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1 GESTANTE ADOLESCENTE Entende-se por adolescente o indivíduo com idade entre de 10 e 19 anos. É um período de crescimento, maturação e estabelecimento dos padrões adultos. Em apenas 2 décadas, a idade das mulheres ao experimentarem a 1º relação sexual reduziu 2 anos, a associação da precocidade da iniciação sexual feminina à falta ou inadequação das informações a respeito da sexualidade e uso dos métodos contraceptivos tem sido apontada como principal causa da gravidez na adolescência (Accioly). Aspectos epidemiológicos (Accioly) No mundo, a cada ano cerca de 15 milhões de mulheres de 15 a 19 anos de idade têm filhos, Destas, 80% vivem em países em desenvolvimento. No Brasil houve aumento da taxa de fecundidade e 25% das 5 milhões de internações por gravidez no SUS, são de adolescentes. A taxa de mortalidade materna varia em torno de 20% nos EUA e 50% na América Latina. No Brasil, a mortalidade materna fica em 3º lugar no ranking de óbitos de adolescentes, perdendo só para acidentes no trânsito e homicídios. Dados do MS mostram que houve redução na prevalência de partos entre mães com menos de 20 anos de 23,9% para 19,3% (Vitolo). Características do adolescente Há o alcance de 45% do crescimento, aquisição de 15 a 25% da estatura e o acúmulo de 37% de sua massa óssea adulta (Accioly). O estirão do crescimento ocorre entre 10 e 14 anos com média aos 12,5 anos e se reflete no aumento da estatura. As adolescentes com menarca mais precoce crescem durante um maior período de tempo na fase pós-menarca. A fertilidade completa se dá 2 anos após a mesma. O crescimento físico e maturação sexual só se completam pelo menos 4 anos depois da menarca. As adolescentes têm alto risco obstétrico devido à sua imaturidade biológica para atingir o termo. Segundo o IOM, as de maior risco são as adolescentes que têm idade ginecológica (intervalo de tempo entre a menarca e a idade materna na concepção) menor que 2 anos e, idade cronológica ≤ de 14 anos pois são anatômica e fisiologicamente imaturas (Accioly). Segundo OMS todas as adolescentes são consideradas GESTANTES DE RISCO, especialmente as com idade ginecológica < 2 anos, as primíparas, com baixo peso, ou baixa estatura (Accioly). A mulher considerada madura é aquela com pelo menos 5 anos pós-menarca (essa é a idade ginecológica adequada – Vitolo). Nos primeiros anos após a menarca há competição pelos nutrientes entre mãe e feto, interferindo negativamente no resultado final (Chemin). Tornam as adolescentes, gestantes de risco (Vitolo): Consumo de alimentos de baixo valor nutricional Omissão dasprincipais refeições Dietas restritivas Imaturidade emocional para nova fase Além da imaturidade biológica, fatores como carências nutricionais, tabagismo, instabilidade emocional e marital podem determinar o resultado da gestação. Mas quando a idade ginecológica é menor que 2 anos, a imaturidade da menina é que mais influência (Chemin e Vitolo). Há uma dificuldade de associação da adolescência com risco obstétrico, pois frequentemente há influência de outras variáveis como baixo nível sócio econômico, pouca escolaridade, abuso físico e psicológico, falta de assistência pré-natal e apoio social insuficiente. Repercussões maternas: Risco aumentado para parto cesariana e fórceps Síndromes hipertensivas da gravidez (SHG) Anemia Risco de parto prematuro Disfunção uterina Anomalias congênitas Mortalidade materna e perinatal. Neonatal (Chemin) Aborto (Chemin) Accioly: Complicações obstétricas e puerperais Ganho de peso inadequado Placenta prévia HIV Fístulas Retenção de peso pós-parto Atraso escolar Maior vulnerabilidade à violência física e abuso sexual Repercussões para o feto: Morbidade perinatal e mortalidade infantil BPN (PN<2,5kg) Muito baixo peso ao nascer (PN<1,5kg) Prematuridade (IG < 37semanas) Retardo do crescimento intra uterino (RCIU) Desproporção cefalopélvica (Chemin e Vitolo) Além disso, há aumento dos custos para o setor saúde. Accioly: Natimortalidade Complicações neurológicas do lactente Distúrbios de comportamento Síndrome da atenção deficiente Hiperatividade Risco aumentado de abuso físico e maus tratos RN pequenos para idade gestacional (PIG) Apgar baixo no 5º minuto Sofrimento fetal agudo Fatores que interferem no resultado obstétrico Idade materna: Gestantes brancas, mais jovens (< 15 anos) e multíparas são as de maior risco. Quanto mais jovem, maior o risco de RCIU e BPN (estão associados com mortalidade neonatal), por serem mais susceptíveis à subnutrição, já que se encontram em rápido processo de crescimento e desenvolvimento. A suplementação neste caso pode ter um efeito benéfico sobre o peso do bebê. Gestantes de 10 a 16 anos têm crescimento fetal mais lento e uma diminuição no fluxo sanguíneo placentário, o que causa prejuízo no desenvolvimento fetal (crescimento mais lento), isso pode ser justificado 2 pela hipótese de competição entre mãe e feto pelos nutrientes. A mãe jovem, por ser imatura, é incapaz de armazenar, sob o estresse físico imposto pela gravidez, a mesma quantidade de tecido materno e fetal que as gestantes adultas, o que resulta nesta competição pelos nutrientes que leva a cetonúria intensa responsável por maior frequência de óbitos fetais e neonatais. Paridade, estado nutricional e raça: Primíparas de todas as idades tendem a ganhar 1kg a mais que as multíparas. Gestantes com idade ginecológica < 2 anos tendem a ganhar menos peso que gestantes adultas e apresentam maior risco de BPN do que as gestantes mais velhas com o mesmo ganho de peso gestacional. Mulheres com IMC pré-gestacional baixo peso, mesmo que ganhem o mesmo peso gestacional que mulheres de outras faixas de IMC, tendem a ter filhos menores. Gestantes negras têm filhos com menor peso ao nascer, pois há associação com subnutrição pré- gestacional e a suplementação pode ter efeito benéfico. Ganho de peso menor que 3,4kg até a 24ª semana, ou seja, inadequado, oferece aumento de risco para PIG (pequeno para idade gestacional), mesmo quando o ganho final de peso atinja o total recomendado. Comportamento alimentar: Há tendência à substituição do jantar por lanche que favorece o consumo inadequado ou excessivo de energia, contribuindo para obesidade. Fatores que contribuem para isso: horários irregulares, alimentação fora do domicílio, substituições por fastfoods, consumo abusivo de álcool, tabaco e drogas e dificuldade de relacionamento familiar e baixas condições sócio econômicas. O dia a dia agitado pode resultar em comer fora de casa e escolher uma variedade limitada de nutrientes. Geralmente composto por comidas salgadas, muito doces, alimentos gordurosos e com poucos nutrientes (Dan). Além disso, apresentam ingestão excessiva de sucos, refrigerantes e chás, ou seja, ingestão excessiva de líquidos (Vitolo). A dieta utilizada por grupos de meninas de 15 a 19 anos de idade contém frequentemente elevada quantidade de gordura e calorias. Ressalta-se que a gordura trans no período gestacional pode comprometer o crescimento e o desenvolvimento fetal (Accioly). Inadequação de cálcio, ferro, zinco e vitamina A, vit B6 e ácido fólico, vit C, iodo e magnésio e menos frequente de energia, fósforo e outras vitaminas (Accioly e Chemin) X Krause: É comum iniciar a gravidez com estado nutricional abaixo do ideal, com baixo consumo de ferro, cálcio e ácido fólico. A refeição mais negligenciada é o desjejum, sendo que 1/5 dos adolescentes não tomam café da manhã e 50% que realizam o fazem de maneira inadequada (Dan). Deve-se investigar no inquérito alimentar a presença de alimentos fonte de ferro, vitamina A, ácido fólico e cálcio (Vitolo). Condições socioeconômicas: As condições desfavoráveis predispõem a BPN, complicações neurológicas, síndrome de atenção deficiente, hiperatividade e distúrbios de comportamento. Dentre as condições socioeconômicas, estão associadas com BPN: raça (mulheres não- brancas), estado civil (solteiras), baixo nível sócio- econômico e baixa escolaridade.Infecções genitais: Doenças sexualmente transmissíveis são frequentes e podem estar associadas com BPN. Estresse, pequeno intervalo intergestacional e multiparidade: São fatores de risco para BPN. Além destes, são fatores de risco para um resultado ruim nas gestantes adolescentes: anemia preexistente, abuso de certas substâncias: fumo, bebidas e drogas, falta de apoio social e de educação, ausência ou entrada tardia no sistema de cuidado de saúde e falta de assistência pré-natal apropriada a idade (Krause). Assistência pré-natal: Objetivos da assistência ao pré-natal (Accioly): Promoção do ganho de peso gestacional adequado Prevenção de complicações obstétricas maternas Redução nas taxas de BPN, RNPT e natimortos Prevenção de gestações repetidas e indesejáveis Redução da mortalidade materna Prevenção do aborto ilegal Deve-se ter a participação de equipe multiprofissional e interdisciplinar. A assistência do nutricionista é indispensável nos programas de assistência às gestantes adolescentes (Accioly). Em geral, a assistência pré-natal é procurada tardiamente devido à dificuldade de reconhecer os sinais e sintomas e por não quererem a quebra da confidencialidade, piorando as consequências da gravidez. São coletados: idade cronológica e ginecológica, estado nutricional pré-gestacional, ganho de peso gestacional, sinais clínicos de má nutrição, índices hematológicos, atividade física, uso de medicamentos, presença de doenças crônicas ou infecções, avaliação dietética com ênfase na ingestão de proteínas, fibras, vitamina C, cálcio, ferro, calorias vazias e gordura. Avaliação antropométrica: Em torno de 50% das adolescentes mantêm seu crescimento durante a gestação, embora seja mais lento do que se elas não estivessem grávidas, promovendo competição pelos nutrientes ou imaturidade em transferí-los para o feto, gerando conceptos de menor peso. As outras 50% das adolescentes interrompem seu crescimento linear comprometendo sua