Prévia do material em texto
0 CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO – FAE GUSTAVO ELIAS ARTEN ISAAC O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SETOR COSMÉTICO E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR FRENTE AOS COSMÉTICOS SUSTENTÁVEIS SÃO JOÃO DA BOA VISTA 2016 1 CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO – FAE GUSTAVO ELIAS ARTEN ISAAC O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SETOR COSMÉTICO E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR FRENTE AOS COSMÉTICOS SUSTENTÁVEIS Dissertação de mestrado apresentada ao Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Sustentável. Área de concentração: Sustentabilidade em Sociedades Complexas. Linha de Pesquisa: Gestão e Desenvolvimento Local. Orientação: Prof. Dr. Luciel Henrique de Oliveira. SÃO JOÃO DA BOA VISTA 2016 2 FICHA CATALOGRÁFICA I73d Isaac, Gustavo Elias Arten O desenvolvimento sustentável do setor cosmético e o comportamento do consumidor frente aos cosméticos sustentáveis / Gustavo Elias Arten Isaac. - 2016. 139p. : il. Dissertação (Mestrado acadêmico em Educação, Ambiente e Sociedade) – Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino, São João da Boa Vista, 2016. Orientação: Prof. Dr. Luciel Henrique de Oliveira. 1.Cosméticos Sustentáveis. 2. Orgânicos. 3. Naturais. 4. Desenvolvimento Sustentável. 5. Perfil do Consumidor. I. Isaac, Gustavo Elias Arten. II. Título. CDU 658.89:665.5 3 CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO – FAE GUSTAVO ELIAS ARTEN ISAAC O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SETOR COSMÉTICO E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR FRENTE AOS COSMÉTICOS SUSTENTÁVEIS Dissertação apresentada ao Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Sustentável. Sustentabilidade em Sociedades Complexas. Linha de Pesquisa: Gestão e Desenvolvimento Local. Dissertação de mestrado defendida e aprovada em: 26/08/2016, pela Banca Examinadora constituída pelos professores: ________________________________________________________ Prof. Dr. Luciel Henrique de Oliveira (Orientador) _________________________________________________________ Prof. Dr. Gustavo Quiroga Souki (Membro externo – Centro Universitário Una) _________________________________________________________ Profa. Dra. Érica Passos Baciuk (Unifae) SÃO JOÃO DA BOA VISTA 2016 4 AUTOBIOGRAFIA DO AUTOR Gustavo Elias Arten Isaac, paulista, natural de Espírito Santo do Pinhal – SP, é bacharel em Ciências Farmacêuticas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCCAMP (2005), Licenciado em Química pela Universidade de Franca – UNIFRAN (2016), pós- graduado em MBA em Marketing pelo Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB (2009), pós-graduado em Plantas Medicinais: Manejo, Uso e Manipulação pela Universidade Federal de Lavras – UFLA (2011) e mestrando em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida pela Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – UNIFAE. Docente Titular do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB, nos cursos superiores em Engenharia Agronômica, Enfermagem e Química (Bacharelado) e no Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal – UNIPINHAL no curso superior em Farmácia. Tem experiência profissional em pesquisas científicas e técnicas em bases de dados e literaturas oficiais e profissionais; desenvolvimento e confecção de material técnico e científico; consultoria técnica e científica na área cosmética, farmacêutica e de propaganda médica. Possui experiência prática em gerenciamento administrativo, financeiro e publicitário de empresa própria, atuando também diretamente nos processos de capacitação de revendedores, venda direta porta-a-porta, comercialização de produtos e relacionamento direto com consumidor. Atua profissionalmente em educação superior e avaliação institucional de instituições de ensino superior como participante ativo em Comissão Própria de Avaliação – CPA e em processos de autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos de graduação. Possui cursos complementares em estratégias de estudo; docência de ensino superior; avaliação institucional em IES; tecnologia e produção de plantas medicinais e fitoterápicos; P&D em cosmetologia e manipulação magistral; controle de qualidade em farmácia magistral; legislação farmacêutica e sanitária; marketing e propaganda para o setor farmacêutico; desenvolvimento, manutenção, aperfeiçoamento e gerenciamento de websites; desenvolvimento de e-mail marketing e tratamento e edição de imagens. Contato por e-mail: gustavoeaisaac@gmail.com 5 RESUMO No contexto promissor em que o mercado cosmético se encontra, os cosméticos sustentáveis apresentam uma importância fundamental, principalmente devido ao fato de o Brasil possuir uma vasta extensão fitoecológica, biomas variados e distintos em constituição e arranjo. Este cenário proporciona um promissor berço tecnológico no desenvolvimento de produtos cosméticos de origem vegetal, os quais, além de inovadores e pioneiros, possuem matéria- prima abundante em todo território nacional. A diversidade de recursos garante vantagem competitiva na conquista do mercado exportador e o desenvolvimento de produtos nacionais, com grande potencial de penetração no mercado internacional, principalmente os produtos cosméticos com certificação orgânica e natural. Dentro desse contexto, o presente trabalho objetivou avaliar o processo decisório do consumidor brasileiro quanto à aquisição de cosméticos sustentáveis, orgânicos e naturais, em substituição aos cosméticos convencionais, por meio da avaliação de uma amostra de consumidores do município de São João da Boa Vista. Tratou-se de um estudo descritivo e quantitativo. Foi observado que o fácil e imediato acesso, bem como o conhecimento prévio da marca são os fatores de maior influência na escolha e aquisição de um produto cosmético, sendo constatada, ainda, a dificuldade de se identificar um cosmético sustentável e diferenciá-lo de um cosmético convencional. A indicação de conhecidos e o valor de compra também compreendem os fatores de maior influência no processo de aquisição de um cosmético. Identificou-se, também, que o consumo de cosméticos sustentáveis é influenciado primeiramente pelo uso de componentes naturais e pela promessa, implícita ao conceito natural, de promover saúde e bem-estar; e que a percepção dos benefícios ao consumidor é ainda restrita aos benefícios individuais e pessoais, apresentando uma menor preocupação quanto aos benefícios sociais e ambientais. Palavras-chave: Cosméticos Sustentáveis; Orgânicos; Naturais; Desenvolvimento Sustentável; Perfil do Consumidor. 6 ABSTRACT In promising context in which the cosmetic market is, sustainable cosmetics have a fundamental importance, mainly due to the fact that Brazil has a wide phytoecological extent, different biomes and different in constitution and arrangement. This scenario provides a promising tech hub in the development of cosmetic products of plant origin, which, as well as innovators and pioneers, have raw material abundant throughout the country. The diversity of resources ensures great competitive advantage in the conquest of the export market and the development of national products, with great potential for penetration in the international market, mainlycosmetic products with organic and natural certification. Within this context, this study aimed to evaluate the decision-making process of the Brazilian consumer and the purchase of sustainable, organic and natural cosmetics, replacing the conventional cosmetic, through an assessment of a sample of consumers of São João da Boa Vista. This was a descriptive and quantitative study. It was observed that the easy and immediate access and prior knowledge of the brand are the most influential factors in the selection and purchase of a cosmetic product, being found also the difficulty to identify sustainable cosmetic and differentiate it from a conventional cosmetic. The indication of known and the purchase price also comprise the most influential factors in the acquisition of a cosmetic process. It was found also that the consumption of sustainable cosmetics is primarily influenced by the use of natural components and the promise implied the natural concept, to promote health and well- being; and that the perception of the benefits to the consumer is still restricted to individual and personal benefits, with less concern about the social and environmental benefits. Keywords: Sustainable Cosmetics; Organic; Natural; Sustainable Development; Consumer Profile. 