Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ricardo Leite de Albuquerque R ic ar d o L ei te d e A lb u q u er q u e Fundamentos de Gestão Escolar e Inspeção Escolar F un da me nto s de G es tã o E sc ol ar e In sp eçã o E sc ol ar Su pe rv is ão , I ns pe çã o e O rie nt aç ão E du ca ci on al Editora 1a Edição / Setembro / 2011 Impressão em São Paulo - SP FUNDAMENTOS DE GESTÃO ESCOLAR E INSPEÇÃO ESCOLAR Ricardo Leite de Albuquerque Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 FUNDAMENTOS DE GESTÃO ESCOLAR E INSPEÇÃO ESCOLAR COORDENAÇÃO GERAL Nelson Boni COORDENAÇÃO DE PROJETOS Leandro Lousada PROFESSOR RESPONSÁVEL Ricardo Leite de Albuquerque REVISÃO ORTOGRÁFICA Célia Ferreira Pinto COORDENADORA PEDAGÓGICA DE CURSOS EAD Esp. Maria de Lourdes Araujo PROJETO GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO E CAPA Glaucia Ferraro 1a EDIÇÃO: SETEMBRO DE 2011 Impressão em São Paulo/SP Copyright © EaD Know How 2011 Nenhuma parte desta públicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. A345f Albuquerque, Ricardo Leite de. Fundamentos de gestão escolar e inspeção escolar. / Ricardo Leite de Albuquerque. – São Paulo : Know How, 2011. 131 p. : 21 cm. Inclui bibliografia ISBN : 978-85-8065-120-1 1. Fundamentos da educação. 2. Gestão escolar. 3. Inspeção escolar. I. Título. CDD – 371.2 Você está recebendo o livro-texto da disciplina de Fundamentos de Gestão Escolar e Inspeção Es- colar, construído especialmente para este curso, baseado no seu perfil e nas necessidades da sua formação. A finalidade deste livro é disponibilizar aos alunos da EAD conceitos e exercícios referen- tes aos principais temas da Gestão e da Inspeção Escolar, em âmbito nacional. Estamos, constantemente, atualizando e melhorando este material, e você pode auxiliar- -nos, encaminhando sugestões e apontando me- lhorias, via monitor, tutor ou professor. Desde já, agradecemos a sua ajuda. Lembre-se de que a sua passagem por esta disciplina será também acompanhada pelo Sistema de Ensino EaD Know How, seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou Ambiente Virtual de Aprendizagem. Entre sempre em contato conosco quan- do surgir alguma dúvida ou dificuldade. Participe dos bate-papos (chats) marcados e envie suas dú- APRE SENTA ÇÃO vidas pelo Tira-Dúvidas. Toda equipe está à disposição para aten- dê-lo (a). Seu desenvolvimento intelectual e pro- fissional é o nosso maior objetivo. Acredite no seu sucesso e tenha bons mo- mentos de estudo! Equipe EaD Know How SU MÁ RIO CARTA DO PROFESSOR PLANO DE ESTUDOS UNIDADE 1 - A formação do pedagogo na função de inspetor escolar no contexto atual UNIDADE 2 - Fundamentos histórico-antropo- lógicos para a compreensão dos processos de gestão UNIDADE 3 - Organização dos sistemas de ensino I UNIDADE 4 - Organização dos sistemas de ensino II UNIDADE 5 - A estrutura e o funcionamento da Educação Superior UNIDADE 6 - Fundamentos legais da Inspe- ção Escolar REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 9 13 15 43 69 83 95 117 129 9 Caro (a) acadêmico (a), A consolidação dos sistemas públicos e privados de Educação e/ou ensino é um fato histórico bas- tante recente na sociedade brasileira. É somente a partir do século XIX que a Educação Brasileira começa a ser concebida em uma perspectiva de política pública, evidentemente voltada a atender aos anseios das elites dominantes; o que, aliás, é uma característica marcante da formação socioe- conômica do país, no que diz respeito às políticas educacionais: de um lado, uma educação livres- ca, erudita, artística e de lazer, para os filhos das classes dominantes, e do outro, uma educação, no máximo, de nível médio, de orientação técnica e direcionada à formação de mão de obra para uma emergente sociedade capitalista, industrializada, que se desenhava. Essa dicotomização do processo educa- cional brasileiro cristalizou-se e imprimiu o perfil aos modelos educacionais que se seguiram, que se caracterizaram por uma inserção subordinada do Brasil aos ditames da ordem econômica interna- CARTA DO PRO FESSOR 10 cional, capitaneada pelos países europeus e sob a hegemonia política dos Estados Unidos, principal- mente a partir da Segunda Guerra Mundial (1 de setembro de 1939 até 2 de setembro de 1945). Porém, para nossa relativa tranquilidade, a definição de políticas públicas de Educação, em um contexto de dominação econômica de cunho libe- ral, não se dá em uma via exclusiva de mão única, como se todos os educadores e gestores da Educa- ção concordassem com as formas político-educa- cionais construídas pelas elites políticas e econômi- cas da América Latina e, em especial, do Brasil. É, pois, num contexto de contradições e embates ideológicos que se processa a constru- ção do cenário educacional brasileiro, o que im- plica a necessária valorização e reconhecimento dos profissionais que estão à frente desse pro- cesso, dada a sua importância estratégica para a definição de um modelo educacional necessário para o Brasil do século XXI. Nesse sentido, as figuras do Gestor Edu- cacional e do Inspetor Escolar aparecem como elementos fundamentais, tanto para cristalizar sistemas educacionais reprodutivistas do mode- lo político-econômico, como para imprimir um caráter de transformação das estruturas sociais, no âmbito dos seus locais de trabalho. O pre- sente trabalho compromete-se com a alternativa transformadora que deve impregnar as ações dos 11 agentes educacionais. Uma tarefa, portanto, que exige grande determinação política e a consciência da necessi- dade de ampliar seus conhecimentos sobre a reali- dade que o (a) cerca. Seja bem-vindo (a)! Professor Ricardo Leite de Albuquerque 13 Bases Tecnológicas Para o nosso estudo, faremos inserções substan- ciais na literatura pertinente aos assuntos de Ges- tão Escolar e Inspeção Escolar, de modo a sub- sidiarmos legalmente – e de fontes primárias – a compreensão dos mecanismos sócio-históricos que determinam os sistemas educacionais. Tam- bém, faremos sugestões de páginas disponibiliza- das na internet (WEB), de instituições de excelên- cia na área, para subsidiar as discussões e ampliar os horizontes interpretativos dos temas em estudo. Competências Esperamos que, ao final das seis unidades, você esteja apto a reconhecer as variáveis (políticas, eco- nômicas e culturais) intervenientes na definição de projetos educacionais, ao longo da história, bem como tenha desenvolvido competência técnica para adequar projetos educacionais, ainda no pla- no das ideias, às exigências da legislação vigente. Como o tempo destinado às nossas uni- dades é relativamente curto, pois trataremos de PLANO DE ESTU DOS 14 assuntos de relevância histórica, participe ativa- mente das atividades propostas, utilize os recursos informacionais postos à sua disposição, pergunte aos seus tutores e aproveite os fóruns de debates. A Educação Brasileira necessita de bastante massa crítica para superar as suas dificuldades. Carga Horária: 30 horas Lembrete: Dois documentos serão fundamentais na nossa rápida trajetória: o Plano Nacional de Edu- cação, sancionado pela Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN 9394 -, de 20 de dezembro de 1996. Tenha-os à mão para eventuais consultas. No Portal do MEC (http://portal.mec.gov.br/), na coluna à esquerda, clique em “Legislação”. 