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Letícia Nano – Medicina Unimes Doenças exantemáticas As doenças exantemáticas são doenças infecciosas nas quais a erupção cutânea é a característica dominante, mas geralmente também apresentam man ifestações sistêmicas. Na maioria das vezes o diagnóstico é apenas clínico. A análise do tipo de lesão, dos sinais e sintomas concomitantes e a epidemiologia permite inferir o diagnóstico etiológico sem a necessidade de exames laboratoriais. A grande maioria das doenças são viroses, mas também podem ser causadas por bactérias, outros agentes infecciosos ou não, como doenças reumatológicas. Alterações/lesões dermatológicas: • Mácula: simples alteração da cor da pele para vermelho, sem procidência e bem delimitada; • Pápula – lesão circunscrita, saliente, com diâmetro inferior a meio centímetro e com origem na epiderme ou derme; • Nódulo – lesão semelhante à pápula, mas com diâmetro superior a meio centímetro e localizada na epiderme, derme ou no tecido celular subcutâneo; • Vesícula – lesão elevada de conteúdo líquido, resultante da acumulação de serosidade e menor que um centímetro • Pústula – vesícula que contém pus; • Púrpura - lesões eritemato-violáceas. • Crosta – resulta da secagem do conteúdo líquido da vesícula. Tipos de Exantema Exantema maculopapular: manifestação cutânea mais comum nas doenças infecciosas sistêmicas. Mais comumente associado a vírus, porém também observado em várias doenças de etiologia bacteriana, parasitária, riquetsioses, micoplasmose e intoxicações medicamentosas ou alimentares. • Morbiliforme: pequenas maculo-pápulas eritematosas (3 a 10 mm), avermelhadas, lenticulares ou numulares, permeadas por pele sã, podendo confluir. É o exantema típico do sarampo, porém pode estar presente na rubéola, exantema súbito, nas enteroviroses, riquetsioses, dengue, leptospirose, toxoplasmose, h epatite viral, mononucleose, síndrome de Kawazaki e reações medicamentosas. • Escarlatiniforme: eritema difuso, puntiforme, vermelho vivo, sem solução de continuidade, poupando a região perioral e áspero (sensação de lixa). Pode ser denominado micropapular. É a erupção típica da escarlatina; porém, pode ser observada na rubéola, síndrome de Kawazaki, reações medicamentosas, miliária e em queimaduras solares. • Rubeoliforme: semelhante ao morbiliforme, porém de coloração rósea, com pápulas um pouco menores. É o exantema presente na rubéola, enteroviroses, viroses respiratórias e micoplasma. • Urticariforme: erupção papuloeritematosa de contornos irregulares. É mais típico em algumas reações medicamentosas, alergias alimentares e em certas coxsackioses, mononucleose e malária. Exantema papulovesicular: presença de pápulas e de lesões elementares de conteúdo líquido (vesicular). É comum a transformação sucessiva de maculo -pápulas em vesículas, vesico-pústulas, pústulas e crostras. Pode ser localizado (ex. herpes simples e zoster) ou generalizado (ex. varicela, varíola, impetigo, estrófulo, enteroviroses, dermatite herpetiforme, molusco contagioso, brucelose, tuberculose, fungos, candidíase sistêmica). Exantema petequial ou purpúrico: alterações vasculares com ou sem distúrbios de plaquetas e de coagulação. Pode estar associado a infecções graves como meningococcemia, septicemias bacterianas, febre purpúrica brasileira e febre maculosa. Presente também em outras infecções como citomegalovirose, rubéola, enteroviroses, sífilis, dengue e em reações por drogas. Letícia Nano – Medicina Unimes Maculopapulares Doenças exantemáticas Sarampo Rubéola Escarlatina Eritema infeccioso Exantema súbito Dengue Agente causador Paramixovírus Togavírus Streptococos pyogenes Parvovírus B19 Herpesvirus tipo 6 Flavivírus Transmissão Aerossóis respiratórios Vertical e contato com secreções nasofaríngeas de pessoas infectadas contato com secreções respiratórias contato com secreções orais Picada Aedes aegypti Idade Crianças e adultos não vacinados Todos não vacinados 5-15 anos Crianças 5-12 anos RN até 2 anos Todas idades Tipo de exantema Maculopapular rendilhado Maculopapular e puntiforme Maculopapular Pápulas elevadas, pode haver petéquias Pele áspera como lixa Maculopapular Maculopapular não colascentes “ roséola infantum “ Maculopapular “ilhas brancas em mar vermelho”, às vezes petéquial ou purpúrico Distribuição do exantema Centrífuga-> extremidades Centrípeta, face e tronco Centrífuga Centrípeta Centrífuga- difuso Evolução exantema Descamação furfurácea na regressão Descamação lamelar principalmente em mãos e pes “ em dedos de luva” Recrudescências frequentes: estímulos como o sol, o estresse e variação de temperatura Desaparecimento em 2 dias Pródromos Febre alta e prostação. Comprometimento todas as mucosas: diarreia, vômitos, tosse, conjuntivite, otalgia Subclínicos ou ausentes Febre baixa e linfadenopatia Febre alta, fotofobia, prostação. Faringoamigdalite precede 1 semana antes Ausência Ausência Precedido por febre alta de 24-48 horas Febre alta, dor retroauricular, artralgia, vômitos Exantema no 3º -4º dia Quadro clínico Febre alta, acima de 38,5ºC, exantema maculopapular generalizado, tosse, coriza, conjuntivite e manchas