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TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO DE ÁGUA, ESGOTOS E EFLUENTES INDUSTRIAIS Profs.: Cristina Ap. V. B. de Sales Oliveira e Cristiano A. de Carvalho 2 SUMÁRIO 1 QUALIDADE DA ÁGUA ............................................................................. 3 2 SISTEMAS DE TRATAMENTO DE ÁGUA .................................................. 28 3 SISTEMAS DE TRATAMENTO AVANÇADOS DE ÁGUA ............................. 39 4 SISTEMAS DE TRATAMENTO DE ESGOTOS ............................................. 60 5 SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO ............................................... 93 6 REÚSO DE ÁGUA .................................................................................. 117 3 1 QUALIDADE DA ÁGUA Olá, aluno! Neste bloco serão apresentados alguns conceitos relacionados à qualidade e distribuição de água no planeta, como também os principais parâmetros à qualidade da água, estabelecidos pelas resoluções normativas. Serão também apresentadas as principais formas de poluição hídrica e a necessidade de tratamento de água e efluentes, baseada na Lei Nacional de Saneamento Básico. Ao concluir a disciplina, você poderá aplicar os conceitos aprendidos para atuar em diversos segmentos, como, por exemplo: estações de tratamento de água e efluentes, gestão de recursos hídricos, segmentos industriais que necessitam de fornecimento de água de qualidade aos seus processos e todos os segmentos industriais e comerciais que precisam se adequar à legislação aplicada ao lançamento de efluentes em recursos hídricos. Bons estudos! 1.1 Características da Água Recurso natural que compõe cerca de 60% do corpo humano, a água é o fluido celular cujo papel é a troca de calor e transporte de oxigênio, nutrientes, dentre outros elementos essenciais, através da corrente sanguínea. Também tem aplicação em diversos processos industriais e agrícolas, além de ser considerada a base para manutenção da vida na superfície da Terra. Segundo Telles (2010), a distribuição de água no planeta não é realizada de forma igualitária na superfície terrestre, sendo que 97,5% representam a quantidade de água salgada e 2,5% de água doce; esta última está distribuída da seguinte maneira: 68,9% em calotas polares; 29,9 % em águas subterrâneas; 0,3% em águas superficiais (águas doces de rios e lagos) e 0,9% em outros reservatórios. 4 Além de apresentar implicações ambientais importantes, a exploração da água reservada em calotas polares apresenta elevado dispêndio financeiro, uma vez que está localizada longe dos centros consumidores. O uso de águas subterrâneas também é limitado por fatores econômicos e ambientais. Dessa forma, as águas distribuídas na superfície da Terra são as opções economicamente viáveis para abastecimento urbano e uso agrícola e industrial, devido principalmente à facilidade de extração. O uso intensivo e desigual da água tem ocasionado diversos problemas de escassez hídrica, ocasionada pelo aumento populacional, concentração populacional em áreas de menor disponibilidade hídrica, poluição ambiental e alterações climáticas, especialmente em regiões de maior vulnerabilidade a mudanças. Estudos indicam que o consumo de água está diretamente relacionado às condições socioeconômicas da população, em que se observa maior desperdício do recurso em regiões mais desenvolvidas e com maior disponibilidade hídrica. Embora haja problemas relacionados à quantidade de água – escassez hídrica, períodos de estiagens e cheias –, persiste um problema relacionado à qualidade dos recursos hídricos, especialmente das águas superficiais. Nesse sentido, diversos fatores têm comprometido a qualidade dessas águas. Dentre eles, podemos citar: Urbanização desordenada; Uso e ocupação inadequados do solo; Desmatamento, que proporciona uma alteração no ciclo hidrológico; Uso agrícola intensivo; Coleta e tratamento ineficientes de efluentes domésticos e industriais; Poluição industrial; Lançamento de esgotos clandestinos em recursos hídricos; Falha no sistema de distribuição de água tratada, que contribui para o desperdício de água; Falta de conscientização de que a água é um bem finito e de importante valor econômico; Descarte inadequado de resíduos sólidos e industriais. 5 A agricultura é o setor que demanda maior quantidade de água, em comparação aos setores industrial e doméstico, sendo utilizada principalmente na irrigação. É também o setor que mais contribui para a degradação da qualidade e quantidade dos recursos hídricos devido, principalmente, ao desperdício ocasionado muitas vezes pela falta de manutenção dos sistemas de irrigação, falta de conscientização e contaminação de água e do solo através do uso de defensivos agrícolas. Com isso, a qualidade da água está diretamente relacionada à sua aplicação. Assim, dependendo do uso previsto, faz-se necessário atender a padrões mínimos de qualidade, sendo muitas vezes associados a tratamentos prévios. Ela pode ser encontrada nos três estados: sólido, líquido e gasoso, sendo que em condições normais de temperatura e pressão (CNTP), apresenta-se no estado líquido. Sua densidade varia em função da temperatura, substâncias dissolvidas e pressão. No estado líquido, a água atinge sua máxima densidade a 4°C, variando o valor em torno de 1.000kg/m3. A densidade de uma substância representa a quantidade de massa em uma unidade de volume (g/cm3), sendo a da água inversamente proporcional à temperatura. A densidade da água líquida é menor a 100°C quando está prestes a passar para o estado de vapor, e a presença de sais dissolvidos também altera a densidade da água; portanto, de acordo com Braga (2005), a do mar é maior em relação à água pura nas CNTP, ficando em torno de 2%. Em estado sólido (congelada), a água dilata e, portanto, aumenta seu volume, que acarreta na diminuição da densidade e, consequentemente, o gelo torna-se menos denso que a água líquida e flutue. Este comportamento tem uma relação direta com a manutenção da vida em regiões de invernos rigorosos. Nestas regiões, quando a água dos rios congela, a camada de gelo fica próxima à superfície, ocasionando um isolamento no restante do recurso hídrico que permanece líquido, garantindo a possibilidade de vida abaixo dessa camada. 6 O calor específico da água é a quantidade que deve ser fornecida para que 1g de uma determinada substância tenha o acréscimo da temperatura em 1°C. A capacidade calorífica é dada pelo calor específico da substância dividido pela sua massa, e é utilizado para relacionar a variação da energia interna com a temperatura. Sua unidade representativa é dada por J/kg K ou cal/g °C, e representa a capacidade da substância absorver ou liberar calor. A água é a substância que tem um calor específico elevado, de forma que pode absorver ou liberar grandes quantidades com uma variação pequena na temperatura. Ao se referir à qualidade da água, a cor e a turbidez são parâmetros muito importantes, pois interferem diretamente no processo de fotossíntese e na seleção e operacionalização do tratamento de água. Formada por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, ela é considerada um solvente universal, capaz de dissolver uma variedade significativa de substâncias orgânicas e inorgânicas. Devido a sua capacidade em dissolver compostos, torna-se o destino final de muitos poluentes lançados nos recursos hídricos indevidamente, ocasionando diversos problemas sanitários e ambientais. O ponto de fusão representa a temperatura em que uma substância passa do estado sólido para o estado líquido, e o ponto de ebulição se refere à temperatura em que uma substância líquida passa para o estado gasoso, sob uma determinada pressão. A água possui pontos de fusão e ebulição elevados, se comparada àsdemais substâncias com características químicas similares, pois depende das interações intermoleculares e do arranjo dos átomos ou moléculas. A tensão superficial é uma propriedade das substâncias que caracteriza a energia necessária para aumentar a área superficial de um líquido, fazendo com que a esta camada se comporte como uma membrana elástica. As forças de coesão ligam as moléculas entre si e as de adesão, a uma superfície. Esta propriedade é causada pelas forças de coesão e adesão entre moléculas semelhantes, e depende da variação da temperatura, pois o aumento deste parâmetro reduz a eficiência das forças de atração, ocasionando uma redução na tensão superficial. 7 Uma importante característica que possibilita o desenvolvimento de vida é a presença de alguns gases dissolvidos na água, além das reações químicas e biológicas. A concentração de dióxido de carbono e oxigênio possibilitam o processo de fotossíntese e respiração. Além disso, os sais também contribuem para o fornecimento de nutrientes para organismos autótrofos. O pH mede a alcalinidade e acidez, que, em condições normais, a água pura a 25°C é de 7. Quando em meio ácido, o pH varia entre 0 a 7 e, em meio básico, entre 7 a 14. A importância do pH se deve à influência que uma variação neste parâmetro exerce sobre o equilíbrio de compostos químicos e das reações químicas e biológicas que ocorrem no meio. 1.2 Parâmetros de qualidade da água Para avaliar a qualidade dos recursos hídricos, é necessário determinar alguns parâmetros que, segundo Braga (2005), podem ser divididos em físicos, químicos e biológicos. Muitos destes parâmetros indicadores de qualidade sinalizam impurezas quando superam limites preestabelecidos pela legislação vigente. Tais parâmetros são bastante utilizados para caracterizar águas residuárias, mananciais, de abastecimento e de reúso, bem como estabelecer tratamentos adequados aos recursos hídricos e efluentes. Também comentados no item anterior, seguem listados abaixo: Cor: característica que sinaliza a existência de substâncias em solução (sólidos dissolvidos), muitas vezes de origem orgânica. A cor da água pode ser de origem natural, através da decomposição de matéria orgânica e presença de ferro e manganês; ou de origem antropogênica, pela presença de resíduos industriais e efluentes domésticos. Este parâmetro é muito utilizado na caracterização de águas de abastecimento, e a unidade de medida é o uH (Unidade Hazen). Para valores inferiores a 5 uH, não há a necessidade de coagulantes no processo de tratamento de água. Para águas que apresentam cor superior a 25 uH há a necessidade de utilização de coagulantes seguidos por unidade de filtração. 