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EDITORIAL Manoel Canuto 2 Revista Os PuRitanOs – 3, 2010 “A Ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens...” (Rm 1:18) Com mais de sessenta anos vividos posso olhar para trás e para hoje e comprovar experimental e pragmaticamen-te aquilo que a Bíblia fala tão veementemente: “... todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado... Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inú- teis; não há quem faça o bem, não há um sequer” (Rm 3:9-12). O homem é por natureza ímpio e tende sempre para a mal- dade e corrupção. No entanto, para o crente, a maior com- provação de que a Bíblia é a verdade não é porque ele pode comprová-la experimentalmente, mas porque é a Palavra de Deus e ele crê nisso. A iniquidade tem se multiplicado como nunca vi antes. Apreensivo, mas consciente, vejo se cumprir o que Jesus dis- se: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos” (Mt 24: 12). A cultura brasileira é acentuada- mente supersticiosa, religiosa, idólatra, mas também liberal, incrédula e agnóstica, em nada diferindo das outras nações; mesmo aquelas que no passado foram guiadas por princípios bíblicos e que receberam forte influência cristã. Recentemente estive relendo um livro sobre reforma na Igreja. O autor de um dos capítulos fala o que aconteceu nos Estados Unidos nas décadas de sessenta a noventa. Os crimes violentos aumentaram 560%; o número de filhos ilegítimos aumentou 400%; desde a legalização do aborto em 1973, es- tima-se que tenha havido a morte de 28 milhões de crianças que não nasceram; o índice de suicídio entre os adolescente aumentou 200%; menos de 60% das crianças moravam com seus pais biológicos. Na década de 90 apenas 13% das pessoas acreditavam na validade dos Dez Mandamentos e por isso a consequência era a de que 74% destas pessoas afirmavam que podiam roubar sem dor na consciência; 64% afirmavam que mentiriam se soubessem que com isso teriam alguma vanta- gem; 53% diziam que se tivessem oportunidade cometeriam adultério; 41% pretendiam usar drogas recreativas; 30% iriam falsificar o seu imposto de renda; a pornografia cresceu as- sustadoramente tornando-se uma indústria de 21 bilhões de dólares. Esses números são de um país colonizado debaixo dos princípios da Bíblia. Imagine o Brasil...! Mas Paulo diz que a ira de Deus se revela do céu contra toda esta perversão moral, que algumas traduções chamam corre- tamente de “injustiça (adikia) dos homens” que é basicamente a quebra dos mandamentos da segunda tábua da Lei; mas o apóstolo tem o cuidado de colocar uma outra razão pela qual a ira de Deus se manifesta punitiva — a impiedade (asebeia), que se encontra expressa na primeira tábua. Por que Paulo usa estes dois termos? Alguns comentaristas acham que a ex- pressão “impiedade e injustiça dos homens” retratam a única idéia de uma perversão ímpia. Mas fico com a posição do Dr. Lloyd-Jones de que a impiedade define toda transgressão da primeira tábua da Lei e refere-se especialmente a atitude do homem para com Deus; injustiça trata de nossas falhas em relação a nossos semelhantes; é a quebra dos mandamentos da segunda tábua Lei — É a falha em qualquer ponto de nos- sas relações com os homens. J. B. Lightfoot diz que asebeia é “contra Deus”, e adikia é “contra os homens”. É óbvio que Paulo está pensando na lei de Deus e no resumo que Cristo fez dela: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este é: amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Nós nunca devemos separar a piedade da justiça, pois são o resumo da Lei. No entanto, a piedade deve vir antes da justiça. Acho que Paulo entendia ser assim. Por quê? Porque a essên- cia do pecado é a quebra do relacionamento do homem com Deus, é não viver para honrar e glorificar a Deus, sendo este o propósito pelo qual Deus criou o homem. Em Adão caímos em impiedade quando não fizemos a vontade do Criador e nesta condição vivemos. Dessa forma posso entender o porque dos mandamentos da primeira tábua da Lei — a glorificação ao único e verdadeiro Deus. Fazer Sua vontade em tudo. Não fazê-la é desprezar a Deus — isso é impiedade. Dr. John Mur- ray diz que a impiedade é precursora da injustiça. A injustiça para com nossos semelhantes existe, porque primeiro nos foi imputada a impiedade de Adão. Por desconhecer isso, muitos moralistas dizem que não são pecadores porque nunca ma- taram, nem roubaram, nunca foram infiéis a suas esposas... Deixe-me ilustrar. Tenho um amigo ateu. Quando conver- samos certo dia sobre estas questões morais ele me disse ser melhor do que muitos crentes e sua vida moral era exemplar. Ele tem um filho judeu, pois uma de suas quatro mulheres que teve é judia. Perguntei o que ele achava da Lei de Moisés. Ele disse que achava muito inteligente. Mas quando lhe perguntei se concordava com os primeiros quatro mandamentos da lei mosaica ele pensou e retrucou dizendo que tudo era “bobagem” e religiosidade judaica. Portanto, pensar que pode existir moralidade e ética sem relacionamento e conhecimento de Deus é algo tolo e grave que detrata a glória de Deus e provoca Sua ira que se revela do céu contra toda impiedade e injustiça. O homem é corrompido dos pés à cabeça, mesmo buscando a moralidade. Este homem não merece outra coisa a não ser a condenação eterna, mas se reconhecer seus pecados, toda sua impiedade e injustiça, e se arrepender aos pés da cruz, perdoado manterá um relacio- namento de amor, honra e glória com seu Criador e Salvador. Boa leitura! Impiedade e Injustiça REVISTA OS PURITANOS Recife, Ano XIX - Número 3 - 2010 Editor Manoel Canuto mscanuto@uol.com.br Conselho Editorial Josafá Vasconcelos e Manoel Canuto Revisores Manoel Canuto Tradutores Linda Oliveira, Márcio Dória e Josafá Vasconcelos Projeto Gráfico Miolo e Capa Heraldo F. de Almeida Impressão Facioli Gráfica e Editora Ltda. Fone: 11- 6957-5111 — São Paulo-SP OS PURITANOS é uma publicação trimestral da CLIRE — Centro de Literatura Reformada R. São João, 473 - São José, Recife-PE, CEP 52020-120 Fone/Fax: (81) 3223-3642 E-mail: ospuritanos@gmail.com DIRETORIA CLIRE: Ademir Silva, Adriano Gama, Waldemir Magalhães. 3, 2010 – Revista Os PuRitanOs 3 Depravação Total — O que Isto Significa? “Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque.” (Ec.7:20) Dr. Joel Beeke Há seis meses me encontrei com uma mulher que conheci ainda quando criança. Não a tinha vis-to há mais de 30 anos. Ela me disse: “Quero lhe agradecer por uma coisa que você me falou quando ain- da éramos jovens”. Então explicou que nós estávamos numa reunião de jovens e ela me teria dito que estava com problemas com a doutrina da predestinação. Pensa- va: “Como pode um Deus bom mandar qualquer pessoa para o inferno?”. Ela afirmou que eu teria dito: “Eu tam- bém tenho problemas com a doutrina da predestinação, mas meu problema é o oposto do seu problema; meu problema é: ‘Se temos um coração tão corrupto, como é possível Deus mandar um de nós para o céu?’”. Ela acrescentou que naquele momento eu teria dito ainda: “Minha única esperança é a eleição soberana”. Aqui temos a raiz do problema. Se o homem não é tão mal como Romanos 3 afirma, se nossa natureza não for tão corrupta como o apóstolo Paulo diz que é, e se de fato nós temos condições de fazer alguma coisa es- piritualmente boa por nossa própria força, então, com certeza a eleição seria ofensiva para a natureza humana porque de fato, na essência, nós teríamos a capacida- de de nos salvar a nós mesmos escolhendo a Deus por nosso livre arbítrio. Mas se de fato o homem é tão mal e maligno como Paulo descreve, pela graça eu aprendo a amar a eleição, não como um inimigo, mas como um amigo. A eleição é um amigo do pecador porque prega que há um caminho para mim em Deusquando em mim não há nenhum caminho, por causa do pecado. Vejamos uma definição de Depravação Total. A de- pravação total é nosso demérito que nos faz merecer o inferno; é a nossa corrupção decorrente do pecado original e dos pecados atuais, diante de um Deus que é santo; por causa desta corrupção somos incapazes de apagar nosso demérito e de fazer qualquer coisa que mereça o favor salvífico de nosso Deus. Essa definição implica em 4 coisas: 1) A Depravação Total é inseparável do pecado. O pecado está no coração, na essência do nosso pro- blema. A Bíblia nos diz que o pecado é a transgressão da Lei de Deus; é qualquer falta de conformidade com a Lei moral de Deus; envolve nossos atos, nossas atitudes e a nossa natureza, seja por comissão ou por omissão. Omissão significa não fazer as coisas que a Lei exige serem feitas; comissão significa fazer as coisas que a Lei proíbe serem feitas. Há três palavras importantes no Novo Testamento relativas ao pecado. a) A primeira é delito que literalmente significa “não atingir o alvo”. Imagine um arqueiro que mira o alvo com sua flecha, mas não o acerta; ou um pai ensinando ao filho a atingir o centro do alvo. Ele treina seu filho a usar o arco, mas o filho não consegue atingir este alvo. É isso que Deus diz a nosso respeito. Em Adão Deus nos fez perfeitos e retos e fomos criados com capacidade de alcançar o centro do alvo, de glorificá-lo e honrá-lo, mas em nossa queda profunda em Adão não mais consegui- mos alcançar este alvo. Todo dia vivemos neste pecado original. Não adianta o quanto nos esforçamos para limpar nossas vidas exteriormente. Martinho Lutero disse que o pecado original é como a nossa barba, pois nós a tiramos hoje e pensamos que tudo está limpo, mas no outro dia já está crescendo novamente. Nós estamos sempre errando o alvo que Deus estabeleceu. Todo pensamento pecaminoso que nos vem à mente, toda palavra pecaminosa que pronunciamos, todo ato pecaminoso que praticamos, surgem dessa “barba” de pecado. Como ovelhas temos nos desviado, não temos alcançado o alvo. Todos somos pecadores. b) A segunda palavra do Novo Testamento usada para se referir ao pecado é transgressão. Esta palavra ilustra a Lei de Deus como uma cerca demarcatória. A Lei de Deus é a linha de demarcação. Deus diz: “não 4 Revista Os PuRitanOs – 3, 2010 JOel Beeke faças isso”. Transgressão é ultrapassar a linha demarcatória, é violar o espaço que é de Deus. Nós transgredimos con- tra o Criador Santo. c) A terceira palavra é desobediên- cia. Isso pode significar também de- sobedecer ao grande mandamento de amar nosso próximo e a Deus acima de todas as coisas. Por natureza somos culpados de ter cometido todos estes três tipos de pe- cados, pois nunca estamos amando a Deus acima de todas as coisas e ao nos- so próximo como a nós mesmos. A cada momento, a cada segundo, estamos pe- cando contra a Lei de Deus. O pecado é o que nos separa de nosso criador. Ele nos afastou do paraíso e nos levará ao inferno se não nos arrependermos e crermos no evangelho. O pecado é algo feito contra Deus. O pecado é odiar a Deus. O pecado luta contra a verdadeira essência de Deus. O pecado de fato tenta tornar Deus não Deus. O pecado lança um desafio contra a glória de Deus. Por isso entendemos que isso é nossa depravação natural; queremos nos tornar Deus e nos colocarmos no trono destronando-o de seu lugar. Isso é nossa depravação! Na livraria da Universidade que es- tudei havia um grande cartaz colocado na porta com a figura da terra. Em cima da terra havia um pequeno homem e ao lado dele havia algumas palavras que diziam: “Eu sou o Deus desta terra”. Este é o retrato de todo homem. 2) As Escrituras nos ensinam que a Depravação Total é algo primordial- mente interior. O Senhor Jesus disse o que corrompe o homem não é aquilo que ele toca, mas é o que vem de dentro dele. A deprava- ção age em nossa vida interior, causa a poluição de nossa natureza de dentro para fora. Isso se manifesta em nossas emoções e afeições. Nunca estamos obedecendo ao espírito da Lei. A cul- pa de Adão não somente foi imputada em nossa conta, mas herdamos a sua poluição. Quando eu cheguei ao Brasil, fui advertido de que não deveria tomar água da torneira, pois talvez me trou- xesse problemas. De uma forma muito mais profunda a depravação total signi- fica que tudo vem de uma fonte que nos envenena. Se a fonte tem veneno, tudo que chega por meio dela vai nos trazer problemas. Por isso, tudo que nós faze- mos é poluído e manchado pelo pecado. 3) Quando nos olhamos de uma forma exigente como seres humanos, caídos em Adão, não somente há algu- ma coisa errada interiormente em nós, mas há também algo terrivelmente er- rado com todas as partes de nosso ser. Nossas mentes são depravadas, nos- sa consciência é depravada, nossa von- tade está escravizada ao pecado. Isso não significa que o homem se torna um animal ou como um tipo de diabo, como muitos ensinam. E também não significa que sempre estamos agindo com o pior tipo de depravação que poderíamos agir. Se assim fosse, todos nos mataríamos uns aos outros. Mas o que isso significa é que jamais pode- mos fazer algo que é completamente bom. Deus, em sua graça, restringe o pecado e nos impede de nos entregar- mos completamente à nossa total de- pravação. Se entendermos dessa forma, chegaremos inevitavelmente ao cora- ção da nossa depravação. Quando Deus olha nossas afeições, vontades, cons- ciências ou qualquer ponto de nossa natureza, Ele não encontra nenhuma parte que não esteja contaminada pelo pecado. Somos alienados de Deus por natureza. João Calvino disse: “Não tem homem na face da terra que entenda sequer um por cento da realidade da sua depra- vação”. Certo puritano falou: “Nossos corações, por natureza, são fábricas do diabo”. Jonathan Edwards falou: “Quan- do olho para meu próprio coração, vejo um abismo mais infinitamente profun- do do que o próprio inferno”. 4) A depravação naturalmente pro- cura dominar as nossa vidas. Paulo deixa isso claro em Rm. 6:16 quando diz que somos por natureza es- cravos do pecado. “Não sabeis que da- quele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça?”. Aqui chegamos à essência do assunto. Um escravo é propriedade do seu senhor, ele não tem tempo para si mesmo, não tem nenhuma posse, não pode usufruir seus talentos para si mes- mo somente, não tem riquezas pessoais, não tem nenhum momento em sua vida em que possa desfrutar consigo mesmo, pois é sempre propriedade do seu se- nhor. Da mesma forma Paulo diz: “Por natureza você era escravo do pecado”. Antes da graça entrar em sua vida o pecado era seu dono, ele lhe domina- va, era seu o rei, seu déspota absolu- to; o pecado lhe controlava. É isso que Paulo está dizendo em Romanos 3. Por natureza somos propriedade do peca- do. Não há nenhum momento em que não sejamos posse do pecado. Não há nenhum talento que o homem natural desempenhe que não seja manchado pelo pecado. Moramos em um mundo onde só há escravos do pecado; o Brasil é um país de escravos, a América do Norte e do Sul são continentes de es- cravos do pecado. As multidões estão escravizadas ao pecado. Meu amigo, se hoje você é um incré- dulo, saiba que está sob o domínio do pecado; suas omissões fazem parte do seu pecado; mesmo quando fica calado, ainda assim, é propriedade do pecado. Seus atos são propriedades do pecado, porque por natureza somos viciados nele. Temos o pecado em nós como uma doença que não tem cura. Toda 3, 2010 – Revista Os PuRitanOs 5 DePRavaçãO tOtal – O Que istO significa? nossa cabeça está doente, da cabeça até os pés somos pecadores miseráveis na presença de Deus. 5) O salário do pecado é a morte. O pecado tem uma colheita. Se você serve ao pecado, vai receber o salário do pecado. Isto é o universo moral. Um dia os anjos vão chegare começar a co- lheita do juízo. Foi ordenado ao homem morrer uma só vez e depois disso o juízo. O juízo sobre o pecado é a morte física, morte espiritual, separação de Deus e morte eterna; é afastamento do favor de Deus no físico e na alma, para sem- pre no inferno. Inferno é o que Deus acha do pecado, Ele aborrece e condena todo pecado, externo e interno. O Deus que é luz, e no qual não há nenhuma sombra de treva, não tolera o pecado. Há outro lugar que nos fala o que Deus acha do pecado; é um lugar que nos ensina mais do que o próprio infer- no e esse lugar é o Gólgota. Ali naquele lugar Deus mostrou seu ódio contra o pecado de tal forma que derramou sua ira sobre seu próprio Filho unigênito, na cruz. A agonia, o sangue, a coroa de espinhos, a ferida no seu lado, tudo isso foi necessário para salvar pecadores como você e eu. O Gólgota não era um lugar bonito. Tive o privilégio de visitar este lugar. Hoje é um lugar muito comercializa- do, um local turístico e limpo, mas na época de Jesus não era assim. Ali havia crânios e esqueletos e carne humana em decomposição espalhados por todo lugar. Três cruzes rudes e cheias de sangue foram erguidas neste lugar e três ensanguentados corpos nus foram fincados nestas cruzes. O homem da cruz do centro foi tratado como o maior criminoso de todos os tempos, todo in- sulto foi colocado sobre ele; os solda- dos, os expectadores, os sacerdotes e os anciãos com suas vestimentas próprias do seu ofício, todos se dirigiam ao Se- nhor Jesus ridicularizando e desafiando seu poder. Uma voz apenas se levantou em seu favor. Era a voz de um despre- zado assassino. As mulheres com mente impura se calaram e os discípulos que amavam o Senhor Jesus, covardemen- te correram para longe. Ninguém olha- va nos seus olhos para dizer: “Senhor, nós entendemos o que estás sofrendo”. Jesus foi alienado da casa de Seu Pai. Seus amigos e irmãos o desampararam; ele foi desamparado não pelo homem apenas, mas desamparado pelo próprio Pai. “Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste?”. Jesus foi também desamparado pela própria natureza. O sol se escondeu e não quis brilhar sobre Ele. A face do Pai que sempre olha o rosto de Seu amado Filho se virou para outro lugar. É isto o que Deus acha do pecado! O pecado foi visto de forma horripilante ao se ouvir o estrepitar dos trovões no Sinai, mas o pecado é ainda mais aterrorizante e amargo na visão do Gólgota. Seu Sal- vador foi desamparado e entregue nas mãos mais cruéis do planeta. Jesus foi afastado de tudo que é bom e bonito. Ali naquela cruz Ele pagou o preço comple- to por nossos pecados. Seria possível imaginar o Senhor derramando seu sangue em vão? Pode- mos imaginar o Pai derramando sangue de Seu Filho sobre todas as pessoas que vivem na terra e tudo isso sendo feito em vão? De forma alguma! Ele derra- mou seu sangue para os Seus amados da mesma forma que ele ora em favor dos seus escolhidos. Amigo, se você é um crente, saiba que Ele orou em seu favor, sofreu em seu lugar; e quando você enxerga como é infinita a depravação do seu ser, do seu pecado, aí então pode ver o quanto isso custou ao seu Salvador. No fundo do seu ser você já sabe que não tem capacidade para ir à Cristo por sua própria força, pois tu és demasiada- mente maligno. Mas Jesus fez tudo em seu favor, Ele o escolheu; fez expiação por você; manda seu Espírito com sua graça irresistível para atuar em você; Jesus lhe preserva até o fim. Quando sua alma está se aproximando de uma forma experimental da cruz do Calvá- rio e, sob a luz desta cruz você enxerga sua total incapacidade, e a capacidade total do Salvador, você clama: “Senhor eu creio, ajuda-me na minha increduli- dade”. Naquela cruz você aprende que Ele pode torná-lo aceitável no dia do Seu poder por meio do Seu sangue. Ele pode lhe dar afeições limpas e uma consciência purificada por meio do Seu sangue e por meio dele Cristo vence sobre você como seu Senhor para que, no momento que crer e se arrepender, o pecado não mais tenha domínio so- bre sua vida. Você foi libertado, puri- ficado e experimenta agora a paz que vai além do entendimento e glorifica ao Deus vivo. Foi isso que nossos pais defenderam sobre a natureza radical do pecado e da natureza radical da graça: um pecador pobre e um Salvador rico. Dr. Joel Beeke O juízo sobre o pecado é a morte física, morte espiritual, separação de Deus e morte eterna 6 Revista Os PuRitanOs – 3, 2010 A Corrupção do Homem “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”(Ef.2:1) Robert Selph Em Efésios 2:1-3 Paulo descreve a condição do homem antes da sua conversão. Ele está falando para crentes e depois de descrever a condição do homem caído, ele diz no versículo 4: “Mas Deus...”