 
 
(1) Ver “Tratado de Contabilidade”, vol. I, 2ª. edição, Rio de 
Janeiro, 1929, pag. 31. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
— 22 — 
 
tugueza. Essa ultima expressão porém não a julgamos 
perfeitamente clara. 
A expressão Contabilidade Agricola não nos dá uma 
idéa bem nitida da compreensão enorme deste vasto ramo 
da ciencia contabilistica. As expressões agricola, agricul- 
tura, comquanto designem o objeto de estudo, mais parti- 
cularisam um dos ramos da vida rural, que é a cultura dos 
campos. Pelo menos este é o sentido etímologico da palavra. 
Contrariamente: As expressões contabilidade Rural e 
Contabilidade Agraria compreendem muito mais amplamen- 
te o movimento dos estabelecimentos rurais, todas as diver- 
sas modalidades de emprezas que têm por fim ora a cultura 
dos campos, ora a creação de animais e ainda a transforma- 
ção de alguns produtos do campo em novas utilidades (in- 
dustrias rurais). 
Por Contabilidade Agricola podemos entender a que se 
ocupa das operações atinentes aos estabelecimentos rurais 
sómente dedicados á cultura (lavoura) dos campos (Agri- 
cultura propriamente dita). Ao passo que pela expressão 
Rural ou ainda Agraria tanto se compreende aquela como a 
Contabilidade Pastoril ou Creacional e as diversas indus- 
trias rurais. 
Deste modo apurando-se bem o sentido dessas expres- 
sões poderemos formular as seguintes conclusões: 
a) Por Contabilidade Agraria ou Rural entende-se o 
estudo da Contabilidade aplicada a todos e quaisquer estabe- 
lecimentos dos campos. 
b) Por Contabilidade Agricola entender-se-á a aplica- 
da ás operações das pequenas aziendas rurais que se dedi- 
cam concomitantemente á creação (de animais, aves, etc.), e 
a cultura dos campos (fazendas mixtas). 
c) Por Contabilidade Pastoril ou Creacional compreen- 
der-se-á a aplicada ás emprezas rurais que têm por fim a 
creação de animais. 
d) Por Contabilidade Cultural entende-se a que se ocupa 
das operações dos estabelecimentos que têm por fim a cultura 
dos campos (lavoura). 
Deste modo pensamos bem claro deixar o sentido das 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
— 23 — 
 
diversas expressões empregadas neste livro, não mais dando 
azo a confusões. 
 
DA EXTENSÃO DA CONTABILIDADE RURAL 
 
Pelo exposto notamos a estensão vastissima que abran- 
ge a Contabilidade Rural. Ela compreende todos os estabele- 
cimentos agrarios, todas as emprezas subordinadas á vida 
rural, tais como fazendas de plantação e creação, estancias, 
industrias rurais, cooperativas e sindicatos agrarios, bancos e 
caixas rurais, etc. Tem pois uma importancia indiscutivel; 
um papel multiforme e vasto. Principalmente em paizes 
agrarios como o são os do Novo-Mundo e muito especialmen- 
te o Brasil. 
Vê-se logo, pois, que o estudo deste ramo da Contabili- 
dade é complexo. E, para que bem estudado e mais clara e 
amplamente fique este assunto, dividimos o presente trabalho 
em tres partes, estudando na primeira as noções fundamen- 
tais e indispensaveis de Contabilidade Rural — bem como 
noções imprescindiveis de Economia Agraria — e as princi- 
pais questões que interessam ao estudo contabilistico das em-
prezas rurais. 
Na Parte II estudaremos as emprezas pastorís (Conta- 
bilidade Pastoril). 
Na Parte III estudaremos os estabelecimentos agrarios 
culturais. 
Estas duas ultimas partes se ocuparão tão sómente dos 
principios especiais a cada uma delas. 
 
 
 
LIÇÃO II 
 
Da Contabilidade Rural 
 
(Continuação) 
 
Sumario — Objéto e fins. Necessidade e vantagens. Escritu- 
ração Rural. Requisitos ecenciais. Objeções. Refutações. 
 
DO OBJETO E FINS DA CONTABILIDADE RURAL 
 
O papel da Contabilidade Rural — como de toda a cien- 
cia contábil — é sobremodo saliente. Ela não é só necessaria 
sob o ponto de vista economico e administrativo mas tambem 
moral. A bôa ordem e regularidade são elementos de real 
importancia em toda administralção. E é a Contabilidade 
quem melhor nos fornece os meios necessarios para conse- 
guir aqueles requisitos. 
Anotando tudo o que se ocorre com as diversas empre- 
zas agrarias, a Contabilidade Rural nos apresenta ao mesmo 
tempo: 
a) O estado economico, juridico e financeiro da azien- 
da agricola ao começar o exercicio, isto é, os valores existen- 
tes, os débitos e créditos, e o movimento de numerário. 
b) As modificações operadas pelos fátos administrati- 
vos realisados (aumento, diminuição ou transformação de 
valores) 
e) A demonstração de quais foram as contas afetadas 
pela gestão administrativa e em que consistiram essas trans- 
formações. 
d) O resultado de cada objéto da exploração rural, bem 
como o seu resultado final (lucro ou prejuizo). 
 
DA NECESSIDADE E VANTAGENS DA CONTABI- 
LIDADE RURAL 
 
Pelo que dito ácima ficou, uma Contabilidade Agraria 
bem organisada nos demonstra a vida evolutiva da empreza 
administrada. Por isso é de enormes vantagens. Mas é im- 
prescindivel que a contabilisação dos fatos da entidade ad- 
— 25 — 
 
ministrada seja realizada com perfeito conhecimento não só 
técnico, como da empreza. Principalmente em se tratando 
de estabelecimentos agrarios onde os fátos administrativos 
oriundos, são os mais diversos e complexos. 
A Contabilidade Agraria demonstrando-nos o movi- 
mento dos estabelecimentos rurais é pois, de indiscutivel ne- 
cessidade. Ela é a unica apta a nos demonstrar quais series 
de operações nos darão lucros, quais no-los não darão, bem 
como a proporção destes em cada caso especial. Desse modo 
ela orienta o fazendeiro ministrando-lhe as informações in- 
dispensaveis para a produtividade de sua empreza. E este po- 
derá facilmente encontrar os remedios para curar as suas 
doenças administrativas. Mas, sem Contabilidadea sua 
gestão permanecerá aeria. E os prejuizos serão inevitaveis. 
E a debacle final como resultante da descontabilização, quer 
dizer, da incerteza de negocios. 
 
DA ESCRITURAÇÃO RURAL 
 
Como parte integrante e indispensavel a toda Contabi- 
lidade, a Escrituração, que nada mais é do que o registro dos 
fatos administrativos de uma azienda, a arte de escrever em 
bôa ordem nos livros apropriados todas as transações efe- 
tuadas, a Escrituração tem papel importante na demonstra- 
ção prática dos resultados das gestões das emprezas rurais. 
Por isso é de grande necessidade estudarem-se os diversos 
métodos de registração contábil, afim de se poder escolher o 
que melhor se coadune com a natureza das diversas empre- 
zas agrarias. 
Como uma das partes mais importantes da Contabilida- 
de, a Escrituração deve obedecer a uma concepção essencial- 
mente prática e eficaz. Para isto o estudo que iremos fazer 
adiante dos métodos de escrituração, das contas, livros, etc. 
nos demonstração claramente o caminho a adotar. 
 
DOS REQUISITOS PARA UMA BÓA CONTA-
BILIDADE RURAL 
 
A organização perfeita de um sistema contábil a seguir, 
é questão essencial para a administração e não é das mais fa- 
— 26 — 
 
ceis. Primeiro que tudo, o contador precisará conhecer per-
feitamente a situação da empreza afim de poder classificar 
os diversos elementos segundo a verdadeira técnica contabi- 
listica. A classificação dos capitais agrarios deverá ser tra- 
balho bem cuidado afim de que não dê margem a duvidas e 
não origine ambiguidade de técnica. Após a classificação 
dos capitais, o conceito cientifico de contas, para a sua uni- 
forme registração, bem como a classificação indispensavel 
dos livros de registro. Devem-se evitar os livros inuteis que 
só servem para aumentar o trabalho de contabilidade. 
Outra questão importantissima em Contabilidade Agra- 
ria é a fixação do exercicio agricola. Este poderá variar para 
maior ou menor espaço de tempo, conforme a necessidade 
dos diversos fatores que influem na produtividade da empre- 
za rural. 
Além desses requisitos que devem sempre ser bem es- 
clarecidos, outros ha de menor importancia e que surgem 
com a necessidade de cada caso isolado. 
 
OBJEÇÕES A’ CONTABILIDADE RURAL 
 
Diversas têm sido as objeções opostas a adoção da Con- 
tabilidade Rural nas fazendas. Comquanto a elite dos agri- 
cultores já tenha sentido a necessidade de uma perfeita Con- 
tabilidade para o registro do movimento das aziendas agra- 
rias, muitos fazendeiros ainda vacilam, por uma questão es- 
treita de rotina, a contabilizar os atos referentes ás suas 
aziendas agrarias. (1) 
Todas as objeções que usualmente se têm levantado, pó- 
dem ser reduzidas a duas ordens: (2) 
a) Alegam uns a extensão das operações rurais: e ar- 
gumentam que a complexidade dessas operações não permi- 
te uma contabilisação perfeita dos fatos das aziendas 
agrarias. 
 
 
 
(1) Tornou-se conhecida a expressão “agrario” como sinonimo 
de retrogrado, atrazado. 
(2) Ernesto Marenghi “Lezioni di Contabilitá Agraria”. Milane, 
1922, pag. 5. 
— 27 — 
 
b) Outros alegam a ignorancia em que vive o homem do 
campo. 
Ambas essas objeções não são brasileiras como á pri- 
meira vista se poderá pensar. São de todos os paizes em que 
já se tem feito sentir a necessidade da Contabilidade Agraria. 
 