8 Turbidez: indica a presença de diversas substâncias em suspensão na água. Ela interfere na passagem da luz através da água, influenciando o processo de fotossíntese. As substâncias presentes na água podem ser de origem natural, como, por exemplo, as partículas de rochas, argila silte, algas e microrganismos. As substâncias naturais presentes na água não conferem inconvenientes sanitários diretos; entretanto, impacta esteticamente devido aos sólidos em suspensão, principalmente. Já as substâncias de origem antropogênicas, como resíduos industriais, efluentes domésticos, organismos patogênicos, erosão, entre outros, podem ocasionar influência na seleção do tipo de tratamento da água e de águas residuárias. A unidade de medida da turbidez na água é dada pelo uT (unidade de Turbidez), conhecida também como unidade de Jackson ou nefelométrica. As águas que apresentam nível de turbidez inferior a 20 uT podem ser direcionadas diretamente ao processo de filtração lenta, enquanto que níveis de turbidez superiores a 50 uT requerem a etapa de coagulação química. Sabor e Odor: estes parâmetros estão relacionados à presença de sólidos em suspensão, sólidos dissolvidos e gases dissolvidos na água. As fontes naturais dessas substâncias são os microrganismos (algas), matéria orgânica em decomposição e gases dissolvidos, e não representam riscos à saúde pública. Entretanto, podem ocasionar efeitos indesejados pela população, uma vez que, se a água não for inodora e insípida, pode ser rejeitada para consumo humano. Temperatura: refere- se à medida de intensidade de calor da água, e influencia em algumas propriedades, como densidade, viscosidade, oxigênio dissolvido, entre outras. As variações de temperatura das águas podem ser naturais (transferência de calor por radiação, condução e/ou convecção) e antropogênicas, através dos despejos de efluentes domésticos, industriais e de torres de resfriamento. 9 A unidade de medida mais usual da temperatura é em graus centígrados (oC), sendo este um parâmetro muito utilizado na caracterização de mananciais, águas residuárias, entre outros efluentes. Quando há uma elevação na temperatura da água, ocorre uma redução na solubilidade dos gases e um aumento na taxa de transferência de gases (podendo ocasionar mau cheiro se houver liberação de gases que apresentem odores desagradáveis). Esta elevação na temperatura também ocasiona um aumento na taxa de reações químicas e biológicas. Este parâmetro deve ser analisado juntamente com o oxigênio dissolvido, pois há uma relação direta entre eles. A temperatura também é responsável pela eficácia das reações bioquímicas de degradação de poluentes. PH: o potencial hidrogeniônico (pH) quantifica a concentração de íons hidrogênio H+ presentes em uma determinada amostra, sinalizando uma condição de acidez, neutralidade ou alcalinidade ocasionada pela presença de sólidos e/ou gases dissolvidos. O valor de referência do pH varia entre 0 e 14, sendo que quanto mais próximo de zero, mais a solução analisada é acida; próximo de 14, a solução é considerada básica, e amostras com pH 7 são neutras. É um parâmetro muito importante na operacionalização de sistemas de tratamento de água, especialmente nas etapas de coagulação, no processo de desinfeção, para o controle da corrosão e remoção de dureza da água. O pH baixo indica acidez da água, o que pode provocar corrosão no sistema de tratamento e abastecimento. Quando alto, indica alcalinidade, podendo ocasionar incrustações nas tubulações. Valores de pH fora da neutralidade podem também ocasionar danos à fauna aquática e prejudicar o processo de tratamento biológico de efluentes, uma vez que este é realizado por microrganismos muitas vezes sensíveis a variação deste parâmetro. 10 Alcalinidade: refere-se à capacidade de neutralizar ácidos. Este parâmetro é influenciado pela presença de despejos industriais sem tratamento ou de forma natural através de rochas dissolvidas nas amostras de água, reações do gás dióxido de carbono (CO2) com água, sendo que este gás pode ser proveniente da atmosfera ou de matéria orgânica em decomposição. Este indicador não acarreta problemas de origem sanitária, entretanto, em altas concentrações, pode conferir um gosto amargo à água. A alcalinidade pode afetar a população de microrganismos responsáveis pelo tratamento biológico de esgotos e é utilizada na operação das estações de tratamento na etapa de coagulação e para medir o grau de incrustabilidade das tubulações. A unidade para mensuração da alcalinidade é dada em mg/L CaCO3. Acidez: este parâmetro é influenciado pela presença de gás carbônico livre (pH = 4,5 -8,2) proveniente, principalmente, pelos sólidos e gases dissolvidos (CO2 e ácido sulfídrico (H2S)). Os lançamentos de despejos industriais sem tratamento e a passagem de água por áreas de mineração podem colaborar para o aumento da acidez nas amostras de água. Em relação aos aspectos sanitários, não ocasiona prejuízos, com exceção do gosto da água, que pode ser alterado; entretanto, pode ocasionar danos às estruturas devido à corrosão das tubulações.A unidade para mensuração da acidez é dada em mg/L CaCO3. Os indicadores alcalinidade, pH e acidez estão inter-relacionados. Dureza: indica a presença de minerais na amostra de água, sendo mais comuns os sais de cálcio e magnésio. Este indicador não ocasiona prejuízos sanitários, porém pode causar sabor desagradável, além de diminuir a formação de espuma na água. Como consequência deste último, a população acaba utilizando maior quantidade de sabão, ocasionando outros danos ecológicos. A dureza é responsável por aumentar a incidência de incrustações nas tubulações, e diminui a eficiência na transmissão de calor em caldeiras e em sistemas de refrigeração. A unidade para mensuração da dureza da água é dada em mg/L CaCO3. 11 Ferro e Manganês: esses elementos na forma insolúvel Fe+3 e Mn+4 presentes no solo conferem à água uma coloração indesejável. O lançamento de efluentes industriais sem tratamento também pode intensificar a concentração destes elementos nas amostras de água. Este indicador não ocasiona impactos sanitários, porém é alvo de rejeição por parte da população devido à coloração, que pode manchar roupas. A unidade de medição destes parâmetros é mg/L. Nitrogênio: este indicador pode ser apresentado em diferentes formas, dentre elas a forma molecular, como gás atmosférico (N2), nitrogênio orgânico (dissolvido ou em suspensão), como amônia (livre NH3 e ionizada NH4+), nitrito (NO2-) e nitrato (NO3-). Este parâmetro é muito importante na caracterização das águas brutas e tratadas utilizadas para abastecimento humano. Quando em excesso, pode ocasionar problemas de eutrofização, com a consequente proliferação de algas. O nitrogênio também é muito utilizado por microrganismos em processos biológicos de tratamento de efluentes. Este elemento, na forma de amônia livre, tem caráter tóxico à fauna aquática, influenciando também algumas etapas do tratamento de esgoto no que diz respeito ao consumo de oxigênio no processo e na sedimentabilidade do lodo gerado. A unidade de medição deste parâmetro é mg/L. Fósforo: Este parâmetro, assim como o nitrogênio, também é utilizado para caracterizar a qualidade dos recursos hídricos. O fósforo está presente nas águas na forma de ortofosfato, fosfato, polifosfato e fósforo orgânico, provenientes de despejos domésticos e industriais, detergentes, fertilizantes e excretas de animais. A presença em excesso de fósforo nas águas ocasiona o mesmo problema do nitrogênio, a eutrofização, pois trata-se de um elemento indispensável ao desenvolvimento de algas. Também é importante na operação de estações de tratamento de esgoto, pois os microrganismos utilizados nestes processos utilizam esses nutrientes para seu desenvolvimento. Para tanto, é necessário um balanço de C:N:P (carbono, nitrogênio e fósforo). A unidade de medição deste parâmetro é mg/L. 12 Oxigênio Dissolvido: o oxigênio dissolvido (OD) é utilizado pelas bactérias em seus processos respiratórios para a estabilização de matéria orgânica. Durante este processo, pode haver redução da concentração de OD no recurso hídrico analisado. Se a redução for significativa, pode acarretar na morte de organismos superiores ou criar condições anaeróbias (ausência total de oxigênio), com possível proliferação de odores desagradáveis. O fornecimento de oxigênio dissolvido na água tem origem na dissolução do oxigênio atmosférico, e pode ser produzido através de organismos fotossintetizantes e através da aeração artificial. A concentração de OD nos corpos d’água varia em função da altitude e temperatura, sendo que