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1 DESENVOLVIMENTO DE PLANTAS Jeferson Dombroski - Março de 2011 Conceito: é a parte da fisiologia vegetal que estuda o que causa e o modo como acontecem o crescimento (provocado pela divisão celular e do seu alongamento) e a diferenciação (alterações anatômicas, morfológicas e fisiológicas associadas ao estádio de vida do vegetal ou a interações com o meio ambiente). A análise do crescimento é uma parte da fisiologia vegetal que se dedica à metodologias de mensuração do crescimento. Na presente apostila serão estudados fatores relacionados à diferenciação. ESTÁDIOS DO DESENVOLVIMENTO A vida de um vegetal pode ser, em geral, dividida em três estádios ou fases (quadro 1): Quadro 1 Estádios (fases) do desenvolvimento, fenômenos que caracterizam sua transição e características mais marcantes de cada estádio ESTÁDIOS DO DESENVOLVIMENTO FENÔMENO DE TRANSIÇÃO CARACTERÍSTICAS DO ESTÁDIO EMBRIOGÊNESE - Desenvolvimento de uma planta em miniatura - Acúmulo de reservas orgânicas e minerais - Desidratação dos tecidos - Desenvolvimento de mecanismos sensoriais e de distribuição temporal da germinação - Desenvolvimento de estruturas de dispersão DISPERSÃO E GERMINAÇÃO DESENVOLVIMENTO JUVENIL OU VEGETATIVO - Incapacidade reprodutiva sexual - Crescimento vegetativo vigoroso - Acúmulo de reservas - Capacidade de enraizamento TRANSIÇÃO FLORAL DESENVOLVIMENTO REPRODUTIVO - Sincronização entre plantas e com épocas do ano - Produção de estruturas reprodutivas (flores) - Atração de polinizadores - Diminuição do vigor vegetativo - Diminuição da capacidade de enraizamento - Uso das reservas para a produção dos frutos/sementes FECUNDAÇÃO 2 Embriogênese e semente A embriogênese é a fase inicial da vida de um vegetal propagado sexuadamente, que vai desde a fecundação do óvulo até a germinação. No início dessa fase o novo ser permanece ligado à planta-mãe, e é formada a semente. As características que vão governar a vida desse novo indivíduo dependem do seu material genético (formado pela mistura de material genético materno e paterno), e do ambiente em que viverá. O material genético será responsável pela capacidade que o indivídeuo terá de lidar com os fatores ambientais, sua resistência aos estresses, pragas e doenças, e sua capacidade de crescimento Durante a embriogênese, o ambiente do novo ser é o corpo da planta-mãe, e ela serve como um escudo contra os estresses ambientais, minimizando seus efeitos, porém, os estresses sofridos pela planta-mãe são refletidos nas sementes produzidas. Plantas-mãe pouco vigorosas produzem sementes pouco vigorosas ou em pequena quantidade. Isso é muito importante porque a qualidade da semente está muito relacionada com a sua capacidade produtiva. Sementes de boa qualidade germinam mais rápido, as plantas crescem mais fortes e são mais resistentes a estresses ambientais. Sementes As sementes são compostas por três estruturas básicas: 1. O embrião, que normalmente é uma planta completa, em miniatura, composta por uma raiz pequena (radícula), um ápice meristemático da parte aérea (plúmula), com primórdios de folhas e até dos primeiros ramos, e uma ou duas folhas modificadas, os cotilédones (monocotiledônes e dicotiledôneas, respectivamente); 2. Uma reserva nutritiva, que pode fazer parte do embrião (cotilédones - dicotiledôneas) ou não (endosperma – monocotiledôneas; perisperma); 3. Um revestimento protetor, que compreende o tegumento da semente e pode também conter estruturas do próprio fruto, como o endocarpo e o mesocarpo. O embrião é uma estrutura muito delicada, que é preparada durante a embriogênese para ser capaz de sobreviver e dar origem a uma nova planta após a germinação da semente. Normalmente o novo indivíduo inicia a sua vida produzindo raízes, e isso tem a função de garantir a água (e os nutrientes) necessários ao seu desenvolvimento, e só depois inicia o crescimento da parte aérea, que normalmente tem que romper uma camada de solo com até alguns centímetros e, daí, emitir folhas, que se tornarão verdes e só então iniciarão a converter energia solar com a fotossíntese. Logo após a germinação, a nova planta não é capaz de absorver os nutrientes minerais adequadamente e ainda não faz fotossíntese. Todos esses órgãos e funções precisam de energia e estruturas de carbono (também chamadas de esqueletos de carbono) para que possam ser formados, e isso é feito a partir das reservas nutritivas armazenadas na semente, que são substâncias insolúveis em água, como carboidratos polimerizados (amido, amilopectina, frutanos, etc.) óleos, e proteínas (glutelinas). Também são armazenados na semente nutrientes minerais, na forma solúvel ou complexados como fitatos. Assim, as funções primordiais da semente são dar origem ao novo indivíduo e provê-lo com os nutrientes necessários ao seu crescimento inicial. O tegumento tem basicamente três funções: 1. Pode servir para proteção contra danos mecânicos (quedas e herbivoria) ou química, por exemplo liberando substâncias que impedem a herbivoria. 3 2. Pode proteger contra a desidratação excessiva e/ou favorecer a manutenção de baixos níveis de água (como nas leguminosas em geral), 3. Pode favorecer a dispersão, fornecendo uma polpa carnosa que atrai os dispersores ou estruturas de flutuação ou dispersão pelo vento. Uma característica desenvolvida à mesma época da embriogênese é a presença de estruturas que favorecem a dispersão, que pode ser feita basicamente pelo vento ou por animais. Isso é importante porque as plantas são seres basicamente imóveis, permanecendo fixos em um mesmo lugar durante toda a sua vida. A liberação das sementes é a única oportunidade de uma espécie de espalhar-se rapidamente por outras áreas. No caso da dispersão pelo vento, as unidades de dispersão (todas as estruturas que são liberadas da planta-mãe junto com a semente) são normalmente leves e com uma superfície grande, na forma de asa ou vela. No caso da dispersão por animais, os frutos ou as unidades de dispersão têm características de cor e odor que atraem os animais, que vêm alimentar-se dos frutos e os carregam para longe, e que, não conseguindo acessar as sementes, ou não tendo interesse por elas, as liberam. Uma característica típica da maioria das sementes é o seu baixo nível de hidratação. As sementes desse tipo são denominadas ortodoxas, e podem atingir níveis de hidratação de até cerca de 6% do peso fresco. Muito poucos organismos são capazes de permanecer vivos com tão pouca água. As sementes que não resistem à desidratação abaixo de 20-25% são denominadas de recalcitrantes. As sementes recalcitrantes precisam germinar logo que são liberadas da planta-mãe, resistindo no máximo por uns poucos meses, e somente se forem mantidas hidratadas. Assim elas são características de dois tipos de ambientes. Ou tropical úmido, em que o solo retém umidade na maior parte do ano, ou em ambientes com estação seca definida, em que o florescimento ocorre na época seca, e as sementes já estão maduras no início da estação chuvosa, e caem no chão na época própria para germinarem, tendo todo o período de chuvas para o desenvolvimento da planta jovem. No caso das sementes ortodoxas, o baixo teor de água das sementes dá a elas o poder de resistirem por longos períodos de armazenamento, que podem atingir até algumas centenas de anos. Isso permite que essas sementes sejam capazes de sobreviver durante períodos em que as condições ambientais sejam desfavoráveis ao desenvolvimento de uma planta, como de frio intenso ou seca. Dormência de sementes Para que uma semente germine é necessário, basicamente, a suareidratação e uma temperatura adequada. No entanto, muitas sementes ortodoxas são produzidas com mecanismos internos com a função de retardar a germinação, denominados de mecanismos de dormência, que podem ser de vários tipos, mas com dois objetivos básicos: 1. Distribuir temporalmente a germinação, pois se todas as sementes germinassem ao mesmo tempo, e houvesse um veranico ou