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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA REGIÃO TOCANTINA DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS SOCIAIS E LETRAS-CCHSL CURSO DE PEDAGOGIA MILENA DA SILVA SANTOS ALUNOS DO CAMPO NA ESCOLA URBANA DO DISTRITO DE BANANAL - GOVERNADOR EDISON LOBÃO: desafios e possibilidades Imperatriz 2019 MILENA DA SILVA SANTOS ALUNOS DO CAMPO NA ESCOLA URBANA DO DISTRITO DE BANANAL - GOVERNADOR EDISON LOBÃO: desafios e possibilidades Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão, para obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia. Orientadora: Profª Carmem Barroso Ramos Imperatriz 2019 MILENA DA SILVA SANTOS ALUNOS DO CAMPO NA ESCOLA URBANA DO DISTRITO DE BANANAL - GOVERNADOR EDISON LOBÃO: desafios e possibilidades Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão, para obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia. Aprovada em: / / BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Profª. Carmem Barroso Ramos (Orientadora) Doutora em Educação Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão ______________________________________________________ Prof. José Siney Ferraz Rodrigues (Examinador) Mestre em História e Doutorando em História Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão _______________________________________________________ Roza Maria Soares da Silva (Examinadora) Mestra em Educação e Doutoranda em História Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão A toda minha família em especial aos meus pais José Paulino e Cleia pela força e coragem que me deram. A minha mãe que me gerou Maria (in memorian) a minha avó Eliza (in memorian) que sempre me incentivou durante todo o curso e a minha prima Amanda (in memorian). AGRADECIMENTOS A Deus em primeiro lugar, pelo discernimento e sabedoria proporcionado a mim, na oportunidade de ter chegado até aqui. A minha família por todo suporte como os meus pais, a minha irmã Gabriela e ao meu namorado Wisiley por toda ajuda necessária assim como as minhas primas. As minhas amigas Mayara, Ana Beatriz, Ingrid, Jovana pelo incentivo durante a construção do trabalho. E também aos meus colegas de curso pela jornada durante estes quatro anos juntos que me possibilitaram conhecer e vivenciar momentos inesquecíveis no curso. Quero agradecer as pessoas que participaram da pesquisa, pela colaboração e confiança na obtenção de dados informados e pela disposição durante as entrevistas. A todos os professores que tive a oportunidade de conhecer e aprender mais especialmente a minha orientadora Carmem Barroso Ramos pela dedicação, atenção ao me ajudar, por todo apoio e paciência ao longo da elaboração do meu projeto final. Não posso deixar de agradecer a esta universidade por ser um espaço que privilegia o conhecimento e onde todas as ideias são bem recebidas. “Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina”. Paulo Freire https://www.pensador.com/autor/paulo_freire/ RESUMO O aumento migratório da população rural nas cidades é intensificado pela falta de recursos indisponíveis no campo para as famílias rurais, assim como a ausência de escolas, onde registram-se o grande fluxo de crianças da zona rural em escolas urbanas. Neste viés, este trabalho objetiva analisar o desenvolvimento dos alunos do campo na escola, identificando as dificuldades enfrentadas por eles, os desafios da escola para inclui-los, como também a participação da família neste processo. Trata- se de um estudo de caso, uma pesquisa qualitativa cuja investigação foi realizada em uma escola pública com base em entrevistas com a coordenação, aplicação de questionários aos professores, observação na sala de aula e conversação com os alunos. Ao analisar os dados obtidos na pesquisa, foi possível verificar as adversidades encontradas tanto pela família, os alunos e a escola para desenvolver e garantir um bom aprendizado destes alunos, o principal fator é atribuído a distância entre a escola e a comunidade rural, que impede de as famílias acompanharem diariamente a vida escolar dos filhos, a escola de se envolver com a realidade dos alunos, da mesma forma para garantir a permanência dos mesmos na escola. Para tanto, a práticas escolares do modelo urbano necessitam ser repensadas para uma educação do campo que inclua estes alunos num leque de conhecimentos urbanos quando do campo buscando uma autonomia em relação aos diversos saberes. Assim, este trabalho procura contribuir com a problemática da defasagem dos alunos do campo nas escolas nos centros urbanos de modo que, sejam integrados aos currículos escolares, projetos, promovendo reflexões das práticas pedagógicas dos professores em sala de aula. Palavras-chaves: Diversidade de Saberes; educação do campo; práticas pedagógicas. ABSTRACT The migratory increase of the rural population in cities is intensified by the lack of unavailable rural resources for rural families, as well as the absence of schools, where there is a large flow of rural children in urban schools. In this bias, this paper aims to analyze the development of rural students in the school, identifying the difficulties faced by them, the challenges of school to include them, as well as the family participation in this process. This is a case study, a qualitative research whose investigation was conducted in a public school based on interviews with the coordination, questionnaires to teachers, observation in the classroom and conversation with students. By analyzing the data obtained in the research, it was possible to verify the adversities encountered by both family, students and school to develop and ensure a good learning of these students, the main factor is attributed to the distance between the school and the rural community, which prevents for families to monitor their children's school life daily, the school to engage with the students' reality, in the same way to ensure their permanence in school. Therefore, the school practices of the urban model need to be rethought for a rural education that includes these students in a range of urban knowledge when in the countryside seeking autonomy in relation to the various knowledge. Thus, this work seeks to contribute to the problem of the gap between rural students in schools in urban centers so that, in order to be integrated with school curriculum, projects, promoting reflections on teachers' pedagogical practices in the classroom. Keywords: Diversity of Knowledge; Rural Education; pedagogical practices. LISTA DE ILUSTRAÇÕES GRÁFICOS Gráfico 1- Número de escolas em Governador Edison Lobão-Ma...............................36 Gráfico 2- Número de matriculas por níveis de ensino...............................................38 Gráfico 3- Desenvolvimento da Educação Básica no município-Anos iniciais.............39 Gráfico 4- Desenvolvimento da Educação Básica no município-Anos finais..............40 Gráfico 5- Evolução do Saeb no Setor agrícola do Ensino fundamental....................41 Gráfico 6- Resultados do nível de aprendizagem dos alunos naprova Brasil............42 Gráfico 7- Índice de desempenho dos alunos no ano de 2019....................................67 QUADROS Quadro 1- Formação e período que trabalha na escola campo...................................62 Quadro 2- Número de alunos do campo contidos nas turmas de 2º a 5º ano...............62 Quadro 3- Perfis dos alunos na sala segundo os professores....................................63 Quadro 4- Intervenções do professor as dificuldades dos alunos do campo...............66 Quadro 5- Formações acerca da educação do campo na escola...............................66 TABELAS Tabela 1- População da zona rural e urbana do Brasil de 1960-2010.......................22 Tabela 2- Crescimento econômico e industrial do município de Gov. Edison Lobão (2015-2018) ...............................................................................................................43 Tabela 3-População total Urbana/Rural de Governador Edison Lobão-Ma.................45 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................11 1 A INTERDEPENDÊNCIA ENTRE O RURAL E O URBANO NO BRASIL............17 1.1 Da educação rural para a do campo: Uma contraposição ao modelo urbano….24 1.2 A luta pela terra no campo Maranhense..............................................................32 2 DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO. DE RIBERÃOZINHO .37 2.1 A influência da Industrialização na educação edison-lobense.............................44 2.2 A progressão do ensino no Bananal....................................................................47 2.3 A escola Paulo Renato de Souza.........................................................................50 3 AS DIFICULDADES DA PROPOSTA CURRICULAR PARA A EDUCAÇÃO DO CAMPO: UMA PERSPECTIVA DE DESENVOLVIMENTO E IMPLEMENTAÇÃO..52 3.1 O currículo escolar pensado no aluno do campo inserido na escola urbana: A visão do coordenador pedagógico da escola campo.................................................56 3.2 A concepção de alunos do campo no projeto político pedagógico da escola Paulo Renato de Souza............................................................................................61 4 POSSIBILIDADES E DESAFIOS DOS ALUNOS DO CAMPO NA ESCOLA URBANA: A VISÃO DO PROFESSOR E DO ALUNO.............................................64 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................72 REFERÊNCIAS....................................................................................................74 APÊNDICES........................................................................................................ 