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1ª Ed. / Setembro / 2013 Impressão em São Paulo - SP Editora Ricardo Leite de Albuquerque GESTÃO ESCOLAR E INSPEÇÃO ESCOLAR I, II, III Gestão Escolar e Inspeção Escolar I, II, III Coordenação Geral Nelson Boni Coordenador de Projetos Leandro Lousada Professor Responsável Ricardo Leite de Albuquerque Projeto Gráfico, Diagramação e Capa Glaucia Ferraro Revisão Ortográfica Nádia Fátima de Oliveira Marcela Aparecida de Oliveira 1º Edição: Setembro de 2013 Impressão em São Paulo/SP Copyright © EaD Know How 2013 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 A345g Albuquerque, Ricardo Leite de. Gestão escolar e inspeção escolar I, II, III. / Ricardo Leite de Albuquerque. – São Paulo: Know How, 2010 116 p. : 21 cm. : il. Inclui bibliografia ISBN : 978-85-63092-29-8 1. Gestão escolar. 2. Inspeção escolar. 3. Educação. I. Título. CDD – 371.2 Parabéns! Você está recebendo o livro-texto da disciplina de Gestão Escolar e Inspeção Escolar I, II e III, construí- do especialmente para este curso, baseado no seu perfil e nas necessidades da sua formação. A finalidade deste livro é disponibilizar aos alunos da EAD conceitos e exercícios referentes aos principais temas da Gestão e da Inspeção Es- colar, em âmbito nacional. Estamos constantemente atualizando e melhorando este material, e você pode nos auxiliar, encaminhando su- gestões e apontando melhorias, via monitor, tutor ou profes- sor. Desde já agradecemos a sua ajuda. Lembre-se de que a sua passagem por esta discipli- na será também acompanhada pelo Sistema de Ensino EaD Know How, seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou Ambiente Virtual de Aprendizagem. Entre sempre em contato conosco quando surgir alguma dúvida ou dificuldade. Participe dos bate papos (chats) marcados e envie suas dúvidas pelo Tira-Dúvidas. Toda equipe está à disposição para atendê-lo (a). Seu desenvolvimento intelectual e profissional é o nosso maior objetivo. Acredite no seu sucesso e tenha bons momentos de estudo! Equipe EaD Know How Plano de Estudos ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ 01 ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ A Formação do Pedagogo na Função de Inspetor Escolar no Contexto Atual 02 ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ Fundamentos Histórico-Antropológicos para a Compreensão dos Processos de Gestão 03 ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ Organização dos Sistemas de Ensino I 04 ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ Organização dos Sistemas de Ensino II 05 ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ A Estrutura e o Funcionamento da Educação Básica Superior 06 ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ Fundamentos Legais da Inspeção Escolar Referências ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ 07 11 35 57 69 81 99 111 7 Bases Tecnológicas Para o nosso estudo, faremos inserções substan- ciais na literatura pertinente aos assuntos de Gestão Esco- lar e Inspeção Escolar, de modo a subsidiarmos legalmente – e de fontes primárias – a compreensão dos mecanismos sociohistóricos que determinam os sistemas educacionais. Também faremos sugestões de páginas disponibilizadas na internet (WEB), de instituições de excelência na área, para subsidiar as discussões e ampliar os horizontes interpretati- vos dos temas em estudo. Competências Esperamos que, ao final das seis unidades, você este- ja apto a reconhecer as variáveis (políticas, econômicas e cul- turais) intervenientes na definição de projetos educacionais, ao longo da história, bem como tenha desenvolvido compe- tência técnica para adequar projetos educacionais – ainda no plano das ideias – às exigências da legislação vigente. Lembrete Importante! Dois documentos serão fundamentais na nossa rá- pida trajetória: o Plano Nacional de Educação, sancionado pela Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001 e a Lei de Diretri- zes e Bases da Educação Nacional – LDBEN 9394 -, de 20 de dezembro de 1996. Tenha-os à mão para eventuais consultas. 8 No Portal do MEC (http://portal.mec.gov.br/), na coluna à esquerda, clique em “Legislação’. Como o tempo destinado às nossas unidades é re- lativamente curto, pois trataremos de assuntos de relevân- cia histórica, participe ativamente das atividades propostas, utilize os recursos informacionais postos à sua disposição, pergunte aos seus tutores e aproveite os fóruns de debates. A educação brasileira necessita de bastante massa crítica para superar as suas dificuldades. Bom trabalho! ▪ 01 A formação do pedagogo na função de inspetor escolar no contexto atual 11 Caro (a) Aluno (a) Nesta unidade, estudaremos “A formação do pe- dagogo na função de inspetor escolar no contexto atual”, de forma que você compreenda o papel organizacional que se espera da Inspeção Escolar e, por conseguinte, a impor- tância que lhe deve ser atribuída no contexto dos sistemas públicos e privados de ensino. Bom estudo! Objetivos da Unidade Ao final desta unidade, você deverá ter condições de: ▪ Identificar a importância do tema; ▪ Conceituar Inspeção Escolar; ▪ Conceituar Gestão Escolar; ▪ Verificar as diferenças entre ambos. Conteúdos da Unidade ▪ Etimologia do termo “Inspeção”; ▪ A Inspeção em diferentes contextos históricos; ▪ Evolução histórica da Inspeção escolar no Brasil; ▪ Formação do Inspetor Escolar. 13 Etimologia do termo “Inspeção” O termo “Inspeção Escolar” tem sido identificado, no contexto educacional e ao longo da história, como uma atividade rígida de controle de organizações, de caráter car- torial e legalista, não raras vezes levando-nos a associar a figura do Inspetor Escolar a um ser humano caracterizado pela rigidez de princípios, de “mentalidade burocrática”, que não consegue ser “flexível” o suficiente para compreen- der o movimento escolar. Com certeza, tal fato reside na própria construção histórica da ação de inspecionar, posto que, todo ato de inspeção contém, em si, um caráter fiscalizador das ações humanas, principalmente quando se trata de inspeção vin- culada ao poder público. Por isso, nesse primeiro momento, faremos uma aproximação etimológica do termo (Inspeção Escolar), de caráter histórico, para que possamos compre- ender melhor as diversas facetas assumidas pela Inspeção ao longo de sua existência. Entre os vários significados do termo “Inspeção”, encontramos: Inspeção s.f. Ação de olhar; vista: à primeira inspeção. / Exame; vis- toria. / Encargo de vigiar, superintender. / Cargo, emprego de inspetor. (ht tp: / /www.dicionariodoaurel io.com/dicionario. php?P=Inspecao) 14 Para ilustrar a ideia, observe as utilizações comuns do termo “inspeção”: "Os analistas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) devem iniciar hoje a inspeção da nova e polêmica fábrica de enriquecimento de urânio que o Irã constrói sob uma colina”. "A resolução do Conama determina que todos os Estados e municípios com mais de 3 milhões de veícu- los serão obrigados a ter um plano de inspeção veicu- lar, que deve ser apresentado em até 12 meses após a publicação na norma no Diário Oficial da União”. (extraído de: http://www.dicio.com.br/inspecao/) Pelos