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A Antropologia Observada na Idade Moderna - Floriano do Ó do Nascimento Júnior

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO PREBISTERIANO 
JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO 
FLORIANO DO Ó DO NASCIMENTO JÚNIOR 
 
 
 
 
 
 
 
A ANTROPOLOGIA 
OBSERVADA NA IDADE 
MODERNA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo-SP 
2019 
2 
 
SEMINÁRIO TEOLÓGICO PREBISTERIANO JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO 
A ANTROPOLOGIA 
OBSERVADA NA IDADE 
MODERNA 
 
 
Floriano do Ó do Nascimento Júnior 
 
 
 
Trabalho de conclusão da matéria de 
Monografia 2 apresentado ao Seminário 
Teológico Presbiteriano Rev. José 
Manoel da Conceição. 
 
Orientador: 
Rev. Ronaldo Bandeira Henriques 
 
 
3 
 
SEMINÁRIO TEOLÓGICO PREBISTERIANO JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO 
A ANTROPOLOGIA 
OBSERVADA NA IDADE 
MODERNA 
 
 
Floriano do Ó do Nascimento Júnior 
 
Trabalho de conclusão da matéria de 
Monografia 2 apresentado ao Seminário 
Teológico Presbiteriano Rev. José 
Manoel da Conceição. 
APROVADA EM: 25 DE SETEMBRO DE 2019 
 
BANCA EXAMINADORA 
______________________________________ 
Rev. Ronaldo Bandeira Henriques 
______________________________________ 
 Rev. Donizeti Rodrigues Ladeia 
______________________________________ 
 Rev. Walter Bronzelli Czinczel 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Dedico esta obra a Deus como 
forma de honrá-lo por seu imenso 
amor demonstrado em seu plano 
de salvação. 
6 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus pelo seu sustento em diversos momentos de diversidade e pelo seu amor 
incondicional. 
À minha esposa que me deu apoio durante o decorrer dessa caminhada. 
Aos professores do Seminário JMC pelo ensinamento concedido durante esse 
período de estudo. 
Ao reverendo Rubens de Castro pelo seu cuidado como pastor. 
7 
 
RESUMO 
 
Ao estudar os diversos movimentos filosóficos e sociológicos fica evidenciado o 
constante esforço do homem em explicar o seu comportamento e de dar um 
direcionamento no seu modo de agir. Diversos estudiosos apareceram na Idade Moderna 
para tratar desses assuntos tais como John Locke (1632-1704), Max Weber (1864-
1920), Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Jean-Paul Sartre (1905-1980). 
A grande questão é que todos estes estudiosos acabaram se afastando das 
Escrituras para explicar suas teses, partindo do pressuposto que o homem tem 
capacidade por si mesmo de achar seu próprio caminho. Ao menosprezar a queda do 
homem, eles deram uma falsa liberdade de que cada indivíduo pode desenvolver uma 
metodologia de vida capaz de se satisfazer afastado do Cristianismo. 
A consequência do abandono de Deus foi o ser humano elaborando diversas 
maneiras de viver, mas sem saber quem ele é de fato. As Escrituras trazem informações 
assertivas sobre o que é o ser humano e dá provas da decadência humana ao se afastar 
de Deus. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Antropocentrismo. Decadência humana. Escrituras. Abandono 
de Deus. 
8 
 
ABSTRACT 
 
In studying the various philosophical and sociological movements, man's 
constant effort to explain his behavior and to give direction in his way of acting. Several 
scholars appeared in the Modern Age to deal with such subjects as John Locke (1632-
1704), Max Weber (1864-1920), Friedrich Nietzsche (1844-1900), and Jean-Paul Sartre 
(1905-1980). 
The great question is that all these scholars have turned away from the Holy 
Scriptures to explain their theses, assuming that man has the capacity for himself to find 
his own way. By disregarding the fall of man, they gave a false freedom that each 
individual can develop a methodology of life capable of satisfying themselves away 
from Christianity. 
The consequence of the abandonment of God was the human being elaborating 
diverse ways of living, but without knowing who he really is. The Holy Scriptures bring 
assertive information about what a human being is and gives evidence of human decay 
by turning away from God. 
 
KEY WORDS: Anthropocentrism. Human decay. Holy Scriptures. Abandonment of 
God. 
9 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11 
1. O ILUMINISMO: A DESCENTRALIZAÇÃO DO CRIADOR ......................... 15 
1.1. NÃO HÁ PRINCÍPIOS INATOS NA MENTE ....................................................... 16 
1.2. NÃO HÁ PRINCÍPIOS PRÁTICOS INATOS ........................................................ 17 
1.3. A ORIGEM DAS IDEIAS E DO CONHECIMENTO ........................................... 18 
1.4. A FORMAÇÃO DA VERDADE ............................................................................... 19 
1.4.1. Verdade sobre a existência humana ................................................................... 20 
1.4.2. Verdade sobre a existência de Deus ................................................................... 21 
1.4.3. Verdade sobre a existência de outras coisas ..................................................... 21 
1.5. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 22 
2. CAPITALISMO – O HOMEM EM BUSCA DE LUCRO ................................... 24 
2.1. A EXTENSÃO DO ESPÍRITO CAPITALISTA E SEU SIGNIFICADO ........... 25 
2.2. A RAIZ DO CAPITALISMO ESTÁ NO PROTESTANTISMO .......................... 26 
2.3. O ESPÍRITO DO CAPITALISMO ............................................................................ 27 
2.4. A ANÁLISE DA DOUTRINA CALVINISTA E SEU RESULTADO ................ 28 
2.5. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 29 
3. EXISTENCIALISMO – O HOMEM EM BUSCA DE SUA LIBERDADE ..... 32 
3.1. O INÍCIO DO EXISTENCIALISMO ....................................................................... 32 
3.2. O EXISTENCIALISMO COM SARTRE ................................................................. 34 
3.3. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 36 
4. NIILISMO: A TRANSVALORIZAÇÃO DA MORAL ........................................ 38 
4.1. O CONCEITO DE SUPER HOMEM ....................................................................... 39 
4.2. O CONCEITO DE ETERNO RETORNO ................................................................ 40 
4.3. A MORTE DE DEUS .................................................................................................. 41 
4.4. NIILISMO ..................................................................................................................... 42 
4.5. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 42 
5. O ANTROPOCENTRISMO PAULINO ................................................................... 44 
5.1. A TRANSGRESSÃO DA LEI DE DEUS ................................................................ 45 
5.2. AS ESCRITURAS TESTEMUNHAM CONTRA AS ATITUDES HUMANAS
 46 
5.3. TODOS SÃO CULPADOS DIANTE DE DEUS .................................................... 50 
5.4. IMPLICAÇÕES PARA A IDADE MODERNA ..................................................... 52 
10 
 
5.5. AVALIAÇÃO DA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER QUANTO À 
NATUREZA HUMANA ......................................................................................................... 53 
5.6. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 54 
6. O CONTRASTE ENTRE A BÍBLIA E AS DEMAIS DOUTRINAS ................ 55 
6.1. A BÍBLIA E O ILUMINISMO .................................................................................. 55 
6.2. A BÍBLIA EO CAPITALISMO ................................................................................ 57 
6.3. A BÍBLIA E O EXISTENCIALISMO ...................................................................... 58 
6.4. A BÍBLIA E O NIILISMO ......................................................................................... 59 
6.5. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 60 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 64 
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 66 
 
 
11 
 
 
INTRODUÇÃO 
A tentativa dos filósofos da Idade Moderna é explicar quem é o ser humano 
baseado nele mesmo, depois abandonar a visão transcendental, ou seja, a partir daí, 
diversos movimentos filosóficos foram desenvolvidos na expectativa de compreender o 
ser humano a partir de suas observações, eliminando quaisquer aspectos sobrenaturais. 
O homem tenta explorar uma liberdade e definir seus próprios caminhos para encontrar 
sentido à sua vida, mas diversas perguntas ficam sem resposta, o que leva o ser humano 
a buscar novos conceitos para preencher esse vazio. O resultado dessa perda de foco é 
um ser humano perdido e sem referência absoluta em que cada indivíduo tem a sua 
própria verdade no pensamento moderno, caminhando para um abismo moral do ponto 
de vista das Escrituras. 
Entender esse ponto de vista da queda do ser humano, a partir de uma avaliação 
dos movimentos filosóficos, ajuda a compreender os pressupostos que o pensamento 
moderno caminha e assim é possível desenvolver uma apologética mais adequada para o 
posicionamento do cristão quanto à natureza pecaminosa humana e a necessidade de 
achar em Cristo o motivo de redenção e remissão dessa natureza. 
A proposição do trabalho é focar em destacar quatro movimentos dentro da 
Idade Moderna e avaliar as ideias dos principais pensadores. Serão avaliados os 
estudiosos John Locke (1632-1704), Max Weber (1864-1920), Friedrich Nietzsche 
12 
 