78 ANEXOS.............................................................................................................. 84 11 INTRODUÇÃO Na sociedade brasileira as relações entre o campo e a cidade foram se modificando nos últimos anos, que de acordo com Lefebvre (2001) “as relações se transformaram e as formas ganharam novos conteúdos”. Dessa forma, a zona urbana aparece como supridora de bens e serviços técnico científicos, assim como saúde, educação e lazer, e o campo, nesse sentido, devido à falta de alguns destes recursos, utiliza-os para suprir suas necessidades. A população do campo, de comunidades rurais, assentamentos, e famílias agrícolas, vivem numa realidade diferente da vida urbana, principalmente pelo modelo de educacional que demanda escolas projetadas as práticas rurais. Neste aspecto, no campo nem sempre há escolas, o que faz com que os alunos se desloquem para estudarem nos centros urbanos, que por sua vez, afetam na vida e no desenvolvimento destes alunos. Os alunos que vivem em fazendas para estudarem precisam se deslocar para os centros urbanos o que implica na dependência do rural com o urbano, diante disso, buscou-se responder ao seguinte questionamento: Quais os principais desafios enfrentados pelos alunos dos anos iniciais que moram em comunidades rurais e estudam na escola urbana? Quais as principais dificuldades e possíveis alternativas para contribuir com o melhor rendimento desses alunos? Como se dá a relação escola e campo? De que forma são valorizadas a cultura dos alunos oriundos do campo? A partir dessas indagações o trabalho se desenvolveu com intuito de obter alternativas viáveis ao problema. De forma geral, cada vez mais os alunos do campo estão sendo inseridos em escolas urbanas, diante deste aspecto, o objetivo desta pesquisa pretende analisar o desenvolvimento dos alunos do campo na escola urbana do Distrito de Bananal - Governador Edison Lobão, evidenciando os desafios e possibilidades no ensino. Como também especificar de que forma os alunos do campo se adaptaram à escola, identificando as principais dificuldades e possíveis alternativas de intervenção. Remetendo-se assim ao currículo e o projeto político-pedagógico da escola como suporte para auxiliar os professores neste processo. O interesse sobretudo pela temática parte da relação obtida no estágio por observar nas aulas o processo de ensino e aprendizagem dos alunos das comunidades rurais mais próximas do Bananal, na medida que é uma situação muito 12 característica do lugar de inserir os alunos do campo na escola. Assim, o trabalho torna-se relevante por buscar enfatizar a educação dos alunos do campo nas escolas da zona urbana, analisando as intervenções dos professores para auxiliar os alunos na escola, a busca por compreender a realidade deste aluno que vem do campo para a cidade. Por isto, para o desenvolvimento da pesquisa, foram utilizados alguns procedimentos metodológicos como: pesquisa bibliográfica e documental, com instrumentos de observação, questionários e entrevista semiestruturada, caracterizada principalmente por uma abordagem qualitativa de estudo de caso que segundo Gil (2009) baseando-se nos estudos de Yin (2001) afirma que há algumas etapas seguidas neste tipo de pesquisa: “O estudo de caso é uma investigação empírica de um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, sendo que os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definido”. Portanto, o estudo de caso é um modo de se investigar um fenômeno empírico seguindo um conjunto de procedimentos pré-especificados e que pode ser utilizado, especialmente, com as seguintes finalidades 1.formulação do problema; 2.definição da unidade-caso; 3.determinação do número de casos; 4. Elaboração do projeto; 5.Coleta de dados; 6. Avaliação e análise de dados; 7.preparação do relatório. Diante disto, está associada a análise, observação do desenvolvimento, cotidiano dos alunos do campo nas escolas da zona urbana, a atuação dos professores destas escolas faz em prol da educação destes alunos. Assim a natureza da pesquisa pressupõe a busca por elevar a importância do aluno como sujeito no processo de construção do conhecimento, levando em consideração suas descrições de experiências influenciadas pelo modelo urbano escolar. Os sujeitos da pesquisa são os alunos, pais ou responsáveis pelos alunos, professores e a coordenação pedagógica e com uma observação da estrutura, dos elementos das escolas, contemplando a realidade dos educadores e alunos, o uso de questionário de caráter aberto para complementar mais as informações obtidas. Para tanto, foram fundamentais nesse processo de investigação alguns autores que serviram de base para se compreender o contexto que os alunos do campo vivem, assim como suas famílias pelo trabalho na agricultura e a luta por espaço e o direito por um pedaço de terra. Destacam-se: Lefebvre (2001), Mota; Schmitz (2002), Sorj 13 (1986), Graziano (2002), Martins (1980), Caldart (2004), Azevedo (1982), Leite et al (2004),Gistelinck (1988) essenciais para o aprofundamento teórico da pesquisa. O presente estudo referido aos alunos do campo sobre sua isenção na escola urbana pela falta de uma educação do campo em sua comunidade rural, se desenvolverá em uma escola que atende aos anos iniciais do Ensino Fundamental no centro urbano de Bananal. O local da pesquisa por sua vez, fica localizado no município de Governador Edison Lobão-Ma que por sua vez, obteve autonomia política em 10 de novembro de 1994, sendo incluída na mesorregião Oeste maranhense desmembrando-se de Imperatriz. No município há 15.895 habitantes segundo o último censo realizado e estima-se que em 2018 há 18.068 pessoas. (IBGE,2010). O município é cortado por vários córregos de água cristalinas, recebendo assim o nome de Ribeirãozinho como muitos moradores conhecem. Tem como riqueza arroz, milho, babaçu e diamantes, sobretudo a intensa exploração tornaram-nas escassas. Além disso, abrange alguns povoados em sua maioria localizados na zona rural como assentamentos Palmares, Gameleira, Setor Agrícola, no povoado Diamantina no Ribeirãozinho da Roça, São Raimundo (Pé da Serra) e povoado Cachoeirinha. A zona urbana é composta por povoados e distritos como por exemplo Bananal, que recentemente foi nomeado distrito pelo seu desenvolvimento e crescimento em todos os setores desde o comércio, saúde, esporte e educação. A zona rural do município é caracterizada por famílias que vivem da pesca, da pecuária e lazer já que há muito riachos que são utilizados como ponto de descanso, no qual possibilitam uma forma de fonte de renda. A localização dos espaços rurais é distante da cidade sendo que o mais próximo é o distrito de Bananal onde muitos recorrem para comprar mercadorias, roupas, e até mesmo trabalharem em alguns casos. Todavia, alguns recursos são escassos no campo, em relação a saúde não há unidades de atendimento apenas ocorrem uma vez ao mês em que equipes são enviadas para atender a população, o comércio é pequeno de modo que não atende toda a comunidade rural e a na educação somente há uma escola, sobretudo oferecem níveis desde a educação infantil e ensino fundamental somente o ensino médio é ofertado na zona urbana. Segundo os primeiros moradores do distrito Bananal, dois irmãos se mudaram para uma fazenda localizada no povoado ainda sem muitos habitantes em junho de 14 1917. O povoado na época era conhecido por Tiçarra devido ao nome de um pequeno posto fiscal. A família que morava na fazenda tinha como posse todas as terras daquele pequeno lugar e assim com o crescimento da família as terras foram distribuídas e aos poucos se desenvolvia. Diante disso, com a criação da rodovia Belém Brasília em 1950, a população que já residia no povoado teve muitas oportunidades de emprego além da facilidade de poder ir à cidade de Imperatriz, no qual o acesso de estradas para regiões rurais era muito difícil. Ao longo dos anos o povoado crescia, possibilitando a criação de balneários, a produção agrícola se expandia nas fazendas e as primeiras escolas foram surgindo. Inicialmente as aulas ocorriam em pequenos barracos como afirma uma das moradoras. “ As escolas começaram nas casinhas, os barracos e até embaixo de pé de árvores. “A primeira escola mesmo foi mandada pelo povo de Brasília e só tinha duas salas e a secretária”. O nome do povoado se deve ao rio Bananal, afluente da margem direita do rio Tocantins que tinha em suas margens, muitas bananeiras do tipo brava, pela grande plantação que havia o povoado recebeu o nome de Bananal. Segundo os primeiros moradores, dois irmãos se mudaram para uma fazenda localizada no povoado ainda sem muitos habitantes em junho de 1917. Em vista do grande desenvolvimento que ocorrera, foi criado uma comissão com o projeto de pró-emancipação do até então povoado Bananal com o objetivo de torna-lo independente pois havia a crescente presença de industrias, produção agrícola em fazendas, o aumento do número de escolas, movimentando a economia do município de Governador Edison Lobão. Em detrimento disto, criou-se o projeto de lei nº 003/2019 que estabelece ao antigo povoado o título de distrito: Graças a uma evolução natural, lenta, mas de forma positiva, o povoado Bananal foi aos poucos adquirindo mobilidade por ser próxima a cidade de Imperatriz cortada pela BR-010 (Belém Brasília) como também pela estrada de ferro Carajás no transporte diário de passageiros e cargas, principalmente de minério da Serra do Carajás no Estado