REFUTAÇÃO ÁS OBJEÇÕES ANTERIORES 
 
Hoje não mais pódem subsistir essas objeções. No es- 
tado atual da nossa cultura contábil não mais se deve admi- 
tir que uma pessôa possuindo certos conhecimentos práticos 
da vida economica, comercial, as aceite de bôa fé. 
A ignorancia não póde ser de nenhum modo motivo de 
excusa. A Contabilidade é hoje uma ciencia constituida e 
difundida. E, se os homens dos campos, os responsaveis pela 
nossa economia rural não possuem o seu conhecimento, im- 
ponha-se-lhes. Na ignorancia é que não pódem nem devem 
ficar, para o seu e o bem geral, e para melhor regulamenta- 
ção da nossa produção. Sem Contabilidade nenhuma admi- 
nistração poderá alegar a seu favor presumção de honesti- 
dade. 
Finalmente: Os principios da Contabilidade hodierna 
são aplicaveis a quaisquer aziendas. Desde o menor patrimo- 
nio domestico ao mais extenso patrimonio bancario, publico, 
industrial, mercantil ou rural, a Contabilidade satisfaz, com 
os seus principios e normas infaliveis, á perfeita regularisa- 
ção da administração. 
A extensão da empreza rural não impede a perfeita 
Contabilidade. Se fosse questão de complexidade dos fa- 
tos administrativos realisados seria impossivel a existencia 
da Contabilidade Publica. 
Tudo depende de ordem e de saber contabilisar. 
Pelo exposto, cáem por terra os dois pontos de ataque 
dos inimigos da Contabilidade que são tambem os inimigos 
da ordem e da lealdade nos negocios, (3) pois que sem Con- 
tabilidade nunca haverá ordem nem administração. 
 
 
 
 
3 — Marenghi chama á primeira objeção ácima de objetiva 
(ostacoli oggetivi) e á segunda subjetiva (ostacoli soggettivi): Loc. cit. 
 
— 28 — 
 
LIÇÃO IV 
 
Da Contabilidade Rural 
 
(Continuação) 
 
Sumario: — Divisão da Contabilidade Rural. Divisão de 
D. Santos 
 
DA DIVISÃO DA CONTABILIDADE RURAL 
 
A especialisação das tarefas é um dos caracteristicos da 
bôa ordem, regularidade e perfeição. Assim, devemos tam- 
bem dividir o estudo da Contabilidade Rural para a sua me- 
lhor compreensão. Essa divisão póde ser feita sob varios 
aspétos, variando de acôrdo com o ponto de vista sob o qual 
a encararmos. 
Para nós a melhor classificação, a fundamental, é a que 
divide o estudo da Contabilidade Agraria segundo a natureza 
das operações realisadas na empreza a que é aplicada. Deste 
modo, a Contabilidade Rural póde ser: 
a) Cultural. 
b) Pastoril ou Creacional. 
c) Agricola ou Mixta. 
Como sabemos ja, pelo que dito ficou, a Contabilidade 
Cultural é a que cuida das fazendas de cultura dos cam- 
pos, (lavoura). 
A Contabilidade Pastoril ou Creacional se refere ás 
operações dos estabelecimentos rurais destinados á criação de 
animais. 
Denominamos Contabilidade Rural Mixta á que e fei- 
ta nas fazendas que tanto cuidam de lavoura como de cria- 
ção de animais. Este é o nosso mais comum tipo de aziendas. 
Como dissemos, as emprezas rurais compreendem tam- 
bem as industrias rurais, cooperativas e sindicatos, caixas 
rurais, etc.; mas a contabilidade destas aziendas deve ser 
efetuada segundo os principios da Contabilidade Industrial 
para as primeiras, segundo os ensinamentos da Contabilida- 
 
 
— 29 — 
 
de Mercantil e Bancaria para as ultimas, sempre de acôrdo 
com a natureza das operações de cada uma e as modificações 
sugeridas pelas necessidades da Contabilidade Rural. 
 
DA DIVISÃO DA CONTABILIDADE RURAL 
SEGUNDO D. SANTOS 
 
Desejando particularisar ainda mais as diversas varie- 
dades de emprezas rurais poderemos de acôrdo com a clas-
sificação de D. Santos (1) dividir tanto a Contabilidade Pas- 
toril quanto a Cultural nas tres classes seguintes: 
a) Exclusiva. 
b) Dominante. 
c) Mixta. 
A Contabilidade Rural (Pastoril ou Cultural) é exclu- 
siva quando é aplicada a emprezas agrarias que têm por fim- 
uma unica ordem de operações: 
E’ Dominante a Contabilidade Agraria (Cultural ou 
Pastoril), quando ela se ocupa dos estabelecimentos rurais 
em que uma serie de fatos administrativos é mais frequente 
que as demais. 
Contabilidade Rural Mixta. é a em que não ha predomi- 
nio nem exclusividade de determinadas ordens de opera- 
ções. (2). 
Como é claro, a mais facil de todas estas é a Contabili- 
dade Rural Exclusiva, por se ocupar com uma unica ordem 
deelementos economicos Não ha, porém, para essas tres 
classes da Contabilidade Agraria principios caracteristicos e 
especiais. 
Sob o ponto de vista contábil, a divisão que mais inte- 
ressa é a que apresentamos no parágrafo anterior. 
 
 
 
 
(1) “Contabilidade Agricola, S. Paulo. Empreza Editora Brasileira, 
pag.20. 
(2) Ver lição VII onde melhor esclarecemos este assunto. 
 
— 30 — 
 
LIÇÃO V 
 
Da Contabilidade Rural 
 
(Continuação) 
 
Sumario: — Estudo da Contabilidade Rural. No Brasil. 
Historico. Literatura nacional sobre Contabilidade Agraria. 
 
DO ESTUDO DA CONTABILIDADE RURAL 
 
Já fartamente demonstrámos a necessidade da Conta- 
bilidade Rural. Vejamos o que se tem feito pelo seu estudo 
e pela sua propaganda. 
A importancia da Contabilidade Agraria justifica a 
sua necessidade. Não é só o contador, não é só o guarda- 
livros da empreza rural quem dela necessita. O proprietario, 
o administrador das aziendas agrarias não pódem precindir 
desta ciencia. 
Infelizmente pouco se tem estudado este belo ramo da 
ciencia contabilistica. De todas as especialisações da Conta- 
bilidade é a menos cultivada. Em países como o nosso, es 
sencialmente agrario, não se exige uma Contabilidade dos 
fazendeiros. Deixa-se ao léo da sorte e mesmo da ignorancia 
de muitos, — ignorancia que felizmente decresce — a fonte 
primordial da nossa riqueza economica. Mas tambem não é 
este um mal brasileiro. Não seremos nós que nos acusare- 
mos. E’ antes um mal geral, de todos os paizes. Desse im- 
portante problema dizia recentemente o professor Dufayel: 
 “Maihereusement, cet agriculteur, qui a tant besoin 
d’une comptabilité ordonee et méticuleuse, est, parmi les in- 
dustriels et les commerçants, celui qui s’en est le moins servi 
jusqu'á present''. (1) 
 
 
 
 
 
 
1 — H. Dufayel: “Cours de Comptabilité, Paris, 1925, pag. 161. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
— 31 — 
 
DO ESTUDO DA CONTABILIDADE RURAL 
NO BRASIL 
 
Entre nós o estudo desta disciplina é deficientissimo. 
Somente nestes ultimos tempos vêm as elites das classes ru- 
rais e contabilisticas reagindo contra o marasmo que cerca a 
Contabilidade Agraria. Descurámos por completo do estu- 
co desta ciencia. Nós que somos os responsaveis pelo desti- 
no de um país essencialmente agrario. E, talvez a esse descui- 
do de ordem administrativa poderemos culpar o grande erro 
da nossa economia rural: a monocultura. 
Basta este unico fato historico para nos mostrar o indi- 
ce da orientação dos nossos dirigentes na proteção da vida 
dos campos: Proclamou-se a Republica em nosso país, fo- 
ram creados os Ministerios para cuidar dos interesses dos 
diversos ramos da nossa atividade economica, social e poli- 
tica, e os utopistas se esqueceram de crear o Ministerio mais 
necessario... o da Agricultura, que só 20 anos depois foi 
creado... 
Um consolo de carater nacionalista nos resta: Não so- 
mos os unicos contabilistas que se queixam. O nosso país 
não é o unico atrazado neste assunto. E’ o que nos informa 
o elegante (2) ERNESTO MARENGUI com referencia á 
Italia, e com referencia á França HENRI DUFAYEL (3). 
 
DO HISTORICO DA CONTABILIDADE RURAL 
NO BRASIL 
 
Passemos, agora uma ligeira vista sobre o que se ha feito, 
até agora a favor do estudo da Contabilidade Rural em nos- 
so país. 
Como vimos de dizer, sómente com a creação do Minis- 
terio da Agricultura foi que nasceu a nossa Contabilidade 
Agraria. Este departamento publico foi creado pela lei n°. 
 
 
 
 
 
 2 — “Lezioni de Contabilitá Agraria”, Milano, 1922, pag. 5. 
 3 — “Cours de Comptabilité”, Paris, 1925, pag. 161. 
 
 
— 32 — 
 
1. 606 de 29 de Dezembro de 1906, no governo do Presiden- 
te Affonso Penna mas a lei que o creou sómente foi posta 
em execução no governo do seu sucessor, Dr. Nilo Peçanha, 
com muita inteligencia e compreensão da sua enorme valía. 
Os cultores da Contabilidade no nosso país quase nada 
têm podido fazer, devido mesmo ao trabalho dispersivo que 
tem sido feito, o qual só agora se encaminha, para, afinal re- 
presentar o papel que lhes cabe na vida intelectual e economi- 
ca do pais, com a creação e fortalecimento das associações 
de classe. 
O estudo da Contabilidade Rural no Brasil tem se limi- 
tado tão sómente aos frutos do esforço e da bôa vontade do 
Ministerio da Agricultura. 
Pela regulamentação do decreto numero 8.319 de 20 
de Outubro de 1910, que creou o “Ensino Agronomico” no 
Brasil, o estudo da nossa diciplina tornou-se obrigatorio nas 
escolas de Agronomia. Deste modo passou a “Contabilidade 
Agricola” a ser ensinada nas Escolas Superiores de Agricul- 
tura e Medicina Veterinaria, Escolas Medias ou Teórico- 
Praticas de Agricultura. Escolas Praticas de Agricultura, 
Aprendizados Agricolas, nos Campos de Demonstração e 
outros estabelecimentos, consoante as disposições do citado 
decreto e de outros que se lhe seguiram. 
E’ bem verdade que muita tinta foi gasta inutilmente... 
Quasi tudo ficou no papel... inclusive muita boa-vontade... 
Nos ultimos anos, devido aos progressos de nossa cien- 
cia e á elevação natural do nivel cultural das populações agra- 
rias e aos esforços de Escolas e Professores de Contabilida- 
de, ultimamente, a Contabilidade Rural tem feito ligeiros 
progressos entre nós. Assim é que pelo decreto n. 17.329 de 
28 de Maio de 1926, que regulamentou o “Ensino Comer- 
cial” no Brasil, a cadeira de “Contabilidade Agricola” faz 
parte do mesmo e fórma a 4.ª cadeira (conjuntamente com 
a Contabilidade Industrial, é verdade...) do 3.° ano. 
No Distrito Federal, o recente Decreto numero 2.940, 
de 22 de Novembro de 1928, que regulamentou a “Organi- 
sação do ensino no Distrito Federal” reservou um “cantinho” 
á “Contabilidade Rural” na cadeira de “Economia Rural”, 
que compreende a “Contabilidade, administração e legislação 
rural. 
 