(1844-1900) e Jean-Paul Sartre (1905-1980) em seus respectivos movimentos: Iluminismo, 
Capitalismo, Niilismo e Existencialismo. 
No capítulo 1, a partir da obra Ensaio Acerca do Entendimento Humano, Locke 
(1632-1704) afirma que não há princípios inatos, ou seja, o homem não possui uma 
preconcepção de quem é Deus ou traços de divindade dentro de si. A partir daí, ele parte 
da ideia que o homem é como um papel em branco o qual monta a sua própria história 
através de suas experiências. Isso não quer dizer que foi anulado a razão. A questão é 
que a experiência fornece as ideias para gerar o conhecimento. A ideia é o objeto do 
conhecimento. Todo o conhecimento é formado pelo homem e este é a porta de abertura 
para que o ser humano se afastasse de Deus dentro da Idade Moderna. 
O capítulo 2 traz a visão de Weber (1864-1920) responsabilizando o 
protestantismo pelo surgimento e degradação do ser humano a partir do capitalismo. 
Para Weber (1864-1920), o capitalismo não é uma busca desenfreada por dinheiro, mas 
começa com uma ação racional apurada e calculada. O problema é quando Weber 
(1864-1920) começa a discutir sobre o início do capitalismo como se conhece (busca 
desenfreada pelo lucro). Ele começa a estabelecer as bases na ética protestante, 
especialmente, com Calvino (1509-1564). A implantação da Reforma trouxe novos 
conceitos bem diferentes do que o catolicismo vinha pregando com relação ao trabalho. 
Enquanto, o trabalho era visto como algo de baixo nível para os católicos, o 
protestantismo elava o status do trabalho para algo divino. Primeiro, Weber (1864-
1920) trata a questão de que o protestantismo apresenta o trabalho como uma vocação 
dada e que cada individuo precisa cumprir aquilo que Deus assim o vocacionou. Assim, 
Weber (1864-1920) entende que a visão calvinista não se pode gastar com coisas 
luxuosas como forma de ostentação, pois isso era mau para Deus, portanto, a ideia seria 
trabalhar mais e com isso ganhar mais dinheiro. Por fim, Weber (1864-1920) diz sobre 
como o protestantismo alienou o homem a trabalhar em busca do lucro: 
[...] surgiu uma ética econômica especificamente burguesa. Com a 
consciência de estar na plenitude da graça de Deus e visivelmente por Ele 
abençoado, o empreendedor burguês, desde que permanecesse dentro dos 
limites da correção formal, que sua conduta moral estivesse intacta e que não 
fosse questionável o uso que fazia da riqueza, poderia perseguir seus 
interesses pecuniários o quanto quisesse, e sentir que estava cumprindo um 
dever com isso. Além disso, o poder do ascetismo religioso punha lhe à 
disposição trabalhadores sóbrios, conscienciosos e extraordinariamente 
13 
 
ativos, que se agarravam ao seu trabalho como a um propósito de vida 
desejado por Deus
1
. 
O próximo capítulo traz as ideias de Sartre (1905-1980) sobre o homem. Ele 
parte do princípio que o existencialismo é uma doutrina que torna a vida humana 
possível e que, por outro lado, declara que toda verdade e toda ação implicam um meio 
e uma subjetividade. Tal doutrina está fundamentada afirmando que a existência 
precede a essência, ou seja, o homem parte da subjetividade para construir sua essência. 
Isso implica que o homem é o responsável pelas suas ações. Aqui, Sartre (1905-1980) 
enfatiza a ausência de Deus e isso implica que o homem não deve satisfações de seus 
atos e também não há um conceito do que é certo ou errado. A responsabilidade do 
homem é por aquilo que ele faz. Essa é a liberdade que o homem tem, pensando no 
existencialismo. 
No capítulo que fala sobre o niilismo, Nietzsche (1844-1900) descreve como o 
homem precisa aprender a sobrepor a moral de sua época para viver sem muletas, ou 
seja, abandonar a moral cristã. O ser humano que consegue viver de acordo com seus 
instintos, superando as adversidades da vida sem a necessidade de Deus, atinge um 
patamar acima dos demais sendo chamado de “Super Homem”. Para alcançar tal nível, 
Nietzsche (1844-1900) fala que Deus está morto e elabora um exercício (Eterno 
Retorno) para verificar se cada indivíduo está vivendo segundo seus próprios conceitos 
e instintos. De maneira geral, o homem precisa se desconstruir de seus conceitos, 
influenciados pela sociedade. Neste ponto, ele se encontra no “vazio”, precisando se 
reconstruir a partir da sua maneira de pensar e de sentir. 
O capítulo 5 irá falar sobre como são os pensamentos, os sentimentos e atitudes 
do homem de acordo com a Bíblia. Para isso, será analisada a passagem de Romanos 
3.9-20. A situação descrita nesta passagem coloca o homem como um ser decaído 
moralmente e incapaz de realizar obras boas e essa visão começa desde os primórdios 
da criação do mundo com a queda de Adão. A ênfase dessa queda está no fato de 
alcançar a todos os seres humanos independente de qual época estejam o que leva ao 
último capítulo. 
Este capítulo trará uma comparação dos movimentos filosóficos em relação às 
Escrituras. A construção das ideias de cada autor (Locke, Weber, Sartre e Nietzsche) 
 
1
 WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 4ª Edição. Trad.: Pietro Nassetti. São 
Paulo: Martin Claret, 2001, p. 137. 
14 
 
para dar o direcionamento ao homem tem uma falha principal em comum: a 
centralização do homem como ponto de partida. Deus foi destituído da sua posição 
como referência de moralidade. O teocentrismo deu lugar ao antropocentrismo. A 
superioridade das Escrituras explica o resultado desastroso dessa inversão. 
 
15 
 
 
1. O ILUMINISMO: A DESCENTRALIZAÇÃO DO CRIADOR 
Alister McGrath (1956) comenta que o início do Iluminismo se deu por volta de 
1750. A principal característica desse período é a declaração da onicompetência da 
razão humana. Issoimplica que a razão era capaz de explicar tudo sobre Deus e a 
moralidade, anulando assim a questão da revelação sobrenatural
2
. 
A visão teocêntrica deu lugar ao antropocentrismo. A Ciência já dava esse tom 
ao mostrar qual era a origem do conhecimento: a partir do raciocínio humano. Os 
conceitos da Ciência Medieval eram baseados na síntese das ideias da Grécia antiga 
com a teologia cristã. Seguindo o pensamento de Aristóteles (384-322 a.C.) , os 
escolásticos acreditavam que toda criatura tinha seu próprio lugar no universo e que era 
proveniente de Deus. Essa forma de pensar afirmava a existência de “esferas 
misteriosas” girando em torno da Terra a qual era fixa. Essa teoria conhecida como 
geocêntrica baseou-se também nas Escrituras em Josué 10.12,13; Eclesiastes 1.5 e em 
vários salmos
3
. 
 
2 MCGRATH, Alister. Paixão pela Verdade. Trad.: Hope Gordon Silva. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 
137. 
3
Cf. CLOUSE, Robert G.; PIERARD, Richard V.; YAMAUCHI, Edwin M. Dois Reinos: A igreja e a 
cultura interagindo ao longo dos séculos. Trad.: Suzana Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 348 
– 349. 
16 
 
No começo do século XVI, Nicolau Copérnico (1473-1543) começa a dar os 
primeiros passos para essa mudança de mentalidade. Apesar de adotar algumas ideias 
medievais como epiciclos e movimento circular perfeito dos corpos celestes, seu 
raciocínio foi baseado no método dedutivo. A partir de cálculos matemáticos, ele 
definiu que o Sol seria o centro do universo e que os demais planetas, inclusive a Terra, 
giravam em torno dele (teoria do heliocentrismo). Seguindo essa linha, Galilei Galilei 
(1564-1642) e Johann Kepler (1571-1630) fizeram aprimoramentos nos cálculos 
matemáticos e fortalecimento dessa nova teoria
4
. 
A ciência medieval acabou perdendo mais espaço com os estudos de Isaac 
Newton (1643-1727) na metade do século XVII. Suas contribuições para a matemática e 
física foram precisas, sendo que até os dias atuais, são amplamente utilizadas para 
estudo dos princípios da física. Sua abordagem era pautada em três princípios: 
experimentação; simplicidade e uso da matemática
5
. 
Neste mesmo período surge a figura de John Locke (1632-1704) o qual 
influenciou o movimento do Iluminismo através de seus escritos na área filosófica. Uma 
de suas principais obras é Ensaio Acerca do Entendimento Humano, explicando que 
todo o conhecimento é derivado da experiência e não provenientes de conceitos inatos 
ao homem. A seguir, serão apresentados os argumentos de Locke (1632-1704) de como 
o homem pode conhecer a si mesmo e sua realidade ao redor. 
1.1. NÃO HÁ PRINCÍPIOS INATOS NA MENTE 
Locke (1632-1704) começa afirmando que não há princípios inatos no homem. 
Essa proposição está vinculada à sua leitura de um autor chamado Ralph Cudworth 
(1617-1688) o qual vinculava a certeza da existência de Deus com o conhecimento inato 
do homem
6
. O que Locke (1632-1704) queria anular era o dogmatismo individual o que 
poderia transformar m certezas irredutíveis. A produção de verdade está mais vinculada 
ao fator de aceitação do maior número de pessoas (assentimento geral). 
 
4
 Cf. CLOUSE, Robert G.; PIERARD, Richard V.; YAMAUCHI, Edwin M. Dois Reinos: A igreja e a 
cultura interagindo ao longo dos séculos. p. 350- 351. 
5
 Ibid., p. 353. 
6
 LOCKE; John. Ensaio Acerca do Entendimento Humano. Trad.: Anoar Aiex. São Paulo: Nova Cultura, 
1999, p. 9. 
17 
 
A análise prossegue, contra argumentando com diversas proposições da 
existência de o homem constituir um pré-conhecimento de verdades. As crianças, por 
exemplo, não possuem verdades intrínsecas capazes de serem expressas e dizer que elas 
tomam conhecimento dessas verdades quando alcançam a idade da razão, ainda assim, 
não prova o inatismo
7
. 
O acordo universal (assentimento geral) também não constitui como prova ao 
inatismo, tendo em vista o meio que foi utilizado para essa concordância universal entre 
os homens
8
. Isso implica que não há como chegar ao assentimento geral sem que haja 
discussões, conversas ou análises em grupo para se chegar a conceitos morais mais 
profundos. 
Sendo assim, os passos pelos quais a mente alcança várias verdades são iniciadas 
com ideias particulares, preenchendo a mente vazia. Posteriormente, algumas dessas 
ideias são depositadas na memória as quais são designadas por nome. Em outro 
momento, a mente abstrai e apreende gradualmente o uso dos nomes gerais. A partir 
daí, há o enriquecimento das ideias e linguagem, materiais com que exercita sua 
faculdade discursiva. O resultado é a visibilidade do uso da razão, de acordo com o 
emprego desses materiais
9
. 
1.2. NÃO HÁ PRINCÍPIOS PRÁTICOS INATOS 
Novamente, Locke (1632-1704) procura combater as possíveis situações práticas 
que podem levar à conclusão do inatismo. A justiça, por exemplo, não pode ser 
considerada princípio moral inato, pois consiste na concordância de um grupo de 
pessoas (assentimento geral)
10
. 
De maneira geral, as regras morais necessitam de provas e, portanto, não pode 
ser considerada com inata. A razão humana é o árbitro para se definir essas regras. 
Assim sendo, as virtudes são proveitosas para o homem, tendo em vista que é da 
 
