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Unidade 1 Processo de constituição das Pessoas Jurídicas (PJ) Regis Garcia © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Sumário Unidade 1 Processo de constituição das Pessoas Jurídicas (PJ) ................................. 7 Seção 1 Conceitos e características das Pessoas Jurídicas ........................... 9 Seção 2 Instrumentos de constituição e registro das Pessoas Jurídicas ...............................................................................27 Seção 3 Órgãos e processo de registro das Pessoas Jurídicas ....................41 Palavras do autor Caro aluno, temos a satisfação de apresentar a você a disciplina Práticas Contábeis I, que trata de conteúdos fundamentais para o exercício da contabilidade. Você terá a oportunidade de conhecer importantes aspectos relacio- nados à constituição, registro e operação das pessoas jurídicas, aprendendo e praticando técnicas contábeis de acordo com as Normas Brasileiras de Contabilidade vigentes. Verá que para orientar os futuros empreendedores é necessário conhecer e entender, sob a perspectiva contábil, os processos de constituição das pessoas jurídicas de diferentes tipos de entidades, afinal, nós devemos estar preparados para atender a todas elas. Perceberá que depois de constituída, a entidade inicia as suas ativi- dades, portanto, você precisa conhecer e desenvolver todo processo de registro contábil dos fatos iniciais das PJ, reconhecendo os seus impactos sobre a situação econômica e financeira da entidade. É a partir desses regis- tros iniciais que acompanhamos a evolução patrimonial das organizações, independentemente de seu tipo jurídico, desde seus primeiros passos. Verá também que, já em operação, as organizações executam atividades rotineiras que precisam ser registradas e acompanhadas pela contabili- dade. É nesse sentido que você precisa conhecer e desenvolver os registros e evidenciação das operações, conhecendo quais os principais fatos contábeis ocorridos após o início da atividade das entidades. Dentro desse contexto, saiba que o exercício da contabilidade pressupõe o conhecimento profundo das normas e regulamentos que impactam a profissão, e é por isso que você deve conhecer e aplicar as normas técnicas contábeis de aplicação geral – NBC – TG. Essas normas tratam de assuntos específicos que são a base para o exercício da contabilidade. É para atender a esses objetivos que nosso livro está dividido em quatro unidades. Na primeira unidade trataremos do processo de constituição das pessoas jurídicas (PJ), na qual veremos documentos e processos fundamentais para a constituição das entidades. Na unidade dois, faremos os registros contábeis dos fatos iniciais das pessoas jurídicas, ou seja, registraremos os fatos que ocorrem logo após a sua constituição de forma que, por meio das demonstrações contábeis, acompa- nhemos a situação econômico-financeira das entidades. Na terceira unidade registraremos e evidenciaremos os fatos operacio- nais, ou seja, acompanharemos a situação patrimonial das entidades já em plena atividade. Na quarta e última unidade, teremos a oportunidade de conhecer algumas das principais normas que regulam a atividade contábil. Conheceremos as Normas Técnicas de Aplicação Geral – NBC – TG e exemplificaremos a sua aplicação. Bem, nosso livro proporcionará a você muitos conteúdos de suma importância para a sua formação, portanto, é fundamental que aproveite esse material por meio da sua leitura e da prática dos exercícios e atividades propostas. Não deixe de conferir as sugestões de aprofundamento apontadas no decorrer dos textos do livro. O autoestudo é uma das formas mais eficazes para o aprendizado de qualquer conteúdo, portanto, organize-se e aproveite bem o conteúdo que está à sua disposição. Bons estudos! Unidade 1 Regis Garcia Processo de constituição das Pessoas Jurídicas (PJ) Convite ao estudo O Brasil é considerado um dos países mais empreendedores do mundo. Embora o Brasil esteja em terceiro lugar no ranking mundial de empreendedorismo, com mais de 16 milhões de empre- endimentos ativos, representando mais de 90% dos negócios existentes no país […] (VALENTINA; CORREA, 2019, p. 2). O empreendedorismo se intensifica com o aumento do desemprego em momentos de crise econômica e, noutro sentido, também em momentos de pujança econômica. Conforme Aidar (2007), muitos negócios abertos no Brasil apresentam características de autoemprego. Tanto durante as crises como em momentos de crescimento econômico, surgem demandas para a abertura e o acompanhamento de novos empreen- dimentos. Por isso, nessa unidade estaremos tratando do processo de consti- tuição das pessoas jurídicas. O conteúdo da unidade permitirá a você conhecer e entender, sob a perspectiva contábil, os processos de constituição das pessoas jurídicas dos diferentes tipos de entidades e finalidades. Conhecerá as características de cada tipo específico de pessoa jurídica, os documentos constitutivos adequados e os processos de registro nos respectivos órgãos de fiscalização. Esse aprendizado é a base para exercer a atividade contábil de constituição de PJ e, dessa forma, contribuir para a eficácia dos futuros empreendimentos. Nesta unidade teremos como contexto de aprendizagem situações envolvem: orientação aos empresários, a constituição e o acompanhamento da nova empresa. Nesse sentido, considere que você está diante da abertura de um novo negócio e enfrentará alguns desafios, como os de orientar, acompanhar e executar o processo de abertura da empresa, no sentido de garantir que ela esteja apta para atuar no mercado. Assim como ocorre na maioria das pessoas jurídicas em fase de abertura, no caso da empresa do ramo de ferramentaria que você acompanhará estão surgindo muitas dúvidas. Os sócios do novo negócio, o Sr. D. e a Srª. V. estão um pouco perdidos em relação ao processo necessário para que o novo negócio se inicie. São tantos processos, órgãos e etapas envolvidas, que os sócios pediram ajuda a um profissional contador, especializado na área de acompanhamento e execução dos processos de constituição de PJ. A nova empresa pretende atuar na compra e venda de parafusos e equipa- mentos de trabalho em geral. Ela está localizada em uma cidade próxima a uma região industrial de grande porte. O sócio Sr. D. está ingressando na sociedade com o valor de R$ 80.000,00, enquanto a sócia, Srª. V., está ingressando com o valor de R$ 120.000,00. Então, onde você entra nessa história? É justamente você quem fará o papel do contador, combinado? Como ajudar aos sócios a esclarecem as suas dúvidas? Como executar os processos de constituição e acompanhamento da nova pessoa jurídica? Os conteúdos desta unidade ajudarão você a adquirir as competências necessárias para enfrentar adequadamente esses desafios. Você terá contato com informações que lhe permitirão identificar e elaborar os documentos constitutivos, de alteração e de extinção, compre- endendo os diferentes tipos de pessoas jurídicas e os diferentes órgãos de registro e fiscalização. Agora é com você. Bons estudos! 9 Seção 1 Conceitos e características das Pessoas Jurídicas Diálogo aberto Você já teve a oportunidade de ser consultado por um amigo sobre o processo de abertura de uma empresa? Se ainda não teve, prepare-se, pois como um futuro profissional de contabilidade você certamente passará por várias experiênciascomo essa. Muitas pessoas a sua volta já pensaram, pensam, ou pensarão em abrir um novo negócio, só está faltando a oportunidade ou os recursos necessários para isso. Portanto, em um país no qual o empreendedorismo faz parte da cultura, como é o caso do Brasil, os profissionais da contabilidade precisamos estar sempre à disposição para esclarecer dúvidas e executar trabalhos envol- vendo essa importante temática. Para isso, você precisa conhecer as características de cada tipo específico de pessoa jurídica existente no Brasil, o que será possível a partir do estudo dessa seção. As informações iniciais sobre os tipos de empresas e suas principais características são fundamentais para dar segurança aos empresários de que estão fazendo a coisa certa. Para orientar seus estudos, você conhecerá agora a primeira situação- -problema. Ela traz as questões norteadoras do aprendizado bem como a oportunidade de colocar em prática seus conhecimentos sobre as principais características de uma empresa em processo de abertura no Brasil. Você se lembra dos sócios Sr. D. e Srª. V., que estão abrindo uma nova empresa? Eles estão com muitas dúvidas, portanto, vamos ajudá-los. Você, na condição de contador, os recebeu no seu escritório, e, após ofere- cer-lhes um café, pediu mais informações sobre a empresa e as condições relacionadas à sociedade. Isso é fundamental para embasar o seu trabalho. Durante a reunião os sócios lhe fizeram algumas perguntas: - Nós poderíamos atuar como pessoas físicas, sem abrir uma empresa? - Caso nós atuássemos apenas com consertos de equipamentos, sem vender, isso mudaria alguma coisa no tipo de empresa e no processo de abertura? 