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Psicoterapia Breve de 
Orientação Psicanalítica
E d u a r d o A l b e r t o B r a i e r
|
Martins Fontes
o v a i ̂
&
Eduardo Alberto Braier
PSICOTERAPIA BREVE 
DE ORIENTAÇÃO 
PSICANALÍTICA
Tradução: IPEPLAN
'orf\
BIBL'iOt£:'.A c/i 
O
, 4*
% 0 ^
Martins Fontes
São Paulo 2000
c.o, m f
4'k.wrf
, 2 l/ v O I
i ’ r
£.«fa ofo-fl /oi publicada originalmente em espanhol com o título 
PSICOTERAPIA BREVE DE OR1ENTACIÓN PSICOANALÍTICA 
por Ediciones Nueva Vision, Buenos Aires, em 1984. 
Copyright © Ediciones Nueva Vision SAiC, Buenos Aires, 1984. 
Copyright © Livraria Martins Fontes Editora Lida.,
São Paulo. 1986, para a presente edição.
Ia edição
novembro de 1986 
3® edição
março de 1997
2a tiragem
março de 2000
Coordenação da tradução
Maria Risolera de Oliveira Marcondes 
Revisão da tradução 
Maria Esteia Hei der Cavalheiro 
Revisão gráfica 
Eloisa da Silva Aragão 
Ivete Batista dos Santos 
Produção gráfica 
Geraldo Alves 
Paginação/Fotolitos 
Studio 3 Desenvolvimento Editorial
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Braier. Eduardo Alberto
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica / Eduardo Alberto 
Braier : tradução IPEPLAN. - 3a ed. - São Paulo : Martins Fontes, 
1997. - (Psicologia e Pedagogia)
Título original: Psicoterapia breve de orientación psicoanalítica. 
Bibliografia.
ISBN 85-336-0598-6
1. Psicanálise 2. Psicoterapia breve 1. Título. II. Série.
CDD-616.8914
97-1058________________ ____________________ NLM-WM 420
Índices para catálogo sistemático:
I. Psicoterapia breve : Psicanálise : Medicina 616.8914
Todos os direitos para a língua portuguesa reservados à 
Livraria Martins Fontes Editora Ltda.
Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 
01325-000 São Paulo SP Brasil 
Tei. (11) 239-3677 Fax (11) 3105-6867 
e-mail: info@martinsfontes.com 
http.il Mww. martinsfontes. com
r
índice
Prefácio à edição brasileira XV
por Maurício Knobel 
Prefácio 1
1. Introdução 3
Referências bibliográficas 7
2. Resenha histórico-bibliográfica 9
A psicoterapia breve na Argentina 12 
Referências bibliográficas 13
3. Fundamentos teóricos 15
Introdução 15
Pelos caminhos da psicanálise 16 
A psicoterapia individual breve de orientação psicanalítica 
Os fins terapêuticos 18 
A temporalidade 21 
A técnica 21
Resultados e mecanismos terapêuticos 49 
Referências bibliográficas 56
TÉCNICA
4. Entrevistas preliminares 63
Introdução 63
O estabelecimento da relação terapêutica 63 
A história clínica 65 
Avaliação diagnostica eprognostica 65 
Avaliação diagnostica 65 
Papel do psicodiagnóstico 69 
Avaliação prognostica 70 
A devolução diagnóstico-prognóstica 71 
Contrato sobre as metas terapêuticas e a duração do 
tratamento 73
Explicitação do método de trabalho. Fixação das demais 
normas contratuais 76 
Referências bibliográficas 77
5. Planejamento do tratamento 79
Referências bibliográficas 81
6. O tratamento 83
Introdução 83
A relação paciente-terapeuta no tratamento breve 84 
Uma regra básica de funcionamento em psicoterapia 
breve de orientação psicanalítica 89
0 emprego constante do método da associação livre 
(“regra fundamental" da psicanálise) nos 
tratamentos breves 90
Adoção de uma regra básica de funcionamento para 
psicoterapias breves 93 
Uso operativo do método da associação livre nos 
tratamentos breves 93 
Conformação definitiva de uma regra de 
funcionamento para psicoterapias breves 95 
Digressões sobre afocalização e a atenção do terapeuta 95 
Elementos psicoterapêuticos verbais 99 
Generalidades 99
As interpretações na psicoterapia breve de 
orientação psicanalítica 100 
Outras intervenções verbais 117 
Sobre as sessões 118 
Outros recursos terapêuticos 119 
O emprego de psicofármacos 120 
A participação de familiares e/ou pessoas próximas 
do paciente no tratamento 121 
Referências bibliográficas 125
7. Uma sessão de psicoterapia breve 129
A sessão 136
Comentários sobre a sessão 141 
Referências bibliográficas 148
8. Dificuldades do terapeuta para a formação, prática 
e investigação em psicoterapias breves 149 
Introdução 149
A dificuldade de adaptação ao enquadramento da 
psicoterapia breve 151
"Psicoterapia breve 'versus'psicanálise” 151 
Na intimidade da relação terapeuta paciente 152 
Dificuldades ante o término do tratamento 
psicoterapêutico breve 159 
Dificuldades na avaliação dos resultados obtidos em 
psicoterapia breve 159
Desprestígio da psicoterapia breve enquanto indicação 
terapêutica 160
Outras dificuldades do terapeuta ante as terapias breves 161
Conclusões 162
Referências bibliográficas 163
9. A respeito do término do tratamento em psicoterapia 
breve 165
Introdução 165
Reações causadas no paciente pela separação 166 
Reações causadas no terapeuta pela separação 170 
Aspectos técnicos 171
Conclusões 174 
Referências bibliográficas 175
10. Alguns problemas técnicos característicos e riscos 
em psicoterapia breve 177
Referências bibliográficas 182
11. A avaliação dos resultados terapêuticos em 
psicoterapia breve 185
Introdução 185 
Um método de avaliação 186 
A avaliação imediata 187
Alternativas do paciente ao terminar o tratamento 194 
A avaliação mediata 196
Problemas na avaliação dos resultados terapêuticos 200 
Referências bibliográficas 204
12. Indicações da psicoterapia breve 207
Referências bibliográficas 211
13. Dos tratamentos breves 213
Exemplificação do método psicoterapêutico de 
objetivos limitados 213
Dados biográficos de interesse (resumo) 214 
Avaliação diagnostica 215 
A hipótesepsicodinâmica inicial 216 
A s metas terapêuticas 219 
Prognóstico 220 
Planificação do tratamento 220 
Evolução durante o tratamento 223 
Avaliação dos resultados terapêuticos 225 
Considerações finais 228 
O caso da jovem que vomitava às segundas-feiras. 
Aprofundamento no foco 229 
Motivos da consulta 230 
Dados biográficos de interesse 231 
Avaliação diagnostica 232
Hipótese psicodinâmica inicial. Conflitiva focal 232 
Metas terapêuticas 233 
Prognóstico 233 
Planificação do tratamento 234 
Evolução durante o tratamento 235 
Avaliação dos resultados terapêuticos 241 
Considerações finais 245 
Referências bibliográficas 249
14. Formação de terapeutas em psicoterapia breve 251 
Introdução 251 
Aprendizagem teórica 252 
Treinamento psicoterapêutico 253 
Supervisão clínica 254
Algumas condições necessárias para um terapeuta 
em psicoterapias breves 254 
Referências bibliográficas 263
Notas 265
Para Susana, Natacha e Florencia. 
Para meus pais.
“Defrontamo-nos então com o trabalho 
de adaptar nossa técnica às novas 
condições.”
Sigmund Freud, Os caminhos da terapia 
psicanalítica (1919).
Prefácio à edição brasileira
Apresentar ao leitor a edição brasileira do livro de Braier é 
uma honra e um prazer. É também sentir que estamos contribuin­
do para o esforço atual para tornar a psicoterapia acessível a uma 
ampla camada da população que necessita desta modalidade de 
atendimento.
Eduardo A. Braier é um psicanalista argentino, que recebeu a 
formação rigorosa do Instituto de Psicanálise da Associação Psi­
canalítica Argentina.
São poucos, infelizmente, os que conseguem associar o rigor 
da prática psicanalítica a uma consciência social e comunitária. E 
isso não apenas no devaneio intelectual, mas na confrontação do 
dia-a-dia com o paciente que procura ajuda nos hospitais e centros 
de saúde.
Braier procurou oferecer uma contribuição concreta para 
aqueles que buscam ajuda para os problemas emocionais, sem te­
rem acesso a uma técnica complexa, demorada e elitista.
Conhece e reconhece a Psicoterapia Breve e resolve elaborar, 
através do próprio exercício clínico, uma teoria da técnica para a 
sua prática.
Como participante das investigações sobre psicoterapias bre­
ves do Colégio Acta, de 1967, posso constatar o amadurecimento 
das idéias, a precisão dos conceitos, a elaboração cuidadosa das 
técnicas ao longo desses anos bem como a organização e clareza 
com que são agora apresentados.
X V I
Os fundamentos teóricos de Braier têmorigem na psicanáli­
se. Como bom discípulo de Freud, aceita o desafio do mestre e 
procura “adaptar nossa técnica às nossas condições”. De aluno 
fiel converte-se em mestre generoso e nos oferece esta contribui­
ção, esta modalidade de terapia que resulta de uma cuidadosa ava­
liação da técnica psicanalítica.
Estuda minuciosa e cuidadosamente os princípios clássicos e 
a prática da psicanálise e compara-os com a sua própria experiên­
cia neste campo relativamente novo da psicoterapia. Braier é o 
psicanalista cauteloso unido ao terapeuta audacioso, com os pés 
no chão e voltado para o futuro. A linguagem é, por momentos, 
rigidamente psicanalítica, mas reflete sempre uma compreensão 
dinâmica do processo terapêutico, veículo de uma proposta con­
creta e acessível.
Aceita a possível utilização de recursos terapêuticos múlti­
plos e afirma que ninguém é dono da verdade, privilegiando di­
versas e diferentes hipóteses, principalmente dentro da área psica­
nalítica.
A sua técnica criteriosamente elaborada é apresentada com 
metodologia, depois de uma revisão minuciosa dos conceitos de 
Malan e da terapia focal. Inicia com o estudo das entrevistas preli­
minares e, a meu ver, merece especial destaque a afirmação de 
que é necessária uma ampla e minuciosa avaliação diagnostica, 
sem a qual será difícil iniciar um processo psicoterapéutico.
O capítulo cinco, sobre “Planejamento do tratamento”, é 
extremamente rico pelos conceitos que traz. No estudo sobre “O 
Tratamento”, o autor parece não ter esquecido nenhum daqueles 
detalhes que respondem às muitas perguntas que constantemente 
nos fazem os alunos e os estudiosos da técnica. O livro traz muitas 
respostas e sua contribuição didática é inquestionável.
A apresentação detalhada de um caso clínico é uma ilustra­
ção de grande valor didático e um estímulo para o aprendizado e a 
compreensão da proposta do autor. Não disfarça as dificuldades 
que existem para a formação de quem pretende se iniciar na práti­
ca desta modalidade psicoterapêutica e reconhece seus problemas 
técnicos e riscos.
Os difíceis temas da avaliação e das indicações são aborda­
dos em capítulos separados e de grande valor para a pesquisa.
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Prefácio à edição brasileira X V II
Os exemplos clínicos ajudam o leitor a entender e a familiari­
zar-se com esta técnica tão concisa, aqui apresentada de modo 
abrangente. O modelo de “ficha clínica para psicoterapias breves” 
que encerra o livro é um guia útil para quem procura sistematizar 
estes estudos.
O país e os leitores de língua portuguesa vão se beneficiar 
com esta obra, que, além de seu valor didático, teórico, prático e 
de pesquisa, é um importante auxiliar clínico.
Considero necessário parabenizar a empresa editora pela 
seleção desta obra. Não se trata de um “transplante artificial”, só 
válido na sua microcultura de origem, e sim de uma ampla e 
imparcial obra teórico-técnica, perfeitamente aplicável em nossa 
cultura, em nossa sociedade.
Braier consegue aqui abrir nossos olhos a uma realidade, ofe­
recer a teoria de uma técnica compreensível dentro do campo psi- 
canalítico e mostrar que a psicoterapia não é necessariamente o 
privilégio de uma classe social, mas deve ser uma possibilidade 
aberta para muitos; mostra também que este mundo conflitante 
necessita cada vez mais de especialistas com conhecimentos 
sérios e profunda sensibilidade social.
A polêmica sobre “investigação” da personalidade ou seu 
“tratamento” é estéril, academicista e, do ponto de vista psicanalí- 
tico, uma atitude resistencial. Não existe pesquisa em psicanálise 
sem assistência a quem procura este contato único e absolutamen­
te singular. Este trabalho é uma mostra do quanto se pode fazer 
quando existe compreensão humana do ser humano e não uma 
escondida fobia ao contato interpessoal criativo e enriquecedor da 
alma.
Campinas, junho de 1986.
PROF. DR. MAURÍCIO KNOBEL
Professor Titular de Psiquiatria Clínica da FCM da UNICAMP 
Professor Titular de Processos Psicoterápicos do Dept° de 
Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC Campinas.
Prefácio
Meu interesse pela psicoterapia breve nasceu em meus anos 
de residente em Psiquiatria (1968-71), primeiro no Serviço de 
Psicopatologia do Hospital Pinero e, depois, no serviço de mesmo 
nome no Hospital Ramos Mejía. No trabalho hospitalar, defron- 
tei-me com o problema ocasionado pela necessidade de propor­
cionar assistência psiquiátrica a grandes massas da população. 
Isso motivou minha apresentação a concurso para obter uma bolsa 
municipal que era oferecida pela Secretaria de Saúde Pública de 
Buenos Aires, que me proporcionou uma experiência clínica de 
um ano na investigação de terapias breves, no segundo dos servi­
ços citados (1971-72). Desde então, e concomitantemente à mi­
nha dedicação a terapias prolongadas, não abandonaria mais o 
.estudo e a investigação das técnicas de objetivos e tempos limita­
dos, sempre partindo do corpo teórico-psicanalítico. Minha práti­
ca em tais técnicas, além da exercida em consultório particular, 
inclui uma passagem de aproximadamente 2 anos pelo CEMEP 
(Centro de Psicologia Médica), como terapeuta da instituição 
(1972-73). A isto se somou o poderoso estímulo que significou o 
intercâmbio científico com colegas, o trabalho docente que venho 
exercendo sobre o assunto em hospitais, instituições e em nível 
privado e, mais recentemente, o enorme enriquecimento que me 
proporcionou a formação na Associação Psicanalítica Argentina. 
Todos esses fatos me animaram, finalmente, a empreender a ár­
dua tarefa de escrever este livro. Minha intenção é de nele expor
2 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
com clareza principalmente as experiências e idéias pessoais que 
venho acumulando até o momento, complementadas por uma 
revisão crítica, que de nenhum modo pretende ser completa, da 
bibliografia existente sobre o tema.
Como sempre ocorre, certos pontos despertaram em mim um 
interesse maior que outros, motivando alguns desenvolvimentos. 
Entre eles se encontram: os fundamentos teóricos, a regra de fun­
cionamento do paciente, os tipos de atenção do terapeuta, as difi­
culdades do terapeuta para a formação, a prática e a investigação 
em psicoterapias breves, o termino do tratamento, alguns incon­
venientes técnicos e riscos a eles relacionados e os problemas 
concernentes à avaliação dos resultados terapêuticos.
Quero expressar meus mais sinceros agradecimentos a todos 
aqueles que de uma maneira ou de outra me ajudaram nesse em­
preendimento, especialmente:
Ao Dr. Luiz Allegro, que realizou um leitura crítica dos ori­
ginais e, além disso, me incentivou constantemente, assim como 
ao Dr. Marcos Guites, que leu o capítulo 13.
Ao Dr. Héctor J. Fiorini, pelo generoso estímulo e pelas su­
gestões que pessoalmente me ofereceu durante anos de frutíferas 
discussões sobre as psicoterapias. Boa parte de meu entusiasmo 
pelo tema deve-se à leitura de seus excelentes trabalhos.
Ao Sr. Ifim Kantor, a quem coube a enorme tarefa, realizada 
com carinho e esmero, de transcrever meus ilegíveis manuscritos.
A Dra. Blanca R. Montevecchio, que supervisionou os trata­
mentos breves que efetuei durante minha investigação no Serviço 
de Psicopatologia do Hospital Municipal J. M. Ramos Mejía.
Ao Dr. Moisés Kijak e a Elisabeth G. De Garma, que foram 
meus analistas.
Aos colegas membros dos diferentes grupos de estudo por 
mim coordenados, principalmente os seguintes: doutores Víctor 
Feder, Alejandro Puente, Alba Brengio, Delia Saffoires, Mónica 
Noseda, Isaías Finkelstein, Ricardo Frigerio; licenciados Jorge A. 
Brener, Aída Núnez, Claudia H. De Zanoto, Silvia S. De Fin­
kelstein e Suzana Boz.
A meus pacientes.
Buenos Aires, agosto de 1980.
EDUARDO A. BRAIER
1. Introdução
As chamadas psicoterapias breves surgiram essencialmente 
como uma resposta ao problema assistencial colocado pela massa 
cada vez maior de população consultante. Em nosso meio, os inci­
pientes serviços de psicopatologia hospitalar,os centros de saúde 
mental, as instituições privadas e os hospitais psiquiátricos tive­
ram, em determinado momento, e de forma similar a outros paí­
ses, de implementar técnicas breves. Da mesma maneira, a seu 
tempo, tinham incorporado, com idêntica finalidade, o uso de 
modernos psicofármacos e da psicoterapia grupai, já que os tera­
peutas, em quantidade insuficiente, não conseguiam cobrir a 
demanda de pacientes. As terapias de curto prazo, individuais e 
grupais, permitiram ampliar a assistência psiquiátrica, propósito 
este que, por outro lado, não era compatível com o emprego de 
tratamentos longos. As limitações econômicas de muitos que 
acorrem em busca de ajuda terapêutica foram e são, sem dúvida, 
um fator que vem exercendo uma influência decisiva no desenvol­
vimento e na difusão das terapias breves, naturalmente mais aces­
síveis às pessoas de poucos recursos. Os objetivos terapêuticos 
deveríam, então, centrar-se na superação de sintomas e incidentes 
agudos ou situações perturbadoras atuais, que se apresentam 
como prioritárias por sua urgência e/ou importância.
Esses procedimentos terapêuticos vão alcançando, de um 
modo gradual, novos traços distintivos, o que nos conduz, de ime­
diato, ao problema de sua denominação. Os diversos nomes que
4 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
recebem revelam as tentativas de tomar precisas algumas daquelas 
que se consideram suas principais características (embora indu­
zam, em definitivo, a aumentar a confusão reinante), as quais, é 
conveniente citar para poder, desde já, deixar claro a que situações 
e métodos psicoterápicos vou referir-me ao longo desta obra.
Em primeiro lugar cabe examinar a denominação psicotera­
pia breve, que por ser, sem dúvida, a mais difundida e imposta 
pelo uso, empregamos aqui com muita freqüência1. Apesar disso, 
há que se admitir que não é a mais adequada: em princípio porque 
essas terapias são breves do ponto de vista do terapeuta, e quando 
sua duração é comparada com a do tratamento psicanalítico, em 
geral mais prolongado (1), mas podem não parecer breves por 
exemplo para o paciente. Acima de tudo, tal denominação é dis­
cutível, já que uma psicoterapia pode ser de duração certamente 
prolongada - um ano ou mais - mas ter as metas limitadas e as 
características técnicas próprias e essenciais desses procedimen­
tos (focalização, planejamento, etc.), que as distinguem da psica­
nálise corrente e de outras psicoterapias.
As terapias a que fazemos referência também são conhecidas 
como psicoterapias de tempo limitado, denominação essa que 
novamente alude à sua temporalidade, mas que denota não só bre­
vidade, como também a fixação de um limite de tempo para o tra­
tamento, em virtude do qual este passa a ter, geralmente c de ante­
mão, uma data de finalização preestabelecida. Tampouco este é 
um fato necessariamente constante nesses tratamentos.
Outra denominação a que se costuma recorrer, a de psicote­
rapias de objetivos limitados, é, a meu ver, muito apropriada, já 
que se refere a um elemento importante e que, diferentemente de 
outros elementos, sempre se faz presente em tais terapias, que por 
conseguinte poderão ser concomitantemente de tempo limitado 
ou não.
Pode-se também empregar a denominação psicoterapia bre­
ve de orientação psicanalítica, que dá título a este livro, e que 
cscolhi porque me interessa explicitar que se trata de uma terapia 
originada nas teorias de psicanálise e, assim, estabelecer uma di­
ferença com respeito aos tratamentos breves alicerçados em ou­
tras orientações terapêuticas (terapias comportamentais, análise 
transacional, etc.).
Introdução 5
Alguns autores preferem designá-las com nomes que servem 
para destacar algumas de suas peculiaridades técnicas e que suge­
rem diferenças com relação às da psicanálise clássica: terapias 
planejadas (3) ou focais (4), por exemplo.
Entre nós Szpilka e Knobel propuseram denominá-las psico­
terapias não-regressivas, para acentuar outro aspecto importante 
delas (5).