7
 LOCKE; John. Ensaio Acerca do Entendimento Humano. p. 38. 
8
 Ibid., p. 37. 
9
 Ibid., p. 41. 
10
 Ibid., p. 45. 
18 
 
vontade e lei de Deus o cumprimento de tais regras, pois o Senhor chamará a todos para 
prestação de suas contas
11
. 
Para dar maior ênfase sobre a virtude não ser inata é que os homens têm 
princípios práticos opostos e que nações inteiras rejeitam várias regras morais
12
. O 
ponto aqui é a falta de universalidade dos princípios morais, pois se estes princípios 
fossem inatos, deveria haver consenso geral (assentimento geral) sem a necessidade de 
discussão de ideias. 
1.3. A ORIGEM DAS IDEIAS E DO CONHECIMENTO 
As ideias surgem com base na consciência dos pensamentos do homem. Se há 
algo inato do ser do homem são as ideias. Elas resultam das experiências que o homem 
tem a partir dos seus sentidos com o meio externo. Além disso, existe outra fonte de 
ideias que seria a percepção das operações da própria mente. Assim, surge uma série de 
ideias que são observações das ações do interior humano, tais como, a percepção, o 
pensamento, o duvidar, o crer, o raciocinar, etc
13
. 
Locke (1632-1704) divide as ideias em simples e complexa. A primeira é 
estabelecida com base na sensação e reflexão e a segunda são as interações das ideias 
simples
14
. Assim, a partir da formação, percepção e retenção dessas ideias, o ser 
humano é capaz de adquirir o conhecimento e é apenas desta maneira que consiste em 
formar o conhecimento
15
. 
Existe dois graus de conhecimento: intuitivo e demonstrativo. O primeiro diz 
respeito ao acordo ou desacordo de duas ideias imediatamente por elas mesmas, sem a 
intervenção de qualquer outra
16
. Como exemplo disso, a mente percebe que branco não 
é preto, ou que círculo não é quadrado. Já a segunda consiste no acordo ou desacordo de 
quaisquer ideias, mas não imediatamente
17
. O exemplo disso seria verificar um copo 
com água e outro com álcool em que não é possível definir de forma imediata e intuitiva 
 
11
 LOCKE; John. Ensaio Acerca do Entendimento Humano. p. 46. 
12
 Ibid., p. 47. 
13
 Ibid., p. 57 e 58. 
14
 Ibid., p. 91. 
15
 Ibid., p. 211. 
16
 Ibid., p. 217. 
17
 Ibid., p. 218. 
19 
 
cada substância. Assim, caso o conhecimento não seja intuitivo ou demonstrativo, trata-
se de fé ou opinião denominado aqui de sensitivo
18
. 
Com base nas informações sobre ideia e conhecimento, pode se tratar sobre a 
formação de verdades dentro da mente humana. 
1.4. A FORMAÇÃO DA VERDADE 
Conformediz Locke (1632-1704), “a verdade consiste numa investigação de 
várias épocas. [...] não apenas vale nosso cuidadoso exame para averiguar em que 
consiste, e deste modo adquirir familiaridade com a sua natureza, como ainda observar 
de que modo a mente a distingue da falsidade”
19
. Fica claro qual é o parâmetro para 
estabelecer aquilo que é verdadeiro e falso: a mente. 
Neste contexto aparece o conceito de proposição para julgar se algo é verdadeiro 
ou não. A proposição surge da união ou separação de sinais, e de que modo as coisas 
significadas por elas concordam ou discordam entre si. Vale destacar que os tipos de 
proposições são mental e verbal e os tipos de sinais são ideias e palavras
20
. 
Vale ressaltar as teorias de René Descartes (1596-1650) acerca do entendimento 
da moral humana as quais influenciaram sobre o conceito de formação da verdade. 
Antes de tudo, Descartes (1596-1650) procura dar um direcionamento sobre a 
compreensão da união da alma com o corpo. Essa concepção não busca dar um 
conhecimento pleno desta união, mas sim tenta mostrar o que ocorre no divisível 
(matéria; corpo) a partir do indivisível (pensamento; mente). A união de alma e corpo 
aponta para duas ciências: a Moral e a Medicina
21
. Em sua obra Discurso do Método, 
Descartes (1596-1650) descreve sobre a moral provisória. 
Conforme exposto por Gonçalves, “A moral provisória é um período anterior à 
realização do método cartesiano onde não há estagnação da procura da verdade e sim 
um trabalho de preparação à realização do mesmo”
22
. A ideia aqui é de estabelecer 
 
18
 LOCKE; John. Ensaio Acerca do Entendimento Humano. p. 221. 
19
 Ibid., p. 243. 
20
 Ibid., p. 243. 
21
 CIVITA, Victor. Os Pensadores, Descartes, Vol. XV. Trad.: J. Guinsburg e Bento Prado Júnior, São 
Paulo: Abril S.A., 1973, p. 22 e 23. 
22
 GONÇALVES, Angela, A Moral Provisória em René Descartes. A Semana Acadêmica do PPG em 
Filosofia da PUCRS, Porto Alegre, 2008. Disponível em: 
http://editora.pucrs.br/anais/semanadefilosofia/XII/13.pdf. Acesso em: 06/11/2019, p. 3. 
20 
 
parâmetros mínimos para que o indivíduo possa desenvolver ações práticas para 
questões não filosóficas da vida, ou seja, fornecer um direcionamento para suas atitudes 
para que o mesmo possa viver o mais satisfeito possível. Para isso, Descartes (1596-
1650) estabelece quatro máximas: obedecer às regras e costumes do país, retendo 
constantemente a religião em Deus; ser firme e o mais resoluto possível nas ações; 
modificar seus desejos antes de modificar a ordem do mundo e, em geral, crer que nada 
está em nosso poder a não ser o próprio pensamento; ocupar seu tempo em cultivar a 
razão na busca da verdade
23
. 
Descartes (1596-1650), em seu livro As Paixões da Alma, traz a ideia de como 
obter e se contentar com um conhecimento imperfeito, porém, suficiente para 
estabelecer fundamentos certos em moral. A conclusão tirada é de viver em 
conformidade com a vontade estabelecida firmemente dentro de cada ser humano
24
. No 
final das contas, a moral provisória se equipara com a moral das paixões para se chegar 
à verdade. 
Mediante o conhecimento e formação de verdades, Locke (1632-1704) 
desenvolve argumentos sobre o conhecimento do homem sobre a existência humana, 
divina e de outras coisas. 
1.4.1. Verdade sobre a existência humana 
A existência humana está baseada no conhecimento intuitivo, tendo em vista que 
qualquer ser humano pensa, raciocina, sente prazer e dor. Caso haja dúvidas sobre a 
existência das demais coisas, a própria dúvida seria um sinal da existência do 
indivíduo
25
. 
Aqui há uma ligação com a frase de René Descartes (1596-1650) quando diz 
“penso, logo existo”. A ideia de Descartes (1596-1650) era de por em dúvida tudo o que 
existe para se chegar ao conhecimento absoluto. Ao aplicar esse método, a conclusão 
chegada foi que não há como duvidar da sua própria dúvida baseada no seu pensamento, 
logo o homem existe pela sua atividade de pensar
26
. Locke (1632-1704) provavelmente 
 
23
 Ibid., p. 3 a 5. 
24
 CIVITA, Victor. Os Pensadores, Descartes, Vol. XV. Trad.: J. Guinsburg e Bento Prado Júnior, São 
Paulo: Abril S.A., 1973, p. 23. 
25
 Ibid., p. 265. 
26
 Observações de aula do rev. Felipe Fontes nas aulas de filosofia. 
21 
 
se utiliza desse princípio para comprovar a existência humana, não só porque o homem 
pensa, mas ele expande para os sentimentos de prazer e dor do ser humano como 
requisitos para evidenciar esta existência. 
1.4.2. Verdade sobre a existência de Deus 
A verdade sobre a existência de Deus está baseada no conhecimento 
demonstrativo. Embora Deus não tenha deixado ideias inatas sobre o seu ser, ele 
capacitou o homem de sentidos, percepção e razão para descobri-lo
27
. 
O desenvolvimento para demonstrar a existência de Deus começa com a criação. 
Tendo em vista que o homem não pode produzir sua essência (o ser) é preciso que 
exista um ser eterno como o início de tudo e que seja o motor inicial da vida
28
. 
Além disso, este ser é a fonte de todo o poder, tendo em vista que ele é o início 
de tudo e deve ter tudo o que existe, algo bem semelhante ao que Tomás de Aquino 
(1225-1274) diz sobre suas cinco vias para provar a existência de Deus e também 
aqueles que acreditam na Teoria do Designer Inteligente (TDI). 
Por fim, pela capacidade de percepção e conhecimento humano, Locke (1632-
1704) conclui que este ser é congnoscente (aquele que é capaz de conhecer), tendo em 
vista que se ele é o início de tudo, não havia conhecimento, logo este ser é o que 
manifesta todo o conhecimento por ele ser a fonte
29
. A conclusão é que este ser é Deus 
pelos atributos falados. 
1.4.3. Verdade sobre a existência de outras coisas 
Para demonstrar sobre o conhecimento da existência das coisas externas, o autor 
traz o aspecto do conhecimento sensitivo, tendo em vista que não há “conexão 
necessária da existência real com qualquer ideia que um homem tem em sua memória, 
de qualquer outra existência”. Apenas quando há a manifestação externa de outro ser 
através de alguma operação real é que se pode notar o ser de outra pessoa
30
. 
 