— 33 — 
 
DA LITERATURA BRASILEIRA SOBRE 
 CONTABILIDADE RURAL 
 
Como corolario do que exposto temos nesta e na poste- 
rior lição, segue-se a pobreza de nossa literatura sobre Con- 
tabilidade Agraria. Poucas são as obras especialmente dedi- 
cadas ao assunto. Até agora esta materia era tratada em 
algumas paginas, na rabada dos livros de Agricultura, Agro- 
nomia, Economia Rural, etc. 
Dentre os livros brasileiros sobre Contabilidade Rural 
não conseguimos contar meia duzia e poderemos citar, tão 
somente: 
I) Lourenço Granato: “Noções Elementares de Conta- 
bilidade Agricola”, 3ª edição, 1912, S. Paulo. A 1.ª edição é 
de 1906. 
II) D. Santos “Contabilidade Agricola”, Empreza Edi- 
tora Brasileira, S. Paulo, 1917 (1). 
III) Alvaro Figueiredo: “Elementos de Contabilidade 
Agricola”. 1917. Belo Horizonte. 
IV) F. T. de Souza Reis: “Contabilidade Agricola”, S. 
Paulo, 1921. 
V) — José Watzl: “Guia para Contabilidade Agricola”, 
1923, publicação autorisada pelo Ministerio da Agricultura, 
para propaganda do assunto, Rio de Janeiro. 
 
 
LIÇÃO VI 
 
(Conclusão) 
 
Da Contabilidade Rural 
 
 Suumario: — Posição da Contabilidade Rural na ciencia 
contabil. Suas funções. 
 
DA POSIÇÃO: DA CONTABILIDADE RURAL NA 
CIENCIA CONTÁBIL 
 
Como sabemos a Contabilidade Rural é uma especiali-
sação importantissima da Contabilidade. Ocupa-se ela das 
 
 
(1) — É o melhor livro sobre “Contabilidade Agricola” que 
temos. O melhor ou o unico?!... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
— 34 — 
 
operações administrativas das emprezas agrarias e é pois, um 
dos ramos mais importantes da Contabilidade Privada. Em- 
quadra-se ainda a Contabilidade Rural na especialização da 
Contabilidade Privada denominada Patrimonial. 
Paramelhor compreensão da situação da Contabilidade 
Agraria ou Rural no quadro geral da ciencia contábil, apre- 
sentamos o seguinte quadro squematico: 
 
 
DAS FUNÇÕES DA CONTABILIDADE RURAL 
 
Como toda empreza industrial, os estabelecimentos agra- 
rios exercem sempre duas ordens distintas de operações: 
a) Operações técnicas. 
b) Operações comerciais. 
São operações técnicas das emprezas rurais, as que se 
referem ao trabalho dos campos, á atividade rural prori- 
mente dita. 
São operações comerciais das emprezas rurais as que 
têm por fim as transações mercantís das aziendas agrarias. 
Disto decorrem duas ordens de funções que cabem á 
Contabilidade Rural: 
a) Operações técnicas. 
b) Operações comerciais. 
São funções técnicas da Contabilidade Rural as que se 
referem ao registro e apuração dos fatos administrativos ori-
ginaldos das operações industriais da fazenda, ás operações 
produtoras das culturas,criação, etc. 
São funções comerciais a registração e apuração dos 
fatos administrativos oriundos das operações comerciais das 
fazendas, tais como compra e venda, emprestimos, penhor, 
ipotéca, etc. 
Estas duas ordens de funções da Contabilidade Rural 
são inseparaveis e, por vezes, chegam a se confundir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
II CAPITULO 
 
 
DA ECONOMIA RURAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LIÇÃO VII 
 
Da Economia Rural 
 
Sumario — Conceito Agricultura. Industrias Rurais Im- 
portancia desta. Importancia daquela. 
 
DA ECONOMIA RURAL 
 
A Economia Rural é à ciencia que estuda a organiza- 
ção e direção economica das emprezas agrarias. Ou, no di- 
zer de JOUZIER é “a economia politica aplicada á agri- 
cultura”. (1). 
E’ esta ciencia um dos ramos mais novos e uteis dos 
conhecimentos agrarios. Estuda ela os meios mais economicos 
para a produção rural, os modos de proteção e repartição desta, 
a organisação administrativa das emprezas agrarias, etc. E’ 
ela pois, uma ciencia complexa, que requer inumeros outros 
conhecimentos, tais como a Economia Politica, Agronomia, 
Matematica, Geologia, Quimica, Astronomia, Botanica, Bio- 
logia, Zoologia, Medicina Veterinaria, Agricultura, Direito, 
Engenharia Rural, etc. 
A Contabilidade Rural ocupa papel proeminente no es- 
tudo dessa diciplina. 
DA AGRICULTURA 
 
A palavra Agricultura póde ser tomada como designan- 
do uma ciencia ou uma industria. Quer como ciencia, quer 
 
 
 
 
(1) “Economie Rurale”, Paris, 1920, pag. 15. 
— 38 — 
 
como industria, ela tem por fim, designar o campo de ação 
dos estabelecimentos rurais. Quando geralmente se usa da 
expressão. Agricultura, não se quer com ela significar sómen- 
te a "cultura do sólo" como pensam alguns autores.(2).Com 
aquela palavra compreende-se não só essa ordem de idéas, 
como tambem a creação de animais. 
A palavra Agricultura tanto significa a cultura do sólo, 
como a industria pastoril. E’ bem verdade que a expressão 
Agricultura, dá muito facilmente motivos a essas confusões. 
Mas em tal não pódem caír os técnicos... 
As industrias rurais são um prolongamento natural da 
Agricultura. Constituem um estágio superior da vida econo-
mica rural, e se verificam nos centros mais adeantados. 
Elas tomam diversas fórmas. Assim, são mais comuns 
nos centros pastorís, e tomam as fórmas de estancias, xar-
queadas, laticinios (queijo, manteiga, requeijões), carnes, 
lãs, couros, péles, enfim, todas as fórmas de aproveitamento 
dos produtos animais. 
Na economia brasileira, os produtos provenientes das 
industrias rurais, tomam logares preeminentes, pois, além 
dos acima mencionados, temos tambem famósas industrias 
extrativas, como a da borracha, oléos de babassu, mamona, 
etc. Basta dizer que pór uma recente publicação feita pelo 
Ministerio da Agricultura, o comercio de exportação de pro-
dutos agricolas brasileiros, atingiu em 1.930, á........................ 
5.500.000:000$000. 
A contabilisação das industrias rurais, toma um aspéto 
mais importante, e se apresenta mais dificil, pois ela se 
socórre de elementos especiais á Contabilidade Rural e ou- 
tros pertinentes á Contabilidade Industrial encontrando-se 
em algumas ás vezes perfeitamente diferenciadas, ambas ás 
especialisações técnicas. 
 
 
2 — Dentre outros: E Jouzier, liv. cit., pag. 11 e Alvaro Figueire- 
do: “Elementos de Contabilidade Agricola”,Bello-Horizonte, 1917, 
pag. 17. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
— 39 — 
 
 DA IMPORTANCIA DA ECONOMIA RURAL 
 
 Sendo o estudo das instituições agrarias e suas necessi- 
dades, o papel que cabe á Economia Rural hodiernamente é 
inegavel. As necessidades da vida humana nos provam que 
mais não é possivel a vida sem a sua concepção economica. 
A concepção economica é quem regula a vida do homem. 
Desse medo foi que surgiu a necessidade desta nova ciencia 
— a Economia Rural — afim de nos encaminhar nos pro- 
cessos mais eficientes para a produção util e barata das em- 
prezas agrarias. 
 
DA IMPORTANCIA DA AGRICULTURA 
 
O papel representado pelas emprezas rurais na vida dos 
povos tem sido sempre dos mais salientes e proficuos. Delas 
provêm a riqueza economica de inumeras nações. São elas 
que alimentam as industrias, proporcionando-lhes as mate- 
rias primas indispensaveis á sua atividade e manutenção. 
Ademais, é pela Agricultura que se crêa a riqueza das 
nações. E’ uma das primeiras etapas da produção. Todos os 
povos foram primitivamente agricultores. E isto é facil de 
se explicar, pois que a vida rural não exige um cabedal gran- 
de de conhecimentos. Principalmente quando incipiente. Não 
queremos, porém, dizer com isto que a Agricultura não ne- 
cessite, hoje, de conhecimentos técnicos. Dispensa-os a peque- 
na cultura algumas vezes. 
Mas nas grandes emprezas agricolas, aqueles são indispensa- 
veis. E’ hoje um assunto de grande interesse para os países 
agrarios, a Agricultura cientifica. E é para ela que con- 
vergem os esforços dos administradores, creando escolas 
técnicas e cientificas, amparando-as, estimulando-as. 
Não obstante ser a Agricultura uma fonte incomensu- 
ravel de riquezas, só ela não faz a riqueza de um povo (3). 
 
 
 
 
(3) — E’ interessante observar que os povos industriais dominam 
os povos agrarios. As nações industrialistas guiam as rurais. Na luta 
economica — e, pois, politica, social — a maquina vence a terra. Basta 
ver quais são os países que contrólam a vida economica social e 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
— 40 — 
 
Ha uma completa interdependencia entre os diversos ramos 
produtores da economia moderna, mas, entre estes, uns ainda 
predominam sobre outros quer pela elevação do nivel cultu- 
ral, quer pela grandeza numerica ou outros quaisquer fatos, 
sendo que a produção agraria não tem ocupado sempre o 
primeiro logar. 
Não se póde, porém, precindir da Agricultura. Os ali- 
mentos com que se nutre e mantém a humanidade, provêm 
dela. No dia em que fôr resolvido o problema de alta alqui- 
mia e que o homem puder se alimentar unicamente com algu- 
mas cápsulas diarias, então, sim, talvez advenha a desneces- 
sidade da Agricultur... 
 