10 - Podemos deixar parte do capital para integralizar depois? Como isso funciona? - Poderíamos abrir uma associação ou fundação em vez de empresa? - Quais as nossas responsabilidades como sócios em relação às obrigações da empresa? Temos que honrar com dívidas da empresa caso ela não pague? As questões feitas pelos sócios evidenciam o quanto eles desconhecem as questões legais envolvendo a abertura de uma empresa, você concorda? Bem, na condição de contador você deverá responder a essas dúvidas dos sócios. Esse é seu desafio, afinal orientar os sócios é um dos papéis do profis- sional contábil quando contratado para abrir uma empresa. Você deverá elaborar um relatório contendo a síntese das respostas dadas aos sócios. Esse relatório poderá ser útil em consultas futuras. Para isso, você precisa saber, sob a perspectiva contábil das entidades, quais os tipos e as finalidades das empresas. Reconhecer as diferenças entre: associações, fundações, organizações religiosas e partidos políticos. Conhecer as características das empresas individuais de responsabilidade limitada e os outros tipos de empresas apresentados na seção. A partir desses conteúdos você está apto para ajudar os futuros empresá- rios no desafio de empreender no Brasil; portanto, vá em frente. Cabe a você elaborar o relatório contendo a síntese das respostas dadas aos sócios. Capriche no seu relatório. Não se esqueça dos detalhes importantes que possam ajudar ao Sr. D. e à Srª. V. a conhecer e a compreender o processo de abertura de empresas. Não pode faltar Para a orientação adequada de um empreendedor, seja ele um empre- sário ou o fundador de uma entidade sem fins lucrativos, é preciso conhecer, principalmente sob a perspectiva contábil, os tipos e finalidades das pessoas jurídicas. Conceito e tipos de pessoas jurídicas É na forma de pessoa jurídica que se torna possível o exercício legal do empreendedorismo em suas várias perspectivas. Por exemplo, Simão e Beltrão (2015, p. 39) destacam que o Código Civil brasileiro de 2002 “[…] 11 segue o impacto obrigacional nas relações privadas, sendo certo que o brasi- leiro médio procura a sua formalização, por meio de constituição de pessoas jurídicas”. Trata-se da legislação impactando a prática empresarial. Para instrumentalizar nossa classificação das pessoas jurídicas, de acordo com a norma legal brasileira, precisamos antes compreender sua definição, uma vez que ela corresponde à forma legal de constituição de uma entidade. Aliás, ao utilizarmos aqui o termo entidade, estamos generalizando a expressão “pessoa jurídica”, ou seja, estamos falando tanto de empresas como de qualquer outro tipo jurídico previsto no Código Civil brasileiro. Segundo Michaelis (2019, [s.p.]) entidade representa uma “[…] associação ou socie- dade de pessoas ou de bens constituída para determinado fim […].”. Existem diferentes linhas do pensamento jurídico quando o assunto é definir pessoa jurídica, todavia, para a finalidade que propomos, vamos nos ater ao conceito mais amplamente utilizado na literatura e que contribui para a compreensão do termo. Vamos nos ater ao conceito aplicável no contexto das entidades que propõem exercer uma determinada atividade com uma finalidade específica no Brasil. Nesse sentido, a pessoa jurídica pode ser entendida como um conjunto de pessoas que objetivam um fim comum. Esse conjunto de pessoas adquire personalidade jurídica própria e separada das personalidades individuais. Assimile Uma proposta mais ampla de definição de pessoa jurídica, ou seja, que contemple as empresas individuais, por exemplo, é apresentada por Paiva e Álvares (2017, p.38-39), para os quais elas seriam uma plurali- dade, tanto de pessoas físicas como de pessoas jurídicas, bem como uma pluralidade patrimonial e que, em condições muito especiais, podem derivar de uma só pessoa natural. Segundo Simão e Beltrão (2015) a pessoa jurídica possui bens patrimo- niais. Esses bens são classificados em corpóreos (físicos ou tangíveis) e incor- póreos (intangíveis), além de, segundo os autores, possuírem bens extrapa- trimoniais e de serem possuidoras de direitos e obrigações. Nesse sentido, por conseguinte, uma empresa pode ser considerada como uma entidade que possui personalidade distinta da personalidade jurídica individual de seus sócios ou acionistas, tendo direitos e obrigações próprias. 12 Ao falar sobre o registro civil, Paiva e Álvares (2017) destacam que essa disciplina legal constitui um conjunto de normas que permite a criação de diversas espécies jurídicas. Esses tipos jurídicos, segundo os autores, são passíveis de personificação. Para que uma entidade possa receber a atribuição de personalidade jurídica, é necessário que sejam executados os trâmites previstos em lei, e que, segundo Paiva e Álvares (2017) se instrumentaliza por meio do registro. Resumidamente, podemos, portanto, considerar que a pessoa jurídica recebe uma personalidade própria por meio de seu registro. É esse instru- mento legal que permite, a partir de então, que essa “pessoa” adquira direitos e obrigações próprias. Em linhas gerais, para que uma entidade possa exercer uma determi- nada atividade, ela necessita cumprir o requisito legal de registro perante os órgãos competentes. Esse requisito se torna necessário para que a entidade, agora oficialmente uma pessoa jurídica de direito (público ou privado), exista e opere legalmente. Embora o conceito de pessoa jurídica até aqui seja instrumentalmente eficaz para nossos objetivos, é necessário que ampliemos um pouco nossa visão sobre o tema. Ocorre, que a partir dos avanços doutrinários do direito, bem como da própria legislação, torna-se salutar a revisão de muitos conceitos que em outros momentos se mostravam suficientes para representar determinados institutos legais. Nesse sentido Paiva e Álvares (2017) defendem um conceito mais abrangente para pessoa jurídica. Eles se baseiam no fato de que nossa legislação instituiu a figura do Empresário Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI), ou seja, um indivíduo e não uma associação de pessoas constituída em prol de determinado objetivo. A partir dessa consideração que fazemos a ressalva de que, em casos especiais, como o das EIRELI, a pluralidade dá lugar à singularidade da vontadehumana, no caso, de uma só pessoa, e, nesse caso, não estamos falando de sociedade, mas de uma empresa individual. Em resumo, podemos ter uma pessoa jurídica a partir da vontade de um único indivíduo em exercer determinada atividade, bastando que ele proceda ao devido registro desse ente jurídico. As pessoas jurídicas, segundo o Código Civil (BRASIL, 2002), podem ser públicas ou privadas. 13 São consideradas pessoas jurídicas de direito público, entre outras, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, além dos Municípios. Embora não seja nosso objeto de estudo, vale ressaltar que as pessoas jurídicas de direito público possuem formas de constituição e funciona- mento específicos. Já as pessoas jurídicas de direito privado, são divididas em: • Associações. • Sociedades. • Fundações. • Organizações Religiosas. • Partidos Políticos. • Empresas Individuais de Responsabilidade Limitada (EIRELI). Como podemos observar, a Lei prevê tipos diferentes de pessoas jurídicas para cada atividade específica a ser desempenhada pela entidade. O tipo Sociedade, por exemplo, contempla a maioria das entidades constituídas com a finalidade de obtenção de lucro, geralmente na forma de empresas. Já uma fundação, conforme veremos nos parágrafos seguintes, representa uma forma jurídica para a exploração de atividades sem fins lucrativos. Entidades sem fins lucrativos Alguns tipos de pessoas jurídicas possuem maior aderência a atividades que não visam ao lucro. É o caso das associações, fundações, organizações religiosas e dos partidos políticos. É importante que saibamos o conceito e algumas características peculiares desses entes jurídicos para compreendermos sua aplicação no contexto das entidades. Vamos ver: As associações Segundo o Código Civil (BRASIL, 2002), as associações constituem-se da reunião de pessoas que de forma organizada visam a um objetivo não econômico. 14 Como é possível se observar, o caráter de uma associação é o de pessoa jurídica, uma vez que configura a reunião de pessoas e de patrimônios em prol de um objetivo comum, desde que, nesse caso, seu objetivo não seja o de obtenção de lucro. Como uma pessoa jurídica, no entanto, mesmo não tendo a finalidade lucrativa, a associação possui direitos e obrigações próprios. Vale também ressaltar que a associação não vincula os associados entre si. O Código Civil diz que não há entre eles direitos e obrigações recíprocas, ou seja, os associados possuem vínculo com a associação e não com os demais associados. Exemplificando São comuns associações entre pessoas, por exemplo, relativas à gestão de condomínios residenciais. Essas associações podem operar perante o mercado como qualquer outro tipo de entidade, todavia, seu patri- mônio está a serviço do bem estar dos associados e não em prol da obtenção de resultados econômicos. Fundações As fundações representam uma forma jurídica pela qual uma pessoa, o instituidor, destaca uma parte de seu patrimônio para atender a um fim específico. Segundo o Código Civil, a fundação pode ser constituída por escritura pública ou testamento que represente a vontade do instituidor em efetuar a dotação de parte de seus bens livres para determinado fim, podendo especi- ficar no ato de sua constituição a forma pela qual ele deseja que esses bens sejam administrados. Existe certa limitação quanto às finalidades das fundações, podendo elas, segundo o Código Civil, serem constituídas para as finalidades de: assistência social; cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; educação; saúde; segurança alimentar e nutricional; defesa, preser- vação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos; e atividades religiosas. 