uma geada, as plantas jovens morreriam, e todo o esforço da planta para produzi-las seria perdido; 2. A habilidade de detectar a época do ano ideal para a germinação, a profundidade de enterrio, ou o sombreamento por outras plantas. Os mecanismos de dormência são divididos em dois tipos, embrionários (o embrião tem um mecanismo que impede a germinação) ou tegumentares (algum fator do tegumento impede a germinação). A dormência embrionária pode acontecer pela ―imaturidade‖ do embrião (embrião rudimentar), ou seja, quando a semente está madura o embrião ainda não está plenamente formado, exigindo um período de ―pós-maturação‖, como é o caso da castanheira-do-Brasil. Também pode 4 haver a presença de substâncias inibidoras da germinação (como o ácido abscísico, fenóis, etc.), ou pequeno nível de estimuladores (giberelinas, brassinosteróides, etc.). A dormência tegumentar pode ocorrer por 1. Impedimento da absorção de água (fenômeno denominado de dureza do tegumento), 2. Limitação do fornecimento de oxigênio, 3. Fornecimento de substâncias inibidoras da germinação, ou 4. Restrição mecânica ao crescimento do embrião. Germinação de sementes: A germinação é o processo de retomada do crescimento do embrião, que começa com a embebição e termina com o início do crescimento da radícula (conceito fisiológico - Figura 1). Para os fitotecnistas que trabalham em laboratórios de análise de sementes, é comum considerar-se o término da germinação apenas após a planta ter atingido algum crescimento, para que se possa observar se há má-formação, sendo considerada germinada a planta adequada para o cultivo agrícola, mas esse conceito tem sido modificado, e, pelo menos em pesquisas, é comum diferenciar- se germinação da produção de plantas deformadas. Figura 1 Fases da germinação. Fase 1 – embebição; fase 2 – fase ―lag‖; fase 3: crescimento da planta jovem Desenvolvimento juvenil: Refere-se ao estádio logo após a germinação, e que vai até a maturidade, que é a época em que as plantas se tornam capazes de se reproduzirem sexuadamente. Nesse estádio as plantas apresentam um grande vigor, produzindo profusamente raízes, ramos e folhas, com a função não só de manter o indivíduo, mas de propiciar o crescimento até que a planta atinja um tamanho mínimo, ou uma capacidade fotossintética mínima, que tornem o indivíduo capaz de sustentar a produção de flores, frutos e sementes. Conforme a planta cresce, o vigor juvenil diminui. Quando a planta atinge a fase madura, é comum a perda da capacidade de enraizamento, e diminuição da produção de folhas e da brotação. A principal característica da fase juvenil é a incapacidade ou impossibilidade para o florescimento, e parece mesmo que existe algum mecanismo que impede a produção de flores. Isso tem vantagens ecológicas, uma vez que, se a planta florescer sem ter um porte mínimo, a tempo Ab so rç ão d e ág ua ( au m en to do p es o fr es co ) Germinação visível fase 1 fase 2 fase 3 5 produção de sementes será pequena, e feita com riscos à própria planta-mãe, que esgotará totalmente suas reservas no processo. O estádio juvenil pode durar algumas horas, em algumas espécies herbáceas, como pode demorar várias dezenas de anos como em Cica e Bertolethia (castanha-do-Brasil) Outra característica importante é o crescimento indeterminado do meristema apical, ou seja, o desenvolvimento dos meristemas vegetativos produz primórdios de folhas, ramos e novos meristemas, sendo porisso virtualmente imortal. Quando as plantas perenes florescem, elas mantém alguns meristemas vegetativos, que se desenvolvem na época propícia. É isso que permite que existam plantas, hoje, com idade estimada em até dezenas de milhares de anos. Desenvolvimento maduro ou reprodutivo: Quando a planta se torna madura, isto é, capaz de florescer, ela pode florescer imediatamente, independente de sinais ambientais, ou pode depender de algum sinal que indique a época do ano em que se encontra. Os principais sinais ambientais que induzem o florescimento são o fotoperíodo (comprimento da noite) e temperaturas baixas (temperaturas abaixo de 15°C por alguns meses), mas parece também que algumas plantas são capazes de florescer em resposta ao grau de hidratação do solo. A determinação da época do ano é importante, por dois motivos. O primeiro é que isso permite a sincronização do florescimento entre plantas da mesma espécie. O segundo é porque assim fica assegurado que tanto o florescimento, a polinização, o desenvolvimento dos frutos, e mesmo a germinação das sementes ocorram em épocas adequadas. É importante observarmos que as plantas perenes alternam, após a aquisição da maturidade, períodos de intenso crescimento vegetativo com períodos em que o crescimento vegetativo dá lugar ao desenvolvimento reprodutivo, em um ciclo anual. A função das flores não é só a produção de carpelos, óvulos e grãos de pólen, mas também têm que ter estruturas que favoreçam a polinização. Quando ocorre a autopolinização, a abertura floral e a forma e disposição de anteras, pistilos, estigmas e estiletes favorecem o processo. Quando a polinização é cruzada, são necessários mecanismos que permitam ao pólen de uma planta atingir o estigma de outra, o que pode acontecer de duas formas: pelo vento, e então os grãos de pólen têm que ser produzidos em uma quantidade muito grande, pois a acesso ao estigma é casual; ou por agentes polinizadores, como os insetos. Nesse caso são necessários mecanismos de atração, por forma, cor ou odor, e algum tipo de benefício ao inseto, que normalmente é o néctar. As substâncias que dão cor (antocianinas, flavonóides, etc.) e odor (voláteis, como óleos essenciais) são produzidas pelo chamado metabolismo secundário das plantas. Os fenômenos de transição: Os estádios do desenvolvimento são separados por fenômenos de transição. Entre a embriogênese e o desenvolvimento juvenil ocorre a dispersão das sementes e a germinação. Entre o desenvolvimento vegetativo e o reprodutivo, ocorre a conversão dos meristemas, ou transição floral, e entre o desenvolvimento das estruturas reprodutivas e a embriogênese ocorre a fecundação do óvulo. É bastante interessante que todos esses fenômenos têm potencial para ocorrerem rapidamente. A impressão que se tem é como se fossem chaves que desligam um estádio e no mesmo instante ligam o próximo. Acredita-se que os fenômenos de transição refletem a reprogramação da planta, em particular dos meristemas. Como exemplos, durante a embriogênese ocorre o acúmulo de reservas, e para isso existe uma determinada programação do funcionamento bioquímico da semente. Após a germinação, ocorre uma inversão, e as reservas acumuladas são quebradas para sustentar o crescimento da 6 planta jovem. Durante o crescimento vegetativo, o meristema apical produz folhas, ramos e novos meristemas, no entanto, com a transição floral, o mesmo meristema passa a originar as estruturas florais, ou seja, se modifica totalmente. Ainda não se sabe exatamente como essa reprogramação ocorre, mas parece haverem modificações na expressão gênica. HORMÔNIOS DE PLANTAS Hormônios de plantas são substâncias produzidas pelos vegetais que, em baixas concentrações (tipicamente 10-6 M, podendo variar entre 10-3 a 10-12 M), podemafetar processos de crescimento e desenvolvimento, e são produzidos como sinais endógenos, ou seja, têm a função de disparar algum processo fisiológico no tecido de destino. Os hormônios são produzidos por determinados tipos celulares, e a sua produção é controlada por mecanismos internos da planta. Uma ação hormonal geralmente ocorre em três etapas: Mecanismo sensorial - as plantas são capazes de perceber variações nas condições ambientais e se adaptarem a elas. Para perceber essas variações, elas usam de mecanismos sensoriais. Por exemplo, a luz é percebida nas folhas ou nos meristemas. A temperatura é percebida nos meristemas, etc. Cada mecanismo sensorial é composto por um conjunto de proteínas e outras substâncias, que respondem aos fatores ambientais e disparam