estatura final, segundo alguns autores, esta deve ser mensurada pela altura do joelho. Algumas gestantes adolescentes continuam seu crescimento durante a gestação, neste caso elas tendem a ganhar mais peso e manter este peso, após o parto, além de terem recém-nascidos menores em crescimento (Dan). Quanto mais jovem for a gestante, maior probabilidade de manter seu crescimento durante a gravidez, portanto, maior será sua necessidade energética (Dan). O Ministério da Saúde preconiza a avaliação do estado nutricional de todas as gestantes adolescentes na rotina da Assistência Pré-natal por meio da proposta 3 metodológica com base nas recomendações do Institute of Medicine (IOM), da OMS e do estudo de Atalah. Em 2009, o IOM publicou uma atualização das recomendações para ganho de peso durante a gestação a serem aplicadas a mulheres americanas. Dentre as alterações observadas na nova recomendação, em comparação àquelas publicadas em 1990, destacam-se os pontos de corte da OMS, para a avaliação de mulheres adultas e adolescentes. Accioly recomenda avaliar as adolescentes com base na classificação do estado nutricional pré- gestacional baseada nas curvas propostas pela OMS 2006/20007, com base na idade (anos e meses) e sexo. Deve ser empregada quando peso pré é conhecido ou aferido até a 13ª semana gestacional x peso mensurado até 2 meses antes da concepção ou aferido até a 14ª semana gestacional (Accioly). Caso o peso pré ou até a 13ª semana gestacional seja desconhecido, utiliza-se a proposta de Atalah. Procedimentos para avaliação antropométrica: Inicialmente deve-se obter o peso pré-gestacional ou inicial, peso atual, estatura materna e idade gestacional. a) Peso pré-gestacional conhecido calcular o IMC pré-gestacional e consultar os pontos de corte específicos segundo a idade materna de acordo com as curvas da OMS (2006/2007, quadro 2) e classificá-los de acordo com o quadro abaixo (quadro 1). Calcular o ganho de peso semanal e total baseado no quadro 4 (IOM, 2009): Quadro 1: b) Peso pré-gestacional desconhecido e avaliação com base no IMC gestacional Caso o peso pré ou até a 14ª semana gestacional seja desconhecido, utiliza- se a proposta de Atalah. Utilizar o peso da consulta e realizar a classificação pelo quadro 3. O Ministério da Saúde ressalta que o método não foi proposto para gestantes adolescentes. No entanto esta classificação pode ser usada desde que a interpretação seja flexível. Assim, considerar: a avaliação inical com base no IMC gestacional, pela tabela ou gráfico (quadro 3 ou figura 1). Para adolescentes que engravidaram 2 anos após a menarca, a interpretação pode ser equivalente às adultas; Para as que engravidaram menos de 2 anos pós- menarca é provável que sejam classificadas como baixo peso. Devem ter a estatura mensurada em todas as consultas. Deve-se acompanhar o traçado da curva de IMC, que deve ser ascendente. A utilização do gráfico de evolução do traçado de IMC gestacional proposto pelo MS para adultas, como dito anteriormente, deve ser adotado para a avaliação das adolescentes somente quando o peso pré- gestacional não possa ser calculado ou o peso no 1º trimestre não possa ser obtido. OBSERVAÇÃO Accioly sugere que deve-se empregar a classificação da OMS (2006/2007) (quadros 1 e 2), em idade e meses para o diagnóstico pré- gestacional de adolescentes e a seguir fazer a programação do ganho de peso recomendado até o termo (quadro 4). Nos casos em que o peso pré- gestacional não é conhecido ou não é possível mensurá-lo (idade gestacional ≥ 14 semanas) seguir conforme o item B. CONSULTAS SUBSEQUENTES: A avaliação antropométrica nas consultas subsequentes pode ser realizada com base na adequação do ganho de peso semanal e total, de acordo com o quadro 4. 4 Quadro2: 5 Quadro3: 6 Figura 1: Ganho de peso gestacional: Krause Ganho de 12,5 a 18 kg, que varia de acordo com a idade ginecológica e o peso pré- gravídico. Dan Precisam ganhar mais peso do que as gestantes adultas para gerar um bebê com o mesmo tamanho. O ganho de peso das adolescentes deve estar no limite superior da recomendação. Accioly Ganho de peso semanal e total (quadro 4). Vitolo Para este grupo o ganho de peso total preconizado, mesmo para eutróficas, é superior a 12kg. 7 Accioly Quadro 4: Faz-se necessário utilizar critérios próprios para adolescentes, com base no PPG (ou peso no 1º trimestre) e altura, com cálculo do IMC e adequação do P/A (Chemin e Vitolo). Já as adolescentes com idades superiores às de risco, as biologicamente maduras, devem ser avaliadas de acordo com os critérios recomendados pela ADA para adultos (Vitolo) Avaliação bioquímica: Devido à hemodiluição gestacional, o uso de alguns parâmetros nutricionais torna-se limitado. Recomenda- se o uso de hemoglobina para avaliar a condição nutricional do ferro. A anemia ferropriva é a deficiência específica mais prevalente entre gestantes (acomete 40- 50%) devido a: - alta demanda de ferro materno-fetal - baixa ingestão - baixa reserva orgânica frente a demanda No primeiro trimestre, quando ainda não houve a hemodiluição, deveria se considerar o ponto de corte para anemia de 12g/dl e, após esse trimestre o ponto de corte passaria a ser 11g/dl (Vitolo). Adolescentes de baixa condição socioeconômica têm risco de deficiência de ferro, o que faz com que iniciem a gestação com depósitos depletados de ferro, neste caso a suplementação com sulfato ferroso é recomendada a partir do primeiro trimestre (30 a 40mg de ferro elementar) (Vitolo). Avaliação dietética: Métodos de avaliação de consumo mais utilizados: recordatório de 24hs para estimar a ingestão energético proteica e frequência de consumo para avaliar consumo de micronutrientes. Deve ser detalhada para avaliar número e composição das refeições, uso de diet e light, bebidas alcoólicas, doces, etc. Investigar tabus, alergias, presença de picamalácia. Padrões a serem observados e avaliados na assistência nutricional à gestante adolescente (ADA, 1989). - Dieta: Presença de fontes proteicas, fontede vitamina C, presença de frutas ou vegetais, presença de fibras, fontes de cálcio e ferro e presença de alimentos ricos em gordura e açúcar. - Crescimento e estado nutricional: Idade ginecológica, proporção de peso/altura, ganho de peso semanal, sinais de desnutrição, parâmetros hematológicos, atividade física e presença de doença crônica e infecção. - Sinais de problemas nutricionais: Baixo peso ou sobrepeso, seletividade alimentar, hábito alimentar atípico, condições psicológicas alteradas, pobreza, tabagismo e consumo habitual de álcool. 8 Avaliação clínica: Investigar idade cronológica e ginecológica, sinais e sintomas digestivos, avaliar o funcionamento intestinal e patologias ou intercorrências associadas, avaliar atividade física e hábitos sociais que podem repercutir no desenvolvimento fetal. RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS: Nesta fase tem-se a superposição de 2 processos biológicos de alta demanda nutricional, o crescimento e desenvolvimento materno e fetal, principalmente durante a fase onde o crescimento é mais intenso, entre 10,5 e 13 anos de idade. Devido ao rápido crescimento pondero estatural, as necessidades nutricionais estão significativamente aumentadas a fim de suportar um aumento na massa corpórea e nas reservas de nutrientes (Dan). Recomendações energéticas Para o cálculo do VET deve-se seguir os seguintes passos: 1º passo: avaliação do estado nutricional da gestante e determinação do ganho de peso recomendado até o termo. 2º passo: calcular o VET a partir do GET somado ao adicional requerido para o ganho de peso gestacional. VET = GET + adicional energético GET = TMB x NAF TMB (10 a 18 anos): 13,384 x peso (kg) +692,6 IMC pré-gestacional de eutrofia: peso pré- gestacional ou desejável IMC pré-gestacional baixo peso: peso desejável IMC pré-gestacional sobrepeso ou obesidade: peso pré-gestacional OBSERVAÇÃO: Para cálculo do peso desejável para gestantes adolescentes pode utilizar a fórmula a seguir adotando-se o valor mediano (percentil 50) correspondente ao IMC de meninas das curvas da OMS (2006/2007). Peso desejável = IMC mediano (curvas OMS 2006/2007) x E2 (m) Nível de atividade física: 3º passo: após oobtido o GET multiplicar por 1,01 que é a energia necessária para o crescimento. 4º passo: adicional energético recomendado para o período gestacional: FAO/OMS 285 kcal (ativas) 200 kcal (sedentárias) Desde 1º trim NRC (RDA) => 11 a 14 anos 500 kcal Desde 2º trim Gutierrez e King => 15 a 24 anos 300 kcal Desde 2º trim Accioly* 85 kcal/dia 285 kcal/dia 475 kcal/dia 1º trimestre 2º trimestre 3º trimestre *Quando o início do pré-natal se dá no 2º ou 3º trimestres, para mulheres não obesas, sugere-se somar as 85 kcal requeridas no 1º trimestre às 285 kcal requeridas no 2º trimestre e a recomendação passa a ser de 360 kcal/dia no 2º trimestre e 475 kcal/dia no 3º trimestre. O cálculo do adicional energético individualizado é igual ao de gestantes adultas. Tratando-se de uma adolescente biologicamente imatura, recomenda-se um adicional de 150 kcal/dia, além do extra da gestação normal. No caso daquelas biologicamente maduras, a avaliação segue os critérios das gestantes adultas (Chemin). Quanto mais próximo da menarca, maiores são os riscos nutricionais, em função das necessidades aumentadas (Chemin). Segundo a ADA, quanto mais fatores de riscos estiverem presentes, maior deve ser o valor energético recomendado, podendo variar de 38 (Vitolo) - 40 a 50 kcal/kg de peso ideal (Chemin). Recomendação proteica Adicionais iguais aos das gestantes adultas são utilizados pois a necessidade diária é a mesma: 0,91 g/kg/dia considerando o peso pré- gestacional somado à: - Adicional de 6g/dia (OMS) - Adicional de 10g, com ingestão total de 60g/dia (NRC) ADA: Recomenda ≤ 15 anos 1,7g/kg e > 15 anos 1,5g/kg (Chemin e Vitolo). Recomendações de vitaminas e minerais Dan: Estudos demonstram alta prevalência de deficiências nutricionais de