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ROMANTISMO NO BRASIL PRIMEIRA GERAÇÃO: LITERATURA E NACIONALIDADE LITERATURA PROFESSORA PATRÍCIA ROCHA SPITALE Início do século XIX Crise em Portugal Provocada manobras expansionistas de Napoleão Bonaparte Vinda da família real para o Brasil Os nobres invadem o Rio de Janeiro O impacto da transferência da corte foi grande e imediato: • Os portos do país foram abertos a todas as nações amigas; • Os charcos foram drenados; • As ruas foram ampliadas; • Construíram-se calçadas; • Surgiram novos bairros; Os nobres invadem o Rio de Janeiro • Foram implantadas escolas régias (ensino médio de hoje); • Criou-se a Escola Médico-Cirúrgica na Bahia, primeira instituição de ensino superior no país; • Criou-se a Imprensa Régia (o Brasil contava com uma imprensa oficial, o que facilitava a circulação de jornais e periódicos e representava um estímulo para a produção literária.) Uma corte em fuga Esses fatos políticos e as ideias vindas da Europa criaram o pano de fundo que determinou a principal preocupação dos nossos intelectuais no início do século XIX: • A formação da nação brasileira e a definição dos símbolos de nossa nacionalidade. Conde de Clarac, Floresta virgem do Brasil, 1816. Muitos autores românticos fizeram, em seus textos, retratos do Brasil. Canção do exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossas vidas mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho, à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. (Gonçalves Dias) O ROMANTISMO NO BRASIL: O DISCURSO DA NACIONALIDADE Primeira metade do século XIX missões estrangeiras vieram ao Brasil cientistas e artistas coletavam espécimes, faziam desenhos e escreviam textos Registro das características do novo reino Dois viajantes merecem destaque Auguste de Saint-Hilaire respeitado professor do Museu de História Natural de Paris Carl Friedrich von Martius naturalista integrante da missão Artística Australiana Apontaram os índios elementos mais representativos da identidade brasileira Símbolos ideais para a nação a natureza exuberante Saint-Hilaire Após pôr-me a caminho, subi durante algum tempo, atravessando florestas virgens da mais bela vegetação e cheguei ao pé de uma montanha inacessível que, mais alta que todas as outras, apresenta a forma aproximada de um pão de açúcar e cuja vegetação magra e rasteira contrasta com as matas vigorosas dos montes vizinhos [...] O impacto na produção cultural A proclamação da Independência: Proclamação da Independência, em 1822. O que teve maior impacto cultural Acontecimentos desencadeados pela chegada da família real Foram apontados pelos estrangeiros que percorriam o país.. Os símbolos escolhidos para marcar a identidade brasileira Urgência em criar referências concretas que consolidassem a ideia de uma nação brasileira, separada de Portugal. O manifesto romântico brasileiro Escritores brasileiros que viviam na França resolveram criar uma revista que tratasse de temas de interesse nacional: • “Nitheroy, Revista Brasiliense de Ciências, Letras e Artes declarava: “Tudo pelo Brasil, e para o Brasil” (primeiro grito de independência literária do Brasil) A POESIA INDIANISTA DA PRIMEIRA GERAÇÃO Foi Gonçalves de Magalhães quem resumiu o espírito que animaria a produção literária dos poetas da primeira geração romântica: • “Cada povo tem sua literatura própria, como cada homem seu caráter particular, cada árvore seu fruto específico”. A intenção desses poetas era divulgar uma identidade nacional: • Promovendo o sentimento de amor à pátria; • Libertasse-nos das influências literárias portuguesas. Os viajantes estrangeiros apontaram o caminho para a realização desse objetivo: • Resgatar, no passado da América não colonizada, o índio e a natureza como símbolos do caráter nacional. Os textos escritos para divulgar a imagem do índio e da natureza americana como elementos definidores da identidade brasileira são conhecidos como: • Nativistas ou indianistas. Gonçalves de Magalhães é considerado o fundador do Romantismo no Brasil, com a publicação de: • Suspiros poéticos e saudade, em 1836. Os mais importantes autores românticos indianistas são: • O poeta Gonçalves Dias; • O romancista José de Alencar. O projeto literário da poesia da primeira geração Afirmação da identidade brasileira. Resgate do índio e da natureza exuberante com símbolos da nacionalidade. GONÇALVES DIAS OS ÍNDIOS, A PÁTRIA E O AMOR ANTÔNIO GONÇALVES DIAS O grande nome da primeira geração romântica brasileira: • De origem mestiça, filho de um comerciante português e uma cafuza (descendente de negros e índios); • Foi