A chamada psicoterapia de emergência concerne, no meu 
entender, à forma de psicoterapia rápida ou breve que partilha 
apenas algumas das características e dos métodos de que nos ocu­
pamos. Refere-se, particularmente, a uma terapia de urgência em 
“situações especiais de crise e exigência” (2), tais como episódios 
de natureza psicótica (tentativas de suicídio, delírios agudos, 
etc.). Em tais situações, com ffeqüência prevalece a necessidade 
de estancar a crise, obtendo-se um alívio sintomático, de modo 
que na maioria dos casos deve-se postergar a busca.de insight no 
paciente até um segundo momento terapêutico, já que de imediato 
suas condições egóicas não costumam permiti-lo.
Nesta obra referir-me-ei, sobretudo, a uma psicoterapia de 
objetivos limitados, basicamente interpretativa ou de insight, que 
deve ser empregada em indivíduos com capacidade egóica sufi­
ciente para serem tratados por meio dela,
É necessário afastar a absurda antinomia que alguns preten­
dem criar entre a psicanálise e a P.B.. Ambos os métodos constam 
de objetivos terapêuticos, indicações clínicas e técnicas diferen­
tes. É perigoso incorrer no erro de pensar que a psicanálise é o 
único tratamento válido realizável, como também no de superva- 
lorizar os alcances da P.B., atribuindo-lhes resultados espetacula­
res. (De minha parte, longe de querer apresentar o tratamento 
breve como uma panacéia, tratarei aqui não só de suas possibili­
dades, mas também, e com certo detalhe, de suas limitações e ris­
cos.) É melhor dizer que é possível instrumentar uma terapêutica 
breve baseada no esquema conceituai da psicanálise, o que signi­
ficará uma proveitosa aplicação de suas teorias em situações nas 
quais não é possível utilizar a técnica psicanalítica corrente, como 
por exemplo, no ambiente hospitalar. Além disso, considero que 
não devemos deixar de atender aos numerosos pacientes que, 
tanto no meio hospitalar como no consultório particular, não
6
podem, por motivos diversos (econômicos, mas também de resis­
tência, ou por sua idade avançada, etc.) ser abordados através de 
um tratamento psicanalítico, exigindo que adaptemos nossos 
recursos técnicos às possibilidades e necessidades do paciente, 
sem esperar que sejam eles quem devam amoldar-se a um único 
método terapêutico. Caso isso ocorresse, correriamos o risco de 
tomar por intratáveis indivíduos que simplesmente - e frequente­
mente só em caráter transitório - não estão em condições de ser 
analisados. Cabe acrescentar que em muitas ocasiões uma terapia 
de objetivos e tempo limitados pode ser o passo inicial em direção 
a um posterior tratamento analítico, convertcndo-se, num primei­
ro momento, na mais conveniente, ou ainda, na única abordagem 
terapêutica viável, que poderá trazer, como resultado, uma 
mudança nas condições do paciente que o torne apto para efetuar, 
em seguida, uma psicoterapia prolongada.
A superação das diversas dificuldades dos profissionais para 
encarar a formação, a prática e a investigação em P.B. surge clara­
mente como premissa. De um tempo para cá, já são muitos os que 
falam na importância do emprego deste método terapêutico, mas 
são poucos os que preconizam e aplicam procedimentos técnicos 
apropriados ao contexto em que tal método cabe. Também chama 
a atenção a escassa participação dos analistas de maior experiência 
na investigação dessas terapias. Pessoalmente, interessei-me em 
obter uma compreensão profunda de algumas das motivações 
inconscientes do terapeuta que subjazem a suas dificuldades para 
ajustar-se ao enquadramento requerido pela P.B.
Constitui uma necessidade premente contar com uma teo­
ria da técnica da P.B. estruturada com mais solidez, que possibi­
lite um ensino adequado de seus princípios básicos (sem que tal 
afirmação desmereça o reconhecimento da existência de contri­
buições de decisiva importância sobre o tema, que enriqueceram 
profundamente nossa visão dele). Oriento meu trabalho em direção 
a essa meta, tentando conceituar uma modalidadeterapêutica 
que reconhece suas fontes no corpo teórico da psicanálise, mas 
que, segundo creio, se diferencia nitidamente de sua técnica. 
Acima de tudo, procurei sistematizar os sucessivos passos do 
processo terapêutico e ensaiei um critério de avaliação dos re­
sultados.
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Introdução 7
Também serão bem-vindas a realização e a transmissão de
novas experiências clínicas organizadas em P.B., que possibilitem 
validar ou questionar as concepções teóricas sustentadas atual­
mente.
Por último, desejo esclarecer que nesta obra irei ocupar-me 
especialmente do que tange à psicoterapia individual breve em 
pacientes adultos e adolescentes, ainda que muitos dos conceitos 
apresentados sejam extensivos ao tratamento de crianças e aos 
procedimentos grupais (psicoterapia breve de casal, grupo fami­
liar, etc.).
Referências bibliográficas
1. Alexander F., “Eficacia dei contacto breve”, em Alexander, F e 
French, T., Terapêutica psicoanalítica, Paidós, Buenos Aires, 1965, 
cap. IX.
2. Bellar, L. e Swall, L., Psicoterapia breve y de emergencia, Pax- 
México, México, 1969.
3. French, T., “Planificación de la psicoterapia”, em Alexander, F. e 
French, T., ob. cit., em 1, cap. VII.
4. Malan, D. H., A Study of Brief Psychotherapy, Tavistock, Londres; 
Charles Thomas, Springfield, Illinois, 1963. (Versão castelhana: La 
psicoterapia breve, Centro Editor de América Latina, Buenos Aires, 
1974.)
5. Szpilka, J. e Knobel, M., “Acerca de la psicoterapia breve”, Coloquio 
Acta 1967: Psicoterapia breve, Acta psiq. psicol. Amér, Lat., vol. 
XIV, n°2, Buenos Aires, junho de 1968.
2. Resenha histórico-bibliográfica
Passaremos em revista os principais acontecimentos e obras 
que marcaram a evolução da terapêutica breve de orientação psi­
canalítica.
Devo começar tal revisão assinalando que os primeiros tra­
tamentos efetuados pelo próprio Freud na etapa pré-analítica e no 
começo da analítica eram, de certo modo, terapias breves, pois 
duravam só alguns meses. O fundador da psicanálise se achava 
empenhado, inícialmente, em buscar curas rápidas, a princípio 
dirigidas para a solução de determinados conflitos e sintomas1.
Freud atendeu a Gustav Mahler, com resultados satisfatórios, 
durante algo mais de... quatro horas, a maior parte das quais trans­
correram enquanto ambos passeavam por Leyden (9). Outro trata­
mento célebre, o do Homem dos ratos, que conseguiu bons resul­
tados, e cujo histórico clínico foi publicado em 1909 (5), durou 
tão-somente 11 meses.
Gradualmente e com os progressos da psicanálise, o trata­
mento foi-se tornando mais prolongado. Incidem fatores como a 
resistência, a sobredeterminação dos sintomas, a necessidade de 
elaboração, os fenômenos transferenciais, etc. (12).
O desenvolvimento dos acontecimentos mais relevantes 
pode ser resumido como se segue:
1914: no histórico clinico do Homem dos lobos, redigido em 
1914 e editado em 1918 (7j, Freud disse que fixou pela primeira
10 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
vez uma data para o término da análise, numa tentativa de acelerar 
o desenvolvimento do processo terapêutico2.
1916: Ferenczi menciona, pela primeira vez, a necessidade 
de uma psicoterapia breve, sendo repreendido por Freud (13 )3.
1918: em uma conferência pronunciada em Budapeste e edi­
tada no ano seguinte (“Os caminhos da terapia psicanalítica” [8]), 
Freud propõe uma psicoterapia de base psicanalítica para respon­
der à necessidade assistencial da população, e sugere que se com­
binem os recursos terapêuticos da análise com outros métodos. 
Tal proposta é de importância decisiva para fundamentar, poste­
riormente, a configuração de uma terapia breve de orientação psi­
canalítica.
1920-1925: S. Ferenczi e O. Rank realizam tentativas para 
abreviar a cura psicanalítica. Escrevem conjuntamente um livro, 
no qual abordam o tema (3), recebendo duras críticas de Freud.
Ferenczi propõe o chamado “método ativo”, que logo aban­
donará. Rank, por sua vez, defende a possibilidade de um trata­
mento analítico breve baseado na tentativa de superar, em poucos 
meses de análise, o trauma do nascimento, que considera o nódulo 
da neurose.
1937: em “Análise terminável e interminável”, Freud assina­
la que as tentativas de abreviar a duração da análise que consome 
muito tempo não requerem justificação “e se baseiam em impera­
tivas considerações de razão e de conveniência” . Em várias passa­
gens desse artigo sublinhará que o encurtamento da duração da 
análise é um fato desejável. Mas também fustigará as tentativas 
que Rank efetuara nessa direção desde 1924, baseadas em sua 
concepção a respeito do trauma de nascimento. O mesmo fará em 
relação a Ferenczi.
Neste, um de seus últimos trabalhos, Freud recorda que, para 
acelerar o tratamento analítico no caso do Homem dos lobos, re­
correu ao expediente de fixar-lhe um limite de tempo. Acrescenta 
que posteriormente também tomou essa medida em outros casos, 
dizendo a respeito dela: “(...) é eficaz, contanto que se faça no 
momento oportuno. Mas não se pode garantir o cumprimento total 
da tarefa. Pelo contrário, podemos ter certeza de que, enquanto 
parte do material se tornará acessível sob a pressão dessa amea­
ça, outra parte ficará guardada e enterrada como estava antes, e
Resenha histórico-bibliográfica 11
perdida para nossos esforços terapêuticos. Porque, uma vez que o 
analista tenha fixado o limite de tempo, não pode prolongá-lo; de 
outro modo, o paciente perdería a fé que nele deposita” (6).
1941: o Instituto de Psicanálise de Chicago organiza um con­
gresso nacional sobre psicoterapia breve. Aumenta o interesse 
pelo tema nos Estados Unidos.
1946: aparece Psychoanalytic Therapy (Ronald Press, Nova 
York), de F. Alexander e T. French e colaboradores do Instituto de 
Psicanálise de Chicago, obra que inicia uma nova e decisiva etapa 
no campo das técnicas breves. Os autores recolocam a necessida­
de de abreviar o tratamento analítico e de efetuar terapias breves 
com uma compreensão psicanalítica. Incluem conceitos sobre 
planejamento da psicoterapia, flexibilidade do terapeuta, manejo 
da relação transferenciai e do ambiente, utilidade de ressaltar a 
realidade externa e eficácia do contato breve. Tomam como ponto 
de partida uma experiência clínica na qual intervém um número 
importante de terapeutas experientes. O livro descreve numerosos 
históricos clínicos (1).
1963: publica-se A Study o f Brief Psychotherapy, de D. H. 
Malan (Tavistock Publications Limited, Londres). A obra descreve 
uma experiência clínica de investigação baseada em tratamentos 
de curto prazo, realizada por terapeutas da Clínica Tavistock, de 
orientação kleiniana. Nela se detalha a técnica focal. O autor acen­
tua a conveniência de interpretar a transferência de maneira exaus­
tiva dentro da terapia breve (em acentuada dissidência com muitos 
outros), assim como a necessidade de trabalhar a separação entre 
paciente e terapeuta, causada pelo término do tratamento. Além 
disso desenvolve, brilhantemente, um método psicodinâmico para 
avaliar os resultados terapêuticos. O livro oferece uma detalhada 
apresentação de 19 casos tratados com psicoterapia individual bre­
ve, que inclui os acompanhamentos efetuados. A supervisão dos 
tratamentos esteve a cargo de M. Balint (12).
1965: aparece Short-Term Psychotherapy, obra compilada 
por L. Wolberg (Grune and Stratton, Inc., Nova York), que contém 
trabalhos de Avnet, Masserman, Hoch, Rado, Alexander, L. Wol­
berg, Kalinowsky, Wolf, Harrower e A. Wolberg. Sobressai o de 
L. Wolberg, a respeito da técnica da psicoterapia breve (16).
12 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Também nesse ano L. Bellak e L. Swall publicam Emergency 
Psychotherapy and Brief Psychotherapy (Grune and Stratton, No­
va York). Os autores incluem diversos temas, entre os quais se 
destacam: o enfoque do tratamento à luz da psicologia psicanalíti­
ca do ego, a aplicação da teoria da aprendizagem, o insight e a ela­
boração (2).
1971: em TheBrieferPsychotherapies (Brunner Mazel, Inc., 
Nova York), Small realiza uma extensa compilação das idéias de 
numerosos autores sobre o tema (14).
A psicoterapia breve na Argentina
1967: tem lugar o Colóquio Acta 1967: Investigações sobre 
psicoterapia breve, que apresenta valiosas contribuições. Partici­
pam, entre outros, R. J. Usandivaras, J. 1. Szpilka, M. Knobel, A. 
E. Fontana, G. S. de Dellarossa, H. Ferrari, A. G. Marticorena e 
A. Dellarossa (15). Esse colóquio é um testemunho do crescente 
interesse que começa a se manifestar, em nosso meio, pelo proble­
ma das psicoterapias (individuais ou grupais) em serviços psi­
quiátricos - dc recente criação - de hospitais gerais, hospitais 
psiquiátricos e instituições privadas, que oferecem tratamentos a 
honorários reduzidos em razão da demanda cada vez maior de 
assistência psicológica por parte da população. Empregam-se tra­
tamentos de duração limitada com base psicanalítica, mas a ativi­
dade é desorganizada e confusa e não se apresentam, ainda, maio­
res perspectivas de instrumentalizar técnicas suficientemente sis­
tematizadas e coerentes.
1970: aparece o primeiro livro de autor argentino, exclusiva­
mente consagrado ao tema: Psicoterapia breve, de H. Kesselman, 
com prólogo de J. Bleger. O autor, utilizando o esquema referen­
cial de Pichon-Rivière aborda, entre outros aspectos, o planeja­
mento e as técnicas de mobilização, e assinala algumas caracterís­
ticas essenciais das interpretações a serem utilizadas no trabalho 
terapêutico (10).
1973: publica-se Teoria y técnica de psicoterapias, de H. J. 
Fiorini, amplo e valioso estudo sobre o tema, no qual se destacam 
especialmente o capítulo referente à primeira entrevista em psico-
Resenha histórico-bibliogràfica 13
terapia breve e o que oferece um modelo teórico do foco terapêu­
tico (4).
1975: Psicoanálisisypsicoterapia breve en la adolescência*, 
de J. C. Kusnetzoff, aborda, em sua segunda parte, o tema da psico­
terapia individual e grupai breve do adolescente. É de especial 
interesse o capítulo destinado à teoria da comunicação e à psicote­
rapia breve, assim como a inclusão da família no tratamento (11).
1980: em nosso meio atualmente é indiscutível a necessidade 
de se recorrer a psicoterapias menos custosas que a análise, tanto 
em tempo como em dinheiro, a fim de responder à demanda de 
um número cada vez maior de indivíduos. A aplicação das chama­
das psicoterapias breves se difunde ostensivamente, mas ainda 
não se lhes reconhece um status teórico, que, no entanto, começa 
a se delinear, sendo relativamente escassas as investigações que 
têm suscitado.
Referências bibliográficas
1. Alexander, F. e French, T., Terapêutica psicoanalítica, Paidós, Bue­
nos Aires, 1965.
2. Bellak, L. e Small, L., Psicoterapia brevey de emergencia, Pax- Mé­
xico, México, 1969.
3. Ferenczi, S. e Rank, O., The Development of Psychoanalysis, Zurich 
International Press, Leipzig e Viena, 1924.
4. Fiorini, H. J., Teoriay técnica de psicoterapias, Nueva Vision, Bue­
nos Aires, 1973.
5. Freud, S., “Análisis de un caso de neurosis obsesiva”, em O.C., Bi­
blioteca Nueva, Madri, 1948, t. II.
6 . __“Análisis terminable y interminable”, em O.C., Biblioteca Nue­
va, Madri, 1968, t. III.
7 . __ “Historia de uma neurosis infantil”, em O. C., ob. cit. em 5, t. II.
8 . __“Los caminos de la terapia psicoanalítica”, em O. C., ob. cit., em
5, t. II.
9. Jones, E., “Vida y obra de Sigmund Freud”, Nova, Buenos Aires, 
1960, t. II.
* Traduzido para o português sob o título Psicanálise e psicoterapias breves na 
adolescência, tradução de Patrícia M. E. Cenacchi, edição brasileira adaptada e revis­
ta pelo autor, Rio de Janeiro, Zahar, 1980. (N. do T.)
14 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
10. Kesselman, H., Psicoterapia breve, Kargieman, Buenos Aires, 1970.
11. KusnetzofF, J. C., Psicoanálisis y psicoterapia breve en la adoles­
cência, Kargieman, Buenos Aires, 1975.
12. Malan, D. H., A Study of Brief Psychotherapy, Tavistock, Londres, 
Charles Thomas, Springfield, Illinois, 1963 (Versão castelhana: La 
psicoterapia breve, Centro Editor de América Latina, Buenos Aires, 
1974).
13. Rey Ardid, R., Prólogo al tomo III de S. Freud, O.C., ob. cit. em 6, 
1968.
14. Small, L., Psicoterapias breves, Granica, Buenos Aires, 1972.
15. Usandivaras, R. J. e outros, Coloquio Acta 1967: Psicoterapia bre­
ve, Actapsiq. psicol. Amér. Lat., vol. XIV, n° 2, Buenos Aires, junho 
de 1968.
16. Wolberg, L. e col., Psicoterapia breve, Gredos, Madri, 1968.
3. Fundamentos teóricos'
Introdução
Os problemas de teoria em terapias breves são numerosos e 
comprometem o seu reconhecimento dentro do panorama psico- 
terapêutico.
Atualmente creio que podemos encontrar contribuições mui­
to valiosas ao tema, mas, se há pontos de coincidência entre os 
diversos autores no que concerne a uma teoria do processo, tam­
bém é certo que paralelamente ainda reina muita confusão entre 
os leitores, talvez provocada por uma verdadeira miscelânea de 
conceitos teóricos que nem sempre podem articular-se entre si. 
Como assinala Fiorini, falta uma estrutura unitária que suste 
esses procedimentos (13). E para sua obtenção que devemos diri­
gir nossos esforços.
Gostaria de assinalar uma carência particularmente notória, 
que é a de uma concepção mais ou menos definida e aceita quanto 
aos mecanismos terapêuticos atuantes nessas terapias.
Neste capítulo me proponho a discorrer sobre alguns temas 
cuja recolocação considero de importância decisiva dentro da ten­
tativa de configurar um marco conceituai para as psicoterapias de 
objetivos e tempo limitados. Além disso, procurarei, ao longo 
desta obra, expor o marco conceituai que venho adotando pes­
soalmente, e ao qual pretendo dotar da necessária coerência, atri­
buto - disso tenho consciência - nada fácil de alcançar. Meu pon-
16 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
to de partida, como o de muitos investigadores, são as teorias psi- 
canalíticas. Na verdade, não encontro motivos para prescindir de 
teorias tão valiosas como a do inconsciente, do conflito psíquico, 
da sobredeterminação, dos mecanismos defensivos, da gênese dos 
sonhos, das séries complementares, da estrutura do aparelho psí­
quico, da transferência, das resistências e de tantas outras que nos 
permitem compreender a problemática do paciente e do processo 
terapêutico2. Porém, o que realmente terá de ser modificado é a 
técnica, que por múltiplas razões não poderá continuar sendo a 
mesma que a empregada em psicanálise, devendo ajustar-se ao 
contexto próprio desses procedimentos. Incluo-me assim entre 
aqueles que propõem uma psicoterapia breve de orientação psica­
nalítica, mas entendendo que deve ser algo tecnicamente muito 
diferente de uma “psicanálise breve”.
Pelos caminhos da psicanálise
Minha concepção da terapêutica breve é fiel aos princípios 
básicos formulados por Freud num trabalho que adquire signifi­
cação especial dentro do tema que nos ocupa e que talvez não 
tenha sido suficientemente valorizado. Refiro-me à conferência 
pronunciada em Budapeste em 1918, e publicada um ano depois 
sob o título de “Os caminhos da terapia psicanalítica” (26). Já 
naquela época, Freud adiantou-se a fatos que sobreviriam poste­
riormente, entre os quais hoje podemos incluir o aparecimento 
dos tratamentos breves como uma tentativa de possibilitar a assis­
tência psicológica a um número maior de pessoas. Muitos dos 
pensamentos expressos naquela ocasião vigoram ainda hoje. Na 
parte final do trabalho, Freud assinala a necessidade de no futuro 
os psicanalistas adotarem medidas para estender o tratamento psi- 
coterapêutico a grandes massas da população. Reconhece que se 
tropeça em inconvenientes para consegui-lo, derivados de carac­
terísticas próprias do método psicanalítico, que limita a atenção a 
poucos indivíduos, e de fatores de ordem econômica. Dirigindo- 
se a seus colegas psicanalistas, Freud disse textualmente: “Qui­
sera examinar com os senhores uma situação que pertence ao 
futuroe que talvez lhes pareça fantástica. Mas, a meu ver, merece
Fundamentos teóricos 17
que acostumemos a ela nosso pensamento. Sabem muito bem que 
nossa ação terapêutica é bastante restrita. Somos poucos, e cada 
um de nós não pode tratar mais do que um número limitado de 
doentes por ano, por maior que seja nossa capacidade de trabalho. 