uma alteração na concentração de hormônios (pode aumentar ou diminuir. Esse hormônios, em geral são transportados até um outro local, onde sua presença (ou ausência) dispara um segundo mecanismo, também composto por proteínas, denominado de mecanismo de resposta. Esse mecanismo de resposta irá executar alguma ação que beneficie a planta, de forma a lidar com as alterações no ambiente percebidas pelos mecanismos sensoriais. Um exemplo do que foi descrito acima é a resposta ao estresse hídrico. No caso de falta de água, por exemplo, a ponta da raiz percebe a falta de água (mecanismo sensorial), e aumenta a produção do hormônio ácido abscísico (ABA). O ABA é transportado pelo xilema até as folhas, onde provoca o fechamento dos estômatos (mecanismo de resposta), o que evita que a planta se desidrate. Os hormônios vegetais foram descobertos depois dos hormônios animais, e no início se pensou que tivessem características semelhantes às dos hormônios animais, que são, basicamente: 1. Local específico de síntese 2. Transporte, pela corrente sanguínea até o tecido-alvo 3. Resposta fisiológica relacionada e dependente unicamente da concentração do hormônio. Porém logo se observou que nem todas essas assertivas eram válidas para todos os hormônios vegetais em todas as ocasiões. Alguns hormônios podem ser sintetizados em locais definidos, dependendo do hormônio, como o AIA(ácido indolil-3-acético), que é produzido no ápice da parte aérea, e as citocininas e o ácido abscísico, produzidos primordialmente nos ápices radiculares, enquanto outros podem ser sintetizados em vários locais, como as giberelinas e o etileno. Algumas Mecanismo sensorial Mecanismo de resposta hormônio 7 dessas substâncias agem em longas distâncias, como, por exemplo, o AIA, que age não só logo abaixo do ápice, na região de alongamento, mas também nas raízes, estimulando o seu desenvolvimento. Outros, como o ácido abcísico (ABA) e o etileno, podem agir no mesmo local em que são produzidos. Ainda, os hormônios de plantas parecem agir não só em função de sua concentração, mas também, e talvez principalmente, em função da sensitividade do tecido-alvo. Assim, por exemplo, o embrião em desenvolvimento é mais sensitivo ao ABA, já o embrião da semente madura, em alguns casos é menos sensitivo, e a concentração de ABA necessária para impedir a germinação tem que ser mais alta. Outro exemplo é que a concentração de AIA suficiente para induzir o alongamento celular na parte aérea de uma planta pode ser excessiva para o alongamento celular no sistema radicular, ou seja, o efeito de um determinado hormônio depende do estádio do desenvolvimento e do local em que está agindo. GRUPOS DE HORMÔNIOS Os hormônios vegetais clássicos são as auxinas, as citocininas, as giberelinas, o etileno e o ácido abcísico. Outras substâncias são consideradas hormônios atualmente, como os jasmonatos, as poliaminas, o ácido salicílico e os brassinosteróides, mas que não serão discutidos neste texto. Figura 1. Principais hormônios de plantas. (http://biology.plosjournals.org/archive/1545- 7885/2/9/figure/10.1371_journal.pbio.0020311.g001-M.gif) AUXINAS Em plantas, a principal auxina é o ácido indolil-3-acético (AIA), e parece ser produzida principalmente a partir do triptofano, que é um aminoácido aromático (produzido pela via do shiquimato). Sua síntese ocorre em ápices da parte aérea, nos meristemas apicais, nas folhas jovens e adultas, nos frutos e nas sementes em desenvolvimento. 8 Outras auxinas importantes são o ácido indolil-3- -naftaleno acético (ANA) e o ácido 2,4 diclorofenoxiacético (2,4-d). AIB e ANA são usados para indução de raízes e o 2,4-d como herbicida para dicotiledôneas (é proibido em certas formulações em alguns estados) Figura 2 Principais auxinas naturais (Taiz e Zeiger, 2004, p. 452). Figura 3 Auxinas sintéticas – herbicidas (Taiz e Zeiger, 2004, p. 452).. O AIA produzido nos meristemas apicais e nas folhas jovens é transportado preferencialmente em direção à base da planta, através das células do parênquima da bainha vascular, em um transporte ativo, ou seja, realizado por proteínas de membrana e que envolve gasto de energia metabólica (ver detalhes na Figura 4). Parece, também, que o AIA produzido por folhas maduras é transportado principalmente pelo floema, atingindo o sistema radicular, onde estimula o seu desenvolvimento. PRINCIPAIS FUNÇÕES DAS AUXINAS Algumas funções do AIA (e outras auxinas) em plantas são: Promove o alongamento celular. O AIA promove o crescimento celular, e com isso o alongamento de seções caulinares e de raízes (Figura 5). A taxa de crescimento é proporcional à concentração de auxina, mas doses altas são inibitórias (Figura 6). O AIA produzido no ápice meristemático é transportado pelo parênquima da bainha vascular e chega à região de alongamento, onde parece ser percebido por uma proteína receptora, estimulando a atividade ou a síntese de ATPases de membrana, que são proteínas situadas na membrana plasmática e que quebram o ATP e provocam a extrusão de prótons (H+), acidificando a parede celular e com isso estimulando o seu afrouxamento (Figura 7). Além disso, o AIA nas células dessas regiões também provoca o aumento da síntese de RNA e ―proteínas de crescimento‖ associadas ao aumento do potencial de turgescência e à síntese dos componentes necessários para o crescimento da célula, como membranas. Com o aumento do potencial de turgescência e a diminuição da resistência da parede celular, a célula cresce e se alonga. 9 Figura 4 Transporte polar do AIA (Taiz e Zeiger, 2004, p. 460). Figura 5 A auxina estimula o alongamento de segmentos de coleóptilos de aveia. Os segmentos acima foram tratados por 18 horas com água (esquerda) ou auxina (direita). (Taiz e Zeiger, 2004, p.452) 10 Figura 6 Curva típica de dose-resposta do crescimento induzido por AIA. Observe que, apesar da aplicação de AIA estimular o crescimento, se a dose for excessiva, ocorrerá inibição do crescimento. (Taiz e Zeiger, 2004, p.465). Figura 7 Modelos atuais de extrusão de H+ induzidos por AIA. (Taiz e Zeiger, 2004, p.468). Controla a dominância apical. O AIA produzido no ápice está bastante relacionado com a inibição do desenvolvimento das gemas laterais, que são as gemas situadas nas axilas das folhas. Enquanto o ápice permanecer intacto, existe a tendência de que essas gemas não se desenvolvam, permanecendo dormentes. Quando, porém, a planta é decapitada, uma ou mais gemas tendem a se desenvolver, normalmente logo abaixo do ápice. O desenvolvimento dessa gema, com o crescimento de um ápice ativo, então continua inibindo as demais gemas. Não se sabe ainda, ao certo, como esse controle é feito, mas apenas que o AIA está fortemente envolvido. 11 Figura 8 A auxina inibe o crescimento das gemas laterais em plantas de feijão (Phaseolusvulgaris). A – as gemas laterais são inibidas em plantas intactas devido à dominância apical, B – A remoção do ápice anula a dominância apical sobre as gemas laterais, C – A aplicação de AIA em pasta de lanolina (dentro de uma cápsula de gelatina) sobre o corte no ápice inibe o crescimento das gemas laterais. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 476). Tropismos. O AIA é responsável por pelo menos dois dos tropismos mais importantes, o fototropismo e o gravitropismo. No fototropismo positivo de ramos (parte aérea), o lado do ramo que recebe mais luz transporta o AIA para o lado mais escuro, estimulando o alongamento celular nesse local. Dessa forma, o lado oposto à fonte de luz cresce mais, e o ápice todo se direciona para a fonte de luz, ou na direção mais iluminada (Figura 9). No caso do gravitropismo, quando um ápice radicular é colocado na posição horizontal, o AIA se dirige para baixo, o que parece ser associado à presença de estatólitos, que são amiloplastos, organelas densas que, por isso, ficam na parte mais baixa das células das raízes. Quando o AIA atinge essas regiões é redistribuído, mas continuando na parte basal das raízes. Nesse caso, a concentração de AIA, por ser excessiva, impede o alongamento (as raízes são mais sensitivas ao AIA do que a parte aérea), e a parte superior cresce mais do que a inferior, e a extremidade toda da raiz se curva para baixo (Figura 10). 