 
LIÇÃO VIII 
 
Da Agricultura 
 
Sumario: — Divisão. Agricultura e Contabilidade 
 
DA DIVISÃO DA AGRICULTURA 
 
A Agricultura considerada como ciencia comporta divi- 
sões para melhor compreensão de suas idéas. Considerada co- 
mo industria, tambem póde ser dividida conforme a sua, es- 
pecialidade. 
Conforme a extensão e diversidade da sua produção, a 
Agricultnra póde tomar dois aspétos: 
a) Monocultura. 
b) Pólicultura. 
 Monocultura como o nome o indica, é a cultura de um 
só produto. Exemplo: A cultura só de café, de cana deassu- 
car, de borracha, etc. 
 
 
politica do mundo. São as potencias industrialistas: Estados Unidos 
da America, Inglaterra, Allemanha, Japão. A Russia, que era um pais 
essencialmente agrario, somente teve influencia na vida internacional 
com a queda do tzarismo e o advento do leninismo e consequente in-
dustrialisação do país. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
— 41 — 
 
 Policultura é a cultura concomitante de mais de um 
produto. 
Poder-se ia falar tambem de monocreação e pôlicreação 
ou multicreação, mas, essas modalidades da Agricultura são 
mais raras, comquanto se encontrem. 
 Segundo a sua especialisação, a Agricultura póde ser: 
a) Cultural. 
b) Creacional ou pastoril. 
c) Mixta ou Agricola. 
 A Agricultura Creacional ou Pastoril é a que se ocupa 
exclusivamente da creação de animais. 
Agricultura Cultural é a que cuida da exploração do 
campo, da cultura do sólo (lavoura). 
Agricultura Mixta é a que trata da creação de animais e 
plantação da terra, concomitantemente. 
Essa divisão é a que mais interesse apresenta. 
Alguns autores dividem a empreza agricola, segundo 
 a diversidade de sua produção, em: 
a) Exclusiva. 
b) Dominante. 
c) Mixta. 
 Chama-se-Agricultura Exclusiva, a que se dedica a uma 
só ordem de operações produtoras. 
 Agricultura Dominante é a em que havendo produção 
diversa uma predomina sobre as outras. 
Denomina-se Mixta a Agricultura em que não ha exclu- 
sividade nem predominio de uma exploração sobre outra. 
Como é claro, tanto a Agricultura a Cultural, a Creacio- 
nal, como a Mixta, pódem ser Exclusivas ou Dominantes. 
Chamamos Monocultura á Exclusiva. E, Policultura 
as Dominante e Mixta. 
 
DA CONTABILIDADE E, DA AGRICULTURA 
 
Com o vimos, em Economia Rural a Contabilidade é um 
complememto indispensavel da Agricultura racional. Deseja- 
mos agora, porem, frisar um ponto para os menos entendi- 
dos na ciencia de que tratamos. 
— 42 — 
 
Quando apontamos a importancia da Contabilidade nas 
emprezas agrarias, não queremos com isso dizer que uma bôa 
Contabilidade Rural aumente a produção. Absolutamente. A 
Contabilidade não é ciencia produtora. E’ um a ciencia eco- 
nomica, de ordem mor al, reguladora da vida administrativa 
das entidades economicas, publicas ou privadas. Ela não au- 
menta a riqueza dos estabelecimentos em que é empregada. 
Mas coordena e organisa eficientemente, demonstrando as 
operações que são vantajosas e as que o não são, bem co- 
mo os resultados parciais e totais dos fatos administrativos 
realisados. E’ um elemento de ordem, de natureza moral, de- 
monstrativo das condições economico-administrativas das 
aziendas em que é adotada. 
 
 
LIÇÃO IX 
 
Da Produção Rural 
 
Sumario: — Conceito. Fatores. Papel da Contabilidade. 
 
DA PRODUÇÃO RURAL 
 
Já por vezes temos demonstrando a importancia da pro- 
dução rural. Esta especie de produção é a mais verdadeira, 
se se encarar o sentido etímologico da palavra. As outras 
industriais geralmente transformam a materia prima crean- 
do novo produto. A produção rural nos dá sempre um pro- 
duto novo. 
Aliás, esse caráter da produção agraria tem sido muito 
exagerado. Assim é que a antiga escola economista dos Fi- 
siocratas, que combatia o sístema mercantil, exagerando es- 
se conceito dizia que a agricultura deve estar colocada em pri- 
meiro logar na esfera das humanas atividades, acima do co- 
mercio e das demais industrias. E fundaram os Fisiocratas a 
sua escola sobre o principio segundo o qual só a Natureza é 
fonte de riquezas; só ela nos fornece um produto ver dadeira- 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
— 43 — 
 
 mente novo, emquanto que as demais classes são estéreis, im- 
produtivas. (1). 
Como vemos, a concepção economica dos Fisiocratas era 
por demais agraria e pouco acorde com os progressos da vi- 
da moderna. 
 
DOS FATORES DA PRODUÇÃO RURAL 
 
Como uma das modalidades industriais (industria rural 
que é), a produção agraria sofre a ação de varios fatores. 
Estes, parém variam com o critério economico de cada um. 
Uma das mais antigas classificações dos fatores da produ- 
ção os classifica assim: 
a) Natureza. 
b) Capital. 
c) Trabalho. 
Pelo primeiro fator — a Natureza — não só compre- 
endemos o sólo, á terra como todos os agentes naturais, tais 
como o clima, as forças motoras, vento, aguas, vapor, eletri- 
cidade, etc. 
Na produção agraria este fator é fundamental. 
Pelo fator Capital, compreendemos os valores ou rique- 
zas pre-existentes, que contribuem direta ou indiretamente 
para a produção. São tais, os bens pertencentes a uma pes- 
soa, como materiais, dinheiro, etc. 
O Trabalho — terceiro fator da produção — é o esfor- 
ço, humano ou não para a produção de utilidades. 
O Trabalho humano póde ser fisico ou intelectual. 
Os fatores ácima enumerados pódem ser ativos ou pas- 
sivos. São fatores passivos: a Natureza e o Capital. O Tra- 
balho é o fator activo por ecelencia. (2). 
 
 
 
 (1) Charles Gide: “Principes d’Economie Politique”, Paris. 1923, 
pag. 7. 
(2) Gide: “Liv. cit., pag. 79. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
— 44 — 
 
DO PAPEL DA CONTABILIDADE NA 
O PRODUÇÃO RURAL 
 
A perfeita Contabilidade está na ordem direta da bôa 
classificação das contas. Para essa classificação, porém, não 
apresenta a classificação dos fatores da produção ácima 
enumerados nenhuma vantagem. Devemos procurar estudar 
todos os meios que facilitam a produção rural para podermos 
organisar a Contabilidade a se adaptar ás diversas aziendas 
agrarias. E’ o que vamos fazer nas lições seguintes, para 
orientação dos estudos contáveis. 
A Contabilidade está reservado o importante papel de 
esclarecer os fatos administrativos que dão origem á pro- 
dução rural, bem como os que resultam desta. Deve tam- 
bem demonstrar não sómente o custo de cada produção agri- 
cola, como tambem a proveniencia das diversas verbas que 
modificam a receita e a despeza de cada produto colhido. 
A’ Contabilidade Rural pois está reservado o importan- 
te e dificil papel de demonstrar a produtividade das diversas 
emprezas agrarias bem como o grão produtivo de cada or- 
dem de fatores, afim de que fique bem orientado o adminis- 
trador capás. Ela serve de base para o levantamento estatis- 
tico da vida das emprezas rurais bem como de seu valor eco- 
nomico. 
 
 
LIÇÃO X 
 
Do Trabalho Rural 
 
Sumario — Sua condição. Proteção. Contabilisação. 
 
DA CONDIÇÃO DO TRABALHO RURAL 
 
O trabalho é a força empregada na produção de utilida- 
de. Póde ser humano ou animal. O trabalho humano póde 
ser fisico ou muscular e intelectual ou mental. 
Pelo trabalho se opéra sempre uma transformação no 
objeto que é executado. Essa transformação póde ser 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
— 45 — 
 
mudando o estado da materia (bruta ou ja trabalhada), ou 
deslocando-a de logar somente. 
A hodierna condição do trabalho humano e, em tése a 
da liberdade. Dizemos em tése por que, verdadeiramente a 
propalada liberdade de trabalho não póde ser completa num 
regimen em que os fracos têm que contratar com os fortes. 
E’verdade que, considerados isoladamente os homens são 
seres livres. Mas, vistos em sociedade não o são, pois de- 
pendem economicamente dos individuos economicamente mais 
poderosos. E’ verdade que as leis asseguram a liberdade da 
escolha de profissão, bem como o exercicio do direito de as- 
sociação, etc. Isso tudo, porém, são condições teóricas que 
verdadeiramente não existem, a não ser idealmente. 
Segundo os economistas oficiais, a liberdade de traba- 
lho repousa nos tres seguintes principios: 
a) Liberdade profissional. 
b) Liberdade de exercer a sua profissão em qualquer 
logar. 
c) Liberdadede ter mais de uma profissão. 
Sabemos, porém — e neste ponto estão conosco os pro- 
prios economistas oficiais — que essa liberdade de trabalho 
é condicionada (diplomas, licenças, etc.) e, assim, que a li- 
berdade do trabalho é no minimo uma liberdade condicional... 
 
DA PROTEÇÃO AO TRABALHO RURAL 
 
As legislações modernas ás vezes procuram proteger a 
liberdade do trabalho. Dentre as medidas de proteção usa- 
das citam-se ás referentes ao dia de 8 horas, trabalho em lo- 
gar salubre, garantia, do salario em caso de molestia, inde- 
nisação em casos de acidente no trabalho, etc. Estas medi- 
das, porém, são mais protetoras do trabalho industrial, das- 
fabricas. 
O trabalhador rural ainda está esquecido e poucas são- 
as disposições que os protegem. Principalmente em nossa 
terra “essencialmente agricola e pastoril”... Dentre algu- 
mas medidas protetoras do nosso trabalhador rural, citare- 
mos as referentes ao abono de salarios, á organisação de 
sindicatos e cooperativas agrarias, á impenhorabilidade do 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
— 46 — 
 
salario do trabalhador rural, os seus creditos serem privile- 
giados em caso de falencia, etc. 
E’ bem verdade, porém, que essa prerogativas, do tra- 
balhador rural nunca são constatadas na vida pratica. 
 
