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114 NUTRIÇÃO PARA O CONTROLE DE PESO Componentes do peso corporal Composição corporal em indivíduos adultos sadios. O tecido adiposo é localizado primariamente sob a pele, no mesentério e no omento e atrás do peritôneo. O tecido adiposo é composto por gordura, pequenas quantidades de proteína e água. Tecido adiposo branco proteção dos órgãos, reservatório de triglicerídeos e preservação de calor; Tecido adiposo marrom produção de calor e dissipação do excesso de energia (presente em especial nos lactentes). O tecido adiposo aumenta de tamanho (hipertrofia) ou número (hiperplasia). O ganho de peso pode ser resultante de hiperplasia, hipertrofia ou combinação das duas. A obesidade é sempre caracterizada por hipertrofia, mas algumas também envolvem hiperplasia (em especial durante a lactância e adolescência). A hiperplasia pode ocorrer na vida adulta quando o conteúdo de gordura das células existentes tiver alcançado sua capacidade. Quando o peso é reduzido o tamanho da célula de gordura diminui, mas não seu número. O maior nível de gordura no crescimento normal ocorre aos 6 meses de idade (~25%). A composição da dieta têm sido foco na lipogênese, uma vez que a energia metabolizável da gordura dietética varia de 10,9 – 11,2kcal/g. Em condições normais de alimentação pouco carboidrato é usado para produzir tecido adiposo e é necessário cerca de três vezes a quantidade de energia para converte o excesso de carboidrato em gordura. Quando são consumidas dietas com alto teor de carboidratos, ocorre lipogênese pela supressão da oxidação lipídica. Os triglicerídeos da dieta e de depósito são transportados segundo duas enzimas, a lipoproteína lipase (LPL) e a lipase sensível a hormônio (HSL). A LPL capta os triglicerídeos do sangue, hidrolisa e transporta o ácido graxo para dentro do adipócito, ao passo que a HSL faz o transporte reverso. DESEQUILÍBRIO FUNCIONAL E OBESIDADE: ALTERAÇÕES HORMONAIS, IMUNOLÓGICAS E ENZIMÁTICAS (CHEMIN & MURA) a) Insulina A resistência à insulina é definida como uma resposta biológica subnormal do organismo ao efeito da alta concentração de insulina no metabolismo de glicose. As causa de resistência podem ser atribuídas a: Fatores nutricionais (glico ou lipotoxicidade); Defeitos de sinalização de insulina nos tecidos-alvo; Aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias. Sabe-se que a obesidade abdominal é um fenótipo característico de resistência a insulina que desencadeia todas as outras complicações envolvidas com a síndrome metabólica, culminando com o aparecimento de outras doenças crônicas. Glicotoxicidade Ingestão de carboidratos de alto índice glicêmico pode ocasionar: Lipogênese; Aumentar os níveis de triglicerídeos circulantes; Depletar as vitaminas do complexo B, vitamina C e cromo; Diminuir a saciedade e oxidação de lipídeos; Causar irritabilidade e hiperatividade; Aumentar a ingestão alimentar compulsiva (mediada pelo neuropeptideo Y); Hipertrofia pancreática e hiperinsulinismo; Aumento da produção de cortisol. Lipotoxicidade Em razão da intensa atividade da LPL em obesos, observa- se: Aumento dos triglicerídeos nos adipócitos; Aumento do fluxo de ácidos graxos livres no fígado; Diminuição da extração hepática da insulina, com hiperinsulinemia sistêmica. A exposição prolongada à hiperglicemia e à hiperinsulinemia resulta na diminuição da expressão de enzimas lipolíticas e altera o potencial para oxidação de ácidos graxos. OBESIDADE Prof. José Aroldo Filho goncalvesfilho@nutmed.com.br 115 O alto consumo de saturados e de W-6 está diretamente relacionado com menor sensibilidade à insulina, alterando o metabolismo do ácido araquidônico (via inibição da δ 5- desaturase) e desviando a cascata para produção de eicosanóides pró-inflamatórios. Defeito na sinalização intracelular de insulina – produção de citocinas pró-inflamatórias Indivíduos obesos apresentaram duas vezes mais TNF e RNAm nos adipócitos que indivíduos magros, sendo esta correlação positiva com o aumento do IMC. Os níveis de IL-6 e IL-1 também estão aumentados em obesos. TNF-α contribui para a redução da sensibilidade à ação da insulina. Suprime a fosforilação e a atividade do receptor tirosina quinase (IR) e do substrato 1 do receptor de insulina (IRS-1) nos músculos e no tecido adiposo, o que reduz a síntese e a translocação do transportador de glicose GLUT-4 para a membrana, comprometendo a captação de glicose via ação de insulina. A redução da sensibilidade periférica à insulina favorece o aumento da gliconeogênese hepática e a redução do clearence de glicose pelos músculos esqueléticos e pelo tecido adiposo, induzindo hiperinsulinemia. O aumento do TNF no tecido adiposo acarreta diminuição da expressão dos transportadores GLUT-4. A redução do peso corporal desses indivíduos está associada à diminuição do TNF-α. IL-6 aumenta o influxo de ácidos graxos livres. Está associada à inibição da migração do GLUT-4. IL-18 promove instabilidade de placas ateroscleróticas, sendo mais propensas à ruptura. Está associada com resistência à insulina, hiperglicemia e hiperfagia. Proteína ligadora do retinol 4 produzida pelo tecido adiposo visceral na presença da obesidade e da resistência à insulina, sendo considerada marcador da expansão do tecido adiposo intra-abdominal e da inflamação subclínica. Parece existir existência de uma associação positiva entre o aumento das concentrações séricas da RBP4 e os parâmetros da síndrome metabólica, como a hipertensão arterial, as dislipidemias e o aumento do IMC. A expressão da RBP4 é relacionada inversamente às concentrações de GLUT4, evidenciando a importância desta proteína na regulação do metabolismo da glicose. Zinco-alfa2-glicoproteína a ZAG ou AZPG1 é uma proteína secretada pelos adipócitos de indivíduos obesos, sugerida como candidata potencial na modulação do peso corporal. A ação desta citocina está associada à redução da síntese de ácidos graxos e aumento de lipólise. Na presença de inflamação crônica de baixo grau, a produção de citocinas pró-inflamatórias, como o TNF-α, constitui um fator importante na regulação da ZAG. Papel dos ácidos graxos essenciais no processo anti- inflamatório e ativação da funcionalidade da insulina 1) Ácido γ-linolênico (W-6 - GLA) Principal fonte: óleos vegetais e de prímula (5 a 10% do total de ácido graxo). É um importante substrato para as enzimas de cicloxigenase e lipoxigenase, ocasionando aumento de eicosanoides anti-inflamatórios (PGE1, TXA1, LTB3 e LTC3). A PGE1 inibe a produção de IL-6, IL-1 e TNF-α pelos macrófagos. A suplementação com óleos ricos em W6-GLA (≥2,4g) em indidvíduos saudáveis leva a uma diminuição de IL-6, IL-1 e TNF-α pelos monócitos e diminuição da proliferação dos linfócitos. O consumo de 1 – 2,4g/dia de GLA é suficiente para mediar efeitos imunológicos. 2) EPA e DHA (W-3) Principal fonte: óleo de peixe. Sugere-se que o EPA e DHA levam à redução das respostas de IL-1 e TNF e diminuem a produção de eicosanóides pró-inflamatórios, podendo melhorar a sensibilidade insulínica em até 38%. O consumo de óleo de peixe, com 2,4g de EPA e DHA por dia, também diminui a produção de IL-1, IL-6 e TNF-α. A recomendação de W-3 é de 3 – 4g/dia, sempre acompanhada de uma vitamina antioxidante, como 100UI de vitamina E. A suplementação de 6g/dia pode diminuir os níveis de proteína C-reativa séricos. De acordo com a American Hearth Association o consumo de EPA+DHA deve totalizar 500mg/dia. A OMS e a FAO recomendam a razão entre W6:W3 seja entre 5:1 e 10:1. 3) Ácido α-linolênico (W-3) Principal fonte: linhaça. Uso de 13g/dia durante quatro semanas, à dieta, diminui a produção de IL-1 e TNF pelos monócitos einduzir importantes efeitos imunomodulatórios. A adição de óleo de linhaça (15g de ALA por dia) a uma dieta com 29% de lipídios resulta em redução significativa na proliferação de linfócitos no plasma. b)Cortisol: A obesidade central é associada com aumento do cortisol sérico, estimulando o consumo calórico (lipídico e glicídico). Os receptores hipotalâmicos estimuladores de neuropeptídeo Y são mediados por cortisol. O fracionamento da dieta (3/3h) diminui os níveis de cortisol. c) Catecolaminas: As catecolaminas são responsáveis pela regulação e ativação de enzimas, como a LPL e a LHS, que determinam o acúmulo ou oxidação dos triglicerídeos. As catecolaminas estimulam a lipólise via receptores beta, ao passo que estimula a lipogênese via receptores alfa. Esta regulação hormonal está prejudicada na obesidade, com aumento da função dos receptores alfa (mediada pelos moduladores da ação de corticotropina e do hormônio liberador de corticotropina). d) Estrogênio: Os estrógenos estão envolvidos com maior depósito de gordura na região glúteo-femoral do que abdominal, mediado pela ação da LPL nestas regiões. Uma forma de equilibrar o excesso de estrogênio produzido é a ingestão de fitoestrógenos (isoflavonas da soja e lignanas da linhaça). Os fitoestrógenos estimulam a secreção de glucagon, leva à diminuição das enzimas lipogênicas e redução do acúmulo de gordura corporal. e) Testosterona: Baixo nível de testosterona é o principal fator para o desenvolvimento de obesidade visceral. Em homens de meia-idade, os níveis de testosterona estão diminuídos, com o aumento concomitante da obesidade Pacientes obesos apresentam maior atividade da LPL, contribuído para acúmulo de tecido adiposo. Na perda de peso, a atividade da LPL aumenta ainda mais, sugerindo uma desregulação metabólica da ação da LPL no tecido adiposo, que pode representar um set point na perda de peso, principalmente se esta perda de peso for induzida por dietas hipocalóricas. 