ao nível do mar e a 20°C apresenta concentração de saturação de 9,2 mg/L. Valores acima da referência de saturação indicam presença de algas, e valores abaixo indicam presença de matéria orgânica. Matéria orgânica: este parâmetro está diretamente relacionado ao consumo de oxigênio dissolvido pelos microrganismos para a degradação da matéria orgânica, caracterizada pela medição: demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO), ou através do carbono orgânico (carbono orgânico total – COT). A DBO e DQO são os métodos indiretos mais empregados na quantificação da matéria orgânica. Ela tem sua origem principalmente em despejos domésticos e industriais, e seus valores de referência para DBO em esgotos domésticos varia em torno de 300 mg/L, e a DQO em torno de 600mg/L. Para despejos industriais, os valores são muito variados em função das características dos processos. Poluentes inorgânicos: referem-se, principalmente, aos metais presentes na água, dentre eles arsênio, cádmio, chumbo, mercúrio e prata. Os metais pesados possuem a característica de serem bioacumulativos dentro da cadeia alimentar, ocasionando danos à saúde da população e ao meio ambiente, quando em elevada concentração. A biomagnificação é um processo que ocorre quando há acúmulo progressivo de substâncias de um nível trófico para outro ao longo da cadeia alimentar. Assim, os animais do topo da cadeia alimentar contêm maiores concentrações dessas substâncias do que animais de níveis tróficos inferiores. 13 Metais pesados podem ser provenientes de despejos industriais, atividades de mineração e agrícolas. Quando em baixas concentrações, servem de nutrientes para o desenvolvimento de alguns organismos; quando em excesso, possuem um caráter tóxico para a fauna e flora, e influenciam significativamente os microrganismos que são empregados no tratamento biológico. Como parâmetros biológicos, os microrganismos têm o papel de decompor as matérias orgânica e inorgânica presentes nos corpos d’água. Entretanto, estão presentes nos recursos hídricos organismos patogênicos que são responsáveis pela transmissão de diversas doenças de veiculação hídrica. Os coliformes fecais, presentes principalmente nas fezes humanas, são indicadores da presença de organismos patogênicos na água. Este parâmetro sinaliza que o recurso hídrico em questão recebeu esgotos domésticos sem tratamento, podendo causar diversos tipos de doenças. Algas são organismos fotossintetizantes que utilizam os nutrientes lançados nos recursos hídricos para seu desenvolvimento. Estes também são responsáveis pelo consumo de oxigênio dissolvido da água. Quando em excesso, colaboram para o processo de eutrofização, acarretando em sabor e odor desagradáveis, aumentando a toxicidade do meio e contribuindo para a elevação da turbidez e coloração da água. As algas podem influenciar nos processos de tratamento de água, além de causarem impacto visual aos recursos hídricos. O Índice de Qualidade de Água (IQA) é um número adimensional que indica a qualidade da água para abastecimento, uso industrial, uso agrícola, dentre outros fins. O IQA é calculado a partir de diversos parâmetros físicos, químicos e biológicos e, dentre eles, podemos citar coliformes fecais, pH, DBO, nitrogênio total, fósforo total, temperatura, oxigênio dissolvido, resíduo total e turbidez. Valores baixos de IQA sinalizam má qualidade da água, muitas vezes impossibilitando seu uso para abastecimento humano, entretanto, segundo Braga (2005), esta pode ser aproveitada para uso menos nobre, como por exemplo, navegação ou geração de energia. 14 O IQA é representado pela seguinte equação: Onde: n é o número de parâmetros utilizados no cálculo do índice qi é o valor do parâmetro i numa escala de 0 a 100 wi representa o peso atribuído ao parâmetro i analisado. 1.3 Padrão de qualidade da água A qualidade da água é definida com base em um conjunto de características físicas, químicas e biológicas em função da sua aplicação. Com isso, há um conjunto de requisitos necessários para atender a um padrão de qualidade da água desejável, seja para consumo humano, uso industrial ou agrícola, lazer ou manutenção do equilíbrio ambiental. Para tanto, a águade boa qualidade deve atender aos seguintes critérios de potabilidade: Organoléptica: não possuir odor e sabor indesejáveis; Física: não apresentar cor e turbidez acima dos limites permitidos pela legislação; Química: não conter substâncias tóxicas ou nocivas; Biológica: não possuir microrganismos patogênicos; Radioativa: deve atender aos limites previstos na portaria 036/1990. Para atendimento dos usos previstos, é necessário enquadrar as águas em classes, de forma a estabelecer critérios que deverão ser atendidos. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), através da resolução 357/2005, dispõe sobre a classificação dos corpos d’água e estabelece as diretrizes ambientais para o seu enquadramento. Esta mesma resolução estabelece ainda as condições e padrões de lançamento de efluentes nos recursos hídricos. O objetivo do enquadramento é assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas, bem como diminuir os custos de combate à poluição, mediante ações preventivas permanentes. 15 De acordo com essa normativa, os padrões de qualidade de água estabelecem limites permissíveis para cada substância a ser analisada em função da classificação do corpo d’água. A qualidade da água está diretamente relacionada ao tipo de uso ao qual se destina e os padrões de qualidade estão estabelecidos na resolução CONAMA 357/2005 e nas suas modificações nas resoluções 410 de 2009 e 430 de 2011. De acordo com a Resolução CONAMA 357/2005, as águas são divididas em doces, salinas e salobras, sendo a água doce de interesse ao abastecimento humano, uso industrial e agrícola, é subdividida em cinco classes, conforme a seguir: I Classe Especial – águas destinadas: a. ao abastecimento doméstico sem prévia ou com simples desinfecção; b. à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e c. à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de proteção integral. II - Classe 1 – águas que podem ser destinadas: a. ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado; b. à proteção das comunidades aquáticas; c. à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000; d. à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película; e e. à proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas. III - Classe 2 – águas que podem ser destinadas: a. ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; b. à proteção das comunidades aquáticas; c. à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000; d. à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e e. à aquicultura e à atividade de pesca. 16 IV - Classe 3 – águas que podem ser destinadas: a. ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; b. à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; c. à pesca amadora; d. à recreação de contato secundário; e e. à dessedentação de animais. V - Classe 4 – águas que podem ser destinadas: a. à navegação; e b. à harmonia paisagística. No que diz respeito ao lançamento de efluentes, vale destacar que, independentemente da fonte poluidora, somente poderá ser despejado nos corpos d’água, direta ou indiretamente, após o devido tratamento, obedecendo às condições, padrões e exigências dispostos na resolução 357/2005 do CONAMA. Há uma particularidade nesta lei, que diz que não é permitido o lançamento de efluentes ou disposição de resíduos domésticos, agropecuários, de aquicultura, industriais e de quaisquer outras fontes, mesmo que tratados, em águas de classe especial. De acordo com a Política Nacional dos Recursos Hídricos – Lei nº 9.433/1997, em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos destina-se ao consumo humano e à dessedentação de animais. A Portaria nº 2.914 de 2011 do Ministério da Saúde dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Este refere-se a um conjunto de valores permitidos como parâmetro da qualidade da água para consumo humano. De acordo com esta normativa, toda água destinada ao abastecimento humano que seja distribuída de forma coletiva ou individual deve ser objeto de controle e vigilância sanitária, sendo submetida a um processo de desinfecção ou cloração. As águas superficiais devem ser submetidas a processo de filtração (BRASIL, 2011, p. 1). 17 Conforme estabelece a normativa sobre as águas para abastecimento humano, o padrão microbiológico exige ausência em 100 mL para o parâmetro Escherichia coli, que indica contaminação fecal. Com relação à turbidez para as etapas do tratamento de água, requer-se na desinfecção (para águas subterrâneas) 1,0 uT em 95% das amostras, na Filtração rápida (tratamento completo ou filtração direta) 0,5 uT em 95% das amostras, e na Filtração lenta 1,0 uT em 95% das amostras. No anexo da portaria estabelecem-se valores máximos permissíveis (VMP) para as características físicas, químicas, microbiológicas, organolépticas e radioativas da água. Para saber mais, recomenda-se a leitura da Portaria do MS nº 2.914 de 2011. 