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Indaial – 2020 Educação contEmporânEa Prof.a Suelen Batista de Souza 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.a Suelen Batista de Souza Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S729e Souza, Suelen Batista de Educação contemporânea. / Suelen Batista de Souza. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 166 p.; il. ISBN 978-65-5663-142-4 ISBN Digital 978-65-5663-143-1 1. Educação - Finalidades e objetivos. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 370 III aprEsEntação Caro acadêmico! Este trabalho foi desenvolvido e criado pensando em você e em seu processo acadêmico. Neste livro didático, nós estudaremos a Educação Contemporânea e as vertentes que a compõem. Na Unidade 1, de caráter introdutório, veremos os principais temas relacionados à educação atual, como a formulação de políticas públicas voltadas para a educação, a conquista dos Direitos Humanos e a Diversidade presente na escola no decorrer de todo esse processo. Além do mais, no Tópico 3 (Educação 4.0), veremos como a introdução das tecnologias no ambiente escolar tem alterado a dinâmica de ensino e exigido novas metodologias de trabalho. Na Unidade 2 serão contemplados os aspectos teórico-metodológicos, que embasam a educação contemporânea. Apresentaremos as principais tendências da pesquisa em educação e sua nova configuração no cenário atual. Iremos perceber que as modificações que vêm ocorrendo na sociedade afetam diretamente a escola, e, dessa forma, novas modalidades de ensino surgem, como o ensino para jovens e adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, também abordadas nesta unidade, juntamente com uma ampla explanação dos aspectos teóricos da educação especial. Para finalizar, na Unidade 3, trataremos da elaboração do Projeto Pedagógico, da gestão democrática, da formulação da escola integral e das tendências internacionais pedagógicas. Este conteúdo foi produzido pensando em você, para que aprenda cada vez mais e se apaixone a cada dia pela educação. Contamos com você nesta jornada! Vamos começar! Prof.a Suelen Batista de Souza IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE ................1 TÓPICO 1 – TRANSFORMAÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E DA GESTÃO ESCOLAR ...............................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL: UM BREVE CONTEXTO .................................................3 3 GESTÃO EDUCACIONAL E GESTÃO ESCOLAR.........................................................................8 4 A BUROCRATIZAÇÃO NA GESTÃO ESCOLAR.........................................................................10 5 OS DIFERENTES TIPOS DE BUROCRACIA NO ÂMBITO ESCOLAR ..................................11 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................15 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................16 TÓPICO 2 – DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO ................................17 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................17 2 A TRAJETÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS..............................................................................17 3 A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO BÁSICA (LDB) .........................................20 4 A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) .............................................................25 5 EDUCAÇÃO ESPECIAL E O ENSINO DA HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA. ENSINO DAS RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS ..................................................27 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................30 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................31 TÓPICO 3 – A EDUCAÇÃO 4.0 ............................................................................................................33 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................33 2 O HOMEM DO SÉCULO XXI ............................................................................................................33 3 O CONCEITO DE EDUCAÇÃO 4.0 ..................................................................................................34 4 O LETRAMENTO DIGITAL ..............................................................................................................37 5 METODOLOGIAS ATIVAS ...............................................................................................................39 6 EXEMPLOS DE METODOLOGIAS ATIVAS .................................................................................40 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................45RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................49 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................50 UNIDADE 2 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE ..............51 TÓPICO 1 – AS NOVAS CONCEPÇÕES CONCEITUAIS E LEGAIS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA ..............................................................................53 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................53 2 METODOLOGIAS DE ANÁLISE DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO E EM POLÍTICAS EDUCACIONAIS ..........................................................................................................53 3 A SOCIEDADE GLOBAL ...................................................................................................................54 4 AS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO E EM POLÍTICAS EDUCACIONAIS ................................56 5 CONCEPÇÕES DE CURRÍCULO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E REFORMAS EDUCACIONAIS .........................................................................................................61 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................67 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................68 sumário VIII TÓPICO 2 – A EDUCAÇÃO ESPECIAL .............................................................................................71 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................71 2 EDUCAÇÃO ESPECIAL: HISTÓRIA E CONCEPÇÕES DE ENSINO ......................................71 3 AS PRINCIPAIS POLÍTICAS DE INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL .........................73 4 OS DIFERENTES TIPOS DE DEFICIÊNCIA ..................................................................................78 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................84 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................85 TÓPICO 3 – OS DIREITOS EDUCACIONAIS DE ADOLESCENTES E JOVENS EM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS ................................................................................87 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................87 2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) ......................................................87 3 O SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO (SINASE) .................90 4 PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO (PIA).......................................................................93 5 A FUNDAÇÃO CASA ..........................................................................................................................96 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................99 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................103 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................104 UNIDADE 3 – COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE .......................................................105 TÓPICO 1 – PROJETOS PEDAGÓGICOS COMO ESTRATÉGIA DOCENTE E GESTIONÁRIA ...............................................................................................................107 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................107 2 PROJETO PEDAGÓGICO ................................................................................................................107 3 FATORES FACILITADORES E DIFICULTADORES PARA O PROJETO PEDAGÓGICO: DA CONCEPÇÃO À IMPLEMENTAÇÃO .....................................................110 4 COMPLEMENTAÇÃO DE ESTUDOS ...........................................................................................113 5 CONSTRUÇÃO DA ESCOLA CIDADÃ .......................................................................................113 6 GESTÃO ESCOLAR ...........................................................................................................................117 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................122 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................124 TÓPICO 2 – ESCOLA INTEGRAL .....................................................................................................127 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................127 2 A ESCOLA INTEGRAL E SUA CONSTRUÇÃO .........................................................................127 3 ESCOLA INTEGRAL E ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL .......................................................128 4 QUALIDADE SOCIAL DA ESCOLA INTEGRAL ......................................................................129 5 INFRAESTRUTURA ESCOLAR ......................................................................................................129 6 CAQ E CAQi ........................................................................................................................................131 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................136 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................137 TÓPICO 3 – TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS INTERNACIONAIS ..........................................139 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................139 2 PEDAGOGIA WALDORF .................................................................................................................139 3 PEDAGOGIA MONTESSORIANA ................................................................................................140 4 PEDAGOGIA FREINET ....................................................................................................................142 5 EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS ......................................................................................................143 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................144 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................148 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................149 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................151 1 UNIDADE 1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender conceito de educação; • reconhecer as transformações políticas e gestionárias no âmbito educacional no Brasil; • compreender nuances do processo decisório de políticas públicas e conceitos básicos para analisar tais políticas; • identificar as características da gestão educacional e escolar, assimcomo a sua diferenciação e funções necessárias; • conhecer os conceitos fundamentais dos direitos humanos como norteadores de ações básicas da educação básica no Brasil; • identificar como ocorreu a evolução da noção de diversidade nas escolas brasileiras a partir da compreensão dos direitos humanos e as implicações para as diretrizes educacionais nacionais; • refletir sobre as situações de aprendizagem da Educação 4.0, um conceito em crescimento na área educacional. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – TRANSFORMAÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E DA GESTÃO ESCOLAR TÓPICO 2 – DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO TÓPICO 3 – EDUCAÇÃO 4.0 Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 TRANSFORMAÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E DA GESTÃO ESCOLAR 1 INTRODUÇÃO A elaboração e implementação de políticas públicas no Brasil é um processo complexo com o envolvimento de diversos setores e grupos de influência, assim como um contexto cultural e social como base para estruturação e de grande relevância para a constituição de agenda política. O campo da Ciência Política é vasto e complexo, dada a sua extensa trajetória de produção acadêmica. No presente material será explorada a compreensão dos aspectos básicos do funcionamento da política pública no Brasil assim como seus conceitos fundamentais no que tange ao ciclo de políticas. As políticas públicas envolvem diversos aspectos da sociedade em diferentes assuntos, e um deles é a educação. Nessa área, as políticas afetam diretamente a atuação dos gestores escolares, educacionais e gestores públicos, pois é necessário elaborar os processos de planejamento, financiamento, recursos humanos, avaliações, relações com a comunidade, formação do docente, entre outros. Será iniciada a maior compreensão dos processos políticos contemporâneos no Brasil e abranger a gestão pública, educacional e escolar. 2 POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL: UM BREVE CONTEXTO Nos últimos anos, a política pública brasileira esteve situada no contexto neoliberal, definido como a menor intervenção do Estado e a maior liberdade do mercado para se autorregular conforme seus interesses. Dessa forma, envolve a desburocratização do Estado e a intervenção deste somente em situações de crises. Essa contextualização facilita a compreensão de alguns aspectos da política brasileira e internacional como um processo em andamento em diversas partes do mundo, por exemplo, a descentralização da gestão escolar e educacional, como veremos mais adiante. Diante desse cenário serão exploradas as partes que compõem a elaboração de uma política com base no ciclo de políticas (BALL, 2014). Esse ciclo é formado pelas seguintes etapas: UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 4 • Agenda. • Formulação. • Implementação. • Avaliação. A introdução do tema da política como pauta de agenda de governo é o primeiro desafio dos propositores da política pela complexidade de um tema alcançar a esfera de agenda política para ser discutido e proposto, lembrando que no processo político, há uma vasta gama de interesses dos envolvidos no processo político. FIGURA 1 - AGENDA POLÍTICA FONTE: <https://blogjovenesconstruyendo.files.wordpress.com/2018/05/Discap.jpg>. Acesso em: 29 dez. 2019. A formulação é a parte em que a política é discutida pelos indivíduos participantes, e isso ocorre de diversas formas, por exemplo, por comissões, que são pequenos grupos de parlamentares destinados à discussão específica daquele tema em questão. Nessa fase é que são propostas alterações, como emendas e substitutivos de projeto de lei. Também podem ser realizadas audiências públicas para discussão do tema proposto. Essa etapa é muito relevante, pois demonstra a disputa de interesses dos mais diversos grupos que podem ser afetados pela proposta de lei. A próxima etapa ocorre após a aprovação do texto de lei, que é a implementação da proposta nos locais. É um momento desafiador, dada a complexidade da realidade de alguns contextos, além da interferência humana com suas opiniões, desejos e percepções acerca da nova realidade com a lei proposta (BALL, 2014). Frequentemente, a política se transforma através do contato com a realidade e seus integrantes. TÓPICO 1 | TRANSFORMAÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E DA GESTÃO ESCOLAR 5 E a última etapa é a avaliação da política. Nela vemos como funcionou a política desde a formulação até à sua implementação com o decorrer do tempo. Nessa etapa, são realizadas pesquisas em larga escala para compreender as transformações e a eficácia, ou ineficácia da política que foi executada, assim como possíveis alterações ou até mesmo a substituição/extinção da política em questão. No esquema a seguir é possível visualizar o ciclo de políticas: FIGURA 2 - CICLO DE POLÍTICAS Esse movimento político não é linear e isento de disputas, pelo contrário, há a composição de grupos que lutam em prol dos seus interesses quanto à determinada proposta apresentada. Podem ser grupos internos à Assembleia Legislativa, podem ser externos compondo os lobbys, e podem ser indiretos, como o caso de instituições e empresas que cooperam na candidatura de políticos para terem seus interesses defendidos. A articulação de relações desses grupos de interesses de forma interna é denominada por Lowi (1992) como arenas políticas e divididas em categorias de acordo com suas diferentes características: FONTE: A autora UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 6 • Distributiva: arena pouco conflituosa e com menor tendência de embate direto, assim como possui a facilidade de distribuição de recursos entre os interessados. • Regulatória: arena conflituosa e de embate direto entre as partes interessadas. Possui alto custo para os cofres públicos e, portanto, possuem leis mais rígidas para mediar os conflitos que podem emergir desse processo. • Redistributiva: arena semelhante à regulatória, porém os fundamentos ideológicos dos participantes são mais evidenciados, com influência financeira e tem impacto direto sobre classes sociais. • Constitutivas: arena destinada para a regulamentação das outras arenas e do seu conflito político. FIGURA 3 - ARENA POLÍTICA FONTE: <http://www.pacce.ufc.br/pacce/projeto-acervo/habilidades-sociais-no-processo-de- ensino-01-06-16>. Acesso em: 29 dez. 2019. Essas arenas são importantes para compreender o movimento de políticos e grupos de interesses em prol de uma proposta política e de possíveis alterações sugeridas. Os grupos de interesses podem ser mais bem visualizados com o uso da metodologia de redes políticas, que demonstra através de um grafo a articulação de diversos atores. Essa metodologia começou a ser utilizada na antropologia e então, recentemente, passou a ser utilizada para análise política (OLMEDO; WILKINS, 2016; BALL, 2014; SOUZA, 2019). A seguir, podemos visualizar um exemplo de rede política. TÓPICO 1 | TRANSFORMAÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E DA GESTÃO ESCOLAR 7 FIGURA - 4 REDE POLÍTICA FONTE: Adaptado de Souza (2019) Nessa rede — elaborada para a dissertação de mestrado de Suelen Batista Souza, intitulada Formulação da bonificação por resultados paulista: análise de arenas e redes políticas —, é possível observar a presença de atores diretos e indiretos ao projeto de lei da Bonificação por Resultados em São Paulo. As articulações com os atores do setor privado, as políticas podem também ser caracterizadas como intervenção da sociedade civil. Atualmente, percebe-se o movimento de integração entre o setor privado e público em políticas para setores determinados. Outro fator de influência na política brasileira é a globalizaçãoque traz outras instituições para regulamentar, sugerir e observar o andamento de políticas brasileiras. Exemplos dessas instituições são o Banco Mundial, FMI (Fundo Monetário Internacional) e OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Essas instituições podem influir em diretrizes para setores da sociedade como forma de acompanhamento, subsídio financeiro e imagem positiva em escala internacional, conforme indica a pesquisa de Souza (2019). UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 8 FIGURA 5 - BANCO MUNDIAL, OCDE E FMI FONTE: <http://twixar.me/vJqT>. Acesso em: 7 abr. 2020. Você quer saber mais sobre os tipos de arena com maior descrição? Leia o documento de referência no link: http://www.fundacionhenrydunant.org/images/stories/ biblioteca/Politicas-Publicas/QL-vT7L41Vk.pdf.pdf. A partir da página 89, Lowi descreve melhor as políticas públicas e a arena política. DICAS 3 GESTÃO EDUCACIONAL E GESTÃO ESCOLAR Acadêmico, até aqui pudemos observar a política em seu sentido amplo, suas complexidades e os diversos interesses envolvidos. Agora, vamos olhar para a política nos âmbitos específicos da educação. Ao pensarmos em Gestão Educacional e Gestão Escolar devemos estar atentos às principais diferenças existentes entre elas e também aos autores que as movimentam. A principal distinção entre essas duas funções é o nível de decisão e influência que os profissionais responsáveis possuem. O gestor educacional é o condutor do nível macro da educação, ele é o responsável por articular pessoas em direção à realização de projetos para instâncias abrangentes, como projetos educacionais nacionais, estaduais e municipais (VIEIRA, 2007). Já o gestor escolar é aquele responsável pela micro-organização escolar, ou seja, aquele que organiza a escola, os professores, os funcionários e o alcance do objetivo maior, que é aprendizagem dos alunos (VIEIRA, 2007). As políticas educacionais são conduzidas e formuladas por pessoas, que, geralmente, são articuladas por gestores educacionais nas instâncias de planejamento, como o Ministério da Educação (MEC). TÓPICO 1 | TRANSFORMAÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E DA GESTÃO ESCOLAR 9 O gestor escolar necessita organizar o pessoal que trabalha na instituição de modo a motivá-los para a execução das atividades e para a liberdade do trabalho coletivo e criativo, também abrange a comunidade em torno da escola, dos conselhos de escola (que são instâncias deliberativas), e das nuances de cada escola para garantir as condições de aprendizagem das crianças (VIEIRA, 2007). Sofia Vieira (2007) comenta que as intenções do Poder Público se materializam na gestão, seja educacional, seja escolar. Mas também há o movimento contrário, da gestão propor ideias para as instâncias maiores de planejamento. FIGURA 6 - GESTÃO PÚBLICA FONTE: <https://fce.edu.br/blog/um-olhar-para-a-gestao-democratica/>. Acesso em: 29 dez. 2019. É importante destacar que essas ideias precisam ser aceitáveis nas condições políticas do contexto em que se está inserido, assim como as ideias precisam ser viáveis para a execução no momento da implementação política (VIEIRA, 2007). Uma política que não foi executada por completo foi o Plano Nacional de Educação (PNE). O problema da execução do PNE, de acordo com Vieira (2007), foram as excessivas metas propostas, pois, de acordo com a autora, é importante que as metas sejam objetivas, claras e precisas, assim como a sua necessidade de estabelecer prioridades no alcance delas. FIGURA 7 - LOGOTIPO MEC E PNE FONTE: <https://home.unicruz.edu.br/wp-content/uploads/2018/08/MEC.jpg>; <https://i.pinimg. com/564x/9b/ea/1e/9bea1edf1c66dfc361ab062d1e5aaf07.jpg>. Acesso em: 7 abr. 2020. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 10 Qualquer que seja a instância de gestão é necessária a relação com o outro, mudanças a serem realizadas e que geralmente desagradam aos docentes, mas também à negociação entre as pessoas. Permeia o tema de gestão a questão da eficácia e da eficiência, que é sobre produzir o que é necessário com o que está à disposição para as metas estabelecidas. O gestor eficiente articula os aspectos humanos e profissionais de cada indivíduo, como suas particularidades e a composição do grupo como um todo (SOVIENSKI; STRIGAR, 2008). Os aspectos citados formam o clima organizacional que é fundamental para a discussão do bom andamento das atividades nas instituições escolares, dada a complexidade da tarefa educativa. Outro fator que altera as condutas dos gestores é a mudança de políticas conforme a modificação do governo a cada eleição. A educação necessita de mais políticas de Estado, que são aquelas que não são modificadas sem grande mobilização, e não de governo, que alteram completamente as diretrizes fundamentais apenas pela troca de governos entre as eleições. O problema dessa questão é a descontinuidade de práticas educacionais e de diretrizes para as instituições escolares e seus funcionários, assim como para os gestores tanto educacionais como escolares que podem ser prejudicados nessa alteração. 4 A BUROCRATIZAÇÃO NA GESTÃO ESCOLAR Como vimos anteriormente, os processos que envolvem a política educacional não são simples, eles se ramificam em diferentes setores e se espalham em todas as esferas sociais. Mas, você pode se perguntar: e na escola? Como esses agentes interferem na vida escolar e dos profissionais que atuam diariamente em todos esses processos? Tragtenberg (2018), ao trabalhar essa temática, tendo como base seu artigo A escola como organização complexa, elucida a complexidade que existe na escola, e se atenta para a burocratização que tem permeado o ensino como um todo, e tem ocupado grande espaço do trabalho na gestão escolar. Ao tratar do assunto, o autor traz diversos exemplos de como a burocratização está presente no ambiente escolar e na sua administração, o que ajuda a elaborar e compor três tipos de burocratização encontradas com mais facilidade na gestão escolar: TÓPICO 1 | TRANSFORMAÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E DA GESTÃO ESCOLAR 11 • As vivenciadas pelos gestores em seu cotidiano, como questões administrativas e organização de funcionários. • As que estão fora da escola, mas a atingem por estarem estritamente ligadas com a administração escolar, como aquilo que vem “de cima para baixo”, ou seja, leis e normas que a escola tem que seguir, mas não foram propostas por ela, mas sim por instâncias superiores. • E, por fim, aquela interiorizada pelo próprio indivíduo diante da convivência diária com a burocratização que o cerca. A seguir, explicaremos mais sobre cada um desses tipos de burocracia e como elas afetam o cotidiano da escola. 5 OS DIFERENTES TIPOS DE BUROCRACIA NO ÂMBITO ESCOLAR A primeira dela é a burocracia do cotidiano escolar. Uma das tarefas que ocupam muito tempo na gestão cotidiana da escola são as grandes quantidades de papéis. Desde materiais novos que chegam, históricos escolares, pagamento de monitores, que trabalham em projetos, até carteirinhas de passe escolar passam diariamente pela gestão escolar. Existem inúmeras reuniões que demandam bastante da equipe gestora, como reuniões com seus pares, com os dirigentes locais das secretarias de educação, reuniões com outros diretores. Enfim, é uma longa lista. Há também uma grande exigência em relação aos dados dos alunos, como quantidade de ingressantes e concluintes, quantidade de alunos matriculados da área de abrangência, prestação minuciosa de contas de todos os gastos da escola, entre outros. Assim, todas essas tarefas com teor burocrático acabam “roubando” muito tempo do trabalho da gestão escolar, sobrando pouco espaço e tempo para atividades que sejam voltadas mais para a melhoria da escola e da comunidade. FIGURA 8 - A BUROCRACIA FONTE: <https://diegoamaro.com/wp-content/uploads/2017/02/burocracia_boneco.png>. Acesso em: 30 dez. 2019. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOSTEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 12 A segunda é denominada por Tragtenberg (2018) como burocracia das instâncias superiores. Ela é um dos que mais afetam o cotidiano escolar. Um exemplo clássico é a contratação de profissionais da educação. Hoje as escolas públicas dependem constantemente da abertura de novos concursos para suprimirem a demanda que vem crescendo nos últimos anos. Isso faz com que a escola sofra com a falta de funcionários na sua equipe, o que faz com essas funções tenham que ser destinadas a outros funcionários da escola (como professores), desfalcando uma equipe para poder cobrir outra. Nesse sentido, nós podemos observar a dificuldade existente entre a espera por um novo funcionário assumir sua função e o anseio da escola por recebê-lo, mas sem poder fazer algo além de esperar. Não é apenas nesses momentos que a burocratização do trabalho se apresenta como um problema, mas ela ocorre também quando há necessidade de compras de materiais, mas que não se encaixam em categorias pré-estabelecidas pelos órgãos fiscais, por exemplo. Toda vez que um gestor não consegue resolver uma situação do seu cotidiano devido a algo ou alguém que não faz parte diretamente da escola, mas, mesmo assim, tem poder de afetar seu funcionamento, dizemos que ele esbarrou na burocracia das instâncias superiores. FIGURA 9 - O SISTEMA BUROCRÁTICO FONTE: <https://jornalggn.com.br/cronica/burocracia/>. Acesso em: 30 dez. 2019. Dessa forma, o gestor, chamado de o burocrata da educação por Tragtenberg (2018) só pode agir até certa instância, pois existe toda uma burocracia que o limita dentro do seu campo de atuação. O autor sintetiza bem essa questão, fazendo uma comparação do modo de gestão com a da fábrica no sistema capitalista: “No que se refere ao pessoal, o burocrata da educação está separado dos meios de administração como o operário dos meios de produção, o oficial dos meios de guerra e o cientista dos meios de pesquisa” (TRAGTENBERG, 2018, p. 185). Assim, percebemos como os gestores das unidades escolares por vezes são limitados pelas burocracias externas à escola que os fazem ficar de “mãos atadas” em determinadas situações. TÓPICO 1 | TRANSFORMAÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E DA GESTÃO ESCOLAR 13 A burocracia interiorizada no indivíduo ocorre devido aos desmembramentos que a burocracia escolar sofre nos mais diferentes âmbitos da escola, indo além de papeis ou administração, mas atuam diretamente nas pessoas que trabalham na escola, como gestores, docentes e demais funcionários que ali se encontram: “No âmbito microescolar encontramos na escola uma burocracia de staff (diretor, professores, secretário) e de linha (serventes, escriturários, bedéis). Os relacionamentos staff e linha variam muito com o grau de escola, se médio ou superior” (TRAGTENBERG, 2018, p. 186). Essa burocracia mencionada pelo autor, cria, no âmbito escolar e nas funções de gestão, as chamadas “categorias de funcionários dentro da escola”, deixando evidentes os poderes que cada um tem e o que podem ou não fazer. Isso se evidencia nas relações sociais do dia a dia na escola, em como as pessoas são tratadas e qual a importância que cada uma representa na unidade. Tudo isso é coberto por uma grande capa de dramaturgia. Que significa isso? A dramaturgia, o culto da aparência, dos gestos, tem um valor legitimador na estrutura burocrática. Da mesma maneira que a bata branca do médico ou do professor mostra que ali há alguém de limpeza irrepreensível [...] (TRAGTENBERG, 2018, p. 188). Nesse sistema burocrático, a visão dramatúrgica também é legitimadora do status de que quanto mais alto for o cargo de alguém dentro da instituição, mais indispensável ela é. É possível observar, por exemplo, como que a maioria das decisões da escola se centra na figura do diretor, como também todos os eventuais problemas que surgem só podem ser resolvidos por ele. FIGURA 10- AS DIFICULDADES DA BUROCRACIA FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/0d/fb/c1/0dfbc170186fda1c63bd52eb72f5cf61.jpg>. Acesso em: 30 dez. 2019. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 14 Para ilustrar, imagine que você está trabalhando na secretária de uma escola e recebe a ligação de um pai que gostaria muito de falar com o diretor da unidade. Ao ser informado de que o diretor, no momento, não está, você percebe que o pai ficou bastante angustiado e disse que não iria conseguir resolver o seu problema, pois somente o diretor poderia resolvê-lo. Frustrado ele desliga o telefone e nem comentou do que precisava. Naquele momento, você e todos os demais funcionários da escola se encontravam ali, fazendo com que houvesse uma grande chance de que o problema daquele pai pudesse ser solucionado, pelo menos de imediato na ausência do diretor. Isso ocorre porque os indivíduos estão tão envolvidos na categorização das pessoas que a burocratização impõe e na maneira engessada com que ela trabalha que acabam não percebendo as diversas possibilidades de resolução dos problemas e conflitos do dia a dia. A questão da disciplina e normas interiorizada também se mostra “definida como adaptação a regulamentos, e não a uma adaptação a finalidades precisas, constituindo-se num valor básico na estrutura burocrática” (TRAGTENBERG, 2018, p. 187). Enfim, esse sistema engessado que a burocracia traz permeia a escola em vários momentos, muito além das questões administrativas, mas também no próprio grupo de funcionários que acabam absorvendo essa ordem/sistema e reproduzem-na nas mais diversas esferas do ambiente escolar. Assim, a burocratização é um dos pilares que contribuem para que a escola se torne um lugar complexo em todos os aspectos. 15 Neste tópico, você aprendeu que: • As principais etapas que compõem o processo de formulação de uma política pública, são compostas por: agenda, formulação, implementação e avaliação, que são processos complexos e envolvem muitos agentes e interesses diversos. • As políticas, uma vez formuladas, se estendem em todos os âmbitos, inclusive os escolares. • Nem sempre a adequação de lei ou projeto formulado consegue se adequar com facilidade às demandas da escola, uma vez que a instituição escolar é um ambiente complexo, que envolve diferentes agentes e com diferentes funções. • O gestor escolar que atua diretamente na escola é importante no processo de gerência e organização da unidade. Além do mais, ele atua como o fio condutor da implementação na unidade escolar das principais políticas destinadas na unidade, observando seu cumprimento. • Todos esses processos, tanto fora como dentro da própria unidade escolar demandam diálogo e organização para que todas as demandas burocráticas sejam atendidas, sem deixar de lado as necessidades das crianças. Porém, por vezes, tais processos, acabam por se apresentar como um problema na dinâmica escolar, devendo ser organizados e dinamizados, de forma que não prejudiquem o atendimento e a funcionalidade da escola. RESUMO DO TÓPICO 1 16 1 O processo de formulação de uma nova política envolve diferentes pessoas e agentes. Considerando que ela visa atender aos interesses e demandas sociais, assinale a alternativa que denomina o primeiro desafio dos propositores da política, processo em que os diferentes interesses são expostos e entram em pauta no cenário político: a) ( ) Formulação. b) ( ) Agenda. c) ( ) Avaliação. d) ( ) Nova política. e) ( ) Implementação. 2 Uma das responsabilidades do gestor escolar, que desempenha sua atuação na unidade escolar é: a) ( ) Ser responsável pela micro-organização escolar, como organizar a escola, os profissionais e os funcionários que atuam, zelando pelo cumprimento das políticas escolares dentro da unidade. b) ( ) Ser responsável pelas decisões das instancia superiores da educação, legislando sobre as novas políticas que devem ser criadas. c) ( ) Ser responsável pelo apoio pedagógico na unidade, escrevendo as diretrizes educacionaisque os professores devem seguir. d) ( ) Fiscalizar, junto ao MEC, as medidas que as escolas devem seguir durante o ano letivo. e) ( ) Atuar exclusivamente como mediador dos conflitos dentro da escola. 3 A arena política é um local composto por atores diante de decisões públicas. Antônio e Laura participam de uma votação para a regulação de regras para atuação dos atores em outras votações para outras políticas públicas. A arena de que Antônio e Laura participam é chamada de: a) ( ) Distributiva: uma arena para distribuição de recursos com pouco conflito. b) ( ) Regulatória: arena com alto custo para os cofres públicos, arenas conflituosas com embate direito. c) ( ) Redistributiva: arena com fortes fundamentos ideológicos e impacto direto sobre classes sociais. d) ( ) Constitutivas: arena para a regulação de outras arenas e seu possível conflito político. e) ( ) Não é uma arena política. AUTOATIVIDADE 17 TÓPICO 2 DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A temática dos direitos na sociedade nos últimos anos tem sido abordada em diversas perspectivas, seja dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, e, frequentemente, fundamenta os debates acerca da democracia atual. Na educação, a garantia de escolarização para todos é um direito subjetivo e no Brasil está formulado de acordo com os direitos humanos. Para tal, há o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica (LDB). Vamos estudar mais sobre esses documentos e os direitos humanos aliados à diversidade na educação pública brasileira a seguir. 