exemplos acima, depreende-se que o termo Inspeção é aplicável a diferentes situações em diferentes contextos, mantendo-se, porém, o sentido de verificação ao cumprimento de planos e metas de um projeto. Para MENESES (1977, p. 21), o termo Inspeção vem do latim inspectio, onis, que quer dizer: ação de olhar; exa- me; verificação. O autor encontrou nos dicionaristas brasi- leiros uma ampliação das abrangências da palavra. Laude- lino Freire, por exemplo, "dá sete sentidos: ▪ Ato de olhar; ▪ Ação de examinar, de observar comcuidado; ▪ Exame, vistoria; ▪ Encargo de vigiar, superintendência; ▪ Tribunal, junta ou repartição pública encarregada de ins- pecionar, de fiscalizar ou de dar o seu parecer sobre assun- tos especiais; 15 ▪ Cargo ou emprego de Inspetor; ▪ Exame feito por um ou mais Inspetores ou por uma Junta Inspetora.” Menezes cita, ainda, Aurélio Buarque de Holanda que "apresenta três significados de inspecionar: ▪ Examinar ou fiscalizar como Inspetor; inspecionar uma obra; inspecionar um colégio; ▪ Examinar, revistar; vistoriar; inspecionar uma tropa; ▪ Examinar ou observar com grande atenção." Como se pode depreender, a palavra “Inspeção” pode ser utilizada com vários sentidos, com razoável grau de diferença entre eles, pois pode-se imprimir uma conota- ção autoritária ao termo, caracterizando a atuação do Ins- petor Escolar como um exercício de poder absolutista, ou podemos compreendê-la, por outro lado, como uma prática necessária e estratégica para a manutenção da qualidade de projetos, em qualquer área de atuação. É uma questão de postura pessoal a ênfase que se pretende imprimir ao traba- lho de Inspeção escolar. 17 ▪ 1.1 A INSPEÇÃO EM DIFERENTES CONTEXTOS HISTÓRICOS A Inspeção Escolar, como as demais atividades hu- manas ao longo do processo civilizatório, assumiu diferentes perfis, conforme a função que lhe era atribuída pelo contex- to histórico no qual se inseria. Menezes, (Op. cit., pág 7), em consulta ao Dicionário de Pedagogia Labor1, distingue pelo menos três períodos na evolução da Inspeção Escolar, tais como se seguem: ▪ "O primeiro período, denominado confessional, caracte- rizou-se pela forte influência religiosa. Antes do século XII não havia outra escola que a paroquial. A inspeção era exer- cida pelo bispo da diocese." Lembrete importante: “O mestre-escola já existia antes da criação da função de inspetor e exercia ati- vidades de elaborar o Plano de Estudos, designar e demitir professores e, em nome do bispo, conceder o direito de ensinar” (MENESES, op. cit. p. 7). ▪ “O segundo período, denominado de transição, caracteri- zou-se pela paulatina perda de influência religiosa em favor do crescente poder civil” [...]. 1. Dicionário de Pedagogia LABOR. Barcelona, Editorial LABOR S.A., 1926, tomo II, pp 1684 e ss. 18 ▪ “O terceiro período, nitidamente técnico-pedagógico, iniciou-se após a Revolução Francesa, com a influência de Froebel, Rousseau, Pestalozzi, Condorcet e outros. O terceiro período, portanto, delineou as caracterís- ticas do modelo educacional moderno, com todas as mazelas que conhecemos bem, conferindo ao poder público a tarefa de inspecionar, por intermédio de funcionários públicos, as es- colas de sua jurisdição, públicas ou privadas. Este modelo se mantém até os dias atuais e não se vislumbra, a médio e longo prazos, qualquer perspectiva de mudança na sua estrutura. Observe o detalhe: para cada período da forma his- tórica de Inspeção Escolar, corresponde um modelo socioe- conômico determinante. É assim que, no primeiro período, tínhamos a predominância da Igreja Católica em um contex- to de relações de produção feudais. No segundo período, o modelo feudal entra em processo de decomposição, provocando alterações significa- tivas nas relações políticas e sociais, perdendo (gradativa- mente) a Igreja, parte substancial de seu poder. O terceiro período pode ser considerado a era da hegemonia burguesa, o momento em que a burguesia assume a condição de classe dominante e impõe, a partir da Europa, um modelo de organização social baseado na exploração ca- pitalista, com todos os desdobramentos e impactos que co- nhecemos no mundo moderno. 1.1.1 Relação da Inspeção com a Administração Um dado relevante, para a consideração do estudan- 19 te de Gestão e Inspeção Escolar, refere-se à relação existente entre esses dois tópicos, pois, é fundamental compreender- mos em que momento e em que instância administrativa se realiza a Inspeção Escolar e qual a sua relação com a estrutura jurídico-legal do Estado, ou seja: quem inspeciona? Atenden- do a quais demandas político-organizacionais? Para MENESES (op. cit., p. 23), no que se refere à ad- ministração, a palavra “inspecionar” tem o caráter de fiscali- zar e, como tal, adquire dois aspectos que devem ser devida- mente compreendidos: a) O primeiro aspecto é aquele no qual a inspeção (fiscali- zação) “é parte integrante da administração”, ou seja, “é in- terna e corresponde aos atos de vigilância das autoridades eminentes sobre as pessoas que trabalham como agentes da empresa”. Nesse sentido, podemos compreender, portanto, a Inspeção como sendo um ato rotineiro interno às empresas e instituições: “quem delegou a execução verifica como ela se processou”. Nesse caso, a inspeção poderá ser também “por meios indiretos no caso em que se contratam pessoas de fora da empresa para exercer a vigilância, ou seja, estado de per- manente atenção”. São bastante conhecidos os atos de “ter- ceirização” que ocorrem no setor produtivo brasileiro e mun- dial e que consistem em delegar, para outras empresas, certas atribuições no âmbito da organização, por exemplo: limpeza, alimentação, segurança, avaliação (inspeção), etc. Fique atento: Este é um comportamento típico do contexto neoliberal em que vivemos, que mereceria uma atenção especial, principalmente quando se re- 20 laciona à terceirização de serviços públicos e retirada do Estado de certas funções de interesse social. b) O segundo aspecto refere-se à forma em que “a fiscaliza- ção é executada por um organismo estranho, quase sempre o Estado, como garantia do cumprimento das suas prescri- ções legais”. Nesse contexto é que surge a função do Inspetor Escolar, institucionalizada pelo Estado e parte integrante dos sistemas públicos de educação. A sua existência se justifica histórica e politicamente pelos seguintes requisitos: ▪ “O melhor governo tem sempre necessidade de saber se tudo corre normalmente; ▪ É preciso ter segurança de que os subalternos cumprem as suas atribuições; ▪ É necessário coordenar meios afins em todos os aspectos, em todos os estágios do desenvolvimento da ação” (op. Cit., p. 24). Por fim, registre-se o caráter de controle2 que as- sume a inspeção, em qualquer nível ou estrutura de atuação. Controle, no sentido de acompanhar e retro-alimentar pro- cessos de trabalho (produção), de forma a buscar o melhor desempenho para o alcance das metas previstas pelos níveis estratégicos das organizações. Podemos, portanto, encerrar este tópico, afirmando que a inspeção – e em especial a Inspeção escolar – não deve ser compreendida como um ato de autoritarismo ou de exercí- 2. O termo controle possui inúmeros significados, dos quais extrairemos aqui o que nos parece mais pertinente para o foco do nosso trabalho. O Mo- derno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis apresenta uma definição interessante: 1. Ato de dirigir qualquer serviço, fiscalizando-o e orientando- o do modo mais conveniente. 