01/ A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO NA FUNÇÃO DE INSPETOR ESCOLAR NO CONTEXTO ATUAL 17 Nesta unidade, estudaremos “A formação do pedagogo na função de inspetor escolar no contexto atual”, de forma que você compreenda o papel organizacional que se espera da Inspe- ção Escolar e, por conseguinte, a importância que lhe deve ser atribuída no contexto dos siste- mas públicos e privados de ensino. Objetivos da Unidade Ao final desta unidade, você deverá ter condições de: ● Identificar a importância do tema; ● ConceituarInspeção Escolar; ● Conceituar Gestão Escolar; ● Verificar as diferenças entre ambos. Conteúdos da Unidade ● Etimologia do termo “Inspeção”; ● A Inspeção em diferentes contextos históricos; ● Evolução histórica da Inspeção Escolar no Brasil; ● Formação do Inspetor Escolar. 19 O termo “Inspeção Escolar” tem sido identifica- do, no contexto educacional e ao longo da história, como uma atividade rígida de controle de orga- nizações, de caráter cartorial e legalista, não raras vezes levando-nos a associar a figura do Inspetor Escolar a um ser humano caracterizado pela rigi- dez de princípios, de “mentalidade burocrática”, que não consegue ser “flexível” o suficiente para compreender o movimento escolar. Com certeza, tal fato reside na própria construção histórica da ação de inspecionar, posto que, todo ato de inspeção contém, em si, um cará- ter fiscalizador das ações humanas, principalmente quando se trata de inspeção vinculada ao poder pú- blico. Por isso, nesse primeiro momento, faremos uma aproximação etimológica do termo (Inspeção Escolar), de caráter histórico, para que possamos compreender melhor as diversas facetas assumidas pela Inspeção ao longo de sua existência. Entre os vários significados do termo “Inspeção”, encontramos: ETIMOLOGIA DO TERMO "INSPEÇÃO" 20 INSPEÇÃO (s.f.) Ação de olhar; vista: à primeira inspeção. / Exame; vistoria. / Encargo de vigiar, superinten- der. / Cargo, emprego de inspetor. (http://www.dicionariodoaurelio.com/ dicionario.php?P=Inspecao) Para ilustrar a ideia, observe as utilizações comuns do termo “inspeção”: “Os analistas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) devem iniciar hoje a inspeção da nova e polêmica fábrica de enriquecimento de urâ- nio que o Irã constrói sob uma colina.” “A resolução do Conama determina que todos os Estados e municípios com mais de 3 milhões de veículos serão obrigados a ter um plano de ins- peção veicular, que deve ser apresentado em até 12 meses após a publicação na norma no Diário Oficial da União.” (extraído de: http://www.dicio.com.br/inspecao/) Pelos exemplos acima, depreende-se que o termo Inspeção é aplicável a diferentes situações em diferentes contextos, mantendo-se, porém, o sentido de verificação ao cumprimento de planos e metas de um projeto. Para MENESES (1977, pág. 21), o termo 21 Inspeção vem do latim inspectio, onis, que quer dizer: ação de olhar; exame; verificação. O autor encontrou nos dicionaristas brasileiros uma am- pliação das abrangências da palavra. Laudelino Freire, por exemplo, dá sete sentidos: ● Ato de olhar; ● Ação de examinar, de observar com cuidado; ● Exame, vistoria; ● Encargo de vigiar, superintendência; ● Tribunal, junta ou repartição pública encarre- gada de inspecionar, de fiscalizar ou de dar o seu parecer sobre assuntos especiais; ● Cargo ou emprego de Inspetor; ● Exame feito por um ou mais Inspetores ou por uma Junta Inspetora. Menezes cita, ainda, Aurélio Buarque de Ho- landa, que apresenta três significados de inspecionar: ● Examinar ou fiscalizar como Inspetor; inspecio- nar uma obra; inspecionar um colégio; ● Examinar, revistar; vistoriar; inspecionar uma tropa; ● Examinar ou observar com grande atenção. Como se pode depreender, a palavra “Ins- peção” pode ser utilizada com vários sentidos, com razoável grau de diferença entre eles, pois se pode imprimir uma conotação autoritária ao termo, ca- racterizando a atuação do Inspetor Escolar como um exercício de poder absolutista, ou podemos compreendê-la, por outro lado, como uma práti- ca necessária e estratégica para a manutenção da 22 qualidade de projetos, em qualquer área de atuação. É uma questão de postura pessoal a ênfase que se pretende imprimir ao trabalho de Inspeção escolar. A Inspeção Escolar, como as demais atividades humanas ao longo do processo civilizatório, as- sumiu diferentes perfis, conforme a função que lhe era atribuída pelo contexto histórico no qual se inseria. Menezes, (Op. cit., pág. 7), em consulta ao Dicionário de Pedagogia Labor1, distingue pelo menos três períodos na evolução da Inspeção Es- colar, tais como se seguem: ● O primeiro período, denominado confessional, caracterizou-se pela forte influência religiosa. Antes do século XII não havia outra escola que a paro- quial. A inspeção era exercida pelo bispo da diocese. A INSPEÇÃO EM DIFERENTES CONTEXTOS HISTÓRICOS 1. Dicionário de Pedagogia LABOR. Barcelona, Editorial LA- BOR S.A., 1926, tomo II, pp 1684 e ss. 23 Lembrete: “O mestre-escola já existia antes da criação da função de inspetor e exercia atividades de elaborar o Plano de Estudos, designar e demitir professores e, em nome do bispo, conceder o di- reito de ensinar.” (MENESES, op. cit. pág. 7) ● O segundo período, denominado de transição, caracterizou-se pela paulatina perda de influência religiosa em favor do crescente poder civil [...]. ● O terceiro período, nitidamente técnico-pedagó- gico, iniciou-se após a Revolução Francesa, com a influência de Froebel, Rousseau, Pestalozzi, Con- dorcet e outros. O terceiro período, portanto, delineou as características do modelo educacional moder- no, com todas as mazelas que conhecemos bem, conferindo ao poder público a tarefa de inspe- cionar, por intermédio de funcionários públicos, as escolas de sua jurisdição, públicas ou privadas. Este modelo se mantém até os dias atuais e não se vislumbra, a médio e longo prazos, qualquer pers- pectiva de mudança na sua estrutura. Observe o detalhe: para cada período da forma histórica de Inspeção Escolar, correspon- de um modelo socioeconômico determinante. É assim que, no primeiro período, tínhamos a pre- dominância da Igreja Católica em um contexto de relações de produção feudais. 24 No segundo período, o modelo feudal entra em processo de decomposição, provocando alterações significativas nas relações políticas e sociais, per- dendo (gradativamente) a Igreja, parte substancial de seu poder. O terceiro período pode ser considerado a era da hegemonia burguesa, o momento em que a burguesia assume a condição de classe dominan- te e impõe, a partir da Europa, um modelo de or- ganização social baseado na exploração capitalista, com todos os desdobramentos e impactos que co- nhecemos no mundo moderno... RELAÇÃO DA INSPEÇÃO COM A ADMINISTRAÇÃO Um dado relevante, para a consideração do estudan- te de Gestão e Inspeção Escolar, refere-se à relação existente entre esses dois tópicos, pois, é fundamen- tal compreendermos em que momento e em que instância administrativa realiza-se a Inspeção Esco- lar e qual a sua relação com a estrutura jurídico-legal do Estado, ou seja: quem inspeciona? Atendendo a quais demandas político-organizacionais? Para MENESES (op. cit., pág. 23), no que se refere à administração, a palavra “inspe- cionar” tem o caráter de fiscalizar e, como tal, ad- quire dois aspectos que devem ser devidamente compreendidos: 25 a. O primeiro aspecto é aquele no qual a inspe- ção (fiscalização) “é parte integrante da adminis- tração”, ou seja, “é interna e corresponde aos atos de vigilância das autoridades eminentes sobre as pessoas que trabalham como agentes da empresa”. Nesse sentido, podemos