2 A TRAJETÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS A promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas, em 1948, trouxe novos vislumbres de avanços no mundo. O Brasil foi um dos primeiros países a assinar e a ratificar a Resolução 217 da ONU, no dia 10 de dezembro de 1949, cujo artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, garante a instrução pública, gratuita e obrigatória no Ensino Primário. Os estudos e pesquisas demonstram que o direito à educação parece seguir o esquema proposto por Norberto Bobbio (1992) no livro A era dos direitos. Vemos que os direitos fundamentais dos homens nem sempre existiram, foram conquistados de forma paulatina. Se olharmos esse assunto da perspectiva histórica e dos vários modelos de governo que já existiram podemos observar que: No Estado despótico, os indivíduos singulares só têm deveres e não direitos. No Estado absoluto, os indivíduos possuem, em relação ao soberano, direitos privados. No Estado de Direito, o indivíduo tem, em face do Estado, não só direitos privados, mas também direitos públicos. O Estado de Direito é o Estado dos cidadãos (BOBBIO, 2004, p. 31). UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 18 Ou seja, é possível fazer uma leitura da questão do direito à educação nessa perspectiva. É nesse processo que Bobbio (2004) estabelece a formatação dos direitos do homem em quatro passos. O primeiro deles é a positivação, ou seja, a inserção do direito no ordenamento político; o segundo passo é a generalização, quando esse direito se amplia do circuito estrito para um circuito mais amplo dos cidadãos. Ao terceiro passo ele chama de internacionalização, e é quando o direito internacional acolhe o direito à educação como algo a ser subscritado, isto é, assinado por países do mundo. E, finalmente, ele fala da especificação, que é quando aparecem direitos relativos às minorias, como pessoas com deficiência, que é um dos casos específicos, podendo ter outros de ordem cultural etc. FIGURA 11 - O PROCESSO JURÍDICO DOS DIREITOS À EDUCAÇÃO FONTE: Adaptado de Bobbio (2004) Nos anais do Seminário do grupo de estudos e pesquisas em política e avaliação da educação (2016) comenta-se cada uma dessas etapas. Dizendo que a positivação é o primeiro passo para a garantia dos direitos humanos, pois é o momento em que tais direitos entram no ordenamento jurídico de um determinado país. Após essa entrada, o segundo momento é a generalização posterior dos direitos, ou seja, a ampliação do circuito dos que podem usufruir. No caso da educação, é quando ela é reconhecida como um direito inalienável e que todos devem ter acesso. Este é o momento em que os indivíduos deixam de ser passivos em sua cidadania para se tornarem ativos. Sabidos do seu direito, agora, eles podem lutar para que sejam efetivados. As duas últimas, a internacionalização e generalização, acorrem quando o direito é reconhecido por todos os outros países e passa a ser destinado a todas as camadas sociais. Com relação ao direito à educação, vemos que esse processo de efetivação dos direitos ocorreu de forma similar. Foi um processo lento e demandou muitas lutas sociais. Outro ponto importante na conquista dos direitos, em específico no caso brasileiro, foi a criação das constituições. Ao longo da sua história, vemos que a Declaração dos Direitos Humanos, no Brasil, sempre esteve associada com as constituições existentes. Como reflexo da sociedade, as constituições representavam as demandas sociais e políticas de cada período. TÓPICO 2 | DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 19 Uma das principais demandas sociais que se mostravam cada vez mais necessárias era o acesso às escolas de educação básica. Assim, em cada nova constituição era perceptível a ampliação do assunto e as buscas por garantias da educação, revelando avanços em relação aos direitos dos cidadãos. É oportuno assinalar que a presença ou ausência da educação nas Constituições brasileiras evidencia seu menor ou maior grau de importância ao longo da história. Nas primeiras constituições (1824 e 1891) as referências são mínimas, ilustrando sua pequena relevância para a sociedade da época. Com o aumento da demanda por acesso à escola, a presença de artigos relacionados com o tema cresce significativamente nas constituições posteriores (1934, 1937, 1946, 1967, 1988) (VIEIRA, 2007, p. 306). Na Constituição de 1988, no artigo 1°, inciso III, o fundamento da dignidade da pessoa humana não traz somente segurança aos cidadãos em seus aspectos físicos e/ou emocionais, mas também garante que, como cidadão de direitos, ele deve ter acesso à educação. Bobbio (2004, p. 7) dirá que é necessário “fazer com que os direitos do homem e da sociedade sejam reconhecidos e protegidos”. É nesse contexto que conseguimos compreender a importância da educação pública e gratuita. Através da educação oportunizamos a possibilidade de os indivíduos agirem em seu meio social, colaborando para a vida comum. Em linhas gerais, podemos observar os principais artigos da Constituição Federal de 1988 relacionados à educação e que contribuíram para efetivos avanços na garantia desses direitos. • Art. 206 cap. I, II e III – Igualdade, liberdade e pluralismo de ideias: explícita a igualdade entre os homens e o direito desses em serem livres em seus pensamentos, ideias e atitudes. • Art. 206 cap. V – Valorização dos profissionais: salienta a importância dos profissionais que atuam na educação e a necessidade de valorizá-lo em relação à remuneração, jornada de trabalho e condições de trabalho. • Art. 206 cap. – VI Gestão democrática e autonomia: reconhece a autonomia escolar e a importância da participação de todos os profissionais na gestão e funcionamento das unidades educativas. • Art. 208 cap. I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade: estabelece idade mínima para ingresso nas instituições de ensino, bem como sua gratuidade. (Veremos mais na seção – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica – LDB). • Art. 208 cap. III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência: reconhece a necessidade dos portadores de deficiência em suas especificidades educacionais. • Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regimede colaboração seus sistemas de ensino: divide às responsabilidades de financiamento e gestão da oferta de ensino. (Veremos mais na seção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica – LDB). • Art. 214 Criação de plano nacional de educação de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação: (veremos mais no tópico Plano Nacional de Educação — PNE). UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 20 FIGURA 12 - IMAGEM DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 FONTE: <https://blog.advbox.com.br/wp-content/uploads/2018/11/stf-constituicao-comentada.jpg>. Acesso em: 7 abr. 2020. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), criado em 1990, reforça esses princípios com a proteção da criança e os direitos que possui na sociedade. Podemos ver no artigo 53 a síntese dos direitos da criança e do adolescente em relação a sua formação, cuidados e cidadania, sendo lhe assegurados: I- igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II- direito de ser respeitado por seus educadores; III- direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV- direito de organização e participação em entidades estudantis; V- acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência (BRASIL, 1990, s.p.). Assim, se a educação faz parte do direito dos cidadãos, é necessário que ela seja garantida e de acesso a todos. Porém, ofertar e organizar a educação pública e gratuita não é uma tarefa fácil. Além de toda demanda material e de profissionais qualificados, é necessário que ela atenda ao mínimo a princípios comuns, que sejam capazes de definir e gerir a educação. De forma a atender essa necessidade, ao longo dos anos foram criados diversos planos para regular e direcionar os principais fundamentos da educação básica. Nos subtópicos a seguir, nós vamos conhecer mais sobre uma das mais importantes leis que possuímos atualmente no Brasil em relação à educação: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica (LDB). 3 A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO BÁSICA (LDB) Se fôssemos realizar um pequeno histórico da educação desde os seus primórdios no Brasil, passando pelos jesuítas, aulas régias, chegando até os tempos atuais, é possível observar com bastante clareza que o contexto político, histórico, econômico e cultural de cada época é determinante para a formulação de meios e métodos educacionais. Nesse sentindo, a LBD também se faz fruto do seu contexto e recebeu influências desses fatores. Com isso podemos perceber que a construção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica (LDB) do país foi feita diante de muitas lutas e conflitos. TÓPICO 2 | DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 21 A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica (LDB) foi criada em 1996 (LDB n. 9.394/96) e teve como princípio assegurar e instaurar as diretrizes para a educação básica brasileira. Entre seus objetivos centrais encontramos o desenvolvimento do educando, a formação comum necessária para o exercício da cidadania e o fornecimento de meios para progredir no trabalho e nos estudos posteriores (Art. 22 LDB n° 9.394/96). A formação do indivíduo é compreendida como contínua, devendo ser pensada em formas de produzir autonomia ao sujeito para que este possa prosseguir em seus estudos e exercer sua cidadania na sociedade. Outra característica fundamental da LDB foi a instituição do ensino fundamental como obrigatório e gratuito. Isso representou um grande avanço para a educação, permitindo o acesso de muitos indivíduos à educação. O atendimento em creches e pré-escolas também é mencionado no documento como devendo ser ofertadas gratuitamente. Além da obrigatoriedade, a LDB instituiu idade mínima para que as crianças ingressassem nas escolas. É determinada a idade de quatro anos completos para ingresso na pré-escola e de seis anos completos para o Fundamental, sendo responsabilidade dos pais matriculá-las. Fora esses princípios básicos para a formação do educando, se fazia necessário estabelecer também uma organização de oferta da escolarização. Se você pensar em como nosso país é extremamente grande em território e com um número expressivo de habitantes, irá perceber que essa organização era fundamental para que a educação básica pudesse ser ofertada. No Artigo 8° temos que “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino” (BRASIL, 1996, s.p.). Assim, veremos agora as principais estruturas que regem e administram essa oferta. OFERTA RESPONSABILIDADE Educação Infantil (creche e pré-escola). Municípios. Ensino Fundamental (composto por 9 anos). Prioridade dos municípios com colaboração do Estado. Ensino Médio. Prioridade dos estados. QUADRO 1- EDUCAÇÃO BÁSICA: RESPONSABILIDADES FONTE: A autora Vemos que os municípios ficaram incumbidos da tarefa de ofertar os anos iniciais de ensino, e os Estados, responsáveis principalmente pelo Ensino Médio. Pereira e Teixeira (2008) realizaram um percurso nos três ciclos de ensino intitulados pela LDB, focando as principais questões que permearam cada um deles, sendo estes, a educação infantil, fundamental e média. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 22 Na educação infantil vimos a alteração da obrigatoriedade já nessa faixa de ensino, sendo instituída a idade de quatro anos como entrada obrigatória nesta modalidade de ensino. No ensino fundamental se debateu a implementação de mais um ano letivo ao ciclo, que anteriormente constituía-se em de oito anos e teve sua alteração para nove. Essa mudança causou polêmica e levantou opiniões de diversas posições, tanto a favor como contrárias. Essa mudança já foi implementada, visto que as escolas teriam até 2010 para se adequarem. No ensino médio discute-se a integralização do ensino, de maneira que se concretize de forma a oferecer um ensino dito normal, de desenvolvimento intelectual, mas também o profissional, dando a oportunidade de o aluno adquirir um conhecimento técnico-profissionalizante. De forma geral, podemos ver, a seguir, as principais características de cada modalidade de ensino: • Aspectos gerais da educação básica: liberdade as escolas na organização do processo de aprendizagem, liberdade de reclassificação dos alunos conforme as normas curriculares gerais e adaptabilidade do calendário as peculiaridades da escola. Carga horária de 800 horas para o ensino fundamental e médio e 75% de presença obrigatória. • Aspectos da educação infantil: ficou destinada para crianças de zero a 3 anos de idade, e em pré-escolas a crianças de 4 a 5 anos, sendo esta última obrigatória. • Aspectos do ensino fundamental: esse ciclo é bastante enfatizado nessa LBD e diz que é um direito subjetivo, podendo qualquer um acioná-lo para exigi- lo, sendo responsabilidade dos pais efetuarem a matrícula de seus filhos. Também se tem a modalidade no período noturno para esse ciclo contendo as adequações necessárias. • Os aspectos do ensino médio: com duração de três anos tem a finalidade de consolidar, preparar, aprimorar a compreensão dos saberes ao aluno, fornecendo os meios para o progresso ao mundo do trabalho. FIGURA 14 - AS ETAPAS DA EDUCAÇÃO FONTE: <https://www.selecoes.com.br/colunistas/o-desafio-da-escadaria-contos/>. Acesso em: 30 dez. 2019. TÓPICO 2 | DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 23 Também podemos observar as modalidades previstas para a educação escolar na LDB, sendo elas: a) Educação Especial Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação (BRASIL, 1996, s.p.). b) Educação de Jovens de Adultos Art. 4°, VII - oferta de educaçãoescolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola (BRASIL, 1996, s.p.). c) Educação Tecnológica e Formação profissional “Art. 39. A educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva” (BRASIL, 1996, s.p.). d) Educação a distância e tecnologias educacionais “Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada” (BRASIL, 1996, s.p.). e) Educação Indígena “Art. 32, § 3° O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem” (BRASIL, 1996, s.p.). Cada uma dessas modalidades demonstra e assegura a educação como um campo de diversidade, com pluralidade de conhecimento e ideias. Veremos agora como é importante que, além de estarem asseguradas, elas também necessitam estar amparadas em metas específicas que prezem pela sua qualidade. • O Plano Nacional de Educação (PNE) O Plano Nacional de Educação (PNE) é um plano decenal com metas a serem atingidas para melhorar a qualidade da educação. O envio do Projeto de Lei n° 8.035 ao Congresso Nacional em dezembro de 2010, foi sancionada pela Lei n° 13.005, em 25 de junho de 2014, que instituiu o PNE, a vigorar no decênio 2014-2023. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 24 O PNE 2014-2024 é composto por 14 Artigos, 20 Metas e 254 Estratégias (BRASIL, 2014). Tais metas e estratégias são baseadas em dez diretrizes fundamentais que regem todo o documento, sendo eles: • 1° Erradicar o analfabetismo. • 2° Universalizar o atendimento escolar. • 3° Superar as desigualdades educacionais. • 4° Melhorar a qualidade de ensino. • 5° Melhor formação profissional. • 6° Promover a sustentabilidade socioambiental. • 7° Ampliar a área tecnológica e científica. • 8° Ampliar a aplicação de recursos públicos na educação. • 9° Valorizar os profissionais da educação. • 10° Propagar a igualdade, respeito à diversidade, ampliar a gestão democrática da educação. Em cada uma das diretrizes vemos que a melhoria da qualidade educacional é o principal objetivo do documento. Seja com o foco na educação básica, passando pelo ensino tecnológico, científico e até a formação profissional. Além da preocupação com a melhora na qualidade, o PNE prevê metas importantes sobre investimentos a serem feitos na educação, sendo o principal deles encontrados no Artigo 2, VIII: “Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade” (BRASIL, 2014, s.p.). Dentre as metas propostas pelo PNE, algumas se destacam, como a efetivação da universalização da Educação Infantil para crianças de 4 a 5 anos, e no Ensino Fundamental de 9 anos para toda a população de 6 a 14 anos. A alfabetização de todas as crianças “até o final do 3° ano do ensino fundamental” (BRASIL, 2014, s.p.). FIGURA - 15 ACESSO À EDUCAÇÃO FONTE: <http://tribunadoplanalto.com.br/2018/09/26/educacao-de-qualidade-comeca-pela- valorizacao-do-servidor/>. Acesso em: 30 dez. 2019. TÓPICO 2 | DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 25 O plano também se atenta para a educação de comunidades indígenas e quilombolas, lembrando que elas devem ser articuladas com os ambientes escolares e comunitários, tendo garantido: O desenvolvimento sustentável e preservação da identidade cultural; a participação da comunidade na definição do modelo de organização pedagógica e de gestão das instituições, consideradas as práticas socioculturais e as formas particulares de organização do tempo; a oferta bilíngue na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, em língua materna das comunidades indígenas e em língua portuguesa (BRASIL, 2014, s.p.). Frente aos desafios propostos para a educação brasileira, o PNE visa atender requisitos básicos da educação, como direcionar a organização das políticas públicas e promover a superação das desigualdades nacionais (FURLETTI, 2017). Tal tarefa não se mostra fácil, mas já consolida os primeiros passos de um caminho a ser trilhado. 4 A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) Atualmente, outro importante documento norteador da educação contemporânea é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Sua construção se iniciou em 2015 junto ao MEC e demais consultas públicas, sendo aprovada em 22 de dezembro de 2017. Ela se constituiu um referencial obrigatório para os currículos das redes estaduais, municipais e particulares do país. A BNCC está dividida em três partes, correspondente às três etapas da educação básica: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, apresentando campos de aprendizagem específicos para cada modalidade. FIGURA 16 - ORGANIZAÇÃO CURRICULAR DA BNCC FONTE: A autora UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 26 Alguns pontos são importantes para a compreensão da BNCC. O primeiro é que ela não é um currículo fechado de ensino, mas sim um referencial de aprendizagem. Assim, cada rede tem autonomia para orientar essa aprendizagem conforme suas necessidades. O segundo é que ela não está acima de qualquer outra normativa legal, como a LDB, por exemplo. A BNCC também não é uma política de governo ou partido, mas de estado. Ou seja, independente das mudanças partidárias, ela continua válida em todo território nacional. Outro aspecto importante é que a BNCC se fundamenta na criação de competências e habilidades por parte dos educandos. As competências são definidas pela BNCC como “a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (BRASIL, 2017, p. 13). Já as habilidades “expressam as aprendizagens essenciais que devem ser asseguradas aos alunos nos diferentes contextos escolares” (BRASIL, 2017, p. 29). A BNCC prevê 10 competências gerais, as quais as habilidades devem estar articuladas. Sendo elas: 1) conhecimento; 2) pensamento científico, crítico e criativo; 3) repertório cultural; 4) comunicação; 5) cultura digital; 6) trabalho e projeto de vida; 7) argumentação; 8) autoconhecimento e autocuidado; 9) empatia e cooperação; e 10) responsabilidade e cidadania. Por exemplo, na competência “comunicação”, o aluno deve desenvolver a habilidade de expressar-se e partilhar informações. Já na competência de “empatia e cooperação”, uma das habilidades propostas é que seja desenvolvida a empatia e o diálogo. Ou seja, a perspectiva da BNCC para os currículos escolares é que os alunos estejam aptos a desenvolver competências. Esse direcionamento se distancia do currículo conteudista, que por muito tempo esteve fundamentado como essencial para aprendizagem. As perspectivas de memorização em determinados saberes não se fundamentam mais, principalmente em uma geração que possui tantas informações disponíveis e de fácil acesso. Perrenoud (2002, p. 39), fazendo uma reflexão sobre as novas formas de se pensar o currículo, nos diz que “Nas orientações curriculares atuais, a ruptura com o enciclopedismo e com a memorização de fatos e regras levou as competências. Neste caso, considera-se que os saberes são recursos para compreender, julgar, antecipar, decidir e agir com discernimento”. Miranda (1997, p. 41) nos diz que o currículo deve ser “menos discursivo, mais operativo, menos particularizado, mais interativo, comunicativo; menos intelectivo, mais pragmático; menos setorizado, mais global, nãoapenas fortemente cognitivo, mas também valorativo”. Esses são alguns valores que a BNCC procurou incorporar, levando em consideração as novas demandas educacionais da educação atual. TÓPICO 2 | DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 27 Dessa forma, diante da necessidade de novas propostas e concepções de ensino para a educação atual, vemos que a BNCC vem atuar diretamente nessa nova forma de conceber a educação, direcionando a aprendizagem para a formação de um currículo que gera alunos cada vez mais autônomos e independentes na produção do conhecimento. Aprenda mais sobre a BNCC no vídeo do Movimento pela Base Nacional Comum disponível no link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=-wtxWfCI6gk. DICAS Vimos até aqui como funcionam os diferentes processos de formulação política, os principais direitos adquiridos ao longo dos anos pelos cidadãos e as diretrizes e leis essenciais que tais processos acarretaram na educação. Agora você irá compreender como todos esses direitos, normativas e diretrizes devem ser encaminhadas e estabelecidas no cotidiano escolar. 5 EDUCAÇÃO ESPECIAL E O ENSINO DA HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA. ENSINO DAS RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS Abramowicz, Rodrigues e Cruz (2011, p. 86), ao realizar uma breve análise de todos esses percursos na educação, em específico na garantia dos direitos de acesso e permanência, apontam que “pode-se visibilizar um processo que poderíamos denominar de ascensão da diversidade”. Eles destacam que os temas relativos à diversidade se diferenciam de acordo com as necessidades de cada grupo social e as demandas que se impõem em determinados momentos. Uma delas é a educação especial. Em 1994 tivemos a Declaração de Salamanca, um documento elaborado em uma conferência mundial que estabeleceu princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 28 A Declaração de Salamanca está disponível no endereço: http://portal.mec. gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. DICAS Este documento reforça os direitos das crianças com necessidades especiais de terem seus direitos garantidos e assistidos. O princípio que orienta esta Estrutura é o de que escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Aquelas deveriam incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos desavantajados ou marginalizados (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p. 3). Temos aqui uma importante compreensão de como o processo educativo deve proceder. Todas as crianças têm o direito de estarem na escola regular e terem suas necessidades especiais atendidas. Mantoan (2003) diz que é preciso que as escolas estejam abertas a reorganizarem seus planos e metas de ensino de modo que todas as crianças possam ser acolhidas pela instituição. Um dos caminhos propostos pela autora é que os projetos de ensino partam das necessidades encontradas por aquele grupo de alunos, e não o contrário, ou seja, estabelecer um projeto indiferente à realidade escolar e das crianças que ali estão. Isso não contribui para a formação dos educandos e tende a ser um obstáculo na superação das dificuldades de aprendizagem. Glat et al. (2007) salienta que durante muito tempo a educação especial se configurou como um sistema paralelo e segregado de ensino. Assim, olhar a educação especial hoje é pensar em uma nova cultura escolar, que atinja todos os alunos, sejam eles deficientes ou não. Outro ponto essencial que toca diretamente a escola e sua diversidade é a inclusão de temas de história da África em seus estudos através da Lei n° 10.639/2003, que versa sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana. Olhar para esse grande aparato histórico que deu origem ao Brasil, nos ajuda a compreender suas diferenças e singularidades, criando um ambiente de respeito e valorização mútua. Essa Lei propõe diretrizes para os currículos escolares, para que sejam incluídos temas que abordem a história e cultura afro- brasileira, promovendo a valorização das culturas africanas e quilombolas. TÓPICO 2 | DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 29 FIGURA 17 – A DIVERSIDADE BRASILEIRA FONTE: <http://desacato.info/a-lei-torna-obrigatorio-o-ensino-da-historia-africana-afro- brasileira-e-indigena/>. Acesso em: 31 dez. 2019. A escola é o local onde todas essas diferenças se encontram. O profissional deve compreender que sua atuação engloba saber lidar com as aspirações e necessidades de todos que ali adentram. Para Gusmão (2000) a grande dificuldade hoje no ambiente escolar é reconhecer a cultura de um grupo ou indivíduo, pois somente assim as diferenças ganham sentido e expressões reais. Quando compreendemos o lugar do qual o outro fala, vê e sente, conseguimos entender seus desejos, angústias e anseios. Somente com essa perspectiva é que podemos quebrar os padrões sociais que estão o tempo todo estabelecendo estereótipos de como devemos ser ou agir. Assim, para compreender a diversidade existente em nosso país é preciso estar atento às diferentes necessidades de cada grupo social, dando visibilidade e garantindo os direitos conquistados ao longo dos anos. Porém, veremos que a diversidade não se estabeleceu somente no aparato histórico e jurídico, mas também nas formas de ensino. No próximo tópico veremos as principais mudanças que a educação contemporânea trouxe para a sala de aula em termo de metodologias e planos de ensino. 30 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Os principais aspectos dos Direitos Humanos e Diversidade na Educação. Adentramos nos direitos constitucionais que as crianças possuem, como o Estatuto da criança e do Adolescente (ECA) e as principais leis e planos pensados para que elas tenham o direito a educação e a qualidade de ensino garantidos. • Segundo Bobbio (2004), para que um direito seja de fato garantido, ele necessita passar por quatro processos: ◦ a positivação do direito; ◦ a generalização do direito; ◦ a internacionalização do direito e ◦ a especificação do direito. • As etapas do caminho que levam à consolidação e reconhecimento de todos sobre determinado direito estão expostas de acordo com Bobbio (2004). Isso nos leva a pensar nos principais direitos conquistados na Constituição de 1988 que garantiu, entre outros, a liberdade de ideias, gestão democrática nas instituições de ensino, valorização dos profissionais da educação, acesso gratuito e obrigatório a educação. • Diante de ampliação de direitos e abertura da escola para todos, é natural que a diversidade se estabeleça e com ela devem emergir propostas que acolham a todos em suas singularidades. Frente a isso, surgem novas propostas, como o atendimento educacional especializado para crianças com necessidades especiais. Uma nova mentalidade escolar é inserida, de que todos têm direito a educação e que a escola deve estar preparada para receber a todas as crianças. • Nesse contexto de diversidade, era necessário que a escola colaborasse na formação de indivíduos, visando ao respeito e valorização das diferentes culturas. Para tanto foi instaurada a Lei n° 10.639/03, que versa sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana. Essa lei ressalta a importância de as crianças compreenderem as origens do nosso país e sua grande diversidade. 31 1 Considerando as transformações sociais que ocorreram em prol dos direitos dos cidadãos nas últimas décadas, e, em especial, do direito à educação, assinale a alternativa que contém a Lei que garante o acesso obrigatório às crianças aos quatro anos de idade em unidades escolares: a) ( ) A Lei n° 10.639/03, que versa sobre o ensino da história e cultura afro- brasileira e africana.b) ( ) A Declaração de Salamanca de 1994. c) ( ) O Estatuto da criança e do Adolescente (ECA). d) ( ) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica (LDB). e) ( ) O Plano Nacional de Educação. 2 Com a nova configuração social que inclui a diversidade e a diferença na escola, novas políticas e propostas foram iniciadas para que as crianças com necessidades especiais pudessem ter acesso à escola. A LDB garante essa modalidade de ensino e a compreende como: a) ( ) Educação voltada para as necessidades da criança, e que ocorre em escola especializada para crianças que possuam as mesmas deficiências. b) ( ) Modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. c) ( ) Uma modalidade de ensino facultativa, cabendo aos pais decidir aderi- la ou não. d) ( ) Uma nova modalidade de ensino, em que a responsabilidade por acolher e orientar as crianças com necessidades especiais é somente do professor e dos colegas de turma. e) ( ) Uma modalidade de ensino com ênfase no reforço escolar e aceleração do desenvolvimento do educando. 3 Considerando a diversidade brasileira e as origens de diferentes culturas que formaram nosso país, se estabeleceu a Lei n° 10.639/03, que versa sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana. Um dos principais intuitos dessa lei é: a) ( ) Aprender sobre o processo de colonização e os principais conteúdos importantes de história e geografia. b) ( ) Analisar as diferentes raças em nosso país e determinar a superioridade de uma em relação à outra. c) ( ) Ensinar os principais rituais de cada religião. d) ( ) Valorizar as culturas africanas e quilombolas, estabelecendo-as como parte essencial da nossa história. e) ( ) Ensinar às crianças que a diferença é algo ruim e deve ser evitado. AUTOATIVIDADE 32 33 TÓPICO 3 A EDUCAÇÃO 4.0 UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Nesta breve introdução sobre os tópicos mais gerais da educação contemporânea, observam-se as principais formulações políticas, as configurações dos direitos humanos na educação e as leis e diretrizes que fizeram a educação avançar em termos de qualidade e acesso. Agora, neste tópico será estudado outro tema muito importante para a educação atual: a tecnologia e a escola. Serão analisadas as principais mudanças que ocorrem nos indivíduos e como a educação deve acompanhar todo esse processo de transformação. 2 O HOMEM DO SÉCULO XXI Uma das grandes transformações que impactaram as últimas gerações e a nossa sociedade como um todo, foi, em certa medida, o advento do uso da tecnologia. Tarefas que antes necessitavam de dias para serem realizadas e trabalhos que exigiam muito esforço foram facilitados em alguns aspectos. É possível viajar para lugares distantes em um curto espaço de tempo, comunicar- se com pessoas de todos os países, acompanhar as últimas notícias do mundo inteiro em tempo real. Com tantas mudanças no mundo e na sociedade é natural que o homem também se transforme. A grande quantidade e rapidez de informações, de todos os gêneros e tipos, fez com que a forma como se aprende e interpreta o mundo se modificasse. Pensamos e agimos de maneira diferente de nossos pais e avós. Nossas prioridades são diferentes e nosso tempo mais escasso. 34 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE FIGURA 18 – OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS FONTE: <http://www.portalopiniaopublica.com.br/arquivos/ colunistas/182/0cbc51021e4b6ad19689340f9fbd12bc.jpg>. Acesso em: 1 jan. 2020. Cortella (2011) nos diz que uma das características inerentes do homem é a sua não adaptação. Para o autor isso acontece porque vivemos em um mundo que está sempre em constantes transformações e mudanças, sejam elas em pequena ou grande escala. Dessa maneira, há a necessidade de frequente transformação, pois se os seres não se adaptassem e não se modificassem junto com o mundo, certamente morreriam. O autor entende o homem como um produto cultural do seu meio, pois é através da sua “não adaptação” que ele abre espaço para a criação da sua cultura, que é o transformar consciente do meio em que vive. Diante de todo esse contexto, é natural que a educação também sofra modificações. Precisamos compreender que, como fenômeno social, a educação deve acompanhar os processos de mudanças e estar apta a formar o novo indivíduo que emerge. As metodologias de ensino que obtiveram sucesso na década de 1980 ou 1990 poderão não ter mais os mesmos resultados no período atual. Isso porque a sociedade modificada tem novas aspirações para seus membros. Pensar na mudança do sujeito do novo século é entender que as tecnologias participantes do seu cotidiano podem colaborar em seu processo de aprendizagem. A seguir será estudado como o conceito de Educação 4.0 surgiu nesse novo contexto e nos apresenta alguns caminhos de trabalho. 3 O CONCEITO DE EDUCAÇÃO 4.0 Para Führ (2018) os ambientes educacionais do novo século devem contemplar ambientes que estimulem a autonomia, a criatividade, a solidariedade, a colaboração e a investigação em forma de pesquisa. Cada uma dessas qualidades é essencial em uma sociedade que muda rapidamente e está sempre em busca de novos conhecimentos. Em um trabalho sobre Educação 4.0, Führ (2018) realizou TÓPICO 3 | A EDUCAÇÃO 4.0 35 um breve histórico do processo de evolução da educação desde o princípio da escolarização, alcançando uma síntese interessante e bem explicativa. Ela dividiu as categorias de educação em Educação 1.0, Educação 2.0, Educação 3.0 e Educação 4.0, descrevendo o foco da educação em cada nova perspectiva de ensino. Educação 1.0 – nessa fase, o educador era a figura mais importante na organização e no trabalho de formação do estudante. Os estudantes, numa atitude de admiração e submissão, recebiam os ensinamentos dos mestres, pois eles eram os detentores do saber. As primeiras escolas eram chamadas de Escolas Paroquiais e limitavam-se à formação de eclesiásticos. As aulas aconteciam nas igrejas e o ensino era limitado à leitura de texto sagrados. O ensino era baseado estritamente na educação cristã. Durante séculos, essa educação prevaleceu e atendeu às expectativas da sociedade da época, que não queria que as pessoas refletissem, pensassem e tirassem suas conclusões. Portanto, na educação 1.0, o currículo consistia apenas em aprender ler, escrever, conhecer a bíblia, canto e um pouco de aritmética, com o tempo incluiu o latim, gramática, retórica e dialética. Educação 2.0 – A "nova" escola 2.0 preparou as pessoas para trabalhar nas fábricas. Essa educação 2.0, com forte influência da Revolução Industrial, apresenta as mesmas características observadas na produção industrial – tarefas repetitivas, mecânicas e trabalho individual. A sala de aula era vista como homogenia e uma metodologia de ensino e aprendizagem que se caracterizava pela: padronização, concentração, centralização e sincronização. A educação passou a ter como objetivo o treinamento, alicerçado na aprendizagem informativa, à qual a memorização ficava evidenciada. O conhecimento transmitido tinha, mais uma vez, a função de adequar o educando à sociedade e ao mercado de trabalho. Educação 3.0 – Consiste uma nova concepção do que ensinar, como ensinar, com o que ensinar e o que desenvolver para entregar como resultado, ao final do processo educativo, uma pessoa apta a trabalhar nesse novo cenário social. Na educação 3.0, o professor precisa saber usar as novas tecnologias como potencial pedagógico. Essa educação alia as novas tecnologias com a aprendizagem, sendo assim estimula cada vez mais os estudantes a desenvolverem a autonomia, a criatividade, a flexibilidade, a participação e a pesquisa a partir de projetos. Educação 4.0 – com o advento da Quarta Revolução Industrial e da era digital, a educação apresenta um novo paradigma em que a informação se encontra na rededas redes, nas aldeias globais e encontra-se acessível a todos de forma horizontal e circular, sem limite de tempo e espaço geográfico. O educador, nesta chuva de sinapses de informações acessíveis pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), torna-se o orquestrador, o curador das múltiplas informações junto ao educando e procura organizar e sintetizar a informação, transformando-a em conhecimento e o conhecimento em sabedoria. O educando nesse ambiente ciberarquitetônico torna-se o ator, o autor do conhecimento através da pesquisa proposta nos projetos interdisciplinares que possibilitam o desenvolvimento de competências e habilidades para corresponder à sociedade 4.0 (FÜHR, 2018, p. 2-3). 