Buscar

Literatura Brasileira do Parnasianismo ao Contemporaneo (EaD - Nucleo Comum - 4 anos) SEC (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 121 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 121 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 121 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
EMENTA: Condições de produção, circulação e recepção das obras no período literário 
denominado Parnasianismo ao Modernismo, com destaque para as singularidades dos 
principais autores deste período. 
 
OBJETIVOS: A comparação entre as escolas literárias do período estudado deve ser 
frequente. Afinal, as escolas se mantêm em parte pela oposição ferrenha que se 
estabelece entre elas. Todavia não recomendamos uma fixação paranoica das diferenças 
temáticas, mas sim das diferenças de linguagem. Afinal, é o ESTILO, e não os temas, o 
que realmente assinala as diferenças entre as épocas artísticas. A leitura do vocabulário 
romântico em contraste com o vocabulário naturalista, por exemplo – isso sim é o que 
pretendemos que você apreenda de essencial dentro dos conteúdos teórico-estéticos 
em Literatura. 
 
A leitura de trechos dos livros mais significativos se faz essencial. Sugerimos que você 
realize previamente uma busca por resumos dos livros sugeridos, a fim de se acercar dos 
assuntos tratados em cada um deles – mas nunca dispense a leitura de trechos dessas 
obras. 
 
METODOLOGIA: Direcionamos as estratégias de leitura e produção de discurso para a 
consciência da pluralidade dos gêneros discursivos e para a necessidade de se 
apropriar dos recursos de produção de sentidos e ideológicos inerentes a cada gênero. 
 
Dentro do contexto específico de Literatura, é preciso reconhecer que a “artisticidade” 
de um texto está intimamente relacionada à FORMA como se mobilizam os recursos de 
linguagem e o diálogo, no mínimo surpreendente, no máximo plurissignificante ou 
ambíguo, que ela estabelece com o co-texto (que compreende o contexto de produção 
e de recepção de uma obra, os meios de sua divulgação, os dados ideológicos que a 
 
 
embasam ou que ela cria, o público-alvo dessa obra, entre outros elementos). 
 
É pelo veio literário, e pelo modo artístico em geral, que se possibilita a variação da 
expressividade de uma lingua(gem) e a abertura para a diversidade de pontos de vista, 
que acabam se incorporando à comunicação humana. 
 
AVALIAÇÃO: No sistema EAD, a legislação determina que haja avaliação presencial, 
sem, entretanto, se caracterizar como a única forma possível e recomendada. Na 
avaliação presencial, todos os alunos estão na mesma condição, em horário e espaço 
pré-determinados; diferentemente, a avaliação a distância permite que o aluno realize 
as atividades avaliativas no seu tempo, respeitando-se, obviamente, a necessidade de 
estabelecimento de prazos. 
 
A avaliação terá caráter processual e, portanto, contínuo, sendo os seguintes 
instrumentos utilizados para a verificação da aprendizagem: 
1) Atividades individuais on-line; 
2) Provas realizadas presencialmente; 
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
 
BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 44.ed. SP: Cultrix, 2007. 
CANDIDO, A. Na sala de aula: caderno de análise literária. 3.ed. SP: Ática, 1989. 
MOISÉS, M. A literatura brasileira através dos textos. SP: Cultrix, 1986. 
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
CANDIDO, A. Vários escritos. 4.ed., reorganizada pelo Autor. RJ: Ouro sobre Azul; SP: Duas 
Cidades, 2004. 
CALDWELL. H. Otelo brasileiro de Machado de Assis. SP: Atelie, 2005. 
MERQUIOR, J. G. De Anchieta a Euclides: breve história da literatura brasileira. RJ: J. Olympio, 
 
 
1977. 
CANDIDO, A.; CASTELLO, J. A. Presença da literatura brasileira: romantismo, realismo, 
parnasianismo e simbolismo. SP: DIFEL, 1972. 
SCHWARZ, R. Machado de Assis: um mestre na periferia do capitalismo. 4.ed. SP: Duas Cidades; 
Editora 34, 2006. 
AMORA, Antônio Soares. Teoria da Literatura. 6ª ed. Revista, SP. Editora Clássico 
Cientifica - 1964. 
 
MASSAUD, Moises. A literatura Brasileira Através dos Textos. 21ª ed. SP, Editora. Cultrix, 
SP – 1971. 
MEDINA, Rodrigues A., Antologia da Literatura Brasileira – Textos comentados: 
Modernismo. – Vol. II; Editora Marco Editorial - 1979 
MEDINA, Rodrigues A., Antologia da Literatura Brasileira – Textos comentados: do 
Classicismo ao Pré-Modernismo. – Vol. I; Editora Marco Editorial - 1979 
TUFANO, Douglas. Estudos de Literatura Brasileira – 4ª ed. SP – Editora Moderna. – 
1990. 
AMARAL, Emília. Novas Palavras. Língua portuguesa. 2ª ed. SP – Editora FTD, - 2005. 
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral. 6ª ed. SP – Editora Saraiva, 2002 – 608p 
 
MOISÉS, Massaud. História da Literatura Brasileira. 4ª ed. São Paulo, Cultrix, 2001. 
COUTINHO, Afrânio; SOUSA, J. Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. 
SãoPaulo: Global. 
http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_3414.html 
http://pt.shvoong.com/books/biography/1659762-domingos-ol%C3%ADmpio-vida-
obra/#ixzz1pEAfB75L 
http://www.machadodeassis.org.br - Machado de Assis – ABL 
http://machado.mec.gov.br - Machado de Assis – Obra completa 
 
http://www.machadodeassis.org.br/
http://machado.mec.gov.br/
 
 
Sumário 
UNIDADE 01 – A POESIA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: PARNASIANISMO .............. 5 
UNIDADE 02 – A POESIA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: SIMBOLISMO ................... 19 
UNIDADE 03 – PRÉ MODERNISMO – 1902 a 1922 ....................................................................... 30 
UNIDADE 04 – EUCLIDES DA CUNHA: OS SERTÕES .................................................................... 35 
UNIDADE 05 – LIMA BARRETO; “TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA”. .............................. 40 
UNIDADE 06 – GRAÇA ARANHA; “CANAÔ E A CONCLUSÃO DO PRÉ MODERNISMO. .......... 45 
UNIDADE 07 - A SEMANA DE ARTE MODERNA........................................................................... 50 
UNIDADE 08 – O DESDOBRAMENTO DA SEMANA DE 22 .......................................................... 55 
UNIDADE 09 – O PRIMEIRO TEMPO MODERNISTA – 1922 - 1930 ............................................. 60 
UNIDADE 10 – O SEGUNDO TEMPO MODERNISTA – 1930 A 1945 ........................................... 66 
UNIDADE 11 – O TERCEIRO TEMPO MODERNISTA OU PÓS MODERNISMO – 1945 ATÉ OS 
DIAS ATUAIS. ......................................................................................................... 71 
UNIDADE 12 – TEATRO BRASILEIRO MODERNO E PANORAMA DA LITERATURA BRASILEIRA 
CONTEMPORÂNEA ............................................................................................... 76 
UNIDADE 13 – DISCUSSÕES PONTUAIS: A SAÍDA ANTROPOFÁGICA. ....................................... 81 
UNIDADE 14 – AMÉRICA LATINA E DEPENDÊNCIA CULTURAL .................................................. 86 
UNIDADE 15 – DISCUSSÕES PONTUAIS: MÁRIO DE ANDRADE E O PROBLEMA DA 
IDENTIDADE BRASILEIRA ...................................................................................... 90 
UNIDADE 16 – DISCUSSÕES PONTUAIS: ESVAZIAMENTO DO EU E FRAGMENTOS DE 
IDENTIDADE CULTURAL NA NARRATIVA DE CLARICE LISPECTOR. .................. 97 
UNIDADE 14 - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E O ESTAR NO MUNDO. ...................... 107 
 
 
 
5 
 
UNIDADE 01 – A POESIA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: PARNASIANISMO 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Examinar uma das tendências poéticas que se opuseram ao Romantismo, na 
segunda metade do século XIX, no Brasil, paralelamente ao Realismo e ao Naturalismo: 
o Parnasianismo. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Surgido da França, esse movimento encontrou solo fértil no Brasil. A primeira obra 
brasileira com traços parnasianos de que se tem notícia é de 1882: Fanfarras, de Teófilo 
Dias. 
 
O Parnasianismo é conhecido como a escola da "arte pela arte". Entendendo "arte" como 
a entendiam os antigos greco-latinos ("ars, artis", em latim, é "técnica", "forma"), os 
parnasianos concebiam seus poemas como joias a serem lapidadas, como fruto de um 
árduo trabalho de carpintaria, de ourivesaria, de perfeição formal ao extremo. O poema 
deixa de ter importância pelos temas que apresente e passa a ser veículo de 
embelezamento sintático, vocabulare de imagens. Ou seja, a importância do poema é 
eminentemente formal: ele vale pela forma bela e perfeita - harmônica, equilibrada - 
como foi construído. 
 
Podemos elencar suas características assim: 
• formalismo e sofisticação; 
• poesia antilírica (antissentimental, antirromântica): impessoalidade e descritivismo; 
• rigor formal: rima rica (entre palavras de classes gramaticais diferentes) e retomada das formas 
clássicas (sonetos, oitavas, decassílabos, alexandrinos); 
• culto dos clássicos nos temas e nos valores (culto da beleza artística, da beleza física humana e 
do conhecimento); 
• poesia sentenciosa (com a famosa "chave-de-ouro": última estrofe que resume, numa frase 
pomposa e solene, o assunto do poema) e de filosofismo superficial; 
 
No Brasil, os poetas mais representativos do Parnasianismo eram os que formavam o 
grupo que ficou conhecido como Tríade Parnasiana: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e 
6 
 
Raimundo Correia. Desses, o mais importante é Olavo Bilac. 
 
Alberto de Oliveira (1859-1937) 
Nascido no Estado do Rio de Janeiro, 
cursou Medicina e formou-se em Farmácia. 
Foi professor de língua e literatura e 
exerceu cargos públicos na área de 
educação. Foi um dos fundadores da 
Academia Brasileira de Letras. Teve enorme 
popularidade em vida e chegou a ser eleito, 
em 1924, “Príncipe dos poetas brasileiros”. 
Deixou grande número de obras poéticas. 
 
É o parnasiano mais preso às regras da escola, sobretudo quanto à impessoalidade 
descritivista preconizada pelo Parnasianismo. A perfeição formal, ao ponto de esbanjar 
erudição, e a frieza distanciam Alberto de Oliveira do leitor atual. Sua poesia mais 
interessante localiza-se naqueles textos em que a temática é a natureza brasileira, em 
que ele se permite uma maior expressão lírica. 
 