116 abdominal. O reestabelecimento do nível de testosterona aumenta a sensibilidade insulínica no músculo esquelético, atenua a produção do cortisol e reduz os níveis de hormônio do crescimento em indivíduos com obesidade visceral. f) Hormônios produzidos pelo tecido adiposo: Leptina A leptina, expressa pelo tecido adiposo como sinal de adiposidade (quanto mais tecido adiposo, maiores as concentrações de leptina), diminui a expressão do neuropeptídeo Y e reduz o consumo alimentar, da gordura corporal, dos níveis de glicose, insulina e cortisol plasmáticos e aumento do gasto energético e produção de calor. Indivíduos obesos altas concentrações de leptina resistência (?). A hiperleptinemia está associada com a hiperinsulinemia. A atividade física reduz a resistência à insulina, aumenta a atividade simpática e é importante reguladora do balanço energético. Adiponectina Diferente da leptina, os níveis de adiponectina estão reduzidos no obeso, estando ainda mais elevados em mulheres que homens. Os níveis plasmáticos de adiponectina são negativamente correlacionados com o IMC, percentual de gordura, concentração de leptina, resistência à insulina, hipertensão arterial, níveis de LDL e triglicerídeos. Resistina Apresenta importante papel na resistência à insulina, nas doenças cardiovasculares e na modulação do processo inflamatório. Estão elevadas na obesidade. A neutralização do TNF-α reduz as concentrações séricas de resistina. A resistina induz resistência à insulina em pacientes obesos com obesidade visceral. Promove hiperglicemia por aumentar a produção hepática de glicose, além de bloquear o efeito anti-inflamatório da adiponectina no endotélio vascular. Possui potencial papel de regulação da adipogênese. g) Receptores ativadores da proliferação de peroxissomos (PPAR) Estão envolvidos na diferenciação dos pré-adipócitos, no acúmulo de triglicerídeos, no tecido adiposo e exerce efeitos regulatórios na sensibilidade à insulina. ALTERAÇÕES HIPOTALÂMICAS a)Neuropeptídeos Orexigênicos Neuropeptídeo Y: Expresso no núcleo arqueado, paraventricular e lateral do hipotálamo. Parece promover atividade lipogênica no tecido adiposo, reduzindo a atividade do sistema nervoso simpático e inibindo a lipólise. É o mais potente orexígeno do SNC. Galanina: Expresso no núcleo arqueado e paraventricular do hipotálamo, embora orexígeno, não promove lipogênese como o NPY. MCH (Melanin-concentrating Hormone): Expresso no núcleo lateral do hipotálamo. Possui efeito sinérgico com o NPY. O jejum leva sua hipersecreção e sua atividade estimula o eixo hipotálamo-adrenal. Hipocretina e Orexinas: Localizados no núcleo lateral do hipotálamo. O jejum aumenta secreção de orexinas, menos potentes que o NPY e MCH. As hipocretinas estimulam a liberação do NPY no núcleo paraventricular. Grelina: Seus efeitos são mediados pelo NPY no hipotálamo. O NPY estimula a liberação de grelina no estômago, aumentando a ingestão alimentar no obeso. A grelina age na manutenção do peso em estado de equilíbrio, estando associadas com menor peso corporal. Segundo Chemin & Mura, embora a glicose regule os níveis de grelina, o contato do nutriente com células estomacais pode ser mais importante inibidor da liberação de grelina.O consumo de dieta hipocalórica pode aumentar os níveis de grelina. b)Neuropeptídeos Anorexigênicos Serotonina: A serotonina e seus agonistas inibem o consumo alimentar na parte ventromedial do hipotálamo. Intensifica o poder de saciedade dos alimentos nos componentes de pós-ingestão e pós-absorção da saciedade. Níveis de serotonina são dependentes da ingestão alimentar de triptofano e também dos carboidratos. Fontes alimentares de triptofano. Proteína animal Carboidrato Leite 50 mg Arroz integral 90 mg Iogurte 45 mg Arroz 90 mg Queijos amarelos 38 mg Macarrão 80 mg Ovos/ carnes/ peixes/ aves 29 mg Pão francês 70 mg Queijo fresco 17 mg Pão integral Batata 60 mg 30 mg Proteína vegetal (grãos) Carboidratos (frutas) Soja 45 mg Tâmara 49 mg Nozes 45 mg Abacate 22 mg Feijão 27 mg Banana 18 mg Lentilha 25 mg Morango 15 mg Castanhas 20 mg Cereja 8 mg Ervilha 10 mg Laranja 8 mg Peptídeos da família do Hormônio Liberador de Corticotropina (CRH): Estão localizados no eixo paraventricular do hipotálamo e, em indivíduos magros, pode induzir anorexia. Melanocortina (MSH): São derivados do mesmo precursor da POMC. São secretadas nos núcleos paraventricular e ventromedial do hipotálamo, induzindo a inibição da ingestão alimentar. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NA OBESIDADE EM ADULTOS Anamnese A anamnese é o primeiro passo obrigatório, onde levanta- se dados fundamentais para o estabelecimento de estratégias que serão adotadas durante o tratamento. A idade do paciente é importante. O risco para um grau comparável de obesidade parece maior entre os indivíduos com idade superior a 40 anos. A celularidade adiposa está associado a períodos críticos onde tem-se hiperplasia celular: gestação, idade pré-escolar e adolescência. Existe uma relação com a desnutrição fetal, principalmente se ocorrer após a 30ª semana gestacional e durar até o primeiro ano de vida, estimulando a produção de adipócitos. Pode associar-se ao DM2, HAS e DCV na vida adulta. 117 Deve-se avaliar a presença de ansiedade e depressão, bem como a possibilidade de transtorno de compulsão alimentar periódica. Observar se o paciente já fez algum tratamento para perda de peso, o que inclui dietas de moda ou se teve assessoria de algum profissional ou se usou de medicações. Deve ser levantada também a história familiar de excesso de peso e de co-morbidades. Avaliar funcionamento intestinal e urinário. Realizar a anamnese alimentar através de recordatórios de 24h, frequência de consumo, registro alimentar de 3 e 5 dias. Avaliarnúmero de refeições e hábitos. Observar concomitantemente sinais e sintomas de alterações de micronutrientes. Realizar levantamento de atividade física. a) Peso - correlaciona-se indiretamente com a quantidade de gordura total e o % em qualquer grupo etário. - tabelas segundo compleição física (Metropolitan Life Insurance Company, 1983): limitações de metodologia, limitações operacionais, avaliar riscos de vida e representam o peso ideal ou peso corporal relativo. Pouca operacionalidade no setor saúde. Compleição física = estatura (cm) / circunferência do punho (cm) Classifica-se a compleição segundo sexo como grande, média ou pequena. A partir desta classificação aponta-se a faixa de peso corporal relativo segundo sexo e estatura. Compleição física segundo sexo. Compleição Grande Média Pequena Homens <9.6 9.6 – 10.4 >10.4 Mulheres <10.1 10.1 – 11.0 >11.0 Peso corporal relativo segundo compleição física. Sexo feminino (recorte) Estatura (cm) Grande Média Pequena Peso (kg). 147,7 46.3 – 50.3 49.4 – 51.9 53.5 – 59.4 149.9 46.7 – 51.3 50.3 – 55.8 51.4 – 60.8 152.4 47.2 – 52.2 51.3 – 57.1 55.3 – 62.1 Peso corporal relativo segundo compleição física. Sexo masculino (recorte) Estatura (cm) Grande Média Pequena Peso (kg). 157.5 58.8 – 60.8 59.4 – 63.9 62.2 – 68.0 160.0 58.9 – 61.7 60.3 – 61.9 63.5 – 69.4 162.6 59.9 – 62.6 61.2 – 65.8 64.4 – 70.8 - será definido como obeso o indivíduo que possuir >20% do peso corporal relativo segundo as tábuas da Metropolitan. Fonte: Metropolitan height and weight tables. Stat Bull Metrop Insur Co, 64; 2-9, 1983. b) IMC Classificação do estado nutricional segundo IMC e risco de co-morbidades (CHEMIN & MURA). Classificação IMC (kg/m2) Risco de co- morbidades Baixo peso <18,5 Baixo Peso normal 18,5 – 24,9 Médio Sobrepeso 25,0 – 29,9 Ligeiramente aumentado Obesidade I 30,0 – 34,9 Moderado Obesidade II 35,0 – 39,9 Grave Obesidade III ≥40,0 Muito grave Superobesidade ≥50,0 c) Percentual de gordura corporal Classificação de excesso de adiposidade segundo percentual de gordura corporal (CHEMIN & MURA). Mulheres (%) Homens (%) Leve 25 – 30 15 – 20 Moderada 30 – 35 20 – 25 Elevada 35 – 40 25 – 30 Mórbida >40 >30 Equações de correção para pacientes obesos (uma vez que o uso das dobras cutâneas em obesos é de difícil aferição e implica em erros de avaliação. Para homens obesos de 24 – 68 anos: % Gordura = 0,31457 (circunferência abdominal) – 0,10969 x Peso + 10,8336 Para mulheres obesas de 20 – 60 anos: % Gordura = 0,11077 (circunferência abdominal) – 0,17666 x (estatura) + 0,187 x Peso + 51,03301 d) Circunferência abdominal – Obesidade abdominal Perimetrias e risco de co-morbidades (DAN WAITZBERG, 2009). Risco de complicações metabólicas Sexo masculino Elevado Muito elevado Cintura ≥94cm ≥102cm RCQ 0,9 – 1,0 >1,0 Sexo feminino Elevado Muito elevado Cintura ≥80cm ≥88cm RCQ 0,75 – 0,85 >0,85 TRATAMENTO CLÍNICO DA OBESIDADE Tratamento médico: modificação do estilo de vida (aumento da atividade física), apoio psicológico, drogas e cirurgia; Tratamento nutricional: mudança na escolha de alimentos, manutenção da ingestão de micronutrientes e educação nutricional. Objetivo: atingir, segundo a ADA, o melhor peso possível no contexto da saúde geral. MODIFICAÇÃO DA DIETA Os programas para perda de peso com algum grau de excesso integram mudanças alimentares com exercícios, mudança de comportamento, educação nutricional e apoio psicológico. 