21 cio meramente burocrático do poder, mas, como um elemento estratégico na condução, execução e correção de rumos de qualquer projeto e, principalmente, para o nosso campo espe- cífico de atuação que é a educação. ▪ 1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA INSPEÇÃO ESCOLAR NO BRASIL O termo Inspeção Escolar também é conhecido, nos meios educacionais, como Orientação e/ou Supervisão, o que causa natural confusão, até porque são termos com significados diferentes e, consequentemente, atribuições di- ferentes também. A título de enriquecimento da temática, é relevante considerarmos que, no contexto educacional do século XXI, a Orientação Educacional e a Supervisão Escolar tendem a se fundir e a se tornar uma única função, de caráter abrangente, chamada de Coordenação Peda- gógica. Observe que em vários Estados da federação, esse fenômeno já está ocorrendo. Talvez fosse interes- sante uma pesquisa nesse sentido, uma vez que a fun- ção social da Orientação Educacional, com o sentidode “descobrir” potencialidades profissionais (aptidões 22 para o mercado de trabalho), tem perdido a sua perti- nência histórica. O mais importante é identificarmos que, na legis- lação brasileira, encontramos a Inspeção escolar com dois tipos principais: a Inspeção do sistema federal (compreende- se entre as atribuições do Ministério da educação – MEC) e a Inspeção dos sistemas estaduais e municipais de ensino. Acrescente-se o fato de que, cada entidade mantenedora de instituições educacionais também mantém procedimentos próprios de inspeção, conforme citamos no tópico 1.2, acima. Nas Unidades 3 e 4, que tratarão da organização dos sistemas de ensino, teremos oportunidade de verificar como, de fato, são distribuídas as funções da inspeção esco- lar nas instâncias federal, estadual e Municipal. No momen- to, é fundamental analisarmos o que afirma a legislação, em termos de definições de papéis e importância estratégica da inspeção escolar. Faremos, a seguir, breve estudo considerando a le- gislação atual, realçando os aspectos textuais mais importan- tes para a nossa análise. Convém, nesse momento, ter à mão a LDB 9394/96. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n° 9394, de 20 de dezembro 1996, no seu TÍTULO IV, da organização da Educação Nacional, Art. 8°, afirma o seguinte: Art 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os res- pectivos sistemas de ensino. §1º Caberá à União a coordenação (grifo meu) 23 da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo a função normativa (grifo meu), redistributiva e supletiva em relação às demais instân- cias educacionais. Observe que, para realizar a coordenação de um Plano Nacional de Educação, em um país de dimensões continentais como o Brasil, será necessário um competente serviço de inspeção, de modo a acompanhar, nos Estados e Municípios, a sua efetiva aplicação. Por outro lado, a função normativa, que também será exercida pelos estados e Mu- nicípios, no âmbito de suas jurisdições, implica a elaboração de normas (Leis, Decretos, Deliberações, Resoluções, etc.) e a necessária exigência de sua aplicação e cumprimento pela via do controle (inspeção) realizado por órgãos especifica- mente determinados para esse fim, tanto no plano federal quanto nas demais entidades federativas do país. Ora, a elaboração de um Plano Nacional de Educa- ção, ainda que “em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios” (Art. 9º) exige uma ação fiscali- zadora sobre os parceiros (Estados, Municípios e Distrito Federal). Tal ação fiscalizadora compete, evidentemente, à União, que também tem a obrigação de executá-lo (o Plano), e é exercida por órgãos da administração federal que age, se- gundo MENESES (op. Cit., p. 47), “direta e indiretamente. Dire- tamente, com a promoção de encontros com Secretários Esta- duais de Educação [...] e indiretamente, pela apresentação de relatórios federais sobre a situação educacional nos estados e sua comparação com as metas e estratégias federais”. É importante salientar que o Brasil dispõe de instru- 24 mentos de avaliação da situação educacional, para todos os níveis, tais como o Sistema Nacional de Avaliação da educa- ção Básica – SAEB e o Exame nacional do Ensino Médio – ENEM, que apresentam, periodicamente, uma radiografia da situação de aprendizagem dos alunos de instituições públicas e particulares nacionais. Tais sistemas de avaliação mereceriam uma abor- dagem mais profunda dos agentes educacionais, posto que são oriundos de programas educacionais definidos a partir do modelo socioeconômico neoliberal que vi- gorou, no mundo, no final dos anos 70 e exerceu (exer- ce) enorme influência na definição das políticas públi- cas educacionais dos últimos trinta anos, no Brasil. 1.2.1 A presença da Inspeção Escolar nas Leis de Diretrizes e Bases Pelo que se pode depreender da análise das Leis de Diretrizes e Bases implantadas no país, a função da inspeção escolar mostrava-se necessária, indispensável, melhor dizen- do, pela absoluta importância da sua presença na consecu- ção dos objetivos da educação nacional. Ressalte-se que o exercício da inspeção estará sempre atrelado à satisfação dos interesses do poder público. É preciso considerar, pois, quais são os interesses do poder público. Esse tema, nos remete à discussão sobre o papel do Estado, uma discussão de cunho sociológico, de absoluta importância nos tempos atuais, uma vez que é a concepção de Estado e a sua função social que determinará o desenvolvimento de políticas públicas de saú- de, educação, segurança e afins. E, em pleno século XXI, 25 essa discussão se torna cada vez mais atual, posto que, as dis- putas políticas pelo poder carregam, no seu interior e como plataforma política, as concepções de Estado que orientam as agremiações políticas. Dica de estudo: pesquise sobre os conceitos de Estado, na concepção liberal e na visão do Materia- lismo Histórico. Faça uma comparação entre as duas concepções. Elas serão determinantes na definição de propostas educacionais para o país. Veremos, a seguir, algumas citações da legislação que implicam a presença da inspeção escolar. Busque a le- gislação citada e componha o seu acervo (a sua pasta) de documentos legais. Será extremamente útil na sua vida pro- fissional. Vejamos: A LEI Nº 4.024, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1961, foi a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação editada no país. Trazia, no seu conteúdo, os princípios que passariam a orientar a formação da sociedade brasileira, con- forme se observa a seguir: Para Marx, o Estado “é uma junta que administra os negócios da burguesia”. Verifique a veracidade dessa afirmativa. (leitura sugerida: Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friederich Engels, 1848) 26 TÍTULO I Art. 1º A educação nacional, inspirada nos princí- pios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por