7 DEDICATÓRIA À minha amada esposa Mariana, pelo incondicional apoio, ajuda, incentivo e, principalmente, pela paciência. Com você sou mais forte. Ao meu pai, José Elias, pelo constante incentivo, pelas palavras de estímulo e determinação. Obrigado por ser o melhor professor que já tive e um grande pai. À minha mãe, Eliana, por me ensinar, e refoçar constantemente, as importâncias da vida, das pessoas ao nosso redor e a força da fé. 8 AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, a Deus, que dia após dia reforça-me a importância de estar caminhando e que, ao cair, me levante com força e fé, pois a jornada é longa. Agradeço a meus pais, José Elias e Eliana, que sempre priorizaram em minha vida os estudos, incentivando-me a sempre buscar mais conhecimento. À minha esposa, Mariana, pelo constante apoio e por estar ao meu lado incondicionalmente. Ao Professor Dr. Luciel Henrique de Oliveira, pelo incentivo e por ajudar nas perspectivas e potencialidade deste trabalho. Aos Professores Drª. Érica Passos Baciuk e Dr. Paulo Roberto Alves Pereira, pelas ricas contribuições ao meu trabalho. A todos os professores de minha vida, importantes pessoas que me inspiram, entre todos, meu pai, professor de sala de aula e da vida. 9 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABIHPEC Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária A/O Água em Óleo CEP Comitê de Ética em Pesquisa CNS Conselho Nacional de Saúde DOU Diário Oficial da União FDA Food and Drug Administration HPPC Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumaria IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INCI Internacional Nomenclature of Cosmetic Ingredients (Nomenclatura Internacional de Ingredientes Cosméticos) MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MS Ministério da Saúde MS-Excel® Microsoft-Excel® O/A Óleo em Água OGM Organismos Geneticamente Modificados RDC Resolução da Diretoria Colegiada SNVS Sistema Nacional de Vigilância Sanitária SUS Sistema Único de Saúde UNIFAE Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE 10 LISTA DE SÍMBOLOS α alfa (símbolo grego) β beta (símbolo grego) °C Grau Celsius ® Marca Registrada mL Mililitro m/m Massa/Massa m/v Massa/Volume nm Nanômetros % Porcento V/V Volume/Volume 11 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 01: Top 10 dos países de destino das exportações brasileiras de HPPC em US$ milhões......................................................................................................................... 33 Tabela 02: Top 10 dos países de origem das importações brasileiras de HPPC em US$ milhões......................................................................................................................... 34 Tabela 03: Principais oligoelementos das águas termais e seus efeitos biológicos............ 45 Tabela 04: Condições para a promoção do desenvolvimento sustentável com base em suas dimensões .................................................................................................................... 48 Tabela 05: Fatores psicológicos que condicionam o processo de decisão de compra........ 64 Tabela 06: Compilação dos dados sócio-demográficos dos participantes da pesquisa...... 80 12 ÍNDICE DE QUADROS Quadro 01: Relação das regulamentações referentes aos produtos cosméticos relacionadas como vigentes no Portal on-line da ANVISA................................................. 39 Quadro 02: Relação de autores e definições de comportamento do consumidor............... 60 13 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 01: Exemplo de produtos denominados eco-friendly.............................................. 50 Figura 02: Exemplo de produto da Korres (chá de menta - creme corporal extra hidratante)............................................................................................................................. 51 Figura 03: Modelo do processo decisório de compra......................................................... 67 14 ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 01: Gráficos comparativos de participação dos Canais de Distribuição de produtos cosméticos no mercado brasileiro em 2008 e 2012.............................................. 28 Gráfico 02: Ranking mundial de mercado cosmético – os valores apresentados no gráfico são para venda de produtos cosméticos em R$ Bilhões.......................................... 28 Gráfico 03: Comparativo da participação do mercado cosmético brasileiro por categorias de produtos cosméticos...................................................................................... 29 Gráfico 04: Evolução do faturamento do setor brasileiros de Higiene Pessoal, Cosmético e Perfumes em 19 anos (1996-2014)................................................................. 30 Gráfico 05: Evolução do faturamento do setor brasileiros de Higiene Pessoal, Cosmético e Perfumes nos últimos 10 anos (2005-2015)................................................... 30 Gráfico 06: Evolução da Balança Comercial do setor brasileiro de Higiene Pessoal, Cosmético e Perfumes entre 2003 e 2014, em US$ milhões............................................... 32 Gráfico 07: Evolução da Balança Comercial do setor brasileiro de Higiene Pessoal, Cosmético e Perfumes entre 2009 e 2015, em US$ milhões............................................... 32 Gráfico 08: Gráfico referente ao gênero dos participantes da pesquisa............................. 77 Gráfico 09: Divisão etária dos participantes da pesquisa. ................................................. 78 Gráfico 10: Formação escolar completa dos participantes da pesquisa............................. 79 Gráfico 11: Renda mensal média dos participantes da pesquisa........................................ 79 Gráfico 12: Gráfico comparativo da renda mensal com o gênero dos participantes da pesquisa............................................................................................................................... 81 Gráfico 13: Gráfico comparativo da renda mensal com a faixa etária dos participantes da pesquisa........................................................................................................................... 82 Gráfico 14: Gráfico comparativo da renda mensal com a formação escolar completa dos participantes da pesquisa...............................................................................................83 Gráfico 15: Hábito de leitura semana dos participantes da pesquisa................................. 84 Gráfico 16: Prática semanal de esporte, considerando os últimos dois meses, dos participantes da pesquisa..................................................................................................... 85 Gráfico 17: Considerando as últimas duas semanas, os participantes consideram sua alimentação saudável, rica em frutas, legumes, verduras, sucos naturais e alimentos integrais............................................................................................................................... 85 Gráfico 18: Considerando as últimas duas semanas, os participantes indicam o hábito de consumo de alimentos orgânicos.................................................................................... 86 Gráfico 19: Hábito dos participantes em separar seu lixo doméstico em orgânicos e recicláveis para a coleta seletiva.......................................................................................... 87 Gráfico 20: Gráfico comparativo da renda mensal com o hábito de leitura dos participantes da pesquisa..................................................................................................... 87 Gráfico 21: Gráfico comparativo da formação escolar completa com o hábito de leitura dos participantes da pesquisa............................................................................................... 88 15 Gráfico 22: Gráfico comparativo da renda mensal média com a alimentação saudável dos participantes da pesquisa............................................................................................... 89 Gráfico 23: Gráfico comparativo da formação escolar completa com a alimentação saudável dos participantes da pesquisa................................................................................ 90 Gráfico 24: Gráfico comparativo da renda mensal com a alimentação de produtos orgânicos dos participantes da pesquisa.............................................................................. 90 Gráfico 25: Gráfico comparativo da formação escolar completa com a alimentação de produtos orgânicos dos participantes da pesquisa............................................................... 91 Gráfico 26: Gráfico comparativo da renda mensal com a sepração do lixo em orgânicos e recicláveis para coleta pelos participantes da pesquisa.................................................... 92 Gráfico 27: Gráfico do gasto mensal médio com produtos cosméticos pelos participantes da pesquisa..................................................................................................... 93 Gráfico 28: Gráfico comparativo da renda mensal com gasto médio mensal com produtos cosméticos pelos participantes da pesquisa.......................................................... 94 Gráfico 29: Gráfico comparativo do gênero dos participantes com o gasto médio mensal com produtos cosméticos........................................................................................ 94 Gráfico 30: Opção de disponibilidade de cosméticos sustentáveis e decisão de aquisição.............................................................................................................................. 96 Gráfico 31: Gráfico comparativo do consumo de alimentos orgânicos com a disponibilidade comercial de cosméticos sustentáveis ser um fator de influência na decisão de compra............................................................................................................... 96 Gráfico 32: Gráfico comparativo do consumo de alimentos saudáveis (legumes, verduras, frutas, sucos naturais e alimentos integrais) com a disponibilidade comercial de cosméticos sustentáveis ser um fator de influência na decisão de compra..................... 97 Gráfico 33: Influência da indicação de conhecidos na decisão de compra de cosméticos 98 Gráfico 34: Possibilidade de provar o cosmético antes da aquisição em relação à influência na decisão de compra de cosméticos.................................................................. 