118 Quando estas abordagens falham em ocasionar a redução de peso desejada, a medicação pode ser adicionada ao programa e, no caso de obesidade mórbida, a intervenção cirúrgica pode ser necessária. O atendimento em obesidade deve ser pautado nos seguintes passos: a.Histórico da obesidade (DAN 2009) - peso ao nascer; - idade de início da obesidade; e - tratamentos anteriores. b.Fatores etiológicos (DAN 2009) - presença de doenças orgânicas (Cushing e outras causas endócrinas). c.Padrões de alimentação (DAN 2009) - observar presença de transtornos alimentares (como transtorno de compulsão alimentar); - verificar hábitos de alimentação. d.Comorbidades da obesidade (DAN 2009) - HAS; - DM; - dislipidemias; - apneia do sono; - doença coronariana; - litíase biliar; - osteoartrose e alterações menstruais. e.Antecedentes familiares (DAN 2009) f.Hábitos (DAN 2009) Avalia-se presença de hábitos sociais, como: - tabagismo; - etilismo social; e - atividade física. - exames bioquímicos - exame físico: cardiovascular e abdome. ABORDAGEM FARMACOLÓGICA AO TRATAMENTO DA OBESIDADE Orientações do NIH dos EUA para o tratamento de indivíduos com excesso de peso ou obesos: Tabela 10: Tratamentos para excesso de peso segundo IMC (DAN WAITZBERG, 2009). IMC (kg/m2) TRATAMENTO 25 – 26,9 com comorbidades Dieta, atividade física e terapia comportamental. 27 – 29,9 com comorbidades Dieta, atividade física e terapia comportamental e farmacoterapia. 30 – 34,9 Dieta, atividade física e terapia comportamental e farmacoterapia. 35 – 39,9 Dieta, atividade física e terapia comportamental e farmacoterapia. Possibilidade de intervenção cirúrgica em pacientes com comorbidades. ≥40 Dieta, atividade física e terapia comportamental e farmacoterapia. Intervenção cirúrgica em pacientes. MEDICAMENTOS ANTIOBESIDADE a.Sibutramina Age inibindo a recaptação de norepinefrina e serotonina, além de amplificar os sinais de saciedade e induzir uma sensação de plenitude. A sibutramina induz perda de peso e parece melhorar os componentes da síndrome metabólica, como TG, colesterol total e HDL e insulina. Dose: 10mg/dia. Efeitos colaterais: aumentos modestos em pressão arterial e na frequência de pulso. Pacientes diabéticos tipo 2 em uso de metformina e sibutramina 15 mg tiveram pequenas reduções da glicose, hemoglobina glicada e triglicerídeos e pequenos aumentos do colesterol HDL em relação aos participantes que receberam placebo, e nenhum efeito sobre o colesterol total e o colesterol LDL. O uso de sibutramina em homens obesos com apneia do sono demonstrou que a perda de peso resultante de sua utilização se acompanhou de melhora na severidade da apneia b.Orlistat O orlistat diminui a absorção de lipídios ligando-se à lípase pancreática e, por meio desse mecanismo, inibindo a hidrólise dos lipídios alimentares a ácidos graxos livres e monoacilgliceróis absorvíveis. Auxilia na perda de peso, adicionado à dieta hipocalórica, e na manutenção da perda de peso. Dose: 120mg. Efeitos colaterais: distúrbios gastrointestinais e pequena redução nas vitaminas lipossolúveis. c.Exenatide Exenatide é uma terapia injetável para DM tipo 2, que se assemelha à ação do hormônio pancreático incretina, que estimula a secreção de insulina. Reduz HbA1C e peso, sem aumentar a incidência de hipoglicemia. d.Pramlintide É um peptídeo injetável que imita a atividade da amilina, um hormônio pancreático, que junto a insulina, controla os níveis pós-prandiais de glicose. Indicado para tratamento de DM tipos 1 e 2 e pode ser usado em associação com insulina ou metformina. e.Rimonabanto Atua no sistema endocanabinóide, regulando a ingestão alimentar, acúmulo de lipídios e do metabolismo de lipídios e glicose Dose: 5 a 20mg/dia (em estudos clínicos). TRATAMENTO CLÍNICO Visa a interrupção do ganho de peso, a obtenção e estabilização do peso que seja capaz de beneficiar a saúde do indivíduo, além de controle e prevenção de co- morbidades. 119 ABORDAGEM DIETÉTICA: Critérios para seleção das estratégias de tratamento da obesidade, de acordo com o IMC e a presença ou não de fator de riscoPontos de corte do IMC (kg/m2) 25,0 a 29,9 30,0 a 34,9 35,0 a 39,9 > 40,0 Sem fator de risco Manter peso, dieta saudável, exercício. Perda de 5-10% do peso corporal. Perda > 10% do peso corporal, em geral as drogas são necessárias. Perda de 20-30% do peso corporal. Com fator de risco Enfoque na dieta, exercícios e mudanças de comportamentos. Após 3 meses sem sucesso, propor déficit energético leve para perda de 5-10 kg em 24 semanas. Se insucesso, avaliar a necessidade de tratamento medicamentoso. Enfoque na dieta, exercício e mudança de comportamento. Após 12 semanas sem sucesso, considerar a necessidade e tratamento medicamentoso. Perda de 20-30% do peso corporal. Se insucesso, encaminhar ao especialista ou considerar a possibilidade do tratamento cirúrgico. Se insucesso, encaminhar ao especialista ou considerar a possibilidade do tratamento cirúrgico. É fundamental a adoção de dietas que tenham valor calórico reduzido frente ao VT (dieta hipocalórica), porém superior ao GEB, pelo risco de doença reumatológica tipo gota, complicações cardíacas e cálculo biliar. Recomenda-se fracionamento dietético em 5 – 7 refeições diárias, redução do consumo de gorduras totais e aumento de ingestão de fibras. A restrição de gorduras, independente de outras abordagens, pode promover redução de 3 – 4kg em 6 meses. PLANOS DIETÉTICOS Todas as dietas hipocalóricas, se sustentadas em longo prazo, levam à perda de peso. Entretanto, em curto prazo, as dietas cetogênicas, ricas em gorduras e escassas em carboidratos, causam maior perda de água do que de gordura corporal. As dietas escassas em carboidratos e ricas em gorduras, especialmente saturadas em colesterol, são também ricas em proteínas animais e deficientes em vitaminas A, B6 e E, folato, cálcio, magnésio, ferro, potássio e fibras. Portanto, requerem suplementação. As necessidades calóricas em pacientes hospitalizados podem ser medidas através de calorimetria indireta ou por métodos estimativos, sendo a fórmula mais frequentemente utilizada a Harris-Benedict. As dietas restritas em calorias são consideradas os métodos mais utilizados para redução de peso. Um déficit calórico de 500 – 1000 kcal atinge a meta. Suplementação vitamínica e minerálica (em especial o mineral cromo, em virtude do auxílio no tratamento da resistência à insulina) em programas com VCT inferior a 1200 kcal para mulheres e 1800 kcal para homens. Segundo CHEMIN & MURA, os fundamentos dos planos alimentares para o tratamento de obesidade incluem: - promoção de balanço energético negativo, em que a reserva adiposa será usada como substrato energético; - manutenção do peso perdido; - prevenção de futuros ganhos de peso corporal. Propriedade CHO PTN LIP Álcool Conteúdo calórico (kcal/g) 4 4 9 7 Densidade calórica Baixa Baixa Alta Alta Contribuição diária na ingestão de energia Alta Baixa Alta Variável Efeito térmico (% do conteúdo energético) 6-8% 25-30% 2-3% 15-20% Capacidade de armazenamento Baixo Nenhum Alto Nenhum Capacidade de autorregulação (estimular a própria oxidação) Boa Boa Pobre Pobre Capacidade se suprimir fome Alto Alto Baixo Estimulante de apetite Os planos alimentares adequados não devem extrapolar a TMB e respeitar a distribuição de macronutrientes na proporção de 55 – 60% para CHO; 15 – 20% PTN (0,8 – 1,0g/kg) e 20-25% LIP, além de atender as necessidades diárias de micronutrientes. Os planos podem ser subdivididos em: Leve restrição ≥1200kcal/dia Moderada restrição >800kcal (1000 – 1400kcal) Grande restrição 800 – 1200kcal (10-19kcal/kg) Muito baixo VC 400-800kcal (10kcal/kg) . I. DIETAS RESTRITAS EM CALORIAS É o método mais utilizado prescrito para redução de peso. Um déficit calórico de 500 – 1000 kcal atinge a meta. Rica em carboidratos quantidades generosas de proteínas (15 – 25% VET), para prevenir a conversão da proteína da dieta em energia. 120 Incluir fibra extra (aumenta a saciedade e reduz a eficiência de absorção intestinal). Suplementação vitamínica e minerálica em programas com VCT inferior a 1200 kcal para mulheres e 1800 kcal para homens. A perda de até 1kg/semana é considerada ideal. A perda de 8 – 15% do peso corpóreo é considerada benéfica quando mantida por mais de 1 mês. Pacientes obesos podem ter tolerância diminuída à glicose. O cromo é um componente ativo do Fator de Tolerância à Glicose (TGF). Outros elementos incluem: niacina, cisteína, glicina e ácido glutâmico. Outro ponto seria a ansiedade e depressão associadas a diminuição de serotonina. A síntese de serotonina é dependente de triptofano e total de CHO da dieta. Outros fatores necessários para síntese incluem: vitamina B6, magnésio e ácido fólico. - Alimentos funcionais e obesidade: estuda-se a soja e o chá verde. A soja é rica em fitoestrógenos, que parecem reduzir a gordura corporal e insulina de jejum. Além de aumentar HDL. O consumo de soja deve ser incentivado. Tofu e missô tem maior disponibilidade de isoflavonas. Deve-se ingerir pelo menos 2,25mg de isoflavonas por g de soja. O chá verde tem ação antioxidante e aumento de termogênese, através da ação das catequinas. O cosumo de chá verde entre 3 e 5g de folha/dia não apresentou efeitos satisfatórios. - Características do programa alimentar: Deve-se atentar: - fracionamento: pelo menos 5 refeições/dia; - consistência: sólida, comer lentamente e mastigar bem; - volume: podem ser de grande volume, mas de baixo valor calórico; - temperatura: alimentos quentes promovem saciedade mais rápido. II. DIETAS DO SISTEMA DE SUBSTITUIÇÃO III.DIETAS COM FÓRMULAS