Buscar

Resenha Crítica - CIÊNCIAS POLÍTICAS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

RESENHA
 
PERISSINOTTO, R.M. 2007. Poder: imposição ou consenso ilusório? Por um retorno a Max Weber. Texto apresentado na Quarta Jornada de Ciências Sociais.
Layra Yohana Borges Silva Melo[footnoteRef:1] [1: Graduanda do curso de Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.] 
A literatura sobre Poder é controversa devido a este tema apresentar três principais problemas de definição: (a) a multiplicidade de conceituação, (b) operacionalização dessas definições e a sua (c) justaposição. Este tema ainda pode ser dividido em dois grandes campos, um em que o poder se baseia em relações hierárquicas cuja característica é o predomínio e o conflito, e outro, em que o poder é um conjunto de interações voltadas para a consecução de interesses coletivos. É ao primeiro que o Ensaio “Poder: imposição ou consenso ilusório? Por um retorno a Max Weber” se volta. 
Nesse ensaio de natureza teórica, o autor Renato Perissinotto tem como objetivo identificar as exigências metodológicas que a multiplicidade de definições que incidem sobre o poder (subjetivista e objetivista) podem recair ao estudioso. Assim, buscam mostrar cada uma dessas definições a fim de que se comprovem suas proposições, além de refutar a ideia de que essas concepções sejam excludentes. É com a contribuição clássica de Max Weber que o autor enceta o texto.
Para Weber, “poder significa a probabilidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social, mesmo que contra toda resistência e qualquer que seja o fundamento dessa probabilidade”. Daí a razão de começar com Weber, pois o desenvolvimento da concepção subjetivista do poder advém da definição sintética e metodológica weberiana. O autor sentiu necessidade de destrinchar a citação supracitada, pois ela apresenta exigências metodológicas ao analista.
Assim, por fundamento, podemos entender que é aquilo que dá base ao poder, pois o mesmo, necessita de certo fundamento para ser exercido. Assim, há diversos fundamentos, como por exemplo, para o poder econômico ser exercido, é necessário que o autor que queira fazer uso deste lance mão de recursos econômicos. Já no caso do poder político, é necessário que lance mão sobre a força. Assim, o fundamento é um importante elemento na diferenciação de diversas espécies de poder. 
Entretanto, não devemos confundir fundamento com poder. Pois o quantum de recurso que um agente controla não é o quantum de poder que ele exerce. Ter a posse de algum fundamento apenas significa que quem dispõe de algum recurso tem uma probabilidade de colocá-lo em exercício para impor à outra pessoa algo que lhe convém. Dessa forma, na visão weberiana é ilógico chegar a conclusões sobre o poder de um dado agente a partir da mera quantificação de seus recursos. É apenas na relação social que um recurso deixa de ser um mero recurso e passa a tornar-se poder. Pois, não podemos confundir poder com posses, pois o mesmo para existir tem que ser exercido sobre alguém.  
O autor ainda chama atenção ao se reduzir o poder como uma maneira de obter do outro o comportamento desejado, pois esse reducionismo torna impossível a diferenciação de outras formas de interação social, como a manipulação e a influência. É importante o estudioso ter conhecimento de que poder implica em uma forma específica de obter do outro o comportamento desejado.  
A quem está interessado em exercer o poder, é necessário ainda saber os bens que são valorizados por aquele que se pretende coagir, pois não há razão de privá-lo de algo que ele não valoriza. Assim, o poder é uma decisão produzida pelos dois lados da equação. Pois, segundo o autor, o comportamento dos agentes baseia-se em cálculos de custo-benefício: aquele que procura exercer o poder busca entender o benefício e as vantagens a serem obtidas ao submeter outro agente a ele. Já o que está em submissão, calcula o que ele ganharia ou perderia com a obediência ou rebelação. 
Trazendo esse conceito ao campo da economia, este mostra-se de acordo com a conceituação do “homo oeconomicus”, em que o indivíduo é racional e maximizador de utilidade. Contudo, devemos nos perguntar se de fato os agentes agem de maneira racional, ou que são de fato racionais em seus cálculos. Não deveríamos considerar que há assimetrias de informações, e que, portanto, os cálculos podem vir a dar resultados equívocos, já que os indivíduos nem sempre têm acesso à todas as variáveis?