. Deus fez algo maravilhoso na vida daqueles homens, agora santos. Mas antes de se regozijar do que Deus fez, o crente precisa ver o que ele era antes da conver- são. Não vamos considerar o estado legal do homem, como está referido no final do versículo 3: “... éramos por natureza filhos da ira como também os demais”. Esse, de fato, era o estado legal destas pessoas não conver- tidas, diante de um juiz reto, a quem eles haviam ofen- dido com seus pecados. Mas o que vamos fazer é olhar para o estado moral do homem. Deus criou o homem reto, espiritualmente vivo à imagem de Deus. Ele tinha comunhão com Deus; tinha livre arbítrio, uma livre vontade de buscar comunhão com seu criador. Em Eclesiastes 7:19 vemos que Deus fez o homem reto, justo, mas ele foi atrás de muitas invenções próprias. Deus proibiu que ele comesse do fruto da árvore do bem e do mal, caso contrário mor- reria. Eva tomou do fruto e comeu. Ao seu marido, que estava com ela, deu do fruto e ele comeu sem adverti-la de que não deveria fazer isso. Espiritualmente e ime- diatamente eles morreram. Paulo descreve isso como uma catástrofe sem paralelo, em Romanos 5:12 - “... por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram”. É como se você estivesse estado lá. Você comeu o fruto quando Adão comeu; quando Adão desobedeceu, era você desobedecendo; quando Adão pecou, você pecou; quando Adão morreu você morreu — 1 Co.15.21-22: “Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque assim como em Adão todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo”. Então, quando o homem morreu, algo devastador aconteceu com a alma desse homem. O homem mor- reu e não mais havia vida nele. Sua mente espiritual já não pensava em Deus, pelo menos com pensamentos reverentes; o coração já não pulsava com amor para com Deus; a boca não mais tinha sede de justiça; o es- tômago não mais tinha fome de justiça; os seus braços já não queriam abraçar a Deus; espiritualmente não tinha mais seus sentidos funcionando. Já não se ouvia mais a voz do pastor; já não se via mais a beleza da Sua santidade; já não se experimentava mais a doçura do Seu amor; já não se sentia mais o imprimir do Espírito Santo na alma; já não se sentia mais a fragrância que existe em Jesus, o Lírio do Vale. Para pecadores o Cristianismo é apenas mais uma religião. É uma coisa boa para se estar envolvido. A Igreja preenche a sua vida social. É difícil imaginar o corpo vigoroso de um atleta ou a mente perspicaz do erudito ou a personalidade viva de um ator e ver que todos estejam mortos! Mortos na esfera mais crucial — a alma. Efésios 4:18 nos diz que não há mais vida — “alheios a vida...”. Todos os homens continuam nas- cendo e não estão meio mortos como alguns dizem, e sim que não têm nem sequer o suficiente de vida para, pelo menos, ter fé. A Bíblia diz que estão totalmente mortos. O texto sugere que este estado de morte tem algo a ver com delitos e pecados. Esta morte está ligada à atividade moral e à área em que esta atividade é pratica- da. Se Deus não está controlando, energizandoa razão, a vontade, as emoções, os sentimentos, então alguma outra coisa está fazendo isso. Pessoas que estão mortas são, na verdade, muito ativas, mas estão controladas e energizadas por uma natureza depravada decaída. Per- cebam que Paulo usa duas palavras cuidadosamente escolhidas e que dão uma visão muito cristalina da na- tureza humana. Toda maldade está ligada a estas duas palavras: 3, 2010 – Revista Os PuRitanOs 7 a cORRuPçãO DO HOmem DELITO → Vem da palavra grega paraptōma, que significa se desviar do caminho certo, girar para o lado, passar por cima de um limite conhecido. Você ao caminhar vê um sinal que diz que é proibido ultrapassar, mas você passa além do limite sinalizado. Este é o significado da palavra DELITO. PECADO → Do grego hamartia, que significa errar o alvo, fracassar no propósito de se fazer alguma coisa. É usado no grego clássico para se referir a um homem atirando a sua lança ou poderíamos imaginar o flecheiro usando seu arco e flecha numa competição, mas a flecha não atinge o alvo onde deveria. Esta palavra também significa fracassar em obedecer, fracassar em atingir o alvo, o padrão. “Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Então, aqueles que não são regene- rados, estão sempre fazendo o que Deus proíbe. Ou seja, nunca estão fazendo o que Deus requer. Pecado é a quebra da Lei de Deus, isto é, os dez mandamen- tos. O pecado é a transgressão da lei (I Jo.3:4). É não fazer o que a lei ordena que façamos. O catecismo diz que o pe- cado é a falta de conformidade com a lei de Deus ou a transgressão desta lei. Estas duas palavras (delito e pecado) abrangem toda esfera de comporta- mento: pensamentos, desejos, emoções, ações e palavras que proferimos. A palavra morte da qual falamos é uma “morte viva”. O homem está espi- ritualmente morto, mas mesmo assim está em atividade. Paulo mostra com que se parece esta atividade. Há três palavras que vemos no texto: andas- tes (v.2), andamos (v.3), éramos (v.3). O texto dá quatro descrições bem claras que envolvem esta atividade em todo homem não regenerado. 1. Ele descreve a esfera, o escopo onde toda esta atividade se desenvolve. Tudo está relacionado com “delitos e pecados”. 2. Mas podemos ver o padrão onde ela é exercida. Isto é o “curso deste mundo”. 3. Podemos ver também o poder que a governa. É o “príncipe da potestade do ar”. 4. Vemos também as motivações cons- cientes que lhe dão origem. Elas surgem da natureza ou da concupiscência da car- ne, ou da “vontade da carne”. 1. O texto é uma descrição muito di- reta da natureza do homem e você per- gunta: Será que não há virtudes no ho- mem? Será que não há um só momento em que o homem esteja fora do descrito aqui? Será que o homem não converti- do não tem alguns bons pensamentos, bons desejos e boas ações? Você talvez esteja se lembrando de pessoas que vivem de forma positiva na sociedade, nas suas famílias e na igreja; elas dão duro trabalhando; talvez nem falem palavrões ou amaldiçoem a outros; são pessoas boas para com seus cônjuges e filhos e que trabalham para suprir as necessidades da sua casa; são honestas com seus semelhantes; estão dispostas a fazer qualquer coisa por você. Mesmo assim, o apóstolo descreve o homem desta forma, nesta condição espiritual: A verdade é que os homens não são tão maus tanto quanto poderiam ser e Pau- lo não diz que o homem não é capaz de fazer algum bem em algum momento da sua vida, mas que tudo aquilo que o inconverso faz de bom é pecado. Mes- mo que esteja batalhando e trabalhan- do por sua família, ele não está fazendo com os olhos voltados para a glória de Deus. A verdade é que ele nunca está fora do domínio do pecado em tudo isso. O apóstolo Paulo, tomou todas suas qualidades morais e espirituais, seu pe- digree e suas realizações religiosas pra- ticadas antes de se converter, juntou-as todas como obras de justiças e, falando a respeito de si mesmo, disse que tudo aquilo era tão bom quanto o lixo (Fl 3:8). Paulo disse que antes de se converter, se enquadrava nessa descrição do texto de Efésios 2. O padrão. (v.2) “... nos quais ou- trora, andastes no curso deste mundo”. A palavra “andastes”, não tem a ver com uma passada ou outra, mas com um ca- minhar constante. É o curso inteiro da vida, é a forma como se vive. É como diz João: “Se andarmos na luz como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros”. O andar descrito no texto de Efésios é o andar nos delitos e pecados. Pessoas que andam em seus pecados passam o dia inteiro envolvidos com eles, cercados e vestidos com eles e de- sejosos dos mesmos. A frase, “segundo o curso...” na verdade envolve uma pre- posição, e significa “de conformidade com” ou “coerentemente com”. É como ler cada item de um manual, indo na sua ordem certa — segundo o curso deste mundo. O termo curso vem de uma pa- lavra que quer dizer o soprar de. É o princípio vital, o espírito reinante neste mundo. Ou seja, todo sistema social de valores deste mundo é totalmente afas- tado de Deus. Ele permeia toda socieda- de humana. Ao fazer isso ele faz com as pessoas fiquem presas à sua forma de pensar. É um olhar secular que repudia Deus de seu trono. É imoral porque re- pudia todos os absolutos. A palavra MUNDO é a mesma usada em Romanos 12: 2. “Não vos conformei com este mundo...”. Em 2 Timóteo 4:10, lemos: “Demas, tendo amado o presente século (mundo), me abandonou...”