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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA REUTILIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS EM INDÚSTRIA PETROQUÍMICA por George de Souza Mustafa Orientadora: Profª Drª Eliane Martins de Santana Salvador, Bahia - Brasil junho de 1998 Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ ii George de Souza Mustafa REUTILIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS EM INDÚSTRIA PETROQUÍMICA por George de Souza Mustafa Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Engenharia Química da Universidade Federal da Bahia como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências em Engenharia Química. Banca examinadora constituída pelos professores: Drª Eliane Martins de Santana UFBA - Orientadora Drª Letícia Sampaio Suñé UFBA Dr. Florival Rodrigues de Carvalho UFPE Salvador, Bahia - Brasil 05 de junho de 1998 Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ iii George de Souza Mustafa Aos meus pais Moisés e Roselite, pelo amor e exemplo recebidos, e à minha esposa Ana Cristina pela paciência e compreensão. Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ iv George de Souza Mustafa AGRADECIMENTOS Agradeço a minha orientadora, Profª Drª Eliane Martins de Santana, pela colaboração e estímulo para a realização deste trabalho. Aos colegas da Copene, em especial, Mário L. Pino Neto por ter encorajado-me nessa jornada, Leônidas C. M. Filho por ter acreditado no trabalho, Paulo César P. Canário pelo apoio nos momentos difíceis, João Severiano Júnior pelas dicas na fase final do trabalho e Mônica Maciel Lopes pela ajuda na língua inglesa. Ao órgão de documentação da Copene, representado por Gismália M. Mendonça, pelas pesquisas bibliográficas nos bancos de dados internacionais. À Copene - Petroquímica do Nordeste S.A. por ter facilitado a minha participação nas aulas e ter permitido a utilização dos seus dados. Agradeço também a Ignez Rosina Vieira pela grande ajuda na revisão dos textos. Quero agradecer enfim a todos os meus colegas e amigos, que de alguma forma, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho. Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ v George de Souza Mustafa RESUMO Um dos maiores desafios da indústria neste final de século é coexistir pacificamente com o meio ambiente em tempos de escassez de recursos naturais. A baixa disponibilidade de água como matéria-prima em processos produtivos e a crescente exigência da humanidade por um meio ambiente mais saudável têm impulsionado em todo o mundo nas últimas décadas, a implantação de programas de reutilização de efluentes líquidos, com objetivo de preservar os recursos hídricos naturais, através da minimização da geração de efluentes e, consequentemente, da captação de águas primárias. O objetivo dessa tese de mestrado é propor uma metodologia para implantação de um programa de reutilização de efluentes líquidos que possa ser aplicado à indústria petroquímica e tenha como meta final atingir o Efluente Zero. As etapas propostas para o programa de reutilização de efluentes líquidos são: 1ª) Identificação, quantificação e qualificação de todos os efluentes líquidos gerados pelos processos (Auditoria Hídrica); 2ª) Eliminação de vazamentos e desperdícios, melhorias em procedimentos operacionais e alterações nos processos (Conservação); 3ª) Reaproveitamento de água sem prévio condicionamento para uso menos nobre (Reuso); 4ª) Aplicação de processos de tratamento para purificação de efluentes, de forma que a água recuperada possa ser reaproveitada à sua utilização original ou para outro uso mais nobre (Reciclo). Para a definição de sistemas de Reciclo, foram estudados diversos processos de tratamento de efluentes líquidos, como por exemplo: osmose reversa, troca iônica, eletrodiálise reversa, evaporação, macrofiltração, microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração, clarificação, ozonização, adsorção com carvão ativado, entre outros. Como estudo de caso, foi escolhida a Copene - Petroquímica do Nordeste S.A., empresa localizada no Pólo Petroquímico de Camaçari, por ser a maior geradora de efluentes líquidos deste complexo industrial e por sua diversidade de tipos de efluentes gerados, sendo uma unidade bastante representativa desse setor industrial. Inicialmente, todos os efluentes líquidos gerados pelos processos foram identificados, quantificados e qualificados. Após a conclusão desta Auditoria Hídrica, foi definido para cada efluente o melhor programa técnico e econômico de reutilização (Conservação, Reuso e Reciclo) e o sistema de água receptor mais adequado. Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ vi George de Souza Mustafa Para a obtenção do Efluente Zero foram propostos os seguintes processos de tratamento: ♦ Clarificação, filtração, osmose reversa e evaporação para remoção de sólidos dissolvidos e suspensos; ♦ Destilação e ozonização para remoção de compostos orgânicos. A reutilização completa dos efluentes líquidos dessa empresa propiciará a conservação dos recursos hídricos naturais da Região Metropolitana de Salvador, aumentando a disponibilidade de água para uso urbano em cerca de 900 m3/h e minimizando os problemas associados com a falta de água em épocas de seca. Além disto, reduzirá os custos relacionados com a sua geração de efluentes, cerca de U$ 5.000.000/ano, e os custos operacionais e de manutenção com a retirada de operação de alguns equipamentos da sua unidade de tratamento de água. Com relação à preservação do meio ambiente, a reutilização dos efluentes líquidos dessa empresa também minimizará os impactos ambientais provocados por suas atividades industriais, melhorando a sua imagem perante as comunidades, clientes e órgãos de controle ambiental, bem como favorecendo a obtenção de certificações ambientais (ISO-14000). Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ vii George de Souza Mustafa ABSTRACT As the end of the century approaches, one of the biggest challenges industry faces is the need of a peaceful coexistence with the environment, considering the fact that natural resources are becoming scarce. Water insufficiency as a raw material for the productive processes and more stringent environmental regulations have impelled industry to implement wastewater reclamation programs during the last decades, aiming at the preservation of natural resources through the maximum reduction of wastewater production and, consequently, of water intake. The main goal of this thesis is to present a methodology for implementation of a wastewater reclamation program for the petrochemical industry to achieve the Zero Discharge. The proposed program’s stages are: 1ª) Identification, quantification, and qualification of all the wastewater coming from the industrial process(Hydric Audit); 2ª) Repair of leakages and end of waste, improving operating procedures and changing process (Conservation); 3ª) Reutilization of water without previous treatment destinated to a less important use (Reuse); 4ª) Application of processes to purify the effluents in a way that the reclaimed water can be used in its original purpose or in a better way (Recycle). In defining the Recycle systems, several wastewater treatment processes were studied, such as: reverse osmosis, ion exchange, electrodialysis reversal, evaporation, ultrafiltration, nanofiltration, clarification, ozonation, activated carbon, among others. Copene - Petroquímica do Nordeste S.A., a company located in the petrochemical complex of Camaçari, State of Bahia, Brazil, was chosen for the case study because it is the largest wastewater producer within that industrial complex and, in addition to that, has a considerable diversity of wastewater. Initially, the best technical and economic reclamation program (Conservation, Reuse and Recycle) for each effluent and the system in which it will be reused were definited after the identification, quantification, and qualification of all the wastewater coming from Copene’s processes. Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ viii George de Souza Mustafa For the achievement of the Zero Discharge, the following treatment systems were proposed: ♦ Clarification, Filtration, Reverse Osmosis and Evaporation to remove suspended and dissolved solids; ♦ Steam Stripping and Ozonation to remove organic compounds. The full reutilization of wastewater generated by Copene will increase the availability of water for urban consumption in approximately 900 m3/h and minimize the problems related with water scarcity during the dry season. Furthermore, it will verify a reduction of the costs associated to the production of such effluents in the amount of US$ 5,00,000/year and reduce its operating and maintenance costs by stopping operations of some equipments from Copene’s water treatment unit, as well. Finally, the reutilization of wastewater will minimize the industrial impact of the company on the environment. Therefore, that company will demonstrate concern with the ecological impact of its operations and good faith to the surrounding communities by reducing wastewater discharges and recycling resources. Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ ix George de Souza Mustafa SUMÁRIO página AGRADECIMENTOS ................................................................................... iv RESUMO .................................................................................................... v ABSTRACT ................................................................................................. vii LISTA DE TABELAS .................................................................................. xii LISTA DE FIGURAS ................................................................................. xiv NOMENCLATURAS .................................................................................... xvi 1. INTRODUÇÃO .................................................................................... 2 2. A ÁGUA NA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA .......................................... 4 2.1 Aplicação ....................................................................................... 4 2.2 Processos de tratamento ............................................................... 5 2.3 Especificação .................................................................................. 6 3. EFLUENTES LÍQUIDOS DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA ............... 10 3.1 Descrição geral ............................................................................ 10 3.2 Tipos de efluentes líquidos .......................................................... 11 3.2.1 Efluente de sistema de água de resfriamento .................. 11 3.2.2 Efluente de sistema de geração de vapor ........................ 11 3.2.3 Drenagem de água de processo ...................................... 12 3.2.4 Efluente de regeneração de resina de troca iônica ............ 12 3.2.5 Condensado de purgador ................................................ 12 Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ x George de Souza Mustafa página 3.2.6 Drenagem de amostrador .................................................. 13 3.2.7 Água de resfriamento de drenagem quente ...................... 13 3.2.8 Água de lavagem de filtro ................................................... 14 3.2.9 Condensado de trocador de calor ..................................... 14 3.2.10 Efluente de sistema de monitoramento de corrosão ....... 14 3.2.11 Água de selagem de equipamento rotativo ..................... 15 3.2.12 Drenagem de teste hidrostático ....................................... 15 3.2.13 Água de resfriamento de amostrador ............................... 15 3.2.14 Vazamento de água ........................................................ 15 3.2.15 Drenagem de tanque ........................................................ 16 3.2.16 Chuva coletada na área industrial .................................... 16 3.2.17 Esgoto sanitário ............................................................... 16 3.3 Padrões de lançamento ............................................................... 17 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................... 21 4.1 Processos de tratamento de efluentes líquidos ..................... 21 4.2 Processos de remoção de sólidos dissolvidos .................... 22 4.2.1 Osmose Reversa ...................................................... 22 4.2.2 Troca Iônica .............................................................. 30 4.2.3 Eletrodiálise Reversa ................................................ 35 4.2.4 Evaporação ............................................................... 38 4.3 Processos de remoção de sólidos suspensos .................... 39 Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ xi George de Souza Mustafa página 4.3.1 Macrofiltração ........................................................... 40 4.3.2 Filtração Tangencial com Membranas ....................... 41 4.3.3 Clarificação ............................................................... 43 4.4 Processos de remoção de compostos orgânicos ................ 44 4.4.1 Ozonização ............................................................... 45 4.4.2 Carvão Ativado ......................................................... 48 5. PROGRAMA DE REUTILIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS ........ 54 6. ESTUDO DE CASO ............................................................................. 58 6.1 Definição ......................................................................................58 6.2 Balanço Hídrico ........................................................................... 58 6.3 Unidade de tratamento de água .................................................. 60 6.4 Sistemas de efluentes líquidos .................................................... 62 6.5 Programa de reutilização de efluentes líquidos ......................... 67 6.5.1 Descrição geral .................................................................. 67 6.5.2 Auditoria Hídrica ................................................................ 67 6.5.3 Conservação ...................................................................... 75 6.5.4 Reuso ................................................................................. 77 6.5.5 Reciclo ............................................................................... 78 7. CONCLUSÕES .................................................................................. 86 8. NOVOS ESTUDOS ............................................................................ 89 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 91 Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ xii George de Souza Mustafa LISTA DE TABELAS página Tabela 2.1 Padrões de especificação de águas industriais ..................... 7 Tabela 2.2 Padrões de especificação de água potável ........................... 7 Tabela 3.1 Padrões de lançamento de efluentes líquidos .................... 17 Tabela 4.1 Processos de tratamento de efluentes líquidos .................. 21 Tabela 4.2 Processos de remoção de sólidos dissolvidos .................... 22 Tabela 4.3 Limitações de projeto da Osmose Reversa ......................... 27 Tabela 4.4 Taxas de rejeição da Osmose Reversa .............................. 29 Tabela 4.5 Qualidade de água produzida por Troca Iônica ....................... 34 Tabela 4.6 Tempo de decantação de partículas sólidas em água ........ 39 Tabela 4.7 Processos de remoção de sólidos suspensos .................... 39 Tabela 4.8 Processos de Filtração Tangencial com Membranas ......... 42 Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ xiii George de Souza Mustafa página Tabela 4.9 Potenciais de oxidação de compostos oxidantes ................. 45 Tabela 4.10 Eficiências de oxidação do ozônio ....................................... 48 Tabela 4.11 Eficiências de adsorção do Carvão Ativado ............................. 52 Tabela 5.1 Programas de reutilização de efluentes líquidos ................. 55 Tabela 6.1 Consumo de água das maiores cidades da Bahia ................. 59 Tabela 6.2 Custos dos sistemas de efluentes líquidos .............................. 66 Tabela 6.3 Vazão dos efluentes líquidos não contaminados .................. 68 Tabela 6.4 Vazão dos efluentes líquidos orgânicos ............................... 69 Tabela 6.5 Qualidade dos efluentes líquidos não contaminados ........... 70 Tabela 6.6 Qualidade dos efluentes líquidos orgânicos ......................... 71 Tabela 6.7 Conservação de efluentes líquidos ....................................... 75 Tabela 6.8 Reuso de efluentes líquidos .................................................. 77 Tabela 6.9 Reciclo de efluentes líquidos ................................................ 78 Tabela 6.10 Contaminantes-chaves dos efluentes líquidos ...................... 79 Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ xiv George de Souza Mustafa LISTA DE FIGURAS página Figura 4.1 Fenômeno da Osmose .......................................................... 22 Figura 4.2 Equilíbrio osmótico ................................................................ 23 Figura 4.3 Fenômeno da Osmose Reversa ........................................... 24 Figura 4.4 Sistema de Osmose Reversa ................................................ 26 Figura 4.5 Configuração 1 - Leitos catiônico e aniônico ...................... 34 Figura 4.6 Configuração 2 - Leito misto ................................................ 34 Figura 4.7 Configuração 3 - Leitos catiônico, aniônico e misto .......... 34 Figura 4.8 Sistema de Eletrodiálise Reversa ......................................... 35 Figura 4.9 Sistema de Evaporação ........................................................ 38 Figura 4.10 Sistema de Macrofiltração .................................................... 