cálcio, ferro, zinco, riboflavina, ácido fólico e vitaminas A e D. Estudos mostraram que a ingestão diária de cálcio inferior a 2/3 da recomendação pode afetar negativamente o desenvolvimento ósseo do feto devido a oferta limitada de cálcio. Devido a essa ingestão insuficiente de nutrientes, suplementos nutricionais podem ser indicados para gestantes adolescentes. A depleção de ferro está associada com a redução da oxigenação fetal 9 e maior risco de complicações como BP ao nascimento, prematuridade e risco aumentado de natimorto. Gestantes adolescentes com risco de inadequação alimentar devem receber suplementação de cálcio, vitamina B6, vitamina C e acido fólico. Inclusão de fontes de vitamina C em refeições contendo ferro de origem vegetal. Dar ênfase a leite e derivados (necessidade de cálcio e proteínas), carnes em geral (ferro e proteínas), vegetais folhosos, amarelos e vísceras (vitamina A e ácido fólico) e frutas (vitaminas, em especial a C). As gestantes adolescentes têm recomendações maiores que as de gestantes adultas de: vitaminas B1, vitamina B2, niacina, vitamina D, cálcio e fósforo (Chemin e Vitolo). Deve-se garantir boas fontes de cálcio para o término do crescimento e a formação do esqueleto fetal e procurar estabelecer horários regulares, incluindo lanches com produtos lácteos, frutas e vegetais, para alcançar as necessidades (Chemin). Recomenda-se suplementação de: ferro, zinco, folato, cálcio, vit B6, vit C, vit A e magnésio quando não for possível alcançar a ingestão dietética adequada. Para vegetarianas: suplementação de vit B12 e vit D (Accioly). Orientações nutricionais Esclarecer a importância do ganho de peso gestacional adequado e os benefícios da alimentação equilibrada para atender às necessidades materno- fetais, melhorar o resultado obstétrico, crescimento linear materno e contribuir para lactação; Desencorajar consumo de fast-foods e lanches rápidos em substituição às grandes refeições; Contemplar nos lanches rápidos grupos básicos de alimentos; Estimular uso de alimentos fortificados; Desencorajar consumo de doces, refrigerantes e bebidas alcoólicas (calorias vazias); Monitorar consumo de alimentos diet e light pelo conteúdo de edulcorantes artificiais (sacarina e ciclamato são contraindicados); Estimular a prática de amamentação através do preparo da mama. Dar orientações sobre aleitamento e vantagens do leite materno; Incluir a gestante adolescente em grupos de assistência multiprofissional. 10 SÍNDROMES HIPERTENSIVAS DA GESTAÇÃO (SHG) OU DISTÚRBIO HIPERTENSIVO ESPECÍFICO DA GESTAÇÃO (DHEG) OU TOXEMIA No Brasil 26,5% dos óbitos maternos se devem a eclâmpsia e pré-clâmpsia. As SHG podem propiciar BPN (PN < 2,5kg), asfixia, RCIU, aumenta a necessidade de partos cirúrgicos e prematuros, devido ao sofrimento fetal, morte fetal e morte perinatal. Pode se desenvolver: vasoespasmo, depleção de volume intravascular e a hemoconcentração (Krause). E anorexia (Chemin). Tanto em casos de eclâmpsia como em casos de pré-eclâmpsia apresentam hipoalbuminemia e hipovolemia, com consequente hemoconcentração podendo mascarar uma possível anemia (Chemin). Etiologia Causas: produção excessiva de hormônios placentários e supra-renais e desequilíbrio entre substâncias vasodilatadoras (prostaciclina, óxido nítrico) e vasoconstrictoras (tromboxano e endotelina). Esse desequilíbrio pode causar vasoespasmos, dano endotelial, agregação placentária e consequentemente aumento da pressão arterial. Em gestantes normais ocorre hiperlipidemia, contudo nos casos de PE, os níveis são mais elevados, sugerindo que o metabolismo lipídico anormal possa ter um papel na gênese da PE (Accioly). A principal etiologia da pré-eclâmpsia é o desequilíbrio entre pró-oxidantes e antioxidantes (Dan). Está associada ao fluxo sanguíneo uterino diminuído, levando a um tamanho placentário diminuído, nutrição fetal comprometida e um feto com RCIU (Krause). Na pré-eclâmpsia ocorre redução da taxa de filtração glomerular e aumento da sensibilidade a angiotensina (vasoconstritora) e redução do volumenatriurético atrial. Fisopatologia Em uma gestação normal os ajustes fisiológicos ocorrem logo após a fecundação do óvulo e a gestação progride graças à tolerância imunológica entre tecido materno e fetal, com carga paterna. Esta tolerância é responsável pelos ajustes fisiológicos anatômicos, funcionais, bioquímicos, na circulação materna e uteroplacentária. Alterações bioquímicas normais incluem alterações nos sistemas de prostaglandinas (prostaciclinas e tromboxanos) que são formados a partir do ácido araquidônico. Há predominância da síntese de prostaclinas, que são vasodilatadoras e antiagregante plaquetárias sobre a ação dos tromboxanos que são vasoconstritores, acentuando a agregação plaquetária e adesividade às paredes vasculares, produzindo plaquetas. Uma das consequências é a vasodilatação generalizada, com diminuição da resistência vascular. Com isso, os vasos maternos ficam mais refratários e permitem maior acomodação de sangue. Por razões ainda desconhecidas, algumas gestantes desenvolvem hipertensão arterial. Nesta situação tem- se o aumento de tromboxano e diminuição da prostaciclina. Além disso, a invasão trofoblástica nos vasos uterinos não ocorre ou ocorre de forma incompleta, havendo preservação da camada muscular, o que faz com que estes tenham resistência aumentada. O aumento da pressão materna é uma tentativa de manter o fluxo sanguíneo mínimo eficaz em um sistema vascular de alta resistência. Contudo, tal situação leva à hipóxia tecidual em órgãos alvo, como rins, cérebro, pulmão, olhos e PLACENTA. 11 Fatores de risco Gestantes obesas (Accioly e Krause) e tensas, de baixa estatura e brevelíneas. Fatores mesológicos: influência da distribuição geográfica e clima. Mulheres com diabetes mellitus com proteinúria, hipertensão arterial crônica e nefropatia hipertensiva (Accioly e Krause). Mulheres com doenças autoimunes como artrite reumatóide e DM tipo 1 (Krause). Mulheres com idade > de 40 anos (Accioly e Krause) e adolescentes com idade ≤ 16 anos. Primigestas são 6 a 8 vezes mais susceptíveis. História familiar de hipertensão (Accioly e Krause) Negras (Accioly e Krause), hindus, árabes mulçumanas, judias iraquianas. Dieta hipoproteica ou deficiente em cálcio. Estado de vitamina D baixo (Krause). Tabagismo: resultados contraditórios, mas deve ser desencorajado. Gestantes com menor escolaridade e as que trabalham fora do domicílio. Gestantes do grupo sanguíneo AB. Gestações múltiplas (gêmeos) têm risco 5 vezes maior (Accioly e Krause). Polidramnia. Situações de hipovolemia, como elevadas altitudes, aumentam a incidência de pré-eclâmpsia e BPN. Nulíparas (Krause e Accioly). Dietas ricas em energia, sacarose (açúcar) e ácidos graxos poliinsaturados (Chemin). Síndrome de resistência à insulina (Krause). Mulheres com hipertensão há pelo menos 4 anos (Accioly). Homozigosidade ou heterozigosidade para o gene T235 (Krause). Para pré-eclâmpsia: - Segundo MS primigestas, história familiar ou pessoal de PE ou E, gestação gemelar, HA crônica, nefropatia, lúpus, diabetes e mudança de parceiro. - Dan: nuliparidade, idade < 20 ou > 40 anos, raça negra, solteiras, baixa escolaridade, sobrepeso, pressão arterial sistólica aumentada no primeiro trimestre e história prévia de pré-eclampsia ou hipertensão gestacional. Diagnóstico Hipertensão gestacional: -Accioly e Vitolo: hipertensão SEM proteinúria com aparecimento após a 20ª semana gestacional; -Chemin: quando há aumento de PA em 2 ou mais momentos em espaço de 6hs, aumento de 30mmHg ou mais na pressão sistólica e/ou 15 mmHg ou mais na diastólica, ou superior a 140x90mmHg; -Krause: É definida como uma pressão de 140/90mmHg ou mais sem proteinúria Aparecimento a partir do 3º trimestre (Krause). Hipertensão crônica: -Accioly: presente antes ou diagnosticada até a 20ª semana gestacional. -Vitolo: ≥ 140x90 pré-gestacional ou após a 20º semana gestacional, quando persistir por mais de 12 semanas após o parto. Classificação PAS (mmHg) PAD (mmHg) Normal < 120 < 80 Pré- hipertenso 120-139 80-89 Hipertensão Estágio 1 140-159 90-99 Estágio 2 ≥ 160 ≥ 100 Pré-eclampsia: -Accioly e Vitolo: pressão arterial ≥ 140 x 90mmHg ou aumento de 15mmHg na pressão diastólica conhecida previamente e PROTEINÚRIA SIGNIFICATIVAvalores ≥ 300mg na urina de 24h. Geralmente após a 20ª semana gestacional. Pré-eclâmpsia grave é definida como: PA sistólica de 160mmHg ou PA distólica de 110mmHg ou mais de 5 g de proteínas em urina de 24 horas (Krause). Utilizam- se anticonvulsivantes na tentativa de prevenir convulsões eclâmpticas (Chemin). A PE se torna grave quando 1 ou mais critérios também estiverem presentes: PA diastólica ≥110mmHg Proteinúria ≥ 2g/L em 24h Oligúria (< 500ml/dia ou 15ml/h) Creatinina > 1,2mg/dl Sinais de encefalopatia hipertensiva / insuficiência cardíaca / dor epigástrica Plaquetopenia (<100.000/mm3) Aumento das enzimas hepáticas e de bilirrubinas Presença de RCIU e coagulopatia Eclâmpsia: Presença de convulsões generalizadas não causadas por epilepsia ou qualquer outra patologia, em gestantes com qualquer dos quadros hipertensivos anteriores, podendo ocorrer na gravidez ou parto ou puerpério imediato. A morte fetal ocorre com frequência (Krause). Outros sinais como: cefaleia, agitação psicomotora, distúrbios visuais e epigastralgia. Além de tontura, anorexia, náuseas e vômitos (Krause). Tanto a pré-eclâmpsia como a eclâmpsia podem apresentar, como dados clínicos da síndrome, hipoalbuminemia e hipovolemia, com consequente hemoconcentração, podendo até mesmo mascarar uma anemia. A albumina sérica aceitável para gestantes é de 3,5g/100ml, podendo chegar até 2g/100ml (Chemin). Síndrome HELLP: Surge como agravamento da PE, caracterizado por hemólise, aumento das enzimas hepáticas e plaquetopenia. Os sinais de extrema gravidade são: ICC, hepatomegalia dolorosa, icterícia, cianose, diurese inferior a 500ml/24h. Apresenta os piores resultados maternos e perinatais pois pode ocorrer descolamento prematuro da placenta, insuficiência renal, coagulopatia grave, choque e alterações neurológicas e essas alterações elevam a mortalidade perinatal e materna. Definição de DHEG: presença de 3 sinais e sintomas característicos: PA > 140x90 mmHg; edema e proteinúria (> 0,3g/24hs) (Chemin). 