15 Organizações religiosas O Código Civil estabelece que a criação de organizações religiosas seja livre, não podendo o poder público negar seu reconhecimento ou registro. A Organização Religiosa constitui-se de uma pessoa jurídica, sem fins lucrativos, que congrega pessoas físicas ou jurídicas na vivência de uma ativi- dade religiosa. Elas representam uma pluralidade de pessoas para a prática do culto e da fé. Envolvem um carisma eclesial e vivencial. Embora possuam imunidade tributária, as organizações religiosas estão obrigadas a cumprirem as obrigações legais e acessórias. Partidos políticos O Brasil é um país de múltiplos partidos. A pluralidade de siglas que atuam em nossa democracia é bastante ampla e, muitas vezes, se amplia ainda mais, em função de acordos políticos visando a eleições e/ou ajustes de representatividade nas instâncias dos poderes. Mas o que são os partidos políticos em termos jurídicos? A resposta a essa pergunta é dada pela Lei 9.096/95, na qual é possível se encontrar a seguinte definição: “[…] o partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamen- tais definidos na Constituição Federal.” (BRASIL, 1995). Apesar de pertencerem ao direito privado, os partidos políticos são regidos por leis específicas, portanto, possuem sua forma de constituição e funcionamento definidos especificamente para tratar de suas peculiaridades. Isso se deve, em grande parte, ao aspecto da representatividade e garantia da manutenção do regime democrático que rege nosso país. Conforme Lei nº 9.096/1995, na defesa da democracia, por exemplo, a Lei assegura aos partidos, muito similarmente ao que ocorre no caso das insti- tuições religiosas, liberdade para a criação, incorporação e fusão, desde que se assegure a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos humanos. Além disso, os partidos políticos possuem autonomia para definirem sua estrutura interna, a sua organização e o seu funcionamento. 16 Sociedades e empresas individuais de responsabilidade limitada As pessoas jurídicas tratadas nos parágrafos anteriores podem ser classifi- cadas como pertencentes ao grupo das entidades sem fins lucrativos. Em termos contábeis, geralmente utilizamos a denominação de entidades do terceiro setor, ou seja, o conjunto de associações, fundações e demais entidades sem fins econômicos de geração de lucro que prestam determi- nados serviços ou congregam pessoas em torno de determinados ritos, cultos ou movimentos. Agora, vamos tratar de formas jurídicas utilizadas para a realização de atividades com objetivo econômico, ou seja, que possuem como finalidade a geração de lucro aos seus proprietários, sócios ou acionistas. Aliás, essas entidades envolvem muitos relacionamentos que extrapolam os interesses dos proprietários. Dependendo do porte e da sua amplitude de atuação, elas geram interesses para grupos, denominados de stakeholders, como: investi- dores, fornecedores, instituições financeiras, poderes públicos nacionais e internacionais, entre outros. Essas entidades possuem regulamentações específicas na área do Direito Privado por meio, por exemplo, do Código Civil, Comercial, Tributário Nacional, de Defesa do Consumidor, entre outras legislações que afetam direta ou indiretamente a atividade empresarial. No processo de registro, por exemplo, podemos ter diferenças entre as formalidades exigidas para o tipo de empresa comercial. Podemos ter processos que cabem a esse tipo de empresa, mas que não são aplicáveis no caso de empresas prestadoras de serviços. Segundo o Código Civil, as atividades empresariais são exercidas pela pessoa do empresário, que é considerado como aquele que exerce profissio- nalmente uma atividade com fins econômicos. Essas atividades podem ser relacionadas à produção ou à circulação de bens e de serviços. Em resumo,podemos considerar, na perspectiva contábil, que empresário é aquele que profissionalmente produz, comercializa ou presta serviços com fins lucrativos. Sociedades O Código Civil define uma sociedade como sendo o resultado da celebração de um contrato entre pessoas. Por meio desse contrato, elas assumem o compromisso recíproco de contribuir com bens e serviços para a sociedade em prol de uma atividade. 17 Segundo a mesma lei Código Civil (BRASIL, 2002), a atividade empresa- rial pode se restringir a um ou mais negócios determinados. Na sociedade, também, é prevista a partilha, a divisão dos resultados obtidos pela atividade entre aqueles que as formam. Em termos contábeis isso se traduz pela distribuição de lucros. A partir dessa definição podemos conhecer os tipos de sociedades que resultam em tipos jurídicos diferentes de empresas. A tipificação da sociedade, por sua vez, implica em direitos e obriga- ções específicas, por isso, no processo de constituição, deve se considerar a definição adequada do tipo de sociedade que regerá a atividade empresarial em desenvolvimento. Existem implicações contábeis e jurídicas a partir dessa definição, portanto, fica evidente a necessidade do acompanhamento do processo de constituição de uma empresa por profissionais contadores e advogados. Reflita São vários os tipos de pessoas jurídicas previstas pela legislação brasi- leira. Para quase todas as iniciativas empreendedoras, temos formas jurídicas apropriadas. Sendo assim, diante desta afirmação, é justificável nos mantermos na informalidade enquanto empreendedores? Pense sobre os pontos positivos e negativos dessa prática. Tipos de sociedades A primeira divisão envolvendo as sociedades no contexto do Código Civil se dá pela classificação em dois tipos distintos: • Sociedade empresária. • Sociedade simples. Essa classificação se dá considerando a natureza do objeto social. Embora o próprio Código Civil preveja a possibilidade de haver outras condições expressas, é considerada sociedade empresária aquela constituída e regis- trada para exercer atividade própria de empresário. Vale aqui relembrarmos que empresário é aquele que exerce profissio- nalmente uma atividade com fins econômicos, relacionada à produção ou à circulação de bens e de serviços, portanto, se uma sociedade for constituída 18 para exercer essas atividades nas condições previstas em Lei, ela necessaria- mente é considerada como empresária. O Código Civil considera ainda que, independentemente do objeto, toda sociedade anônima é considerada como empresária. Isso significa que a constituição de uma S/A implica em direitos e obrigações atribuíveis às sociedades empresárias independentemente de seu objeto social. No mesmo sentido as cooperativas são consideradas como sociedades simples. Além das cooperativas classificadas expressamente no Código Civil, são consideradas como simples todas as outras sociedades que não atendam aos critérios de classificação como empresárias. Tipos de sociedades empresárias/empresas O tipo mais comum de sociedade praticada no Brasil é a Sociedade de Responsabilidade Limitada. Nesse tipo de sociedade, também conhecida por sua sigla LTDA, existe a limitação da responsabilidade dos sócios em relação às possíveis obrigações geradas por insolvência da pessoa jurídica. Eles respondem até o limite de sua participação ou quotas na sociedade. Nesse tipo de sociedade o capital social é divido em quotas, devendo os sócios definir em contrato sua participação em termos de quotas e percen- tuais, além do prazo e da forma de integralização do capital social. A integra- lização poderá ser feita no ato da constituição ou em parcelas com prazo definido em cláusula específica no contrato social. O outro tipo de sociedade, muito conhecido por conta da possibilidade de negociações em bolsa de valores, é a Sociedade Anônima. Esse tipo de sociedade (S/A) se caracteriza pela divisão de seu capital em ações, e os portadores dessas ações são denominados de acionistas. Diferentemente do que ocorre no caso da LTDA, a S/A não possuiu a atribuição dos nomes dos seus proprietários nos seus documentos de consti- tuição. Isso é justamente o que caracteriza o anonimato dos acionistas. Existe ainda no ordenamento jurídico brasileiro, mais especificamente no Código Civil, a previsão da Sociedade em Nome Coletivo. Nesse tipo de sociedade existe a igualdade de responsabilidade entre os sócios, embora seja possível se especificar no contrato social a responsabili- dade deles. Não existe, nesse tipo de sociedade, uma denominação social, mas tão somente os nomes dos sócios ou as iniciais desses nomes seguidos da expressão “& CIA”. 19 Outra característica dessa sociedade é a de que somente os sócios podem administrá-la, diferentemente da sociedade LTDA, na qual se nomeia um administrador no contrato social. A Sociedade por Comandita Simples se caracteriza por envolver dois tipos de sócios. Um grupo é o responsável pelas obrigações fiscais e finan- ceiras. Esse grupo se denomina comanditados. Noutro grupo, denominado de comanditários, a responsabilidade é limitada. Nesse sentido, esse tipo de sociedade se caracteriza pelo fato de que parte dos sócios é responsável pela integralização das quotas e tem responsabili- dade limitada, não se envolvendo com a administração da sociedade. Já a outra parte é responsável pelo capital e também pelo trabalho, cabendo a eles a administração da sociedade. Esse tipo de sociedade contempla, geralmente, empresas pequenas e que exploram atividades menos complexas, como prestação de serviços e comércio. Empresas que desejam especificar, em contrato, os sócios com ou sem responsabilidade limitada, optam por esse tipo de sociedade, pois fica estabe- lecido no contrato quem responde e quem não responde pelas dívidas da empresa em caso de insolvência. Esse tipo de sociedade opera na forma de firma ou razão social, não sendo permitida a denominação social. A Sociedade em Comandita por Ações é similar à sociedade anônima em termos de estrutura de capital, pois também envolve a divisão em ações. Todavia, no caso da sociedade em comandita por ações, o exercício da ativi- dade empresarial se dá na forma de denominação ou firma. Ela é gerida por um ou mais diretores nomeados. Nesse tipo de sociedade não pode haver um estranho à sociedade na condição de administrador, ou seja, apenas o acionista pode ser administrador. Como exemplo desse tipo de sociedade, estão as empresas que pretendem separar seus sócios em dois grupos: parte deles fica responsável pela gestão do negócio e respondem pelas dívidas da empresa de forma ilimitada. No outro grupo estão os sócios que adquirem ações; esses respondem, porém, até o limite de seus investimentos. Os gestores, diferentemente das S/A, são nomeados no próprio estatuto da empresa, portanto, esse tipo de sociedade atende àquelas empresas que não desejam contar com conselhos de administração, mas, tão somente, com gestores definidos no estatuto. 