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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI – MedUnicamp A assistência pré-natal é um conjunto de medidas de natureza médica, social, psicológica e de cuidados gerais que visa propiciar à mulher gestante o desenvolvimento saudável da gravidez. A realização do pré-natal representa papel fundamental em termos de prevenção e/ou detecção precoce de patologias, tanto maternas como fetais, permitindo o desenvolvimento saudável do feto e reduzindo os riscos para a gestante. Entre os principais objetivos da assistência pré-natal, podemos salientar: • Preparar a mulher para a maternidade, oferecendo informações educativas sobre o parto e o cuidado com a criança (puericultura); • Fornecer orientações essenciais sobre hábitos de vida e higiene pré-natal; • Orientar quanto à manutenção essencial de um estado nutricional apropriado; • Orientar quanto ao uso de medicamentos que possam afetar o feto ou o parto, ou à adoção de medidas que possam prejudicar o feto; • Tratar as manifestações físicas próprias da gravidez; • Tratar doenças que, de alguma forma, interfiram no bom andamento da gravidez • Fazer prevenção, diagnóstico precoce e tratamento de doenças próprias da gestação ou que sejam intercorrências previsíveis dela; • Orientar psicologicamente a gestante para o enfrentamento da maternidade; • Nas consultas médicas, orientar a paciente com relação a dieta, higiene, sono, hábitos intestinais, exercícios, vestuário, recreação, sexualidade, hábitos de fumo, álcool, drogas e dar outras instruções que se façam necessárias. A consulta do pré-natal inclui anamnese geral, anamnese obstétrica, exame físico geral, exame obstétrico (inspeção, palpação, mensuração, ausculta fetal), exame ginecológico (especular e toque vaginal). Existem 2 situações diferente que são realizadas anamnese e semiologia obstétrica: consultas de rotina (assistência pré-natal de baixo risco) e consultas de urgência/emergência (pronto atendimento). A primeira consulta deve ser o mais precoce possível, durante a gestação – de preferência, logo à suspeita de gravidez. O primeiro componente da desconfiança do estado gravídico é o atraso menstrual. O acompanhamento pré-natal ideal, conforme já referido, deve contemplar no mínimo seis consultas. A presença do parceiro sexual na primeira consulta traz significativo diferencial qualitativo a esse atendimento. Não havendo possibilidade da presença do parceiro, um familiar também ajuda muito. 1. ANAMNESE GERAL Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI – MedUnicamp - Idade (mais risco: <19 anos e > 35 anos), com/sem companheiro fixo (“estado civil”), profissão/ocupação, hábitos, naturalidade/procedência. Dar enfoque em tudo que possa influenciar a gravidez. Algumas complicações clínicas e gestacionais apresentam maior incidência, de acordo com a cor da pele da paciente e de sua descendência racial. Certas doenças apresentam maior incidência em mulheres negras (a exemplo da pré-eclâmpsia e da anemia falciforme) e amarelas (a exemplo da degeneração trofoblástica). Sobre a situação conjugal da gestante, é importante saber o grau de segurança emocional que o relacionamento proporciona à mulher. Casamento não significa bom relacionamento e segurança. - Motivo da consulta (QP e duração): grande parte das queixas da gestante está ligada às adaptações e modificações do organismo materno por causa da gravidez. Portanto, pode não ser tarefa fácil fazer o diagnóstico diferencial entre as manifestações próprias da gravidez e uma alteração realmente indicativa de doença. - Antecedentes familiares (doenças genéticas, gemelaridade, diabetes, doenças neoplásicas e infecto contagiosas). - Antecedentes pessoais: gerais (doenças, cirurgias, internações, transfusão de sangue) e ginecológicos (menarca, ritmo menstrual, DST, MACs utilizados). O início tardio do pré-natal, as dificuldades para adesão ao seguimento e orientações pré-natais, o medo excessivo da gravidez e a insegurança podem indicar transtorno psiquiátrico. Aqui também se devem avaliar