27
 LOCKE; John. Ensaio Acerca do Entendimento Humano. p. 267. 
28
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Trad.: Alexandre Correia. Disponível em: 
https://sumateologica.files.wordpress.com/2017/04/suma-teolc3b3gica.pdf. Acesso em: 17/08/2019, p. 
130. 
29
 LOCKE; John. Ibid. p. 268 
30
 LOCKE; John. Ensaio Acerca do Entendimento Humano. p. 275. 
22 
 
O conhecimento sensitivo está interligado com a interação dos sentidos (visão, 
audição, tato, paladar e olfato) com o objeto externo para provar a existência do mesmo, 
uma vez, por meio dos sentidos, há a segurança de o homem não ser enganado. Além 
disso, eles se complementam para dar o testemunho da existência das coisas externas
31
. 
1.5. CONCLUSÃO 
 Para Locke (1632-1704), a formação do conhecimento e da verdade é 
alcançada a partir do próprio ser humano. O homem não possui conhecimento ou 
qualquer tipo de princípio inato. Sua formação de conhecimento e da verdade se dá por 
meio da interação dos seus sentidos com o meio em que vive com base na interpretação 
de sua mente. 
Esse tipo de cosmovisão trouxe o amadurecimento para a autonomia do 
homem, a liberdade para buscar o conhecimento fora da graça de Deus. Francis 
Schaeffer (1912-1984) traz uma boa explicação de como isso se acentuou. Ele traz a 
visão implantada por Tomás de Aquino (1225-1274) sobre a graça e a natureza em 
planos diferentes. Enquanto o primeiro plano envolve a divindade de Deus e tudo o que 
existe no campo celestial, o segundo trata da criação, ou seja, o que existe na esfera 
terrena.
32
 
Na época de Immanuel Kant (1724-1804) e Jean-Jacques Rousseau (1712-
1778), essa dicotomiase intensificou de tal forma a substituir a graça pela liberdade. 
Kant (1724-1804), por exemplo, desvincula o campo dos fenômenos com o mundo 
noumenal dos universais (objeto ou evento posto que é conhecido sem o uso dos 
sentidos). Com isso, a natureza ganha o status de autônoma e o determinismo que até 
então estava restrito à área da física começa a ser aplicada para o ser humano. Rousseau 
(1712-1778) tenta preservar a liberdade humana, negando a própria civilização como 
elemento inibidor dessa liberdade, afinal de contas, o homem já estava sendo reduzido a 
uma máquina
33
. 
Locke (1632-1704) contribuiu para construir uma cosmovisão antropocêntrica 
em que o homem, a partir do seu raciocínio, consegue explicar a si mesmo, Deus e tudo 
 
31
 Ibid., p. 276 e 277. 
32
 SCHAEFFER, Francis. A Morte da Razão. Trad.: Gabrielle Gregersen. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, 
p. 21. 
33
 Ibid., p. 46 e 47. 
23 
 
o que existe ao seu redor. A partir daí, o afastamento do homem em relação ao que ao 
seu Criador torna-se mais acentuada e as linhas filosóficas para explicar o ser do 
homem torna-se mais complicada. 
 
24 
 
 
2. CAPITALISMO – O HOMEM EM BUSCA DE LUCRO 
Após avaliar o Iluminismo, a humanidade continua com sua tentativa de explicar 
a natureza humana. Um dos nomes mais influentes dentro do capitalismo é o filósofo e 
economista Adam Smith (1723-1790) o qual defendia ideias economistas liberais diante 
de um cenário mercantilista promovido pelos reis absolutistas
34
. 
A premissa básica defendida por Smith (1723-1790) era que o governo não 
precisava interferir na economia. O mercador ou comerciante poderia regular as 
negociações e preços do mercado baseado no interesse próprio. O resultado seria a 
construção de uma sociedade em que a economia seria regularizada pela iniciativa 
privada, segundo os interesses do povo. Assim sendo, cada indivíduo tem possibilidade 
de crescer conforme sua vontade de trabalhar e de se desenvolver. O que Smith (1723-
1790) queria era o bem estar da sociedade a partir do crescimento econômico de cada 
indivíduo
35
. 
 
34
 FERREIRA, Ramiro Gomes. Adam Smith: A História e o que o Pai da Economia Moderna Tem a Nos 
Ensinar Sobre A Vida. Clube do Valor, 31/08/2018. Disponível em: https://clubedovalor.com.br/adam-
smith/. Acesso em: 21/06/2019. 
35
 Ibid. 
25 
 
Embora demonstrasse grande benevolência através de obras secretas de 
caridade
36
, o capitalismo que ele almejava, não atingiu esse ponto de estruturar uma 
sociedade mais igualitária e justa para todos. 
Os problemas do capitalismo já existiam desde o século XVI com a chegada de 
países europeus no continente americano. Os portugueses e espanhóis extraíram uma 
grande quantidade de ouro e prata o que levou a economia da Europa a um 
desequilíbrio. O aumento das riquezas desenfreadas de diversos banqueiros trouxe um 
aumento dos preços dos produtos de maneira geral, o que elevou as diferenças sociais. 
Até mesmo a própria igreja que era contra empréstimos a juros acaba cedendo diante 
desse novo cenário
37
. 
A nova perspectiva econômica traz consequências graves para as profissões de 
maneira geral. Com os salários não acompanhando o aumento da inflação as greves 
surgem como uma forma de demonstrar o descontentamento de diversas classes. A 
greve ocorrida em Lyon em 1539 dos impressores, por exemplo, traz o alto nível de 
insatisfação por conta da insuficiência dos salários, pelo excessivo número de 
aprendizes e pela má distribuição das horas de trabalho.
38
 
Na tentativa de explicar as atitudes humanas dentro do capitalismo no século 
XIX e suas origens, Max Weber (1864-1920) escreveu o livro A Ética Protestante e o 
Espírito do Capitalismo. A seguir será resumido o que Weber (1864-1920) visualizava 
sobre o homem e o capitalismo. 
2.1. A EXTENSÃO DO ESPÍRITO CAPITALISTA E SEU SIGNIFICADO 
 O capitalismo não é uma busca desenfreada por dinheiro, mas começa com uma 
ação racional apurada e calculada. O ponto aqui é a possibilidade de se obter lucro 
perante algum negócio que se vá fazer, ou seja, a partir de um balanço inicial da 
empresa aplica-se a provável lucratividade com base no negócio a se fazer para se ter 
 
36
 FERREIRA, Ramiro Gomes. Adam Smith: A História e o que o Pai da Economia Moderna Tem a Nos 
Ensinar Sobre A Vida. 
37
 BIÉLER, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. Trad.: Valdyr Carvalho Luz. 2ª 
Edição. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 199 e 200. 
38
 Ibid., p. 218 e 219. 
26 
 
um balanço final positivo em relação ao inicial. É importante que o cálculo seja feito em 
dinheiro, não importando quais métodos de contabilidade serão aplicados
39
. 
A ganância e o impulso em ganhar dinheiro estão presentes em qualquer 
profissional, porém não está associado à definição de capitalismo na sua forma pura. 
Vale destacar que as empresas capitalistas estão sempre em busco do lucro, mas é no 
sentido racional para que haja a devida manutenção de cada empresa, caso contrário, 
elas entrariam em extinção
40
. 
A racionalidade aqui mencionada está vinculada com o estudo dos cálculos de 
lucratividade. Seria a estimativa de quanto uma empresa poderá lucrar a partir da 
realização de um negócio. Por ser algo estimado de acordo com as circunstâncias, o 
grau de racionalidade sofre interferências o qual pode ser mais ou menos preciso
41
. 
A dúvida que paira é por que o Ocidente conseguiu desenvolver esse capitalismo 
racional e o Oriente não seguiu a mesma linha? A resposta é porque é uma questão 
específica da cultura do Ocidente. A causa de a cultura ocidental ser tão focada no 
capitalismo racional está na influência das ideias religiosas no desenvolvimento de um 
espírito econômico
42
. Embora haja outros aspectos causais, o autor se limita ao fator da 
religião para explicar o desenvolvimento do capitalismo na sociedade ocidental. 
2.2. A RAIZ DO CAPITALISMO ESTÁ NO PROTESTANTISMO 
A avaliação da raiz do capitalismo começa com a observação de que os mais 
prósperos eram em sua maioria protestantes e tal fato, não se restringe a uma nação. O 
desenvolvimento estava principalmente nas cidades que aderiram ao protestantismo no 
século XVI. 
A Igreja nunca deixou de exercer sua influência, porém, com o advento da 
Reforma, houve uma modificação no controle que a Igreja exercia sobre os membros. 
Essa diferença entre o Catolicismo e o Protestantismo podia ser notada a partir da 
especialização da mão de obra e no envolvimento no trabalho. A proporção de católicos 
era menor que os protestantes na moderna indústria. Conforme diz Weber (1864-1920): 
 
39
 WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Trad.: Pietro Nassetti. São Paulo: 
Martin Claret, 2001, p. 27. 
40
 Ibid., p. 26. 
41
 Ibid., p. 27. 
42
 WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. p. 32. 
27 
 
“A explicação desses casos é, sem dúvidas que as peculiaridades mentais e espirituais 
adquiridas do meio ambiente, especialmente do tipo de educação favorecido pela 
atmosfera religiosa da família e do lar, determinaram a escolha da ocupação e, por isso, 
da carreira”
43
. 
Enquanto o Catolicismo fundamenta suas doutrinas em suas práticas de se abster 
do materialismo com o objetivo de aprimorar sua espiritualidade, o Protestantismo 
critica esse modo de viver. 
2.3. O ESPÍRITO DO CAPITALISMO 
O desafio é mostrar como o capitalismo tornou-se aceitável dentro da sociedade. 
Aquilo que poderia ser uma simples busca desenfreada pelo dinheiro e que poderia ser 
algo desonroso transforma-se em uma característica positivo. Mais do que isso, o 
capitalismo faz parte do ethos do indivíduo, ou seja, faz parte dos seus princípios 
morais.Ao contrário do que dizem os católicos sobre a busca do materialismo ser 
corruptível, a mentalidade do capitalismo moderno tinha algo diferente. Não parecia ser 
um egocentrismo para aqueles que tinham o capitalismo como padrão de vida. A 
explicação para tal fato é que a busca pelo dinheiro ganhou um status de ser 
transcendente e que sai da esfera da racionalidade. O homem não ganha dinheiro para o 
seu prazer, mas parte do princípio de ideias religiosas para obter a satisfação. Benjamin 
Franklin (1706-1790) tinha como lema Provérbios 22.29 (Vês um homem diligente em 
seus afazeres? Ele estará acima dos reis) que servia um direcionador para trabalhar 
arduamente e ganhar dinheiro. Assim “o ganho de dinheiro na moderna ordem 
econômica é, desde que feito legalmente, o resultado e a expressão da virtude e da 
eficiência em certo caminho; e essas eficiência e virtude são, como agora se tornou fácil 
de ver, o alfa e o ômega da verdadeira ética de Franklin (1706-1790)
44
”. 
O capitalismo moderno não é sem escrúpulos ao mesmo tempo traz uma seleção 
daqueles que conseguem melhor sobreviver devido suas aptidões econômicas. Em 
lugares onde houve atraso no desenvolvimento burguês capitalista, nota-se a busca de 
 