40 Figura 4.11 Sistema de Filtração Tangencial com Membranas ............... 41 Figura 4.12 Sistema de Clarificação ........................................................ 43 Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ xv George de Souza Mustafa página Figura 5.1 Programa de reutilização de efluentes líquidos .................. 54 Figura 6.1 Balanço Hídrico ..................................................................... 58 Figura 6.2 Unidade de tratamento de água ............................................ 61 Figura 6.3 Sistemas de efluentes líquidos .............................................. 65 Figura 6.4 Sistema de Reciclo dos efluentes do Grupo 1 (sólidos) ......... 83 Figura 6.5 Sistema de Reciclo dos efluentes do Grupo 2 (orgânicos) ...... 84 Reutilização de Efluentes Lóquidos em Indústria Petroquímica ___________ xvi George de Souza Mustafa NOMENCLATURA Bq/L - Becquerel por litro CEPRAM - Conselho Estadual de Meio Ambiente CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente CRA - Centro de Recursos Ambientais DBO - Demanda bioquímica de oxigênio DQO - Demanda química de oxigênio ISO-14000 - Norma de qualidade com enfoque em sistema de gerenciamento ambiental LIMPEC - Limpeza Pública de Camaçari OMS - Organização Mundial da Saúde SDI - Índice de densidade de sedimentos SAO - Separador água e óleo ufc/mL - Unidade formadora de colônia por mililitro uH - Unidade de escala de Hazen uT - Unidade de turbidez ∆µ º - Diferença de potencial químico Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 1 George de Souza Mustafa CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 2 George de SouzaMustafa 1. INTRODUÇÃO Um dos maiores desafios da indústria neste final de século é coexistir pacificamente com o meio ambiente em tempos de escassez de recursos naturais. A baixa disponibilidade de água como matéria-prima em processos produtivos e a crescente exigência da humanidade por um meio ambiente mais saudável têm impulsionado nas últimas décadas a implantação de programas de reutilização de efluentes líquidos em todo o mundo. A reutilização de efluentes implica em uma menor necessidade de captação dos recursos hídricos naturais, constituindo-se, portanto, em uma estratégia eficaz para a conservação dos mananciais, em seus aspectos qualitativos e quantitativos. Desta forma, aumenta a disponibilidade hídrica das regiões onde a água é escassa, além de contribuir para equacionar a disputa pelo uso de águas primárias, quando ela existe. Outro aspecto importante é que, pela menor geração de efluentes líquidos, a reutilização constitui-se numa ferramenta útil para o controle da poluição e, consequentemente, preservação do meio ambiente. Assim, reduz os riscos com penalizações ambientais, melhora a imagem da indústria perante as comunidades, clientes e órgãos de controle ambiental, bem como favorece a obtenção de selos verdes e certificações ambientais (ISO-14000). Além disto, os custos associados à geração de efluentes líquidos, seja por tratamento, perda de água tratada, multas ambientais, monitoramento, manutenção das redes de coleta e instrumentos, são minimizados com a reutilização dos efluentes. O objetivo dessa tese de mestrado é propor uma metodologia para implantação de um programa de reutilização de efluentes líquidos que possa ser aplicado à indústria petroquímica. Este programa deve atender os requisitos para a conservação de recursos hídricos naturais, minimização de impactos ambientais e redução de custos, além de ter como meta final a obtenção do Efluente Zero. Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 3 George de Souza Mustafa CAPÍTULO 2 A ÁGUA NA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 4 George de Souza Mustafa 2. A ÁGUA NA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA 2.1 Aplicação A água é um fluido bastante utilizado para auxiliar os processos produtivos, seja no estado vapor ou no estado líquido, em função da sua boa capacidade de troca térmica e excelente solvência, além de ser uma substância não tóxica e relativamente abundante na natureza. A sua utilização é de fundamental importância para a continuidade operacional e segurança desses processos. Entre as aplicações mais comuns, pode-se destacar as seguintes: No estado vapor aquecimento de fluidos de processo em refervedores de torres de destilação e pré-aquecedores de carga; acionamento de turbina a vapor para funcionamento de equipamentos rotativos (bombas, compressores e turbogeradores de energia elétrica); redução de pressão parcial de compostos leves para evitar degradação e auxiliar na destilação; selagem de equipamentos rotativos; sopragem de fuligem em fornos e caldeiras; atomização de combustíveis líquidos em fornos e caldeiras. No estado líquido resfriamento de produtos intermediários e finais, através de trocadores de calor ou por contato direto; diluição de produtos químicos utilizados nos processos; absorção e extração de compostos polares; participação como reagente em reações químicas; verificação de estanqueidade de equipamentos (teste hidrostático); selagem de equipamentos rotativos; lavagem de equipamentos e sistemas durante a liberação para manutenção; Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 5 George de Souza Mustafa hidrojateamento para limpeza de trocadores de calor e tanques; funcionamento de chuveiros e lava-olhos de emergência; combate a incêndio. Outra utilização importante é como água potável para consumo humano, na própria fábrica, em bebedouros, refeitórios, sanitários e banheiros. 2.2 Processos de tratamento A água captada diretamente da natureza, através de estações de bombeamento em rios, barragens, lagoas, aquíferos subterrâneos ou oceanos, normalmente, possui impurezas que impedem o seu uso direto nos processos industriais. Assim, é necessário que ela seja tratada adequadamente, de forma a atender às especificações exigidas por esses processos. O tipo do tratamento necessário para a purificação da água é função do seu uso final e, consequentemente, da sua qualidade especificada para esta aplicação. Quando a água é utilizada em condições brandas de temperatura e pressão, como por exemplo, para selagem de equipamentos rotativos, a remoção de sólidos suspensos e de matéria orgânica, que conferem cor e turbidez à água, é suficiente para evitar deposições no sistema. Entre os processos existentes para essa finalidade o mais utilizado é a clarificação (ver o item 4.3.3). São dosados sais de alumínio ou de ferro para propiciar a coagulação dos sólidos, formando flocos mais pesados, que são removidos por decantação. A matéria orgânica e os microorganismos são eliminados através de produtos altamente oxidantes: cloro ou ozônio. A clarificação pode ser também utilizada como primeira etapa do processo de potabilização da água. Em seguida, a fim de melhorar a sua qualidade, a água clarificada é filtrada, reduzindo ainda mais a cor e turbidez. Posteriormente, recebe dosagem de produtos químicos para ajuste final de pH e cloro livre, tais como: carbonato de sódio e cloro gasoso, respectivamente. Para aplicações com temperaturas e pressões mais altas, normalmente no estado vapor, a água deve passar por um tratamento mais rigoroso para remoção de sais dissolvidos. Estes sais podem se depositar nos equipamentos, reduzindo a sua eficiência, além de favorecer a ocorrência do fenômeno da corrosão, prejudicando a sua integridade física. Para a remoção de sais dissolvidos são utilizados, principalmente, os processos de troca iônica (ver o item 4.2.2) e, mais recentemente, de osmose reversa (ver o item 4.2.1). No primeiro, os cátions e ânions presentes na água são trocados, respectivamente, por H+ e OH-, através de produtos especiais denominados de resina de troca iônica, formando novas moléculas de água. Já na osmose reversa ocorre passagem de sais através de membranas específicas, do lado mais diluído para o concentrado, obtida com a elevação da pressão até um valor superior à pressão osmótica da água. Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 6 George de Souza Mustafa O tratamento necessário para a água que é utilizada diretamente no processo, como por exemplo na diluição de produtos químicos e como reagente em reações químicas, depende das características químicas do sistema e também da metalurgia dos equipamentos. 2.3 Especificação As águas industriais produzidas nas unidades de tratamento devem atender os padrões de especificação exigidos pelos processos produtivos, de forma a não comprometer a integridade e eficiência dos equipamentos, mantendo a continuidade operacional desses processos. A especificação de água potável destinada ao consumo humano é mais rigorosa com relação às substâncias tóxicas. No mínimo, devem ser atendidos os padrões de potabilidade exigidos pela Portaria nº 36, de 19 de janeiro de 1990, do Ministério da Saúde do Brasil [1], que foram elaborados tendo como base os padrões da Organização Mundial de Saúde (OMS). Nas tabelas 2.1 e 2.2 são apresentados os diversos padrões de especificação de águas industriais e potável e suas respectivas fontes bibliográficas. Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 7 George de Souza MustafaTabela 2.1 Padrões de especificação de águas industriais PARÂMETROS UNIDADES ÁGUA CLARIFICADA DESMINERALIZADA Alumínio mg/L 0,5 [2] - Cloretos mg/L 60 [3] 0,006 [3] Cloro livre mg/L 0,3 a 1,0 [2] - Cobre µg/L 50 [3] 5 [3] Condutividade µS/cm 500 [3] 0,3 [2], [3] Cor aparente uH 10 [2] - DQO mg/L 2 [3] - Dureza cálcio mg/L CaCO3 80 [3] isento [2], [3] Ferro total µg/L 300 [2] 20 [2] Óleos e graxas mg/L 1 [3] isento [3] pH - 8,0 a 10,0 [2] 6,5 a 7,5 [2] Sílica mg/L 30 [3] 0,02 [2], [3] Sólidos suspensos mg/L 5 [2] - Sulfato mg/L 60 [3] 0,006 [3] Turbidez uT 5 [2] - Não especificado: - Tabela 2.2 Padrões de especificação de água potável PARÂMETROS UNIDADES ÁGUA POTÁVEL [1] Agentes tensoativos µg/L 200 Aldrin e dieldrin µg/L 0,03 Alumínio µg/L 200 Arsênio µg/L 50 Bactérias heterotróficas ufc/mL 500 Bário mg/L 1 Benzeno µg/L 10 Benzo-α-pireno µg/L 0,01 Cádmio µg/L 5 Carbamatos e fosforados µg/L 10 Chumbo µg/L 50 Cianetos µg/L 100 Clordano (total de isômeros) µg/L 0,3 Cloretos mg/L 250 Clorobenzenos µg/L 0,1 Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 8 George de Souza Mustafa Clorofenóis µg/L 0,1 Tabela 2.2 Padrões de especificação de água potável (continuação) PARÂMETROS UNIDADES ÁGUA POTÁVEL [1] Cloro livre mg/L ≥ 0,2 Cobre mg/L 1 Coliformes fecais u/100 mL ausência Coliformes totais u/100 mL ausência Cor aparente uH 5 Cromo total µg/L 50 2,4-D µg/L 100 DDT µg/L 1 1,1-Dicloroetano µg/L 0,3 1,2-Dicloroetano µg/L 10 Dureza total mg/L CaCO3 500 Endrin µg/L 0,2 Fenóis µg/L 0,1 Ferro total µg/L 300 Heptacloro e heptacloro epóxido µg/L 0,1 Hexaclorobenzeno µg/L 0,01 Lindano (gama-HCH) µg/L 3 Manganês µg/L 100 Mercúrio µg/L 1 Metoxicloro µg/L 30 Nitratos mg/L N 10 Odor - não objetável pH - 6,5 a 8,5 Pentaclorofenol µg/L 10 Prata µg/L 50 Radioatividade alfa total Bq/L 0,1 Radioatividade beta total Bq/L 1 Sabor - não objetável Selênio µg/L 10 Sólidos totais dissolvidos mg/L 1.000 Sulfatos mg/L 400 Sulfeto de hidrogênio µg/L S 0,025 Tetracloreto de carbono µg/L 3 Tetracloroeteno µg/L 10 Toxafeno µg/L 5 Tricloroeteno µg/L 30 2,4,6-Triclorofenol µg/L 10 Trihalometanos µg/L 100 Turbidez uT 1 Zinco mg/L 5 Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 9 George de Souza Mustafa CAPÍTULO 3 EFLUENTES LÍQUIDOS DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 10 George de Souza Mustafa 3. EFLUENTES LÍQUIDOS DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA 3.1 Descrição Geral Nas Indústrias, as matérias-primas são transformadas em produtos através de processos físico-químicos. Pelo princípio da conservação de massa, a massa das matérias-primas que entra em um sistema tem que ser igual a massa que sai dos produtos mais a acumulada internamente neste sistema. Quando este balanço não fecha é porque existem perdas de material no processo. Estas perdas podem ser emissões atmosféricas, efluentes líquidos ou resíduos sólidos. Nesse estudo, serão analisadas apenas as perdas que geram efluentes líquidos. Os efluentes líquidos gerados pela indústria petroquímica podem ser classificados em Não Contaminados e Orgânicos, de acordo com as suas características físico- químicas. Tipicamente, o sistema de efluentes não contaminados recebe correntes com características inorgânicas, como por exemplo: purgas dos sistemas de água de resfriamento e de geração de vapor. Já o sistema orgânico coleta efluentes contaminados com compostos orgânicos, tipo drenagem de água de processo e drenagem de tanque. Com relação ao regime de fluxo, os efluentes são classificados como Contínuos e Intermitentes. Os efluentes contínuos são permanentemente gerados, conforme a necessidade do processo. Já os efluentes intermitentes são gerados apenas durante alguma operação anormal ou contigencial, em manutenção de equipamentos e sistemas e em operações especiais não contínuas, como por exemplo: hidrojateamento e passivação de trocadores de calor, regeneração de catalisador, lavagem e limpeza química de equipamentos. Descrições resumidas de alguns dos mais comuns efluentes líquidos encontrados na indústria petroquímica são apresentadas a seguir. Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 11 George de Souza Mustafa 3.2 Tipos de efluentes líquidos 3.2.1 Efluente de sistema de água de resfriamento No sistema de resfriamento, a água com temperatura próxima à ambiente circula através de trocadores de calor removendo calor dos fluidos de processo. Ao retornar para a parte superior da torre de resfriamento, com temperatura mais alta, cai através do enchimento interno, sendo dividida em pequenas gotículas. Na queda, estas gotas são atravessadas pelo fluxo de ar gerado por ventiladores externos, evaporando uma parte da água e, como conseqüência, reduzindo a sua temperatura. Outra parte da água é arrastada pelo fluxo de ar para a atmosfera sob a forma de pequenas gotículas. A água resfriada chega na bacia inferior da torre, onde é novamente bombeada para os trocadores de calor. Na troca térmica entre a água e o ar, uma grande quantidade de água evapora para a atmosfera sem arrastar sólidos dissolvidos, aumentando a sua concentração na água de resfriamento em recirculação. Assim, é necessário realizar purga contínua para desconcentrar o sistema e, simultaneamente, repor a água perdida através da evaporação, arraste e purga. Esse efluente possui características inorgânicas e é uma das maiores drenagens contínuas da indústria petroquímica. 3.2.2 Efluente de sistema de geração de vapor O vapor d’água é gerado normalmente em fornos e caldeiras, através da vaporização de água desmineralizada. Apesar desta água possuir uma excelente qualidade, contém pequenas quantidades de sais dissolvidos que não evaporam durante o processo de geração de vapor, tendendo a concentrar no sistema. Portanto, como o aumento de concentração de sais pode provocar incrustação e corrosão nos equipamentos, é necessário realizar purga contínua para desconcentrar o sistema e, simultaneamente, suprir água de reposição ao sistema para compensar as perdas. Esse efluente possui características inorgânicas com qualidade relativamente boa e, também, gera uma vazão que contribui significativamente para os sistemas de efluentes líquidos da indústria petroquímica. Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 12 George de Souza Mustafa 3.2.3 Drenagem de água de processo Em alguns sistemas, a água pode ser utilizada em contato direto com as correntes de processo. De forma a não contaminar os produtos finais, ela deve ser drenada, após separação das fases orgânica e aquosa, em determinados pontos do processo - normalmente, através de bota de vaso de pressão. Devido ao contato íntimo entre a água e os compostos orgânicos, o efluente dessa drenagem possui características orgânicas e, por isso, tem que ser descartado para o sistema de efluente orgânico. 3.2.4 Efluente de regeneração de resina de troca iônica No processo de desmineralização por troca iônica, a água é purificada passando através de leitos contendo resinas especiais que trocam os diversos íons presentes (Na +, Ca +2, Cl -, SO4 -2 etc.) por H + e OH -. Depois de um determinado tempo, ocorre a saturação completa das resinas por esses íons, sendo necessário regenerá-las, de forma que possa ser iniciada uma nova campanha. Normalmente, a regeneração das resinas que trocam cátions é realizada com ácido sulfúrico ou clorídrico e as que trocam ânions através de soda caústica (ver item 4.2.2). Assim, o efluente altamente salino proveniente dessas regenerações possui pH bastante ácido ou alcalino, que deve ser ajustadoantes do descarte para o sistema de efluente não contaminado. 3.2.5 Condensado de purgador Devido a perda de calor para a atmosfera, normalmente, ocorre condensação nas tubulações durante o transporte do vapor d’água entre o sistema de geração e os consumidores. Neste caso, o regime de fluxo passa a ser bifásico, o que pode provocar golpes de aríete prejudiciais à integridade física dessas tubulações. Com o objetivo de remover o condensado formado, são instalados purgadores em diversos pontos na tubulação, que descarregam toda vez que há um determinado acúmulo de condensado no seu interior. Esta drenagem intermitente é direcionada para o sistema de efluente mais próximo, seja orgânico ou não contaminado, apesar da sua composição inorgânica. Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 13 George de Souza Mustafa 3.2.6 Drenagem de amostrador As amostras coletadas para realização de análises físico-químicas em laboratório devem representar de forma fiel o processo. Preferencialmente, os amostradores devem ser circulantes, ou seja, o fluido a ser analisado passa continuamente por uma válvula de três vias de pequeno volume e retorna para um ponto do processo de menor pressão. Assim, praticamente, não existe geração de efluentes líquidos durante a coleta, já que a amostra estará sempre representando o processo, pois não fica parada. Porém, nos amostradores tradicionais, o destino das amostras é a rede de efluente, que é o local de menor pressão (pressão atmosférica). A forma de manter a amostra sempre representativa é conservando o ponto continuamente aberto ou drenando por determinado tempo para renovar o inventário do trecho parado. Se possuir característica inorgânica, esta drenagem é encaminhada para o sistema de efluente mais próximo. Caso tenha característica orgânica, deve ser drenada apenas para o sistema orgânico. 3.2.7 Água de resfriamento de drenagem quente A drenagem de efluentes líquidos quentes pode provocar elevação de temperatura do corpo receptor, reduzindo o teor de oxigênio dissolvido e afetando a vida aquática. O aumento da temperatura acelera também o crescimento de fungos e plantas indesejáveis, o que leva a um aumento de consumo de oxigênio justamente no momento em que sua concentração está baixa. Outro efeito indesejável é o aumento da volatilização para atmosfera de compostos orgânicos presentes nos efluentes, aumentando o nível de poluição ambiental e o risco de incêndio e explosão na rede de coleta desses efluentes. Se esta rede for de concreto, a temperatura deve ser suficientemente baixa para que não haja comprometimento da sua integridade física, o que levaria a uma contaminação do subsolo e do aqüífero subterrâneo. A Resolução nº 300 do CEPRAM - Conselho Estadual de Meio Ambiente, do Estado da Bahia [4], limita a temperatura dos efluentes líquidos não contaminados e orgânicos em 55 ºC. Por isso, qualquer drenagem com energia suficiente para elevar a temperatura do efluente final acima deste limite deve ser resfriada. Se o resfriamento for direto com água, pode aumentar bastante a vazão do efluente. Por exemplo, para resfriar 1 m3 de efluente de 100 a 40 ºC são necessários cerca de 6 m3 de água a 30 ºC. Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 14 George de Souza Mustafa 3.2.8 Água de lavagem de filtro O filtro é um equipamento utilizado com a finalidade básica de remover material sólido de uma suspensão. Assim, após a sua saturação é necessário remover os sólidos acumulados para que ele possa ser reutilizado. Essa remoção é realizada através de contralavagem com água. O efluente gerado por esta operação é composto por água e material sólido, podendo ser enviado para o sistema não contaminado, se a concentração de sólidos estiver dentro dos limites estabelecidos pela legislação ambiental. 3.2.9 Condensado de trocador de calor Nos processos de troca térmica que utilizam o vapor d’água como fluido de aquecimento é comum aproveitar todo o seu calor latente. Com objetivo de conservar energia e água, o condensado gerado deve retornar novamente para o sistema de geração de vapor. Entretanto, em alguns casos específicos, por exemplo, quando o trocador de calor encontra-se muito afastado do sistema de geração de vapor e sua vazão é baixa, o condensado pode ser drenado para o sistema de efluente mais próximo, orgânico ou não contaminado. 3.2.10 Efluente de sistema de monitoramento de corrosão Nos sistemas de água de resfriamento são adicionados produtos químicos com objetivo de controlar a corrosão nos equipamentos de troca térmica e na rede de distribuição de água. A eficiência do controle químico desses sistemas é mensurada através de monitoramento da taxa de corrosão. Esta medição é realizada em pequenos sistemas em paralelo com o principal, onde são reguladas as condições operacionais (velocidade e temperatura) semelhantes às do trocador de calor avaliado. Pequenas tiras metálicas ficam inseridas no seio do fluxo de água e após um certo período são retiradas para medir a perda de peso do material, determinando a taxa de corrosão. A água circula por esse sistema de monitoramento continuamente e, devido a sua característica inorgânica, é encaminhada preferencialmente para o sistema de efluente não contaminado. Porém, por questão de proximidade, ela pode ser direcionada também para o sistema de efluente orgânico. Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 15 George de Souza Mustafa 3.2.11 Água de selagem de equipamento rotativo Os equipamentos rotativos necessitam de selagem para evitar vazamento, através da região onde o eixo móvel atravessa o seu corpo. No entanto, durante a operação normal é esperado um vazamento mínimo pelas faces do selo. Para evitar acúmulo de produto de vazamento no seu interior, o que reduziria a eficiência operacional, é realizada lavagem com água. Este efluente é enviado para o sistema orgânico. 3.2.12 Drenagem de teste hidrostático Ao final das atividades de manutenção e antes da partida de alguns equipamentos, como trocadores de calor e tanques, devem ser realizados testes hidrostáticos para verificar possíveis vazamentos. O equipamento, que está completamente limpo, é pressurizado com água, a uma pressão 1,5 vezes superior à de projeto. Não constatado vazamento ou sanados os eventuais vazamentos, a água é drenada para o sistema de efluente mais próximo, seja ele não contaminado ou orgânico. 3.2.13 Água de resfriamento de amostrador Por questão de segurança e representabilidade, as amostras quentes devem ser coletadas após resfriamento. Por isso, os pontos de coleta de amostra normalmente estão localizados após algum trocador de calor. Quando não é possível coletar a amostra fria, ela é resfriada externamente em um pequeno vaso atmosférico, onde a amostra passa através de uma serpentina. A água utilizada para o resfriamento banha a serpentina e é drenada quente para o sistema de efluentes líquidos. Apesar desse efluente possuir características inorgânicas, poderá ser drenado para o sistema de efluentes orgânicos, se o resfriador de amostra estiver localizado na área de processo. 3.2.14 Vazamento de água Em um processo industrial, existem vários pontos potenciais para ocorrer vazamento de água, como por exemplo: gaxetas e flanges de válvulas, flanges e furos em tubulações e válvulas abertas indevidamente. Deve-se ter uma rotina Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 16 George de Souza Mustafa de inspeção periódica de todo o sistema, visando eliminar os eventuais vazamentos identificados. 3.2.15 Drenagem de tanque Alguns tanques de armazenamento de matérias-primas, produtos finais e intermediários podem acumular certa quantidade de água proveniente do processo. Devidoa imiscibilidade da água com esses compostos orgânicos, ocorre a formação de duas fases; a fase aquosa, que normalmente é a mais densa, é drenada periodicamente pelo fundo do tanque. Essa drenagem é considerada contaminada, devido o contato íntimo da água com compostos orgânicos, e deve ser sempre enviada ao sistema de efluente orgânico. 3.2.16 Chuva coletada na área industrial As chuvas que caem nas áreas industriais podem carrear produtos provenientes de vazamentos e se tornar contaminadas. Desta forma, devem ser coletadas pela rede de efluente orgânico. Já as águas de chuvas coletadas nas áreas administrativas, nas ruas e nos locais que comprovadamente não sejam poluídos podem ser direcionadas para o sistema de efluente não contaminado. 3.2.17 Esgoto sanitário Os efluentes dos sanitários, banheiros, refeitórios e outros das áreas administrativas devem ser coletados em um sistema independente das redes de efluentes industriais, caso exista alguma unidade de pré-tratamento, antes do tratamento final. Antes da medição de vazão e do ponto de monitoramento de qualidade, o esgoto sanitário pode ser misturado com o efluente orgânico e enviado para o tratamento biológico. Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 17 George de Souza Mustafa 3.3 Padrões de lançamento Os efluentes líquidos antes de serem lançados em corpos d’água receptores ou em estações de tratamento devem atender a padrões determinados pelas legislações ambientais vigentes. No caso das indústrias localizadas no Estado da Bahia, existem três Resoluções que devem ser cumpridas: 1. Resolução nº 300 do CEPRAM - Conselho Estadual de Meio Ambiente, do Estado da Bahia, Padrões de Efluentes para a Rede Coletora dos Sistemas Orgânico e Inorgânico da Cetrel, de 01 de junho de 1990 [4]; 2. Resolução nº 620 do CEPRAM - Conselho Estadual de Meio Ambiente, do Estado da Bahia, Art. 4, Inciso V, Padrões de Lançamento ao Mar dos Poluentes Prioritários, de 21 de julho de 1992 [5]; 3. Resolução nº 20 do CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente, Art. 21, Padrões de Lançamento de Efluentes Líquidos nos Corpos de Água, de 18 de junho de 1986 [6]. Na tabela 3.1 são apresentados os padrões de lançamento de efluentes líquidos dessas Resoluções. Tabela 3.1 Padrões de lançamento de efluentes líquidos PARÂMETROS UNIDADES EFLUENTE LÍQUIDO ORGÂNICO NÃO CONTAMINADO Acenafteno µg/L - 60 [5] Acenaftileno µg/L - 60 [5] Acrilonitrila µg/L - 240 [5] Antraceno µg/L - 60 [5] Arsênio mg/L 1 [4] 0,5 [4], [6] Bário mg/L - 5 [6] Benzeno µg/L - 140 [5] Benzo-α-antraceno µg/L - 60 [5] Boro mg/L - 5 [6] Cádmio mg/L 0,5 [4] 0,2 [4], [6] Carbamatos e fosforados mg/L - 1 [6] Chumbo mg/L 1 [4] 0,3 [4], 0,5 [6] Cianetos mg/L 2 [4] 4 [4], 0,2 [6] Cloreto de metileno µg/L - 50 [5] Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 18 George de Souza Mustafa Tabela 3.1 Padrões de lançamento de efluentes líquidos (continuação) PARÂMETROS UNIDADES EFLUENTE LÍQUIDO ORGÂNICO NÃO CONTAMINADO Cloretos (a) mg/L 20.000/10.000 [4] 20.000/20.000 [4] Clorobenzeno µg/L - 50 [5] Clorofórmio mg/L - 1 [5], [6] Cloro Ativo mg/L não admissível [4] não admissível [4] Cobalto mg/L 1 [4] 1 [4] Cobre mg/L 1 [4] 0,5 [4], 1 [6] Cromo hexavalente mg/L 0,5 [4] 0,5 [6] Cromo trivalente mg/L - 2 [6] Cromo total mg/L 3 [4] 0,5 [4] DBO (b) mg/L - 30/60 [4] Detergentes mg/L 10 [4] não admissível [4] 1,2-Diclorobenzeno µg/L - 50 [5] 1,4-Diclorobenzeno µg/L - 50 [5] 1,2-Dicloroetano µg/L - 50 [5] 1,2-Dicloroeteno (cis/trans) mg/L - 1 [5], [6] 2,4-Dimetilfenol µg/L - 40 [5] DQO (b) mg/L - 75/150 [4] Estanho mg/L 30 [4] 4 [4], [6] Éter bis (2-cloro-isopropil) µg/L - 50 [5] Etilbenzeno µg/L - 110 [5] Fenantreno µg/L - 60 [5] Fenóis mg/L 100 [4] 0,5 [4], [6], 0,1 [5] Ferro solúvel mg/L 30 [4] 15 [6] Fluoranteno µg/L - 70 [5] Fluoreno µg/L - 60 [5] Fluoretos mg/L 20 [4] 4 [4], 10 [6] Fosfatos mg/L 15 [4] 15 [4] Ftalato de bis (2-etilhexila) µg/L - 280 [5] Manganês solúvel mg/L - 1 [6] Material sólido mg/L 300 [4] 50 [4] Mercúrio (a) µg/L 2/2 [4] 10/2 [4], 10 [6] Metais pesados (somatório) mg/L 5 [4] - Naftaleno µg/L - 60 [5] Níquel mg/L 1 [4] 0,5 [4], 2 [6] Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 19 George de Souza Mustafa Tabela 3.1 Padrões de lançamento de efluentes líquidos (continuação) PARÂMETROS UNIDADES EFLUENTE LÍQUIDO ORGÂNICO NÃO CONTAMINADO 4-Nitrofenol µg/L - 100 [5] Nitrogênio amoniacal (a) mg/L N 300/50 [4] 5/5 [4] , 5 [6] Óleos e graxas mg/L 75 [4] 50 [4], [6] Óleos minerais mg/L - 20 [6] Organoclorados (outros) µg/L - 50 [6] pH - 6 a 9 [4] 6 a 9 [4], 5 a 9 [6] Pireno µg/L - 70 [5] Prata µg/L 10 [4] 100 [4], [6] Selênio mg/L 1 [4] 0,05 [4], [6] Sólidos sedimentáveis mL/L 1 [4] 1 [4] Sais dissolvidos mg/L 20.000 [4] 40.000 [4] Substâncias aderentes mg/L não admissível [4] não admissível [4] Substâncias inflamáveis mg/L não admissível [4] não admissível [4] Substâncias tóxicas mg/L - não admissível [4] Substâncias radioativas mg/L não admissível [4] não admissível [4] Sulfatos (a) mg/L 5.000/500 [4] 5.000/5.000 [4] Sulfeto de carbono mg/L - 1 [6] Sulfetos mg/L 10 [4] 1 [4], [6] Sulfitos mg/L - 1 [6] Temperatura º C 55 [4] 55 [4], 40 [6] Tetracloreto de carbono mg/L - 1 [5], [6] Tetracloroeteno µg/L - 50 [5] Tolueno µg/L - 80 [5] 1,1,1-Tricloroetano µg/L - 50 [5] Tricloroeteno mg/L - 1 [6] Vanádio mg/L 1 [4] 1 [4] Zinco mg/L 3 [4] 5 [4], [6] (a) O primeiro valor é relativo aos efluentes de plantas que processam as substâncias limitadas ou derivadas com real dificuldade tecnológica para reduzir emissões e o segundo aos efluentes de empresas cujos processos não incorporam substâncias similares como matéria-prima importante; (b) O primeiro valor corresponde à média e o segundo ao valor instantâneo; (-) Não existe padrão. Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 20 George de Souza Mustafa CAPÍTULO 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 21 George de Souza Mustafa 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1 Processos de tratamento de efluentes líquidos Os principais poluentes encontrados nos efluentes líquidos das indústrias petroquímicas podem ser classificados como: sólidos dissolvidos, sólidos suspensos e compostos orgânicos. Os metais pesados, gases dissolvidos, poluentes biológicos e radioativos aparecem com menor intensidade nesses efluentes. Na tabela 4.1 estão relacionados alguns dos principais processos de tratamento de efluentes líquidos utilizados na indústria petroquímica. Tabela 4.1 Processos de tratamento de efluentes líquidos PROCESSOS SÓLIDOS DISSOLVIDOS SÓLIDOS SUSPENSOS COMPOSTOS ORGÂNICOS Osmose Reversa X Troca Iônica X Eletrodiálise Reversa X Evaporação X Macrofiltração X Microfiltração X Ultrafiltraçao X Nanofiltração X Clarificação X Ozonização X Carvão Ativado X Destilação X Lodo Ativado X Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 22 George de Souza Mustafa 4.2 Processos de remoção de sólidos dissolvidos As principais tecnologias de remoção de sólidos dissolvidos existentes atualmente são: osmose reversa, troca iônica, evaporação e eletrodiálise reversa. Existem outras menos significativas com pouca aplicação prática, tais como: congelamento à vácuo e piezediálise. As faixas normais de operação das tecnologias de remoção de sólidos dissolvidosem função da concentração na corrente de alimentação estão apresentadas na tabela 4.2. [7] Tabela 4.2 Processos de remoção de sólidos dissolvidos PROCESSOS CONCENTRAÇÃO DE SÓLIDOS DISSOLVIDOS (mg/L) Troca Iônica 10 a 600 Osmose Reversa 50 a 50.000 Eletrodiálise Reversa 300 a 10.000 Evaporação > 20.000 4.2.1 Osmose Reversa Conceito Osmose é o fluxo natural de transporte de um solvente através de uma membrana semipermeável, passando da solução diluída para a concentrada (ver figura 4.1). Fluxo Osmótico → Solvente Solução Solução Diluída Concentrada ↑ Membrana Semipermeável Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 23 George de Souza Mustafa Figura 4.1 Fenômeno da Osmose A força motriz dessa transferência de massa é a diferença dos potenciais químicos entre os dois lados da membrana. Assim, o fluxo osmótico ocorre até atingir um novo equilíbrio, ou seja, quando estes potenciais químicos se igualam ( ∆µº = 0 ). Neste ponto, haverá uma diferença de pressão entre os dois lados, denominada de pressão osmótica (ver figura 4.2). Na realidade, esta grandeza é a força total necessária para finalizar o escoamento espontâneo do solvente através da membrana. ↑ Pressão ↓ Osmótica Equilíbrio Osmótico ← → Solução Solução Diluída Concentrada ↑ Membrana Semipermeável Figura 4.2 Equilíbrio osmótico A pressão osmótica é proporcional à quantidade de substâncias dissolvidas na solução e à temperatura da solução e é completamente independente das características da membrana. Ela é determinada através da equação de J. H. van’t Hoff desenvolvida em 1887: [8], [9] π = n2 RT/V onde: π = pressão osmótica da solução; n2 = número de moles do soluto; R = constante universal dos gases; T = temperatura da solução; V = volume da solução. O mecanismo da pressão osmótica é controvertido. A analogia entre as soluções líquidas e os gases levou a se considerar a pressão osmótica como resultado do bombardeio da membrana semipermeável pelas moléculas do soluto, ou seja, como sendo uma espécie de pressão exercida pelo soluto. Um outro ponto de vista é o de que a pressão osmótica resulta do bombardeio pelas moléculas do solvente. Havendo relativamente mais moléculas de solvente no solvente puro Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 24 George de Souza Mustafa que na solução, a pressão resultante forçaria a passagem de moléculas do solvente para a solução. Finalmente, uma terceira interpretação da osmose é dada pela teoria segundo a qual as moléculas de vapor se destilam do solvente para a solução através dos capilares secos da membrana semipermeável. [8] Quando se aplica uma pressão no lado da solução concentrada superior à pressão osmótica, ocorre a inversão do fluxo do solvente. Este fenômeno no qual o solvente é transferido por uma força externa de uma solução com alta concentração de soluto para uma solução com baixa é denominado de Osmose Reversa (Figura 4.3). Pressão ↓ Solvente ← Osmose Reversa Solução Solução Diluída Concentrada ↑ Membrana Semipermeável Figura 4.3 Fenômeno da Osmose Reversa O valor exato da pressão osmótica é de pouca importância para a operação do sistema de Osmose Reversa. A pressão osmótica é apenas a força mínima necessária para se obter a purificação de um solvente. Normalmente, as pressões de operação do sistema de Osmose Reversa são várias vezes superiores à pressão osmótica. A Osmose Reversa é aplicada basicamente para reduzir salinidade da água, porém pode também remover sílica e material orgânico coloidal com alto peso molecular. Sistemas de Osmose Reversa produzem água tratada para as mais diferentes aplicações, servindo cidades, indústrias, comércio, bem como pequenos sistemas para plataformas de petróleo, condomínios, fazendas, hospitais, hotéis e laboratórios. A capacidade destes sistemas varia de alguns litros/hora até milhões de litros/hora. [10] Algumas outras aplicações são: recuperação de proteína de queijo, concentração de suco de frutas, café e chá, concentração de medicamentos e produtos biológicos. A Osmose Reversa também tem obtido sucesso na reciclagem de efluentes líquidos industriais. [11] Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 25 George de Souza Mustafa Histórico O fenômeno osmótico foi observado pela primeira vez, em 1748, por