de koplik Exantema maculopapular e puntiforme difuso, com início na face, couro cabeludo e pescoço, depois tronco e membros. Febre baixa e linfadenopatia de ocorrer. Adultos: dores generalizadas (artralgias e mialgias), conjuntivite, coriza e tosse Início abrupto: Febre alta; – Cefaléia; dor abdominal; – Amígdalas: hipertrofia e hiperemia; presença de exsudato, petéquias no palato, linfadenomegalia cervical dolorosa Febrícula, mialgia e cefaleia. O exantema inicia-se pela face, eritema e edema de bochechas. Acomete o tronco e a face extensora dos membros, podendo regredir em até 3 semanas Início súbito, precedida por febre alta (39º/40ºC) e extrema irritabilidade. Em geral, acomete inicialmente o tronco e em seguida a face, a região cervical e a raíz dos membros, sendo de curta duração (24 a 72 horas sem descamação). Febre alta (acima de 38ºC) de início abrupto que geralmente dura de 2 a 7dias, acompanhada de cefaleia, mialgia, artralgia, prostração, astenia, dor retro- orbital, exantema e prurido cutâneo. Anorexia, náuseas e vômitos são comuns Letícia Nano – Medicina Unimes Comprometiment o sistêmico Sim Não Sim Não Não Sim Características Fácies sarampenta Sinal de Koplik Adenomegalia retroauricular Sinal de Pastia- Sinal de Filatov Sinal de Rumpel-Leed Língua em framboesa Fácies de palhaço Ou facie esbofeteada Com palidez perioral Sinal de Rumpel-Leed Complicações Encefalite em imunodeprimidos, desequilíbrio hidroeletrolítico, pneumonite grave *panencefalite esclerosante (tardia) Evolução benigna. Em RN, Sd. de Greg: malformações cardíacas, persistência canal arterial, coarctação aorta, retardo mental, surdez, cegueira Em 1-5 sem: Febre reumática, GNDA Tardias: coreia de Sydenham e cardiopatia reumática. Evolução benigna Geralmente subclínico Evolução benigna Formas: assintomática, clássica ou hemorrágicas Diagnóstico Clínico Confirmação: sorologia igM até 28 dias após Clínico e sorológico: igM Clínico Swab orofaringe Hemograma: leucocitose com desvio à esquerda e granulações tóxicas grosseiras Clínico Diagnóstico diferencial de febre purpúrica (raro) Clínico Captura de anticorposIgM e IgG para HHV-6 Clínico e laboratorial: NS1, PCR ou anticorpos IgM ou pela elevação de IgG pareado Leucopenia progressiva com plaquetopenia Vacina Tríplice viral (hoje quadriplo viral) Criança: 2 doses Adulto: 2 doses Tríplice viral (hoje quadriplo viral) Criança: 2 doses Adulto: 2 doses Não **Tratamento: antibioticoterapia (penincilina, betalactâmicos ou cefalosporinas) por 10 dias Não Não Não Notificação compulsória Sim Sim Não Não Não Sim Letícia Nano – Medicina Unimes Papulovesiculares: Doenças exantemáticas Varicela Herpes Zoster Herpes simples Agente causador Vírus varicela-zoster (VVZ) Vírus varicela-zoster (VVZ) Vírus Herpes (HSV 1 e 2) Transmissão Aerossóis respiratórios, gotículas, saliva ou contato com o líquido das lesões cutâneas, e vertical Reativação do vírus VVZ em adultos e idosos, principalmente em estado de imunodepressão Contato físico, principalmente com secreções quando vesícula rompida Idade Mais comum na infância Adultos e idosos Todas as idades Tipo de exantema Maculovesicular pleomórfico difuso (presença de lesões em seus diversos estágios de evolução concomitantemente) “gota de orvalho em pétala de rosa” Maculovesicular localizado, agrupado e doloroso Maculovesicular localizado, doloroso/incomodativo Distribuição do exantema Disseminado e pruriginoso Crânio-caudal Principalmente dermátomos torácico lateral-posterior (respeite linha mediana) Outros: pernas e braços Boca ou lábios (infecção perioral) Órgãos genitais Conjuntiva e córnea Evolução exantema Máculas--> vesículas-> crostas Se infeccionar, pústulas Máculas-> vesículas -> crostas Máculas-> vesículas -> crostas Pródromos Leves ou ausentes Leves ou ausentes Ausentes. Desconforto, prurido ou formigamentos podem preceder, até 6 horas antes Comprometimento sistêmico Não Não Não Complicações Formas hemorrágicas em imunodeprimidos, pneumonia pelo próprio vírus, afecção no sistema nervoso, e infecções bacterianas secundárias Dor pós herpética (neuralgia residual), mesmo sem lesão cutânea Infecções graves: encefalite, meningite, herpes neonatal e, em pacientes imunocomprometidos infecção disseminada Diagnóstico Clínico Clínico Clínico Vacina/ tratamento Apresentação monovalente ou combinada com a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e a tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela) Imunoglobulinas disponíveis para gestantes ou imunodeprimidos Vacina disponível para grupo de risco Tratamento: aciclovir Tratamento: aciclovir *Gatilhos: superexposição à luz solar doenças febris, estresse físico ou emocional, imunossupressão *A varíola é uma doença exantemática caracterizada por exantemas maculovesiculares, lesões nodulares monomórficas, associadas a um comprometimento sistêmico grave. Estima-se que causou 500 milhões de mortes no mundo, mas hoje (2020) essa doença é erradicada. Seu principal diagnóstico diferencial era a varicela, essa por sua vez caracterizada pelo polimorfismo das lesões e pouco comprometimento sistêmico.
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