Diante da magnitude da miséria neurótica de que padece o mundo 
e de que quiçá pudesse não padecer, nosso rendimento terapêutico 
é quantitativamente insignificante. Além disso, nossas condições 
de existência humana limitam nossa ação às classes abastadas da 
sociedade.” Mais adiante antecipa a criação de estabelecimentos 
assistenciais estatais, nos quais os psicanalistas tratem gratuita­
mente dos pacientes por meio da psicoterapia: “Por outro lado, é 
possível prever que algum dia chegará a vez de despertar a cons­
ciência da sociedade, e adverti-la de que os pobres têm tanto 
direito ao auxílio do psicoterapeuta como ao do cirurgião, e de 
que as neuroses ameaçam tão gravemente a saúde do povo como a 
tuberculose, não podendo ser seu tratamento tampouco abandona­
do à iniciativa individual. Criar-se-ão, então, instituições módicas 
para as quais serão designados analistas encarregados de conser­
var a resistência e o rendimento de homens que, abandonados a si 
mesmos, se entregariam à bebida, de mulheres prestes a sucumbir 
sob o peso das privações e de crianças cujo único porvir é a delin­
quência ou a neurose. O tratamento seria, naturalmente, gratuito.” 
Assinala logo a seguir a necessidade de se modificar, nessas cir­
cunstâncias, a técnica psicanalítica, o que me parece da maior 
importância, pois hoje em dia muitos analistas resistem a fazê-lo, 
mostrando-se “mais realistas que o rei” . “Caberá a nós, então, o 
trabalho de adaptar nossa técnica às novas condições” (o grifo é 
meu). Em seguida expõe, ao contrário do que alguns poderíam 
supor, seu ponto de vista a respeito do uso de diferentes recursos 
terapêuticos em tais casos, em lugar de preconizar, de modo ex­
clusivo, o método psicanalítico (o que endossaria o critério que 
hoje sustenta a multiplicidade de elementos terapêuticos nas tera­
pias breves, especialmente nas que ocorrem em instituições assis­
tenciais): “Na aplicação popular de nossos métodos talvez tenha­
mos de misturar ao ouro puro da análise o cobre da sugestão dire­
ta; também a influência hipnótica poderia aqui voltar a ter lugar 
como no tratamento das neuroses de guerra”3 ainda que, de ime­
diato, sublinhe que os componentes básicos de tais tratamentos
18 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
deverão provir da psicanálise (isso, como tudo o que disse ante­
riormente, também se converteu em realidade, já que atualmente 
se conta com a P.B. de orientação psicanalítica): “Mas, quaisquer 
que sejam a estrutura e a composição dessa psicoterapia para o 
povo, seus elementos mais importantes e eficazes continuarão 
sendo, desde já, os tomados da psicanálise propriamente dita, ri­
gorosa e livre de toda tendenciosidade” (o grifo é meu).
A psicoterapia individual breve de orientação psicanalítica
Ante a perspectiva de se adotar uma técnica breve de base 
psicanalítica, faz-se necessário, para definir melhor seus elemen­
tos principais, estabelecer uma comparação com nosso modelo 
original, o tratamento psicanalítico. Desse modo, tentarei clarifi­
car os pontos de contato entre os dois métodos terapêuticos e, 
muito especialmente, suas diferenças4. Dentro dos procedimentos 
breves, referir-me-ei, fundamentalmente, à técnica dirigida ao 
insight, sobre a qual podem apresentar-se mais dúvidas a respeito 
de suas relações com a técnica analítica, contrariamente ao que 
acontece com uma terapia essencialmente de apoio, cuja caracte­
rização é mais simples e mais conhecida.
Juntando-me à iniciativa de alguns setores, como Bellak (6), 
Small (6), (48) e Malan (40) e com um propósito principalmente 
didático, considerarei três aspectos essenciais: 1) os fins terapêu­
ticos, 2) a temporalidade, 3) a técnica.
Os fins terapêuticos
A psicanálise reconhece como meta fundamental o tornar 
consciente o inconsciente. Mas a experiência clínica nos permite 
comprovar que essa finalidade traz, além disso, a perspectiva 
simultânea de uma reconstrução da estrutura da personalidade 
do analisando como resultado terapêutico talvez mais transcen­
dente. Essa reconstrução envolve a resolução de conflitos básicos 
e de seus derivados através da elaboração e do conseqüente ga­
nho de um maior bem-estar, com o qual se pretende eliminar ou 
aliviar os sintomas de modo franco e duradouro.
Fundamentos teóricos 19
Na terapia de objetivos limitados, como o próprio nome indi­
ca, as metas são reduzidas e mais modestas que as do tratamento 
psicanalítico. A limitação dos objetivos terapêuticos é caracterís­
tica do procedimento de que nos ocupamos, e aparece em função 
das necessidades mais ou menos imediatas do indivíduo. Os obje­
tivos podem colocar-se em termos da superação dos sintomas e 
problemas atuais da realidade do paciente, o que implica, antes de 
tudo, o propósito de que este possa enfrentar mais adequadamente 
determinadas situações conflitivas e recuperar sua capacidade de 
autodesenvolvimento, de modo que na prática se ache em condi­
ções de adotar certas determinações quando isso se revele neces­
sário. Exemplo: uma jovem professora, com francas alterações de 
caráter, apresentava recentemente sintomas de depressão e dc 
conversão histérica (paralisia dos membros inferiores e des­
maios), ligados a situações conflitivas surgidas em sua relação 
com a diretoria de sua escola, tudo isso lhe ocasionando sérias 
dificuldades adaptativas no plano profissional. Fixaram-se os 
seguintes objetivos para uma terapia de curta duração: conseguir 
que a jovem obtivesse um alívio de seus sintomas e sobretudo que 
pudesse compreender e manejar melhor os conflitos subjacentes a 
seu problema atual a fim de poder reintegrar-se no trabalho e de­
senvolver-se mais saudavelmente em seu meio profissional.
De preferência, e na medida do possível, a solução dos pro­
blemas imediatos e o alívio sintomático deverão, em um sentido 
psicodinâmico, corresponder à obtenção de um princípio de insight 
do paciente a respeito dos conflitos subjacentes (o que supõe que 
cm certa medida também nos propomos a tornar conscientes 
aspectos inconscientes, ainda que a meta central, em si, não seja a 
exploração do inconsciente como ocorre na psicanálise). Além 
disso, o trabalho pode ser encarado a partir do lugar do terapeuta e 
com uma visão dinâmica, como tendo o propósito de clarificar e 
resolver, ainda que de modo parcial, parte da patologia do pacien­
te. Malan fala precisamcntc em “elaborar brevemente um dado 
aspecto da psicopatologia” (40). No exemplo há pouco citado, 
isto consistia esscncialmente em conseguir que a paciente se 
conscientizasse parcialmente de aspectos do conflito básico rela­
cionado com a figura da mãe, diante da qual mantinha uma atitu­
de infantil de extrema submissão, que se alternava com tentativas
20 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
de rebelião, do que derivavam dificuldades em sua relação com 
representantes da autoridade materna, como sucedia com a direto­
ra. Segundo Malan, sua proposta oferecería a vantagem de nos 
permitir incluir expectativas de resultados terapêuticos maiores 
do que se concebéssemos as metas meramente circunscritas à re­
missão de um determinado sintoma ou à resolução de uma situa­
ção crítica (40). Assim, no tratamento da professora, por detrás do 
intento de resolver aspectos do conflito primário com a figura 
materna, poder-se-ia aspirar não só a obter a remissão ou a dimi­
nuição da intensidade dos sintomas atuais, além de conseguir que 
a jovem pudesse solucionar seus problemas de relação com a dire­
tora, mas também a conseguir mudanças favoráveis em suas rela­
ções patológicas com outras mulheres que representassem sua 
mãe (uma companheira mais velha, a dona da pensão, etc.), umamaior iniciativa e a superação de inibições, não só na área profis­
sional como também em outras (sexual, social, etc.). Considero 
então que toda formulação, nos termos correntes, de objetivos 
terapêuticos limitados, deve pressupor, no terapeuta, uma refor­
mulação de tais objetivos num sentido psicodinâmico que os abar­
que e que quase sempre haverá de transcendê-los em alguma me­
dida. Explica-se, assim, a aparição posterior de certas mudanças 
no paciente no que concerne a problemas em outras áreas de sua 
vida que, inclusive, não chegam a ser mais tratados de maneira 
explícita ou direta durante a terapia, mas que se acham ligados, de 
certo modo, às perturbações que tenham sido objeto de nossa 
abordagem terapêutica.
Numa ordem de importância geralmente secundária, figu­
ram diversas formas de oferecer ajuda ao paciente no que se refere 
às situações perturbadoras, seja procurando aliviar sua ansiedade 
através de meios como por exemplo os psicofármacos, seja inter­
vindo diretamente nessas situações de sua realidade, como no 
caso da assistência social, etc.
Ao aprofundar mais o tema dos objetivos terapêuticos, ve­
mos que estes, na realidade, não são tão limitados em uma terapia 
breve de predomínio interpretativo. Tal impressão aumenta assim 
que admitamos que tal terapia inclui a presença de outras metas, 
valiosas, implícitas e constantes, vinculadas às enunciadas até 
aqui e que podem ser concebidas em termos da recuperação da
Fundamentos teóricos 21
auto-estima (6) e da aquisição de consciência da enfermidade. 
(Tratarei mais detidamente desses aspectos no capítulo 11.)
A temporalidade
Enquanto que num tratamento psicanalítico a duração não é 
determinada de antemão, prolongando-se durante anos, nas cha­
madas terapias breves é comum que a fixemos previamente, e que 
seja mais curta, em geral, de uns meses. Essas peculiaridades, das 
quais derivam as denominações talvez mais difundidas desses 
procedimentos (psicoterapias breves, psicoterapias de tempo li­
mitado, etc.), configuram um traço diferenciado muito destacado 
dos mesmos, ainda que, como já assinalei, não esteja presente 
necessariamente em todos os casos.
Stekel, entre outros, apontou a incidência favorável que, no 
processo terapêutico, poderia ter a limitação temporal estabelecida 
de antemão, a qual estimularia o progresso da terapia (50)5. De ime­
diato, cabe assinalar que quando se fixa um prazo de encerramento, 
este cria invariavelmente uma situação bastante diferente na situa­
ção psicanalítica, influenciando de modo decisivo os diferentes 
aspectos do vínculo terapêutico, em especial a finalização do trata­
mento, tema que mais adiante analiso detidamente (ver os capítulos 
8 e 9). Mas, acima de tudo, deve-se levar em conta que a limitação 
temporal confere à terapia uma estrutura mais definida em termos 
de “princípio, meio e fim” (43), introduzindo definitivamente na 
relação terapêutica um novo e necessário elemento de realidade, 
que esmorece no paciente a produção de fantasias regressivas oni­
potentes de união permanente com o terapeuta. Tais fantasias se 
desenvolvem e se manejam com mais facilidade no contexto do tra­
tamento psicanalítico do que no da terapia da qual nos ocupamos.
A técnica
O método breve pode ser tecnicamente diferenciado da psi­
canálise corrente. Pouco a pouco foi-se configurando uma teoria 
do tratamento que compreende uma atitude particular diante de
22
distintos fenômenos psicoterapêuticos - transferência, regressão, 
resistências, etc. - , enquanto se confirmam alguns princípios 
dinâmicos operativos, cuja validade é corroborada pela experiên­
cia clínica.
Desenvolverei aqui os seguintes aspectos:
- O trabalho com os conflitos.
- Regressão. Dependência. Transferência. Neurose de trans­
ferência.
- O problema da resistência.
- Insight e elaboração.
- Fortalecimento e ativação das funções egóicas.
- Focalização.
- Multiplicidade de recursos terapêuticos.
- Planejamento.
- Quadro comparativo entre algumas características teórico- 
técnicas da psicanálise e da psicoterapia breve de orienta­
ção psicanalítica.
-Outros conceitos de especial aplicação em psicoterapia 
breve (situação-problema, foco, ponto de urgência e hipó­
tese psicodinâmica inicial).
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
O trabalho com os conflitos6
Podem-se estabelecer claras diferenças entre uma psicotera­
pia de objetivos limitados e um tratamento psicanalítico no que 
diz respeito à abordagem dos conflitos psíquicos do paciente.
Recordemos, primeiramente, como se tratam os conflitos em 
psicanálise. A investigação psicanalítica demonstra-nos que as si­
tuações conflitivas atuais do indivíduo estão relacionadas a con­
flitos infantis, dos quais, em realidade, decorrem. São exemplos 
de conflitos derivados os que a professora antes mencionada apre­
sentava na sua relação com a diretora da escola, relação caracteri­
zada por uma marcada submissão a ela. ou os de uma mulher que 
obstinadamente rivaliza com sua sogra. Ambas as situações reme­
tem a um conflito infantil com a figura materna, transferida para 
as relações atuais.
Fundamentos teóricos 23
Os conflitos infantis genéticos se produzem, como sabemos, 
em relação com os objetos primários do sujeito, sendo sua nature­
za edípica ou pré-edípica. Durante o tratamento analítico, o pa­
ciente revive tais conflitos (sobretudo no seio da relação transfe­
renciai com o terapeuta), que são analisados profundamente a fim 
de se conseguir sua resolução (e a de seus derivados) por meio do 
trabalho elaborativo (elaboração dos conflitos).
Na P.B. orientada em direção ao insight há, como primeiro 
fator distintivo digno de nota, uma eleição dos conflitos (deriva­
dos) a serem tratados, que recairá nos que prevalecem por sua 
urgência e/ou, por sua importância, quer dizer, que subjazem ao 
problema atual, motivo do tratamento (ver “Focalização”, p. 37, e 
“O foco”, pp. 40 ss.)7. É habitual, além disso, que o trabalho tera­
pêutico se circunscreva, a priori, a encarar exclusivamente esses 
derivados do conflito primitivo infantil, sem se aprofundar mais 
nele, por princípios elementares de prudência, evitando-se que se 
produza uma excessiva mobilização afetiva e, sobretudo, que se 
favoreça no paciente a regressão. O terapeuta deverá centrar-se, 
de preferência, nos atuais fatores determinantes desses conflitos 
subjacentes focais; freqüentemente isso bastará para se obterem 
bons resultados terapêuticos e, principalmente, para serem alcan­
çados os objetivos propostos8.
Mas também considero que em alguns tratamentos breves é 
necessário e possível confrontar o paciente com o conflito origi­
nal. Isso ocorre quando, seja no começo seja mais freqüentemente 
no transcurso do tratamento, tem-se a impressão de que de outro 
modo não se obterão maiores progressos no transcorrer deste, 
e/ou quando aspectos desse conflito básico se acham muito próxi­
mos à superfície psíquica do paciente. Em algumas ocasiões é o 
próprio paciente, se tem capacidade de insight, quem menciona o 
conflito infantil, relacionando-o com sua situação conflitiva. Em 
todas essas circunstâncias, o terapeuta pode empreender um tra­
balho interpretativo cauteloso de certos componentes do conflito 
básico, em especial dos que estejam imediatamente vinculados à 
problemática focal e que adquiram relevância para a finalidade de 
se alcançar a clarificação e a superação de tal problemática. Não 
se deverão abordar outros aspectos do conflito, já que não tem 
sentido abrir feridas de maneira indiscriminada na estrutura defen-
24
siva do paciente, pondo a descoberto conteúdos que, sem dúvida, 
não se terá oportunidade de analisar suficiente e convenientemen­
te nessa terapia.
Freqüentemente colocar-se-á, para nós, o problema de saber 
até onde poderemos nos aprofundar, mediante interpretações, 
com vistas a nos aproximarmos das metas terapêuticas propostas, 
o que terá de ser avaliado em cada caso particular (ver pp. 101, 
102 e 111 ss.). Trata-se de um ponto querequer tato e experiência 
por parte do terapeuta.
Quando se trata de uma psicoterapia de breve duração, o 
terapeuta pode sentir-se pressionado pelo tempo, devendo evitar 
sobretudo cair em interpretações prematuras sobre os conflitos 
infantis. Já sabemos com quanta insistência Freud preveniu a 
respeito dos riscos de tal procedimento no tratamento psicanalí­
tico (24).
Como se pode perceber a esta altura de minha exposição, em 
P.B., diferentemente do que ocorre na psicanálise, realiza-se uma 
tarefa interpretativa parcial dos conflitos do paciente, circunscrita 
àqueles que tenham sido escolhidos, os quais, por sua vez, são 
abordados de um modo também parcial, lncursione-se ou não na 
interpretação das raízes infantis da conflitiva focal, sempre se faz 
uma tentativa de solucionar interpretativamente os conflitos deri­
vados, ainda que esta não seja idêntica à que se possa obter atra­
vés da psicanálise. Trata-se de uma resolução parcial ou incom­
pleta ( 1), que consiste na produção de certas mudanças dinâmicas 
nos conflitos, muitas vezes suficientes para se obterem benefícios 
terapêuticos nada desdenháveis. (Quanto às prováveis modifica­
ções no estado dos conflitos, ver p. 53.)
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Regressão. Dependência. Transferência.
Neurose de transferência
Os fenômenos regressivos, de dependência, transferenciais e 
neurótico-transferenciais acham-se intimamente relacionados no 
tratamento psicanalítico. Denominações tais como dependência 
regressiva ou neurose transferenciai regressiva refletem, em algu­
ma medida, essa correlação. Por isso farei referência a esses con-
Fundamentos teóricos 25
ceitos de maneira conjunta, dentro de um mesmo subtítulo deste 
capítulo, numa tentativa de esclarecer as diferenças que nesses as­
pectos apresenta o tratamento breve de insight com relação à psi­
canálise.
A regressão pode ser entendida como o processo pelo qual 
readquirem vigência estados ou modos de funcionamento psíqui­
co pertencentes a etapas anteriores do desenvolvimento do indiví­
duo. Na realidade, Freud ocupou-se do conceito de regressão em 
diferentes contextos a enfermidade mental, a transferência com 
o analista, os sonhos e a classificou em três tipos: tópica, tempo­
ral e formal (18) (25). Aqui vou referir-me em especial à regres­
são temporal na transferência com o terapeuta.
No processo analítico trata-se de favorecer, por diferentes 
meios (posição deitada do paciente, associação livre, silêncio do 
analista, freqüência às sessões, etc.), uma regressão vivencial útil, 
a qual representa um meio essencial para se alcançar o objetivo 
terapêutico. A regressão é necessária para a revivescência dos 
conflitos originais infantis do analisando em sua relação com o 
analista (neurose de transferência) e sua conseqüente elaboração. 
Isso implica, além disso, que a regressão produzida gere um in­
cremento da dependência do analisando em relação ao analista, 
que costuma representar basicamente figuras parentais. Espera- 
se, é claro, que o processo regressivo se reverta ao longo do cami­
nho terapêutico, dando lugar a um crescimento psicológico paula­
tino, que tornará possível que o paciente assuma realmente uma 
conduta mais adulta na vida.
Para compreender as diferentes peculiaridades ao vínculo 
terapêutico em terapias breves de insight, é preciso além disso 
levar em conta os conceitos de transferência e de neurose de 
transferência9.
Laplanche e Pontalis descrevem a transferência como “o pro­
cesso em virtude do qual os desejos inconscientes se atualizam 
sobre certos objetos, dentro de um determinado tipo de relação 
estabelecida com eles, e, de um modo especial, dentro da relação 
analítica”. Acrescentam: “Trata-se de uma repetição de protótipos 
infantis, vivida com um marcado sentimento de atualidade” (38) 
(P- 459).
26 Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
Quanto à neurose transferenciai, diremos que é a reprodução 
da neurose infantil na relação com o analista. Pressupõe a reedi­
ção seletiva de determinadas situações e mecanismos infantis na 
relação terapêutica, ou seja, citando novamente Laplanche e Pon- 
talis (38), a neurose transferenciai consiste em uma “neurose arti­
ficial em que tendem a se organizar as manifestações de transfe­
rência” (p. 258). Esses autores estabelecem, com base nos escritos 
de Freud, a diferença entre as reações de transferência propria­
mente dita. Em relação a esta última expressam-se: “de um lado, 
coordena as relações de transferência a princípio difusas (‘trans­
ferência flutuante’, segundo Glover) e, de outro, permite ao con­
junto de sintomas e condutas patológicas do paciente adotar uma 
nova função ao referir-se à situação analítica” (p. 259). Mesmo 
assim, Freud faz referência à neurose transferenciai como a uma 
“massa de pautas culturais neuróticas estereotipadas, expostas 
na situação analítica” (15). (Os grifos são meus.)
A transferência, inicialmente considerada por Freud como 
um obstáculo no tratamento psicanalítico, logo passou a ocupar, 
tanto para ele como para a maior parte dos psicanalistas, um papel 
de decisiva importância na cura (22), até converter-se sua análise 
na tarefa central. Deste fato se depreende que é conveniente per­
mitir - e inclusive promover - durante a terapia psicanalitica, o 
desenvolvimento da neurose transferenciai, cuja resolução, por 
meio da elaboração, será fundamental se aspira à cura do anali­
sando. E oportuno recordar aqui a definição que dá Rangel! da 
psicanálise como método terapêutico: “A psicanálise é um méto­
do de terapia pelo qual se estabelecem condições favoráveis para 
o desenvolvimento de uma neurose transferenciai, na qual o pas­
sado se restaura no presente com o propósito de, mediante um ata­
que interpretativo sistemático às resistências que se opõem a isso, 
obter uma resolução dessa neurose (transferenciai e infantil), com 
o fim de provocar mudanças estruturais no aparelho mental do 
paciente para que este seja capaz de uma adaptação ótima à vida” 
(grifos do autor). Rangell acrescenta que tais condições indispen­
sáveis distinguem qualitativamente a psicanálise de seus diversos 
derivados (46).