36 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE FIGURA 19 – OS AVANÇOS EDUCACIONAIS FONTE: <https://s3.amazonaws.com/s3.timetoast.com/public/uploads/photos/12658652/edu3.png>. Acesso em: 1 jan. 2020. É interessante observar, durante essas transformações educacionais, a mudança no papel do professor. Vemos que o processo de ensino e aprendizagem se centrava em sua figura. O professor era visto como único detentor do conhecimento e sua função era transmitir aquilo que possuía. Ao longo do percurso essa centralidade se perde e o professor passa a atuar como um mediador do conhecimento. Uma das tarefas do professor é fazer com que os alunos aprendam a lidar com a gama de informações existentes. Para isso Gómez (2015, p. 77) nos mostra três capacidades que devem ser desenvolvidas com os alunos, sendo elas: • Capacidade de utilizar e comunicar de maneira disciplinada, crítica e criativa o conhecimento e as ferramentas simbólicas que a humanidade foi construindo através dos tempos. • Capacidade para viver e conviver democraticamente em grupos humanos cada vez mais heterogêneos, na sociedade global. • Capacidade de viver a atuar autonomamente e construir o próprio projeto de vida. Vemos que o foco não deve estar mais no conteúdo a ser ensinado, mas em como administrar o conteúdo existente e disponível. A sociedade contemporânea exige dinamismo e flexibilidade. É necessário que a formação do novo estudante esteja pautada em princípios de autonomia, para que ele, independentemente dos cenários e ambientes em que esteja imerso, consiga participar ativamente. Formar e estimular cada uma das capacidades citada anteriormente é um desafio que se coloca. Isso demanda que as metodologias de ensino sejam repensadas e reformuladas. A seguir, iremos mostrar uma nova perspectiva de letramento surgida com esse novo contexto: o Letramento Digital. TÓPICO 3 | A EDUCAÇÃO 4.0 37 4 O LETRAMENTO DIGITAL Dentre tantos conceitos existentes e necessários para a introdução do aluno a esse novo contexto, a primeira e mais importante é o letramento digital. Sem o letramento digital é impossível chegar ao uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e conquistar a autonomia frente aos novos desafios propostos. Estamos acostumados a ouvir a palavra letramento nos processos iniciais da alfabetização. Dizemos que a criança deve, primeiramente, se inserir no mundo letrado para que posteriormente consiga dominar a escrita e a leitura. No letramento digital esse processo ocorre de forma parecida. Convivemos em um contexto tecnológico de muitas redes de comunicação e informação. Para que o estudante possa se adentrar nesse universo, ele também precisa estar familiarizado com os novos meios de comunicação e interação tecnológicos, ou seja, adquirir o letramento digital. Vieira (2013) nos diz que o tema letramento digital faz parte da investigação de diversos pesquisadores na atualidade e se insere nas discussões sobre multiletramentos e sobre o uso das tecnologias digitais em sala de aula. Segundo Dudeney, Hockly e Pegrum (2016), há alguns tipos de letramentos digitais, cada um com um foco específico, sendo eles os de linguagem, informação e conexões: • Na Linguagem temos todos os tipos de letramento impresso, mas em locais fora do papel. Eles podem aparecer em mensagens via SMS, em jogos ou hipertextos. É o que mais se aproxima do letramento comum, porém em meios de interação diferentes. • Na Informação há o letramento envolvendo a pesquisa. É a capacidade que o indivíduo possui de organizar as informações contidas em diversos meios, retê-las de acordo com aquilo que ele busca, sabendo classificá-las e utilizá-las de acordo com suas necessidades. • Na Conexões, a exigência é do letramento pessoal, em rede, participativo e intercultural. É o indivíduo que consegue se comunicar por diferentes meios e linguagens. Ele é capaz de compreender as linguagens visuais e sonoras 38 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE FIGURA 20 – O LETRAMENTO DIGITAL FONTE: <https://educacional.cpb.com.br/conteudos/universo-educacao/letramento-digital/>. Acesso em: 2 jan. 2020. Para que cada um desses letramentos possa ser estimulado, o professor deve inserir em sua ação pedagógica o uso das novas tecnologias no ambiente escolar. Uma pesquisa realizada sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas escolas brasileiras em 2015 apontam que: Com relação ao uso do computador e da Internet para ações pedagógicas, a pesquisa mostra que 73% dos professores o fizeram em ao menos uma das atividades com os alunos que são investigadas pela pesquisa (resultado que foi de 70% entre professores das escolas públicas e 84% das escolas privadas). As práticas mais citadas foram: pedir aos alunos a realização de trabalhos sobre temas específicos (59%), solicitar trabalhos em grupo (54%), dar aulas expositivas (52%) e solicitar a realização de exercícios (50%). (NIC.BR, 2016, p. 30). Esse aumento do uso de tecnologias em sala de aula se deve, em certa medida, aos novos processos formativos que os professores possuem, e refletem diretamente em sua atuação na sala de aula. “Em 2015, 39% dos professores afirmaram ter cursado uma disciplina específica na graduação sobre o uso de TIC em atividades pedagógicas, sendo que, entre os entrevistados com idade inferior a 30 anos, esse número foi de 54%” (NIC.BR, 2016, p. 31). Isso nos mostra que os novos professores estão se integrando cada vez mais com a temática e reconhecem a importância desse novo trabalho com os alunos. Essa nova mentalidade dos professores e redes de ensino faz com que se ganhe espaço no cenário educacional novas metodologias de ensino. Entre elas, está a Metodologia Ativa, uma nova forma de conceber o ensino e que coloca o aluno como protagonista de seu próprio trabalho. Quer saber mais sobre Letramento Digital? Acesse o vídeo no link a seguir de uma aula na UNIVESP — Universidade Virtual do Estado de São Paulo: https://www. youtube.com/watch?v=dCHvoByEaPI. DICAS TÓPICO 3 | A EDUCAÇÃO 4.0 39 5 METODOLOGIAS ATIVAS As metodologias ativas, como próprio nome diz, são metodologias que compreendem o ser humano como autônomo e participativo na busca de novos conhecimentos. Entende-o como um ser capaz de buscar e produzir o conhecimento fazendo uso dos saberes já acumulados historicamente. Tal perspectiva de metodologia faz com que meios tradicionais de ensino sejam repensados e reformulados, criando novas possibilidades de aprendizagem. A maior parte da literatura brasileira trata as metodologias ativas como estratégias pedagógicas que colocam o foco do processo de ensino e aprendizagem no aprendiz, contrastando com a abordagem pedagógica do ensino tradicional, centrada no professor, que transmite informação aos alunos (VALENTE et al., 2017, p. 463). FIGURA 21 - O USO DE METODOLOGIAS ATIVAS FONTE: <https://medicinasa.com.br/wp-content/uploads/2019/07/Educa%C3%A7%C3%A3o6- 1024x640.jpg>. Acesso em: 3 jan. 2020. É nesse contexto que Valente et al. (2017) também nos ajuda a refletir sobre o novo processo ao qual a educação está inserida, nos desafiando a repensar o uso de um dos materiais mais utilizados pelos professores: o livro didático. Talferramenta escolar foi e continua sendo utilizada por muitos educadores, porém, sozinho, o livro didático não consegue corresponder às expectativas e resultados esperados pela nova cultura digital. “Destaca-se como um dos desafios à educação o repensar sobre novas propostas educativas que superem a instrução ditada pelo livro didático, centrada no dizer do professor e na passividade do aluno (VALENTE et al., 2017, p. 458). Se fôssemos fazer uma analogia, poderíamos pensar que a nova perspectiva de ensino não está mais “fechada” e “pronta” como um livro didático. Ou seja, ela precisa estar aberta a mudanças constantes, reconhecendo a educação como espaço de transformação e como tal deve estar sempre se reinventando. Não é que o livro didático seja ruim em si mesmo, mas é que ele representa uma forma de conhecimento fixa e estática. Diferentemente, as novas demandas de ensino se fundamentam em práticas sociais inerentes à cultura digital. 40 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE É importante considerar as práticas sociais inerentes à cultura digital, marcadas pela participação, criação, invenção, abertura dos limites espaciais e temporais da sala de aula e dos espaços formais de educação, integrando distintos espaços de produção do saber, contextos e culturas, acontecimentos do cotidiano e conhecimentos de distintas naturezas (VALENTE et al., 2017, p. 459). Capacidades como participação, criação e invenção são características importantes que as metodologias ativas buscam fomentar nos estudantes. Esses são alguns requisitos que a nova sociedade tecnológica tem exigido dos indivíduos, tanto em contextos educacionais como fora deles. É importante que o professor que irá atuar com essas metodologias compreenda os caminhos que devem ser percorridos para que se alcancem junto aos alunos meios criativos e autônomos de produção de conhecimento. 6 EXEMPLOS DE METODOLOGIAS ATIVAS Um mecanismo capaz de integrar várias formas de metodologias ativas em sala de aula é o trabalho com Projetos de pesquisa. Essa é uma forma de trabalho que tem cada vez mais se disseminado no âmbito escolar da educação básica. Vamos ver como ele pode ser trabalhado? • PROJETOS DE PESQUISA A pesquisa como forma de trabalho na sala de aula é um trabalho que coloca a criança no centro do processo de ensino e aprendizagem, possibilitando que ela produza novos conhecimentos. Para ilustrar esse tipo de trabalho apresentaremos a seguir um projeto desenvolvido por uma professora com alunos do 1° ano do ensino fundamental sobre o ciclo da água. PESQUISA Água: início de tudo RESUMO Esse trabalho se originou da leitura do livro infantil intitulado “Era uma vez uma gota de chuva”, no qual são tratadas as grandes transformações que ocorrem com a água na natureza. Através da leitura as crianças se sentiram estimuladas a compreender o processo que a água sofre em seus diferentes estados. Além de ser um tema de simples compreensão para as crianças, ele também está relacionado ao seu cotidiano. Todas as crianças já tiveram a oportunidade de olhar a chuva, tocar o gelo, tomar um banho de água quente ou observar algum adulto cozinhando ao fogão e utilizando água. TÓPICO 3 | A EDUCAÇÃO 4.0 41 OBJETIVOS Assim, mediante o exposto, foram propostos os seguintes objetivos para as crianças e a professora: 1) estudar os ciclos da água (sólido, líquido e gasoso); 2) compreender que a água é finita e seu uso deve ser consciente; 3) como a água afeta a vida dos seres vivos; 4) preservação da água e reconhecer que a qualidade de vida está relacionada às condições do nosso meio ambiente. CONTEXTO DA PESQUISA Essa pesquisa parte da tentativa de incentivar crianças do 1° ano do ensino fundamental a realizar uma pesquisa de autoria própria, no qual pudessem ser protagonistas de seus próprios conhecimentos, buscando descobrir, através de diferentes meios, respostas as suas perguntas e curiosidades. Através da leitura inicial do livro Era uma vez uma gota de chuva (2012), de Judith Anderson e Mike Gordon, quando duas crianças não podem sair de casa para brincar porque está chovendo, os alunos da turma revelaram a curiosidade sobre o tema. Mediante a curiosidade das crianças e pensando na possibilidade de pesquisa para o projeto, decidimos que o tema gerador seria “Água: início de tudo”. Dessa maneira, traçamos o objetivo de pesquisar sobre a água e como ela afeta a vida dos seres vivos nos diferentes contextos. Um dos objetivos iniciais foi pesquisar sobre seu ciclo. Uma das perguntas geradoras de tal objetivo foi tentar descobrir como a água “desaparecia” das poças e lamas após a chuva e conseguia “reaparecer” novamente em forma de chuva. Isso instigou os alunos, e ampliou a pesquisa para outros campos. Um exemplo foi a utilização da água em uma das metodologias ativas, usando-a para aprender a matemática, em uma atividade de formas e medidas em que utilizamos copinhos cheios d'água para compreender e mensurar diversos quantidades e volumes. DETALHES DO LIVRO ERA UMA VEZ UMA GOTA DE CHUVA FONTE: <http://twixar.me/gzqT>. Acesso em: 7 abr. 2020. 42 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE DESENVOLVIMENTO Durante todo o trabalho foi utilizado o desenho, o recorte, a escrita e conversas orais como ferramentas de trabalho. As atividades realizadas foram feitas simultaneamente com toda a turma. DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DA PESQUISA Na primeira etapa buscamos compreender o ciclo da água. Para isso foram realizadas várias conversas orais na sala de aula, onde cada criança pode contar as experiências que já teve com os diferentes estados da água. Depois trabalhamos o nome que cada estado da água recebia conforme ela se apresentava: estado sólido, líquido e gasoso. Registramos com desenhos esses estados com desenhos e depois os classificamos com a escrita. Esse foi o passo inicial para introduzirmos o ciclo da água efetivamente, pois sem esses conceitos de sólido, líquido e gasoso não conseguiríamos adentrar no ciclo. Com esses conhecimentos constituídos passamos para a etapa do ciclo. Reconstruímos de maneira lógica a ideia de ciclo, trazendo o conceito de infinitude, que é quando uma etapa termina se inicia outra. A pós todo esse processo, conseguimos compreender todo o processo e realizamos uma atividade de registro daquilo que havíamos aprendido. Durante o desenvolvimento da pesquisa também tivemos a oportunidade de assistir à peça de teatro “O rio que passa lá” onde a história do rio Tietê e sua poluição são narradas de forma bastante lúdica. REGISTRO DO CICLO DA ÁGUA REALIZADO POR UM DOS ALUNOS FONTE: Acervo pessoal da autora. Aluno do 1° ano de uma escola municipal em Campinas do Programa Pesquisa e Conhecimento na Escola (PESCO) em 2018. TÓPICO 3 | A EDUCAÇÃO 4.0 43 RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES O projeto beneficiou as crianças em diferentes aspectos como aprendizagens em diferentes campos do conhecimento, como meio ambiente, natureza e sociedade, preservação. Elas conseguiram compreender os conceitos teóricos da pesquisa, e também as partes práticas, realizadas em nossa própria escola, por exemplo. Na etapa sobre preservação da água, as crianças realizaram um trabalho com as demais crianças da escola, onde elas mesmas tiveram que pensar em soluções criativas para o uso consciente da água. A maior potencialidade do projeto foi o conhecimento que eles mesmos produziram sobre o meio em que vivem. FONTE: Projeto do 1° ano de uma escola municipal em Campinas do Programa Pesquisa e Conhecimento na Escola (PESCO) em 2018. • BLOG Dentre as formas possíveis de trabalho com as novas metodologias, a construção de um blog pode ser uma proposta interessante, principalmente para alunos a partir do 6° ano do ensino fundamental. Nessa etapa, as crianças já estão alfabetizadas e podem, através do blog, criar vários mecanismos para organizar informações. Além do mais, o blog possibilita o uso de diferentes linguagens, permitindoum trabalho interativo: O blog é uma ferramenta virtual que possibilita as pessoas publicar textos, fotos, músicas e vídeos informativos a respeito de determinados assuntos [...]. Esse recurso didático cria novas estratégias para o ensino, voltadas a divulgação de conteúdos pertinentes a aprendizagem, despertando nos alunos entusiasmo e interesse ao publicar suas ideias a respeito do conteúdo estudado (DIAS; DIAS; FERREIRA, 2017, p. 13). FIGURA 22 - CRIANDO UM BLOG FONTE: <https://blog.mailrelay.com/pt/2018/03/27/o-que-e-um-blog-e-para-que-serve>. Acesso em: 2 jan. 2020. 44 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE • GAMIFICAÇÃO O termo “gamificação” (do original inglês: gamification) significa a aplicação de elementos utilizados no desenvolvimento de jogos eletrônicos, tais como estética, mecânica e dinâmica, em outros contextos não relacionados a jogos (KAPP, 2012). Através desse mecanismo, é possível atribuir tarefas e/ou atividades específicas para o aluno de modo que ele mesmo possa se autorregular. Por exemplo, um trabalho escolar pode ser dividido em “desafios” que o aluno deve superar a cada nova etapa. Essa metodologia se torna divertida e envolve mecanismos como superação, desafios e etapas para alcançar um novo conhecimento. Pode ser utilizada em todas as faixas etárias desde que previamente formulada e adaptada de acordo com as características da turma. FIGURA 23 - GAMIFICAÇÃO FONTE: <https://br.freepik.com/vetores-premium/conceito-de-gamification-de-vetor-em-estilo- simples_4479167.htm>. Acesso em: 4 jan. 2020. TÓPICO 3 | A EDUCAÇÃO 4.0 45 LEITURA COMPLEMENTAR REDES E GOVERNANÇA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS Paulo Calmon Arthur Trindade Maranhão Costa [...] A abordagem de redes Ao longo das últimas décadas, cientistas sociais de diferentes orientações teóricas vêm adotando a chamada abordagem de redes no estudo de problemas que tratam do caráter relacional da organização da vida social. Essa abordagem, que ainda se encontra em fase de desenvolvimento, parece oferecer uma alternativa para duas outras abordagens que até então predominavam no âmbito das ciências sociais. A primeira privilegiava uma ótica determinística das relações sociais, que seriam percebidas como mero reflexo da estrutura produtiva ou da estrutura política; e a outra era fundada em um compromisso inarredável com o individualismo metodológico percebendo, portanto, a ação individual como referência básica para a compreensão da dinâmica social. A abordagem baseada em redes gerou, em grande parte, um meio termo entre essas duas vertentes, na medida em que reconhece a relevância da ação individual, mas entende que ela é restringida e inserida (embeddedness) em uma estrutura de relações sociais específica. Paralelamente às várias tentativas de elaborar teorias, modelos e hipóteses com base na abordagem de redes, o termo passou a ser amplamente divulgado e utilizado, obtendo grande popularidade junto ao público em geral. Prova disso é a grande quantidade de livros, revistas e até produções cinematográficas que fazem uso do termo. O amplo uso do termo acarreta vantagens e desvantagens. Dentre as vantagens, destaca-se a aceitação, quase um consenso, de que estamos constantemente “conectados” a uma estrutura maior e mais complexa. Por outro lado, como desvantagem, a palavra “redes” passou a ser utilizada com pouco rigor, com diferentes sentidos, estabelecendo uma verdadeira panaceia. Examinando os diferentes usos dados à palavra “redes” pelos estudos desenvolvidos com base na abordagem de redes, Powell e Smith-Doerr (1994) propõem que é possível identificar duas vertentes principais que são distintas, mas relacionadas. A primeira vertente, fundamentada na sociologia e na teoria das organizações, emprega o conceito de redes como um instrumento analítico para compreender as relações sociais nas organizações, as relações Inter organizacionais e a relação das organizações com o ambiente externo a ela. A segunda vertente tem caráter multidisciplinar, com marcante influência da economia, das políticas públicas e da administração pública, e percebe redes como uma forma de governança, especialmente aplicável na gestão de sistemas complexos. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 46 Redes como instrumento analítico A vertente da abordagem de redes que considera o conceito de redes como um instrumento analítico remonta pelo menos à década de 20 e pode ser associada aos trabalhos de uma corrente especial da psicologia conhecida como “Gestalt”. Segundo essa abordagem, indivíduos não percebem os objetos que os cercam de forma independente, mas sim a partir de esquemas conceituais construídos socialmente. Portanto, as percepções e as ações dos indivíduos são fortemente influenciadas pelo grupo ao qual pertencem, pela forma como eles se inserem nesse grupo e pela maneira como esse grupo se organiza (SCOTT, 2000). Um dos pioneiros dessa abordagem foi Jacob Moreno. Nascido em Bucareste em 1889, mas com formação em medicina e psicoterapia em Viena, Moreno migra para os Estados Unidos em meados da década de 1920 e lá aperfeiçoa uma abordagem terapêutica que ficou conhecida como “psicodrama”. Sua abordagem buscava compreender como o bem-estar do indivíduo é influenciado por macroestruturas sociais. Uma das suas principais contribuições foi a tentativa de representar essas macroestruturas de relacionamentos mediante o uso de sociocratas, isto é, “diagramas análogos aos da geometria espacial, em que indivíduos são representados por pontos e suas relações sociais com outros indivíduos são representadas por linhas” (SCOTT, 2000, p. 10). Moreno propugnava que a estrutura social subjacente à vida social de um indivíduo poderia ser adequadamente representada mediante sociogramas. Com base nesses gráficos, seria possível compreender como a informação flui para o indivíduo e que canais de influência têm potencial de afetar seu comportamento. Líderes e seguidores, relações de assimetria e reciprocidade e canais de influência e informação poderiam ser claramente distinguidos através da análise de sociogramas. Em 1937, Moreno funda a Sociometry, uma revista acadêmica dedicada ao estudo analítico de redes, principalmente mediante o uso de sociogramas. A análise de redes proposta por Moreno pode ser considerada a principal precursora da atual perspectiva analítica de redes. No entanto, foi outro importante estudo o responsável por inserir o conceito de redes como estratégia analítica para o exame da dinâmica organizacional. Conhecido como “Experimentos de Hawthorne”, esse estudo foi desenvolvido por um grupo de pesquisadores da Harvard Business School, liderados por Elton Mayo, um sociólogo australiano que possuía, entre seus objetivos, o desejo de conhecer melhor a influência e a dinâmica das estruturas informais dentro de uma organização, mais particularmente a formação e atuação de pequenos grupos informais. Chamados de “cliques” ou “blocos”, esses pequenos grupos foram devidamente identificados por Mayo e seus colegas. É interessante notar que Mayo e seus colegas conceberam inicialmente seus estudos tentando se moldar às teses mais tradicionais da teoria clássica das organizações. Com base nessa perspectiva, a variação na produtividade dos trabalhadores era percebida como sendo influenciada, predominantemente, por TÓPICO 3 | A EDUCAÇÃO 4.0 47 mudanças nas seguintes variáveis: (i) o ambiente físico do local de trabalho, (ii) a forma de organização dos processos produtivos, (iii) estrutura de incentivos materiais. No entanto, a evidência advinda dos Experimentos de Hawthorne apontou em outra direção e Mayo e seus colegas não conseguiam explicar as variações em produtividade a partir das hipóteses da abordagem clássica. Diante dessas evidências, o estudo muda de rumo e outras variáveis, propostas a partir de trabalhos desenvolvidos no campo da psicologia social, passaram a ser consideradase demonstraram ter maior poder explicativo. Os Experimentos de Hawthorne foram realizados na década de 30, sendo contemporâneos do trabalho de Moreno. Eles foram importantes no âmbito dos estudos sobre redes não apenas por terem feito uso ostensivo de sociogramas para identificação e caracterização da influência dos cliques, mas também por demonstrar que esses pequenos grupos constituem uma estrutura informal que se sobrepõe à hierarquia formalmente estabelecida. Essa estrutura informal paralela afeta, de maneira importante, as relações de poder e autonomia dos grupos dentro da empresa e, em última análise, a sua produtividade. Ao longo das últimas décadas, vários outros estudos importantes utilizando redes como instrumento analítico se somaram às contribuições pioneiras de Moreno e Mayo. Como apontam Powell e Smith-Doer (1994), desde então foram realizados diversos estudos que fizeram uso da abordagem analítica de redes, objetivando caracterizar padrões de relacionamento formal e informal em organizações; descrever o ambiente externo de uma determinada organização; estabelecer estratégia para analisar poder e autonomia em organizações. Os estudos sobre o relacionamento entre estruturas formais e informais nas organizações, especialmente a influência de cliques e normas tácitas, têm sido foco de atenção constante de especialistas em diversas áreas das ciências sociais. Assim como ocorreu com os resultados obtidos em Hawthorne, há hoje amplo reconhecimento de que esses mecanismos informais criam uma estrutura paralela de autoridade, amizade e lealdade que afeta a produtividade dos trabalhadores e o desempenho de organizações públicas e privadas. A vertente que analisa o ambiente onde se inserem as organizações tem também trazido contribuições muito importantes, argumentando que aspectos demográficos, culturais e institucionais (regras formais e informais de legitimidade, comportamento profissional, confiança e sistemas de crenças) afetam o desempenho das organizações. Uma linha de pesquisa interessante nessa área é a perspectiva de que a presença de densas relações entre organizações estabelece um “campo organizacional” e tendência para mimetismo no que se refere às estruturas e soluções para problemas comuns. Estudos com base nessa vertente demonstraram ser muito promissores, principalmente para explicar a dinâmica de diferentes configurações de cadeias produtivas e aglomerados (clusters) de empresas. Outra linha de estudos nessa área explora a influência do ambiente externo de uma organização sobre sua dinâmica interna, e aponta para a influência que esse ambiente exerce nos processos subjacentes à organização. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 48 Mais recentemente, no âmbito da economia política, foram desenvolvidos estudos que analisam a existência de “variedades de capitalismo”, onde a trajetória histórica e o nexo de regras formais e informais e a maneira de aplicar essas regras criam espaço para distintos relacionamentos entre mercado e Estado, assim como para cooperação entre empresas. Em outras palavras, essa abordagem reconhece a influência do ambiente, assim como o caráter relacional das empresas. Nesse sentido, empresas e indústrias se desenvolvem em contextos específicos como parte de uma rede importante. Essa abordagem, que tem se mostrado muito promissora, tem desafiado, de maneira importante, a tese até então hegemônica da convergência nas configurações institucionais das economias nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. A análise das estruturas de poder, influência e do fluxo de informação em função da posição do indivíduo como parte de uma rede relacional tem sido desenvolvida coletivamente mediante diversos estudos realizados em ciências sociais. Há vários estudos interessantes nessa linha que trouxeram contribuições muito importantes para a compreensão da dinâmica das redes. Dentre eles destacam-se os trabalhos sobre a força dos “laços fracos” (weak ties), sobre os “vazios estruturais” (structural holes) e sobre o efeito da densidade da rede. FONTE: CALMON, Paulo; COSTA, Arthur Trindade Maranhão. Redes e governança das políticas públicas. Revista de Pesquisa em Políticas Públicas, Brasília, v. 1, n. 1, p. 1-29, jul. 2013. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/291220780_REDES_E_ GOVERNANCA_DAS_POLITICAS_PUBLICAS. Acesso em: 7 abr. 2020. 49 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A Educação 4.0 é um importante fenômeno que atinge a educação como um todo e a escola em particular através do advento da tecnologia. Em uma sociedade regida pela grande quantidade de informações, o centro do ensino, antes no professor como disseminador do conhecimento se perdeu. Desde muito cedo crianças de diferentes faixas etárias e de diversas classes sociais têm acesso à internet e redes de comunicação, permitindo o compartilhamento de saberes. Assim, a escola não poderia continuar com o foco em seu antigo ensino tradicional e teve que se abrir a mudanças em suas metodologias e concepções de ensino. • O conceito de Educação 4.0 se instalou. A educação das novas gerações que já nasceram no mundo tecnológico e necessitam de novos métodos de ensino. Assim, esse conceito entende que o aluno deve ser o centro da aprendizagem e o professor o mediador do conhecimento. • As informações disponíveis o aluno da Educação 4.0 deve desenvolver capacidades como as propostas por Gómez (2015, p. 77): ◦ Capacidade de utilizar e comunicar de maneira disciplinada, crítica e criativa o conhecimento e as ferramentas simbólicas que a humanidade foi construindo através dos tempos; ◦ Capacidade para viver e conviver democraticamente em grupos humanos cada vez mais heterogêneos, na sociedade global. ◦ Capacidade de viver a atuar autonomamente e construir o próprio projeto de vida. ◦ Vimos que cada uma delas, tanto em conjunto como individualmente são essenciais para o novo formato de educação que sendo desenvolvida, cabendo aos professores aperfeiçoarem e disseminarem esse novo tipo de trabalho junto aos educandos. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 50 1 Na escola de Giovana, o laboratório de informática está equipado, mas fechado. Os professores alegam que obtiveram formação continuada sobre Tecnologias e Educação, porém não possibilitam aos alunos a experiência por conta dos conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática estarem atrasados. Qual deveria ser o procedimento da direção diante do assunto, conforme estudamos nesse tópico? a) ( ) A direção precisa apoiar os professores, pois a tecnologia não é um item importante na formação dos alunos enquanto cidadãos e pessoas. b) ( ) A direção precisa apoiar exclusivamente os alunos, dado que Língua Portuguesa e Matemática são irrelevantes na formação do aluno. c) ( ) A direção precisa desmontar a sala de informática e transformar em depósito de livros, pois falta espaço na unidade escolar para tal. d) ( ) A direção precisa dar suporte aos professores quanto aos conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática para que as crianças aprendam, porém incentivar os professores para fornecerem aos alunos formação sobre tecnologia dada a relevância da ferramenta no cotidiano dos mesmos. e) ( ) A direção deve se abster do assunto, dada a impertinência da sua manifestação. 2 Considerando as novas linguagens advindas com as redes de comunicação e conhecimento, foi necessário pensar em estratégias para que o aluno esteja apto a compreendê-las e usá-las no seu cotidiano de forma interativa e autônoma. Uma das formas de introduzir o aluno nesse novo ambiente é através: a) ( ) De atividades sequenciais. b) ( ) De metodologias ativas. c) ( ) De gamificação. d) ( ) Letramento digital. e) ( ) Livro didático. AUTOATIVIDADE51 UNIDADE 2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer os principais conceitos e fundamentos que compõem pesquisa educacional, assim como da pesquisa e do pesquisador enquanto vertentes; • inteirar-se do processo de pesquisa e os agentes atuantes e influenciadores; • expressar a trajetória da educação especial no Brasil; compreendendo as principais vertentes e conceitos da educação especial na educação apresentando deficiências e suas características e quais leis amparam a educação especial no Brasil na área educacional; • apresentar os jovens que possuem educação via medidas socioeducativas e compreender quais leis amparam essa modalidade, assim como as concepções de reabilitação de jovens em medida socioeducativa. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – AS NOVAS CONCEPÇÕES CONCEITUAIS E LEGAIS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA TÓPICO 2 – A EDUCAÇÃO ESPECIAL TÓPICO 3 – OS DIREITOS EDUCACIONAIS DE ADOLESCENTES E JOVENS EM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 52 53 TÓPICO 1 AS NOVAS CONCEPÇÕES CONCEITUAIS E LEGAIS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Nesse tópico, vamos estudar as principais metodologias utilizadas nas pesquisas em educação e, em específico, em políticas educacionais. Vamos aprender como elas são importantes no processo de produção do conhecimento, atuando diretamente na formação dos novos saberes nos diversos campos educacionais. Veremos como as mudanças ocorridas ao longo do tempo na sociedade têm afetado diretamente a forma como são realizadas pesquisas, principalmente, com o advento da sociedade global, que alterou a antiga configuração social existente, trazendo novos desafios. Assim, alguns conceitos antes tratados como fixos, se mostram mais flexíveis e dinâmicos nesta nova realidade. Além do mais, a nova configuração social também afeta outras áreas da educação, como o currículo escolar, que é fruto de diferentes pesquisas e trabalhos para que possa ser produzido de acordo com cada realidade educacional existente. A seguir serão apresentados os principais eventos e transformações que ocorreram nesse campo e a forma como eles têm operado na educação. 2 METODOLOGIAS DE ANÁLISE DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO E EM POLÍTICAS EDUCACIONAIS O campo de pesquisas em educação tem se constituído ao longo dos anos e ganhado cada vez mais expressão, expandindo suas temáticas e linhas de pesquisa. Todos os dias é possível encontrar diversas pesquisas comentando descobertas sobre as novas tendências educacionais e novos métodos de ensino. Mas será que todas essas pesquisas realmente conseguem diagnosticar a realidade existente e embasar as reais necessidades sociais? É esse o sentido que o tópico busca trabalhar e analisar junto com você. Assim será realizada uma análise crítica dos métodos utilizados pelos pesquisadores no campo educacional, em especial na pesquisa em políticas públicas, que são as responsáveis por influenciar diretamente na formulação de leis e estatutos para a educação. UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 54 Para tanto será estudada a área epistemológica, aquela responsável por estudar as origens do conhecimento, e na área histórico-social, aquela que considera as transformações que ocorrem na sociedade ao longo dos anos. 3 A SOCIEDADE GLOBAL Um dos temas que introduziu a discussão nas novas formas de realizar pesquisas em políticas públicas foi o conceito de “Sociedade Global”, trabalhada por Ianni (1998). Nela são introduzidas as características sociais que devem ser levadas em consideração ao realizar pesquisas em políticas educacionais. O contexto que vivenciamos é crucial para determinar como a pesquisas serão conduzidas. Podemos observar com Ianni (1998) as características da sociedade que ele denomina como global. A globalização é uma característica das sociedades contemporâneas e trouxe várias modificações nas estruturas macro e microssociais como um todo. Essas mudanças puderam ser observadas nos contextos sociais, econômicos, espaciais, temporais e educacionais, trazendo o desafio de se pensar novas propostas para fundamentar, delinear e compreender a sociedade atual. Se antes era possível pautar as pesquisas sobre o conceito de Estado- Nação e todas as suas características, na sociedade atual, já não é possível, uma vez que o nacional e o internacional se mesclam, as delimitações entre público e privado são tênues e o espaço não é mais fixo em si. O conceito de Estado Nação se originou em meados do século XVIII influenciado pelos ideais propostos pelo Iluminismo. Seus fundamentos se pautavam na soberania, cidadania e nacionalismo. NOTA TÓPICO 1 | AS NOVAS CONCEPÇÕES CONCEITUAIS E LEGAIS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA 55 FIGURA 1 – A SOCIEDADE GLOBAL FONTE: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/fluxos-sociedade-global.htm>. Acesso em: 9 jan. 2020. Nessa perspectiva, o autor ajuda a compreender as transformações ocorridas na sociedade. Ele traça um apanhado histórico das principais características que a compõem e as influências que ela tem gerado. Assim, as pesquisas realizadas nesse novo contexto também tendem a se transformar, uma vez que o pesquisador está submerso em um contexto social, econômico e político onde as mudanças que ocorrem interferem diretamente na maneira como ele tratará seu objeto de pesquisa e analisará o contexto em que ele está imerso. Assim, Ianni (1998, p. 33) nos define globalização como: Processo histórico-social de vastas proporções, abalando mais ou menos drasticamente os quadros sociais e mentais de referência de indivíduos e coletividades. Que rompe e recria o mapa do mundo, inaugurando outros processos, outras estruturas e outras formas de sociabilidade que se articulam e se impõem aos povos, tribos, nações e nacionalidades. Entre as transformações e mudanças que a globalização desencadeou, estão as pesquisas em ciências humanas. Muitos conceitos antes aceitos e usados como apoio para ampará-las já não conseguem mais expressar a realidade vivenciada. Os paradigmas antes utilizados, em especial nas pesquisas que compõem a temática de Estado e Política Educacionais, que trabalham as relações entre sociedade e políticas, ações estatais e mecanismos de financiamento e gestão por parte do Estado, já não são capazes de atender às novas demandas e especificidades da sociedade global. O paradigma clássico das ciências sociais foi constituído e continua a desenvolver-se com base na reflexão sobre as formas e os movimentos da sociedade nacional. Mas a sociedade nacional está sendo recoberta, assimilada ou subsumida pela sociedade global, uma realidade que não está ainda suficientemente reconhecida e codificada. À sociedade global apresenta desafios empíricos e metodológicos, ou históricos e teóricos, que exigem novos conceitos, outras categorias, diferentes interpretações (IANNI, 1998, p. 1-2). UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 56 Assim, é necessário que as ciências sociais desenvolvam um novo paradigma que subsidiem a nova sociedade, pois o paradigma antes pautado em um Estado Nacional perde-se cada vez mais, tendo que ser substituído por outro que subsidiem essa nova sociedade e nova maneira de realizar pesquisas. Nada melhor do que o próprio autor explicar os seus conceitos. Por isso segue o link de uma entrevista do autor principal deste subtópico, Octávio Ianni, no programa Roda Vida. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=GTZSct_bjP8.Aproveite para se aprofundar! DICAS 4 AS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO E EM POLÍTICAS EDUCACIONAIS Nesse sentido, Robertson e Dale (2011) colocam uma questão bastante complexa, ao levar a discussão apresentada anteriormente por Ianni para o campo metodológico. Segundo os autores, nesse novo processo de transformações, é necessário que pensemos também nas metodologias utilizadas para as pesquisas em educação, a fim de averiguar quanto elas ainda se fazem satisfatórias para as análises desse campo de pesquisa. Assim, é proposta a superação dos “ismos” metodológicos na pesquisa. Com ismos queremos dizer a tendência em ver essas categorias como naturais, fixas e imutáveis – ou, em outras palavras, ontológica e epistemologicamente ossificadas. A suposição/aceitação destas categorias significa que a compreensão das mudanças trazidas pela globalização pode ser refratada por meio das lentes de concepções não- problemáticas do nacionalismo, do estado, dos sistemas educacionais e da geometria espacial, mesmo quando essas mudanças resultam em mudanças no sentido de, ou do trabalho feito por estados-nação e sistemas educacionais e, com isso solapam sua validade (ROBERTSON; DALE, 2011, p. 350). Entre os “ismos” metodológicos colocados pelos autores estão quatro categorias que representam grandes dificuldades a serem superadas nesse campo, são elas: • Nacionalismo Metodológico. • Estatismo Metodológico. • Educacionismo Metodológico. • Fetichismo Espacial. TÓPICO 1 | AS NOVAS CONCEPÇÕES CONCEITUAIS E LEGAIS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA 57 No primeiro deles, o Nacionalismo Metodológico, estão as pesquisas que ainda se baseiam no conceito de Estado-Nação, estabelecendo um cenário de pesquisa fixo e permanente. Elas veem o Estado como membro único e máximo no país. Dessa forma, o nacionalismo metodológico normalmente não separa Estado da sociedade, e veem ambos como um conjunto sem diferenciação. Já o Estatismo Metodológico é o conceito de homogeneidade entre todos os Estados, e, portanto, seus problemas são tidos como iguais. Nas palavras dos autores: Se refere a tendência de pressupor que existe uma forma particular intrínseca a todos os Estados. Ou seja, é pressuposto que todas as políticas são reguladas, organizadas e administradas essencialmente da mesma maneira, com o mesmo conjunto de problemas e responsabilidades, e por meio de mesmo conjunto de instituições (ROBERTSON; DALE, 2011, p. 351). Essa perspectiva enquadra-se em uma visão estagnada da realidade, perdendo sua dinamicidade. Algo parecido ocorre com Educacionismo Metodológico. Essa categoria, segundo os autores, é aquela compreendida por pesquisas que compreendem a educação como uma categoria fixa. Ao realizar pesquisas na área, subentende-se que todos compreendem o termo “educação” como algo único. Ou seja, não se especifica de qual educação estão falando, seja ela formal, não formal, escolar, superior, infantil etc. Realizar essa diferenciação é importante, pois ajuda a demarcar os diferentes campos e exigências de cada área, contribuindo para efetivas mudanças. Por fim, o último conceito elencado como prejudicial nas pesquisas em educação é o Fetichismo Espacial. Nesta categoria estão pesquisas que compreendem o espaço de pesquisa em educação como fixo e único. Nessa perspectiva, pesquisas que seguem essa tendência não relacionam os cenários às nuances e transformações sociais, que são geridas pelos sujeitos e agentes envolvidos. Podemos exemplificar essa categoria com o exemplo de uma pesquisa no ensino superior. Ao tratar do aumento do número de ingressantes no ensino superior nos últimos dez anos no estado de São Paulo, o pesquisador não deve levar em conta o estado de São Paulo somente enquanto espaço físico, de forma estática. O estado de São Paulo que temos hoje não é o mesmo de dez anos atrás. As pessoas que o compõem são outras, bem como as relações de trabalho, as perspectivas de crescimento profissional e sua composição familiar. Assim, o estado de São Paulo deve ser visto em suas relações históricas e sociais. Pode parecer óbvia tal compreensão, mas, às vezes, ela se perde no campo metodológico e prejudica os resultados das pesquisas, podendo gerar números descontextualizados do aumento de ingressantes no ensino superior, por exemplo. Portanto, os autores Robertson e Dale (2011, p. 356) elaboraram algumas perguntas simples que podem direcionar as novas pesquisas em educação: UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 58 • O que é ensinado (ou é aprendido por meio de processos explicitamente delineados para promover a aprendizagem), o que, como e por que, quando, onde, por/com quem, sob que circunstâncias imediatas e condições mais amplas, e com que resultados? Como, por quem e para que fins isso é avaliado? • Como, em busca de que fins sociais, econômicos, políticos e educacionais manifestos e latentes; sob que padrão de coordenação (financiamento, prestação, propriedade, regulação) de governança em educação; por quem; e seguindo que rotas de dependência (setorial e cultural), essas coisas são problematizadas, decididas, administradas, gerenciadas? • Que divisões funcionais, escalares e setoriais de trabalho de governança educacional existem? De que maneira os problemas centrais do capitalismo (acumulação, ordem social e legitimação) estão refletidos no mandato, capacidade e governança da educação? Como e em que escala são resolvidas as contradições entre as soluções? Como são definidos os limites do setor da educação e como se sobrepõem e se relacionam com os outros setores? Que atividades educacionais são realizadas em outros setores? Como o setor da educação está relacionado aos regimes de cidadania e de gênero? Como, em que escala e com que configurações setoriais a educação contribui para o embutimento/estabilização extraeconômica da acumulação? Qual é a natureza das relações intra e interescolar e intra e intersetorial — contradição, cooperação, indiferença mútua? • Quais são os desfechos individuais, privados, públicos, coletivos e comunitários da Educação em cada nível de escala? AUTOATIVIDADE Faça um resumo dos quatro conceitos estudados neste subtópico e compartilhe com os colegas! Percebe-se quantos conceitos fechados e tidos como permanentes prejudicam a pesquisa em educação. A concepção de mundo e de lugar do pesquisador é essencial para que ele analise a realidade que está dada. Ao pensarmos em pesquisas educacionais, devemos estar atentos a todos os eventos que hoje interferem, sendo eles sociais, econômicos, políticos e até religiosos. Para cada questão colocada pelo pesquisador, é necessário que ele procure os subsídios para respondê-la de acordo com a realidade da qual faz parte, pois toda análise e reflexão tem que ser realizada com base no cenário e contexto da questão. TÓPICO 1 | AS NOVAS CONCEPÇÕES CONCEITUAIS E LEGAIS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA 59 FIGURA 2 – A PESQUISA EM POLÍTICAS EDUCACIONAIS FONTE: <http://aproesp.com.br/pesquisa-de-opiniao/>. Acesso em: 10 jan. 2020. Diante desse contexto, adentrando na questão proposta e pensando nas diferentes possibilidades de pesquisa envolvendo o campo da política educacional, Aguilar (2013), no livro “Política educacional sob a égide da análise satisfatória”, abre algumas possibilidades para pensar o novo contexto da pesquisa. Para o autor realizar pesquisas em políticas educacionais demanda conhecer alguns aspectos metodológicos que podem auxiliar nas investigações atuais e proporcionar maior rigor científico na pesquisa realizada. Assim, ele nos traz dois aspectos fundamentais que devem ser levados em consideração no momento da formulação de novos projetos de pesquisas em políticas educacionais. O primeiro deles é o princípio de Causalidade. Observamos que a compreensão de uma relação causal (na explicação) não é tipicamente um processo de raciocínio lógico, não é uma vinculação abstrata entre objetos abstratos. O problema causal é,acima de tudo, uma questão ontológica, embora possa ser analisado com ajuda da lógica, segundo Schuster (2005, p. 55) (AGUILAR, 2013, p. 70). Desta forma, deve-se fazer as mais diversas perguntas para descobrir qual é a verdadeira causa do problema pesquisado, como: o que gerou esse fenômeno? A qual contexto da política educacional estava atrelado? Qual foi a causa social, econômica e educacional que gerou essa lei? Quais vozes foram ouvidas e quais estavam ausentes nessas diretrizes? Buscar a causa dos diferentes contextos em análise e dos fatores que as geraram é fundamental para esclarecer e delinear os reais problemas da realidade social, uma vez que precisamos ir além da descrição dos fenômenos sociais, mas também problematizá-los. O segundo princípio leva ao caminho metodológico das Inferências Descritivas “processo pelo qual se compreende um fenômeno não observado a partir de um conjunto de observações” (AGUILAR, 2013, p. 29). Eles seriam os fenômenos que não são possíveis de serem observados em uma perspectiva concreta, porém, é um fenômeno que pode influenciar de maneira significativa a realidade social. UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 60 Por exemplo, ao investigar sobre o baixo rendimento escolar dos estudantes em determinada escola, um pesquisador chegou à conclusão que isso ocorria porque os alunos não apresentavam interesse nas aulas e consequentemente não queriam aprender. Porém, outro pesquisador mais atento, ao investigar mais a fundo o problema, se ateve a uma inferência que influenciava diretamente nesse processo: as metodologias de ensino oferecidas. Ele percebeu que as metodologias não estavam ocorrendo de forma adequada, principalmente no que se refere à idade/ série das crianças, o que gerou um grande desestimulo por parte delas. Assim, o problema em si não era a recusa dos alunos pelo ensino, mas uma metodologia pouco eficaz para seu aprendizado. FIGURA 3 – AS INFERÊNCIAS NA PESQUISA FONTE: Disponível em: <http://www.exatas.ufpr.br/>. Acesso em: 10 jan. 2020. Ao realizar pesquisas no campo educacional é necessário que o pesquisador esteja atento aos acontecimentos que por vezes não podem ser observados, mas através de outros acontecimentos previamente observáveis ele pode retirar algo. Outro exemplo bastante comum são as “avaliações em larga escala”. As avaliações têm por objetivo quantificar e mensurar o grau de conhecimento através das notas que os indivíduos obtêm, normalmente através de provas e exames. Essas avaliações resultam em notas que serão classificadas de acordo com um padrão previamente estabelecido. Um pesquisador atento às inferências poderá retirar desses resultados outras problemáticas que não estão dadas, mas que são por si só um fenômeno existente e que influenciam de maneira significativa esses resultados, como: a qualificação dos profissionais que atendem aos indivíduos avaliados; a relação dos conteúdos trabalhos na escola/universidade com o conteúdo proposto nas avaliações; as condições sociais que os avaliados estão imersos, enfim, questões que de fato têm seu grau de influência, mas nem sempre podem ser observáveis. TÓPICO 1 | AS NOVAS CONCEPÇÕES CONCEITUAIS E LEGAIS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA 61 Assim, a fundamentação teórica da educação atual está imersa não somente em novos conceitos e pressupostos, mas principalmente na forma como eles são pensados e formulados. Entender as políticas educacionais atuais é compreender o modo como os diferentes pesquisadores conceitualizam a sociedade e de qual ponto eles partem para resolver os conflitos e dificuldades encontradas. Fica claro como esse processo é importante e deve ser realizado de acordo com as novas transformações sociais que ocorreram ao longo do tempo. Mas, ao pensar a educação contemporânea, veremos que a forma como são estabelecidas as políticas educacionais não são as únicas mudanças significativas na atualidade. Ao pensarmos sobre a base teórica da educação também devemos lembrar-nos de como as metodologias são organizadas e estabelecidas para os educandos em seu ensino e aprendizagem. Parte dessa base encontra-se no currículo. Nele encontramos as principais concepções políticas instauradas no âmbito metodológico e conseguimos observar como essa base teórica não está isenta de disputas políticas e ideológicas. 5 CONCEPÇÕES DE CURRÍCULO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E REFORMAS EDUCACIONAIS No tocante às reformas educacionais, são poucas as que não trazem mudanças para o currículo. Uma vez que toda reforma carrega uma concepção de sociedade e, portanto, de educação, o currículo necessita ser modificado para estar condizente com as mudanças intencionadas. O espaço das reformas é um espaço de disputa, onde muitos interesses de grupos de diversos segmentos sociais estão em jogo e principalmente, em tensão. É interessante olhar para a história brasileira e perceber como tais movimentos de mudança nem sempre tiveram sua origem em instâncias governamentais. Muitos deles partiram e ainda partem da sociedade civil. A noção de reforma educacional já foi abordada sob várias perspectivas em nosso estudo, mas podemos caracterizá-la também como uma iniciativa gerada no interior do Estado, a qual expressa expectativas deliberadas de melhoria e mudança voltadas para o aprimoramento de um sistema educativo no todo ou em parte (VIEIRA, 2005). Além disso, uma reforma implica uma ação consciente de mudança, ou seja, dotada de intencionalidade e posicionamento político. É justamente devido ao seu caráter intencional e político que pensar qualquer reforma implica refletir sobre educação e sociedade. Também é necessário discutir quais serão os sujeitos de tal mudança e para quem ela será empreendida, vendo quais pontos serão alterados e quais serão mantidos. UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 62 Essa posição é caracterizada pelas perguntas suscitadas em determinada realidade, que traz uma gama de valores e de dificuldades que enfrenta. Ela deve ser consciente, pois, ao iniciar uma reforma educacional, existe uma grande expectativa de que será algo instantâneo, com resultados positivos e mais eficientes que a anterior. Essa impressão decorre dos valores construídos na modernidade, elucidando sempre a ideia de futuro como sinônimo de superação. O que é muito contraditório, afinal, mesmo com tantas inovações, a condição de vida da realidade da população é caracterizada pela miséria, desemprego, abandono e violência. FIGURA 4 – AS REFORMAS CURRICULARES FONTE: Quino (2003, p. 68) Em educação, isso não é diferente. Em todo tempo, corre-se atrás do que é novo e melhor, propondo, portanto, um novo currículo, uma nova proposta. Essa lógica comumente é caracterizada pela negação do que foi acumulado anteriormente em detrimento do que está sendo proposto com a modernidade. Um novo currículo faz parte de uma política pública, pois contém um projeto político de sociedade e um conceito de cidadania, de educação e de cultura. Entretanto, essa proposta não deve ser constituída de respostas prontas, pois requer a participação efetiva de todos os sujeitos para que assim exista a possibilidade da construção de uma sociedade democrática que prioriza a justiça social. Mas para que o currículo leve em conta a heterogeneidade presente na sociedade, é preciso privilegiar fatores sociais e culturais: TÓPICO 1 | AS NOVAS CONCEPÇÕES CONCEITUAIS E LEGAIS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA 63 [...] entendendo-os como sendo os mais relevantes para o processo educativo, porque implicam também a conquista da autonomia e da cooperação, princípios básicos da cidadania, garantindo, ainda o enfrentamento e a solução de problemas, a responsabilidade, a criatividade, a formação de autoconceito, a vivencia da linguagem nos seus vários modos de expressão (KRAMER, 1997, p. 22). Além de levar em conta os fatores sociais e culturais, Kramer (1997) dá suas contribuições acerca de outrospontos a serem levados em conta, colocando quão importante é também resgatar a história de cada um na proposta curricular, pois, raramente algo se constrói sozinho. Isso porque o currículo é uma construção que envolve sujeitos, e, portanto, não pode surgir sem carregar uma história. Resgatar a história de uma política é saber de onde ela surgiu, quem a compôs, em que situação ela foi pensada e articulada, facilitando a compreensão de quais caminhos ela ainda deverá percorrer para chegar ao alvo pretendido. Nesse sentido Kramer nos dirige a uma série de questões que norteiam a composição de uma política educacional: Então, cabe procurar compreender: Qual a direção, o sentido, o objetivo, o para quê da proposta em análise? Os objetivos são relacionados à situação concreta da educação naquele estado ou município? Ou seja, a proposta apresentada é dimensionada à realidade da educação das crianças, dos jovens ou dos adultos daquela localidade? Há um diagnóstico, apontando dados relativos a como se encontra a educação infantil, de 1° e 2° graus e de adultos, na localidade em questão? Qual a demanda por vagas? Quantas vagas existem e quais as metas de expansão a curto, médio e longo prazo? A que instituições está vinculado o atendimento? (KRAMER, 1997, p. 24). Todas essas questões e tantas outras colocadas pela autora são essenciais para compreender qual é a concepção de currículo que o indivíduo ou grupo que a propôs possui, pois, várias interpretações podem ser retiradas de uma proposta de acordo com o ponto de vista de quem a lê, incluindo seu contexto social e bagagem cultural. Há também outro ponto de grande importância no momento de pensar uma formação curricular: a quem ela se destina. Saber para quem ela está sendo feita e por que está sendo, é crucial para que se obtenha sucesso. Todo currículo é uma projeção de algo que se espera que aconteça, portanto, saber quem são os indivíduos que vão ser atingidos e como se dará esse impacto é fundamental. Pois toda proposta precisa ser construída, dialogada, trabalhada e não simplesmente posta por um grupo de pessoas a outros. Caso contrário, pouco sentido fará para o grupo a quem ela se remete. UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 64 FIGURA 5 – A CONSTRUÇÃO CURRICULAR PELOS SUJEITOS FONTE: <https://vermelho.org.br/2018/07/25/reformas-contra-reformas-dois-projetos-para-o-brasil/>. Acesso em: 10 jan. 2020. Por fim, pensar em propostas curriculares, é pensar em um processo, um caminhar contínuo. É preciso olhar para o que se tinha antes da proposta, o que se tem no momento e o que ainda se procura. Em todo processo é possível fazer reformulações, adaptações, autoavaliações que permitam guiar as propostas curriculares em uma sociedade de mudanças. Essa perspectiva acompanha todos os campos da educação e tem gerado novos estudos e tendências em todas as áreas e modalidades. Assim será aprofundado, no próximo tópico, como essas mudanças e perspectivas da educação contemporânea são aplicadas no currículo e na pesquisa em educação especial. Essa é uma modalidade de ensino garantida por lei que estudamos na unidade anterior. Vimos suas bases legais e sua composição para a diversidade escolar. Agora vamos analisar suas principais bases teóricas e metodológicas, bem como suas diferentes concepções e abordagens por diferentes pesquisadores do campo. TÓPICO 1 | AS NOVAS CONCEPÇÕES CONCEITUAIS E LEGAIS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA 65 PARA ALÉM DO PENSAMENTO ABISSAL: DAS LINHAS GLOBAIS A UMA ECOLOGIA DOS SABERES Boaventura de Souza Santos [...] Tenho descrito essa situação como a ascensão do fascismo social, um regime social de relações de poder extremamente desiguais, que concedem à parte mais forte poder de veto sobre a vida e o modo de vida da parte mais fraca. Noutro lugar distingui cinco formas de fascismo social. Aqui me refiro a três delas, que refletem mais claramente a pressão da lógica da apropriação/violência sobre a lógica da regulação/emancipação. A primeira forma é o fascismo do apartheid social. Trata-se da segregação social dos excluídos por meio de uma cartografia urbana dividida em zonas selvagens e zonas civilizadas. As zonas selvagens são as zonas do estado de natureza hobbesiano, as zonas de guerra civil interna existentes em muitas megacidades em todo o Sul global. As zonas civilizadas são as zonas do contrato social, e vivem sob a constante ameaça das zonas selvagens. Para se defenderem, transformam-se em castelos neofeudais, os enclaves fortificados que caracterizam as novas formas de segregação urbana (cidades privadas ou condomínios fechados). A divisão entre zonas selvagens e civilizadas está se transformando em um critério geral de sociabilidade, em um novo espaço-tempo hegemônico que perpassa todas as relações sociais, econômicas, políticas e culturais e que por isso é comum aos âmbitos estatal e não-estatal. A segunda forma é o fascismo contratual. Ocorre nas situações em que a diferença de poder entre as partes do contrato de direito civil (seja ele um contrato de trabalho ou um contrato de fornecimento de bens ou serviços) é de tal ordem que a parte mais fraca, vulnerabilizada por não ter alternativa ao contrato, aceita as condições que lhe são impostas pela parte mais poderosa, por mais onerosas e despóticas que sejam. O projeto neoliberal de transformar o contrato de trabalho num contrato de direito civil como qualquer outro configura uma situação de fascismo contratual. Essa forma de fascismo ocorre hoje frequentemente nas situações de privatização de serviços públicos como os de saúde, segurança social, abastecimento de água etc. Nesses casos, o contrato social que orientava a produção de serviços públicos no Estado-Providência e no Estado desenvolvimentista é reduzido ao contrato individual do consumo de serviços privatizados. À luz das deficiências da regulação pública, essa redução preconiza a eliminação do âmbito contratual de aspectos decisivos para a proteção dos consumidores, de modo que esses aspectos se tornam extracontratuais e ficam à mercê da benevolência das empresas. Ao assumirem poderes extracontratuais, as agências de serviços privados ou paraestatais assumem as funções de regulação social anteriormente exercidas pelo Estado. Este, implícita ou explicitamente, subcontrata a essas agências o desempenho dessas funções, e ao fazê-lo sem a participação efetiva e mesmo o controle dos cidadãos torna-se conivente com a produção social de fascismo contratual. A terceira forma de fascismo social é o fascismo territorial. Ocorre sempre que atores sociais com forte capital patrimonial tomam do Estado o controle do território onde atuam ou neutralizam esse controle, cooptando ou violentando as instituições estatais e exercendo a regulação social sobre os habitantes do território sem a participação destes e contra os seus interesses. Na maioria dos casos, trata-se de novos territórios coloniais privados dentro de Estados que quase sempre estiveram sujeitos ao colonialismo europeu. Sob diferentes formas, a usurpação original de terras como prerrogativa do conquistador e a subsequente "privatização" das colônias encontram-se presentes na reprodução do fascismo territorial e, mais geralmente, nas relações entre terratenentes e camponeses sem terra. As populações civis residentes em zonas de conflitos armados também se encontram submetidas ao fascismo territorial. IMPORTANT E UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 66 O fascismo social é a nova forma do estado de natureza, e prolifera à sombra do contrato social sob duas formas: pós-contratualismo e pré-contratualismo. O pós- contratualismo é o processo pelo qual grupos e interesses sociais são excluídos do contrato social sem nenhuma perspectiva de regresso: trabalhadores e membros das classes populares em geral são expulsos do contrato social em virtude da eliminação dos seus direitos econômicos e sociais, tornando-se assimpopulações descartáveis. O pré- contratualismo consiste no bloqueamento do acesso à cidadania a grupos sociais que tinham a expectativa fundamentada de nela ingressar: por exemplo, a juventude urbana dos guetos das megacidades do Norte e do Sul globais. Como regime social, o fascismo social pode coexistir com a democracia política liberal. Ele a banaliza a ponto de não ser necessário, nem sequer conveniente, sacrificar a democracia para promover o capitalismo. Trata-se, pois, de um fascismo pluralista, e por isso de uma forma de fascismo inédita. De fato, creio que talvez estejamos entrando num período em que as sociedades são politicamente democráticas e socialmente fascistas. FONTE: SANTOS, B. S. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia dos saberes. Novos Estudos, São Paulo, n. 79, p. 71-94, nov. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/nec/n79/04.pdf. Acesso em: 7 abr. 2020. 67 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • Há alguns critérios importantes para a realização de pesquisas no campo da educação. Com o advento da nova forma de organização social, personificada na sociedade global, muitas transformações ocorrem na forma como a educação deve ser observada e analisada. • Para compreendermos essa nova perspectiva, Robertson e Dale (2011) nos dizem que é necessário eliminarmos os “ismos” metodológicos da nossa forma de produzir conhecimento em educação. Esses “ismos” são vertentes equivocadas de realizar pesquisa que já não atendem às demandas da educação contemporânea. Esses equívocos metodológicos são elencados por eles como Nacionalismo Metodológico, Estatismo Metodológico, Educacionismo Metodológico e Fetichismo Espacial. Em linhas gerais, esses métodos concebem a educação como estática e linear, analisando-a como fixa diante dos contextos sociais e políticos. • O currículo é um fato importante e ele deve ser pensando de acordo com a realidade na qual será aplicado. Ele também deve levar em conta a heterogeneidade presente na sociedade, privilegiando os fatores sociais e culturais. 68 AUTOATIVIDADE 1 Ao analisarmos a nova configuração social e educacional, percebemos quantas transformações ocorreram nos últimos anos. Como parte importante da sociedade, as pesquisas em educação também sofreram modificações. Assim, de acordo com os estudos realizados, podemos dizer que uma pesquisa sólida em educação deve contemplar: a) ( ) Os aspectos sociais, históricos e espaciais da sociedade, compreendemo- nos como mutáveis e passiveis de serem alterados de acordo com o contexto ao qual estão imersos. b) ( ) Métodos tradicionais de pesquisa, que já veem sendo empregados há muito tempo na educação. c) ( ) Somente os atores envolvidos, uma vez que só as pessoas devem ser consideradas para a realização de uma pesquisa. d) ( ) Dados estatísticos, pois eles podem dar as respostas mais concretas para a solução de problemas. e) ( ) Os aspectos fixos da sociedade, pois eles são capazes de mostrar as novas tendências da educação. 2 O termo “sociedade global” proposto por Ianni (1998) se refere a(à): a) ( ) Uma nova composição geográfica. b) ( ) As novas metodologias de ensino que englobem todas as diferenças e acolham a todas as necessidades escolares. c) ( ) A uma nova forma de organização política e social apresentada nos últimos anos. d) ( ) A uma organização política apenas. e) ( ) À ideia de Estado-Nação e sua composição. 3 Andreia irá organizar o currículo educacional escolar da sua cidade, pois ela é da Secretaria de Educação. O que Andreia pode levar em conta dado o que foi estudado neste tópico sobre o assunto: a) ( ) Andreia vai considerar apenas o que os alunos precisam aprender de uma área específica em detrimento de outras. Dada a tendência tecnológica da sociedade, é importante o foco em ferramentas tecnológicas e desnecessário o estudo de outros conteúdos, como história, pois são fatos passados que não alteram mais as tendências sociais e de mercado de trabalho. b) ( ) Andreia vai contemplar os conteúdos que as crianças possuem maior dificuldade e que são muito relevantes, como português e matemática. As outras disciplinas, por não comporem exames nacionais no Ensino Fundamental, não são obrigatórias no currículo escolar. 69 c) ( ) Andreia pode focar principalmente nos fatos já ocorridos da história social para as crianças conhecerem seu passado com afinco, dado que tendências futuras não são certezas e não necessitam de investimento educacional aprofundado. d) ( ) Andreia vai procurar construir um currículo completo em termos educacionais, contemplando a construção histórica social e suas tendências, que promova aos alunos habilidades e ferramentas para cidadania local, porém ela não precisará considerar a questão política do currículo, dado que é apenas conceitual e não possui relevância política. e) ( ) Andreia vai procurar construir um currículo completo em termos educacionais, contemplando a construção histórica social e suas tendências, que promova aos alunos habilidades e ferramentas para cidadania local e considerará a questão política do currículo, dado que possui relevância política. 4 Para realizar análises de políticas educacionais, é importante considerar as metodologias que podem ser utilizadas para nortear o olhar do pesquisador. Durante este tópico foram estudadas duas metodologias interessantes que são causalidade e inferências descritivas, propostas por Aguilar (2013). Supondo que você necessita analisar uma situação de política educacional, como poderia distinguir entre qual delas utilizar? a) ( ) Usaria a causalidade para expressar indignação contra o sistema político educacional e a inferência descritiva para publicar notas sobre opiniões pessoais. b) ( ) Usaria a causalidade para avaliar o encadeamento de fatos e circunstâncias que geraram a política e seus desdobramentos, e a inferência descritiva para analisar situações que não são plenamente concretas, mas que podem ser observadas como fatores de influência social. c) ( ) Usaria a causalidade para avaliar o encadeamento de fatos e circunstâncias que geraram a política e seus desdobramentos, e a inferência descritiva para realizar a escrita de documentos oficiais. d) ( ) Usaria a causalidade para avaliar os agentes públicos culpados por insucesso de políticas públicas, e a inferência descritiva para analisar situações que não são plenamente concretas, mas que podem ser observadas como fatores de influência social. e) ( ) As duas metodologias não são adequadas para políticas públicas educacionais no contexto brasileiro. 70 71 TÓPICO 2 A EDUCAÇÃO ESPECIAL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O campo da educação especial tem crescido e se aperfeiçoado mais a cada dia. É comum a disponibilidade de diferentes recursos para auxiliar crianças com necessidades especiais, porém essa realidade é recente, tendo por trás dessa trajetória uma história de luta constante por esses direitos. Assim veremos como ocorreu essa trajetória e quais foram os primeiros direitos garantidos por lei para esse novo público da educação. Assim, neste tópico será abordado como ocorreu a história da educação especial, seus conceitos e as principais tendências que a compõem na atualidade. Além disso, serão descritas especificidades de cada deficiência, de forma a diferenciá-las e compreendê-las em seus aspectos gerais. 