E PROGRAMAS DE SUBSTITUIÇÃO DE REFEIÇÃO Valor calórico total variando de 1000 – 1600 kcal com bebidas ou barras substituindo refeições. IV. PROGRAMAS COMERCIAIS V. DIETAS DE BAIXO VALOR CALÓRICO VI. RESTRIÇÃO EXTREMA DE ENERGIA As dietas com restrição extrema de energia fornecem menos de 800 kcal/dia e a inanição ou as dietas de jejum ou de fome fornecem menos de 200 kcal/dia. a) Jejum: Mais de 50% da perda rápida de peso é de líquidos, levando a problemas como hipotensão. O acúmulo de ácido úrico pode precipitar episódios de gota; e também podem ocorrer cálculos biliares. b) Dietas de valor calórico muito baixo (VLCD): Fornecem de 200 – 800 kcal. Características das VLCD: Hipocalóricas; Ricas em proteínas (0,8 – 1,5g de proteínas/kg de peso corporal ideal); Suplementadas por vitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais; Ministradas por 12 – 16 semanas; Rápida perda de peso (20kg, com manutenção de 33 – 50% do peso perdido no ano seguinte); Reservada a indivíduos com IMC>30kg/m2 que não obtiveram sucesso com outros programas de dietas associados a psicoterapia. Ocasionalmente podem ser indicadas para indivíduos com IMC de 27 – 30 com co- morbidades ou fatores de risco. DAN WAITZBERG (2009) fornecem de 1,5 a 2,0g de proteína/kg/dia. Formas de VLCD: Dieta de jejum modificadora poupadora de proteína (PSMF) 1,5g de proteína/kg de PCI na forma de carne magra, peixe e aves, sem carboidratos e apenas gorduras contidas nos alimentos. Possui alta taxa de excreção de nitrogênio 11 – 23g declinando gradualmente nos primeiros dias (adicionar 100g de glicose/dia para prevenir futuras perdas de nitrogênio). Dietas líquidas baseadas em proteína do leite ou de ovos. Contêm 33 – 70g de proteína, 30 – 45g de carboidrato e pouca gordura. PACIENTES OBESOS HOSPITALIZADOS (DAN WAITZBERG, 2009): As necessidades calóricas em pacientes hospitalizados podem ser medidas através de calorimetria indireta ou por métodos estimativos, sendo a fórmula mais frequentemente utilizada a Harris-Benedict.Pode-se utilizar também as fórmulas preconizadas pela OMS, onde: Homens: 18 – 30 anos: 64,4 x P – 113 x A + 3000/4,25 31 – 60 anos: 19,2 x P – 66,9 x A + 3769/4,25 Mulheres: 18 – 30 anos: 55,6 x P – 1397,4 x A + 146/4,25 31 – 60 anos: 36,4 x P – 104,6 x A + 3619/4,25 Se sedentários, multiplicar por 1,3; se ativos multiplicar por 1,5. Segundo MOORE, citado por WAITZBERG (2009), o cálculo das necessidades calóricas para pacientes obesos é estimado a partir da determinação do peso ideal, multiplicando-se, segundo atividade física: - sedentário: 20 - 25kcal/kg PI; - atividade moderada: 30kcal/kg PI; ou - atividade intensa: 35 – 50kcal/kg PI. A partir daí, devem-se subtrair 500 a 1000kcal, para alcançar perda de peso de 0,5 a 1,0kg/semana. Outro fator é que o gasto basal está modificado em pessoas com peso 125% acima do peso ideal, deste modo, sugere-se ajuste do peso, onde: ATENÇÃO - redução de 500 a 1000Kcal/d com relação a anamnese alimentar, para uma perda de 0,5 a 1kg por semana. 121 Peso ajustável = (peso atual – peso ideal) x 0,25 + peso ideal Uso de alimentos substitutos de gorduras e carboidratos. ANORMALIDADES METABÓLICAS ASSOCIADAS À OBESIDADE 1.SÍNDROME METABÓLICA (DAN 2009) A síndrome metabólica constitui diversidade de anormalidades metabólicas que são fatores de risco para DCV. Os critérios mais utilizados são os da OMS e do NCEP ATPIII. As características comuns aos grupos são OBESIDADE ABDOMINAL (IMC elevado e/ou grande circunferência de cintura), metabolismo da glicose alterado, dislipidemias e elevação da pressão arterial. A alteração do metabolismo de ácidos graxos livres associada mais especificamente à obesidade abdominal está provavelmente envolvida na patogênese da síndrome metabólica. Tabela 11: Critérios para SM segundo NCEP e OMS. NCEP ATPIII OMS Glicemia de jejum >100mg/dl >100mg/dl; ou TTOG> 140mg/dl Obesidade abd Homens Mulheres CC>102cm CC>88cm RCQ>0,9 RCQ>0,85 Ou IMC>30kg/m2 Triglicerídeos ≥150mg/dl ≥130mg/dl HDL Homens Mulheres <40mg/dl <50mg/dl <36mg/dl <39mg/dl Pressão Arterial ≥130/85mmHg ≥140/90mmHg Microalbuminúria - Sim 2.RESISTÊNCIA À INSULINA (DAN 2009) A liberação excessiva de ácidos graxos livres (AGL) no plasma pelo tecido adiposo e a concentração plasmática elevada de ácidos graxos livres podem alterar a capacidade de insulina em estimular a captação de glicose pelo músculos e em suprimir a produção hepática de glicose. A resistência à insulina induzida pelos ácidos graxos livres nos músculos e fígado ocasiona portanto uma produção hepática excessiva de glicose e uma utilização de glicose insuficiente pelos tecidos periféricos. A diminuição na sensibilidade à insulina pelos ácidos graxos livres é compensada até certo ponto por um aumento na secreção de insulina induzido pelos ácidos graxos livres, que serve provavelmente como mecanismo feedback para proteger o corpo dos efeitos prejudiciais da resistência à insulina. 3.DISLIPIDEMIA (DAN 2009) Durante condições pós-absortivas muitos triglicerídeos plasmáticos circulam na região central das lipoproteínas VLDL, que são produzidas e secretadas pelo fígado. Mais de dois terços dos triglicerídeos secretados pelo fígado em VLDL derivam dos ácidos graxos plasmáticos liberados durante a lipólise no tecido adiposo subcutâneo. Além disso, excessiva massa adiposa visceral também pode contribuir para a razão aumentada de secreção de TG- VLDL em pacientes obesos. Aproximadamente 20% dos AGL levados ao fígado derivam de TG do tecido adiposo visceral. Um aumento de TG plasmáticos aumenta a transferência de TG das lipoproteínas VLDL para as HDL, em troca do colesterol, o que acarreta diminuição da concentração de HDL colesterol. 4.HIPERTENSÃO (DAN 2009) Anormalidades no metabolismo de AGL ajudam a explicar a ocorrência de hipertensão e resistência à insulina. Concentração aumentada de AGL causam vasocontrição, especialmente quando a captação de glicose mediada pela insulina alterada devido a elevação da concentração plasmática de AGL. Além disso, pode ocorrer aumento de pressão arterial em consequência de resistência à insulina no endotélio, outro ponto é que a hiperinsulinemia aumenta a reabsorção renal de sódio. OBESIDADE E DOENÇAS CARDIOVASCULARES 1.DISFUNÇÃO ENDOTELIAL (DAN 2009) A disfunção endotelial é considerada como evento patogênico precoce nas DCV. O endotélio vascular libera fatores vasoativos, de relaxamento e de contração, que são importantes para o controle do tônus vascular. Um desequilíbrio de fatores de controle de tônus vascular que ocasione vasocontrição promove inflamação vascular, trombose e aterosclerose. A perda da capacidade vasodilatadora na vasculatura periférica, isto é disfunção endotelial, é um bom fator de predição de eventos vasculares (AVE e ataques cardíacos). Além disso, a hiperglicemia e hipertrigliceridemia, frequentes entre obesos, forma demonstrados alterando a vasodilatação produzida pelo óxido nítrico. IL-=6 e TNF liberados pelo tecido adiposo, deficiência de adiponectina e resistência à leptina parecem causar vasoconstrição. 2.TROMBOSE (DAN 2009) A obesidade é considerada como condição pré- trombótica, devido à atividade aumentada da cascata de coagulação, que não é plenamente compensada pela atividade aumentada da cascata fibrinolítica. Indivíduos obesos têm concentrações elevadas de fibrinogênio, fator de Von Willebrand, fator VII e do inibidor do ativador do plasminogênio-1. Adipocinas, como IL-6 e TNF, são os principais fatores responsáveis pelo aumento nos fatores pró-trombóticos. A leptina, outra adipocina, foi apontada como responsável pela promoção de trombose. 3.ATEROSCLEROSE (DAN 2009) A resistência à insulina parece ser uma causa importante de aterosclerose, além disso, várias adipocinas, que se encontram aumentadas na circulação de indivíduos obesos (p. ex., leptina, IL-6 e TNF), forma demonstradas como promovendo o desenvolvimento aterosclerose. 122 4.INFLAMAÇÃO (DAN 2009) O tecido adiposo produz várias citocinas inflamatórias, que podem induzir resistência à insulina e a adiponectina, que aumenta a inflamação diretamente ou estimulando a produção hepática da proteína C reativa. A inflamação pode portanto ser um fator importante na patogênese da síndrome metabólica, pois pode levar à resistência à insulina, e pode ser uma ligação entre síndrome metabólica e as DCV. COMPOSIÇÃO DOS PLANOS ALIMENTARES PARA PREVENÇÃO DE DCNT LIP 15 – 30%VCT AGS <10%VCT AGPI 6 – 10%VCT W3 5 – 8% VCT W6 1 – 2% VCT CHO 55 – 75% VCT AÇÚCARES <10% VCT PTN 10 – 15% VCT COLESTEROL <300mg NaCl (sódio) <5g (<2g) Frutas e vegetais >400g Fibras >25g Fibras solúveis 20g CUIDADO NUTRICIONAL NO PRÉ E PÓS-OPERATÓRIOS DE CIRURGIA BARIÁTRICA Indicados para pacientes com IMC>40 ou a partir de 35 com outros fatores de risco. Indicações: a) presença de morbidades, que resulta da obesidade ou é por ela agravada, como apneia do sono; b) persistência de IMC>40kg/m2 ou de excesso de peso superior a 45kg por vários anos. A faixa de IMC pode ser reduzida para 35kg/m2 na presença de comorbidades; c) fracasso de métodos conservadores de emagrecimento bem conduzidos; d) ausência de causas endócrinas de obesidade; e) avaliação favorável das possibilidades psíquicas de o paciente suportar as transformações radicais de comportamento impostas pela operação. Adiciona-se: Motivação, aceitação e conhecimento sobre os riscos da cirurgia e ausência de contraindicações. Condições que contraindicam cirurgia: a) pneumonias graves, como enfisema avançado ou embolias pulmonares repetidas; b) insuficiênciarenal; c) lesão acentuada do miocárdio; d) cirrose hepática; e) distúrbios psiquiátricos ou dependência de álcool ou drogas. TIPOS DE PROCEDIMENTOS a)Restritivas: banda gástrica ajustável, gastroplastia vertical com badagem. b)Mistas: bypass gástrico em Y-Roux com estoma calibrado ou anel de Capella. Perdas de peso de 35 – 40%, mantidas em longo prazo, e com taxa de reganho tão baixas quanto 5%. São consideradas o padrão-ouro, indicadas à maioria dos obesos mórbidos. c)Disabsortivas/Malabsortivas: derivação biliopancreática de Scopinaro e duodenal switch de Heiss. 