12 Resumo (Vitolo): Tratamento Objetivo: atingir o melhor resultado obstétrico, concepto com boas condições de evolução e a completa restauração da saúde materna. Consulta inicial - identificar fatores de risco, história obstétrica pregressa e avaliação nutricional detalhada, compreendendo: - Avaliação clínica: presença de edema, níveis de PA, diurese, evolução da altura uterina, estado geral da gestante e sinais de vitalidade fetal. - Avaliação antropométrica: atenção ao ganho de peso súbito (>0,5kg/semana) associado à hipertensão. Seguir as mesmas recomendações da gestante não hipertensa. - Avaliação dietética: método usado inquérito dietético frequência de consumo semi-quantitativo. Identificar ingestão inadequada de energia, proteína, vitaminas A, C e E e de minerais cálcio e sódio. - Avaliação bioquímica: hemograma, contagem de plaquetas, função renal (ácido úrico, uréia e creatinina), proteinúria, urina, ECG, oftalmoscopia e em casos graves: função hepática (transaminases) e coagulograma. ORIENTAÇÃO NUTRICIONAL: Para hipertensão gestacional ou crônica ou PE: Estágio 1: Tratamento ambulatorial Dieta normossódica (até 6g/dia), evitando-se alimentos ricos em sódio; Dieta semelhante a uma gestante normal: cloreto de sódio até 7g/dia (Chemin); Hiperproteica (2g/kg/dia) visando correção de hipoproteinemia e adequado desenvolvimento fetal; Adequada em vitaminas (ênfase em vitaminas A,C e E) e minerais (ênfase em cálcio – 2000mg/dia); Preferir frutas, legumes e verduras, cereais integrais, leguminosas, leite e derivados desnatados, quantidade reduzida de gorduras saturadas, trans e colesterol (Accioly); Preferir óleos vegetais: soja, milho, girassol e canola; 2a 3 porções de peixe por semana (Accioly). Conclusão: dieta normocalórica, normossódica e hiperproteica. Estágio 2 (≥160 e 100mmHg): Internação obrigatória Dieta normossódica (6g/dia de NaCl); Em casos de hipertensão grave persistente ou crônica, pode-se adotar a dieta hipossódica, com no máximo 2 a 3g/dia de NaCl de adição; Chemin: em casos de maior gravidade 2g de NaCl/dia ou menos e HA crônica limite máximo de 2g/dia; A consistência deve variar de acordo com o grau de consciência materna; Demais recomendações são iguais. Algumas pacientes com SHG têm o volume reduzido, e por isso não é recomendada uma restrição drástica de sal, abaixo de 2 a 4 g/dia, lembrando que o sódio inerente aos alimentos representa cerca de 1g (Chemin). Eclâmpsia: Dependendo do grau de consciência: sonda nasogástrica ou nasojejunal; Seguir conduta da PE estágio 2. Classificação da hipertensão arterial sistêmica na gestação Hipertensão crônica PAS ≥140 mmHg OU PAD ≥90 mmHg pré-gestacional ou após 20° semana de gestação e quando persistir por mais de 12 semanas após o parto Pré-eclâmpsia PAS ≥140 mmHg OU PAD ≥90 mmHg com proteinúria (>300 mg/24h) após a 20°semana de gestação. Pode progredir para eclampsia (convulsões). Mais comum em mulheres primigestas, com gestação múltipla, diagnóstico de HAS ≥ 4 anos, história familiar de pré-eclâmpsia, HAS em gestação prévia, doença renal Hipertensão crônica com sobreposição de pré- eclâmpsia Proteinúria após a 20° semana gestacional sem proteinúria. O diagnóstico temporário pode representar uma fase prévia à pré- eclampsia ou a recorrência de hipertensão crônica em período gestacional mais avançado. Quando grave, pode resultar em altas taxas de nascimentos prematuros, retardo do crescimento e pré- eclampsia Hipertensão gestacional HAS após a 20° semana gestacional sem proteinúria. O diagnóstico temporário pode representar uma fase prévia à pré-eclâmpsia ou recorrência de hipertensão crônica em período gestacional mais avançado. Quando grave, pode resultar em altas taxas de nascimentos prematuros, retardo de crescimento e pré-eclâmpsia Hipertensão transitória Diagnóstico retrospectivo Pressão arterial normal 12 semanas após o parto Pode reaparecer na gestação seguinte Preditiva de HAS primária futura PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica 13 Síndrome HELLP: A conduta obstétrica na síndrome HELLP não está bem definida, sendo ainda motivo de controvérsia. Em linhas gerais, pode-se adotar a conduta similar a adotada na PE estágio 2. Aspectos nutricionais e SHG: Ganho de peso Ganho de peso gestacional e edema: aumento ponderal súbito e excessivo durante a gestação é considerado sinal sugestivo de SHG; O controle de ganho de peso contribui para reduzir os riscos de SHG (Chemin); O ganho de peso de 1kg/semana ou 3kg/mês pode ser uma manifestação de SHG em evolução, em alguns casos o ganho pode ser de até 5 kg/sem; O Ministério da Saúde recomenda que gestantes com ganho ≥ 0,5 kg/sem, mesmo sem aumento de pressão arterial merecem maior investigação. Proteínas: Papel das proteínas na SHG: equilíbrio hidroeletrolítico realizado pela albumina sintetizada no fígado a partir de proteínas dietéticas lactoalbumina, caseína do leite, clara de ovo, músculo bovino e fígado, além de transporte de lipídios pelas lipoproteínas e síntese tecidual. Na 2º metade da gestação é observada uma queda dos níveis de proteínas séricas de 7,3g% para 6,6g%, e a albumina sérica, que é a de maior poder osmótico, cai de 4,63g% para 3,34g% no 7º mês, contribuindo para formação de edema (Accioly). O edema pode ser visível quando há formação de cacifo característico, ou oculto, quando mascarado pelo rápido ganho de peso. A dieta deve ser HIPERPROTEICA (≥ 2g/kg/dia) para compensar a proteinúria, principalmente de alto valor biológico (carne vermelha, leite, queijo e ovos), pois tem um aminograma semelhante ao da albumina sérica, favorecendo sua síntese (Chemin). Energia: Não se deve fazer restrição calórica a fim de controlar ganho de peso e reduzir complicações, pois pode desviar proteínas para produção de energia. Existe maior frequência de SHG em mulheres com peso deficiente e/ou ganho de peso inadequado. Além disso, para função proteica normal é necessária uma adequada oferta de energia não proteica. Lipídios: Óleo de peixe (ômega 3, n-3, EPA- eicosapentanóico): há associação entre sua suplementação e menor prevalência de PE, a explicação parece ser a inibição da produção de tromboxano e o aumento de prostaciclina (vasodilatadora). Com isso, aumenta-se a vasodilatação e reduz-se a agregação placentária. Altas doses de óleo (1,8g/10ml) associadas a outros nutrientes, como o retinol, vitamina D e E, no início da gravidez, podem aumentar o risco de SHG (Accioly). Sódio: O sódio é um nutriente indispensável para o controle do compartimento fluido extracelular, pois quando o volume extracelular está aumentado, o sódio é necessário para manter a concentração iônica normal. O apetite por sódio está aumentado na gestação o que propicia expansão do volume plasmático, liquido amniótico e atendimento das necessidades fetais. Os requerimentos de sódo giram em torno de 25g de sódio ou 60 g de NaCl durante toda gestação, com uma média de 4meq/dia. O uso de diuréticos causa perda de fluido e diminuição no volume intravascular comprometendo ainda mais o feto (Krause). O Ministério da Saúde recomenda para tratamento da hipertensão dieta com em torno de 6 gramas de cloreto de sódio/dia e de sódio < 2,4 g/dia. Cálcio: Indispensável para formação óssea, contração muscular, transmissão neural, coagulação sanguínea, atividade enzimática e transporte de membrana. Na gestação ocorre expansão do volume extracelular, aumento da filtração glomerular, aumentando a excreção renal de cálcio (calciúria), e aumento da demanda de Ca para atender as necessidades fetais, pois são acumulados 30g ao longo da gestação e o transporte mãe-filho aumenta com a progressão da mesma, para isso, a ingestão materna deve ser aumentada. Parece haver relação inversa entre ingestão de cálcio e desenvolvimento de PE na gestação. A baixa ingestão de cálcio aumenta hormônio paratormônio (PTH) que aumenta a contração da musculatura lisa e por fim aumenta a PA. Entretanto outro estudo mostrou que a suplementação com cálcio durante a gestação não impede a hipertensão induzida pela gravidez (Krause). A suplementação com pelo menos 1g de Ca/dia reduz o risco de PE e hipertensão gestacional, principalmente nas mulheres em risco e com baixa ingestão, mas o efeito no concepto não está claro (Accioly). Recomendação: gestantes de alto risco, com histórico de SHG, devem ser suplementadas com 2g/dia de Ca2+ a partir do 2º trimestre gestacional. A FDA concluiu que a relação entre cálcio e o risco de hipertensão é inconsistente e inconclusiva, e a relação entre cálcio e o risco de hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia é altamente improvável (Dan). Magnésio: Há associação entre a suplementação e menor prevalência de PE e RCIU. O sulfato de magnésio reduz em 50% o risco de eclâmpsia, com menor risco também de morte materna (Chemin). Segundo a Krause, ele serve para tratar convulsões de mulheres com eclâmpsia e prevenir as convulsões nas mulheres com pré-eclâmpsia. Vitaminas A (ou carotenóides – Krause), C e E: Devem ser recomendadas visando à prevenção das SHG pelos seus poderes antioxidantes evitam a lesão endotelial e a ação vasoconstrictora do tromboxano. São capazes de ajudar a prevenir a pré- eclâmpsia (Krause). Não há evidências que suportem a suplementação de antioxidantes de rotina durante a gestação para reduzir risco de pré-eclâmpsia ou outras complicações. X o uso de polivitamínicos esteve associado a uma redução de 45% no risco de pré-eclâmpsia (Dan). Conduta geral em todas as SHG: Controle do ganho de peso gestacional Controle do estresse e infecções Orientar para evitar o fumo 14 Ter repouso noturno de 8hs e diurno de 2hs para aumentaro fluxo plasmático e filtração glomerular que favorece a natriurese Monitoramento da vitalidade e crescimento fetal Prevenção para gestantes de alto risco: Uso de ácido acetilsalicílico (aspirina – 50-100mg/dia) em baixas doses a partir da 14ª -16ª semana, o que ainda é controverso. 