fim: a) a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, do Estado, da família e dos demais grupos que compõem a comunidade; b) o respeito à dignidade e às liberdades fundamentais do homem; c) o fortalecimento da unidade nacional e da solidariedade internacional; d) o desenvolvimento integral da personalidade humana e a sua participação na obra do bem comum; e) o preparo do indivíduo e da sociedade para o domínio dos recursos científicos e tecnológicos que lhes permitam utilizar as possibilidades e vencer as dificuldades do meio; f) a preservação e expansão do patrimônio cultural; g) a condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe ou de raça. Observe o que afirmava o artigo 14: Art. 14. É da competência da União reconhecer e ins- pecionar os estabelecimentos particulares de ensino superior. No que se refere a Estados e Municípios, indicava o artigo 16: Art. 16. É da competência dos Estados e do Distri- to Federal autorizar o funcionamento dos estabelecimentos de ensino primário e médio não pertencentes à União, bem como reconhecê-los e inspecioná-los (grifo meu). 27 A LEI Nº 5.540, DE 28 DE NOVEMBRO DE 1968, que “Fixa normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média, e dá outras providências”, afirma em seus: Art. 6º A organização e o funcionamento dos esta- belecimentos isolados de ensino superior serão disciplina- dos em regimentos, cuja aprovação deverá ser submetida ao Conselho de Educação competente. Art. 7º As universidades organizar-se-ão diretamen- te ou mediante a reunião de estabelecimentos já reconheci- dos, sendo, no primeiro caso, sujeitas à autorização e reco- nhecimento e, no segundo, apenas a reconhecimento. Evidentemente, as atribuições de orientar Regi- mentos, Autorização e Reconhecimento, são típicas da ins- peção escolar, sem a qual os sistemas educacionaisfuncio- nariam, provavelmente, de maneira anárquica, perdendo-se o elemento agregador de uma política pública de amplitude nacional, corroendo-se, assim, o próprio espírito de nação, sendo este o alicerce sobre o qual se constroem os princípios de nacionalidade, solidariedade e civilidade. Importante: demais legislações que ilustram a tra- jetória histórica da educação brasileira, constituem-se como leitura obrigatória para aqueles que pretendem se dedicar à área de políticas públicas. Citamos e su- gerimos a leitura de: ▪ Lei n° 4.440, de 27 de outubro de 1964, que institui o salário-educação; ▪ Lei nº 5692, de 11 de agosto de 1971 e, evidentemente; ▪ Lei n° 99394/96, citada anteriormente nesta Unidade. 28 Trataremos, no último tópico desta Unidade da Formação do Inspetor Escolar, na qual veremos, em linhas gerais as diretrizes emanadas do poder público em relação à formação desse profissional. ▪ 1.3 FORMAÇÃO DO INSPETOR ESCOLAR Finalizaremos essa Unidade, explicitando para você, leitor, de que forma o poder público (Estado Nacional) contempla a formação dos profissionais em educação, em es- pecial o Inspetor Escolar, e como se expressa essa concepção na LDB em vigor (9394/96). Por último, teceremos alguns co- mentários sobre a necessária formação intelectual do Inspe- tor escolar à luz do contexto sociohistórico no qual estamos todos inseridos. 1.3.1 O que diz a Lei de Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional nº 9394, de 20 de dezembro de 1996 Atenção!!! O texto utilizado como referência para este tópico recebeu um conjunto significativo de al- terações de leis que regulamentaram a LDB, desde a sua edição em 1996. Especialmente o TÍTULO VI, Dos Profissionais da Educação, que trataremos aqui, sofreu modificações produzidas pela Lei nº 12.014, de 2009. 29 É possível, portanto, que se você estiver utilizando uma versão da LDB anterior a 2009, encontre algumas incompatibilidades entre os textos. Para evitar que isso ocorra, manteremos, nas even- tuais citações que fizermos, a grafia original do docu- mento e respectivas alterações. O texto na íntegra, será disponibilizado no Portal, para seu arquivamento. A formação dos profissionais da educação está pre- vista na LDB atual e deve ser rigidamente observada, para efeito de qualificação do processo educacional, posto que trata-se de elevar o nível de competência técnico-profissio- nal daqueles que fazem educação, em todos os níveis. Ao tratar, de maneira geral da formação dos profis- sionais, a LDB especifica, em primeiro lugar, quem são os trabalhadores em educação. Observe o que diz a seguir: TÍTULO VI Dos Profissionais da Educação Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e mo- dalidades de ensino e às características de cada fase do de- senvolvimento do educando, terá como fundamentos: (http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3276.htm) I - a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço; II - aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades. (texto alterado, observe adiante). 30 Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: (http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/ L12014.htm#art1) I - professores habilitados em nível médio ou superior para a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio; (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007- 2010/2009/Lei/L12014.htm#art1) Observe este inciso: II - trabalhadores em educação por- tadores de diploma de pedagogia, com habilitação em ad- ministração, planejamento, supervisão, inspeção e orien- tação educacional, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas; (http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12014.htm#art1) III - trabalhadores em educação, portadores de diploma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim. (http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/ L12014.htm#art1) Obs. 1 - Depreende-se, pelo inciso II, que a área da Ins- peção escolar está inclusa na formação em Pedagogia, em nível superior, com habilitação específica para o exercício no setor. O Parágrafo Único estabelece os Fundamentos para a formação, conforme descrito a seguir: Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como funda- mentos: (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) 31 I - a presença de sólida formação básica, que propicie o co- nhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho; (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) II - a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço; (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) III - o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades. (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) Obs. 2 - Sólida formação básica, associação entre teoria e prática e aproveitamento das experiências anteriores compõem, portanto, o lastro teórico-metodológico em que se assenta a formação dos profissionais da educação, conforme preconiza a LDB 9394/96. O Art. 64 define claramente a questão da formação, explicitando: Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-gra- duação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. Obs. 3 - Do ponto de vista jurídico-legal, a forma- ção do Inspetor escolar fica definida como sendo, necessa- riamente, uma formação de nível superior, com todas as fun- damentações necessárias para o exercício do cargo. A seguir, faremos algumas considerações sobre os elementos conteu- dísticos dessa formação, como uma espécie de reforço a al- gumas áreas do conhecimento que não podem ser relegadas 32 a plano secundário no processo de formação. 