do Pará. (GOVERNADOR EDISON LOBÃO,2019) Diante disso, com a categoria de distrito, muitos benefícios serão obtidos para a população, como a criação de casa lotérica no local, a implantação de bancos, e até cobertura de telefonia móvel no qual é um recurso antes indisponível para os moradores. O distrito Bananal antes com categoria de povoado mais precisamente a 15 zona urbana do município, se tornou principal via de acesso para alguns recursos como saúde, comércio e educação de alguns assentamentos próximos a ele já que na zona rural não são oferecidos todos os níveis de ensino no qual os alunos se deslocam para o Bananal para terminarem os estudos. Desta maneira, trouxe uma certa dependência o que fez com que o distrito se desenvolvesse mais para suprir as necessidades também dos assentamentos vizinhos. Portanto, o trabalho estrutura-se em quatro capítulos apresentando-se o primeiro intitulado: A interdependência entre o rural e o urbano no Brasil descrevendo os marcos históricos acerca da relação do campo e a cidade, caracterizando a luta pela terra da população rural, buscando conquistar seu espaço, enfatizou-se também a inserção de crianças do campo em escolas urbanas vinculadas a uma certa dependência educacional. Já o segundo capitulo: Desenvolvimento da Educação no município, aborda como ocorre a educação, em detrimento da criação das escolas no município de Governador Edison lobão, explicitando a influência que os avanços das industrias no local tiveram para que a educação progredisse, destacando assim o desenvolvimento das escolas em Bananal, principalmente a escola campo, onde se realizou a pesquisa. Outro ponto nesse capitulo, são o surgimento das escolas agrícolas que foram importantes conquistas em alguns assentamentos, pois não precisariam mais se deslocar para a cidade. No terceiro capitulo: As dificuldades da proposta curricular para a educação do campo: uma perspectiva de desenvolvimento implementação, expõe as propostas que a escola desenvolve no projeto político pedagógico em torno dos alunos do campo, como são organizadas as práticas pedagógicas no currículo, quais eixos contemplam a zona rural. Neste ponto de vista, será evidenciado a fala do coordenador para fundamentar e complementar esta análise, apontando o currículo escolar e o PPP como pontos centrais de discussão. Continuamente, o quarto capitulo designado: Possibilidades e desafios dos alunos do campo na escola urbana: a visão do professor e do aluno, apresenta a análise de dados obtidas na pesquisa na escola campo tendo como foco o professor e o aluno, descrevendo a relação desenvolvida em sala de aula quanto as dificuldades e avanços no ensino , tomando como partida a realidade dos alunos da zona rural na visão do professor como se dá o processo de aprendizagem destes alunos, e na visão 16 do aluno , como é para ele ter que sair de onde mora para estudar em outra localidade, como afeta ou não no seu rendimento. 17 1 A INTERDEPENDÊNCIA ENTRE O RURAL E O URBANO NO BRASIL Os espaços rurais e urbanos nos últimos anos sofreram mudanças significativas que permitiram uma aproximação entre o homem do campo e o da cidade. Diante do acelerado processo de urbanização, a relação entre o trabalhadorrural e o urbano se deu principalmente por meio da agricultura onde o pequeno proprietário de terra realiza atividades agrárias tanto para seu consumo como para comercializar nos centros urbanos, uma vez que, a mesma depende da produção agrícola do campo e o campo depende do que são produzidos na cidade, essa relação de interdependência se caracterizou pelo fornecimento de matérias primas e mão de obra do campo para a cidade, utilizada como valor de troca para o consumo de produtos urbanos principalmente com o desenvolvimento do agronegócio no país. Por conseguinte, com o desenvolvimento capitalista no país a partir do século XX, as relações entre o campo e cidade se modificaram gradativamente principalmente pela “organização de novas formas de produção, que por sua vez, caracterizaram divisões do trabalho social” (LEFEBVRE,2001, p.36). Segundo o autor esse processo representou uma nova concepção de campo e cidade já que com essa separação os limites entre eles se tornaram difíceis de se delimitar. O autor ainda destaca que a divisão entre campo e cidade pode ser melhor compreendida por meio de uma periodização entre as eras agrária, industrial e urbana. A industrialização neste aspecto, intensificou ainda mais a relação de interdependência entre o campo e a cidade marcada pela dominação urbana na economia em que o mercado da produção do campo é controlado pela cidade, pois o produto do campo é transformado nas fábricas onde se acrescentam valores ao novo produto, no qual o agricultor do campo que antes produzia para si, acaba ficando subordinado as atividades industriais. Desse modo, muitos questionamentos acerca das relações do campo e cidade sobrevieram ocasionado pelo processo de industrialização repensando-se nas dinâmicas de produção atreladas a elas. Isso gerou debates para uma nova percepção de cidade-campo e urbano-rural na medida que ambos não existiam separados, mas sustentados pelo campo que por muito tempo foi e ainda é o principal modelo de sociedade brasileira. Nesse sentido, Biazzo (2008, p.18) esclarece discorrendo que: 18 Campo e cidade são formas concretas, “materializam-se e compõem as paisagens produzidas pelo homem; ‘urbano’ e ‘rural’ são representações sociais, conteúdo das práticas de cada sujeito, cada instituição, cada agente na sociedade. Para tanto, nesses debates entendia-se no primeiro momento, que o campo pertencia a uma realidade especifica contrária da cidade, e ao mesmo tempo que são vinculadas uma a outra. Embasados nisso, algumas teorias foram formuladas por geógrafos, sociólogos que partiram da perspectiva que segundo Mota; Schmitz,(2002) “As definições existentes do que seja rural e urbano, campo e cidade, de uma forma geral, estão associadas a três grandes abordagens: a dicotômica, a de continuum e a de permanência das ruralidades.” Mediante tal ponto, a expressão dicotomia do campo-cidade remete-se a ideia de espaços opostos numa visão econômica no qual o campo acaba se tornando local reservado para a produção agropecuária, e a cidade, no entanto, responsável pela produção central nas indústrias de modo que subsidiaria bens e serviços à população do campo. Tal pensamento, refere-se ao campo como espaço de atraso, isolado de qualquer forma de avanço sendo a cidade o espaço de crescimento, modernidade e progresso. Dentre as teorias acerca da definição destes espaços a continuum se destaca por uma abordagem de integração do campo ao urbano por meio da indústria na tentativa da urbanização rural alegando que sem esse processo o rural passaria a não existir. Graziano (2002, p.8), que afirma ser a urbanização do campo apenas uma questão de tempo: [...] está cada vez mais difícil delimitar o que é rural e o que é urbano. Mas isso que aparentemente poderia ser um tema relevante, não o é: a diferença entre o rural e o urbano é cada vez menos importante. Pode-se dizer que o rural hoje só pode ser entendido como um continuum do urbano do ponto de vista espacial; e do ponto de vista da organização da atividade econômica, as cidades não podem mais ser identificadas apenas com a atividade industrial, nem os campos com a agricultura e a pecuária. Percebe-se então a estreita relação do campo como uma extensão fundamentada nos preceitos da cidade numa análise de dependência para o desenvolvimento da população rural, denotando uma contrariedade a diversidade do campo excluindo suas particularidades. Em contraponto a afirmação de Graziano, 19 (WADERLEY,2001, p.33) retoma o pensamento, enfatizando a importância das singularidades do meio rural. [...] as particularidades de cada um não são anuladas, ao contrário são a fonte da integração e da cooperação, tanto quanto das tensões e dos conflitos. O que resulta desta aproximação não é a diluição de um dos pólos do continuum, mas a configuração de uma rede de relações recíprocas, em múltiplos planos que, sob muitos aspectos, reitera e viabiliza as particularidades. Neste viés pode-se compreender que ao pensar em uma transformação no campo pensa-se na organização da mesma desde a produção agrícola como ponto e partida para as efetivas mudanças. Assim a reflexão de um possível enfraquecimento do rural perpassa buscando-se desse modo, o fortalecimento da permanência do ruralismo de acordo com Mota; Schmitz (2002) as relações entre o campo e a cidade no Brasil se alteram ao longo do tempo ainda mais no período de influência da industrialização, evidenciando a “centralidade urbana numa hierarquia que configura o campo parcialmente dependente da cidade, condição associada por interesses econômicos que consequentemente atingiu mais a estrutura do campo”. Vale ressaltar que inicialmente o modo industrial concentrou-se no estado de São Paulo que se caracterizou pela obtenção do capital por meio da produção cafeeira pois as atividades nesse ramo já não estavam prosperando, assim possibilitando a industrialização tornado sua agricultura moderna e prática, o que causou a migração para o estado. (SORJ, 1986) Nesse período, a produção cafeeira nas fazendas, era organizada pela a oligarquia agrária, grupo formado por famílias com grandes propriedades agrarias voltado para a produção de café para exportação. Esse grupo importava e incorporava a cultura da sociedade burguesa vigente na Europa. Desse modo, com o aumento da exportação do café, as relações com o comércio internacional se