15 DIABETES MELLITUS NA GESTAÇÃO As gestantes diabéticas podem ser divididas em: Diabetes prévia: pode ser do tipo 1 ou 2, sendo um grupo de desordens metabólicas caracterizado pela hiperglicemia, resultante de defeitos na secreção de insulina, ação desta ou ambos. Diabetes gestacional (DG): algum grau de intolerância à glicose com início ou reconhecimento na gestação, geralmente após a 20ª semana de gestação, podendo ou não persistir após o parto. Na maioria das vezes ocorre em razão da incapacidade funcional do organismo em compensar a aumentada resistência à insulina que ocorre na gravidez (Chemin e Vitolo). Segundo Vitolo, a prevalência é de 0,15% a 12,3%. Segundo Accioly, 7% das gestações são complicadas pelo DG. De acordo com os dados do SUS a prevalência de DG em mulheres adultas é de 7,6% e o diabetes prévio representa 10% dos casos de mulheres com diabetes na gestação. Segundo Chemin, sua prevalência pode alcançar 14% das gestações e além disso, o DMG representa cerca de 90% dos casos de gestantes com diabetes. A mulher com Diabetes gestacional tem sintomas similares a DM clássica como a glicosúria, mas os níveis de glicose elevados não chegam a ser tão altos como na DM clássica e nem se desenvolve cetose (Krause). Fatores de risco: História de macrossomia (peso ao nascer >4,0kg) (Accioly e Dan) Antecedentes obstétricos insatisfatórios como RCIU Crescimento fetal excessivo Medida da altura uterina maior que a esperada Polidrâmnio Glicosúria gestacional Diabetes em gestações anteriores (Accioly e Dan) Intolerância prévia à carboidratos (Accioly e Dan) Idade materna > 25 anos (Accioly e Dan) Obesidade central Baixa estatura Ganho ponderal excessivo Ganho de peso ≥ 6,8kg num intervalo ≤ 24 meses entre gestações Hipertensão arterial História de pré-eclâmpsia ou eclâmpsia Ganho excessivo de peso (> 5kg) entre 18 e 25 anos (Chemin) IMC acima de 25 (Chemin e Dan) Baixa estatura (≤ 1,50cm) (Accioly) Síndrome do ovário policístico ou outras associadas ao hiperinsulinismo (Accioly) Uso de corticoesteróides (Dan) Etiologia: Redução na secreção pancreática de insulina - Na gestante normal há uma hipersensibilidade das células β a seus secretagogos (maior resposta insulino- secretora a glicose), na gestante diabética isso pode não acontecer por alguns fatores como falta de expansão das células pancreáticas e insuficiente reserva de insulina. Alteração nos receptores de insulina - A sensibilidade ao hormônio ou o número de receptores pode estar diminuída. Alteração na secreção de glucagon - Há uma diminuição na relação molar insulina/glucagon. Desequilíbrio dos hormônios contra regulatórios - Aumento de estrogênio, progesterona, lactogênio placentário e cortisol (hormônios contra insulínicos) levam a menor eficácia da insulina em sua ação periférica. Vitolo: Fatores de risco para rastrear Diabetes Gestacional Reichelt et al. (2002) Idade superior a 25 anos Obesidade ou ganho excessivo de peso na gravidez atual Deposição central excessiva de gordura corporal História familiar de diabetes em parentes de 1º grau Baixa estatura (≤ 1,5m) Crescimento fetal excessivo, polidrâmnio, hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez atual Antecedentes obstétricos de morte fetal ou neonatal, de macrossomia ou de DG ADA (2010) Idade= 25 Sobrepeso/obesidade: IMC > 25 kg/altura²(m) Antecedentes familiares (primeiro grau) Antecedentes de alteração no metabolismo de glicose Antecedentes obstétricos: perdas gestacionais de repetição, DG, polidrâmnio, macrossomia, óbito fetal/neonatal sem causa determinada, má- formação fetal, hipoglicemia neonatal e síndrome de desconforto respiratório Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)(2010) Gravidez atual: ganho de perda materno excessivo, macrossomia fetal Polidrâmnio Uso de fármacos hiperglicemiantes (corticosteroides e diuréticos tiázidicos, entre outros) Síndrome dos ovários policísticos (SOP) Síndrome metabólica: dislipidemia, hipertensão arterial e resistência à insulina Efeito diabetogênico da gestação: a) Hormônio Lactogênio Placentário (HPL): ação anabólica, glicogênica, lipolítico-materno e promove a glicogenóliise hepática materna. b) Estrogênio: ação antogônica à insulina. c) Progesterona: diminui a eficácia da insulina nos tecidos periféricos inibindo sua secreção. d) Cortisol: estimula gliconeogênese a partir de protólise tecidual. Tem ação antagônica à insulina no músculo e tecido adiposo. e) Insulina: ocorre aumento de sua secreção à medida que a gestação progride. A secreção materna é 16 aumentada no período pós-prandial e diminuída no jejum. Sofre ação de outros hormônios diminuindo sua eficácia. Evolução do Diabetes na gestação: Na 1ª metade ocorre menor necessidade de insulina, por conta de sintomas digestivos, menor ingestão alimentar e transferência de glicose aumentada para o feto. A 2ª metade da gestação é conhecida como um estado diabetogênico, pela crescente produção de hormônios contra-insulínicos, associada ao aumento da secreção de insulina porém com menor eficácia, gerando maior tendência à cetoacidose e cetonúria. No pós-parto a necessidade materna de insulina retorna aos valores pré-gestacionais, bem como a glicemia. A glicemia deve ser reavaliada em 6 a 12 semanas após o parto empregando-se o teste oral de tolerância à glicose com 75g de glicose e não com a hemoglobina glicada. Para mulheres com diagnóstico de DG deve-se investigar o possível desenvolvimento da doença a cada 3 anos após a gestação. Repercussões maternas: Maior incidência de síndromes hipertensivas da gravidez (Accioly e Krause) Polidramnia Infecções urinárias e pielonefrite Hipoglicemia Cetoacidose Trabalho de parto prematuro Necessidade de parto cirúrgico (Chemin) Risco de desenvolvimento de DM tipo 2 (25% tornam-se diabéticas após a gestação – Chemin X 40% a 60% podem desenvolver DM2 após o período de 15 a 20 anos – Krause) Glicosúria e cetonúria(Vitolo) Lesões vasculares nos rins e retina As gestantes que têm maior risco de DM2 são as que necessitam de insulina para manter o controle glicêmico e aquelas com IMC acima de 30, sendo que para diminuir o risco as mulheres devem manter o peso dentro dos parâmetros normais e fazer exercícios regulares (Vitolo). Repercussões para o feto: Macrossomia (peso ao nascer > 4,0kg) (Accioly e Krause) Asfixia, sofrimento fetal durante o parto que pode levar ao óbito fetal Prematuridade Complicações pulmonares Hipocalcemia e hipomagnesemia Hipoglicemia fetal e neonatal (Chemin) Distúrbios metabólicos (hipoglicemia fetal, hiperbilirrubinemia, hipocalcemia, hipomegnesemia, policitemia) Má-formação congênita. Dan: Aumento no risco de anomalias fetais (2-3 vezes mais), causadas principalmente devido a hiperglicemia materna periconcepcional. Hipóxia, presença de cetonas, anormalidades nos aminoácidos e glicosilação de proteínas, também têm sido relacionadas como potenciais teratogênicos DM descontrolado no início da gravidez está associado a aborto espontâneo no 1º trimestre (Dan) Morte fetal intrauterina e morbidade fetal (Krause) Corioamnionite (Krause) Mortalidade perinatal (Krause e Chemin) Prematuridade (Krause) Traumas de nascimento (Chemin) Desproporção cefalo-pélvica (Chemin) Recém-nascidos com níveis mais baixos de ferro no fígado, coração e cérebro devido a hipoxemia fetal pela formação de hemoglobina glicosilada (Vitolo) Recém-nascidos com maior propensão a obesidade e tolerância diminuída a glicose na vida adulta (Vitolo) Gestantes sem Diabetes, mas com níveis elevados de glicose durante a gravidez têm risco significativo de macrossomia, prematuridade e corioamnionite (Krause)Causas de macrossomia: Hiperglicemia materna leva ao maior fornecimento de glicose para o feto, como consequência, ele eleva sua secreção de insulina, aumentando a deposição de gordura (anabolismo) Maior passagem de ácidos graxos livres para o feto. Alterado metabolismo proteico, lipídico e síntese exagerada de glicogênio Aumento de GH e de hormônios adrenocorticais que favorecem a passagem de glicose para o feto (Chemin e Vitolo) Fatores hereditários (Chemin e Vitolo) A macrossomia fetal está associada a complicações perinatais tais como (Vitolo): Morbidade materna Traumatismos de nascimento Hipoglicemia neonatal Bebês macrossômicos têm órgãos aumentados de volume, mas imaturos, há excesso de gordura corporal, massa muscular e organomegalias e preservação do cérebro. Após o nascimento, subitamente o fornecimento de glicose diminui e a insulina permanece alta, o resultado é um bebê hipoglicêmico, que pode necessitar de infusão de glicose (Krause). Diagnóstico de DG Chemin: 17 Inicialmente foi indicado que todas as gestantes no início do pré-natal fizessem o rastreamento, mas ficam excluídas aquelas que são de baixo risco: Idade inferior a 25 anos Peso corporal adequado Sem história familiar de diabetes e de aborto/natimorto e macrossomia sem explicação Ausência de filhos com anormalidades congênitas Sem histórico de alteração no metabolismo glicídico O rastreamento segundo o Ministério da Saúde deve ser universal, com avaliação da glicemia de jejum em todas as gestantes no início da gestação, antes da 20 a semana gestacional. Quando a glicemia for ≥ 85 mg/dL até 125 mg/dL e/ou na presença de fatores de risco (quadro 1), as gestantes devem ser submetidas à confirmação por meio do teste oral de tolerância à glicose (TOTG) após a ingestão de 75 g de glicose anidra em 250-300ml de água depois de jejum de 8-14hrs, entre 24 a 28 semanas de gestação. No TOTG a glicose plasmática é determinada em jejum e após 1 e 2hrs. Os pontos de corte e interpretação estão apresentados no quadro 2. Pontos de corte para o Teste de Tolerância a Glicose 75g (TOTG 75g 