43
 Ibid., p. 41. 
44
 WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. p. 51. 
28 
 
interesses egoístas na obtenção do dinheiro, porém essa não é a visão predominante da 
sociedade da época
45
. 
2.4. A ANÁLISE DA DOUTRINA CALVINISTA E SEU RESULTADO 
O principal movimento doutrinário responsável pelo capitalismo é o calvinismo. 
Sua doutrina influenciou países como Inglaterra, Holanda e França. A questão aqui são 
os fatos históricos como fator causal para explicar como surgiu o capitalismo
46
. 
O foco da doutrina calvinista está na predestinação a qual serviria de base e de 
grande influência para uma das principais confissões no meio reformado: a Confissão 
de Fé de Westminster. Nela são destacados alguns capítulos sobre a ausência de 
liberdade humana em escolher a Deus, os decretos divinos quanto a alguns homens 
serem destinados para a vida eterna e outros para a morte eterna, a vocação efetiva que 
Deus produz na vida do predestinado e de como o Senhor entrega a Satanás todo aquele 
que está predestinado para a morte eterna
47
. 
A doutrina da predestinação levou Weber (1864-1920) a concluir que Calvino 
(1509-1564) havia transformado o Deus amoroso do Novo Testamento em um ser 
terrível o qual, por meio dos seus decretos imutáveis, torna impossível de se obter sua 
graça àqueles que não foram predestinados
48
. 
Ao mesmo tempo, ao observar aqueles que eram predestinados, essa doutrina 
produziu santos autoconfiantes ao combater quaisquer dúvidas e tentações do diabo
49
. 
Para demonstrar a efetividade dessa fé, as boas obras eram os sinais dos santos 
regenerados, ainda que tais obras não implicassem em conquistar a salvação
50
. A 
salvação não era mais como um passe de mágica tão demonstrada no catolicismo em 
que o padre pudesse transformar o pão e o vinho no corpo e sangue de Jesus 
(transubstanciação). O homem para sair do estado natural (status naturae) para o estado 
 
45
 Ibid., p. 54. 
46
 Ibid., p. 83. 
47
 Ibid., p. 84 e 85. 
48
 WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. p. 87. 
49
 Ibid, p. 92. 
50
 Ibid., p. 94. 
29 
 
da graça (status gratiae) devia seguir uma rígida conduta moral em que todas as atitudes 
deveriam apontar para Deus
51
. 
Esse tipo de vida ascética acabou “vazando” para o meio secular. A partir daqui, 
existe a possibilidade de interligar o espirito capitalista com esse novo tipo de vida 
regrada, que não ficava mais dentro de mosteiros, mas dentro da sociedade. 
O calvinismo dentro do seu aspecto ascético acabou influenciando neste sentido 
outras doutrinas protestantes. Assim, o trabalho ganhou um status divino em que a 
religião conseguiu disponibilizar “trabalhadores sóbrios, conscienciosos e 
extraordinariamente ativos, que se agradavam a seu trabalho como a um propósito de 
vida desejado por Deus” 
52
. 
O que era visto era uma mentalidade ascética e frugal com relação ao dinheiro. 
Não havia espaço para o consumismo desenfreado, portanto, a poupança era algo bem 
visto entre os protestantes. Assim, era natural existir o enriquecimento de todos aqueles 
que adotavam esse estilo de vida. O importante era não produzir riquezas baseadas em 
desonestidade ou por avareza
53
. 
Essa foi a mentalidade deixada no século XVII pelos protestantes a seus 
sucessores utilitaristas. A classe burguesa surgiu com essa intuição de acumular riqueza 
desde que dentro dos limites da correção formal e sem peso na consciência. Por fim, foi 
validada a distribuição desigual da riqueza como um ato divino o que posteriormente, 
foi tomado pelo meio secular para pagamento de baixos salários à massa de 
trabalhadores e artesãos
54
. 
2.5. CONCLUSÃO 
Max Weber (1864-1920) tentou fazer uma leitura de sua realidade com base nos 
fundamentos protestantes e relacioná-los ao capitalismo moderno. Ele demonstra ter 
pesquisado e avaliado as mudanças de cultura introduzidas pela Reforma Protestante, 
em especial, a doutrina calvinista. 
 
51
 Ibid., p. 98. 
52
 Ibid., p. 137. 
53
 Ibid., p. 133 e 134. 
54
 WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. p. 137. 
30 
 
Com a vinda da Revolução Industrial, o capitalismo trouxe um cenário de grande 
desigualdade. Dentro das famílias, o sustento ficava por conta do homem, enquanto a 
mulher cuidava do lar e dos filhos. A classe trabalhadora sofria com as pesadas jornadas 
de expediente, baixos salários, condições insalubres, moradia inadequada e falta de 
segurança social, caso ocorresse algum acidente com o marido enquanto que havia 
protestantes e judeus ocupando cargos no setor bancário
55
. De fato, Weber (1864-1920) 
tinha bons indícios para interligar a ética capitalista com o protestantismo, mas a sua 
avaliação acabou sendo tendenciosa conforme será falado no último capítulo. O que fica 
claro em seus escritos é que o Protestantismo apenas trouxe conceitos para a 
implantação do espírito capitalista, mas não fazia parte da desigualdade criada naquela 
época. 
Max Weber (1864-1920) traz a concepção de que o espírito capitalista de sua 
época faz parte do ethos. Este espírito faz parte da essência humana, causado pelos 
conceitos protestantes. Ao descrever essa ética racional, que traz desigualdade, Weber 
(1864-1920) aponta para qual é o deus que os homens servem: o dinheiro. 
 Algo a se destacar é a avaliação histórica da mudança de perspectiva do 
trabalho do Catolicismo para o Protestantismo. Enquanto o primeiro trazia o trabalho 
como algo que deturpa o ser humano, o segundo traz conceitos elevando a um status 
divino. De certo modo, os conceitos protestantes trouxe o progresso necessário para a 
implantação das indústrias, tendo sua parcela de contribuição para a Revolução 
Industrial. 
Infelizmente, o autor não abordou em qual momento o Protestantismo se 
desvinculou do espírito capitalista. Levando em consideração que a Reforma surgiu no 
século XVI e a doutrina calvinista foi mais desenvolvida e difundida no século XVII, 
uma boa explicação seria o surgimento do Iluminismo em que o homem busca as 
respostas em si mesmo e não em Deus conforme visto no capítulo anterior. As práticas 
protestantes sobre a valorização do trabalho permaneceram, mas, na época de Weber 
(1864-1920), o que predominava era o antropocentrismo e não mais o trabalho como 
um meio de glorificar a Deus. Conforme diz Veith (1951) acertadamente: “As 
sociedades e economias foram repensadas e reprojetadas. A constituição americana e a 
economia de mercado livre, assim como as ciências humanas naturais, tinhamtido sua 
 
55
 CLOUSE, Robert G.; PIERARD, Richard V.; YAMAUCHI, Edwin M. Dois Reinos: A igreja e a 
cultura interagindo ao longo dos séculos. p. 448 e 449. 
31 
 
origem numa visão mundial bíblica, embora se coadunassem com as teorias do 
Iluminismo” 
56
. 
 
 
56
 VEITH JR., Gene Edward. Tempos Pós-modernos. Trad.: Hope Gordon Silva. São Paulo: Cultura 
Cristã, 1999, p.28. 
32 
 
 
3. EXISTENCIALISMO – O HOMEM EM BUSCA DE SUA LIBERDADE 
O existencialismo teve seu início com princípios teocêntricos, porém, a chegada 
de novos autores ocasionou na descentralização de Deus para a centralidade do homem. 
Um dos maiores representantes desse movimento foi Jean-Paul Sartre (1905-1980) o 
qual descreve o homem como um ser totalmente capaz de buscar seu livre arbítrio sem 
critérios ou parâmetros para o definir. Este movimento é marcado pelo homem tentando 
buscar sua liberdade. 
3.1. O INÍCIO DO EXISTENCIALISMO 
O existencialismo surge com Soren Kierkegaard (1813-1855) no século XIX
57
. 
Sua visão não era eliminar a lei moral, porém se houvesse algum conflito entre a 
questão ética e a religiosa, o ético deveria ser suspendido para obedecer a Deus. Embora 
tenha considerado o aspecto ético como universal, ou seja, válido para todas as pessoas, 
os deveres voltados a Deus são prioridade. Este é o paradoxo da fé
58
. 
 
57
 CELETI, Filipe Rangel. Existencialismo. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie. Disponível 
em: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/filosofia/existencialismo.htm. Acesso em: 11/03/2018. 
58
 GEISLER, Norman L. Ética Cristã: Alternativas e Questões Contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 
1984, p. 20. 
33 
 
Apesar de ser existencialista, sua fé era embasada no Deus das Escrituras, 
diferentemente, de outros representantes como Sartre (1905-1980) e Heidegger (1889-
1976). 
Martin Heidegger (1889-1976) foi outro grande precursor do existencialismo o 
qual deixou sua contribuição para este movimento fora dos conceitos do cristianismo. 
As ideias principais de Heidegger (1889-1976) quanto ao “ser” são: o ser é autônomo, 
independente e indefinível; a existência é o modo de ser deste ente que é o homem; a 
existência do homem, o possibilita de transcender o seu próprio eu; o homem só existe 
porque está essencialmente ligado ao tempo; a morte é a única maneira de atingir a 
individuação, ou seja, conquistar a totalidade de sua vida
59
. 
Outro ponto importante desenvolvido por Heidegger (1889-1976) foi a 
linguagem a qual possui interação com o ser. Para isso, ele relaciona dois tipos de 
linguagem com o ser: A linguagem original exprime diretamente o ser, mostra-o, revela-
o e o traz para a luz; A linguagem derivada consiste nas fases de resposta e 
proclamação
60
. 
Por fim, o destaque fica para o conceito de verdade desenvolvida por Heidegger 
(1889-1976). Conforme Pardal diz: 
A verdade passa a ser agora definida como adequação do olhar ao objeto, 
como correspondência entre o modo de ver a natureza da coisa. Encontrado, 
por exemplo, na fórmula aristotélico-escolástica; segundo a qual a verdade é 
a adequação do intelecto com a coisa. A verdade se torna mais uma relação 
sujeito-objeto (base de toda nossa concepção de epistemologia central no 
pensamento moderno; mas que se origina de acordo com esta 
interpretação)
61
. 
Este ponto é importante, pois ajuda a entender um pouco a visão desenvolvida 
por Sartre (1905-1980). A verdade deve partir do próprio homem de acordo com o seu 
ser. Esta ideia é semelhante em Sartre em que ele nega os conceitos de moralidade de 
seu tempo para construir novos conceitos de acordo com o pensamento de cada 
indivíduo. 
 