2 EDUCAÇÃO ESPECIAL: HISTÓRIA E CONCEPÇÕES DE ENSINO Para compreender a educação especial na atualidade é necessário conhecer sua história e todo o desenvolvimento pelo qual ela passou para chegar à sua configuração atual. Suas bases se fundamentam em diferentes concepções que foram tecidas ao longo do tempo. Miranda (2003) nos traz uma breve retomada histórica das crianças com necessidades especiais. O próprio termo educação especial é bastante atual, e demonstra uma série de conquistas realizadas. Ao traçar o histórico, a autoranos expôs de forma bastante sucinta quatro vertentes predominantes que marcaram a percepção da sociedade em relação às crianças com necessidades especiais. A primeira delas se pautou exclusivamente pela negligência. Estas crianças ditas como “anormais” não tinham espaço algum na sociedade e eram consideradas incapazes de qualquer atuação. Diante dessa concepção era de se esperar que nada, ou quase nada, se fizesse por elas. “Os deficientes eram abandonados, perseguidos e eliminados devido às suas condições atípicas, e a sociedade legitimava essas ações como sendo normais” (MIRANDA, 2003, p. 2). UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 72 FIGURA 6 – A EXCLUSÃO SOCIAL FONTE: <https://como-funciona.com/riesgo-exclusion-social/>. Acesso em 12 jan. 2020. No próximo estágio, denominado segregação, encontra-se a fase da institucionalização. É o momento em que centros são criados para acolhimento das pessoas com algum tipo de deficiência. Essa era uma forma de protegê-las e ampará-las, porém, nenhuma medida de integrá-las à sociedade foi estabelecida. Isso fortaleceu sua separação dos demais membros da sociedade, agrupando-os em centros fechados e longe da convivência social. A seguinte e terceira etapa consistiram em promover classes especializadas de ensino para o atendimento especializado. É nesse período que temos, em 1854, a criação do Instituto dos Meninos Cegos (hoje Instituto Benjamin Constant) e em 1857 o Instituto dos Surdos-Mudos (hoje, Instituto Nacional de Educação de Surdos — INES). Nesse cenário podemos perceber uma visão que propiciará a algum tipo de ensino ou instrução. Mesmo que bastante restrita e abrangendo uma classe mínima de pessoas, começava a se conceber a pessoa portadora de necessidades especiais como capaz de aprender e a se desenvolver, pensamento ora antes inexistente. É somente no último estágio que, segundo Miranda (2003), é possível perceber as primeiras tentativas de incluir a pessoa com deficiência no âmbito escolar regular. Ao invés de ficarem separadas em institutos e escolas especializadas, elas poderiam conviver com os demais membros da sociedade. Essa nova concepção significou um grande avanço na mentalidade social de como conceber a deficiência. Ao analisar esses quatro estágios, vemos que o primeiro se fundamentou no total isolamento dos indivíduos e desconcertos das pessoas em lidarem e/ou ajudarem esses indivíduos. A falta de entendimento de sua real capacidade e condições fez com que durante muitos anos elas vivessem “escondidas”, como se não existissem. TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO ESPECIAL 73 Dessa concepção avançamos para a ideia de que algo deveria ser feito. Acolher e cuidar foram a primeira iniciativa a ser realizada. Mas somente isso não era suficiente, passou-se a entender que esses indivíduos eram sujeitos de direitos, principalmente com o advento da Constituição Federal de 1988, que garantia a educação como um direito social. Nesse momento, escolas muitas especializadas são criadas e é oferecida uma modalidade paralela de educação, em que as crianças, agrupados por suas deficiências em comum, recebiam atendimentos especializados em classes especiais de ensino. Assim, podemos observar que a educação especial primeiro se estabeleceu como uma modalidade de ensino à parte da educação regular. Embora importante, esse novo passo ainda não foi suficiente para o atendimento das crianças portadoras de necessidades especiais a escola regular ocorresse. Somente com as políticas de inclusão é que esse cenário viria a mudar. Quer compreender melhor o contexto abordado? Você pode assistir a dois filmes que farão com que você reflita mais profundamente sobre o assunto. • Extraordinário (2017) – descreve a vida de um garoto e seus desafios nos ambientes de conivência, assim como os desafios da família. Um filme emocionante que desperta para questões múltiplas da área que estudada. • A teoria de tudo (2014) – é um filme sobre a vida do astrofísico Stephen Hawking. O filme aborda questões relevantes que podem inserir você em uma nova concepção sobre a educação especial. DICAS 3 AS PRINCIPAIS POLÍTICAS DE INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL Kassar (2011), em pesquisa realizada sobre a implantação de escolas inclusivas, nos revela que, em 1933, no estado de São Paulo, a preferência era pela educação especializada, sendo até dividida em categorias: Em 1933, o decreto que instituiu o código da educação no estado de São Paulo deixou clara essa preferência e indicou a implantação de classes especiais quando isso não fosse possível: Parte VII Da educação especializada Art. 824 Dos tipos de escolas especializadas: a) escolas para débeis físicos b) escolas para débeis mentais c) escolas de segregação para doentes contagiosos d) escolas anexas aos hospitais (KASSAR, 2011, p. 64). UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 74 É perceptível a associação da deficiência com algo pejorativo, visto pelas próprias nomenclaturas das classes especiais. A separação era vista como algo natural e até mesmo considerada a melhor forma de agrupar e ensinar as crianças. Mas, na primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1961, é que se observa uma perspectiva diferente nessa concepção. Nela encontramos a nomenclatura de “Educação dos Excepcionais” e afirma que ela deva ocorrer no sistema comum de educação: “Art. 88. A educação de excepcionais, deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade” (BRASIL, 1961). Já em 1971, na lei de Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2° graus (Lei n° 5.692/71), temos uma nova menção aos alunos que possuem deficiência. Ela prevê um atendimento dito “especial”, porém, enquadra as crianças com necessidades especiais juntamente com crianças que apresentavam dificuldade de aprendizagem. Art. 9° Os alunos que apresentem deficiências físicas ou mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de Educação (BRASIL, 1971, s.p.). Apesar do reconhecimento da necessidade de tratamento diferenciado no que tange à educação das crianças com deficiência, vemos que ainda persistia uma relação entre deficiência e atraso escolar, considerando as condições de atraso escolar e deficiência como semelhantes. Kassar (2011), revendo estudos de Schneider (1977) e Paschoalick (1981), diz que essa concepção de deficiência como atraso escolar fez com que muitas das primeiras classes especializadas de ensino tivessem crianças sem deficiência alguma, mas que apenas apresentavam atrasos no rendimento escolar. Os estudos mostram que isso era possível na medida em que não se exigiam laudos médicos para que uma criança fosse atendida nessa modalidade de ensino. Esse problema, além de superlotar as salas, atrapalhou o desenvolvimento de um trabalho efetivo que visasse atender aos alunos portadores de necessidades especiais. Ainda não se efetivará uma mentalidade de que a Educação Especial deveria ser outra modalidade de ensino, com características e diretrizes próprias. Em 1989, é percebido um avanço com a criação da Lei n° 7.853, de 24 de outubro de 1989, que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência e sua integração social. Ela é responsável por “estabelecer normas gerais para assegurar os direitos das pessoas portadoras de deficiências, e sua efetiva integração social” (BRASIL, 1989). Essa lei garantiu vários direitos aos deficientes físicos, sendo que na área da educação foi possível observar avanços. No artigo 2 temos seis quesitos que são inseridos ao seu rol de diretos, sendo eles: TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO ESPECIAL 75 • a inclusão, no sistema educacional, da Educação Especial como modalidade educativa que abranja a educação precoce, a pré-escolar, as de 1° e 2° graus, a supletiva, a habilitação ereabilitação profissionais, com currículos, etapas e exigências de diplomação próprios; • a inserção, no referido sistema educacional, das escolas especiais, privadas e públicas; • a oferta, obrigatória e gratuita, da Educação Especial em estabelecimento público de ensino; • o oferecimento obrigatório de programas de Educação Especial a nível pré- escolar, em unidades hospitalares e congêneres, nas quais estejam internados, por prazo igual ou superior a 1 (um) ano, educandos portadores de deficiência; • o acesso de alunos portadores de deficiência aos benefícios conferidos aos demais educandos, inclusive material escolar, merenda escolar e bolsas de estudo; • a matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e particulares de pessoas portadoras de deficiência capazes de se integrarem no sistema regular de ensino. Assim, temos a modalidade de ensino da educação especial inserida em todas as etapas da educação. Desta forma, desde bem cedo, as crianças já poderiam ser contempladas com um ensino que atendesse as suas necessidades. Outro ponto importante foi a matrícula compulsória nas escolas regulares de ensino. Isso permitiu que nenhuma escola, tanto da rede pública como da rede privada, pudessem negar a matrícula de uma criança portadora de deficiência. Ao refletir sobre toda a história percorrida da criança com deficiência, da negligência e abandono por anos pela sociedade e pelo Estado, vê-se o avanço que tal medida demonstrou. Embora isso possa ser visto como natural atualmente, significou muito para as crianças portadoras de necessidades especiais e suas famílias, afirmando que nenhum tipo de discriminação seria tolerado na escola, e que todas poderiam ter acesso ao ensino regular. FIGURA 7 – TODOS TÊM DIREITO DE ESTAR NA ESCOLA FONTE: <https://www.feac.org.br/educacao-inclusiva-e-tema-de-seminario/>. Acesso em: 18 jan. 2020. UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 76 Desde então, outros documentos foram sendo incorporados nas leis jurídicas e sociais do país para a inclusão, tanto social como educacional, dessas crianças. Em 1994, com a Declaração de Salamanca, à qual o Brasil se tornou signatário, surge um ponto decisivo para a configuração da educação especial como a temos hoje: a falta de investimentos para a manutenção de escolas especializadas. Embora a Lei n° 7.853 garantisse o direito das crianças à escola regular, ainda havia uma forte demanda e procura por escolas especializadas. Porém, os investimentos nessas escolas estavam se tornando cada vez mais altos para o Estado, fazendo-os pensar em outras estratégias: “[...] as escolas integradoras, destinadas a todas as crianças da comunidade, têm mais êxito na hora de obter o apoio da comunidade e de encontrar formas inovadoras e criativas de utilizar os limitados recursos disponíveis” (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p. 24). Ou seja, tendo em vista os altos custos para se manter as escolas especializadas, juntamente com a forte tendência de educação inclusiva que surgia, a sugestão proposta foi a de mudanças na própria rede regular de ensino. Estas deveriam se preparar para acolher todas as crianças, independentemente de suas condições. Vemos essa nova concepção fundamentada na LDB de 1996 (Lei n° 9.394/96), no artigo 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação (BRASIL, 1996, s.p.). Além de especificar o que se entendia por educação especial, ela também traz a preferência por essa modalidade de ensino na rede regular. Essa nova perspectiva trouxe várias transformações para a educação como um todo, e em especial para as escolas da rede pública. A seguir temos um gráfico que mostra a expansão de matrículas em escolas regulares de ensino entre os anos de 2001 a 2010. QUADRO 1 – MATRÍCULAS DE DEFICIENTES, ESCOLAS INCLUSIVAS – BRASIL, 2000 - 2010 Indicadores Censo Escolar – INEP 2000 2010 Crescimento em % Municípios c/ matrículas de alunos deficientes na educação básica 401 497 1,6% Matrícula de deficientes na rede pública 8.586 32.620 55,3% Matrícula de deficientes no ensino regular 1.695 84.332 92,8% Escolas públicas com acessibilidade 770 8.650 23% FONTE: Adaptado de Andrés (2014, p. 18) Desde 2000 é possível perceber o aumento expressivo no número de matrículas de portadores de deficiência na rede regular de ensino, totalizando um aumento de 92,8% em um período de 10 anos. Além do mais, vemos que 55,3% desses estudantes encontram-se na rede pública. TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO ESPECIAL 77 Isso traz uma reflexão importante: ouvimos popularmente que nunca se teve nas escolas tantas crianças com deficiência. E as pesquisas confirmam essa alegação. Diante disso, você já ouviu, em algum lugar, comentários de que o número de crianças portadoras de deficiência aumentou? Ou que nunca se viu o nascimento de tantas crianças especiais? Na verdade, como vimos, elas sempre existiram, o que acontece é que durante muito tempo elas ficaram praticamente invisíveis perante a sociedade. O fato de a vermos em todos os lugares não ocorre devido a sua multiplicação, mas devido a sua inclusão no meio social, que foi negligenciada por muito tempo. FIGURA 8 – SALA DE AULA INCLUSIVA FONTE: <http://centraldeinteligenciaacademica.blogspot.com/2015/11/a-inclusao-de-alunos- com-necessidades.html>. Acesso em: 18 jan. 2020. Amparadas pela lei e com seus direitos garantidos se iniciava a quebra do paradigma de segregação que por anos acompanhou os portadores de necessidades especiais. É, a partir daqui, que eles passam a frequentar as classes regulares de ensino e a participar ativamente da sociedade como qualquer outro cidadão. Uma nova forma de pensar se estabeleceu, sendo a de que todas as crianças podem e devem ser incluídas. Isso abriu espaço para a interlocução entre os sujeitos portadores de deficiência e a sociedade, gerando uma série de políticas e estudos visando melhorar essa nova modalidade de ensino. Dessa forma, compreendendo que todas as crianças têm o direito de irem à escola, é preciso também, que o professor possua conhecimentos básicos sobre as deficiências referidas na LDB no artigo 58, em que a educação especial é destinada para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 78 4 OS DIFERENTES TIPOS DE DEFICIÊNCIA Um documento bastante esclarecedor em relação aos direitos e tipos de deficiências existentes é A Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Decreto n° 6.949, de 25 de agosto de 2009). Seu propósito “é promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente” (BRASIL, 2009, s.p.). O primeiro artigo traz a definição de deficiência: “Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas” (BRASIL, 2009, s.p.). Além da definição do termo, ela também especifica as naturezas da deficiência: física, mental, intelectual ou sensorial. I- DEFICIÊNCIA FÍSICA – alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldadespara o desempenho de funções. II- DEFICIÊNCIA AUDITIVA – perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz. III- DEFICIÊNCIA VISUAL– cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores. IV- DEFICIÊNCIA MENTAL – funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: a) comunicação; b) cuidado pessoal; c) habilidades sociais; d) utilização dos recursos da comunidade; e) saúde e segurança; f) habilidades acadêmicas; g) lazer; h) trabalho. V- DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA – associação de duas ou mais deficiências (BRASIL, 1999, s.p.). A seguir podemos visualizar um gráfico com informações sobre o número de deficiência no Brasil em 2010: TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO ESPECIAL 79 GRÁFICO 1 – NÚMERO DE DEFICIENTES NO BRASIL EM 2010 FONTE: <https://wiki.redejuntos.org.br/sites/default/files/inline-images/grafico-1_6.png>. Acesso em: 7 abr. 2020. Podemos observar que o número de pessoas com deficiência no Brasil representa quase ¼ da população, sendo a maioria mulheres. Esse número é bastante expressivo e reafirma quanto as escolas e professores devem estar cada vez mais preparados para atuar na sala de aula nessa nova modalidade de ensino. Outra definição de deficiência que encontramos referida na LDB são Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), “são aqueles que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação (BRASIL, 2009, p.17). Segue uma tabela explicativa com a definição de cada TGD, retirado do documento A educação especial na perspectiva da educação inclusiva: transtornos globais do desenvolvimento, elaborado pelo MEC (BELISÁRIO FILHO; CUNHA, 2010, p. 13-14): 23,9% da população brasileira (45.606.048 pessoas) têm algum tipo de deficiência, seja visual, motora, mental, auditiva ou intelectual. A maioria das pessoas com deficiência do país são mulheres (26,5%). Os homens representam uma parcela relativamente menor (21,2%). UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 80 AUTISMO Características principais: prejuízo no desenvolvimento da interação social e da comunicação. Pode haver atraso ou ausência do desenvolvimento da linguagem. Naqueles que a possuem, pode haver uso estereotipado e repetitivo ou uma linguagem idiossincrática. Repertório restrito de interesses e atividades. Interesse por rotinas e rituais não funcionais. Idade de manifestação: antes dos 3 anos de idade. Importante para o diagnóstico diferencial: prejuízo no funcionamento ou atrasos em pelo menos 1 das 3 áreas: • Interação social; • Linguagem para comunicação social; • Jogos simbólicos ou imaginativos. SÍNDROME DE RETT Características principais: desenvolvimento de múltiplos déficits específicos após um período de funcionamento normal nos primeiros meses de vida. Desaceleração do crescimento do perímetro cefálico. Perda das habilidades voluntárias das mãos adquiridas anteriormente, e posterior desenvolvimento de movimentos estereotipados semelhantes a lavar ou torcer as mãos. O interesse social diminui após os primeiros anos de manifestação do quadro, embora possa se desenvolver mais tarde. Prejuízo severo do desenvolvimento da linguagem expressiva ou receptiva. Idade de manifestação: primeiras manifestações após os primeiros 6 a 12 meses de vida. Prejuízos funcionais do desenvolvimento dos 6 meses aos primeiros anos de vida. Importante para o diagnóstico diferencial: presença de crises convulsivas. Desaceleração do crescimento do perímetro cefálico. TRANSTORNO DE ASPERGER Características principais: prejuízo persistente na interação social. Desenvolvimento de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades. Idade de manifestação: tem início mais tardio do que o Autismo ou é percebido mais tarde (entre 3 e 5 anos). Atrasos motores ou falta de destreza motora podem ser percebidos antes dos 6 anos. Importante para o diagnóstico diferencial: Diferentemente do autismo, podem não existir atrasos clinicamente significativos no desenvolvimento cognitivo, na linguagem, nas habilidades de autoajuda apropriadas à idade, no comportamento adaptativo, à exceção da interação social, e na curiosidade pelo ambiente na infância. TRANSTORNO DESINTEGRATIVO DA INFÂNCIA Características principais: regressão pronunciada em múltiplas áreas do funcionamento, após um desenvolvimento normal constituído de comunicação verbal e não verbal, relacionamentos sociais, jogos e comportamento adaptativo apropriado para a idade. As perdas clinicamente significativas das habilidades já adquiridas em pelo menos duas áreas: linguagem expressiva ou receptiva, habilidades sociais ou comportamento adaptativo, controle intestinal ou vesical, jogos ou habilidades motoras. Apresentam déficits sociais e comunicativos e aspectos comportamentais geralmente observados no Autismo. Idade de manifestação: após 2 anos e antes dos 10 anos de idade. Importante para o diagnóstico diferencial: o transtorno não é melhor explicado pelo autismo ou esquizofrenia. Excluídos transtornos metabólicos e condições neurológicas. Muito raro e muito menos comum do que o Autismo. QUADRO 2 – TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO ESPECIAL 81 TRANSTORNO INVASIVO SEM OUTRA ESPECIFICAÇÃO Características principais: existe prejuízo severo no desenvolvimento da interação social recíproca ou de habilidades de comunicação verbal e não verbal ou comportamentos, interesses e atividades estereotipados. Idade de manifestação: desconhecida. Importante para o diagnóstico diferencial: quando tais características estão presentes, mas não são satisfeitos os critérios diagnósticos para um Transtorno Global do Desenvolvimento ou para outros quadros diagnósticos como esquizofrenia, transtorno da personalidade esquizotípica ou transtorno da personalidade esquiva. FONTE: Adaptado de Belisário Filho e Cunha (2010, p. 13-14) Há muitas características e peculiaridades em cada uma das deficiências relatadas no Quadro 2. O objetivo, no entanto, não é que você as decore ou tente diagnosticar seus futuros alunos, tarefa que não nos cabe enquanto educadores e sim a profissionais especializados. O propósito é apenas que você saiba da existência dessas deficiências e compreenda minimamente as características que elas possuem, o que irá auxiliá-lo em seu trabalho no cotidiano escolar. FIGURA 9 – TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO FONTE: <https://demonstre.com/transtornos-globais-do desenvolvimento/>. Acesso em: 15 jan. 2020. A última categoria que compõem o campo da educação especial são as altas habilidades/superdotação. É formada por indivíduos que “apresentam um potencial elevado e grande envolvimento em áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas, e podem ser no âmbito intelectual, de liderança, psicomotor, artístico e criativo” (BRASIL; MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009, p. 1). Mesmo possuindo capacidades acima da média, isso não significa que a criança com altas habilidades pode ser “deixada de lado” pelo professor. Embora ela possua alto potencial intelectual, se não forem estimulados da UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 82 maneira correta, podem não desenvolverplenamente. Para tanto, é necessário que para essa e as outras modalidades de educação especial haja um atendimento educacional voltado para suas necessidades. Este se chama Atendimento Educacional Especializado (AEE), e é previsto por lei. De acordo com a Resolução n° 4, de 2 de outubro de 2009, que institui as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial, o AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem (BRASIL; MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009). O AEE está presente em todos os níveis de ensino e toda criança portadora de necessidades especiais tem direito a ele. Ele ocorre no contra turno escolar ao da escola regular, ocorrendo em salas de recursos próprio, que pode estar localizada dentro da própria escola regular ou não. Esse atendimento não exclui a presença da criança na escola regular, antes é ele que dará suporte para o desenvolvimento completo da criança na rede regular. Ou seja, mesmo estando matriculada na rede regular de ensino, a criança tem direito a um atendimento específico para suas particularidades de ensino, sendo este realizado por um profissional capacitado. Esse é mais um dos direitos que crianças portadoras de necessidades especiais têm garantido em sua trajetória escolar. FIGURA 10 – SALA DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO FONTE: <https://www.saocarlosdiaenoite.com.br/cidade>. Acesso em: 20 jan. 2020. TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO ESPECIAL 83 O advento da educação especial, como visto anteriormente, marcou a educação na atualidade, trazendo novas perspectivas de ensino e de inclusão, mudando o panorama da escola. Porém, essa não foi a única forma de ensino a romper com a desempenho tradicional da educação. Se a educação especial tentou atingir crianças que necessitavam de recursos diferenciados para sua aprendizagem, na nossa sociedade atual, temos também crianças e adolescentes que precisam ser atingidos de outra forma, pois simplesmente estão provisoriamente privadas de sua liberdade. Esses são os jovens e adolescentes que cumprem medidas socioeducativas e estão em processo de reabilitação, demandando outras estratégias para que possam ter seu direito à educação garantido. Vamos conhecer um pouco mais sobre eles e essa nova modalidade educacional no próximo tópico. Que tal compreender melhor algumas práticas e o cotidiano de algumas pessoas com deficiência visual e transtorno do espectro autista? Seguem dois documentários que podem ampliar sua concepção. • Deficiência Visual: https://www.youtube.com/watch?v=ENh1NNpr-00. • Transtorno do Espectro Autista: https://www.youtube.com/watch?v=hRPdQpU7NbA. DICAS 84 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Durante muito tempo as crianças portadoras de necessidades especiais foram negligenciadas e excluídas pela sociedade. Seu processo de inclusão, através dos diferentes diretos educacionais conquistados, ocorreu de forma lenta, e ainda hoje precisam ser fortalecidos para que sejam garantidos. • A definição de deficiência demarcada pela A Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (DECRETO N° 6.949, DE 25 DE AGOSTO DE 2009), e além da definição do termo, ela também especifica as naturezas da deficiência, sendo elas: física, mental, intelectual ou sensorial. Já na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), temos além da deficiência física, os transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação no campo da educação especial. • Toda criança portadora de necessidades especial tem direito de frequentar a escola regular e ao Atendimento Especializado Educacional (AEE). Este último consiste em um trabalho voltado para as necessidades especificas da criança, realizado por profissional qualificado e acontece no contra turno escolar ao qual a criança está matriculada. 85 AUTOATIVIDADE 1 Podemos afirmar que a modalidade de ensino Educação Especial como a conhecemos hoje: a) ( ) Sempre existiu e priorizou as necessidades das crianças que necessitavam de atendimento especializado. b) ( ) É uma modalidade nova de ensino que algumas escolas optaram em realizar. c) ( ) É uma modalidade de ensino que atende somente crianças que possuem transtornos globais do desenvolvimento. d) ( ) É um direito garantido por lei, mas que nem sempre existiu. Sua conquista foi fruto de um longo processo histórico e político. e) ( ) Não é uma modalidade de ensino, constituindo-se apenas em uma diretriz curricular. 2 O Atendimento Educacional Especializado (AEE) tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno portador de deficiência por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem. Esse atendimento é um direito destinado: a) ( ) Apenas às crianças com transtornos globais do desenvolvimento. b) ( ) As crianças que, embora não possuam deficiências, apresentam atraso escolar. c) ( ) A todas as crianças que apresentam deficiências e estejam matriculadas no ensino fundamental. d) ( ) A todas as crianças portadoras de necessidades especiais e deve ocorrer em todas as modalidades de ensino. e) ( ) A crianças que estudam em escolas de período integral. 3 Na escola de André há um aluno com Altas Habilidades/Superdotação no 5° ano do Ensino Fundamental. Como professor, André deve se portar como: a) ( ) Planejar atividades diferenciadas para o aluno em questão com o objetivo de que ele se desenvolva plenamente e comunicar aos professores da escola de Atendimento Educacional Especializado (AEE) previsto por lei, que pode auxiliar em atividades voltadas para esse aluno. b) ( ) Planejar atividades diferenciadas para o aluno com o objetivo que ele se desenvolva plenamente, porém ele não tem o direito ao Atendimento Educacional Especializado (AEE), pois ele acompanha as matérias da turma regular. c) ( ) Planejar eventualmente atividades que auxiliem o aluno para que ele possa avançar de alguma forma na instituição escolar sem direito ao Atendimento Educacional Especializado (AEE). 86 d) ( ) O professor não necessita planejar atividades diferenciadas para o aluno em questão dado que ele tem direito ao Atendimento Educacional Especializado (AEE). e) ( ) Como o aluno acompanha atividades regulares, não é necessário planejar atividades diferenciadas e também não possui direito ao Atendimento Educacional Especializado (AEE). 4 O planejamento de atividades adaptadas para alunos da Educação Especial é fundamental para o desenvolvimento pedagógico das crianças. Diante dessa realidade, escolha uma das deficiências ou transtornos apresentados nesse tópico e elabore o planejamento de um dia de aula com atividades diferenciadas e apresente para outros colegas explicando a execução da atividade. 87 TÓPICO 3 OS DIREITOS EDUCACIONAIS DE ADOLESCENTES E JOVENS EM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O direito à educação de jovens e adolescentes que se encontram em medidas socioeducativas estão garantidos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). Ao cometer um ato infracional, a criança e o adolescente devem passar por medidas socioeducativas, uma maneira legal da criança se reeducar e corrigir diante da sociedade. Essa tarefa perpassa o contexto educacional, uma vez que é a partir dessas medidas que o jovem terá a oportunidade de se reintroduzir na sociedade e sair do estado de vulnerabilidade que o levou a tal contexto. Assim, neste tópico será exposto um pouco mais sobre como esses direitos estão fundamentados na perspectiva jurídica, conhecendo os principais direitose deveres desses jovens e o apoio educacional ao qual tem direito. 2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) Como foi visto na unidade anterior (Tópicos Introdutórios da Educação Contemporânea), o ECA é o principal apoio de proteção à criança e ao adolescente no Brasil. Nele e na Constituição de 1988 encontram-se uma perspectiva de proteção e reabilitação da criança. Ambos compreendem como imputável todos os menores de 18 anos (BRASIL, 1988). Ou seja, se entende que esses jovens ainda estão em processo de formação e aprendizagem, portanto, devem ser reeducados perante eventuais infrações sociais que venham a cometer. Essa forma de compreender o jovem menor de 18 anos incide diretamente no processo educativo, pois já que eles estão em processos de formação, é imprescindível que tenham acesso ao ensino e às medidas que possam reabilitá- los para viverem em sociedade, porém, nem sempre foi assim em nosso país. As primeiras medidas de acolhimento não tinham programas voltados para as situações especificas dos jovens que enfrentavam essa situação: 88 UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE O atendimento à criança e ao adolescente no Brasil passou por diferentes fases. Antes do advento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no entanto, não se diferenciavam os carentes dos autores de atos infracionais. Predominava, no campo teórico, o que se convencionou chamar de Doutrina da Situação Irregular, que pode ser traduzido da seguinte maneira: as crianças e adolescentes não tinham direitos reconhecidos nem assegurados e o atendimento ministrado (geralmente, o confinamento em abrigos e internatos) não levava em conta o pressuposto da preocupação com o estado peculiar do desenvolvimento dos jovens. Com o advento do ECA, nos anos 1990, entra em cena a Doutrina da Proteção Integral. Nela, crianças e jovens passam a ter os direitos assegurados e são considerados prioridade legal, uma vez que estão num período da vida fundamental para o seu desenvolvimento enquanto seres humanos (A FUNDAÇÃO, 2010, s.p.). Isso trouxe várias mudanças no âmbito social da criança e do adolescente, sendo uma delas tratar o ato infracional cometido por jovens com menos de 18 anos com medidas socioeducativas. A medida socioeducativa é uma dessas ferramentas proposta pelo ECA para que a reabilitação se torne possível. No Capítulo IV e artigo 112, nas disposições gerais sobre medidas socioeducativas está previsto medidas a serem tomadas pela autoridade competente, podendo ser elas: • I - advertência (advertência verbal perante o ato infracional cometido); • II - obrigação de reparar o dano (caso a infração ocorra a bens patrimoniais e o adolescente se encontre em condições de fazê-lo); • III - prestação de serviços à comunidade (prestação de serviços à comunidade, não excedentes a seis meses, e que revertem em bem-estar a sociedade, junto a entidades sociais); • IV - liberdade assistida Designação de uma pessoa para acompanhar e apoiar o adolescente, fazendo relatório de suas atividades como aproveitamento escolar, inserção familiar e social, direcionando sua participação em programas comunitários, caso necessário; • V - inserção em regime de semiliberdade É um período que o adolescente tem suas atividades de ir e vir restringidas. Ele permanece em instituição especializada, podendo realizar atividades fora dela, como ir à escola e a cursos profissionalizantes; • VI - internação em estabelecimento educacional Medida privativa total de liberdade, não podendo exceder 3 anos. Tal medida só poderá ser aplicada em situações mais graves, sendo elas (art. 122): I- tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II- por reiteração no cometimento de outras infrações graves; III- por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta (BRASIL, 1990, s.p.). TÓPICO 3 | OS DIREITOS EDUCACIONAIS DE ADOLESCENTES E JOVENS EM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 89 No artigo 123, em parágrafo único se ressalta que durante o período de internação, inclusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas. Dessa forma, vemos aqui que a medida privativa de liberdade é tomada sempre em última instância, quando todas as outras tentativas de sucesso se tornaram infrutíferas e o adolescente apresenta um risco a si e aos outros membros da sociedade. Francischini e Campos (2005) ao analisarem o ECA da perspectiva jurídica, e da concepção de reabilitação social do adolescente, apontam que ele é um instrumento educativo e que foge, ao que ele denomina de concepções retribucionistas e paternalistas: Mesmo considerando o adolescente como pessoa na condição peculiar de desenvolvimento, ao adotar medidas socioeducativas enquanto sanções — fruto da transgressão do dever jurídico —, o ECA foge às armadilhas das concepções retribucionista e paternalista. No retribucionismo encontra-se a defesa do aumento da repressão na proporção da gravidade das infrações praticadas, na expectativa da prevenção do cometimento delas; o paternalismo, por seu turno, tende a isentar de culpa os adolescentes que as cometerem, naturalizando a prática do ato infracional (FRANCISCHINI; CAMPOS, 2005, p. 268). Tanto a concepção retribucionista e a paternalista tendem a seguir direções excessivas. A primeira consiste em que, quanto mais grave for o ato infracional do adolescente, mais grave será sua punição, e a segunda, a de que ele poderia ficar isento de responsabilidades em relação ao que causou. Nesse cenário, o ECA se ajusta como equalizador dessas duas concepções, entendendo que o jovem deve assumir as consequências de seus atos, porém não de forma punitiva, mas restaurativa enquanto pessoa humana. FIGURA 11 – JOVENS EM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS FONTE: <http://cidadeembudasartes.sp.gov.br/embu/portal/noticia/ver/11092>. Acesso em: 17 jan. 2020. 90 UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 3 O SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO (SINASE) A Lei Federal n° 12.594, de 18 de janeiro de 2012, institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) e regulamenta a execução das medidas destinadas ao adolescente que pratique ato infracional. Nela estão previstos os objetivos das medidas socioeducativas: I- A responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível incentivando a sua reparação. II- A integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento. III- a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrição de direitos, observados os limites previstos em lei (BRASIL, 2012, s.p.). O Sinase, além de instruir o trabalho com medidas socioeducativas, estabelecendo o artigo 8 a criação de um Plano de Atendimento Socioeducativo, que deverá, obrigatoriamente, prever ações, articulando trabalhos nas áreas de educação, saúde, assistência social, cultura, capacitação para o trabalho e esporte. Isso demonstra que o trabalho com medidas socioeducativas deve ser multidisciplinar, em um esforço conjunto de todos os setores públicos para reabilitar o adolescente. Atuando principalmente como um agente regulador das medidas socioeducativas, uma das tarefas do SINASE é avaliar as entidades que prestam esses serviços, principalmente as que atuam diretamente com jovens em restrição total da liberdade. Uma das mais importantes é encontrada no artigo 23, que avalia os programas, atividades, projetos e a atuação em geral da entidade. Nele são avaliados os seguintes quesitos: I- o plano de desenvolvimento institucional; II- a responsabilidade social, considerada especialmente sua contribuição para a inclusão social e o desenvolvimento socioeconômico do adolescente e de sua família; III- a comunicação e o intercâmbio com a sociedade; IV- as políticasde pessoal quanto à qualificação, aperfeiçoamento, desenvolvimento profissional e condições de trabalho; V- a adequação da infraestrutura física às normas de referência; VI- o planejamento e a autoavaliação quanto aos processos, resultados, eficiência e eficácia do projeto pedagógico e da proposta socioeducativa; VII- as políticas de atendimento para os adolescentes e suas famílias; VIII- a atenção integral à saúde dos adolescentes; IX- a sustentabilidade financeira (BRASIL, 2012, s.p.). TÓPICO 3 | OS DIREITOS EDUCACIONAIS DE ADOLESCENTES E JOVENS EM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 91 Cada uma dessas medidas visa garantir que os projetos socioeducativos ofertados nas instituições sejam capazes de reabilitar o jovem e o adolescente, possibilitando seu retorno ao convívio social. É possível perceber que o trabalho não se restringe somente ao adolescente, mas também ao seu núcleo familiar relacional, envolvendo um trabalho em várias áreas. No que tange a execução das medidas socioeducativas, o Sinase também descreve os princípios a serem seguidos pelas instituições, sendo eles encontrados no artigo 35: I- legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento mais gravoso do que o conferido ao adulto; II- excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição de medidas, favorecendo-se meios de autocomposição de conflitos; III- prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas e, sempre que possível, atendam às necessidades das vítimas; IV- proporcionalidade em relação à ofensa cometida; V- brevidade da medida em resposta ao ato cometido; VI- individualização, considerando-se a idade, capacidades e circunstâncias pessoais do adolescente; VII- mínima intervenção, restrita ao necessário para a realização dos objetivos da medida; VIII- não discriminação do adolescente, notadamente em razão de etnia, gênero, nacionalidade, classe social, orientação religiosa, política ou sexual, ou associação ou pertencimento a qualquer minoria ou status; e IX- fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários no processo socioeducativo (BRASIL, 2012, s.p.). Outro importante trabalho realizado pelo Sinase, como mencionado anteriormente, é a elaboração do Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo: O Plano Nacional é a expressão operacional dos marcos legais do Sistema Socioeducativo, traduzida por meio de uma matriz de responsabilidades e seus eixos de ação. Com essa conformação, ele orientará o planejamento, a construção, a execução, o monitoramento e a avaliação dos Planos Estaduais, Distrital e Municipais Decenais do SINASE, além de incidir diretamente na construção e/ou no aperfeiçoamento de indicadores e na elaboração do Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual (BRASIL, 2013, p. 6). Vemos que o plano é responsável por definir estratégias para atender e melhorar o serviço ofertado aos jovens, de forma a reaver a dívida histórica da sociedade brasileira com a população de adolescentes que, por muito tempo, não tiveram seus direitos básicos garantidos, vivendo em meio à miséria e violência. O Plano Nacional participa do entendimento de que crianças expostas à vulnerabilidade social têm mais chances de se envolver em atividades ilegais, o que torna necessária uma medida do Estado para reabilitá-los, oferecendo novas oportunidades e condições de vida. A seguir temos um gráfico com dados de 2011, que exibe os principais atos infracionais cometidos por jovens e adolescentes em privação de liberdade: 92 UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE GRÁFICO 2 – ATOS INFRACIONAIS COMETIDOS EM 2011 FONTE: Brasil (2013, p. 12) Nesse levantamento vemos que a principal causa da internação se enquadra no delito “roubo”, com 38,1%, seguido por “tráfico” com 26,6%. Esses números demonstram que a maioria dos casos estão relacionados a problemas sociais e de desigualdades. Não são necessariamente atos violentos que fazem jovens sofrerem a internação, pois “homicídio” retrata apenas 8,4% dos casos. É importante ressaltar que isso não significa que os números de homicídios são insignificantes, ou que os jovens que cometeram tais atos são inocentes. Apenas no esforço de mostrar que as maiores incidências de infrações cometidas estão relacionadas à exclusão social e à marginalidade ao qual esses jovens convivem. Por isso a reabilitação e inserção social são pontos tão incisivos para as políticas públicas, na medida em que tentam romper esse ciclo perverso de pobreza, desigualdades e criminalidade. Nesse contexto, é de suma importância que os adolescentes com privação de liberdade tenham acesso à escola. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira do Ministério da Educação – INEP/MEC, “235 escolas atendem a adolescentes em privação de liberdade. Com 3.361 alunas matriculadas e 11.755 alunos matriculados, eles registraram em 2012, um aumento de estudantes em relação aos anos de 2010 e 2011” (BRASIL, 2013, p. 14), mostrando também um número maior de meninos em privação de liberdade em relação ao de meninas: TÓPICO 3 | OS DIREITOS EDUCACIONAIS DE ADOLESCENTES E JOVENS EM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 93 GRÁFICO 3 – MATRÍCULAS DE ADOLESCENTES NA ESCOLA EM CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS FONTE: Brasil (2013, p. 15) O gráfico demonstra um aumento significativo no número de jovens privados de liberdade com matriculas ativas em escolas de educação básica. Esse dado expressa quão importante é a atuação da escola nesse processo de reabilitação e inserção social do jovem novamente a sociedade. Além de todos esses amparos legais, o jovem e adolescente privado de liberdade tem direito ao Plano Individual de Atendimento (PIA), que vamos conhecer a seguir. 4 PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO (PIA) O Plano Individual de Atendimento (PIA) é um documento que contém orientações para elaboração do Plano Individual de Atendimento de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento. Ele foi criando em 2017 e destina- se principalmente aos gestores municipais e estaduais da Assistência Social e às equipes dos serviços de acolhimento. 94 UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE O Plano Individual de Atendimento (PIA) é um instrumento que norteia as ações a serem realizadas para viabilizar a proteção integral, a reinserção familiar e comunitária e a autonomia de crianças, adolescentes afastados dos cuidados parentais e sob proteção de serviços de acolhimento. É uma estratégia de planejamento que, a partir do estudo aprofundado de cada caso, compreende a singularidade dos sujeitos e organiza as ações e atividades a serem desenvolvidas com a criança/adolescente e sua família durante o período de acolhimento (BRASIL; MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E AGRÁRIO, 2017, p. 5). Sendo um plano que compreende as especificidades de cada jovem e adolescente, o PIA se torna um importante instrumento de reabilitação social, uma vez que prevê planos de acompanhamento para cada criança de acordo com suas necessidades emocionais, sociais e familiares. Ainda possui duas dimensões complementares de acompanhamento, a Dimensão Avaliativa Interdisciplinar e a Dimensão de Planejamento Operativo. A Dimensão Avaliativa Interdisciplinar consiste em reunir informações relevantes sobre o jovem e os motivos que o levaram ao acolhimento. É composto pelas suas relações familiares e principais necessidades. Os objetivos dessa dimensão de acompanhamento são: • Conhecer as razões, os motivos e as circunstâncias em que ocorreu a situação de afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar. • Levantar as particularidades, potencialidades e necessidades específicas da criança, adolescente e seu grupo familiar. • Escutar as crianças e os adolescentes e conhecer suas ideias e planos de vida. • Avaliar de forma criteriosa os riscos a que estão submetidos à criança ou adolescente. • Avaliar as condições da família para a superaçãodas violações e provimento de proteção e cuidados. • Levantar as necessidades e os direitos da família que estão ameaçados ou violados, bem como, informações sobre os atendimentos que recebeu anteriormente, para os devidos encaminhamentos. • Fornecer e organizar as informações necessárias ao planejamento das ações cotidianas visando promover: acolhimento, reparação, socioeducação, proteção integral, reinserção familiar, autonomia e emancipação (BRASIL; MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E AGRÁRIO, 2017, p. 5-6). Vemos que o foco principal da Dimensão Avaliativa Interdisciplinar é na realização de um resgate histórico da vida familiar e social da criança, de forma a conhecê-la e saber o que ocorreu em sua trajetória. De forma complementar, a Dimensão de Planejamento Operativo consiste em traçar estratégias de acordo com as especificidades encontradas nos casos. Assim, essa dimensão possui os seguintes objetivos: TÓPICO 3 | OS DIREITOS EDUCACIONAIS DE ADOLESCENTES E JOVENS EM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 95 • Acolhimentos de boa qualidade, oferecendo aos jovens estabilidade e continuidade no cuidado. • Uma experiência positiva de educação. • A evolução e as respostas às necessidades de saúde emocional dos jovens; • Uma preparação nas competências de autocuidado. • Condições ambientais protetivas para desenvolver a resiliência, enquanto uma capacidade relacional (BRASIL; MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E AGRÁRIO, 2017, p. 6). Dessa forma, o PIA (Plano Individual de Atendimento) deve ser elaborado “imediatamente após a chegada da criança/adolescente ao serviço de acolhimento, visando alcançar, no menor tempo necessário, indicadores para respostas de caráter definitivo e compatíveis à história de vida das crianças e adolescentes acolhidos” (BRASIL; MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E AGRÁRIO, 2017, p. 8). Além disso, o PIA tem caráter processual, ou seja, ele realiza um acompanhamento contínuo tanto do adolescente como de sua família, de modo que os resultados conquistados sejam efetivos e duradouros. Seu objetivo é que mesmo depois do período de internação, o adolescente continue tendo um acompanhamento para que ele seja efetivamente reintegrado à sociedade. FIGURA 12 - JOVENS EM REALIZANDO ATIVIDADES SOCIOEDUCATIVAS FONTE: <https://iases.es.gov.br/iases-promove-oficinas-socioeducativas-que-es>. Acesso em: 22 jan. 2020. Assim, é importante que o PIA desenvolva metas e estratégias que vá além do período de acolhimento. Ele visa a um trabalho que se estenda de forma permanente na vida social e profissional do jovem, de modo que ele não volte à situação em que estava. Nesse sentido, o PIA elaborou alguns pontos que devem obrigatoriamente conter no processo de reabilitação dos jovens, visando ações específicas para o desenvolvimento de estratégias e trabalhos nos seguintes quesitos: 96 UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE • história pessoal e familiar; • situação escolar e de aprendizagem; • convivência familiar, comunitária e das redes sociais de apoio; • relacionamentos e interações afetivas no espaço interno do serviço de acolhimento (entre cuidadores/equipe técnica, cuidadores/ crianças e adolescentes, equipe técnica/crianças e adolescentes e entre os coetâneos); • relações sociais e afetivas nos espaços externos ao serviço de acolhimento (grupo de amigos, profissionais dos serviços de apoio, grupos culturais, esportivos, artísticos); • ingresso no mundo do trabalho; • construção de projetos de vida (BRASIL; MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E AGRÁRIO, 2017, p. 10-11). O PIA demonstra que é importante que os jovens sejam estimulados a criar expectativas quanto a sua vida nos diferentes âmbitos, sejam eles sociais, profissionais ou familiares. Esse trabalho educativo favorece a autoestima do jovem e seus laços com a sociedade. Uma vez se sentindo parte desse ambiente e acolhido socialmente, a tendência é que o ciclo de violência se rompa, e novas perspectivas passem a surgir. Para compreender como essas medidas se aplicam de forma objetiva, na próxima seção, vamos conhecer um pouco sobre o trabalho educativo realizado em um dos centros de atendimento socioeducativos ao adolescente localizado no Estado de São Paulo: a Fundação CASA. 5 A FUNDAÇÃO CASA A Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA), é uma instituição vinculada à Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania. Seu trabalho consiste em aplicar medidas socioeducativas de acordo com as diretrizes e normas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). [Ela] presta assistência a jovens de 12 a 21 anos incompletos em todo o Estado de São Paulo. Eles estão inseridos nas medidas socioeducativas de privação de liberdade (internação) e semiliberdade. As medidas — determinadas pelo Poder Judiciário — são aplicadas de acordo com o ato infracional e a idade dos adolescentes (A FUNDAÇÃO, 2014, s.p.). TÓPICO 3 | OS DIREITOS EDUCACIONAIS DE ADOLESCENTES E JOVENS EM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 97 FIGURA 13 – FACHADA DA FUNDAÇÃO CASA FONTE: <http://www.fundacaocasa.sp.gov.br>. Acesso em: 24 jan. 2020. Todos os adolescentes da Fundação CASA vão à escola, tendo acesso ao Ensino Fundamental e Médio. Existem resoluções da Secretária de Estado da Educação, específicas para o desenvolvimento da escolarização para todas as modalidades de internação, conforme determina o ECA e as Resoluções da Secretaria de Estado da Educação. Para que haja garantia da escolarização, a Fundação possui parceira com a Secretaria Estadual de Educação, que determina as escolas vinculadoras de acordo com a localização dos centros socioeducativos e das escolas estaduais. [As escolas] matriculam os jovens que cumprem medida socioeducativa de internação e dispõem de professores não efetivos para darem aulas nos centros da Fundação CASA (ENSINO, 2010, s.p.). Além disso, a Fundação conta com projetos específicos dentro do próprio centro. Seguem três projetos que fazem parte do projeto pedagógico e são oferecidos aos jovens e adolescentes. PROJETO: REVITALIZANDO A TRAJETÓRIA ESCOLAR (PRTE) • CONTEXTUALIZAÇÃO: a maioria dos adolescentes que cumprem a medida socioeducativa de internação têm defasagem escolar em relação à idade. Por isso, eles são inseridos no Projeto Revitalizando a Trajetória Escolar (PRTE). • OBJETIVOS: buscar o desenvolvimento de habilidades e competências por meio da contextualização do ensino, em que o aluno é incentivado a analisar, comparar, confrontar e sintetizar o conhecimento. • ATENDIMENTO: as salas de aula nos centros são divididas por níveis: ◦ Ciclo 1: da 1ª a 4ª série ou 2° ao 5° ano; ◦ Ciclo 2: da 5ª a 8ª série ou 6° ao 9° ano; ◦ Ensino médio 3: da 1ª a 3ª série do ensino médio. FONTE: Adaptado de <http://www.fundacaocasa.sp.gov.br/View.aspx?title=ensino&d=353>. Acesso em: 7 abr. 2020. 98 UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE PROJETO: FORMAÇÃO ABRANGENTE • CONTEXTUALIZAÇÃO: para não se restringir somente a escolarização, a ação pedagógica da Fundação, traçou alguns projetos ao Ensino Não Formal. Consiste em toda uma gama de atividades é coordenada por quatro gerências (escolar, educação profissional, arte e cultura e esportes) subordinadas à Superintendência Pedagógica, que por sua vez é vinculada à Diretoria Técnica da Instituição. • OBJETIVOS: completar a formação dos jovens. São ministradas oficinas de educação profissional, arte e cultura e esportes. Cada uma destas áreas é vinculada a uma gerência específica, de modo que todos os centros da Fundação CASA falem a mesma língua no setor pedagógico, respeitadas as diferenças regionais. • ATENDIMENTO: no caso da iniciação profissional, os cursos oferecidos seguem a vocação econômica das regiões onde os jovens moram e são atendidos, e estão divididos em oito áreas: administração; alimentação; artesanato; construção e reparos;telemática/informática; serviços (como jardinagem, corte e costura, mecânica de moto, entre outros); serviços pessoais – beleza, estética e saúde; e turismo e hotelaria. FONTE: Adaptado de <http://www.fundacaocasa.sp.gov.br/View.aspx?title=iniciacao- profissional&d=153>. Acesso em: 7 abr. 2020. PROJETO EDUCAÇÃO E CIDADANIA (PEC) • CONTEXTUALIZAÇÃO: incentivo à educação cidadã e à escolarização. • OBJETIVO: proposta de escolarização disseriada, baseada numa Pedagogia de Projetos, criada e desenvolvida pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). • ATENDIMENTO: aos jovens que estão em Internação Provisória (com permanência de até 45 dias). FONTE: Adaptado de <http://www.fundacaocasa.sp.gov.br/View.aspx?title=ensino&d=353>. Acesso em: 7 abr. 2020. Para compreender melhor a realidade da Fundação Casa, a TV Gazeta realizou um documentário sobre o assunto e está disponível no link a seguir: https://www.youtube. com/watch?v=44cKGvtWZVo;list=RDCMUCwQ6N3gJGWFG8bXgaxkedIw;start_radio=1;t=18. DICAS TÓPICO 3 | OS DIREITOS EDUCACIONAIS DE ADOLESCENTES E JOVENS EM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 99 LEITURA COMPLEMENTAR JOVENS EM LIBERDADE ASSISTIDA Jacqueline de Oliveira Moreira Andréa Maris Campos Guerra Carlos Roberto Drawin [...] A medida de liberdade assistida, assim como a de prestação de serviço à comunidade, integra as medidas em meio aberto, ou seja, medidas em que o adolescente não sofre nenhuma sanção à sua liberdade e permanece na sua comunidade e junto à família durante a execução da mesma. Porém, a liberdade assistida visa ao acompanhamento da vida social do adolescente por um técnico durante o cumprimento da medida. Esse acompanhamento busca garantir a proteção do adolescente, sua inserção na comunidade, na escola e na formação para o trabalho, os vínculos familiares e principalmente sua responsabilização frente ao ato infracional cometido (BRASIL, 1990). As medidas mais gravosas previstas são a semiliberdade e a internação. A semiliberdade é restritiva em relação à liberdade de ir e vir, enquanto a internação estabelece uma ação de privação da liberdade. Na semiliberdade, os adolescentes mantêm diversos vínculos externos cotidianamente, como a escola, trabalho e, com frequência, os finais de semana no convívio com os familiares. A medida de internação priva, de maneira bem mais incisiva, o adolescente do convívio externo, pois as possibilidades de saída, restritas, serão construídas ao longo do cumprimento da medida em meio fechado. Ambas as medidas, restritiva e privativa de liberdade, possuem uma proposta de trabalho socioeducativo com base na garantia de direitos, mas também buscam a responsabilização do adolescente frente ao ato cometido como uma das condições para sua extinção em um prazo de até três anos, que é o tempo máximo de sua execução (BRASIL, 1990). Contudo, no contexto das políticas públicas pode-se dizer que o ECA (Brasil, 1990), ao propor as medidas socioeducativas, não legisla sobre as diretrizes de aplicação dessas medidas. Frente à ausência de diretrizes claras e específicas para a execução das medidas socioeducativas por parte das instituições e profissionais que atuam nessa área, criou-se o Sistema Nacional Socioeducativo (SINASE; Lei 12.594/2012), que dispõe sobre os sistemas de atendimento socioeducativo, regulamenta a execução das medidas destinadas ao adolescente, em razão de ato infracional (BRASIL, 2012). O SINASE é composto por princípios, regras e ações jurídicas, políticas, financeiras e administrativas, presentes no contexto do trabalho com o adolescente autor de ato infracional, desde a apuração do ato até a execução das seis medidas socioeducativas. 100 UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE O SINASE fornece as diretrizes e os eixos estratégicos para a execução das medidas socioeducativas de meio aberto e fechado. No entanto, fornecer as diretrizes não é o mesmo que indicar formas de operacionalização do trabalho no cotidiano. É preciso que o trabalho seja realizado e publicado para que possamos reconhecer seus avanços e obstáculos, prosseguindo, dessa forma, na construção de estratégias mais eficientes e éticas. Assim, esperamos que esta pesquisa, que trabalha o estado da arte nacional sobre o tema do adolescente em conflito com a lei, possa contribuir para localizar questões e pensar novas estratégias. O procedimento metodológico de pesquisa foi o de buscar nos indexadores Scielo e Pepsic a produção científica, no campo da psicologia, sobre o referido tema, com o recorte temporal de 12 anos – 2000 a 2012. Cabe ressaltar que esta revisão de literatura foi realizada em janeiro de 2013. Parece-nos importante mencionar que usamos os termos adolescência, medidas socioeducativas, adolescente em conflito com a lei, ECA, adolescente autor de ato infracional como descritores de busca, sendo que foi possível localizar 59 artigos a partir desses termos. Todos os artigos foram estudados e fichados a partir dos seguintes critérios: ano, estado brasileiro, método (estudos teóricos ou estudos empíricos), problema, hipótese central, principais conceitos, autores de referência, principais ideias e argumentos e, por fim, conclusão ou resultados. A escolha pelo estudo de cada artigo a partir desses critérios expressa a intenção de construir uma categorização dos artigos e, posteriormente, produzir textos sobre cada categoria. Podemos definir a presente pesquisa como uma pesquisa documental, porque consideramos a produção cientifica na área da psicologia como um documento que revela as posições desse campo de saber diante do tema da adolescência e das medidas socioeducativas. Segundo Laville e Dione (1999), a pesquisa documental em ciências humanas tenta reunir as fontes de informações já existentes sobre o tema investigado. "Resume-se em reunir os documentos, em descrever ou transcrever eventualmente seu conteúdo e talvez em efetuar uma primeira ordenação das informações para selecionar aquelas que parecem pertinentes" (LAVILLE; DIONE, 1999, p. 168). Importa, pois, fazer sua triagem, julgar sua qualidade às necessidades da pesquisa, criticá-las e categorizá-las ou codificá-las. Assim, dos 59 artigos lidos, localizamos, no grupo denominado Outros, nove artigos excluídos da análise em função de sua distância em relação à investigação, ora por recrutarem o tema das medidas socioprotetivas (NASCIMENTO; LACAZ; TRAVASSO, 2010), ora por focarem temas de muita amplitude, como as múltiplas faces da violência (SILVA, 2007) ou o tema da maioridade penal na América latina (LOPEZ, 2004). Para realizar essa empreitada investigativa, estivemos atentos aos três obstáculos que Gomes (2001) destaca em relação aos riscos da pesquisa social: (a) a ilusão do pesquisador em concluir pelo que lhe é familiar e conhecido; (b) o pesquisador esquecer os significados presentes em seus dados; (c) o pesquisador produzir um distanciamento entre a fundamentação teórica e a prática da pesquisa. Esse cuidado se deu pelo fato de sabermos que toda pesquisa que aborda uma problemática social, mesmo que a partir de uma perspectiva subjetiva, insere-se TÓPICO 3 | OS DIREITOS EDUCACIONAIS DE ADOLESCENTES E JOVENS EM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 101 em um contexto histórico, ideológico e multidisciplinar, exigindo um olhar crítico e transversal. Quando sujeito e objeto possuem a mesma natureza no âmbito da investigação científica, "essa mesma realidade é mais rica que qualquer teoria, qualquer pensamento e qualquer discurso que possamos elaborar sobre ela. Portanto, os códigos das ciências que por sua natureza são sempre referidos e recortados são incapazes de a conter" (MINAYO, 2001, p. 15). Assim advertidos, trabalhamos com a análise de conteúdo, orientada pela construção iterativa de explicação (LAVILLE; DIONE, 1999). A análise partiu da leitura comentada de cada artigo, seguindo categorias como tema, objeto e objetivo do texto, argumentos e conclusão.Procedemos, então, à reestruturação dos conteúdos a partir desses tópicos e, em seguida, recortamos os elementos, ordenados em conformidade com os mesmos. Todos os artigos assim reorganizados foram apresentados e discutidos semanalmente junto ao coletivo da pesquisa para, finalmente, extrairmos sua categorização a partir do modelo de grade aberta, no qual "as categorias não são fixas no início, mas todas tomam forma no curso da própria análise" (LAVILLE; DIONE, 1999, p. 219), chegando às três grandes categorias apresentadas a seguir. Como se tratava de uma pesquisa exploratória, optamos pela construção iterativa de uma explicação enquanto modelo qualitativo de análise de conteúdo. Nele não se supõe a presença prévia de um ponto de vista teórico, elaborando o pesquisador, pouco a pouco, "uma explicação lógica do fenômeno ou situação estudados, examinando as unidades de sentido, a inter-relação entre elas e entre as categorias em que elas passam, então, a estar inseridas" (LAVILLE; DIONE, 1999, p. 227). Cabe ressaltar, em nossa investigação, os limites das fontes ou arquivos dos quais decidimos nos valer. Construir o estado da arte nacional sobre o tema da adolescência e infração, partindo inicialmente dos periódicos científicos nacionais reunidos em duas bases digitais, implica um primeiro viés que orienta a tomada de vista de um problema que, sabemos, ultrapassa essa fronteira. Temos conhecimento de que, de saída, essa escolha já constrange nosso objeto de análise, tendo em vista o que se escreveu e publicou em outras fontes, acadêmicas ou não. Não podemos desconsiderar também o desestímulo à produção científica pelos trabalhadores, cotejado com a exigência de produtividade dos professores/pesquisadores no plano, não apenas nacional, de exigência quantitativa de produção acadêmica. Em razão disso, torna-se impossível não considerar o texto não registrado nas revistas científicas especializadas em nossa análise, posto mesmo que essa pesquisa só aconteceu em função do encontro real entre uma demanda de trabalhadores e a universidade. Roudinesco (2006), ao tratar do poder arcôntico do arquivo, afirma que seu poder governador e legislador emana de seus próprios limites. Se tudo está arquivado, anotado e julgado, não há possibilidade de criação. Por outro lado, se nada está arquivado, se tudo está apagado e destruído, resta a fantasia ou a soberania delirante do eu. Entre esses dois limites – a interdição do saber absoluto e a interdição da soberania do eu –, o arquivo é a condição da história. Partamos de seus limites como horizonte ético de nossa investigação. 102 UNIDADE 2 | FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE Assim, os dados foram organizados a partir nove critérios (ano, estado brasileiro, método [estudos teóricos ou estudos empíricos], problema, hipótese central, principais conceitos, autores de referência, principais ideias/argumentos, conclusão/resultados). Todas as categorias são importantes na apreensão dos artigos. Todavia, cabe ressaltar que os itens método e problema se mostraram decisivos para realizar a tarefa de categorização. O item método permitiu perceber que 50% dos artigos podem ser organizados em torno do eixo estudos empíricos, pois são relatos de experiências (GALO, 2008; SILVA; OLIVEIRA; PICCIONE; LEMOS, 2008), trabalhos de escuta dos atores envolvidos (ARANZEDO; SOUZA, 2007; CELLA; CAMARGO, 2009; COUTINHO; ESTEVAM; ARAÚJO; SILVA 2011) e pesquisas originais (MENUCUCCI; CARNEIRO, 2011; ZAPPE; RAMOS, 2010). Os outros 25 artigos apresentam estudos teóricos, sendo que 16 elegem por problema o estudo da política (MONTEIRO, 2006), das leis (ALVES; PEDROZA; PINHO; PRESOTTI; SILVA, 2009; BRITO, 2007; COSTA; ASSIS, 2006; SARTORIO; ROSA, 2010; SILVA; LEMOS; MELO, 2011; SILVEIRA, 2012) e das instituições (ROSÁRIO, 2004; VICENTIN, GRAMKOW; ROSA, 2010) e os outros nove apresentam tentativas de pensar determinantes psicossociais para o fenômeno da violência e criminalidade juvenil (ALMEIDA; SILVA, 2004; COSTA; ALMEIDA, 2007; JOST, 2010; MONTE, SAMPAIO, ROSA FILHO; BARBOSA, 2011; SANTOS; ZEITOUNE, 2011; SPAGNOL, 2005). FONTE: MOREIRA, Jacqueline de Oliveira; GUERRA, Andréa Maris Campos; DRAWIN, Carlos Roberto. Violência juvenil e medidas socioeducativas: Revisão de Literatura. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 33, p. 1-9, out. 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v33/0102- 3772-ptp-33-e3337.pdf. Acesso em: 7 abr. 2020. 103 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A base legal para as medidas socioeducativas é encontrada no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que objetiva apoiar e reabilitar os jovens que cometeram atos infracionais. Diferentemente de uma perspectiva punitiva, as medidas socioeducativas incentivam o jovem a se integrar novamente à sociedade, a reparar o dano cometido, e a exercer ações de cidadania. Todas as medidas propostas aos jovens são acompanhadas e fiscalizadas pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), responsável por regulamentar a execução das medidas destinadas a adolescente que pratique ato infracional. • Os atos infracionais mais comuns ocorrem com jovens e adolescentes que estão em situação de vulnerabilidade social a e familiar. • Roubo e tráfico de drogas são as causas mais frequentes que levam esses jovens a reabilitação. Por isso é muito importante que eles possuam um acompanhamento específico. Para tanto, foi implantado o Plano Individual de Atendimento (PIA), um documento que contém orientações para elaboração do Plano Individual de Atendimento de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento. • O PIA consiste em levantar informações sobre o adolescente para traçar estratégias efetivas para que ele seja reabilitado. O plano tem objetivos em longo prazo, realizando acompanhamento do jovem mesmo depois de liberto, de forma que ele possa continuar a ter apoio e assistência, não voltando a atividades ilegais. • Os jovens em medidas socioeducativas têm direito a educação e a continuar seus estudos, sejam dentro dos próprios internatos ou em escolas regulares de ensino conveniadas ao trabalho socioeducativo. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 104 1 A medida socioeducativa é uma das ferramentas propostas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para que o jovem que cometeu ato infracional seja reabilitado e reeducado. De acordo com o ECA constituem- se medidas socioeducativas: a) ( ) A prisão preventiva do adolescente em regime de privação da liberdade. b) ( ) Somente a advertência verbal e a obrigação de reparação do dano. c) ( ) A liberação do jovem aos responsáveis mediante ato infracional cometido. d) ( ) Punição do jovem de acordo com a gravidade do ato cometido. e) ( ) Advertência verbal, obrigação de reparação do dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semiliberdade e internação em estabelecimento educacional. 2 São direitos garantidos ao adolescente que cumpre medidas socioeducativas em regime de internação: a) ( ) Sair ao final de semana, desde que seja para ficar com a família. b) ( ) Ter acesso à educação básica e profissionalizante. c) ( ) Ter sua pena diminuída caso seja réu primário. d) ( ) Possuir trabalho formal de até seis horas por dia. e) ( ) Realizar passeios externos mediante autorização prévia. 3 Elabore um projeto voltado para alunos da Fundação Casa, que possa auxiliar jovens infratores na reabilitação deles para a sociedade e compartilhe com os colegas. Discuta planos possíveis de execução como fonte de recursos para execução, público alvo, ambiente de implementação, formas de avaliação e resultados esperados do projeto. AUTOATIVIDADE 105 UNIDADE 3 COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEMPLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você deverá ser capaz de: • apresentar o conceito de projetos pedagógicos das unidades escolares e o processo de produção e implementação do projeto pedagógico; • compreender os princípios da gestão democrática escolar e os desafios dessa atuação; • inteirar-se do modelo de educação integral compreendendo como a formação do aluno é priorizada nesse modelo; • conhecer as tendências educacionais internacionais para a construção de novas experiências educacionais no Brasil. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PROJETOS PEDAGÓGICOS COMO ESTRATÉGIA DOCENTE E GESTIONÁRIA TÓPICO 2 – ESCOLAS PARA A FORMAÇÃO INTEGRAL DO SER HUMANO TÓPICO 3 – TENDÊNCIAS INTERCIONAIS PARA A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 106 107 TÓPICO 1 PROJETOS PEDAGÓGICOS COMO ESTRATÉGIA DOCENTE E GESTIONÁRIA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A escola é uma instituição complexa e necessita de que os funcionários estejam alinhados entre si para alcançarem objetivos em comum e, dessa forma, garantir qualidade educacional aos estudantes que frequentam as instituições. Para a estruturação do corpo de funcionários da escola e alinhamento de objetivos é importante a estruturação de documentos que direcionem as ações escolares entre todos os atores. Esse documento escolar é chamado Projeto Pedagógico e é formulado por todos os envolvidos no processo escolar e articulado pela gestão escolar que necessita ter habilidade para promover um trabalho de sucesso na unidade educacional. Neste tópico vamos compreender melhor o que é esse Projeto Pedagógico, como ele é formulado e sua importância, assim como o papel da gestão escolar nessa implementação. 2 PROJETO PEDAGÓGICO As instituições escolares funcionam em diversas camadas, por exemplo, discentes, docentes, gestão, funcionários, comunidade, supervisão e até mesmo a rede como um todo. Para gerir uma instituição complexa como a descrita, é necessária uma boa equipe gestionária e os segmentos internos da escola estarem alinhados com a visão do local de trabalho. Para alcançar os objetivos propostos pela escola é importante estabelecer documentos que alinhem os objetivos e metas coletivamente entre todos os envolvidos. Um documento fundamental para a instituição escolar é o Projeto Pedagógico. Este documento é próprio de cada escola e o ideal é estabelecê-lo democraticamente, ou seja, com a participação e o debate de todos os envolvidos no funcionamento e na rotina escolar. UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE 108 O Projeto Pedagógico descreve um contexto institucional que vai para além da estrutura física do local, mas que também caracteriza o quadro discente, docente, funcional e o entorno escolar com as famílias e características sociais e econômicas desse local em que a escola está inserida. Outra função do Projeto Pedagógico é definir os pressupostos, sonhos e metas dos envolvidos na realidade escolar própria de cada instituição. Vale destacar que não se trata apenas dos anseios e necessidades do quadro docente, discente, de funcionários e gestionário da escola, mas também da comunidade e do entorno escolar. É interessante que o ideário da gestão acerca da comunidade escolar não seja restrito apenas aos envolvidos no espaço físico diário da escola e que procure incluir todos compreendidos nesse processo educacional, sejam pais, alunos, professores, moradores do bairro onde está situada a escola, gestores e funcionários. É função da gestão escolar integrar os diversos setores da comunidade e incentivar a participação democrática na construção do Projeto Pedagógico. Lembre-se de que a escola dos sonhos é a junção dos sonhos de todos os envolvidos. O documento possui uma duração que oscila entre dois e cinco anos antes de ser refeito novamente. Esse prazo estabelecido é importante por conta das transformações que podem ocorrer nas escolas diariamente, dada a dinamicidade do ambiente escolar. Para a construção efetiva do Projeto Pedagógico é importante discernir as diferenças entre proposta, plano e projeto. A proposta é um documento limitado, pois dura um período menor de tempo e possui efetividade em avaliação pelo grupo, assim como a facilidade de revogação. Porém é um documento referencial importante que conduz a vida coletiva, um documento provisório e aberto (GADOTTI, 2003). O projeto, por sua vez, é um documento permanentemente em construção. É amplo sobre a realidade projetada e aborda diferentes perspectivas da instituição, além de incorporar diferenças de pensamento dos diversos segmentos e delimitar um projeto em comum (GADOTTI, 2003). Tanto a proposta quanto o projeto são relacionados, pois apresentam semelhanças na sua concepção, mas não são a mesma coisa dada à durabilidade e ao envolvimento que diferem (GADOTTI, 2003). TÓPICO 1 | PROJETOS PEDAGÓGICOS COMO ESTRATÉGIA DOCENTE E GESTIONÁRIA 109 FIGURA 1 – PLANEJAMENTO COLETIVO FONTE: <https://fleeg.com/wp-content/uploads/como-calcular-metas-de-vendas-300x157.png>. Acesso em: 29 jan. 2020. O plano também difere do Projeto Pedagógico. Na escola há a presença do Plano Diretor, por exemplo. O Plano Diretor é um documento voltado para objetivos e metas escolares estabelecidos pela gestão e pode incluir aspectos burocráticos, pedagógicos e organizacionais mais pontuais e objetivos para a execução da rotina escolar. O Projeto Pedagógico mesmo que possua metas e objetivos para a escola, é diferente de um Plano Diretor, por exemplo, pois não se trata apenas de objetivos e alcance de metas, mas também de um formato social a ser construído, um ambiente democrático de formação a ser criado. Portanto, percebe-se que o Projeto Pedagógico não pode ser confundido com outros documentos escolares como Proposta e Plano, assim como deve ser construído coletivamente com durabilidade razoável para manter a identidade escolar. Você pode aprender mais sobre Projeto Pedagógico acessando o link do Ministério da Educação (MEC), que coloca as orientações básicas para a formulação de um projeto pedagógico: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/orientacoes.pdf. Há também o vídeo com o prof. João Carlos Martins descrevendo mais detalhes sobre o Projeto Pedagógico escolar: https://www.youtube.com/watch?v=Te-xacwkf-w. DICAS UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE 110 3 FATORES FACILITADORES E DIFICULTADORES PARA O PROJETO PEDAGÓGICO: DA CONCEPÇÃO À IMPLEMENTAÇÃO Acerca da função do Projeto Pedagógico, Moacir Gadotti (1994) define que se trata de confrontar o instituído com o instituinte, ou seja, aquilo que já é realidade escolar com o que se pretende inserir, é uma provocação para alcançar algo novo. É um horizonte a ser atingido. Para a composição de tal cenário, há necessidade de mudança de postura sistemática da comunidade escolar como um todo diante do desafio de formular a escola desejada. Essa alteração se dá de um olhar estático e apenas burocrático da instituição, para um olhar dinâmico e disposto a se comprometer na formulação do projeto e posteriormente, na implementação dessa nova escola proposta. É preciso a abertura para o novo e para gerar a escola idealizada ou ao menos, se aproximar o máximo possível dessa realidade almejada coletivamente. Porém há alguns obstáculos para a formulação e implementação de um Projeto Pedagógico coeso e que abranja uma visão mais geral de todos os envolvidos na escola. Um deles é a mentalidade burocrática na escola que foca somente a rotina sem repensar a própria prática. Outro obstáculo é o ambiente desfavorável da comunidade que por vezes não consegue se engajar na participação desse Projeto. A falta de clareza por parte da direçãoescolar na compreensão e ou exercício dos conceitos democráticos defendidos inclusive pela LDB pode ser outro obstáculo que dificulte a formulação e implementação efetiva do Projeto Pedagógico. Uma possibilidade impeditiva é a falta de investimento público em formação para melhorias das informações dos gestores direcionadas para projetos pedagógicos. Assim como é importante compreender quais são os possíveis obstáculos para elaboração de um Projeto Pedagógico para dar atenção a esses fatores, também é fundamental compreender as condições para a sua elaboração. Para a construção de tal Projeto é preciso dispor de ousadia, e, de acordo com Gadotti (1994), de alguns critérios fundamentais que serão expostos a seguir: • Consciência crítica: os envolvidos na formulação do Projeto precisam de criticidade na abordagem do próprio trabalho, assim como na percepção de mudanças necessárias para a melhoria do trabalho coletivo que resulta diretamente na aprendizagem dos alunos. • Envolvimento interno e externo: os participantes da rotina interna escolar precisam estar envolvidos ativamente no processo, assim como os externos, por exemplo, a rede de ensino e a supervisão para oferecer o suporte necessário para alcançar o melhor desenvolvimento da instituição escolar. TÓPICO 1 | PROJETOS PEDAGÓGICOS COMO ESTRATÉGIA DOCENTE E GESTIONÁRIA 111 • Participação e cooperação das várias esferas do governo: essa participação se faz de diversas maneiras, seja oferecendo suporte financeiro para as escolas, suporte formativo, consultivo, acompanhamento pontual dos gestores, produção de materiais informativos ou até mesmo campanhas voltadas para o tema. • Autonomia, responsabilidade e criatividade como processo e produto: a autonomia é parte fundamental do processo dada à singularidade de cada processo escolar, assim como a responsabilidade dos envolvidos ao adquirirem essa autonomia em realizar a melhor escola possível dentro dos seus recursos. Criatividade é indispensável, pois caracteriza a unicidade daquele corpo escolar. Após compreender as características que importam na construção do Projeto Pedagógico, sabe-se também que um Projeto envolve rupturas com o presente e promessas para o futuro. Envolve um amadurecimento escolar e um tempo específico de atuação entre as pessoas da escola (GADOTTI, 1994). Na formulação desse Projeto há dois momentos distintos, sendo o primeiro de concepção da ideia do Projeto Pedagógico da instituição escolar e um segundo momento o de implementação desse Projeto pelos membros ali presentes. Na concepção do Projeto Pedagógico está presente a intermediação e discussão de ideias dos diferentes envolvidos no processo, a avaliação do trabalho executado na instituição até então e quais os objetivos que se desejam alcançar. Os sonhos e expectativas se constroem nessa etapa do projeto. FICHAMENTO: você já conhece a prática do fichamento? É uma técnica importante para estudos que é para exercitar leitura, seleção e reescrita de um material de referência. Para saber mais, acesse o link a seguir: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile. php/3699948/mod_resource/content/1/fichamento.pdf. DICAS Na implementação do Projeto Pedagógico é o momento de colocar em ação o que foi proposto e mobilizar a equipe para a execução dele, assim como a reorientação, se necessária, no processo de implementação. Nessa etapa é fundamental a organização da ação coletiva para o alcance dos objetivos traçados, função que a gestão deve cumprir com a maior excelência possível. UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE 112 FIGURA 2 – PROJETO PEDAGÓGICO: CONCEPÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO FONTE: <http://twixar.me/WPqT>. Acesso em: 29 jan. 2020. Um estudo de Moacir Gadotti, em 1994, afirmou que há alguns fatores facilitadores para implementar um Projeto Pedagógico na escola. Esses fatores podem tornar a tarefa gestionária mais prática de execução e pode promover maior sucesso de implementação do Projeto Pedagógico. Esses fatores estão descritos no esquema a seguir: FIGURA 3 - ELEMENTOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO FONTE: A autora Comunicação Efetiva Adesão dos objetivos pela equipe Suporte para implementação Avaliações periódicas Atmosfera favorável Acompanhamento dos gestores e da rede escolar TÓPICO 1 | PROJETOS PEDAGÓGICOS COMO ESTRATÉGIA DOCENTE E GESTIONÁRIA 113 Para além dos critérios no esquema anterior, é considerável, nesta fase, a credibilidade dos propositores de iniciativas e o referencial teórico para o Projeto Pedagógico (GADOTTI, 1994). 