. Mun- do no texto é a soma completa de todas as pessoas não regeneradas. “Se o mun- do me odiar, há de odiar vocês também...”, disse Jesus. “Nós sabemos que somos de Deus, e o mundo inteiro jaz no malig- no” (1 Jo. 5:19). Então, “curso” tem a ver com o sistema deste mundo. Mundo aqui tem a ver com os homens existen- tes neste planeta. Antes de nos convertermos anda- mos de acordo com a mentalidade do 8 Revista Os PuRitanOs – 3, 2010 ROBeRt selPH mundo, a nossa era presente que é totalmente “torta”. Nós temos que ser constantemente relembrados que esse mundo no qual vivemos, não é etica- mente neutro. A forma de se viver o padrão deste mundo é completamente anti-Deus. Os alvos, a filosofia, o siste- ma educacional, a mídia, todas as ativi- dades, são governados por um padrão que é exatamente “o curso deste mun- do”. O homem não convertido não con- segue sair de dentro disso. O homem não convertido não vai querer ter Deus. Ele fala e vive sem considerar as coisas do Deus vivo. Os feitos humanitários mais bonitos podem ser feitos para o próprio homem sem nunca se direcio- narem para a glória de Deus. 3. O poder que está por trás do ho- mem não convertido. Paulo diz que há um poder que está por trás desta atividade e os pecadores mortos estão andando segundo o curso deste mundo, envolvido em seus delitos e pecados, e o poder que energiza tudo isso é Sata- nás. Alguém me questiona se eu creio num diabo literal e sempre respondo perguntando se este alguém crê na Bí- blia. A Bíblia fala do príncipe da potes- tade do ar e que ele está continuamente operando nos filhos da desobediência. Os filhos da desobediência estão em relacionamento permanente com Sata- nás. Jesus disse em Mateus 13:38 - “... o joio são os filhos do maligno”. Em João 8:44, Jesus diz: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe aos desejos”. Ele é um assassino e quando o não convertido perde a calma e fica com sentimento de vingança para agir, está agindo como seu pai. Ele também é um mentiroso! Quando o homem enga- na alguém, em qualquer grau que seja, está agindo exatamente como o seu pai, o diabo. Paulo descreve a todos os não con- vertidos como filhos da desobediência. Aqui está a fonte do caráter peculiar dos não convertidos: desobediência. Eles não são persuadidos e estão andando segundo a mesma proposição, de acor- do com, segundo o curso de todos os desejos e poderes do diabo. Em 1 João 5:19, lemos: “Sabemos que somos de Deus, e o mundo inteiro jaz no maligno”.Ainda em 2 Timóteo 25-26, lemos que Deus nos dá o arrependimento para fu- girmos daqueles laços do diabo. Então, estas forças do mal estão debaixo do comando do diabo e todos os pecadores estão seguindo sob sua orientação. Ele está no presente ainda trabalhando em todos os homens, mulheres, crianças não regenerados. A coisa mais assus- tadora com respeito a isso é que nós não sabemos como os espíritos malig- nos operam. Não sabemos exatamente como eles têm acesso à mente humana para controlar a operação da mente. Não sabemos como eles fazem com que pessoas não regeneradas andem segundo sua vontade e estejam debaixo do seu controle. Satanás está realmente engajado com todas as suas forças nes- se trabalho e ele nunca descansa. O homem moderno que é orgulho- so, “nariz em pé”. Ele é uma pessoa “muito instruída” para crer que existe um diabo que mexe com o indivíduo e jamais reconhece que está debaixo de uma escravidão. Mas, a razão porque os homens não crêem em Jesus Cris- to é por que o diabo está ativamente trabalhando nas suas mentes. É o que se lê em 2 Co 4:4. Mas quando chega o Dia do Senhor quando a Palavra é pregada dos púlpitos, os homens não regenerados, ao invés de estarem na igreja, preferem estar praticando al- gum esporte ou assistindo a algum jogo pela TV. Estão afundados no seu materialismo, no conforto de seus lares ou trabalhando no jardim. O que é que está por trás dessa indiferença quanto à pessoa de Deus? Será que eles pensam que vão viver eternamente? Você fala para estas pessoas da eternidade que virá e apela para que elas se arrepen- dam e se voltem para Deus e nada. Eles estão enterrando alguém da família e devem ser os próximos da fila, mesmo assim continuam completamente in- diferentes ao fato de que um dia irão comparecer diante de Deus. Tudo isso porque há um espírito atuando dentro deles, fazendo com tenham uma visão muito curta das coisas espirituais e não conseguem enxergar a Deus. 4. Motivações. No versículo 3 Paulo faz uma descrição mais genérica. Diz: “... andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne” e vai para o lado mais específico: “fazendo a vontade da carne e dos pensamentos”. Repare que ele fala isso a respeito de todos os homens. Ele diz: “nós andamos”. Paulo está falando tanto de gentios como de judeus. Vamos ver primeiro a descrição mais genérica: “... andamos outrora”, signifi- ca sermos energizados para... Está no passivo grego e significa uma atividade contínua e habitual. É algo que acon- tece de forma contínua, constante. É a mesma palavra usada em 2 Co.1:12: “temos vivido”. É uma vida toda, um comportamento constante que é feito na carne. É verdade que esta palavra “carne” é usada com grande flexibilidade na Bíblia como aquele versículo que diz: “Aquele que é nascido da carne é carne”. Está falando ali do nascimento físico. Mas aqui está falando da totalidade da natureza humana toda afastada de Deus, que está sob o domínio do pecado. Há uma disposição interior em todo o emaranhado das faculdades, aptidões e disposições do homem (a mente, os sentimentos, a vontade) e como ope- ram. Assim Paulo disse Romanos 7:18: “em minha carne não habita bem algum”. Os desejos da carne são como um ado- lescente que diz querer fazer aquilo que ele bem entende. “Pai deixe-me fazer o que eu bem entenda”. Você pode ser um provedor do pão de cada dia que traba- 3, 2010 – Revista Os PuRitanOs 9 a cORRuPçãO DO HOmem Todo sistema social de valores deste mundo é totalmente afastado de Deus. lha arduamente em favor de sua família e até faz todo bem possível na comuni- dade, mas não se curva à Lei de Deus. Por isso não pode manter comunhão com Deus e, portanto, não vive para Sua glória. Em síntese este homem diz: “Estou feliz, deixe-me em paz!”. Agora vamos ver a descrição mais específica. Enquanto vivemos nesta esfera generalizada, estamos fazendo constantemente a vontade da carne e dos pensamentos. CARNE e PENSA- MENTOS. A palavra carne significa aquela natureza inferior, apetites ani- malescos. Eles estão dizendo: matem a minha fome! Gratifiquem-me! Então, a vontade do homem tira o chapéu e faz exatamente o que a carne pede. Mas ele usa também a palavra men- te, pensamentos. Em Cl 1:21 Paulo diz que “noutro tempo éramos estranhos e inimigos no entendimento”. Paulo era um fariseu que cultuava a Deus, mas como cultuava? Na ignorância, ele diz. A sua mente carnal dizia: Você quer ser alguém agradável a Deus? Junte muitas boas obras e assim estará honrando a Deus; você não precisa aceitar os ensi- nos a respeito da graça, você é capaz de agradar a Deus com suas capacidades e com tudo que faz. Esse é o arrazoado de uma mente carnal. Fazer ou cumprir a vontade da mente. A palavra “fazendo”, no grego é poieu. Significa fazer com que aconteça. Está no presente do par- ticípio, é uma ação duradoura que sig- nifica constantemente fazendo, sempre cumprindo, habitualmente realizando atos que satisfazem os desejos de uma natureza má e de pensamentos maus. A palavra “desejos”, que é aqui traduzida por vontade, keleimatar, é a palavra que dita uma ordem. Será que este quadro não é vivo e claro o suficiente? Nós estamos sob a ditadura dos nossos maus pensamentos, da nos- sa má natureza. Creio que temos lições vitais dessa descrição. Eu creio que essa afirmação é um dito eloquente acerca da universalidade do pecado. Ou seja, todos os homens estão debaixo dessa corrupção. Veja que Paulo disse que “to- dos nós andamos outrora”. Todos os se- res humanos estão debaixo e incluídos nele, não dá para escapar. Não importa quão rico, instruído ou religioso sejam. Também fala de tudo que se refere a nós. Que os pecadores nunca conse- guem ficar acima da sua própria carne e seus desejos. Tudo que fizemos antes do Espírito de Deus habitar em nós, era feito para satisfazer os desejos da nossa carne e da nossa mente. Eu creio que não é apenas uma afir- mação eloquente acerca do pecado, mas é um testemunho que fala a respeito da escravidão do mal e na qual os homens estão presos. Precisamos entender isso para podermos compreender a natu- reza da vontade. Se compreendermos de onde veio a nossa salvação, chega- remos ao “coração” do Evangelho. Por isso Lutero escreveu um livro com o tí- tulo, “A Escravidão da Vontade” (“Nasci- do Escravo” - Editora FIEL). J.I. Packer citou de Spurgeon: “Eu con- cordarei com Martinho Lutero naquela sua grande afirmação quando disse: ‘Se qualquer homem pensa que pelo menos um mínimo da sua salvação dependeu do seu livre-arbítrio, ele nada sabe da graça e nada aprendeu de Jesus Cris- to’”. Se você pensa que a sua salvação dependeu um mínimo do livre-arbítrio, você não sabe o que é salvação. O grande pregador George Whitefield disse que o homem só tem o livre-arbítrio para levá- lo para o inferno e não para o céu. A ver- dade é que a constante atividade do ho- mem governada por sua vontade, como um todo, está em estado de pecado. De quem a vontade recebe as suas ordens? Quem é o patrão da nossa vontade? Ela não é um pequeno servo? Será que a vontade controla a carne e os pensamentos? Ou será que a carne e os pensamentos controlam a vontade? Paulo está ensinando que a vontade está escravizada à natureza humana e que nunca consegue agir de forma con- trária à sua própria natureza. O homem é uma “caixinha de tesou- ro” que quando aberta não revela tesou- ro algum e sim, ferro velho e enferru- jado. Você pode dizer que nós somos salvos pela fé. Mas, que fé? Em Gn 6:5 lemos que a maldade havia se espalha- do por toda a terra. Todos os desejos do coração humano eram constantemente maus. É esse tipo de coração que nós estamos desejando trazer para Cristo. Estamos fazendo um convite à pesso- as que, por natureza, não querem vir a Cristo. Será que dá para argumen- tarmos com aquilo que Paulo apresen- ta? Se você luta com esse conceito da escravidão humana quero sugerir-lhe que ao chegarao seu quarto, leia estes versículos e ajoelhe-se diante de Deus. Finalmente, Paulo diz no versículo três: “... entre os quais também todos nós andamos outrora...”