2h) Jejum 1 hora 2 horas 95 mg/dl 180 mg/dl 155mg/dl Interpretação: dois ou mais maiores ou iguais aos valores superiores aos pontos de corte descritos acima, considera-se DG. Caso um valor de glicemia esteja alterado, o TOTG deve ser repetido na 34ª semana de gestação. Nos casos de glicemia de jejum < 85mg/dL (rastreamento negativo) e na ausência de fatores de risco, deve-se repetir a glicemia de jejum entre a 24ª e 28ª semana gestacional. No caso de duas glicemias plasmáticas de jejum ≥ 126 mg/dL confirma o diagnóstico de DG, sem necessidade de TOTG. O MS ainda recomenda a dosagem de hemoglobina glicada para identificar risco de malformação. Em 2010 a International Association of Diabetes and Pregnancy Study Groups (IADPS) passou a recomendar o diagnóstico do DG a partir de novos pontos de corte de hemoglobina glicada, glicemia de jejum e de TOTG. Assim, para diagnóstico de DG: Parâmetro avaliado Valor de referência Glicemia de jejum ≥ 92 mg/dL TOTG – 1h ≥ 180 mg/dL TOTG – 2h ≥ 153 mg/dL Esta recomendação considera casos de DG a partir de 1 valor alterado no TOTG. Para diagnóstico de DM na gestação: Hemoglobina glicada ≥ 6,5% Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dL Glicemia ao acaso ≥ 200 mg/dL Krause 13 e Vitolo: Recomendações para diagnóstico de DMG: Tempo HAPO*Recomendações Padrões atuais Jejum < 92 mg/dL < 95 mg/dL 1 hora < 180 mg/dL < 180 mg/dL 2 horas < 153 mg/dL < 155 mg/dL 3 horas Não realizado < 140 mg/dL HAPO – Test Hyperglycemia Adverse Pregnany Outcome Vitolo: Se valores forem ≥ 85 a 90mg/dl indica rastreamento positivo e deve-se fazer TTOG com 75g de glicose, com avaliação após 2hs, se > 140mg/dl, DG está confirmado (Vitolo). Terapia nutricional: O diabetes é tratado com mudanças na dieta e exercícios moderados para controle de peso, deve-se atender as necessidades de crescimento fetal, impedir a cetose e o esgotamento das reservas maternas, mantendo níveis ótimos de glicose (Krause). O Ministério da Saúde recomenda manter o adequado, controle matabólico por meio da terapia nutricional, aumento da atividade física, suspensão do fumo, insulinoterapia (Accioly). A terapia nutricional objetiva suprir as necessidades nutricionais específicas da gestação, manter os níveis glicêmicos próximos da normalidade, promover adequado ganho de peso e evitar cetose (Dan). Deve-se usar apenas a insulina humana, pois hipoglicemiantes orais são contraindicados pelo possível efeito teratogênico e hiperbilirrubinemia neonatal. A insulina materna não atinge o embrião, o que torna pouco provável que a insulina exógena seja causa de anomalias congênitas associadas ao diabetes (Dan). Agentes hipoglicemiantes orais como a metformina estão sendo utilizados em alguns centros (Krause). Avaliação nutricional inclui: Avaliação antropométrica e ganho de peso recomendado: seguir mesma recomendação proposta para gestantes não diabéticas. Avaliação dietética: detalhar número e composição das refeições, grupos de alimentos presentes. Avaliar o uso excessivo de produtos dietéticos e não dietéticos, 18 investigar tabus, hábitos alimentares, alergia/intolerância alimentar, modificações alimentares em função de sinais e sintomas digestivos e presença de picamalácia. Método usado inquérito dietético frequência de consumo semi-quantitativo. Avaliação clínica: avaliar o funcionamento intestinal, sinais e sintomas digestivos e patologias associadas e identificar sinais de carências nutricionais específicas, níveis de PA e evolução da altura uterina. Avaliação funcional: avaliar a presença de cegueira noturna gestacional. Avaliação sociodemográfica e obstétrica. Avaliação dos exames complementares: ultrassonografia, dopplerfluxuometria, exames laboratoriais (sangue e urina). Orientação nutricional: Energia: A dieta deve permitir ganho de peso adequado. Deve seguir as mesmas recomendações que uma gestante sadia, com os seguintes acréscimos: Gestantes com peso pré-gestacional normal devem receber adição de 300kcal/dia a partir do 2º trimestre na sua dieta habitual; Para gestantes obesas (IMC > 30 kg/m2) há recomendação redução calórica na ordem de 30% (cerca de 25 kcal/kg/peso atual/dia) para reduzir a hiperglicemia, porém deve-se avaliar a adequação energética pela presença de cetonúria e de adequação do ganho ponderal; A perda de peso não é recomendada durante a gestação, mas para DMG com sobrepeso ou obesidade, pode-se fazer uma leve restrição de energia e carboidratos. Restrição de 30% do VET melhora do controle glicêmico sem causar cetose e sem prejudicar o ganho de peso (Dan); Usar de 30 a 35kcal/kg de peso ideal para a idade gestacional, e para gestantes acima do peso, 24kcal/kg de peso ideal (Chemin). Recomendações de macronutrientes: Accioly e Dan – ADA 2008: Fracionamento da dieta: A ingestão de carboidratos deve ser feita ao longo do dia em 3 refeições moderadas e 2 a 4 pequenas refeições. A ceia merece atenção devendo ser estimulada apara prevenção da cetose durante a noite. Deve ser fracionado em 5-6 refeições/dia, com menor volume, horários rígidos e intervalos regulares para facilitar o controle da glicose sanguínea. Não deixar de fazer nenhuma refeição (evitar hipoglicemia), assim como não juntar 2 refeições em uma (favorece a hiperglicemia) (Chemin). Para mulher insulino-dependente que está em aleitamento, é aconselhável que ela consuma 3 pequenas refeições e 3 lanches para evitar quedas nas concentrações de glicose sanguínea que podem ocorrer com uma grande produção de leite (Krause). Distribuição energética por refeições (ADA): Desjejum e Merenda 10 a 15 % Almoço e jantar 20 a 30% Colação e ceia 5 a 10 % Distribuição de macronutrientes para reduzir risco de macrossomia fetal e complicações (Vitolo): 40% de CHO, 40% de LIP (< 10% saturadas) e 20% de PTN. Carboidratos: Mínimo de 175 g (Accioly) Limitação de CHO no desjejum de 10 a 30g com a adição de 57 a 85g de proteínas nomeio da manhã para diminuir a fome e aumentar a adesão (Krause). Controlar o consumo de frutas (Chemin). Deve ser incentivado o consumo de CHO provenientes de frutas, vegetais, grãos integrais e leite desnatado (Dan). Fibras: A maior ingestão de fibras promove saciedade e consequente redução na ingestão energética total, reduzindo assim o tecido adiposo e a resistência a insulina. A ingestão de fibras também retarda o esvaziamento gástrico e a velocidade de absorção da glicose, reduzindo o aumento da glicemia e dos níveis de insulina pós-prandial (Dan). Fibras solúveis (pectinas, mucilagens e algumas hemiceluloses) atuam na redução dos níveis de LDL e melhoram níveis séricos de lipídios. São fontes de hemicelulose: leguminosa, aveia, cevada, maçã, laranja e cenoura. As fibras insolúveis (lignina e quitina, encontradas na linhaça, farelo de trigo e grãos integrais) ligam-se a sais biliares e reduzem a absorção de gorduras e colesterol, contudo, a sua ingestão está menos associado à redução dos níveis séricos de colesterol sérico (Accioly). Além de todas as fibras prevenirem constipação intestinal e hemorroidas. Recomendação: Fibras solúveis e insolúveis devem ser de 20 a 35g/dia (Accioly e Chemin) ou 14g/1000kcal (Accioly). A ingestão adicional de cada 10g/dia de fibras totais reduz 26% de risco de DMG, e cada 5g/dia de fibras de cereais ou frutas, reduz de 23 a 26% o risco de DG (Dan). Proteínas Adicional diário para o período gestacional de 10g ou ingestão total recomendada de 71g/dia. Lipídios: < 7% do VET de gordura saturada Colesterol < 200 mg/dia Desestimular a ingestão de ácido graxo trans Estimular o consumo de 2-3 porções de peixe por semana para o fornecimento de ácido graxo ômega 3 Vitaminas e minerais: Atenção ao atendimento das recomendações de ácido fólico, ferro e vitamina A. Não deve- se restringir o sódio como prevenção de SHG. A suplementaçao de ácido fólico no período pré- gestacional é importante para prevenção de defeitos congênitos do tubo neural – 5mg/dia, durante 60 a 90 dias antes da concepção. Suplementaçao de ferro = gestantes não-diabéticas CHO 45 a 65% PTN 15 a 20% LIP 20 a 35% 19 Atentar para o consumo de vitamina A e vitaminas antioxidantes. A dieta deve ser adequada em potássio, magnésio, zinco e cromo, pois a deficiência destes nutrientes pode agravar a hiperglicemia (Accioly). A hiperglicemia materna induz ao estresse oxidativo que pode gerar macrossomia fetal ou outras anomalias congênitas, os antioxidantes selênio, vitamina E e zinco, são importantes (Dan). Álcool e cafeína: Álcool deve ser desencorajado por conta do risco de síndrome Alcoólica Fetal. O uso de cafeína deve ser moderado (< 300mg/dia). A ingestão excessiva de café dificulta a absorção do ferro em até 35% por conta dos polifenóis presentes no café que formam grandes complexos moleculares com o ferro. Contagem de carboidratos (Accioly): É mais uma ferramenta nutricional, que visa o controle glicêmico em função das menores variações das glicemias pós-prandiais. A ADA destaca que dietas com baixo teor de CHO (<130g) não devem ser prescritas com a finalidade de controle glicêmico, podendo trazer efeitos deletérios. Recomenda-se 50 a 60% de CHO do valor energético total. Os carboidratos provenientes dos alimentos integrais, frutas, vegetais e produtos lácteos com baixo teor de gordura devem ser priorizados. A sacarose não precisa necessariamente ser restrita, porém incluída no total de carboidratos da dieta, evitando-se excessos. Entre os métodos existentes para se fazer a contagem, os mais amplamente utilizados são a lista de equivalentes e contagem da quantidade (g) de CHO. Índice glicêmico dos alimentos (Accioly): Permite a classificação dos alimentos em relação ao efeito que exercem na glicemia pós-prandial, em um mesmo indivíduo. A comparação é feita em relação à alteração na glicemia produzida após o consumo de um alimento considerado como referência (glicose ou pão branco). Atividade física: Deve-se aumentar visando o controle da glicemia, preferência para exercícios de pouco impacto no abdômen durante 20 minutos por 3 vezes na semana. Aleitamento materno: Deve ser estimulado e os casos de aleitamento materno, a necessidade de insulina é menor devido ao gasto energético para lactação. Em casos de flutuação da glicemia durante a amamentação as nutrizes devem ser orientadas a fazer um lanche antes ou durante a amamentação. Alimentos que devem ser evitados: A sacarose deve ser usada dentro do contexto de dieta saudável. Na prática clínica, a substituição de sacarose por adoçantes não-calóricos é útil. Deve-se desencorajar o consumo de alimentos ricos em gordura saturada e trans. Edulcorantes artificiais: São substâncias que apresentam ação adoçante, muito superior ao da sacarose, podendo ser de caráter natural (sacarose, frutose, esteviosídeo, sorbitol, manitol e xilitol) ou artificial (aspartame, ciclamato, sacarina, sucralose, acessulfame d de K e neotame). 