99 Gráfico 35: Verificação da composição ou ingredientes de um produtos cosmético pelos participantes da pesquisa antes de adquiri-lo............................................................. 99 Gráfico 36: Preferência por empresas com política de sustentabilidade e/ou responsabilidade social bem definida e atuante................................................................... 100 Gráfico 37: Influência na decisão de compra pela presença de parabenos ou óleo mineral na composição cosmética....................................................................................... 101 Gráfico 38: Influência na decisão de compra pela presença de água termal na composição cosmética......................................................................................................... 102 Gráfico 39: Influência da disponibilidade de produtos cosméticos em locais de fácil acesso e/ou entrega imediata na decisão de compra pelos participantes da pesquisa......... 103 Gráfico 40: Preferência pela aquisição de marcas conhecidas pelos participantes da pesquisa............................................................................................................................... 104 Gráfico 41: Influência do preço de venda de um cosmético na decisão de compra dos participantes da pesquisa..................................................................................................... 105 16 Gráfico 42: Comparativo da renda mensal com a influência do preço de venda de um cosmético na decisão de compra dos participantes da pesquisa.......................................... 105 Gráfico 43: Preferência por cosméticos que não sejam testados em animais, independentemente de seu preço de venda.......................................................................... 106 Gráfico 44: Preferência por cosméticos que não prejudiquem o meio-ambiente............... 107 Gráfico 45: Comparativo do consumo de alimentos orgânicos com a preferência de cosméticos que não prejudiquem o meio-ambiente pelos participantes da pesquisa.......... 108 Gráfico 46: Preferência por cosméticos que utilizam embalagens recicláveis ou biodegradáveis..................................................................................................................... 109 Gráfico 47: Preferência por cosméticos que sejam formulados com ingredientes de origem vegetal obtidos de recursos naturais brasileiros...................................................... 109 Gráfico 48: Facilidade em distinguir um produto cosmético natural ou orgânico dos demais produtos cosméticos pelos participantes da pesquisa.............................................. 111 Gráfico 49: Participantes da pesquisa que já utilizaram ou utilizam cosméticos orgânicos ou naturais........................................................................................................... 112 Gráfico 50: Preferência dos participantes da pesquisa por cosméticos orgânicos ou naturais por acreditar que sejam mais saudáveis................................................................. 113 17 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 19 1.1 Apresentação geral do tema e foco do trabalho ................................................................ 20 1.2 Justificativa e importância do trabalho ............................................................................. 20 1.3 Questões norteadoras da pesquisa ..................................................................................... 21 1.4 Objetivos do trabalho ........................................................................................................ 22 1.5 Hipóteses ...........................................................................................................................22 1.6 Descrição do conteúdo de cada capítulo ........................................................................... 23 2 REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................... 25 2.1 Histórico dos cosméticos .................................................................................................. 25 2.2 Panorama de mercado do setor cosmético brasileiro ........................................................ 27 2.3 Aspectos legais e técnicos do setor cosmético .................................................................. 36 2.3.1 Legislação e regulamentação do setor cosmético .......................................................... 38 2.3.2 Importantes aspectos da toxicologia cosmética ............................................................. 40 2.3.3 Parabenos ....................................................................................................................... 41 2.3.4 Água T ermal .................................................................................................................. 44 2.4 Desenvolvimento sustentável e o setor cosmético ............................................................ 46 2.4.1 Desenvolvimento sustentável ......................................................................................... 46 2.4.2 O desenvolvimento sustentável e sua relação com o setor cosmético ........................... 49 2.4.3 Panorama, tendências e perspectivas do mercado cosmético sustentável ...................... 51 2.4.4 Regulamentação brasileira vigente referente ao sistema orgânico e cosméticos sustentáveis .................................................................................................................... 53 2.4.5 Certificadoras ................................................................................................................. 55 2.4.6 Critérios de certificação para os produtos cosméticos ................................................... 56 2.5 Comportamento do consumidor ........................................................................................ 59 2.5.1 Construção de valor, satisfação e fidelidade .................................................................. 61 2.5.2 Reconhecimento, ativação da necessidade, fatores e influências do comportamento de compra ............................................................................................................................ 62 2.5.3 Processo decisório de compra ........................................................................................ 65 2.5.4 Fatores e influências na aquisição de produtos naturais ................................................ 67 2.5.5 Perfis dos consumidores, fatores e influências na aquisição de cosméticos .................. 69 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................ 71 18 3.1 Natureza da pesquisa ......................................................................................................... 71 3.2 Definição da amostragem ................................................................................................. 71 3.3 Procedimentos de coleta ................................................................................................... 72 3.4 Instrumentos de coleta ...................................................................................................... 72 3.5 Análise de dados ............................................................................................................... 75 3.6 Aspectos éticos .................................................................................................................. 75 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................. 77 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 119 6 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 122 7 ANEXOS E APÊNDICES ........................................................................... 136 APÊNDICE I – Instrumento de coleta de dados .................................................................... 137 APÊNDICE II – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) .............................. 138 19 1 INTRODUÇÃO O setor brasileiro de Higiene Pessoal, Cosmética e Perfumaria tem apresentado, nas duas últimas décadas, um crescimento acelerado, registrando um aumento médio deflacionado de 10% nos últimos 19 anos, tendo, porém, sofrido retração em 2015 (ABIHPEC, 2015; ABIHPEC, 2016). Dentre os principais fatores que justificam o franco crescimento do setor cosmético brasileiro, pode-se destacar: a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos e insumos que melhor atendam às necessidades e expectativas dos consumidores brasileiros; o desenvolvimento e a utilização de tecnologias de ponta, que proporcionam a obtenção de novos e mais eficazes insumos, melhora na produtividade de produtos cosméticos e aumento no volume de produção; e a obtenção de insumos e produtos finais pautados na sustentabilidade, ambiental e humana, promovendo a produção de produtos cosméticos com menor impacto ambiental e geração de resíduos reduzida, além do incremento na segurança de uso. Neste contexto, em que o mercado cosmético se mostra promissor, os cosméticos sustentáveis apresentam uma importância fundamental, principalmente devido ao fato de o Brasil possuir uma vasta extensão fitoecológica, biomas variados e distintos em constituição e arranjo. Este cenário proporciona um promissor berço tecnológico no desenvolvimento de produtos cosméticos de origem vegetal, que, além de inovadores e pioneiros, possuem matéria-prima abundante em todo território nacional, o que garante vantagem competitiva na conquista do mercado exportador e o desenvolvimento de produtos nacionais, com grande potencial de penetração no mercado internacional, principalmente os produtos cosméticos certificados. Os cosméticos sustentáveis, pouco explorados no mercado brasileiro e ainda carentes de regulamentação nacional, podem representar um investimento próspero para o mercado brasileiro, pois são muito apreciados no cenário internacional. A elaboração de produtos sustentáveis possibilita o desenvolvimento de um futuro mercado consumidor assíduo de produtos cosméticos naturais brasileiros, além do desenvolvimento de matérias-primas majoritariamente exclusivas, considerando a disponibilidade fitoecológica nacional. 