Raimundo Correia (1860-1911) 
Nasceu a bordo de um navio, no litoral maranhense. Cursou Direito, em São Paulo. Foi 
magistrado, trabalhou pelo Brasil em Lisboa, e por fim exerceu os cargos de vice-diretor 
e professor do Colégio Fluminense, em Petrópolis. Faleceu em Paris, durante tratamento 
de saúde. 
 
Sua poesia sentenciosa, pretensamente filosófica, mas óbvia e simplória, deu ao autor 
muita popularidade. A crítica costuma apontar falta de profundidade e um pessimismo 
mais literário (mais “fingido”) que autêntico. Sua melhor produção localiza-se, assim 
 
Olavo Bilac (à direita) com mais dois poetas de seu tempo: 
Alberto de Oliveira (à esquerda) e Raimundo Correia (ao 
centro). 
7 
 
como acontece com Alberto de Oliveira, nos textos cuja temática é a natureza noturna 
e enluarada. 
 
Olavo Bilac (1865-1918) 
Era um poeta habilidoso na versificação, especialista nas rimas ricas, na composição de 
frases invertidas mirabolantes, na pomposidade da "chave-de-ouro" e no uso de 
vocabulário erudito, hiperculto. Sua linguagem pura e preciosa compunha poemas de 
um descritivismo sensualista: apelo às sensações físicas na percepção dos objetos 
descritos, seja um palácio romano, seja um objeto de arte, seja um corpo de mulher. 
Seus poemas eróticos são bastante ousados para a época. 
 
Mais popular dos parnasianos (“o príncipe dos poetas brasileiros”), Bilac foi, ao lado de 
Machado de Assis, um dos primeiros membros da Academia Brasileira de Letras. 
 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Algumas Leituras 
Olavo Bilac 
 
A SESTA DE NERO 
 
Fulge de luz banhado, esplêndido e suntuoso, 
O palácio imperial de pórfiro luzente 
E mármor da Lacônia. O teto caprichoso 
Mostra, em prata incrustado, o nácar do Oriente. 
 
Nero no toro ebúrneo estende-se indolente... 
Gemas em profusão do estrágulo custoso 
De ouro bordado veem-se: O olhar deslumbra, ardente, 
Da púrpura da Trácia o brilho esplendoroso. 
 
Formosa ancila canta. A aurilavrada lira 
Em suas mãos soluça. Os ares perfumando, 
Arde a mirra da Arábia em recendente pira. 
Formas quebram, dançando, escravas em coreia... 
E Nero dorme e sonha, a fronte reclinando 
Nos alvos seios nus da lúbrica Popeia. 
8 
 
NEL MEZZO DEL CAMIN... 
 
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada 
E triste, e triste e fatigado eu vinha. 
Tinhas a alma de sonhos povoada, 
E a alma de sonhos povoada eu tinha... 
 
E paramos de súbito na estrada 
Da vida: longos anos, presa à minha 
A tua mão, a vista deslumbrada 
Tive da luz que teu olhar continha. 
 
Hoje, segues de novo... Na partida 
Nem o pranto os teus olhos umedece, 
Nem te comove a dor da despedida. 
 
E eu, solitário, volto a face, e tremo, 
Vendo o teu vulto que desaparece 
Na extrema curva do caminho extremo. 
 
 
A UM POETA 
 
Longe do estéril turbilhão da rua, 
Beneditino escreve! No aconchego 
Do claustro, na paciência e no sossego, 
Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua! 
 
Mas que na forma se disfarce o emprego 
Do esforço: e trama viva se construa 
De tal modo, que a imagem fique nua 
Rica mas sóbria, como um templo grego 
 
Não se mostre na fábrica o suplício 
Do mestre. E natural, o efeito agrade 
Sem lembrar os andaimes do edifício: 
 
Porque a Beleza, gêmea da Verdade 
Arte pura, inimiga do artifício, 
É a força e a graça na simplicidade. 
 
 
 
 
ORA (DIREIS) OUVIR ESTRELAS! 
 
Ora (direis) ouvir estrelas! Certo 
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, 
Que, para ouvi-las, muita vez desperto 
E abro as janelas, pálido de espanto... 
 
9 
 
E conversamos toda a noite, enquanto 
A Via Láctea, como um pálio aberto, 
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, 
Inda as procuro pelo céu deserto. 
 
Direis agora: “Tresloucado amigo! 
Que conversas com elas? Que sentido 
Tem o que dizem, quando estão contigo?” 
 
E eu vos direi: “Amai para entendê-las! 
Pois só quem ama pode ter ouvido 
Capaz de ouvir e de entender estrelas.” 
 
 
Raimundo Correia 
 
AS POMBAS 
 
Vai-se a primeira pomba despertada... 
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas 
De pombas vão-se dos pombais, apenas 
Raia sanguínea e fresca a madrugada... 
 
E à tarde, quando a rígida nortada 
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, 
Ruflando as asas, sacudindo as penas, 
Voltam todas em bando e em revoada... 
 
Também dos corações onde abotoam, 
Os sonhos, um por um, céleres voam, 
Como voam as pombas dos pombais; 
 
No azul da adolescência as asas soltam, 
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, 
E eles aos corações não voltam mais... 
 
 
 
MAL SECRETO 
 
Se a cólera que espuma, a dor que mora 
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce, 
Tudo o que punge, tudo o que devora 
O coração, no rosto se estampasse; 
 
Se se pudesse o espírito que chora 
Ver através da máscara da face, 
Quanta gente, talvez, que inveja agora 
Nos causa, então piedade nos causasse! 
 
10 
 
Quanta gente que ri, talvez, consigo 
Guarda um atroz, recôndito inimigo, 
Como invisível chaga cancerosa! 
 
Quanta gente que ri, talvez existe, 
Cuja ventura única consiste 
Em parecer aos outros venturosa! 
 
 
Alberto de Oliveira 
 
VASO GREGO 
 
Esta de áureos relevos, trabalhada 
De divas mãos, brilhante copa, um dia, 
Já de aos deuses servir como cansada, 
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. 
 
Era o poeta de Teos que o suspendia 
Então, e, ora repleta ora esvasada, 
A taça amiga aos dedos seus tinia, 
Toda de roxas pétalas colmada. 
 
Depois... Mas, o lavor da taça admira, 
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas 
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce, 
 
Ignota voz, qual se da antiga lira 
Fosse a encantada música das cordas, 
Qual se essa voz de Anacreonte fosse. 
 
 
 
 
 
PERMANÊNCIAS 
(A) Paródias 
Na época do nosso Modernismo, sobretudo na década de 1920, quando as vanguardas 
do Cubismo e do Futurismo estavam sendo divulgadas por aqui, surgiram dois jornalistas 
dispostos a “encarnar” o repúdio à literatura acadêmica do Parnasianismo, de forma 
bem-humorada e divertida: Alexandre Marcondes Machado e Horácio Campos. 
 
Conheça um pouco mais sobre ambos, bemcomo trechos de suas produções. 
11 
 
Juó Bananere 
O paulista Alexandre Marcondes Machado tornou-se bastante popular no Brasil de sua 
época pela irreverência com que satirizava tanto sonetos de Luís de Camões e de Olavo 
Bilac e poesias de Casimiro de Abreu e de Guerra Junqueiro, como as decisões políticas 
do marechal Hermes da Fonseca e outros figurões da velha República. Escrevia em 
dialeto “macarrônico”, numa imitação dos habitantes de origem italiana de São Paulo. 
Usava para isso o pseudônimo Juó Bananére (versão italiana do “joão bananeiro”, como 
eram chamados os vendedores de banana). Deixou apenas um livro, La divina Increnca, 
de muito êxito na época, e que é nos dias de hoje uma raridade bibliográfica, nuca mais 
foi editado. Colaborador da Revista O pirralho, de Oswald de Andrade, nos primeiros 
tempos do nosso Modernismo. Bananére satirizava poetas consagrados, dos clássicos 
aos parnasianos. Uma das sátiras mais conhecidas de Bananére é o “Uvi strella”, calcada 
no poema de Olavo Bilac que lemos. Leia paródia de Bananére: de início parece difícil, 
mas tente ler em voz alta, imitando um sotaque italiano meio misturado com o 
português. Para ficar mais divertido, leia as seguintes letras com o som típico do italiano: 
ch leia como k 
g leia como dj 
gl leia como lh 
Uvi strella 
 Che scuitá strella, nê meia strella! 
Vucê stá maluco e io ti diró intanto, 
Chi p'ra iscuitalas moltas veiz livanto, 
I vô dá una spiada na gianella. 
 
I passo as notte acunversando c'o ela. 
Inguante che as outra lá d'un canto 
Stó mi spiano. I o sol come un briglianto 
Nasce. Oglio p'ru ceu: — Cadê strella!? 
 
Direis intó: Ó migno inlustre amigo! 
O chi é chi as strellas ti dizia 
Quando illas viero acunversá cuntigo? 
 
E io ti diró: — Studi p'ra intendela, 
Pois só chi giá studô Astrolomia, 
É capaiz di intendê istas strella. 
 
 
12 
 
Furnandes Albaralhão 
Horácio Campos foi, em relação aos portugueses, o que era Juó Bananére em relação 
aos italianos. Falecido precocemente, seu único livro, Caldo Berde, não foi reeditado, 
sendo hoje uma grande raridade (nem a Biblioteca Nacional possui exemplar 
dele). Usando o pseudônimo Furnandes Albaralhão, com uma linguagem e um 
temperamento estereotipados lusitanos, Albaralhão realizava uma sátira tão mordaz da 
tradição quanto Bananére. 
 
O mesmo poema de Olavo Bilac serviu de motivo de sátira também para Furnandes 
Albaralhão. Tente ler a paródia seguinte, imitando o sotaque lusitano. 
 
Ubire as istrelas 
 
— Ora, dirâis, ubire estrelas... Passo! 
Num póde sêre! E eu bus dirâi: — Aflito 
para ubí-las, acordo, olho p’ru ispaço, 
tiro a cera d’úbido com um palito, 
 
i cumbirsamos, digo-lhe e rupito, 
até que rompe a uróra. Aí, que eu faço? 
Bou miter-me na cama, quensadito, 
com uma dôre infadonha nu queichaço. 
 
Dirais agora: — Isso é tapiação! 
Cumo é que podes tal cumbersa têre 
Cu’as istrilitas que tão longe estão? 
 