DA CONTABILISAÇÃO DO TRABALHO RURAL 
 
Em Contabilidade os fatos administrativos consequentes 
do trabalho merecem registro cuidado. Para a apuração do 
custo da produção temos necessidade de contabilisar a ex- 
pressão economica do trabalho empregado. 
O trabalho usado nas aziendas rurais é humano e 
animal. 
O trabalho humano recebe a denominação especial de 
“Salarios”, “Mão de Obra”, e queijandas. E nessa conta re- 
gistraremos por débito o trabalho produzido pelos emprega- 
dos de acôrdo com o preço combinado. Por crédito registra- 
mos os serviços pagos. 
O trabalho animal é de mais dificil contabilisação. E 
tanto o é que os autores que têm tratado do assunto dele não 
cuidam. Mas, desde que seja um serviço prestado pelos ani- 
mais, as contas que representam estes devem ser creditadas 
por um importancia que represente a expressão economica 
do esforço produzido. Para justificar este registro basta 
uma pergunta: 
— Não debitamos aos animais as despezas com a sua 
manutenção, tais como alimentação, curativos etc.? (1). 
O valor do custo do trabalho animal é usualmente cal- 
culado sobre o total das despezas diarias com a manutenção 
do mesmo. 
Observe-se, porém, que deve ser contabilisado sómente 
o serviço prestado pelos animais de trabalho sendo que os 
animais de creação, que se destinam á exploração comercial 
não prestam serviços e sim produtos ou rendas. 
 
 
 
(1) — Quando nos referimos á contabilisação das despesas com 
a manutenção do animal (despesas gerais), para efeito de orçamento, 
distinguimos da registrarem apenas para dar um valor ao animal. Aquela 
tem toda a importancia que falta á esta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
— 47 — 
 
LIÇÃO XI 
 
Do Seguro Agrario 
Sumario: — Necessidade. Companhias do Seguro Rural. 
Sua Contabilidade. 
 
DA NECESSIDADE DO SEGURO AGRARIO 
 
“Considera-se contrato de seguro aquele, pelo qual uma 
das partes se obriga para com outra, mediante a paga de um 
premio, a indeniza-la do prejuizo resultante de riscos futuros, 
previstos no contrato”. (1). 
O contrato de Seguro póde ser efetuado para proteção 
dos bens ou das pessôas (seguro de vida). Pode ser tambem 
terrestre ou maritimo. Dentre as diversas especies de con- 
trato de Seguro terrestre, cita-se o Seguro Agrario. 
O Seguro Agrario é uma das mais modernas fórmas de 
Segura. Por muito tempo julgou-se impossivel esta modali- 
dade de seguro por serem inumeros os imprevistos que atin- 
gem a produção rural, não sendo ás vezes possivel uma per- 
feita compensação tal o vulto dos prejuizos e a natureza dos 
danos que se verificam. Mas, como esta modalidade de se- 
guro é muito vantajosa idealisou-se pagar sinistros por um 
valor préviamente estabelecido (um terço, metade ou dois 
terços do valor da cousa segurada), para tambem evitar que 
os administradores nada fizessem para salvar seus bens. Nes- 
te seguro deve-se banir o lucro. Esta é, aliás, a caracteristi- 
ca do instituto dos seguros. 
Dentre as inumeras vantagens proporcionadas pelo Se- 
guro Agrario, destaca-se a proteção á produção animal e ve- 
getal, assistencia, amparo, indenisações, etc. 
Ordinariamente o Seguro Agrario é efetuado para pro- 
teção dos bens rurais em caso de incendio, peste, geada, etc. 
 
 
 
 
2 — Codigo Civil, 1.432.
— 48 — 
 
DAS COMPANHIAS DE SEGURO AGRARIO 
 
As Companhias de Seguro Agrario, que já se, desenvol- 
veram muito, principalmente na Europa e Estados Unidos da 
America, ainda, não tem no Brasil a representação que lhes 
compete. Elas geralmente se revestem da forma mutua ou 
de premio. 
Dentre os inconvenientes apontados nestas modalidades 
de seguro cita-se o fato de que o fazendeiro de posse da apo- 
lice que o garanta no caso de sinistro não tem mais interesse 
em procurar salvar os seus bens ou mesmo evitar as causas 
de sua destruição. 
Estes argumentos não procedem. Se em devida conta 
fossemos leva-los, não seria tambem possivel a exigencia de 
nenhuma especie de seguro. Todas as diversas modalidades 
de seguros sobre as cousas estão sujeitas a estes argumentos. 
Para evita-los, no caso de Seguro Agrario, bastará, como dis- 
semos ácima, as Companhias de Seguros segurarem os bens 
rurais por uma fração do seu valor (meio, um terço, dois 
terços, tres quartos, etc.), evitando assim o enriquecimento 
ilicito dos segurados. 
 
DA CONTABILIDADE DO SEGURO 
RURAL 
 
Não pretendemos estudar aqui a Contabilidade das Com- 
panhias, de Seguro Agrario. Nem cabe tal neste momento. 
Seu logar é no estudo especial da Contabilidade das Compa- 
nhias de Seguros, num livro especial. Queremos grifar só- 
mente a maneira de contabilisar na azienda rural a efetua- 
ção de um seguro. 
Efetuado o contrato de seguro (sobre determinado ani- 
mal ou cultura, etc.) deve-se fazer o seguinte lançamento no 
Diario, pelo pagamento das anuidades: 
 
Seguros de... 
a Caixa 
 Pg. á Cia. X, 1.° anuidade da apolice n° Y X 
 
 
— 49 — 
 
Recebida a apolice de seguro efetuado deve-se fazer o 
seguinte lançamento: 
 
Companhia X 
a Apolice de Seguro. 
Pelo seguro de ... 
que fizemos naquela Cia., anuidade de 
rs. Z apagar em... apolice n.° 1.000... X 
Alguns contadores aconselham e usam levar por oca- 
sião de balanço o debito da conta de Seguros sobre... a Lu- 
cros & Perdas. Pensamos, porém, que tal não se deve fa- 
zer. Como um dos principais papeis da Contabilidade é de- 
monstrar o estado especifico do patrimonio em qualquer mo- 
mento, pensamos que a Conta de Seguros deverá ficar aber- 
ta para que no caso de indenisação possamos saber qual foi 
a real indenisação obtida. Conhecemos esta pelo calculo se- 
guinte: 
Indenisação = Valor da Apolice — Anuidades. 
O lucro ou prejuizo apurado sobre a conta segurada se- 
rá, pois, o seguinte resultado: 
Valor dos bens perdidos — Indenisação = Prejuizo 
ou ainda este resultado mais raro: 
Indenisação — Valor dos bens perdidos = Lucro. 
Quando fôr recebida a indenisação far-se-á um lança- 
mento assim . 
 
Caixa 
a Companhia X 
Recebi pela indenisação da apolice n. 
1.000, do seguro de nossos..................................... X 
 
Em seguida levamos á conta do bem que foi segurado, 
por debito, o valor da apolice, assim: 
 
Apolice de Seguro 
a ... (Animais ou Cultura). 
Pelo valor da indenisação da apolice n. 
1.000 da Cia. X......................................................X
 
 
— 50 — 
 
E o débito da conta de Seguros de... será levado ao seu 
crédito, para saldo, e a debito da conta que foi segurada, da 
maneira seguinte: 
... (Animais ou Cultura) 
a Seguros sobre 
Pelo débito desta conta, por saldo.............................Z 
 
Dessa maneira temos escriturado (1) todo o ciclo dos 
fatos administrativos originados das operações sobre os se- 
guros. E, pelos lançamentos ácima poderemos vêr nitida- 
mente qual foi o resultado da operação de seguro, assim: 
 Indenisação — Anuidades pagas = Indenisação 
líquida. 
A Indenisação Líquida póde ser maior ou menor do que 
o prejuizo verdadeiro sofrido pelo fazendeiro. Se fôr maior, 
houve lucro; se menor, prejuizo. 
 
 
 
LIÇÃO XII 
 
Do Penhor Rural 
 
Sumario — Conceito. Especies. Contabilidade 
 
DO PENHOR RURAL 
 
Penhor é uma garantia de divida efetuada pela aliena- 
ção de bens moveis. 
Penhor Rural é o que se efetua, sobre bens moveis das 
emprezas agrarias. Como sabemos, é da essencia do penhor 
 
 
 
(1) — Ha outra fórma mais simples de se anotar a liquidação dos 
seguros a saber: Recebida a indenisação, estórna-se o segundo lança- 
mento ácima, e dá-se entrada do dinheiro em Caixa, debitando-se a esta 
conta e creditando-se a Lucros e Perdas. 
 
— 51 — 
 
 que ele tenha por garantia bens moveis. Não obstante isto, o 
nosso Codigo Civil enumerando no seu artigo 781 os objé- 
tos que podem ser dados em penhor cita as colheitas penden- 
tes e as em via de formação, que, como sabemos, são por sua 
natureza bens imoveis. E’ por isso mesmo ainda que os auto- 
res dizem que “o penhor agricola é uma fórma anormal do 
penhor, que se aproxima da hipotéca”. (1). 
O penhor rural foi instituido entre nós pelo Decreto 
n° 3.272 de 5 de Outubro de 1885, artigo 10, e hoje já se 
acha regulado pelo Codigo Civil, artigo 781 e seguintes. 
 
DAS ESPECIES DE PENHOR RURAL 
 
 O penhor rural pela nossa legislação em vigor póde to- 
mar duas fórmas diferentes. Póde ser : 
a) Agricola. 
b) Pecuario. 
Penhor Agricola é o efetuado sobre os bens moveis das 
emprezas agricolas. 
Penhor Pecuário é o realisado com a garantia dos bens 
moveis das emprezas pastorís, pecuárias (animais de creação 
ou de trabalho). 
 A distinção ácima, entre as duas especies de penhor rural 
enumeradas, comquanto não tenha sido observada pela nossa 
legislação, depreende-se facilmente do espirito de seus arti- 
gos (2). 
Nas Partes seguintes estudaremos detalhadamente cada 
uma dessas especies do penhor rural. 
 