20 Esse tipo de sociedade contempla médias e grandes empresas que exploram atividades mais complexas, como exportações, importações de produtos controlados, por exemplo. Sociedades desse tipo podem operar tanto com razão como com denomi- nação social. Empresa Individual de Responsabilidade Limitada Esse tipo de empresa surgiu como uma solução para a antiga prática no Brasil de se abrir empresas a partir da inclusão de um sócio “fictício”. Ocorre que antes de 2002, com o advento do Código Civil reformu- lado, para se constituir uma sociedade com responsabilidade limitada, era necessário que houvesse pelo menos dois sócios, não sendo permitida a limitação de responsabilidade quando a forma jurídica da empresa fosse a de empresa individual. A EIRELI, como é conhecida a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, constitui-se a partir de uma única pessoa, possuindo as mesmas condições em termos de responsabilidade observadas na empresaLTDA convencional. Na oportunidade das discussões sobre o processo de constituição, aprofundaremos as exigências para que seja aberta uma empresa sob esse tipo jurídico. Como se pode observar, a legislação proporciona várias opções para a formalização das entidades, sejam elas empresárias ou não. Microempresa Individual (MEI) No Brasil, a informalidade atinge números exorbitantes e isso se deve, em grande parte, à burocracia e custos para se abrir um negócio. Com vista à redução da informalidade, criou-se a condição para que determinadas atividades, com determinados limites de faturamento e com limites de funcionários, pudessem se formalizar sem os custos e obrigações acessórias comuns aos demais tipos de empresas. A figura do MEI atende principalmente a atividades com baixo fatura- mento, mas que são representativos na nossa economia pela quantidade de profissionais atuantes. Para que um profissional possa se enquadrar como MEI, por exemplo, ele não pode ser sócio de outra empresa e deve faturar um valor máximo por 21 ano, determinado pelo governo, e ter no máximo um funcionário, ou seja, corresponde a uma grande parte da realidade de pequenos negócios. Exemplificando Se, por exemplo, um marceneiro que trabalhou durante anos na infor- malidade deseja formalizar o seu negócio, ele pode constituir uma Microempresa Individual (MEI). Basta que o marceneiro tenha seu faturamento dentro do limite legal e conte com no máximo um funcio- nário. Pronto: dessa forma ele poderá usufruir dos benefícios de ter sua empresa legalmente correta, como, por exemplo, prestar serviços a um órgão público. Tivemos a oportunidade de conhecer o conceito e as características das pessoas jurídicas no Brasil. Nossa base de consulta, nesse sentido, é o Código Civil, porém ficou evidente que outras legislações afetam direta ou indiretamente as atividades empresariais e as demais atividades sem finali- dade lucrativa. Destacamos que existem dois grupos principais de sociedades: as empresá- rias com finalidade de obtenção de lucro e as simples, com outras finalidades. O que diferencia os tipos jurídicos de sociedades, além da questão da finalidade, é a estrutura de sociedade envolvendo as relações entre os sócios, o tipo de divisão do capital e, principalmente, as responsabilidades dos sócios. Nesta seção você teve a oportunidade de conhecer, sob a perspectiva contábil, os tipos e finalidades das entidades. As associações, fundações, organizações religiosas, e partidos políticos. As sociedades e empresas indivi- duais de responsabilidade limitada, além dos tipos de empresas no Brasil, discutindo os aspectos contábeis, patrimoniais e de responsabilidade. Agora é com você. Bom trabalho! Sem medo de errar Você foi contratado como contador e está orientando dois sócios Sr. D. e Srª. V. no processo de abertura de uma ferramentaria. Seu desafio é responder, na forma de um relatório, às questões feitas pelos sócios. Essas respostas devem se basear nas características de cada tipo de empresa conforme apresentado no item Não pode faltar. 22 Como sugestão para a solução dessa situação problema, são propostas algumas respostas conforme segue: Em relação à pergunta “Nós poderíamos atuar como pessoas físicas mesmo? Sem abrir uma empresa?”, você deverá explicar que a atuação empre- sarial envolve uma atividade com finalidade lucrativa, no caso da ferramen- taria, os sócios estão investindo na nova empresa com a intenção de obterem resultados positivos a partir da atividade empresarial. Sendo assim, eles necessitam abrir uma pessoa jurídica e não podem operar legalmente na condição de pessoas físicas, até porque o patrimônio que estará em jogo é o da empresa da qual ambos fazem parte. Isso precisa estar documentado e legalizado. Sobre a pergunta “Caso nós atuássemos apenas com consertos de equipa- mentos, sem vender, isso mudaria alguma coisa no tipo de empresa e no processo de abertura?”, explique que a atividade empresarial, conforme define o Código Civil brasileiro, envolve as atividades de produção e circulação de bens e serviços, portanto, na condição de prestadores de serviços a atividade da empresa permaneceria sendo considerada como empresarial, sendo assim os tipos jurídicos seriam os mesmos das sociedades empresariais utilizadas para a comercialização. Quanto ao aspecto de abertura, seriam respeitados os trâmites específicos para cada tipo de sociedade, portanto, haveria sim diferenças em relação aos registros e procedimentos de uma empresa comercial, pois, como vimos nesta seção, existem legislações específicas para determinadas atividades, como é o caso do Código Comercial brasileiro. Sobre a pergunta “Podemos deixar parte do capital para integralizar depois? Como isso funciona?”, cabe explicar que sim. A integralização poderá ser feita no ato da constituição ou em parcelas com prazo definido em cláusula específica no contrato social. Sobre poder abrir uma associação ou fundação em vez de empresa, explique que não, pois associação e fundação se referem a sociedades simples, ou seja, sociedades não empresariais, e, portanto, não podem ter finalidade lucrativa como é o caso da ferramentaria em processo de abertura. E com relação às responsabilidades como sócios e às obrigações da empresa, e se terão que honrar com dívidas da empresa caso ela não pague? Bem, isso dependerá do tipo de sociedade que será utilizada para a constituição e registro da empresa. No caso sugere-se que seja constituída uma sociedade do tipo LTDA, ou seja, a responsabilidade dos sócios está 23 limitada à sua participação percentual e ao valor de suas quotas, conforme está descrito no contrato social da empresa. Claro que esse é o pontapé inicial da atividade contábil e, ao orientar os sócios e tirar todas as suas dúvidas sobre a empresa que pretendem constituir, você revisou vários conteúdos vistos na seção e possibilitou compreender os diferentes tipos de pessoas jurídicas previstas na legislação brasileira. Pois são muitos detalhes, regras e legislação a serem seguidas. Parabéns pelo trabalho, e vamos em frente! Avançando na prática E se fosse uma fundação? Chegou à sua empresa uma pessoa chamada Dona B., que é costureira e está querendo formalizar sua microempresa. Ela não possui experiência com abertura de empresa, afinal ela atua há muitos anos na informalidade. Dona B. ouviu falar em fundações e deseja saber se para atuar no ramo de costura legalmente ela pode abrir uma fundação. Seu desafio é explicar a ela as diferenças entre entidades com e sem finali- dade de lucro, e exemplificar cada uma das formas jurídicas das entidades sem fins lucrativos. Depois explique a ela sobre o tipo de empresa que ela está desejando abrir, se ela tem ou não finalidade lucrativa. Para responder à dúvida de sua provável nova cliente, você deverá explicar que existem diferenças entre entidades que visam lucro e aquelas que não visam lucro. Detalhe essas diferenças e dê exemplo de entidades sem fins lucrativos de cada um dos tipos jurídicos sem finalidade de lucro. Para isso, você precisa saber do conceito de lucro, conhecer as atividades das associa- ções, fundações, organizações religiosas e partidos políticos, além de saber as principais características envolvendo essas pessoas jurídicas. Perceba que sua atenção inicial à Dona B. é importante. Procure manter o foco e a atenção nela, esclarecendo pedagogicamente suas dúvidas, pois isso gerará mais confiança em relação ao seu trabalho e aumentará as chances de ela contratar você para acompanhar sua empresa mesmo depois de aberta. 