1.3.2 Da necessidade de uma formação de ca- ráter humanístico e histórico A ação da Inspeção Escolar, bem como da Gestão Escolar, envolve um conjunto de variáveis de ordem social, política e econômica, que deve nortear as atenções do Gestor e do Inspetor, na sua rotina de trabalho, em seus contatos com o público em geral e os dirigentes educacionais públicos e privados. Isto tem uma implicação na formação acadêmica do profissional: por natureza da profissão, a inspeção escolar é exercida no âmbito jurídico do Estado, o que significa atuar à luz dos interesses políticos de grupos que eventualmente assumem o poder, para os quais a inspeção deve estar atrela- da às negociações de caráter político-partidário. O que sig- nifica, eventualmente, exigir que o Inspetor “agilize” certos processos, “permita” certos procedimentos que contrariam a própria legislação, enfim, que faça concessões às autoridades de plantão. Some-se a isso o fato de que as escolas e os órgãos gestores dos sistemas educacionais repercutem esse tipo de relações intergrupais, de forte conotação política e reprodu- zem, no interior dos seus estabelecimentos, as relações de classe que permeiam a vida em sociedade. Daí, a necessidade de que o Gestor escolar e o Ins- petor escolar possuam, não apenas uma sólida formação dos aspectos técnico-operacionais inerentes à profissão, porém, mais do que isso, uma formação solidamente embasada no 33 campo das ciências humanas, em especial a filosofia, a socio- logia, a história e a antropologia. Serão estes os fundamen- tos epistemológicos que imprimirão qualidade ao trabalho do Gestor e do Inspetor e o auxiliarão nos embates político- sociais que ocorremnas suas respectivas áreas. Por isso mesmo, nossa próxima Unidade utilizará aqueles campos do conhecimento para construir, ainda que embrionariamente, uma base teórica que permita situar histo- ricamente o significado da Gestão e da Inspeção. Vamos a ela. SÍNTESE DA UNIDADE Nesta unidade, você pôde identificar o conceito de Inspeção Escolar e a trajetória histórica da Inspeção e, em se- gundo plano, associá-lo, à Gestão Escolar, como atividades complementares e intrinsecamente relacionadas, bem como avaliar a importância de ambos para a consolidação dos sis- temas educacionais. Essas compreensões são fundamentais para a sequ- ência do nosso Curso. Fique ligado! 34 EXERCÍCIO PROPOSTO Faça um levantamento (oral), entre seus colegas de turma e/ou de trabalho, e verifique qual é a concepção do- minante sobre a formação do Gestor ou do Inspetor escolar. Observe qual é a compreensão que os consultados demons- tram sobre o tipo de conhecimento que é necessário para que o Gestor ou o Inspetor tenha uma formação de excelência. ▪ 02 Fundamentos histórico- antropológicos para a compreensão dos processos de gestão 37 Caro (a) Aluno (a) Seja bem-vindo (a) à nossa segunda Unidade, que será dedicada a uma importante reflexão a respeito da cons- trução histórica das sociedades, as implicações da divisão do trabalho e da apropriação de tecnologias no processo de produção. Talvez você nunca tenha parado para pensar no assunto, mas aproveite agora. Quem sabe não é este o seu momento! Boa reflexão! Objetivos da Unidade Ao final desta unidade, você deverá ter desenvolvido: ▪ Um conceito de Revoluções tecnológicas e processos Civili- zatórios; ▪ Uma compreensão precisa sobre o que é Organização Social; ▪ A compreensão da relação que existe entre a Organização Social, a Tecnologia e o Patrimônio Simbólico. Conteúdos da Unidade ▪ Os processos sociais fundamentais: a organização social; ▪ Introdução aos conceitos de Revoluções Tecnológicas e Pro- cessos Civilizatórios. Esta Unidade será desenvolvida a partir de texto que elaborei para a Univer- sidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNI- DERP, Campo Grande/MS, para a Unidade Temática: Sociologia e filosofia aplicadas às Ciências Contábeis, no ano de 2007. Promovi as alterações necessárias para o contexto atual. A fonte comporá as Referências Biblio- gráficas deste livro. O autor. 39 ▪ 2.1 OS PROCESSOS SOCIAIS FUNDAMENTAIS: A ORGANIZAÇÃO SOCIAL A organização social é o elemento fundamental para compreendermos o desenvolvimento da humanidade. Quando falamos em “organização social” estamos falan- do em “divisão do trabalho”, “divisão de funções” dentro da coletividade, os papéis sociais que os indivíduos devem executar para solidificar a existência do grupo, na sua for- ma histórica. Para isso, é fundamental recorrermos aos fatos históricos que deram origem às formações sociais, porque, é partindo do conhecimento dos fatos originais que compre- enderemos o que se passa no presente e teremos melhores condições de projetar o futuro. É assim que, para a primeira aproximação da temá- tica do Módulo, utilizaremos alguns fundamentos da Antro- pologia Histórica, com o objetivo de recuperarmos os passos iniciais do processo de humanização do Homem. O termo “humanização do Homem”, aparente- mente redundante, é colocado aqui propositadamente, com o objetivo de evidenciar que o processo de desen- volvimento do ser humano possui um caráter histórico, o que significa que “tornar-se humano”, no sentido ci- vilizatório, é uma conquista do grupo, um fazer coleti- vo, portanto, um ato intencional do Homem na busca da sua autosuperação. 40 No nosso estudo, o termo “evolução” refere-se ao conjunto de transformações pelas quais passam (passaram) as sociedades humanas ao longo dos tempos, transformações essas, que são expressas por uma “sucessão de revoluções tecnológicas e processos civilizatórios, através dos quais a maioria dos homens passa de uma condição generalizada de caçadores e coletores para diversos modos de prover a subsistência, de organizar a vida social e de explicar suas próprias experiências”. (Ribeiro,1997, p. 39-49) Observe, caro acadêmico, os termos: prover a sub- sistência, organizar a vida social e explicar suas pró- prias experiências. Serão fundamentais para a com- preensão da Unidade. São esses diferentes modos de prover a subsistên- cia, de organizar a vida social e de explicar suas próprias ex- periências, que comporão, como uma base sólida, as relações socioculturais dentro dos grupos e entre grupos distintos, em um município, em um Estado ou entre países. Convém, nes- se momento, entendermos melhor o significado e a relação entre os três elementos acima evidenciados: são eles que nos darão a “chave” para compreendermos o que é um processo civilizatório e, portanto, o que significa uma “evolução so- ciocultural”. Vamos a eles: a) Prover a subsistência: relaciona-se ao trabalho, ao do- mínio das tecnologias, para a produção e a satisfação das necessidades básicas do grupo, tais como: alimentação, mo- radia, vestuário, saúde etc. Para Ribeiro (p. 40) existe “o cará- ter acumulativo do progresso tecnológico, que se desenvolve 41 desde as formas