compreender, portanto, a Inspeção como sendo um ato rotineiro interno às empresas e instituições: “quem delegou a execu- ção verifica como ela se processou”. Nesse caso, a inspeção poderá ser também “por meios indiretos no caso em que se contratam pessoas de fora da empresa para exercer a vigilância, ou seja, estado de permanente atenção”. São bastante conhecidos os atos de “terceirização” que ocorrem no setor produtivo brasileiro e mundial e que consistem em delegar, para outras empresas, certas atribuições no âmbito da organização, por exemplo: limpeza, alimentação, segurança, avaliação (inspeção) etc. Fique atento! Este é um comportamento típi- co do contexto neoliberal em que vivemos, que mereceria uma atenção especial, principalmentequando se relaciona à terceirização de serviços públicos e retirada do Estado de certas funções de interesse social. b. O segundo aspecto refere-se à forma em que “a fiscalização é executada por um organismo es- 26 tranho, quase sempre o Estado, como garantia do cumprimento das suas prescrições legais”. Nesse contexto é que surge a função do Inspetor Es- colar, institucionalizada pelo Estado e parte inte- grante dos sistemas públicos de Educação. A sua existência justifica-se histórica e politicamente pelos seguintes requisitos: ● O melhor governo tem sempre necessidade de saber se tudo corre normalmente; ● É preciso ter segurança de que os subalternos cumprem as suas atribuições; ● É necessário coordenar meios afins em todos os aspectos, em todos os estágios do desenvolvi- mento da ação. (op. Cit., pág. 24) Por fim, registre-se o caráter de contro- le2 que assume a inspeção, em qualquer nível ou estrutura de atuação. Controle, no sentido de acompanhar e retroalimentar processos de tra- balho (produção), de forma a buscar o melhor desempenho para o alcance das metas previstas pelos níveis estratégicos das organizações. Podemos, portanto, encerrar este tópi- co, afirmando que a inspeção – e em especial a 2. O termo controle possui inúmeros significados, dos quais extrairemos aqui o que nos parece mais pertinente para o foco do nosso trabalho. O Moderno Dicionário da Língua Portu- guesa Michaelis apresenta uma definição interessante: 1. Ato de dirigir qualquer serviço, fiscalizando-o e orientando-o do modo mais conveniente. 27 Inspeção escolar – não deve ser compreendida como um ato de autoritarismo ou de exercício meramente burocrático do poder, mas, como um elemento estratégico na condução, execução e correção de rumos de qualquer projeto e, princi- palmente, para o nosso campo específico de atu- ação que é a Educação. O termo Inspeção Escolar também é conhecido, nos meios educacionais, como Orientação e/ou Supervisão, o que causa natural confusão, até por- que são termos com significados diferentes e, con- sequentemente, atribuições diferentes também. A título de enriquecimento da temática, é relevan- te considerarmos que, no contexto educacional do século XXI, a Orientação Educacional e a Su- pervisão Escolar tendem a fundir-se e a tornar-se uma única função, de caráter abrangente, chamada EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA INSPEÇÃO ESCOLAR NO BRASIL 28 de Coordenação Pedagógica. Observe que em vá- rios Estados da federação, esse fenômeno já está ocorrendo. Talvez, fosse interessante uma pesqui- sa nesse sentido, uma vez que a função social da Orientação Educacional, com o sentido de “des- cobrir” potencialidades profissionais (aptidões para o mercado de trabalho), tem perdido a sua pertinência histórica. O mais importante é identificarmos que, na legislação brasileira, encontramos a Inspeção escolar com dois tipos principais: a Inspeção do sistema federal (compreende-se entre as atribui- ções do Ministério da Educação – MEC) e a Ins- peção dos sistemas estaduais e municipais de en- sino. Acrescente-se o fato de que, cada entidade mantenedora de instituições educacionais também mantém procedimentos próprios de inspeção, conforme citamos no tópico 1.2, acima. Nas unidades 3 e 4, que tratarão da orga- nização dos sistemas de ensino, teremos oportuni- dade de verificar como, de fato, são distribuídas as funções da inspeção escolar nas instâncias federal, estadual e municipal. No momento, é fundamental analisarmos o que afirma a legislação, em termos de definições de papéis e importância estratégica da inspeção escolar. 29 Faremos, a seguir, breve estudo considerando a le- gislação atual, realçando os aspectos textuais mais importantes para a nossa análise. Convém, nesse momento, ter à mão a LDB 9394/96. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n° 9394, de 20 de dezembro 1996, no seu TÍTULO IV, Da organização da Educação Nacio- nal, Art. 8°, afirma o seguinte: Art 8º A União, os Estados, o Distrito Fe- deral e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino. § 1º Caberá à União a coordenação (grifo meu) da Política Nacional de Educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo a função normativa (grifo meu), redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais. Observe que, para realizar a coordenação de um Plano Nacional de Educação, em um país de dimensões continentais como o Brasil, será ne- cessário um competente serviço de inspeção, de modo a acompanhar, nos Estados e Municípios, a sua efetiva aplicação. Por outro lado, a função nor- mativa, que também será exercida pelos estados e Municípios, no âmbito de suas jurisdições, implica a elaboração de normas (Leis, Decretos, Delibera- ções, Resoluções, etc.) e a necessária exigência de sua aplicação e cumprimento pela via do controle 30 (inspeção) realizado por órgãos especificamente determinados para esse fim, tanto no plano federal quanto nas demais entidades federativas do país. Ora, a elaboração de um Plano Nacional de Educação, ainda que “em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios” (Art. 9º) exige uma ação fiscalizadora sobre os parceiros (Estados, Municípios e Distrito Federal). Tal ação fiscalizadora compete, evidentemente, à União, que também tem a obrigação de executá-lo (o Pla- no), e é exercida por órgãos da administração fede- ral que age, segundo MENESES (op. Cit., pág. 47): “direta e indiretamente. Diretamente, com a pro- moção de encontros com Secretários Estaduais de Educação [...] e indiretamente, pela apresentação de relatórios federais sobre a situação educacional nos estados e sua comparação com as metas e es- tratégias federais.” É importante salientar que o Brasil dispõe de instrumentos de avaliação da situação educacio- nal, para todos os níveis, tais como o Sistema Na- cional de Avaliação da Educação Básica – SAEB e o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, que apresentam, periodicamente, uma radiografia da situação de aprendizagem dos alunos de insti- tuições públicas e particulares nacionais. Tais sistemas de avaliação mereceriam uma abor- dagem mais profunda dos agentes educacionais, 31 posto que são oriundos de programas educacio- nais definidos a partir do modelo socioeconômico neoliberal que vigorou, no mundo, no final dos anos 70 e exerceu (exerce) enorme influência na definição das políticas públicas educacionais dos últimos trinta anos, no Brasil. A PRESENÇA DA INSPEÇÃO ESCOLAR NAS LEIS DE DIRETRIZES E BASES Pelo que se pode depreender da análise das Leis de Diretrizes e Bases implantadas no país, a função da inspeção escolar mostrava-se necessária, indispen- sável, melhor dizendo, pela absoluta importância da sua presença na consecução