20 1.1 Apresentação geral do tema e foco do trabalho Os cosméticos sustentáveis, também conhecidos por orgânicos e naturais, são produtos cosméticos que, mais do que a preocupação com a saúde e bem-estar já intrínseca às definições de orgânicos, englobam também toda uma filosofia de produção sustentável e respeito à vida e ao meio ambiente. Ao se pensar em um cosmético orgânico não há apenas a preocupação do cultivo do vegetal que irá originar o insumo componente da formulação cosmética, mas também com toda a cadeia produtiva envolvida na fabricação destes produtos. E este é o princípio básico dos cosméticos orgânicos e naturais: o respeito ao meio ambiente e aos indivíduos que o compõem, na busca de matérias-primas de forma sustentável, equilibrada, não-agressiva e não-prejudicial (ECOCERT, 2003; IBD CERTIFICAÇÕES, 2010). O foco do trabalho consiste em avaliar o processo decisório quanto à aquisição de cosméticos sustentáveis, orgânicos e naturais, em substituição aos convencionais pelo consumidor brasileiro, avaliando-se uma amostra de consumidores no município de São João da Boa Vista, com o objetivo de enumerar os elementos que influenciam o processo de avaliação de alternativas pelo consumidor na aquisição de cosméticos sustentáveis. 1.2 Justificativa e importânciado trabalho O setor brasileiro de Higiene Pessoal, Cosmética e Perfumaria (HPPC) apresenta um crescimento acelerado, tendo registrado em 2014 um faturamento de aproximadamente R$ 43,2 bilhões e uma participação no mercado mundial de 9,4% e, em 2015, um faturamento de R$ 42,6 bilhões e uma participação no mercado mundial de 7,1%. Esses números garantem ao Brasil a quarta posição no ranking mundial, inferior apenas aos mercados norte-americano, chinês e japonês, primeiro, segundo e terceiro no ranking mundial, respectivamente, consoante os dados publicados pela ABIHPEC - Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC, 2016). Ainda, segundo os dados publicados pela ABIHPEC (2015), o setor cosmético no Brasil apresenta um crescimento médio deflacionado de 10%, considerando os últimos 19 anos (1996 a 2014), o que indica que o setor que vem se alicerçando na economia ao longo 21 dos anos, em franco crescimento e de promissoras expectativas para a economia nacional (ABIHPEC, 2015). Neste panorama econômico favorável, os cosméticos sustentáveis apresentam importância fundamental, ao se considerar que o Brasil possui uma vasta extensão fitoecológica, biomas variados e distintos em constituição e arranjo. Logo, o país representa um promissor berço tecnológico na pesquisa e desenvolvimento de produtos cosméticos de origem vegetal, que, além de inovadores e pioneiros, possuem matéria-prima abundante em todo território nacional, o que abre grande vantagem competitiva na conquista do mercado exportador. Aplicar ao processo de desenvolvimento e produção cosmética as políticas de sustentabilidade poderá contribuir para a conservação e renovação de recursos naturais, redução no impacto ambiental e geração de resíduos, bem como para a elaboração de produtos mais seguros e biodegradáveis. Desta forma, este trabalho tem por objetivo avaliar o processo decisório de aquisição de produtos cosméticos, bem como sua contribuição ao nortear as decisões estratégicas no desenvolvimento de produtos pela indústria cosmética brasileira, disponibilizando produtos que atendam às necessidades, demandas e expectativas dos consumidores brasileiros. Sendo assim, torna-se de extrema importância enumerar e quantificar os fatores decisórios de compra que condicionam a aquisição de cosméticos sustentáveis, principalmente no contexto social sustentável e natural que se mostra crescente na população mundial e brasileira. 1.3 Questões norteadoras da pesquisa Quais os fatores que influenciam o consumidor brasileiro a substituir a aquisição dos cosméticos convencionais por cosméticos sustentáveis? Quais as percepções do consumidor quanto aos benefícios dessa substituição? Qual seria o valor percebido de um cosmético sustentável perante a visão do consumidor? 22 1.4 Objetivos do trabalho Objetivo Geral: Avaliar o processo decisório quanto à aquisição de cosméticos sustentáveis (orgânicos e naturais) em substituição aos cosméticos convencionais. Objetivos específicos: a. Identificar os elementos que influenciam o processo de avaliação de alternativas pelo consumidor na aquisição de cosméticos sustentáveis; b. Relatar os principais fatores que condicionam a aquisição e o consumo de cosméticos sustentáveis em substituição ao uso de cosméticos convencionais; c. Apontar os grupos de influência, social e mercadológica, que incentivam o uso dos cosméticos sustentáveis; d. Comparar o perfil dos consumidores de cosméticos sustentáveis com o de cosméticos convencionais; e. Relacionar o perfil dos consumidores com os principais fatores, elementos e grupos de influência que contribuem para a aquisição e consumo dos cosméticos sustentáveis em substituição aos cosméticos convencionais. 1.5 Hipóteses O presente trabalho busca identificar o perfil dos consumidores de cosméticos sustentáveis. Espera-se identificar que o consumo de cosméticos sustentáveis seja influenciado primeiramente pelo uso de componentes naturais e pela promessa, implícita ao conceito natural, de promover saúde e bem-estar; e que a percepção dos benefícios ao consumidor seja ainda restrita aos benefícios individuais e pessoais, apresentando uma menor preocupação quanto aos benefícios sociais e ambientais. Espera-se, também, constatar uma percepção de valor do produto cosmético sustentável associado a uma maior segurança e menores riscos toxicológicos, quando comparado aos cosméticos convencionais. A hipótese a ser testada é a de que uma parcela mínima dos participantes da pesquisa utilizem como critérios para sua decisão de compra a presença ou não de componentes específicos na formulação cosmética ou, ainda, considerem o processo de produção do item cosmético, tais como o uso de animais em pesquisas e os impactos ambientais associados. O 23 pressuposto deste trabalho é que a demanda comercial de cosméticos sustentáveis ser ainda inferior aos cosméticos convencionais está relacionada ao desconhecimento das propriedades e benefícios dos cosméticos sustentáveis por parte do consumidor brasileiro. 1.6 Descrição do conteúdo de cada capítulo Com base na cadeia de informações a respeito do tema e com o objetivo de elaborar um trabalho que apresente um encadeamento de informações, conceitos e reflexões, que proporcione ao leitor uma ideia clara e linear do setor cosmético sustentável, suas perspectivas e oportunidades de crescimento na exploração e produção sustentável, além dos benefícios econômicos e sociais agregados à adoção deste modelo de produção, a sugestão de organização estrutural do trabalho é a seguinte: Capítulo 1 (Introdução): abordagem geral sobre o tema do trabalho, para reportar as primeiras definições utilizadas na pesquisa, descrever o problema da pesquisa, enumerar os objetivos geral e específicos, justificar a importância da pesquisa e os resultados esperados. Capítulo 2 (Referencial Teórico): este capítulo aborda a fundamentação teórica base para sustentar o tema de pesquisa deste trabalho, sendo subdividido nos seguintes tópicos: - Tópico 1 (Histórico dos cosméticos): abordagem histórica do uso dos cosméticos. - Tópico 2 (Panorama de mercado do setor cosmético): abordagem do panorama de mercado do setor cosmético nacional e internacional, com dados econômicos sobre a participação do Brasil no mercado cosmético, apresentando as tendências, perspectivas e fatores de crescimento do mercado cosmético sustentável brasileiro e internacional. - Tópico 3 (Princípios básicos da cosmetologia): abordagem dos princípios básicos da cosmetologia, suas formulações, ingredientes e embalagens, incluindo a legislação regulatória do setor cosmético brasileiro e os estudos de toxicologia cosmética, já introduzindo o leitor aos ingredientes cosméticos potencialmente sujeitos à substituição por ingredientes mais seguros e naturais. - Tópico 4 (Sustentabilidade aplicada ao setor cosmético): neste tópico será abordado o desenvolvimento sustentável aplicado ao setor cosmético, sua importância para o setor e seus benefícios; as legislações regulatórias aplicadas ao setor cosmético 24 sustentável, orgânico e natural, incluindo suas conceituações atualmente aplicadas. Panorama diretivo das certificadoras aplicado à produção cosmética e embalagens. - Tópico 5 (Comportamento do consumidor): neste capítulo serão abordados os conceitos relacionados ao comportamento do consumidor, como reconhecimento e ativação da necessidade; busca de informação; construção de valor, satisfação e fidelidade; estimativa de valor do cliente; critérios de avaliação; fatores e influências do comportamento de compra e pré-compra; fatores psicológicos que influenciam a aquisição de produtos e processo decisório de compra, correlacionando com os fatores e influências na aquisição de cosméticos e osperfis dos consumidores cosméticos e consumidores de produtos naturais e sustentáveis. Capítulo 3 (Procedimentos Metodológicos): descreve de forma detalhada o conjunto de procedimentos utilizados na investigação para se obter os objetivos propostos. Capítulo 4 (Resultados e Discussões): este capítulo descreve os resultados obtidos na pesquisa, bem como sua análise confrontada com a fundamentação teórica e os objetivos propostos. Capítulo 5 (Considerações Finais): será o capítulo final do trabalho, em que serão apresentados o fechamento, as conclusões das análises dos resultados em confronto com a fundamentação teórica e os objetivos propostos, as evidências das contribuições e as perspectivas de continuidade da pesquisa a necessidades futuras. 