24 Resolução da situação-problema Para a correta orientação à Dona B., primeiramente é necessário que seja explicado a ela que uma fundação pode ser constituída tanto por uma pessoa física como por uma pessoa jurídica. Deve haver o destaque de bens e patrimônio que estará a serviço da fundação. Esse destaque estará descrito no estatuto ou testamento que deu origem à fundação.O Código Civil estabelece que as fundações podem operar nas seguintes finalidades: assistência social; cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; educação; saúde; segurança alimentar e nutricional; defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desen- volvimento sustentável; pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos; e atividades religiosas. Nesse caso, nenhuma dessas atividades se enquadra na que ela deseja atuar. E também importante salientar que se a fundação envolver atividades específicas, ela é uma entidade sem fins lucrativos, portanto, igualmente não se enquadra no caso dela. Afinal o serviço de costura que ela presta é sua fonte de renda, portanto, possui finalidade lucrativa. A principal diferença entre empresas com finalidade lucrativa está no fato de gerarem lucro e distribuírem esse lucro entre os investidores. Isso não ocorre no caso das entidades sem fins lucrativos, que obrigatoriamente deverão reinvestir seus superávits na própria atividade, sendo vedada a distribuição de resultados entre os associados. Faça valer a pena 1. Uma das características brasileiras é a de envolver muitas pessoas produ- zindo, comercializando ou prestando serviços na informalidade. Essa é uma questão tão relevante que envolve a necessidade de políticas públicas que permitam a formalização do trabalho e, consequentemente, maior acesso dos empreendedores aos benefícios que uma empresa formali- zada proporciona. Dentre as ações que podemos citar como incentivo à formalização, está a criação de leis específicas. 25 Nesse sentido, sabe-se que no Brasil existe uma ação de incentivo à formali- zação das empresas. Assinale a alternativa que apresenta essa ação: a. Criação da Lei de Responsabilidade Fiscal. b. Criação da Sociedade de Responsabilidade Limitada. c. Criação da Microempresa Individual. d. Extinção da Empresa Individual. e. Extinção da Sociedade em Comandita Simples. 2. Um dos processos mais importantes inerentes à constituição e registro das entidades é a escolha do tipo jurídico sob o qual ela será constituída. O tipo de sociedade, bem como sua forma jurídica, interfere em alguns aspectos importantes das relações entre sócios, e entre esses está a pessoa jurídica em operação. Diante da intenção de um grupo de sócios em separar as responsabilidades, bem como a administração da sociedade, qual seria a opção jurídica de constituição dessa entidade? Nesse sentido, analise as afirmativas a seguir. I. O tipo ideal para o objetivo dos sócios, nesse caso, seria constituir uma Sociedade de Responsabilidade Limitada, pois dessa forma parte dos sócios poderia ficar responsável pela integralização das quotas e ter responsabilidade limitada, envolvendo-se com a administração da sociedade. Já a outra parte ficaria responsável pelo capital e também pelo trabalho, não se envolvendo, então, com a administração da sociedade. II. O tipo ideal para o objetivo dos sócios seria constituir uma Socie- dade em Comandita Simples, pois dessa forma parte dos sócios poderia ficar responsável pela integralização das quotas e ter respon- sabilidade limitada, não se envolvendo com a administração da sociedade. Já a outra parte ficaria responsável pelo capital e também pelo trabalho, cabendo a eles a administração da sociedade. III. No tipo de sociedade que deveriam constituir, os sócios teriam as mesmas condições e estariam ambos os sócios sujeitos à mesma responsabilidade, todavia um dos grupos precisaria abrir mão de 26 suas quotas no caso de insolvência da sociedade para não responder pelos problemas financeiros por ela gerados. É correto o que se afirma em: a. I, II e III. b. I, apenas. c. II e III, apenas. d. I e II, apenas. e. II, apenas. 3. A Constituição Federal garante que determinadas pessoas jurídicas não tenham a intervenção proibitiva do Estado na sua estruturação e funciona- mento. Essa prerrogativa visa garantir a democracia e a condição de liberdade da população em relação às suas escolhas pessoais. Nesse sentido, podemos fazer duas afirmações: I. A organização religiosa é um exemplo de entidade que não pode ter seu registro e autorização de funcionamento negado pelo Estado, PORQUE II. Ela não está sujeita às obrigações acessórias que outros tipos de entidades possuem. Assinale a alternativa correta: a. A asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica a I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II justifica a I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II, falsa. d. A asserção I é uma proposição falsa e a II, verdadeira. e. As asserções I e II são proposições falsas. 27 Seção 2 Instrumentos de constituição e registro das Pessoas Jurídicas Diálogo aberto Caro aluno, é importante conhecermos alguns conceitos e compre- endermos alguns detalhes técnicos relacionados tanto aos documentos de constituição como aos tipos específicos de empresas, como é o caso da Microempresa Individual. É comum que os empreendedores, principalmente os de primeira viagem, tenham muitas dúvidas quanto à forma de constituir bem como de gerir suas empresas. Essas dúvidas também ocorrem nas situações de constituição e desenvol- vimento de micro e de pequenos negócios. É o que acontece, por exemplo, quando um determinado empresário resolve abrir sozinho uma microem- presa para prestar serviços gerais em residências. Os chamados “Maridos de Aluguel”. Nesse sentido, os conteúdos a serem trabalhados aqui vão trazer a base para que você possa conhecer as principais características de uma Microempresa Individual (MEI), além de conhecer os instrumentos utili- zados para a constituição, alteração e extinção das pessoas jurídicas. Esses conteúdos são fundamentais para garantir que as formalidades constitutivas estejam corretamente cumpridas. Agora, você deve avançar no processo de abertura da empresa. No decorrer da reunião com os sócios, o Sr. D. fez mais uma pergunta: “Eu e a Srª. V. poderíamos abrir, em vez de uma sociedade, uma MEI para cada um, a fim de atuar com a nossa empresa?” Ao executar essa etapa da situação-problema, você deverá ser capaz de conhecer e explicar as principais características de uma Microempresa Individual, além de destacar o tipo de pessoa jurídica a ser utilizado para a constituição de uma empresa com fins lucrativos. Para responder a essa dúvida, você deverá elaborar um relatório, e nele descrever, como forma de argumentação, as principais características envol- vendo o tipo de empresa MEI apresentadas aqui. No texto, você precisa 28 explicar ao sócio que lhe fez a pergunta se é ou não possível, em vez de abrirem uma sociedade, abrirem duas MEI. Adicionalmente ao seu relatório, depois de responder à dúvida do Sr. D., você precisa descrever qual o instrumento de constituição e qual o tipo jurídico que será utilizado para a ferramentaria que está sendo constituída. No seu contexto profissional, você concorda que terá muitas oportuni- dades para ajudar os empresários que desejam formalizar suas empresas? Certamente serão questionados por eles, portanto, é importante ter o domínio em relação aos documentos necessários para a constituição e registro das pessoas jurídicas, além de conhecer os principais tipos jurídicos que envolvem a formalização de empresas. Nesse caso, em especial, a Microempresa Individual – MEI. Não pode faltar Instrumentos de constituição de pessoas jurídicas A formalização de uma pessoa jurídica constitui uma série de ritos jurídicos e administrativos que precisam ser devidamente respeitados, para garantir a segurança jurídica necessária a todos que de alguma forma se relacionam com a entidade que está sendo criada. Os acordos entre sócios, em um primeiro momento, impactam a própriasociedade entre eles, porém, a partir do momento que a nova entidade está constituída e inicia as suas operações, ela impacta muitas outras pessoas. A esse conjunto de pessoas impactadas pela operação de uma organização denomina-se de stakeholders. Sociedades empresárias, por exemplo, “[…] configuram modelos de empresas que visam à exploração do objeto principal da empresa não apenas pelos seus proprietários, mas sim pela utilização da mão de obra de terceiros.” (VALENTINA; CORRÊA, 2019, p. 22). Como garantia da segurança jurídica, portanto, para que uma entidade pessoa jurídica adquira direitos e obrigações e possa operar legalmente, ela necessita cumprir os ritos legais de constituição. O mesmo se aplica a altera- ções e à extinção da sociedade. Segundo o Código Civil (BRASIL, 2002), as pessoas jurídicas podem ser de direito público ou privado. Elas devem ser submetidas ao registro, no ato de sua constituição, nos órgãos competentes. 29 Ata de constituição As entidades sem fins lucrativos, como é o caso das associações, funda- ções, organizações religiosas, entre outras, envolvem a vontade de uma ou mais pessoas que estão imbuídas de um objetivo, geralmente social e sem a finalidade de obtenção de lucro. As Sociedades Anônimas e cooperativas, que geralmente desenvolvem atividades empresariais, também são formadas a partir da reunião de pessoas com objetivos comuns. Tanto no primeiro caso como no segundo, o envolvimento de pessoas representa o elemento principal de formação dessas entidades, portanto, a formalização das relações entre essas pessoas é necessária para que haja segurança jurídica para todos os envolvidos, bem como para aqueles que de alguma forma se relacionarão com ela. Desde o primeiro contato formal até a conclusão do processo de consti- tuição e registro dessas entidades existem documentos e formalidades que precisam ser cumpridas. É nesse sentido que a reunião de fundação de uma associação, de uma fundação, de uma organização religiosa ou de um partido político, assim como de uma S/A ou de uma cooperativa, deve ser devidamente registrada em um documento denominado ata. A ata representa um documento no qual são registradas as deliberações dos conselhos ou assembleias reunidas para determinada finalidade. A primeira reunião de qualquer uma dessas entidades geralmente tem o objetivo de fundação da própria entidade, ou seja, nela é deliberada pelos membros presentes a criação formal da entidade. A ata derivada da reunião ou da assembleia inicial dos membros da entidade é denominada de Ata de Fundação ou Ata de Constituição. Formalidades intrínsecas da ata A ata dever ser redigida e assinada por um dos membros do conselho que está reunido ou por um terceiro especificamente designado para isso. O redator da ata também assina o documento declarando que as informa- ções ali registradas refletem fielmente as discussões e deliberações da reunião. Outra pessoa importante que constará dos registros da ata é a figura do presidente da reunião ou da assembleia. Cabe a ele conduzir as discussões e votações. 