dos objetivos da Educação Nacional. Ressalte-se que o exercício da inspeção estará sempre atrelado à satisfação dos interesses do poder público. É preciso conside- rar, pois, quais são os interesses do poder público. Esse tema remete-nos à discussão sobre o papel do Estado, uma discussão de cunho sociológico, de absoluta importância nos tempos atuais, uma vez que é a concepção de Estado e a sua função social que determinará o desenvolvimento de po- líticas públicas de saúde, educação, segurança e afins. E, em pleno século XXI, essa discussão se torna cada vez mais atual, posto que, as disputas políticas pelo poder carregam, no seu interior e como plataforma política, as concepções de Esta- 32 do que orientam as agremiações políticas. Dica de estudo: pesquise sobre os conceitos de Estado, na concepção liberal e na visão do Ma- terialismo Histórico. Faça uma comparação entre as duas concepções. Elas serão determinantes na definição de propostas educacionais para o país. Veremos, a seguir, algumas citações da le- gislação que implicam a presença da inspeção es- colar. Busque a legislação citada e componhao seu acervo (a sua pasta) de documentos legais. Será ex- tremamente útil na sua vida profissional. Vejamos: A LEI NO 4.024, DE 20 DE DEZEM- BRO DE 1961, foi a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação editada no país. Trazia, no seu conteúdo, os princípios que passariam a orientar a formação da sociedade brasileira, conforme se observa no: TÍTULO I Art. 1º A educação nacional, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solida- riedade humana, tem por fim: a) a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, do Estado, da família e dos demais grupos que compõem a comunidade; b) o respeito à dignidade e às liberdades funda- mentais do homem; c) o fortalecimento da unidade nacional e da soli- 33 dariedade internacional; d) o desenvolvimento integral da personalidade hu- mana e a sua participação na obra do bem comum; e) o preparo do indivíduo e da sociedade para o domínio dos recursos científicos e tecnológicos que lhes permitam utilizar as possibilidades e ven- cer as dificuldades do meio; f) a preservação e expansão do patrimônio cultural; g) a condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe ou de raça. Observe o que afirmava o: Art. 14. É da competência da União reco- nhecer e inspecionar os estabelecimentos particu- lares de ensino superior. No que se refere a Estados e Municí- pios, indicava o: Art. 16. É da competência dos Estados e do Distrito Federal autorizar o funcionamento dos estabelecimentos de ensino primário e médio não pertencentes à União, bem como reconhecê-los e inspecioná-los (grifo meu). A LEI Nº 5.540, DE 28 DE NOVEM- BRO DE 1968, que “Fixa normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articula- ção com a escola média, e dá outras providências”, afirma em seus: Art. 6º A organização e o funcionamento dos 34 estabelecimentos isolados de ensino superior serão disciplinados em regimentos, cuja aprovação deverá ser submetida ao Conselho de Educação competente. Art. 7º As universidades organizar-se-ão diretamente ou mediante a reunião de estabeleci- mentos já reconhecidos, sendo, no primeiro caso, sujeitas à autorização e reconhecimento e, no se- gundo, apenas a reconhecimento. Evidentemente, as atribuições de orientar Regimentos, Autorização e Reconhecimento, são típicas da inspeção escolar, sem a qual os sistemas educacionais funcionariam, provavelmente, de ma- neira anárquica, perdendo-se o elemento agregador de uma política pública de amplitude nacional, cor- roendo-se, assim, o próprio espírito de nação, sendo este o alicerce sobre o qual se constroem os princí- pios de nacionalidade, solidariedade e civilidade. Importante: demais legislações que ilustram a tra- jetória histórica da Educação Brasileira, consti- tuem-se como leitura obrigatória para aqueles que pretendem se dedicar à área de políticas públicas. Citamos e sugerimos a leitura de: • Lei n° 4.440, de 27 de outubro de 1964, que ins- titui o salário-educação. • Lei nº 5692, de 11 de agosto de 1971 e, evidentemente. • Lei n° 99394/96, citada anteriormente nesta Unidade. Trataremos, no último tópico desta unidade da Formação do Inspetor Escolar, na 35 qual veremos, em linhas gerais as diretrizes emanadas do poder público em relação à for- mação desse profissional. Finalizaremos essa unidade, explicitando para você, lei- tor, de que forma o poder público (Estado Nacional) contempla a formação dos profissionais em Educação, em especial o Inspetor Escolar, e como se expressa essa concepção na LDB em vigor (9394/96). Por úl- timo, teceremos alguns comentários sobre a necessária formação intelectual do Inspetor escolar à luz do con- texto sócio-histórico no qual estamos todos inseridos. O QUE DIZ A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL Nº 9394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 Atenção! O texto utilizado como referência para este tópico recebeu um conjunto significativo de FORMAÇÃO DO INSPETOR ESCOLAR ESCOLAR 36 alterações de leis que regulamentaram a LDB, des- de a sua edição em 1996. Especialmente o TÍTU- LO VI, Dos Profissionais da Educação, que trata- remos aqui, sofreu modificações produzidas pela Lei nº 12.014, de 2009. É possível, portanto, que se você estiver utilizando uma versão da LDB anterior a 2009, en- contre algumas incompatibilidades entre os textos. Para evitar que isso ocorra, manteremos, nas eventuais citações que fizermos, a grafia ori- ginal do documento e respectivas alterações. O texto na íntegra, será disponibilizado no Portal, para seu arquivamento. A formação dos profissionais da Educa- ção está prevista na LDB atual e deve ser rigida- mente observada, para efeito de qualificação do processo educacional, posto que se trata de elevar o nível de competência técnico-profissional da- queles que fazem Educação, em todos os níveis. Ao tratar, de maneira geral da formação dos profissionais, a LDB especifica, em primeiro lugar, quem são os trabalhadores em Educação. Observe o que diz o: TÍTULO VI Dos Profissionais da Educação (Texto alterado!!! Observe adiante) Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos di- 37 ferentes níveis e modalidades de ensino e às carac- terísticas de cada fase do desenvolvimento do edu- cando, terá como fundamentos: (Regulamento) I - a associação entre teorias e práticas, in- clusive mediante a capacitação em serviço; II - aproveitamento da formação e expe- riências anteriores em instituições de ensino e ou- tras atividades. Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados em cur- sos reconhecidos, são: (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009) (Observe este inciso) I – professores habilitados em nível médio ou su- perior para a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio; (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009) II – trabalhadores em educação portadores de diploma de pedagogia, com habilitação em admi- nistração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas; (Reda- ção dada pela Lei nº 12.014, de 2009) III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim. (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) Obs.: 1 - Depreende-se, pelo inciso II, 38 que a área da Inspeção escolar está inclusa na for- mação em Pedagogia, em nível superior, com ha- bilitação específica para o exercício no setor. O parágrafo único estabelece os Funda- mentos para a formação, conforme descrito a seguir: Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objeti- vos das diferentes etapas e modalidades da educa- ção básica, terá como fundamentos: (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) I – a presença de sólida formação básica, que pro- picie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho; (Inclu- ído pela Lei nº 12.014, de 2009) II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço; (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) III – o aproveitamento da formação e experiências an- teriores, em instituições de ensino e em outras ativida- des. (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) Obs.: 2 – Sólida formação básica, asso- ciação entre teoria e prática e aproveitamento das experiências anteriores compõem, portanto, o las- tro teórico-metodológico em que se assenta a for- mação dos profissionais da Educação, conforme preconiza a LDB 9394/96. O Art. 64 define claramente a questão da 39 formação, explicitando: Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, ins- peção, supervisão e orientação educacional paraa educação básica, será feita em cursos de gradua- ção em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. Obs.: 3 – Do ponto de vista jurídico-legal, a formação do Inspetor escolar fica definida como sendo, necessariamente, uma formação de nível superior, com todas as fundamentações necessá- rias para o exercício do cargo. A seguir, faremos algumas considerações sobre os elementos con- teudísticos dessa formação, como uma espécie de reforço a algumas áreas do conhecimento que não podem ser relegadas a plano secundário no pro- cesso de formação. DA NECESSIDADE DE UMA FORMAÇÃO DE CARÁTER HUMANÍSTICO E HISTÓRICO A ação da Inspeção Escolar, bem como da Gestão Escolar, envolve um conjunto de variáveis de or- dem social, política e econômica, que deve nortear as atenções do Gestor e do Inspetor, na sua rotina de trabalho, em seus contatos com o público em ge- ral e os dirigentes educacionais públicos e privados. Isto tem uma implicação na formação 40 acadêmica do profissional: por natureza da pro- fissão, a inspeção escolar é exercida no âmbito jurídico do Estado, o que significa atuar à luz dos interesses políticos de grupos que, eventualmen- te, assumem o poder, para os quais a inspeção deve estar atrelada às negociações de caráter po- lítico-partidário. O que significa, eventualmente, exigir que o Inspetor “agilize” certos processos, “permita” certos procedimentos que contrariam a própria legislação, enfim, que faça concessões às autoridades de plantão. Some-se a isso, o fato de que as escolas e os órgãos gestores dos sistemas educacionais repercutem esse tipo de relações intergrupais, de forte conotação política e reproduzem, no interior dos seus estabelecimentos, as relações de classe que permeiam a vida em sociedade. Daí, a necessidade de que o Gestor esco- lar e o Inspetor escolar possuam, não apenas uma sólida formação dos aspectos técnico-operacio- nais inerentes à profissão, porém, mais do que isso, uma formação solidamente embasada no campo das ciências humanas, em especial a filosofia, a sociologia, a história e a antropologia. Serão estes os fundamentos epistemológicos que imprimirão qualidade ao trabalho do Gestor e do Inspetor e o auxiliarão nos embates político-sociais que ocor- rem nas suas respectivas áreas. Por isso mesmo, nossa próxima unidade 41 utilizará aqueles campos do conhecimento para construir, ainda que embrionariamente, uma base teórica que permita situar historicamente o signifi- cado da Gestão e da Inspeção. Vamos a ela. Nesta unidade, você pôde identificar o conceito de Inspeção Escolar e a trajetória histórica da Inspeção e, em segundo plano, associá-lo, à Gestão Escolar, como atividades complementares e intrinsecamente relacionadas, bem como avaliar a importância de am- bos para a consolidação dos sistemas educacionais. Essas compreensões são fundamentais para a sequência do nosso Curso. Faça um levantamento (oral), entre seus cole- gas de turma e/ou de trabalho, e verifique qual SÍNTESE DA UNI DADE ATI VIDA DES 42 é a concepção dominante sobre a formação do Gestor ou do Inspetor escolar. Observe qual é a compreensão que os consultados demonstram sobre o tipo de conhecimento que é necessário para que o Gestor ou o Inspetor tenha uma for- mação de excelência. 02/ FUNDAMENTOS HISTÓRICO- ANTROPOLÓGICOS PARA A COMPREENSÃO DOS PROCESSOS DE GESTÃO3 45 Seja bem-vindo (a) à nossa segunda unidade, que será dedicada a uma importante reflexão a respeito da construção histórica das socieda- des, as implicações da divisão do trabalho e da apropriação de tecnologias no processo de pro- dução. Talvez, você nunca tenha parado para pensar no assunto, mas aproveite agora. Quem sabe não é este o seu momento! Objetivos da Unidade Ao final desta unidade, você deverá ter desenvolvido: ● Um conceito de Revoluções Tecnológicas e Pro- cessos Civilizatórios; ● Uma compreensão precisa sobre o que é Orga- nização Social; ● A compreensão da relação que existe entre a Orga- nização Social, a Tecnologia e o Patrimônio Simbólico. Conteúdos da Unidade ● Os processos sociais fundamentais: a organização social. ● Introdução aos conceitos de Revoluções Tecno- lógicas e Processos Civilizatórios; 3. Esta unidade será desenvolvida a partir de texto que elabo- rei para a Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP, Campo Grande/MS, para a Unidade Temática: Sociologia e filosofia aplicadas às Ciências Contábeis, no ano de 2007. Promovi as alterações necessárias para o contexto atual. A fonte comporá as Refe- rências Bibliográficas deste livro. O autor. 47 A organização social é o elemento fundamental para compreendermos o desenvolvimento da hu- manidade. Quando falamos em “organização so- cial” estamos falando em “divisão do trabalho”, “divisão de funções” dentro da coletividade, os papéis sociais que os indivíduos devem executar para solidificar a existência do grupo, na sua for- ma histórica. Para isso, é fundamental recorrermos aos fatos históricos que deram origem às forma- ções sociais, porque, é partindo do conhecimento dos fatos originais que compreenderemos o que se passa no presente e teremos melhores condições de projetar o futuro. É assim que, para a primeira aproximação da temática do Módulo, utilizaremos alguns funda- mentos da Antropologia Histórica, com o objetivo de recuperarmos os passos iniciais do processo de humanização do Homem. OS PROCESSOS SOCIAIS FUN DAMENTAIS: A ORGANIZA ÇÃO SOCIAL 48 O termo “humanização do Homem”, aparentemente redundante, é colocado aqui pro- positadamente, com o objetivo de evidenciar que o processo de desenvolvimento do ser humano possui um caráter histórico, o que significa que “se tornar humano”, no sentido civilizatório, é uma conquista do grupo, um fazer coletivo, portanto, um ato intencional do Homem na busca da sua autossuperação. No nosso estudo, o termo “evolução” refere-se ao conjunto de transformações pelas quais passam (passaram) as sociedades humanas ao longo dos tempos, transformações essas, que são expressas por uma “sucessão de revoluções tecnológicas e processos civilizatórios, através dos quais a maioria dos homens passa de uma con- dição generalizada de caçadores e coletores para diversos modos de prover a subsistência, de orga- nizar a vida social e de explicar suas próprias expe- riências.” (Ribeiro,1997, pág. 39-49) Observe, caro acadêmico, os termos: prover a subsistência, organizar