 
59
 PARDAL, Poliana Priscila Matos. Conceitos do existencialismo vistos sob a ótica de Martin 
Heidegger. Disponível em: https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/filosofia/conceitos-existencialismo-
vistos-martin-heidegger.htm. Acesso em: 11/03/2018. 
60
 Ibid. 
61
 Ibid. 
34 
 
 
3.2. O EXISTENCIALISMO COM SARTRE 
Para avaliar o pensamento de Sartre (1905-1980) será utilizado o artigo escrito 
por ele intitulado O Existencialismo é um Humanismo. O objetivo é verificar quais são 
as atitudes do homem e como ele é enxergado dentro do existencialismo. 
Na ótica de Sartre (1905-1980), o Existencialismo declara que “toda verdade e 
toda ação implicam um meio e uma subjetividade humana” 
62
. Isto implica na seguinte 
conclusão: para que a interpretação dos fatos existentes seja verdadeira ou falsa, há a 
necessidade do pensamento humano. Uma das frases que resumiria essa ideia é que a 
essência precede a existência. 
A partir dessa conclusão, houve a formulação do entendimento da essência do 
homem a partir de Deus como criador, ou seja, o Senhor produziu o homem mediante 
determinadas técnicas e para funções específicas, materializando, certos conceitos do 
criador. Vale ressaltar que o autor está avaliando o pensamento antes do século XVIII 
com base na sua conclusão analisada. 
Depois do século XVIII, entra em cena o ateísmo e o homem como o conceito 
universal, porém a conclusão de Sartre (1905-1980) continua sendo válida (a essência 
precede a existência). A diferença está no referencial da essência em que o homem 
procedente da selva e o burguês possuem as mesmas características básicas
63
. 
Provavelmente, Sartre (1905-1980) está comparando a origem do homem a partir de 
Charles Darwin (1809-1882) e o homem moderno de sua época. A essência de ambos 
são as mesmas, apenas mudando os propósitos que cada um possuía. 
A linha existencialista defendida por Sartre (1905-1980) elimina a existência de 
Deus, tornando o homem o centro do universo. Assim, a partir da existência do homem, 
ele mesmo consegue definir a sua essência. As implicações para tal fato são: “o homem 
nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo. [...] O homem é, antes de mais nada, 
 
62
 SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. Trad.: Rita Correia Guedes. Paris: Les 
Éditions Nagel, 1970, p. 2. 
63
 Ibid., p. 4. 
35 
 
aquilo que se projeta num futuro, e que tem a consciência de estar se projetando no 
futuro.
64
” 
Assim, todo e qualquer mudança que o homem realiza é de sua inteira 
responsabilidade com base em suas escolhas. A consequência é a eliminação daquilo 
que é certo ou errado, pois cada um tem o direito de descobrir e definir o que irá ser sem 
se preocupar se há algum padrão a ser seguido. Na verdade, o único padrão que existe é 
o da própria pessoa ao fazer suas escolhas de vida. Esta é a nova linha redefinida por 
Sartre (1905-1980): “a existência precede a essência”. 
Colocando o mundo no topo do mundo, o novo modo de vida se preocupa com o 
sentimento humano de maneira que ninguém pode ter sofrimento. O mais importante é 
que cada ser humano possui o poder de decidir para onde direcionar sua vida. Sendo 
assim, ao eliminar a existência de Deus, o foco é o individualismo, é a capacidade de 
cada um criar a sua própria verdade. 
Até aqui pode ser visto as teorias do Iluminismo e, em específico, a ideia 
desenvolvida por Locke (1632-1704). O pilar central para montar suas verdades é a 
frase de Descartes (1596-1650): “penso, logo existo”, presente também no livro Ensaio 
Acerca do Entendimento Humano. “Para que haja uma verdade qualquer, é necessário 
que haja uma verdade absoluta; e esta simples e fácil de entender; está ao alcance de 
todo o mundo; consiste no fato de eu me apreender a mim mesmo, sem intermediário” 
65
. 
Uma das consequências que torna atrativa esse tipo de pensamento é a que 
atribui ao homem uma dignidade, tendo em vista para descobrir sua própria existência, é 
necessário descobrira existência do outro. Assim, nas palavras de Sartre (1905-1980) “a 
descoberta da minha intimidade desvenda-me, simultaneamente, a existência do outro 
como uma liberdade colocada na minha frente, que só pensa e só quer ou a favor ou 
contra mim. Desse modo, descobrimos imediatamente um mundo a que chamaremos de 
intersubjetividade e é nesse mundo que o homem decide o que ele é e o que são os 
outros” 
66
. 
 
64
 Ibid,, p. 4. 
65
 SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. p. 12. 
66
 Ibid., p. 13. 
36 
 
Sartre (1905-1980) leva em consideração diversos pontos que vão de encontro 
com sua filosofia. O primeiro deles seria que qualquer pessoa poderia fazer o que bem 
entender. O autor esclarece que não é bem assim, tendo em vista que os fatores externos 
influenciam na sua escolha, ainda que não seja o fator decisivo
67
. 
Outra questão é que não há como julgar os outros, pois a verdade para um não 
pode ser a mesma para o outro. Realmente, cada um pode criar a sua verdade conforme 
o progresso de cada ser humano, porém, existe a possibilidade de julgar o outro, pois 
cada um escolhe perante os outros e se escolhe perante os outros. Em outras palavras, 
cada um pode fazer o julgamento de outros mediante seus próprios valores, sem a 
necessidade de mudar o outro, pois este último possui seus critérios de verdade. Esta é a 
liberdade que cada um tem de criar suas verdades e de julgar. O resultado é que este 
questionamento é verdadeiro e falso, simultaneamente. 
O último questionamento é que não há seriedade nos valores desenvolvidos, pois 
cada um pode escolher os seus valores. Partindo da premissa que não existe Deus, os 
valores precisam ser inventados. Alias se não for assim, a vida fica sem sentido. O fato 
é que o existencialismo exalta as atitudes e valores criados pelo homem e não o próprio 
homem em si como fazem os humanistas e é aí que está a chave para levar em 
consideração os valores criados. Esta é uma doutrina de ação em que não há margem 
para o desespero, mas sim, para o otimismo em que independente da existência de Deus, 
os existencialistas criarão seus próprios valores
68
. 
3.3. CONCLUSÃO 
O existencialismo de Sartre (1905-1980) pode ser resumido em dois pontos: o 
homem é uma bolha vazia, flutuando no mar do nada e o homem está condenado à 
liberdade
69
. Este novo ser humano deve construir sua própria escala de valores sem se 
preocupar com a imposição de valores externos. O que importa é o seu próprio 
pensamento em relação a si mesmo e em relação ao mundo. 
 
67
 SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. p. 15. 
68
 Ibid., p. 18 e 19. 
69
 GEISLER, Norman L. Ética Cristã: Alternativas e Questões Contemporâneas. p. 25 e 26. 
37 
 
Isso não significa que o existencialista pode fazer tudo sem levar em 
consideração o meio externo, porém o fator determinante é o seu próprio “eu”. Assim, 
embora alguém possa julgar o outro, este último possui seus próprios valores morais. 
O foco é a rejeição da ética atual, principalmente, naquilo que são preceitos 
vinculados a Deus. A ideia é que independente da existência ou não de Deus, o homem 
é capaz de criar sua própria ética e caminhar por si mesmo com base no seu progresso 
de pensamento. 
38 
 
 
4. NIILISMO: A TRANSVALORIZAÇÃO DA MORAL 
A palavra niilismo no seu sentido denotativo significa “vazio”. Esta palavra foi 
utilizada pela primeira vez pelo filósofo alemão Friedrich Heinrich Jacobi (1743-1819) 
em 1799, contudo o movimento niilista surgiu o século XIX na Rússia
70
. 
O niilismo possui variações conceituais. Os russos, exemplo, aplicavam o 
niilismo no âmbito da religiosidade, rejeitando a questão da divindade, essência 
espiritual, existência da alma e princípios absolutos
71
. 
Nietzsche (1844-1900), um dos maiores representantes do niilismo, ao descrever 
sua visão, traz essa ideia de rompimento com os valores morais de sua época de tal 
forma a se esvaziar para depois reconstruir conforme os conceitos que cada indivíduo 
formou dentro de si. 
4.1. PARA ENTENDER ESSE MOVIMENTO É NECESSÁRIO EXPLICAR AS 
IDEIAS DE “SUPER HOMEM”, “ETERNO RETORNO” E “A MORTE DE 
DEUS”. PARA ISSO, SERÁ UTILIZADA SUA OBRA CREPÚSCULO DOS 
 
70 SANTANA, Ana Lucia. Niilismo. Disponível em: https://www.infoescola.com/filosofia/niilismo/. 
Acesso em: 25/08/2019. 
71
 Ibid. 
39 
 
