Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Capítulo 11 Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências 11.1 - Introdução Inúmeros trabalhos científicos estão direcionados ao estudo dos fluidos de corte nos processos de usinagem. Neste capítulo é feita uma revisão desse assunto e apresentada de forma sintetizada para melhor entendimento. 11.2 - Funções dos Fluidos e Aditivos Utilizados As principais funções dos fluidos de corte são de refrigerar em altas velocidades e de lubrificar em baixas velocidades de corte. Apresentam, ainda outras funções classificadas como auxiliares. Como Agem os Fluidos de Corte Ainda não está completamente claro como o fluido de corte ganha acesso a interface, nem até que ponto ele pode chegar. Rebinder e Shreiner (1949) apud Smith et alli (1988) apresentaram uma teoria que defende a ação físico-química entre o fluido, a ferramenta e a peça. Merchant (1950 e 1957) e Postinikov (1967) sugerem que o lubrificante penetra contra o fluxo de metal, chegando à ponta da ferramenta por ação capilar, assumindo que o contato com a interface não é completo, ou seja, há falhas de contato. Isto caracteriza a ocorrência das condições de escorregamento e que há a formação de um filme lubrificante de baixa tensão de cisalhamento, na interface cavaco-ferramenta. Williams e Tabor (1977), por meio de experimentos onde usou oxigênio e argônio puros e suas misturas com CCl4 como lubrificantes na usinagem do aço, verificaram que a penetração do fluido depende da pressão de vapor e do tamanho molecular. Eles ainda propuseram um modelo para estimar as dimensões das capilaridades interfaciais, que seriam de alguns milhares de Angstrons (Å). Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 176 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Trent (1967, 1988 “a”, “b”, “c” e 1991) em seus estudos sobre a interface cavaco- ferramenta, mostra evidências, por meio de técnicas de interrupção repentina do corte seguida de análises metalográficas da raiz do cavaco, da existência de uma zona de aderência e que o lubrificante não tem acesso a esta zona. Childs e Rowe (1973) também sustentam esta teoria e comentam que atenção deve ser voltada, então, para a zona de escorregamento. Em velocidades de corte mais elevadas, os fluidos de corte passam a atuar mais como refrigerantes e menos como lubrificantes, Trent (1991) diz que, nestas condições, o fluido atua na zona de escorregamento, alterando o gradiente térmico na ferramenta e reduzindo o volume da mesma afetado pelo superaquecimento. Williams (1977) explica que o fluido perde o efeito lubrificante a altas velocidades de corte, quando o fluxo de fluido que tende a fluir em direção à ponta da ferramenta por ação capilar, é direcionado para fora da interface por uma ação hidrodinâmica induzida. Este efeito seria mais pronunciado com o aumento da velocidade de saída do cavaco. Assim o fluido utilizado em altas velocidades de corte teria apenas características refrigerantes, recomendando-se um óleo à base de água. De Chiffre (1977) apresentou modelos que fornecem descrições analíticas para diferentes relações envolvidas na utilização de fluidos de corte nos processos de usinagem. Segundo ele, há uma redução no comprimento de contato, implicando em: 1) - Redução do grau de recalque, isto é, um cavaco mais fino é obtido; 2) - O grau de deformação do cavaco é reduzido; 3) - A velocidade de saída do cavaco é aumentada; 4) - Forças e potências de corte são reduzidas; 5) - Vibrações são reduzidas; 6) - A formação da aresta postiça de corte é reduzida (também reportado por Trent,1991); 7) - Redução na geração de calor, com conseqüente redução da temperatura na interface. Este pesquisador reforça esta teoria em outros trabalhos (De Chiffre 1978, 1981, 1984 e 1988). Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 177 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Vários mecanismos de desgaste tais como adesivo, abrasivo e difusivo estão operando simultaneamente sobre a ferramenta e a intensidade de cada um não depende exclusivamente das propriedades dos materiais da peça e da ferramenta, mas também de fatores tais como temperatura e tensão normal, que são dependentes das condições de corte (Kurimoto e Barrow, 1981). Os fluidos de corte podem agir em tais fatores e influenciar estes mecanismos, seja reduzindo a taxa de desgaste, daqueles termicamente ativados, quando o fluido age como refrigerante, ou agindo como lubrificante, prevenindo os mecanismos de desgaste por adesão ou "attrition". Por outro lado, Trent (1991) apresenta algumas situações onde o fluido pode aumentar a taxa de desgaste, quando acessa a regiões desgastadas e promove uma aceleração do mecanismo de desgaste corrosivo, que se sobrepõe aos demais mecanismos. Motta (1994), utilizando fluidos emulsionáveis, semi-sintéticos, sintéticos e integrais, em aço NB 8640, no processo de torneamento com ferramentas de metal duro triplo revestidas, mostrou que a utilização de fluidos melhorou em todos os casos a vida da ferramenta. Já no processo de fresamento, Vieira (1997), também usinando o aço NB 8640, com fluidos emulsionáveis, semi-sintéticos, sintéticos e integrais e ferramentas de metal duro, encontrou que a utilização de fluidos piora a vida da ferramenta e, para este processo, nas condições utilizadas, o fluido não é recomendado. Recentemente, Dewes et alli (1998), também no fresamento do aço para matrizes AISI H13, com fresas de metal duro revestidas com TiCN, usinando nas seguintes condições: a seco; com uma mistura pulverizada; com o método convencional de baixa pressão e à alta pressão, encontraram que a condição a seco apresentou maior vida, enquanto que a alta pressão a menor. Com isto, concluíram que a vida da fresa é governada predominantemente pela flutuação térmica e não pela máxima temperatura de operação, o que concorda com os resultados apresentados por Vieira (1997). Maekawa et alli (1998) fizeram um estudo, no processo de torneamento, questionando a eficiência dos fluidos de corte. Eles concluíram que os fluidos à base de água podem ser substituídos pela condição a seco, em vc = 350 m/min, f = 0,25 mm e ap = 0,5 mm, sem nenhuma perda nas características da peça. Concluíram Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 178 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências também que a usinagem sem fluido reduz levemente a vida das ferramentas, e o aumento do custo de produção é relativamente pequeno. Recentemente Da Silva et alli (1998) mostraram evidências que na ausência de fluidos, há o contato perfeito na interface, mesmo sob baixos níveis de tensão. Na presença do fluido de corte (ar, água, óleo, etc.) ele irá preferencialmente atuar na periferia da zona de aderência, evitando o contato cavaco-ferramenta nesta zona, denominada de zona de escorregamento (Trent, 1991). Isto resulta na redução da oscilação do comprimento de contato cavaco-ferramenta e das forças de usinagem. Ele mostrou também, usinando no vácuo, que o ar atmosférico apresenta igual ou superior performance na redução destas oscilações que o fluido de corte. Já em altas velocidades de corte, a elevada temperatura gerada na interface pode promover a formação de gases oriundos do fluido e gerando uma barreira e comprometendo ainda mais o seu acesso. Exatamente neste ponto entra todas as justificativas e defesas da utilização de vazões de fluidos cada vez mais reduzidas e direcionadas exatamente onde o fluido pode acessar, que é na zona de escorregamento (Machado e Wallbank, 1997 "a" e "b", Da Silva e Wallbank, 1998 e Da Silva, 1998). Quanto à capacidade do fluido de corte em limpar os cavacos dazona de corte, depende da viscosidade e vazão do mesmo, além é claro da operação de usinagem e do tipo de cavaco sendo formado (Machado e Da Silva, 1993). Em processos como a furação e o serramento, a ação mecânica do fluido é de suma importância, pois ele atuando como meio transportador pode evitar a obstrução do cavaco na zona de corte e, consequentemente, a quebra da ferramenta. Os fluidos de corte, além de refrigerar e de lubrificar, devem ainda possuir outras propriedades que produzirão, em níveis operacionais, melhores resultados. Estas propriedades podem ser enumeradas, como segue: Anti-espumantes, anticorrosivas e antioxidantes; antidesgaste e antisolda (EP); boa umectação; capacidade de absorção de calor; transparência, inodor, não formar névoa, nem provocar irritações na pele; compatibilidade com o meio ambiente; baixa variação da viscosidade quando em trabalho (índice de viscosidade compatível com a sua aplicação). Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 179 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Para conferir aos fluidos de corte estas propriedades ou para reforçá-las, alguns produtos químicos, chamados de aditivos, são utilizados: • Antiespumantes - Evitam a formação de espumas que podem impedir uma boa visão da região de corte e comprometer o efeito de refrigeração do fluido. Estes aditivos reduzem a tensão interfacial do óleo de tal maneira que bolhas menores passam a se agrupar formando bolhas maiores e instáveis. No controle das espumas geralmente usa-se cêras especiais ou óleos de silicone. • Anticorrosivos - Protegem peça, ferramenta e máquina-ferramenta da corrosão. São produtos à base de nitrito de sódio ou que com ele reagem, óleos sulfurados ou sulfonados. É recomendável usar o nitrito de sódio com precaução, pois são suspeitos de serem cancerígenos. Deve-se usar baixos teores de nitrito de sódio. • Detergentes - Reduzem a deposição de lodo, lamas e borras. São compostos organometálicos contendo magnésio, bário, e cálcio entre outros. • Emulgadores - São responsáveis pela formação de emulsões de óleo na água e vice-versa. Reduzem a tensão superficial e formam uma película monomolecular semi-estável na interface óleo-água. Os tipos principais são os sabões de ácidos graxos, as gorduras sulfatadas, sulfonatos de petróleo e emulgadores não-iônicos. • Biocidas - Substâncias ou misturas químicas que inibem o desenvolvimento de microorganismos. • Aditivos Extrema Pressão (EP) Em operações mais severas onde uma lubricidade adicional é necessária, pode-se utilizar de aditivos extrema pressão. Eles conferem aos fluidos de corte uma lubricidade melhorada para suportarem as elevadas temperaturas e pressões do Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 180 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências corte, reduzindo o contato metal-metal. São compostos que variam na estrutura e composição. São suficientemente reativos com a superfície usinada, formando compostos relativamente fracos na interface, geralmente sais (fosfeto de ferro, cloreto de ferro, sulfeto de ferro, etc.) que se fundem a altas temperaturas e são facilmente cisalháveis. Podem ser relacionados em ordem crescente de eficiência como: matérias graxas e derivados, fósforo e zinco, clorados, sulfurizados inativos, sulfurizados ativos, sulfurados e os sulfuclorados. Os mais empregados são aditivos sulfurizados, sulfurados e fosforosos. Lubrificantes Sólidos Os sólidos podem ser utilizados com objetivos de lubrificação de duas maneiras distintas (Ferraresi, 1977): a) Lubrificantes Sólidos - pó aplicado diretamente na superfície de saída da ferramenta, antes da operação de usinagem. Geralmente é utilizado como veículo uma graxa ou um óleo viscoso. As minúsculas partículas, de dissulfeto de molibdênio (MoS2) ou grafite, que apresentam tensões limites de cisalhamento baixas, se aderem às asperidades da superfície, reduzindo o atrito entre as superfícies metálicas; b) Aditivos Metalúrgicos - são elementos adicionados ao material da peça durante a sua fabricação. Normalmente são adicionados enxofre, bismuto, chumbo, manganês, telúrio ou selênio. Estes elementos combinados normalmente formam compostos de menores resistências ao cisalhamento que a própria matriz. Nos processos de fabricação destes materiais, como no caso dos aços, a desoxidação feita com o cálcio tem apresentado melhores resultados que quando feita com o silício, e influenciam nas características finais dos metais. São então produzidos os materiais chamados de livre corte, por apresentarem melhor usinabilidade que o mesmo, sem a adição destes elementos, podendo ser usinados a velocidades de corte maiores e proporcionando maiores vida das ferramentas de corte (Pizzi et alli, 1997). Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 181 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências 11.3 - Benefícios Proporcionados pelos Fluidos de Corte Modernamente tem-se obtido grandes avanços quanto à qualidade dos fluidos de corte, e estes avanços tem sido conseguido devido à alta competitividade dos fornecedores e a pressão exercida por agências de proteção ambiental e de saúde. As principais funções do fluido de corte são: • Lubrificar a baixas velocidades de corte; • Refrigerar a altas velocidades de corte. Como funções secundárias, tem-se: A - Melhoria no acabamento superficial da peça usinada; B - Ajudar a retirar o cavaco da zona de corte; C - Proteger a máquina-ferramenta e peça da corrosão atmosférica; D - Evitar o aquecimento excessivo da peça; E - Contribuir na quebra do cavaco; F - Refrigerar a máquina-ferramenta. A - O acabamento superficial dos componentes usinados está relacionado com a força de usinagem que depende dentre outros fatores, da qualidade da lubrificação usada. Pequenas partículas da aresta postiça de corte é outro fator que deteriora imensamente o acabamento superficial da peça usinada. O uso de fluidos lubrificantes torna-se benéfico a baixas velocidades de corte, tendendo a eliminar a APC, resultando em melhoria do acabamento superficial (Trent, 1991). Em elevadas velocidades de corte, o fluido atua mais como refrigerante, abaixando a temperatura média nas zonas de cisalhamento, principalmente na primária, já que praticamente não tem acesso à secundária. Com isto o efeito de amolecimento do material, devido ao aumento da temperatura fica reduzido, o que faz com que as Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 182 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências forças de corte se elevem, e que poderá promover piora na rugosidade da superfície da peça. B - O cavaco formado deve ser retirado da região de corte, pois o mesmo pode eventualmente riscar ou comprometer o acabamento superficial do material usinado ou promover avarias nas pastilhas de corte. Em processos como furação e brochamento, por exemplo, o fluido tem grande importância na condução e na retirada do cavaco da região de corte. C - São adicionados aditivos anti-oxidantes e anti-corrosivos aos fluidos com objetivos de proteger as partes metálicas da máquina-ferramenta e a superfície da peça, contra oxidações e corrosões. Estes aditivos permanecem atuantes mesmo cessadas as operações de corte. D - O calor é naturalmente gerado em decorrência do processo de corte dos materiais. O aumento da temperatura na peça promove a sua dilatação. Em materiais com grandes coeficientes de expansão térmica, os problemas de controle dimensional são maiores. Em operações onde a alimentação e a retirada da peça é feita de forma manual, deve haver a precaução quanto a queimaduras na pessoa responsável pela execução destaetapa. O uso do refrigerante controla a elevação excessiva da temperatura reduzindo os efeitos de superaquecimento da peça fabricada. E - Utilizando-se de quebra-cavacos hidráulicos, injetando fluido sob alta pressão, Machado (1990) mostrou uma melhora na quebra do cavaco, usinando ligas de titânio e de níquel. O fluido de corte atua na interface diminuindo a área de contato cavaco-ferramenta, provocando uma maior curvatura (Childs, 1972). Com isto há diminuição do raio de curvatura natural do cavaco, rc, promovendo uma elevação do nível de tensões, podendo levar o material até a valores de deformações críticas de ruptura, facilitando a quebra, e atuando como um parâmetro ativador do controle do cavaco (Sales, 1995 e Sales et alli, 1997). Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 183 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Paulino et alli (1997), quando usinando aço NB 5140, utilizando-se de ferramentas de metal duro, triplo revestidas, com superfície de saída lisa, verificaram uma melhora na quebra do cavaco, quando adicionando fluido de corte emulsionável, concentração de 3%. Trent (1991) afirma que em baixas velocidades de corte não é necessário que o fluido de corte apresente propriedades refrigerantes mas sim lubrificantes. Com a predominância da lubrificação há redução do atrito, reduzindo a região de aderência, e consequentemente prevalecendo a de escorregamento. Com isto evita-se a formação da aresta postiça de corte (APC), que é prejudicial ao acabamento da superfície da peça. A Figura 11.1 mostra esquematicamente a influência do fluido atuando como lubrificante, na formação da APC. (a) (b) (a) - APC, usinando a seco; (b) - APC, usinando com óleo lubrificante emulsionável. Figura 11.1 - Interface cavaco-ferramenta, na presença de APC É sabido que a eficiência do fluido em reduzir a temperatura da ferramenta diminui com aumento da velocidade de corte e da profundidade de corte (Williams, 1977). Smart e Trent (1974), por meio do método metalográfico aplicado a ferramentas de aço rápido, usinando níquel e aço com fluido emulsionável 3%, obtiveram as isotermas e como resultados encontraram que a atuação do fluido como refrigerante reduz levemente a máxima temperatura na interface, mas faz que haja um grande aumento no gradiente de temperatura entre as regiões interna da ferramenta e imediatamente vizinha do lado de fora, que sofreu resfriamento. Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 184 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências 11.4 - Classificação dos Fluidos de Corte Existem diversas formas de se classificar os fluidos de corte e não há uma pradronização que estabeleça uma única classificação entre as empresas fabricantes. Uma primeira classificação agrupa os fluidos da seguinte forma: - Ar; - Aquosos: a) - água; b) - soluções químicas; c) - emulsões. - Óleos: a) - óleos minerais; b) - óleos graxos; c) - óleos compostos; d) - óleos de extrema pressão; e) - óleos de usos múltiplos Uma segunda classificação traz os fluidos divididos em dois grupos: I - Fluidos formados apenas por óleo integral Ii - Fluidos formados a partir da adição de óleo concentrado à água. Ii.1. Emulsões Ii.2. Soluções Os dois grupos podem ser melhor explicados como segue: Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 185 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Óleos Integrais Óleos vegetais e animais foram os primeiros lubrificantes empregados como óleos integrais na usinagem dos metais. A utilização destes como fluidos de corte tornou- se inviável, devido ao alto custo e rápida deterioração. Porém, são empregados como aditivos nos fluidos minerais, objetivando melhorar as propriedades lubrificantes destes. Óleos integrais são, basicamente, óleos minerais puros ou com aditivos, normalmente de alta pressão. O emprego destes óleos nos últimos anos como fluido de corte tem perdido espaço para os óleos solúveis em água, devido ao alto custo em relação aos demais, aos riscos de fogo, ineficiência a altas velocidades de corte, baixo poder refrigerante e formação de fumos, além de oferecerem riscos à saúde do operador. Os aditivos podem ser a base de cloro ou enxofre ou mistura destes dois, dando características de extrema pressão (EP) ao fluido. Fósforos e matérias graxas são também utilizadas e atuam como elementos antidesgaste. Os óleos minerais são hidrocarbonetos obtidos a partir do refinamento do petróleo cru. Suas propriedades dependem do comprimento da cadeia, estrutura e grau de refinamento. Óleos minerais básicos empregados na fabricação de fluidos de corte podem ser (Shell, 1991): Base parafínica: Derivam do refinamento do petróleo cru parafínico de alto teor de parafinas (ceras), que resultam em excelentes fluidos lubrificantes. Estes óleos são encontrados em maior abundância e, portanto, apresentam um custo menor, possuem alto índice de viscosidade (IV), maior resistência à oxidação, são menos prejudiciais à pele e ainda menos agressivos à borracha e plástico. Base naftênica: Derivam do refinamento do petróleo cru naftênico. O uso destes óleos como básicos para fluido de corte, tem diminuído em função de problemas causados à saúde humana. Os fluidos lubrificantes são de baixa qualidade e são escassos. Óleos minerais de base aromática: Não são empregados na fabricação de fluidos de corte. São excessivamente oxidantes, porém podem melhorar a resistência ao Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 186 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências desgaste e apresentar boas propriedades EP, quando presentes em grandes quantidades, em óleos parafínicos. Emulsões São compostos de duas fases, uma fase contínua consistindo de pequenas partículas de óleo mineral (derivado do petróleo) ou sintéticos suspensos na água (segunda fase). As emulsões de óleo de petróleo geralmente têm capacidades lubrificantes maiores, porém, capacidade refrigerante inferior. Em geral, as emulsões apresentam propriedades lubrificantes e refrigerantes moderadas. Fluidos Emulsionáveis Convencionais São compostos de óleos minerais adicionados à água nas proporções de 1:10 a 1:100, mais agentes emulgadores que garantem a miscibilidade destes com a água. Esses emulgadores são tensoativos polares que reduzem a tensão superficial formando uma película monomolecular relativamente estável na interface óleo-água. Assim os emulgadores promovem a formação de glóbulos de óleo menores, o que resulta em emulsões translúcidas. A estabilidade destas emulsões se deve ao desenvolvimento de uma camada elétrica na interface óleo-água. Forças repulsivas entre glóbulos de mesma carga evitam a coalescência destes. Para evitar os efeitos nocivos da água presente na emulsão empregam-se aditivos anticorrosivos tais como nitrito de sódio, que ainda é utilizado na fabricação de óleos de corte emulsionáveis. São usados ainda biocidas, que inibem o crescimento de bactérias e fungos, porém devem ser compatíveis com a pele humana e não serem tóxicos. Os elementos EP e antidesgaste usados que aumentam as propriedades de lubrificação, são os mesmos empregados para óleos puros. No entanto, o uso de cloro como aditivo para fluidos de corte vem encontrando restrições em todo o mundo, devido aos danos que este causa ao meio ambiente e à saúde humana. Por esta razão procura-se substituir o cloro por aditivos à base de enxofre e cálcio. Usa-se ainda gordura e óleos (animal e vegetal) para melhorar as propriedades de lubrificação. Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 187 Fluidos Semi-Sintéticos (Microemulsões)Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Os fluidos semi-sintéticos são também formadores de emulsões. Eles se caracterizam por apresentarem de 5% a 50% de óleo mineral no fluido concentrado e aditivos e compostos químicos que verdadeiramente dissolvem-se na água formando moléculas individuais. A presença de uma grande quantidade de emulsificadores propicia ao fluido uma coloração menos leitosa e mais transparente. A menor quantidade de óleo mineral e a presença de biocidas aumentam a vida do fluido de corte e reduzem os riscos à saúde. Aditivos EP, anticorrosivos, agentes umectantes, são utilizados como nos fluidos anteriores. Adicionam-se também corantes que proporcionam uma cor mais viva e aceitável pelo operador da máquina. Soluções Consistem de um fluido base (óleo de petróleo, solvente de petróleo, fluido sintético ou água), que pode ser formulado com vários aditivos que são solúveis neste fluido base. Estas soluções são os óleos minerais, os fluidos lubrificantes sintéticos e soluções químicas a base de água (chamadas de sintéticos na indústria). Pertencendo à classe das soluções, encontram-se os fluidos sintéticos, que se caracterizam por serem livres de óleo mineral em suas composições. Fluidos Sintéticos Esses óleos caracterizam-se por não conterem óleo mineral em sua composição. Baseiam-se em substâncias químicas que formam uma solução com a água. Consistem de sais orgânicos e inorgânicos, aditivos de lubricidade, biocidas e inibidores de corrosão entre outros, adicionados à água. Apresentam uma vida maior uma vez que são menos atacáveis por bactérias e reduzem o número de trocas da máquina. Formam soluções transparentes, resultando em boa visibilidade do processo de corte. Possuem agentes umectantes que melhoram bastante as propriedades refrigerantes da solução. As soluções são estáveis mesmo em água dura. Os óleos sintéticos mais comuns oferecem boa proteção anticorrosiva e refrigeração. Os mais complexos são de uso geral, com boas propriedades lubrificantes e refrigerantes. Faz-se uma distinção quando os fluidos sintéticos contêm apenas Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 188 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências inibidores de corrosão, e as propriedades de EP não são necessárias. São chamados de refrigerantes químicos ou soluções verdadeiras, apresentam boas propriedades refrigerantes. 11.5 - Método de Aplicação dos Fluidos de Corte O fluido de corte pode ser aplicado sob diversas direções e/ou vazões, posicionado na interface cavaco-ferramenta ou na peça. Enfim, são inúmeras as combinações possíveis para a sua aplicação, mas atualmente os métodos mais utilizados são: Jorro do Fluido a Baixa Pressão, ou por Gravidade Este sistema é o mais usado devido à sua simplicidade. O fluido é jorrado sobre- cabeça contra a superfície do cavaco, ou ainda na superfície de saída da ferramenta. Neste caso o fluido vai de encontro à superfície fraturada do cavaco, sendo arrastado para fora da interface cavaco-ferramenta. Este método dispensa dispositivos especiais. A Figura 11.2 ilustra este sistema, onde as setas A, B e C mostram a direção de aplicação do fluido. Plano de cisalhamento primário peça cavaco ferramenta A B C Figura 11.2 - Direções de aplicação do fluido (Machado, 1990). Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 189 Vazão Extremamente Baixa de Fluido (MQF – Mínima Quantidade de Fluido) Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Recentemente, fatores como custo, efeitos sobre o meio ambiente e à saúde do operador são relevantes quando da seleção do lubrificante e do sistema de aplicação, dentro do contexto moderno dos processos de usinagem. A área de contato cavaco-ferramenta é muito pequena e sugere-se que a vazão de fluido necessária para promover a ação lubrificante seja pequena. Machado e Wallbank (1997 “a” e “b”) fizeram estudos e cálculos teóricos da vazão necessária de fluido e chegaram a 0,1 ml/h. Em seus trabalhos experimentais, utilizaram baixas vazões de fluidos, entre 200 e 300 ml/h, usinando aço (080M40), no torneamento, enquanto em um sistema convencional a vazão está em torno de 5,2 l/min. Um venturi foi utilizado para fazer a mistura do fluido com o ar comprimido (~ 34 Psi, 2,4 kgf/cm2). O jato pulverizado é direcionado sobre a superfície de saída da ferramenta. Da Silva et alli (1998) e Da Silva e Wallbank (1998) continuaram nesta linha de pesquisa, fazendo testes com vazão de 108 ml/h e monitorando o efeito da lubrificação por meio do acabamento da superfície, das forças de usinagem e pela temperatura da peça. Os resultados experimentais encontrados foram bastante encorajadores. Eles acreditam que, para um futuro recente, a vazão de fluido utilizada tenderá cada vez mais a ser reduzida. A Figura 11.3 mostra esquematicamente o sistema de mistura do fluido com o ar comprimido. Este dispositivo foi instalado na posição "B" da Figura 11.2, entre o cavaco e a superfície de saída da ferramenta. fluido de corte ar mistura ar + fluido Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 190 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Figura 11.3 - Venturi utilizado para fazer a mistura ar- fluido (Machado e Wallbank, 1997 "a" e "b"). No processo de furação das ligas de Al-Si, a chamada lubrificação pseudo-seca ou por micro-jato está sendo utilizada. Por meio de um venturi, ar e óleo são misturados e, a ferramenta é pulverizada com um jato, direcionado à superfície de saída da broca. Neste caso elimina-se a aresta postiça de corte, devido a ação lubrificante do fluido e o cavaco permanece praticamente seco (Cselle, 1997). Santos (2002) realizou ensaios avaliando o desempenho de brocas de aço rápido, a seco e em mínima quantidade de fluido de corte (MQF) e encontrou bons resultados, conforme apresentado na Figura 11.4. 0 100 200 300 400 500 600 SR TiN TiCN WC/C MC V ID A ( N Ú M ER O D E FU R O S ) SECO MQF Figura 11.4 – Desempenho das brocas de aço-rápido no corte a seco com aplicação de mínima quantidade de fluido (Santos, 2002). Sistema a Alta Pressão Neste método o objetivo principal é melhorar a quebra do cavaco. Um jato de fluido, a alta pressão (48,1 kgf/cm2 à vazão de 15,1 l/min), é jogado em duas direções: na primeira, sobre o cavaco, na direção sobre-cabeça (A da Figura 11.2). Na outra, contra o cavaco na superfície de saída da ferramenta, conforme direção B da Figura 11.2. Machado (1990), utilizando este método no torneamento e aplicando o jato nas direções A e B, obteve bons resultados usinando ligas aero-espaciais, como de titânio e de níquel, que possuem difícil controle do cavaco pelos métodos Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 191 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências convencionais. Este método também foi utilizado no processo de fresamento por Kovacevic et alli (1995). Com o principal objetivo de incrementar a lubrificação na interface cavaco- ferramenta, foi desenvolvido um sistema em que o conjunto suporte e ferramenta de corte é vazado, permitindo o fluido passar pelo seu interior, chegando até a superfície de saída da ferramenta (Iscar, 1991). Com isto, o fluido chega à interface com alta pressão (variável entre 1,03 kgf/cm2, para uma vazão de 0,3 l/min, e 25,83 kgf/cm2, para uma vazão de 2,3 l/min), reduzindo o contato cavaco-ferramenta. A camada de fluido na interface reduz em muito a fonte geradora de calor, na zona de cisalhamento secundária, que está na zona de aderência. O calor então é principalmente gerado nas zonas de cisalhamento primária, no plano primário e entre a superfície defolga da ferramenta e a peça. Neste sistema a ferramenta de corte mantém seu interior e a superfície de saída constantemente sob resfriamento, mantendo-se fria. O cavaco é resfriado depois de ser deformado no plano primário, o que no caso do método de aplicação sobre-cabeça o resfriamento é simultâneo à deformação. Isto tende a reduzir a temperatura nesta região e aumentar a resistência ao cisalhamento do material da peça, aumentando as forças de usinagem. Este sistema foi aplicado com sucesso na usinagem dos aços SAE 4140, inoxidável SAE 316 e do Inconel 718 (Iscar, 1991). Na Figura 11.5 mostra-se, esquematicamente, a proposta deste método, chamado de “jet-cut”. Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 192 ferramenta fluido de corte cavaco peça rotação avanço porta ferramenta fluido Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Figura 11.5 - Princípio de operação do “jet-cut” (Iscar, 1991). 11.6 - Problemas Causados ao Meio Ambiente e à Saúde Humana Os fluidos de corte podem produzir alguns efeitos prejudiciais, como: • Contaminação do meio ambiente, como dos córregos, lagos e rios; • A procriação de fungos e bactérias; • A produção de vapores tóxicos, com fortes odores desagradáveis, inclusive podendo provocar doenças respiratórias; • Doenças de pele, entre elas pequenas alergias e dermatites; • Doenças pulmonares, como bronquite e asma; • Câncer de vários tipos como, de cólon, bexiga, pulmão, pâncreas, sinunasal, laringe, entre outros. • Riscos de combustão, e até de explosão. Em geral, os fluidos de corte, desde que corretamente usados, apresentam pouco ou nenhum risco ao operador. Deve-se fazer freqüentemente um controle adequado da quantidade de fungos e de bactérias e do pH. Entretanto, o contato freqüente e prolongado com óleos minerais, pode originar diversas formas de irritações de pele (dermatites) e em casos excepcionais até o câncer de pele entre outros (Samitz, 1974, Runge e Duarte, 1987, Törok et alli, 1991, Batzer e Sutherland, 1998). Os óleos de corte emulsionáveis normalmente são alcalinos, e com o tempo de contato, reduzem a gordura da pele, ressecando-a e causando erupções. Se não se fizer um tratamento apropriado, a pele poderá tornar-se dolorida e vermelha com erupções. Esta doença é chamada de dermatite, que se diferencia da alergia, já que esta última é bem menos comum e, geralmente, reaparecem com um novo contato com o alergênio, o que pode provocar a transferência do operador para outro serviço. A dermatite pode ser eficientemente controlada, quando os operadores são convencidos à prática de uma boa higiene pessoal, aplicando cremes protetores apropriados antes do início do serviço e após o trabalho (Barker, 1974). Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 193 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências 11.7 - Fluidos de Corte e Suas Relações com o Meio Ambiente Fluidos Biodegradáveis e Bioestáveis O conceito de biodegradabilidade não pode ser aplicado aos fluidos de corte solúveis (emulsões e soluções) da mesma maneira como é aplicada aos produtos de consumo doméstico. Estes são descartados quase que imediatamente após o uso: o detergente usado para lavar louças somente precisa estar estável por poucos minutos. O tempo de exposição para o ataque por microorganismos é muito pequeno para resultar em qualquer efeito negativo a ser notado pelo usuário desses produtos. Nos sistemas de esgotos e de tratamento de água, entretanto, estes produtos devem ser facilmente degradados. Numa máquina operatriz, a emulsão ou solução deve durar o maior tempo possível. Portanto, um fluido de corte não pode ser biodegradável; ao contrário, o fluido de corte solúvel deve ser bioestável e compatível com o ambiente. É desejável que a água resultante do descarte da emulsão não contenha produtos agressivos à fauna e à flora aquáticas. Para isso, é necessário que a formulação de fluidos de corte contenha componentes que facilitem e reduzam o custo do descarte. Fenóis e nitritos, usados na formulação dos fluidos emulsionáveis, passam para a fase aquosa do fluido e, no descarte, encontram-se na água resultante da quebra das emulsões. É desejável a sua ausência ou a presença apenas em quantidades mínimas. Isto pode ser conseguido através da formulação de fluidos com materiais “duros” ao ataque por microorganismos para que biocidas não sejam necessários, ou sejam apenas em quantidades mínimas, e fazer com que as emulsões durem o maior tempo possível, para reduzir ao mínimo a quantidade de fluido a ser descartada (Runge e Duarte, 1987). Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 194 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Técnicas Usadas na Análise de Contaminação Industrial Verificação da Existência de Fungos Fungos são organismos pluricelulares pertencentes à divisão do reino vegetal conhecido como tallophyta. Cada fungo é constituído de (Runge e Duarte, 1987): - Micélio, que é o talo; - Esporângio, que é um organismo aeróbico de reprodução. Na indústria, a verificação da existência de fungos é feita normalmente usando-se o Teste com Lâminas de Imersão BCB (Roche) pela sua facilidade de manuseio. Estas possuem três divisões com três meios de cultura diferentes, uma das quais é agar Saboroud, meio apropriado para o crescimento de fungos. Este teste normalmente é escolhido, entre vários outros, por ser simples e poder ser executado pelos operadores. Ele permite que se determine seletivamente a quantidade de fungos e bactérias com precisão suficiente. Em laboratórios usam-se placas com agar saboroud pois, até o momento, fornecem os resultados mais seguros por ter uma área de exposição maior e inibidores de crescimento de bactérias para favorecer o desenvolvimento dos fungos. Verificação da Existência de Bactérias As bactérias necessitam de água para sua proliferação. Portanto, os óleos de corte deverão ser estéreis quando secos. Bactérias estão sempre presentes em emulsões durante o seu uso. Porém, mais importante que o total das bactérias presentes é o seu tipo. Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 195 Nos fluidos encontram-se usualmente todos os três tipos de bactérias existentes (Runge e Duarte, 1987): Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências • Aeróbicas; • Anaeróbicas e, • Anaeróbicas facultativas. O crescimento das bactérias na natureza e no laboratório está limitado pela diminuição dos nutrientes ou pelo acúmulo de substâncias tóxicas provenientes da própria nutrição das bactérias. Quando se inocula um meio para o cultivo de bactérias, estas podem se desenvolver rapidamente, mas o usual é que as bactérias precisem de um tempo até atingir uma velocidade de crescimento constante. Algumas bactérias têm a capacidade de formar endosporo, espécie de célula muito resistente que se mantém em estado de repouso enquanto as condições do meio são adversas e que formarão uma nova célula vegetativa assim que as condições se tornarem favoráveis. Tem como principal característica sua elevada resistência térmica. As bactérias aeróbicas proliferam somente na presença do oxigênio. Os tipos mais comuns são as pseudomonas, que proliferam usualmente entre 10 e 400C e são freqüentemente encontradas em emulsões e as nocardias, que existem numa faixa de temperatura entre 40 e 600C e são encontradas usualmente em emulsões para a laminação de metais, onde esta faixa é bastante comum. As bactérias aeróbicas consomem o oxigênio das emulsões. Se na superfície da emulsão estiver presente uma camada de óleo que impeça a sua oxigenação, prevalecem então as condições para o crescimento das bactérias anaeróbicas, quesão as principais responsáveis pelos maus odores. As bactérias anaeróbicas facultativas (incluindo os coliformes), estão presentes no solo e nas sujeiras. Numa indústria existem constantes fontes de contaminação, tornando-se impossível eliminar totalmente os microorganismos dos fluido, mas pode-se mantê-los em níveis toleráveis, através de meios de controle, como: • biocidas; • raios ultravioleta (pouco efetivos, devido à sua pouca penetração no líquido); • campos magnéticos (pouco eficientes); Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 196 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências • raios gama (existem equipamentos eficientes, mas seu uso exige cuidados especiais); • calor (pasteurizaçao - aquecimento até temperatura específica e resfriamento rápido, usualmente muito dispendiosa); • ultra-som; • microondas (bastante efetivas). Para a análise de bactérias redutoras de sulfato (desulphovibrio desulphuricans) que produzem o cheiro de H2S, recomenda-se usar agar sulfito de ferro em tubos de ensaio. O meio possui os nutrientes básicos para o crescimento microbiano (fonte de carbono, nitrogênio, enxofre e outros). O sulfito de sódio age como antioxidante, retirando o oxigênio do meio e criando uma atmosfera anaeróbica. O sulfato de ferro é a fonte de sulfato que será reduzido pelas bactérias em sulfeto que, em presença de ferro, forma precipitado preto de sulfeto de ferro. O escurecimento do meio é uma indicação da presença de bactérias redutoras de sulfato. A colocação de uma camada de óleo por cima do meio da cultura no tubo favorece o desenvolvimento das bactérias, pois impede a entrada do oxigênio. Ocasionalmente podem ser encontradas nas emulsões as seguintes bactérias patogênicas (Runge e Duarte, 1987 e Törok et alli, 1991): • Staphylococus aureus (produz infecções na pele); • Streptococus pyogenes (produz irritação na garganta); • Pseudomas pyanocea (resulta em cortes inflamados na pele do operador); • Salmonella (causa envenenamento alimentar); • Shigella (causa disenteria). A primeira linha de defesa contra o ataque bacteriano é a educação dos operadores para que não tratem os reservatórios de fluidos como depósito de lixo. Não devem ser jogados no sistema materiais orgânicos, tais como pontas de cigarro ou restos de comida. Também devem ser evitados mistura com outros lubrificantes (óleo hidráulico, lubrificante de guias ou engrenagens e outros). Normalmente estes óleos não são compatíveis com as emulsões ou são emulgados apenas de maneira difícil e lenta, Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 197 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências formando uma barreira à oxigenação e favorecendo a proliferação de bactérias anaeróbicas. A insuflação de ar no fundo dos reservatórios mantém as emulsões agitadas e aeradas. Proliferação das Bactérias As bactérias proliferam preferivelmente num ambiente de pH entre 6 e 8. Recomenda-se manter o pH acima de 8, através da adição de materiais alcalinos. O ataque bacteriano resulta nas seguintes conseqüências: • Redução do pH. Em geral, as bactérias produzem materiais ácidos em conseqüência do seu metabolismo, reduzindo o pH. • Maus odores; • Instabilidade da emulsão. Como conseqüência do consumo de emulgadores da emulsão, inicialmente forma-se uma emulsão mais “grossa”, devido ao aumento do tamanho dos glóbulos de óleo. À medida que avança o consumo de emulgadores, resulta na quebra da emulsão. A presença de bactérias redutoras de sulfato reduz a vida da emulsão devido ao consumo do enxofre dos emulgadores. A redução do pH, tem efeito negativo sobre a estabilidade da emulsão; • Corrosão nas peças e nos componentes metálicos da máquina operatriz, devido a: - consumo dos inibidores de corrosão, particularmente o nitrito de sódio (NaNO2); - produção de ácidos (H2S), entre outros, reduzindo o pH da emulsão; - consumo de películas protetoras deixadas sobre as peças; - oxidação do ferro, por ação indireta, produzindo ferrugem. A corrosão pode ser provocada pelo crescimento de colônias de bactérias aeróbicas ou anaeróbicas, sendo observado inicialmente por certos pontos de coloração diferente sobre a superfície (TÖrÖk et alli, 1991). Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 198 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Partículas de Fluido de Corte Suspensas no Ar Um outro fator importante nos fluidos de corte está no fato de partículas líquidas e de gases, de diâmetros muito pequenos (da ordem de 2,5 µm), se desprenderem do volume e ficarem suspensas no ar. Isto é aumentado principalmente em máquinas que jogam o fluido, praticamente pulverizado na região de corte. Organizações internacionais de controle ambiental e de saúde ocupacional, como as americanas “Ocupational Health and Safety Administration” e “United Auto Workers” estão reduzindo cada vez mais os limites toleráveis, de 5,0 para 0,5 mg de partículas suspensas por m3 de ar ambiente. Partículas menores que 10 µm têm grande probabilidade de serem depositadas nas vias aéreas da traquéia e nas regiões pulmonares. Com isto, apresentam grande potencial de provocarem doenças respiratórias nas pessoas que convivem diretamente sob esta atmosfera (Batzer e Sutherland, 1998). Foram desenvolvidos instrumentos de medição, com o objetivo de verificar a distribuição de partículas menores ou iguais a 10 µm. Mas para o futuro bem próximo, os novos instrumentos farão o monitoramento de partículas com diâmetros menores que 2,5 µm. Processos de Descarte dos Fluidos de Corte Descarte de Emulsões Podem ser divididos em processos químicos e físicos. A combinação dos dois também pode ser utilizada. A seleção dos