DA CONTABILIDADE DO PENHOR RURAL 
 
O registro dos fatos administrativos oriundos das opera- 
ções referentes ao penhor rural não apresenta grande dificul- 
 
 
 
 
(1)Clovis Bevilaqua:”CodigoCivil Brasileiro Commentado”, vol. 3°, 
pagina 343. 
(2) Artigo 781 e seguintes. 
— 52 — 
 
dade.No Diario poder-se-á obedecer á seguinte ordem de lan- 
çamentos: 
Efetuado o contrato de penhor e recebido o dinheiro apu- 
rado com o mesmo: 
Caixa 
a Colheita de Milho em Penhor. 
Recebido de F. por emprestimo com a ga- 
rantia do penhor da nossa colheita de milho.. X 
Resgatada a divida que deu origem ao penhor ácima 
(penhor agricola), estorna-se o lançamento feito da maneira 
seguinte: 
Colheita de Milho em Penhor 
a Caixa 
Pelo resgate de n emprestimo contraído com 
F., e com a garantia da nossa colheita de 
milho....................................................... X 
Quando houver pagamento de juros, antecupadamente, 
farse-á: 
 
Diversos a Colheita de Milho em Penhor 
Caixa 
Rec°. de X, a 120 dias, 
conforme contrato d. d. 9:900$000 
Juros & Descontos 
Desconto por antecipa- 
ção...................................... 100$000 10:000$000 
Si os juros não forem pagos antecipadamente, registrare- 
mos como no primeiro lançamento deste capitulo, e na liquida- 
ção faremos: 
Diversos a Caixa 
Colheita de Milho em Penhor 
Pelo resgate de n em- 
prestimo com X.............. 10:000$000 
Juros & Descontos 
Juros pagos................... 100$000 10:000$000 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
III CAPITULO 
 
 
DA ASSOCIAÇÃO RURAL 
LIÇÃO XIII 
 
Da Parceria Rural 
 
Sumario: — Conceito. Especies. Contabilidade. 
 
DA PARCERÍA RURAL 
 
Parcería Rural é o contrato pelo qual uma pessoa cede a 
outra, mediante condições préviamente estabelecidas a explo- 
ração de algum ou alguns bens rurais. E’ esta uma instituição 
já consagrada e regulada por inumeras legislações. O nosso 
Codigo Civil dela trata no seu artigo 1.410 e seguintes. 
O contrato de Parceria Rural já está sobremodo den- 
tro dos costumes do nosso país, recebendo denominações re- 
gionais, sendo mais conhecido nos meios rurais por contrato 
de “meiação”, de “meiá”. As pessoas que por ele contratam, 
em linguagem rural, se denominam meieiros. O contrato de 
Parcería Rural, de Meiação, tem sido já estudado sob varios 
aspétos, principalmente na Italia (mezzadria, colonia parzia- 
ria), permanecendo porém ainda entre nós sem a obrigatorie- 
dade de uma fórmula juridica que garanta a parte do carnei- 
ro no contrato com o lobo... 
Tem por fim este contrato a exploração industrial das 
cousas pertencentes aos dominios agrarios: cultura do sólo ou 
exploração de animais 
A Parcería Rural como observa o grande Clovis Bevila-
qua “participa’ da natureza da locação e da sociedade, (1); 
por isso, “aplicam-se a este contrato as regras do de sociedade 
no que não estiver regulado por convenção das partes”. (2) 
 
 
(1) Liv cit V 20, Rio de Janeiro, 1926, pag 168, 
observação 1 
— 56 — 
 
DAS ESPECIES DE PARCERIA RURAL 
 
Como é facil de se concluir são de duas naturezas dife- 
rentes as modalidades de Parcería Rural: 
a) Parcería Agricola. 
b) Parcería Pecuária. 
O Codigo Civil no artigo 1.410 define a Parcería Agrí- 
cola: 
“Dá-se a parcería agricola, quando uma pessôa cede um 
 
predio rustico a outra, para ser por esta cultivado, repartindo- 
se os frutos entre as duas, na proporção que estipularem”. 
E’ ainda o nosso Codigo Civil quem define a Parcería 
Pecuária: 
“Art. 1.416 — Dá-se a parcería pecuária, quando se en-
tregam animais a alguem para os pastorear, tratar e criar, 
mediante uma quota nos lucros produzidos”. 
A Parcería Pecuária só se dá sobre os animais (“gado 
grosso” ou “meu’do”), não podendo ter por objéto aves e in- 
sétos. 
No contrato de Parcería Rural (Pecuária ou Agricola) 
aparecem sempre, no mínimo, duas pessoas que se denominam 
Parceiro e Proprietario. 
Nas Partes seguintes trataremos de cada uma dessas 
especies de Parcería, especialmente. 
 
DA CONTABILIDADE DAS PARCERÍAS RURAIS 
 
Nada mais são as Parcerías Rurais que especiais azien- 
das agrarias, com ligeiras modificações. São quasi que um 
contrato de sociedade comercial de capital e industria. Lógo, 
a elas pódem e devem ser aplicados os mesmos principios que 
estamos estudando para as demais emprezas rurais com ligei- 
ras modificações de fórma contábil, baseadas no contrato efe- 
taudo, direitos e obrigações dos parceiros, etc. 
— 57 — 
 
LIÇÃO XIV 
 
Das Cooperativas e Sindicatos Rurais 
 
Sumario: — Cooperativas Rurais. Sindicatos Rurais. 
Importancia de um e de outro. Principais fórmas. 
 
DAS COOPERATIVAS RURAIS 
 
Denominam-se Cooperativas as sociedades em que mais 
de sete socios se reunem para proteção de interesses comuns, 
com capital variavel e numero ilimitado de socios (1). 
As cooperativas são reguladas pelo Decreto n°. 1.637 
de 5 de Janeiro de 1907. 
As cooperativas Rurais são as que se destinam á prote- 
ção dos estabelecimentos agrarios e de seus membros. Delas 
só pódem fazer parte as pessoas que se ocupam de serviços 
rurais. 
DOS SINDICATOS RURAIS 
 
Sindicatos Rurais “são as associações formadas entre 
profissionaisda agricultura e industrias rurais de qualquer 
genero, para defesa dos interesses de ordem economica, social 
ou moral comuns aos associados”. (2) 
São considerados profissionais da agricultura e indus- 
trias rurais, nos termos do artigo 4 do Regulamento citado “o 
proprietario, o cultivador, o arrendatario, o parceiro, o cria- 
dor de gado, o jornaleiro e quaisquer pessoas empregadas em 
serviço dos predios rurais, bem como a pessôa juridica cuja 
existencia tenha por fim a exploração da agricultura ou indus- 
tria rural”. 
DA IMPORTANCIA DOS SINDICATOS E 
COOPERATIVAS RURAIS 
 
E’ ocioso encarecer as vantagens dessas associações. A 
conciencia do cumprimento do dever, a elevação das profis- 
 
 
 (1) Ver o volume 11.° do nosso “Tratado de Contabilidade (Contabi- 
lidade Mercantil), pag. 200 e seguintes. 
(2) Regulamento do Decreto n. 6.532 de 20 de Junho de 1907, art. 1. 
 
— 58 — 
 
sões, a compenetração do papel que cada um deverá represen- 
tar na vida, provém dessas associações. Além da conciencia 
moral que ali se cria, aquelas sociedades são as grandes pro- 
tetoras e incentivadoras da classe. Mórmente as associações 
rurais representam papel saliente. O auxilio á produção agra- 
ria é sempre dos mais eficazes, principalmente no nosso país. 
Por isso se faz sentir a grande necessidade das Cooperativas 
e Sindicatos Rurais para contrabalançar o descaso em que vi- 
ve a nossa produção rural. 
 
DAS PRINCIPAIS FO’RMAS DAS COOPERATIVAS 
E SINDICATOS 
 
Sindicatos e cooperativas Rurais pódem tomar inumeras, 
fórmas conforme a especie de auxilio de que pretendam se 
ocupar. Assim é que os ha destinados á proteção da produ- 
ção, do crédito, do consumo, do seguro agrario; etc. (3). 
Qualquer que seja o fim dessas associações, todas elas 
prestam relevantes serviços, salientando-se as Cooperativas e 
Sindicatos destinados á proporcionar o crédito aos seus 
filiados. 
 
 
 
LIÇÃO XV 
 
Das Cooperativas e Sindicatos Rurais 
 
(Conclusão) 
 
Sumario: — Cooperativas e Sindicatos de credito. Caixas 
Rurais. Contabilidade das Cooperativas e Sindicato. 
 
DAS COOPERATIVAS E SINDICATOS 
DE CRÉDITO 
 
Dentre todas as especies de Cooperativas e Sindicatos 
salientam-se as que têm por fim imediato o adiantamento de 
capitais aos seus associados. O crédito rural é de todos o que 
 
 
 
 
(3) Sobre este assumpto não se deve deixar de ler, a monographia do 
professor Salvatore Bruno, intitulado: “I Monti Frumentari, Torino 1924. 
— 59 — 
 
mais ampa o necessita. Dependente de fatores extranhos e al- 
gumas vezes inevitaveis, a produção agraria necessita de cer- 
tas vantagens. Uma destas é a que se refere ao prazo dos 
serviços rurais. Os estabelecimentos puramente comerciais 
geralmente fazem emprestimos a curto prazo. E é por isso 
que os Sindicatos e Cooperativas de Crédito proliferam com 
o incremento que vemos hoje em dia. 
 
DAS CAIXAS RURAIS 
 
As associações de crédito agrario geralmente se consti- 
tuem sob a fórma de Caixas Rurais. Estas têm por fim pro- 
porcionar capitais aos seus associados, bem como obriga-los á 
economia. São os Bancos dos agricultores. 
 As caixas rurais obedecem geralmente a dois tipos di- 
ferentes: 
 a) Caixas Locais. 
 b) Caixas Regionais 
As caixas locais se caraterisam por agir em campo deli- 
mitado. Só pódem ser seus associados e com elas efetuar 
operações as pessoas residentes em determinada circumscri- 
ção territorial. 
As caixas regionais têm campo de ação mais amplo. Efe- 
tuam operações com pessoas residente em logares diferentes, 
comquanto dentro de determinada região. 
O que caraterisa esses dois tipos de caixas rurais é o 
maior ou menor ambito em que elas operam. De maneira, que, 
para que uma pessoa possa efetuar transações com uma cai- 
xa regional é preciso que tenha alguma notoriedade e as ope- 
rações sejam baseadas em garantias mobiliarias ou imobilia- 
ris. Ao passo que nas caixas locais são em via de regra ga- 
rantia das transações o crédito pessoal. 
Existem diversos tipos de caixas rurais, sendo que os 
mais conhecidos são os do tipo Schulte-Delitszch, Raiffeisen, 
Bancos Luzzatti e outros geralmente conhecidos pelo nome de 
seus creadores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
— 60 — 
 
A primeira caixa rural que se tem noticia foi creada 
na Allemanha, em Altenkirchen (Prussia Renana), em 1847 
(1). Vê-se, pois, que é uma instituição recente, não obstante 
ser hoje das mais propagadas nos meios rurais. 
 