E eu bus dirâi: — Amai uma quechópa 
vaim nutrida, sucada e habeis de bêre 
e ubire istrelas de pagóde! É sópa! 
 
 
Paródia: uma pequena lição! 
Paródia é a apropriação que um determinado autor faz do texto de outro autor, com objetivos de criticar 
algum aspecto do original. Muitas vezes a paródia destrói o texto original e o reconstrói pelo seu inverso. 
Tudo na paródia é irreverente em relação ao original: 
• critica-se a linguagem, o estilo; isso fica claro na escolha de Juó Bananére e Furnandes Albaralhão: 
deram ao famoso poema escrito por Olavo Bilac, um intelectual respeitadíssimo, caracteres linguísticos 
populares e banais. 
• criticam-se o tema, o ponto de vista e as intenções; isso fica claro também em Banarére e Albaralhão: 
o primeiro contesta o idealismo e valoriza as ciências, o segundo contesta o idealismo e valoriza o 
amor mais real, concreto. 
13 
 
(B) Neo-parnasianismo 
Um grupo de poetas do século XX, conhecido como Geração de 45, viria a revitalizar 
alguns cânones parnasianos, como a busca por uma forma equilibrada, descritiva, 
refletida e impessoal. Faziam parte desse grupo Lêdo Ivo, Péricles Eugênio da Silva 
Ramos e João Cabral de Melo Neto (na fase inicial de sua obra). 
 
Soneto puro 
(Lêdo Ivo) 
 
Fique o amor onde está; seu movimento 
nas equações marítimas se inspire 
para que, feito o mar, não se retire 
das verdes áreas de seu vão lamento. 
 
Seja o amor como a vaga ao vago intento 
de ser colhida em mãos; nela se mire 
e, fiel ao seu fulcro, não admire 
as enganosas rotações do vento. 
 
Como o centro de tudo, não se afaste 
da razão de si mesmo, e se contente 
em luzir para o lume que o ensolara. 
 
Seja o amor como o tempo – não se gaste 
e, se gasto, renasça, noite clara 
que acolhe a treva, e é clara novamente. 
 
 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 
Pegue seu caderno de estudos e vamos fazer alguns exercícios de fixação!!! ☺ 
 
01. Fulge de luz banhado, esplêndido e suntuoso, 
O palácio imperial de pórfiro luzente 
E mármor da Lacônia. O teto caprichoso 
Mostra, em prata incrustado, o nácar do Oriente. 
 
O texto dado é a primeira estrofe do soneto “A Sesta de Nero”, de Olavo Bilac. Cite uma 
característica desse estilo que se comprove pelo texto. 
 
 
 
 
14 
 
02. Observe este comentário sobre um poeta do Parnasianismo: 
 
“Neste literato de veia fácil, um dos poetas da tríade parnasiana brasileira, 
denominado “Príncipe dos Poetas”, um dos fundadores da Academia Brasileira 
de Letras, eleito patrono do Serviço Militar obrigatório, percebemos a 
tendência parnasiana de cifrar no brilho da frase isolada e na chave de ouro 
de um soneto a mensagem toda da poesia.” 
 
a) Quais eram os poetas da tríade parnasiana? 
b) De qual deles trata o comentário acima? 
 
 
03. Olavo Bilac realizou basicamente três tipos de poesia: 
• poesia parnasiana propriamente dita, preocupada em descrever objetos de arte, palácios 
requintados, paisagens ou elementos patrióticos. 
• poesia metafísica, preocupada em refletir sobre a existência humana, chegando a conclusões 
pessimistas. 
• poesia lírico-amorosa, de cunho ou sensual ou espiritual platônico. 
 
Faça um pequeno comentário de cada um dos trechos de poemas abaixo, valendo-se 
da classificação acima: 
 
a) “Não és bom, nem és mau; és triste e humano... 
Vives ansiando, em maldições e preces, 
Como se, a arder, no coração tivesses 
O tumulto e o clamor de um largo oceano. 
 
E, no perpétuo ideal que te devora, 
Residem juntamente no teu peito 
Um demônio que ruge e um deus que chora.” 
b) “E, ó meu amor! eu te buscava, quando 
Vi que no alto surgias, calma e bela, 
O olhar celeste para o meu baixando...” 
 
c) “Diz tua boca: ‘Vem!’ 
‘Inda mais!’, diz a minha, a soluçar... Exclama 
Todo o meu corpo que o teu corpo chama: 
 ‘Morde também!’ 
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura 
 Morto por teu amor!” 
 
d) “Salve, lindo pendão da esperança! 
Salve, símbolo augusto da paz! 
Tua nobre presença a lembrança 
Da grandeza da Pátria nos traz!” 
 
15 
 
e) “Fulge de luz banhado, esplêndido e suntuoso, 
O palácio imperial de pórfiro luzente (...) 
Gemas em profusão do estrágulo custoso 
De ouro bordado veem-se. O olhar deslumbra, ardente, 
Da púrpura da Trácia o brilho esplendoroso.” 
 
 
04. O poema abaixo, de Alberto de Oliveira, refere-se a esta questão. 
 
FANTÁSTICA 
 
Erguido em negro mármor luzidio, 
Portas fechadas, num mistério enorme, 
Numa terra de reis, mudo e sombrio, 
Sono de lendas um palácio dorme. 
 
Torvo, imoto, em seu leito, um rio o cinge, 
E, à luz dos plenilúnios argentados, 
Vê-se em bronze uma antiga e bronca esfinge, 
E lamentam-se arbustos encantados. 
 
Dentro, assombro e mudez! quedas figuras 
De reis e de rainhas; penduradas 
Pelo muro panóplias, armaduras, 
Dardos, elmos, punhais, piques, espadas. 
 
E inda ornada de gemas e vestida 
De tiros de matiz de ardentes cores, 
Uma bela princesa está sem vida 
Sobre um torofantástico de flores. 
(Alberto de Oliveira) 
Observe este comentário: 
 
Apesar de mostrar uma atmosfera sombria, fantástica, fúnebre, sobrenatural, o 
poeta não constrói um poema de emoções, mas sim descritivo e impessoal, 
antissentimental, com uma linguagem rebuscada e um vocabulário sofisticado. 
 
Justifique essa afirmação, com elementos do texto. 
 
05. Releia o soneto “Vaso grego”, de Alberto de Oliveira, e localize no soneto os 
sinônimos de "vaso", depois responda sobre ele às próximas seis questões 
 
06. O poeta de Teos é Anacreonte, poeta grego clássico. Ele protagoniza, no soneto, 
uma cena estática: está segurando um objeto (o "vaso grego"), cheio de vinho. Esse 
objeto é descrito como dotado de uma beleza divina. 
16 
 
a) Por que imagem ficamos sabendo que o vaso contém vinho? 
b) Transcreva alguns trechos em que percebemos a beleza do vaso. 
 
07. O soneto é dominantemente descritivo. Mostre um trecho em que o poeta inicia uma 
narrativa, mas volta imediatamente à descrição. 
 
08. O que o poeta pede que o leitor faça no primeiro terceto? 
 
09. No segundo terceto, o poeta compara o tinir da taça ao som da lira e à voz de 
Anacreonte. Reescreva em ordem direta o último terceto para comprovar isso. 
 
10. Se entendermos “ARTE” como “técnica”, “perfeição formal”, “trabalho minucioso com 
os recursos artísticos”, como devemos entender o lema parnasiano da “ARTE PELA ARTE”? 
Justifique sua resposta com base no poema abaixo: 
 
Torce, aprimora, alteia, lima 
 A frase; e, enfim, 
No verso de ouro engasta a rima, 
 Como um rubim. 
Quero que a estrofe cristalina, 
 Dobrada ao jeito 
Do ourives, saia da oficina 
 Sem um defeito. 
(Olavo Bilac) 
 
Leia este soneto de Olavo Bilac e responda. 
 
VILA RICA 
 
O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre; 
Sangram, em laivos de ouro, as minas, que a ambição 
Na torturada entranha abriu da terra nobre; 
E cada cicatriz brilha como um brasão. 
 
O ângelus plange ao longe em doloroso dobre. 
O último ouro do sol morre na cerração. 
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre, 
O crepúsculo cai como uma extrema-unção. 
 
Agora, para além do cerro, o céu parece 
Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu. 
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece. 
 
Como uma procissão espectral que se move... 
17 
 
Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu... 
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove. 
(Olavo Bilac) 
 
11. O poema acima é tipicamente parnasiano. Descreve o momento em que anoitece 
sobre a Ouro Preto decadente. O poeta, autor desse poema, é o principal parnasiano 
brasileiro, Olavo Bilac. Em quatro versos, o poeta mostra o pôr do Sol, anunciando o fim 
do dia. Trancreva-os. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
Gabarito dos exercícios de fixação da unidade 01 
01. A linguagem (seleção vocabular e sintaxe), a retomada da cultura clássica, a preocupação formal. 
 
02. 
a) Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia. 
b) Olavo Bilac. 
 
03. 
a) Poesia metafísica, preocupada em refletir sobre a existência humana, chegando a conclusões 
pessimistas. 
b) poesia lírico-amorosa, de cunho espiritual platônico. 
c) poesia lírico-amorosa, de cunho sensual. 
d) Poesia parnasiana propriamente dita, preocupada em descrever elementos patrióticos. 
e) poesia parnasiana propriamente dita, preocupada em descrever objetos de arte, palácios requintados. 
 
04. Apesar de mostrar uma atmosfera sombria, fantástica, fúnebre, sobrenatural, o poeta não constrói um 
poema de emoções, mas sim descritivo e impessoal (“Pelo muro panóplias, armaduras, dardos, elmos, 
punhais, piques, espadas”), antissentimental, com uma linguagem rebuscada e um vocabulário sofisticado 
(vejam-se as palavras “mármor”, forma arcaica da palavra “mármore”, “luzidio”, sinônimo para “brilhante”, 
“quedas”, sinônimo para “caídas” e “panóplia”, termo de uso restrito que designa o escudo no qual se 
põem as armas citadas no poema). 
 
05. "copa" e "taça". 
 
06. 
a) "Toda de roxas pétalas colmada" 
b) "de áureos relevos ", "brilhante copa", " bordas finas". 
 
07. "Depois... Mas" 
 
08. Ele pede que o leitor admire a beleza do trabalho artístico com que foi construída a taça. 
 
09. Ignota voz, qual se fosse a música encantada das cordas da antiga lira, qual se essa fosse a voz de 
Anacreonte. 
 
10. O texto revela o ideal de perfeição típico do Parnasianismo, seja na elaboração das rimas ricas (“lima”, 
verbo, rima com “rima”, substantivo; “rubim”, substantivo, rima com “enfim”, advérbio), seja na temática, 
que revela o desejo do poeta de trabalhar seus versos como se fossem uma joia preciosa. 
 