intensificaram, promovendo o desenvolvimento do capital no país. Sobretudo, divergências entre os proprietários de terra e o setor industrial que dependia necessariamente da continuação da exportação agrária para investir nas indústrias e máquinas foi marcante, pois o café, que liderava a política econômica da República Velha, fez com que as indústrias sofressem com a política de valorização do café, já que o governo mantinha baixo o valor da moeda, para trazer lucros aos 20 fazendeiros, mas ao mesmo tempo, encarecendo máquinas, equipamentos importados, e prejudicando-as (FERREIRA, 1990, p.254). Em função da transição da economia de base agroexportadora para uma economia urbano-industrial, a partir da crise do café em 1929, conhecida como a Grande Depressão, a economia cafeeira no país foi afetada, decaindo sua produção. Isto consequentemente causou uma queda nos preços, atingindo a exportação nas fazendas, fato que levou as “oligarquias cafeeiras ao enfraquecimento econômico, havendo a quebra de vários bancos e, posteriormente, a falência de muitas indústrias” (FERREIRA, 1990, p. 255). Sendo assim, o Estado passou a exercer forte presença no desenvolvimento econômico, por meio de políticas desenvolvimentistas que atendiam aos interesses da oligarquia cafeeira. O interesse pela industrialização e o anseio em aumentar a produção nacional resultaram no processo de modernização da agricultura brasileira nos anos de 1960,culminando na manutenção dos problemas no campo e a existência de conflitos localizados pela posse da terra. Desde a Idade média com o desenvolvimento das atividades comerciais que por sua vez, ocasionaram o surgimento das cidades, a classe burguesa se mantém dominante tornando os principais proprietários das forças de produção. Diante disso, muitos camponeses pressionados pela elite econômica e política começaram a deixar o campo buscando meios de sobrevivência, pois suas terras foram confiscadas e cercadas (enclosure) pele elite agraria da produção têxtil principalmente na Inglaterra do século XVII a XVIII. A partir da Revolução Industrial se dá o deslocamento das pessoas oriundas da zona rural em busca de empregos, escolas, na zona urbana. Este fenômeno é chamado por muitos pesquisadores de êxodo rural. Processo causador das piores desigualdades e desumanidades fruto do péssimo gerenciamento de governos que não se interessam em desenvolver políticas públicas eficientes. . Nessa perspectiva, Seabra (2004, p.187) relata que: Sobre os recém-egressos do campo se exerceu um fascínio da cidade, tanto pela materialidade que guarda todos os tempos, (as catedrais, os mosteiros, jardins e praças públicas) como pelas ideias tomadas ideais em circulação. A literatura faz crer que a cidade chegou a ser promessa de um mundo melhor porque dela foi veiculada para a sociedade inteira uma imagem de mundo com novas possibilidades, principalmente para os migrantes rurais que deixavam os arados e as enxadas. 21 O intenso fluxo de lavradores rurais que saíram do campo em busca de trabalho nas cidades representou uma insatisfação pelas condições dadas a eles, onde muitos se encontravam “marginalizados em condições sub-humanas nas favelas. Outra parte entra sertão adentro a procura de terras desocupadas, longes das grandes empresas para fazer sua roça”. (MARTINS,1980, p.50). Além do que foi exposto, outros motivos foram o processo de mecanização das atividades rurais que buscava melhorar a produção, e sobretudo a queda da economia no meio rural já que com a modernidade e implementação de novas tecnologias, os mecanismos utilizados antes já não conseguiam manter a produtividade. Outro fator crucial foi a pobreza no campo gerada pela exploração dos trabalhadores e o cercamento das terras comunais, a concentração de terras sob o domínio de poucos produtores da terra, a instabilidade do trabalho assim como a dificuldade ao acesso da população rural para a cidade. A industrialização ocorrida no Brasil por sua vez, ganhou força após a Segunda Guerra Mundial em destaque durante o governo de JK com uma política desenvolvimentista no país buscando investir em transporte, produção de energia para promover o crescimento econômico baseados no 1Plano de Metas, “visto que o segundo governo de Getúlio Vargas contribuiu consideravelmente para a efetivação deste processo com a criação da Siderúrgica Nacional, a Petrobrás, a fábrica Nacional de motores e o BNDE”. (TAVARES,1999) num idealismo de que a economia dependia da inserção do capital estrangeiro com maiores intervenções do Estado. Nesse período a organização do trabalho nas indústrias teve um crescimento considerável, pelo modo de produção no uso de máquinas, fazendo com que o governo tomasse medidas para a elaboração de um currículo educacional tecnicista com o intuito de profissionalizar as pessoas a este setor. O cenário brasileiro nessa época passava por tensões e conflitos que se materializavam na história de um Brasil marcado pela restrição do acesso as terras, refletida pela Lei de Terras de 1850 instituída num período anterior à industrialização que segundo Martins (1997, p. 18) “ foi um artifício para criar um problema e, ao mesmo tempo, uma solução social em benefício exclusivo dos que tinham e têm terra e poder”. Estas terras eram distribuídas a uma pequena parcela da população com o maior poder aquisitivo, sendo excluída aos mais pobres, já que não podiam pagar pela 1 Programa de Metas (31 metas) tinha como principal objetivo o desenvolvimento econômico do Brasil, pautava-se em um conjunto de medidas que atingiria o desenvolvimento econômico de vários setores, priorizando a dinamização do processo de industrialização do Brasil. 22 propriedade, Martins afirma que o país passava do “cativeiro do homem escravo para o cativeiro da terra”. Neste contexto, os lavradores do campo se viram obrigados a trabalhar nas fazendas na monocultura da produção de cana de açúcar numa economia voltada à exportação de produtos e não ao consumo interno. (MARTINS,1980). Evidentemente, este camponês agora assalariado pelo uso de sua mão-de-obra ainda teve que sair das suas terras, o que transfigurou ao seu modo de produção voltado ao consumo interno, que ao perder as suas terras também perdera o direito de cultivar e consumir: [...] Em 1975, para cada lavrador proprietário da terra, no que se refere aos estabelecimentos com menos de 10 ha, que constituem mais da metade das unidades de produção do país, notaremos que para cada lavrador proprietário há 1,3 lavradores não proprietários. Retrata-se uma época que indica um número crescente de lavradores que não tem terra e que para consegui-la deve pagar uma renda ou invadi-la. (MARTINS, 1980, p. 46-47) É importante ressaltar a formação do grupo campesinato brasileiro que se manteve por “pessoas pobres no qual se estabeleciam em terras não juridicamente apropriadas, ou terras apropriadas, mas com o consentimento do proprietário, para o desenvolvimento de culturas alimentícias para o seu próprio sustento”. (STEDILE, (2005). A relação do trabalho ganha um aspecto de desigualdades assim como o da propriedade de terra impulsionados na “entrada da grande empresa capitalista no campo reivindicando direitos pela concentração da força latifundiária respaldada a este processo. Retoma-se a problemática da expropriação dos trabalhadores rurais em transição a um olhar do campo como lugar de grande negócio. Ao camponês que tinha suas terras utilizadas para consumo próprio, sem a necessidade de se deslocar para os centros para comprar produtos já que os mesmos os cultivava, nesse momento, veem essas mesmas terras usadas como valor de capital, do consumo exacerbado movido pelo capitalismo. O produtor rural que vive do trabalho braçal, do cultivo encontra-se diante de uma prática que reduz o tempo de trabalho. Já a população pobre do campo não consegue exercer seu trabalho pela falta de materiais que agora são moldados pelo capitalismo, o que acaba causando uma maior fragilidade do pequeno produtor. De acordo com Graziano, a modernização no campo se deu de forma seletiva em busca do fortalecimento do agronegócio: 23 O longo processo de transformações da base técnica chamado de modernização, culminou com a industrialização da agricultura representando a subordinação da natureza ao capital que, gradativamente passa a fabricar as condições necessárias para a produção agropecuária. “ (GRAZIANO, 1998, p. 3) A modernização da agricultura teve início nas décadas de 1960 e 1970 período em que a industrialização crescia gradativamente. Desse modo, o desemprego aumentava ainda mais por parte da zona rural já que o uso de máquinas trouxe a escassez de emprego no campo, onde muitos ao irem à cidade encontravam-se desempregados a margem da criminalidade. Silva (2007, p. 90) fala que ao contexto das décadas de 1960-1970, podemos denominá-la de “modernização conservadora”, “uma vez que a dinamização da produção agrícola foi acompanhada por uma maior concentração da terra, centralização, desigualdade e exclusão no campo, ou seja, uma modernização sem mudanças”. Um fator de discussão nas ciências humanas desse período foi o êxodo rural. Se tornou um fator de preocupação pelagrande evasão da população da zona rural para a urbana. Apesar da precariedade dos serviços públicos em saúde e educação voltado ao campo, este ainda representava uma forma de sobrevivência dos mais pobres, pois dali tirava seu auto sustento. A tabela a seguir demonstra o crescimento da urbanização em consequência da migração do campo para a zona urbana: Tabela 1- População da zona rural e urbana do Brasil de 1960-2010. Fonte: IBGE, Censo Demográfico (1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010) Anos População Rural População Urbana 1960 38.987.526 32.004.817 1970 41.603.839 52.904.744 1980 39.137.198 82.013.375 1991 36.041.633 110.875.826 2000 31.835.143 137.755.550 2010 29.830.007 160.925.792 24 Segundo os dados do Censo do IBGE, desde 1960 a 2010 nota-se uma mudança no cenário brasileiro com o aumento da população urbana que de modo geral vivia mais no campo. Segundo Olinger (1991), na década de 60, cerca de 70% da população global da América Latina vivia no meio rural. Já na década de 90, somente 30% permaneceram no campo. A relação do campo e a cidade se modifica ao longo dos anos com o desenvolvimento das industrias em todo o país onde muitos agricultores trabalham na cidade em atividades não agrícolas como servente de pedreiro, empregados domésticos, sendo que alguns quando não conseguem empregos vivem até mesmo nas ruas. Nesta linha de pensamento, Veiga (2007) destaca que nas duas últimas décadas do século XX e primeira década do século seguinte, a relação urbano-rural está se alterando e, cada vez mais se busca vivenciar as condições que o rural oferece em relação ao urbano. 