. Era a nossa verdade anteriormente, mas não é mais agora. Uma vez cativos, estávamos dentro do descrito aqui. Mas agora somos novas criaturas em Cristo, temos nova vida, nova regra, novo poder e força na nossa alma (2 Co 5:17). Nosso prazer 10 Revista Os PuRitanOs – 3, 2010 está na Lei do Senhor e não na lei da carne. Você pode dizer estas palavras? Você tem certeza de que um dia já foi arrancado de dentro desta escravidão? Será que o poder da graça do Deus já se estendeu em sua direção e fez de você uma nova criatura? Será que o espírito de Deus veio e fez você servir de cora- ção à lei de Deus? Será que Ele já lhe deu vida em Cristo Jesus? Será que já colocou em você o desejo de viver para a glória de Deus? Se a resposta é “sim”, dê toda glória a Ele por sua salvação! Em Cristo encontramos o perfeito Sal- vador! Ele é o único que pode nos levar ao Deus Santo. Se você não veio ainda a Cristo, eu insto para que faça isso. Robert Selph é Pastor da Igreja Batista da Graça na Carolina do Norte, USA. Mensagem proferida nas Conferências da Editora FIEL/1990, Águas de Lin- dóia, SP. O Pecado “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”(Rm. 3:23) Jeoffrey Thomas Há um interesse muito grande no mundo de hoje na ciência do comportamento humano. As pes-soas tiram suas próprias conclusões a respei- to de como os outros se comportam. Conhecemos o conceito de imoralidade e de crime. O marxista fala da alienação e o existencialista fala da existência não au- têntica. Todas essas pessoas estão tentando fazer a sua própria avaliação de como o homem vive. Mas quando nós olhamos para a Bíblia, descobrimos nela uma pre- ocupação muito grande com o comportamento huma- no; temos nela uma compreensão de como funciona e como procura dar os remédios, as soluções para este comportamento. Mas a Bíblia não fala sobre imoralidade, não fala so- bre crime, e não fala sobre alienação. Ela fala acerca de uma grande palavra — PECADO. Dessa forma a compre- ensão do homem e a compreensão de Deus são comple- tamente diferentes. A política, a ciência e a educação humana nada sabem a respeito de pecado. Mas na Bíblia a palavra pecado tem toda importância possível. Essa é uma diferença fundamental, porque todas as ciências humanas a respeito do comportamento humano julgam pela sua própria maneira de classificar e pelas diferen- tes categorias humanas que elas mesmas inventaram. Falam a respeito do consenso de como certa sociedade encara a vida, se uma sociedade aprova ou desaprova, mas a Bíblia enfoca o assunto de um ponto de vista com- pletamente diferente. Então, ela não encara a vida por uma perspectiva humana, mas sim pela grande norma da Palavra de Deus. Ela pesa e avalia por esse padrão. Então, o pecado não é violar a nossa consciência, não é ir de encontro o que a sociedade estabelece, mas pecado é uma violação da lei de Deus. Há três palavras, na Bíblia que definem o pecado. A primeira palavra sig- nifica errar o alvo. O alvo é a lei de Deus. Deveríamos amar a Deus acima de todas as coisas e aos outros como a nós mesmos, e a Bíblia diz que toda raça humana er- rou este alvo. A segunda palavra que a Bíblia usa para pecado é transgressão. É passar por cima dos limites. Há uma linha demarcatória e nós cruzamos essa linha. Deus coloca nos Dez Mandamentos a linha demarcató- ria além da qual nós não devemos ir. Portanto, toda vida humana transgride essa linha demarcatória. A terceira palavra para representar o pecado é desobediência. É a grande voz de Deus dizendo esta é a minha vontade, e a constante resposta humana dizendo, NÃO! Então, quando a Bíblia diz, “todos pecaram” ela está dizendo que toda vida humana errou o alvo, toda vida humana passou por cima da linha demarcatória que Deus esti- pulou e toda vida humana desobedeceu. ROBeRt selPH 3, 2010 – Revista Os PuRitanOs 11 JeOffRey tHOmas Quais são os pontos bem distintos que a Bíblia mostra acerca do pecado? Quais são os ensinos característicos da Palavra a respeito do problema que o homem tem? 1) A primeira coisa que nós dizemos é que o pecado é algo interior. É lógico que nós vemos pecados ao nosso redor, eles são visíveis. Quando nós pensamos em pecado, nós geralmente pensamos em assassinato, crueldade, ou roubo. Algo externo que nós podemos visu- alizar. Isso é importante, mas a Bíblia exige muito mais, pois ela não olha ape- nas para o exterior, mas olha para as profundezas da vida humana e diz que é ali que reside o pecado. Não é somen- te aquilo que falamos ou fazemos, mas nossos pensamentos, nossa ambição, nossos desejos, nossas emoções. A Bíblia diz que o problema reside no coração do homem. O coração humano errou o alvo. Nós descobrimos que os Dez Mandamentos têm os seus para- lelos em outras religiões, mas quando chegamos ao décimo mandamento, “não cobiçarás”, vemos que ele é único na Bíblia, é singular, porque Deus não está olhando para o lado de fora. Deus está olhando para o coração do homem e a Bíblia diz que a cobiça é um pecado. Talvez ela não nos leve a pronunciar palavras pecaminosas, não nos leve a ações pecaminosas, mas aquele desejo ardente por aquilo que pertence a outra pessoa, aquela sensação desconfortável de que aquilo não é meu, talvez não fale de forma audível, não aja, talvez tenha uma manifestação exterior, mas se já está no coração, já é pecado. Nós somos muito inclinados e crer que se conse- guirmos dominar o pecado, prendê-lo, e se ele não se mostrar em uma forma externa, então não é pecado. Mas o N.T. deixa bem claro que o próprio desejo de pecar é pecado. Aquela concupiscência, aquele desejo não controlado é pecado, porque o pecado é algo interior. Quando Jesus abre este assunto com o sexto mandamento dizendo, “não ma- tarás”, Ele explica que isso não se aplica somente a alguém que bate em outro ou o mata com agressão física, ou bate na esposa, mas isso se aplica também ao ódio que se tem por uma pessoa. Aque- le desejo odioso por uma pessoa, que talvez nunca se externe, mas que por dentro nos faz queimar de ódio por ela. Nós queremos ter uma aparência res- peitável por fora, queremos promoção no trabalho, então, escondemos aquela ira que está lá dentro. Jesus diz que esta raiva é pecado. A mesma coisa Jesus diz com o mandamento que afirma: “não adulterarás”. Novamente, não é apenas uma questão do ato que é errado, mas a cobiça por uma mulher, a concupiscên- cia. Esta cobiça no nosso coração, quan- do a ela damos guarida, isso já é pecado. Portanto, pecado não é uma simples questão de ações, mas pecado é algo interior. Temos de ensinar às crianças que pecado é algo lá de dentro, aquele desejo da criança que quer mais, mais e mais, isso é pecado. Nós temos que chegar a Deus e confessar tudo isso. Podemos olhar para a nossa vida em termos de emoções e dizer às pessoas que Deus requer certas normas que vão policiar a nossa vida emocional. Quanto da nossa preocupação é pecado? Jesus diz que nós não devemos andar ansio- sos. Quanto da nossa depressão é peca- do? Deus chega para Elias, debaixo da- quele arbusto e pergunta, “o que é que você está fazendo aqui?”. Quanto dos nossos temores são pecados? Ficamos preocupados porque as pessoas não têm um conceito tão alto de nós, quanto queríamos que elas tivessem. Algumas vezes nos tornamos superemocionais acerca de certas coisas na vida. Outras vezes nos reprimimos e não mostramos emoção suficiente. Podemos ouvir de certas tragédias que estão acontecendo na congregação e nosso coração não se quebranta como deveria. Vemos, então, que o pecado afetou a nossa vida emo- cional como um todo. Como pregadores, podemos pregar sobre a doutrina correta, sobre o viver correto, mas nós temos de pregar ao povo sobre emoções corretas, porque a Bíblia está repleta de descriçõesda emoção autêntica. O fruto do Espírito é amor, alegria, paz. São emoções! Mas o pecado também afetou esta área da nossa vida. Nós não devemos pregar que o pecado é somente algo de pala- vras e atos, mas como algo interior. 2) A segunda coisa que temos de lembrar é que o pecado afeta o todo do nosso ser, da nossa existência. Não há momento ou área da nossa vida que o pecado não tenha afetado. Um dos grandes quadros descritivos que a Bíblia usa é que o homem é escravo do pecado. Tome este quadro descritivo e o encare da forma mais literal possível. O escra- vo era propriedade do seu senhor, não tinha tempo que lhe pertencesse, não tinha propriedades, não tinha talentos que lhe pertencesse. Não havia sequer um minuto que ele pudesse dizer que fosse dele, pois sempre pertencia ao seu senhor. Paulo disse que o homem é es- cravo do pecado, o pecado é senhor dele. Portanto, não há nada que ele possua que não pertença ao pecado. O pecado disse-lhe que ignorasse a Deus, que não lesse a Bíblia, que não orasse, que não fosse àquele local onde poderia ser sal- vo e ele obedeceu. Todo homem obedece ao pecado. É o quadro mais assustador que nós temos na Bíblia. Isso mexe com aquela indiferença dos homens, seus ta- lentos, suas capacidades, todo seu tem- po, tudo pertence ao pecado. O pecado tem o homem como sua propriedade, como seu senhor. Será que você acei- ta isso? Será que no seu orgulho você aceita isso? Que o pecado afetou cada parcela de sua vida? Que seus atos de justiça são trapos de imundícia? Que até nos seus atos de justiça ou quando faz 12 Revista Os PuRitanOs – 3, 2010 JeOffRey tHOmas uma reza a Maria você é escravo do pe- cado? Que o pecado controla cada parte da sua vida? Este é o segundo grande ensinamento a respeito do pecado. 