1.4 Poluição hídrica: alteração da qualidade da água Segundo Braga (2005), poluição hídrica é definida como qualquer alteração nas características da água, seja de origem natural ou antrópica, que possa ocasionar danos à saúde da população e ao meio ambiente. A alteração da qualidade das águas é um problema de saúde pública, uma vez que é responsável pela transmissão de diversas doenças de veiculação hídrica. Para ilustrar a questão da alteração da qualidade da água, é necessário definir dois conceitos importantes: contaminação e poluição. Poluição é qualquer elemento que altera o aspecto da água. A poluição pode não acarretar danos à saúde da população, porém pode ocasionar danos ambientais. Contaminação se dá quando há fatores patógenos ou químicos que alteram as características da água. A contaminação (por exemplo, a presença de patogênicos) não implica necessariamente em desequilíbrio ecológico, embora possa causar danos à saúde pública. Como ilustração, temos outro exemplo: um corpo hídrico pode estar poluído devido à presença de sólidos em suspensão, porém não necessariamente está contaminado. A contaminação ocorrerá caso haja presença de microrganismo patogênico (bactérias) ou algum componente químico, por exemplo, o mercúrio. As principais fontes de poluição das águas são os efluentes domésticos, industriais e da exploração agrícola, que geralmente estão associados ao tipo de uso e ocupação do solo. 18 Há dois tipos de fontes de poluição ambiental: as fontes pontuais e as difusas. Das pontuais, por exemplo, o lançamento de efluentes domésticos ou industriais são de fácil identificação e, consequentemente, podem ser controladas. As difusas são conhecidas por não terem um ponto específico de lançamento, por exemplo, a poluição decorrente de fertilizantes agrícolas que, a partir da precipitação (chuvas), podem chegar aos recursos hídricos mais próximos. Os efluentes domésticos são compostos basicamente por detritos orgânicos, alimentos, detergentes, carboidratos, gorduras, proteínas, fósforo, nitrogênio e microrganismos. A matéria orgânica de origem doméstica ou industrial, ao ser lançada sem tratamento no recurso hídrico, será degradada pelos decompositores. Se houver oxigênio dissolvido na água, as bactérias aeróbias se encarregarão de realizar a degradação da matéria orgânica, consumindo o oxigênio presente; caso contrário, as bactériasanaeróbias deverão assumir a tarefa de consumir a matéria orgânica, promovendo a formação de gases como o metano e gás sulfídrico. Os decompositores degradam a matéria orgânica por meio de processos bioquímicos, e os organismos aeróbios respiram o oxigênio dissolvido na água e iniciam um processo de competição com demais seres presentes. Estes possuem algumas vantagens, pois há alimento à disposição (matéria orgânica) e são organismos que requerem baixa concentração de oxigênio para sobrevivência, de forma a se sobressaírem em relação aos demais. Sob esta condição, os peixes e demais organismos superiores, que requerem uma concentração maior acabam morrendo e então tem-se um aumento da população de decompositores na água. Dessa forma, conclui-se que o lançamento inadequado de matéria orgânica, principalmente de origem doméstica, ocasiona a redução da concentração de oxigênio dissolvido e a morte de diversas espécies. Quando há ausência total de oxigênio dissolvido, tem-se condições para o desenvolvimento de espécies anaeróbias, que liberam substâncias causadoras de odores desagradáveis e formação de gases como o metano. 19 O oxigênio dissolvido é produzido através da atividade fotossintética de organismos autótrofos ou pela reaeração, que se refere à transferência de oxigênio atmosférico para o meio aquático por meio da interface ar-água. Quando um corpo hídrico recebe o lançamento inadequado de matéria orgânica biodegradável, as características físicas, químicas e as interações biológicas fazem com que ele tente restabelecer o equilíbrio do ecossistema a partir de um fenômeno denominado autodepuração. De acordo com Braga (2005), este processo pode ser dividido em duas fases: decomposição e recuperação do nível inicial de oxigênio no corpo hídrico, representadas por cinco regiões ao longo do processo, que são descritas a seguir. Fase 1: Decomposição Fase na qual os microrganismos aeróbios utilizam o oxigênio dissolvido na água para decompor a matéria orgânica. A quantidade utilizada é comumente chamada de DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio. Este parâmetro serve para medir o potencial poluidor de algumas substâncias biodegradáveis no que diz respeito à redução de oxigênio dissolvido. No fim desta fase, a matéria orgânica encontra-se degradada ou estabilizada, restando apenas água, gás carbônico e sais minerais. Fase 2: Recuperação do oxigênio dissolvido ou reaeração No final da primeira fase, é comum se exaurir todo o oxigênio do recurso hídrico, caso a quantidade de matéria orgânica despejada no rio exceder a capacidade de o recurso hídrico se recuperar. Como o alimento dos decompositores acabou (a matéria orgânica foi decomposta), estes organismos morrem e, portanto, começa-se a restabelecer a concentração de oxigênio no meio. A Figura 1.1 apresenta as distintas regiões características do processo de autodepuração, e a Figura 1.2 apresenta a concentração de oxigênio nas distintas regiões. 20 Fonte: Braga, 2005, p. 90. Figura 1.1 – Processo de autodepuração de corpos d'água. Fonte: Von Sperling, 2005. Figura 1.2 – Curva de depleção do oxigênio dissolvido. 21 Na zona de águas limpas, que antecede o lançamento de efluentes, observa-se alta concentração de oxigênio dissolvido e a presença de organismos superiores, como peixes, por exemplo. A zona de degradação é a região localizada logo após o lançamento dos efluentes, onde observa-se alta carga de matéria orgânica, ou seja, alta DBO. É uma zona turva em razão da presença de sólidos suspensos, em que se inicia lentamente o processo de decomposição da matéria orgânica. Embora seja uma região com perturbação no equilíbrio do ecossistema e, portanto, com uma sensível redução das espécies superiores, ainda é possível encontrar alguns peixes em busca de alimentos, onde é notável a presença significativa de microrganismos que irão efetuar a degradação da matéria orgânica. Não estão presentes algas, por conta da turbidez excessiva que impede o processo de fotossíntese. A região denominada zona de decomposição ativa é onde a concentração de oxigênio dissolvido atinge valores mínimos, em muitos casos, tendendo a zero, por conta do excesso de matéria orgânica. É neste ponto que a qualidade da água está mais comprometida, e observam-se condições de anaerobiose, ou seja, ausência de oxigênio. Nesta fase as bactérias começam a diminuir, em razão da matéria orgânica ter sido completamente estabilizada (há uma redução na disponibilidade de alimentos para estes microrganismos). A zona de recuperação é característica por apresentar um aspecto mais claro, favorecendo a incidência de radiação solar (colaborando ao processo de fotossíntese), o que acarreta no aumento da concentração de oxigênio dissolvido. Por ter reduzido o consumo de oxigênio com estabilização, o restabelecimento pelo processo de reaeração atmosférica também se intensifica. A amônia presente é transformada em nitrito e posteriormente em nitrato, assim como o fosfato (formado pelo fósforo presente no efluente) servirá de nutrientes às algas. Pelo processo de fotossíntese, as algas são responsáveis pelo restabelecimento do oxigênio no meio, propiciando o retorno das condições anteriores ao lançamento dos efluentes. Nesta região há o retorno das condições aeróbias e, portanto, a presença de organismos superiores. 22 Por fim, tem-se a zona de águas limpas novamente, que é caracterizada por apresentar as condições anteriores ao lançamento com relação à concentração de oxigênio dissolvido na água, matéria orgânica e teores de bactérias. É uma região caracterizada pela presença de organismos superiores de cor e aspecto agradável; entretanto, não necessariamente apresenta condições livres de patogênicos. A Figura 1.1 apresenta a curva do perfil de OD (oxigênio dissolvido) ao longo do tempo, passando pelas diversas zonas características do processo de autodepuração. Com relação à concentração de oxigênio, observa-se no ponto a montante do lançamento que o valor indicado é dado pelas condições iniciais do rio (Cr). Assim que se inicia o lançamento dos efluentes, há uma redução inicial no t0 da concentração do oxigênio dissolvido, representado pela simbologia Co. Ao longo do tempo (tc) ou distância, observa-se que os valores para este parâmetro atingem um nível crítico de OD representado pela letra Cc, que posteriormente será restabelecido, voltando às condições iniciais. Outro processo responsável pela degradação da qualidade da água em ambientes lênticos (lagoas e reservatórios) é a eutrofização, que consiste no enriquecimento das águas por nutrientes (fósforo e nitrogênio provenientes de efluentes domésticos, industriais e fertilizantes agrícolas) que são responsáveis pelo crescimento excessivo das plantas aquáticas (algas). Outros dois fatores que influenciam no processo da eutrofização é a temperatura e a radiação solar, podendo ser observado em lagos de regiões tropicais que possuem maior temperatura e incidência de radiação solar. Este problema de poluição ocorre devido ao excesso de nutriente no meio, o que promove o aumento da biomassa vegetal (algas). Há uma redução no processo de aeração superficial devido à presença de algas, que impede a incidência de radiação para o interior do lago, por exemplo, ocasionando a morte de peixes e outros seres sensíveis à presença de oxigênio dissolvido. Nestas condições, ocorre um aumento na DBO e, provavelmente, o meio venha a adquirir condições de anaerobiose. 