30 É importante salientar que a reunião ou assembleia de fundação da entidade deve ser antecedida por um edital no qual deverá ser divulgado com antecedência de pelo menos sete dias, além de ser amplamente divulgada, inclusive em meio de comunicação de grande circulação ou abrangência. O secretário da reunião (quem está responsável pelo registro da mesma na respectiva ata) fará a leitura do edital para que todos os presentes tomem ciência de que o rito de convite ou convocação para a reunião ou assembleia foi cumprido. A ata de fundação deverá indicar por extenso o dia, mês, ano, horário e local da reunião. Deverá indicar quem secretariou e quem presidiu a reunião. Deverá trazer a expressão de que os presentes na reunião, na condição de fundadores, resolvem fundar a associação (entidade) tal. Deve indicar o nome da entidade. Deverá ser indicada a sede da entidade. Deve informar que o projeto de estatuto (que será discutido e aprovado na reunião) foi lido por quem secretariou a reunião. Deve informar que, após as discussões, o projeto de estatuto, agora estatuto da entidade, foi aprovado por um número “x” de votos ou de forma unânime pelos participantes. Uma vez aprovado o estatuto, a ata também indicará os membros que assumirão as diretorias da associação bem como o conselho fiscal. Todos eles eleitos na forma previamente determinada pelo estatuto da entidade. A ata, finalmente, trará a fala do presidente da reunião declaran- do-a encerrada. A ata é datada e devidamente assinada (e suas vias rubricadas) por todos os presentes. Estatutos Depois de apresentadas os diferentes tipos de pessoas jurídicas de direito privado: associações, sociedades, fundações, organizações religiosas e partidos políticos, além das Empresas Individuais de Responsabilidade Limitada – EIRELI, de acordo com o Código Civil, é possível a identificação de dois grupos distintos: um que compreende as entidades sem fins lucra- tivos, representadas pelas associações, fundações, organizações religiosas e 31 partidos políticos, e outro pelas empresas com fins lucrativos, como é o caso das sociedades empresárias. O primeiro grupo de entidades possui característica diferente no tocante aos interesses dos seus fundadores quando comparado com as sociedades empresárias. Importa menos a relação contratual entre os sócios, e mais a instituição em si. Para essas entidades, assim como para algumas sociedades empresárias específicas, o instrumento de constituição é o estatuto social. Esse instru- mento é utilizado para a constituição de: sociedades anônimas, conhecidas como S/A, sociedades cooperativas, sociedade em comandita por ações e para as entidades sem fins lucrativos. Exemplificando Um novo condomínio está sendo aberto em uma cidade do interior de um estado brasileiro. Trata-se de uma importante marca de empreendi- mento imobiliário, conhecida em grandes capitais brasileiras. O contador Sr. M. está providenciando a constituição da pessoa jurídica que representará o grupo de moradores. Na primeira assembleia o assunto principal da pauta foi justamente a forma pela qual o condomínio seria regulamentado. Na oportunidade, o contador explicou que será constituída uma associação, uma pessoa jurídica caracterizada por reunir pessoas físicas que possuem um objetivo comum que, no caso, é gerir as atividades condominiais. Ela será constituída a partir de um estatuto social, que determinará todas as normas sob as quais os associados estarão submetidos ao fazer parte da associação. O estatuto determinará também as regras de representação da associação, ou seja, quem responderá juridicamente por ela. A representação da associação envolve, geralmente, a formação das seguintes diretorias: diretoria financeira, diretoria administrativa, diretoria social e diretoria técnica. O estatuto também determinará a formação do conselho fiscal bem como as normas de eleição, mandato e condições para o exercício da presidência e a vice-presidência da associação, entre outras informações. No caso desses tipos jurídicos de organizações não há tanta significância referente à questão do ajuste contratual entre os sócios, ao contrário, o que importa nesse caso é garantir condições para que haja o engajamento de pessoas que compartilham do mesmo objetivo da entidade que foi constituída. 32 Nesse sentido elas “[…] são criadas como instituições, ofertando a terceiros a possibilidade de adesão […]” (MAMEDE; MAMEDE, 2017, p. 49). Os sócios de uma instituição como essas não são contratantes entre si, mas sim, aderem a condições preestabelecidas em estatuto. Dessa forma, ao aderir a uma associação, um sócio (no caso específico, o associado), deverá dar ciência de que conhece e compreende as normas e regulamentos, bem como o estatuto que orienta as atividades da entidade. Formalidades intrínsecas do estatuto social O estatuto social, conformeprevisto na legislação, em especial na Lei nº 6.404/1976 (BRASIL, 1976) e no Código Civil (BRASIL, 2002) e descrito em Mamede e Mamede (2017) deve conter: • A denominação social, ou seja, sob qual denominação a insti- tuição operará. • Localização da sede, ou seja, a cidade e UF onde está situada a sede da instituição. • Período de duração do estatuto, se determinado ou indeterminado. • Capital social expresso em reais. • O objeto social, ou seja, o tipo de operação a que se destina a insti- tuição. Geralmente estão contempladas no objeto social as atividades previstas e codificadas por meio do Código Nacional de Atividades Econômicas – CNAE. • Número e qualificação das ações que compõem o capital da companhia. • Forma de constituição e funcionamento do conselho fiscal. • Data final do exercício social, ou seja, determinação do período no qual serão elaboradas as demonstrações financeiras. Contrato social Assim como qualquer documento, o contrato social é o instrumento que será utilizado para dirimir qualquer dúvida relacionada à sociedade, bem como envolvendo as atribuições, responsabilidades e representatividade dos sócios. O contrato social requer muita atenção daqueles que o assinarão, no caso os sócios, pois a partir do momento que ele esteja devidamente registrado, 33 passa a constituir-se como peça jurídica. Por isso exigem-se determinadas formalidades em relação ao contrato social. Assimile O aspecto formal e de validade do contrato social pressupõe que ele não pode conter entrelinhas, nem emendas ou rasuras. Qualquer um desses elementos pode invalidar o instrumento. Em casos de necessi- dade específica, pode-se fazer uma ressalva no próprio instrumento. Nesse sentido, se a entidade for constituída sob a forma de sociedade empresária, ou seja, conforme o Código Civil, aquelas que exercem atividade econômica organizada envolvendo a circulação de bens e serviços, o instru- mento de constituição é o contrato social. “Uma vez definido o tipo de sociedade aplicável (no caso, a sociedade empresária limitada), é necessário que seja efetuada a opção por uma das formas de constituição a seguir: sociedade, individual.” (VALENTINA; CORRÊA, 2019, p. 22). Uma vez optado por uma dessas duas formas de sociedade deve-se elaborar o contrato social. O mesmo ocorre no caso de sociedades simples, ou seja, também é por contrato social que se efetua a constituição de uma sociedade simples. Segundo Paiva e Álvares (2017, p. 98) “O registro ou inscrição do ato constitutivo (contrato) junto ao Registro Civil de Pessoas Jurídicas confere personalidade jurídica à sociedade simples, dando início a sua existência legal […]”. O contrato social é, portanto, o instrumento utilizado para a constituição, e será objeto também de alteração e extinção das pessoas jurídicas. Formalidades intrínsecas do contrato social Ele deve conter a assinatura de todos os sócios e, em determinados estados brasileiros, de testemunhas, além da assinatura de um advogado que tem por objetivo dar ciência sobre a correção em relação aos aspectos formais e legais do instrumento. Assimile De acordo com o estatuto da advocacia, Lei nº 8.906/1994 (BRASIL, 1994), todo ato ou contrato constitutivo de pessoa jurídica, ou seja, todo contrato social, para ser registrado precisa ser visado por advogado. 