mais elementares a formas mais complexas, de acordo com uma sequência irreversível” Ou seja, à medi- da em que a sociedade desenvolve novas tecnologias, esse conhecimento incorpora-se à cultura do grupo, provocando novas necessidades e determinando novos comportamentos dos indivíduos (esse aspecto, veremos mais adiante). b) Organizar a vida social: refere-se à distribuição de fun- ções dentro do grupo, o que poderíamos chamar também de divisão do trabalho, ou, ainda, uma forma específica de orga- nização interna entre os seus membros, “bem como, das suas relações com outras sociedades.” (p. 40). É essa organização que vai definir o perfil social da comunidade, a sua hierarqui- zação e sua estratificação em classes. Já podemos, nesse momento, estabelecer uma re- lação entre os dois primeiros tópicos: existe, nas sociedades em geral, uma interação (uma relação recíproca) absoluta entre os esforços de controle da natureza para produzir bens, pelo domínio do uso das tecnologias, e a magnitude de sua população, a forma de organização das relações das relações internas entre seus membros, bem como das relações com outras sociedades. Fique “de olho” nessa questão: é assim que as so- ciedades mais primitivas deram início ao seu processo civilizatório, desenvolvendo uma organização social peculiar. Veremos isso mais adiante! c) Explicar suas próprias experiências: o ser humano ela- bora as suas ideias sobre a vida, o meio em que vive, suas relações, por intermédio daquilo que chamamos de cultura, 42 entendida aqui como o patrimônio simbólico dos modos padronizados de pensar e de saber. Significa admitir que a sociedade produz, em seus membros, uma forma “coletiva” de entender a realidade, compreender o mundo em que vi- vemos e expressar essa compreensão. Para Marilena Chauí, o Homem manifesta a sua compreensão do mundo de três maneiras distintas, porém, relacionadas. São elas: ▪ Materialmente, pelos artefatos e bens produzidos e utilizados; ▪ Expressamente, através da conduta social; ▪ Ideologicamente, pela comunicação simbólica e pela for- mulação da experiência social em corpos de saber, crenças e de valores. Os elementos acima descritos (a, b e c) constituem aquilo que se pode chamar de “imperativos”, no sentido de que a sua participação no processo social é fundamental para os fenômenos de desenvolvimento e transformação das so- ciedades. Tais imperativos, que poderíamos chamar de tec- nológico, social e ideológico, apresentam uma necessária conexão entre eles, de modo que, a certas transformações na base tecnológica correspondem modificações nos padrões de organização social e “nos moldes de configuração ideo- lógica”, ou seja, nas formas (mentais) de representaçãodo mundo, na maneira peculiar de “ver as coisas”. Poderíamos buscar vários exemplos concretos para ilustrar essa ideia: pense na introdução do computador no processo produtivo (no seu trabalho). Quantas transforma- ções são causadas pelo uso do computador? Transformações relacionadas à própria agilidade da produção, à introdução de formas diferentes de trabalho, novas funções que exigem capacitações/qualificações específicas, novas linguagens que 43 os ambientes informatizados propiciam, enfim, caberia a pergunta: Você preferiria retornar à velha máquina de es- crever para produzir seus textos, abandonando o seu micro, com todas as facilidades de escrita que ele ofe- rece? Com certeza, a resposta será não!!!! Para sintetizar este primeiro tópico, estabelecere- mos a nossa primeira síntese parcial sobre o estudo do Ho- mem e a construção histórica das sociedades: podemos afir- mar que toda e qualquer sociedade, ao longo dos tempos, se fundamenta em um tripé, composto daquilo que chamamos de imperativos, que constituem a base antropológica para a formação social. Esse tripé é constituído do domínio da tec- nologia (saber fazer!), da divisão do trabalho (organização social) e do patrimônio simbólico, sendo este o conjunto das nossas opiniões, mitos, crenças, filosofias, religiões, ciên- cias, enfim, a totalidade da nossa representação do mundo, que também pode ser chamada de cultura. Aqui reside a “pista” para compreendermos a cons- trução histórica dos processos de gestão e Inspeção, em qualquer ramo da atividade produtiva. Vejamos a defini- ção do termo “Gestão”, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (http://www.priberam.pt/DLPO/default. aspx?pal=Administração): 44 gestão s. f. Gerência; administração. gerência s. f. 1. Ato! de gerir. = GERENCIAMENTO 2. Funções de gerente. 3. Administração. administração s. f. 1. Gerência de negó- cios próprios, alheios ou políticos. 2. Casa onde se exer- ce a administração. 3. As pessoas que administram. 4. Exercício. 5. Ação! de conferir. É possível percebermos que, etimologicamente, a) os termos Gestão e Administração possuem o mesmo signi- ficado; e b) tanto a gestão como a Inspeção não podem ser entendidas exclusivamente como uma atividade burocrática, muitas vezes exterior à organização (à escola, por exemplo). Muito pelo contrário, já vimos que, no processo de desen- volvimento das sociedades, a organização social é um ato de gestão que provoca novas situações de gestão e inspeção, como tecnologia (conhecimento) necessária para o aprimo- ramento das atividades humanas. Logo, é correto afirmarmos que todo ser humano é, potencialmente e historicamente, um Gestor e um Inspetor dos seus próprios atos. É a relação entre os elementos acima descritos (tecnologia, organização social e patrimônio simbólico), e a eventual supremacia de um deles sobre os demais em deter- minados momentos da história, que promovem as transfor- mações sociais, possibilitando aos países e/ou outros grupos sociais, modificações profundas na sua estrutura social. 45 Constituem-se, portanto, como categorias funda- mentais para o estudo do Homem na sociedade e devem nos acompanhar nas nossas leituras e discussões sobre o assunto. Antes de darmos continuidade, porém, à compreensão de ou- tros conceitos importantes, é preciso estabelecer um princí- pio adotado na abordagem antropológica, que deve servir de referência para a compreensão da temática: ▪ Apesar de os estudos arqueológicos e antropológicos situa- rem o surgimento do Homem num período compreendido en- tre 500 mil e um milhão de anos, a existência do ser humano como um processo histórico-cultural, em que o Homem pas- sa a controlar sistematicamente a natureza e dela extrair – de forma organizada – o seu sustento, é relativamente recente: é nos últimos dez mil anos que se dá início aos primeiros processos civilizatórios, e é essa referência temporal (dez mil anos) que constituirá o nosso foco de análise, uma vez que a nossa temática está determinada pela relação do Homem com a Sociedade (organizada – por ele); portanto, não estamos fa- lando do Homem nômade, caçador e coletor, mas, do Homem que se sedentariza e promove transformações substanciais na sua organização social, em outras palavras, do Homem que produz cultura e se torna um ser civilizado, transcendendo da escala zoológica ao plano da conduta cultural. No próximo tópico, estudaremos os conceitos de Revoluções Tecnológicas e Processos Civilizatórios e como aconteceram (e acontecem), concretamente, na orga- nização social dos povos. Procure rever todos os conceitos aqui trabalhados. O seu domínio é um requisito indispensável para a compre- ensão dos próximos assuntos. 