23 A eutrofização, além de causar um desequilíbrio ecológico, também prejudica os sistemas de tratamento de água, uma vez que a grande quantidade de algas presentes na água pode acarretar na obstrução dos filtros das estações de tratamento, dificultar o controle do pH e das unidades de floculação, além das demaisunidades. De acordo com Santos (2017), os danos se estendem também às questões econômico-sanitárias, uma vez que as propriedades próximas às margens de corpos d’água poluídos perdem valor econômico e as águas ficam impróprias para irrigação e uso recreacional. Muitas doenças transmitidas ao ser humano são causadas por microrganismos presentes nas águas. Uma das formas de transmissão de doenças é através da ingestão de águas contaminadas. Além disso, a falta de água acarreta problemas de higiene pessoal. Muitas doenças podem ser evitadas com boas práticas de saneamento básico, como tratamento de água, de efluentes domésticos e industriais, e descarte adequado de resíduos. Tabela 1.1 – Principais doenças de veiculação hídrica. Grupo de Doenças Formas de Transmissão Principais Doenças Formas de Prevenção Transmissão pela via feco-oral (alimentos contaminados por fezes) O organismo patogênico é ingerido Diarreias e disenterias (cólera e a giardíase), Febre tifoide e paratifoide, Leptospirose, Amebíase, Hepatite infecciosa, Ascaridíase (lombriga) Realizar o tratamento de águas destinadas ao abastecimento humano Controladas pela limpeza com a água (associadas ao abastecimento insuficiente de água) A falta de água interfere no processo de higiene pessoal favorecendo a disseminação de doenças Infecções na pele e nos olhos, como o tracoma e o tifo relacionado com piolhos, e a escabiose Fornecer água em quantidade adequada e promover a higiene pessoal e doméstica Associadas à água (uma parte do ciclo da vida do agente infeccioso ocorre em um animal aquático) O patogênico penetra pela pele da pessoa ou pode ser ingerido Esquistossomose Evitar o contato de pessoa com águas infectadas, proteger os mananciais, utilizar técnicas de coleta de esgotos, combater o hospedeiro intermediário Continua... 24 Continuação Transmitidas por vetores que se relacionam com a água As doenças são propagadas por insetos que nascem na água ou picam as pessoas que estão próximas Malária, Febre amarela, dengue Combater os insetos transmissores eliminando as condições que favorecem Fonte: Adaptado de Brasil, 2006, p. 64-65. 1.5 Lei Nacional do Saneamento Básico De acordo com o art. 2º da Lei 11.445/2007, saneamento básico é o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de serviços de abastecimento público de água potável; coleta, tratamento e disposição final de esgoto; manejo das águas pluviais urbanas, além da limpeza urbana e o manejo dos resíduos sólidos (BRASIL, 2007, p. 4). Essa lei estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a política nacional federal do saneamento básico. Com relação à prestação dos serviços de saneamento, é de competência dos municípios e Distrito Federal. Os serviços previstos podem ser realizados mediante celebração de contratos de concessão com obrigações para o contratado. Os serviços também podem ser prestados mediante consórcios que podem ser realizados mediante associação voluntária entre entes federados por convênio de cooperação ou consórcio público. Outra questão a ser considerada é a universalização do acesso ao saneamento básico, que trata do fornecimento destes serviços a toda a população, com integralidade das ações, segurança, qualidade e regularidade na prestação dos serviços. Outro princípio fundamental da prestação de serviços de saneamento é a promoção da saúde pública e proteção do meio ambiente. Para fins desta lei, o controle social refere-se à utilização de mecanismos que garantam à população participação nos processos decisórios dos serviços públicos de saneamento básico. A lei estabelece a prestação regionalizada, que permite que um prestador dos serviços de saneamento possa atender a dois ou mais municípios da federação. 25 Para atendimento da sustentabilidade econômico-financeira prevista na lei, esta deverá ser realizada mediante remuneração pela cobrança dos serviços prestados. A União deve elaborar em parceria com o Ministério das Cidades e o Plano Nacional de Saneamento Básico (PNSB), que deve conter, principalmente, os objetivos e metas de curto, médio e longo prazos para atendimento ao princípio da universalização do acesso aos serviços de saneamento básico, apresentar o diagnóstico da situação através da utilização de indicadores epidemiológicos, ambientais e socioeconômicos, os programas e ações necessárias para atendimento dos objetivos previstos no plano, ações de emergência e contingência e os mecanismos de avaliação dos serviços prestados. O PNSB deve ser elaborado prevendo um cenário de 20 anos com atualizações frequentes a cada 4 anos. A lei de saneamento institui o Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS), que tem por objetivo fornecer os dados das condições dos prestadores de serviço público de saneamento básico, disponibilizar indicadores e informações relevantes aos serviços prestados além propiciar o monitoramento e análise da eficiência na prestação dos serviços. Conclusão Neste bloco foram apresentados as principais características da água e os principais indicadores de qualidade que fomentarão as técnicas a serem utilizadas para o tratamento da água e esgoto. Ainda neste bloco foram mencionados os padrões de qualidade de água conforme Resolução Conama 357/2005, onde é estabelecido o enquadramento dos corpos d’água conforme as características estabelecidas. Foram abordadas as principais fontes de contaminação e poluição das águas, bem como as doenças de veiculação hídrica. Por fim, foram mencionados os principais aspectos da Lei de Saneamento Básico, que estabelece diretrizes nacionais para o fornecimento dos serviços de saneamento, entre eles o abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, drenagem e manejo de águas pluviais e manejo de resíduos sólidos. 26 REFERÊNCIAS BRAGA, B. et al. Introdução a engenharia ambiental: o desafio do desenvolvimento sustentável. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n.º 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Dispõe sobre normas de potabilidade de água para o consumo humano. Diário Oficial da União. Brasília, DF, dez. 2011. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2914_12_12_2011.html>. Acesso em: 17 Jul. 2019. ______. Lei nº. 11.445, de 05 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico. Diário Oficial da União. Brasília, DF, jan. 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11445.htm>. Acesso em 7 ago. 2019. ______. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Diário Oficial da União. Brasília, DF, jan. 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9433.htm>. Acesso em 7 ago. 2019. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigilância e controle da qualidade da água para consumo humano/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Diário Oficial da União. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigilancia_controle_qualidade_agua.pdf> Acesso em: 17 Jul. 2019. ______. Resolução CONAMA 357, de 17 de março de 2005. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Diário Oficial da União. Brasília, DF, mar. 2005. Disponível em: <http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459>. Acesso em: 10 abr. 2019. 27 GARCEZ, L.; GAZRCEZ. C. Água. 2. ed. São Paulo: Calli Ed, 2012. SANTOS, M. A. Poluição do meio ambiente. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017. TELLES, D. D.; COSTA, R. P. Reúso da água: Conceitos, teorias e práticas. 2. ed. São Paulo: Blucher, 2010. VON SPERLING, M. Princípiosdo Tratamento Biológico de Águas Residuárias: Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos, v. 01. Minas Gerais: ABES, 2005. 28 2 SISTEMAS DE TRATAMENTO DE ÁGUA Olá, aluno! O tratamento da água é um processo fundamental para garantir condições adequadas de potabilidade às águas destinadas ao abastecimento humano, às indústrias e à agricultura. Conhecer as etapas do tratamento é essencial para a prática profissional. As Estações de Tratamento de Água (ETA) são constituídas de algumas etapas com o objetivo de remover as impurezas presentes nos corpos d’água através de tecnologias consolidadas e algumas avançadas para atendimento dos padrões de qualidade de água estabelecidos nas legislações vigentes. É o que veremos neste bloco. Bons estudos! 2.1 Estação de tratamento de água A água é muito importante para a manutenção da vida em nosso planeta, sendo utilizada pelo homem de diversas maneiras. Para termos água de qualidade para consumo, no entanto, seu tratamento é essencial. A falta de saneamento básico adequado é um dos fatores que agravam a poluição dos mananciais, tornando os recursos hídricos impróprios ao aproveitamento direto, podendo causar uma série de doenças na população. Assim, a água captada dos mananciais geralmente é imprópria para consumo direto devido à presença de impurezas e, portanto, precisa ser submetida a tratamento, que será realizado nas Estações de Tratamento de Água (ETA). De acordo com a resolução Conama 357/2005, os corpos d’água são enquadrados em cinco classes, em função da qualidade das águas e destinação final. Para o abastecimento humano, no entanto, somente as quatro primeiras classes devem ser utilizadas após o tratamento. 