34 Segundo o que determina o Código Civil (BRASIL, 2002), o contrato social deverá conter: • Nome e qualificação dos sócios, sejam pessoas físicas ou jurídicas. Essa qualificação deverá conter a nacionalidade, o estado civil (solteiro ou casado), a profissão exercida e a residência dos sócios, pessoas físicas. No caso de pessoas jurídicas, deve trazer a firma ou a denominação, a nacionalidade, bem como o endereço da sede. • O contrato deve determinar, ainda, a denominação sob a qual a socie- dade operará, o seu objeto social e a sede da organização. • Deverá trazer o prazo determinado ou indeterminado da sociedade. • O capital social expresso em valores monetários. • As quotas de capital de cada sócio, bem como a forma de integrali- zação do capital, podendo ser em espécie, bens, direitos ou serviços. • No caso de integralização na forma de serviços, o contrato trará também a forma como esses serviços serão executados. • A indicação do responsável ou dos responsáveis pela administração da sociedade, bem como seus poderes e atribuições nessa condição. • A responsabilidade e participação dos sócios nos lucros e perdas. • A definição sobre a responsabilidade ou não subsidiária dos sócios sobre as obrigações assumidas pela sociedade. Exemplificando A divisão do capital social de uma pessoa jurídica de responsabilidade limitada (LTDA) é expressa no contrato social. Dessa forma, cada sócio possui um número de quotas que lhe garante uma participação percen- tual sobre o patrimônio da sociedade. Para exemplificar, veja o caso da sociedade “Z” a seguir: SÓCIO QUOTAS “A” 25.000 “B” 35.000 “C” 40.000 TOTAL 100.000 De acordo com a distribuição das quotas de capital dessa sociedade, é possível se chegar aos percentuais de cada sócio sobre o patrimônio da 35 sociedade dividindo-se a quantidade de quotas de cada um pelo total de quotas (100.000). No caso em questão ter-se-ia: SÓCIO QUOTAS “A” 25.000 / 100.000 x 100 = 25% “B” 35.000 / 100.000 x 100 = 35% “C” 40.000 / 100.000 x 100 = 40% TOTAL 100.000 O instrumento contrato social, portanto, é o responsável pela constituição jurídica da sociedade, pela determinação de como ela operará e o tempo de sua existência. Quando ocorre uma alteração em qualquer um dos elementos contra- tuais descritos anteriormente, é necessário que seja feito o que se denomina de alteração contratual, ou seja, é elaborado um termo no qual se especi- ficam as alterações envolvendo cláusulas do contrato original, devendo esse instrumento ser submetido aos mesmos ritos de registro do contrato social. Geralmente a alteração contratual traz a expressão: “as demais cláusulas não atingidas por esse instrumento permanecem inalteradas”. Assim como ocorre no caso do contrato social, as alterações devem ser aprovadas pelos sócios que assinarão o instrumento de alteração e providen- ciarão seu registro em órgão competente. É importante observar que as modificações do contrato social que tenham por objeto quaisquer matérias indicadas no art. 997 do Código Civil dependem do consentimento de todos os sócios. (PAIVA; ÁLVARES, 2017, p. 164) Já no caso de encerramento das atividades ou dissolução da sociedade, é elaborado o distrato social. Em resumo, ele constitui a forma jurídica pela qual se dissolve a sociedade, descrevendo como os bens, direitos e obrigações da sociedade serão realizados e pagos, bem como a divisão do patrimônio remanescente, caso haja. O distrato também especifica as responsabilidades individuais dos antigos sócios sobre possíveis obrigações da dissolvida sociedade. Assim como ocorre no caso das alterações contratuais, o distrato também será submetido ao rito de registro nos órgãos competentes. 36 Segundo Paiva e Álvares (2017) para que seja efetuado o cancelamento do registro de uma sociedade simples, por exemplo, é necessário que haja um requerimento, a elaboração do distrato social e sua publicação no Diário Oficial da União – DOU. Reflita Geralmente o início de um negócio é marcado pela esperança e pelo bom relacionamento entre os sócios. Todos eles, no início, estão em busca de um objetivo comum. Porém, diante de uma grande dificul- dade, como por exemplo, se a empresa não vai bem, podem ocorrer situações de desacordos e conflitos entre eles. Como ficaria, nesse caso, a situação de uma contenda judicial entre sócios se não houvesse um contrato estabelecendo as condições da sociedade? Microempresa Individual - MEI A criação da Microempresa Individual – MEI tem como pano de fundo a política governamental de incentivo à formalização das microempresas no país, sendo que para isso visa diminuir a burocraciae incentivar a legalização das microempresas. Segundo o Portal do Empreendedor MEI, do Governo Federal, por exemplo, a iniciativa de aprimoramento do portal faz parte de um projeto que visa diminuir a burocracia e melhorar a vida das microempresas do país: “O projeto tem foco na melhoria do ambiente de negócios, na redução da burocracia e na agilidade dos processos de gestão das micro e pequenas empresas.” (BRASIL, 2019, [s.p.]). O processo de registro do MEI é bastante facilitado a partir dessa plata- forma, que conta com várias opções para o esclarecimento de dúvidas e execução de cadastramento e registro. São condições para que seja feita essa opção de legalização de empresa, segundo o Portal, dados ajustados em 2018: 1. Faturar até no máximo R$ 81.000,00 por ano, ou R$ 6.750,00 por mês. 2. Não ser sócio, administrador ou titular de outra empresa. 3. Ter no máximo um funcionário. 4. Exercer uma atividade econômica que esteja prevista no Anexo XI, da Resolução CGSN nº 140, de 22 de maio de 2018 (BRASIL, 2018). 37 Reflita A Microempresa Individual (MEI) representa uma ação governamental que tem por objetivo incentivar a formalização das microempresas. Visa tirar microempresários da informalidade. Considerando esse objetivo e seus reflexos, esse tipo de política possui algum efeito na economia de um país? Seria esse efeito positivo ou negativo? Que tal refletir sobre isso? A partir dos conteúdos tratados nesta seção, pode-se perceber que o processo de constituição das pessoas jurídicas possui uma série de forma- lidades, sendo a principal delas a elaboração e registro do instrumento que regula as relações sociais durante a existência da entidade, nesse caso, o contrato social, o estatuto social e a ata de constituição. Também é possível identificar o esforço por parte do Governo Federal em criar mecanismos que simplifiquem a formalização de microempresas, como, por exemplo, viu-se a partir do estudo das Microempresas Individuais – MEI. A prática contábil, portanto, possui uma vasta área de atuação no que se refere aos processos de formalizações das pessoas jurídicas, requerendo de seus profissionais um profundo conhecimento da legislação, mas, principal- mente, das normas e regulamentos que impactam direta ou indiretamente esse importante processo. Sem medo de errar A solução da situação problema que foi proposta aqui envolve identificar as características da Microempresa Individual (MEI). Afinal o sócio Sr. D. questionou se poderia abrir uma para ele e outra para a sua sócia Srª V. No caso deve-se levar em conta: • Esse tipo de empresa não permite sócio, envolve um indivíduo. • Existe um limite de R$ 81.000,00 por ano de faturamento, ou seja, R$ 6.750,00 por mês. • Existem atividades específicas que permitem esse tipo de constituição de empresa; deve ser consultado o anexo XI da Resolução CGSN 140/18. Trata-se de uma resolução do Comitê Gestor do Simples Nacional da Receita Federal do Brasil. Dessa forma fica evidente que não é possível a abertura de uma MEI para cada sócio, portanto, você deverá indicar uma Sociedade Por Cotas de Responsabilidade Limitada para os sócios. 38 Quanto ao documento a serem utilizados para constituir esse tipo de sociedade, informe que se trata do Contrato Social. Nele será possível estabe- lecer as quotas de participação bem como todas as demais regras que regerão a sociedade que atuará no ramo de ferramentaria. Avançando na prática Constituição de uma igreja Uma das características da atividade religiosa é a de envolver a reunião de pessoas, algumas integrantes da gestão administrativa e geralmente todas, reúnem-se a partir de um mesmo culto e da fé. Elas participam como membros a partir de uma relação de fé e de compartilhamento de crenças e costumes comuns. Em um bairro periférico de uma grande cidade, o Pastor F. deseja consti- tuir uma organização religiosa para que sua igreja possa operar legalmente, podendo assumir direitos e obrigações perante outras pessoas. Nesse sentido, ele contratou você para efetuar o processo de abertura da pessoa jurídica que representará a igreja. Seu objetivo é explicar ao pastor o tipo de pessoa jurídica que será consti- tuída e as principais características desse tipo de entidade. Cabe a você elaborar um relatório com essas informações e entregar formalmente ao pastor. Resolução da situação-problema O primeiro passo para a solução da situação-problema é definir, no relatório, o tipo de pessoa jurídica que será constituída no processo de legali- zação da igreja, conforme determina o inciso IV do art. 44 do Código Civil (BRASIL, 2002). Nesse caso será constituída uma organização religiosa que, segundo o Código Civil brasileiro, constitui-se de uma entidade onde reúnem-se membros em torno de um culto e da fé, além de exercer algumas atividades de assistência a seus membros e à sociedade de acordo com sua missão. Ela é constituída por meio de um estatuto organizacional que definirá as normas de funcionamento e gestão. 39 Complementarmente, o relatório deverá indicar que se trata de uma entidade sem finalidade lucrativa e que, dessa forma, não envolverá distri- buição de resultados. Todas as informações importantes relativas à organização religiosa deverão estar previstas no estatuto organizacional, portanto, esse será o instrumento que direcionará o trabalho dos gestores da entidade. Incluindo aspectos fiscais, tributários, contábeis e jurídicos entre outros. Faça valer a pena 1. Existem políticas governamentais voltadas para o incentivo da formali- zação das atividades empresariais. Dentre essas políticas está a que criou a MEI – Microempresa Individual. Nesse sentido, qual das alternativas traz uma afirmação correta em relação a esse tipo de empresa? Assinale a alternativa correta: a. A MEI pode ter apenas um sócio. b. A MEI não pode faturar mais do que R$ 5.000,00 por mês. c. Existe uma limitação de que a MEI pode ter no máximo um funcionário. d. Somente ramos de prestação de serviços podem constituir MEI. e. Os ramos passíveis de constituição de MEI são regulados por Lei Municipal. 