12 Figura 9 Fototropismo. Esquerda – Fotografia em seqüência temporal de um coleóptilo de milho crescendo em direção de uma fonte unilateral de luz azul aplicada do lado direito. As exposições consecutivas foram feitas com intervalos de 30 minutos. Direita – Distribuição de auxina durante o fototropismo. As plantas de Arabidopsis thaliana foram transformadas geneticamente, produzindo uma proteína que se colore de azul na presença de auxina. Observar o acúmulo de auxina no lado sombreado (A). Estimula a produção de etileno. Altas concentrações de auxina provocam o aumento da produção de etileno. Um dos efeitos da aplicação de herbicidas auxínicos é a produção de etileno, e é o etileno liberado que provoca a queda das folhas. Acredita-se que alguns dos fenômenos mediados por auxinas sejam na verdade provocados pelo etileno. Esse pode ser o caso do estímulo à produção de raízes. Estimula o crescimento de frutos. O crescimento do fruto depende da auxina produzida nas sementes. O endosperma pode contribuir com auxina nos estágios iniciais do desenvolvimento dos frutos e o embrião em desenvolvimento pode ser a fonte principal de auxina durante os estágios seguintes. 13 Figura 10 Gravitropismo de raízes e redistribuição de auxina (Taiz e Zeiger, 2004, p. 476). Figura 11 Efeito da presença de sementes e da aplicação de auxina no crescimento de morango. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 478). Estimula o desenvolvimento de raízes. As auxinas são substâncias com forte potencial rizogênico. Isso é freqüentemente observado pelo efeito da adição de auxinas sobre ramos 14 destacados de plantas (chamados normalmente de estacas). A aplicação de auxinas, particularmente as auxinas sintéticas, como o ácido -naftaleno acético (ANA) e o ácido indolil-3- butírico (AIB - que também é produzido por plantas) induz a proliferação de raízes em grande variedade de plantas, e isso é usado comercialmente na propagação vegetativa de plantas ornamentais, pimenteiras-do-reino, guaranazeiros, e etc. Figura 12 Formação de raízes adventícias. O pecíolo de violeta africana à esquerda foi colocado em solução contendo ANA por 10 dias. O da direita foi colocado em água. (Raven, 2001, p.654) Induz a diferenciação do câmbio vascular. A presença de uma fonte de auxinas, como uma gema metabolicamente ativa induz, logo abaixo de si, a formação de câmbio vascular e a sua diferenciação em tecidos de xilema e floema. No caso de uma lesão que afete o sistema vascular, a presença de AIA promove a regeneração do tecido vascular. Figura 13 Efeito de auxina na diferenciação do sistema vascular. Após o dano, a diferenciação do tecido vascular ocorre em torno da lesão. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 479). Provoca o atraso da senescência foliar. Enquanto um órgão é capaz de exportar ativamente o AIA, ele permanece ativo. Quando uma folha, por exemplo, se torna velha e diminui a sua capacidade de síntese de AIA, ela inicia o processo de senescência foliar, seguido da abscisão dessa folha. Induz a produção de frutos partenocárpicos. Frutos partenocárpicos são produzidos sem que haja a fertilização dos óvulos. O desenvolvimento do ovário , nesses casos, é estimulado pela aplicação de auxinas. Um exemplo é o da uva Thompson e a melancia sem sementes. Como essas 15 frutas não tem sementes, é necessária a aplicação de auxinas e giberelinas para que os frutos se mantenham ativos, e não ocorra a sua senescência e abscisão. Afeta a movimentação de assimilados. Parece que os drenos com maior capacidade de exportação de auxinas são os que se desenvolvem mais. Assim, por exemplo, em um cacho de frutas em um mesmo ramo, aquele fruto mais no início do ramo, que começou a se desenvolver primeiro tem uma certa dominância sobre os outros, parecida com a dominância apical, e restringe o desenvolvimento dos outros. Parece também que os nutrientes são direcionados preferencialmente para esses frutos que começaram a crescer primeiro. Provoca o retardamento da maturação de frutos. Enquanto o fruto exporta auxina, normalmente não amadurece. Perto do fim do seu desenvolvimento, a exportação de auxina diminui e os fenômenos da maturação, típicos da ação do etileno ocorrem. Parece que essa auxina exportada impede a ação do etileno. USO AGRÍCOLA O principal uso das auxinas é como herbicidas. Exemplos são o ácido 2,4 diclorofenoxiacético (2,4-D - tordon) e o ácido 2,4,5 triclorofenoxiacético (2,4,5 T - agente laranja, usado na guerra do Vietnã). São substâncias extremamente tóxicas, capazes de induzir a má formação em fetos de animais e a alteração genética. Outras substâncias importantes são o ácido indolbutírico (AIB) e o ácido α-naftalenoacético (ANA), usadas comercialmente para indução de raízes em estacas. Algumas auxinas também podem ser usadas para a indução e/ou a manutenção de frutos partenogênicos, como, por exemplo, as uvas Black Corinth. CITOCININAS Se pudéssemos dizer que o AIA é o hormônio típico da parte aérea das plantas, diríamos que as citocininas parecem ser hormônios típicos do sistema radicular. Isso em função do seu principal local de síntese. As citocininas são primordialmente produzidas nos ápices radiculares e são transportadas pelo xilema, por onde atingem os ápices da parte aérea. Nos meristemas, então, estimulam a proliferação celular (multiplicação). São também produzidas em sementes durante o seu desenvolvimento. Quimicamente, as citocininas são derivados de adenina, que é uma base nitrogenada. As principais citocinicas são a zeatina (Z), a isopentenil adenina (2-IP) e o ribosídeo de zeatina (ZR). Das citocininas sintéticas as principais são a benziladenina (BAP) e a cinetina (CIN ou KIN). 16 Figura 14 Estrutura de algumas citocininas mais comuns. (http://www.bio.unc.edu/faculty/kieber/lab/Cytokinin%20structure.htm) PRINCIPAIS FUNÇÕES Induz a divisão celular. Está presente em tecidos em que ocorre a divisão celular ativa, e em cultura de tecidos, a aplicação de citocininas provoca a multiplicação celular. Inibe o alongamento celular. A aplicação de citocininas inibe o alongamento de ramos (Figura 15) 17 Figura 15 Efeito da aplicação de citocinina sobre o alongamento do caule em Osteospermum. (http://194.19.129.45/artikler%202000/uge%2003-32/a03u3204.htm) Induz a brotaçãode ramos. A aplicação exógena de citocininas provoca a quebra da dominância apical, com o surgimento de brotações. Em cultura de tecidos isso também acontece, sendo possível induzir a formação de ramos, em algumas espécies, sobre calos, ramos, folhas ou raízes, e o nível de brotação é proporcional à concentração, dentro de uma determinada faixa, dependendo da planta, do tipo do tecido e das condições de cultura (Figura 16). Figura 16 Trabalho clássico de Skoog e Miller, mostrando o efeito da relação entre auxina e citocininas no enraizamento e brotação de ramos. Observe que sob altas concentrações de cinetina (citocinina) ocorre a brotação de ramos, enquanto que sob baixa concentração ocorre a formação de raízes. (http://www.bio.unc.edu/faculty/kieber/lab/cytokinin%20history.htm) Figura 17 Efeito da relação entre auxinas (AIA) e citocininas (cinetina) no crescimento de calos, enraizamento e brotação em fumo. Sob baixa concentração de auxina e citocinina o calo não se desenvolve (0,0 X 0,0). Ao aumentar um pouco a auxina, ocorre o enraizamento (0,0 X 0,18), ao aumentar a citocinina ocorre a brotação (1,0 X 0,0). Ao aumentar ambos ocorre o crescimento do calo sem morfogênese (0,2 X 0,18). (Taiz e Zeiger, 2004, p. 528) 18 Estimula a expansão foliar. Isso parece acontecer porque a presença de citocininas estimula o aporte de nutrientes através do floema. Isso foi observado porque a aplicação de citocininas promove a expansão foliar e também o afluxo de nutrientes para a folha que recebe a aplicação dessas substâncias. Atrasa a senescência foliar. Isso também é observado após a aplicação de citocininas. folhas destacadas em que foi feita uma aplicação de citocininas permanecem verdes por mais tempo do que folhas não tratadas (Figura 18). Figura 18 Efeito de cinetina no atraso da senescência foliar em segmentos foliares de trigo (Triticum aestivum) (http://biologi.uio.no/plfys/haa/plfys/hormon/kinetin.htm) Aumenta a abertura estomática. Em algumas espécies a aplicação de citocininas provoca um aumento da abertura estomática. É possível que isso ocorra porque as citocininas antagonizam a ação do ácido abcísico, que é um hormônio que provoca o fechamento dos estômatos. Estimula o desenvolvimento de cloroplastos e a síntese de clorofila. A aplicação leva ao acúmulo de clorofila, e os tecidos ficam mais verdes. 