11. “O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre”, “O último ouro do sol morre na cerração”, “O crepúsculo 
cai como uma extrema-unção” e “o céu parece / Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu”. 
 
 
 
19 
 
UNIDADE 02 – A POESIA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: SIMBOLISMO 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Examinar o Simbolismo. 
 
O Simbolismo é uma tendência poética que não só fez oposição ao Racionalismo e ao 
Cientificismo, que vigoravam na segunda metade do século XIX, no Brasil, preconizados 
pelo Realismo e pelo Naturalismo, bem como também fez oposição ao formalismo do 
Parnasianismo – e que, portanto, isolou-se como estética underground e bastante 
criticada na época. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Surgido na França, o Simbolismo constituiu uma reação ao cientificismo do Realismo-
Naturalismo e ao superficialismo dos parnasianos. Poesia da realidade subjetiva, nega o 
objetivismo e o materialismo comuns a essas três estéticas. 
 
Guarda alguma proximidade com o Romantismo, quanto aos temas do saudosismo, do 
apelo à morte e do pessimismo subjetivo. Todavia, não mantém a passionalidade dos 
românticos, nem o seu descontrole emocional, nem o seu sentimentalismo autopiedoso. 
No Simbolismo, os temas provêm do universo espiritual, por meio de sugestões de 
emoção – e não de emoções explícitas –, por meio da suavidade das palavras – e não 
por meio da grandiloquência verbal. 
 
Os poetas simbolistas percebem a realidade subjetiva de forma metafísica, por meio de 
empregar substantivos abstratos; de forma esotérica, por meio de um vocabulário 
ritualístico e cabalístico; e de forma mística, por meio de um vocabulário litúrgico e 
sobrenatural. 
 
Os poemas transpiram uma atmosfera onírica (de sonho): sensações indefinidas e falta 
20 
 
de lógica predominam. Para isso: o recurso formal é a sugestão, por meio de 
musicalidade (ritmo e aliterações), sinestesias (fusão de sensações de naturezas distintas) 
e símbolos de difícil percepção. 
 
O poeta simbolista francês Stephane Mallarmé considerava o seguinte, sobre a função 
da poesia: “Nomear um objeto é suprimir três quartos do prazer da fruição do poema, 
que deriva da satisfação de adivinhar, pouco a pouco, portanto, sugerir, evocar — isto 
é que encanta a imaginação.” Embora seus temas sejam renovadores para a literatura, a 
forma de seus poemas continua atada à métrica e à rima – obviamente sem o senso de 
perfeição extrema dos parnasianos. 
 
Os simbolistas, desde sua origem na França, eram vistos como poetas malditos: 
antiacadêmicos e marginais (deslocados da literatura oficial), excêntricos (escreviam 
coisas difíceis de interpretar) e alienados. 
 
No Brasil, iniciou-se com Missal e Broquéis, dois livros de Cruz e Sousa, em 1893. 
 
Cruz e Sousa (1861-1898) 
Nosso simbolista Cruz e Sousa padeceu todos os males de viver 
como negro culto em um país recentemente saído da 
escravidão: por ser negro, por exemplo, foi impedido de 
assumir um cargo público. Trabalhou como jornalista, como 
ponto de teatro e como funcionário da Central do Brasil. Integrante dos grupos 
marginais de poesia simbolista, teve dificuldade para publicar seus textos, pois a poesia 
oficial (românticaou parnasiana) minava a atividade editorial da época. 
 
Morreu tuberculoso, em 1898, depois de perder toda a família por conta da tuberculose, 
e de ver sua esposa enlouquecer. 
 
21 
 
O preconceito racial parece ter penetrado em sua poesia: Cruz e Sousa evidencia, em 
seus textos, uma fixação pelo branco, pela luminosidade. O gosto simbolista se 
aprofunda em sublimação do real, em religiosidade, em sentimentos platônicos de amor, 
em profusão de abstrações (personificação de seres abstratos pelo uso de maiúsculas). 
Sua obra é das mais complexas em literatura brasileira: emprega uma profusão de 
sinestesias, uma forte sonoridade (aliterações, assonâncias e ritmo dançante) e beleza 
formal a serviço de aguçar as sensações. Para ele, o poema deve sempre guardar um 
mistério, que não é revelado pelo texto e permanece indecifrável para o leitor. 
 
Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) 
Afonso Henrique da Costa Guimarães nasceu em Outro Preto 
e faleceu em Mariana. Estudou Direito em São Paulo, a cujo 
grupo simbolista sempre se manteve ligado. Depois de 
realizar seu desejo de conhecer Cruz e Sousa, no Rio de 
Janeiro, estabeleceu-se definitivamente em Minas Gerais, 
exercendo cargos judiciais. 
 
Sua vasta obra comporta três temas fundamentais. A saudade da amada morta (ele 
perdeu sua esposa muito cedo) é o primeiro tema. Convertida em alvo de platonismo, a 
imagem da amada aproxima-se da imagem da Virgem Maria, construindo o segundo 
tema: a religiosidade católica de cunho devocional e místico. A solidão e o pessimismo 
agregados a esses temas trouxeram ao poeta, inevitavelmente, o tema da morte, vista 
como forma de ascensão espiritual. 
 
Sua linguagem simples, de melodia delicada e ritmos medievais, constitui um dos 
exemplos mais interessantes de poesia que consegue ser profunda e plurissignificativa 
sem apelas para a erudição. A poesia de Alphonsus é o inverso estilístico da de Cruz e 
Sousa. 
 
22 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Algumas Leituras 
 
Cruz e Sousa 
 
SIDERAÇÕES 
 
Para as Estrelas de cristais gelados 
As ânsias e os desejos vão subindo, 
Galgando azuis e siderais noivados 
De nuvens brancas a amplidão vestindo... 
 
Num cortejo de cânticos alados 
Os arcanjos, as cítaras ferindo, 
Passam, das vestes nos troféus prateados, 
As asas de ouro finamente abrindo... 
 
Dos etéreos turíbulos de neve 
Claro incenso aromal, límpido e leve, 
Ondas nevoentas de Visões levanta... 
 
E as ânsias e os desejos infinitos 
Vão com os arcanjos formulando ritos 
Da Eternidade que nos Astros canta... 
 
 
SONHO BRANCO 
 
De linho e rosas brancas vais vestido, 
Sonho virgem que cantas no meu peito!... 
És do Luar o claro deus eleito, 
Das estrelas puríssimas nascido. 
 
Por caminho aromal, enflorescido, 
Alvo, sereno, límpido, direito, 
Segues radiante, no esplendor perfeito, 
No perfeito esplendor indefinido... 
 
As aves sonorizam-te o caminho... 
E as vestes frescas, do mais puro linho 
E as rosas brancas dão-te um ar nevado... 
 
No entanto, Ó Sonho branco de quermesse! 
Nessa alegria em que tu vais, parece 
Que vais infantilmente amortalhado! 
 
 
 
 
23 
 
CRISTAIS 
 
Mais claro e fino do que as finas pratas 
O som da tua voz deliciava... 
Na dolência velada das sonatas 
Como um perfume a tudo perfumava. 
 
Era um som feito luz, eram volatas 
Em lânguida espiral que iluminava, 
Brancas sonoridades de cascatas... 
Tanta harmonia melancolizava. 
 
Filtros sutis de melodias, de ondas 
De cantos volutuosos como rondas 
De silfos leves, sensuais, lascivos... 
 
Como que anseios invisíveis, mudos, 
Da brancura das sedas e veludos, 
Das virgindades, dos pudores vivos. 
 
 
SERPENTE DE CABELOS 
 
A tua trança negra e desmanchada 
Por sobre o corpo nu, torso inteiriço, 
Claro, radiante de esplendor e viço, 
Ah! lembra a noite de astros apagada. 
 
Luxúria deslumbrante e aveludada 
Através desse mármore maciço 
Da carne, o meu olhar nela espreguiço 
Felinamente, nessa trance ondeada. 
 
E fico absorto, num torpor de coma, 
Na sensação narcótica do aroma, 
Dentre a vertigem túrbida dos zeros. 
 
És a origem do Mal, és a nervosa 
Serpente tentadora e tenebrosa, 
Tenebrosa serpente de cabelos!... 
 
 
INCENSOS 
 
Dentre o chorar dos trêmulos violinos, 
Por entre os sons dos órgãos soluçantes 
Sobem nas catedrais os neblinantes 
Incensos vagos, que recordam hinos... 
 
Rolos d’incensos alvadios, finos 
E transparentes, fulgidos, radiantes, 
24 
 
Que elevam-se aos espaços, ondulantes, 
Em Quimeras e Sonhos diamantinos. 
 
Relembrando turíbulos de prata 
Incensos aromáticos desata 
Teu corpo ebúrneo, de sedosos flancos. 
 
Claros incensos imortais que exalam, 
Que lânguidas e límpidas trescalam 
As luas virgens dos teus seios brancos. 
 
 
CÁRCERE DAS ALMAS 
 
Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa, 
soluçando nas trevas, entre as grades 
do calabouço olhando imensidades, 
mares, estrelas, tardes, natureza. 
 
Tudo se veste de uma igual grandeza 
quando a alma entre grilhões as liberdades 
sonha e sonhando, as imortalidades 
rasga no etéreo Espaço da Pureza. 
 
Ó almas presas, mudas e fechadas 
nas prisões colossais e abandonadas, 
da Dor no calabouço, atroz, funéreo! 
 
Nesses silêncios solitários, graves, 
que chaveiro do Céu possui as chaves 
para abrir-vos as portas do Mistério?! 
 
 
VIOLÕES QUE CHORAM... 
 