3) A terceira coisa que a Bíblia fala a respeito do pecado é que ele contro- la todas as suas faculdades, cada par- te do seu ser. Isto é o que em teologia se chama de Depravação Total. Não quer dizer que todos os homens são igualmente depravados; não significa que cada ser humano seja um animal irracional; não significa que todos os homens são diabos; que todos sejam tão maus quanto poderiam ser; nem significa que todos serão tão maus no futuro como são agora. Mas, na sua to- talidade, quando Deus olha para uma vida humana, Ele não consegue vislum- brar qualquer parte do seu ser que te- nha conseguido escapar da influência do pecado. A minha natureza completa, foi estragada, massacrada, pelo pecado. Se os pastores pregarem esta doutrina ela será tremendamente ofensiva para a congregação, pois ela diz que tudo no ser humano foi corrompido e estragado pelo pecado. Isso exatamente o que a Bíblia ensina. É o ensinamento de Ro- manos 3, é o ensinamento de Isaías, o profeta, pois ele diz que a cabeça toda está doente, o coração todo está toma- do, toda parte da nossa existência foi afetada. Pense no intelecto humano, por exemplo. Você diz que isso conseguiu escapar do pecado. Mas é ali, no inte- lecto humano, sobre todas as outras áreas, que você vê a depravação do pecado. Será que o cientista é neutro no que ele ensina? Será que ele não tem convicções nem preconceitos? Será que ele não aborda o seu traba- lho com essa perspectiva? Será que a história de todas as fraudes, de todas falsificações, não contribui para mos- trar isso? Isso tem a ver com a deso- nestidade do intelecto humano. O que diríamos de um repórter que faz um programa para a TV ou um editor de um jornal diário. Você não vê ali uma objetividade, um equilíbrio na busca pela verdade, você vê o intelecto hu- mano pecando. Não há neutralidade no intelecto humano. Veja a consciência do homem. Você pode pensar que ela está livre do peca- do. Mas, não! Olhe para a consciência de um canibal. O canibal faz o que faz, através de sua consciência. Olhe para a consciência de um nazista, olhe para a consciência de um assassino ou toda maldade das religiões pagãs através do mundo. São maldades conscientes. O homem pega o Filho de Deus e cons- cientemente pune o Filho de Deus, de forma consciente prega-o em uma cruz e acham que fazem um favor para Deus. Tudo isso porque também a consciên- cia do homem foi afetada. Veja a vontade humana. A vontade é a fortaleza da alma. Mas com força total esta área também foi afetada pelo pecado. Por que as pessoas não que- rem chegar a Cristo? Cada um tem a sua desculpa. Dizem que querem mais evidências, mais fatos, mais tempo, pois ainda não foram persuadidos. Outros dizem que desejam crer, mas afirmam que não podem. Eles estão esperando que algo ocorra dentro deles, estão es- perando ser convertidos. Mas a Bíblia não diz que eles não são convertidos, antes os chamam de desobedientes. Porque a Bíblia diz que aquele que de- seja poderá vir, mas o homem não está desejoso de vir. Não é a ignorância que o mantém longe de Cristo, não é falta de autoridade em Cristo que faz as pessoas não se chegarem a Ele, não é que eles não tenham direito de se achegarem a Cristo, é tudo uma questão da vontade, porque a vontade é a cidadela da alma. É aí que o pecado reina em homens e mulheres. É aí que eles o deixam reinar. O pecado afeta toda nossa vida, todas as faculdades do nosso ser. 4) A quarta coisa é que “o salário do pecado é a morte”. A morte física, o separar de alma e corpo, é um ato do juízo de Deus. Ele entrou no mundo por causa da nossa solidariedade com Adão. O meu pai Adão traiu a Deus, fez a coisa da sua forma e a morte passou para to- dos os homens porque todos pecaram. Então, agora, a certeza da morte está escrita sobre todos porque toda a hu- manidade pecou. Mas os homens não crêm nisso, crêm que vão viver para sempre. Então, nós dizemos para eles que aos homens está ordenado morrer uma só vez, e depois da morte o que vem? Juízo, a realidade daquilo que João chama de segunda morte; aquilo de que Jesus falou com frequência, com lágrimas, de um lugar onde o verme não morre e o fogo não se extingue; onde há trevas e ranger de dentes, onde não há alívio. Ele disse bem claramen- te que naquele dia dirá: “apartai-vos de mim para o fogo eterno”. Foi Jesus que disse isso! Para nós, Ele não erra. Então, para falarmos sobre o pecado que leva à morte, temos de falar nisso que Jesus falou. Essa é a lógica do pecado: o que o homem semeia, ele também há de co- lher; se você semeia um vento colherá tempestade; se você investe sua vida no pecado, pagará esse preço. Estas são as 4 características do pecado que a Bíblia apresenta. Mas, o que é que Deus diz acerca do pecado? Ele condena o pecado! Você algum dia já ajuntou as várias descrições bíblicas acerca do pecado? Nós evangélicos so- mos conhecidos pela nossa preocupa- ção com o tema do pecado. Mas, ainda assim, as piores palavras a respeito do pecado, não estão nas confissões de fé, não foram pregadas por Lutero ou Jonathan Edwards, mas as palavras mais terríveis se encontram na Bíblia. As frases mais terríveis e difíceis de serem aceitas estão na Bíblia. Você já 3, 2010 – Revista Os PuRitanOs 13 O PecaDO Na sua totalidade, Deus não consegue vislumbrar qualquer parte da vida humana que tenha conseguido escapar da influência do pecado. parou para pensar como é que Deus vê a sociedade humana? É como uma por- ção de porcos se revolvendo na lama, como uma alcatéia de lobos e cachorros voltando ao seu próprio vômito e o co- mendo (2 Pe 2:22). Isso não é uma coisa que nos faz enojar? Imagine se Calvino tivesse dito isso? Mas, o Senhor Jesus, manso e gentil, também falou coisas semelhantes. A sociedade humana é como ninho de cobras e Isaías descre- ve este quadro como um ser humano coberto de feridas dos pés à cabeça (Is 1:6). Apocalipse descreve isso como um abismo que não tem fim e de repente toda fumaça sai dali cobrindo todo o mundo. Não dá para se ver mais o sol nem a lua e todos os olhos estão choran- do e a respiração está difícil por causadaquela fumaça. Quando este Deus san- to e glorioso olha para o mundo, é assim que Ele o vê. Diante do Deus santo, os anjos que jamais pecaram, escondem os seus olhos diante da Sua presença gloriosa; não conseguem olhar. Quer a prova de que é verdade; você acha que estes quadros vão longe de- mais? Olhe para o pecado ali na cruz do Calvário, veja aquele homem crava- do ali com pregos nos seus pés e em suas mãos, com um corpo dilacerado por um chicote, ISSO É PECADO! Olhe para a civilização ocidental hoje em dia, olhe para o seu histórico, veja o que esta civilização com o africano, por exemplo. Aqueles homens chicoteando os seus escravos enquanto cantarola- vam. Leiam os jornais e vejam como os homens tratam uns aos outros, vejam como eles tratam as mulheres, como tratam as crianças. Páginas e mais pági- nas são escritas sobre isto, e não temos uma só palavra de defesa a essas pes- soas. Se tentarmos justificar, tentando defender estas atitudes, seremos tão vis como aqueles que praticam estas coi- sas e um dia estaremos diante de Deus como elas para responder por estes atos. Olhe para a civilização ocidental e veja o que ela fez com o judeu, com seus incineradores e suas câmaras de gás. Veja o que a civilização ocidental faz com a criança ainda não nascida, quando milhares delas são arrancadas do ventre materno antes de nascerem, e são queimadas, enterradas e nós pas- mos ficamos em silêncio. Toda a civili- zação é culpada diante de Deus. Quan- do eu falo de história, não estou falando de outras histórias, não estou falando da história a respeito da qual o homem irá escrever, mas eu estou falando a res- peito da minha própria história, como eu sou visto, como será o arquivo que Deus tem da minha vida. Ousaria eu me defender? A minha vida não tem defesa, meus pensamentos, minhas fantasias e imaginações, minhas emoções, meus ressentimentos, minha autocomisera- ção, minha inveja, meu desespero fácil, as minhas palavras sempre cruéis e duras, frias, altivas, que não carregam amor. Nós somos condenados por nos- sa boca, porque as nossas palavras são uma espécie de barômetro do nosso co- ração e quando nós falamos da vontade de Deus nós não falamos como Moisés com as tábuas da Lei nas mãos, descen- do do monte. Nós estamos falando em solidariedade com aqueles que estão no vale, ouvindo aquela Lei e sabendo que nós mesmos também a quebramos. Pense nas nossas ações, o que eu fiz, aquilo que eu tenho feito àquelas pes- soas mais achegadas, às que mais de- pendem de mim, àquelas de quem eu dependo para viver. Fui eu que fiz, meu corpo, minha língua, à estas pessoas. Eu não preciso olhar para Ritler ou Stalin para descobrir as verdades da vida, pois eu estou bem familiarizado com tudo isso. Faz parte da minha história, está no meu arquivo diante de Deus. Isto faz parte do diagnóstico a res- peito do que existe de errado no mundo de hoje. É um dilema imenso, que a úni- ca forma do homem ser salvo do pecado é através do Filho de Deus tomar forma humana, viver nesse mundo e morrer naquela cruz do Calvário carregando sobre Si todos os nossos pecados. Esse é o único Evangelho que traz esperan- ça aos homens. O problema grave que temos de falar é sobre a “incredulidade cristã”, por isso deve ser nosso alvo vol- tar àquelas verdades fundamentais da fé cristã de forma que o nosso pleito diante de Deus é nos ver como culpados, e por isso dizer: “Ó Deus cobre a minha vida”. Nós devemos perder o hábito de desculpar os nossos pecados, e pro- curar explicá-los dizendo a Deus: “Ah! Se o Senhor soubesse que pelo menos há algumas circunstâncias envolvidas, o Senhor saberia que eu estou justifi- cado em ter