a vida social e explicar suas próprias experiências. Serão fundamentais para a compreensão da unidade. São esses diferentes modos de prover a subsistência, de organizar a vida social e de ex- plicar suas próprias experiências, que comporão, 49 como uma base sólida, as relações socioculturais dentro dos grupos e entre grupos distintos, em um município, em um Estado ou entre países. Con- vém, nesse momento, entendermos melhor o sig- nificado e a relação entre os três elementos acima evidenciados: são eles que nos darão a “chave” para compreendermos o que é um processo civili- zatório e, portanto, o que significa uma “evolução sociocultural”. Vamos a eles: a. Prover a subsistência: relaciona-se ao trabalho, ao domínio das tecnologias, para a produção e a satisfação das necessidades básicas do grupo, tais como: alimentação, moradia, vestuário, saúde etc. Para Ribeiro (p. 40) existe “o caráter acumulativo do progresso tecnológico, que se desenvolve desde as formas mais elementares a formas mais com- plexas, de acordo com uma sequência irreversível”. Ou seja, à medida que a sociedade desenvolve no- vas tecnologias, esse conhecimento incorpora-se à cultura do grupo, provocando novas necessidades e determinando novos comportamentos dos indi- víduos (esse aspecto, veremos mais adiante). b. Organizar a vida social: refere-se à distribuição de funções dentro do grupo, oque poderíamos chamar também de divisão do trabalho, ou, ainda, uma forma específica de organização interna entre os seus membros, “bem como, das suas relações com outras sociedades” (pág. 40). É essa organiza- ção que vai definir o perfil social da comunidade, a 50 sua hierarquização e sua estratificação em classes. Já podemos, nesse momento, estabelecer uma relação entre os dois primeiros tópicos: exis- te, nas sociedades em geral, uma interação (uma relação recíproca) absoluta entre os esforços de controle da natureza para produzir bens, pelo do- mínio do uso das tecnologias, e a magnitude de sua população, a forma de organização das relações das relações internas entre seus membros, bem como das relações com outras sociedades. Fique “de olho” nessa questão: é assim que as so- ciedades mais primitivas deram início ao seu pro- cesso civilizatório, desenvolvendo uma organiza- ção social peculiar. Veremos isso mais adiante! c. Explicar suas próprias experiências: o ser hu- mano elabora as suas ideias sobre a vida, o meio em que vive, suas relações, por intermédio daquilo que chamamos de cultura, entendida aqui como o patrimônio simbólico dos modos padronizados de pensar e de saber. Significa admitir que a sociedade produz, em seus membros, uma forma “coletiva” de entender a realidade, compreender o mundo em que vivemos e expressar essa compreensão. Para Marilena Chauí, o Homem manifesta a sua compreensão do mundo de três maneiras distintas, porém, relacionadas. São elas: ● Materialmente, pelos artefatos e bens produzi- 51 dos e utilizados; ● Expressamente, através da conduta social; ● Ideologicamente, “pela comunicação simbólica e pela formulação da experiência social em corpos de saber, crenças e de valores”. Os elementos acima descritos (a, b e c) constituem aquilo que se pode chamar de “impe- rativos”, no sentido de que a sua participação no processo social é fundamental para os fenômenos de desenvolvimento e transformação das socie- dades. Tais imperativos, que poderíamos chamar de tecnológico, social e ideológico, apresentam uma necessária conexão entre eles, de modo que, a certas transformações na base tecnológica correspondem modificações nos padrões de or- ganização social e “nos moldes de configuração ideológica”, ou seja, nas formas (mentais) de re- presentação do mundo, na maneira peculiar de “ver as coisas”. Poderíamos buscar vários exemplos con- cretos para ilustrar essa ideia: pense na introdução do computador no processo produtivo (no seu tra- balho). Quantas transformações são causadas pelo uso do computador? Transformações relacionadas à própria agilidade da produção, à introdução de formas diferentes de trabalho, novas funções que exigem capacitações/qualificações específicas, no- vas linguagens que os ambientes informatizados propiciam, enfim, caberia a pergunta: 52 Você preferiria retornar à velha máquina de escre- ver para produzir seus textos, abandonando o seu micro, com todas as facilidades de escrita que ele oferece? Com certeza, a resposta será não! Para sintetizar este primeiro tópico, esta- beleceremos a nossa primeira síntese parcial sobre o estudo do Homem e a construção histórica das sociedades: podemos afirmar que toda e qualquer sociedade, ao longo dos tempos, fundamenta-se em um tripé, composto daquilo que chamamos de imperativos, que constituem a base antropológica para a formação social. Esse tripé é constituído do domínio da tecnologia (saber fazer!), da divisão do trabalho (organização social) e do patrimônio sim- bólico, sendo este o conjunto das nossas opiniões, mitos, crenças, filosofias, religiões, ciências, enfim, a totalidade da nossa representação do mundo, que também pode ser chamada de cultura. Aqui, reside a “pista” para compreen- dermos a construção histórica dos processos de gestão e Inspeção, em qualquer ramo da atividade produtiva. Vejamos a definição do termo “Ges- tão”, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. (http://www.priberam.pt/DLPO/ default.aspx?pal=Administração): 53 Gestão s. f. Gerência; administração. Gerência s. f. 1. Ato! de gerir. = GERENCIAMENTO 2. Funções de gerente. 3. Administração. Administração s. f. 1. Gerência de negócios próprios, alheios ou políticos. 2. Casa onde se exerce a administração. 3. As pessoas que administram. 4. Exercício. 5. Ação! de conferir. É possível percebermos que, etimologi- camente: a) os termos Gestão e Administração possuem o mesmo significado; b) tanto a gestão como a Inspeção não podem ser entendidas ex- clusivamente como uma atividade burocrática, muitas vezes exterior à organização (à escola, por exemplo). Muito pelo contrário, já vimos que, no processo de desenvolvimento das sociedades, a organização social é um ato de gestão que pro- voca novas situações de gestão e inspeção, como 54 tecnologia (conhecimento) necessária para o aprimoramento das atividades humanas. Logo, é correto afirmarmos que todo ser humano é, po- tencialmente e historicamente, um Gestor e um Inspetor dos seus próprios atos. É a relação entre os elementos acima descritos (tecnologia, organização social e patri- mônio simbólico), e a eventual supremacia de um deles sobre os demais em determinados momen- tos da história, que promovem as transformações sociais, possibilitando aos países e/ou outros grupos sociais, modificações profundas na sua estrutura social. Constituem-se, portanto, como categorias fundamentais para o estudo do Ho- mem na sociedade e devem nos acompanhar nas nossas leituras e discussões sobre o assunto. An- tes de darmos continuidade, porém, à compre- ensão de outros conceitos importantes, é preciso estabelecer um princípio adotado na abordagem antropológica, que deve servir de referência para a compreensão da temática: ● Apesar de os estudos arqueológicos e antropo- lógicos situarem o surgimento do Homem num período compreendido entre 500 mil e um milhão de anos, a existência do ser humano como um pro- cesso histórico-cultural, em que o Homem passa a controlar sistematicamente a natureza e dela extrair – de forma organizada – o seu sustento, é relativamente recente: é nos últimos dez mil anos 55 que se dá início aos primeiros processos civiliza- tórios, e é essa referência temporal (dez mil anos) que constituirá o nosso foco de análise, uma vez que a nossa temática está determinada pela relação do Homem com a Sociedade (organizada – por ele); portanto, não estamos falando do Homem nômade, caçador e coletor, mas, do Homem que se sedentariza e promove transformações substan- ciais na sua organização social, em outras palavras, do Homem que produz cultura e torna-se um ser civilizado, transcendendo da escala zoológica ao plano da conduta cultural. No próximo tópico, estudaremos os conceitos de Revoluções Tecnológicas e Pro- cessos Civilizatórios e como aconteceram (e acontecem), concretamente, na organização social dos povos. Procure rever todos os conceitos aqui trabalhados. O seu domínio é um requisito indispensável para a compreensão dos próxi- mos assuntos. 