ÍDOLOS E ESTUDOS RELACIONADOS COM A OBRA GAIA CIÊNCIA.O 
CONCEITO DE SUPER HOMEM 
Nietzsche (1844-1900) era um defensor de que o homem consegue andar por sua 
própria conta sem precisar de “muletas”, representadas pela religião ou pela moral da 
época. 
No livro Crepúsculo dos Ídolos, Nietzsche (1844-1900) começa com duras 
críticas contra o sistema e absolutização da verdade. Ele cita “Desconfio de todos os 
sistematizadores e os evito. A vontade de sistema é uma falta de retidão
72
”. Essa crítica 
se estende para a consciência humana a qual exige de cada indivíduo a vivência de 
padrões morais estabelecidos. Essa moralidade é interligada com os princípios cristãos 
que servem para imputar medo de exercer sua liberdade. Aqui está o desafio para 
alcançar o conceito de Super Homem: superar os dilemas gerados pela imposição dos 
conceitos da sociedade para viver de acordo com seus conceitos construídos com base 
no pensamento, sentidos e natureza de cada indivíduo. Em determinado ponto, 
Nietzsche (1844-1900) diz em sua obra: 
Todo naturalismo na moral, ou seja, toda moral sadia, é denominado por um 
instinto de vida – algum mandamento da vida é preenchido por determinado 
cânon de “deves” e “não deves” […]. A moral antinatural, ou seja, quase 
toda moral até hoje ensinada, venerada e pregada, volta-se, pelo contrário, 
justamente contra os instintos da vida – é uma condenação, ora secreta, ora 
ruidosa e insolente, desses instintos. Quando diz que “Deus vê nos corações”, 
ele diz Não aos mais baixos e mais elevados desejos da vida, e toma Deus 
como inimigo da vida… O santo no qual Deus se compraz é o cadastro 
ideal… A vida acaba onde o “Reino de Deus” começa… 
73
 
O resultado é um ser humano capaz de superar qualquer tipo de tormenta 
psicológica que ele pudesse passar. Seria um Super Homem capaz de assumir suas 
próprias convicções e não se deixar dominar pelos aspectos morais de sua época
74
. O 
movimento Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros 
(LGBT) no Brasil é um bom exemplo sobre essa ideia de Super Homem, ao abandonar 
 
72
 NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Crepúsculo dos Ídolos. Trad.: Paulo César de Souza. Le Livros. 
Disponível em: http://lelivros.love/book/baixar-livro-crepusculo-dos-idolos-friedrich-nietzsche-em-pdf-
epub-e-mobi-ou-ler-online/. Acesso em: 25/10/2018, p. 11. 
73
 Ibid., p. 28. 
74
 FERNANDES, Nathan. 4 reflexões que vão te introduzir ao pensamento de Nietzsche. Atualizado em 
16/06/2016. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/06/4-reflexoes-que-
vao-te-introduzir-ao-pensamento-de-nietzsche.html. Acesso em: 28/02/2019. 
40 
 
os valores morais e religiosos no aspecto de sexualidade para assumirem o que querem, 
viver de acordo com seus instintos. 
4.2. O CONCEITO DE ETERNO RETORNO 
Nietzsche (1844-1900) traz um conceito de reflexão diante do cotidiano de um 
ser humano. O modo rotineiro como cada um desenvolve sua vida refletirá no rumo de 
cada homem ou mulher deseja trilhar. Na obra Gaia ciência, Nietzsche (1844-1900) faz 
uma crítica sobre o modo como são desenvolvidos o conhecimento e direcionamento 
humano sobre a vida. O que é proposto é uma nova forma de olhar para o mundo, que 
vai além da ciência “[…] a despeito de todos os seus benefícios e aplicações práticas, 
apenas descreve o mundo como fato75
”. Aqui está o ponto em que cada indivíduo, a 
partir das suas interpretações, vontades e desejos, pode fazer do mundo. Cada um pode 
ir além, até mesmo, dos princípios religiosos para abrir o horizonte do pensamento 
humano. Para complementar, Rodrigo Pinto diz: 
O que testemunha a efetividade dessa abertura é o fato de que apenas com 
uma disposição alegre e feliz é possível compreender, ensinar, aprender e 
dialogar em torno do vigor, do sentido e do significado do que quer que seja. 
[…] Este é o ensinamento central da gaia ciência, sua própria essência, 
segundo a qual a alegria corresponde à elevação necessária a toda 
compreensão, a todo diálogo, a toda sabedoria, a toda virtude, a toda 
criação
76
. 
Sobre o eterno retorno, Nietzsche (1844-1900) escreve: 
O novo centro de gravidade: o eterno retorno do mesmo. A infinita 
importância do nosso saber, do nosso errar, dos nossos hábitos e maneiras de 
viver, para tudo o que está para vir. Que fazemos nós do resto da nossa vida – 
nós que passamos a maior parte dela na mais essencial ignorância? 
Ensinamos a doutrina – é o meio mais poderoso de a incorporarmos nós 
próprios. O nosso gênero de felicidade, como doutores da maior doutrina
77
. 
Assim sendo, quando o indivíduo não consegue alcançar este ponto de alegria, 
segundo seus próprios extintos, o mesmo vive em constante frustração de acordo com o 
que ele sente. Daí entra o conceito do Eterno Retorno, em que o homem é levado a 
 
75
 PINTO, Rodrigo de Souza Dantas Mendonça. Nietzsche e a Gaia ciência. Philósophos: Revista de 
Filosofia, v. 4, n. 1, p. 95. 
76
 Ibid., p. 94. 
77
 GALVÃO, Túlio Madson de Oliveira. Para além da ciência: por uma gaia ciência. 2012. Dissertação 
(Mestrado em Filosofia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Programa de Pós-
Graduação em Filosofia, Natal, Rio Grande do Norte, 2012, p. 56 e 57. 
41 
 
refletir sobre suas atitudes em relação ao que ele pensa e sente em relação ao mundo. 
Nietzsche (1844-1900) lança a possibilidade de que se sua vida cotidiana pudesse se 
repetir por diversas vezes, sem mudar absolutamente nada, qual seria sua reação
78
? Se 
isso trazer alegria, com certeza, está vivendo bem a sua vida. 
4.3. A MORTE DE DEUS 
Este ponto seria o complemento para o que foi visto nos dois primeiros. 
Nietzsche (1844-1900) não sentia confortável com a ideia de um Deus que podia punir 
os homens pelos seus feitos de acordo com sua lei divina. Conforme já dito em sua obra 
Crepúsculo dos Ídolos, os princípios cristãos são considerados como antinaturais, ou 
seja, vai contra a natureza humana. Por isso, Nietzsche (1844-1900) diz: 
Qual pode ser a nossa doutrina? - Que ninguém dá ao ser humano 
características, nem Deus, nem a sociedade, nem seus pais ancestrais, nem 
ele próprio […]. Ninguém é responsável pelo fato de existir, por ser assim ou 
assado, por se achar nessas circunstâncias, nesse ambiente […]. Nós é que 
inventamos o conceito de “finalidade”: […] Cada um é necessário, é um 
pedaço de destino, pertence ao todo, está no todo – não há nada que possa 
julgar, medir, comparar, condenar nosso ser, pois isto significaria julgar, 
medir, comparar, condenar o todo… Mas não existe nada fora do todo!
79
. 
O todo como é colocado seria a contribuição de cada indivíduo dentro da 
sociedade. A ideia principal seria o fato de exclusão dos ideais cristãos. O ser humano 
tem a capacidade de formar suas próprias doutrinas e esse todo seria a medida para tudo 
o que existe. Por isso, não há como um indivíduo criticar ou julgar o outro, pois isso 
implicaria na crítica ou julgamento do todo. Assim, a única alternativa seria buscar 
novas doutrinas, mas, daí, o autor finaliza que não existe nada fora do todo. Aqui fica a 
clara ideia da exclusão de Deus da sociedade. 
4.4. A IGREJA É AMPLAMENTE ATACADA COMO SENDO AQUELA QUE 
DEBILITOU O HUMANO. NA VISÃO DE NIETZSCHE (1844-1900), ELA 
FOI A PRINCIPAL CRIADORA DA MORAL DESTRUTIVA QUE 
PERMEAVA A SUA ÉPOCA. ELE FEZ UMA COMPARAÇÃO COM A 
FISIOLOGIA “NA LUTA CONTRA A BESTA, TORNAR DOENTE PODE 
 
78
 NIETZSCHE - ETERNO RETORNO (FILME: QUANDO NIETZSCHE CHOROU). Direção e 
Produção: Pinchas Perry, 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lv6M0AYXFIs.b. 
Acesso em 06/03/2019. 
79
 NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Crepúsculo dos Ídolos. p. 35. 
42 
 
SER O ÚNICO MEIO DE ENFRAQUECÊ-LA
80
”, OU SEJA, A IGREJA 
ENFRAQUECEU O HOMEM COM SEUS DOGMAS E CONCEITOS. ISSO 
SÓ REFORÇA A IDEIA DE TIRAR DEUS DA SOCIEDADE. NIILISMO 
O Niilismo seria a conclusão de Nietzsche (1844-1900) em relação aos demais 
pensamentos anteriores. Depois de refletir sobre as atitudes do Super Homem, o 
conceito de Eterno Retorno na reflexão de como cada indivíduo vive e a morte de Deus 
como forma de eliminar o agente punitivo, o ser humano cai no vazio, ou seja, ele se 
torna livre para se refazer de acordo com sua vontade e querer. Ele diz “Abolimos o 
mundo verdadeiro: que mundo restou? O aparente, talvez?… Não! Como o mundo 
verdadeiro abolimos também o mundo aparente! (Meio-dia; momento da sombra mais 
breve; fim do longo erro; apogeu da humanidade
81
”. 
A ideia de mundo verdadeiro seria referente ao mundo criado pelos conceitos do 
cristianismo, ou seja, esse mundo é o que Nietzsche (1844-1900) quer desconstruir. Da 
mesma forma, o mundo aparente é uma criação de um novo lugar, com base na nova 
vida pregada nas Escrituras. O resumo das 4 teses levantadas por Nietzsche (1844-1900) 
direcionam para essa conclusão
82
. O resultado é descrença total nos valores impostos 
pela sociedade de tal forma que a pessoa cai no vazio absoluto
83
. 
4.5. CONCLUSÃO 
Nietzsche (1844-1900) demostrou um grande ódio pelos valores culturais da sua 
época, principalmente, no que diz respeito à questão dos valores tradicionais cristãos. 
Ele procurou desconstruir esses conceitos para construir a figura do Super Homem, 
dando autonomia para o ser humano de moldar sua própria moral sobrepondo aos 
conceitos tradicionais de sua história. Geisler resume bem o pensamento de Nietzsche 
(1844-1900): 
Nietzsche procura ir além do bem e do mal por meio de transvalorizar a 
própria natureza do bem e do mal. […] Nietzsche está sem normas éticas 
relevantes de várias maneiras: Primeiramente, está sem quaisquer normas 
 