4 COMPLEMENTAÇÃO DE ESTUDOS Como aprendemos, o fichamento é uma ferramenta de estudo que permite o estudante estar mais atento para as informações importantes do material estudado com o esforço de leitura, escrita e seleção de informações referenciadas. Vamos tentar fazer um exercício? Faça um fichamento sobre o Tópico 1 com as principais informações e registre por escrito. Compare o seu com o de um colega de classe e veja se faltam informações importantes e registre novamente. Esse fichamento será essencial para a realização das questões de autoatividade do Tópico 1. 5 CONSTRUÇÃO DA ESCOLA CIDADÃ A elaboração do Projeto Pedagógico visa à construção de uma escola autônoma e democrática para todos que ali aprendem e se reinventam. Começa no Projeto Pedagógico a educação para a cidadania. A educação para a democracia começa no ambiente escolar democrático. Para compreender o que é educar para a cidadania, a escola precisa compreender qual conceito de cidadania se pretende alcançar nas diversas concepções filosóficas da sociedade (GADOTTI, 1994). Um ponto de partida é compreender a concepção de direitos. Na perspectiva de Carvalho (2002) são divididos em três: os civis, os políticos e os sociais. Esses direitos possuem uma ordem de construção histórica em cada sociedade. Vamos começar com os direitos civis, que são aqueles conquistados enquanto direitos do indivíduo em uma sociedade, como a liberdade (CARVALHO, 2002). Em algumas sociedades europeias, os direitos civis foram os primeiros a serem conquistados. No caso do Brasil ainda estão em processo de conscientização pela população e dependem do nível de instrução (CARVALHO, 2002). Os direitos políticos são aqueles direcionados para a participação nas instâncias decisórias da sociedade, como nas casas legislativas ou quaisquer outras ações representativas do cidadão. No caso brasileiro, este foi o último direito adquirido, de acordo com a análise de referência. Portanto, ainda, o Brasil engatinha nesse sentido. Em outras organizações sociais, os direitos políticos foram conquistados logo após os civis (CARVALHO, 2002). UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE 114 E, por fim, os direitos sociais, direcionados para a participação da população na riqueza produzida por determinado contexto social. No Brasil, esse foi o primeiro direito adquirido e providenciado por governantes em troca de favores políticos, como votos populares. Essa ação construiu no ideário popular brasileiro que os direitos sociais são favores concedidos e que dependem da permanência de um governo específico (CARVALHO, 2002). FIGURA 4 – DIREITOS CIVIS, POLÍTICOS E SOCIAIS FONTE: <https://www.iped.com.br/_upload/content/2015/09/03/surgiram-direitos-humanos.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2020. Com a compreensão dos três direitos, pode-se inferir que adentrando no contexto escolar específico é necessária a educação para o aluno saber exercer os direitos presentes na sociedade. Para aprofundar o assunto, nesse sentido, Gadotti (1994) formulou que a escola que pretende inserir os valores da cidadania para a aprendizagem visa: • Educação e cultura da comunidade. • Democratização das relações escolares. • Superação da repetência e da avaliação com altos índices. • Formação interdisciplinar e transdisciplinar. • Formação permanente dos educadores. Os critérios abordados anteriormente são meios e fins de uma escola voltadapara a formação de uma sociedade mais crítica e consciente, com crianças socialmente bem formadas e preparadas para o exercício democrático. TÓPICO 1 | PROJETOS PEDAGÓGICOS COMO ESTRATÉGIA DOCENTE E GESTIONÁRIA 115 A democracia é parte protagonista para a construção de um projeto como esses dados os conceitos de autonomia e cidadania envolvidos nesse processo. Há necessidade de um clima democrático, uma cultura própria escolar. “A participação pertence à própria natureza do ato pedagógico” (GADOTTI, 1994, p. 3). A escola possui sua especificidade organizativa e sua própria maneira de ser gerida, apesar de não ter um clima organizacional de uma empresa propriamente dito (BETINI, 2005). Dessa forma, para construir um Projeto Pedagógico é necessária a gestão democrática por conta de a escola ser um ambiente para formação da cidadania e para abarcar elementos específicos da escola enquanto construção democrática. Para se formar, nesse ambiente, o aluno precisa ser sujeito da sua aprendizagem (GADOTTI, 1994). Uma forma dessa participação ser efetiva é a participação discente na formulação do próprio Projeto Pedagógico da escola. É importante diferenciar o Projeto Pedagógico de apenas uma peça que cumpre a função de burocratização da escola e que pode advir de instâncias superiores do sistema educacional, como secretarias de ensino. A escola cidadã prevê conduzir pessoas para um nível de participação institucional no poder público, assim como um nível de liberdade criativa e transformadora (PADILHA, 2002). FIGURA 5 – DEMOCRACIA E ALUNO CIDADÃO FONTE: <https://escolapt.files.wordpress.com/2018/01/mafalda-politica.jpg?w=700>. Acesso em: 27 jan. 2020. A autonomia compreende o papel da escola na sociedade democrática (AZANHA, 1998). A escola pública tem que ser vista como uma diversidade e não uma unidade na comunidade, pois possui diversos atores, contextos e locais de atuação com um grande conjunto de profissionais em disputa de interesses e em atuações diversas, por isso a importância da autonomia escolar e do ensino da autonomia aos alunos. UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE 116 Há muito esforço envolvido para um bom desempenho do Projeto Pedagógico que se relaciona com o futuro da instituição escolar. No contexto real, encontra-se a possibilidade do ideal (RIOS, 1992). Utopia é o ainda não realizado e não necessariamente o impossível de ser atingido (RIOS, 1992). É importante também focar os limites e possibilidades da própria escola, é um trabalho em processo, é acerca de permanência. O projeto é sobre ação e reflexão, pois extrapola para a construção de um projeto não apenas pedagógico, mas de sociedade para um futuro. FIGURA 6 - CONSTRUÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO FONTE: A autora A produção do Projeto Pedagógico é direcionada também para a produção da qualidade educacional da instituição escolar. O conceito de qualidade é socialmente construído e depende dos objetivos principais propostos. Um dos conceitos de qualidade é a denominada Qualidade Negociada, que ocorre entre escola, rede e poder público para então construir o conceito de qualidade daquele local, entre suas limitações e possibilidades (BETINI, 2005). Para tal, é imprescindível que a escola realize o diagnóstico de situações e avaliação constante do desenvolvimento para a elaboração de um projeto pedagógico (GADOTTI, 2003). Com essas ações é possível construir com maior facilidade o projeto pedagógico com o sentido de torná-lo um passo para a formação de pessoas cidadãs preparadas para o exercício da democracia. ReflexãoReflexão Ação Ação Construção Projeto Pedagógico TÓPICO 1 | PROJETOS PEDAGÓGICOS COMO ESTRATÉGIA DOCENTE E GESTIONÁRIA 117 Há uma produção interessante sobre escola cidadã disponível no link: https:// rbeducacaobasica.com.br/entrevista-escola-cidada/. É um vídeo produzido pela Revista Brasileira de Educação Básica em parceria com universidades e agências fomentadoras de pesquisa com entrevistas de professores de uma escola municipal em Minas Gerais com o tema escola cidadã. DICAS 6 GESTÃO ESCOLAR Na instituição escolar a gestão é parte fundamental para o alcance de objetivos propostos e até para a formação de um grupo coeso para alcance de qualidade educacional. Nesta seção vamos conhecer mais acerca da gestão democrática escolar e refletir sobre os elementos que constituem essa área pedagógica fundamental para o funcionamento escolar. Vamos começar pelos princípios da gestão escolar que de acordo com Lück (2009) são: o planejamento das ações, a organização das iniciativas, liderança dos envolvidos, orientação para as pessoas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem, mediação das relações do ambiente escolar, coordenação, monitoramento e avaliação dos processos. O gestor pode transitar entre esses princípios durante a sua função e necessita de ter domínio sobre todas elas. Todas as ações são pautadas principalmente para a aprendizagem e formação dos alunos do ambiente escolar. Dessa forma, é importante focar na qualidade social das crianças e dos funcionários do estabelecimento. Os diretores são articuladores de uma enorme teia de comunicação e elaboração de um trabalho (RIOS, 1992). Na finalidade de compreender melhor o processo de gestão, o Instituto Paulo Freire realizou uma pesquisa em 1987 a pedido do Conselho Nacional de Secretários da Educação, com o objetivo de realizar um levantamento acerca da Gestão Democrática do Ensino Público (PADILHA, 2002). UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE 118 Alguns dados desse levantamento são: 1- Capacitar todos os segmentos envolvidos, como pais, docentes, alunos, comunidade do entorno escolar e gestão. 2- Consultar a comunidade escolar através da realização de assembleias, seminários ou eventos outros que possam construir uma cultura participativa. 3- Institucionalizar a gestão democrática com a inclusão de regras a nível de secretaria de educação para as escolas da rede de ensino. 4- Lisura nos processos de definição da gestão com fiscalização dos trâmites ocorridos e fortalecimento do acompanhamento. 5- Agilização das informações e transparência nas negociações para acesso de toda a comunidade escolar. Para a gestão democrática ser exercida dentro da instituição escolar, os quesitos anteriores precisam ser bem construídos e não dependem apenas da gestão interna, mas também das outras instâncias que permeiam a escola, como secretaria de ensino ou supervisão escolar, por exemplo. Para gerir esse contexto complexo, a gestão escolar necessita de uma boa articulação entre seus membros. Marília Fonseca (2003) afirma em seu estudo que a liderança é um elemento central na contribuição da autonomia escolar. O diretor é um elemento central da questão da liderança exposta por Fonseca (2003). A direção escolar é formada pela direção, supervisão ou coordenação pedagógica, orientação educacional e a secretaria da escola. A direção não é unicamente burocrática, mas também pedagógica. O burocrático não pode ser confundido com o pedagógico e vice-versa, mas se entrelaçam entre si (LÜCK, 2009, p. 24): Gestão escolar é o ato de gerir a dinâmica cultural da escola, afinado com as diretrizes e políticas educacionais públicas para a implementação de seu projeto político-pedagógico e compromissado com os princípios da democracia e com os métodos que organizem e criem condições para um ambiente educacional autônomo, de participação e compartilhamento e autocontrole. A organização de pessoas é um dos focos da gestão. Como organizar, mediar conflitos e articular as mais diferentes ideias é uma habilidade diferencial do gestor, principalmente, em um ambiente em que as ideias são fundamentais para manter um trabalho de qualidade motivado. Outra questão importante é o olhar global para os problemas de uma instituição escolar que são inter-relacionados (LÜCK, 2009). É importante não isolar as questões como se fossem estáticasou isoladas, ou até mesmo, independentes de qualquer outro contexto ou aspecto escolar ou do processo educacional. Por exemplo, um problema de sala de aula que chega à direção pode ter relação direta com o professor, com colegas de sala de aula e com a família. Uma questão de problemas interpessoais entre professores pode ter relação com perfil profissional e o Projeto Pedagógico da escola, até mesmo com a organização interna da coordenação pedagógica ou da secretaria. TÓPICO 1 | PROJETOS PEDAGÓGICOS COMO ESTRATÉGIA DOCENTE E GESTIONÁRIA 119 FIGURA 7 – OLHAR GLOBAL PARA RELAÇÕES FONTE: <https://cafedasquatro.com.br/wp-content/uploads/2019/08/gestao-de-pessoas.jpg>. Acesso em: 25 jan. 2020. Os aspectos da cultura escolar é um cenário importante para ser compreendido pela gestão (LÜCK, 2009). Nesses aspectos estão inclusos o ideário escolar e os preceitos dos participantes daquela instituição, como crenças e hábitos. A junção desses aspectos forma uma cultura que demonstra uma maneira específica de conceber sociedade, trabalho, escola e comunidade almejada para um futuro. Outro aspecto escolar a ser compreendido pela gestão é a tecnologia daquele ambiente, ou seja, um modo específico de fazer as coisas (LÜCK, 2009). A forma específica da organização e os caminhos percorridos de decisão dentro da escola que independem das decisões superiores formam essa tecnologia escolar. A formação dos gestores escolares é fundamental para a construção de um ambiente escolar sólido. É por meio do conhecimento e da experiência adquirida nas formações que são tomadas decisões bem fundamentadas e não guiadas de uma maneira aleatória, como que por erro e acerto. Os locais que podem ser oferecidos para esses cursos são em secretarias de educação com formação continuada ou em centros educacionais como universidade, por exemplo. Para além das características do gestor, há as categorias que perpassam a gestão que são duas principais: organização e implementação. A organização envolve preparação das ações, provisão de recursos, sistematização do trabalho a ser realizado. Essas características organizativas não promovem efetivamente a gestão, mas são imprescindíveis. O outro segmento é o da implementação que promove a transformação das práticas educacionais na atuação do gestor com os projetos e planos propostos. Lück (2009) elaborou características de cada uma dessas etapas propostas. Vamos conhecer primeiro as características da dimensão organizativa da gestão: UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE 120 FIGURA 8 - ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ESCOLAR FONTE: A autora Agora, serão apresentadas as dimensões de implementação da gestão, que de acordo com Lück (2009), são as seguintes: FIGURA 9 – TIPOS DE GESTÃO NO AMBIENTE ESCOLAR FONTE: A autora TÓPICO 1 | PROJETOS PEDAGÓGICOS COMO ESTRATÉGIA DOCENTE E GESTIONÁRIA 121 Para a gestão obter um bom funcionamento é interessante possuir cuidados nesse processo gestionário, com o estabelecimento de objetivos claros, seleção de ações e recursos, colocar em prática planos estabelecidos e avaliar, conhecer com profundidade a realidade na qual é realizada a gestão. Acerca da avaliação é necessário distinguir avaliação de monitoramento. Avaliação é um processo interno da escola que percebe o andamento das atividades e o mantém ou o modifica a depender da demanda. Monitoramento é um processo avaliativo externo, que geralmente se impõe de instâncias superiores para gerir redes educacionais, ou seja, são processos diferentes (LÜCK, 2009). Dessa forma, também há diferença entre exame escolar e a avaliação escolar, dado que a avaliação é um planejamento mais minucioso do que se pretende avaliar, do objeto em avaliação. Já o exame escolar aprova ou reprova, classifica o discente diante do ocorrido no progresso avaliativo. Compreende-se, portanto, que a gestão escolar é fundamental para o funcionamento da instituição, assim como é de complexa execução para o alcance dos objetivos coletivos na escola descritos no Projeto Pedagógico. Para compreender a visão do MEC (Ministério da Educação) sobre gestão escolar, há um documento interessante e bem estruturado sobre o assunto disponível no link a seguir. Acesse e aprenda mais: https://rbeducacaobasica.com.br/entrevista-escola-cidada/. DICAS 122 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • O início da nossa jornada foi marcado pela definição de projeto pedagógico que é utilizado para delimitar os sonhos, objetivos e perspectivas da escola para com a sociedade. • Os aspectos definidos pelo projeto pedagógico precisam ser compartilhados e construídos entre todos os envolvidos da escola e da comunidade, intermediando opiniões e possíveis conflitos para maior riqueza do projeto. • A comunidade escolar e do entorno precisa compreender a visão de escola a ser construída e não apenas um olhar burocrático e estático da educação que engessa mudanças. • O projeto difere do plano de ensino, dado que o plano é por prazo limitado e com delimitações a curto prazo. Já o projeto é a médio/longo prazo e encaixa concepções maiores de visão escolar. • Os momentos do projeto são divididos em dois: o de concepção e o de implementação. Durante a concepção é o momento de elaborar as ideias e objetivos, já o da implementação é de colocar em prática e realinhar alguns elementos estabelecidos que podem ter sofrido alterações. • Há características importantes para a construção do Projeto Pedagógico definidos por Gadotti (1994): consciência crítica; envolvimento interno e externo; participação e cooperação das várias esferas do governo; autonomia, responsabilidade e criatividade como processo e produto. • Um dos desafios para essa construção é a visão burocrática da prática escolar, que visa somente à execução das atividades sem maiores projetos coletivos ou valorização da autonomia escolar. Outro desafio é a não implementação de gestão democrática que pode articular os atores escolares na construção de visão coletiva sobre o contexto escolar. • O ambiente adequado para a elaboração do projeto é uma escola democrática que articule as ideias de todos os membros escolares e da comunidade do entorno. Uma escola autônoma é o caminho a ser construído com o Projeto Pedagógico, relacionando o ideal e o real. • O resultado da elaboração de um bom projeto pedagógico é a construção de uma escola cidadã, com alunos autônomos e responsáveis pela própria aprendizagem e futuramente, um cidadão consciente e democrático. 123 • A escola é um local diverso e necessita de um gestor democrático e que possibilite a articulação entre os membros escolares, para assim, construir uma escola cidadã. • Os elementos que podem auxiliar na construção da gestão democrática na escola, de acordo com Padilha (2002) são: capacitar todos os segmentos envolvidos, como pais, docentes, alunos, comunidade do entorno escolar e gestão; consultar a comunidade escolar através da realização de assembleias, seminários ou eventos outros que possam construir uma cultura participativa; institucionalizar a gestão democrática com a inclusão de regras a nível de secretaria de educação para as escolas da rede de ensino; lisura nos processos de definição da gestão com fiscalização dos trâmites ocorridos e fortalecimento do acompanhamento; agilização das informações e transparência nas negociações para acesso de toda a comunidade escolar. • As características combinadas na gestão podem facilitar o surgimento da escola cidadã com qualidade social, ou seja, qualidade construída pelos parâmetros do Projeto Pedagógico escolar. • Os princípios da gestão escolar bem elaborada, de acordo com Lück (2009), são: planejamento das ações, a organização das iniciativas, liderança dos envolvidos, orientação para as pessoas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem, mediação das relações do ambiente escolar, coordenação, monitoramento e avaliação dos processos. • Entre essas característicasé importante a organização e mediação de conflitos entre docentes, discentes, funcionários e comunidade da escola. Para isso, é importante que o gestor possua conhecimento da etapa de organização e implementação de projetos, assim como a habilidade de envolver pessoas da gestão para auxiliar que conheçam a tecnologia (instrumentos e cultura) daquele ambiente escolar. • A gestão educacional envolve esses tipos de categorias: gestão democrática e participativa; gestão de pessoas; gestão pedagógica; gestão administrativa; gestões da cultura escolar; gestão do cotidiano escolar. 124 1 Construa um Projeto Pedagógico com base nos documentos indicados e na leitura do Tópico 1. Se reúna em grupo para elaborar esse Projeto e idealize uma escola com seus profissionais para atuação. Registre esse documento em grupo, pois será utilizado para outra atividade do Tópico 2 desta unidade. 2 O Projeto Pedagógico de uma escola é um documento essencial para nortear as práticas, sonhos e o trabalho escolar. É fundamental uma boa gestão escolar para mediar possíveis conflitos ou ideias conflitantes entre si. Assinale nas alternativas a função de um Projeto Pedagógico: a) ( ) Para representar interesses individuais de cada membro escolar. b) ( ) Demonstra somente o que a escola já construiu com o decorrer do tempo. c) ( ) Representa objetivos, sonhos e perspectiva para o prosseguimento da trajetória escolar composto por todos os envolvidos com a escola. d) ( ) Estimula a exclusão da comunidade escolar para ser construído apenas por docentes. 3 No contexto escolar há necessidade de boa organização, tanto burocrática quanto pedagógica. Para tal, existem documentos que orientam os diferentes segmentos escolares, como planejamento docente, plano escolar, projeto e proposta pedagógica. Qual é a diferença entre proposta, plano e projeto, respectivamente? a) ( ) Proposta é o documento mais amplo da escola e definitivo, plano é definido apenas pelos supervisores escolares e projeto é passageiro e narra apenas um aspecto do ambiente escolar. b) ( ) Proposta é um documento para ser implementado a curto/ médio prazo sobre alguns aspectos da escola, plano pode ser realizado pela gestão escolar por tempo determinado e projeto é mais abrangente e com maior durabilidade. c) ( ) Proposta é um documento que não é utilizado na escola, plano é o documento definitivo dos objetivos da escola e projeto é por um curto período de tempo. d) ( ) Proposta é um documento exclusivo da gestão, plano é exclusivo da comunidade e projeto é a união de todos os segmentos. AUTOATIVIDADE 125 4 Na escola de Suzana é ano de construir o Projeto Pedagógico. A escola possui uma grande equipe docente, assim como o quadro de funcionários. A comunidade ao redor necessita de estímulo da gestão para participar do processo de construção do Projeto Pedagógico. Analisando o contexto de Suzana e estendendo para outras instituições escolares, quais podem ser os obstáculos na formulação de um Projeto Pedagógico? a) ( ) O olhar burocrático da comunidade escolar e a não participação de todos na elaboração do projeto. b) ( ) A participação de todos os envolvidos da escola. c) ( ) A boa coordenação do gestor escolar. d) ( ) Infraestrutura adequada com avaliação e monitoramento regulares pelos gestores. 5 Os gestores escolares possuem uma função importante na escola por organizarem as ações e mediarem relações interpessoais, assim, a formação de gestores é essencial para a boa gestão. Quais são as características de uma gestão escolar? a) ( ) Autoritária e centrada na figura do diretor. b) ( ) Descentralizada e o diretor exerce apenas funções burocráticas. c) ( ) Centralizada nos professores e nos alunos como executores da função. d) ( ) Dividida entre os membros da gestão escolar e focada não apenas nas funções burocráticas como também nas pedagógicas. 6 Há diferentes modelos de gestão que podem ser aderidos em uma instituição. Pode ter um cunho voltado para as atividades burocráticas somente, pode ser centralizada apenas na figura do gestor ou pode um modelo democrático de gestão. Assinale qual é a importância da gestão democrática na escola. a) ( ) Para deixar a comunidade do entorno da escola confortável. b) ( ) Para estabelecer cultura democrática na escola e ser uma possibilidade de formação cidadã para os alunos. c) ( ) Para cumprir melhor as funções burocráticas do ambiente escolar. d) ( ) Para não ser obrigado a realizar formações ao decorrer da carreira de gestão. 126 127 TÓPICO 2 ESCOLA INTEGRAL UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A construção do ambiente escolar focado na qualidade educacional é um processo minucioso e construído a longo prazo, com o esforço e o trabalho de muitas mãos e mentes no transcorrer do tempo. Para a elaboração dessa nova escola, é interessante a construção de escolas multifuncionais, completas estruturalmente e um quadro de funcionários, que aderem ao novo conceito de sociedade contemporânea (FERREIRA, REES, 2015). O modelo de escola integral se aproxima com o desejo de um ambiente escolar que forme o aluno para a cidadania e o exercício pleno da democracia, pois oferece uma estrutura mais abrangente de atuação educacional. 2 A ESCOLA INTEGRAL E SUA CONSTRUÇÃO A construção de escolas integrais envolve uma estrutura financeira e ancoragem em políticas públicas consistentes que subsidiem a rotina escolar. Para além desses critérios, é importante que o corpo docente e gestionário envolvido estejam em coesão quanto ao objetivo do que se pretende com a escola a ser construída. E, por fim, a comunidade escolar, como um todo, precisa participar dessa construção e compreender o projeto de escola pelo qual se batalha, para que unidos com toda a estrutura colocada, se estabeleça uma escola de qualidade social. FIGURA 10 – ESCOLA INTEGRAL FONTE: <http://portal.mec.gov.br/images/stories/noticias/2015/to_edu_integral.jpg>. Acesso em: 26 jan. 2020. 128 UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE 3 ESCOLA INTEGRAL E ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL A escola integral não necessariamente está submetida ao tempo integral. O conceito de escola integral envolve estrutura e oferta de disciplinas e aulas que construam um novo tipo de sociedade a ser obtida. O tempo estendido pode contribuir nessa construção, porém não é garantidor de sucesso para escolas integrais. Em diversas propostas políticas no Brasil percebe-se que o tempo integral forma a escola integral, sendo que o tempo estendido sem os outros critérios que compõem uma escola integral apenas ocupa a criança por mais tempo na escola. A questão do tempo integral pode ser compreendida também sob um viés de lacuna social a ser preenchida, dadas as condições familiares das crianças e a ausência ou insuficiência de espaços de lazer, cultura e esporte para atender à demanda necessária. Dessa forma, a escola pode atender às necessidades sociais básicas não abraçadas por outros setores do Estado (GADOTTI, 2003). Assim é importante atentar para que a escola não abranja novos encargos sociais sem a devida estrutura governamental básica. Algumas das funções primordiais e essenciais da escola são educar com qualidade alunos para uma nova construção social, mais igualitária e justa para todos, oferecer subsídios de acesso e permanência no ambiente escolar e avaliação para aprimoramento dos alunos e da estrutura escolar. A escola de tempo integral é para construir um aperfeiçoamento humano com o objetivo de evoluir em todas as dimensões sociais e individuais. O aumento do tempo tem que ser qualitativo e quantitativo (FELÍCIO, 2012). A dimensão qualitativa abarca a qualidade do tempo despendido na instituição escolar. As crianças não podem perder o momento de ludicidade, criatividade e expressão espontânea por estarem em um ambiente escolar controlado por autoridades, regras e normas de conduta. O momento qualitativo é sobre expandir os conhecimentos,mas também de ampliar os relacionamentos interpessoais saudáveis, a mediação dos conflitos, as experiências de novas vivências e o contato com o inusitado. Já a dimensão do tempo quantitativo refere-se à ampliação da jornada escolar que deve ser garantida aos alunos em segurança e em boa estrutura até que as crianças sejam dispensadas das atividades escolares diárias. No vídeo a seguir há mais detalhes sobre o conceito de educação integral e questões como tempo estendido e educação integral. Vale a pena se aprofundar, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=QpPj6WveZUA. DICAS TÓPICO 2 | ESCOLA INTEGRAL 129 4 QUALIDADE SOCIAL DA ESCOLA INTEGRAL Outro elemento da educação escolar de qualidade integral é seu caráter transdisciplinar e interdisciplinar. O conceito transdisciplinar é a transitação de assuntos entre as disciplinas escolares. Já o conceito interdisciplinar é a abordagem de um assunto com a união de disciplinas. A educação integral também pode combinar elementos da educação formal e não formal para a melhoria do atendimento educacional. A educação não formal pode contribuir na formação dos alunos dada a liberdade e a significância dos assuntos que podem ser tratados, como assuntos da vida cotidiana ou sobre artes, esportes, entre outros. Em algumas instituições há a primazia da educação formal sobre a não formal e isso pode sobrecarregar as crianças de conteúdos disciplinares em jornada ampliada. Uma questão importante para a construção da escola integral é a afetividade. Um conceito polissêmico, resultado de sentimentos e emoções e são expressadas por posicionamentos verbais e não verbais do professor (AMADO et al., 2009). FIGURA 11 – QUALIDADE EDUCACIONAL FONTE: <http://www.fna.org.br/wp-content/uploads/2018/03/20150410_BaseUrbana_ Beacon_078-1024x683.jpg>. Acesso em: 20 jan. 2020. 5 INFRAESTRUTURA ESCOLAR Para assegurar educação integral de qualidade, é imprescindível uma estrutura física escolar que comporte a quantidade de alunos prevista para o período de trabalho proposto pela escola. A estrutura física não pode ser a mínima, mas a adequada para o objetivo proposto de educar cidadãos para um ambiente democrático. 130 UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE O mobiliário escolar precisa ser confortável para os alunos vivenciarem o dia escolar. Espaços para descanso, lazer, desenvolvimento da criatividade e trocas de experiências interpessoais devem ser valorizados como parte integrante da formação do discente. Além desse fator, a escola construirá laços afetivos mais interessantes se a aparência da escola for aconchegante e esteticamente agradável, passível do aluno se sentir pertencente àquele ambiente. Os espaços educativos precisam ser equipados com aparelhos adequados para o local. Por exemplo, na sala de artes os materiais precisam atender à demanda com qualidade de exploração dos alunos e planejamento dos professores. Outro exemplo é uma sala de informática que precisa de computadores aptos para uso que possuam internet e os softwares necessários para a aprendizagem proposta para a aula em questão, além de ser favorável o uso do computador para um ou no máximo dois alunos. Mais uma questão de infraestrutura é a alimentação fornecida para os alunos ser de qualidade, bem preparada, de um fornecedor confiável e com cardápio variado e bem construído nutricionalmente para a melhor alimentação possível das crianças. FIGURA 12 – INFRAESTRUTURA ESCOLAR FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-Hn2zd-c03Sw/VpK9E26p1PI/AAAAAAAAB98/L3qOftf8V6s/ s320/prc3a9dio-escola.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2020. TÓPICO 2 | ESCOLA INTEGRAL 131 6 CAQ E CAQi O Custo Aluno Qualidade Inicial (CAQi) é um projeto importante na discussão da escola integral no quesito investimento governamental. Esse projeto surgiu na Campanha Nacional pelo Direito à Educação em 2002, com o intuito de instituir um custo mínimo por aluno no Brasil e assim diminuir a discrepância do investimento em educação por aluno entre o Brasil e o mundo. Para o cálculo do CAQi entram os componentes: FIGURA 13 – ESTRUTURA ESCOLAR FONTE: A autora O Custo Aluno Qualidade (CAQ) ainda está em debate com aprovação prevista para até 2024 e implementação para até em três anos após a aprovação. As condições expostas no CAQ se aproximam dos parâmetros de qualidade educacional em países desenvolvidos que incluem piso salarial para os professores e qualidade formativa para os alunos. Já o CAQi foi aprovado em 2008 com implementação prevista para até 2016, porém, ainda não ocorreu efetivamente. O site do CAQi é interessante, pois é possível elaborar simulações de quanto seria o custo aluno a partir do tamanho da escola, da quantidade de turmas, da possibilidade salarial dos docentes e outros critérios escolares que podem alterar a disposição financeira para a escola. Projetos como esses são interessantes para a formulação da escola integral, pois auxiliam na obtenção de boa infraestrutura e adequação pedagógica para uma boa formação de alunos prontos para a cidadania. 