56 Como vimos no tópico anterior, a construção histórica das sociedades acontece sobre um tripé formado pela tecnologia (saber fazer), pela orga- nização social (divisão do trabalho) e pelo patri- mônio simbólico (ideologia). Na nossa análise, a tecnologia assume papel determinante sobre os outros dois componentes, o que implica consi- derarmos que a apropriação e/ou inserção de novas tecnologias em um ambiente social, provo- cará transformações substanciais nesse próprio ambiente e, consequentemente, no conjunto de conhecimentos que compõem o patrimônio sim- bólico do grupo. São essas transformações significativas – e impulsionadas pela absorção de tecnologias – que imprimirão o caráter de desenvolvimento da população e definirão o seu perfil político- INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS E PROCESSOS CIVILIZATÓRIOS 57 -social, econômico e culturale o seu consequen- te posicionamento político no conjunto dos povos, vale dizer, na totalidade das relações so- cioeconômicas internacionais. Para entendermos como se dá, historica- mente, a interconexão entre os três elementos ci- tados e as implicações dessa relação na produção do ser humano civilizado, dois conceitos surgem, agora, como essenciais ao desenvolvimento do as- sunto: Revoluções Tecnológicas e Processos Civi- lizatórios. Vejamos a definição de cada um deles, na óptica de Ribeiro (1997, pág. 57-68): "Empregamos o conceito de revolução tec- nológica para indicar que a certas trans- formações prodigiosas no equipamento de ação humana sobre a natureza, ou de ação bélica, correspondem alterações qualitati- vas em todo o modo de ser das sociedades, que nos obrigam a tratá-las como catego- rias novas dentro do continuum da evolu- ção sociocultural. Dentro dessa concepção, supomos que ao desencadeamento de cada revolução tecnológica ou à propagação de seus efeitos sobre contextos socioculturais distintos, através de processos civilizató- rios, tende a corresponder a emergência de novas formações socioculturais” 58 Podemos deduzir da frase anterior que, modificações importantes (“prodigiosas”) ocor- ridas nos instrumentos de trabalho do Homem (“equipamento de ação humana sobre a natu- reza”), bem como aqueles direcionados para a guerra (“ação bélica”), acarretarão, consequen- temente, modificações (“alterações qualitativas”) no conjunto da sociedade, em seus aspectos profissionais (divisão do trabalho, especialização etc.) e culturais; novos instrumentos, desencade- ando a necessidade de novos conhecimentos e provocando novas necessidades sociais, em uma espiral ascendente a que poderíamos chamar de desenvolvimento. Pequena reflexão: o que seria, por exemplo, dos exércitos que continuassem, na idade moderna, com a mesma tecnologia de guerra dos esparta- nos da Antiguidade? Ou, como fariam as sociedades de gran- des massas (em termos de população) para a pro- dução de alimentos, com os antigos arados de tra- ção animal, como base tecnológica para saciar a fome de milhões de pessoas? Apenas esses dois exemplos são suficien- tes para vislumbrarmos a importância da questão tecnológica para o processo civilizatório, o que significa dizer: para o trabalho, a saúde, o lazer, 59 a ciência, enfim, para todas as áreas em que o ser humano atua, transformando a natureza. Temos, então, que: a. Uma Revolução Tecnológica pode ser con- siderada como a propagação de uma invenção original ou inovação (conhecimento, artefato, máquina) sobre diversos contextos socioculturais (ambientes, povos, países) e sua aplicação a di- ferentes setores produtivos. A partir dessa cons- tatação, podemos inferir que “a cada revolução tecnológica podem corresponder um ou mais processos civilizatórios, através dos quais ela des- dobra suas potencialidades de transformação da vida material e de transfiguração das formações socioculturais” (op. cit., pág. 60). b. O Processo Civilizatório, nesse contexto, é o re- sultado (dinâmico) das transformações ocorridas a partir da introdução de novas tecnologias no gru- po social, o que vai provocar alterações na forma de organização social desse grupo e, consequente- mente, no seu conhecimento, suas crenças e valo- res (patrimônio simbólico). Podemos acrescentar uma mudança nos padrões de vida do grupo (em tese, mas não necessariamente, para melhor), que passa a viver uma nova condição material de exis- tência, um novo estágio de desenvolvimento. É possível expressar sinteticamente os ra- ciocínios acima, pelo seguinte mapa conceitual: 60 Corresponde A cada revolu- ção tecnológica Um processo civilizatório geral Novas formações socioculturais Que dá origem a Um exemplo concreto, importante, cujo detalhamento será realizado mais adiante, é a Revolução Agrícola que, além de representar o passo decisivo no processo de “humanização do Homem”, pelo que provocou de transformações na consciência dos seres humanos, constitui, ela mesma, um Processo Civilizatório, à medida que configurou as primeiras formações sociocultu- rais, na forma de aldeias agrícolas e pastoris. Para a Antropologia Histórica, na ótica de Darcy Ribeiro, vamos encontrar, ao longo dos dez mil anos de Processos Civilizatórios, pelo menos oito grandes Revoluções Tecnológicas, responsá- veis pela configuração do mundo, para as quais de- dicaremos nossa atenção nos próximos instantes. São elas: ● Revolução Agrícola ● Revolução Urbana ● Revolução do Regadio ● Revolução Metalúrgica 61 ● Revolução Pastoril ● Revolução Mercantil ● Revolução Industrial ● Revolução Termonuclear Veremos a seguir, em linhas gerais, as ca- racterísticas de cada revolução tecnológica: REVOLUÇÃO AGRÍCOLA A primeira grande Revolução Tecnológica identi- ficada como o primeiro passo do ser humano no que se convencionou chamar de Processo Civili- zatório, deu-se a “apenas” 10 mil anos, na região conhecida, à época, como Mesopotâmia e, hoje, como Iraque. A Revolução Agrícola, considerada o “mo- tor” do Processo Civilizatório e, como tal, o início de todos os processos de transformação social, produziu vários “fatos novos”, que caracterizaram essa nova formação social. Vejamos alguns: ● A ruptura com a condição das tribos de caçado- res e coletores nômades; ● A especialização funcional de alguns grupos hu- manos nessa atividades produtiva; ● Como essa Revolução Tecnológica desdobrou- -se em dois Processos Civilizatórios (a agricultura e o pastoreio), encontramos, de um lado, povos que se fizeram lavradores de tubérculos ou de ce- reais (aldeias agrícolas), e do outro, povos que se especializaram na criação e domesticação de ani- mais (hordas pastoris nômades). REVOLUÇÃO