25 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Histórico dos cosméticos Os cosméticos, de modo geral, possuem sua história diretamente ligada à evolução cronológica da ciência e cultura, estabelecendo uma relação com o ser humano, a qual se manifestou em diferentes formas através dos tempos (CIC, 2010; CORRÊA, 2012). O uso de cosméticos pelo ser humano data desde os tempos primitivos, há cerca de 30 mil anos, sendo utilizados com a função de pintar o corpo humano com finalidades de práticas religiosas ou ornamentais (SEBRAE/ESPM, 2008). Os primeiros registros de uso dos cosméticos datam do Egito antigo e foram encontrados, em tumbas com cerca de 5000 anos, recipientes com materiais usados para fins cosméticos e em sarcófagos e tumbas, datadas de cerca de 1400 a.C.; também foram encontrados recipientes contendo preparações, segundo os historiadores, semelhantes aos cremes, incenso e óleos diversos (SEBRAE/ESPM, 2008; CIC, 2010). Os egípcios já utilizavam, para o ornamento dos olhos, substâncias químicas como, por exemplo, o verde malaquita; e o extrato de Henna, obtido da Lawsonia inermis L., para pintura dos cabelos. A rainha egípcia Cleópatra, para manter sua pele macia e sedosa, utilizava em seus banhos o leite de cabra (ABDI, 2009). Na Grécia antiga, por volta de 400 a.C., foram encontradas descrições que destacavam regras para banhos, para a higiene corporal e procedimentos cosméticos, além da utilização de máscaras de beleza constituídas de argila (CIC, 2010). Por volta de 180 d.C., em Roma, a cosmetologia teve seu avanço com base nos conhecimentos da civilização grega e Claudius Galeno realizou pesquisas na manipulação de produtos cosméticos, deixando muitas informações a respeito da higiene, da cosmetologia e também do famoso “Cold Cream” (SEBRAE/ESPM, 2008; ABDI, 2009; CIC, 2010). Com a proibição da exaltação da beleza pelo Cristianismo durante a Idade Média, no início do século V, o uso de cosméticos foi reprimido e, somente no período das Cruzadas, iniciada a partir do Século IX, houve seu ressurgimento e uso tendo como meta o cultivo da beleza (SEBRAE/ESPM, 2008). O Renascimento, em meados do Século XV, trouxe novamente a ênfase da beleza da mulher e do uso de cosméticos; contudo, a importância e preocupação com o desenvolvimento de perfumes foram evidenciadas, como resultado da falta de preocupação com a higiene, pois com a ausência de banhos, o perfume era utilizado para mascarar o odor 26 desagradável e possibilitar a interação social (SEBRAE/ESPM, 2008; ABDI, 2009; CIC, 2010). A Idade Moderna, nos séculos XVII e XVIII, apresenta como moda e significado de nobreza o uso de perucas cacheadas e os rostos extremamente brancos, o que impulsiona o uso de cosméticos para deixá-los mais claros, além da consolidação da produção de perfumes, de grande importância econômica para a França, desde o período de reinado de Luís XIV até os dias atuais (ABDI, 2009; CIC, 2010). No final do século XVIII, foi pregado pelo Parlamento Inglês que o uso de cosméticos e outros produtos do gênero eram atos de bruxaria e, obviamente, aquele que fizesse uso destes produtos seria punido como tal (SEBRAE/ESPM, 2008). Com a liberação feminina na Idade Contemporânea, no século XIX, tem-se um aumento no consumo e no desenvolvimento e busca por maior diversidade de produtos cosméticos. Neste momento, surgem as indústrias de suprimento de insumos cosméticos, consolidando, assim, as indústrias cosméticas e o setor consumidor cosmético, com uma grande variedade de produtos à disposição dos usuários (CIC, 2010). O homem ganha destaque no desenvolvimento de produtos cosméticos e tem-se início a cultura de uso cosmético masculino representada, principalmente, por perfumes (ABDI, 2009). O século XX apresenta, principalmente em países desenvolvidos, uma crescente produção de matérias-primas e produtos cosméticos, apoiado na maior velocidade dos meios de comunicação, contribuindo para a expansão comercial e para os avanços no setor tecnológico e cultural. Ao final deste século, tem-se a consagração da ciência e da indústria cosmética, a qual se solidifica como um setor de grande importância econômica (CIC, 2010). Neste contexto de mercado crescente, se estabelece a busca contínua pelo desenvolvimento de insumos, matérias-primas, equipamentos de produção e purificação, desenvolvimento de embalagens, além do aperfeiçoamento de técnicas em microemulsões, lipossomas, biotecnologia, nanotecnologia e tecnologia verde. Há também o aumento da preocupação, bem como ajustes e estudos, em testes de qualidade, estabilidade, segurança e eficácia. Estes fatores são os principais responsáveis pelo rápido desenvolvimento do setor cosmético e impulsionadores das inovações e desenvolvimento tecnológico do setor (CIC, 2010). Juntamente com a constante valorização do desenvolvimento sustentável pelas indústrias, destaca-se a preocupação com a manutenção e preservação de fontes naturais de matérias-primas, o efeito acumulativo dos produtos cosméticos no ecossistema, incluindo a bioacumulação humana, e com a biodegradabilidade das embalagens utilizadas (CIC, 2010). 27 São nessas preocupações que os cosméticos sustentáveis, também denominados de cosméticos verdes ou fitocosméticos, se alicerçam para o desenvolvimento do setor, destacando-se o momento favorável para o desenvolvimento orgânico e natural. 2.2 Panorama de mercado do setor cosmético brasileiro Segundo dados da ABIHPEC (2016), existem no Brasil 2.599 empresas atuando no mercado de produtos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC), sendo que 73,0% do faturamento total do setor é fica a cargo de 20 empresas, classificadas como de grande porte, as quais detêm um faturamento líquido de impostos acima dos R$ 100 milhões. A região sudeste brasileira possui 1.594 empresas, sendo que 1.095 delas encontram-se no Estado de São Paulo, o qual possui 42,13% das empresas de HPPC do país. Os canais de distribuição de produtos cosméticos são três: distribuição tradicional (lojas de atacado e varejo); venda direta (evolução do conceito de vendas domiciliares, atualmente utiliza catálogo impressos e revendedores cadastrados) e franquias (lojas físicas personalizadas e exclusivas). Conforme apontado pelo Gráfico 01, os percentuais de participação nacional das lojas de atacado e varejo e da venda direta são equiparados, observando uma participação inferior do canal de franquias (ABIHPEC, 2015). Conforme dados do Euromonitor de 2014, o Brasil ocupava a terceira posição em relação ao mercado mundial de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, com 9,4% de participação no mercado de consumo mundial, conforme Gráfico 02, atrás apenas dos EUA e China, primeiro e segundo colocados, respectivamente (ABIHPEC, 2015). No entanto, em 2015, o Brasil assumiu a quarta posição, com 7,1 % de participação no mercado de consumo mundial, atrás dos EUA, China e Japão, primeiro, segundo e terceiro colocados, respectivamente (ABIHPEC, 2016). Segundo a ABIHPEC (2016), em 2016, o mercado cosmético brasileiro é o segundo em desodorantes,fragrâncias, protetores solares, produtos masculinos e depilatórios; terceiro mercado em produtos infantis, capilares e de higiene oral; quarto em produtos para o banho; quinto mercado em maquiagem e oitavo em produtos para a pele. No entanto, o Brasil perdeu posições no mercado de consumo mundial, visto que, segundo a ABIHPEC (2015), o mercado cosmético brasileiro em 2015 era o primeiro mercado em desodorantes, fragrâncias e protetores solares; segundo mercado em produtos infantis, produtos masculinos, produtos capilares, produtos para banhos e depilatórios; terceiro em produtos de higiene oral e maquiagem e sexto mercado em produtos para a pele. 28 Gráfico 01: Gráficos comparativos de participação dos Canais de Distribuição de produtos cosméticos no mercado brasileiro em 2008 e 2012. Fonte: ABIHPEC et al (2014, p.75). Segundo o Caderno de Tendências da ABIHPEC, ABID e SEBRAE (2014), o Brasil é líder mundial no mercado de cosméticos de massa, que atende a população jovem (teens), também denominada de Geração Y, um segmento importante e significativo para as empresas cosméticas brasileiras. Outro relevante fator que justifica o posicionamento do mercado cosmético brasileiro no panorama internacional está relacionado ao clima quente e úmido do país, que favorece a cultura de mais de um banho diário, incluindo a lavagem dos cabelos diariamente, justificando o alto consumo de produtos capilares, para banho, desodorantes e fragrâncias, categorias de produtos que estão entre os dois maiores mercados do setor cosmético brasileiro, conforme apontado pelo Gráfico 03 (ABIHPEC et al, 2014). Gráfico 02: Ranking mundial de mercado cosmético – os valores apresentados no gráfico são para venda de produtos cosméticos em R$ Bilhões. Fonte: ABIHPEC (2015, p.11). 