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CASO CONCRETO 2 QUESTÃO SUBJETIVA– (FGV/OAB 2010.2/Adaptada). Durante dez anos, empregados de uma fabricante de extrato de tomate distribuíram, gratuitamente, sementes de tomate entre agricultores de uma certa região. A cada ano, os empregados da fabricante procuravam os agricultores, na época da colheita, para adquirir a safra produzida. No ano de 2009, a fabricante distribuiu as sementes, como sempre fazia, mas não retornou para adquirir a safra. Procurada pelos agricultores, a fabricante recusou-se a efetuar a compra. O tribunal competente entendeu que havia responsabilidade pré-contratual da fabricante. Explique o que significa a responsabilidade pré-contratual, fundamentando se a decisão do tribunal foi acertada. R: A responsabilidade pré-contratual é aquela que deriva da violação à fé objetiva na fase das negociações preliminares à formação do contrato. Não foi acertada, pois em nenhum momento se estabeleceu obrigação. Doutrina: “Nem sempre, no entanto, o contrato nasce instantaneamente de uma proposta. Seguida de uma imediata aceitação. Na maior parte dos casos a oferta é antecedida de uma fase, às vezes prolongada, de negociações preliminares caracterizada por sondagens, conversações, estudos e debates (tractatus, trattative, pourparlers), também denominada fase da puntuação. Nesta, como as partes ainda não manifestaram a sua vontade, não há nenhuma vinculação ao negócio. Qualquer delas pode afastar-se, simplesmente alegando desinteresse, sem responder por perdas e danos. Mesmo quando surge um projeto ou minuta, ainda assim não há vinculação das pessoas. Tal responsabilidade só ocorrerá se ficar demonstrada a deliberada intenção, com a falsa manifestação de interesse, de causar dano ao outro contraente, levando-o, por exemplo, a perder outro negócio ou realizando despesas. O fundamento para o pedido de perdas e danos da parte lesada não é, nesse caso, o inadimplemento contratual, mas a prática de um ilícito civil (CC, art. 186). ” Direito Civil Brasileiro, volume 3: Contratos e atos unilaterais; Carlos Roberto Gonçalves; Saraiva; 2017; 14ª edição; Página 85 e 86; Jurisprudência: CONTRATO.PRELIMINAR. JOINT VENTURE. EXPLORAÇÃO DE ATIVO DO AUTOR, TOTEM PUBLICITÁRIO. ROMPIMENTO DAS NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. Do exame dos autos, tornou-se claro que o autor tinha ciência de que o negócio poderia não se concretizar. Em outras palavras, ir além da operação da joint venture, visto que inúmeros documentos forem por ele encaminhados, a fim de que tivesse o réu efetivo conhecimento da situação financeira do autor. Não se vê, portanto atos de deslealdade do réu em virtudes de ter promovido operações conjuntas com o auto no interregno da due diligence, pois tinha conhecimento o auto de que a controladora do réu impunha condições para celebração definitiva da sociedade. No entanto, a situação deficitária do autor, somada à inviabilidade da sociedade, apontada pelo réu conforme orientação de sua controladora – RBS, impediu a constituição da sociedade. Do exame das provas, é possível concluir que as partes ambas contribuíram para o insucesso do empreendimento e, por isso, a sentença que considerou exclusivamente o réu como responsável pelo rompimento do contrato preliminar deve ser modificada. Recurso do réu parcialmente provido para julgar improcedente o pedido de indenização. Recurso adesivo do autor prejudicado. (TJ-SP-APL:01749734220118260100 SP 0174973-42.2011.8.26.0100, Relator: Carlos Alberto Garbi, Data de Julgamento: 28/11/2016, 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, Data de Publicação: 30/11/2016) CASO CONCRETO 3 QUESTÃO SUBJETIVA (FGV OAB 2012.3 Adaptada). Em 12.09.12, Sílvio adquiriu de Maurício, por contrato particular de compra e venda, um automóvel, ano 2011, por R$ 34.000,00 (trinta e quatro mil reais). Vinte dias após a celebração do negócio, Sílvio tomou conhecimento que o veículo apresentava avarias na suspensão dianteira, tornando seu uso impróprio pela ausência de segurança. Considerando que o vício apontado existia ao tempo da contratação, de acordo com a hipótese acima e as regras de direito civil, o que poderá Silvio requerer de Maurício? R: Diante da ocorrência dos vícios redibitórios, o adquirente pode propor o desfazimento do contrato em dois tipos de ação (não acumuláveis), sabendo que o prazo ainda não foi perdido. 