Na psicoterapia breve de insight, em troca, não é conveniente 
favorecer o desenvolvimento da regressão nem de uma neurose
Fundamentos teóricos 27
transferenciai. Os mecanismos terapêuticos não se sustentam, em 
geral, no desenvolvimento, na análise e na resolução da neurose 
transferenciai, dado que as condições do paciente e/ou do enqua­
dramento não são apropriadas para tais fins; por outro lado, como 
as metas terapêuticas não estão dirigidas para a reestruturação da 
personalidade nem para resolver conflitos básicos do indivíduo, 
mas sim para mitigar alguns sofrimentos atuais, não seria coeren­
te que o insight de aspectos da relação transferenciai neurótica, 
regressivo-dependente, continuasse sendo o recurso terapêutico 
fundamental nesse novo contexto; o que adquire importância 
agora é a busca de insight do paciente a respeito de situações con- 
flitivas atuais de sua vida cotidiana (que são as que habitualmente 
dão origem à consulta), razão pela qual o trabalho interpretativo 
recai mais em suas relações com os objetos de sua realidade exter­
na do que na relação com o terapeuta.
Segundo Szpilka e Knobel, nesses procedimentos é preciso 
precaver-se de estimular tanto a regressão como a neurose de 
transferência (51) (37). Bellak e Small (6), do mesmo modo que 
Wolberg (54), entre outros, também aconselham que sc evite, den­
tro do possível, o desenvolvimento da neurose transferenciai. Seu 
desencadeamento, junto ao de uma regressão vivencial, pode con- 
siderar-se uma complicação (às vezes inevitável) nas psicotera- 
pias breves, já que, ao deixar truncada sua elaboração, tendo em 
vista as limitações inerentes a esses tratamentos, deixaria - iatro- 
genicamente - o paciente em um estado regressivo-dependente, 
expondo-o a diversas reações transferenciais nocivas em virtude 
da mobilização afetivaproduzida e, em particular, a dificuldades 
para aceitar sua separação com relação ao terapeuta, ante a pers­
pectiva de terminar sua terapia10.
Por meio de diferentes recursos, aos quais mais adiante me 
referirei em detalhes (ver capítulo ò), deve-se procurar que o 
paciente não concentre muita libido na relação com o terapeuta. 
Se bem que os fenômenos transferenciais também ocorram, às 
vezes inexoravelmente, na psicoterapia breve, podemos esperar 
que a adoção de algumas medidas técnicas impeça que a transfe­
rência alcance demasiada intensidade e chegue a cobrir e a domi­
nar a situação terapêutica, configurando uma neurose de transfe-
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica28
rência11. A terapia deve sustentar-se no predomínio de uma trans­
ferência sublimada (6).
A regressão só deveria ser permitida em pequeno grau, não 
indo além dos níveis requeridos para possibilitar a exploração e 
experiências iniciais de insight de situações conflitivas atuais. O 
tratamento, em lugar de fomentar a dependência do paciente, deve 
inclinar-se para a estimulação e o reforçamento de sua iniciativa 
pessoal, ou seja, de suas capacidades autônomas.
Os critérios apresentados até aqui definem as características 
que terá de assumir a relação terapêutica em P.B. (ver capítulo 6, 
especialmente “A relação paciente-terapeuta no tratamento bre­
ve”, pp. 84 ss.).
O problema da resistência12
No tratamento psicanalítico, chamamos resistência aos 
diversos obstáculos que o analisando opõe ao acesso ao seu pró­
prio inconsciente, isto é, ao trabalho terapêutico e à cura.
Em 1925, Freud distinguiu e sistematizou cinco formas de 
resistência de um ponto dc vista estrutural, em seu trabalho “Ini­
bição, sintoma e angústia” (21). Três delas procedem do ego e 
são: as resistências da repressão, as da transferência e as do ganho 
secundário da doença. As outras são as resistências do id, também 
chamadas por Freud de resistências do inconsciente, e as resistên­
cias do superego13.
A análise exaustiva das resistências constitui uma parte im­
prescindível de todo tratamento psicanalítico. O prolongamento 
deste deve-se, em grande parte, à necessidade de elaboração 
daquelas (27).
Na terapia breve interpretativa, também surgem resistências 
no paciente, que podem ser consideradas, por acréscimo, como 
obstáculos que este interpõe ao avanço do processo psicoterapêu- 
tico especificamente do insight.
Habitualmente, a análise das resistências em P.B. não apre­
senta, como se poderia supor, o mesmo caráter intensivo que em 
psicanálise. A limitação temporal, quando existe, é um dos moti­
vos para que isso ocorra, ainda que não o único; basicamente, a pró­
pria índole do procedimento não contempla fins tão ambiciosos.
O tratamento das resistências que dependem dos mecanis­
mos defensivos do ego, em P.B., pode apresentar as seguintes 
características: a) algumas defesas são combatidas, quer dizer, 
analisadas; b) outras, em troca, são respeitadas ou ainda reforça­
das pelo trabalho terapêutico, de acordo com o que pareça indica­
do em cada caso, com base nas condições do paciente e do enqua­
dramento. Como exemplo do mencionado no item a, podemos 
citar a necessidade de trabalhar as defesas maníacas (negação, 
onipotência, etc.), perigosamente incrementadas, ou, o que é mais 
comum, ter de atacar parcialmente as barreiras repressivas de 
conteúdos inerentes ao sofrimento atual, além dos mecanismos de 
isolamento, intelectualização, projeção, etc. Pelo contrário, e a 
propósito do expresso no item b, com frequência optamos por não 
perturbar certos mecanismos defensivos caracterológicos, permi­
tindo ao paciente que os conserve, seja porque queremos evitar 
uma mobilização afetiva excessiva e difícil de manejar no trata­
mento, seja por tratar-se de defesas relativamente úteis, as quais - 
ainda que só ocasionalmente - poderia ser conveniente reforçar.
O tema da resistência da transferência em P.B. também mere­
ce alguns comentários. Ao menos nas terapias desse tipo, tal resis­
tência não costuma ser muito intensa. Isso se deve ao seguinte: 
sabemos que esse tipo de resistência obedece em parte ao ressen­
timento despertado no paciente, por sentir-se frustrado em sua 
relação transferenciai com o terapeuta, razão pela qual Menninger 
propõe chamá-la de resistência de frustração ou de vingança 
(41). Na medida em que, em P.B., a relação terapêutica é menos 
frustrante para o paciente, já que existe um vínculo mais “real” e 
uma maior proximidade afetiva da parte do terapeuta, conseqüen- 
temente a hostilidade que desperta naquele pode ser menor do que 
a que o tratamento psicanalítico desperta; portanto, as resistências 
transferenciais também serão menores (35). Mas o terapeuta de­
verá lutar sempre para que se obtenha esse resultado, procurando 
fazer com que predomine uma transferência positiva. Quando es­
sas resistências se exacerbam, achamo-nos ante um dos motivos 
fundamentais, para cuja dissolução, a meu ver, se justifica o em­
prego de interpretações transferenciais no tratamento breve (ver 
capítulo 6, pp. 107 ss,).
Fundamentos teóricos______________________ _____________ _
30 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
“Insight ” e elaboração14
Entre os problemas ainda não resolvidos no terreno da psico­
terapia breve de base psicanalítica, acham-se os que concernem 
ao papel do insight e da elaboração e sua relação com as mudan­
ças que se obtêm nos pacientes.
Começaremos por lembrar sucintamente os significados es­
senciais de ambos os termos.
Com o insight queremos dizer, como L. Grinberg, “a aquisi­
ção do conhecimento da própria realidade psíquica” (31). Tal 
conhecimento pressupõe uma participação afetiva: não se trata 
simplesmente de compreender no sentido intelectual, mas tam­
bém de poder experimentar emocionalmente o contato com os 
aspectos inconscientes do mesmo.
A elaboração ou trabalho elaborativo (working through) é 
um conceito de significado complexo e não suficientemente defi­
nido na bibliografia psicanalítica. Uma definição simples a des­
creve como “o processo pelo qual um paciente em análise desco­
bre, gradualmente, através de um lapso de tempo prolongado, as 
conotações totais de alguma interpretação ou insighf’ (47). 
(“Elaboração”, p. 49, grifos do autor.)
E conhecida a importância do insight e da elaboração no tra­
tamento analítico. A finalidade das interpretações do analista, 
que são, por excelência, seu instrumento terapêutico, é promover 
o insight dos conflitos no paciente. E oportuno citar aqui Rycroft: 
“O objetivo do tratamento psicanalítico é definido, algumas ve­
zes, em termos da aquisição de insight, ainda que mesmo Freud 
nunca tenha utilizado essa formulação, preferindo a idéia de que 
seu objetivo é fazer consciente o inconsciente” (47). (“Insighf’, 
p. 68, grifos do autor.) Com relação a esse ponto, Grinberg diz: 
“Freud havia assinalado que o objetivo básico do analista é 
conhecer; por conseguinte, não deve estar preocupado com o 
objetivo terapêutico. Esse objetivo de conhecer, em realidade, 
não se contradiz com o objetivo terapêutico, sendo o insight o 
fator central, e a pré-condição de toda mudança duradoura na 
personalidade” (31).
A elaboração, como trabalho de aprofundamento do pacien­
te, implicará que este assimile as interpretações corretas do ana-
Fundamentos teóricos 31
lista, condição essencial para o êxito terapêutico (39). A respeito 
do princípio da elaboração, cabe lembrar:
a) Requer dois fatores elementares: tempo (é por isso que a 
necessidade de elaboração constitui uma causa importante do 
prolongamento do tratamento psicanalítico) e trabalho (o labor 
analítico) (27). Do último se depreende que tem lugar no paciente 
fundamentalmente na presença do analista e com a participação 
deste.
b) Em seu desenvolvimento intervém a regressão do anali­
sando (31).
c) Inclui a tarefa de superar as resistências e a análise exaus­
tiva dos conflitos, na qual tem especial importância o que trans­
corre dentro dos limitesda neurose transferenciai (27).
Na terapia breve de orientação psicanalítica, a concepção da 
existência de insight e de elaboração apresenta numerosos pontos 
obscuros.
Sendo assim, é válido falar-se em insight nesses tratamen­
tos? Creio que sim, ainda que com certas ressalvas, como vere­
mos em seguida.
Propiciar ao paciente a aquisição de insight por meio de in­
terpretações - especialmente dos psicodinamismos relacionados 
com o transtorno atual, motivo do tratamento deve constituir, a 
meu ver, nosso principal propósito na terapia dinâmica breve, 
sempre que as condições psíquicas do paciente o permitirem. Es­
sa atitude terapêutica nos permitirá abrigar maiores esperanças de 
conseguir um progresso mais sólido e estável no paciente, ao 
aumentar sua capacidade egóica para enfrentar e resolver as situa­
ções conflitivas. A busca de insight no tratamento breve é preco­
nizada por numerosos autores, entre eles, Bellak e Small, os quais 
assinalam, clara e repetidamente, seu valor, em diferentes passa­
gens de sua obra (6). Mas a técnica breve requer restrições pecu­
liares para o insight do paciente, que é necessário consignar:
- Com respeito à sua extensão entendo que em geral dadas as 
limitações do enquadramento - e sobretudo quando se trata de 
uma terapia de curta duração - só nos resta a alternativa de pro­
porcionar o que poderiamos considerar como experiências ini­
ciais de “insight”, um autoconhecimento limitado às dificuldades 
habitualmente contidas no foco terapêutico (mas que tampouco
32 Psicoterapia breve de orientaçãopsicanalítica
pode dar conta de todos os aspectos do conflito subjacente ao pro­
blema vital focal, mas, unicamente, dos mais próximos e aces­
síveis à compreensão psicológica do paciente dentro desse enqua­
dramento). Isso poderá servir, ser suficiente - ou não - para os pa­
cientes, para obter mudanças dinâmicas favoráveis, pôr em mar­
cha um processo progressivo que continue ainda depois de finali­
zado o tratamento e estimular sua auto-observação e motivação 
para as experiências psicoterapêuticas de índole interpretativa. 
Em suma, numa terapia de objetivos - e, eventualmente, de tempo 
- limitados, também o insight estará naturalmente limitado em 
sua extensão, diferentemente daquele mais amplo, decorrente de 
um tratamento intensivo e prolongado como o psicanalítico; trata- 
se de uma verdade óbvia, mas que é necessário ter presente para 
estudar tudo aquilo que se relacione com mecanismos terapêuti­
cos e grau de eficácia dos procedimentos breves.
- Quanto ao tipo e profundidade, cabe assinalar que enquanto 
o insight psicanalítico tem lugar em meio a uma atmosfera regres­
siva que o favorece, dependendo principalmente da atividade inter­
pretativa a respeito das diversas reações próprias da neurose de 
transferência, em P.B. a busca de insight está dirigida, com mais 
freqüência, para as relações do sujeito com os objetos externos de 
sua vida cotidiana e presente, ainda que não despreze os fenôme­
nos transferenciais mais notórios, que trabalham como obstáculo 
(resistências transferenciais), e/ou ilustram a problemática do 
paciente, como se verá mais adiante (pp. 106 s.). Mais abrangente, 
o insight psicanalítico também o é na medida em que oferece 
maiores possibilidades de alcance de situações infantis reprimidas 
que serão revividas na situação transferenciai, permitindo, em sín­
tese, uma conexão mais completa do que sucede no mundo externo 
extra-analítico e na relação transferenciai analítica do paciente 
com sua vida passada. São tipos e graus de profundidade diferen­
tes de insight, mas nem por isso devem ser-lhes negadas totalmen­
te a validade e a eficácia que se obtêm no tratamento breve. (“Não 
se pode sustentar, com tanta ênfase, que o insight através da trans­
ferência seja o único tipo de insight que sirva para a organização e 
reintegração do ego”, afirma Karno [36].)
Todavia, é possível estabelecer outra diferença com o insight 
do tratamento psicanalítico, que remete à natureza mesma do
Fundamentos teóricos 33
fenômeno de compreensão psicológica no paciente, e também 
obedece à necessidade de controlar a intensidade dos fenômenos 
regressivos e transferenciais: Szpilka e Knobel sugerem que em 
terapias breves o insight possua uma “maior participação cogniti­
va que afetiva” (51), levando o paciente, como medida prudente e 
mediante um determinado estilo interpretativo (ver pp. 110 ss.) na 
relação transferenciai, antes à compreensão que à revivescência 
das situações infantis determinantes de seu problema atual (51). 
Expressa dessa maneira, essa proposição corre o risco de ser dis­
torcida. Entendo que não implica, como alguns poderíam supor, 
um mero insight intelectual (que configuraria uma nova forma de 
resistência), pois não deixa de ter certa ressonância afetiva. Mas a 
diferença entre o insight psicanalítico, que é mais pleno e vivido, 
em suma, dotado de uma maior e às vezes diferente repercussão 
emocional, e o insight do tratamento breve tem de ser, nesse senti­
do, um fenômeno na medida do possível mais controlado pela ati­
vidade terapêutica, em especial se explora circunstancialmente 
aspectos da transferência com o terapeuta correspondentes ao 
infantil-genético. (Será menos necessário controlá-lo se atender 
aos componentes mais atuais da transferência com o terapeuta ou 
com outros objetos da realidade externa do paciente.)
Examinemos agora o problema da elaboração na terapia 
dinâmica breve, cuja bibliografia, como se podería supor, é suma­
mente escassa. Bellak e Small citam, como princípios gerais da 
“psicoterapia rápida”, a comunicação, o insight (do terapeuta e do 
paciente) e a elaboração (6).
Como não se estimula o desenvolvimento da regressão nem o 
da neurose transferenciai, e não se realiza uma análise intensiva 
desta nem das resistências, considero que em P.B. não podemos 
falar em elaboração no mesmo sentido que em psicanálise. Em 
todo caso, o trabalho de elaboração real será escasso, principal- 
mente se existe limitação de tempo. Este, como vimos, é um fator 
fundamental para que a elaboração tenha lugar15. Estaríamos, 
então, diante de um dos pontos mais discutíveis no que diz respei­
to à validade terapêutica desses procedimentos. Sem dúvida, é 
possível conceber um processo qualitativamente distinto do pro­
cesso de elaboração analítica, sem a profunda reestruturação meta 
psicológica que ela implica e basicamente circunscrito à conflitiva
34 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
focal. Um processo imperfeito e incompleto, mas enfim de mu­
dança, que em circunstâncias em que o tratamento esteja limitado 
em sua duração, também o estará, mas que em alguns pacientes, 
com capacidades egóicas suficientes, poderá talvez ainda conti­
nuar, depois de concluído o tratamento breve. Nesse último caso 
seria uma espécie de “auto-elaboração”, a qual se teria iniciado, a 
princípio, com o trabalho terapêutico, para seguir um caminho pro­
gressivo até a consolidação dos resultados16. Os mecanismos ínti­
mos desse fenômeno, que apresentaria, talvez, grande importância 
terapêutica em alguns casos, ficam difíceis de precisar no momen­
to17. Talvez as modificações significativas que às vezes se eviden­
ciam, inclusive na estrutura de personalidade de pacientes tratados 
com o procedimento breve, em testes projetivos efetuados anos 
depois de finalizado o tratamento (32), se relacionem a mecanis­
mos desse tipo. Mais adiante, considerando os resultados e meca­
nismos terapêuticos, retornaremos à discussão desses fatos.
Finalmente, cabe acrescentar que numa terapia de objetivos e 
tempo limitados talvez seja necessário concluir que o insight e a 
elaboração terão de ser em boa parte estimulados, quer dizer, faci­
litados e agilizados mediante o papel ativo do terapeuta, dadas as 
condições de focalização e de curta duração do tratamento.
Fortalecimento e ativação das funções egóicas
Considero que a aquisição de insight por parte do paciente, 
através de interpretações do terapeuta,seja a forma mais aprecia­
da de se conseguir o fortalecimento de seu ego. No entanto, de­
vem ser levadas em conta outras formas, cuja significação tera­
pêutica não é muito menor, em meio às terapias breves, e que não 
são, necessariamente, incompatíveis com a busca de insight.
Muitas vezes, as diversas medidas terapêuticas destinadas ao 
reasseguramento e à ativação de funções egóicas são englobadas 
sob a denominação genérica de psicoterapia de apoio. O emprego 
de tal denominação encerra o risco de que os terapeutas, sem con­
siderar mais cuidadosamente tais medidas, desprezem-na, já que 
nos círculos psicanalíticos o termo apoio, como se sabe, está carre-
Fundamentos teóricos 35
gado em alguns casos de um sentimento francamente pejorativo, 
porquanto costuma implicar basicamente o fomento e a utilização 
de uma relação regressivo-dependente não analisada, e por isso 
mesmo não-progressiva, e sem que se intente colocar o paciente em 
contato com as motivações profundas de seu sofrimento. Por conse­
guinte, ante a possibilidade de que surjam mal-entendidos, é con­
veniente estabelecer algumas distinções sobre o tema.
Começaremos por reconhecer, também em P.B., a necessida­
de de apelar, às vezes exclusivamente, quando não há uma alter­
nativa melhor, para técnicas de apoio emocional; é o caso de 
pacientes que por debilidades egóicas não conseguem tolerar uma 
terapia interpretativa, e para os quais o único resultado que se pro­
cura obter é uma supressão de sintomas. Mas devemos discrimi­
nar com clareza esta posição terapêutica de outra, que se caracte­
riza pelo emprego de certo tipo de intervenção verbal que busca 
conseguir reforçamento e ativação do ego, de distinta e mesmo 
oposta natureza, e que pode ser alternada, coerentemente, com 
as interpretações.
“Todos os nossos pacientes, em graus variáveis, duvidam de 
seu discernimento, de suas percepções e de seu valor. Se só inter­
pretamos ou só analisamos, deixamos sem querer a impressão de 
que suas reações são meras repetições de seu passado infantil, e 
que sua conduta é imatura, errônea ou insana. Se parte de nossa 
meta terapêutica consiste em aumentar as funções egóicas sãs do 
paciente e sua capacidade para as relações objetais, é importante 
confirmar aqueles aspectos de sua conduta que indicam um fun­
cionamento sadio.” Esta frase pertence a um artigo de Grecnson e 
Wexler (30) e se refere ao tratamento analítico, mas pode resultar 
extremamente significativa e útil se, com ligeiras alterações, a 
aplicarmos também à técnica breve. Mais adiante, os autores con­
tinuam: “(...) muitos de nossos pacientes necessitam ter a experiên­
cia de sentir que estão no caminho certo. Necessitam da expe­
riência de que se reconheçam e se respeitem suas funções egóicas 
e suas relações objetais adequadas”. Há motivos para atribuir fun­
damental importância a esses conceitos no campo das terapias 
breves, dos quais, precisamente, o paciente deve emergir recon- 
fortado e reafirmado em suas capacidades egóicas e recuperando 
sua facilidade resolutiva nas situações de conflito.
36 Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
Dessa maneira observamos que na psicoterapia de apoio pro­
priamente dita ou “pura” as medidas de apoio promovem a depen­
dência regressiva no paciente, e ao mesmo tempo se valem desta 
para exercer seu efeito, na medida em que o terapeuta assume um 
papel protetor-autoritário (empregando, por exemplo, interven­
ções diretivas), que costuma fomentar a idealização de sua figura. 