19 Figura 19 Efeito de citocinina no desenvolvimento de plastídeos. (A) Micrografia de plastídeos de plantas crescidas no escuro, (B) Nas mesmas condições, ocorre formação de tilacóides em plastídeos após o tratamento com citocinina (ver seta). (Taiz e Zeiger, 2004, p. 533). Inibe a formação de raízes. Em cultura de tecidos observa-se que a presença de citocininas costuma inibir a formação de raízes. Plantas de fumo mutantes deficientes na produção de citocininas apresentam raízes maiores. Figura 20 As citocininas inibem o crescimento de raízes. A planta de fumo da direita é mutante deficiente na produção de citocininas. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 527). Estimula o acúmulo de reservas orgânicas. Tecidos com maior concentração de citocininas crescem mais. Parece que isso estimula o seu ―poder de dreno‖. Experimentos com a aplicação de citocininas em folhas isoladas mostram que essas folhas acumulam mais reservas (Figura 21). Figura 21 Efeito da aplicação de citocinina sobre o poder de dreno de folhas (Taiz e Zeiger, 2004, p. 532). 20 GIBERELINAS As giberelinas são um grupo de hormônios que tem mais de cem substâncias conhecidas, porém, em plantas considera-se que uma das poucas com efeito fisiológico significativo seja a chamada GA1 (ácido giberélico 1), que é uma giberelina polar. O uso de números facilitou muito a sua nomenclatura. Um regulador sintético bastante comum é o GA3, que parece ser encontrado apenas em fungos, e que tem uma função semelhante à GA1. As giberelinas apolares GA4 e GA7 também são efetivas, e é possível que estejam associadas a efeitos diferentes do que a GA1. As giberelinas são sintetizadas em maior quantidade em sementes em desenvolvimento, mas também são sintetizadas na parte aérea de plantas. Não se sabe ao certo se são sintetizadas em raízes. São provavelmente transportadas pelo xilema e pelo floema. Figura 22 Giberelinas ativas. Da esquerda para a direita: GA3, GA1 e GA4. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 486, 494) PRINCIPAIS FUNÇÕES Estimula a divisão e o alongamento celular. É o efeito mais marcante. Provoca o alongamento internodal, principalmente nas regiões mais novas das plantas. Esse efeito é especialmente percebido em plantas em roseta, como a alface e o repolho. (Figura 23). Essas plantas apresentam entrenós curtos, devido á baixa produção de giberelinas. Quando estimuladas, florescem, e mudam o hábito de crescimento, se alongando (pendoando). Isso é provocado pelo aumento da produção de giberelinas, que, por sua vez, provocam o aumento do crescimento internodal. Em algumas plantas a aplicação de giberelinas estimula apenas o alongamento internodal. Em outras ocorre o alongamento e o florescimento. 21 Figura 23 Efeito da adição de giberelina. À esquerda, plantas de repolho alongam os entrenós e florescem após aplicações de GA3 . À direita, mutante anão de milho deficiente na produção de giberelina (dwarf), e após a aplicação de GA3. Na planta normal, a aplicação de GA3 produz pouco efeito. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 488 e 487). Induz a germinação. A aplicação de giberelinas (GA3) provoca o aumento da germinação especialmente em sementes que requerem luz ou vernalização, ou seja, com dormência embriônica. Induz a quebra de reservas de sementes. A giberelina está associada com a produção de enzimas após a germinação. A estimulação da produção de -amilase (quebra amido) em grãos de cereais é bem documentada (Figura 24). Nesse caso, a giberelina produzida pela plântula recém- germinada é transportada até a camada de aleurona, onde estimula a síntese dessas enzimas, que quebram o amido em glicose, que é transportada de volta ao embrião onde o nutre. A giberelina também estimula a quebra de proteínas e de lipídeos de reserva. 22 Figura 24 Quebra de amido em cereais – efeito de giberelinas (GAs). (Taiz e Zeiger, 2004, p. 509). Promove o estabelecimento e o crescimento de frutos. O crescimento de uvas sem sementes é aumentado pela aplicação de giberelinas exógenas. Essa aplicação provoca o aumento do tamanho das uvas, o seu alongamento e aumenta o espaçamento das uvas no cacho (Figura 25). Figura 25 Efeito da aplicação de GA3 no crescimento de uvas Thompson. O cacho da direita foi aspergido com GA3 durante o desenvolvimento dos frutos. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 489). Promove a indução de características juvenis. Em plantas de Hedera Helix (hera), a aplicação de GA3 sobre plantas adultas as faz desenvolver folhas com aspecto juvenil. USO AGRÍCOLA Na agricultura são usadas giberelinas para retardar a queda de folhas em flores como o lírio, e aumentar o seu tempo de armazenamento. Também é usado o GA3 para estímulo da germinação de sementes e aumento do tamanho de frutos como as uvas Thompson (Figura 25). Porém, há um uso até maior dos inibidores de síntese giberelinas (A-Rest - ancimidol, Bonzi - paclobutrazol, B-nine - daminozide, Cycocel ou CCC - cloreto de chlormequat, Sumagic - uniconazole, Apogee - prohexadiona 23 de cálcio, e AMO-1618) com a função de diminuir o tamanho das plantas em culturas de flores de vaso. Em cotonicultura é usado o PIX (cloreto de mepiquat), outro inibidor de síntese de giberelinas, para diminuir o porte da planta e aumentar a carga de maçãs. Figura 26 Efeito da aplicação de inibidoresda síntese de giberelinas no alongamento de plantas de vaso. Na figura à esquerda (Gaillardia grandiflora), as duas plantas à direita foram aspergidas com inibidores de síntese de giberelinas, B-nine e cycocel. Na figura à direita, tratamento de Salvia leucantha com uniconazole – Sumagic (http://www.ext.vt.edu/pubs/greenhouse/430-103/430- 103.html#L3). ETILENO O etileno é um gás, produzido na maioria dos tecidos em resposta a estresses ambientais. Ele se move por difusão, e não é retido dentro da planta, apesar de, em condições de alagamento sua velocidade de difusão ser bastante reduzida. Seu principal precursor, o ácido amino-1-ciclopropano-1- carboxílico pode ser transportado. A rota de biossíntese do etileno é esquematizada na Figura 27, assim como os principais fatores que afetam a sua síntese. O etileno é sintetizado a partir da metionina, que forma S-adenosil metionina (SAM). A S-adenosil metionina é convertida em ácido aminociclopropano carboxílico (ACC) pela enzima ACC sintase, e o ACC é convertido em etileno pela enzima ACC oxidase. É muito importante saber que a atividade dessas duas enzimas é afetada por uma série de fatores. A síntese de ACC é aumentada por praticamente qualquer estresse, como por exemplo o dano mecânico (o ato de riscar o mamão para forçar o amadurecimento induz a síntese de ACC), o choque por baixas ou altas temperaturas e a fase do desenvolvimento. O resfriamento dos frutos (se não provocar estresse) reduz a produção de etileno porque reduz a atividade das enzimas envolvidas na rota biossintética e na percepção do etileno. 24 Figura 27 Rota biossintética do etileno. AOA = ácido aminoóxiacético; AVG= aminoetóxivinilglicina; Co+2 = cobalto. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 543). Para a ação do etileno, ele precisa ser percebido por uma proteína receptora. A ação dessa proteína também pode ser inibida, e essa propriedade é utilizada na conservação de frutos, flores e verduras após a colheita. Os principais métodos são o aumento do teor de CO2, sais de prata (tiossulfato de prata) e atualmente tem sido usado o 1-metilciclopropeno. Essas substâncias se ligam à proteína receptora inibindo a sua ação. FUNÇÕES Liberação (ou indução) de dormência em sementes. O etileno pode liberar da dormência sementes de várias plantas, e induzir dormência em outras. Um caso típico é da Striga asiatica, uma importante parasita africana, que germina após a germinação da sua planta hospedeira, ou seja quando a planta jovem começa a produzir etileno. É possível que o etileno seja usado como um sinal ambiental que indica condições favoráveis (temperatura e água) para o aumento do desenvolvimento biológico, pois grande parte dos organismos o produzem. Quebra de dormência de gemas laterais. O etileno pode quebrar a dormência de gemas, sendo algumas vezes utilizado para promover o crescimento de gemas em batatas e outros tubérculos. 25 Promove a senescência de flores. Ao final da vida desses órgãos ocorre uma série de eventos associados à sua senescência. No caso das folhas, a perda de clorofila as deixa amareladas, e há a remobilização de vários nutrientes minerais para serem aproveitados por outros órgãos da planta. Figura 28 Efeito do tiossulfato de prata na inibição da ação do etileno. O frasco à esquerda (TSP) contém tiossulfato de prata, um poderoso inibidor da ação do etileno, retardando a senescência floral. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 548). Promove a maturação de frutos. Muitos frutos respondem à aplicação de etileno amadurecendo. Esses frutos são denominados climatéricos. Nesses frutos, a aplicação de etileno provoca o amolecimento, causado pela digestão das paredes celulares, o aumento dos teores de açúcares solúveis, o desenvolvimento de cor, aroma, e a redução de taninos hidrolizáveis, que conferem o sabor acre (amarram) aos frutos verdes como o caqui e o caju. Tabela 1 Frutos climatéricos e não climatéricos (Taiz e Zeiger, 2004, p. 546). Frutos climatéricos Frutos não-climatéricos Mação, abacate, banana, melão, figo, manga, azeitona, pêssego, pêra, caqui, tomate, ameixa Citros, cereja, abacaxi, feijão-de-corda, morango, melancia, uva. Promove a abscisão de frutos e folhas. Após a senescência, há um aumento da produção de etileno e uma redução da produção de AIA (Figura 29). Existe, no pecíolo de folhas e frutos uma região particularmente sensitiva ao etileno, chamada de região de abcisão. Nessa região a parede celular é digerida, e a folha cai (Figura 30). 26 Figura 29 Relação entre a auxina e o etileno na abscisão foliar. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 552) Figura 30 Formação da camada de abscisão em Impatiens balsamina . Duas ou três camadas de células do pecíolo são mais sensitivas ao etileno, e sofrem degradação da parede celular. Os protoplastos resultantes arredondam-se e aumentam em volume, resultando na separação da folha e do caule. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 551). Promove a indução floral em bromeliáceas. A aplicação de etileno promove a indução floral em algumas bromeliáceas, particularmente o abacaxi. Promove a formação de aerênquima. Em locais inundados pode haver a formação de aerênquimas, que são dutos de ar em raízes, provocados pela degeneração da parede celular. Nesse caso também o etileno parece estar envolvido. A falta de oxigênio provoca o aumento da produção de ACC, que é transportado até a região da planta com disponibilidade de oxigênio. Nesse local o ACC é convertido em etileno e provoca a formação do aerênquima, o qual se desenvolve para baixo, na direção das maiores concentrações de ACC, levando o oxigênio até essas regiões, e provocando mais síntese de etileno. 27 Figura 31 Formação de aerênquima em raízes de milho. A ausência de oxigênio promove a síntese de etileno, o qual provoca a formação de aerênquima. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 640). Promove a formação de raízes e de pêlos radiculares. A aplicação de etileno pode estimular a produção de raízes adventícias e de pêlos radiculares em folhas, pedúnculos florais, caules e outras raízes. Por outro lado, mutantes insensíveis ao etileno exibem redução na formação de pêlos radiculares. Figura 32 Efeito do etileno na formação de pêlos radiculares em plântulas de alface. A planta da direita foi tratada com 10 ppm de etileno por 24 horas. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 548). Promove o alongamento do caule em espécies aquáticas submersas. Nessas plantas, o etileno promove o aumento da síntese de giberelinas e a diminuição da síntese de ácido abscísico, promovendo o alongamento do caule. Induz a epinastia. Epinastia é a curvatura das folhas ara baixo, que ocorre quando o lado superior (adaxial) cresce mais do que o lado inferior (abaxial). O etileno induz a epinastia e esse fenômeno pode ser observado em várias situações de estresse, como o estresse salino, a infecção por patógenos e o alagamento. 28 Figura 33 Epinastia em folhas de tomateiro. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 548). USO AGRÍCOLA Na agricultura é usado o etephon (ácido 2-cloroetilfosfônico - Ethrel, Florel), que é uma substância que, em pH neutro libera etileno. Ele é usado para induzir o florescimento em abacaxis e para forçar a maturação de frutos climatéricos (frutos que amadurecem fora da planta-mãe), como a banana, por exemplo. Também é usado para forçar a abscisão de flores, em limão, por exemplo. A queda das flores será seguida por um novo florescimento, dependendo da época, e a produção de limões será atrasada, permitindo o alongamento do ciclo produtivo. Também é usado na cotonicultura, para raleamento das maçãs, e em floricultura para indução de brotações laterais. Um produto comercial, inibidor de síntesede etileno, a aminoetoxivinilglicina (AVG), com nome comercial de ReTain, parece promissora para retardar a maturação de maçãs e pêras, também podendo ser capaz de aumentar o tempo de prateleira de algumas flores. O 1-metilciclopropeno (MCP) e o tiossulfato de prata são inibidores da ação do etileno. A prata é um metal pesado, e não pode ser usado em alimentos, mas o MCP tem se mostrado promissor, ainda que não seja tão eficiente quanto a prata. ÁCIDO ABSCÍSICO O ácido abscísico (ABA) é produzido pela via dos terpenos. Parece ser produzido pela planta como um todo, mas tem alta concentração em sementes imaturas, sendo produzido em resposta a estresses ambientais, como altas temperaturas e estresse hídrico. O ABA é transportado tanto pelo xilema como pelo floema. Seus principais efeitos podem ser associado ao antagonismo a auxinas e giberelinas. Figura 34 Formas do ácido abscísico (ABA). Da esquerda para a direita: (s)-cis-ABA (forma ativa); (r)- cis-ABA (inativo nas respostas rápidas do ABA, mas ativo nas respostas lentas); (s)-2-trans-ABA (inativo, mas intervonversível na forma ativa. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 562). PRINCIPAIS FUNÇÕES 29 Sinaliza o estresse hídrico. Quando a raiz percebe a falta de água, ela aumenta a síntese de ácido abscísico, que é transportado pelo xilema até as folhas, onde ele provoca o fechamento estomático pela inibição do influxo de potássio nas células-guarda, e abertura dos canais de efluxo de cloro, ambos eventos mediados pela inibição das ATPases de membrana (ver Figura 35). O ABA também provoca a inibição do alongamento da parte-aérea (pela inibição das bombas de prótons) e estímulo do desenvolvimento radicular. Em alguns casos também pode provocar a abscisão foliar. Todos esses fenômenos contribuem com a tolerância das plantas ao estresse hídrico. O ABA, ao chegar às folhas, pode ser aprisionado em organelas com pH alcalino, como mitocôndrias ou cloroplastos. Isso ocorre se a folha estiver em bom funcionamento, com disponibilidade adequada de água, porém, se a folha estiver desidratada, o pH em mitocôndrias e cloroplastos cai, o ABA acumulado nessas organelas é liberado e se dirige aos estômatos, provocando o seu fechamento. Inibe a germinação de sementes. Isso é particularmente importante durante a embriogênese, evitando que o embrião germine antes do tempo, o que é denominado viviparismo. Em alguns tipos de dormência de sementes, a presença de ácido abscísico pode ser a causa. A germinação pode ser controlada pela relação entre ABA e giberelinas. Inibe a quebra das reservas das sementes após a germinação. A aplicação de ABA reverte o efeito da aplicação de giberelinas sobre a germinação e a síntese de -amilase, além de outras enzimas que provocam a quebra de lipídeos e proteínas de reserva. Induz a síntese de proteínas. O ABA, durante o desenvolvimento de sementes provoca o acúmulo de proteínas de reserva, e parece preparar os tecidos para a desidratação 30 Figura 35 Modelo simplificado da sinalização do ABA nas células-guarda dos estômatos. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 576). Figura 36 Germinação de sementes de milho mutante deficiente na síntese de ABA. As sementes germinam ainda na espiga. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 548). 31 USO AGRÍCOLA O ABA é usado para a produção de sementes sintéticas em culturas de tecidos, em um processo denominado embriogênese somática. O ABA é usado com a função de impedir a germinação durante a produção das sementes sintéticas. TEXTOS NA Internet: Textos sobre hormônios de plantas na internet: http://www.plant-hormones.bbsrc.ac.uk/education/Kenhp.htm http://www.ciagri.usp.br/~lazaropp/FisioVegGrad/Hormonios.html Uso de hormônios em uvas http://www.korporasi.com/grape_ch13.html Plant Hormones I — Function, chart of five http://www.sidwell.edu/sidwell.resources/bio/VirtualLB/plant/hormone.html Plant Hormones II — Chart with plant responses http://www.sc2000.net/~czaremba/explanations/plthorcht.html Plant Hormones and Growth Regulators — 10 hyperlinks http://www.rrz.uni-hamburg.de/biologie/b_online/e31/31.htm Plant Hormones, Nutrition, Transport http://www.emc.maricopa.edu/faculty/farabee/BIOBK/BioBookPLANTHORM.html INTERAÇÕES HORMONAIS Tabela 1: Alguns efeitos fisiológicos importantes causados por hormônios vegetais (http://www.ciagri.usp.br/~lazaropp/FisioVegGrad/Hormonios.html) Efeito fisiológico Auxinas GA Citocininas ABA Etileno Resposta a tropismos Sim Sim Não Sim Sim Crescimento de seção de coleóptilo de aveia Sim* Sim* Sim, Ativa Inibe Inibe* Aumento de tamanho de células em C.T. Sim Sim Sim Não Não Controle da diferenciação em C.T. Sim Sim Sim Sim Sim Estimula enraizamento de estacas Sim Não Variável Sim* Sim Inibe desenvolvimento radicular Sim Não Depende Sim Sim Estimula divisão de câmbio Sim Sim Sim Inibe* Não Abscisão de folhas e frutos Sim Não Sim Sim Sim Ativa crescimento de frutos Sim Sim Sim* Não Não Afeta crescimento de caules (hastes) Não Ativa Não Inibe Inibe Interrompe o repouso de gemas vegetativas Não Sim Sim Inibe Sim* Favorece a germinação de algumas sementes Não Sim Não Inibe Depende Favorece síntese de amilase em grãos Não Sim Sim Inibe Não Manutenção da dominância apical Sim Sim Não Não se Sim 32 sabe Inibe a degradação de proteínas e clorofila na senescência Sim* Sim Sim* Não, acelera Não, acelera Ativa o pico climatérico no processo de maturação de frutos Não se sabe Não Não Não Sim C.T.= Cultura de Tecidos *Em alguns casos O modelo mais simples de regulação hormonal seria que cada hormônio serviria para regular uma função individual, e que, coletivamente, essas funções poderiam ser integradas no organismo como um todo. Tal modelo de regulação tem um problema imediato. O número de processos que requerem regulação em uma planta superior ou animal excede em muito o número de hormônios ou outros reguladores. Em resumo, a idéia de hormônios individuais regulando processos individuais não pode descrever adequadamente a regulação biológica. A alternativa é a regulação através de interações e modulações coletivas entre sistemas hormonais (Leopold, 1987). Esse modelo encontra apoio em estudos de dose-resposta, e o melhor exemplo é o do efeito da aplicação de auxinas e citocininas em culturas de tecidos vegetais. Conforme a relação entre auxina e citocinina há a brotação da parte aérea ou o desenvolvimento de raízes (Figura 16 e Figura 17). Interações mais complexas podem ser observadas no caso do controle da abertura estomática e do florescimento, entre outros, parecendo mesmo que a regulação complexa é a regra, e não uma exceção (ver citação de Trewavas acima e tabela 1). Exemplos importantes são a interação entre auxinas e etileno. A sensitividade de um órgão ao etileno depende da sua capacidade de exportar auxina, e quando a produção de auxina diminui com o envelhecimento do órgão, ocorre um aumento da produção de etileno. Ainda, altas concentrações de auxina provocam o aumento da produção de etileno (Figura 29). No caso do estômatos, sua abertura é estimulada por auxinas, citocininas e giberelinas, e inibida por etileno e ácido abscísico, caracterizando um mecanismo de controle bastante complexo e ainda pouco conhecido 33 FOTOMORFOGÊNESE Fotomorfogênese refere-se aos fenômenos de crescimento e desenvolvimento disparados pela luz (Figura 37). Para que uma planta possa responder à luz é necessária a presença de um pigmento (substância que absorve luz) e que, após absorvê-la, desencadeie reações que culminem com o efeito de resposta observado, que pode ser um tropismo (movimento), a síntese e/ou aativação de uma enzima, ou outros fenômenos como a germinação, a dormência de gemas, o florescimento, etc. Figura 37 Plântulas de milho e de feijoeiro cultivadas na luz e no escuro. Os sintomas de estiolamento no milho (monocotiledônea) incluem a ausência do esverdeamento, redução no tamanho das folhas, falha no desenrolamento das folhas e alongamento do coleóptilo e mesocótilo. No feijoeiro (dicotiledônea) os sintomas do estiolamento incluem ausência de esverdeamento, tamanho reduzido das folhas, alongamento do hipocótilo e manutenção do gancho plumular. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 402). Vários pigmentos foram identificados com essas propriedades. Já conhecemos os pigmentos clorofila, carotenóides e xantofilas. Esses pigmentos, no entanto, parecem estar exclusivamente associados à conversão de energia luminosa em bioquímica ou à proteção contra o excesso de luz. Outros pigmentos foram descobertos com respostas mais diretas sobre o desenvolvimento, que são, principalmente o fitocromo, o criptocromo e a fototropina. O criptocromo é um pigmento que absorve luz azul e ultra-violeta, e parece ser, pelo menos em parte, responsável pelos efeitos de alta 34 irradiância que são atribuídos ao fitocromo. O fitocromo é o pigmento mais importante para o desenvolvimento de plantas. A grande maioria das respostas à luz são mediadas por ele. A fototropina é especificamente associada aos tropismos, e absorve luz azul. O fitocromo é um pigmento composto por uma proteína e um cromóforo (parte que absorve luz). O cromóforo é um tetrapirrol de cadeia aberta – ver Figura 38 (a clorofila é um tetrapirrol de cadeia fechada). Ele é encontrado em plantas em duas formas estáveis, denominadas Fv, que absorve luz vermelha, em cerca de 660 nm, e Fve, que absorve luz vermelho-extrema, em cerca de 730 nm. As duas formas são interconversíveis. As plantas produzem fitocromo exclusivamente na forma Fv. Este, ao receber luz vermelha se converte na forma Fve. Nessa forma o fitocromo se torna uma substância biologicamente ativa, e dispara as respostas fisiológicas. Quando o Fve é colocado no escuro, após algum tempo se converte novamente em Fv (Figura 44). Figura 38 Esquema da estrutura da molécula de fitocromo nas forma FV (Pr) e FVe (Pfr). Fonte: http://www.mobot.org/jwcross/duckweed/phytochrome.htm#Molecule. Existem basicamente dois tipos de fitocromo, um instável, denominado Tipo 1, caracterizado pelo fitocromo A, e que foi o primeiro a ser descoberto, e que após a iluminação é facilmente degradado, e, sendo constantemente sintetizado pela planta, permanece em tecidos verdes, mas em quantidades menores, e parece ser responsável pelas respostas à ultra-baixa e à alta irradiância. Outro tipo de fitocromo, denominado tipo 2, caracterizado pelos fitocromos B, C, D, E, é mais estável do que o fitocromo A na forma Fve. Parece que a sua síntese é estimulada pelo fitocromo A (Figura 44). TIPOS DE RESPOSTAS São conhecidos três tipos de respostas ao fitocromo: Respostas à ultrabaixa intensidade luminosa. São respostas a qualquer intensidade de qualquer tipo de luz. A resposta não é fotorreversível. Um décimo da energia de uma única piscada de um vagalume ou a luz da lua cheia são suficientes para saturar essas respostas. Essas respostas são características do fitocromo do tipo A. Quando o fitocromo A é convertido na forma Fve, passa a ser alvo de proteinases que o degradam. Exemplos dessas respostas são mostrados na 35 Tabela 2. 