1.1 Da educação rural para a do campo: Uma contraposição ao modelo urbano A escola é tida como espaço de desenvolvimento individual e coletivo numa concepção emancipatória dos alunos e da comunidade em que está inserida, esta é a interpretação de um modelo de educação que entende as particularidades de cada povo. À vista disso, a educação no/do campo compreende a estas particularidades pelos quais se contrapõe ao modelo escolar urbano que não atende a realidade rural, o que acaba prejudicando-os pela ausência de um modelo próprio do campo. As escolas para a população do campo se transformaram em sinônimo de luta, uma vez que os movimentos sociais pela terra reconheciam que a educação proporcionaria ao camponês a valorização cultural concebendo o trabalho na agricultura como princípio educativo. As escolas, no entanto, organizaram-se por uma educação capitalista firmada nas desigualdades de classes entre crianças da cidade e o campo. Assim sendo, atribuindo um ensino intelectual as crianças da cidade e a do campo um ensino apenas técnico, o que refletiu na busca pela implementação de uma escola do campo realmente voltada aos interesses do mesmo, assim como de uma escola urbana que inserisse os alunos oriundos do campo. “Desde a infância haveria uma separação por classes, facilitando a ascensão dos alunos da elite e impedindo o desenvolvimento intelectual e, posteriormente profissional, dos estudantes pobres” (PERICÁS, 2006, P.194 apud PIMENTA, 2010, p.5). 25 No processo de urbanização, há uma forte presença da população do campo nas cidades desde a utilização de serviços como a presença em escolas no qual muitas crianças estudam com alunos da zona urbana numa perspectiva de interação com a realidade de ambas. Sobretudo, o ensino é estreitamente voltado ao modelo urbano em que os alunos vindos do campo devem se adequar a realidade da cidade, o que de certo modo, dificulta o desenvolvimento destes alunos já que não condiz com a realidade do campo ou seja, a educação distancia-se da comunidade rural. Assim também, pode se afirmar que a migração ocorrida do campo para a cidade, devido ao grande aumento da população, em sua maioria analfabeta dificultava o desenvolvimento do país, o que causava muitos problemas. (SIMÕES; TORRES, 2011). Mediante isso, a educação rural passa a ser organizada para diminuir o fluxo das migrações, onde a escola é baseada no modelo urbano e desenvolvida nos espaços rurais. Posteriormente, alguns debates surgem em relação ao homem do campo e seu modo de vida, trazendo mudanças acerca da educação. Por exemplo, o ensino focava na diminuição da desistência de alunos, passou então a buscar novas estratégias como a adequação ao calendário escolar ao período de plantação e colheita se ajustando na realidade rural das famílias. Contudo, as escolas eram insuficientes para atender a oferta da população no que resultou na procura de escolas nos centros urbanos para que os alunos terminassem os estudos. Em detrimento disto, a proposta pedagógica ligada a indústria, não condizia com a prática do campo, o que consequentemente trouxe uma imagem de que a zona rural é atrasada e sem progresso. Além disso, as escolas que haviam no campo apresentavam alguns problemas dificultando ainda mais o desenvolvimento dos alunos as primeiras escolas em meio a zona rural que foram construídas não funcionavam, sobretudo as escolas agrícolas, pois não possuíam o material necessário, seguindo o mesmo modelo das escolas urbanas. (MARINHO, 2008). Desta maneira, uma educação direcionada à crianças, jovens e adultos que vivem no campo baseados na realidade da família rural, se fazia e faz necessário. Inicialmente a educação rural e a educação do campo surgem em momentos históricos diferentes objetivando atender a população camponesa. Em vista disso, é importante ressaltar que a educação rural não foi uma modalidade de ensino num processo de formação social, mas de uma necessidade de ensinar a ler e escrever a população rural além do ensino das noções básicas como aprender a contar. “A 26 educação rural era predominantemente vista como algo que atendia a uma classe da população que vivia num atraso tecnológico, subordinado, a serviço da população dos centros urbanos” (ROSA; CAETANO, 2008, p.23). As famílias rurais nesse sentido, viviam sob o domínio urbano em práticas de interesses voltadas ao desenvolvimento das industrias, e sobretudo da cidade, o que acabou gerando insatisfações pelos camponeses principalmente pelo modo de produção que passou a ser mecanizada, enfraquecendo a agricultura familiar ainda mais pela má distribuição de terras, no que implica na necessidade de uma reforma. Como denota Martins (1998, p. 39) esta reforma para muitos implica nos defeitos da formação da estrutura agrária no país pela má distribuição de terras concentrada nas mãos de poucos, no qual “muita gente tem pouca terra para trabalhar e pouca gente tem o controle de muita terra nem sempre utilizada para o bem público”. O preconceito em relação ao homem do campo despertou nos movimentos sociais a busca por uma educação que promova a concepção real da população do campo com a organização do trabalho, a valorização das famílias agrícolas, fortalecendo assim a identidade cultural e formação social dos espaços rurais, para tanto, educação rural representava um treinamento e não um ensino voltado para a aprendizagem dos agricultores que por sua vez, eram utilizados para interesses das indústrias. Desse modo, a nova proposta de educação, sofre mudanças desde a nomenclatura resultando na educação no/do campo que diferente da educação rural propõe práticas fundamentadas no desenvolvimento do homem do campo em todas as esferas sociais. (CALDART, 2004) Com base nisso, era preciso que houvesse a criação de políticas estatais que defendessem os direitos dos trabalhadores rurais essencialmente na luta pela terra seguida pelos movimentos sociais objetivando impulsionar a reforma agraria. Esta reforma embora se fundamentasse na distribuição de terras, por outro lado se tornou um processo que entende que era imprescindível a luta também por condições que levassem as famílias rurais a uma autonomia que melhorasseo trabalho, as condições sociais como saúde e educação. Nesse aspecto Stedile destaca que: Diante de uma realidade agraria tão perversa, seria ingenuidade da parte dos camponeses e da parte trabalhadora como um todo imaginar que, para democratizar a sociedade no meio rural bastaria distribuir a propriedade da terra. A proposta característica de uma reforma agrária que atenda às necessidades dos trabalhadores requer uma amplitude bem maior. Tal processo de reforma agrária, além da democratização da propriedade da 27 terra, deverá promover também a democratização do comércio agrícola, dos processos agroindustriais, do acesso ao capital e também do conhecimento, da educação. (STEDILE, 2000, p. 194-195). Vale ressaltar que a educação foi uma luta tida principalmente pelos camponeses sobretudo pelo MST-movimento dos trabalhadores rurais sem terras, que defendem a reforma agrária lutando mais do que só pelo direito da terra, mas por uma conquista de todos os direitos sociais inclusive a educação vista como um processo de novas relações com a realidade do campo. A ideia de uma educação do campo por sua vez, surgiu no momento em que o país passava pela crise capitalista em que a agricultura se enfraquecia no que resultou na perda de poder por parte dos agricultores em vários âmbitos. Consequentemente muitos agricultores foram para a cidade em busca de melhores condições diminuindo assim a população residente do campo. Vale destacar que durante o Estado Novo (1937-1945) vem à tona o chamado Ruralismo pedagógico2 ocorreu com o objetivo de firmar o homem no campo descartando a possibilidade de deslocamento para a cidade, pautada na relação de trabalho da agricultura e escola. Acreditava-se que, com suporte ao trabalho realizado com as crianças, a “doutrina ruralista” chegaria aos seus pais, possibilitando a difusão de formas técnicas e especializadas de fazer melhor produzir a terra e daí alcançar um retorno econômico proveitoso para o País (MENNUCCI, 1944). Todavia, não obteve muito sucesso já que não atendia todas as necessidades da zona rural. As discussões sobre a reforma se mantiveram ao longo de diversos períodos da história no Brasil, com alguns projetos referentes a posse de terra citado até mesmo nas Constituições, do mesmo modo que presidentes da república criaram legislações, decretos que infelizmente não eram cumpridos. Desta maneira, devido as desigualdades, a falta de direitos das famílias camponesas sobre a terra e o trabalho principalmente no Nordeste, surgiram por volta de 1945 de modo que ganharam destaque somente em 1950, a liga dos Camponeses. Esta liga foi conhecida nacionalmente pelos conflitos ocorridos no engenho da Galileia, uma propriedade rural situada em Pernambuco na região da Zona Mata 2 O ruralismo pedagógico constitui-se como uma pedagogia que visa apenas a inculcação de conteúdo. Na perspectiva de Paulo Freire (2011) esse modelo está fundado no autoritarismo e funciona como uma educação bancária, pois trata os sujeitos como vasilhas que devem ser cheias por conteúdos, fugindo totalmente de uma educação fundada em princípios humanistas. 