Nesta outra forma de reasseguramento egóico, pelo contrário, a 
atividade do terapeuta orienta-se, em troca, em direção à estimu­
lação das capacidades autônomas do paciente, assinalando seus 
rendimentos egóicos adequados, em lugar de incentivar uma rela­
ção dependente. Quer dizer, se partimos dos recursos que o pa­
ciente verdadeiramente possui, e ao assinalar-lhe esse fato, pro­
movemos nele um sentimento de reafirmação ou reasseguramen­
to que pode funcionar, não só para fortalecer, mas também para 
ativar diversos funcionamentos egóicos18. Assim mesmo, esta ati­
tude terapêutica não impede, como se depreende do que assina­
lam Greerson e Wexler, a análise de aspectos inconscientes do pa­
ciente, incluindo os mecanismos de defesa neuróticos do ego.
As psicoterapias dinâmicas, incluindo as de objetivos e tem­
po limitados, são, em sua maioria, o resultado de uma reunião 
de elementos próprios de uma técnica de insight com estes outros 
elementos reforçadores e estimuladores de determinadas funções 
do ego19. Mas é mister que tais psicoterapias se traduzam numa 
combinação antes de tudo coerente de intervenções, que deverá 
fundar-se numa compreensão psicodinâmica adequada do proces­
so terapêutico20.
Diremos então, que as terapias breves são, em seu enfoque e 
na prática, com muito mais freqüência, “mistas”, em vez de serem 
puramente interpretativas, ou reforçadoras do ego não-interpreta- 
tivas, ou ainda exclusivamente de apoio no sentido antes descrito, 
sendo essa natureza “mista” uma característica relevante de tais 
terapias (podemos, sim, falar de tratamentos breves em que pre­
domina o insight e de tratamentos breves em que predomina o re- 
forçamento ou o apoio egóico, segundo o lado para o qual se incli­
ne a balança em cada caso21.
Fiorini proporciona alguns bons exemplos das diversas inter­
venções capazes de sustentar e ativar o funcionamento egóico (12). 
Para este autor, o protótipo da atividade terapêutica nesses trata-
Fundamentos teóricos 3 ?
mentos está representado por uma tarefa em “frente dupla”, na qual 
se têm sempre presentes “as partes sãs” do paciente, e portanto não 
só são feitas menções a seus aspectos infantis, regressivos e patoló­
gicos, mas também a seus aspectos adultos, progressivos e sadios, 
mantendo certo equilíbrio nas referências a uns e outros (12) (13)22.
Focalização
O trabalho terapêutico em P.B. está “enfocado” para determi­
nada problemática do paciente, que adquire prioridade, dada a sua 
urgência e/ou importância, enquanto se deixam de lado as demais 
dificuldades. Trata-se de outra característica substancial desse 
tipo de terapia, por isso também chamada ds focal (40), que per­
mite distingui-la da técnica psicanalítica corrente a qual não opera 
com um módulo conceituai de foco (ver “O foco”, pp. 40 ss.).
Multiplicidade de recursos terapêuticos
Eis aqui outro aspecto distintivo da P.B. (14) (48) (55). Estes 
procedimentos admitem - e com frequência requerem - a associa­
ção de diversos elementos terapêuticos, o que os afasta ainda mais 
do enquadramento e dos cânones psicanalíticos.
Todo recurso que tenha demonstrado ser útil no campo da 
terapêutica psiquiátrica poderá eventualmente ser incorporado ao 
tratamento, em virtude da necessidade de se alcançarem os objeti­
vos terapêuticos; assim, além dos distintos tipos de intervenção 
verbal não-interpretativa (assinalamentos, sugestões, fornecimen­
to dc informações, intervenções de reasseguramento, etc.), poder- 
se-ão anexar à psicoterapia individual outros elementos, tais como 
psicodrogas, técnicas grupais, comunitárias, etc., cujas perspecti­
vas de inclusão correm em paralelo com os progressos que, no tra­
balho científico, se registram no emprego de distintos recursos psi- 
coterapêuticos. E sumamente valiosa a participação de outros 
profissionais da saúde mental (psicólogos, psicopedagogos, assis­
tentes sociais, terapeutas ocupacionais, etc.) nos tratamentos, nu­
ma tarefa efetuada em equipe2'.
38 Psicoterapia breve de orientaçãopsicanalítica
Os diferentes instrumentos psicoterapêuticos devem ser im­
plementados coerentemente, sempre com adequada compreensão 
e fundamentação psicodinâmica. A inclusão de tais instrumentos 
depende, além disso, da maior ou menor flexibilidade do terapeu­
ta e de sua capacidade para tentar criativamente combinações te­
rapêuticas harmônicas e eficazes.
Planejamento
E outro traço da P.B., que a distingue nitidamente da psicaná­
lise. Junto às metas e à duração do tratamentofixam-se os pontos 
fundamentais do processo terapêutico, que compreende um plano 
de tratamento prévio ao desenvolvimento do mesmo, e que chega a 
cobrir até a etapa final de avaliação de resultados (ver capítulo 5).
Quadro comparativo de algumas características 
teórico-técnicas da psicanálise e da psicoterapia breve 
de orientação psicanalítica
Em forma de síntese e considerando-se as limitações que supõe 
todo esquema, será útil a esta altura expor em um quadro as caracte­
rísticas de um e de outro procedimento, a fim de se obter uma visão 
que nos facilite a discriminação entre ambos (ver página seguinte).
Outros conceitos de especial aplicação em psicoterapia breve 
(situação-problema, foco, ponto de urgência e hipótese 
psicodinâmica inicial)
Uma prova a mais da confusão reinante no terreno teórico da 
PB. é a imprecisão com que os profissionais empregam corrente­
mente alguns termos, tais como foco ou ponto de urgência. Estes, 
que fazem parte de um jargão característico das terapias breves, 
nem sempre podem distinguir-se com facilidade uns dos outros. 
Diante de necessidade de alcançar uma conceitualização teórica su­
ficientemente clara, tentarei, na forma de proposta, precisar seu sig­
nificado, tendo em vista a obtenção de um maior discernimento.
Fundamentos teóricos 39
Descreverei sucessivamente: a) a situação-problema; b) o 
foco', c) o ponto de urgência e d) a hipótese psicodinâmica ini­
cial. Explicitarei, sobretudo, o que quero dizer pessoalmente com 
cada um desses termos, e estabelecerei tanto as diferenças funda­
mentais como as relações que existem entre eles.
Psicanálise
Psicoterapia breve de 
orientação psicanalitica
Fins
terapêuticos
A exploração do incons­
ciente. Resolução de con­
flitos básicos e seus deri­
vados. Reestruturação da 
personalidade
Limitados. Superação de sin­
tomas e problemas atuais
Duração Prolongada
Indeterminada
Limita, babitualmente a con­
flitos derivados
T
É
C
N
IC
A
Trabalho com os 
conflitos
Refere-se especialmente a 
conflitos básicos
Limita-se habitualmente a 
conflitos derivados
Regressão.
Dependência São favorecidas Não são favorecidas
Desenvolvimento e 
análise da neurose 
de transferência
Sim Não
Análise de 
resistência Intensiva Limitada
Insight Sim
Sim. Limitado. Referido so­
bretudo ao “dc fora”. Mais 
cognitivo que afetivo
Elaboração Sim Não. Processos geradores de mudanças
Fortalecimento e 
ativação das 
funções egóicas
Não (ou muito pouco) Sim
Focalização Não Sim
Multiplicidade 
dos recursos 
terapêuticos
Não Sim
Planejamento Não Sim
40 Psicoterapia breve de orientaçãopsicanalítica
a) A situação-problema
Com essa denominação tento indicar que se trata de uma situa­
ção que se torna presente na vida do indivíduo, diante da qual e por 
motivo de cuja ação descompensadora surgem ou podem surgir 
nele dificuldades de índole psíquica que operam como obstáculo 
para alcançar um desenvolvimento adequado. A situação-proble­
ma - ou situação crítica, situação-obstáculo, situação desenca- 
deante, etc. - pode ser provocada por ocorrências tais como um 
exame, uma viagem ou uma intervenção cirúrgica próximas, a 
perda de um ser querido, um acidente, uma crise evolutiva como a 
da adolescência, uma gravidez, o nascimento de um filho, uma mu­
dança de trabalho, etc. Implica, então, referência a fatos que são 
manifestos e objetiváveis. Com relação a eles, e como conseqüência 
de uma falta de resolução favorável, aparecem no sujeito inibições 
e sintomas diversos (ansiedade, medo, depressão, distúrbios corpo­
rais, etc.), que costumam constituir o motivo (manifesto) da consul­
ta c que poderão ou não ser ligados pelo paciente - e pelo terapeuta - 
às situações-problema que na realidade os provocam24.
A existência de uma ou mais situações atuais dessa natureza 
pode ser detectada com freqüência em grande parte dos pacientes 
que solicitam assistência psiquiátrica, e que são passíveis de se­
rem tratados por meio da técnica breve.
b) O foco
Constitui talvez um dos elementos mais característicos e dis­
tintivos da atual P.B. Muitos autores, entre os quais se destacam 
Stekel (50), F. Deutsch (8), Alexander (5), French (5), Wolberg 
(55), Bellak (6), Small (6) e Malan (40), assinalaram a conveniên­
cia de focalizar, quer dizer, de concentrar a tarefa terapêutica em 
determinado sintoma, problemática ou setor da psicopatologia do 
paciente. Mas foi sobretudo Malan, junto com Balint, quem se 
ocupou mais exaustivamente do foco terapêutico e promoveu a 
denominação terapia “focal” (40). Entre nós cabe citar muito 
especialmente Fiorini, a quem devemos o desenvolvimento de um 
modelo conceituai de foco (11).
Ao propiciar uma centralização da tarefa, a focalização con­
tribui para tornar mais efetiva a atividade terapêutica em função
Fundamentos teóricos 41
das metas selecionadas e em uma terapia de duração limitada; 
mas não só uma limitação temporal a justifica: a técnica focal 
também é adequada àqueles pacientes que podem realizar psico- 
terapias sem prazo fixo de duração, e inclusive prolongadas, nas 
quais, por diversos motivos (idade avançada, por exemplo), o tra­
tamento psicanalítico é contra-indicado. O terapeuta pode, então, 
circunscrever-se a certos problemas do paciente, realizando uma 
abordagem interpretativa setorial e respeitar o resto de sua organi­
zação patológica e das áreas de sua vida.
Trabalhar com uma técnica de “enfoque” implica, entre 
outras coisas (40): a) manter a coerência e a operatividade a res­
peito da fixação de objetivos terapêuticos prioritários, b) planejar 
o tratamento, c) combater a passividade e o perfeccionismo do 
terapeuta, d) contrapor-se ao desenvolvimento da neurose de 
transferência (há uma orientação constante em direção à realida­
de e ao atual do paciente).
Contudo, a noção de foco ainda é, como assinala Fiorini (11) 
(13), sumamente ambígua e se confunde com a situação de crise 
(situação-problema), com os sintomas que motivam a consulta, 
com os pontos de urgência, com as metas do tratamento, etc. É 
evidente que não resultou fácil achar e adotar majoritariamente 
uma definição que expresse de modo pleno a natureza e o signifi­
cado do foco. A que formulou Malan, no sentido de ser “a inter­
pretação essencial, sobre a qual se funda toda a terapia” (40), tam­
pouco é, no meu entender, totalmente esclarecedora, já que, ao se 
revestir de um caráter técnico, não explica em que consiste ou 
como está constituído o foco. Comenta Fiorini: “A diversidade de 
significados que possam ser atribuídos à noção de foco ilustra o 
estado atual da teoria.” E acrescenta: “Sem um esforço de preci­
são e delimitação rigoroso de seus conceitos básicos não é possí­
vel construir uma teoria com certo grau de verificabilidade” (13).
O que devemos entender realmente por foco? Como surge, 
como se configura e como se delimita, na prática psicoterapêutica? 
Procurarei encontrar minhas próprias respostas a essas perguntas.
O foco deve ser concebido, primordial e essencialmente, a 
partir de uma perspectiva psicopatológica. Nesse sentido será 
definido como uma estrutura integrada pelos distintos fatores 
intervenientes na gênese da que foi escolhida como a problemáti-
42 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
ca central do tratamento (uma determinada situação-problema e 
as manifestações sintomatológicas a ela ligadas), constituindo, 
ao mesmo tempo, uma hipótese ou um conjunto de hipóteses do 
terapeuta a respeito dos mecanismos operantes dentro de tal pro­
blemática, ou seja, da complexa interação existente entre os fato­
res. Podemos considerar que atua como um artifício teórico-técni- 
co, especialmente válido para esses procedimentos, por meio do 
qual se tenta basicamente delimitar zonas da problemática geral 
do paciente e/ou dos episódios de sua vida, dirigindo preferente- 
mente para aí, a partir desse momento, a exploração terapêutica, 
enquanto esta corresponde a uma finalidade também limitada e 
preestabelecida.
O modelo teórico de foco que Fiorinidesenvolveu é de gran­
de utilidade prática. Sucintamente recordaremos a estrutura do 
foco proposta por este autor: na prática terapêutica, todo foco tem 
um eixo central, que geralmente é definido pelo motivo da con­
sulta (sintomas, situações de crise). Subjacente e ligado ao motivo 
da consulta, existe um conflito nuclear exacerbado, o qual se inse­
re em uma situação grupai específica. Motivo da consulta, confli­
to nuclear subjacente e situação grupai são aspectos “de uma 
situação que condensa um conjunto de determinações”, e na qual 
um exame analitico nos permite distinguir zonas com diversos 
componentes: aspectos caracterológicos do paciente, aspectos 
histórico-genéticos individuais e grupais reativados, além de 
uma zona relativa ao momento evolutivo individual e grupai e 
outra de determinantes do contexto social mais amplo, à qual 
também se vinculam todos os componentes citados. Esses diver­
sos componentes se encontram atualizados e totalizados pela 
situação (11). Vejamos um exemplo a partir do caso da professo­
ra, citado anteriormente.
Essa mulher, de 31 anos, solteira, professora rural de uma 
escola primária localizada no sul da Argentina, que se encontrava 
de passagem em Buenos Aires, consultou um serviço psiquiátrico 
hospitalar por ter apresentado episódios de paresia de ambos os 
membros inferiores, seguidos em certa ocasião de desmaio. 
Como o exame médico não revelasse nenhuma alteração orgâni­
ca, o diagnóstico se orientou na direção de uma afecção essencial­
mente psíquica. Paralelamente, cia se achava deprimida. Por outro
Fundamentos teóricos 43
lado, manifestou que tinha problemas de adaptação ao trabalho, 
ocasionados pela má relação que mantinha com a diretora da 
escola, a qual estava passando por um período de extrema tensão e 
a fazia sentir-se muito exigida e mesmo perseguida. Os sintomas, 
claramente vinculados a tal situação, tinham aparecido após áspe­
ras discussões com a diretora. A mãe desta última, por outro lado, 
havia sofrido de uma enfermidade crônica, com paralisia dos 
membros inferiores, tendo falecido há um ano.
Descobriu-se que os sintomas e a situação desencadeante que 
constituíam o motivo da consulta correspondiam a um conflito da 
paciente com figuras femininas de autoridade, evidenciável através 
de diferentes experiências de sua vida. Esse é o conflito nuclear.
A paciente residia em um lugar muito distante de seu meio 
familiar. Tempos atrás havia-se afastado de sua mãe - com quem 
vivia no norte do pais, e a quem descreveu como uma mulher 
sumamente autoritária e depreciativa para com ela - e radicou-se 
no sul, onde assumiu o trabalho docente. Seus irmãos (três mulhe­
res e dois homens) moravam por sua vez em diferentes locais do 
país. Seu pai, alcoólatra crônico, tinha-se ausentado do lar quatro 
anos atrás e se ignorava seu destino. Tratava-se, então, de uma 
família que correspondia ao tipo esquizóide (7), com seus mem­
bros distantes e dispersos ou ainda desaparecidos, como no caso 
do pai. Tudo isso faz parte da situação grupai
Se procurarmos precisar os componentes dessa situação, 
veremos que:
a) Entre os aspectos caracterológicos em jogo destacava- 
se o conflito suscitado por uma instância superegóica muito 
severa, junto a uma busca oral regressiva de afeto através de 
conversões (identificação com a mãe da diretora - carinhosa­
mente cuidada por esta última até a morte - movida pelo desejo 
de ser tratada de modo semelhante; obtenção de benefícios secun­
dários de seus sintomas, ao ser assistida pelos demais professores, 
representantes dos irmãos, os quais também eram professores)25. 
Os principais mecanismos defensivos empregados nessas cir­
cunstâncias foram a repressão, a regressão, a projeção e a conver­
são. Apresentava traços histéricos de caráter, sobre uma estrutura 
que parecia basicamente melancólica. As funções egóicas esta­
vam em geral debilitadas, ainda que conservasse certa eficiência
44 Psicoterapia breve de orientaçãopsicanalitica
em seu trabalho e revelasse suficiente tolerância à dor para 
enfrentar uma psicoterapia de insight. Sua auto-estima se achava 
muito diminuída.
b) Dentro do momento evolutivo individual e grupai cabe des­
tacar que sua migração, realizada com o objetivo de conseguir um 
desprendimento em relação à mãe e libertar-se de sua opressão, 
acarretou de imediato o incremento de suas carências afetivas e de 
seu sentimento de solidão e insegurança no novo meio, no qual 
custava a fazer amigos justamente quando se achava mais necessi­
tada para reafirmar-se em sua tentativa de emancipação. Aos 31 
anos, sua falta de parceiro e seus fracassos amorosos anteriores 
pesavam, aumentando especialmente sua angústia e favorecendo o 
desenvolvimento de mecanismos regressivos, numa busca neuróti­
ca de afeto. A desconexão existente entre quase todos os membros 
do grupo familiar e sobretudo o desaparecimento do pai contri­
buíam para fazer deste um momento muito difícil para a paciente.
c) Suas precárias condições econômicas eram outro fator pre­
mente que a obrigavam a um rápido restabelecimento para poder 
reintegrar-se ao trabalho (achava-se em gozo de licença), o qual era 
seu único meio de vida, ao mesmo tempo em que era fundamental 
para manter sua auto-estima (o magistério era altamente valorizado 
em seu meio social). Por outro lado experimentava um sentimento 
de inferioridade diante dos demais professores, já que se sentia víti­
ma dos preconceitos existentes contra os denominados cabecitas 
negras*. Estes são os determinantes do contexto social.
De minha parte, e tentando uma síntese, entendo basicamen­
te que o foco, organizado sempre em tomo de uma situação-pro- 
blema e dos sintomas provenientes desta, compreende em sua 
conformação uma conflitiva subjacente mais ou menos ampla e 
complexa, que podemos chamar conflitiva focal, com um conflito 
infantil e primário, edípico ou pré-edípico, ao qual se remete em 
última instância tal conflitiva, e que vem a constituir o nó da 
estrutura focal (ver O trabalho com os conflitos, pp. 22 a 24. No 
exemplo antes citado, a conflitiva focal é representada fundamen-
* Expressão pejorativa semelhante à nossa “cabeça chata”, utilizada nas cida­
des para se referir àqueles que têm origem rural e sangue indígena, apresentando tez 
escura e cabelos negros e lisos. (N. do T.)
Fundamentos teóricos 45
talmente por conflitos derivados, que encontram sua expressão no 
ambiente de trabalho, no qual a paciente repete aspectos de suas 
relações familiares (em especial com a diretora), e que se origina­
ram a partir de um conflito primário com a figura materna, enrai­
zado em fixações edípicas e pré-edípicas a ela.
A escolha por parte do terapeuta, de uma situação-problema 
e do conseqüente foco para sua abordagem preferencial num tra­
tamento breve depende, entre vários fatores, de seus critérios pes­
soais e de sua experiência prévia. Esses gravitarão em torno de 
suas impressões quanto à patologia do paciente, sobretudo no que 
diz respeito à determinação das perturbações que privilegiará, e 
que poderão ser tratadas com possibilidades de êxito terapêutico 
nas condições de que disponha para levar adiante o tratamento. 
Eventualmente, diante de um mesmo caso e num mesmo momen­
to, dois ou mais terapeutas poderão chegar a diferir na escolha26.
Ao começar uma terapia focal, dever-se-á contar pelo 
menos com um esboço inicial de foco terapêutico, configurado 
a partir das descobertas obtidas nas entrevistas clínicas e no 
psicodiagnóstico. Numa terapia breve, quanto mais precoce e 
mais claramente demarcável for o foco, melhor será o prognós­
tico do tratamento, pois permitirá um trabalho mais efetivo. 
No começo, muitas vezes, os limites focais são imprecisos27. 
Durante o processo terapêutico costuma-se assistir a uma 
“evolução” desse mesmo foco, através da qual, em virtude da 
técnica de “enfoque” empregada, tal foco não só vai-se deli­
mitando melhor, quer dizer, se cristalizando, mas também o 
terapeuta obtém um aprofundamentona compreensão de seus 
psicodinamismos28. Um critério psicanalítico para a investiga­
ção do foco deverá privilegiar o reconhecimento das raízes in­
fantis da conflitiva focal, ainda que nem por isso tenha de de­
sembocar forçosamente na tentativa de proporcionar insight ao 
paciente acerca dos mesmos, o qual dependerá, como já vimos 
em parte (p. 23), de diversos fatores.