o nível de estresse do casal, a aceitação da gravidez e sinais indicativos de depressão. - Vacinação: tétano – dPT, influenza, hep B. - Informações sobre os diversos aparelhos e sistemas (interrogatório complementar): Nesse item questiona-se a gestante sobre o funcionamento dos diversos aparelhos, relacionando eventuais queixas às modificações e adequações fisiológicas à gravidez. É necessário questionar objetivamente sobre queixas digestivas (azia, refluxo e obstipação intestinal), urinárias (nictúria, polaciúria), pois elas são as mais frequentes nesse período. Seguem-se, em ordem de frequência, as queixas musculoesqueléticas (dor lombar e câimbras) e as neurológicas (cefaleia e distúrbios do sono). Explicar à gestante que essas mudanças são fisiológicas a deixará mais tranquila, pois, ao compreender o processo, a paciente aceita melhor tais alterações. No entanto, mesmo sendo fisiológicas, elas precisam ser dimensionadas quanto à intensidade, já que, muitas vezes, têm de ser atenuadas com intervenções comportamentais e até farmacológicas, como no caso das náuseas e vômitos da gravidez, evitando a espiral que termina em hiperemese gravídica e suas consequências. Havendo referência a queixas respiratórias e cardíacas, estas devem ser registradas e, se possível, avaliadas por um especialista. As queixas obstétricas mais comuns são as perdas vaginais e as cólicas, entre outras. É importante indagar também sobre a movimentação fetal. 2. ANAMNESE OBSTÉTRICA GPA: sigla que utilizamos para identificar o nº de gestações que a mulher já teve, nº de partos, nº de abortos. Eventualmente podemos colocar o GPCA (C – cesáreas), G PN PC A FV (PN – partos normais; PC – partos cesáreas; FV – filhos vivos). G1 P0 A0: primigesta. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI – MedUnicamp G2 P1 A0: gravida pela 2ª vez com 1 parto anterior (secundigesta). Assim, com essa sigla temos um resumo de toda a vida obstétrica passada da mulher. Outra informação importante é a data da última menstruação (DUM). É através dela que fazemos o cálculo clinico da idade gestacional e data provável do parto. Fazemos através da regra de Naegele: acrescentamos +7 no dia e – 3 no mês. Ex. mulher com DUM 10/08/2020; a data provável do parto (DPP) será 17/05/2021. DUM 10/02/2020, DPP 17/11/2021. A partir do dia da última menstruação até o dia de hoje eu conto quantos dias teve e divido por 7 para saber a idade gestacional (nº de semanas). Os ciclos menstruais irregulares não permitem determinar de modo confiável a idade gestacional e DPP. Todos os métodos, computacionais ou manuais, consideram o primeiro dia da DUM, desde que haja confiabilidade nessa informação. Se, por vários motivos, ela não oferecer segurança, o cálculo da idade gestacional dependerá de avaliação ultrassonográfica. Além disso, importante colher mais informações, como: - MAC pré-concepcional: se usava, qual era o método. - Sintomatologia: se possui algumas queixas, não necessariamente são problemas (ex. náuseas, tonturas). Depende da idade gestacional. - Movimentos fetais: depende da idade gestacional. - Intercorrências clínico-cirúrgicas - Medicamentos utilizados: antiglicemiante oral, anticonsulvionantes, anti-hipertensivos. - Aceitação da atual gestação - Intervalo interpartal: os extremos são mais preocupantes, tipo intervalos muito curto ou muito longo estão associados a algumas complicações. Quando a mulher não está grávida pela primeira vez é importante investigar melhor as gestações pregressas: Intercorrências na gestação Intercorrências no parto Resultados perinatais: se tá vivo, APGAR. Intercorrências no puerpério As mulheres que tiveram pré-eclampsia, diabetes melitus gestacional, hemorragias pré/pós-parto têm tendência de recorrência. E mulher que teve resultado perinatal desfavorável (muito prematuros com comprometimento,abortos etc) causa muita ansiedade na gestante e devemos tomar muito cuidado. Questões psicológicas e psiquiátricas são extremamente importantes. 1ª consulta: avaliação do risco pela presença de comorbidades associadas ou antecedentes obstétricos desfavoráveis. Tudo que falamos até agora. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI – MedUnicamp Consultas subsequentes: avaliação continua do risco por condições patológicas especificas da gestação, gestação como fator predisponente de intercorrências clinicas (ex. pré-eclampsia em primigesta geralmente só aparece mais pro final da gravidez). Além de fornecer a devida atenção medica e obstétrica de qualidade para a gestante, devemos sempre avaliar o risco materno e o risco perinatal. Para isso, no exame físico fazemos vários procedimentos para avaliar isso. 3. EXAME FÍSICO GERAL Sempre fazemos ele completo na primeira consulta do pré-natal. Não precisa de um detalhe tão aprofundado como num paciente de clínica médica que não sabemos o diagnóstico. - Avaliação do peso e estado nutricional; - Medida da estatura; para determinar IMC. - FC, temperatura axilar, pressão arterial; isso deve ser avaliado em todas as consultas. - Inspeção da pele e mucosas; - Palpação da tireóide; - Ausculta cárdio-pulmonar; - Exame abdômen; - Palpação gânglios inguinais; - Exame membros inferiores; - Edema – face, tronco, membros. Em relação ao peso, utilizamos uma tabela que avalia o IMC pré-gestacional e associa com o ganho de peso total previsto na gestação. É adequado quando no início da gestação o IMC está em 18,5 a 24,9. Isso é importante para orientarmos a dieta da gestante. Curva de Atalah: gráfico para monitoramento da evolução ponderal em gestantes. Do lado esquerdo temos o IMC, embaixo as semanas de gestação. Usamos para acompanhar o peso dela. Podemos ver se ela está seguindo no mesmo ritmo ou se apresenta uma curva com desvios. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI – MedUnicamp - Pressão arterial: absolutamente fundamental! Não se admite uma consulta de PN sem aferição da PA ou mal aferida. Técnica: gestante sentada ou DLE; antebraço apoiado ou antebraço superior no DLE; palma da mão para cima; manguito acima da dobra do cotovelo; palpação da artéria acima do cotovelo; diafragma do esteto sobre a artéria; não prendê-lo sob o manguito; inflar manguito até 30mmHg após ruído; PS é o primeiro ruído e PD o último/abafamento. A PA está alterada quando atinge 140/90 mmHg em 2 medidas, com intervalo de pelo menos 4h. Ou numa medida isolada onde a PA está 150/110 mmHg. A evolução e a variação da PA sofrem processos mediados por eventos fisiológicos durante a gravidez. Nas primeiras semanas não existe praticamente nenhuma modificação importante da PA (talvez discreta diminuição, mas que não é perceptível). Entre 14ª e 16ª semanas ocorre o fenômeno de invasão do trofoblasto no miométrio, formando a placenta e shunt arteriovenoso, com queda importante da RVP (queda importante da PA – fisiológica). Hipotensão fisiológica da gravidez. Depois isso vai sendo compensado pelo aumento do volume sanguíneo circulante e a PA vai retornando aos níveis similares ao início da gravidez. Edema: a gravidez já predispõe ao edema por conta do útero gravídico que compromete o retorno venoso da VCI. Mas, a presença de edema de pés acentuado, mãos, face, não é normal. Deve-se investigar, pois no final de gestação pode ser manifestação de condições clinicas mais serias, como pré- eclampsia ou doenças renais. Inspeção e palpação das mamas: elas aumentam de volume, a quantidade de gordura, escurecimento e aumento da aréola e mamilos. No final da gravidez podemos ver um halo secundário de pigmentação ao redor do mamilo (a definição do limite entre aréola e a pele circundante fica imprecisa por hiperpigmentação – Sinal de Hunter). Os pintinhos são glândulas modificadas no início da aréola que parecem grânulos são Tubérculos de Mongomery. A rede venosa da mama aumenta e pode ficar visível através da pele (rede de Halen). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI – MedUnicamp Devemos também fazer uma discreta expressão da mama para ver se sair colostro, o que é o esperado. Inspeção do Abdômen: avaliar forma/volume, posição uterina, linha nigra (era a linha alba, vira nigra porque tem concentração de melanina nessa área. Ocorre mais na primeira gravidez, geralmente não regride totalmente), estrias. 