processos depende do estado de contaminação das emulsões, da sua composição, das condições locais, da legislação do meio ambiente na região e do custo de cada processo. De qualquer maneira os três estágios seguintes são comuns: • quebra da emulsão; • separação do óleo, e • tratamento da água separada. Nos processos químicos, adicionam-se ácidos para quebrar as emulsões pela degradação dos emulgadores. Nos físico-químicos, a reação química é reforçada Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 199 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências pelo aquecimento da emulsão. No processo físico, como a ultrafiltração, a emulsão com diferentes tamanhos moleculares do óleo e da água, é forçada a passar através de permeadores, com poros de diferentes diâmetros. Deste modo, a cada passagem da emulsão, somente a água prossegue o fluxo. Os demais resíduos ficam retidos e a água pode ser então descartada. Um outro processo físico é a quebra térmica. Por meio de evaporação, a fase aquosa é retirada da emulsão. O óleo permanece presente, por apresentar ponto de ebulição mais elevado. O óleo separado nos processos de quebra térmica contém quantidades de resíduos que permitem a sua utilização em processos de re-refino. Descarte de Soluções O tratamento de fluidos de corte sintéticos através de sistemas convencionais de descarte, envolve a compreensão da química coloidal e tensoativa de cada fluido a ser descartado. Os óleos não se diluem nos fluidos sintéticos. Portanto, a etapa de separação do óleo, no caso das emulsões, aqui é dispensada. Através da escolha do tipo e da dosagem de coagulante polimérico e tomando-se por base as faixas de pH encontrados, a taxa desejada das reações de precipitação pode ser controlada e a água efluente posteriormente com o seu pH controlado para posterior descarte (Runge e Duarte, 1987). 11.7 - Seleção do Fluido de Corte A seleção de um fluido de corte ideal é difícil, devido à grande variedade de produtos disponíveisno mercado. O custo é alto e a utilização de um fluido de corte tem que compensar economicamente, isto é, os benefícios devem superar os custos do produto. Existem várias operações em que o corte é realizado a seco (no ar), onde economicamente não se justifica o emprego do fluido de corte. Torneamento e fresamento de ferro fundido cinzento, alumínio e magnésio são exemplos de operação a seco. Em contrapartida, existem muitas operações onde o emprego do fluido de corte é vital. Em termos de consumo industrial, os óleos emulsionáveis estão bem à frente dos demais. Porém, os novos produtos, principalmente os sintéticos, estão cada vez mais conquistando os consumidores. Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 200 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Os ensaios de laboratório devem ser usados como critério de seleção correta do fluido de corte e de aditivos, apesar da maioria dos fabricantes fornecerem tabelas e diagramas que ajudam o consumidor a selecionar o produto. É comum encontrar na literatura tabelas completas, com a indicação do nome do produto, descrição do produto, concentração recomendada, material a usinar, para vários fornecedores, com telefone e endereço das companhias. Estas tabelas são úteis e devem ser usadas como ponto de partida (Machining Data Handbook, 1990). Pelo menos três informações relevantes devem ser consideradas, antes de se decidir por um determinado fluido de corte: os materiais da peça e da ferramenta e o processo de usinagem, entre outros. Material da Peça A) Materiais Ferrosos Ferro Fundido - Os ferros fundidos cinzentos produzem cavacos de ruptura e são normalmente usinados a seco. Os cavacos são muito pequenos e abrasivos, quimicamente bastante reativos ao ponto de exercerem um efeito físico sobre as emulsões no sentido de empobrecê-las (reduzindo a concentração e, em conseqüência, produzindo corrosão). O efeito químico sobre as emulsões reside na formação de sabões de ferro, resultando em emulsões instáveis e de coloração que pode variar entre o vermelho, rosa e marrom. Entretanto, um óleo emulsionável pode ser útil para remover o cavaco. Na usinagem do ferro fundido maleável, se for usado fluido de corte, este deve ser óleo puro. Porém, os cavacos decantam-se com dificuldade, requerendo sistemas de purificação mais complexos ou algum tipo especial de emulsão. A usinagem do ferro fundido branco é difícil e geralmente requer aditivos EP nas emulsões. Aços - Este grupo concentra o maior volume de material usado industrialmente e existe uma variedade muito grande de composições disponíveis. Assim, todos os tipos de fluidos podem ser usados. A escolha depende da severidade da operação e Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 201 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências da resistência do aço. Aço inoxidável austenítico e aços resistentes ao calor tendem a encruar de maneira idêntica às ligas de níquel e a escolha do fluido tende a ser similar. B) Materiais não-Ferrosos Alumínio e suas Ligas - Podem muitas vezes ser usinados a seco. Porém, as ligas de alumínio conformadas com alto teor de carbono, requerem um fluido de corte com alta capacidade refrigerante. Quando cavacos longos são formados, a área de contato é grande e requer lubrificação adequada. As ligas de alumínio e silício também requerem boa lubrificação. Se a precisão dimensional for importante, deve- se usar um bom refrigerante, devido ao alto valor do coeficiente de expansão térmica. Uma escolha correta seria emulsão com uma mistura de óleo mineral e gordura e a maioria das emulsões solúveis. Alumínio não exige aditivos EP e o enxofre livre ataca o metal instantaneamente. Magnésio e suas Ligas - São normalmente usinados a seco. A altíssimas velocidades de corte, entretanto, um refrigerante pode ser utilizado. Emulsões são proibidas porque a água pode reagir com o cavaco e liberar hidrogênio, apresentando assim risco de ignição. Geralmente, usa-se óleo mineral ou mistura de óleo mineral com gorduras e, como no caso do alumínio, o enxofre ataca o metal. Cobre e suas Ligas - Podem ser divididos em três grandes grupos: Ligas de fácil usinagem - Incluem a maioria dos latões e alguns bronzes ao fósforo fundidos. Eles possuem alta resistência à tração, baixa ductilidade e geralmente adição de elementos de liga de corte fácil (chumbo, selênio e telúrio). Isto significa que eles são usinados mais facilmente que as ligas de outros grupos. Uma emulsão de óleo solúvel é suficiente para praticamente todas as situações. Ligas de usinabilidade moderada - São os latões sem chumbo, alguns bronzes ao fósforo e bronzes ao silício. Eles tem alta ductilidade, o que acarreta um alto consumo de potência e dificulta a obtenção de bom acabamento superficial. Geralmente, emulsão de óleo solúvel ou mistura leve de óleo mineral com gordura satisfaz as exigências. Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 202 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Ligas de difícil usinagem - Tais como ligas sem chumbo, as ligas de níquel-prata e os bronzes ao fósforo. Eles tem baixa resistência e grande tendência ao arrancamento e geralmente produzem cavacos longos. Neste caso uma forte mistura de óleo mineral com gordura deve ser usada para preenchimento dos requisitos. Todos os metais amarelos são manchados por qualquer óleo contendo enxofre livre. Ligas de Níquel, Titânio e Cobalto - São ligas resistentes ao calor chamadas de super-ligas. São difíceis de usinar e apresentam grande tendência a encruarem, principalmente as ligas de níquel. A escolha do fluido de corte dependerá da operação de corte. Em condições severas, aditivos são freqüentemente usados. Enxofre livre, entretanto, pode causar deterioração da peça. Material da Ferramenta A escolha de um material para ferramenta para uma dada aplicação indicará o potencial de taxa de remoção de material. Esta taxa de remoção de material, por sua vez, indicará as temperaturas de corte e as tensões na ferramenta que provavelmente serão encontradas. Como as ferramentas de aço-carbono e aço-liga só podem ser usadas a baixas velocidades, ou seja, não suportam altas temperaturas, é essencial que se use uma refrigeração adequada. Os aços-rápidos também requerem uma refrigeração suficiente. Na usinagem de materiais tenazes, aditivos anti-aderentes devem ser usados. As ligas fundidas, metais duros e cermets (WC/TiC) possuem dureza mais elevada que as ferramentas de aço e, portanto, suportam trabalhar em temperaturas mais elevadas. Como a taxa de remoção de material é alta quando se utiliza estas ferramentas, a aplicação de um fluido refrigerante torna-se necessário para aumento da vida da ferramenta. Os óleos emulsionáveis são usados com freqüência, mas a escolha