A evolução habitual do foco com o trabalho terapêutico 
pode ser observada no esquema desta página.
Às vezes teremos de mudar o foco e as metas terapêuticas em 
pleno tratamento. Isso pode ocorrer: a) surgindo situações novas, 
imprevistas e traumáticas na vida do paciente, que obriguem uma 
recolocação e o adiamento da tarefa programada inicialmente;
46
D iagnóstico
Psicoterapia breve de orientação psieanalítica 
Processo terapêutico
1. L im ites confusos 
no com eço
2 e 3. O foco vai-se delim itando m ais claram ente 
na superfície (pode ser relativam ente isolado de 
outras conflitivas) e crescendo em profundidade
b) ante revelações do paciente, durante a terapia, de certos fatos 
ou sofrimentos de importância, que omitiu deliberada ou involu­
ntariamente no começo, que tornam aconselhável modificar tanto 
o foco como os objetivos29; c) como circunstância habitual nos 
estágios finais dos tratamentos, diante da iminente separação pa- 
ciente-tcrapeuta. Em torno do término se vai perfilando um novo 
foco - diante da significação singular que este possa alcançar em 
cada paciente, dadas sua história e características pessoais - que 
se superpõe primeiro ao anterior no processo terapêutico, poden­
do, depois, ocupar exclusivamente o primeiro plano.
c) O ponto de urgência
Esse conceito, já conhecido dentro da técnica psieanalítica, 
também se reveste de grande importância prática na P.B.. No 
meu entender, o ponto de urgência corresponde à situação psí­
quica inconsciente de conflito que, pela ação de fatores atuais, 
predomina no sujeito num dado momento, sendo motivo de de­
terminadas ansiedades e defesas. Por exemplo, temor inconscien­
te de ser abandonado pelo terapeuta, que gera um incremento da 
angústia e uma reação defensiva de desprezo e hostilidade em 
relação a ele30.
Fundamentos teóricos
Freqüentemente a detecção do ponto de urgência conduz, co­
mo a própria denominação sugere, ao trabalho terapêutico imedia­
to do mesmo; daí seu valor clínico. Sua busca parte de uma inter­
rogação que o terapeuta se formula: a que obedece a ansiedade do 
paciente neste momento? Pressupõe, então, a indagação a respeito 
de um ponto crítico, que adquire de imediato prioridade no traba­
lho terapêutico, pois mobiliza ansiedades e produz descompensa­
ção no paciente. Para esse ponto deverão orientar-se, em conse- 
qüência, as distintas medidas terapêuticas. Interessam sobretudo 
as interpretações: o fato de que estas obtenham uma repercussão 
emocional efetiva no paciente dependerá fundamentalmente de 
que estejam ou não dirigidas para o ponto de urgência.
O ponto de urgência pode ser inerente ao foco (focal) - sub- 
jazindo diretamente à situação-problema ou ligando-se a fatos 
que correspondem de algum modo à conflitiva focal - ou ser rela­
tivamente estranho a ele (extrafocal). Este último acontece com 
freqüência, sendo, por exemplo, o caso de situações de emergên­
cia inesperadas (a morte de um ser querido, um roubo, etc.) que 
costumam apresentar-se durante o tratamento, afetando o pacien­
te, e que “saem do foco”. Também nessas ocasiões é imprescindí­
vel atender ao ponto de urgência, auxiliando o paciente; pretender 
continuar nesse momento o trabalho com a conflitiva focal, for­
çando o paciente, apesar e por cima da ansiedade que essa situa­
ção imprevista nele provoca, é uma obstinação que, além de reve­
lar falta de senso comum, resulta ineficaz. Precisamente para po­
dermos voltar a nos ocupar produtivamente da problemática prin­
cipal do tratamento, precisaremos antes desembaraçar o campo 
dos estímulos traumáticos que impedem circunstancialmente que 
o paciente concentre seu interesse naquela problemática, pertur­
bando assim a focalização do trabalho terapêutico. Somente quan­
do a calma tiver sido restabelecida, o paciente poderá recuperar a 
capacidade de concentração focal necessária.
Enquanto um tratamento breve costuma se desenvolver sobre 
a base de uma estrutura focal (11) apenas ou no máximo de dois 
focos (toda vez que se leve em conta o que se relaciona à sepa­
ração definida, pela conclusão da terapia), o ponto de urgência é, 
pelo contrário, variável. Na verdade deveriamos empregar o plu­
ral e dizer os pontos de urgência, pois são vários os que se suce­
48 Psicoterapia breve de orientaçãopsicanalítica
dem, desde as entrevistas iniciais51 até as etapas finais do trata­
mento. Tais pontos são diferentes entre si, ainda que em sua maior 
parte se incluam numa mesma conflitiva focal52. Tal variabilidade 
se deve à influência de diversos estímulos procedentes dos mundos 
interno e externo do paciente. Entre estes últimos distinguimos: a) 
os que são próprios de sua vida cotidiana e b) os que provêm da 
atividade terapêutica. Com relação aos estímulos citados em b é 
desejável, em certa medida, que o ponto de urgência vá-se modi­
ficando, já que isso pode ser indício de uma mobilização afetiva 
útil, produzida pela atividade terapêutica.
d) A hipótesepsicodinâmica inicial
Também é chamada de hipótese psicodinâmica mínima (40), 
formulação psicodinâmica (55), formulação psicodinâmica pre­
coce (17), etc.
Em meu conceito, a hipótese psicodinâmica inicial pode ser 
entendida como um esboço reconstrutivo da história dinâmica do 
paciente, uma tentativa de compreensão global de sua psicopato- 
logia que tende a incluir todas as perturbações do paciente que 
nos sejam conhecidas (40) (entre as quais se destacam as corres­
pondentes ao foco), e que se constitui a partir dos dados que aflo­
ram nas primeiras entrevistas e no psicodiagnóstico.
A concepção dessa hipótese psicodinâmica inicial está regi­
da pelas teorias psicanalíticas (determinismo psíquico, sobrede- 
terminação, séries complementares, etc.). Tem caráter provisório, 
pois é susceptível de ser confirmada, ampliada ou retificada, com 
base nas descobertas obtidas durante o tratamento.
Enquanto a estrutura do foco se organiza, única e exclusiva­
mente em torno de uma determinada situação-problema da vida 
atual do paciente, envolvendo apenas certos setores de sua psico- 
patologia, a hipótese psicodinâmica inicial, tal como a concebo, é 
mais abrangente, englobando inclusive a hipótese focal". Pode­
riamos dizer que enquanto o foco aponta mais especificamente 
para o campo das situações que deverão ser trabalhadas terapeu- 
ticamente, tentando modificações e resoluções, a hipótese psico­
dinâmica inicial alude, além disso, aos conflitos restantes - extra- 
focais - do paciente, ou seja, a tudo o que dinamicamente pode­
Fundamentos teóricos 49
mos compreender e inferir acerca deste, e que não necessariamen­
te tentaremos modificar.
A elaboração de uma hipótese psicodinâmica inicial por 
parte do terapeuta ou da equipe terapêutica permitirá: a) extrair 
elementos suficientes para uma devolução diagnostica (D.D.) ao 
paciente (ver capítulo 4, p. 67), que por sua vez aciona a busca de 
acordo com o paciente sobre as metas terapêuticas (M.T.), b) 
desenvolver um plano (P) de tratamento (ver capítulo 5), coerente 
com a hipótese formulada e com os objetivos selecionados.
Tentarei esquematizar resumidamente as seqüências que ocor­
rem na prática psicoterapêutica, nas quais se integram as várias 
noções expostas até aqui34.
Resultados e mecanismos terapêuticos
A experiência clínica tem demonstrado que com o método 
breve é possível obter efeitos terapêuticos altamente benéficos e 
duradouros, que podem ser verificados por meio de acompanha­
mentos. Malan sustenta que podem ser alcançados bons resulta­
dos em uma ampla variedade de casos, os quais não se reduzem 
aos pacientes cuja psicopatologia seja leve e de sintomas recen­tes (40).
Os resultados positivos, que abarcam desde o puro alívio ou 
a eliminação da ansiedade e de outros sintomas até modificações 
na estrutura da personalidade, devem ser investigados a partir de 
critérios dinâmicos. Diante de tais mudanças indagamo-nos acer­
ca de sua natureza íntima, seu alcance e sua estabilidade. Mas 
neste ponto desejo formular uma advertência: não devemos per­
der de vista que os resultados, em cada caso, devem ser avaliados, 
inicial e primordialmente, em relação ao que acontece com a 
situação-problema e seus sintomas; de outro modo, e com a fina­
lidade de investigar o grau de eficácia desses tratamentos, nossa 
atitude não seria coerente com suas finalidades terapêuticas, na 
medida em que buscássemos o que não corresponde diretamente 
a elas, erro no qual muitos incorrem. Num segundo momento po- 
der-se-á, sim, concentrar o interesse na indagação das modifica­
ções que transcendam as metas terapêuticas fixadas.
50 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
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Fundamentos teóricos
Entre os resultados favoráveis que se registram, podemos 
mencionar:
1. Alívio ou supressão dos sintomas.
2. Mudanças com relação a perturbações próprias da situa- 
ção-problema (superação de inibições, desenvolvimento mais ade­
quado e eficaz, aquisição ou recuperação da capacidade de tomar 
decisões).
3. Aquisição de consciência da enfermidade psíquica.
4. Elevação, recuperação ou auto-regulação da auto-estima.
5. Outras modificações favoráveis (referentes a dificuldades 
em diversas áreas da vida do sujeito, tais como sexualidade, rela­
ções familiares, de amizade ou trabalho, estudo, etc., principal­
mente as que não foram abordadas de maneira direta durante a 
psicoterapia).
6. Consideração de projetos para o futuro (esboço de planos 
a respeito de diferentes atividades da experiência de vida do su­
jeito).
7. Modificações na estrutura da personalidade.
A P.B. pode resultar também absolutamente ineficaz em al­
gumas situações, sobretudo quando se trata de pacientes cuja 
patologia é grave; não são raras as recaídas. (O tema dos resulta­
dos desfavoráveis e os riscos do tratamento breve se desenvolvem 
no capítulo 10.)
Voltando aos resultados positivos da terapia breve, cabe per­
guntarmos: A que mecanismos respondem? É possível definir o 
processo de mudança existente? Eis aqui uma questão que ainda 
não está totalmente elucidada e que entra no terreno da investiga­
ção, estando estritamente ligada ao problema da estabilidade das 
mudanças, ou seja, ao tempo em que estas se mantêm, e ao alcan­
ce das mesmas, isto é, a maior ou menor extensão que registram 
em relação às áreas de conduta35 e/ou da vida do paciente (sexuali­
dade, trabalho, estudo, etc.).
E evidente a participação de diversos mecanismos terapêuti­
cos nesses procedimentos, em virtude dos distintos recursos e 
estratégias operantes (13) (14); sem dúvida resulta particularmen­
te difícil precisar, do ponto de vista metapsicológico, certos pro­
cessos geradores de mudança em relação ao tipo de atividade tera­
pêutica desenvolvida.
52 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Como não pretendo oferecer aqui um panorama amplo sobre 
o tema, centrar-me-ei em mecanismos que, além de importantes 
na gênese de modificações dinâmicas e duradouras, configuram 
atrativos pontos de investigação. São eles: o insight e a elabora­
ção, temas que já abordei antes (pp. 30 ss.), mas que é necessário 
voltar a considerar.
Deixarei de lado o fortalecimento e a ativação das funções 
cgóicas, processos dignos de se considerar, mas que já foram 
muito bem descritos por Fiorini (10) (12). Direi unicamente que 
não só costumam conduzir à consolidação dos ganhos obtidos 
pelo paciente através da terapia, em particular das condutas adap- 
tativas, mas também a outras modificações favoráveis, que costu­
mam ser traduzidas num desempenho eficaz em distintas áreas de 
sua vida, permitindo ampliar o alcance ou a extensão das mudan­
ças a partir de uma elevação da auto-estima, c num maior desen­
volvimento de sua iniciativa pessoal e das diferentes capacidades 
egóicas. O paciente agora ousa ensaiar outras atitudes e levar 
adiante ações que antes se via impedido de realizar por sentimen­
tos de insegurança e desvalorização.
Tampouco me ocuparei aqui dos mecanismos somente volta­
dos para produzir alívio dos sintomas (catarse, sugestão, adminis­
tração de psicodrogas, etc.), nem da cura transferenciai (à qual 
Alexander e French conferem valor terapêutico [2] [4] [16]36) 
nem, por último, de certo tipo de falsa solução do conflito, assina­
lado por Malan (40), que logo citarei37.
O insight em P.B. relaciona-se fundamentalmente eom os 
conflitos focais do paciente. A eficácia de tal insight seria discutí­
vel porque, como temos visto (pp. 31ss.), provém principalmente 
da análise das situações da realidade externa do paciente. A ques­
tão centra-se em saber se confiamos ou não no valor terapêutico 
de um insight que em geral não se baseia na análise exaustiva da 
neurose transferenciai. Para alguns autores, não tem validade por 
esse motivo; além do mais, ao conceber - equivocadamente, em 
minha opinião - que o insight em P.B. deva ser exclusivamente de 
natureza cognitiva, atribuem-lhe apenas efeitos superficiais adap- 
tativos. Outros, entre os quais me incluo, reconhecem nele, apesar 
de suas restrições, uma maior efetividade. Penso que, por influên­
cia de um insight parcial do conflito derivado, o paciente com fre-
Fundamentos teóricos 53
qüência pode conseguir uma resolução, também parcial, prove­
niente da obtenção de certas modificações dinâmicas no conflito, 
pelo qual este costuma ao menos diminuir de intensidade, eviden­
ciando-se clinicamente uma melhora nas dificuldades concernen­
tes à situação conflitiva. A eficácia terapêutica resultante da ação 
destes procedimentos é satisfatória para um grande número de 
situações ou quadros clínicos, ainda se contarmos com a possibi­
lidade de ocorrerem recaídas em virtude da multideterminação 
dos sintomas; contudo, como diz Wolberg, “uma solução parcial é 
melhor do que nenhuma” (55)38.
De todo modo, o insight é o mecanismo graças ao qual a 
melhora conseguida terá mais possibilidade de se manter. For­
nece, além disso, consciência da enfermidade, o que facilitará 
futuras consultas, caso sejam necessárias, ajudando a conceber 
projetos de vida com base no autoconhecimento obtido com o tra­
tamento, de possibilidades e limitações pessoais. Finalmente, a 
extensão e a aplicação do insight do conflito no paciente a dife­
rentes contextos (elaboração) explicaria a amplitude das mudan­
ças, refletidas em outras modificações favoráveis que às vezes se 
produzem.
“Na prática (...), (a) elaboração das resistências pode consti­
tuir-se num penoso trabalho para o analisado e numa dura prova 
para a paciência do médico. Mas também constitui parte do traba­
lho que efetua as maiores mudanças no paciente e que distingue o 
tratamento analítico de qualquer tipo de tratamento por sugestão” 
(27). A frase de Freud (1914) seria lapidar para aqueles que pre­
tendessem conceber um processo terapêutico de tempo e objeti­
vos limitados, capaz de promover alguma mudança dinâmica na 
conduta ou na personalidade do paciente. Chega-se então às se­
guintes conclusões: não é possível conseguir modificações pro­
fundas, e toda psicoterapia que não cumpra a citada condição de 
elaboração das resistências é um trabalho só de sugestão. Que os 
analistas mantenham hoje taxativa e estritamente tais princípios é 
compreensível, mas acontece que alguns vão mais longe e rejei­
tam a opção da terapêutica breve por considerá-la totalmente ine­
ficaz. Com a mera interpretação do conteúdo, não acompanhada 
de uma análise intensiva e de uma elaboração das corresponden­
tes resistências - dizem - o paciente não conseguiría alcançar
54Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
uma verdadeira ou suficiente conscientização (45)39. Apenas con­
seguiría um insight “intelectual”, insuficiente para que se produ­
zam nele modificações em um nível mais profundo. Isso parece 
acontecer com a P.B., do ponto de vista da teoria, mas talvez a prá­
tica da mesma nos demonstre outros fatos. Não creio que na tera­
pêutica breve as coisas devam ser situadas de modo inapelável 
num extremo: se considerarmos as resistências, vemos que de fato 
não podem ser interpretadas rigorosamente como na psicanálise, 
mas o terapeuta ocupa-se delas em certa medida a fim de reduzir 
sua intensidade, principalmente no que respeita à oposição do pa­
ciente ao insight da problemática focal40; e não pode ser outro o 
caminho para se conseguir que o paciente tome consciência real 
de suas tendências inconscientes.
Já no terreno da experiência clínica, encontramos vários in­
vestigadores que reconhecem a existência de importantes mudan­
ças dinâmicas em pacientes que foram tratados com o método 
breve. Apesar de, ao empregarmos tal método, não nos propor­
mos a obter, por exemplo, modificações profundas na estrutura da 
personalidade, em certas ocasiões é possível observar, sobretudo 
pelas entrevistas de acompanhamento e no psicodiagnóstico (32), 
a presença de mudanças favoráveis, que chamam a atenção da 
personalidade, cujos mecanismos não têm sido explicados satisfa­
toriamente. Com respeito ao psicodiagnóstico, é significativo que 
os estudos efetuados pouco depois de finalizado o tratamento bre­
ve não registrem um progresso maior, o que pode acontecer quan­
do se realizam vários anos depois, e sem que haja mediado outro 
tratamento psicoterapêutieo (32). Isto nos remete a um processo 
ativo de mudança que ocorre no paciente durante esse período.
Wolberg, um dos autores mais entusiastas das mudanças que 
se podem esperar nas terapias breves, talvez peque por um exces­
so de otimismo. Afirma este autor (55) que um tratamento curto 
adequadamente conduzido pode desencadear, a partir da solução 
de um aspecto do problema do paciente, um processo evolutivo, 
uma reação em série, que com o avançar dos anos promova uma 
mudança interior, e até prepare “alterações substanciais na perso­
nalidade que lhes abram (aos pacientes) o caminho para uma 
auto-realizaçào mais completa”41. “No final do tratamento - diz -
Fundamentos teóricos 55
não há por que deter o processo de transformação do paciente, 
que pode perdurar pelo resto de sua vida. Essa circunstância não é 
fortuita: é um acerto do psiquiatra, que com sua intervenção con­
segue liberar as forças construtivas latentes42 na pessoa do enfer­
mo Assinala, além disso: “Édifícil, retrospectivamente, de­
fin ir o ocorrido, e ainda mais difícil deduzir dessa experiência 
regras precisas aplicáveis a outros casos.” Pouco mais adiante 
continua: “As vezes se produz uma reação em cadeia, sem que 
intervenha, ao que parece, nenhuma deliberação consciente, e em 
virtude de forças que escapam ao nosso conhecimento. A obser­
vação pós-clínica pode revelar amplas mudanças que apenas se 
adivinhavam ao terminar o tratamento.” (Os grifos são meus.)
Wolberg às vezes reitera essas opiniões e esses resultados de 
sua própria experiência. Também Alexander sustenta idéias simi­
lares a algumas das que propõe Wolberg: “O importante é que a 
cura nunca se realiza totalmente durante o tratamento. Neste co­
locamos o paciente sobre a pista, e então o ego assume a direção. 
As vezes basta eliminar um bloqueio emocional para que o ego 
comece a atuar (...), etc.”(2). Noutro lugar expressa Alexander: 
“Também na psicanálise confiamos nas faculdades regenerado- 
ras do ego. Referimo-nos a elas de uma maneira bem mais vaga, 
como o desejo, a vontade do paciente de se curar, ou ainda, mais 
vagamente, como sua capacidade de cooperação” (4). (Os grifos 
são meus.)
Logicamente, as possibilidades de progresso são variáveis 
em cada caso e dependem não só de suas próprias potencialida­
des, mas também de outros fatores, como por exemplo as condi­
ções de seu meio ambiente. Diz Alexander: “Até onde chegará o 
impulso do tratamento é sempre uma interrogação sem resposta 
ao finalizar uma análise41, pois o tratamento carece de qualquer 
medida exata para se verificar a mudança psíquica ou se preverem 
os acontecimentos futuros” (3).
Ainda que aceitemos que mudanças profundas ocasional­
mente ocorram, inclusive na estrutura da personalidade, deve­
mos convir que não há respostas que revelem a natureza íntima 
do processo que gera essas mudanças, e do qual falam Wolberg e 
Alexander, mesmo que, convém esclarecer, não sejam levantadas 
hipóteses explicativas definidas tampouco se recorra, em nenhum
56 Psicoterapia breve de orientação psieanalitica
momento, ao termo elaboração, quando se mencionam esses me­
canismos autônomos (2) (4) (55). De minha parte penso que tais 
mecanismos poderíam estar ligados ao menos parcialmente a 
uma espécie de processo “elaborativo”, que, ainda que só em pe­
quena escala, desenvolver-se-ia nos tratamentos breves, contan­
do com uma etapa pós-terapêutica provavelmente muito impor­
tante (ver pp. 32 ss.)44. No processo de investigação há ainda, 
nesse campo, muito trabalho pela frente.
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TÉCNICA
4. Entrevistas preliminares
Introdução
É sabido que as entrevistas iniciais têm importância decisiva 
para o futuro do processo terapêutico a ser desenvolvido.