132 UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE Outro ponto interessante para a construção de escolas integrais são as propostas pedagógicas que podem a compor. As práticas podem ser melhor conduzidas quando há uma proposta clara da escola, assim como a maior compreensão do projeto de sociedade pretendido na educação das crianças. Vamos estudar algumas possibilidades pedagógicas. Política(s) e gestão da educação básica: revisitando conceitos simples Sofia Lerche Vieira [...] Gestão As políticas que traduzem as intenções do Poder Público, ao serem transformadas em práticas se materializam na gestão. A gestão pública é integrada por três dimensões: o valor público, as condições de implementação e as condições políticas. O valor público, como a própria expressão revela, dá conta da intencionalidade das políticas. Quando a Constituição afirma a educação como um “direito de todos e dever do Estado e da família” (Art. 205), está professando um valor público que, para ganhar materialidade, precisa se traduzir em políticas. Estas, uma vez concebidas, são operacionalizadas através de ações que concretizam a gestão. Tais considerações permitem compreender porque a gestão democrática tende a ser um tema preferencial entre os estudiosos da educação. Justamente por representar um valor defendido pela grande maioria dos que militam no campo da educação pública e que, por isso mesmo, tendem a manifestar interesse pelas dimensões que expressam o “valor público” da(s) política(s) e da gestão. As condições de implementação e as condições políticas, por serem territórios por excelência da prática, costumam ser aspectos negligenciados pelos teóricos. São eles, porém, que asseguram a sustentabilidade dos valores e a sua tradução em políticas. Nenhuma gestão será bem-sucedida se passar ao largo dessas duas dimensões. Por melhores e mais nobres que sejam as intenções de qualquer gestor ou gestora, suas ideias precisam ser viáveis (condições de implementação) e aceitáveis (condições políticas). O estoque de boas ideias de baixo custo tende a ser limitado. Boa educação requer elevados investimentos. A dimensão financeira, que é um componente fundamental da gestão, no mais das vezes, tende a ser ignorada na formulação de promessas e planos. Por isso mesmo é que um grande contingente de boas intenções se desvanece na medida em que avança o cotidiano da gestão. Tome-se, por exemplo, o Plano Nacional de Educação (PNE), que consumiu energia de um imenso contingente de pessoas para, finalmente, ser sancionado pelo Presidente da República, em janeiro de 2001. Uma apreciação ainda que superficial do mesmo evidencia que boa parte de suas intenções ficou no papel. IMPORTANT E TÓPICO 2 | ESCOLA INTEGRAL 133 O fracasso do PNE não ocorreu porque os governantes sejam por princípio maus e, ao chegarem ao poder, se rendam às circunstâncias. Esta é uma visão por demais ingênua dascoisas. Em verdade, os planos de educação tendem a pecar por dois problemas: de um lado, o excesso de propostas; de outro, a falta de previsão orçamentária. Quando se quer resolver tudo, dificilmente se consegue. Mais prudente é definir metas de curto, médio e longo prazo e trabalhar arduamente pelo sucesso daquelas que são prioritárias. Mesmo assim, é bastante difícil transformar em ação o estoque de propostas, porque a gestão é tarefa complexa e cheia de meandros. Parte da dificuldade da gestão diz respeito ao fato dela se situar na esfera das coisas que têm que ser feitas. E o que tem que ser feito nem sempre agrada a todos. Não dá votos; ao contrário, fere interesses. Desestabiliza o que está posto. Por menores que sejam as mudanças pretendidas, atingem pessoas. Corporações. Mudar nunca é simples, o que pode ser detectado nas coisas mais elementares: desde a simples cor de uma parede até a inclusão ou retirada de uma disciplina. Isto para não falar de vantagens corporativas. Gente é assim. Resiste. Reage. Faz corpo mole. Abandona o gestor na primeira medida antipática à vontade da maioria. E gestão se faz em interação com o outro. Por isso mesmo, o trabalho de qualquer gestor ou gestora implica sempre em conversar e dialogar muito. Do contrário, as melhores ideias também se inviabilizam. Embora o diálogo seja um instrumento fundamental na obtenção dos consensos necessários à construção das condições políticas, há outros ingredientes que alimentam este processo. A negociação é outro componente importante desse processo, porque gestão é arena de interesses contraditórios e conflituosos. Nesse sentido, o gestor que não é um líder em sua área de atuação poderá se deparar com dificuldades adicionais. Ao mesmo tempo, existem coisas que precisam ser feitas e independem de negociação. Desagradam, mas são necessárias. Não apenas tiram o sono dos gestores, como podem levá-lo dos píncaros da popularidade aos porões da rejeição. Fazer bem feito o que tem que ser feito costuma ser tarefa miudinha e impopular. A gestão, portanto, requer humildade e aceitação. Administrar a escassez, gerir conflitos, tomar decisões em situações complexas. E nada disso aparece nos manuais. A formação de “gestores reflexivos” (VIEIRA, 2005) requer a preparação para atuar nessas zonas de sombra da impopularidade. Essas são apenas algumas considerações relativas ao chão da gestão, sobre o qual a literatura tende a silenciar. Trata-se de dimensão tão importante quanto as outras, melhor descritas e estudadas. Depois desse breve olhar em torno delas, é oportuno retomar aspectos mais teóricos, elucidando o significado de termos que fazem parte do vocabulário comum sobre este campo da tarefa educativa. Para fins da presente discussão, explorarei três adjetivos que lhe agregam significado e valor: a gestão educacional, a escolar e a democrática. Como síntese preliminar, é pertinente adiantar algo sobre o tema. A gestão educacional refere-se ao âmbito dos sistemas educacionais; a gestão escolar diz respeito aos estabelecimentos de ensino; a gestão democrática, por sua vez, constitui-se num “eixo transversal”, podendo estar presente, ou não, em uma ou outra esfera. Mas vale a pena avançar um tanto mais nesse entendimento e partir dos instrumentos maiores de definição da política e da gestão da educação básica: a Constituição Federal (CF) de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei n. 9394/96). 134 UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE Gestão educacional De acordo com a Constituição e a LDB, a gestão da educação nacional se expressa através da organização dos sistemas de ensino federal, estadual e municipal; das incumbências da União, dos Estados e dos Municípios; das diferentes formas de articulação entre as instâncias normativas, deliberativas e executivas do setor educacional; e da oferta de educação escolar pelo setor público e privado. No âmbito do Poder Público, a educação é tarefa compartilhada entre a União, os Estados, o Distrito Federal (DF) e os Municípios, sendo organizada sob a forma de regime de colaboração (CF, Art. 211 e LDB, Art. 8°). As competências e atribuições dos diferentes entes federativos foram explicitadas através de Emenda Constitucional (EC n. 14/96, Art. 3°) e detalhadas pela LDB (Art. 9°, 10, 11, 16, 17, 18 e 67). A educação básica, que discutiremos em maior detalhe adiante, é uma atribuição dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Nesse contexto destaca-se o papel coordenador, articulador e redistributivo da União em relação às demais unidades federadas (LDB, Art. 8°), situando-se entre suas diversas incumbências, também a responsabilidade pela educação dos povos indígenas, tarefa a ser repartida com os sistemas de ensino (LDB, Art. 78 e 79). A lei parte do pressuposto que a diversidade nacional comporta uma organização descentralizada, onde compete ao governo federal definir e assegurar as grandes linhas do projeto educacional do país. Se em tese assim se organiza a gestão educacional, na prática esta é atravessada por aqueles elementos antes referidos: as condições de implementação, que demandam disponibilidade financeira (capital e custeio), recursos humanos e outras condições materiais e imateriais. A gestão educacional também depende de circunstâncias políticas e envolve constante negociação e conflito. Uma arena propícia ao entendimento dessa dimensão diz respeito ao encaminhamento de projetos, sejam estes de autoria do Poder Executivo, ou não, e sua respectiva tramitação no âmbito do Poder Legislativo. A votação de leis de educação do presente e do passado, como a LDB de 1961 e de 1996, são exemplos de como o Congresso pode obstruir ou facilitar as expectativas de mudança (e de conservação) traduzidas em tais iniciativas. As definições advindas da Constituição e da LDB permitem situar o terreno da gestão educacional como espaço das ações dos governos, sejam eles federal, estaduais e municipais. Diz respeito, portanto, aos seus diferentes órgãos, assim como aos seus integrantes, desde detentores de cargos mais elevados aos mais simples servidores. Gestão escolar A gestão escolar, como o próprio nome diz, refere-se à esfera de abrangência dos estabelecimentos de ensino. A LDB de 1996 foi a primeira das leis de educação a dispensar atenção particular à gestão escolar, atribuindo um significativo número de incumbências às unidades de ensino. Esta perspectiva assinala um momento em que a escola passa a configurar-se como um novo foco da política educacional (Vieira; Albuquerque, op. cit.). Segundo a LDB, a elaboração e a execução de uma proposta pedagógica é a primeira e principal das atribuições da escola, devendo sua gestão orientar-se para tal finalidade. Isto porque desta definição dependem muitas outras. A proposta pedagógica é, com efeito, o norte da escola, definindo caminhos e rumos que uma determinada comunidade busca para si e para aqueles que se agregam em seu entorno. Não por acaso, os educadores têm tido especial interesse sobre a literatura acerca dessa matéria, expressando um desejo de traduzir em ação aquilo que dispõe a legislação educacional (VEIGA, 1998; RESENDE; VEIGA, 2001; SOUSA; CORREA, 2002). TÓPICO 2 | ESCOLA INTEGRAL 135 São tarefas específicas da escola a gestão de seu pessoal, assim como de seus recursos materiais e financeiros. Noutras palavras, cabe a ela gerir seu patrimônio imaterial e material. O primeiro refere-se às pessoas, às ideias e à cultura produzida em seu interior; o segundo diz respeito a prédios e instalações, equipamentos, laboratórios, livros, enfim, tudo aquilo que se traduz na parte física de uma instituição escolar. Além dessas atribuições, e acima de qualquer outra dimensão, está a incumbência de zelar pelo que constitui a própria razão de ser da escola – o ensino e a aprendizagem. Assim, tanto lhe cabe “velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente”, como “assegurar ocumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas”, como “prover meios para a recuperação de alunos de menor rendimento” (Inc. III, IV e V). Esses três dispositivos remetem ao coração das responsabilidades de uma escola. Ao exercer com sucesso tais incumbências, esta realiza a essência de sua proposta pedagógica. O Art. 12 da LDB trata de outra importante dimensão da gestão escolar, a relação com a comunidade. Assim, cabe à escola “articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração” entre esta e a sociedade e, ao mesmo tempo, “informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica” (Inc. VI e VII). Outro aspecto a observar é a autonomia escolar. O legislador é claro no sentido de afirmar a existência de “progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira” (LDB, Art. 15), a serem também definidas pelos sistemas de ensino. Aqui, o entendimento orienta-se no sentido de que a autonomia de uma escola não é algo espontâneo, mas construído a partir de sua identidade e história. Os “graus de autonomia” correspondem a diferentes formas de existir da própria instituição – dizem respeito à sua história, a seu tamanho, ao seu corpo docente, à observância das diretrizes estabelecidas pelo sistema de ensino, seu desempenho e gestão de recursos. [...] VIEIRA, S. L. Política(s) e gestão da educação básica: revisitando conceitos simples. RBPAE, Porto Alegre, v. 23, n. 1, p. 53-69, jan./abr. 2007. p. 58-62. Disponível em: https:// seer.ufrgs.br/rbpae/article/viewFile/19013/11044. Acesso em: 7 abr. 2020. 136 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A construção da escola integral pretende oferecer a educação escolar mais completa possível para as crianças e adolescentes atendidos. • É importante que as escolas sejam multifuncionais com boa infraestrutura e recursos humanos que proporcionem diferentes experiências escolares e ampliem o repertório dos alunos. • A escola integral difere da escola de tempo integral, pois, não necessariamente, a escola para oferecer ensino integral necessita de jornada de tempo estendida. Por vezes, a jornada estendida significa ocupar o tempo das crianças com maior carga disciplinar e não com atividades diversas, que possibilitem o maior desenvolvimento de todas as áreas da criança, como afetividade e criatividade. • Para uma boa escola integral é necessária boa infraestrutura de mobiliário, alimentação, recursos humanos e materiais pedagógicos e tecnológicos que seja de acesso aos alunos para sua aprendizagem. • O Custo Aluno Qualidade Inicial (CAQi) pode auxiliar na obtenção dessa qualidade escolar, pois estipula um custo mínimo conforme a educação a ser oferecida. O CAQi está aprovado e ainda não terminou a fase de implementação e o Custo Aluno Qualidade (CAQ) ainda está em processo de aprovação e pode aproximar o investimento em educação no Brasil a países desenvolvidos. 137 AUTOATIVIDADE 1 Uma escola na região central de uma grande cidade estabeleceu algumas metas como conceitos de qualidade da escola especificamente. Outra escola na mesma cidade, mas situada em outro bairro, estabeleceu metas diferentes como qualidade daquela escola. Essa qualidade é denominada Qualidade Social da escola, que pode variar entre uma escola e outra. Quais são a características do conceito Qualidade Social? a) ( ) Conceito construído por avaliações externas, somente. b) ( ) Conceito que é composto apenas pela concepção docente de qualidade. c) ( ) Conceito que parte da demanda dos alunos. d) ( ) Conceito que abrange vários elementos e é estabelecido pela escola e a comunidade do seu entorno como objetivo a ser alcançado. 2 Denise é diretora de um educandário e recebeu a notícia que sua escola se tornará integral no próximo ano. Quais são as características de uma escola integral que Denise precisa saber? a) ( ) Tempo integral é necessariamente uma demanda da escola integral, assim como boa infraestrutura e participação de todos. b) ( ) O tempo integral não é necessariamente uma demanda da escola integral, mas é proposta uma boa infraestrutura, qualidade social e profissionais voltados para a formação completa do aluno. c) ( ) Tempo integral é necessariamente uma demanda da escola integral, mas infraestrutura e qualidade social é opcional. d) ( ) Tempo integral é necessariamente uma demanda da escola integral, mas gestão democrática é opcional. 3 O Custo Aluno Qualidade Inicial é uma política importante no Brasil para se pensar qualidade escolar e investimento financeiro em educação. Acerca do CAQi, pode-se afirmar que é: a) ( ) Uma iniciativa que visa a qualidade do investimento educacional com base no gestor escolar. b) ( ) Uma iniciativa que visa à qualidade do investimento educacional com base nos alunos, estrutura escolar e tipo de material solicitado pelos alunos. c) ( ) Uma iniciativa que visa a qualidade do investimento educacional já implementada plenamente no Brasil. d) ( ) Uma iniciativa que visa a qualidade do investimento educacional baseada na estrutura escolar e no objetivo de educação de qualidade para crianças e adolescentes. 138 4 O CAQi/CAQ possui um sistema de simulação no qual seria possível calcular o Custo Aluno Qualidade e o Custo Aluno Qualidade Inicial em uma escola no link: https://simcaq.c3sl.ufpr.br/. Forme grupos e simulem qual seria o Custo Aluno Qualidade e o Custo Aluno Qualidade Inicial em uma escola considerando que seria uma escola em tempo integral de qualidade social, levando em consideração o Projeto Pedagógico construído pelo seu grupo no final do Tópico 1 como parâmetro de qualidade. Registre os dados obtidos e apresente-os ao seu professor. 139 TÓPICO 3 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS INTERNACIONAIS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A pedagogia é perpassada por transformações ao longo do tempo e é alterada conforme a experiência de pessoas na área e que contribuem para a inspiração de novas práticas, estratégias e relacionamentos interpessoais com os alunos. Vamos conhecer algumas inspirações internacionais para gerar maior reflexão e conhecimento para o nosso estudo. A partir do exemplo, é possível traçar novos caminhos e reflexões para o uso na prática. Neste tópico, vamos compreender três modelos de educação, lembrando que cada realidade é única e nenhum conceito pode ser utilizado sem adaptações. Também é importante lembrar que a sua criatividade enquanto professor pode criar novos caminhos e estratégias de enfrentamento do cotidiano e propiciar ambientes favoráveis para a aprendizagem. 2 PEDAGOGIA WALDORF Foi uma linha pedagógica que surgiu no início do século XX, na Alemanha, por iniciativa de Rudolf Steiner. A base de formulação é a compreensão do ser humano enquanto completo no momento de ensino-aprendizagem. Dessa forma, o enfoque é no desenvolvimento de habilidades pelas ações práticas e artísticas, para além da aprendizagem conteudista. O raciocínio lógico e o desenvolvimento de argumentos são outro aspecto importante nessa linha pedagógica. A pedagogia Waldorf divide o desenvolvimento humano em períodos de análise de sete anos. Próximo ao primeiro ano de vida é essencial que a criança consiga se equilibrar para andar e próximo ao segundo que a linguagem seja desenvolvida em sua fase inicial. De acordo com essa análise o desequilíbrio é o que indica possíveis problemas, como a antecipação ou o retardo para ocorrer determinados eventos. UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE 140 Nas escolas da linha Waldorf, o contexto das crianças com a natureza é essencial para desenvolvimento infantil. As salas de aula não necessariamente precisa ser o contexto principal de aprendizagem. O docente ocupa um espaço essencial de conduzir as atividades da criança rumo à autonomia destes, assim como de organizar propostas que incitem as crianças e construíremseu conhecimento de acordo com a interação e a curiosidade intrínseca ao indivíduo. Outro foco é a construção da autonomia da criança. As lições de casa são tidas como importantes, porém o prazo de entrega é estabelecido com um limite adequado para a criança organizar se prefere fazer aos poucos a cada dia ou toda a lição de uma só vez. Percebe-se então que os prazos são fixos, mas com um tempo de ação plausível para as próprias crianças se organizarem. A relação com as famílias é acerca de um desenvolvimento global da criança e não apenas quanto às disciplinas escolares, é como uma continuação da educação familiar e social. FIGURA 9 – ESCOLA WALDORF ARARAQUARA FONTE: <http://twixar.me/P7qT>. Acesso em: 30 jan. 2020. 3 PEDAGOGIA MONTESSORIANA O método foi criado pela educadora e médica Maria Montessori entre meados do fim do século XIX e o início do século XX na Itália, pela experiência com crianças especiais. A ideia central é a pouca interferência dos adultos no desenvolvimento e no ritmo da criança, proporcionando-lhe mais autonomia nos processos diários e de aprendizagem. Nas escolas que aderem a essa linha pedagógica os princípios basicamente são a autonomia e autodisciplina dos alunos, a multidisciplinariedade, alunos de diferentes idades na mesma sala, pois importa mais o desenvolvimento e a contribuição dos alunos do que a série propriamente dita. TÓPICO 3 | TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS INTERNACIONAIS 141 Os utensílios diários são utilizados como instrumentos de aprendizagem para as crianças. Sua curiosidade natural, seu interesse de aprender e a liberdade de escolher o que, e os caminhos de aprendizagem, são traços marcantes da pedagogia montessoriana. Porém, a liberdade não deve ser confundida com a ausência de organização. A diferença é que a própria criança precisa ter autonomia de organizar o próprio material utilizado, com prateleiras e caixas ao seu alcance. Outro elemento é a importância de viver em um ambiente estimulante, em que elementos cotidianos podem se tornar novos elementos de criação. A concentração na atividade e o progresso em simples ações são as recompensas das crianças, ou seja, não é um método que trabalha com sanções e recompensas, mas com a insistência da criança finalizar a sua tarefa sozinha, sem o auxílio de adultos. Quer saber mais sobre o modelo Montessori de escola? Acesse o link: https:// larmontessori.com/2016/10/26/entrevista-sobre-montessori/. Trata-se de uma entrevista para compreender melhor o método e como implementar em escolas ou nas famílias. DICAS FIGURA 10 – ESCOLA MONTESSORIANA FONTE: <https://www.opopular.com.br/polopoly_fs/1.1172243.1477941816!/image/image.jpg_ gen/derivatives/landscape_800/image.jpg>. Acesso em: 30 de jan. 2020. A função do contexto ao ensinar é primordial, pois a criança compreende a função do que foi aprendido. Assim como da participação das crianças em atividades cotidianas, sejam domésticas ou de lazer. A função do professor é auxiliar o aluno a se desenvolver com autonomia e liberdade de escolhas. UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE 142 Você já construiu um mapa conceitual? É uma ferramenta utilizada para otimizar e facilitar os estudos, que pode reunir de maneira organizada e em formato de esquema, as principais informações oferecidas. No link a seguir há dicas de como construir esse mapa e programas que podem auxiliar nisso para que você estude melhor e realize uma autoatividade ao final deste tópico. Acesse: https://rockcontent.com/blog/mapa-conceitual/. DICAS 4 PEDAGOGIA FREINET Celéstin Freinet (1896-1966) foi um pedagogo francês, que elaborou sua linha pedagógica no início do século XX. A percepção de como a ação pode ser o principal condutor infantil para a aprendizagem, Freinet desenvolveu sua teoria com base na naturalidade da ação e na experiência como base norteadora do ensino. A ação é a necessidade básica do trabalho para sobrevivência e perpetuar a continuidade da existência humana. Mesmo que a prática seja planejada pelo professor, ela precisa inspirar naturalidade ao educando. O professor deve gerenciar as atividades estimulando o aluno para a aprendizagem. As atividades podem ser coletivas ou individuais, mas é de suma importância que as relações interpessoais sejam respeitosas, cooperativas, também se valoriza a liberdade de expressão, a coletividade e a confiança entre as pessoas. A relação com o erro é base formativa e a construção deve partir dos pressupostos dos alunos e das suas teorias com base na experiência e na responsabilidade das crianças pela sua aprendizagem. FIGURA 11 – ESCOLA FREINET FONTE: <https://www.escolacurumim.com.br/wp-content/uploads/2017/10/celestin-freinet.jpg>. Acesso em: 30 jan. 2020. TÓPICO 3 | TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS INTERNACIONAIS 143 Na escola o foco não é a sala de aula, mas os ambientes abertos em que a vida ocorre com diversas experiências, além da base democrática para a construção do cidadão. Os livros didáticos não necessariamente precisam ser utilizados, pois aprendizagem é uma construção afetiva com relatos de experiências. As relações entre professores e alunos não devem ser hierárquicas, mas devem partir do mesmo patamar. O autor em questão utilizou elementos do biólogo Jean Piaget para formular a sua teoria pedagógica e evoluir nas suas observações quanto à aprendizagem infantil. Quer compreender melhor o Método Freinet? Acesse: https://www.youtube. com/watch?v=z0Y3BzUWnMI. Há também outras dicas de metodologias ativas. Confira e aprenda mais! DICAS 5 EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS Ao observar essas experiências educativas percebe-se que a escola tradicional pode conter falhas e a tentativa de alcançar uma educação de qualidade que alcance a todas as crianças nos seus próprios ritmos e tempos de aprendizagem. As estratégias são diversas, algumas utilizam mais o espaço aberto, outros focam mais nas relações interpessoais, mas o objetivo é o mesmo: refletir sobre como crianças podem aprender mais e melhor. UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE 144 LEITURA COMPLEMENTAR PEDAGOGIA WALDORF Dulciene Anjos de Andrade e Silva [...] Na contramão da tendência comumente observada nos meios educacionais formais, que concebe equivocadamente a relação entre educação e ludicidade a partir da simples utilização de metodologias brincantes no contexto educativo, desconsiderando a necessidade de se superar a concepção instrumental do ensino e, portanto, reorientar a prática pedagógica para o desenvolvimento global dos educandos e para a multidimensionalidade do processo educativo, destaca-se a Pedagogia Waldorf. No início do século XX, Rudolf Steiner, o idealizador da Pedagogia Waldorf, já chamava a atenção para o caminho percorrido pela educação moderna ao desapropriar a realidade subjetiva e interior do educando em prol do cultivo de uma racionalidade objetiva e dissociada da totalidade e da complexidade da experiência humana. Ancorando-se na Antroposofia, Steiner (2003) inaugura um modelo de educação que visa atender à formação de crianças e adolescentes a partir de uma concepção integral do ser humano efetivamente espelhada em uma práxis pedagógica que atua no sentido de buscar uma unidade harmônica no desenvolvimento biopsicoemocional e espiritual do educando. Segundo a Antroposofia, o ser humano é uma entidade constituída de corpo, alma e espírito - aos quais estão relacionadas, respectivamente, as faculdades do fazer, do sentir e do pensar. Embora latentes desde o momento no nascimento físico do homem, cada um desses constituintes tem um desabrochar que segue uma progressão baseada em ciclos de sete anos, denominados "setênios". Uma vez que, a cada novo setênio, a energia vital do ser humano apresenta- se especialmente investida em um aspecto específico desse desenvolvimento, acarretando modificações biológicas, fisiológicas e cognitivas peculiares, todo o currículo Waldorf apresenta-se também orientado para atitudese dispositivos didático-metodológicos diferenciados em cada uma dessas etapas (STEINER, 2003). No primeiro setênio (0-7 anos), como esclarece Gudrun Burkhard (2000), o cenário de desenvolvimento infantil tem como pano de fundo a reestruturação das substâncias herdadas e a individuação somática, orientadas pela própria individualidade. É o período em que todas as energias da criança estão investidas no seu desenvolvimento físico, exigindo-lhe intensa atividade corporal. Assim, a educação infantil Waldorf prioriza o movimento, a experiência corporal que faz uso da motricidade, como também o movimento da imaginação, da fantasia da TÓPICO 3 | TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS INTERNACIONAIS 145 criança, pois compreende que o movimento da criança será a base para não apenas o seu desenvolvimento físico e motor, mas também para o seu desenvolvimento emocional, neurológico e até mesmo cognitivo, preparando as estruturas neurológicas para a aprendizagem a ser requerida posteriormente em seu processo de escolarização. Contrariando a atual vocação da educação infantil, que orientada pelo signo do pensar intelectual utilitarista tem-se caracterizado por estimular a alfabetização linguística e matemática precocemente, a Pedagogia Waldorf defende que, uma vez que nesse estágio de desenvolvimento as crianças ainda não apresentam habilidades mentais necessárias à manipulação de símbolos, já que os prolongamentos de seus neurônios não completaram o processo de mielinização, as crianças só sejam alfabetizadas a partir dos seis anos e meio. Concluído o processo de maturação orgânica, o foco do desenvolvimento, no segundo setênio (7-14 anos), volta-se para o funcionamento psicoemocional da criança, mobilizando suas faculdades psíquicas (para possibilitar a sua progressiva utilização a serviço do pensamento e da aprendizagem) e, ao mesmo tempo, proporcionando uma intensa vivência emocional (favorecida pelo desenvolvimento das suas emoções, dos seus sentimentos). Assim, embora nesse momento de seu desenvolvimento a criança já evidencie que consegue raciocinar aproximando-se da lógica adulta, os seus esquemas conceituais e ações executadas mentalmente ainda necessitam ser manipulados ou imaginados de forma concreta. Em atenção e respeito a esta especificidade no desenvolvimento do educando, o processo de ensino-aprendizagem no ensino fundamental Waldorf é conduzido não de forma abstrata e teórica, como é a tônica no sistema convencional de ensino, mas a partir da vivência, da observação e da descrição dos fenômenos. Ademais, em consonância com a disposição sentimental e estética latente nos educandos que perpassam por esta fase, o currículo Waldorf elege a arte como o pilar primordial de toda a educação. Segundo Kügelgen (1989), na Pedagogia Waldorf não há nenhum domínio de aprendizagem que não seja enriquecido pela atividade artística, através da qual se aprofunda a experiência. Entretanto, não se reserva um horário determinado para essas atividades, elas não ocorrem à margem dos demais estudos, como usualmente acontece na grande maioria das escolas convencionais que reservam algum espaço do currículo para a arte; ao contrário, são "o laço de união entre as diversas matérias". Aliás, o lugar atribuído à arte apresenta-se muito bem configurado no pensamento de Steiner (2003, p. 125): "a pedagogia não pode ser uma ciência – deve ser uma arte. E onde existe uma arte que se possa aprender sem viver constantemente em sentimentos?" UNIDADE 3 | COMO SE ENSINA E COMO SE APRENDE 146 No período que se inicia aos catorze anos, e correspondente ao terceiro setênio (14-21 anos), as energias liberadas da função de desenvolvimento do sistema psicoemocional são, então, destinadas ao despertar das forças do pensar lógico, abstrato e conceitual do indivíduo, base para a formação do seu julgamento pessoal: é a fase do desabrochar da individualidade do educando – para Steiner, do seu constituinte espiritual. Nessa etapa de seu desenvolvimento, o adolescente busca uma compreensão mais intelectual da vida e seus fenômenos. Essa demanda encontra ressonância num ensino médio Waldorf que estimula o seu espírito mais lógico. Como esclarece Rudolf Lanz (2003), enquanto no ensino fundamental os conteúdos giravam em torno da realidade (e não da abstração), proporcionando ao estudante observar os fenômenos e descrevê-los, nesse novo ciclo do currículo, o ensino Waldorf volta-se para a abordagem das teorias conceitualmente, objetivando compreender a realidade através de princípios verificáveis e mostrar as possíveis explicações para os seus fenômenos. É que, de acordo com a Antroposofia, somente nesse setênio se deve iniciar o estudo das abordagens de teorias puramente formais, pois é agora que o sistema neurossensorial do jovem apresenta uma maturação necessária para cumprir esta tarefa sem prejudicar o seu desenvolvimento físico e/ou psicoemocional; só então é que ele apresenta maturidade suficiente para encarar o mundo do ponto de vista conceitual. Assim como as diretrizes curriculares para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio Waldorf são organizados, respectivamente, de modo a articularem-se com e atenderem (a)o desenvolvimento dos aspectos volitivos (agir/fazer), psicoemocionais (sentir) e cognitivos (pensar) do educando, também a orientação didático-metodológica de cada aula, na Pedagogia Waldorf, busca a harmonização da tríade pensar, sentir, fazer, evitando-se a unilateralidade em uma ou outra esfera de atividade, e procurando um equilíbrio entre os conteúdos formais, as atividades artísticas (e/ou artesanais) e as atividades corporais (FEWB, 1999; MIZOGUCHI, 2006). Por conseguinte, toda aula, nas escolas Waldorf, é organizada de modo a promover a alternância entre a atividade mais intelectualizada e as atividades práticas ou artísticas: o ensino teórico é sempre acompanhado, por um lado, pelo enfoque prático (ênfase nas atividades corporais e artesanais) e, por outro, pelas atividades artísticas que, como sinalizado, no currículo Waldorf são um veículo didático para todas as matérias. Assim, o desenho, a pintura em aquarela, a música, o canto, o teatro, a modelagem em argila, a arte da fala, a euritmia, por um lado, e os trabalhos manuais (tricô, crochê), o desenho de forma, a marcenaria, a educação física, a jardinagem, por outro, são trabalhados no cotidiano escolar de forma bastante articulada com os conteúdos formais de cada época e com as demandas psicoemocionais do educando, de acordo com cada fase de seu desenvolvimento, para que se vivencie o aprendizado de forma significativa. TÓPICO 3 | TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS INTERNACIONAIS 147 A partir do que nos ensinou Luckesi, podemos dizer que uma educação lúdica pode ser compreendida como aquela que propicia a plenitude da experiência formativa, requerendo um profundo envolvimento dos implicados ao reivindicar não apenas a sua racionalidade, mas sua presença "inteira" em sala de aula: pensar, sentir e fazer integrados e, em uníssono, favorecendo e estimulando aprendizagens verdadeiramente significativas. Como vimos, pois, a grande contribuição da Pedagogia Waldorf é demonstrar, em sua organização curricular e metodológica, um caminho efetivamente em curso em direção à integração entre pensar, sentir e fazer no âmbito da educação formal, de modo a atender verdadeiramente os pressupostos essenciais da educação lúdica. FONTE: SILVA, D. A. de A. Educação e ludicidade: um diálogo com a Pedagogia Waldorf. Educar em Revista, Curitiba, n. 56, p. 101-113, jun. 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0104-40602015000200101&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 19 mar. 2020. 148 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A Pedagogia Waldorf elaborada por Steiner visa à educação pautada em ciclos de sete anos e com maior autonomia do estudante e aproximação com a natureza, abrangendo mais a formação global do aluno. • A PedagogiaMontessori foi elaborada no início do século XX pautada na organização escolar multisseriada com várias idades na mesma sala de aula que proporcione a maior convivência entre as crianças e troca de experiências. O mobiliário é interessante que seja à altura da criança para que ela tenha autonomia de acesso e organização dos elementos da sala. • A Pedagogia Freinet foi elaborada pelo francês Celéstin Freinet também no início do século XX inspirada no biólogo Jean Piaget e o objetivo é aliar prática para maior aprendizagem dos alunos sem ser um olhar apenas tradicional com sala de aula e cadernos. • As três tendências visam à maior autonomia dos alunos, o maior convívio entre as pessoas e novas iniciativas que abordem o contexto dos alunos com proximidade, respeitando o tempo de cada aluno e o ambiente afetivo e acolhedor para as crianças. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 149 AUTOATIVIDADE 1 Reflita sobre as tendências pedagógicas internacionais apresentadas no Tópico 3 desta unidade e elabore um Projeto de Escola Democrática aliando uma dessas tendências como base de desenvolvimento. 2 Pesquise uma escola dos modelos citados (Waldorf, Montessori e Freinet) e realize um mapa conceitual de como essa escola se organiza e realiza seu procedimento com as crianças, funcionários, docentes e comunidade. 3 Na escola Montessoriana de uma grande cidade, uma professora encontra o desafio de elaborar atividades para seus alunos. Qual alternativa se encaixaria com a melhor atividade para a professora propor aos seus alunos nessa escola? a) ( ) Atividades que envolvam material didático, alunos sentados e cópia da lousa, pois estimula a disciplina e o silêncio e facilita a execução das atividades pela professora. b) ( ) Atividades ao ar livre com o foco na ludicidade sem nenhuma direção do professor para o aluno se sentir livre no ambiente escolar para brincar e interagir com os colegas. c) ( ) Com uso de materiais e utensílios da rotina do estudante, propiciar uma atividade dirigida que leve o estudante à curiosidade natural, autonomia de execução e realização em grupos para compartilhar ideias e experiências. d) ( ) Com o uso de materiais complexos e que podem provocar danos à saúde do estudante, propor atividades que não permitam execução autônoma e necessite de atenção redobrada do professor aos alunos. 4 Wilson está realizando uma atividade para entregar na faculdade sobre Pedagogia Waldorf, porém, possui uma dúvida quanto ao tempo do ciclo de formação humana de acordo com esta teoria e ao tipo predominante de ambientes onde as atividades podem ser realizadas com os estudantes. Ajude Wilson e responda corretamente suas questões: a) ( ) O Ciclo na Pedagogia Waldorf possui duração de três anos e o ambiente mais apropriado para atividades e reflexões dos estudantes para aprendizagem é ao ar livre em contato com a natureza. b) ( ) O Ciclo na Pedagogia Waldorf possui duração de sete anos e o ambiente mais apropriado para atividades e reflexões dos estudantes para aprendizagem ocorre ao ar livre em contato com a natureza. c) ( ) O Ciclo na Pedagogia Waldorf possui duração de dez anos e o ambiente mais apropriado para atividades e reflexões dos estudantes para aprendizagem ocorre em sala de aula. d) ( ) O Ciclo na Pedagogia Waldorf possui duração de quinze anos e o ambiente mais apropriado para as atividades e reflexões dos estudantes é em ambientes culturais públicos ou privados. 150 151 REFERÊNCIAS A FUNDAÇÃO Casa. Fundação Casa, São Paulo, 23 maio 2014. Disponível em: http://www.fundacaocasa.sp.gov.br/View.aspx?title=a- funda%C3%A7%C3%A3o&d=10. 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