123 Indicadas para superobesos, oferecem perda de peso de 40 – 45% e para aqueles que não aceitem restrição alimentar. BALÃO INTRAGÁSTRICO (BIG) Trata-se de um procedimento endoscópico, e não de uma cirurgia propriamente dita. Pode ser utilizado como método auxiliar para perda de peso no pré-operatório. Só se pode utilizar o balão por até seis meses e, se houver necessidade de recolocá-lo, deve-se aguardar um intervalo de 30 dias. Apesar de ser um procedimento de baixo risco, em geral cursa com reganho de peso após sua retirada ORIENTAÇÕES NO PRÉ-OPERATÓRIO Deve ser realizada anamnese clínica e nutricional. Deve ser elaborado o diagnóstico da situação e estimular a motivação para o seguimento das orientações dietéticas, como a importância de macro e micronutrientes após bariátrica, detectar carências nutricionais no pré-operatório, como deficiência de ferro e B12. COMPLICAÇÕES Entre as complicações relacionadas com a banda gástrica, há deslizamento gástrico da banda com aumento ou obstrução do neoestômago, erosão da banda, infecção do portal e dilatação esofagiana. As complicações pós-operatórias mais comuns de todas as técnicas descritas são tromboembolismo pulmonar, deiscência da sutura, fístulas, estenoses, infecções e hemorragia (mais comuns no pós-operatório precoce), hérnia e torção de alça intestinal (mais comuns no pós- operatório tardio). Nas técnicas disabsortivas e, em menor grau, na DGYR, há maior risco de se desenvolver diarreia com flatulência excessiva, desnutrição proteica, anemia ferropriva, deficiência de vitaminas e doenças osteometabólicas. A síndrome de dumping pode ocorrer após DGYR, quando houver ingestão de alimentos doces ou hiperosmolares. Tratamento nutricional a) Preparo pré-operatório Avaliação do estado nutricional: 1.Bioquímica; 2.Antropométrica; 3.Anamnese alimentar Tabela 12: Exames laboratoriais pré-operatórios. Compreensão do tratamento e educação nutricional. b) Tratamento pós-operatório Volume Nas cirurgias com bypass em Y-Roux, com reservatório gástrico em torno de 20mL, a ingestão aceitável é de no máximo 50mL por refeição. Nas derivações biliopancreáticas, com volume gástrico de 200 – 500mL, a ingestão pode ser de 300 – 500mL por vez. No duodenal switch, com capacidade gástrica de 150mL, a ingestão aceitável é de 200mL. Recomenda-se evitar período de jejum superior a 3h, para prevenir hipoglicemia. Com a introdução da alimentação com consistência normal, pode-se evoluir o volume, como por exemplo, no bypass em Y-Roux a 200/250mL por refeição. Evolução da alimentação Aumenta-se a consistência dos alimentos a cada 2 meses, podendo variar de acordo com a tolerância individual. No pós-operatório, após liberação dietética, inicia- se com a ingestão de água, progredindo com dieta de líquidos claros (ficando de 4 a 7 dias nesta conduta). O paciente evolui, segundo tolerância para a dieta líquida, permanecendo por 15 dias. Na quarta semana de pós- operatório faz-se uma dieta de transição para dieta pastosa. Primeira fase – líquida clara/cristalina: Adicionar aos líquidos 20g de proteína de soja em pó por porção, no máximo 2 vezes por dia. Segunda fase – líquida completa: De rotina: Hemograma, coagulograma, sódio, potássio, uréia, creatinina, glicemia de jejum, bilirrubinas, transaminases, fosfatase alcalina, y-glutamiltransferase, colesterol total e frações, triacilgliceróis, proteína total, albumina, ácido úrico A critério: Hemoglobina glicosilada, fibrinogênio, insulina, hormônios tireoidianos, cálcio, magnésio, fósforo, fero, ferritina, transferrina, ácido fólico, vitamina B12 124 A terceira fase do tratamento corresponde à dieta pastosa com duração de 15 dias a 1 mês a depender da tolerância individual. A quarta fase corresponde à dieta branda com duração de 15 dias. A dieta branda possui duração até a consistência normal, permanecendo o controle de volume. A quarta fase, ou fase de dieta normal, atenta-se às adequações nutricionais, preocupando-se com a seleção dos alimentos ricos em proteínas, cálcio, ferro, vitaminas A e C e folato. Avaliar demais carências nutricionais. O controle de volume deve ser mantido. Progressão alimentar adotada, no pós-cirúrgico, por diferentes autores Autor Líquidos claros Dieta liquida Dieta pastosa Dieta branda Dieta normal Pories et at, 1995 - 2 semanas Progresso cauteloso para dieta completa Após 6 semanas Não refere Schauer, 2000 1º dia Pósop. 3 semanas 4ª semana Não refere Não refere Philip et al, 2000 2º dia Pósop. 1º mês Após a 4ª semana Não refere Não refere Cambi et al, 2003 - 15 dias 15 dias + 1 mês de dieta seletiva 3º mês 4º mês Cruz et al, 2004 - 1ª semana 2ª semana - 3ª semana CEDARS-S, 2009 1º dia Pósop. 1ª semana 15 dias 3 semanas 3º mês PROTOCOLO DO DAN WAIZTBERG (2009) NO PÓS- OPERATÓRIO DE CIRURGIA BARIÁTRICA A.ORIENTAÇÕES NO PRÉ-OPERATÓRIO (DAN 2010) Deve ser realizada anamnese clínica e nutricional. Deve ser elaborado o diagnóstico da situação e estimular a motivação para o seguimento das orientações dietéticas, como a importância de macro e micronutrientes após bariátrica, detectar carências nutricionais no pré-operatório, como deficiência de ferro e B12. B.ORIENTAÇÕES NO PÓS-OPERATÓRIO (DAN 2010) A ingestão de alimentos inicia-se após período de 12 a 24horas pós-operatório, com líquidos em pequenos goles e fracionados. A dietética é dividida em quatro fases. Período 1: Alimentação líquida A duração desta fase é de duas semanas. A alimentação liquida ajuda a diminuir as chances de complicações mecânicas. Preconiza-se 30mL/hora. Conforme tolerância, pode-se evoluir para 100-120ml/hora durante o dia. Não utilizar canudos (possibilita aerofagia). Evitar bebidas com gás, café e bebidas alcoólicas. Beber bastante líquido, o ideal é 1200 a 1800ml/dia. Toda vez que houver ajuste da 125 banda, voltar para a alimentação do período por uma semana. Período 2: Alimentação liquidificada (baixa em gordura e doce concentrado). Aproximadamente duas semanas após a intervenção cirúrgica. Todos os alimentos são liquidificados para a consistência de purê, cremes e papas. Este período de tratamento se mantém por duas semanas. Só é permitido 4 colheres de sopa (60g) por refeição. Ao sentir-se satisfeito deve para de comer. O mínimo recomendado de líquidos é 6 a 8 xícaras de chá (600 a 800ml), sendo as bebidas de baixa caloria. O ideal é consumo hídrico de 2,5 a 3,0L/dia. Nunca beba e coma ao mesmo tempo, esperar 30 minutos antes e após as refeições. Comer devagar, uma refeição deve durar de 30 a 45 minutos. As frutas devem ser cozidas, amassadas ou raspadas. Período 3: Alimentação pastosa (baixa em gordura e doce concentrado). Aproximadamente quatro semanas após a operação poderá ocorrer a progressão para a dieta pastosa, com duração de uma a duas semanas. Os alimentos são oferecidos sem passar no liquidificador, mas podem ser amassados com o garfo. Produtos cárneos devem ser servidos moídos, desfiados ou cortados em pequenoscubos. Ingerir primeiro os alimentos ricos em proteína. Meta: 70g de proteína/dia. As frutas devem ser amassadas ou raspadas. Evitar jejum superior a 3 horas. Período 4: Dieta normal (baixa em gordura e doce concentrado). Evitar frituras. Carnes devem ser preparadas grelhadas, assadas e cozidas. Ingerir primeiro os alimentos ricos em proteína. Meta: 70g de proteína/dia. Evitar jejum superior a 3 horas. Tabela 13: Manifestações clínicas decorrentes de carências nutricionais na pós-bariátrica – CHEMIN & MURA. Local Sinais clínicos Carências Pele Xerose, hiperceratose folicular, petêquias excessivas Dermatite Pouco brilho Cicatrização deficiente Seca e áspera Vitaminas A, C e K Ácidos graxos essenciais, zinco e niacina Ferro, ácido fólico Proteínas, vitamina C e zinco Vitamina A e ácidos graxos essenciais Face Cabelos Palidez, seborreia nasolabial, edema de face Queda excessiva, perda de brilho, secos, quebradiços, despigmentação, fáceis de se arrancar Proteína, vitamina B2 Proteína, ácidos graxos essenciais Olhos Palidez conjuntival e inchaço, xerose, hemorragia, conjuntivite leve Ferro, vitaminas A, B2, B6 e C Lábios Queilose angular (lesões rosas ou brancas nos cantos da boca) Vitamina B2 Língua Língua magenta, atrofia e hipertrofia das papilas Vitamina B2, ácido fólico e niacina. Gengivas Gengivas retraídas, sangramento Vitamina C Unhas Quebradiças, em forma de colher, com cumes Ferro Tecido subcutâneo Edema, pouca gordura Proteínas e calorias Sistema cardiovascular Cardiomegalias Vitamina B1 Sistema nervoso Mudanças psicomotoras, fraqueza motora, alterações sensitivas, depressão, formigamento das mãos e dos pés: confusão e demência Proteína, vitamina B1, B5 e B12 Necessidades nutricionais (CHEMIN & MURA) Líquidos 2000 mL/dia; Proteínas 60 – 80g/dia. Em caso de depleção de proteína e glicogênio repõe-se de 1,5 – 2g/kg de peso corrigido/dia; Carboidratos avaliar a presença de Dumping, nestes casos, açúcares e alimentos ricos em açúcar simples deve ser excluído; Gorduras uso de alimentos e preparações com pouco gordura, por conta do alto valor calórico; Vitaminas e Minerais avaliar carências específicas (B12, ferro, cálcio em especial); Fibras introduzidas a partir do quarto mês como suplemento. Fibras solúveis – Benefiber®; Mix de fibras – Stimulance®. c) Complicações As complicações mais temidas no pós-operatório são sepse de origem abdominal, causada por deiscência de sutura, e o tromboembolismo pulmonar. Outras complicações menos graves: atelectasia pulmonar, hipoventilação, seroma, infecção de ferida operatória, hérnia incisional, litíase biliar e obstrução intestinal. A baixa ingestão de água é de risco para nefrolitíase. Nas cirurgias restritivas e mistas, alimentos proteicos mal mastigados podem impactar o reservatório gástrico proximal, formando benzoares. A má absorção nas cirurgias mal absortivas pode causar flatulência e diarreia/esteatorréia, sendo inconvenientes. Podem ser contornados com dieta pobre em gordura e metronidazol. d) Monitoração Além da avaliação da ingestão alimentar, do peso corporal e alterações de composição corporal, dentre outros parâmetros. 