No campo da P.B., as principais finalidades de tais entrevis­
tas são:
• O estabelecimento da relação terapêutica.
• A elaboração da história clínica.
• A avaliação diagnostica e prognostica.
• A devolução diagnóstico-prognóstica.
• O contrato sobre metas terapêuticas e duração do tratamento.
• A explicitação do método de trabalho e a fixação das demais 
normas contratuais.
O número de entrevistas a se realizar, variável em cada caso, 
será o que se revele necessário para atingir os fins enunciados. 
Veremos a seguir cada um destes pontos.
O estabelecimento da relação terapêutica
Neste aspecto, as entrevistas preliminares desempenham um 
papel fundamental. Dos primeiros contatos com o paciente de­
pende, em boa parte, o destino da relação deste com seu terapeuta
64
(que poderá ser ou não aquele que o tenha entrevistado). Trata-se 
então de poder criar condições favoráveis para a instauração de 
um vínculo terapêutico, em relação ao qual importa muito a con­
duta que assuma o entrevistador, quer dizer, sua contribuição para 
o estabelecimento de uma relação de trabalho. Será benéfico que 
possa mostrar-se interessado pelos problemas do paciente, dis­
posto a oferecer-lhe sua ajuda e confiante em seu método terapêu­
tico, além de claro e explícito, desde o primeiro momento, em sua 
comunicação com o paciente. Para isso convém que lhe comuni­
que previamente a finalidade das primeiras entrevistas (conhece­
rem-se mutuamente, realizar um estudo o mais completo possível 
de seu caso para poder decidir a conduta terapêutica a ser seguida, 
etc. ) e que, no decorrer das mesmas, informe-o detalhadamente a 
respeito dos diferentes aspectos do tratamento que seguirá. A 
experiência clínica demonstra que tais atitudes ajudam bastante 
no estabelecimento de uma relação terapêutica. Tenta-se, desse 
modo, diminuir as resistências produzidas por preconceitos, mal­
entendidos ou temores a respeito do tratamento, tudo o que pode 
facilmente conduzir à deserção (4). Em essência, terá que comba­
ter a ambigüidade, fomentadora de condutas resistenciais e fenô­
menos regressivos.
O entrevistador deverá, além disso, assumirum papel ativo, 
dirigindo os diversos momentos das entrevistas em função dos 
objetivos desta fase do procedimento, essencialmente diagnostica 
e contratual. Formulará perguntas, fornecerá informação, etc., e 
às vezes poderá recorrer a assinalamentos e interpretações.
Considero que o emprego de interpretações nas entrevistas 
iniciais deva limitar-se principalmente aos seguintes fins:
a) esclarecer e orientar a relação transferenciai quando sur­
jam obstáculos a ela que ameaçam inclusive provocar a deserção 
do paciente;
b) efetuar uma devolução diagnóstico-prognóstica, na qual 
pode-se recorrer às chamadas interpretações panorâmicas (ver 
p. 72),
c) detectar a capacidade do paciente para efetuar uma psico­
terapia de insight, empregando isolada e prudentemente interpre­
tações de ensaio (1)'.
Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
Entrevistas preliminares 65
A história clinica
Em P.B. é necessário realizar uma indagação exaustiva dos 
dados do paciente. Uma história clínica em que se leva em conta 
esta indicação poderá oferecer-nos elementos valiosos para com­
preender melhor a natureza dos problemas atuais do paciente, em 
relação à sua história de vida, mediante a descoberta de situações 
traumáticas, modos patológicos e repetitivos de conduta, etc.
A respeito da metodologia a ser empregada, cabe recomen­
dar a adoção de um modelo de anamnese como ponto de referên­
cia, embora isso não implique que se tenha de seguir uma ordem 
rígida para interrogar o paciente.
Convém assinalar o interesse particular de que se reveste em 
P.B. a indagação do motivo da consulta. O habitual é que este se 
ache ligado à situação-problema que dará lugar ao tratamento. 
Será conveniente obter amplas informações sobre os antecedentes 
dessa situação-problema, os sintomas que a acompanham, os 
fatores desencadeantes, etc. Essas averiguações podem ser reali­
zadas deixando-se em primeiro lugar que o paciente exponha li­
vremente suas dificuldades atuais, ou seja, através dos momentos 
livres da entrevista, que logo poderá ser dirigida ou semidirigida 
quando for necessário obter determinados dados do paciente 
(antecedentes familiares e pessoais).
Avaliação diagnostica e prognostica
Avaliação diagnostica
E preciso efetuar uma ampla e minuciosa avaliação diagnos­
tica do paciente, que não deve permanecer circunscrita ao diag­
nóstico clínico, insuficiente para efetuar a formulação prognosti­
ca e a indicação terapêutica (psicoterapia breve, psicoterapia em 
que predomine o insight ou de apoio, psicoterapia prolongada, de 
grupo, etc.), a escolha de objetivos e o planejamento do tratamen­
to2. Se se decide pela realização de uma terapia de duração limita­
da, esta demandará, com maior razão ainda, um conhecimento
66 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
prévio do paciente o mais profundo possível (hipótese psicodinâ- 
mica inicial) para organizar o plano terapêutico correspondente.
Os elementos necessários para os distintos diagnósticos 
devem ser obtidos basicamente por meio de entrevistas clínicas e 
de testes psicológicos, aos quais podem somar-se outros exames, 
que as circunstâncias requeiram (exame médico geral, neurológi­
co, eletroencefalográfico, etc.).
Consideramos aqui: 1) O diagnóstico nosográfico-dinâmico, 
que inclui as condições egóicas; 2) A avaliação do grau de moti­
vação para o tratamento e de atitudes para o “insight 3) A deter­
minação do foco.
O diagnóstico nosográfico-dinâmico
Implica o diagnóstico atual da enfermidade do paciente (neu­
rose, caracteropatia, psicopatia, psicose) e de personalidade. Exem­
plo: depressão reativa num neurótico obsessivo, cuja personalida­
de apresenta um predomínio de traços paranóide-obsessivos.
Devem incluir-se também:
O diagnóstico do tipo de grupo familiar de origem, sua inci­
dência na problemática atual, além da influência que possa exer­
cer o meio ambiente, compondo na realidade um diagnóstico psi- 
cossociopatológico.
Uma avaliação das condições egóicas, para a qual se investi­
gam os recursos de que dispõe o ego do paciente, quer dizer, seus 
aspectos adultos ou sadios, que serão os aliados do terapeuta, e 
suas debilidades. Este último fato permitirá que se tomem os cui­
dados necessários diante das prováveis dificuldades que pode­
ríam sobrevir durante o tratamento, o qual, além disso, procurará 
contribuir, por meio do trabalho terapêutico, para que o paciente 
adquira ou recupere as capacidades egóicas que lhe faltam. Em 
psicoterapia breve interessa indagar principalmente:
a) As funções egóicas básicas (percepção, atenção, memória, 
pensamento, etc.). E elementar que estas funções se apresentem 
em condições mínimas para tomar possível a psicoterapia.
b) As relações objetais. Segundo Bellak e Small, elas serão 
examinadas, no que diz respeito à sua qualidade e intensidade e
aspectos manifestos e latentes (2), a partir da conduta evidenciada 
pelo paciente durante as entrevistas clínicas, da história de suas 
relações interpessoais, de suas fantasias, sonhos, recordações, de 
nossa contratransferência e dos dados fornecidos pelos testes psi­
cológicos. Essas indagações são de grande valor para efetuar um 
prognóstico e uma estratégia terapêutica, porque nos permitem 
prever, em certa medida, as características da relação transferen­
ciai durante a terapia, a maior ou menor capacidade do paciente 
para estabelecer uma boa relação terapêutica, os inconvenientes 
que nesse sentido podem surgir durante o tratamento, e muito 
especialmente o momento do término da terapia e do desligamen­
to do terapeuta.
c) O controle de impulsos. Pode ser excessivo ou, pelo con­
trário, estar diminuído. Em ambos os casos, será necessário tomar 
certas medidas terapêuticas (emprego de técnicas dramáticas em 
um, aumento do número de sessões em outro, etc.).
d) A tolerância à ansiedade e à frustração. Trata-se de detec­
tar as condições do paciente para tolerar uma psicoterapia inter- 
pretativa, em virtude da mobilização afetiva que esta costuma 
produzir (para isso, pode-se apelar para diversos recursos, entre 
eles as interpretações de ensaio [1], nas primeiras entrevistas, 
para comprovar sua reação às mesmas), assim como sua capacida­
de para superar sem maiores conseqüências o luto causado por 
sua separação do terapeuta no fim da terapia (convirá averiguar a 
existência de lutos na história do paciente, e que repercussão tive­
ram nele).
e) Os mecanismos defensivos. Será necessário precisar as 
principais defesas empregadas pelo paciente, determinação que é 
de grande importância para a indicação terapêutica, para o plane­
jamento e para o prognóstico. Exemplo: um repertório reduzido 
de defesas estereotipadas será um elemento prognóstico desfavo­
rável para uma psicoterapia de insight; em contrapartida, a varie­
dade de mecanismos defensivos tomará favoráveis as perspecti­
vas prognosticas.
f) A regulação da auto-estima. Em geral, os que procuram 
terapia apresentam uma diminuição da auto-estima, devendo o 
trabalho terapêutico resultar numa elevação da mesma.
Entrevistas preliminares________________________________ 0/
68
Finalmente chegaremos à avaliação da potência e plasticida­
de do ego.
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Avaliação do grau de motivação para o 
tratamento e das atitudes para o "insight"
Diversos indicadores, provenientes das entrevistas diagnosti­
cas e da realização dos testes psicológicos, nos dão uma idéia 
acerca do grau de motivação do paciente para receber ajuda tera­
pêutica, isto é, para assistir às sessões de tratamento, e em espe­
cial sobre sua motivação e condições para o insight (8). Suas res­
postas às interpretações de ensaio (1) e assinalamentos nos darão 
a medida de sua capacidade de auto-observação, sua resistência 
ou sua permeabilidade ante as intervenções do terapeuta.
Diretamente ligado à capacidade de insight do paciente acha- 
se seu grau de consciência da enfermidade, que também terá de 
ser detectado.
A motivação para o trabalho terapêutico ésusceptível de ser 
estimulada durante as primeiras entrevistas e no decorrer do trata­
mento. A esse respeito cabe assinalar o papel fundamental que de­
sempenha a forma pela qual o entrevistador faz a devolução diag- 
nóstico-prognóstíca para o paciente no começo da relação.
Determinação do foco
Trata-se da possibilidade de precisar e delimitar um foco, 
passo tecnicamente essencial para nosso trabalho terapêutico pos­
terior.
Quando se trata de quadros agudos (neuroses traumáticas, 
depressões reativas), que devem resolver-se através do tratamen­
to, a escolha e a demarcação do foco são facilitadas, do mesmo 
modo que a definição dos objetivos terapêuticos. Outras vezes 
torna-se mais dificultosa, se o paciente apresenta transtornos ge­
neralizados em todas ou em quase todas as áreas de conduta, de 
tal forma que não conseguimos destacar um problema ou conflito 
como ponto de partida, sobretudo se não há uma situação definida
Entrevistas preliminares 69
de urgência que predomine; em outras palavras, não encontramos 
“a ponta do novelo” para abordar o caso através de uma terapia 
setorial (trata-se de indivíduos com sérias alterações de personali­
dade, cuja enfermidade data de muitos anos, em geral caractero- 
patas, boderline ou neuróticos crônicos).
A determinação do foco e o aprofundamento em sua confliti- 
va engloba o diagnóstico do ponto de urgência e acha-se por sua 
vez compreendida dentro da formulação psicodinâmica antecipa­
da, já que esta última não é outra coisa senão uma hipótese diag­
nostica integral, enquanto os diferentes diagnósticos e avaliações 
citados até aqui constituem as versões interpretativas parciais de 
tal formulação.
Papel do psicodiagnóstico
Embora este não seja meu campo específico de atividade, 
desejo fazer algumas considerações a respeito5.
A aplicação de testes psicológicos é muito útil para o diag­
nóstico, prognóstico e para as indicações e contra-indicações da 
terapia breve. Quando se recomenda esse tipo de tratamento, essa 
aplicação adquire suma importância no planejamento terapêutico.
Tenho dito e o repito: em P.B. coloca-se a necessidade de se 
obter, de antemão, um conhecimento amplo e profundo acerca do 
paciente, que facilite a formulação da hipótese psicodinâmica ini­
cial e conseqüentemente nossa tarefa terapêutica, com a base num 
plano de trabalho determinado, pelo menos em seus traços princi­
pais. Sobretudo se a terapia é de duração limitada, não haverá 
tempo para esperar a emergência de certos conteúdos, como num 
tratamento analítico. Daí que a aplicação de testes deveria efetuar- 
se de maneira sistemática em pacientes para os quais se prevê a 
realização de um tratamento breve e planejado, ou pelo menos nos 
casos em que se esbarre com dificuldades diagnosticas e/ou tera­
pêuticas4. Sou dos que pensam que o tempo investido no processo 
psicodiagnóstico, ainda que considerável, às vezes fica ampla­
mente compensado, quando se deve empreender uma psicoterapia 
de duração limitada5.
70 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Embora pareça contraditório destinar um número apreciável 
de horas à realização do psicodiagnóstico quando se trata de pou­
par tempo (como ocorre no caso das terapias hospitalares de curto 
prazo), não o é, na realidade, pois a riqueza dos dados que podem 
ser obtidos não só pode contribuir para a consecução de bons 
resultados, mas também para agilizar o processo terapêutico, cuja 
duração poderá eventualmente abreviar-se no alcance dos objeti­
vos propostos.
A bateria de testes a ser empregada pode constar do Teste de 
Rorscharch (5) (7) (10), do Teste das Relações Objetais de 
Phillipson (5) (10) ou do Teste de Apercepçâo Temática de Murray 
(5), e completar-se com o de Bender, desenho livre, figura huma­
na, casal, desiderativo, etc. Quando as circunstâncias o aconse­
lhem, acrescentem-se os testes de inteligência.
Os dados que se extraem são muitos e valiosos: diagnóstico 
da personalidade e do quadro psicopatológico; psicodinamismos; 
capacidade de insight, condições egóicas. Dentro destas últimas, o 
psicodiagnóstico descreve as características das relações objetais 
(por diversos indícios dos testes projetivos, como, por exemplo, o 
Phillipson ou o T.A.T. [5]), os mecanismos defensivos, a tolerância 
à ansiedade e à frustração, especialmente quanto à capacidade de 
suportar a separação do terapeuta6, a força do ego, etc.
Também poderão efetuar-se recomendações terapêuticas, a 
partir dos dados obtidos (sobre o tipo de tratamento, sexo do tera­
peuta, etc.)7, e apreciações prognosticas.
Avaliação prognostica
Em geral é possível realizar uma avaliação prognostica, so­
bretudo do momento ou quadro atual que motiva o tratamento. Os 
resultados deste dependerão de fatores provenientes do paciente, 
do terapeuta e do âmbito assistencial em que tenha lugar (hospi­
tal, clínica, consultório particular). Tais fatores devem ser consi­
derados sempre em conjunto, e não de maneira isolada.
Com relação ao paciente, influirão especialmente as diversas 
condições diagnosticas a respeito dos aspectos já citados. São ele­
mentos para um prognóstico favorável:
Entrevistas preliminares 71
• Início recente e agudo do sofrimento ou problema atual a 
ser abordado ou, como assinala Courtenay (3), que se trate de um 
“momento propício” numa enfermidade relativamente crônica.
• Leveza e limitação da patologia (3).
•Condições favoráveis do meio familiar e social para o 
desenvolvimento da tarefa terapêutica e aceitação das mudanças 
do paciente.
• Ego forte, com funções básicas em bom estado, capacidade 
de estabelecer boas relações objetais e de tolerar adequadamente 
a separação que sobrevirá ao finalizar-se a terapia (relação 
transferenciai com grau leve de ambivalência e dependência), 
plasticidade de defesas, etc.
• Alto grau de motivação para o tratamento. Incide conside­
ravelmente na produção de bons resultados terapêuticos, mesmo 
nos casos que apresentem certa gravidade (8).
• Capacidade de insight.
• Possibilidade de determinar o foco antecipadamente (antes 
de iniciado o tratamento ou em suas primeiras sessões)8.
Com relação ao terapeuta, as perspectivas prognosticas são 
favoráveis quando, além de este reunir as condições necessárias para 
o exercicio da P.B. (ver capítulo 14), existe uma contratransferên- 
cia positiva que facilita a instauração de um bom vínculo com o 
paciente.
Com relação ao contexto assistencial, interessam as possibi­
lidades terapêuticas que oferece em seus aspectos temporais, es­
paciais, equipe de profissionais, etc.
É claro que o prognóstico terapêutico, além disso, deve ser 
feito em função das metas combinadas, segundo estas pareçam ou 
não alcançáveis dentro das condições gerais que regerão o traba­
lho terapêutico.
A devolução diagnóstico-prognóstica
Além da devolução dos dados do psicodiagnóstico, a cargo 
do psicólogo que o efetuou - que por diversas razões, em nenhum 
caso deveria se omitir (12) - e mesmo que tenha sido outro o pro­
fissional que realizou as entrevistas clinicas, cabe uma nova devo­
72 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
lução da parte deste último, a qual naturalmente será baseada nas 
conclusões a que chegou, não só depois das entrevistas, mas tam­
bém como conseqüência do emprego dos diferentes meios auxi­
liares de diagnóstico. Esta segunda devolução é resultante da tare­
fa desenvolvida em equipe e deve antes de tudo manter coerência 
com relação à devolução psicodiagnóstica.
O entrevistador transmitirá oralmente ao paciente, numa lin­
guagem simples e clara, impressões gerais a respeito de sua pro­
blemática. Mencionarei, a seguir, alguns dos objetivos de tal con­
duta:
a) Fazer o paciente sentir que se presta atenção nele e se 
pensa em suas dificuldades, procurando compreendê-las. Trata-se 
de uma nova contribuição em busca de uma aliança de trabalho.
b) Fornecer-lhe certo esclarecimento preliminar a respeito de 
sua problemática.
c) Reforçar sua motivação para entender e resolver suas difi­
culdadespor meio da psicoterapia.
d) Facilitar o passo seguinte, que será a escolha de metas te­
rapêuticas, ao lhe apresentar, e em parte sugerir, o conflito do qual 
julgamos poderiam surgir tais metas. (Em outras palavras, a devo­
lução será centrada naquilo que em nossa opinião deve converter- 
se na problemática central do tratamento, com o que além disso se 
irá delineando o provável foco terapêutico.)
Como foi dito, serão transmitidas ao paciente apenas algu­
mas apreciações acerca de sua problemática, sem se estender nem 
aprofundar em demasia, já que não é proveitoso fazê-lo nesta 
etapa. Para isso pode-se recorrer às interpretações denominadas 
panorâmicas (4), que permitem esboçar, de maneira global, psi- 
codinamismos subjacentes à situação-problema. A devolução, 
além dos aspectos diagnósticos, deve abranger referências ao 
prognóstico capazes de tranqüilizar e reanimar o paciente. Isto lhe 
dará a idéia de que podemos oferecer-lhe nossa ajuda e de que tem 
possibilidade de resolver seus sofrimentos ou pelo menos de ali­
viá-los. Poderiamos reiterar o mesmo com relação às metas tera­
pêuticas, uma vez combinadas.
Entrevistas preliminares 73
Contrato sobre as metas terapêuticas e a duração do tratamento
Depois de efetuada a devolução diagnostica, paciente e 
entrevistador trocarão opiniões acerca dos possíveis objetivos da 
terapia a ser realizada, até chegar a estabelecê-los claramente e de 
comum acordo.
Devem-se em princípio conhecer e levar em conta os pontos 
de vista do paciente acerca das metas do tratamento, equivocados 
ou não segundo nosso julgamento. Com essa finalidade, já se terá 
formulado ao paciente perguntas, como: Que expectativas tem 
acerca do tratamento? Em que problemas você crê necessitar de 
ajuda? Em que supõe que tem de consistir essa ajuda?, etc. As 
respostas correspondentes nos darão além disso alguma idéia de 
suas fantasias a respeito de enfermidade e de cura, das quais pro­
vêm os objetivos que ele se coloca, assim como de sua motivação 
e capacidade de insight. Isso não exclui que por meio de devolu­
ção efetuada se tente chamar sua atenção sobre determinada “con- 
flitiva” e acrescentar sua motivação para enfrentá-la.
O terapeuta se referirá aos objetivos do modo mais claro e 
simples possível. Por exemplo, dirá ao paciente que entre ambos 
poderíam tratar de esclarecer por que ele sente tanto temor quan­
do lhe solicitam qualquer tarefa em seu emprego e de conseguir 
que enfrente essas situações de forma mais adequada. Também 
dirá que se procurará melhorar seu estado de ânimo e esclarecer 
também o que sucede com sua família, etc. Paralelamente, o tera­
peuta deve formular os fins terapêuticos de um ponto de vista psi- 
codinâmico: em um caso pensará sobretudo em elevar a auto-esti- 
ma; em outro, em atenuar as exigências superegóicas; num tercei­
ro, em revelar o significado inconsciente de tal conduta e atacar 
determinados mecanismos defensivos, etc.