46 ▪ 2.2 INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS E PROCESSOS CIVILIZATÓRIOS Como vimos no tópico anterior, a construção histórica das sociedades acontece sobre um tripé formado pela tecnolo- gia (saber fazer), pela organização social (divisão do trabalho) e pelo patrimônio simbólico (ideologia). Na nossa análise, a tecnologia assume papel determinante sobre os outros dois componentes, o que implica considerarmos que a apropriação e/ou inserção de novas tecnologias em um ambiente social, provocará transformações substanciais nesse próprio ambiente e, consequentemente, no conjunto de conhecimentos que com- põem o patrimônio simbólico do grupo. São essas transformações significativas – e impul- sionadas pela absorção de tecnologias – que imprimirão o ca- ráter de desenvolvimento da população e definirão o seu per- fil político-social, econômico e cultural e o seu consequente posicionamento político no conjunto dos povos, vale dizer, na totalidade das relações socioeconômicas internacionais. Para entendermos como se dá, historicamente, a interconexão entre os três elementos citados e as implica- ções dessa relação na produção do ser humano civilizado, dois conceitos surgem, agora, como essenciais ao desenvol- vimento do assunto: Revoluções Tecnológicas e Processos Civilizatórios. Vejamos a definição de cada um deles, na óti- ca de Ribeiro (1997, p. 57-68): 47 “Empregamos o conceito de revolução tecnológica para indicar que a certas transforma- ções prodigiosas no equipamento de ação humana sobre a natureza, ou de ação bélica, correspondem alterações qualitativas em todo o modo de ser das sociedades, que nos obrigam a tratá-las como cate- gorias novas dentro do continuum da evolução so- ciocultural. Dentro dessa concepção, supomos que ao desencadeamento de cada revolução tecnológi- ca ou à propagação de seus efeitos sobre contextos socioculturais distintos, através de processos civi- lizatórios, tende a corresponder a emergência de novas formações socioculturais” (grifos meus). Podemos deduzir da frase anterior que, modifica- ções importantes (“prodigiosas”) ocorridas nos instrumentos de trabalho do Homem (“equipamento de ação humana sobre a natureza”), bem como aqueles direcionados para a guerra (“ação bélica”), acarretarão, consequentemente, modifica- ções (“alterações qualitativas”) no conjunto da sociedade, em seus aspectos profissionais (divisão do trabalho, especia- lização etc.) e culturais; novos instrumentos, desencadeando a necessidade de novos conhecimentos e provocando novas necessidades sociais, em uma espiral ascendente a que pode- ríamos chamar de desenvolvimento. Pequena reflexão: O que seria, por exemplo, dos exércitos que continuassem, na idade moderna, com a mesma tecnologia de guerra dos espartanos da Anti- 48 guidade? Compare a situação com um soldado ameri- cano nos dias de hoje. Ou, como fariam as sociedades de grandes massas (em termos de população) para a produção de alimentos, com os antigos arados de tração animal, como base tecnoló- gica para saciar a fome de milhões de pessoas? Apenas esses dois exemplos são suficientes para vislumbrarmos a importância da questão tecnológica para o processo civilizatório, o que significadizer: para o trabalho, a saúde, o lazer, a ciência, enfim, para todas as áreas em que o ser humano atua, transformando a natureza. Temos então que: a) Uma Revolução Tecnológica pode ser considerada como a propagação de uma invenção original ou inovação (conheci- mento, artefato, máquina) sobre diversos contextos sociocul- turais (ambientes, povos, países) e sua aplicação a diferentes setores produtivos. A partir dessa constatação, podemos in- ferir que “a cada revolução tecnológica podem corresponder um ou mais processos civilizatórios, através dos quais ela desdobra suas potencialidades de transformação da vida ma- terial e de transfiguração das formações socioculturais” (op. cit., p. 60); b) O Processo Civilizatório, nesse contexto, é o resultado (dinâmico) das transformações ocorridas a partir da intro- dução de novas tecnologias no grupo social, o que vai pro- vocar alterações na forma de organização social desse grupo e, consequentemente, no seu conhecimento, suas crenças e valores (patrimônio simbólico). Podemos acrescentar: uma mudança nos padrões de vida do grupo (em tese, mas não 49 necessariamente, para melhor), que passa a viver uma nova condição material de existência, um novo estágio de desen- volvimento. É possível expressar sinteticamente os raciocínios acima, pelo seguinte mapa conceitual: Um exemplo concreto, importante, cujo detalha- mento será realizado mais adiante, é a Revolução Agrícola que, além de representar o passo decisivo no processo de “humanização do Homem”, pelo que provocou de trans- formações na consciência dos seres humanos, constitui, ela mesma, um Processo Civilizatório, à medida em que con- figurou as primeiras formações socioculturais, na forma de aldeias agrícolas e pastoris. Para a Antropologia Histórica, na ótica de Darcy Ribeiro, vamos encontrar, ao longo dos dez mil anos de Pro- cessos Civilizatórios, pelo menos oito grandes Revoluções Tecnológicas, responsáveis pela configuração do mundo, para as quais dedicaremos nossa atenção nos próximos ins- tantes. São elas: CORRESPONDE A cada revolução tecnológica Novas formações socioculturais Um processo civilizatório geral Que dá origem a 50 ▪ Revolução agrícola; ▪ Revolução urbana; ▪ Revolução do regadio; ▪ Revolução metalúrgica; ▪ Revolução pastoril; ▪ Revolução mercantil; ▪ Revolução industrial; ▪ Revolução termonuclear. Veremos a seguir, em linhas gerais, as característi- cas de cada uma revolução tecnológica. 2.2.1 Revolução Agrícola A primeira grande Revolução Tecnológica iden- tificada como o primeiro passo do ser humano no que se convencionou chamar de Processo Civilizatório, deu-se a “apenas” 10 mil anos, na região conhecida, à época, como Mesopotâmia e, hoje, como Iraque. A Revolução Agrícola, considerada o “motor” do Processo Civilizatório e, como tal, o início de todos os proces- sos de transformação social, produziu vá-rios “fatos novos”. que caracterizaram essa nova formação social. Vejamos alguns: ▪ A ruptura com a condição das tribos de caçadores e coleto- res nômades; ▪ A especialização funcional de alguns grupos humanos nes- sa atividades produtiva; ▪ Como essa Revolução Tecnológica desdobrou-se em dois Processos Civilizatórios (a agricultura e o pastoreio), encon- tramos, de um lado, povos que se fizeram lavradores de tu- bérculos ou de cereais (aldeias agrícolas), e do outro, povos 51 que se especializaram na criação e domesticação de animais (hordas pastoris nômades). 2.2.2 Revolução Urbana Suas características essenciais podem ser descritas como se seguem: ▪ Surgimento das cidades e dos Estados; ▪ Estratificação das sociedades em classes sociais; ▪ Acontecem os primeiros passos na agricultura de regadio, na metalurgia do cobre e do bronze, na escrita ideográfica, na numeração e no calendário; ▪ As sociedades adotam o conceito de propriedade privada e estabelecem a escravização da força de trabalho. 