4. EXAME FISICO OBSTÉTRICO - Mensuração uterina (altura uterina): controlamos clinicamente a evolução da gestação. - Palpação obstétrica: em qualquer época da gestação. - Ausculta fetal/movimento fetal - Exame das mamas: maneira preparatória para futuro aleitamento. PALPAÇÃO E MENSURAÇÃO DO CRESCIMENTO FETAL Avaliação clínica do crescimento fetal: crescimento da altura uterina. Avaliação clínica da qtdade de líquido amniótico Avaliação da situação fetal: a situação fetal é a relação do maior eixo do feto com o eixo longitudinal da mãe. Podemos definir como situação fetal longitudinal, transversa ou oblíqua. Avaliação da apresentação fetal: parte fetal que se insinua no estreito superior da bacia (parte que aparece primeiro num PV). Pode ser cefálica, pélvica ou córmica. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI – MedUnicamp A palpação obstétrica é melhor realizada no terceiro trimestre, pois é mais possível palpar e perceber como o feto está posicionado. A técnica é dividida em 4 tempos. A mulher deitada confortavelmente, em posição supina. Primeiro tempo é bimanual, palpando o fundo do útero, onde habitualmente ficaria o bumbum do feto. No segundo tempo palpamos os lados do útero, a posição fetal mais comum é com o dorso do feto para o lado esquerdo da mãe. Terceiro tempo palpamos com uma única mão o hipogastro e geralmente sentimos a cabeça do bebê (movimento de lateralidade). No quarto tempo palpamos bimanual a profundidade da pelve para ver se está completamente ocupada (quando vazia, geralmente o feto está transverso). Altura uterina: a ponta da fita métrica tem que ser na borda superior da sínfise púbica. Devemos endireita-lo para posição central (o útero). Passamos a fita pela linha média do abdômen e sentimos o fundo uterino. Com a fita entre o dedo indicador e médio. A altura uterina corresponde a uma maneira de monitorar o crescimento uterino. No final das últimas semanas podemos ter estabilidade da altura uterina ou discreta diminuição (acomodamento). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI – MedUnicamp Ausculta obstétrica: os batimentos fetais podem ser audíveis pelo sonardoppler (a partir de 10-12 semanas) e estetoscópio de Pinard (a partir de 18-20 semanas). A frequência cardíaca do feto é alta, entre 120-160 bpm. Sempre devemos procurar o local de audibilidade do foco (onde mais dá para ouvir). Procuramos o dorso do feto para isso, pois o foco está aí (geralmente equidistante entre o polo cefálico e dorso fetal). Avaliação da vitalidade fetal: registro diário dos movimentos fetais (mobilograma). É simples, de baixo custo, sem contraindicação, não requer instrumentos, raro falso-negativo. 5. EXAME GINECOLÓGICO Exame pélvico: o primeiro passo desse exame também é a inspeção, verificando detalhes da anatomia genital (malformações, rupturas, cicatrizes), alterações da coloração, lesões vegetantes e ulcerações. Na realidade, essa inspeção deve ser ampliada, avaliando-se também o períneo e a região anal. O segundo passo é o exame com espéculo vaginal. Após a 1ª consulta deve finalizar com o exame especular: avaliar paredes vaginais, secreção vaginal, fundos de sacos, colo uterino (e as mudanças durante a gravidez; forma, posição, dimensões, coloração, orifício externo – aspecto, permeabilidade, lesões). Para as mulheres com o exame Papanicolau atrasado devemos colher novo sempre. Toque vaginal: determinaçãoda conjugada diagonal, diâmetros da bacia. Importante na determinação da viabilidade do parto via vaginal. Estreito superior: conjugada verdadeiro > 10cm. Estreito médio: biciático > 9,5cm. Estreito inferior: bituberoso >8cm. O exame ginecológico não é feito em todas as consultas, mas na primeira sempre. Depois depende se a paciente traz queixas relacionadas a isso. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI – MedUnicamp Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI – MedUnicamp
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