correta deve variar de acordo com a severidade da operação. O uso das cerâmicas tem aumentado consideravelmente nos últimos tempos. Devido à alta fragilidade destes materiais, deve-se tomar cuidado ao se aplicar um refrigerante, Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 203 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências pois os choques térmicos podem acarretar trincas superficiais. As cerâmicas à base de nitreto de silício são menos susceptíveis a este tipo de problema, por serem mais tenazes que as cerâmicas à base de Al2O3 (alumina) . Se o fluido de corte vai reduzir a temperatura sem causar trincas, ele será sempre recomendado para aumentar a vida da ferramenta. Em algumas aplicações, principalmente na usinagem das super- ligas, o desgaste de entalhe irá predominar e, neste caso, o fluido de corte deverá ser usado com certa reserva, pois a atmosfera pode alterar o mecanismo de desgaste.Os materiais ultraduros, tais como o PCD (diamante policristalino) e CBN (nitreto cúbico de boro), são resistentes o suficiente para suportarem os choques térmicos e não existem contra indicações quanto ao uso do fluido de corte. Processo de Usinagem A severidade dos processos de usinagem varia desde os mais pesados cortes de brochamento até os mais leves de retífica. A escolha do fluido de corte, portanto, irá variar desde os mais ativos tipos de óleo de corte até os óleos emulsionáveis de baixa concentração. É comum encontrar literaturas que orientam a escolha do fluido, de acordo com a operação de corte (Ferraresi, 1977, Runge e Duarte, 1987 e Shell, 1991). Outros Fatores Fatores que inicialmente são desconsiderados, podem influenciar bastante a seleção de um fluido e são enumerados a seguir: Aceitação pelo Operador da Máquina Os fluidos de corte solúveis, quando corretamente mantidos, são mais agradáveis ao contato humano, principalmente em se considerando que o operador de uma máquina operatriz pode estar em contato direto com o fluido durante muitas horas por dia. Para reforçar sua aceitação, os fabricantes de fluidos freqüentemente incluem em sua formulação corantes e/ou odorizantes. Fluidos levemente transparentes também facilitam a visualização do corte, permitindo acompanhamento visual do processo. Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 204 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Facilidade de Descarte A preocupação de assegurar a manutenção apropriada dos fluidos deve sempre ser considerada, para que a quantidade a ser descartada e a freqüência sejam as menores possíveis. Porém, todos os fluidos chegarão ao fim de sua vida útil e deverão ser descartados. As legislações ambientais são a cada dia mais rigorosas e jogar emulsões usadas diretamente no esgoto ou num córrego no fundo da propriedade não é mais aceitável. Existem processos físicos, químicos e combinados para o correto descarte. O descarte, seja ele feito pelo próprio usuário ou por outra empresa especializada, sempre representa um custo, que deve ser levado em consideração ao se selecionar o fluido de corte. Saúde Humana e a Contaminação do Fluido Óleos solúveis, quando não corretamente mantidos, rapidamente degradam-se pela ação bacteriana que age tanto sobre os componentes do próprio fluido como em seus contaminantes (cavacos, sujeiras, etc.) e por maus hábitos dos operadores (cuspir na emulsão, jogar pontas de cigarro, etc.). Em pequenas e até em grandes oficinas e fábricas, fatores relacionados à limpeza deixam em muito a desejar. A manutenção destes fluidos é essencial e deve ser levada a sério, pois poderão causar inclusive danos à saúde do operador. Isto conduz aos fluidos integrais, que são mais resistentes, o que pode justificar sua seleção. Além deste, fatores como a capacidade de ser reciclado a menores custos, entre outros, devem ser considerados. Fatores Econômicos Além dos fatores importantes citados acima, o custo do fluido é fundamental para uma tomada de decisão. Os óleos emulsionáveis tem um bom preço no mercado e muitas vezes é um fator chave na escolha. Ela não deve ser feita com base no seu custo por litro. Deve-se fazer um estudo de custo/benefício que viabilize a escolha. Deve-se considerar neste estudo, além de outros fatores, o número de afiações da ferramenta, vida da ferramenta entre as afiações, tempo de máquina parada, tempo ocioso do operador, facilidade de descarte, durabilidade do fluido e custo de reciclagem. Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 205 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Para algumas situações, a seleção do fluido de corte é realmente complicada, como no caso das células flexíveis de manufatura. Nestas células, várias operações de usinagem podem ser feitas e uma variedade enorme de materiais podem ser usinados. É difícil, portanto, satisfazer a todas as situações simultaneamente. 11.8 - Alguns Trabalhos Visando Avaliar o Desempenho dos Fluidos A literatura mostra vários testes visando avaliar o desempenho de fluidos de corte. Estes testes podem ser divididos em duas categorias: os que não envolvem usinagem (são realizados em laboratório) e os que envolvem usinagem. Neste item serão mostrados alguns trabalhos disponíveis na literatura. Testes que não Envolvem Usinagem Entre os que não envolvem usinagem está o teste a quatro esferas ("four balls") que consiste em um reservatório fechado, quatro esferas de aço e um volume apropriado de fluido em teste (ASTM D3233). Uma das esferas é colocada em rotação sobre as demais sob ação de um carregamento conhecido. Uma forma de realizar o ensaio é deixar o conjunto em teste até haver a fusão das esferas. Caso não ocorra a fusão, o ensaio é interrompido e a superfície das esferas é avaliada, principalmente quanto a lascamentos. O tempo necessário para isso ocorrer é controlado e o fluido de melhor desempenho é aquele que apresentar maior tempo. O ensaio apresenta outras variantes, como a aplicação da carga se efetuar de forma progressiva e controlada. Este método objetiva avaliar o desempenho dos aditivos de extrema pressão, principalmente nos óleos integrais. O ensaio não mostra boa correlação com a performance do fluido na usinagem (Skells e Cohen, 1976). Na realidade o método foi desenvolvido especificamente para classificar o óleo lubrificante de máquinas. Uma outra metodologia experimental, sem envolvimento de usinagem, foi proposta por Shaw et alli (1960). O objetivo era de verificar o comportamento do tetra-cloreto de carbono, CCl4, na usinagem. O método consiste em aplicar uma esfera dura, com carregamento conhecido, contra uma superfície de um material mole. A superfície é Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 206 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências montada sobre uma base com movimento de rotação e possui um furo de diâmetro menor que o da esfera. O teste se processa até que a superfície se deforme plasticamente. O toque necessário para promover a deformação é monitorado. Sob certas condições o CCl4 atua como um mau lubrificante aumentando o coeficiente de atrito comparado com o ar. Entretanto, em baixas velocidades de corte ele é um dos fluidos mais eficazes que se tem conhecimento, do ponto de vista de redução de forças de usinagem e melhoria no acabamento da superfície. Shirakashi et alli (1978) também fizeram um estudo utilizando esta metodologia para simular o comportamento do CCl4 na usinagem de aços em baixas velocidades de corte. Sales (1999) utilizou a técnica de esclerometria pendular para avaliar a performance de diversos fluidos de corte. O instrumento desenvolvido por Franco (1989) é mostrado na Figura 11.6 e consiste de um pêndulo, com uma ferramenta de metal duro na extremidade, liberado a uma altura e energia conhecida. O corpo de prova é fixado na parte inferior do instrumento. O metal duro passa riscando o corpo de prova e eleva até outra altura e a diferença delas é a energia consumida no risco. A superfície fica imersa em cada fluido em avaliação. O corpo de provas é pesado antes e após o risco e com isso tem-se a perda de massa. A relação entre a perda de massa e a energia consumida, fornece um importante parâmetro para análises qualitativas dos fluidos, denominada por energia específica. Porta penetrador Escala de Energia [J] Porta amostra Penetrador Figura 11.6 - Diagrama do esclerômetro pendular, mostrando os diversos componentes do instrumento (Franco, 1989). Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 207 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Na Figura 11.7 mostram-se os resultados experimentais obtidos nos ensaios.0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 Perda de Massa [mg] En er gi a Es pe cí fic a [J /m g] Seco Integral Emulsionável - 5% Sintético 1 - 5% Sintético 2 - 5% Água Água Integral Seco Emulsionável Sintético1 Sintético2 Figura 11.7 - Energia específica consumida em amostras aço ABNT NB 8640 submersas em fluidos de corte. Pontos experimentais (Sales, 1999). Testes que Envolvem Usinagem Existem na literatura vários testes de usinagem que normalmente são realizados a baixas velocidades de corte, com objetivo principal de caracterizar as qualidades lubrificantes do fluido. Ladov (1974) propôs uma metodologia de avaliação de fluidos de corte. Consiste em usinar uma superfície chanfrada ("tapping test") e fazer o monitoramento do torque de usinagem. Lorenz (1985) utilizou uma metodologia similar. Utilizou o processo de roscamento em superfícies previamente chanfradas. Ele apresentou toda uma metodologia experimental e estatística no tratamento dos dados objetivando normalizar o procedimento de classificação dos fluidos. Wakabayashi e Ogura (1989) propuseram um método, derivado do "tapping test", realizado no torneamento. A principal grandeza monitorada é o consumo de energia durante a usinagem da superfície no ensaio. Também é medido o máximo torque. Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 208 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências Segundo eles, o "tapping test" é aceitável por apresentar uma boa correlação com os resultados práticos, apresentar um alta reprodutibilidade e sensibilidade, ser simples e rápido e finalmente, por utilizar corpos de prova também simples e em pequena quantidade. Eles mostraram o desempenho de fluidos com diferentes quantidades de aditivos EP por meio das curvas de energia consumida durante a usinagem do chanfro. De Chiffre et alli (1990) propuseram a utilização do processo de alargamento para usinar o chanfro interno numa superfície. A superfície de teste foi previamente usinada com um ângulo estabelecido. Foram monitorados os momentos torçores nas direções de corte e de recuo. Este método é mais uma variante do "tapping test" e objetiva avaliar a eficiência lubrificante dos fluidos. Eles avaliaram os fluidos mineral integral, emulsionável, semi-sintético e sintético. Os melhores resultados foram encontrados para o óleo mineral integral. Este método é realizado em velocidades de corte baixas, em torno de 6,5 m/min. Isto limita a extrapolação de seus resultados para aplicações práticas. Em operações envolvendo usinagem existem diversos trabalhos. Principalmente na furação, que é um processo em que a geração de calor e os mecanismos de formação do cavaco se processam em regiões de difícil acesso ao fluido. Normalmente são ensaios de longa duração, o que os torna onerosos. Como exemplo, De Chiffre (1978) avaliou a performance de fluidos mineral integral, emulsionável e sintético aditivado com enxôfre e cloro. Ele utilizou os processos de furação e alargamento e monitorou os momentos torçores nas direções de corte e de recuo. Utilizou outras duas variantes da furação e do alargamento, executando furos sobre pré-furos e alargando superfícies cônicas. Ele mostrou que o desempenho dos fluidos de corte é fortemente sensível ao processo, às condições de corte, bem como ao critério de performance estabelecido. Kurimoto e Barrow (1981) estudaram a influência dos fluidos emulsionável e mineral integral no desgaste de ferramentas de aço rápido. Os fluidos foram testados com e sem a presença de aditivos EP. Eles realizaram ensaios no torneamento, monitorando as forças de usinagem, a temperatura na interface cavaco-ferramenta pelo método do termopar ferramenta-peça, a vida da ferramenta, a espessura do cavaco e a área de contato cavaco-ferramenta. Segundo eles, os resultados Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 209 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências encontrados mostraram que dos fluidos testados em condições reais de usinagem, os minerais integrais não penetraram na interface e consequentemente não atuaram como lubrificantes, enquanto os fluidos emulsionáveis apresentaram uma considerável penetração. Em um novo trabalho Kurimoto e Barrow (1982) persistiram no estudo de acessibilidade dos fluidos na interface. Neste trabalho eles avaliaram a influência dos fluidos emulsionáveis no desgaste de ferramentas de metal duro. Segundo eles, os resultados encontrados mostraram que nenhum dos fluidos testados apresentaram resultados representativos sobre os parâmetros avaliados, indicando que eles não penetram na interface cavaco-ferramenta para exercer a ação lubrificante e a ação refrigerante não é suficientemente grande para afetar os mecanismos de formação do cavaco. Analisando estes dois trabalhos de Kurimoto e Barrow nota-se que a alteração de qualquer componente do sistema tribológico, como material da ferramenta e/ou da peça, composição do fluido e parâmetros de corte, os resultados podem mudar completamente. Isto confirma a natureza sistêmica da usinagem dos metais. Säynätjoki e Routio (1992) realizaram ensaios experimentais de usinagem, na furação, seguindo a norma ISO 3685 (1977), que padronizou ensaios de vida de ferramentas. Eles avaliaram fluidos emulsionáveis com dois tipos de óleos básicos: mineral e vegetal. Eles não encontraram diferenças significativas entre os fluidos testados. Machado e Wallbank (1997a) propuseram uma nova técnica para testar os efeitos lubrificantes dos fluidos. O método consiste na aplicação de pequenas quantidades de fluidos (25 ml/h) juntamente com ar comprimido. A mistura ar-óleo é feita por meio de um venturi e direcionada na superfície de saída da ferramenta, contra o fluxo de cavaco. Eles realizaram testes no torneamento e monitoraram as forças de corte e de avanço, a espessura do cavaco e a rugosidade da superfície. Os resultados encontrados, principalmente para a força de avanço, foram encorajadores. Motta (1994) e Vieira (1997) realizaram estudos sobre a performance de fluidos emulsionáveis, semi-sintéticos, sintéticos e a condição a seco para efeitos Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 210 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e Tendências comparativos, nos processos de torneamento e fresamento, respectivamente. Motta (1995) encontrou melhora substancial na vida das ferramentas, com a utilização de fluidos. Entretanto, Vieira (1997) encontrou resultados desfavoráveis. Isto confirmou a conclusão encontrada por De Chiffre (1978), sobre a sensibilidade do fluido ao processo. Sales (1999), avaliou o desempenho de diversos fluidos de corte, por meio da medição de forças de corte, utilizando-se de uma plataforma piezelétrica Kistler, no processo de torneamento. O fluido foi aplicado na posição sobre-cabeça à vazão de 4,5 l/min. Na Figura 7.8 mostra-se os resultados experimentais obtidos. Os ensaios que envolvem usinagem, normalmente são de longa duração e dispendiosos. Por isso, existe a tendência de testar os fluidos em laboratório em condições que possam garantir a transferibilidade dos resultados obtidos para as situações reais de trabalho. Mas isso não irá dispensar os ensaios reais que poderão comprovar os de laboratório e realmente determinar o desempenho do fluido sob avaliação. Outros tipos de testes são utilizados, mas com outros objetivos como: controle da concentração, testes biológicos controlando a quantidade de fungos e de bactérias, estabilidade das emulsões, viscosidade, concentração de íons H+, pH, entre outros (Metals Handbook, 1989). Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 211 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Fluidos de Corte: Fundamentos, Aplicações e TendênciasSandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 212 300 350 400 450 500 550 9 28 86 172 219 277 vc [m/min] Seco Integral Emulsionável 5% Emulsionável 10% Sintético 1 5% Sintético 1 10% Sintético1 10% Emulsionável 5% Seco Integral Emulsionável 10% Sintético1 5% f = 0,138 mm/rev ap = 1 mm Figura 11.8 - Variação da força de corte com a velocidade para os diversos fluidos. Como Agem os Fluidos de Corte Lubrificantes Sólidos Óleos Integrais Emulsões Soluções Jorro do Fluido a Baixa Pressão, ou por Gravidad� Sistema a Alta Pressão 11.7 - Fluidos de Corte e Suas Relações com o Me Fluidos Biodegradáveis e Bioestáveis Técnicas Usadas na Análise de Contaminação Ind� Verificação da Existência de Fungos Verificação da Existência de Bactérias Proliferação das Bactérias Partículas de Fluido de Corte Suspensas no Ar Processos de Descarte dos Fluidos de Corte Descarte de Emulsões Descarte de Soluções Material da Peça A) Materiais Ferrosos Material da Ferramenta Processo de Usinagem Outros Fatores Aceitação pelo Operador da Máquina Facilidade de Descarte Saúde Humana e a Contaminação do Fluido Fatores Econômicos Testes que não Envolvem Usinagem Testes que Envolvem Usinagem
Compartilhar