2.2.3 Revolução do Regadio Caracteriza-se, fundamentalmente, pelo desenvol- vimento das grandes obras de irrigação, o que permitirá a formação das primeiras civilizações regionais, os impérios, dos quais os mais significativos são: Acádio (2350 a.C.) e Babilônico (1800 a.C.), Egípcio (Império Médio – 2070 a.C.), Maurya (na Índia – 327 a.C.), impérios chineses (de 1122 a.C. a 1644), Maias, Incas e Astecas, nas Américas, es- tes em fase mais recente. A quarta Revolução Tecnológica, como veremos a seguir, permitiu o incremento das atividades produtivas e o consequente expansionismo do colonialismo europeu. 52 2.2.4 Revolução Metalúrgica Essa Revolução caracteriza-se pela generalização de algumas inovações tecnológicas, como por exemplo, a técnica do ferro forjado, que possibilitou, entre inúmeros ou- tros artefatos: ▪ O desenvolvimento de uma agricultura mais produtiva nas áreas florestais; ▪ A fabricação de ferramentas de trabalho – armas, machados, pontas de arado e partes metálicas de embarcações, carros de transporte e de guerra, a mó rotativa, moinhos movidos a água – e, consequentemente, o aprimoramento dos veleiros, o que con- tribuiu sobremaneira para a expansão mercantilista europeia, da qual somos – no Brasil – a mais viva expressão histórica; ▪ A cunhagem de moedas, o que viabilizou o comércio externo. 2.2.5 Revolução Pastoril Utilizando-se dos benefícios da aplicação do ferro fundido aos problemas de produção e de guerra, permitirá a generalização do uso de selas e estribos, de ferraduras e do arnês1 rígido, o que melhorará significativamente a eficiência dos animais de montaria e tração, bem como a performance combativa dos guerreiros. De posse dessa tecnologia, alguns povos desenca- deiam um movimento de expansionismo messiânico, atacan- do áreas de antigas civilizações e cristalizando-as como uma nova formação sociocultural chamada de impérios despóti- cos salvacionistas. 1. Arnês: Antiga armadura completa de um guerreiro; arreios de cavalo; proteção, amparo. 53 A expansão acelerada das relações comerciais, as- sociada ao ímpeto imperialista de algumas civilizações, pro- vocará a emergência da sexta Revolução Tecnológica, que terá um significado especial para compreendermos a forma- ção socioeconômica brasileira. 2.2.6 Revolução Mercantil Essa Revolução define um momento absolutamente novo para a humanidade e irá construir um novo perfil das relações entre os países, o que significa estabelecer uma hierar- quia mundial de poder e uma configuração política em que as grandes decisões estarão centralizadas em alguns países da Eu- ropa e Estados Unidos, condição que perdurará em toda a era moderna, persistindo até os dias de hoje. É bem verdade que, no século XXI, as relações político-econômicas internacionais (capitalistas) passam por um processo de resistência e questio- namento por parte de vários países periféricos e organizações da sociedade civil, o que implica reconhecer que há, concre- tamente, evidências de que boa parte da população mundial questiona os comportamentos adotados, hoje, por países como Estados Unidos ou os membros da União Europeia, no sentido do protecionismo aos seus produtores, em detrimento da aber- tura dos seus mercados aos produtos estrangeiros. A Revolução Mercantil tem como grandes características: ▪ A sua consolidação como uma Revolução “com a qual se expandem as primeiras civilizações mundiais na forma de impérios mercantis salvacionistas e suas áreas de domina- ção, conformadas principalmente como colonizações escra- vistas” (p. 63); ▪ O desenvolvimento de uma tecnologia produtiva e militar, 54 no século XVI, fazendo aparecer, além dos impérios mercan- tis salvacionistas, o capitalismo mercantil; ▪ O desenvolvimento da tecnologia de navegação oceânica, baseada no aperfeiçoamento dos instrumentos de orientação (a bússola magnética, o astrolábio, as cartas celestes, cronô- metros e outros) e de navegação (as naus e caravelas, a vela latina, os barcos de guerras, entre outros). Essa fase dá início ao processo de globalizaçãoda economia, dado o caráter ex- pansionista e internacionalista das elites europeias, que trans- formam a mão de obra em um bem livremente negociável. 2.2.7 Revolução Industrial Deu lugar à estruturação dos imperialismos indus- triais e do neocolonialismo, submetendo todos os povos (co- lonizados) às mesmas formas – capitalistas – de ordenação da vida social, integrando-os aos mesmos corpos de valores da visão burguesa de mundo. Esse fenômeno possui absoluta importância para os nossos estudos, uma vez que a perspectiva burguesa de dis- seminar a sua visão de mundo a todas as classes sociais, na tentativa de consolidar um “pensamento único” e promover – na sociedade civil – a aceitação da organização social ca- pitalista, estará presente na produção cultural moderna, sob a forma de educação, entretenimento, política e formação acadêmico-profissional. 2.2.8 Revolução Termonuclear Finalmente, protagonizamos hoje a Revolução Ter- monuclear, ou como preferem alguns autores: a Sociedade 55 da Informação –, que apresenta imensas potencialidades de transformação da vida material de todos os povos e uma ca- racterística peculiar a essa fase: pode-se considerar, hoje, o planeta como uma única e imensa unidade de produção, na qual predomina a forma capitalista de relações socioeconô- micas e a visão liberal-burguesa de mundo. “Vivemos na era da informação”, pelo menos é uma frase comumente adotada por muitas pessoas e meios de co- municação, como que para caracterizar a sociedade do sécu- lo XXI. Há informação sobre previsão do tempo, esportes, diversões, finanças. O que nos cabe perguntar: que tipo de informação circula entre as pessoas, comunidades e países? Quem pro- duz e interpreta a informação que será repassada para as mul- tidões? A quem interessa o teor das informações divulgadas? Pense nisso, antes de passarmos para a Terceira Unidade deste livro. SÍNTESE DA UNIDADE Vimos, nessa Unidade, a relação direta que existe entre a tecnologia e as formas de vida das pessoas, ou seja, a incorporação das mais avançadas tecnologias da época, no processo produtivo, modifica qualitativamente a vida em co- munidade. Temos exemplos de sobra para verificar isso: TV, 56 celular, computador, artefatos sem os quais não seríamos, hoje, o que somos, e sem os quais também dificilmente nos adaptaríamos se os perdêssemos. Não esqueça que o conhecimento também é tecnologia. EXERCÍCIO PROPOSTO Faça uma verificação, no seu município, sobre as tecnologias que existem à sua volta, nas atividades rurais, fabris e comerciais. Perceba o grau de tecnologia que a sua comunidade desenvolve e procure relacionar ao nível de de- senvolvimento socioeconômico da sua região. Observe que, quanto menos tecnologias a população incorpora no seu dia a dia, no trabalho, no lazer, na cultura, menos desenvolvida culturalmente essa sociedade se encontra. Observe a veracidade dessa afirmação. Fique atento para esse fenômeno.
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