2014 2015 29 Gráfico 03: Comparativo da participação do mercado cosmético brasileiro por categorias de produtos cosméticos. Fonte: ABIHPEC et al (2014, p.73). O setor cosmético brasileiro apresentou um crescimento médio deflacionado de aproximadamente 10% ao ano nos últimos 19 anos, conforme Gráfico 04 (ABIHPEC, 2015). Também apresentou uma evolução no faturamento "ExFactory", líquido de imposto sobre vendas, que passou de R$ 4,9 bilhões no ano de 1996 para R$ 43,2 bilhões em 2014 (ABIHPEC, 2015). O setor cosmético brasileiro apresentou também um crescimento médio no setor de 9,2% ao ano contra os 2,8% ao ano do PIB Total brasileiro e os 1,9% ao ano da Indústria Brasileira (ABIHPEC, 2015). Segundo os dados publicados pela ABIHPEC (2015) referente a 2014: “Nos últimos 5 anos os preços do setor apresentaram crescimento inferior a inflação e ao índice de preços ao consumidor. Importante destacar os produtos de Higiene Pessoal com índice de preços substancialmente inferior aos demais índices de preços.” (ABIHPEC, 2015, p.04; ABIHPEC, 2016, p.03) 30 Gráfico 04: Evolução do faturamento do setor brasileiro de Higiene Pessoal, Cosmético e Perfumes em 19 anos (1996-2014). Fonte: ABIHPEC (2015, p.01). No entanto, de acordo com dados da ABIHPEC (2016), o setor cosmético brasileiro sofreu retração em 2015, atingindo um faturamento "ExFactory", líquido de imposto sobre vendas, de R$ 43,2 bilhões, em 2014, para R$ 42,6 bilhões em 2015, uma redução de R$ 600 milhões quando comparado ao ano anterior conforme Gráfico 05. O principal fator que contribuiu para a retração evidenciada em 2015, além do cenário político e econômico brasileiro desfavorável, foi o aumento de impostos, como ICMS e IPI, como medida de aumento de arrecadação aos cofres públicos. Este cenário contribuiu para a primeira queda registrada do setor cosmético brasileiro nos últimos 23 anos, incluindo perda segnificativa no ranking de consumo de importantes classes de produtos cosméticos (ABIHPEC, 2016). Gráfico 05: Evolução do faturamento do setor brasileiros de Higiene Pessoal, Cosmético e Perfumes nos últimos 10 anos. Fonte: ABIHPEC (2016, p.01). 31 A balança comercial dos produtos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos apontou um crescimento acumulado de 106,3% nas exportações entre 2003 e 2014, enquanto que as importações indicaram um crescimento acumulado de 495,6% no mesmo período, conforme se constata no gráfico 06. Para o mesmo período, o crescimento médio variou entre 19,5% e 7,5% para as importações e exportações (ABIHPEC, 2015). Pode-se observar no Gráfico 06 uma queda no superávit a partir de 2008, resultando em um déficit de US$ 272 milhões em 2014, como consequência de uma valorização monetária do real (ABIHPEC, 2015). A ABIHPEC (2015) descreve um histórico do comércio exterior brasileiro considerando o total de exportações e importações (ABIHPEC, 2015): “Até 1994, o país manteve superávits em sua Balança Comercial entre 10 e 15 bilhões de dólares. Entre 1995 e 1998, com o advento do Plano Real e a utilização do câmbio como âncora principal para a estabilização da moeda, a Balança Comercial Brasileira apresentou déficits entre 3 e 7 bilhões de dólares. A partir de 1999, com a introdução do câmbio flutuante, observou-se forte desvalorização do real e o déficit foi reduzido para 1,3 e 0,7 bilhão de dólares no ano seguinte. Em 2001, o real foi novamente desvalorizado, principalmente devido à crise econômica na Argentina, provocando um superávit de US$ 2,7 bilhões. Seguiu-se em 2002 outra forte depreciação do Real incrementando o superávit para US$ 13,2 bilhões, em 2003 o superávit foi de US$ 24,9 bilhões. De 2004 a 2006, apesar da valorização do real, o superávit apresentou crescimento, atingindo US$ 46,5 bilhões em 2006. Em 2014 o déficit foi de US$ 4 bilhões.” (ABIHPEC, 2015, p.05) Em 2015, o déficit da balança comercial brasileira referente ao setor cosmético sofreu redução quando comparada ao ano anterior, passando de US$ 272 milhões em 2014 para US$ 199 milhões em 2015, o que evidencia uma queda de 14,5% nas importações e 10,3% nas exportações, conforme gráfico 07, principalmente em função da desvalorização da moeda brasileira (ABIHPEC, 2016) 32 Gráfico 06: Evolução da Balança Comercial do setor brasileiro de Higiene Pessoal, Cosmético e Perfumes entre 2003 e 2014, em US$ milhões. Fonte: ABIHPEC (2015, p.06). Gráfico 07: Evolução da Balança Comercial do setor brasileiro de Higiene Pessoal, Cosmético e Perfumes entre 2009 e 2015, em US$ milhões. Fonte: ABIHPEC (2016, p.05). 33 As Tabelas 01 e 02 apresentam os 10 países responsáveis pelos maiores índices de exportações pelo Brasil e das importações para o Brasil, respectivamente (ABIHPEC, 2016). No último ano, o setor contabilizou 5.791.400 oportunidades de trabalho, mantendo um crescimento médio de 8,1% nos últimos 21 anos (ABIHPEC, 2016). Segundo João Carlos Basilio, atual presidente da ABIHPEC (PORTAL FATOR BRASIL, 2011; ABIHPEC, 2015b): “Uma das razões deste crescimento do setor, além da modernização do parque industrial, do investimento em marketing e da inovação tecnológica das indústrias, é a democratização do consumo e do maior acesso a produtos pelas classes D e E, principalmente em produtos de higiene. Essa esfera da sociedade duplicou o consumo de protetores solares, ampliou em mais de 1000% a compra de enxaguatórios bucais e ampliou em média 2 a 3% o consumo de sabonetes de barra e cremes dentais. Produtos como esses são essenciais para a manutenção da saúde da população com aumentos de preços inferiores à inflação, uma combinação ideal para o aumento de hábitos saudáveis de higiene.” (Portal Fator Brasil, 2011) Tabela 01: Top 10 dos países de destino das exportações brasileiras de HPPC em US$ milhões. Fonte: reproduzida e adaptada de ABIHPEC (2016, p.06). 34 Tabela 02: Top 10 dos países de origem das importações brasileiras de HPPC em US$ milhões. Fonte: reproduzida e adaptada de ABIHPEC (2016, p.07).Os principais fatores que contribuíram para o crescimento do setor cosmético brasileiro, de acordo com a ABIHPEC (2015), são os seguintes: Devido ao aumento na renda per capita do brasileiro, as classes D e E foram favorecidas no acesso aos produtos cométicos; Também influenciada pelo aumento na renda, a parcela da população que migrou para a classe C tem maior acesso a produtos cosméticos de maior valor agregado; Aumento da produtividade do setor brasileiro e utilização de tecnologias inovadoras, contribuindo para estabilização nos índices de reajuste para os preços de venda; Crescente participação no mercado de trabalho da população feminina brasileira, resultando em empoderamento financeiro e maior acesso a produtos cosméticos por este percentual da população; Constantes lançamentos e produtos inovadores disponíveis no mercado nacional; Busca crescente da população pela conservação da beleza e juventude. 35 As tendências e previsões para o mercado futuro de cosméticos são abordadas como parte do relatório global do setor de cosméticos e produtos de higiene pessoal (Euromonitor International) sendo assim descritas para os próximos anos (SEBRAE NACIONAL, 2011): Em função do aumento da expectativa de vida, busca-se a elaboração de produtos específicos para diferentes faixas etárias; Maior intensificação no comércio internacional, com consumos mais diversificados, devido ao aumento da riqueza global; Maior preocupação e dedicação à manutenção da saúde e beleza, o que desperta o interesse por produtos naturais ou de origem orgânica; A busca do consumidor por marcas com preocupações éticas, devido à maior conscientização sobre os impactos ambientais decorrentes de um tipo de fabricação; Maior segmentação nas formulações, embalagens ou no próprio mercado cosmético, além da elevação do potencial de crescimento de matérias-primas que deem maior funcionalidade aos produtos; O crescimento dos extratos vegetais, que já têm posição consolidada no mercado de cosméticos, como os óleos essenciais e resinas naturais, terão um ritmo de crescimento mais lento, diante da competição oferecida por materiais sintéticos, derivados do petróleo, que possuem preços mais vantajosos e maior disponibilidade; Aumento no consumo e comercialização de cosméticos em países como o Brasil, Espanha, Rússia e China; Uma maior diversificação de produtos e ingredientes cosméticos, com o objetivo de atender a especificidade étnica ou intensa atividade física; Aumento da prática das vendas diretas em mercados emergentes. 36 2.3 Aspectos legais e técnicos do setor cosmético Os produtos cosméticos estão sujeitos às legislações e regulamentações sanitárias brasileiras para a produção, envase, comercialização, importação e exportação, conforme Lei n° 6.360, de 23 de setembro de 1976, sob autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), criada e instituída pela Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999, vinculada ao Ministério da Saúde (MS) e integrada ao Sistema Único de Saúde (SUS), sendo também responsável pela coordenação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS). Segundo disposto na Lei n° 9.782/99, a ANVISA é o órgão responsável pela autorização e licenciamento de produção e comercialização de cosméticos em todo o território brasileiro (BRASIL 1976; BRASIL, 1999; CORRÊA, 2012; COELHO, 2013). A definição mais ampla para produtos cosméticos é definida e oficializada para todo o território nacional na Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 07, de 10 de fevereiro de 2015, a seguir (ANVISA, 2015): “Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes: são preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores corporais e ou protegê-los ou mantê-los em bom estado”. (ANVISA, 2015, p.7) Sendo assim, todo e qualquer produto que se enquadre na definição acima é classificado, no Brasil, como produto de higiene pessoal, cosmético ou perfume, seja de origem ou constituição sintética ou natural, total ou em parte (ANVISA, 2015). De acordo com a ABIHPEC (2014b), considerando a conceituação de cosméticos, atualizada pela RDC nº 07, de 10 de fevereiro de 2015, as preparações cosméticas têm por objetivo limpar, perfumar, alterar a aparência, proteger, manter as boas condições ou corrigir odores corporais; desta forma, devido à diversidade de aplicações e de produtos cosméticos, divide-se o setor em três segmentos básicos (ABIHPEC, 2014b): Higiene Pessoal: contempla produtos de uso diário e com objetivo de proporcionar a mínima higiene pessoal. Podem ser considerados nesta classificação, por exemplo, os sabonetes, cremes dentais e enxaguatórios bucais, desodorantes, talcos, shampoos, condicionadores e produtos para barbear. Apesar das características diferenciadas de seus processos produtivos, também podem ser considerados nesta classificação os absorventes íntimos, fraldas descartáveis e papéis higiênicos. 