29 De acordo com HOWE et al. (2016), uma ETA é constituída de etapas bem definidas, cujo processo de remoção de impurezas será estabelecido de acordo com o grau de poluição da água. Cada etapa apresenta um controle dos padrões de qualidade estabelecidos pela legislação. As etapas do tratamento convencional de uma ETA são descritas a seguir: Captação: retirada da água de um manancial para o seu tratamento. A seleção do manancial é fundamental para o estabelecimento de quais etapas serão necessárias para o tratamento. Quanto menos poluído o manancial, menos dispendioso o tratamento. Pré-tratamento: inicialmente é adicionado cloro para facilitar a retirada de metais e matéria orgânica. Após essa primeira etapa do pré-tratamento, é realizado um ajuste no pH através da adição de cal. Sistema de Coagulação: tratamento da água suja com substâncias químicas em tanques, onde são formadas partículas sólidas que serão eliminadas nas etapas posteriores. Floculação: passagem da água por tanques de concreto, onde ocorre a aglutinação das partículas sólidas. Decantação: utilização da gravidade para separar as partículas sólidas que são mais densas. O processo ocorre em outro tanque onde as impurezas vão para o fundo. Filtração: processo que remove as menores partículas de impureza, realizado em filtros de carvão, areia e pedras. Desinfecção: a água é tratada com cloro ou ozônio com o objetivo de eliminar os microrganismos. Correção do pH: ajuste na acidez da água. Fluoretação: tratamento com flúor. 30 A eficiência do processo de tratamento depende do sistema de captação de água e das unidades de tratamento. Após o tratamento, a água deverá ser armazenada em reservatórios para posteriormente ser distribuída à população. Constantes atualizações e investimentos no processo de tratamento da água são necessários para garantir o fornecimento da água de qualidade à população, evitando riscos à saúde. Atualmente existem, aproximadamente, 7.500 estações de tratamento de água que seguem o modelo apresentado acima. 2.2 Captação e pré-tratamento A etapa de captação de água dos mananciais é uma etapa essencial para disponibilização de água às estações de tratamento que irão remover as impurezas do recurso hídrico. A captação pode ser realizada de duas maneiras: Volumes subtraídos diretamente de um rio (fio d’água). Volumes subtraídos diretamente de reservatórios. Vale ressaltar que o arraste de partículas sólidas deve ser evitado de forma a facilitar o tratamento da água nas etapas seguintes. Alguns fatores devem ser considerados na escolha da forma de captação de água, como por exemplo, a disponibilidade do volume de água, a possibilidade de cheias e de estiagens, e a análise do comportamento dos sistemas aquáticos. Existem modelos matemáticos aplicados em softwares específicos que fornecem elementos para a tomada de decisão na elaboração de um projeto de um sistema de captação de uma ETA. As análises pluviométricas devem ser feitas por profissionais habilitados, e consistem na medida, em milímetros, do resultado do somatório da quantidade da precipitação de água de chuva em um determinado período de tempo. Após a captação da água, ela é direcionada para um tanque onde serão adicionados produtos químicos, como o cloro, que visam fornecer melhores condições para a realização das etapas de coagulação e floculação, buscando o pH ideal, que será combinado a uma dose de coagulante e do auxiliar de coagulação. 31 2.3 Coagulação, Floculação e Mistura Rápida Coagulantes são sais metálicos, tais como o sulfato de alumínio, o cloreto férrico, o sulfato férrico e o policloreto de alumínio (PAC), sendo que a concentração desses sais metálicos na água deve respeitar os limites de concentração para o consumo humano, de acordo com as normas estabelecidas pela legislação vigente. Segundo Konradt-Moraes et al. (2008), tem-se utilizado coagulantes naturais de forma individual ou juntamente com outros sais coagulantes tradicionais, agindo como auxiliar no tratamento de águas. A escolha de um determinado coagulante tem relação com a eficiência requerida, bem como a relação custo-benefício relacionada, sendo que em ambos os casos precisa-se atender aos padrões de potabilidade da água. O pH ideal é essencial para se obter uma coagulação eficiente, que deve ser iniciada com uma mistura rápida do coagulante; nesse processo, grande quantidade de energia é despendida, buscando a formação de um polímero. Após a obtenção desse polímero, a agitação é reduzida de maneira gradativa, possibilitando a combinação do agente coagulante formado (polímero) com as impurezas da água, formando pequenos flocos. Esses flocos irão se chocar uns aos outros, através de uma agitação contínua e controlada, produzindo flocos maiores, mais densos e consistentes, de forma a facilitar a sedimentação na etapa seguinte. Alguns polímeros de cadeia longa e variável são utilizados para aumentar a eficiência da coagulação. Este fator promove a formação de flocos com estruturas mais fortes e pesadas, o que melhora a eficácia da etapa de sedimentação. Após a formação dos flocos mais estruturados, inicia-se a etapa da floculação, a qual consiste na produção de partículas por meio da agregação dos flocos. Estas partículas serão removidas através da sedimentação por gravidade e/ou a filtração. A floculação pode ser dividida em duas formas: microfloculação e macrofloculação. 32 A microfloculação utiliza o movimento browniano como seu princípio fundamental. Esse movimento realiza a agregação das partículas através do movimento térmico aleatório das moléculas do fluido. O método também é conhecido por floculação pericinética. A macrofloculação (floculação ortocinética) agrega as partículas com a indução de gradientes de velocidade e mistura suave no fluido, levando de 20 a 40 minutos. Com isso, a formação de partículas maiores facilita sua remoção por filtração. Durante o projeto da Estação de Tratamento de Água, os profissionais envolvidos devem considerar algumas questões, tais como: oTipo e concentração dos coagulantes e floculantes auxiliares; o Intensidade da mistura e método usado para dispersar produtos químicos na água para desestabilização; o Intensidade da mistura e tempo para a floculação; o Seleção do processo de separação líquido-sólido (por exemplo, sedimentação e filtração). 2.4 Decantação e filtração O objetivo da decantação é separar todos os sólidos formados nos processos de coagulação e floculação. O processo não é totalmente eficiente, visto que pode ocorrer má formação dos flocos nas etapas anteriores, que não irão sedimentar e poderão se desfazer durante o processo, flutuando novamente na água. O decantador é projetado de forma a impedir o turbilhonamento ou fluxo preferencial da água a ser tratada. Esta característica é garantida pelo dimensionamento adequado da unidade com base nos fluxos mínimos, médios e máximos de água a ser tratada. A seguir, conheceremos alguns tipos de decantadores. São eles: Seção Retangular: Decantador mais utilizado nas Estações de Tratamento de água. Possui um tanque vertical que é dividido em quatro zonas: 33 o Zona de turbilhonamento: região situada logo na entrada do tanque, onde é despejada a água bruta. Nesta região ocorre uma grande agitação das partículas sólidas. o Zona de decantação: região de sedimentação, onde as partículas sólidas vão para a parte inferior do equipamento. o Zona de repouso: nessa região há a formação do lodo, que deve ser retirado periodicamente. o Zona de ascensão: para as partículas que persistem suspensas na água ocorre um arraste em direção ao filtro, e a essa região dá-se o nome de zona de ascensão. Seção Circular: Decantador utilizado em estações de tratamento de efluentes sanitários ou industriais que propiciam um menor efeito da velocidade no fluxo de água, o que acarreta na sedimentação mais eficiente de resíduos sólidos. Seção Laminar: Decantador composto por placas paralelas ou tubulares que direcionam o fluxo de água, propiciando menor tempo de sedimentação. Esse decantador também é bastante utilizado nas Estações de Tratamento de Água. Como já mencionamos anteriormente, independentemente do tipo de decantador, o processo de decantação não é totalmente eficiente para atingirmos os níveis de potabilidade estabelecidos pela legislação vigente. Estes flocos precisam, portanto, ser removidos nas etapas seguintes, por exemplo, através da filtração. Este consiste na passagem de um fluido através de um meio poroso que pode ser constituído de areia, brita ou mesmo carvão ativado. Os filtros de areia são compostos essencialmente por camadas divididas em suporte, brita e areia. Deverá ser utilizado o carvão ativado para eliminar substâncias que produzem odor ou sabor. O sistema de retrolavagem é utilizado para realizar a limpeza dos filtros; a água de lavagem resultante desse processo vai para um sistema de recuperação, em que o lodo formado é direcionado para as estações de tratamento de esgotos. 34 Existem diferentes tipos de filtros. São eles: o Tipo membrana e manga: Removem partículas maiores que 10 micra e operam em baixas vazões. o Tipo membrana e cartucho: Removem partículas de 1 mícron e operam em baixas vazões. o Carvão ativado: Usados para melhorar o gosto e odor da água, podendo remover o cloro. o Argilas: Retiram a amônia e os metais pesados dentre outros. o Filtros de areia: Removem partículas de 25 micra e operam com altas vazões. 