URBANA Suas características essenciais podem ser descritas como se seguem: ● Surgimento das cidades e dos Estados; ● Estratificação das sociedades em classes sociais; ● Acontecem os primeiros passos na agricultura de regadio, na metalurgia do cobre e do bronze, na es- crita ideográfica, na numeração e no calendário; ● As sociedades adotam o conceito de proprieda- de privada e estabelecem a escravização da força de trabalho. REVOLUÇÃO DO REGADIO Caracteriza-se, fundamentalmente, pelo desenvol- vimento das grandes obras de irrigação, o que per- mitirá a formação das primeiras civilizações regio- nais, os impérios, dos quais os mais significativos são: Acádio (2350 a.C.) e Babilônico (1800 a.C.), Egípcio (Império Médio – 2070 a.C.), Maurya (na Índia – 327 a.C.), impérios chineses (de 1122 a.C. a 1644), Maias, Incas e Astecas, nas Américas, estes em fase mais recente. A quarta Revolução Tecnológica, como veremos a seguir, permitiu o incremento das ativi- dades produtivas e o consequente expansionismo 63 do colonialismo europeu. Chama-se: REVOLUÇÃO METALÚRGICA Essa Revolução caracteriza-se pela generalização de algumas inovações tecnológicas, como por exemplo, a técnica do ferro forjado, que possibili- tou, entre inúmeros outros artefatos: ● O desenvolvimento de uma agricultura mais produtiva nas áreas florestais; ● A fabricação de ferramentas de trabalho – ar- mas, machados, pontas de arado e partes metálicas de embarcações, carros de transporte e de guerra, a mó rotativa, moinhos movidos a água – e, con- sequentemente, o aprimoramento dos veleiros, o que contribuiu sobremaneira para a expansão mer- cantilista europeia, da qual somos – no Brasil – a mais viva expressão histórica; ● A cunhagem de moedas, o que viabilizou o co- mércio externo. REVOLUÇÃO PASTORIL Utilizando-se dos benefícios da aplicação do ferro fundido aos problemas de produção e de guerra, permitirá a generalização do uso de selas e estribos, de ferraduras e do arnês rígido (antiga armadura completa de um guerreiro; arreios de cavalo; proteção, amparo), o que melhorará signi- ficativamente a eficiência dos animais de monta- 64 ria e tração, bem como a performancecombativa dos guerreiros. De posse dessa tecnologia, alguns povos desencadeiam um movimento de expansionismo messiânico, atacando áreas de antigas civilizações e cristalizando-as como uma nova formação so- ciocultural chamada de impérios despóticos sal- vacionistas. A expansão acelerada das relações co- merciais, associada ao ímpeto imperialista de algumas civilizações, provocará a emergência da sexta Revolução Tecnológica, que terá um signifi- cado especial para compreendermos a formação socioeconômica brasileira. Saberemos o porquê, no próximo item que é a: REVOLUÇÃO MERCANTIL Essa Revolução define um momento absoluta- mente novo para a humanidade e irá construir um novo perfil das relações entre os países, o que sig- nifica estabelecer uma hierarquia mundial de po- der e uma configuração política em que as grandes decisões estarão centralizadas em alguns países da Europa e Estados Unidos, condição que perdurará em toda a era moderna, persistindo até os dias de hoje. É bem verdade que, no século XXI, as rela- ções político-econômicas internacionais (capitalis- tas) passam por um processo de resistência e ques- 65 tionamento por parte de vários países periféricos e organizações da sociedade civil, o que implica reconhecer que há, concretamente, evidências de que boa parte da população mundial questiona os comportamentos adotados, hoje, por países como Estados Unidos ou os membros da União Europeia, no sentido do protecionismo aos seus produtores, em detrimento da abertura dos seus mercados aos produtos estrangeiros. A Revolução Mercantil tem como gran- des características: ● A sua consolidação como uma Revolução “com a qual se expandem as primeiras civiliza- ções mundiais na forma de impérios mercantis salvacionistas e suas áreas de dominação, confor- madas principalmente como colonizações escra- vistas” (pág. 63). ● O desenvolvimento de uma tecnologia produti- va e militar, no século XVI, fazendo aparecer, além dos impérios mercantis salvacionistas, o capitalis- mo mercantil. ● O desenvolvimento da tecnologia de navegação oceânica, baseada no aperfeiçoamento dos instru- mentos de orientação (a bússola magnética, o as- trolábio, as cartas celestes, cronômetros e outros) e de navegação (as naus e caravelas, a vela latina, os barcos de guerras, entre outros). Essa fase dá início ao processo de globalização da economia, dado o caráter expansionista e internacionalista 66 das elites europeias, que transformam a mão de obra em um bem livremente negociável. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Deu lugar à estruturação dos imperialismos indus- triais e do neocolonialismo, submetendo todos os povos (colonizados) às mesmas formas – capita- listas – de ordenação da vida social, integrando-os aos mesmos corpos de valores da visão burguesa de mundo. Esse fenômeno possui absoluta importân- cia para os nossos estudos, uma vez que a perspec- tiva burguesa de disseminar a sua visão de mundo a todas as classes sociais, na tentativa de consolidar um “pensamento único” e promover – na socie- dade civil – a aceitação da organização social ca- pitalista, estará presente na produção cultural mo- derna, sob a forma de Educação, entretenimento, política e formação acadêmico-profissional. REVOLUÇÃO TERMONUCLEAR Finalmente, protagonizamos hoje a Revolução Termonuclear, ou como preferem alguns autores: a Sociedade da Informação – que apresenta imensas potencialidades de transformação da vida material de todos os povos e uma característica peculiar a essa fase: pode-se considerar, hoje, o planeta como uma única e imensa unidade de produção, na qual 67 predomina a forma capitalista de relações socio- econômicas e a visão liberal-burguesa de mundo. “Vivemos na era da informação”, pelo menos é uma frase comumente adotada por mui- tas pessoas e meios de comunicação, como que para caracterizar a sociedade do século XXI. Há informação sobre previsão do tempo, esportes, di- versões, finanças... O que nos cabe perguntar: que tipo de informação circula entre as pessoas, comunidades e países? Quem produz e interpreta a informação que será repassada para as multidões? A quem in- teressa o teor das informações divulgadas? Pense nisso, antes de passarmos para a terceira unidade deste livro... Vimos, nessa unidade, a relação direta que existe entre a tecnologia e as formas de vida das pessoas, ou seja, a incorporação das mais avançadas tecno- logias da época, no processo produtivo, modifica qualitativamente a vida em comunidade. Temos exemplos de sobra para verificar isso: tv, celular, SÍNTESE DA UNI DADE 68 computador, artefatos sem os quais não seríamos, hoje, o que somos, e sem os quais também dificil- mente nos adaptaríamos se os perdêssemos. Não esqueça que o conhecimento tam- bém é tecnologia. Faça uma verificação, no seu município, sobre as tecnologias que existem à sua volta, nas ativi- dades rurais, fabris e comerciais. Perceba o grau de tecnologia que a sua comunidade desenvolve e procure relacionar ao nível de desenvolvimen- to socioeconômico da sua região. Observe que, quanto menos tecnologias a população incorpora no seu dia a dia, no trabalho, no lazer, na cultura, menos desenvolvida culturalmente essa socieda- de encontra-se. Observe a veracidade dessa afirmação. Fique atento para esse fenômeno. ATI VIDA DES
Compartilhar