20 Os edulcorantes não-calóricos aprovados para uso pelas gestantes são aspartame, acessulfame de K, sacarina, sucralose, neotame e, os álcoois açúcares disponíveis no Brasil - sorbitol, xilitol, manitol e amido hidrolisado. Accioly: Edulcorante Valor calórico (kcal/g) Ingestão diária máxima (mg/kg) Acesulfame-K 0 15 Aspartame 4 40 Neotame 0 2 Sacarina 0 5 Sucralose 0 5 Código para apresnetaçao dos edulcorantes contidos nos produtos industrializados: Edulcorante Código Sacarina INS 954 Ciclamato INS 954 Sucralose INS 955 Acessulfame K INS 950 Aspartame INS 951 Xilitol INS 967 Manitol INS 421 Sorbitol INS 420 Esteviosídeos INS 960 Acompanhamento pré-natal: O controle das gestantes com DG deve ser feito com glicemia de jejum e pós-prandiais semanais, além da auto-monitorização da glicemia capilar. Após 7 a 14 dias da orientação dietética, avaliar o perfil glicêmico, por meio de glicemia de jejum, 1 hora após o café da manhã e 1h após o almoço. Considera- se como anormal valores ≥ 95 mg/dL (jejum) e ≥ 140 mg/dL (1h após refeições). Se apenas um dos valores estiver alterado com o uso da dieta prescrita, é indicado o início da insulinoterapia. A glicosúria não é útil para monitorar o controle glicêmico na gravidez. Nas gestantes com diabetes pré-gestacional e naquelas em uso de insulina, o controle deve ser mais rigoroso, com medições diárias da glicemia pela manhã em jejum, antes do almoço, antes do jantar, 1 a 2 hrs após o almoço e 1 a 2 hrs após o jantar. Em caso de hipoglicemia noturna, medições adicionais podem ser realizadas ao deitar e durante a madrugada (2-3h). Mulheres diabéticas em idade reprodutiva devem planejar a gravidez. A insulinoterapia é indicada para mulheres que já faziam uso dela e iniciada em diabéticas tipo 2 que faziam uso prévio e hipoglicemiantes orais ou em casos em que não se obtêm o controle glicêmico citado acima após 2 semanas de dieta e para casos de macrossomia fetal. Os hipoglicemiantes orais são contraindicados, pois podem ter efeito teratogênico e causar hiperbilirrubinemia neonatal. 21 FRUTOSE Natural Maior poder adoçante; 80-90% é absorvida no intestino (+ lentamente que a glicose, sacarose e lactose); não exige insulina para seu metabolismo; não é tóxico; não é fator de risco para DM ou câncer, exceto quando consumido em excesso. Desvantagens: alto custo, elevação dos triglicerídeos, uso > 20g causa sintomas gastrointestinais como diarreia osmótica. A ADA não recomenda o uso de frutose na forma de edulcorante (Accioly) SORBITOL Natural Absorvido no intestino delgado (+ lento que a glicose e frutose); rapidamente convertido a frutose no fígado, com isso não necessita da insulina; promove redução do colesterol; não é mutagênico, tóxico, carcinogênico ou cariogênico. Desvantagens: aumenta excreção de minerais (Ca principalmente, que pode predispor a formação de litíase renal); dose >30g causa efeito diurético e dose > 10-50g causa flatulência, diarreia osmótica e cólicas intestinais. A ADA inclui o sorbitol nalista de substâncias consideradas como seguras (Accioly) ASPARTAME Artificial É hidrolisado no intestino delgado a ácido aspártico, fenilalanina e metanol; o excesso de fenilalanina pode causar efeito neurológico e variações do QI; seu consumo deve ser abaixo da dose máxima recomendada. Uso em extremo excesso: metanol é convertido em ácido fórmico que causa acidose metabólica e lesões oculares. Não deve ser usado por fenilcetonúricas independente de estarem grávidas. Não é nocivo durante a gestação devido a impossibilidade de se alcançar a quantidade de fenilalanina que causaria danos neurológicos ao feto – 1 lata a cada 8 min (Chemin) SACARINA Artificial Tem baixo custo; sabor residual amargo e metálico; comumente associada ao ciclamato e aspartame; liberada pelo FDA, mas deve ter seu consumo restrito pela falta de informações sobre seu efeito transplacentário, transmamário. É capaz de atravessar a placenta e em doses muito altas é fracamente carcinogênica em ratos (Krause). O feto tem baixa capacidade de excretá-la podendo permanecer nos tecidos fetais, portanto deve ser restringida (Chemin). Pode estar associado com tumores malignos e prejuízos no crescimento das crianças (Chemin) CICLAMATO Artificial Uso proibido pela FDA pelo seu efeito carcinogênico. É transplacentário podendo causar câncer, reabsorção fetal, anomalias cromossômicas, efeito teratogênico, reduz o peso de embriões. Parece estar relacionado com redução da fertilidade e menor ganho de peso fetal (Chemin) SUCRALOSE Artificial Obtido a partir da sacarose, com poder adoçante 400-800 vezes maior (600 – Krause); tem absorção prejudicada tornando-se uma substância não calórica; não tóxico; não cariogênico; sem efeito cancerígeno ou mutagênico e sem gosto residual. ESTEVIOSÍDIO Natural Proibido nos EUA e autorizado no Brasil; adoça 100-300 vezes mais que a sacarose; tem sabor doce retardado e demorado com característica de alcaçuz ou mentol; não é metabolizável no organismo; não fermentável; não cariogênica; não calórico e de baixo risco toxicológico. Atenção às marcas que possuem sacarina e ciclamato na sua composição. ACESULFAME-K Artificial É rapidamente absorvido, mas não é metabolizado; não afeta níveis glicêmicos e lipídicos; não tóxico; não cariogênico; não cancerígeno, mutagênico ou teratogênico; não tem efeito sobre o peso ao nascer e pode atravessar a placenta e aparecer no leite materno como a sacarina. É considerado seguro (Krause) NEOTAME (Accioly) Derivado da fenilalanina e ác aspártico tem poder adoçante 7.000 a 13.000 vezes superior ao da sacarose. É parcialmente absorvido no intestino delgado, rapidamente metabolizado e excretado nas fezes e urina. Pode ser utilizado por pacientes fenilcetonúricos. Não afeta a glicemia de jejum ou os níveis de insulina em pacientes com DM 2. É considerado seguro pela ADA. 22 NUTRIÇÃO NA LACTAÇÃO Estado nutricional materno e produção láctea A produção do leite é mais afetada pela frequência da sucção do lactente e o volume pode ser afetado pela hidratação materna, mas a composição varia de acordo com a dieta da mãe (Krause). Em caso de desnutrição materna (Severa – Accioly / grave IMC <18,5 – Chemin) pode ocorrer diminuição da produção láctea (Krause). Estudos recentes têm mostrado que para que o volume de leite seja afetado, a desnutrição materna precisa ser muito grave, mas que o conteúdo de gordura do leite é reduzido em estágios menos graves da desnutrição (Chemin). Sugere-se que proteínas antimicrobianas fornecidas pelo leite materno podem ser secretadas em quantidades menores se a mãe estiver desnutrida (Krause). Por outro lado, nutrizes com obesidade pré- gestacional e que apresentam ganho de peso excessivo durante a gestação apresentam risco aumentado de não iniciar a lactação, e apresentar retardo da lactogênese II e de interromper o aleitamento materno mais precocemente que nutrizes eutróficas (Accioly). O sobrepeso ou a obesidade podem dificultar o início ou a manutenção da lactação. É possível que o tecido adiposo da nutriz concentre progesterona, inibindo a lactogênese II. Além disso, a leptina pode inibir a ação da ocitocina, tanto na inibição de contrações uterinas quanto na ejeção do leite (Accioly). Nutrizes de baixo nível sócio econômico com condições inadequadas de vida produzem de leite por dia: 400 a 700ml 1º semestre de lactação 300 a 500ml 2º sem e 2º ano de lactação Nutrizes de bom nível sócio econômico produzem 600 a 900ml de leite/dia. Essa variação está associada a condições socioeconômicas difíceis e inadequada ingestão dietética combinadas com trabalho físico pesado. A produção média de leite nos primeiros 6 meses pode variar de 550 até mais de 1.200ml/dia, de acordo com a frequência da amamentação do bebê, com média de 750ml/dia (Krause e Chemin). No 2º semestre a produção pode cair para 600ml/dia, neste período a maioria dos bebês está consumindo alimentos sólidos e então diminuem as mamadas e também a necessidade energética da lactante (Krause e Chemin). Anticoncepcionais com estrogênio e progesterona inibem a prolactina, provocando diminuição da produção láctea (40%), retardando o crescimento do lactente a longo prazo. Álcool: Uso de bebidas alcoólicas em excesso (> 5 g/kg/peso equivalente a 2 latas de cerveja) podem provocar diminuição da produção láctea (inibem prolactina e ocitocina – Chemin). Seu consumo experimentalmente levou a redução do teor de vitamina A e aumento do conteúdo lipídico no leite, além disso, o álcool ingerido pela mãe pode estar presente no leite materno e ser percebido pelo bebê, diminuindo sua sucção, pode alterar o sono do lactente e causar deficiências psicomotoras. O consumo acima de 0,5g/kg de peso materno pode inibir o reflexo de ejeção do leite (Chemin). A ingestão de álcool muda o odor do leite, levando a recusa pela criança e também a menor poder de sucção que diminui a lactação (Vitolo). Nicotina: A presença de nicotina no leite pode causar vômitos, apatia, recusa de sucção, além de retenção de urina e fezes (Chemin). A nicotina é transferida para o LH em proporção ao número de cigarros fumados e pode provocar irritabilidade no lactente e inibir a prolactina, reduzindo o volume de leite produzido (Vitolo). Cafeína: Bebidas contendo cafeína influenciam no teor de ferro do leite humano e consequentemente na reserva hepática do lactente. Ainda, causa insônia e irritabilidade no bebê. A cafeína pode ser excretada no leite com pico 1 hora após a ingestão (Chemin). 