36 Tabela 2 Respostas morfogênicas das plantas à ultra-baixa irradiância. Algumas respostas morfogênicas das plantas à irradiância ultra baixa Crescimento do coleóptilo em plantas de aveia crescidas no escuro Inibição do crescimento do mesocótilo Síntese de fitocromos do tipo 2 Germinação de sementes de Arabidopsis Respostas à baixa intensidade luminosa. As respostas reversíveis estão enquadradas nesse tipo, ou seja, são fenômenos disparados pelo Fve, mas a aplicação de luz vermelho-extrema em seguida pode revertê-los. O fitocromo na forma FVE, se deixado no escuro, após algum tempo retorna à forma Fv. Exemplos são o florescimento em plantas fotoperiódicas e a germinação de sementes de alface cv. Grand Rapids. Essas respostas são características do fitocromo do tipo B, C, D e E. Tabela 3 Respostas morfogênicas das plantas à baixa irradiância. Algumas respostas morfogênicas das plantas à irradiância baixa Germinação de sementes de alface Fotoperiodismo Florescimento de plantas de dias longos e de dias curtos Movimentos de cloroplastos Respostas a alta intensidade luminosa. Para disparar esse tipo de resposta são necessárias várias horas de luz. Essas respostas também não são fotorreversíveis. Essas respostas são características do fitocromo do tipo A Tabela 4 Respostas morfogênicas das plantas à alta irradiância (Taiz e Zeiger, 2004, p. 410). Algumas respostas morfogênicas das plantas à irradiância alta Síntese de antocianinas em dicotiledôneas Fuga da sombra Inibição do alongamento do hipocótilo em alface Indução do florescimento em Hyosciamus Abertura do gancho plumular em alface Crescimento dos cotilédones em mostarda Produção de etileno em sorgo Vários fenômenos são controlados pela luz. Abaixo são descritos alguns: Germinação. Um efeito clássico do fitocromo na germinação é o caso da alface, cuja germinação é estimulad pela luz vermelha e inibida pela luz vermelho-distante, uma resposta característica do fitocromo do grupo B. Sementes de certas plantas precisam de luz para germinar, e/ou de luz direta. Quando a luz atravessa as folhas da vegetação, a luz vermelha é absorvida, passando uma boa quantidade de luz vermelha-extrema, como há uma grande quantidade de luz vermelha-extrema com relação à luz vermelha, o fitocromo permanece na forma inativa, como se não estivesse recebendo luz, e a semente não germina. Esse fenômeno é mais comum em sementes pequenas, de plantas pioneiras, 37 que germinam após a abertura de clareiras nas matas. O contrário já foi observado em sementes grandes (que germinam apenas na ausência de luz). Nesse caso, acredita-se que a ausência de luz sirva para indicar para a semente que tenha sido enterrada a uma certa profundidade. Figura 39 A germinação de sementes de alface é um exemplo de resposta fotorreversível controlada pelo fitocromo. A luz vermelha promove a germinação das sementes, porém seu efeito é revertido por uma exposição das sementes à luz vermelho-distante. O resultado final (germinação ou não) depende do último tratamento aplicado. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 403). Fuga da sombra. Em ambientes sombreados (muita luz vermelha-extrema com relação à luz vermelha), as plantas heliófitas (de sol) iniciam uma resposta de fuga da sombra, aumentando o crescimento dos internódios e dos pecíolos. As plantas de sombra não alteram seu padrão de crescimento. Um exemplo muito interessante é da abóbora, que posiciona suas folhas nos locais mais iluminados. 38 Figura 40 Papel do fitocromo na percepção da sombra em plantas de sol (linha contínua) versus planta de sombra (linha tracejada). (Taiz e Zeiger, 2004, p. 412). Desestiolamento. Quando uma semente germina debaixo da terra ela exibe crescimento estiolado enquanto cresce à procura de luz (Figura 37, B e D). O hipocótilo se alonga, os cotilédones se apresentam dobrados e compactos e os cloroplastos permanecem não diferenciados. Quando a superfície é alcançada, os fotorreceptores disparam um sinal, o alongamento do hipocótilo é inibido, os cotilédones se abrem, os cloroplastos se desenvolvem e a captura da luz se inicia (Figura 37, A e C). Desenvolvimento de cloroplastos: os cloroplastos (ea clorofila) só se desenvolvem após receberem luz (Figura 37). Florescimento. A interação do fitocromo com o relógio endógeno permite que as plantas sejam capazes de medir o comprimento do dia. Isso é útil porque, sabendo-se o comprimento do dia, a planta ―sabe‖ qual é a época do ano. Isso permite que o florescimento possa ser sincronizado entre as plantas da mesma espécie, e também permite que tanto o florescimento como a frutificação e até mesmo a germinação de sementes ocorram em épocas com temperaturas adequadas e boa disponibilidade de água. As plantas que respondem à variações no fotoperíodo com florescimento são chamadas de fotoperiódicas, e podem ser classificadas em plantas de dias curtos (PDC) e plantas de dias longos (PDL). Para determinar o fotoperíodo, as plantas ―medem‖ o comprimento da noite, então, uma planta de dia curto (PDC) é , na verdade, uma planta de noite longa. (Figura 41 e Figura 42). O fato d comprimento de onda mais efetivo para a quebra do escuro ser a luz vermelha e a sua reversibilidade pela aplicação de um flash de vermelho-extremo indica o envolvimento do fitocromo (Figura 43). 39 Figura 41 Regulação do florescimento pelo fotoperíodo em plantas de dias curtos (PDC) e plantas de dias longos (PDL). O fator crítico é o comprimento da noite. Um flash de luz no meio da noite longa reverte seu efeito sobre o florescimento (Taiz e Zeiger, 2004, p. 597). Figura 42 Efeitos da duração do período de escuro sobre o florescimento. O tratamento de plantas de dias longos e de dias curtos com fotoperíodos diferentes mostra claramente que o fator crítico é o comprimento da noite, e que o comprimento do dia não é importante. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 597). 40 Figura 43 Controle do florescimento pelo fotoperíodo. Efeito do fitocromo. A fotorreversibilidade do efeito da aplicação de luz vermelha no meio da noite indica o envolvimento do fitocromo. (Taiz e Zeiger, 2004, p. 597). Síntese de proteínas. Um exemplo importante é a subunidade pequena da RuBisCO. Também se sabe, hoje, que o Fve é transportado para o núcleo da célula onde induz a transcrição do DNA de várias proteínas. Figura 44 Resumo de fitocromo. PrA– Fitocromo vermelho do tipo A; PfrA– Fitocromo vermelho- extremo do tipo A PrB, fitocromo vermelho do tipo B, PfrB, fitocromo vermelho-extremo do tipo B. A 41 seta indica estímulo e o ― ‖ indica inibição. http://www.umanitoba.ca/afs/plant_science/COURSES/39_768/l20/l20.1.html Sítios na Internet: http://www.mobot.org/jwcross/duckweed/phytochrome.htm#Molecule http://www.umanitoba.ca/afs/plant_science/COURSES/39_768/l20/l20.1.html http://www.biologia.edu.ar/plantas/reguladores_vegetales_2005/Reguladores%20vegetales.htm
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