agido como agi. Porque o Senhor sabe que os meus pecados são diferentes daqueles dos outros homens; a minha infidelidade para com minha esposa é pura, é diferente, é criativa”. Eu sei isso porque estou familiarizado com meu próprio coração e como nós nos desculpamos diante da lei e de Deus. Robert Murray McCheynne foi um grande pregador escocês. Ele disse que a maior necessidade da sua congrega- ção era um ministro santo. Nós temos de voltar àquele lugar, àquele ponto em 14 Revista Os PuRitanOs – 3, 2010 que toda boca cessa de falar. E quando Deus finalmente nos concede permissão para falar, nós dizemos : “Deus eu me odeio, eu odeio aqueles que crucifica- ram meu Salvador, porém isso não é su- ficiente. Ah! Eu odeio aqueles que fazem tráfico de escravos, mas isso não basta, odeio aqueles que batem nas esposas e maltratam os filhos, mas não é suficien- te. Quando eu olho para Deus e enxergo pelo Seu prisma e me vejo como um pe- cador, tudo o que eu posso dizer para Ele é: Senhor eu gostaria que não fosse eu, Senhor eu me odeio, mas Senhor, lava- me, torna-me mais alvo do que a neve; ‘bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o reino dos céus’” . Amém. Conferência proferida por ocasião do III Encontro da Fiel, 1987, em Águas de Lindóia, por Jeoffrey Thomas que é pastor da Igreja Batista Alfred Place Baptist Church em Aberystwyth, País de Gales. Em que Sentido a Depravação é Total? “Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus”. (Rm. 8:10) Phil Johnson Todo membro da raça de Adão nasce totalmente depravado, caído, alienado de Deus, e em escra-vidão ao mal. Em Romanos 6, Paulo chama isso de escravidão ao pecado. Ele diz, além disso, em Roma- nos 6:20, que as pessoas que são escravas do pecado são totalmente destituídas da verdadeira retidão. To- dos os que estão em tal estado de pecado e increduli- dade são inimigos de Deus (Romanos 5:8,10). Eles são "estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas" (Colossenses 1:21)". Totalmente → A depravação humana é "total" da mesma forma que a morte é total. Você não pode estar parcialmente morto. Você pode estar muito, muito doente ou extremamente machucado e sendo mantido por aparelhos, mas você ou está morto, ou vivo. Não existem graus de morte. De fato, quando a Bíblia descreve a depravação hu- mana, normalmente utiliza a linguagem da morte es- piritual. Efésios 2, por exemplo, diz que as pessoas em seu estado decaído estão mortas em delitos e pecados — espiritualmente mortos (v. 1). Eles andam em munda- nismo e desobediência (v. 2). Eles vivem segundo as inclinações da carne, enquanto "fazendo a vontade da carne e dos pensamentos" e são, "por natureza, filhos da ira, como também os demais" (v. 3). Eles estão "sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo" (v. 12). Em Romanos 8:6, Paulo diz que "o pendor da carne dá para a morte". Ele está falando sobre a mentalidade carnal da incredulidade, descrevendo o que significa ser totalmente depravado. Ele segue adiante dizendo (v. 7-8): "O pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agra- dar a Deus" Em outras palavras, a morte espiritual é uma total inabilidade de amar a Deus, uma total inabilidade em obedecê-lO, e uma absoluta incapacidade de agradá-lO. Ora, muitos não-cristãos negarão que eles são hostis a Deus. Mas eles estão se auto-iludindo. Na verdade, muitos que invocam o nome de Cristo e reivindicam amar a Deus não amam, de fato, o Deus da Bíblia. Eles amam um deus que só existe na imaginação deles — um deus tolerante, profano, passivo, frágil e fraco. Esse não é o Deus da Bíblia. O Deus da Bíblia é santo demais para o gosto dos pecadores. Ele é irado demais contra pecado. Os Seus padrões são por demais elevados. As JeOffRey tHOmas 3, 2010 – Revista Os PuRitanOs 15 em Que sentiDO a DePRavaçãO é tOtal Suas leis não estão de acordo com a pre- ferência deles. Portanto, apesar deles professarem amar a Deus, não amam o verdadeiro Deus que se revelou nas Es- crituras. Eles não são capazes de amá-lo. Incapacidade de Amar a Deus → A incapacidade de amara Deus como devemos é a própria essência da depravação total. Ela torna-nos impotentes para cumprir o primeiro e grande mandamento: "Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força" (Mc 12:30)". Portanto, tudo o que o pecador faz é permeado pelo pecado, porque ele está vivendo a vida em violação constante do mandamento mais importante de todos. Por outro lado, "depravação total" não significa que todos os pecadores sempre são tão ruins quanto podem ser. Não significa que todo incrédulo viverá a sua depravação integralmente. Não significa que todos os não-cristãos são moralmente iguais a animais irra- cionais ou serial killers. Não significa que pessoas de não-convertidas são incapazes de cometer atos de bondade ou benevolência para com outros seres humanos. Na verdade o próprio Jesus declarou que os incrédulos fazem bem às pessoas em troca do bem que é feito a eles próprios (Lc 6:33). A raça humana foi criada à imagem de Deus. Embora o pecado tenha cor- rompido aquela imagem, até mesmo não-cristãos são capazes de subir a altos níveis de bondade humana, ho- nestidade, decência e excelência. De- pravação "total" não significa que toda mulher não salva deve ser uma terrível bruxa, ou que todo homem não-crente é um psicopata degenerado. Significa que incrédulos, aqueles que estão na carne, não podem agradar a Deus. Assim a palavra "total" em "deprava- ção total" refere-se à extensão da nossa pecaminosidade e não ao grau em que nós a manifestamos. Significa que o mal contaminou todos os aspectos do nosso ser — nossa vontade, nosso intelecto, nossas emoções, nossa consciência, nossa personalidade, e nossos desejos. O Coração Corrompido → Usando terminologia bíblica, o pecado corrompeu totalmente o coração humano. Jeremias 17:9 diz, "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?" Se o coração é corrupto, toda a pessoa está contaminada. Descrevendo nossa depravação como corrupção do coração, as Escri- turas deixam claro que o real problema conosco encontra-se no centro do nosso ser. Nossa própria alma é infectada pelo pecado. Nada em nós permanece puro. Nossa tendência para pecar é inflexível e, no final das contas, inconquistável. O pecado, então, define quem nós somos. Diante de um Deus perfeitamente santo e impecavelmente íntegro nós somos profanos, pecadores, completa- mente degenerados — não importando quão bons aparentemente sejamos em termos humanos. Ser verdadeiramente íntegros não é meramente difícil para nós; é impossível. Isso é tão verdade sobre alguém como Mahatma Gandhi ou Madre Te- resa como é sobre Adolph Hitler ou Je- ffrey Dahmer1. A relativa bondade das melhores pessoas do mundo nunca é suficiente para merecer a aprovação de Deus. Seu único padrão é a perfeição absoluta. O melhor dos pecadores não chega nem perto. Vejamos uma ilustração: suponha- mos que todos os leitores de Pyroma- niacs fossem enfileirados em Point Dume (a praia mais próxima da minha casa), e todos nós tentássemos nadar até Cingapura. A maioria de nós pro- vavelmente se afogaria antes de atingir Catalina — que fica apenas a 42 qui- lômetros. Uma coisa é certa: Ninguém chegaria a Cingapura. Todos nós esta- ríamos mortos muito antes da meta ser atingida. Se eu fosse um jogador (e eu não sou) eu apostaria tudo o que tenho que ninguém chegaria até mesmo até o Havaí, que fica a menos da metade do caminho. Uma pergunta: Será que aqueles que morreram antes de nadar duas milhas são piores do que aqueles que morreram a trinta e sete quilômetros da praia? É claro que não. Todos esta- riam igualmente mortos. A meta era tão desesperadora para o nadador es- pecializado e ultra-treinado, como para o sujeito gordo que fez seu treinamento sentado em frente a um computador es- crevendo em seu blog o dia inteiro. É assim que as coisas são com o pecado. Todos os pecadores estão con- denados diante de Deus. Até mesmo os melhores da descendência de Adão são completamente pecadores no coração. Não importa quão bons eles possam parecer pela lente do julgamento hu- mano, eles estão exatamente na mes- ma condição desesperadora do mais vil degenerado — talvez até em um esta- do pior, porque é mais difícil para eles reconhecerem o seu pecado. De forma que eles combinam o seu pecado com a auto-justificação. A Religião Prova a Corrupção → As pessoas estão preparadas para serem chamadas de pecadoras no seu pecado, mas elas não querem ser rotuladas de pecadoras na sua religião. Mas isso é crucial: A religião humana não contradiz a depravação. Ela a confirma e prova. A religião humana coloca outros deuses no lugar legítimo do verdadeiro Deus. É a própria essência do ódio a Deus. É falsa adoração. Nada além de uma tentativa de depor o próprio Deus. É a pior expressão da depravação. Lembrem-se: Foram os fariseus que Jesus condenou com a injúria mais se- 16 Revista Os PuRitanOs – 3, 2010 PHil JOHnsOn vera que Ele jamais proferiu. Por quê? Afinal de contas, eles acreditavam que as Escrituras eram literalmente verda- de. Eles tentavam obedecer rigidamen- te à lei. Eles não eram como os Sadu- ceus, liberais religiosos que negavam o sobrenatural. Eles eram os fundamen- talistas teológicos dos seus dias. Entretanto, eles se recusaram a re- conhecer a falência dos seus próprios corações. Eles confiaram em si mesmos de que eram íntegros e continuaram a tentar estabelecer a sua própria retidão, em vez de submeterem-se à retidão de Deus (Romanos 10:3). Lembram-se do que eles disseram ao cego de nascença em João 9:34? "Tu és nascido todo em pecado" — como se eles não fossem. Em outras palavras, eles rejeitaram a doutrina da depravação total, e isso conduziu à sua absoluta condenação. Jesus disse: "Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim cha- mar justos, e sim pecadores" (Mc 2:17). "Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido" (Lc 19:10). Boas Obras Corruptas → Eles pensavam que todas as suas boas obras os tornavam justos. Mas religião e boas obras não cancelam a depravação. A depravação corrompe até as formas mais elevadas de religião e boas obras. George Whitefield disse que Deus poderia nos condenar pela melhor oração que nós pudéssemos fazer. John Bunyan concordou. Ele disse que achava que a melhor oração que ele já tivesse feito tinha pecado suficiente nela para condenar o mundo inteiro. Isaías escreveu: "Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam" (Is 64:6). Pecadores não remidos são, portan- to, incapazes de fazer qualquer coisa que agrade a Deus. Eles não podem amar o Deus que se revela nas Escritu- ras. Eles não podem obedecer à lei de coração, com uma motivação pura. Eles não podem sequer compreender a es- sência da verdade espiritual. 