1 xícara tem 100 a 150mg de cafeína (Vitolo). Indicadores antropométricos: O retorno ao peso pré-gestacional após o parto é influenciado pelo edema durante a gestação, peso pré- gestacional, peso pós-parto, paridade, idade materna e ganho de peso durante a gestação. Também estão associados com a mudança de peso no pós-parto: raça, tabagismo, exercício, retorno ao trabalho fora do lar e lactação (Chemin). Aproximadamente 20% das mulheres em lactação podem manter ou ganhar peso (Chemin). Segundo o IOM a taxa de perda de peso parece ser constante de 0,6 a 0,8kg/mês nos primeiros 4 a 6 meses de lactação, independentemente do peso corporal inicial. Quanto maior o ganho ponderal, maior a retenção de peso (Accioly). O fato da mulher ser desnutrida com alta paridade e mais idade as associa a grande perda de peso pós- parto. O aleitamento materno parece não estar associado, embora grande parte dos estudos encontre maior perda de peso após o parto em mulheres que amamentam por mais tempo, outros referem pouca diferença na perda de peso comparando métodos de aleitamento. Entretanto, a perda de peso após o parto é geralmente maior nos primeiros 3 meses e naquelas que amamentam ao seio exclusivamente (Accioly). A retenção de peso durante a gravidez é de 0,5 a 3,0kg, mas 14 a 20% das mulheres apresentam 5kg a mais 6 a 18 meses após o parto e isso pode estar associado aumento do excesso de peso nas mulheres no Brasil (Vitolo). Dietas com redução de 500kcal/dia associadas a exercícios físicos proporcionam perda de peso e massagorda, sem efeitos no volume e composição do leite bem como velocidade de crescimento (Accioly). A recomendação sobre a perda de peso após o parto será diferenciada de acordo com o estado nutricional da nutriz. 23 Accioly: Perda de peso recomendada após o parto. Índice de Massa Corporal (IMC) Meta Perda de peso recomendada < 18,5 (baixo peso) Alcance de um IMC saudável (eutrofia) - ≥ 18,50 e < 25 (eutrofia) Manutenção do peso dentro da faixa de eutrofia - ≥ 25,0 e < 30 (sobrepeso) Perda de peso até atingir IMC dentro da faixa de eutrofia 0,5 a 1 kg/mês ≥ 30,0 (obesidade) Perda de peso até atingir IMC dentro da faixa de eutrofia 0,5 a 2 kg/mês Nota: *Classificação do IMC segundo WHO, 2002. As lactantes saudáveis podem perder até 454g/semana sem comprometer a quantidade de leite fornecida para manter o crescimento do lactente (Krause). Considerando-se o acúmulo de ± 4kg na forma de tecido adiposo durante a gestação e o tempo para o restabelecimento do equilíbrio hídrico (2 a 4 semanas), a OMS recomenda o ponto de corte de 20,3kg/m2 para nutrizes 30 dias pós-parto. E sugere que, IMC abaixo de 18,5 representa risco para o binômio mãe-filho durante a fase de lactação. A avaliação da composição corporal pelas medidas de dobras cutâneas triciptal, biciptal, subescapular e suprailíaca possibilita estimar a quantidade de gordura localizada nas regiões periféricas e centrais do corpo e auxiliam na avaliação da reserva adiposa materna necessária para lactação (Chemin). A dobra triciptal é a mais usada em estudos, mas tem seu uso limitado em nutrizes, pois durante a gestação, a gordura corporal se mobiliza mais na região inferior do corpo. Neste caso, segundo a OMS, melhor seria a utilização da circunferência da coxa. Recomendações nutricionais Tab 1: Recomendações energéticas de lactação exclusiva: Conteúdo energético médio do leite de mães bem nutridas 70kcal/100ml 67kcal (Krause) Eficiência com que se converte o leite materno em energia láctea 80% (76-94%) Secreção média de leite (Krause) 800ml/dia 750ml/dia Calorias produzidas em 800ml de leite humano 560Kcal Calorias médias adicionais requeridas para lactante 700Kcal/dia Reservas energéticas (depósito de gordura corporal) 2-4Kg Aporte teórico de gordura de depósito durante os 6 primeiros meses 100-150kcal/dia Calorias adicionais requeridas 500kcal/dia Gasto energético para produção de 100ml de leite (Krause) 85kcal A lactação é a fase de maior demanda energética, ou seja, as necessidades energéticas são maiores que durante a gestação, pois em 4 meses o lactente dobra seu peso ao nascer. Depende do volume e composição do leite produzido e estado nutricional materno. Exigências energéticas na lactação Krause: Varia de acordo com o semestre de lactação: Até 6 meses de lactação 330kcal maior que a RDA de mulheres não grávidas Dos 6 aos 12 meses de lactação 400kcal maior Mulheres obesas e com sobrepeso podem não precisar do adicional. A mulher em lactação com sobrepeso pode restringir o seu consumo de energia em 500kcal por dia pela diminuição do consumo de alimentos ricos em gordura e açúcares simples, mas ela deve aumentar seu consumo de alimentos ricos em cálcio e vitamina D, especialmente frutas e hortaliças (Krause). Vitolo: As nutrizes com sobrepeso ou obesidade não devem fazer dietas, pois esta é fator de estresse e que pode prejudicar a lactação (Vitolo). Neste caso, o cálculo da dieta deve ser feita sem considerar o adicional da lactação e se o VET chegar a 2200kcal recomenda-se que este seja o valor energético diário, e que se oriente a nutriz quanto às porções alimentares com seus equivalentes, considerando os alimentos de sua preferência e disciplinando quanto os alimentos de baixo valor nutricional e que são muito desejados neste período (Vitolo). A eliminação ou restrição para no máximo 2 copos/dia de produtos como suco de frutas, chás, refrigerantes e refrescos, ajudam no controle da ingestão energética (Vitolo). 24 Chemin: A exigência energética da lactação é estimada a partir do GET, adicionado da quantidade de energia necessária para síntese de leite (representa um aumento de 4 a 5% na TMB) e da mobilização das reservas teciduais. Accioly: VET = GE (TMB x NAF) + adicional energético para lactação – energia para perda de peso Adicional de energia para lactação: 675kcal/dia no 1º semestre 460kcal/dia no 2º semestre Perda de peso: para cada Kg a ser perdido = 6500kcal Então: por ex. para perder 0,8kg: 0,8x6500 = 5200kcal/mês = 170 kcal/dia Cálculo final: 675 – 170 kcal = adicional de 505 kcal no 1º semestre Mulheres de BP não precisam desta dedução. Recomendação proteica Accioly: Segundo: OMS 2007: NRC/RDA: 1º semestre 19g/dia 15g/dia 2º semestre 12,5g/dia 12g/dia Cálculo baseado em 1,1g/kg de peso desejável + adicional. Ou utilizar 15% do VET. A DRI é a mesma da grávida: 71g. A RDA sugere adicional de 25g/dia de proteína/dia (Krause e Chemin). É baseada na composição do leite e volume médio de 750ml, supondo uma eficiência de 70% na conversão de proteína da dieta em proteína do leite (Krause). Mulheres que tiveram parto cirúrgico e mulheres que entraram na gestação com estado nutricional inadequado podem necessitar de proteína adicional (Krause). Seu conteúdo no leite tende a diminuir com a evolução da lactação e não é afetado pela desnutrição materna (Chemin). Recomendação de lipídios Deve fornecer de 20 a 35% das calorias totais. A quantidade e o tipo de gordura refletem diretamente a dieta materna. A restrição severa de energia resulta em mobilização da gordura corporal e o leite produzido possui uma composição de ácidos graxos semelhante ao depósito de gordura materna (Krause e Chemin). A presença de ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa na dieta materna é crucial para a retina fetal e o desenvolvimento cerebral do lactente (Krause e Chemin). A AI para ácidos graxos poliinsaturados ômega 6 (linoléico – ácido araquidônico) é de 13g/dia e para ômega 3 (linolênico – ácido docosaexaenóico DHA) é de 1,3g/dia na dieta (Krause). As principais fontes de DHA são os peixes gordurosos de água fria como as sardinhas, 2 a 3 refeições com peixe por semana durante a gravidez são suficientes para fornecer as quantidades recomendadas, outras opções de fontes são ovos enriquecidos, suplementos de DHA, sementes de linhaça e as nozes, especialmente seu óleo (Krause). O colesterol está presente no leite na quantidade de 10 a 20mg/dl, resultando num consumo de 100mg/dia para o bebê. A quantidade de colesterol não varia com a dieta da mãe, mas seu conteúdo no leite reduz conforme progride a lactação (Krause). A dieta não tem efeito considerável no colesterol do leite (Chemin). Recomendação de carboidratos (Krause) A EAR é 160g/dia e a AI é 210g/dia. Elas fornecem calorias suficientes para um volume adequado de leite, para prevenir a cetonemia e para manter os níveis apropriados de glicose durante a lactação. Recomendação de vitaminas e minerais Em relação as vitaminas, a necessidade de vitamina E está aumentada em 4mg/dia. As necessidades das vitaminas D e K não são alteradas na lactação em relação a mulheres não grávidas e não lactantes. As recomendações de vitamina C e complexo B são maiores, e as concentrações de vitaminas hidrossolúveis no LM dependem da ingestão materna e estão diminuídas nos casos de deficiência (Dan). Os principais minerais, como cálcio, fósforo magnésio, sódio, potássio e ferro não são afetados pela ingestão dietética materna. Já os conteúdos de selênio e iodo são positivamente relacionados com a ingestão materna (Accioly). É recomendado um adicional de 5mcg/dia de selênio, para garantir adequada concentração no leite e manter os estoques maternos (Dan). Além disso, são nutrientes críticos a vitamina A, tiamina, riboflavina, vitaminas B6 e B12, selênio e iodopois a baixa ingestão e/ou estoques afetam adversamente a criança. As necessidades estão aumentadas na lactação de: vitaminas A, E, C, B1, B2, niacina, folato, B12 e dos minerais: magnésio,
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