80
 Ibid., p. 37. 
81
 NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Crepúsculo dos Ídolos. p. 25. 
82
 Ibid., p. 23. 
83
 FERNANDES, Nathan. 4 reflexões que vão te introduzir ao pensamento de Nietzsche. Atualizado em 
16/06/2016. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/06/4-reflexoes-que-
vao-te-introduzir-ao-pensamento-de-nietzsche.html. Acesso em: 28/02/2019. 
43 
 
absolutas. Deus está morto e todos os valores absolutos morreram com Ele. 
Em segundo lugar, Nietzsche está sem normas objetivas. Cada indivíduo cria 
sua própria variedade de valores. Em terceiro lugar, está sem normas cristãs. 
Nietzsche é profunda e irrevogavelmente anti-cristão
84
. 
Embora os pensamentos de Sartre (1905-1980) e Nietzsche (1844-1900) sejam 
semelhantes, a diferença está em como cada um combate a moral de suas épocas. 
Geisler faz uma boa diferença entre estes pensadores: 
[...] Nietzsche disse que as normas éticas objetivas devem ser trans-avaliadas 
pela vontade de poder do indivíduo irreligioso, e Sartre disse que devem ser 
totalmente rejeitadas. [...] Nietzsche designa um domínio extramoral para os 
super-homens, e Sartre declara que tudo é completamente amoral para todos 
os homens. A razão porque Sartre rejeita qualquer tipo de ética objetiva é 
que, para ele, a totalidade da vida humana é absurda
85
. 
 
 
84
 GEISLER, Norman L. Ética Cristã: Alternativas e Questões Contemporâneas.p. 25. 
85
 Ibid., p. 25. 
44 
 
 
5. O ANTROPOCENTRISMO PAULINO 
Após uma breve avaliação de como os homens agem segundo os movimentos 
filosóficos estudados, a questão que fica é: qual é posição das Escrituras em relação ao 
homem? 
Desde a queda de Adão, a Bíblia afirma que o pecado invadiu o homem e isso o 
afetou de diversas maneiras. Uma das melhores passagens para explicar esse estrago 
está em Romanos 3.9-20. Através dessa passagem, será feito um estudo minucioso de 
qual é o ponto de vista das Escrituras em relação ao homem. 
Essa passagem traz revelações interessantes sobre a natureza humana, que 
contempla anseios da humanidade. É observada, ao longo da história, necessidade de 
explicar a natureza. 
Ao longo desta análise, serão vistas as divergências de entendimento quanto a 
quem Paulo se refere no texto escolhido. Para sanar essa questão, será feito um 
levantamento do contexto da passagem, o contexto de algumas passagens bíblicas fora 
da carta e um estudo gramatical das palavras principais em grego para entender quem 
são as pessoas a quem Paulo se refere. 
45 
 
Este capítulo busca não só responder à problemática sobre quem são as pessoas 
condenadas que Paulo descreve, mas também avaliar o comportamento, atitudes e 
pensamentos do ser humano de maneira geral. 
5.1. A TRANSGRESSÃO DA LEI DE DEUS 
Em Rm 3.9, é apresentada uma pergunta para introduzir a conclusão sobre o que 
foi falado em Romanos 1.18 – 3.8. O apóstolo Paulo traz a descrição dos gentios em Rm 
1.18-32
86
. Paulo faz uma acusação prévia aos gentios sobre a deturpação dos seus atos 
diante de Deus. O autor tem o cuidado de expor sobre a iniquidade em que se 
encontram, demonstrando que todos possuem o conhecimento da existência de Deus, 
por meio de seus atributos revelados na criação. Mesmo tendo esse conhecimento, os 
gentios desprezaram a Deus e adotaram imagens corruptíveis. A consequência foi que 
os gentios foram entregues às suas paixões e deturpações morais, sendo indesculpáveis 
diante de Deus. A continuação dessa acusação vai até o verso 16 do cap. 2 da carta em 
que Paulo começa a inserir seus argumentos de condenação contra os que vivem 
debaixo da lei. Para aqueles que têm a lei, no caso, a revelação do Antigo Testamento, 
seriam julgados conforme suas obras, mas os gentios que não conheceram a lei, eles 
mesmos servem de referência para serem condenados, pois Deus imprimiu em seus 
corações a sua lei, testemunhando-lhes também a consciência e seus pensamentos. 
A partir do cap. 2 verso 17 ao cap. 3 verso 8, Paulo trata sobre a condenação dos 
judeus diante da lei (Torá). Eles acreditavam ser irrepreensíveis e isso era motivo de se 
gloriarem, porém Paulo demonstra que para ser justificado pela lei deveriam cumprir de 
maneira exemplar. O resultado é que mesmo os judeus sendo os portadores dos oráculos 
de Deus não tinham como se justificarem. 
Diante da exposição que Paulo faz, ele pergunta se judeus e gentios cristãos e até 
mesmo o próprio apóstolo teria qualquer vantagem. A ideia trazida do verbo “temos” é 
de uma ação rotineira e de ênfase, ou seja, a pergunta que Paulo faz é: “Estamos tendo 
mesmo qualquer vantagem?”. A resposta de Paulo é um sonoro “NÃO”, pois ele já 
demonstrou de uma vez por todas e com veemência que tanto judeus como gregos estão 
 
86
 Cf. MURRAY, John. Comentário Bíblico Fiel – Romanos. São José dos Campos: Fiel, 2003, p. 64. 
HENDRIKSEN, William; Comentário do Novo Testamento: Romanos. Trad.: Valter Graciano Martins. 
São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 88-89. 
46 
 
debaixo do pecado conforme exposição do apóstolo em Rm 1.18 – 3.8. Vale ressaltar 
que não havia distinção entre gregos e gentios na visão dos judeus. 
Qual seria essa vantagem que Paulo menciona em sua pergunta? Como o 
apóstolo questiona a todos os seus ouvintes incluindo-se sobre este grupo, a ideia de 
vantagem seria referente à natureza humana daqueles que são cristãos (judeus, gentios 
convertidos) em relação aos que não são crentes, ou seja, Paulo quer enfatizar a 
depravação total de qualquer ser humano neste momento
87
. Esta tese é reforçada por ver 
apenas descrições sobre a corrupção humana e nada sobre a graça transformadora de 
Deus por meio de Cristo entre o trecho de Rm 1.18 – 3.20. 
Ao expandir o tema da depravação total, a origem encontra-se em Adão. Paulo 
trará essa questão no capítulo 5 de Romanos ao apontar para Adão como o representante 
da humanidade e foi a partir dele que o pecado entrou no mundo, afetando toda a 
natureza humana. Conforme diz Dunn, Paulo avalia o pecado como uma força dentro do 
mundo o qual funciona dentro e sobre o homem de maneira negativa
88
. Esse autor 
define bem o que significa a expressão “debaixo do pecado”. Diante do domínio dessa 
força sobre o ser humano, o resultado final desse domínio é a morte espiritual destacada 
principalmente no cap. 7 quando Paulo expõe sobre um “eu” fictício para demonstrar o 
homem escravizado pelo pecado. Esta escravização ocorre, pois o pecado afetou o 
centro da vontade humana: o coração. As Escrituras trazem que é do coração de onde se 
procedem as fontes de vida (Provérbios 4.23), ou seja, aqui está o principal centro para 
influenciar o intelecto, a vontade e as emoções de um ser humano
89
. Pode se dizer que a 
transgressão da lei de Deus tem sua sede no coração, pois está contaminado pelo 
pecado. 
5.2. AS ESCRITURAS TESTEMUNHAM CONTRA AS ATITUDES HUMANAS 
 Para reforçar a ideia de que todo ser humano é pecador e que está condenado, 
Paulo não fica apenas no seu contexto atual. Ele faz diversas citações fora da sua época 
para dar maior ênfase de que o pecado afetou qualquer ser humano em qualquer 
momento da história. 
 
87
 HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Romanos. p. 159-160. 
88
 DUNN, James D. G. World Biblical Commentary Vol.38ª . University of Durham, 1988. 
89
 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Trad.: Odayr Olivetti. 4ª Edição. São Paulo: Cultura Cristã, 
2012, p. 216. 
47 
 
A partir do capítulo 1 de Romanos do verso 10 até o 18, Paulo traz uma lista de 
passagens do Antigo Testamento que apontam para os atos deturpados do ser humano. 
O verso 10 começa com uma conjunção conformativa, ou seja, a partir daqui, o homem 
transgride a lei de Deus conforme as atitudes descritas a seguir. A locução verbal “está 
escrito” enfatiza que as atitudes descritas começa na percepção de cada autor do citado 
do Antigo Testamento e transcorre até os tempos de Paulo, perdurando para todas as 
futuras gerações. 
Paulo começa com um versículo que está em Eclesiastes 7.20 (Não há homem 
justo sobre a terra que faça o bem e que não peque). O apóstolo quer destacar a visão do 
autor de Eclesiastes de que nem mesmo naquele contexto, não existia o grupo dos 
“justos” o qual servia como padrão referencial. A compreensão nacional judaica sobre 
serem justos é aqui confrontada
90
. Por outro lado, havia um grupo de romanos que se 
gabavam por seguir o estoicismo, ou seja, vivam de maneira racional, anulando os 
prazeres da vida (paixões, luxúria e demais emoções) segundo uma lei natural divina
91
. 
Assim, Paulo, aproveitando-se do contexto romano e judaico sobre os padrões de 
justiça, abala as estruturas dos seus ouvintes. Qualquer um que se julgasse justo, seja 
pela lei judaica ou por algum resquício de conceitos do estoicismo, foi derrubado pelo 
apóstolo. 
Paulo cita novos versículos do Antigo Testamento em Rm 3.11-12, fazendo 
alusão agora ao livro de Salmos 14.1-3. Em Sl 14.2, o salmista diz que do céu olha o 
Senhor para os filhos dos homens, ou seja, Paulo traz qual é a visão de Deus para o seu 
contexto atual. Assim, o apóstolo está afirmando que Deus vê que o entendimento 
humano foi corrompido pelo pecado. Assim como é habitual para o ser humano respirar, 
o pecado

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