Abbé Nollet, [11] quando constatou que a água podia se difundir através da bexiga de porco espontaneamente em álcool. Os experimentos posteriores foram dificultados pela baixa confiabilidade nas membranas animais. Vários materiais foram utilizados como membranas, entretanto, todos apresentaram vazamentos, vida curta e baixa reprodutibilidade. O interesse pelo processo osmótico diminuiu devido a inexistência de membranas confiáveis. Só em 1950, devido a previsão de escassez de água nos Estados Unidos da América, o Departamento do Interior deste país criou o “Office of Saline Water” (OSW), um fórum para avaliar métodos existentes de purificação de água. A Osmose Reversa mostrou-se atrativa devido à sua simplicidade e baixa exigência de energia. Porém, era necessário desenvolver membranas de baixo custo, resistentes, confiáveis e seletivas. [11] Já em 1958, Reid e Breton [11] demonstraram que acetato de celulose possuía boa seletividade. Entretanto, o transporte de água era baixo e possuía uma vida útil muito curta, tornando impraticável o seu uso para Osmose Reversa. Em 1960, Loeb e Sourirajan [11] melhoraram a permeabilidade do fluxo da membrana de acetato de celulose, através de tratamento térmico do filme e pela adição de agentes de inchamento na formulação da membrana. O filme resultante tinha dez a vinte vezes a taxa de transporte de água. Este trabalho demonstrou que a tecnologia necessária para purificar a água por Osmose Reversa estava disponível. A partir deste ponto, o maior avanço foi o desenvolvimento da engenharia e do mercado do sistema de Osmose Reversa. Em 1970, surgiram as membranas feitas de um polímero de poliamida (aramida), resistentes à hidrólise e ao ataque biológico, porém menos resistentes ao cloro do que as membranas de acetato de celulose. Sete anos mais tarde foi introduzida no mercado uma membrana de poliamida, consistindo de uma fina película composta formada por uma técnica de polimerização localizada. Uma camada de solução aquosa de uma amina polimerizável é depositada numa superfície microporosa de polisulfona, suportada em uma camada entrelaçada de poliéster. Na presença de compostos reativos, forma-se uma membrana resistente à hidrólise e ao ataque biológico, porém é ainda mais sensível à degradação pelo cloro que as membranas de aramida. [10] Atualmente são comercializados os três tipos de membranas: acetato de celulose, aramida e película composta. Esta última é a mais utilizada, já que possui alta rejeição de sais, com baixo consumo de energia. No entanto, devido a sua baixa resistência ao cloro, a carga a ser tratada deve ser desclorada antes de passar pelas membranas. [7], [10] Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 26 George de Souza Mustafa Projeto Uma unidade de Osmose Reversa típica consiste basicamente de um sistema de pré-tratamento, bomba de alimentação e permeador (ver figura 4.4). PRODUTO ALIMENTAÇÃOPermeador Sistema Bomba CONCENTRADO de Pré-tratamento Figura 4.4 Sistema de Osmose Reversa Um sistema efetivo de pré-tratamento para a corrente de alimentação é de fundamental importância para minimizar problemas com incrustações e degradação das membranas, maximizando a eficiência da unidade de Osmose Reversa. A incrustação em membranas de Osmose Reversa ocorre quando os sais dissolvidos atingem os seus respectivos limites de solubilidade. Os compostos mais comuns encontrados incrustados nas membranas são: CaSO4, CaCO3, CaF2, BaSO4, SrSO4 e sílica. O abrandamento por troca iônica para remoção de cátions insolúveis, dosagem de produtos antiincrustantes, como fosfatos inorgânicos e fosfonatos orgânicos, e injeção de ácido para reduzir a solubilidade dos sais são os métodos mais utilizados para minimizar o potencial de incrustação de minerais na superfície das membranas. [7] Além de sais dissolvidos, os sólidos suspensos e material coloidal podem provocar também incrustações nas membranas. Normalmente, é empregada a filtração em meios de multicamadas (poros de 1 a 5 µm) para remover estes materiais na corrente de alimentação antes de passar através das membranas. [12], [13] Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 27 George de Souza Mustafa Compostos oxidantes (cloro, ozônio etc.) presentes na corrente de alimentação podem também degradar as membranas. As técnicas mais empregadas para remover esses compostos indesejáveis são a adsorção em carvão ativado e reação com agentes químicos redutores como o bisulfito de sódio. [7] As limitações de composição da corrente de alimentação pré-tratada que devem ser consideradas no projeto de uma unidade de Osmose Reversa estão apresentadas na tabela 4.3. Tabela 4.3 Limitações de projeto da Osmose Reversa PARÂMETROS UNIDADES VALORES MÁXIMOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Temperatura º C 50 7, 10, 12, 14 pH - 2 a 11 7, 12, 14 Cloro livre ppm 1 12, 14 Turbidez unt 1 12 Óleos e graxas ppm Isento 10 Após passar pelo sistema de pré-tratamento, a corrente de alimentação é enviada para os permeadores, através de bombas centrífugas, a uma pressão bem acima da sua pressão osmótica. A separação na Osmose Reversa é obtida sem mudança de fase, assim a energia requerida é baixa. O maior consumo de energia neste sistema é exatamente pelo acionamento dessas máquinas de fluxo. Esse consumo pode ser reduzido através da utilização de turbinas de recuperação de pressão instaladas no fluxo de saída do concentrado. [7] O produto e o concentrado são retirados continuamente na saída dos permeadores - vasos de pressão onde são instaladas as membranas - de modo que a pressão osmótica e a concentração de sais se mantenham em níveis aceitáveis para que o processo não seja interrompido. Sistemas com múltiplos arranjos de permeadores são utilizados para obter altas taxas de recuperação de água. Normalmente, dois arranjos em série são suficientes para atingir recuperações na faixa de 70 a 80% e três para mais altas recuperações (80 a 90%). [7], [10], [12] Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 28 George de Souza Mustafa A eficiência de um sistema de Osmose Reversa é tipicamente determinada pela vazão do produto e taxa de rejeição de sais. Estes parâmetros são, principalmente, influenciados pela pressão, temperatura, taxa de recuperação de água e concentração de sais na corrente de alimentação. Na prática, existe normalmente uma sobreposição de dois ou mais efeitos. A vazão de produto cai durante a vida útil da membrana de forma lenta e permanente devido a compactação e hidrólise contínuas da membrana. Para se manter o fluxo constante, deve-se aumentar a pressão de alimentação continuamente, que por sua vez pode compactá-la mais ainda. Normalmente, a sua área é superdimensionada visando manter a pressão de operação o máximo possível constante e a aumentar a sua vida útil. A taxa de rejeição de sais aumenta, como regra geral, com o seu grau de dissociação, carga iônica, peso molecular, força da ponte de hidrogênio e com o grau de ramificações moleculares das membranas. Na tabela 4.4 são apresentados valores típicos de taxas de rejeição. A queda da taxa de rejeição e vazão de produto são os problemas mais comuns encontrados em sistema de Osmose Reversa. Se estes parâmetros estiverem caindo lentamente, 10% em 3 meses, no mínimo, indica que a incrustação está ocorrendo de forma regular e aceitável, podendo ser apropriadamente eliminada através de limpeza química. Nesta limpeza, a remoção de depósitos minerais e substâncias orgânicas é realizada através de injeção de ácido e produtos alcalinos, respectivamente. Já a desinfecção das membranas pode ser feita com peróxido de hidrogênio, formaldeído ou ácido peracético com o intuito de corrigir ou evitar crescimento bacteriológico. [7], [15] Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 29 George de Souza Mustafa Tabela 4.4 Taxas de rejeição da Osmose Reversa PARÂMETROS TAXAS DE REJEIÇÃO (%) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alcalinidade 84 - 91 16 Alumínio 96 - 100 17 Amônia 71 - 100 14, 16, 17 Benzeno 50 - 97 16, 18, 19 Bicarbonato 98 7, 11 Cálcio 97 - 100 7, 16, 20, 22, 23 Carbono orgânico total 90 - 100 18, 19, 20, 22 Ciclohexano 90 16 Cloreto 91 - 100 7, 14, 20, 22 Cobre 82 - 100 7, 16, 18, 19 Condutividade 82 - 98 16, 19 Cor 88 - 99 16, 24 DBO 81 - 92 16, 17, 18, 19, 24 DQO 18 - 100 16, 17, 18, 19, 24, 25 Dureza cálcio 99 - 100 16 Dureza total 99 - 100 16 Etilbenzeno 78 16 Fenol 25 - 89 18, 19 Ferro 50 - 100 16 Fosfato 94 - 99 16 Isopentano 87 16 Magnésio 97 - 100 7, 14, 16, 20, 23 N-Hexano 99 16 Níquel 99 7 Nitrato 93 - 99 7, 14, 16, 22 Óleos e graxas 50 - 86 17, 18, 19, 25 Sílica solúvel 75 - 100 7, 14, 16, 20, 22 Sódio 84 - 100 7, 14, 20, 22 Sólidos totais dissolvidos 70 - 99 16, 17, 18, 19, 21, 22, 24, 25, 26 Sulfato 95 - 100 7, 14, 16, 20, 22, 23 Tolueno 0 - 20 16, 18, 19 Turbidez 33 - 92 16 Xilenos 84 - 86 16 Zinco 84 - 100 16, 18, 19 Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 30 George de Souza Mustafa 4.2.2 Troca Iônica Conceito