28 contendo muitas famílias vivendo condicionadas ao sistema de arrendamento da terra, o mesmo funcionava pelo uso da propriedade no qual as famílias pagavam um certo valor estabelecidos por um contrato. Devido ás más condições das famílias arrendatárias, foi criado o movimento Sociedade Agrícola de Plantadores e Pecuaristas de Pernambuco-SAPP para lutar por mais direitos ao uso da terra. Desse modo, as organizações das ligas camponesas na luta por melhores condições de vida e trabalho, precisariam de uma liderança que os representassem, inicialmente isso foi possível pelo Partido Comunista Brasileiro-PCB, o mesmo criou as “primeiras ligas camponesas como forma de reivindicação contra os latifundiários e ao imperialismo” (AZEVEDO, 1982, p. 59-61) Nesse aspecto, as ligas camponesas foram crescendo em vários estados brasileiros que a certo momento necessitariam do apoio urbano como de políticos e intelectuais para o desenvolvimento em grande escala das ligas, isto foi importante pois houve o apoio do advogado e político Francisco Julião liderando o movimento resultando em maior visibilidade. O líder se tornou referência por redigir vários escritos sobre a questão da luta pela terra, como o Abc do Camponês escrito aos camponeses como símbolo de incentivo. (AZEVEDO, 1982, p. 59). Desse modo, com o desenvolvimento, alguns fatos aconteceram como a desapropriação do engenho Galileia e distribuição das terras entre os camponeses. A pesar disso, devido ao momento político no Brasil a véspera do golpe militar o movimento foi interrompido pela censura levado até mesmo o exilio das suas lideranças. “Depois de dez anos de muitas lutas, mobilizações, sacrifícios e conquistas, as Ligas Camponesas derrotadas e dizimadas por forças infinitamente superiores, deixaram de existir como organização social” destaca Stédile (2006. p. 14). No contexto histórico político, anteriormente, no curto governo de Jânio Quadros em 1961 por exemplo, umas das propostas discutidas por ele dava-se sobre a reforma questionando a ideia de desapropriação de terras objetivo central do movimento. O presidente entendia que para que a reforma ocorresse no país era preciso a união entre o campo e a cidade, porém, com sua renúncia ao poder, as divergências rurais e urbanas aumentaram ainda mais. (MARTINS,2000) Diante disso, o seu vice João Goulart, governo que por sua vez antecedia o golpe militar, aprovou o Estatuto do Trabalhador Rural (Lei nº 4.214 de 02 de março de 1963) que tratava de alguns direitos ao campo, mas com a ditadura militar a luta pela reforma enfraqueceu-se, assim também como as ligas camponesas que se 29 manifestaram nesse período, defensores da reforma, sofreram com o golpe. Os movimentos sociais, foram ainda mais repreendidos com a censura aos debates da reforma por intermédio de um governo rigoroso descartando qualquer possibilidade de reivindicações, “sendo que as ações realizadas neste período, foram políticas voltadas a modernização do latifúndio com a criação de projetos agropecuários inclusive na Amazônia aumentando a violência de jagunços e pistoleiros, a mando de latifundiários e grileiros, contra índios e posseiros nessa região”. (LEITE et al,2004) Alguns órgãos foram criados responsáveis pela realização das atividades relativas à Reforma Agrária, como a Superintendência da Reforma Agrária (SUPRA) e o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA), transformado em INCRA na década de 1970, que até os dias atuais ainda é o órgão governamental responsável pela promoção, execução e controle da Reforma Agrária. Apesar desses órgãos, estes ainda não atendiam a todos os interesses do trabalhador rural de forma que muitas das quais ficavam somente no papel. Desse modo, somente em 1980, época referente ao fim da ditadura militar no Brasil, é que as discussões sobre a reforma agrária se intensificaram ainda mais com a redemocratização do país, assim os movimentos sociais pressionaram o governo para que de fato ocorresse a reforma agrária. Nesse sentido o então presidente José Sarney elaborou o Plano Nacional da Reforma Agrária-PNRA, no entanto assim como os demais projetos não se efetivaram. (LEITE et al,2004) A luta pela reforma teve reflexo nos anos seguintes em 1990 no governo de Fernando Henrique Cardoso pela pressão dos movimentos como o MST na medida que este movimento realizou a ocupação em grandes fazendas pelo qual não estavam sendo utilizadas ou estavam em situação irregular. Para tanto, as ocupações obtiveram maior repercussão no país com apoio popular, o que significou a pressão por uma tomada de medida do presidente, que iniciou uma série de ações para resolver os conflitosfundiários, numa 3reforma agrária de mercado, representado uma vitória aos movimentos sociais. (PEREIRA, 2006, p. 1) 3 Financiamento público para a compra privada de terras como um mecanismo para aliviar tensões sociais no campo e retomar o protagonismo político na condução da política agrária. Este mecanismo é realizado para diminuir os conflitos e combater a pobreza rural, pois as ações agrárias não eram vistas como parte do programa econômico, muito menos como uma questão política. Essa visão permitiu uma aliança com o Banco Mundial, que tinha interesses em financiar programas de alívio à pobreza, cumprindo sua “missão social”. (PEREIRA, 2006) 30 No entanto, era necessário a luta por uma reforma agrária que durante o governo brasileiro foi barrada pelos interesses dos proprietários de terras o que possibilitou o aumento do número de pessoas que aderiram ao movimento pela insatisfação da má distribuição de terras. Deste modo, as pressões realizadas pelos movimentos ocasionam uma tomada de decisão somente em 1990 onde o governo desapropria-se algumas terras além de realocar pessoas em assentamentos rurais, onde inúmeros assentamentos foram fundados nessa época. Embora houvesse uma conquista pelo aumento dos assentamentos, a qualidade, no entanto não favorecia aos camponeses pois a falta de serviços básicos (luz, água e saneamento) saúde educação e lazer tornava precária a vida no campo. Ainda era problemática a situação, já que teriam que depender da cidade para muitos serviços. A luta do MST contra as novas políticas agrárias se instabiliza de modo que a busca por uma educação voltada para o campo ganha força ainda mais pelo alto índice de pessoas analfabetas na zona rural. A relação do campo e a cidade é refletida até nos últimos anos ainda na ideia do urbano como centro de desenvolvimento pelo que a industrialização cresceu cada vez mais em todo o país onde muitos agricultores trabalham na cidade em atividades não agrícolas como servente de pedreiro, empregados domésticos, sendo que alguns quando não conseguem empregos vivendo até mesmo nas ruas. Portanto, a educação do campo surgiu por meio de mobilizações de movimentos sociais na aquisição de políticas que realmente são direcionadas as necessidades do campo iniciada com a luta de projetos de caráter desmistificador em uma ideia que muito tempo perdurou sobre o meio rural: de um lugar que ocorre somente a negociação da produção agrícola e de terras, no qual muitas famílias são expulsas, que não precisa de escolas para ensinar já que a agricultura é o principal modo de trabalho, não precisando de muita mão de obra qualificada entre outros. (APARECIDA et al.2008, p. 74) Diante disso, Caldart (2008) ainda aborda caracterizando a educação do campo em três fases que traçam o conceito construído sobre a vida no campo: A Educação do Campo é negatividade – denúncia/resistência, luta. Considerar natural que os sujeitos trabalhadores do campo sejam tratados como inferiores, atrasados, pessoas de segunda categoria; que a situação de miséria seja seu destino; que no campo não tenha escola, que seja preciso sair do campo para frequentar uma escola; que o acesso à educação se restrinja à escola, que o conhecimento produzido pelos camponeses seja 31 desprezado como ignorância. A Educação do Campo é positividade – a denúncia não é espera passiva, mas se combina com práticas e propostas concretas do que fazer, do como fazer: a educação, as políticas públicas, a produção, a organização comunitária, a escola. A Educação do Campo é superação – projeto/utopia: projeção de uma outra concepção de campo, de sociedade, de relação campo e cidade, de educação, de escola. Perspectiva de transformação social e de emancipação humana. (CALDART, 2008, p.67) Muitos debates ocorreram acerca da educação no/do campo trazendo uma reflexão das diferenciações entre a população rural e a urbana configurando uma abordagem de valorização dos sujeitos históricos que necessitam de políticas, modelos adequados a sua realidade. Eventualmente, uma