1 – Desfazimento: Ele devolve a coisa imprópria e recebe o valor da coisa mais as despesas. 2 – Abatimento: Ele mantém a coisa imprópria e recebe um abatimento proporcional ao defeito no valor. Se for comprovada a má fé de Maurício poderá será cobrado também as perdas e danos. Doutrina: “Se o bem objeto do negócio jurídico contém defeitos ocultos, não descobertos em um simples e rápido exame exterior, o adquirente, destinatário da garantia, pode enjeitá-lo ou pedir abatimento no preço (CC, arts. 441 e 442). A ignorância dos vícios pelo alienante não o exime da responsabilidade. No sistema do Código Civil de 1916 a responsabilidade do alienante na hipótese de ignorância sobre o vício podia ser afastada por cláusula contratual exoneratória (art. 1.102). No entanto, assinala percucientemente MÔNICA BIERWAGEN, “como esse dispositivo não foi reproduzido pelo novo Código Civil – até porque destoa da nova leitura dada aos princípios da boa-fé e da vedação ao enriquecimento sem causa –, a inclusão de cláusula dessa natureza só pode ser nula, não operando efeitos” 1 Direito Civil Brasileiro, volume 3: Contratos e atos unilaterais; Carlos Roberto Gonçalves; Saraiva; 2017; 14ª edição; Página 165 e 166; Jurisprudência: APELAÇÕES CIVEIS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE VÍCIO REDIBITÓRIO. PERDAS E DANOS. VÍCIO REDIBITÓRIO. RESTITUIÇÃO DO PREÇO PAGO. A caracterização do vício redibitório justifica a determinação de restituição imediata do preço pago pela parte demandante e a indenização. Apelação desprovida. (Apelação Cível Nº 70079522843, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Cini Marchionatti, Julgados em 30/01/2019). (TJ-RS- AC: 70079522843 RS, Relator: Carlos Cini Marchionatti, Data de Julgamento: 30/01/2019, Vigésima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário de Justiça do dia 11/02/20 CASO CONCRETO 5 QUESTÃO SUBJETIVA– (Defensoria Pública/MS/VUNESP/2012/Adaptada) João comprou um automóvel, com reserva de domínio, com uma entrada e pagamento de 24 prestações. Desempregado, deixou de efetuar o pagamento da última parcela, quando foi interpelado judicialmente pelo vendedor, para constituí-lo em mora e ser possível a execução da cláusula de reserva de domínio, resolvendo o contrato. Com base nesta situação, poderá o vendedor ver o contrato resolvido? R: Pelo adimplemento substancial do contrato, não é possível a busca e apreensão do veículo, mas, apenas, a exigência do pagamento da parcela restante. Doutrina: “Embora muito se tenha discutido a respeito da natureza jurídica do “pactum reservati dominii”, há hoje um consenso de que a modalidade em apreço tem a natureza de venda sob condição suspensiva, pois a aquisição do domínio fica subordinada ao pagamento da última prestação. O evento incerto é o pagamento do preço. Preleciona, com efeito, EDUARDO ESPÍNOLA que “é contrato de compra e venda dependente de uma condição suspensiva aquele em que o vendedor reserva para si o domínio da coisa vendida até o momento em que se verifique o pagamento da última prestação do preço”. No mesmo sentido a manifestação de MESSINEO: “É, pois, uma venda submetida à condição suspensiva (donec pretium solvatur); deve-se notar, porém, que a reserva da propriedade pode depender da aposição de um termo” Direito Civil Brasileiro, volume 3: Contratos e atos unilaterais; Carlos Roberto Gonçalves; Saraiva; 2017; 14ª edição; Página 335 e 336; Jurisprudência: AGRAVO DE INSTRUMRNTO. RESERVA DE DOMÍNIO. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO CONTRATO NÃO DEMONSTRADO. 1. Aindaque o Egrégio STF tenha recentemente reconhecido que a teoria do adimplemento substancial não se aplica aos contratos de financiamento com garantia de alienação fiduciária (REsp n. 1.622.555-MG), nada obsta ao eventual reconhecimento do adimplemento substancial de contratos com cláusula de reserva de domínio, os quais são regulados exclusivamente pelo Código Civil. 2.Não tendo sido comprovado, até aqui, o pagamento de mais de 80% do valor pactuado, não há falar, ao menos por ora, no adimplemento substancial de avença firmada entre os litigantes. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70075390997, Décima Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Mário Crespo Brum, Julgado em 30/11/2017). (TJ-RS –AI:70075390997 RS, Relator: Mário Crespo Brum, Data de Julgamento: 30/11/2017, Décima Quarta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 05/12/2017)
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