Ah! plangentes violões dormentes, mornos, 
Soluços ao luar, choros ao vento... 
Tristes perfis, os mais vagos contornos, 
Bocas murmurejantes de lamento. 
Noites de além, remotas, que eu recordo, 
Noites da solidão, noites remotas 
Que nos azuis da Fantasia bordo, 
Vou constelando de visões ignotas. 
Sutis palpitações à luz da lua, 
Anseio dos momentos mais saudosos, 
Quando lá choram na deserta rua 
As cordas vivas dos violões chorosos. 
Quando os sons dos violões vão soluçando, 
Quando os sons dos violões nas cordas gemem, 
E vão dilacerando e deliciando, 
Rasgando as almas que nas sombras tremem. 
25 
 
Harmonias que pungem, que laceram, 
Dedos nervosos e ágeis que percorrem 
Cordas e um mundo de dolências geram 
Gemidos, prantos, que no espaço morrem... 
E sons soturnos, suspiradas mágoas, 
Mágoas amargas e melancolias, 
No sussurro monótono das águas, 
Noturnamente, entre ramagens frias. 
Vozes veladas, veludosas vozes, 
Volúpias dos violões, vozes veladas, 
Vagam nos velhos vórtices velozes 
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. 
Tudo nas cordas dos violões ecoa 
E vibra e se contorce no ar, convulso... 
Tudo na noite, tudo clama e voa 
Sob a febril agitação de um pulso. 
Que esses violões nevoentos e tristonhos 
São ilhas de degredo atroz, funéreo, 
Para onde vão, fatigadas do sonho, 
Almas que se abismaram no mistério. 
Sons perdidos, nostálgicos, secretos, 
Finas, diluídas, vaporosas brumas, 
Longo desolamento dos inquietos 
Navios a vagar à flor de espumas. 
Oh! languidez, languidez infinita, 
Nebulosas de sons e de queixumes, 
Vibrado coração de ânsia esquisita 
E de gritos felinos de ciúmes! [...] 
 
 
Alphonsus de Guimaraens 
 
HÃO DE CHORAR POR ELA OS CINAMOMOS... 
 
Hão de chorar por ela os cinamomos, 
Murchando as flores ao tombar do dia. 
Dos laranjais hão de cair os pomos, 
Lembrando-se daquela que os colhia. 
 
As estrelas dirão — “Ai! nada somos, 
Pois ela se morreu silente e fria.. . “ 
E pondo os olhos nela como pomos, 
Hão de chorar a irmã que lhes sorria. 
 
A lua, que lhe foi mãe carinhosa, 
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la 
Entre lírios e pétalas de rosa. 
 
Os meus sonhos de amor serão defuntos... 
26 
 
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la, 
Pensando em mim: — “Por que não vieram juntos?” 
 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 
Leia este trecho do famoso poema de Cruz e Sousa, “Antífona”, e responda sobre ele às 
quatro próximas questões. 
 
 
ANTÍFONA 
 
Indefiníveis músicas supremas, 
harmonias da Cor e do Perfume...Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, 
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume... 
 
Visões, salmos e cânticos serenos, 
surdinas de órgãos flébeis, soluçantes... 
Dormências de volúpicos venenos 
sutis e suaves, mórbidos, radiantes... 
 
Infinitos espíritos dispersos, 
inefáveis, edênicos, aéreos, 
fecundai o mistério destes versos 
com a chama ideal de todos os mistérios. 
 
Vocabulário: 
Antífona: versículo cantado depois 
do salmo, numa missa. 
Ocaso: anoitecer. 
Réquiem: canto fúnebre, de 
encomendação da alma de um 
morto recente. 
Flébil: lacrimoso, choroso. 
Volúpicos: sensuais. 
Inefável: indizível. 
Edênicos: relativo ao Éden, o 
paraíso. 
 
01. Sobre o texto, responda: 
a) O poeta convoca as forças espirituais para inspirarem seus versos. Em qual estrofe isso 
está claro? 
b) A inspiração que o poeta quer é de que natureza, segundo sugere na estrofe que 
você apontou? 
 
27 
 
02. É nítido o apelo à musicalidade no poema. Cite dois versos em que a escolha do 
vocabulário musical é perceptível. 
 
03. Explique a imagem sinestésica (de fusão de sensações) presente nos versos 2 e 4 da 
primeira estrofe. 
 
04. Diferentemente dos poemas parnasianos, o poema de Cruz e Sousa traz um tema 
mais abstrato, mais misterioso, mas espiritualizante. Transcreva palavras que sugerem a 
atmosfera que funde mistério, sensualidade e melancolia. 
 
 
Leia este poema simbolista do poeta português Camilo Pessanha e responda sobre ele 
às próximas três questões. 
 
CREPUSCULAR 
 
Há no ambiente um murmúrio de queixume, 
De desejos de amor, d'ais comprimidos... 
Uma ternura esparsa de balidos, 
Sente-se esmorecer como um perfume. 
 
As madressilvas murcham nos silvados 
E o aroma que exalam pelo espaço, 
Tem delíquios de gozo e de cansaço, 
Nervosos, femininos, delicados. 
 
Sentem-se espasmos, agonias d'ave, 
Inapreensíveis, mínimas, serenas... 
– Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas, 
O meu olhar no teu olhar suave. 
 
As tuas mãos tão brancas d'anemia... 
Os teus olhos tão meigos de tristeza... 
– É este enlanguescer da natureza, 
Este vago sofrer do fim do dia. 
 
Vocabulário: 
balido: voz de ovelha ou cordeiro. 
esmorecer: desfalecer, desmaiar. 
delíquio: desfalecimento, 
desmaio, síncope. 
enlanguescer: enfraquecimento, 
esmorecimento. 
28 
 
05. Nas duas primeiras estrofes e nos dois primeiros versos da terceira estrofe, 
percebemos a descrição do entardecer, que não é feita de forma explícita, mas sugerida 
por meio de imagens de morte, de tristeza e de torpor físico. Transcreva algumas dessas 
imagens. 
 
 
06. Misteriosamente, como convém ao poema simbolista, o entardecer aparece não só 
vinculado a imagens de morte, desfalecimento e tristeza, mas também surgem imagens 
de afeto e erotismo inseridas na descrição do fim do dia. Transcreva-as. 
 
 
07. No final da segunda estrofe, o entardecer é associado à figura feminina. Essa imagem 
é importante para compreendermos o surgimento do interlocutor da terceira e quarta 
estrofes. 
a) Quem é esse interlocutor? 
b) Formule duas hipóteses, com base em trechos do poema, para explicar em que estado 
físico encontra esse interlocutor. 
c) Qual a relação entre esse estado físico e o entardecer sugerido nas duas primeiras 
estrofes? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
Gabarito dos exercícios de fixação da unidade 02 
 
01. 
a) Na terceira estrofe. 
b) Ele deseja que seu poema seja inspirado pelo mistério, para que seja misterioso. 
 
02. “Indefiníveis músicas supremas”, “harmonias da Cor e do Perfume”, “Visões, salmos e cânticos serenos” 
e “surdinas de órgãos flébeis, soluçantes”. 
 
03. “harmonias da Cor e do Perfume” = fundem-se aqui as percepções auditivas (harmonias), olfativas 
(perfume) e visuais (cor); “Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume” = fundem-se aqui as percepções 
visuais (luz), auditivas (réquiem) e táteis (dor). 
 
04. mistério: Indefiníveis, Visões, surdinas, sutis, inefáveis, espíritos dispersos; 
sensualidade: edênicos, volúpicos, soluçantes, trêmulas; 
melancolia e morte: trêmulas, Réquiem, flébeis, soluçantes. 
 
05. “murmúrio de queixume”, “d'ais comprimidos”, “esmorecer”, “murcham”, “delíquios de cansaço”, 
“Nervosos”, “espasmos” e “agonias”. 
 
06. “desejos de amor”, “Uma ternura” e “delíquios de gozo”. 
 
07. 
a) Provavelmente uma mulher, a mulher amada. 
b) (1) A mulher é doente (“anemia” e “tristeza”) e está morrendo. (2) O poeta e a mulher acabaram de 
consumar um ato sexual (daí os “espasmos”, o “gozo”, os “desejos”, o “esmorecer” e o “enlanguescer”). 
c) Tanto o gozo sexual quanto o momento da morte constituem esmorecimentos, desfalecimentos, com 
que se descreve o entardecer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
UNIDADE 03 – PRÉ MODERNISMO – 1902 a 1922 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Conhecer o conceito de Pré Modernismo, que não é uma escola literária e sim 
uma fase de transição para o Modernismo, tendo como principal característica a 
retratação da problemática social brasileira, resgatando, portanto, o Realismo-
Naturalismo e opondo-se à alienação romântica, parnasiana e simbolista. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
O início do século XX no Brasil traz profundas mudanças na estrutura do país 
desencadeadas por importantes acontecimentos históricos do final do século XIX. 
 
Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, pondo fim à escravidão 
no Brasil. Todavia isso gerou graves problemas sociais, visto que as nossas elites, 
assimilando as teorias deterministas e positivistas, não indenizaram negros e mestiços 
por séculos de cativeiro, optando por jogá-los na marginalidade e por substituí-los como 
mão de obra pelos imigrantes europeus, inclusive com a finalidade de apurar a raça 
brasileira. Disso decorre, no século XX, o início das favelas nas grandes cidades, além de 
problemas raciais entre imigrantes europeus e a miscigenada população brasileira. 
 
Em 15 de novembro de 1889, a República foi proclamada pelo Marechal Deodoro da 
Fonseca, sucedido pelo ditador Marechal Floriano Peixoto, o marechal de ferro. Portanto 
a República, que pressupõe um regime democrático, no Brasil, foi implantada como uma 
ditadura. 
 
Em 1894, foi eleito o primeiro presidente civil da história republicana brasileira, o paulista 
Prudente de Moraes, que enfrentou a sangrenta revolta em Canudos, na Bahia, que foi 
sufocada pelas tropas republicanas. Seu sucessor, o também paulista Campos Salles deu 
31 
 
início em 1898 a República Oligárquica do Café com Leite, alternando o poder entre as 
elites de São Paulo e Minas Gerais. 
 
Embora os civis estivessem no poder e o povo pudesse votar, a democracia não era 
plena, pois, como o voto era aberto, ocorria o voto de cabresto, por meio do qual o 
coronel, um grande fazendeiro, utilizava seu poder econômico para garantir, através da 
violência, a eleição dos candidatos que ele apoiava 
 
Contra essas oligarquias, surgiu entre 1925 e 1927 a Coluna Prestes, organizada pelo 
comunista Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, que percorreu o Brasil de sul a 
norte, tentando levantar o povo contra as elites. Entretanto, a coluna só conseguiu 
enfraquecer a oligarquia do Café com Leite e levar o gaúcho Getúlio Vargas ao poder 
em 1930, que levou o país a uma nova ditadura em 1937, dando início ao Estado Novo 
e colocando o Partido Comunista na clandestinidade. 
 