37 Perfumaria: contempla os produtos cosméticos com a finalidade de correção de odores corporais, tais como: águas de colônia, perfumes, extratos e, em algumas situações, loções pós-barba. Cosmético: contempla os produtos cosméticos que têm por função a alteração da aparência, tais como produtos para coloração, tratamento, fixação e modelagem capilar, maquiagem, esmaltes e depilatórios; além de produtos cosméticos que têm por finalidade a manutenção corporal, como cremes, loções e fotoprotetores. A classificação de fitocosmético ou cosmético verde é apenas indicativa, ou seja, é a definição aplicada a produtos cosméticos em que o principal ativo é de origem vegetal. Podem, ainda, assumir a definição de cosméticos naturais ou eco-friendly, que remetem, além da substituição dos ingredientes de origem químico-sintética por ingredientes de origem vegetal, ao uso de processos de obtenção e produção limpos e sustentáveis. Porém, o termo “natural” ou “verde” também é associado ao produto cosmético que utiliza processos sustentáveis e material reciclável em sua produção (THIESEN, 2013; ABIHPEC et al, 2014). Já os ingredientes cosméticos podem ser classificados quanto à sua origem como inorgânicos ou orgânicos. Como exemplo de ingredientes inorgânicos, podemos citar os oligoelementos, como o manganês, que atua na formação do colágeno, por exemplo. Já os ingredientes de origem orgânica podem, ainda, ser divididos em três grupos (REBELLO, 2004): Naturais: obtidos de produtos naturais através de processos químicos e físicos de extração. Sintéticos: obtidos através de sínteses químicas. Semi-sintéticos: são substâncias de origem natural que sofreram pequena modificação química com o objetivo de melhorar suas propriedades químicas ou cosméticas. Os ingredientes cosméticos atendem, no Brasil, a uma classificação internacional para a nomenclatura de ingredientes cosméticos, denominada de INCI, ou Internacional Nomenclature of Cosmetic Ingredients, ou seja, Nomenclatura Internacional de Ingredientes Cosméticos. É um sistema internacional de codificação utilizado para designar e padronizar os ingredientes cosméticos utilizados na formulação de produtos de Higiene Pessoal, Perfumaria 38 e Cosméticos (ANVISA, 2012; CORRÊA, 2012; ANVISA, 2015b; ANVISA, 2015c; ANVISA, 2015d). A classificação INCI é resultado do esforço conjunto de vários países, iniciado pelos Estados Unidos, com o objetivo de simplificar e harmonizar a designação dos ingredientes cosméticos, por regras específicas para a definição da “nomenclatura” de uma substância utilizada com a finalidadede ingrediente cosmético (ANVISA, 2012; CORRÊA, 2012; ANVISA, 2015b; ANVISA, 2015c; ANVISA, 2015d). Os benefícios obtidos na adoção da nomenclatura INCI são (ANVISA, 2012): “agilidade, precisão, clareza na identificação dos ingredientes; facilidade de localização de informações e de orientação para consumidores, profissionais de saúde e de vigilância sanitária. Além disso, evita-se a confusão entre sinônimos e diferentes terminologias ou nomenclaturas químicas. A uniformização e a padronização obtidas com a adoção da nomenclatura INCI facilitam a identificação dos ingredientes e agilizam a localização das informações na literatura técnico- científica e nos compêndios de referência.” (ANVISA, p.2) A nomencletura INCI também contribui para que o consumidor possa identificar os ingredientes de uma formulação cosmética em qualquer país que adotou a nomenclatura, minimizando os erros de interpretação na leitura e identificação de componentes de uma formulação cosmética (ANVISA, 2012; ANVISA, 2015d). Segundo a Resolução RDC n° 07/15, Anexo V, a rotulagem de um produto cosmético deverá apresentar codificação INCI para a nomenclatura dos ingredientes que compõem a formulação cosmética (ANVISA, 2015). O consumidor, o profissional de saúde ou o manipulador cosmético podem acessar a nomenclatura INCI oficial, em que estão dispostas as regras de identificação dos ingredientes descritos nos rótulos de embalagens cosméticas, por meio do endereço virtual: ec.europa.eu/consumers/cosmetics/cosing/, de acesso ao Portal da União Europeia (ANVISA, 2015b). 2.3.1 Legislação e regulamentação do setor cosmético Com o objetivo primordial de garantir ao consumidor brasileiro a aquisição de produtos cosméticos seguros e de qualidade garantida, a ANVISA tem por responsabilidade autorizar a produção e comercialização de cosméticos, produtos de higiene pessoal e perfumes, por meio da concessão de registro ou notificação, além de fiscalizar e regular, através de normas, as empresas fabricantes, atentando-se ao processo de produção, às técnicas e métodos empregados, acompanhando a cadeia de distribuição até o consumo final (ANVISA, 2015e). http://ec.europa.eu/consumers/cosmetics/cosing/ 39 As principais regulamentações vigentes do setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos referenciadas no Portal on-line oficial da ANVISA estão elencadas na Quadro 01: Quadro 01: Relação das regulamentações referentes aos produtos cosméticos relacionadas como vigentes no Portal on-line da ANVISA. RESOLUÇÃO DESCRIÇÃO Resolução – RDC n° 07, de 10 de fevereiro de 2015 Dispõe sobre os requisitos técnicos para a regularização de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes e dá outras providências. Resolução – RDC n° 16, de 1° de abril de 2014 - Retificação Dispõe sobre os Critérios para Peticionamento de Autorização de Funcionamento (AFE) e Autorização Especial (AE) de Empresas. Resolução – RDC n° 16, de 1° de abril de 2014 Dispõe sobre os Critérios para Peticionamento de Autorização de Funcionamento (AFE) e Autorização Especial (AE) de Empresas. Resolução – RDC n° 48, de 25 de outubro de 2013 Aprova o Regulamento Técnico de Boas Práticas de Fabricação para Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes e dá outras providências. Resolução – RDC n° 19, de 10 de abril de 2013 Dispõe sobre os requisitos técnicos para a concessão de registro de produtos cosméticos repelentes de insetos e dá outras providências. Resolução – RDC n° 15, de 26 de março de 2013 Aprova o Regulamento Técnico "Lista de substâncias de uso cosmético: acetato de chumbo, pirogalol, formaldeído e paraformaldeído" e dá outras providências. Resolução – RDC n° 44, de 9 de agosto de 2012 Aprova o Regulamento Técnico Mercosul sobre “Lista de substâncias corantes permitidas para produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes” e dá outras providências. Resolução – RDC n° 30 de 1º de junho de 2012 Aprova o Regulamento Técnico Mercosul sobre Protetores Solares em Cosméticos e dá outras providências. Resolução – RDC n°29, de 10 de junho de 2012 Aprova o Regulamento Técnico Mercosul sobre “Lista de Substâncias de Ação Conservante permitidas para Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes” e dá outras providências. Resolução – RDC n° 03, de 18 de janeiro de 2012 Regulamento Técnico Mercosul sobre "Lista de substâncias que os produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes não devem conter exceto nas condições e com as restrições estabelecidas". Resolução – RDC n° 36, de 17 de junho de 2009 Dispõe sobre a proibição da exposição, venda e entrega ao consumo de formol ou de formaldeído (solução a 37%) em drogaria, farmácia, supermercado, armazém e empório, loja de conveniência e drugstore. Resolução n° 92, de 9 de dezembro de 2008 Estabelece regras gerais para os produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes de grau 1 e de grau 2, quando fabricados no Brasil e destinados exclusivamente à exportação. Resolução – RDC n° 176, de 21 de setembro de 2006 Aprova o Regulamento Técnico “Contratação de Terceirização para Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes”. Resolução – RDC n° 48, de 16 de março de 2006 Regulamento Técnico “Lista de substâncias que não podem ser utilizadas em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes”. Resolução – RDC n°47, de 16 de março de 2006 Regulamento Técnico “Lista de filtros ultravioletas permitidos para produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes”. Resolução – RDC n° 332, de 1º de dezembro de 2005 Estabelece que as empresas fabricantes e/ou importadoras de Produtos de Higiene Pessoal Cosméticos e Perfumes, instaladas no território nacional deverão implementar um Sistema de Cosmetovigilância, a partir de 31 de dezembro de 2005. Resolução – RDC n° 13, de 17 de janeiro de 2003 Determina a obrigatoriedade de inclusão dos dizeres de rotulagem de produtos de higiene oral indicados para hipersensibilidade dentinária. Resolução – RDC n° 38, de 21 de março de 2001 Estabelece critérios e procedimentos necessários para o registro de novas categorias de produtos cosméticos, destinados ao uso 40 infantil. Resolução n° 481, de 23 de setembro de 1999 Estabelece parâmetros para controle microbiológico de Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes. Fonte: ANVISA (2015f; 2015g; 2015h). 