a Portugal muito jovem, estudar Direito na Universidade de Coimbra. ANTÔNIO GONÇALVES DIAS Em sua poesia, abordou os grandes temas românticos: • A natureza, a pátria e a religião. ANTÔNIO GONÇALVES DIAS Alcançou seu ponto mais alto como poeta nos versos indianistas: • Poemas: Os timbiras; Canto do piaga; Deprecação; I-Juca Pirama. O canto do guerreiro I Aqui na floresta Dos ventos batida, Façanhas de bravo Não geram escravos, Que estimem a vida Sem guerra e lidar. - Ouvi-me, Guerreiros. - Ouvi meu cantar. II Valente na guerra Quem há, como eu sou? Quem vibra o tacape Com mais valentia? Quem golpes daria Fatais, como eu dou? - Guerreiros, ouvi-me; - Quem há, como eu sou? (Gonçalves Dias) Na pergunta feita pelo guerreiro podemos identificar uma outra, implícita: • Quem há como os brasileiros, descendentes de seres tão nobres? O eu lírico relata feitos de guerra e caçadas, atividades frequentes dos povos nativos da América. As características dos indígenas são sempre positivas e enaltecedoras: • bravura, honra, lealdade. Deprecação Tupã, ó Deus grande! Cobriste o teu rosto Com denso velâmen de penas gentis; E jazem teus filhos clamando vingança Dos bens que lhes deste da perda infeliz! [...] Velâmen: cobertura, invólucro, véu. Jazem: descansam, dormem repousam. Anhangá impiedoso nos trouxe de longe Os homens que o raio manejam cruentos, Que vivem sem pátria, que vagam sem tino Trás do ouro correndo, voraces, sedentos. E a terra em que pisam, e os campos e os rios Que assaltam, são nossos; tu és nosso Deus: Por que lhes concedes tão alta pujança, Se os raios de morte, que vibram, são teus? (Gonçalves Dias) Voraces: devoradores, destruidores. Pujança: grande força, riqueza, fartura O poema “I-Juca Pirama” ilustra as características dos poemas indianistas do autor: • Nele é narrado a história do último descendente da tribo tupi, feito prisioneiro pelos índios timbiras; • O poema começa apresentando o cenário da aldeia onde o prisioneiro será morto e, depois, devorado em um ritual antropofágico. I-Juca Pirama No meio das tabas de amenos verdores, Cercados de troncos – cobertos de flores, Alteiam-se os tetos d’altiva nação; São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, Temíveis na guerra, que em densas coortes Assombram das matas a imensa extensão. Amenos: suaves, agradáveis, simples. São rudos, severos, sedentos de glória, Já prélios incitam, já cantam vitória, Já meigos atendem à voz do cantor: São todos Timbiras, guerreiros valentes! Seu nome lá voa da boca das gentes, Condão de prodígios, de glória e terror! [...] Prélio: combate, luta No centro da taba se estende um terreiro, Onde ora seaduna o concílio guerreiro Da tribo senhora, das tribos servis: Os velhos sentados praticam d’outrora, E os moços inquietos, que a festa enamora, Derramam-se em torno dum índio infeliz. (Gonçalves Dias) Adunar: reunir Concílio: conselho, assembleia Servil: próprio da condição de servo. Gonçalves Dias se consagrou não só por seus poemas indianistas, mas também por seus poemas líricos, que abordam os principais temas românticos: • Os encantos da mulher amada, a natureza e os sentimentos mais arrebatados, como os sofrimentos da vida, a solidão, a morte. Se se morre de amor! Se se morre de amor!- Não, não se morre, Quando é fascinação que nos surpreende De ruidoso sarau entre os festejos; Quando luzes, calor, orquestra e flores Assomos de prazer nos raiam n’alma, Que embeleza e solta em tal ambiente No que ouve, e no que vê prazer alcança! [...] Assomos: indício, vontade forte. Amor é vida; é ter constantemente Alma, sentidos, coração – abertos Ao grande, ao belo; é ser capaz d’extremos, D’altas virtudes, té capaz de crimes! Compr’ender o infinito, a imensidade, E a natureza e Deus; gostar dos campos, D’aves, flores, murmúrios solitários; Buscar tristeza, a soledad, o ermo, E ter o coração em riso e festa; [...] Conhecer o prazer e a desventura No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto O ditoso, o misérrimo dos entes: Isso é amor, e desse amor se morre! (Gonçalves Dias) Assomos: indícios. Ditoso: feliz, afortunado. Misérrimo: o mais pobre. Entes: seres. Isto Aqui, o que é ? Caetano Veloso Isto aqui, ô ô É um pouquinho de Brasil iá iá Deste Brasil que canta e é feliz, Feliz, feliz, É também um pouco de uma raça Que não tem medo de fumaça ai, ai E não se entrega não Olha o jeito nas 'cadeira' que ela sabe dar Olha só o remelexo que ela sabe dar (Repete) Morena boa, que me faz penar, Bota a sandália de prata E vem pro samba sambar http://letras.mus.br/caetano-veloso/
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