É este contexto conturbado que levou um grupo de escritores a se debruçar sobre nossa 
problemática e abordá-la em suas obras, dando início à literatura pré-modernista em 
1902 com a publicação das obras Os Sertões de Euclides da Cunha e Canaã de Graça 
Aranha. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Os Sertões de Euclides da Cunha e Triste Fim de Policarpo Quaresma de Lima Barreto, 
pela relevância, serão estudadas mais à frente. Já Canaã de Graça Aranha é um romance 
de tese que retrata problemas raciais entre imigrantes alemãese mestiços brasileiros. Em 
seu enredo, Lentz defende a lei da força e Milkau, a lei do amor, vindo a se envolver com 
a mestiça Maria. Canaã, para Milkau, é uma terra utópica, regida pelo amor, onde todas 
as raças se confraternizariam. 
32 
 
Outro grande representante é Monteiro Lobato, que na literatura para adultos, 
destacou-se com dois livros de contos Cidades Mortas e Urupês, marcados pela 
linguagem coloquial e pela oralidade. Em Cidades Mortas retratou a decadência da 
cafeicultura no Vale do Paraíba (SP). Já no livro Urupês o grande destaque é o artigo 
Jeca Tatu: uma visão negativa do mestiço sertanejo do interior paulista, visto como um 
acomodado. 
“Morreu Peri, incomparável idealização dum homem natural como o sonhava 
Rousseau, protótipo de tantas perfeições humanas que no romance, ombro a 
ombro com altos tipos civilizados, a todos sobrelevava em beleza d'alma e 
corpo. 
 
Contrapôs-lhe a cruel etnologia dos sertanistas modernos um selvagem real, 
feio e brutesco, anguloso e desinteressante, tão incapaz, muscularmente, de 
arrancar uma palmeira, como incapaz, moralmente, de amar Ceci.(...) 
 
Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade! 
 
Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo... 
 
Quando comparece às feiras, todo mundo logo advinha o que ele traz: sempre 
coisas que a natureza derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de 
espichar a mão e colher - cocos de tucum ou jissara, guabirobas, bacuparis, 
maracujás, jataís, pinhões, orquídeas ou artefatos de taquara-poca - peneiras, 
cestinhas, samburás, tipitis, pios de caçador ou utensílios de madeira mole - 
gamelas, pilõesinhos, colheres de pau. 
 
Nada Mais. 
 
Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor 
esforço - e nisto vai longe.” 
 
No entanto, em 1947, Lobato revê seus conceitos e cria o Zé Brasil, uma visão mais 
positiva do caboclo, retratado como um trabalhador explorado pelos coronéis: 
“ Zé Brasil era um pobre coitado. Nasceu e sempre viveu em casebres de sapé 
e barro, desses de chão batido e sem mobília nenhuma – só a mesa encardida, 
o banco duro, o mocho de três pernas, uns caixões, as cuias... Nem cama tinha. 
Zé Brasil sempre dormiu em esteiras de tábua. Que mais na casa? A 
espingardinha, o pote d’água, o caco de sela, o rabo de tatu, a arca, o facão, 
um santinho na parede. Livros, só folhinhas – para ver as luas e se vai chover 
ou não, e aquele livrinho do Fontoura com a história do Jeca Tatu. Coitado 
deste Jeca! dizia Zé Brasil, olhando para aquelas figuras. Tal qual eu. Tudo que 
ele tinha, eu também tenho. A mesma opilação, a mesma maleita, a mesma 
miséria e até o mesmo cachorrinho. Pois não é que meu cachorro também se 
chama Jolí?...(...) 
33 
 
Eu era “agregado” na fazenda do Taquaral. O coronel me deu lá uma grota, 
fiz minha casinha, derrubei mato, plantei milho e feijão. 
 
De meias? 
 
Sim. Metade para o coronel, metade para mim. 
 
Mas isso dá, Zé? 
 
Dá para a gente ir morrendo de fome pelo caminho da vida – a gente que 
trabalha e planta. Para o dono da terra é o melhor negócio do mundo. Ele não 
faz nada, de nada, de nada. Não fornece nem uma foice, nem um vidrinho de 
quina para a sezão – mas leva metade da colheita, e metade bem medida – 
uma metade gorda; a metade que fica com a gente é magra, minguada... 
 
E a gente tem de viver com aquilo um ano inteiro, até que chegue tempo de 
outra colheita. 
 
Mas como foi o negócio da fazenda do Taquaral? 
 
Eu era “agregado” lá e ia labutando na grota. Certo ano tudo correu bem e as 
plantações ficaram a maior das belezas. O coronel passou por lá, viu aquilo – 
e eu não gostei da cara dele. No dia seguinte me “tocou” de suas terras como 
quem toca um cachorro; colheu as roças para ele e naquela casinha que eu 
havia feito, botou o Totó Urumbeva. 
 
Mas não há uma lei que... 
 
Zé Brasil deu uma risada. “Lei... Isso é coisa para os ricos. Para os pobres, a lei 
é a cadeia e se rezingar um pouquinho é o chanfalho”.(...) 
 
Não é assim, Zé. Apareceu um homem que pensa em você, que por causa de 
você já foi condenado pela lei desses ricos que mandam em tudo – e passou 
nove anos num cárcere. 
 
Quem é esse homem? 
 
Luiz Carlos Prestes...(...) 
 
O sonho dele é fazer que todos os que trabalham na terra sejam donos de um 
sítio de bom tamanho, onde vivam felizes, plantando muitas árvores, 
melhorando as benfeitorias. E todos vivendo sossegados, sem receio de que 
um Tatuíra os toque e fique com tudo. É só isso o que Prestes e seus 
companheiros querem.(...) 
 
Prestes! Prestes!... Por isso é que há tanta gente que morre por ele. Estou 
compreendendo agora. É o único homem que quer o nosso bem. O resto, eh, 
eh, eh! é tudo mais ou menos coronel Tatuíra... 
 
 
34 
 
Outro representante deste período foi Augusto dos Anjos: poeta de difícil classificação 
sem a preocupação de retratar a realidade brasileira, tendo escrito um único livro de 
poesias “Eu”, que apresenta as seguintes características: individualismo que se 
universaliza, vocabulário científico (Naturalismo), pessimismo (Simbolismo), mas não 
adere à metafísica; expressão exagerada, escatológica do caos humano 
(Expressionismo)*, cuidado formal parnasiano. É conhecido como o Poeta da Putrefação 
da Carne, pois julga o verme superior ao homem. 
 
O MORCEGO 
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. 
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: 
Na bruta ardência orgânica da sede, 
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. 
"Vou mandar levantar outra parede..." 
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho 
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, 
Circularmente sobre a minha rede! 
Pego de um pau. Esforços faço. Chego 
A tocá-lo. Minh’alma se concentra. 
Que ventre produziu tão feio parto?! 
A Consciência Humana é este morcego! 
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra 
Imperceptivelmente em nosso quarto! 
 
 
 
 
*O GRITO – Obra de arte expressionista da autoria do pintor norueguês Edvard 
Munch e simboliza o sentimento de angústia do ser humano 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
UNIDADE 04 – EUCLIDES DA CUNHA: OS SERTÕES 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Conhecer Euclides da Cunha (1866-1909) escritor, professor, sociólogo, 
repórter jornalístico e engenheiro, tendo se tornado famoso internacionalmente por sua 
obra-prima, “Os Sertões”, que retrata a Guerra dos Canudos. 
 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Homem de grande cultura, Euclides da Cunha foi eleito em 1903 
para a cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras. Sua esposa, mais 
conhecida como Anna de Assis, tornou-se amante de um jovem 
tenente, 17 anos mais novo do que ela, chamado Dilermando de 
Assis. Ainda casada com Euclides, teve dois filhos de Dilermando. A traição de Ana 
desencadeou uma tragédia em 1909, quando Euclides teria entrado na casa de 
Dilermando, armado, dizendo-se disposto a matar ou morrer. Dilermando reagiu e 
matou-o. Foi julgado pela justiça militar e absolvido. Entretanto, até hoje o episódio 
permanece em discussão. Casou-se com Ana. O casamento durou 15 anos. 
 
Os Sertões 
A obra “O Sertões” não é uma ficção e sim um misto de jornalismo e estudo geopolítico 
e sociológico sobre a Guerra de Canudos no sertão da Bahia, em linguagem literária, 
culta e complexa, repleta de antíteses, hipérboles e superlativos, do que resulta a 
denominação Barroco-Científico. O objetivo desta linguagem é salientar os 
desequilíbrios que culminaram numa grande tragédia: a guerra. 
 
A Guerra de Canudos, iniciada em 1896, foi um dos acontecimentos mais sangrentos da 
história do Brasil. Durante um ano, o Exército brasileiro enviou quatro expedições contra 
mais de vinte mil habitantes da região, sertanejos liderados pelo beato Antônio 
36 
 
Conselheiro. Os sertanejos se municiavam com armas rústicas para enfrentar soldados 
que portavam metralhadoras, granadas e canhões. Porém, esses soldados, fortementearmados e numericamente muito superiores aos rebeldes, eram sucessivamente 
derrotados. 
 
Mas qual a origem da guerra? Em 1893, começou a formar-se, no vale do rio Vaza-
Barris, no interior da Bahia, uma comunidade de seguidores do beato Antônio 
Conselheiro. Essa comunidade, próxima à Fazenda Canudos, era conhecida por Belo 
Monte, cuja população, em 1896, chegava a 15 mil pessoas. A economia baseava-se na 
criação de animais e em plantações. A produção era dividida entre os habitantes, e o 
excedente, vendido nas cidades próximas para a obtenção do que não era produzido 
pela comunidade. 
 
Ali, era cada vez maior o número de pessoas que se abrigavam, buscando livrar-se da 
miséria e da exploração dos grandes latifundiários. Isso incomodou os coronéis, já que 
começava a faltar mão de obra para os latifundiários, sem falar que a existência de uma 
organização social autônoma era vista como ameaça aos detentores do poder local. 
 
Por outro lado, a religiosidade que unia os sertanejos em torno do Conselheiro era alvo 
de críticas das autoridades católicas. Além disso, a rebelião de Canudos ocorria em um 
momento em que a República buscava se firmar. Esse foi um período de muita agitação 
no país. Chegou-se a pensar que a revolta no sertão da Bahia fosse um levante 
monarquista e que os sertanejos aglomerados em Canudos estivessem sob manipulação 
dos interessados em restaurar privilégios da monarquia extinta. 
 
O que chamava a atenção era a organização econômica e política de Canudos. 
Diferentemente do que ocorria em todo o país, na comunidade os bens eram divididos. 
37 
 
Não havia uma elite governante. Havia, sim, uma espécie de rei-profeta, Antônio 
Conselheiro, que prometia a salvação eterna. 
 
Como essa comunidade sertaneja passou a ser considerada uma ameaça política, O 
Estado decidiu extingui-la pela violência, pela guerra. 
 