das discussões mais amplas se dava pela definição do termo voltado ao campo pois entendia-se que a educação deveria ser especifica para as pessoas que vivem no campo, não bastando somente uma educação “no campo ”, mas sim “do campo” enfatizando o ensino voltado particularmente a população rural respeitando suas especificidades. Remetendo-se a isto, Cavalcante (2010, p.559) reafirma: As expressões “no” e “do” campo levam em consideração que a Educação do Campo deve abranger os valores, os costumes, a cultura, a produção, o modo de vida dos povos do campo e não a imposição de uma educação que pertencem às cidades e que não possuem nenhuma ligação com esses povos. Nesse sentido, “[...] fica a definição de que o direito à Educação do Campo pertence a todos àqueles que vivem “do” e “no” campo, e não somente aos que vivem “do” campo” A partir deste ponto, em meados do século XXI surge o movimento denominado “Por uma educação do campo” na qual são colocadas em pautas a ideia de separação entre os espaços rurais e urbanos numa visão de que se fazia necessário medidas para cada uma delas principalmente para o campo relacionando o modelo de sociedade representada. Compreende-se que o mesmo modelo de escola utilizado na zona urbana não atenderia aos alunos da zona rural pelo fato de pertencerem a realidade diferentes, por isso a luta por uma educação do campo tornou-se tão almejada. Sendo assim, esse movimento impulsionou muitos debates, a busca por uma escola que fosse diferente da urbana era defendida pelos MST, quando ganhou ênfase na LDB 9.394/96 pela primeira vez com artigos destinado a educação do campo, isto significou um grande passo na medida que o campo teve seu reconhecimento. Quando em 1998 ocorre o primeiro Encontro Nacional da Educação 32 da Reforma Agrária (ENERA) mais uma vez a educação do campo é discutida como principal objetivo tendo apoio dos movimentos intensificando a luta por esta modalidade. (MOLINA, 2003, p.50) Simultaneamente, a proposta de se pensar e entender uma educação do campo como essencial para alcançar o desenvolvimento de um povo, começou a causar efeitos como o surgimento de medidas provenientes de políticas públicas voltadas ao meio rural. Um dos promissores foi o Ministério Extraordinário de Políticas Fundiárias que criou o Programa Nacional de Educação de Reforma Agrária (PNERA) com o intuito de promover a economia, política, cultura na zona rural. Em um processo lento e gradual aos poucos a educação do campo ganha força como também seu reconhecimento de uma política pública que valoriza a população rural. (MOLINA, 2003, p.51) Por conseguinte, a educação do campo se tornou uma modalidade que abrange toda a zona rural, permitindo que crianças estudem partilhando do espaço que vive, com seus costumes, culturas e conhecimentos. Em muito assentamentos, comunidade rurais não há escolas o que acaba levando os alunos a estudarem ou morarem na zona urbana. É sobretudo, uma dependência do campo para com a cidade ao acesso de necessidades básicas a vida como saúde e educação que no campo quando há, em sua maioria se encontram em condições precárias, devido ao campo não possuir instituições escolares ou de saúde, assim como empregos, forçando as famílias a se deslocam para estudar nos centros em escolas urbanas. 1.2 A luta pela terra no campo Maranhense As transformações ocorridas na economia brasileira pela Industrialização e o modo como o capital se tornou a mola-mestra de uma sociedade que faz negócio e controle de poder. Isso resultou na extrema exploração de uma classe trabalhadora pobre com base na agricultura familiar que não tem nem mesmo o direito à terra para sondar. As lutas por condições melhores de vida, da dinâmicado trabalho pelo direito a propriedade de terra, foram bandeiras levantadas por vários movimentos que se estenderam por todo o Brasil, inclusive no Maranhão, desse modo a busca por uma reforma agraria foi também uma realidade maranhense. 33 Contudo, as condições marginalizadas do campo, as desigualdades, os conflitos fundiários e a falta de políticas públicas que atendessem aos trabalhadores do campo, foram suficientes para que houvessem debates acerca da questão agrária. O Maranhão especialmente é um dos estados com a maior população rural do Brasil, apresentando um maior grau de pobreza e miséria (IBGE,2010). Assim sendo, a economia maranhense se dá pelo agronegócio que se tornou o principal processo para obtenção de capital na zona rural, o que de certo modo causou conflitos entre trabalhadores rurais e proprietários, pois relaciona-se a apropriação de novas terras, na qual levam a desapropriação de outras pertencentes as famílias assentadas. As tensões no campo perduraram por muito tempo no estado visto que muitas violências aconteciam. Segundo Almeida, 1983 apud Carneiro, 2013, com base nos dados da CPT, “entre os anos de 1979 e 1981 o Maranhão respondeu por 22,5% dos casos de conflitos de terra registrados em todo o país”. Em destaque ao assassinato do Padre Josimo Tavares um dos líderes mais importantes da luta pelos camponeses, que em suas ações causava temor aos fazendeiros, assim o seu assassinato ficou internacionalmente conhecido como relata o MST (2006): No dia 10 de maio, foi morto com dois tiros pelas costas, enquanto subia a escadaria do prédio onde funcionava o escritório da CPT. Sabendo do risco que corria, Josimo deixou um testamento na Assembleia Diocesana em Tocantinopólis (TO) duas semanas antes de sua morte, onde dizia “nem o medo me detém... morro por uma causa justa”. O crime ocorreu na cidade de Imperatriz no estado do Maranhão. Padre Josimo atuava como coordenador da Comissão Pastoral da Terra – CPT na região Bico do Papagaio. Essa região é bastante conhecida pelos intensos conflitos pela terra que marcaram as décadas de 1970 a 1980. Seu trabalho era mais direcionado às famílias camponesas do estado do Tocantins. Diante disso, de fato ocorreram muitas desapropriações de terras, gerando mais violência, o Maranhão por volta do século XX vivia uma intensa luta pela terra que de acordo com Barbosa (2006, p .83): O próprio Estado passou a promover a venda de terras públicas para grandes grupos empresariais por preço baixo de mercado. Esta frente de expansão foi acompanhada pela intensificação da “grilagem” no campo maranhense, pelo uso privado de terras devolutas (...). Em todo o Estado, começaram a se erguer as cercas em áreas de babaçuais. O estado do Maranhão, principalmente as regiões de Pindaré e Mearim, nas décadas 1960 e 1970 foi sacudido por numerosos conflitos fundiários. 34 Desta maneira, a questão agrária acentuou-se cada vez mais fazendo com que o governo do Maranhão criasse vários projetos de colonização com o intuito de assentar milhares de famílias camponesas na região centro-oeste do estado, destinadas na maior parte dos municípios de Grajaú, Lago da Pedra, Vitorino Freire, Pindaré-Mirim, Santa Luzia, Amarante do Maranhão e Barra do Corda. (ALMEIDA, 1976). Nesse interim, o então governador do estado José Sarney aprova a Lei de Terras de 1969, essa lei passava as grandes propriedades de terras para grupos empresariais do Nordeste, o que resultaram em mais conflitos. Em ressalva o cenário maranhense se mantinha por um contexto político de modernização conservadora, no qual promoveram a expulsão de posseiros, por meio da grilagem de terras causando assassinatos de camponeses levando milhares de trabalhadores rurais do Maranhão a migrarem para outros estados do Brasil. As expulsões dos camponeses da terra aconteciam pelo processo de grilagem pelo qual os fazendeiros forjavam documentos ilegalmente para tomar as terras. Desse modo, muitas terras indígenas assim como de posseiros foram “destituídas de seus donos que consequentemente tiveram que sair de suas terras”, sendo que os que confrontavam os fazendeiros eram violentados. (MARTINS, 1980) Os camponeses e demais trabalhadores rurais sem-terra tiveram como ponto de migração a Amazônia, em busca de melhores alternativas de trabalho sobretudo no garimpo. De acordo com Gistelinck (1988) “que só na década de 1980 mais de cem mil maranhenses teriam migrado do Maranhão para as regiões de garimpo”. A Amazônia se tornou centro de referência migratória sofrendo mudanças feitas pelo Estado pela criação de projetos para ocupação, modernização, exploração numa perspectiva de desenvolvimento econômico em um projeto chamado Amazônia Legal. O Maranhão nesse aspecto era tido como principal intermediador para outros estados chegarem a Amazônia, como também para o fornecimento de mão de obra. A violência agrária por sua vez, foi a principal característica da luta dos trabalhadores rurais maranhense que sofriam com o abuso de poder dos fazendeiros, tornando o Maranhão um dos estados com conflitos agrários mais violentos. De 1985 a 2017, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), “157 pessoas foram assassinadas no Maranhão em conflitos no campo, o que coloca o estado em segundo no ranking nacional, atrás apenas do Pará”. Entre as vítimas estão indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. 