1Co 2:14 diz: "O homem natural não aceita as coi- sas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, por- que elas se discernem espiritualmente". Incrédulos são, portanto, incapazes de ter fé. E "sem fé é impossível agradar a Deus" (Hb 11:6). Notem: A palavra chave em tudo isso é incapaci- dade. Pecadores são totalmente incapazes de res- ponder a Deus, à parte da Sua graça capacitadora. Este é o ponto de partida para um entendimento saudável e bíblico da soteriologia. Extraído do www.bomcaminho.com Confissão de Fé de Westminster Capítulo V → Da Queda do Homem, do Pecado e do Seu Castigo I. Nossos primeiros pais, seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás, pecaram, comendo do fruto proibido. Segundo o seu sábio e santo conselho, foi Deus servido permitir este pecado deles, havendo de- terminado ordená-lo para a sua própria glória. II. Por este pecado eles decaíram da sua retidão original e da comu- nhão com Deus, e assim se tornarammortos em pecado e inteira- mente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma. I. Ref. Gen. 3:13; II Cor. 11:3; Rom. 11:32 e 5:20-21. II. Ref. Gen. 3:6-8; Rom. 3:23; Gen. 2:17; Ef. 2:1-3; Rom. 5:12; Gen. 6:5; Jer. 17:9; Tito 1:15; Rom.3:10-18. 3, 2010 – Revista Os PuRitanOs 17 Incapacidade de Vir a Cristo “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6.44) Robert Murray M'Cheyne Quão surpreendente é a depravação do homem natural! As Escrituras nos ensinam isso abun-dantemente. Todo pastor fiel levanta a sua voz como uma trombeta, para mostrar isto às pessoas. E a primeira obra do Espírito Santo, no coração, é conven- cer do pecado. Na Palavra de Deus, não existe uma descoberta mais terrível sobre a depravação do homem natural do que estas palavras do evangelho de João. Davi afirmou: “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Deus falou por meio do profeta Isaías (48.8): “Eu sabia que procederias mui perfidamente e eras chamado de transgressor desde o ventre materno”. E Paulo disse: “Éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.3). Mas nesta passagem de João somos informados de que a incapacidade do homem na- tural e sua aversão por Cristo são tão grandes, que não podem ser vencidas por qualquer outro poder, exceto o poder de Deus. “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no últi- mo dia” (Jo 6.44). Nunca houve um mestre como Cristo. “Jamais alguém falou como este homem” (Jo 7.46). Ele falava com muita autoridade, não como os escribas, mas com dignidade e poder celestial. Ele falava com grande sabedoria. Falava a verdade sem qualquer imperfeição. Seus ensinos eram a própria luz proveniente da Fonte de Luz. Ele falava com bastante amor, com o amor dAquele que estava prestes a dar a sua vida em favor de seus seguidores. Falava com mansidão, suportando a ofensa contra Ele mesmo vinda dos pecadores, não ultrajando quando era ultrajado. Jesus falava com santidade, por- que era Deus “manifestado na carne”. Mas tudo isso não atraía os seus ouvintes. Nunca houve um dom mais pre- cioso oferecido aos homens. “O verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá... Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (Jo 6.32, 35). O Salvador de que as pessoas condenadas necessitavam estava diante delas. Sua mão lhes foi estendida. Ele estava ao alcance delas. O Salva- dor ofereceu-lhes a Si mesmo. Oh! Que cegueira, dureza de coração, morte espiritual e impiedade desesperadora existem na pessoa não-convertida! Nada pode mudá-la, exceto a graça do Todo-Poderoso. Ó Homem destituído da graça de Deus, seus amigos o advertem, os pastores clamam em voz alta, a Bíblia toda o exorta. Cristo, com todos os seus benefícios é colocado diante de você. To- davia, a menos que o Espírito Santo seja derramado em seu coração, você permanecerá um inimigo da cruz de Cristo e destruidor de sua própria alma. “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer”. Quão invencível é a graça de Jeová! Nenhuma criatura tem o poder de atrair o homem a Cristo. Exibições, evidências miraculosas, ameaças, ino- vações são usadas em vão. Somente Jeová pode trazer a alma a Cristo. Ele derrama seu Espírito com a Palavra e a alma sente-se alegre e poderosamente inclinada a vir a Jesus. “Apresentar-se-á voluntariamente o teu povo, no dia do teu poder” (Sl 110.3). “Acaso, para o Senhor há coisa demasiadamente difícil?” (Gn 18.14.) “Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do Senhor; este, segundo o seu querer, o inclina” (Pv 21.1). Considere um exemplo: um judeu estava assentado na coletoria, próxima à porta de Cafarnaum. Sua testa estava enrugada com as marcas da cobiça, e seus olhos invejosos exibiam a astúcia de um publicano. Provavel- mente ele ouvira falar de Jesus; talvez o tivesse ouvido pregando nas praias do mar da Galiléia. Mas seu cora- ção mundano ainda permanecia inalterado, visto que ele continuava em seu negócio ímpio, assentado na coletoria. O Salvador passou por ali e, olhando para o atarefado Levi, disse-lhe: “Segue-me!” Jesus não disse mais nada. Não usou qualquer argumento, nenhuma ameaça, ne- nhuma promessa. Mas o Deus de toda graça soprou no 18 Revista Os PuRitanOs – 3, 2010 ROBeRt muRRay m’cHeyne coração do publicano, e este se tornou disposto. “Ele se levantou e o seguiu” (Mt 9.9). Agradou a Deus, que opera todas as coisas de acordo com o conselho da sua vontade, dar a Mateus um vislumbre salvador da excelência de Jesus; a graça caiu do céu no coração de Mateus e o transformou. Ele sentiu o aroma da Rosa de Sarom. O que significava o mundo agora para ele? Mateus não se importa- va mais com os lucros, os prazeres e os louvores do mundo. Em Cristo, ele viu aquilo que é mais agradável e melhor do que todas essas coisas do mundo. Mateus se levantou e seguiu a Jesus. Aprendamos que uma simples pala- vra pode ser abençoadora à salvação de almas preciosas. Frequentemente somos tentados a pensar que tem de haver algum argumento profundo e lógico para trazer as pessoas a Cristo. Na maioria das vezes colocamos nossa confiança em palavras altissonantes. No entanto, a simples exposição de Cristo aplicada ao coração pelo Espíri- to Santo vivifica, ilumina e salva. “Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6). Se o Espírito age nas pessoas, estas simples palavras: “Segue a Jesus”, fala- das em amor, podem ser abençoadas e salvar todos os ouvintes. Aprendamos a tributar todo o louvor e glória de nossa salvação à graça so- berana, eficaz e gratuita de Jeová. Um falecido teólogo disse: “Deus ficou tão irado por Herodes não lhe haver dado glória, que o anjo do Senhor feriu ime- diatamente a Herodes, que teve uma morte horrível. Ele foi comido por ver- mes e expirou. Ora, se é pecaminoso um homem tomar para si mesmo a glória de uma graça tal como a eloquência, quão mais pecaminoso é um homem tomar para si a glória da graça divina, a própria imagem de Deus, que é o dom mais glorioso, excelente e precioso de Deus?” Quantas vezes o apóstolo Paulo insiste, em Efésios 1, que somos sal- vos pela graça imerecida e gratuita? E como João atribui toda a glória da sal- vação à graça gratuita do Senhor Jesus — “Àquele que nos ama, e, pelo seu san- gue, nos libertou dos nossos pecados... a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” (Ap 1.5, 6). Quão solenes foram as palavras de Jonathan Edwards, em sua obra Personal Nar- rative (Narrativa Pessoal)! “A absoluta soberania e graça gratuita de Deus, em demonstrar misericórdia àquele para quem Ele quer expressar misericórdia, e a absoluta dependência do homem quanto às operações do Espírito Santo têm sido para mim, frequentemente, doutrinas gloriosas e agradáveis. Estas doutrinas têm sido o meu grande delei- te. A soberania de Deus parece-me uma enorme parte de sua glória. Tenho sen- tido deleite constante em aproximar- me de Deus e adorá-Lo como um Deus soberano, rogando-Lhe misericórdia soberana”. Ao sentir-me à graça um grande devedor Sou constrangido sempre, a todo instante! Que esta graça, com algemas, meu Senhor, Prenda somente a Ti meu coração hesi- tante. Robert Murray M’Cheyne (1813-1843) foi ministro de St Peter’s Church Dundee, Escócia (1836-1843). Foi um piedoso pastor evangélico e evangelista com grande amor pelas almas. Confissão Belga Artigo XV → O Pecado Original I. Cremos que, pela desobediência de Adão, o pecado original se estendeu por todo o gênero humanol. Este pecado é uma depravação de toda a natureza humana2 e um mal hereditário, com que até as crianças no ventre de suas mães estão contaminadas3. É a raiz que produz no homem todo tipo de pecado. por isso, é tão repugnante e abominável diante de Deus que é suficiente para condenar o gênero humano4.
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