A vitória, arduamente obtida apenas na 4º expedição, foi comemorada pelo governo 
federal. Aos poucos, no entanto, alguns setores da sociedade começaram a questionar 
a necessidade de tamanho aparato de guerra contra uma população rústica do interior 
do país. O questionamento elevou-se à indignação na escrita de Euclides da Cunha. Para 
denunciar o massacre, o escritor, testemunha dos acontecimentos de Canudos, redigiu 
o livro Os Sertões, chamando de “crime da nacionalidade” a ação violenta do Estado. 
 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Em 1897, Euclides da Cunha fora enviado pelo jornal O Estado de São Paulo ao interior 
da Bahia para fazer a cobertura da guerra de Canudos, iniciada em 1896. O que o 
jornalista presenciou contrariava a ideia de que bandos de fanáticos religiosos e 
monarquistas tinham se insurgido contra a República proclamada em 15 de novembro 
de 1889. Euclides assistiu a lutas desiguais, em que tropas fortemente armadas 
precisaram empreender quatro expedições para dizimarem uma população rústica. 
 
Assombrado e indignado com o que presenciara, Euclides da Cunha empenhou-se em 
denunciar um crime praticado por forças oficiais contra uma coletividade. Com esse 
propósito, reuniu material para escrever Os Sertões: a campanha de Canudos. O livro foi 
quase todo redigido em São José do Rio do Pardo, interior de São Paulo, enquanto 
Euclides, como engenheiro, cuidava da reconstrução de uma ponte metálica. 
38 
 
O livro foi publicado em 1902. Pelo rigor com que foi elaborado e pela força expressiva 
da linguagem, pode ser considerado realização monumental do esforço de 
conhecimento do país. 
 
Até o início da guerra de Canudos, as elites do litoral e do sul desconheciam a realidade 
vivida pelos sertanejos. O sertão era uma terra abandonada pelas instituições estatais. 
Por isso, ali se vivia sem lei, sob o domínio dos latifundiários. 
 
Ao publicar o livro Os Sertões, o engenheiro militar e jornalista Euclides da Cunha revelou 
aos leitores urbanos a realidade da seca e, principalmente, do abandono a que a 
população sertaneja foi relegada durante mais de três séculos. Essa revelação desferia 
um golpe no ideal de civilização europeia cultivado pelas elites dirigentes, ignorantes da 
realidade do próprio país. 
 
Empenhado em conferir exatidão científica à obra, Euclides da Cunha, influenciado pelo 
Determinismo, divide Os Sertões em três partes: “A Terra” (meio), “O Homem” (raça) e 
“A Luta” (momento). 
 
A Terra (Meio) 
Na primeira parte, “A Terra”, Euclides faz um estudo geográfico do sertão. Ele segue os 
princípios positivistas para descrever minuciosamente o meio sertanejo: a infraestrutura 
geológica, o relevo, o clima, a flora e a fauna. Como se vê, o autor começa pelo estudo 
da matéria inorgânica e chega ao das formas de vida. Expõe, como cientista, as 
causalidades, ou seja, as causas da guerra, salientando o clima, a seca, que causa a 
miséria, que causa a guerra. 
 
O Homem (Raça) 
Para explicar a psicologia de Antônio Conselheiro e de seus seguidores, Euclides estuda 
a formação racial da população sertaneja. Um detalhe significativo: a palavra “raça” 
39 
 
passou a ser aplicada ao ser humano no século XIX, quando as teorias científicas raciais 
— ou racistas — foram elaboradas. 
 
Para dar consistência científica a suas teses sobre o sertanejo, Euclides da Cunha recorre 
às teorias que serviram de base a sua formação intelectual e que eram compartilhadas 
por muitos intelectuais da época. Essas teorias partiam do pressuposto darwiniano de 
evolução das espécies como resultado da adaptação do mais forte ao meio. 
 
Desse modo, o princípio conhecido como “lei do mais forte” foi aplicado ao estudo das 
relações sociais e serviu como justificativa da dominação e da exploração. 
 
A Luta (Momento) 
Na terceira parte, “A Luta”, são narradas as quatro expedições contra Canudos, seguindo 
o rigor científico de causa e efeito, salientado na sequência rigorosamente cronológica 
das expedições. Segundo o autor, tratou-se da luta entre dois Brasis: o litoral civilizado 
e o interior abandonado pela civilização. 
 
O cerco a Canudos durou três meses, com soldados fortemente armados. Após ser 
bombardeado, o povoado foi invadido e destruído completamente em 5 de outubro de 
1897. Os soldados tinham ordens de não fazerem nenhum prisioneiro. Isso quer dizer 
que todos os habitantes deveriam ser mortos. Sobre o massacre e sobre o heroísmo dos 
combatentes sertanejos, Euclides da Cunha escreveu: 
 
 
“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao 
esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do 
termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, 
que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma 
criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.”(...) 
 
 
 
40 
 
UNIDADE 05 – LIMA BARRETO; “TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA”. 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Conhecer a obra de Lima Barreto (1881-1922), que tinha uma temática social, 
que privilegiava os pobres, os boêmios e os arruinados. Foi severamente criticado por 
seu estilo despojado e coloquial, que acabou influenciando os escritores modernistas. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, filho de 
João Henriques de Lima Barreto (mulato nascido escravo) e de 
Amália Augusta (filha de escrava agregada da família Pereira 
Carvalho). A sua mãe teve acesso ao ensino, sendo professora da 1ª 
à 4ª séries. Ela faleceu quando ele tinha apenas 6 anos e João 
Henriques trabalhou muito para sustentar os quatro filhos do casal. João Henriques era 
monarquista, ligado ao visconde de Ouro Preto, padrinho do futuro escritor. Talvez isso 
tenha exercido influência sobre sua visão crítica em relação ao regime republicano. 
 
Lima Barreto, mulato num Brasil que mal acabara de abolir a escravidão, teve acesso a 
uma boa educação, mas não chegou a concluir o ensino superior devido à loucura queafligiu o seu pai. Passou, então, a trabalhar como amanuense no Ministério da Guerra e 
como jornalista. 
 
Em 1911 começou a publicação, em formato de folhetim no Jornal do Comércio do Rio 
de Janeiro, de sua mais importante obra, Triste Fim de Policarpo Quaresma, que anos 
mais tarde (1915) foi editado como romance, vindo a ser considerado, apenas após a 
morte do autor, como fundamental do período pré-modernista. 
 
Entre os leitores, suas obras alcançaram algum êxito, entretanto sofreu duras críticas de 
outros escritores da época, que o acusavam de fugir, conscientemente, do padrão formal 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Modernismo_no_Brasil
41 
 
de escrever que à época vigorava. Chamavam-no "relaxado" por utilizar uma linguagem 
mais coloquial, muito própria de quem militava na imprensa. Daí suas frustradas 
tentativas de ingressar na Academia Brasileira de Letras. 
 
Passou, assim, a militar na imprensa socialista. Sua vida foi atribulada pelo alcoolismo e 
por internações psiquiátricas, ocorridas durante suas crises severas de depressão - à 
época era um dos sintomas pertencentes ao diagnóstico de "neurastenia", constante de 
sua ficha médica - vindo a falecer aos 41 anos de idade. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Triste Fim de Policarpo Quaresma 
Apresentando narrador onisciente em terceira pessoa, que recorre frequentemente às 
digressões e ao discurso indireto livre, o enredo, divertido no início, se desdobra no 
sofrimento patético do incompreendido major Quaresma, uma espécie de Dom Quixote 
nacional, um visionário, na medida em que, como Quixote de Cervantes, que ainda 
acreditava nos ideais da decadente cavalaria, Policarpo é um idealista em relação ao 
Brasil das oligarquias e dos burocratas interessados apenas na exploração da Pátria. 
 
Vale lembrar que digressões são comentários em meio à narrativa e que o discurso 
indireto livre consiste na transposição da fala da personagem para o narrador, ou seja, 
este fala por aquela, sem verbos de elocução (disse, perguntou, respondeu, etc.) 
 
O romance é estruturado em três partes, revelando os três projetos empreendidos por 
Quaresma: os projetos cultural, econômico e político, findando com o triste fim do 
protagonista, que, no final, se conscientiza do quanto fora ingênuo em relação à Pátria. 
 
Primeira parte – Retrata o projeto cultural de Quaresma em valorizar as coisas do Brasil: 
a música, o folclore, os hábitos brasileiros. Chega a estudar violão – instrumento de má 
42 
 
fama na época, pois era associado a malandros – com Ricardo Coração dos Outros, já 
que descobre que a modinha, estilo tipicamente brasileiro, era tocada com esse 
instrumento. Esta personagem foi inspirada num amigo íntimo do autor, o músico Catulo 
da Paixão Cearense, compositor de Luar do Sertão. 
 
O clímax da falta de senso de ridículo do protagonista foi ter mandado à Câmara um 
requerimento, pedindo o tupi-guarani como língua oficial do Brasil. Como resultado, vira 
motivo de chacota até na Imprensa. Veja a abertura da petição de Quaresma ao 
congresso nacional, o que lhe custou a internação num hospício: 
 
"Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a 
língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, 
o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na 
humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos 
proprietários da língua; sabendo, além, que, dentro do nosso país, os autores 
e os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante 
à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre 
os mais profundos estudiosos do nosso idioma - usando do direito que lhe 
confere a constituição, vem pedir que o congresso nacional decrete o tupi-
guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro.” 
 
Na segunda parte, após receber alta do hospício, Quaresma compra o Sossego, um sítio 
no interior do Rio de Janeiro; está decidido a trabalhar na terra. Com sua irmã Adelaide 
e o preto Anastácio, muda-se para o campo e dá início ao seu projeto econômico: provar 
que o solo brasileiro é o mais fértil do mundo. Recebe a visita de Ricardo Coração dos 
Outros e da afilhada Olga, que não vê todo o progresso no campo, alardeado pelo 
padrinho. Ela nota, sim, muita pobreza e desânimo naquela gente simples. 
 
Depois de algum tempo, o projeto agrícola de Quaresma cai por terra, derrotado por 
três inimigos terríveis. Primeiro, o clientelismo hipócrita dos políticos. Como Policarpo 
não quis compactuar com uma fraude da política local, passa a ser multado 
indevidamente. O segundo foi a deficiente estrutura agrária brasileira que lhe impede 
de vender uma boa safra, sem tomar prejuízo. O terceiro, foi a voracidade dos imbatíveis 
43 
 
exércitos de saúvas, que, ferozmente, devoravam sua lavoura e reservas de milho e 
feijão. Desanimado, estende sua dor à pobre população rural, lamentando o abandono 
de terras improdutivas e a falta de solidariedade do governo, protetor dos grandes 
latifundiários do café. Para ele, era necessária uma nova administração. 
 