126 Tabela 14: Exames laboratoriais pós-operatórios. e) Atividade física Recomenda-se, pelo menos, 30min de caminhada diária associada com hidroginástica, esporte ou dança. O exercício contribui para o emagrecimento e manutenção do peso perdido. f) Falha da cirurgia Perda de peso em excesso inferior a 50% caracteriza falha no tratamento. O emagrecimento insuficiente está relacionado à escolha inadequada da técnica, abuso de alimentos calóricos ou sedentarismo. A cada 6 meses Hemograma, coagulograma, glicemia de jejum, TGO, TGP, colesterol total e frações, proteína total, albumina, ácido úrico, cálcio total e ionizado, ferro, ferritina, transferrina, ácido fólico e vitamina B12. A critério Vitamina A, tiamina, vitamina D, zinco, magnésio, fósforo e PTH. 127 O termo abaixo do peso se aplica a indivíduos que estão 15 a 20% ou mais abaixo do peso padrão aceitável. Um baixo IMC está associado a maior risco de mortalidade do que os indivíduos normais, especialmente com o envelhecimento. IMC<18,5 promove: subfunção da hipófise, tireoide, gônadas e adrenais, maior suscetibilidade a infecções e traumatismos assim como uma imagem corporal distorcida e problemas psicológicos. O baixo peso pode ser causado por: a) ingestão insuficiente; b) atividade excessiva (aumento do gasto); c) baixa absorção e/ou utilização de nutriente; d) patologias com aumento de necessidades (estado hipercatabólico); e) estresse psicológico ou emocional. E importante avaliar a causa e a extensão do baixo peso antes do início do programa de tratamento. Avaliar: I) história clínica; II) dados antropométricos (peso, altura, padrão de crescimento, dobras cutâneas, área muscular e adiposa do braço – permitem avaliar se existe realmente o risco de saúde pelo baixo peso); III) dados biquímicos. Em relação ao tratamento, deve-se começar pela causa do baixo peso (infecção, trauma, dentre outros). O apoio nutricional e dietético são efetivos juntamente ou após o tratamento do distúrbio subjacente ou quando a causa do baixo peso é de origem somente nutricional. Medidas mais utilizadas na avaliação de estado nutricional: peso e estatura. Índices utilizados: - menores de 5 anos: * peso/idade (P/I); * estatura/idade (E/I); e * peso para estatura (P/E). (DAN 2010): Déficit de E/I indica um processo crônico ou pregresso de retardo de crescimento linear. Déficit de P/E indica acúmulo insuficiente de massa corporal ou catabolismo de tecidos corporais e, portanto, uma depleção aguda. O P/I expressa alterações agudas e crônicas. - indivíduos com idade > 5 anos – usa-se o IMC. Em adolescentes, pode-se combinar o IMC com o índice E/I. Os índices P/I, E/I e P/E podem ser expressos de acordo com diferentes critérios de classificação: porcentagem de adequação, percentil e Escore-Z. Mais utilizados: percentil e Escore-Z. Tabela 1: Classificação de gravidade para crianças segundo a OMS - DAN 2009). Classificação da gravidade da desnutrição Indicador P/E Normal Leve Moderada Grave Escore-Z ±1Z -1,1 a -2Z -2,1 a -3Z <-3Z % adequação 90-110 80-89 70-79 <70 Classificação da gravidade da desnutrição Indicador E/I Normal Leve Moderada Grave Escore-Z ±1Z -1,1 a -2Z -2,1 a -3Z <-3Z % adequação 95-105 90-94 85-89 <85 Entre adultos, a OMS estabeleceu pontos de corte para baixo peso, sobrepeso e obesidade, segundo IMC. - IMC < 18,5kg/m2 baixo peso. A desnutrição é classificada, em adultos, pelo IMC: 17,0-18,4 Kg/m2 - depleção grau I 16,0-16,9 Kg/m2 - depleção grau II <16,0 Kg/m2 - depleção grau III EFEITOS DA DESNUTRIÇÃO EM LONGO PRAZO (DAN 2009) Teoria da Programação metabólica fetos humanos possuem a capacidade de adaptação frente à oferta de nutrientes insuficientes. O sistema endócrino possui papel fundamental nessa adaptação e que, no longo prazo, aumentaria o risco de doenças relacionadas à obesidade na vida adulta, como diabetes e hipertensão. TRATAMENTO DA CRIANÇA DESNUTRIDA (DAN 2009) O tratamento da criança desnutrida não deve ser enfocada apenas nas alterações de saúde, mas também nos problemas sociais e familiares em toda sua complexidade, como déficit de renda, analfabetismo materno, condições inadequadas de saneamento básico, presença de violência nos bolsões de pobreza e a quantidade e qualidade da dieta das populações pobres. Incluir medidas como: - programas de monitoramento de crescimento infantil; - programa de educação nutricional e orientação, em especialsobre amamentação e higiene; - promoção da segurança alimentar e nutricional. (DAN 2009): Ambulatórios de Recuperação Nutricional CREN. Objetivos: - promover recuperação nutricional efetiva de lactentes e pré-escolares com desnutrição primária; - prevenir ocorrência de patologias; - diagnosticar e tratar intercorrência clínicas; - promover desenvolvimento global da criança; - realizar abordagem educativa familiar; - diagnosticar e corrigir erros alimentares da família e da criança; - facilitar o acesso das famílias mais carentes aos recursos sociais disponíveis na região. Para atingir esses objetivos, faz-se necessário uma abordagem multiprofissional. Nos CREN, a criança fica 10 horas por dia, de segunda a sexta-feira, recebe cinco refeições que contemplem no DESNUTRIÇÃO Prof. José Aroldo Filho goncalvesfilho@nutmed.com.br 128 mínimo 70% das necessidades energéticas e 100% das necessidades proteicas corrigidas para o percentil de A família é orientada a fornecer mais uma refeição no domicílio (as famílias recebem uma cesta básica/mês como complemento de tratamento). Entretanto, no Brasil, os CREN são isolados. Em relação às orientações ambulatoriais, deve-se incluir: orientação ao aleitamento materno exclusivo até o sexto mês, orientação para a introdução de alimentos complementares adequados ao final do sexto mês de vida, com manutenção do aleitamento até 2 anos ou mais, monitoramento do crescimento com anotações no cartão da Criança, orientações de higiene e preparo de alimentos, cuidados com a água, entre outros. DESNUTRIÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA (DAN 2009) A desnutrição hospitalar pode ser resultado de uma conjugação entre a desnutrição primária, consequente do baixo nível socioeconômico que dificulta a aquisição de aporte proteico-calórico adequado, e a desnutrição secundaria, consequente à doença do paciente, como câncer, infecção ou doenças crônicas. DESNUTRIÇÃO TERCIÁRIA (DAN 2009) Conforme aumenta o tempo de internação hospitalar, também aumentam o risco de desnutrição. O aumento da desnutrição durante a internação hospitalar pode ser explicado por uma soma de condições, incluindo fatores causais da desnutrição no momento da admissão, maior consumo das reservas energéticas e nutricionais do enfermo em resposta a tratamentos graves (cirurgia, QT, RT) e eventuais perdas por distúrbios digestivos (náuseas, vômitos, íleo paralitico e diarreia). Também pode ser decorrente de iatrogenia. TIPOS DE DESNUTRIÇÃO 1.DESNUTRIÇÃO AGUDA (DAN 2009) Anteriormente chamada de kwashiokor. Diagnóstico: - albumina <2,8g/dL; - transferrina <150mg/dL; - linfócitos <1500mm3; - anergia ao teste cutâneo. Sinais clínicos: - edema nutricional / ascite; - hepatomegalia; - alteração de cabelo e pele; - hipoalbuminemia; - diminuição de função imune; - ligada a trauma e infecções, principalmente entre pacientes internados em UTI recebendo soluções glicosadas a 5% por 10 a 15 dias. 2.DESNUTRIÇÃO CRÔNICA (DAN 2009) Considerado o estágio final do processo de caquexia, na desnutrição crônica os depósitos orgânicas de gordura estão reduzidos. Causada por doenças crônicas e indolentes, a desnutrição crônica é de fácil diagnóstico pelo exame clínico do paciente, que se encontra emagrecido e sem massa gordurosa e muscular. Diagnóstico: - Peso <80% do ideal; - DCT <3mm; - CMB <15cm; - Altura <60% do padrão; - Hipoalbuminemia não inferior a 2,8g/dL. Sinais clínicos: - emagrecimento; - diminuição de temperatura corpórea; - diminuição de frequência cardíaca e TMB; - constipação e em alguns casos diarreia de jejum (fezes com muco). 