DA CONTABILIDADE DAS COOPERATIVAS E 
SINDICATOS RURAIS 
 
A contabilidade dos Sindicatos e Cooperativas rurais de- 
ve obedecer a um criterio a adotar de acôrdo com o fim da 
associação. Por isso deveria seguir ora os principios da 
Contabilidade Mercantil, ora os da Contabilidade Bancaria, 
pois que esses institutos participam de algumas operações 
comuns ás emprezas bancarias (Caixas Rurais) e comerciais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(1) Prof. Salvatore Bruno: “Le Casse Rurali de Prestiti”, Torino. 
 1924, pag. 59 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IV CAPITULO 
 
 
DA EMPRESA RURAL 
 
 
LIÇÃO XVI 
 
Da Empreza Rural 
 
 Sumario: — Conceito. Organisação. Azienda Rural. Pes- 
 soal da empreza rural. 
 
DA EMPREZA RURAL 
 
A Empreza Rural é a organisação ecoonmica destinada 
á exploração produtiva dos campos. Ela póde abranger gran- 
de numero de operações produtoras ou se dedicar a uma mo- 
dalidade só da exploração agraria. Póde tambem se destinar- 
á grande ou á pequena cultura. 
 Por Empreza Rural não devemos compreender sómente 
as instituições que têm por fim a produção de utilidades agra- 
rias, mas tambem as que se destinam á proteção dessa produ- 
ção ou ainda á transformação dos produtos rurais (industrias 
rurais). 
DA ORGANISAÇÃO DA EMPREZA RURAL 
 
 Qualquer que seja a fórma e a finalidade da Empreza 
Rural a sua organisação é tarefa dificil e que deve ser bem 
orientada para agir proficuamente. Em todo periodo de orga- 
nisação de uma empreza as operações iniciais são sempre ba- 
sicas. Na Empreza Rural a escolha dos terrenos a serem traba- 
lhados, das raças de animais para creação, dos maquinismos e 
utensilios necessarios á industria rural, das sementes e mudas 
para cultura, da elaboração da receita e despeza, etc. são ope- 
— 64 — 
 
rações primordiais e de relevante importancia. Como em toda 
organisação produtora é de grande necessidade a escolha do 
pessoal habilitado, não devendo se esquecer nunca um orga- 
nisador de que são fatores da grandeza de toda instituição 
economica as cabeças que pensam e os braços que executam. 
Após a inventariação dos capitais agrarios deve, tambem o or- 
ganisador cuidar das combinações culturais ou industriais a 
que se destina a Empreza. 
No calculo das despezas dos exercicios devemos tambem 
levar na devida conta as que são necessarias e inevitaveis, bem 
como as eventuais e os impostos e gravames com que são em 
geral afetados os bens e a produção, tais como despezas com 
os trabalhadores, materia prima a empregar, sementes, prepa- 
ro do sólo, etc., alimentação dos animais, premios de seguros, 
juros de capitais empenhados, impostos diversos, etc. 
 
O PESSOAL DAS EMPREZAS RURAIS 
 
O pessoal que auxilia a produção agraria se classifica por 
diversas categorias. O numero destas, porém, varia com a 
extensão da empreza. 
Na pequena Empreza Rural unia familia ás vezes se en- 
carrega de todas as operações necessarias á produção. Mas, noregimen da grande propriedade territorial, que é o dominante 
em nosso país, torna-se necessario um pessoal mais habilita- 
do, e, debaixo de certas disposições costumeiras e contratuais 
facil nos torna agrupa-los nas seguintes categorias, dentre 
outras: 
a) Proprietario, detentor da riqueza administrada (dono, 
arrendatario, etc.) 
b) Administrador, que dirige os diversos serviços da 
Empreza. 
c) Colonos, trabalhadores manuais e que ordinariamente 
trabalham por contrato. 
d) Pessoal do Escritorio (Contador, caixa, auxiliares, 
etc.). 
e) Meieiros, colonos ou parceiros, que trabalham para o 
proprietario com o contrato de satisfazer ás despezas e dividir 
os lucros com este... 
— 65 — 
 
f) Jornaleiros ou diaristas, empregados que ganham por 
dia de trabalho. 
g) Camaradas, que são os empregados contratados por 
mês. 
Sob o ponto de vista contábil diversas são as pessoas que 
fazem parte da administração das emprezas rurais, como ve- 
remos adiante. 
 
 
LIÇÃO XVII 
 
Da Administração Economica 
 
 Sumario: — Conceito. Funções administrativas. Pessoas. 
Azienda Rural. 
 
DA ADMINISTRAÇÃO ECONOMICA 
 
Administração economica é a serie de funções exercidas 
pelos encarregados do patrimonio afim de que este produza. 
Ela tem por fim todas as operações cujo fim é acconserva- 
ção, melhoramento ou produtividade da riqueza administrada, 
E’ exercida por meio de funções executadas por meio de atos 
e fatos administrativos, por um corpo de pessoas sobre um 
patrimonio. 
As funções administrativas têm por fim a organisação, 
direção e liquidação dos estabelecimentos administrados. 
Daí se infere que são de tres ordens diferentes as funções 
administrativas: 
a) Funções iniciais, que são as que têm por fim a organi- 
 sação dos estabelecimentos. 
b) Funções gestivas ou gestoriais, que têm por fim a di- 
reção, a gerencia da empreza. 
c) Funções finais ou conclusivas que têm por fim a liqui- 
dação das operações de um exercicio, ou a liquidação final da 
empreza. 
Em toda administração economica, de qualquer que seja 
a natureza da entidade administrada, aparecem sempre na 
Empreza Rural tres pessoas distintas: 
 a) Proprietario. 
 b) Agentes Consignatarios. 
 c) Correspondentes. 
— 66 — 
 
Proprietario é o dono da Empreza, é o senhor do patri- 
monio. 
a) Caixas Locais. 
Agentes Consignatarios são os encarregados da guarda 
dos bens materiais da administração. 
Correspondentes são os freguezes da administração. 
As contas que representam o Proprietario, são as de Ca- 
pital e Lucros e Perdas (Resultado). 
As contas que representam os agentes consignatarios são 
as que representam os bens materiais da administração tais 
como Caixa, Mercadorias, Semoventes, Imoveis, etc. 
As contas que representam os Correspondentes são as 
que demonstram os débitos e créditos das pessoas que mantêm, 
transações com a Empreza, são os devedores e credores. 
 
DA AZIENDA RURAL 
 
Denomina-se azienda rural ao patrimonio das emprezas 
agrarias, ao conjunto de todos os bens que formam o ativo 
e passivo da entidade economica rural. 
E’ sobre o Patrimonio da Empreza que são executadas as 
funções administrativas ácima enumeradas, pelas diversas 
pessoas da administração. 
A Azienda Rural póde ser dividida em duas seções com- 
pletamente distintas: 
a) Azienda Domestica. 
b) Azienda Agraria. 
Azienda Agraria é a que se compõe dos bens destinados á 
produção rural. 
Azienda Domestica é a que se compõe dos bens destina- 
dos ás despezas particulares do Proprietario da Empreza 
Rural. 
— 67 — 
 
LIÇÃO XVIII 
 
Do Inventario 
 
Sumario — Conceito. Complexidade. Levantamento do 
Inventario. 
DO INVENTARIO (1) 
 
Inventario é a verificação, descrição e avaliação de to- 
dos os bens que formam um patrimonio. E’ a apuração do 
valor economico de uma riqueza. O Inventario é efetuado 
quando se trata de crear um estabelecimento que tem por fim 
operações economicas (Inventario Inicial), para a verifica- 
ção do resultado produzido em determinados periodos ou 
exercicios (Inventario Periodico), ou para a terminação das 
operações (Inventario Final). E’ o Inventario que nos de- 
monstra o valor economico do patrimonio, a situação da 
azienda. E’ uma das bases para o 1 evantamento do Balanço. 
O fim principal e toda a importancia do Inventario, está 
em demonstrar ao administrador, em qualquer azienda: 
a) a sua situação especifica, isto é, global, dos movi- 
mentos. 
b) a sua situação juridica, a saber, as relações com os 
correspondentes. 
c) a sua situação economica, isto é, o estado liquido do 
patrimonio nas suas relações com as contas que o compõem. 
d) a sua situação financeira, a saber, o movimento mo- 
netario, de numerario. 
 
DA COMPLEXIDADE DO INVENTARIO RURAL 
 
Nas aziendas rurais as operações de inventariação se 
tornam ás vezes, por demais complexas. Compondo-se elas 
de elementos de natureza as mais diversas torna-se ele por 
isso extenso e assaz trabalhoso. Ademais, sendo grandé o 
número de contas, dificulta ainda mais as operações impres- 
cindiveis de clasificação dos bens patrimoniais. 
 