2. Um dos documentos utilizados no processo de constituição de uma sociedade empresária é o contrato social. Ele expressa as normas sob as quais a sociedade será regida. Dentre os aspectos legais do contrato social está a obrigatoriedade de ele ser visado por um advogado. Outra característica do contrato social é que: Assinale a alternativa correta. a. Ele determina expressamente a participação dos sócios no patrimônio da entidade. b. Ele indica expressamente os tipos de tributos sobre os quais entidade estará sujeita. c. Ele tem validade de cinco anos, precisando ser reformulado após esse período. 40 d. O contrato social se aplica exclusivamente nos casos de entidades sem fins lucrativos. e. Ele deve ser assinado pelo contador que assume as mesmas responsa- bilidades dos sócios. 3. Um dos instrumentos para o registro e legalização de entidades sem fins lucra- tivos é o estatuto. Ele é utilizado para o caso, por exemplo, de uma associação. Existem aspectos normativos envolvendo o registro dessas entidades. Dentre as normas está a obrigatoriedade de ser elaborado um Estatuto Social e a Ata de Constituição, como é o caso da constituição da Associação Beneficente “Y”. Sobre o estatuto e a ata da associação “Y” podem ser feitas algumas afirmações: I. No estatuto estão expressas as normas que regerão a entidade. II. É no estatuto que se registra o que foi discutido na reunião de consti- tuição da entidade. III. A Ata de Constituição é um instrumento jurídico. Analisando as afirmações, podemos dizer que estão corretas: a. I, apenas. b. II, apenas. c. III, apenas. d. I, II e III. e. I e III, apenas. 41 Seção 3 Órgãos e processo de registro das Pessoas Jurídicas Diálogo aberto Você avançou bastante em termos de conhecimento, concorda? Agora chegou o momento de, finalmente, descrever em termos documen- tais necessáriosao processo de registro da ferramentaria que está sendo constituída pelos sócios Sr. D. e Srª. V. Ao executar essa etapa da situação-problema, você deverá ser capaz de reconhecer os documentos, os órgãos e os passos necessários para o registro da nova pessoa jurídica. Os conteúdos trabalhados nesta seção envolvem a identificação dos tipos de documentos para cadastro, bem como as inscrições nos órgãos públicos competentes. É estudada, ainda, a necessidade de licenças especiais de funcionamento das pessoas jurídicas cuja atividade exige esse tipo de procedimento. Você conhecerá o processo de constituição e registro das pessoas jurídicas, bem como a periodicidade dos cadastros e renovações necessárias. A situação-problema envolve a execução, por meio da descrição de documentos e processos, da abertura da ferramentaria com a qual você vem trabalhando. Você deve se colocar na posição do contador responsável por executar todos os processos de constituição e registro da ferramentaria para que o Sr. D. e a Srª. V. possam iniciar sua atividade empresarial comercial. Para solucionar a situação-problema, você deverá, em uma primeira etapa (etapa 1), identificar e descrever os documentos necessários para o registro da empresa. O produto dessa etapa será um checklist, uma lista de itens que não podem faltar no processo de constituição da empresa. Na segunda etapa (etapa 2), descreva a ordem pela qual os registros e inscrições devem ser executados, indicando onde será feito o primeiro processo de registro ou arquivamento dos documentos. Na sequência, indique qual o próximo órgão ao qual você deverá se dirigir para registrar a 42 empresa e assim sucessivamente, até que todo o processo esteja concluído e a ferramentaria esteja habilitada para iniciar as duas atividades. Nesta seção, vamos adentrar nos conteúdos necessários para responder às questões tratadas aqui, portanto, estudá-los em profundidade é fundamental para sua consultoria no caso da ferramentaria. Não se esqueça das sugestões de leitura, reflexão, sugestões de pesquisa e exemplos que estão disponibili- zados ao longo da seção, pois todo esse conteúdo lhe servirá como base para a sua atuação profissional, principalmente na orientação de empreendedores e de futuros empresários durante o processo de abertura de suas empresas. Não pode faltar Tipos de cadastros e inscrições nos órgãos públicos Caro aluno, antes de se executar a constituição e registro de uma empresa, é importante que você conheça quais os órgãos relacionados a esse processo. Entenda que cada esfera da administração pública, seja município, estado ou governo federal, possui um órgão responsável pela gestão das receitas derivadas dos tributos de sua competência de arrecadação. Segundo Endeavor (2019), os processos envolvendo as esferas de governo nos quais são executados os registros das pessoas jurídicas, sejam de abertura, alteração ou encerramento das atividades, estão organizados em etapa municipal, estadual e federal. Em cada uma dessas esferas são executadas consultas, inscrições, regis- tros e cancelamentos de inscrições. Esses procedimentos são executados junto ao órgão responsável em cada esfera de governo, a saber: • Municípios: nas Secretarias das Fazendas Municipais, responsá- veis pela gestão das receitas derivadas dos tributos municipais, dentre os quais se destacam: o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISSQN, o Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis – ITBI, o Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana – IPTU, as Contribuições de Melhoria, as Taxas de Alvará/Licenciamento, e a Taxa de Coleta de Lixo. • Estados: nas Secretarias das Fazendas Estaduais, que são as responsá- veis pela gestão das receitas derivadas dos tributos estaduais, dentre os quais se destacam: o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, o Imposto sobre Propriedade de Veículos 43 Automotores – IPVA, e o Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação – ITCMD. • Governo Federal: na Secretaria da Fazenda Federal, que é a respon- sável pela gestão das receitas derivadas dos tributos federais, dentre os quais se destacam: o Imposto sobre Importação – II, o Imposto sobre Exportação – IE, o Imposto de Renda – IR, o Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI, o Programa de Integração Social – PIS, a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social – COFINS, o Imposto sobre Operações Financeiras – IOF, o Imposto sobre Propriedade Territorial Rural – ITR, o Imposto sobre Grandes Fortunas – IGF, a Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido – CSLL, e os encargos trabalhistas (INSS, FGTS). Assimile O Estado também pode ser denominado de ente federativo, entidade federativa, ou unidade federativa. Ele representa uma unidade autônoma, ou seja, exerce seu próprio governo, cria suas próprias Leis e executa sua própria arrecadação. Dentro dos estados estão os municí- pios, que possuem as mesmas características de governo, legislação e arrecadação próprias. Cada secretaria dispõe de departamentos específicos que direta ou indiretamente participam do ciclo de formalização das empresas, princi- palmente no que se refere às autorizações para funcionamento e emissão de documentos fiscais (notas fiscais). No âmbito dos municípios, deverá ser feita a solicitação prévia e a solici- tação do alvará de licença de funcionamento. Também é na esfera municipal que serão emitidos as licenças sanitárias e o alvará do corpo de bombeiros. Geralmente, para que seja liberado o alvará de funcionamento, deverão ser providenciadas concomitantemente as demais licenças, ou seja, a sanitária e a do corpo de bombeiros. O alvará de licença tem a finalidade de autorizar o funcionamento da empresa no local para o qual o mesmo foi emitido, bem como para a ativi- dade, ou atividades, para as quais ele foi solicitado. Qualquer incoerência, seja em relação aos aspectos físicos e de localização, seja em relação às atividades desenvolvidas, poderá resultar na cassação do documento pela prefeitura. A licença sanitária serve como comprovação de que as condições relacio- nadas à saúde e à segurança das pessoas estejam satisfatoriamente dentro das normas estabelecidas pela legislação pertinente. A verificação nesse 44 sentido não se restringe à saúde e segurança daquelas pessoas que convivem e trabalham no ambiente da empresa, mas igualmente daquelas que direta ou indiretamente possam ser afetas pela atividade da entidade. Exemplificando Tanto o alvará de funcionamento como as licenças sanitárias e do corpo de bombeiros são fundamentais para que se garanta a saúde e a segurança de todos os envolvidos direta ou indiretamente com a ativi- dade da entidade. Por exemplo: considere que uma serralheria esteja sendo constituída em uma rua comercial, porém com casas residenciais localizadas próximo ao seu provável local de funcionamento. Quais seriam os riscos à saúde e à segurança que essa empresa poderia causar para as pessoas? Essa avaliação é necessária e será objeto de vistoria e fiscalização dos órgãos competentes. Os riscos envolvidos com essa atividade podem ser resumidamente elencados em: poluição sonora (derivada dos ruídos gerados pelas serras, lixadeiras, marretas, parafusadeiras), poluição atmosférica (derivada dos gases utilizados nos processos de soldagens, fuligem liberada no processo de abastamento e serragem de materiais ferrosos, névoa de produtos químicos gerados a partir do processo de pintura), enfim, aspectos que podem afetar a saúde e a segurança das pessoas. Além desses aspectos, é importante a verificação do ambiente de trabalho no tocante a condições de alimentação, ergonomia, condições de acesso e de manutenção dos sanitários, etc. A questão do risco de incêndio e acidentes envolvendo a manipulação de materiais e equipamentos pela serralheria será objeto da vistoria e fiscalização do corpo de bombeiros. Somente depois de garantidas a minimização dos riscos destacados nesse exemplo é
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