3.DESNUTRIÇÃO MISTA (DAN 2009) Ocorre quando um paciente com desnutrição crônica é submetido ao estresse metabólico, promovendo aparecimento de edema, entretanto não há despigmentação de cabelo. CORRELAÇÃO CLÍNICA – CHEMIN & MURA a)Marasmo: anorexia nervosa, DEP secundária à AIDS. b)Kwashiokor: DEP secundária ao prejuízo na absorção de proteínas. RESPOSTA METABÓLICA AO JEJUM AGUDO (DAN 2009) A resposta orgânica ao jejum agudo implica adaptações metabólicas deflagradas pela hipoglicemia, que ocorre após 15horas de jejum, por exaustão de glicogênio hepático, muscular e de glicose circulante. Tem-se redução da insulina plasmática e elevação de glucagon, catecolaminas e cortisol. A elevação dos contrarreguladores promove estímulo à gliconeogênese hepática e renal. Os principais aminoácidos gliconeogênicos são ALANINA e GLUTAMINA. Ocorre aumento da oxidação de ácidos graxos como fonte de energia (observa-se QR ±0,7), além de queda da TMB (queda do consumo de oxigênio de 20 – 30%). Esses eventos promovem rápida perda de peso (2,2 a 4,5kg) na primeira semana, que diminui posteriormente para 220g/dia. Na ausência de estresse este evento é rapidamente revertido com a administração de calorias ou proteínas externas. RESPOSTA METABÓLICA AO JEJUM PROLONGADO (DAN 2009) Após as primeiras 72 horas de jejum, se estabelecem alterações adaptativas do jejum prolongado. Ocorre maior utilização de lipídios e redução da degradação proteica. Os lipídios se convertem na principal fonte de energia e os corpos cetônicos no principal meio de troca energética. A GLUTAMINA, metabolizada pelo rim, é responsável por 45% da produção de glicose no jejum prolongado. A utilização de corpos cetônicos pelo SNC e sua difusão pela barreira hematoencefálica é facilitada. Esse processo é rapidamente revertido com a administração de glicose ou AA. RESPOSTA ORGÂNICA AO TRAUMA (DAN 2009) A resposta dependerá da intensidade e duração da agressão inicial e da resposta do paciente. Existem 129 diferenças entre a resposta orgânica em casos de desnutrição complicada (trauma) e não complicada (crônica). Na desnutrição complicada, a necessidade energética, a produção de insulina, os hormônios contrarregulatórios, a água corporal total e a proteína visceral estão aumentados. O combustível primário é misto, tem-se QR ~0,85, associado a elevadas taxas de proteólise, gliconeogênese e perda de peso. As cetonas estão ausentes. Na desnutrição não-complicada, a necessidade energética, produção de insulina, água corpórea total e proteólise estão diminuídas. O combustível primário é o lipídio (QR ~0,75) Cetonas estão presentes e os hormônios contrarregulatórios atingem seu nível basal. EVOLUÇÃO CLÍNICA DO DOENTE COM DESNUTRIÇÀO (DAN 2009) Quando o suprimento proteico-calórico para os tecidos e células não pode ser mantido, ocorre grave descompensação orgânica (rim, coração, fígado e intestino) com consequente acidose, coma e morte. A descompensação metabólica, promovida pela desnutrição proteica grave, pode ocorrer em poucas horas e inclui distúrbios de coagulação e icterícia, uma vez que o fígado não é capaz de produzir fatores de coagulação e proteínas de transporte. Causas mais comuns de óbito: edema pulmonar com broncopneumonia, sepse, gastroenterite e desequilíbrios hidroeletrolíticos. CUIDADO NUTRICIONAL As dietas ricas em energia para o ganho de peso devem ser somente iniciadas após o planejamento dietético, que pode revelar inadequações de consumo e ingestões nutricionais específicas. Deve-se prescrever refeições em horários fixos. Recomenda-se ainda acréscimo calórico de ~500 a 1000kcal nas necessidades calculadas para o indivíduo, segundo sexo, idade e atividade física, calculadas com base no peso atual do indivíduo. A ingestão deve ser aumentada gradualmente até os valores programados para evitar o desconforto gástrico e períodos de desânimo, além de prevenir desequilíbrios eletrolíticos e de funcionamento cardíaco (síndrome do roubo celular ou realimentação/overfeeding). O planejamento dietéticobaseia-se na atrofia da mucosa intestinal. A distribuição energética dos macronutrientes deve ser: a) lipídeos – 30%; b) proteínas – 12 a 15%; c) carboidratos – complementar o VCT. Às vezes podem ser necessárias suplementações básicas de vitaminas e minerais dependendo do estado nutricional. Caso necessário, utilizar suplementos líquidos, de alta densidade energética. ALTERAÇÕES FUNCIONAIS E ENDOCRINOLÓGICAS Pacientes com DPE podem apresentar as seguintes alterações: Hematológicas: pode ocorrer diminuição das concentrações de hemoglobina e de hemácias, relacionada à necessidade de oxigênio aos tecidos. Com o início do tratamento nutricional, começa a haver síntese tissular, aumento da massa magra e da atividade física sendo necessário quantidades suficientes de ferro, ácido fólico e vitamina B12. Cardiovascular: o fluxo sanguíneo renal e a taxa de filtração glomerular podem estar reduzidas como consequência da diminuição do débito cardíaco. Respiratória: atrofia da musculatura acessória e do diafragma. Aparelho Digestivo: absorção intestinal prejudicada de lipídeos e dissacarídeos e uma taxa diminuída de absorção de glicose ocorrem na deficiência grave de proteínas. O trato gastrointestinal e o pâncreas se atrofiam. Há diminuição da produção das secreções gástrica, pancreática e biliar, com concentrações normais ou baixas de enzimas e de ácidos biliares conjugados. Em decorrência da hipocloridria, hipomotilidade intestinal e deficiências imunológicas (diminuição de IgA secretora), ocorre supercrescimento bacteriano no intestino delgado. Sistema Imune: redução do número de linfócitos T auxiliares pela diminuição da atividade da interleucina 1, redução da razão T4/T8 e da produção de linfocinas e monocinas. Na desnutrição proteico-calórica grave há uma diminuição da atividade da IL-1. Os níveis de TNF parecem estar elevados, o que pode estar associado à anorexia, degradação muscular e alteração do metabolismo de lipídeos (hipertrigliceridemia). Composição Corpórea: quando há perda de mais de 20% de proteína corpórea, a maioria das funções fisiológicas está significativamente alterada. Outras: Na DPC, ocorre diminuição do potássio corpóreo total devido à redução das proteínas musculares e à perda do potássio intracelular. 130 Tabela 3: Alterações hormonais na desnutrição e seus efeitos metabólicos – DAN WAIZTBERG (2009) Hormônios Atividade Efeitos Insulina Diminuída ↓Síntese proteica e muscular; ↓Lipogênese; crescimento Hormônio de crescimento (GH) Aumentada ↑Síntese de proteínas viscerais, ↓síntese de ureia, ↑lipólise, ↓captação de glicose pelos tecidos Somatomedina (insulin-like growh fator) Diminuída ↓Síntese proteica muscular e de cartilagem; ↓Síntese de colágeno; lipólise Catecolaminas (epinefrina) Normal, mas pode aumentar Lipólise, glicogenólise Glicocorticoide Normal ou aumentada ↑catabolismo proteico muscular, ↑ turnover das proteínas viscerais, ↑lipólise, ↑glicogenólise, ↓ações do GH dependentes das somatromedinas Renina-aldosterona Normal ou aumentada ↑retenção de sódio e água contribuindo para o aparecimento de edema Hormônios tireoidianos T4 normal ou diminuído T3 diminuída ↓oxidação de glicose ↓gasto energético basal Gonadotrofinas Diminuída Amenorreia Existem características que indicam mau prognóstico em pacientes com DPE (DAN WAITZBERG) Idade menor que 6 meses. Déficit de peso com relação à altura menor que 30%, ou peso para a idade maior que 40%. Esturpor, coma, ou outras alterações no estado mental ou nível de consciência. Infecções (broncopneumonia ou sarampo). Petéquias ou tendências a hemorragias. Desidratação e desequilíbrios eletrolíticos (hipocalemia e acidose severa). Taquicardia persistente. Anemia severa. Icterícia clínica ou elevação de bilirrubinas. Lesões cutâneas exsudativas ou esfoliativas. Hipoglicemia ou hipotermia. Proteínas séricas totais muito diminuídas. As causas mais comuns de morte são: edema pulmonar com broncopneumonia, sepse, gastroenterite e desequilíbrios hidroeletrolíticos. 131 I. ANOREXIA NERVOSA (AN) É uma condição clínica de inanição voluntária e emaciação, com perda de peso vista como sinal de alcance extraordinário e autodisciplina, com ganho de peso visto como inaceitável. O diagnóstico é indicado com o déficit de peso (perda de >25% do peso usual) ou peso corporal inferior a 85% do esperado associado aos critérios do DSM-V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders). O retardo de crescimento é visto em crianças em idade pré-puberal, acometidas por este distúrbio. Se ocorrer o retardo do crescimento, o déficit de peso deve ser calculado usando-se o percentil de altura pré-mórbido do paciente. A etiologia da Anorexia é multifatorial, incluindo fatores genéticos, biológicos, interpessoais, familiares, socioculturais no desenvolvimento e manutenção do distúrbio. O início é mais comum na adolescência, uma vez que a mudança com o corpo na fase puberal aumentam a preocupação com a forma e tamanho do corpo. Critérios de diagnóstico para Anorexia Nervosa (CID-10) A. Peso corporal atual mantido em 15% abaixo do considerado adequado ou IMC ≤17,5kg/m². Pacientes pré- púberes podem apresentar dificuldades quanto ao ganho de peso na fase de crescimento. B. Perda de peso “autoinduzida” e presença de um ou mais sintomas também induzidos: vômitos, purgação, excesso de exercícios físicos, uso de medicação anorexígena e/ou diuréticos. C.Distorção da percepção da imagem corporal de forma patológica, com medo mórbido de engordar (pavor) onde a paciente impõe a si própria, um baixo peso extremo. D.Presença de transtorno endócrino generalizado envolvendo o eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal com consequente aumento amenorreia nas mulheres