2.3.2 Importantes aspectos da toxicologia cosmética Em virtude do acelerado crescimento do setor cosmético, pesquisadores e manipuladores têm se dedicado ao estudo do impacto ambiental dos produtos cosméticos, seus insumos e embalagens, considerando o ecossistema como um todo. As pesquisas têm direcionado esforços para avaliar os riscos ambientais envolvidos na utilização diária destes produtos, considerando os impactos a médio e longo prazo nos recursos ambientais e na saúde humana. A extensa e contínua avaliação dos produtos cosméticos e seus ingredientes antes da inserção do produto cosmético no mercado, assim como a cosmetovigilância de produtos já em processo de comercialização, se faz necessária devido à exposição de seus usuários, diariamente para alguns produtos, visto que a exposição a ingredintes cosméticos não está isenta de toxicidade ou efeitos e danos sistêmicos ao organismo humano (COELHO, 2013). Segundo Franquilino (2016), cerca de 30% da população brasileira apresenta algum tipo de alergia, o que contribui para o desenvolvimento de cosméticos livres de ingredientes alergênicos ou potencialmente tóxicos, que possam provocar algum efeito indesejado nos consumidores. Tem-se desenvolvido uma classe de produtos, denominados de cosméticos free, ou seja, livres de ingredientes sensibilizantes, alergênicos ou potencialmente tóxicos, como os parabenos, óleos minerais, fragrâncias, silicones, corantes, entre outrosingredientes. Apesar de as indústrias adotarem critérios técnicos e recursos científicos para garantir a segurança dos cosméticos, nenhum produto garante ausência total de risco, principalmente em relação às reações adversas e alergenicidade, de sensibilidade individual de cada usuário (FRANQUILINO, 2016) O óleo mineral, obtido por meio do fracionamento do petróleo, é um ingrediente comumente utilizado em formulações cosméticas com ação emoliente e hidratante, atua na melhora da chamada função de barreira epidérmica, ao criar um filme sobre a pele, reduzindo, assim, a desidratação cutânea. Apesar de seu vasto uso na Europa, nos Estados Unidos é visto com certa desconfinça (MICHALUN e MICHALUN, 2010). Em estudo conduzido por Sakakibara et al (1989), realizado com mecânicos, associou-se a incidência de dermatite de contato fotoalérgica ao contato com óleo mineral. Em estudo conduzido por Svendsen e Hilt 41 (1997), com engenheiros navais, foi observado o aumento da prevalência de doenças de pele pelo contato direto com óleos minerais. Segundo a Environmental Working Group (2007), ingredientes cosméticos petrolato derivados, como o óleo mineral, podem ser contaminados com 1,4-dioxano, uma substância que penetra facilmente na pele e é potencialmente carcinogênica. Esta informação é reforçada por estudo realizado por Stickney et al (2003) sobre o potencial carcinogênico do 1,4-dioxano. Apesar da possibilidade de remoção do 1,4-dioxano do óleo mineral e dos estudos conduzidos por Svendsen e Hilt (1997) e por Sakakibara et al (1989) terem sido realizados com engenheiros navais e mecânicos, o risco associado do óleo mineral em cosméticos deve ser avaliado por estudos conduzidos por pesquisadores e indústrias, com a finalidade de garantir a segurança de seu uso em produtos cosméticos. O sistema de Cosmetovigilância brasileiro foi instituído pela Resolução – RDC nº 332, de 1 de dezembro de 2005, que institui que as empresas fabricantes e/ou importadoras de cosméticos, instaladas no território brasileiro, deverão implementar um Sistema de Cosmetovigilância e notificar à ANVISA e os Estados Partes do Mercosul envolvidos quando indentificados problemas decorrentes do uso, defeitos de qualidade ou efeitos indesejáveis de produtos cosméticos, além do acesso do consumidor a estas informações (ANVISA, 2005). 2.3.3 Parabenos Alguns ingredientes cosméticos já estão sob evidência científica há alguns anos, pois, a princípio, denotam riscos de exposição a médio e longo prazo. Entre eles estão os parabenos, que são ésteres do ácido p-hidroxibenzóico, utilizados com a função de conservação das formulações cosméticas, apresentando amplo espectro de atividade contra o crescimento microbiano. Os conservantes têm como função cosmética impedir o crescimento e desenvolvimento microbiano, garantindo a integridade microbiológica do produto cosmético, bem como sua vida útil, contribuindo para que as formulações apresentem um período de validade mais extenso e não promovam o desenvolvimento de infecções em seus usuários (FERNANDES et al, 2013). Os conservantes utilizados em cosméticos são substâncias químicas que têm por função impedir, prevenir ou retardar a deterioração dos produtos cosméticos por proliferação de microrganismos (CARREIRA, 2008). Para que um conservante cosmético seja considerado ideal, deve apresentar algumas propriedades específicas, como, por exemplo, amplo espectro de ação contra a proliferação de microrganismos, como bactérias e fungos, preferencialmente a baixas concentrações de uso; considerável solubilidade em água; ser 42 atóxico para o ser humano; ser compatível com os demais ingredientes cosméticos e, financeiramente, ser viável, preferencialmente, de baixo custo (FERNANDES et al, 2013). Encontrar um conservante que seja considerado ideal pode se mostrar uma tarefa difícil, desta forma, é possível utilizar associações de conservantes, as quais podem ser denominadas de blends, e são utilizadas, principalmente, para se obter um espectro de ação conservante mais amplo (TAVARES e PEDRIALI, 2011). Considerando estas propriedades, é possível entender a larga utilização dos parabenos como o sistema conservante de escolha dos produtos cosméticos, sendo a classe conservante mais utilizada nos produtos cosméticos nacionais e internacionais (FERNANDES et al, 2013). Atualmente, o uso de conservantes em produtos cosméticos, de higiene pessoal e perfumes, assim como as associações de conservantes e as concentrações máximas permitidas, são reguladas pela Resolução – RDC n° 29, de 10 de junho de 2012, que dispõe sobre a “Lista de Substâncias de Ação Conservante permitidas para Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes” (ANVISA, 2012b). A concentração máxima permitida pela Resolução – RDC n° 29, de 10 de junho de 2012, para o uso isolado de um parabeno em formulações cosméticas é de 0,4%, considerando o total dos ingredientes da formulação cosmética e, para o uso de associação de parabenos, a concentração máxima permitida é de 0,8% considerando o total dos ingredientes da formulação cosmética (ANVISA, 2012b). No entanto, estudos científicos realizados nos últimos anos apontam para efeitos secundários dos parabenos, dentre os quais pode-se destacar a presença de atividade estrogênica destes conservantes, que pode ser descrita como um efeito direto nos receptores biológicos de estrógenos, desencadeando efeitos específicos e similares (miméticos) ao 17β- estradiol (BILA e DEZOTTI, 2007). Os pesquisadores Bila e Dezotti (2007) classificam os parabenos (metilparabeno, etilparabeno, n-propilparabeno, butilparabeno, isobutilparabeno e benzilparabeno) como desreguladores endócrinos, substâncias químicas que interagem com sítios de ligação em receptores biológicos hormonais, promovendo desequilíbrios, alteração ou interferência nas funções do sistema endócrino humano (BILA e DEZOTTI, 2007). Em estudo in vitro e in vivo realizado por Routledge et al (1998), observou-se competição do butilparabeno com o 3H-estradiol pelos receptores estrogênicos em ratos. Também foi observado efeito estrogênico in vitro para os parabenos mais utilizados no mercado cosmético, o metil, etil, propil e butilparabeno, no entanto, a ação estrogênica, quando comparada com o 17β-estradiol, apresentou-se potencialmente baixa. Todavia, os 43 autores reforçam a necessidade de maiores estudos de segurança quanto ao uso destes produtos como sistemas conservantes em cosméticos (ROUTLEDGE et al, 1998). Em estudos realizados por Golden et al (2005), também foram evidenciados efeitos estrogênicos de baixa intensidade pelos parabenos em receptores estrogênicos. Os autores relatam que deve-se considerar não apenas a presença dos efeitos estrogênicos, mas também a potência destes efeitos quando comparados ao 17β-estradiol. Segundo Chen et al (2007), em estudos com o metil, propil e butilparabeno, foram observadas redução na atividade transcricional induzida pela testosterona, o que indica que estes compostos podem apresentar um efeito antiandrogênico, sendo reforçado também por estes autores a importância de um estudo mais aprofundado sobre os futuros impactos destes efeitos sobre a saúde humana. Para Darbre (2006), produtos cosméticos que utilizam ingredientes que apresentam efeito estrogênico, principalmente utilizados nas áreas das axilas e das mamas, podem contribuir significativamente para o desenvolvimento e aumento de incidência de câncer de mama, em virtude do aumento de exposição local e pela absorção sistêmica resultante de exposição localizada e contínua. O efeito estrogênico e acumulativo dos parabenos na região das axilas e das mamas, contribuindo para o aumento na incidência de câncer de mama, também é apontado por Pugazhendhi et al (2007). Este estudo reportou indução do crescimento das células MCF-7, células cancerosas