35 Essa violência, segundo Santos (2000, p.2) possui várias dimensões como por exemplo “a violência costumeira aquela relacionada às relações de poder e dominação entre as classes e os grupos sociais”. Retomando nesse aspecto, a relação do trabalho na agricultura no estado, que foi configurada pela força dominadora dos proprietários de terra sobre os lavradores. Em 1970, os conflitos pela terra só aumentavam cada vez mais, impulsionados pela valorização da terra no setor econômico. Aumentou-se também a violência pelo qual nem as autoridades policiais interviam, pelo contrário, omitiam-se. Nesse contexto, de um lado, estavam os trabalhadores rurais que resistiam a expulsão das terras e de outro, o Estado que utilizava a repreendia os trabalhadores causando vários massacres no campo maranhense. (CONCEIÇÃO,1980) Portanto, a reforma agrária se emergia como uma saída imediata para os problemas fundiários no Maranhão que registrava alarmantes indícios de violência e pobreza. A vista disso, em 1980 se fez necessário a organização dos trabalhadores do campo, formando o MST no estado enfrentando os latifúndios. Posteriormente aconteceram o primeiro Congresso Nacional do MST, importante fato contribuindo para o desenvolvimento do movimento, para tanto, o MST e o CPT começaram a consolidar-se em várias regiões maranhenses conquistando vários assentamentos. (WAGNER,1982) Logo, o MST e o CPT tiveram um importante papel nas lutas, porém em muitos casos foram conflitos de caráter violento, que até nos dias atuais são registrados casos de violência, exploração e trabalho escravo. Conforme levantamento da CPT no ano de 1985 ocorrera 71 conflitos no Estado, atingindo 14.717 famílias (62.464 pessoas) envolvendo uma área de 435.965 há, com 19 mortos, 40 feridos, 50 presos, 20 desaparecidos, 99 casas destruídas. (CPT,1985). A constante violência no campo foi chamada pela CTP como um período de terrorismo de Estado principalmente pela intensidade em que esses conflitos ocorreram e o envolvimento direto do aparato estatal maranhense (SANTOS, 20124). A reforma agrária no Maranhão foi uma causa defendida por muito tempo durante os conflitos pela posse da terra, caracterizada por uma luta sangrenta em uma base exploratória governamental que impedia uma reforma no campo. Sobretudo, o 4 SANTOS, F. B. dos. Questão agrária no Maranhão: a singularidade da mediação docapital nos conflitos sociais no campo. 2012. 146 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Econômicas) - Curso de Ciências Econômicas, Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2012. 36 que há de fato, é a escassez de políticas que realmente integrem o trabalhador rural a propriedade, a boas condições de trabalho com direito garantidos como saúde, e educação. 37 2 DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE RIBERÃOZINHO A educação é compreendida como um instrumento que se encontra a serviço da democratização, fortalecida pelas vivências comunitárias dos grupos sociais, por meio do diálogo para formar pessoas participantes da sociedade, é, portanto, um direito garantido por lei e de responsabilidade do Estado em oferecer o ensino á todos igualmente. Desse modo, o município de Governador Edison Lobão popularmente conhecido como Ribeirãozinho, veem se desenvolvendo neste aspecto, por possibilitar o acesso as escolas à muitas comunidades e assentamentos que não podiam estudar pela falta de escolas dentro da comunidade ou pela dificuldade em chegar a cidade. Logo, o município se expandiu desde os últimos anos, apresentando avanços na educação da zona urbana e rural, destacando-se pelas implementações de novas escolas especialmente aos assentamentos, comunidades rurais distantes dos centros urbanos que anteriormente eram dependentes de transporte escolar sobretudo, com dificuldades para levar as crianças nas escolas urbanas devido as más condições da estrada. Embora essa conquista, as escolas rurais oferecem apenas a educação Infantil até o ensino fundamental I, o que acaba levado os alunos a terminarem os estudos em escolas que ofereçam os demais níveis de ensino localizadas na cidade ou em vilas e distritos mais próximos, necessitando do uso de transporte escolar. De acordo com a Secretária Municipal de Educação de Governador Edison Lobão- SME (2019), a Educação Básica será oferecida nos seguintes níveis: I. Educação Infantil da Rede Pública do Sistema Municipal de Educação; II. Ensino Fundamental da Rede Pública do Sistema Municipal de Educação. III. Educação de Jovens, Adultos e Idosos da Rede Pública e Privada do Sistema Municipal de Educação. IV. Ensino Médio § 1º - Todas as etapas e modalidades que sejam ofertadas nas instituições privadas serão autorizadas e regulamentadas pelo Sistema Municipal de Educação Segundo dados do IMESC (2010), as quantidades das instituições escolares no município correspondem a Educação Infantil (13,03%); Educação de Jovens e Adultos (8,3%); Ensino Fundamental (61,34%); Ensino Médio (17,31%). Dentre as escolas privadas todas estão localizadas na zona urbana em que são ofertados 38 educação infantil e ensino fundamental. Referente a Educação Infantil, a SME (2019) afirma que o número de estudantes por turma deverá “levar em conta a área física da sala de aula considerando 1,5 m² por estudante, e não poderá ter 02 (duas) turmas do mesmo ano com número inferior a 10 (dez estudantes, considerando que a capacidade do espaço físico seja adequada”. O que em muitas escolas o número de alunos excede ao tamanho do espaço. Para tanto, na zona urbana são ofertados todos os níveis de ensino que atende crianças, jovens e adultos de fazendas e assentamentos vizinhos que não possuem os níveis completos. O gráfico a seguir demostra a distribuição de níveis de ensino no município: Gráfico 1- Número de escolas em Governador Edison Lobão-Ma Fonte: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP - Censo Educacional 2015. Como se expressa no gráfico, o município há 8 pré-escolas incluindo uma em cada comunidade rural e 12 escolas que oferecem o ensino fundamental situadas em cada assentamento, com apenas uma em cada. Somente no centro urbanos do município e no distrito Bananal que são ofertados o ensino médio, onde os alunos do campo mais próximos a cidade se deslocam para estudarem essa etapa, da mesma forma que os assentamentos vizinhos ao distrito conduzem os alunos a escola estadual ao Bananal. Portanto, as instituições escolares cresceram no município na medida que a população aumentava assim também como as comunidades rurais, 0 2 4 6 8 10 12 14 Número de escolas por níveis Pré-escolar Ens. Fundamental Ens. Médio 39 desse modo segundo as propostas educacionais do atual governo era essencial a implementação de mais escolas no campo: Criar Escolas Agrícolas para os Distritos Integrantes do município de Governador Edison Lobão (preferencialmente nas escolas municipais já existentes nos distritos, povoados e vilarejos), buscando parcerias pública e privada com proprietários de áreas rurais anexas aos referidos distritos para instalação de núcleos de ensino de atividades hortifrutigranjeiras – pecuária – avicultura – agricultura e outras. (PROPOSTA DE GOVERNO,2017-2020) A base da agricultura familiar é o principal instrumento de sustento das comunidades rurais que dependem do trabalho no campo. Assim é cabível uma parceria entre a escola e as atividades da plantação em hortas e da criação de galinhas, ocupação predominante das famílias rurais. As escolas agrícolas que já foram construídas ficam localizadas nos assentamentos do Setor agrícola, Gameleira e Vila Palmares, que por sua vez, atendem as crianças do campo em sua comunidade buscando uma melhor relação com a realidade do campo. Apesar disso, ainda há dificuldades para uma educação do campo nos assentamentos até mesmo pelos professores que são da cidade e lecionam nas comunidades o que de certo modo reproduzem o modelo urbano de ensino. A educação desta maneira, atende alunos do campo tanto aqueles que estudam nas escolas agrícolas próximos as fazendas onde residem ou mais próximos a zona urbana onde a escola necessariamente a dos centros urbanos, lida com a diversidade cultural das crianças do campo. Pode-se afirmar que em “cada escola localizada na zona urbana no município há pelo menos de 10 a 20 alunos do campo matriculados” (SME,2019), o que implica no planejamento educacional de toda as escolas para atender as especificidades do campo. Desta maneira, dentre as escolas do município, os alunos matriculados nas escolas dos centros urbanos oriundos da zona rural como da zona urbana estão inseridos em contextos diferentes ou culturas diferentes que se encontram por meio da escola, e a partir disso se proporciona uma troca de conhecimentos de ambos, onde estes sujeitos e seus novos saberes, não podem ser medidos ou comparados. Os anos iniciais e finais do ensino fundamental em Governador Edison Lobão são oferecidos nos centros urbanos e rurais onde a quantidade mínima de estudantes por turma corresponde a 50% da máxima do que são previstos na resolução CME, nº 40 001, 18 de junho 2019. Na sede e no Povoado Bananal já são realidades diferentes comportando poucos alunos em cada sala, onde os alunos estão em idade adequada ao ano correspondente, apesar de terem aqueles em idades acima do esperado são sobretudo oriundos do campo. Nas escolas agrícolas como em Palmares, Gameleira; Setor Agrícola; Povoado Diamantina (Ribeirãozinho da Roça); São Raimundo (Pé da Serra) e Localidade Cachoeirinha, são formadas as classes multisseriadas já que nas zonas rurais não há alunos suficientes para formar uma turma ou não há espaço para várias turmas, assim aluno de diferentes idades estudam em uma turma. Ressalva-se que a maior parte dos alunos matriculados no município, estão no ensino fundamental incluindo as escolas agrícolas nos assentamentos rurais. Nesta análise, o gráfico a seguir expressa essa realidade no ano de 2017: Gráfico 2- Número de matriculas por níveis de ensino. Fonte: IBGE (2010) Desse modo, o desenvolvimento
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