2.5 Desinfecção, Correção do pH e Fluoretação A utilização do cloro para realizar a etapa da desinfecção (remoção de microrganismos patogênicos nocivos à saúde) é uma prática muito antiga, que diminuiu consideravelmente o índice de mortalidade infantil e a proliferação de doenças provocadas pela contaminação da água. O cloro foi descoberto em 1808 por Sir Humprey Davy, e teve suas propriedades bactericidas demonstradas, sob condições laboratoriais, pelo bacteriologista Koch, em 1881. O uso do cloro como desinfetante foi aprovado pela American Public Health Association (APHA) em 1886. A partir do início do século XIX, algumas regiões dos Estados Unidos já utilizavam esse agente químico no processo de desinfecção de água para abastecimento público (MACÊDO, 2000; BLOCK, 2000). Utiliza-se gás cloro em grandes instalações, que são projetadas com equipamentos apropriados para armazenar o gás. Também se conta com profissionais habilitados para o manuseio do Cl2 gasoso que chega à ETA na forma de gás comprimido (gás e líquido), acondicionado em cilindros de tamanhos variados (50, 68 e 900 kg). Dependendo da estrutura da ETA, o Cl2 gasoso pode ser fornecido em carretas. Uma outra alternativa é a utilização do cloro seco, assim denominado devido ao baixo teor de água. Este possui algumas vantagens, como maior precisão na dosagem, redução das perdas do princípio ativo, além de um menor espaço de armazenagem. 35 As condições físico-químicas são controladas, garantindo maior precisão nas dosagens utilizadas no tratamento da água, em que se realiza a expansão do cloro líquido ou a coleta do cloro gasoso. Tem-se as seguintes condições físico-químicas em condições normais de pressão e temperatura (CNPT) (BITTENCOURT, 2014): 1 mol de gás cloro Volume: 22,4 litros Pressão: 1 atm Temperatura: 273 K Utiliza-se o rotâmetro para medir o volume consumido de gás cloro. O equipamento permite a medição da vazão de gases a partir do arraste provocado sobre um êmbolo em seu interior, conforme a figura a seguir. Fonte: Disponível em <https://www.mspc.eng.br/dir80/medvaz2.php>. Figura 2.1 – Rotâmetro para medição de vazão de cloro gasoso. 36 O gás cloro é mais pesado que o ar, fazendo com que ele permaneça no ambiente, em caso de vazamentos, reagindo de maneira muito agressiva com os componentes que estão ao redor e realizando uma intensa oxidação. Alta reatividade e toxicidade devem ser consideradas pelas equipes de trabalho, que devem zelar pela segurança do ambiente e dos trabalhadores e estar sempre preparadas para as medidas de contenção de vazamentos, além de utilizar equipamentos de proteção individual (EPIs) próprios para essa atividade. Para trabalhar com o gás cloro existe o Plano de Ação Emergencial para Cloro (PAE Cloro). As águas a serem tratadas podem apresentar ácidos húmicos e fúlvicos que, em contato com o gás cloro, produzem trihalometanos (THM), que são substâncias indesejáveis devido ao seu potencial tóxico, caso excedam as concentrações indicadas pelas normas vigentes. Para instalações de pequeno porte, a planta não possui autonomia na armazenagem do gás cloro para desinfecção e, portanto, utiliza-se o princípio ativo na forma de hipoclorito de sódio, que pode ser encontrado em sua forma diluída como água sanitária. São apresentadas as reações de decomposição a seguir: Reação Principal 3 NaClO → 2 NaCl + NaClO3 hipoclorito de sódio cloreto de sódio clorato de sódio Reação Secundária 2 NaClO → 2NaCl + O2 hipoclorito de sódio cloreto de sódio oxigênio 37 Alguns fatores como a temperatura de estocagem, o pH, a exposição à luz, dentre outros, devem ser levados em consideração na decomposição do hipoclorito de sódio, e podem reduzir seu princípio ativo na solução. Este aspecto faz com que a aplicação do gás cloro seja mais eficaz no tratamento da água. Os mesmos cuidados devem ser adotados com relação à formação de THM. De acordo com Bittencourt (2014), o controle do pH da água é muito importante e, em alguns casos, faz-se necessário elevar o pH utilizando os alcalinizantes. Dependendo da instalação, pode-se utilizar cal virgem, que é mais barato e mais solúvel em água, formandouma camada protetora no interior das tubulações e retardando a corrosão. Quando é necessária uma diminuição do pH, são utilizados acidulantes, sendo que o ácido fosfórico (H3PO4) é um dos mais utilizados nestes casos. Determinadas concentrações de flúor possibilitam a diminuição da ocorrência de cáries em crianças e, por isso, o processo de fluoretação é essencial e obrigatório no Brasil. Alguns cuidados devem ser tomados, pois a dosagem de flúor em excesso causa sérios problemas de saúde, como a fluorose, doença que fragiliza os ossos. Os cuidados devem ser estendidos para a população que consome a água tratada, bem como para os responsáveis pelo tratamento na ETA que realizam a dosagem de flúor. Vale destacar que, muitas vezes, detectamos uma quantidade natural de flúor na água, levando-nos à necessidade de realizar o procedimento de verificação das concentrações preexistentes do flúor, que pode existir na forma de minerais e dissolvidos quando em contato com as águas subterrâneas. No Brasil, o parâmetro para concentração adotado deve ser de 1,5 mg/L. Para calcular a quantidade desejável de flúor na água, utilizamos a fórmula a seguir: Concentração de flúor desejável na água= 22,2/(10,3+0,725T) Onde: T é a média das temperaturas máximas diárias verificadas em graus Celsius (oC) 38 A observação da temperatura segue alguns parâmetros de tempo, sendo cinco anos o período recomendado; no entanto, podemos utilizar um ano como tempo mínimo aceitável. Para realizar a dosagem de flúor, recomendam-se algumas substâncias, tais como o fluoreto de cálcio (CaF2), fluossilicato de sódio (Na2SiF6), fluoreto de sódio (NaF) e ácido fluossilícico (H2Si F6). Conclusão Sabe-se que o homem utiliza a água de diversas maneiras, e a qualidade da água para consumo é essencial para a saúde da população. Os padrões de qualidade estabelecidos pelos requisitos legais de potabilidade da água devem ser atendidos e as ETAs devem estar em constante atualização de seus procedimentos. REFERÊNCIAS BITTENCOURT, C.; PAULA, M. A. S. de. Tratamento de água e efluentes: fundamentos de saneamento ambiental e gestão de recursos hídricos. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014. BLOCK, S. S. (ed). Desinfection sterilization and preservation. 5. ed. Philadelfia: Lippincott Williams & Wilkins, 2000. HOWE, K.J. et al. Princípios de Tratamento de Água. São Paulo: Cengage Learning, 2016. KONRADT-MORAES, L. C. et al. Utilization of the coagulation diagram in the evaluation of the natural organic matter (NOM) removal for obtaining potable water. International Journal of Chemical Reactor Engineering, v. 6, A87, 2008. MACÊDO, J. A. B. Águas & Águas. Belo Horizonte: ORTFOFARMA, 2000. SOARES, M. Fluidos 03-20: Medidores comuns de vazão. Disponível em: <https://www.mspc.eng.br/dir80/medvaz2.php>. Acesso em: 7 mai. 2019. 39 3 SISTEMAS DE TRATAMENTO AVANÇADOS DE ÁGUA Olá, aluno! Tratamentos avançados de água são muito importantes, pois complementam o tratamento convencional, atuando na remoção extra de compostos com potencial tóxico e microrganismos patogênicos, melhorando ainda alguns parâmetros como cor, sabor e odor. Neste bloco iremos tratar apenas das técnicas mais utilizadas para a realização do tratamento avançado nas ETAs do Brasil, tais como osmose inversa, absorção, troca iônica, aeração e oxidação avançada. Bons estudos! 3.1 Osmose Inversa A Osmose Inversa (OI) força o fluxo de água ir no sentido contrário da osmose natural. Essa técnica utiliza pressão com intensidade adequada, promovendo a concentração de substâncias e possibilitando a retirada de bactérias, metais e pigmentos. O tratamento é realizado em uma membrana semipermeável que separa solutos que são dissolvidos na água. Um sistema de OI recebe água de alimentação que deve ser pressurizada, passando uma pequena quantidade de água pela membrana, chamada de permeado. Conforme a água passa pela membrana semipermeável, solutos são rejeitados, deixando a água de alimentação mais concentrada. Fonte: Howe et al., 2016, p. 256. Figura 3.1. Representação do processo de osmose inversa. 40 Trata-se de um processo contínuo, não havendo necessidade de ciclos periódicos de retrolavagem. Segundo Bittencourt (2014), o processo de osmose inversa é ideal para remoção de matéria orgânica natural, tratamento avançado para reúso de água potável, remoção de contaminantes específicos, dessalinização da água do mar e de águas subterrâneas salobras, e para abrandamento. O número de instalações que utilizam a técnica de osmose inversa tem crescido rapidamente, e isso se justifica devido ao crescimento desordenado de regiões urbanas, bem como à escassez de fontes naturais de água doce. Como consequência, o aumento de regiões desérticas faz com que os oceanos e as águas subterrâneas salobras se tornem alternativas de suprimento de água para a população. Instalações de OI possuem sistemas de pré-tratamento, bombas de alimentação, vasos de pressão contendo elementos de membrana e sistemas de pós-tratamento. São a menor unidade de capacidade de produção, possuindo um formato enrolado em espiral ou de fibra oca fina. Fonte: Howe et al., 2016, p. 300. Figura 3.2 – Membrana em espiral. 