Na terceira parte, Quaresma empreende seu projeto político A Revolta da Armada - 
insurreição dos marinheiros da esquadra contra o pacto entre Floriano e as elites civis - 
faz com que Quaresma abandone o campo e, como bom patriota, siga para o Rio de 
Janeiro. Alistando-se na frente de combate em defesa do Marechal Floriano, seu ídolo, 
torna-se comandante de um destacamento. 
 
Durante a visita de Floriano Peixoto (1839 -1895) ao quartel, que já o conhecia do 
arsenal, Policarpo fica sabendo que o marechal havia lido seu "projeto agrícola" para a 
nação. Diante do entusiasmo e observações oníricas do comandante, o Presidente 
simplesmente responde: "Você Quaresma é um visionário". 
 
O protagonista é ferido em combate e passa ao cargo de carcereiro da Ilha das Enxadas, 
prisão dos marinheiros insurgentes. 
 
Numa madrugada é visitado por um emissário do governo que, aleatoriamente, escolhe 
doze prisioneiros que são levados pela escolta para fuzilamento. Indignado, escreve a 
Floriano, denunciando esse tipo de atrocidade cometida pelo governo. Acaba sendo 
preso como traidor e conduzido à Ilha das Cobras. Apesar de tanto empenho e 
fidelidade, Quaresma é condenado à morte. Preocupado com sua situação, Ricardo 
busca auxílio nas repartições e com amigos do próprio Quaresma, que nada fazem, pois 
temem por seus empregos. Mesmo contrariando a vontade e ambição do marido, sua 
afilhada, Olga, tenta ajudá-lo, buscando o apoio de Floriano, mas nada consegue. A 
morte será o triste fim de Policarpo Quaresma, que enfim toma consciência de sua 
44 
 
ingenuidade. Observe esta tomada de consciência, no fragmento abaixo, por meio do 
narrador onisciente em 3ª pessoa, que recorre ao discurso indireto livre. 
 
 
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice 
de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que 
fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do 
Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-
se das suas coisas de tupi, do folk-lore, das suas tentativas agrícolas... Restava 
disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma! 
 
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à 
loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e 
ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu 
patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a 
doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a 
via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma 
decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções. 
 
A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio 
do seugabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectual,nem a política 
que julgava existir, havia. A que existia de fato, era a do Tenente Antonino, a 
do doutor Campos, a do homem do Itamarati.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
UNIDADE 06 – GRAÇA ARANHA; “CANAÔ E A CONCLUSÃO DO PRÉ MODERNISMO. 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Verificar a Obra de Graça Aranha “Canaã” e analisar a conclusão do pré-
modernismo. 
 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Graça Aranha (1868-1931) nasceu em São Luís, Maranhão, no dia 21 
de junho de 1868. Filho de família abastada e culta o que favoreceu 
e seu desenvolvimento cultural. Estudou na Faculdade de Direito do 
Recife, na época agitada das ideias de Tobias Barreto. Formou-se em 
1886 e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde seguiria a carreira de 
juiz. No mesmo ano da Proclamação da República, 1889, já era magistrado em Campos, 
estado do Rio. Em 1890, foi nomeado juiz municipal em Porto Cachoeiro, Espirito Santo. 
 
A permanência no interior lhe permite recolher material para seu romance "Canaã", 
publicado em 1902. 
 
Em 1897, antes da publicação do romance "Canaã", foi precocemente eleito membro da 
Academia Brasileira de Letras, no ano de sua fundação. Ocupou a cadeira nº 38, cujo 
patrono foi Tobias Barreto. Em 1914, após uma conferência sobre "O Espírito Moderno", 
desliga-se da Academia. 
 
Entre 1900 e 1920, como diplomata do Itamarati, desempenhou várias missões 
diplomáticas na Inglaterra, Itália, Suíça, Noruega, Dinamarca França e Holanda. Em 1920 
regressou ao Brasil, convencido de que a literatura brasileira precisava mudar. Passa a 
integrar o movimento que revolucionou o país, a Semana de Arte Moderna. No dia 13 
de fevereiro de 1922, proferiu o discurso inaugural do movimento, "O Espírito Moderno". 
46 
 
De personalidade combativa, aderiu em 1930, à Revolução de Outubro, que colocou 
Getúlio Vargas no poder. 
 
José Pereira de Graça Aranha morreu no Rio de Janeiro, no dia 26 de janeiro de 1931. 
 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Tendo sido lançado no mesmo ano de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha (1902), 
poderíamos dizer que “Canaã” é o primeiro romance ideológico brasileiro em que se 
discute o destino histórico do Brasil. Ao mesmo tempo, “Canaã” representou uma ponte 
entre as correntes filosóficas e estéticas do final do século XIX (Realismo, Naturalismo, 
Simbolismo) e a revolução modernista da segunda década do século XX. 
 
O polo central de “Canaã” são os debates entre dois colonos alemães que se 
estabelecem no Espírito Santo: Milkau e Lentz. 
 
O romance retrata a vida em uma colônia de imigrantes europeus, no Espírito Santo. 
Tudo gira em torno de dois personagens imigrantes alemães, com diferentes visões de 
mundo. Enquanto Milkau acredita na humanidade e pensa encontrar a "terra prometida" 
(Canaã) no Brasil, Lentz tem dificuldade de se adaptar à realidade brasileira, voltada para 
a superioridade germânica e para a lei do mais forte. 
 
“A lei do amor” x “A lei da força” 
Podemos ver que Milkau e Lentz representam duas ideologias postas em debate. E o 
contraste entre o universalismo (Milkau) e o racismo (Lentz), entre a “lei do amor” (Milkau) 
e a “lei da força” (Lentz). Justamente neste ponto, “Canaã” adquire maior importância 
para a Literatura Brasileira, pois o romance de confrontação ideológica era inédito entre 
nós, e antecipou a tomada de consciência dos modernistas. 
47 
 
Na verdade, Graça Aranha, com “Canaã”, apresenta tópicos que serão desenvolvidos 
mais tarde em “A Estética da Vida”, de 1921. O brasileiro terá de vencer o Terror Cósmico, 
superar o lírico individual e atingir a poesia do cosmos unitário, numa identificação de 
consciência e universo. 
 
Graça Aranha toca, portanto, no ponto vital das discussões do início do século XX: a 
campanha por uma estética nacional assimilada na consciência universal, Este era o 
debate do dia-a-dia: a nacionalidade brasileira vista e analisada profundamente, 
opondo-se ao ufanismo e ao patriotismo superficial. 
 
Assim, “Canaã” revela-se uma obra sincrética. Do Realismo encontramos traços na 
fixação da paisagem humana da colônia, em prosa quase documental, com a 
simplicidade da vida laboriosa dos imigrantes ou as doenças da burocracia judiciária. Do 
Simbolismo encontramos a preocupação metafísica, a alegoria retórica, a associação das 
sensações do momento que faz com que o naturismo ultrapasse a simples observação 
da realidade. Note-se ainda a presença de mitos folclóricos indígenas e europeus, que 
ajudam no’ desenvolvimento da ideia de Milkau e na exaltação do Brasil. 
 
Conclusão – Identidades e Fronteiras no Pré-Modernismo 
O psicólogo social Dante Moreira Leite em seu livro O caráter nacional brasileiro: história 
de uma ideologia, demonstrou que as definições múltiplas e desencontradas da 
identidade nacional brasileira sempre estiveram de alguma forma comprometidas com 
as visões dos grupos dominantes a respeito da realidade social do país. As atitudes 
intelectuais oscilam, por exemplo, entre o nacionalismo idealizante dos escritores 
românticos e o pessimismo dos realistas, inclusive dos pré-modernistas. 
 
Já o crítico Antônio Cândido, em sua “dialética do localismo e do cosmopolitismo”, afirma 
que: 
48 
 
Se fosse possível estabelecer uma lei de evolução da nossa vida espiritual, 
poderíamos talvez dizer que toda ela se rege pela dialética do localismo e do 
cosmopolitismo. Pode se chamar dialético a este aspecto porque ele tem 
realmente consistido numa integração progressiva de experiência literária e 
espiritual, por meio da tensão entre o dado local (que se apresenta como 
substância de expressão) e os moldes da tradição europeia (que se apresenta 
como forma de expressão). 
 
 
Cândido lança a dialética ou contradição da nossa nacionalidade; afinal a fronteira que 
necessita de uma identidade é o Brasil, que, na substância ou conteúdo é o local, porém 
a forma é cosmopolita, está além de nossas fronteiras, é a Europa como modelo de 
civilização. 
 
No período pré-modernista, os autores oscilarão entre o espírito romântico e o realista, 
entre a busca da identidade local, mas sustentada em teorias europeias. 
 
Em Canaã, Graça Aranha demonstra uma visão utópica romântica, na fuga alucinante 
do alemão Milkau e a mestiça Maria para uma Terra Prometida, onde não houvesse 
racismo. Trata-se de uma alegoria de fuga de teses europeias assimiladas pelas nossas 
elites, como o Positivismo e o Determinismo. Nesta obra, a identidade nacional não se 
concretiza, é apenas utópica, pois, se as personagens têm de empreender uma fuga, é 
porque se dá o predomínio da violência imposta pela lei da força defendida por Lentz, 
pelas elites e pelas teses europeias. 
 
Para finalizar, podemos afirmar que o “Pré-Modernismo” termo dado por Alceu 
Amoroso para designar um conjunto de autores em que se observa um sincretismo de 
tendências conservadoras (Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo), com 
tendências renovadoras, que anteciparam a Modernidade. 
49 
 
 
A Boba – Obra de Anita Malfatti 
 
Por apresentarem uma obra significativa para uma nova interpretação de realidade 
brasileira, bem como pelo valor estilístico, limitaremos o Pré-Modernismo ao estudo de 
Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos. 
Assim, abordaremos o período que se inicia em 1902 com a publicação de dois 
importantes livros – “Os Sertões”, de Euclides da Cunha e “Canaã”, de Graça Aranha – e 
se estende até o ano de 1922, com a realização da ”Semana da Arte Moderna”. 
 
O Pré-modernismo surgiu como uma atitude de denuncia, de documentação e de crítica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
50 
 
UNIDADE 07 - A SEMANA DE ARTE MODERNA 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo: Esta unidade tem como objetivo estudar a Semana de Arte Moderna como um 
momento polêmico de ruptura com a mentalidade conservadora

Continue navegando