No tópico “Resistência e Conflito”, o autor esclarecem a relação de conflito existente na concepção weberiana de poder. Pois, nem toda relação de conflito implica num exercício aberto da resistência por parte daquele que está para ser submetido. Assim, o autor distingue esses dois elementos através da lógica: Sendo “A” é portador da preferência x e “B”, da preferência y; se “A” ordenar que “B” faça x ao invés de y; “B” resiste; então “A” ameaça-lhe de privações e “B” obedecerá. No entanto, as relações de poder se desenvolvem através da “regra das reações antecipadas”, com “B” adotando o comportamento desejado por “A” sem esboçar resistência e sem que “A” dê uma ordem, pois por experiências passadas, “B” já tem conhecimento das consequências negativas que ocorrerá caso desobedeça a “A”. Essa explicação é essencial para visualizarmos a relação social como uma relação de poder. 
Entretanto, as relações sociais nem sempre se baseiam em um jogo de soma zero, em que para um ganhar o outro precisa perder. Nas sociedades democráticas, as relações sociais são dirigidas ao atendimento dos interesses dos diversos atores e grupos, de forma que haja a realização da eficiência de Pareto, em que pode-se melhorar a situação de um agente sem piorar a situação de outro. Ademais, o que garante que os atores envolvidos nesses conflitos estejam de fato conscientes de que, no que tange às suas preferências, estes são antípodas? Pois, há grupos que não possuem consciência material de sua situação. 
É com esse questionamento que o autor prossegue a discussão lançando mão sobre a concepção objetivista. Para o autor da concepção objetivista, o ponto de partida para analisar as relações de poder está contida na dúvida de seus consensos. Para estes teóricos, um dado consenso pode ser resultado das relações de poder, em que há a primazia dos valores dos dominantes, fazendo com que o estado de dominação não seja percebido pelos dominados. 
Assim, o poder não pode simplesmente ser reduzido à tomada de decisão, pois há assuntos pertinentes que são retirados da agenda política, impedindo certas queixas de se apresentarem como questões desenvolvidas que clamam por decisões, assegurando assim, os interesses dos grupos dominantes sem colocá-los em ameaça. Portanto, o papel fundamento do estudioso é detectar o viés predominante no sistema político, e não apenas quem predomina no processo decisório. 
Até porque, no sistema político pode haver decisões não tomadas que são mais significativas do que aquelas que foram decididas. Entretanto, o autor deixa bem claro duas problemáticas nessa afirmação, pois não temos como saber qual não-decisão é significativa para a vida política, sendo assim, não há como submetê-la ao teste empírico.
Contudo, nem todas as não-decisões são um evento que não ocorreu. Ela pode ser testada empiricamente num processo político em que haja conflito. Assim, esse conflito quando observado é metodologicamente fundamental para o estudo científico das relações de poder, já que o cientista político só pode julgar uma relação como sendo de poder se houver conflitos observáveis. 
Apesar disso, em períodos de crises em que o poder é enfraquecido, não é o conflito observável que nos permite a identificação da existência do poder, mas sim, dos comportamentos adotados por grupos dominados que não comportariam dessa forma se não estivessem vivenciando tempos anormais. 
Renato Perissinotto ainda resgatam a sociologia do poder em Foucault e Bourdieu. Para o autor supracitados, as relações sociais presentes são caracterizadas por uma desconfiança em relação ao consenso, que é iniciada após uma percepção das desigualdadesna distribuição de recursos sociais. Para Bourdieu, essa desigualdade está expressa na distribuição desproporcional do capital,  pois, como esse é o que determina os ganhos, aquele que o possui em menor quantidade está menos apto a dominar na dinâmica social. Para Foucault, a desigualdade está expressa nas posições que os agentes ocupam no “sistema de diferenciações”: diferenças econômicas na apropriação das riquezas; diferenças linguísticas ou culturais, diferenças nas habilidades e etc. 
Após percorrerem a literatura sobre Poder, o autor finaliza o ensaio sugerindo uma maior demanda às concepções clássicas de Weber, pois sua distinção entre dominação e poder ainda é uma poderosa ferramenta analítica, já que os dois elementos foram usados juntos por esse grande sociológico e ajudou-o a definir a dominação como uma espécie de poder, em que os dominados internalizam as regras de mando dos dominados, fazendo com que a dominação se torne uma relação social marcada pela regularidades das condutas.

Outros materiais