41 O processo ocorre com a água de alimentação é pressurizada para o vaso de pressão, entrando em contato com o primeiro elemento da membrana. A água vai fluindo de maneira tangencial à superfície da membrana, fazendo com que uma porção de água passe para dentro do envelope de membrana, fluindo em espiral na direção do tubo de coleta de permeado. Então, água que restou fica concentrada, fluindo para o elemento seguinte. O processo é repetido até que o concentrado saia do vaso de pressão. A recuperação do permeado gira em torno de 5% a 15% por elemento dentro dos elementos individuais de membrana, e seu desempenho está ligado às propriedades físicas e químicas do material que, em condições ideais, é capaz de produzir um alto fluxo sem sofrer incrustação ou até mesmo obstrução, sendo fisicamente durável, quimicamente estável e resistente, não biodegradável e de baixo custo. Os materiais mais comuns são os derivados de acetato de celulose (AC) e da poliamida (PA). Todos os sistemas de OI devem realizar o pré-tratamento de água de alimentação para prevenir a escamação devido à presença de sais pouco solúveis, que irão se concentrar à medida que a água é retirada da corrente de alimentação, fazendo com que ocorra a precipitação desses sais na superfície da membrana, danificando o mecanismo de maneira irreversível. O controle da escama consiste num ajuste do pH e/ou a adição de antincrustante. Outro processo importante no pré-tratamento é a filtração, que tem como principal objetivo remover as partículas formadas. Devido à falta do ciclo de retrolavagem, as partículas formadas tendem a obstruir os canais de alimentação ou até mesmo se acumularem na superfície da membrana. O permeado também requer pós-tratamento, que consiste na remoção dos gases dissolvidos que não são removidos de maneira eficiente nos processos anteriores, da alcalinidade e do ajuste do pH. Os ajustes de pH e de alcalinidade são um processo eficiente para controlar a corrosão. Reduzir o CO2 acarreta no aumento do pH e, consequentemente, produz a redução da quantidade de base necessária para aumentar a estabilidade (reduzir a corrosão) da água. 42 O projeto de instalação de OI deve se preocupar com a gestão do concentrado formado, pois o mesmo pode precisar de tratamento antes do descarte, que pode ocorrer em esgotos municipais, no oceano, em rio salobre ou estuário, injeção em poço profundo, lagoas de evaporação e bacias de infiltração e irrigação. Para compreender a osmose inversa, a pressão osmótica é essencial, visto que requer uma força motriz para o fluxo na direçãooposta. Para entendermos melhor o processo, vamos considerar um vaso com uma divisória removível que será preenchido com duas soluções com o mesmo nível. Deve-se encher o lado esquerdo com uma solução salina concentrada e o outro lado com água pura. Em seguida retira-se a divisória sem perturbar as soluções que, no início, estão em desequilíbrio; o sal se difundirá através da água até que a concentração seja a mesma em todo o vaso. Os íons do sal irão se difundir da esquerda para a direita e, para manter o princípio da conservação da massa, um fluxo de moléculas de água deverá ocorrer na direção oposta, ou seja, o equilíbrio requer transferência de massa nas duas direções. Agora que o princípio foi descrito, iremos realizar alguns ajustes em nosso vaso. Fecharemos a parte superior e acoplaremos tubos de manômetro. Devemos agora substituir a divisória removível por uma membrana semipermeável, que irá permitir o fluxo de água, mas impedirá o fluxo de sal. Criaremos, assim, um sistema termodinamicamente instável toda vez que enchermos as câmaras com solução salina e água pura, que deve ser equilibrado pela difusão. Como a membrana semipermeável irá impedir o fluxo de sal, a massa se acumulará na câmara esquerda, fazendo com que o nível de água no manômetro da esquerda suba, e o da direita, caia. A osmose é o fluxo de água do lado puro para a solução de sal. Ao atingir o equilíbrio termodinâmico, a água deixa de fluir da direita para a esquerda, mesmo com a pressão e a concentração desiguais entre as câmaras, sendo que exercemos uma pressão para equilibrar a diferença na concentração de um soluto. Damos a isso o nome de pressão osmótica (p). 43 Podemos aproximar a pressão osmótica pela equação de Van't Hoff (HOWE et al., 2016, p. 305): Levando em consideração a hipótese do comportamento não ideal das soluções concentradas, da falta de diluição e da compressibilidade do líquido em alta pressão, devemos considerar o coeficiente osmótico que na equação abaixo é representado pelo símbolo ф (HOWE et al., 2016, p. 306). A pressão osmótica está em função da concentração ou fração molar da água no sistema. Por exemplo, a adição de 1 mol de NaCl produz 2 mols de íons na solução, dobrando a pressão osmótica em comparação com um soluto que não se dissocia. Veja: NaCl → Na+1 + Cl-1 1 mol → 1 mol 1 mol Vamos calcular a pressão osmótica do NaCl em uma solução de 1.000 mg/L a uma temperatura de 20°C, considerando um coeficiente osmótico de 0,95 (HOWE et al., 2016, p. 306). 44 Vamos calcular a pressão osmótica da glicose (C6H2O6) em uma solução de 1.000 mg/L a uma temperatura de 20°C, considerando um coeficiente osmótico de 0,95. A glicose (C6H2O6) é uma substância molecular, ou seja, não sofre dissociação. Logo, utilizamos um mol de substância (HOWE et al., 2016, p. 307). Vamos calcular a pressão osmótica do SrSO4 em uma solução de 1.000 mg/L a uma temperatura de 20°C, considerando um coeficiente osmótico de 0,95 (HOWE et al., 2016, p. 306). SrSO4 → Sr+2 + SO4-2 1 mol → 1 mol 1 mol Note que para os sais adicionados (substâncias iônicas) NaCl e SrSO4, temos a dissociação do composto em dois íons, fazendo com que a concentração molar do íon seja o dobro da concentração molar do sal adicionado. A pressão osmótica do NaCl é mais elevada devido a sua massa molecular ser mais baixa. Apesar do SrSO4 e a glicose terem praticamente a mesma massa molecular, a pressão osmótica do SrSO4 é o dobro da glicose, porque ela se dissocia produzindo dois mols. 45 3.2 Adsorção A adsorção é um processo que remove constituintes dissolvidos na água através de um processo de transferência para a superfície de um sólido. A adsorção remove produtos orgânicos que causam sabor e odor, produtos orgânicos sintéticos e subprodutos da desinfecção. Compostos inorgânicos, bem como a matéria orgânica natural (MON), também são removidos por adsorção ou troca iônica. O carvão ativado, utilizado em forma granular ou em pó, é o material adsorvente mais comum no tratamento da água potável. As resinas sintéticas são os meios mais comuns nas trocas iônicas. O adsorvato é o elemento submetido à adsorção sobre uma superfície, e o adsorvente é o sólido sobre o qual o componente é adsorvido. Ao realizar o processo, muitas espécies dissolvidas são impregnadas no sólido poroso do adsorvente granular e, posteriormente, são adsorvidas na superfície interna. Os adsorventes possuem um elevado grau de porosidade dentro dos grânulos adsorventes, proporcionando uma maior superfície onde a adsorção poderá acontecer. A proporção entre o volume do poro e o volume total é camada de porosidade que deve estar próxima de 50%. Temos ainda uma relação entre a área da superfície e o tamanho do poro. Quanto menor o poro para determinado volume, maior será a área da superfície disponível para a adsorção. Vamos agora indicar algumas expressões: Calculo da Área Interna da Superfície de um Adsorvente Poroso A área de superfície, Aad (m2/g), assume a forma cilíndrica dos poros. Sendo que: Número de poros: n (quantidade/g) Raio do poro: R (m) Comprimento do poro: L (m) 46 Cálculo do Volume de um Adsorvente Poroso Para o volume de poros cilíndricos Vad (m3/g), temos: Número de poros: n (quantidade/g) Raio do poro: R (m) Comprimento do poro: L (m) Relação entre a Área Interna da Superfície de um Adsorvente Poroso e seu Volume Aplicação (HOWE et al., 2016, p. 339) Vamos supor que um grânulo de material adsorvente tenha poros cilíndricos com diâmetro de 1 nm, porosidade de 50% e densidade de partícula de 1 g/cm3. Determine a área da superfície interna do adsorvente. Para começar, calculamos o volume de adsorvente utilizando a porosidade e a densidade adsorvente dadas no enunciado do problema. Resolução: Porosidade = volume do poro/volume total D = m/v Adotando 1 g de adsorvente e sabendo que a densidade de partícula de 1 g/cm3, temos: Volume total: 1 cm3 47 Sabendo que a porosidade é de 50% (que corresponde a 0,5), temos: Volume de poro: 0,5 cm3 Portanto, Vad = 0,5 cm3/g = 5 107 m3/g. Para o diâmetro de um poro: dp = 1,0nm = 109 m Sabendo que: D = 2R, temos: R = 5.1010 m, então: Geralmente, a porosidade não ultrapassa os 50%, pois a porosidade, sendo mais elevada, torna o adsorvente mais frágil, quebrando de dentro para fora os vasos de adsorção e podendo resultar em perdas significativas de adsorvente e gastos financeiros. O tamanho dos poros é classificado pela IUPAC – União Internacional de Química Pura e Aplicada, que utiliza a seguinte convenção: o Microporos: dp < 20 nm o Mesoporos: 20 nm < dp < 500 nm o Macroporos: 500 nm < dp Sendo que dp corresponde ao diâmetro do poro. 48 Fonte: HOWE et al., 2016, p. 340. Figura 3.3 – Distribuições do tamanho dos poros para os carvões ativados de diferentes materiais. Os principais adsorventes para o tratamento da água, são: Carvão ativado; Adsorventes sintéticos poliméricos; Alumina ativada; Zeolitos; Hidróxido férrico granular ativado. O adsorvente mais utilizado é o carvão ativado devido ao seu baixo custo em relação aos outros adsorventes e, principalmente, pela sua eficácia na adsorção de uma vasta gama de contaminantes. MON e PQOS (produtos químicos orgânicos sintéticos), pesticidas, combustíveis e solventes, por exemplo, possuem vários tamanhos de poro, podendo reter grandes moléculas orgânicas. O zeolito (aluminossilicato com diferentes proporções de Al e Si) e a alumina ativada possuem poros muito pequenos, que facilitam a remoção MON e compostos orgânicos sintéticos maiores. Já o hidróxido férrico (Fe(OH)3) granular foi desenvolvido para remover o arsênio. Os adsorventes
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