 
 
 
(1) Ver o nosso 1.° Volume, (Contabilidade Geral), 1929, pag. 61. 
— 68 — 
 
Como todo Inventario, o aplicado ás aziendas agrarias 
tambem póde ser Analitico ou Sintético. 
E’ Analitico o Inventario Rural, quando descrimina to- 
dos os elementos patrimoniais, um por um, demonstrando to- 
das as suas qualidades e defeitos. 
O Inventario Sintético é o que reúne os dados todos da 
mesma categorias, debaixo da conta correspondente. 
Todo Inventario deve ser primeiramente Analitico e ao 
depois Sintético, para bôa ordem e exata verficação do pa- 
trimonio. 
Dissemos, que na azienda agraria se torna complexa a 
operação de inventariação, pois que os bens que a compõem 
são inumeros e vasta se torna aquela operação. Principal- 
mente a clasificação dos diversos imoveis se torna algo dificil, 
pois cada classe é aplicada a um determinado, fim, e, faz par- 
te pois, de contas especiais. 
DO LEVANTAMENTO DO INVENTARIO 
Em qualquer que seja a modalidade do patrimonio o pro- 
cesso para inventario é um só. Resume-se ele em tres ope- 
rações, fundamentais; 
a) Classificação. 
b) Descrição. 
c) Avaliação. 
A operação da classificação nos faz grupar os bens exis- 
tentes em um patrimonio, de acôrdo com a natureza de cada 
um. Cada grupo destes formará uma conta tambem especial. 
Descrição é o meio de qualificar os bens pela demons- 
tração de suas qualidades e defeitos. A bôa descrição é con- 
dição essencial para uma exata avaliação. Uma depende e 
é consequencia da outra. 
Avaliação é o calculo em dinheiro do valor dos bens in- 
ventariados. E’ esta operação que demonstra o estado econo- 
mico da azienda. 
O Inventario Analitico exige sempre uma completa e 
detalhada descriminação dos elementos patrimoniais. O In- 
ventario Sintético se contenta com o agrupamento de elemen- 
tos da mesma natureza, pois que este se baseia naquele. O 
 
— 69 — 
 
Inventario Analitico exige classificação descriminada por- 
menorisadamente. Para e Inventano Sintético torna-se ne- 
cessario conhecer as contas que representam os diversos bens 
afim de formar as varias catégorias de contas. 
A descrição e a enumeração dos diversos elementos pa- 
trimoniais (classificação) são essenciais no Inventario Ana- 
litico. Já no Inventario Sintético esta descrição não se faz 
necessaria pois este - um resumo daquele. 
A Avaliação é tanto necessaria no Inventar io Sintético 
quanto no Analitico. Com a diferença de que neste ela é 
efetuada sobre cada cousa, e os totais de cada bem, ao pas- 
so que no Inventario Sintético o calculo monetario é feito 
sobre a conta que representa a cousa inventariada. (1). 
Nas lições seguintes vamos tratar de cada uma destas 
operações para levantamento do Inventario. Deixaremos de 
tratar da Descrição, tãosómente, pois que esta depende dos 
conhecimentos gerais de cada um e não se baseia em conhe- 
cimentos nem principios contaveis. 
 
 
 
 
LIÇÃO XIX 
 
Da Classifica ção dos Bens Rurais 
 
 Sumario: — Método. Capitais Agrarios. Classificação. Qua 
dro siriático. 
DA CLASSIFICAÇÃO DOS BENS RURAIS 
 
A Classificação dos bens rurais é uma das funções pri- 
mordiais para o levantamento do Inventario de uma azienda 
agraria. Para essa operação deve-se ter em vista os bens da 
mesma natureza e grupa-los debaixo da conta que os tiver 
de representar. 
A classificação dos elementos patrimoniais das aziendas 
rurais no Inventario Analitico é a operação mais simples pos- 
sivel. Basta tão sómente enumerar as cousas ou bens da 
 
 
 
 
 
(1) Ver lição XVIII onde apresentamos os modelos de Inventarios 
Analitico e Sintéico. 
— 70 — 
 
mesma natureza debaixo de um titulo que os represente, com 
a especificação dos seus caracteristicos e fins. Assim, debai- 
xo da conta de “Máquinas Ágrarias” incluiremos todas as 
que forem usadas na empreza rural, tais como arados, char- 
ruas, etc. Sob o titulo de Imoveis incluiremos os diversos 
bens dessa natureza, tais como terrenos de culturas, terrenos 
em matas, construções, pastos, etc. 
No Inventario Sintético, porém, não ha necessidade de 
minucia na classificação dos bens. Sendo esta especie de In- 
ventario um resumo do Analitico, este servirá de documenta- 
ção tornando-se, pois, desnecessaria a minudencia. Basta tão 
sómente um ligeiro historico designando, por conjunto, a na- 
tureza dos bens que a conta inventariada representa. 
Após a classificação dos elementos patrimoniais segue- 
se a fase terminal do Inventario que é a Avaliação, após pas- 
sar pela fase de terminação, que é a Descrição. 
 
DOS CAPITAIS AGRARIOS 
 
Capital, num sentido, amplo, são todas as cousas que nos 
proporcionam serviços ou servem á nossa manutenção. São 
as riquezas ecedentes, conservadas para aproveitamento em 
ocasião oportuna. E’ o trabalho acumulado, convertido em 
bens ou cousas, e é geralmente uma resultante da economia 
ou da superprodução. 
Não cabe aqui exaltar a função e necessidade do Capi- 
tal. Sem ele quasi não seria possivel a vida. E é ele um gran- 
de fator da produção, comquanto não seja o principal nem o 
mais importante, como pensam os economistas conservadores. 
A utilidade dos Capitais se faz sentir grandemente na 
Agricultura. Dependendo esta não só do fator humano mas 
de condições outras, fatais e inevitaveis, tais como o prazo 
para germinação das sementes, desenvolvimento das plantas, 
maturação dos frutos, colheitas, criação e crescimento de ani- 
mais, etc... a necessidade da riqueza acumulada torna-se pon- 
to essencial. E é por isso que não se concebe azienda rural 
sem fortes reservas de capitais. 
Os Capitais agrarios tomam diversas fórmas, sob as 
quais são convertidos tais como terras nuas e lavradas ou em 
 
— 71 — 
 
 Pastos, recoltas a colher, animais, maquinarios, dinheiro, 
construções, sementes, adubos, etc. 
 
DA CLASSIFICAÇÃO DOS CAPITAIS AGRARIOS 
 
Inumeras tem sido as classificações propostas dos capi- 
tais rurais. Principalmente os tratadistas de Economia Ru- 
ral não descuidam deste ponto. Assim é que, dentre outras 
classificações, podemos citar as de E. Jouzier (1) Manvilli 
(2) Nicoli (3). 
Geralmente estas classificações são mais propostas de 
acôordo com os principios de Economia Rural e não sob o 
ponto de vista contabil. 
Para nós os Capitais Agrarios pódem ser classificados 
primordialmente em duas grandes classes: 
a) Capitais Domesticos. 
b) Capitais Industriais e Comerciais. 
Capitais Domesticos de uma azienda agraria são os que 
satisfazem ás necessidades particulares, pessoais, do dono 
da Empreza Rural. Estes capitais se regulam e se subdivi- 
dem de acôrdo com as normas da Contabilidade Domestica, 
cabendo a esta a sua sub-divisão. 
Capitais Industriais e Comerciais da azienda rural, são 
todos aqueles que concorrem para a produção agraria e para 
as operações comerciais efetuadas com os resultados daquela. 
Estes capitais se referem ás funções técnicas (industriais) e 
comerciais da azienda agraria, a que já nos referimos. E, 
como todo Capital póde desaparecer ou não lógo após um 
fato administrativo, dizemos que estes Capitais pódem ser 
economicamente considerados. 
a) Fixos. 
b) Circulantes. 
São fixos quando não desaparecem nem se transfor- 
mam após uma operação realisada. Estes Capitais ainda pó- 
dem ser, fisicamente considerados: 
 
 
(1) E. Jouzier: “Economie Rurale”, Pariz, 1920, pag. 84. 
(2) Venanzio Manvilli: “Valutazione Agrarie”, Livorno, 1922, pa- 
gina 47, e “Contabilit á Agrarie”. Livorno, 1922, pag. 6. 
(3) Vittori Niccoli: “Economia Rurale, Agrotimesia e Computiste- 
ria Agraria”, Torino, 1927, pag. 16. 
 
 
— 72 — 
 
a) Moveis. 
b) Imoveis. 
São moveis quando constituidos por bens desta natureza. 
Estes ainda pódem ser, segundo a sua natureza: 
a) Animados ou Semoventes. 
b) Inanimados. 
conforme tenham ou não movimento independente do 
esforço alheio. 
Os Capitais fixos imoveis são os formados por bens 
imoveis. Estes pódem ser: 
a) Imoveis territoriais. 
b) Imoveis de Exploração ou Cultura. 
Aqueles são formados pelos terrenos desaproveitados. 
Estes são constituidos por terras cultivadas, edificações, etc. 
Os Capitais circulantes são sempre moveis. E pódem 
ser: 
a) Animais, se têm vida propria. 
b) Inanimados, em caso contrario. 
Ambos pódem ser utilizados na produção agraria ou nas 
suas operações comerciais. 
 
QUADRO SINÓTICO DOS CAPITAIS AGRARIOS 
 
Apresentamos a seguir o quadro sinótico da nossa clas- 
sificação dos Capitais Agrarios. 
 
 
 
 
 
 
 
— 73 — 
 
LIÇÃO XX 
 
Da Avaliação dos Bens Rurais 
 
Sumario — Conceito. Métodos. Agrotmésia. Metodos. 
 
DA AVALIAÇÃO DOS BENS RURAIS 
 
Para a apuração do estado economico das aziendas 
agrarias, torna-se indispensavel a Avaliação, que é a função 
conclusional de todo Inventario. 
Avaliação é o calculo monetario efetuado sobre uma de- 
terminada cousa. Todos os bens são sucetiveis de avalação. 
Para tal, diversos são os processos usados. A Avaliação po- 
rém, dos bens rurais não segue uma regra prefixada. O mé- 
todo a aplicar varía com a natureza do elemento a inventa- 
riar. Sendo que até a classificação dos imovéis rurais cons- 
titue oje um capitulo especial de Economia e Contabilidade 
Rurais que estudaremos adeante. E’ assunto de tal importan- 
cia que os diversos métodos de aváliação das terras das em- 
prezas rurais constituem hoje uma ordem de estudos definida, 
denominada Agrotimesia. 
 
DOS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DOS 
BENS RURAIS 
 
As cousas que formam o patrimonio das emprezas ru- 
rais pódem ser avaliadas por diversos processos. Varios são 
os métodos aplicados, tais como o do preço do custo, preço 
corrente, curso, médio, etc. Estes métodos pódem ser aplica- 
dos a quaisquer especie de bens moveis, com maior ou menor 
vantagem, variando todos eles de caso a caso. 
Pelo método do preço do custo damos a cada elemento 
patrimonial um valor monetario baseado nas despezas por 
que nos ficou a cousa, mais os juros compensadores do em- 
prego do capital. 
Pelo método do preço corrente damos ao bem inventaria- 
do um valor monetario baseado no preço de cotação do 
mercado 
 
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Pelo método do curso médio ou valor médio, encontra- 
se o valor de um dado elemento fazendo-se a soma da cotação 
atual da cousa (preço corrente), mais o preço de custo do 
mesmo, dividido o total por dois. O resultado será o preço 
médio. 
Qualquer destes processos como outros mais que exis- 
tem, póde ser adotado com maior ou menor vantagem.

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