e perda de interesse e impotência sexual nos homens. Níveis elevados de hormônios de crescimento, de cortisol com alterações nos hormônios tireoidianos e de insulina. E. Se o início é pré-puberal, a sequência de eventos é modificada (atrasada ou não existe) como crescimento físico, amenorreia, baixo desenvolvimento de caracteres sexuais secundários como os seios nas meninas e os genitais nos meninos. Critérios de diagnóstico para Anorexia Nervosa (DSM-V) A. Ingestão calórica restrita quando comparada às necessidades levando a um peso corporal significativamente baixo no contexto idade, gênero, desenvolvimento físico e saúde física (no caso de crianças e adolescentes, a paciente apresenta peso menor que o minimamente esperado – percentil <5 dos gráficos de IMC/Idade). B. Medo intenso de ganhar peso ou engordar ou, até mesmo, de ficar sobrepeso, mesmo estando magra; C.Distúrbio na maneira em que visualiza o peso ou tamanho corporal, excessiva influência na auto avaliação do peso ou do tamanho corporal ou não considera o baixo peso preocupante; Existem dois padrões de Anorexia Nervosa: - Restritivo: Durante os últimos 3 meses, o indivíduo não teve episódios recorrentes de comportamentos compulsivos ou purgativos. Nesse subtipo, a perda de peso é alcançada através de dietas, jejuns e/ou atividades físicas para perder peso. - Compulsivo-Purgativo: Durante os últimos 3 meses, o indivíduo teve episódios recorrentes de comportamentos compulsivos ou purgativos (vômitos, abuso de laxantes e diuréticos ou enemas) Remissão: 1)Parcial: depois de terem sido preenchidos todos os critérios para anorexia nervosa, o critério A não foi mais satisfeito por um período de tempo, porém os critérios B e C ainda estão presentes. 2)Total: O paciente passa por um período prolongado sem apresentar nenhum dos critérios. Gravidade: Leve: IMC ≥ 17 kg/m2 Moderada:IMC 16 a 16,99 kg/m2 Grave: IMC 16 a 15,00 kg/m2 Extrema: IMC < 15 kg/m2 ASPECTOS CLÍNICOS E COMPLICAÇÕES: As complicações clínicas nos portadores de transtornos alimentares podem representar risco de vida estando associadas a fatores como tempo de evolução; idade de início do quadro; intensidade da redução ponderal e tipos e frequência de métodos compensatórios. Os sinais e sintomas físicos associados à AN são: Emagrecimento, cuja perda acentuada de peso promove o aparecimento dos ossos e à diminuição acentuada do tecido adiposo; Hirsutismo (pele coberta por uma fina camada de pêlos); Lanugem; Hipercarotenodermia; Pele ressecada, apatia, falta de disposição e cansaço. Complicações endócrino-metabólicas: Amenorreia; Em homens, esterilidade e perda de desejo sexual; Anormalidade ou discreto aumento de GH e diminuição da somatomedina (estimulando a lipólise, como na desnutrição); Intolerância ao frio; Hipoglicemia, hipotermia e desidratação. Complicações cardiovasculares: Bradicardia e hipotensão (em decorrência da desidratação e da diminuição das catecolaminas); Arritmias (decorrente de distúrbios hidroeletrolíticos). TRANSTORNOS DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR Prof. José Aroldo Filho goncalvesfilho@nutmed.com.br 132 Complicações do TGI: Obstipação; Saciedade precoce; Alterações de paladar; Diarreia (presente somente no abuso de laxantes, provocando má absorção) não é complicação comum. Complicações hematológicas: Leucopenia e linfopenia; Anemia. Complicações ósseas: Osteoporose e osteopenia, podendo ocasionar fraturas. Complicações renais: Diminuição da TFG e risco para formação de cálculos (decorrente da desidratação e da hipocalemia). II. BULIMIA NERVOSA (BN) A bulimia é um distúrbio caracterizado por episódios recorrentes de ingestão excessiva de alimentos seguidos de um ou mais comportamentos compensatórios impróprios para prevenir o ganho de peso, que englobam vômito auto induzido, abusos de laxativos e diuréticos, jejuns prolongados e em excesso ou exercício compulsivo. Diferentes dos pacientes com anorexia nervosa, pacientes bulímicos estão dentro da variação de peso normal, embora alguns estejam ligeiramente abaixo do peso ou com sobrepeso. Alguns fatores etiológicos foram propostos para o desenvolvimento de Bulimia Nervosa e inclui dependência, familiar, nível sociocultural, cognitivo-comportamento e psicodinâmico. Critérios de diagnóstico para Bulimia Nervosa (CID-10) A. Há preocupação constante com a alimentação e um desejo irresistível por comida, onde grandes quantidades de alimento são ingeridas em um curto espaço de tempo. B. A paciente tenta “neutralizar” os efeitos de engorda dos alimentos, lançando mão de métodos purgativos como vômitos autoinduzidos, abuso de laxantes, diuréticos e anorexígenos, além de atividades físicas excessivas. C. Pavor mórbido de engordar, irregularidade do ciclo menstrual, alterações eletrolíticas e endocrinometabólicas. Critérios de diagnóstico para Bulimia Nervosa (DSM-V) A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado por ambos os seguintes critérios: 1. Ingestão, em um período limitado de tempo (por exemplo, dentro de um período de 2 horas), de uma quantidade de alimentos definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria em um período similar, sob circunstâncias similares; 2. Um sentimento de falta de controle sobre o episódio (por exemplo, um sentimento de não conseguir parar ou controlar o que ou quanto se come) B. Comportamentos compensatórios inapropriados para prevenir ganho de peso, como vômito autoinduzido; abuso de laxantes, diuréticos ou outras medicações; jejum; ou excesso de exercício físico. C. A compulsão e o comportamento compensatório inapropriado devem ocorrer, no mínimo, pelo menos uma vez por semana, por 3 meses. D.Autoimagem indevidamente influenciada pelo peso e forma corporal E. O transtorno não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa Remissão: 1) Parcial: depois de todos os critérios terem sido preenchidos, alguns, porém não todos, foram preenchidos por um período de tempo. 2) Total: depois de todos os critérios terem sido preenchidos, nenhum foi mais preenchido por um período de tempo. Gravidade: Leve: média de 1 a 3 episódios de comportamentos compensatórios por semana Moderada: média de 4 a 7 episódios de comportamentos compensatórios por semana Grave: média de 8 a 13 episódios de comportamentos compensatórios por semana Extremo: média de 14 ou mais episódios de comportamentos compensatórios por semana CHEMIN & MURA – Os sinais e sintomas físicos associados à BN são: Sobrepeso ou peso próximo ao normal; Aumento de glândulas parótidas, sublingual e submandibular (reflexo dos vômitos induzidos); Sinal de Russell (calos em mãos); Dentes em perimólise (erosão de esmalte dentário ou cárie de língua); Fraqueza física e personalidade transtornada e extremista, associada à depressão e risco de suicídio. Complicações endócrino-metabólicas: Hipoglicemia e hipercolesterolemia; Irregularidade menstrual (não amenorreia); Distúrbios hidroeletrolíticos (complicação mais grave. Distúrbios de sódio, cloreto, fósforo, potássio e magnésio são os mais importantes); Desidratação e alcalose metabólica ocasionados pelo excesso de métodos purgativos (vômitos, diuréticos e laxantes). Complicações cardiovasculares: Arritmias cardíacas causadas por alterações em eletrólitos. Complicações do TGI: Sensação de náuseas e salivação excessiva, como reflexo da indução de vômitos; Obstipação ou diarreia; Alterações de cavidade oral (perda de dentes, cáries e aumento de glândulas salivares) face de meia-lua; Esofagite e até hemorragia alta; Dilatação gástrica e ulcerações; Alterações enzimáticas em fígado e pâncreas. Complicações hematológicas: 133 Anemia em indivíduos com sintomatologia intensa. Complicações renais: Diminuição de cloretos e potássio; Desidratação e risco aumento para nefroitíase. Tabela 1: Comparação dos transtornos alimentares (TA) – CHEMIN & MURA. Anorexia nervosa Bulimia nervosa Medo mórbido de engordar Faixa etária de início da doença: entre 12 e 18 anos Prevalência: 0,5 a 1 % Magreza Amenorreia Desnutrição, hirsutismo, lanugem, apatia, indisposição, braquicardia, hipotensão, saciedade precoce, obstipação/diarreia, leucopenia, linfopenia, anemia, osteoporose nefrolitíase Quer desesperadamente emagrecer Faixa etária de início da doença: entre 16 e 26 anos ou mais Prevalência: 3 a 5% Peso corporal próximo do normal ou sobrepeso Irregularidade menstrual Sobrepeso, sinal de Russel, perimólise, aumento da glândula parótida, distúrbio hidroeletrolítico, hipoglicemia, arritmia cardíaca, ulcerações esofágicas e gástricas, anemia, nefrolitíase Subtipos Subtipos Restritivo: não há purgação Compulsão periódico-purgativa: há purgação Purgativo: há purgação Sem purgação: há jejuns e atividade física, mas não há a prática de vômitos, diuréticos, laxantes III. TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES Acompanhamento deve ser realizado por equipe multidisciplinar: médico (avaliação clinica), nutricionista (reeducação alimentar e nutricional), psiquiátrica e psicológica. Início do tratamento: ambulatório / consultório. Frequência: semanal. Objetivo interrupção da perda de peso, melhora da subnutrição e nos parâmetros clínicos. Em pacientes bulímicos, avaliar também as intercorrências gastrointestinais. DAN WAITZBERG (2009) Equipe multidisciplinar – acompanhamento psiquiátrico, nutricional e psicoterapia. META: ganho de peso até IMC>19kg/m2. 1. Terapia Medicamentosa Os antidepressivos
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