A desmineralização de água pelo processo de troca iônica é um sistema clássico de purificação utilizado para remoção de íons, compostos fracamente ionizáveis (sílica e dióxido de carbono), compostos fenólicos e ácidos orgânicos. É aplicado também na indústria alimentícia para descoração de açúcar, desacidificação de sucos de fruta, na produção de água ultrapura para a indústria de semicondutores eletrônicos, purificação de condensados e tratamento de efluentes líquidos. Inicialmente, a corrente de alimentação passa por vasos de pressão contendo resina catiônica (R - H), onde ocorre a troca dos cátions (M+n) presentes pelos íons hidrônios (H+) da resina: n R - H + M +n → Rn - M + n H + A corrente de saída desses vasos, que é denominada de água descationizada, possui caráter ácido em função dos íons hidrônios liberados pela resina. Em seguida, ocorre a troca dos ânions (N -m) por íons hidroxilas (OH-), através de vasos de pressão contendo resina aniônica (R - OH): m R - OH + N -m → Rm - N + m OH - Os ânions ficam retidos nessa resina e os íons hidroxilas produzidos na troca iônica neutralizam os íons hidrônios provenientes das resinas catiônicas, formando mais moléculas de água: H + + OH - → H2O Devido a boa afinidade química entre os ânions carbonatos e bicarbonatos e os íons hidrônios, grandes quantidades de CO2 podemser produzidas, quando águas contendo estes ânions são descationizadas: CO3 -2 + 2 H + → H2O + CO2 HCO3 - + H + → H2O + CO2 Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 31 George de Souza Mustafa Como o CO2 reage com a água formando os ânions HCO3 - e CO3 -2, deve ser removido antes dos leitos aniônicos, de forma a reduzir o volume necessário para essas resinas. A remoção desse gás pode ser realizada através de aeração da água descationizada em torres descarbonatadoras atmosféricas, que utilizam ventiladores externos com tiragem induzida. Nos processos que exigem uma qualidade superior, a água ainda passa por vasos de pressão denominados de leito misto, que contêm resinas catiônicas e aniônicas, com a finalidade de remover os íons que não foram retidos pelos leitos catiônicos e aniônicos, a montante. Existem processos que não necessitam da desmineralização rigorosa da água, como por exemplo, os sistemas de geração de vapor de baixa pressão. Nestes casos, a água passa apenas através de leitos catiônicos especiais, onde os íons Ca +2 e Mg +2 são trocados por Na+. Esta desmineralização parcial é denominada de abrandamento: 2 R - Na + Ca +2 → R2 - Ca + 2 Na + 2 R - Na + Mg +2 → R2 - Mg + 2 Na + Após um determinado tempo de operação, ocorre a saturação das resinas com a substituição total dos íons hidrônios e hidroxilas por cátions e ânions presentes na água. Assim, é necessário realizar a regeneração dessas resinas, de forma que elas possam ser reutilizadas em uma nova campanha. Na realidade, a regeneração é um processo inverso à desmineralização, ou seja, os cátions e ânions removidos pelas resinas, anteriormente, são substituídos por íons hidrônios e hidroxilas fornecidos por ácidos e produtos alcalinos (regenerantes). Desta forma, as resinas retornam à composição original: Rn - M + n H + → n R - H + M +n Rm - N + m OH - → m R - OH + N -m A regeneração é a etapa mais delicada do ciclo de funcionamento, uma vez que dela depende a qualidade da água produzida, o consumo específico de regenerantes e a vida útil da resina. Normalmente, as resinas catiônicas de sistemas de abrandamento são regeneradas por cloreto de sódio e as de sistemas de desmineralização utilizam os ácidos sulfúrico e clorídrico. Para a regeneração das resinas aniônicas podem ser utilizados soda caústica, carbonato de sódio ou hidróxido de amônio. Existem quatro tipos básicos de resina: catiônica fracamente ácida e fortemente ácida e aniônica fracamente básica e fortemente básica. Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 32 George de Souza Mustafa As resinas catiônicas fracamente ácidas são produzidas, atualmente, a partir da reação de ácido acrílico com divinilbenzeno. O grupo ativo resultante é o carboxílico (-COOH) que somente tem afinidade com os cátions ligados a ânions de ácidos mais fracos do que o ácido carboxílico da resina, tal como HCO3 -. Assim, o emprego dessas resinas é viável apenas com águas que contenham um teor relativamente elevado de alcalinidade. [27] As fortemente ácidas são produzidas a partir da sulfonação de um copolímero de estireno. Os grupos sulfônicos formados (-SO3H) possuem caráter ácido forte, o que assegura a remoção de todos os cátions ligados a quaisquer ânions, sejam fortes ou fracos. [27] O grupo ativo das resinas aniônicas fracamente básicas é uma amina terciária e sua capacidade de remoção fica restrita aos ânions que formam ácidos fortes, tais como: SO4 -2, NO3 - e Cl -. Elas não têm capacidade de remover sílica e HCO3 -. A fortemente básica é obtida através da reação de estireno ou ácido acrílico com divinilbenzeno, cujos grupos ativos são, respectivamente, trimetilamina e dimetiletanolamina, que têm afinidade por todos os ânions presentes na água. [27] Em termos gerais, a seletividade das resinas é função das suas propriedades físico-químicas: tamanho de partícula, grau de ligações cruzadas, capacidade e tipos de grupos funcionais, do íon a ser trocado: tamanho e carga, da natureza da corrente de alimentação: concentrações e proporções e do tempo de reação. Para as resinas catiônicas, a seletividade nas condições normais varia da seguinte forma: Ca +2 > Mg +2 > Na +. Assim, a retenção do sódio é a etapa determinante do final do ciclo, já que este íon é o último a ser retido pela resina. As resinas aniônicas são mais seletivas aos ânions fortes (sulfato, cloreto e nitrato) do que aos fracos (carbonatos, bicarbonatos e silicatos) e o final do ciclo é determinado, normalmente pelos silicatos. [27] Histórico Desde 1104, quando Hales [27] narrou a purificação de água usando argilas de poços de rochas, que a capacidade de troca iônica de determinados materiais tem sido estudada. Em 1833, Fuchs [27] descreveu a propriedade de certas argilas de liberar potássio e sódio quando tratadas com cal. Quinze anos mais tarde, Thompson e Way [27] descobriram o fenômeno de regeneração quando trataram um determinado solo com sulfato ou carbonato de amônio e verificaram que a maior parte da amônia era absorvida, enquanto que o cálcio era liberado. Posteriormente, em 1876, Lemberg [27] descobriu que era possível transformar leucita (K2O.Al2O3.4SiO2) em analcita (Na2O.Al2O3.4SiO2.2H2O), tratando-a com solução de cloreto de sódio e que a transformação poderia ser invertida pelo emprego de uma solução de cloreto de potássio. Apesar do avanço que estes estudos representaram, muitos anos se passaram sem que houvesse um progresso significativo na utilização prática da técnica de Troca Iônica. Somente Reutilização de Efluentes Líquidos em Indústria Petroquímica 33 George de Souza Mustafa depois dos trabalhos de Pauling e Bragg [27] sobre estruturas cristalinas de mica e argilas, seguidos de trabalhos de outros pesquisadores, [27] que relacionavam a estrutura cristalina e a Troca Iônica, é que se passou a ter uma melhor compreensão deste processo. Em 1935, Adams e Holmes [27], [28] descobriram que certas resinas sintéticas eram capazes de trocar íons. Inicialmente, demonstraram que trocadores catiônicos com boa estabilidade e alta capacidade podiam ser preparados através de resinas ácidas sulfônicas e que resinas do tipo poliamina tinham propriedades de trocadores aniônicos. Este trabalho pioneiro foi seguido pelas descobertas de D’Alelio, [27] com a síntese de resinas de Troca Iônica marcadamente estáveis e versáteis, derivadas do estireno e acrílico. A possibilidade de sintetizar resinas com capacidade de trocar íons representava uma maneira de obter resinas de Troca Iônica com características físicas e químicas sob medida para cada aplicação específica. A aplicação das resinas sintéticas saiu dos laboratórios e passou para a etapa industrial. A utilização de resinas de Troca Iônica para separações, recuperações, desmineralizações, catálises e abrandamento em escala industrial, tornou-se uma realidade. Desde então, a evolução desta tecnologia tem sido focalizada no desenvolvimento de novos produtos, como os copolímeros de estireno e divinilbenzeno, e os copolímeros acrílico, metacrílico e divinilbenzeno. [27] Projeto Existem várias possibilidades de configuração de projeto para sistemas de Troca Iônica que estão relacionadas com a combinação de resinas a ser utilizada, seja por tipo catiônica, aniônica e leito misto ou por grau fraco e forte. A qualidade da água desejada é o fator determinante na escolha do tipo de sistema de Troca Iônica mais adequado. Outros aspectos importantes a serem considerados são os custos de investimento, operação e manutenção. Nas figuras 4.5, 4.6 e 4.7 são apresentadas algumas configurações típicas de projeto (resinas fortes) .
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