E preciso que os objetivos a que se proponham sejam presu­
mivelmente alcançáveis, isto é, que se ajustem às possibilidades 
que oferecem paciente e terapeuta e às condições gerais em que 
terá lugar a terapia. Poder-se-ão classificar como primordiais e 
secundários, segundo sua importância; em imediatos e mediatos, 
de acordo com a ordem cronológica em que se procure alcançá- 
los, seguindo, se necessário, um escalonamento estratégico; e em 
explícitos e implícitos, se tiverem ou não sido verbalizados e com­
74 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
binados com o paciente. (Toda terapia breve de insight pressupõe 
a existência de fins terapêuticos inerentes à natureza mesma do 
processo, por exemplo, que o paciente alcance maior consciência 
da enfermidade ou eleve sua auto-estima. Esses fins, quase cons­
tantemente presentes, também constituem por conseguinte objeti­
vos terapêuticos gerais, diferenciados dos particulares, que sur­
gem em cada caso.)
Quando não se chega a um acordo real sobre as metas da te­
rapia (pode tratar-se, inclusive, de um pseudo-acordo por submis­
são do paciente às sugestões do terapeuta, que atuam naquele 
como ordens), cabem várias alternativas:
a) aceitar o que propõe o paciente, caso em que o terapeuta 
deverá renunciar aos propósitos terapêuticos que tinha previa­
mente, ou postergá-los para uma segunda etapa, b) realizar uma 
tarefa de esclarecimento que tenda a motivar o paciente a em­
preender uma terapia com base nas metas que consideram conve­
nientes, c) se as dissidências forem muito grandes, não efetuar 
nenhum tratamento9.
A duração de um tratamento breve varia segundo as circuns­
tâncias:
• Pode estar predeterminada por modalidades institucionais, 
que estabelecem prazos para os tratamentos geralmente de modo 
convencional e que correspondem a necessidades organizacionais 
dentro do planejamento assistencial que tais instituições adotam 
(de 3, 6, 12 meses, etc.).
• Em muitas oportunidades, situações próprias do paciente, 
que inclusive podem ter motivado o tratamento, colocam, por sua 
vez, uma limitação temporal espontânea ao mesmo: acontecimen­
tos como uma viagem, por exemplo, poderão determinar uma 
finalização obrigatória, por acaso também adequada.
• Em outras ocasiões, que se apresentam especialmente no 
consultório particular, a duração do tratamento depende do que o 
terapeuta e o paciente resolvam. Assim, poderá contar ou não com 
um final prefixado.
Não só os objetivos, mas também a duração do tratamento 
deveríam, dentro do possível, ser estabelecidos de comum acordo 
entre terapeuta e paciente, antes de seu início. A isso se tem referi­
do, entre nós, Ulloa (13). Em lugar de encarregar da duração do
Entrevistas preliminares 75
tratamento fatores alheios à situação mesma do paciente, ou que 
este tenha a impressão de que é imposta pelo terapeuta, seria pre­
ferível que se pudesse obter uma vez mais a opinião do paciente 
sobre essa questão, a fim de a elaborarem conjuntamente. O que é 
pouco - ou muito - tempo para um pode não ser para o outro. “A 
fixação do tempo - assinala Ulloa - faz-se com a participação 
explícita do paciente no nível em que ele esteja capacitado para tal 
elaboração” (13). Isso não implica que aceitaremos ingenuamente 
as idéias do paciente, mas que buscaremos soluções depois de 
uma revisão adequada da situação.
Quando a duração do tratamento for determinada de antemão, 
o terapeuta deve procurar, como condição primordial, que a 
mesma guarde relação direta com os objetivos terapêuticos pro­
postos, quer dizer, com o tempo que empiricamente estime neces­
sário para cada paciente alcançar esses objetivos (sem que isso seja 
um impedimento para efetuar uma recontratação do tratamento, 
se, uma vez chegado o seu término, seus fins não se cumprirem)10.
Fixar previamente uma data para o término da terapia supõe 
vantagens e desvantagens. Com freqüência, o melhor será não 
limitá-la, mas às vezes ocorre o contrário: para antepacientes que 
apresentem uma atitude receosa e de desconfiança (habitualmen­
te com marcados traços fóbicos ou paranóicos), pode ser conve­
niente determinar uma data exata - não muito longínqua - para a 
finalização, com o objetivo de evitar fantasias de ser preso numa 
armadilha pelo terapeuta; tranqüiliza-os saber, desde o começo, 
que existe uma data em que o tratamento será concluído. Dessa 
maneira aceitam com menos dificuldades serem tratados, do que 
quando se acham ante uma terapia de duração indeterminada. 
Esta situação se apresenta mais comumente em pacientes de es­
trato socioeconômico baixo, os quais em princípio não concebem 
que a psicoterapia deva estender-se demasiadamente no tempo 
para solucionar seus padecimentos. Se não apelarmos com flexi­
bilidade para este recurso estratégico, o mais comum é que a 
abandonem em algum momento ou que simplesmente não a ini­
ciem. Em contrapartida, se se fixa um prazo, seus receios diante 
do tratamento são menores, sendo até possível que depois dese­
jem prolongá-lo. Por último, outras vezes a limitação de tempoparece necessária para estimular e agilizar o trabalho terapêutico 
do paciente.
76
A lé m d is s o , é m is te r e x p l ic a r a o p a c ie n te , q u e u m a v e z t e r ­
m in a d a a te r a p ia , r e a l iz a r á , j u n to c o m o te r a p e u ta , u m b a la n ç o d o s 
r e s u l ta d o s o b t id o s , p a r a o q u e a m b o s le v a rã o e m c o n ta s e u e s ta d o 
n e s s e m o m e n to , e q u e a p a r t i r d a í se r e s o lv e r á a c o n d u ta m a is a d e ­
q u a d a a a s s u m ir ( s e p a r a ç ã o f in a l , f ix a ç ã o d e e n tr e v is ta s d e c o n ­
t r o le , r e c o n t r a to , in d ic a ç ã o d e o u tr o tr a ta m e n to , e tc .) .
Explicitação do método de trabalho.
Fixação das demais normas contratuais
E útil oferecer ao paciente uma idéia acerca das característi­
cas do tratamento que terá de seguir, ou seja, quais serão, respecti­
vamente, suas funções, as do terapeuta e eventualmente as da 
equipe terapêutica. O beneficio dessa tarefa informativa reside 
em que o paciente, em vez de resistir, à intolerância das ansieda­
des provocadas pelo desconhecido, poderá pelo contrário coope­
rar com o terapeuta, tomando conhecimento da técnica que orien­
tará o trabalho de ambos.
No que diz respeito às funções do paciente, dever-se-á fazer 
empenho em explicar-lhe cuidadosa e detalhadamente o que será 
sua regra básica de funcionamento no decorrer da psicoterapia. (Da 
regra básica de funcionamento ocupo-me no capítulo 6, pp. 89 ss.)
Convém que o paciente tenha uma noção prévia do papel do 
terapeuta. Quando se pensa em efetuar uma psicoterapia interpre- 
tativa, poder-se-á explicar-lhe que se trata fúndamentalmente de 
ajudá-lo a compreender melhor sua situação, tentando trazer-lhe 
um ponto de vista diferente, que vá mais além do que lhe permite 
seu senso comum; que será baseado sobretudo em revelar-lhe 
aspectos obscuros ou desconhecidos para ele, que podem estar 
provocando e/ou incrementando seus sofrimentos, e que isso será 
efetuado através de interpretações, das quais se dará alguma idéia 
elementar. Desse modo, procuraremos fazer com que se familiari­
ze o mais rápido possível com o tratamento e se abrevie a etapa de 
ansiedade, desconcerto ou estranheza, que em princípio costu­
mam provocar as interpretações, e que em P.B. considero que 
possa ser prejudicial. Com relação a isso costumo advertir ao pa­
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Entrevistas preliminares 77
ciente que é possível que minhas intervenções, particularmente 
no início do tratamento, lhe pareçam apesar de tudo um pouco es­
tranhas, e que na realidade notará alguma diferença em relação às 
conversas que mantém habitualmente com as pessoas.
A todos esses esclarecimentos podem agregar-se outros, não 
menos benéficos para o desenvolvimento do tratamento: cabe as­
sinalar ao paciente que nossa tentativa de fazê-lo entender suas 
dificuldades a partir de uma nova perspectiva, que lhe permita en­
frentá-las melhor, corresponde ao fato de que tais dificuldades 
superam suas possibilidades de solucioná-las por sua conta; mas, 
acrescento - ante uma sugestão de Montevechio (9) é de se 
esperar que ao protagonista de uma situação perturbadora resulte 
difícil compreender com clareza o que está acontecendo ao seu 
redor e que, para o terapeuta, do lado de fora, pode tornar-se pos­
sível entendê-lo e ajudá-lo, graças a seus conhecimentos e expe­
riência. Com isto tende-se a contrabalançar sua sensação de fra­
casso ao ter de ir à consulta, como também a fantasia de onipotên­
cia do terapeuta, sendo conveniente que se ajuste desde o primeiro 
momento a uma relação mais “real” com este (9).
Também convém informar o paciente se se pretende empre­
gar outros recursos terapêuticos (psicofármacos, entrevistas com 
familiares, etc.), comunicando, ainda que minimamente, seu sen­
tido e alcance.
Por último, devem fixar-se as diferentes condições do conta­
to terapêutico, em especial as correspondentes aos aspectos espa- 
ço-temporais do enquadramento: posição espacial do terapeuta e 
paciente (geralmente devem sentar-se frente a frente), horários, 
frequência e duração das sessões; eventualmente, datas do térmi­
no do tratamento, das entrevistas de avaliação e do novo psico- 
diagnóstico. Os demais detalhes não diferem do que já se conhece 
(férias do terapeuta, feriados, honorários, etc.).
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cap . I.
1 1 . __ , “ In d icad o res p a ra la reco m en d ac ió n d e te rap ia b reve ex tra ídos
de la en trev is ta d ev o lu tiv a” , em M . L. S. O cam p o e M . E. G arc ia 
A rzen o , ob. cit. em 10, t. 11, cap . XI.
1 2 . __ , “ L a en trev ista de d ev o lu c ió n de in fo rm ac ió n ” , em M . L. S.
O cam p o e M . E. G arc ia A rzeno , ob. cit. em 10, t. 11, cap. IX.
13. U lloa , F. O ., “ C o m en tá rio al a rtícu lo de H éc to r Juan F io rin i” , em W. 
R. G rim so n (com p.) e o u tros, Nuevas perspectivas en salud mental. 
Instituciones yproblemas, N u ev a V ision , B uenos A ires , 1973.
5. Planejamento do tratamento
A elaboração de um plano terapêutico é uma das característi­
cas que distinguem as psicoterapias breves. Diversos autores têm- 
se referido à necessidade de planejamento, entre eles French (3) e 
Alexander (1), que em algumas passagens da Terapêutica psica- 
nalítica chamam ao tratamento breve terapia planejada (2) (3), o 
que demonstra a importância que tais autores outorgam ao plane­
jamento. Este consiste no projeto de uma estratégia terapêutica, 
efetuado com o fim de alcançar os objetivos propostos.
Para conceber a estratégia, dever-se-ão ter presentes diversos 
elementos provenientes do paciente, do terapeuta e eventualmente 
da instituição. Com relação ao paciente, será essencial partir dos 
vários dados obtidos pela avaliação diagnóstico-prognóstica (ver 
capítulo 4), que terá culminado no desenvolvimento de uma for­
mulação psicodinâmica antecipada (3). Planejaremos nossa ação 
terapêutica com base numa estrutura de foco terapêutico inicial. 
Com relação ao terapeuta e à instituição, dever-se-ão considerar 
fatores como a experiência prévia daquele e sua habilidade no 
manejo dos distintos recursos (fatores que deverão ser levados em 
conta em relação a toda a equipe terapêutica),assim como as pos­
sibilidades que oferece a instituição.
Com a revisão desses elementos, já estaremos em condições 
de estabelecer um planejamento estratégico adequado.
Um programa terapêutico deve surgir, necessariamente, da 
recolocação das distintas questões técnicas que são suscitadas em
80 Psicoterapia breve de orientaçãopsicanalítica
cada caso particular. Inclui a determinação do tipo de psicoterapia 
a ser aplicada (em que predomine o insight, de fortalecimento 
cgóico ou de apoio), os conflitos que vamos abordar, aqueles que 
serão deixados de lado e a provável seqüência de tal abordagem; 
estabelecer-se-á muito especialmente a atitude terapêutica a ser 
assumida diante dos distintos mecanismos defensivos do paciente 
(incisiva ou pelo contrário de abstenção, ou inclusive de reforça- 
mento desses); organizar-se-á tudo o que se refere às condições 
temporais (duração, número e periodicidade das sessões sema­
nais, duração total do tratamento, etc.) e espaciais do enquadra­
mento. Outros aspectos relevantes a serem considerados serão: as 
regras de funcionamento do paciente durante o tratamento (ver 
capítulo 6), a atitude geral do terapeuta ante o paciente (cálida, 
muito ativa, diretiva, cautelosa, etc.) que, logicamente, irá sendo 
regulada pelos indicadores que aparecerem no decorrer das ses­
sões, os diversos tipos de intervenção do terapeuta (interpretações 
em suas distintas variantes, assinalamentos, perguntas, informa­
ções, sugestões, etc.) c o uso de outros recursos terapêuticos (psi- 
cofármacos, inclusão de familiares e/ou pessoas que lhe são pró­
ximas, técnicas dramáticas, serviço social, etc.).
Também é útil pensar em possíveis inconvenientes terapêuti­
cos que possam surgir durante o tratamento e na melhor forma de 
enfrentá-los (3), e ainda em tarefas a realizar se a evolução do 
paciente o permitir (a abordagem de determinado conflito subja­
cente, por exemplo).
O planejamento deve, além disso, tender para a previsão dos 
possíveis rumos e das características que pode tomar o processo 
terapêutico em seus aspectos mais gerais. A experiência demons­
tra que é conveniente contar desde o começo com uma idéia ante­
cipada, ainda que elementar e provisória, do princípio do desen­
volvimento e do final da terapia. Recomendo sobretudo não omi­
tir tudo o que se refira à conclusão do tratamento, que em certa 
medida também deverá ser planejada: será necessário prestar 
atenção às situações que poderá reviver cada paciente na ocasião 
de enfrentar o luto pela separação do terapeuta e de acordo com 
isso ao tipo de relação objetai e ao grau de tolerância à frustração 
que apresenta. Projetar-se-á então alguma tarefa em relação a tal 
luto que até em sua mínima expressão inclua sempre o assinala-
Planejamento do tratamento 81
mento da situação de perda, envolvendo detalhes, tais como o nú­
mero de sessões semanais a se estabelecerem nas últimas etapas 
do tratamento (ver capítulo 9).
Trata-se em suma que a terapia não fique entregue exclusiva­
mente à intuição e à improvisação sobre o seu andamento (2). 
Mas essas alternativas só podem ser previstas até certo ponto, por­
que de nenhum modo dever-se-á entender que todas essas medi­
das possuem um caráter rígido e inalterável, já que, pelo contrá­
rio, o terapeuta deverá ser dotado de uma flexibilidade tal que lhe 
permita modificar seus planos quando as circunstâncias o exijam, 
para poder enfrentar com eficácia as situações mutáveis e inespe­
radas que podem apresentar-se no decorrer do tratamento.
Finalmente, recordemos que o planejamento costuma ser fa­
cilitado e enriquecido pela participação nele, ao lado do terapeuta, 
dos demais profissionais que evcntualmente intervenham no tra­
tamento.
O intercâmbio de dados e idéias freqüentemente possibilita 
uma elaboração mais minuciosa, profunda e definitivamente mais 
adequada do projeto terapêutico, que além disso será comparti­
lhado precisamente por aqueles que devem colocá-lo em prática 
em seguida, o que resulta essencial para se obter eficácia terapêu­
tica. Por isso, em síntese, considero que quando numa terapia está 
envolvida uma equipe de especialistas (dois ou mais profissio­
nais), deve ser sempre esta, em conjunto, a encarregada de elabo­
rar o programa terapêutico.
Referências bibliográficas
1. A lex an d er, F., “A lcan ce d e la p s ico te ra p ia” , em F. A lex an d er e T. 
F rench , Terapêutica psicoanalítica, P a idós, B u en o s A ires , 1965.
2. ___ , “ E ficac ia dei co n tac to b re v e ” , em F. A lex an d e r e T . F ren ch , ob.
cit. em l ,c a p . IX .
3. F rench , T ., “ P lan ifícac ió n de la p s ico te ra p ia” , em F. A lex an d er e T. 
F ren ch , ob. cit. em 1, cap . V II.
6. O tratamento
Introdução
Uma vez cumpridas as etapas diagnostica e contratual, assim 
como a de planejamento, inicia-se o tratamento, que se apoiará 
dentro do possível em hipóteses psicopatológicas e terapêuticas 
consistentes e ao mesmo tempo em objetivos e enquadramento 
definidos.
Com relaçào aos diferentes aspectos de técnica concernen­
tes ao tratamento propriamente dito, considerar-se-á em primeiro 
lugar a relação paciente terapeuta, cujo estudo é ponto de parti­
da obrigatório para a compreensão dos temas subseqüentes; em 
seguida referir-me-ei à regra de funcionamento para o paciente, 
que terá de ser adotada no decorrer da terapia, e ao papel que 
nesta última poderia caber ao método psicanalítico de associação 
livre; depois abordarei o problema da atenção do terapeuta em 
relação à tarefa de focalização; de imediato, examinarei os ele­
mentos psicoterapêuticos verbais, dedicando uma maior exten­
são às interpretações, instrumento fundamental na P.B. psicanali- 
ticamente orientada; por último, figuram algumas reflexões acer­
ca das sessões e de outros recursos terapêuticos, entre os quais 
incluo aqueles em que minha própria experiência é maior (uso de 
psicodrogas e participação de familiares e/ou pessoas próximas 
do paciente).
84 Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
A relação paciente-terapeuta no tratamento breve
Referir-me-ei à relação terapêutica na psicoterapia dinâmica 
breve e às diferenças existentes entre ela e sua correspondente no 
tratamento psicanalítico. Tomarei como base um resumo que in­
clui a opinião de alguns autores acerca do tema.
Para compreender o porquê das particularidades do vínculo 
terapêutico em P.B., convém considerar primordialmente o que 
acontece em relação à transferência e à neurose transferenciai re­
gressiva1. Antes de passar a ver como podem ser manejadas em 
uma terapia breve de orientação psicanalitica, efetuaremos uma 
rápida revisão das características da relação terapêutica no trata­
mento psicanalítico, que servirá portanto para apontar diferenças 
significativas.
Há, no contexto psicanalítico, condições que facilitam o esta­
belecimento, o desenvolvimento e a análise da neurose transferen­
ciai regressiva, a qual, como disse antes (ver capítulo 3, p. 26), é 
fundamental no processo terapêutico. Assim observamos que:
O analista procura manter o anonimato - o que por sua vez 
contribui para criar um clima de ambiguidade - a fim de não en­
torpecer a produção dos fenômenos transferenciais; além disso, 
trata de adotar uma atitude neutra e relativamente distante, o que 
também implica promover no paciente uma situação de frustra­
ção-, o vínculo é marcadamente assimétrico, fato acentuado, entre 
outras coisas, pelo uso do divã.
Também no aspecto temporal, o enquadramento favorece a 
dependência regressiva, constando de várias sessões semanais e 
de uma duração do tratamento, em princípio, não limitada.
Com relação à situação espacial, a posição do paciente, dei­
tado no divã, encontra-se ligada a fenômenos regressivos, tais co­
mo o dormir e o meditar, e fomenta, além disso, o desenvolvimen­
to da neurose transferenciai, dado que, ao estar o paciente privado 
de ver o analista, o teste de realidade torna-se mais difícil.
A regra fundamental psicanalitica, queconsiste no emprego, 
por parte do paciente, da associação livre, determina neste, por si 
mesma, um funcionamento mental regressivo. Sob outro ponto de 
vista cabe acrescentar que, de acordo com Racker (37), ao impli­
car a abolição do rechaço às associações e à sua comunicação e a
0 tratamento 85
superação das resistências que por isso se vão produzindo, a regra 
fundamental incide na transferência na situação analítica, confe­
rindo-lhe uma intensidade particular, pois se produz, em conse- 
qüência, a projeção dos objetos internos no analista, especialmen­
te do superego.
O analista, por sua vez, emprega a atenção flutuante, tenden­
do assim a uma comunicação de inconsciente para inconsciente 
(17). Intervém verbalmente, partindo do material que o paciente 
traz de maneira espontânea, e sobretudo mediante a interpretação; 
ante os silêncios, costuma manter uma atitude de espera, permi­
tindo que se prolonguem.
As interpretações transferenciais são muito valorizadas, cons­
tituindo, para a maioria dos analistas, o instrumento técnico es­
sencial, e para alguns inclusive o único com efeitos modificado- 
res (4). Penso que tais interpretações encorajam o paciente à revi­
são minuciosa e profunda de suas fantasias transferenciais e pro­
movem a revivescência de situações infantis, favorecendo assim o 
desenvolvimento da neurose de transferência.
Na psicoterapia breve, em troca, devem desencorajar-se tan­
to o desenvolvimento da regressão como o da neurose transferen­
ciai (ver capítulo 3, pp. 27 s.), e inclusive faz-se necessário con­
trolar dentro do possível a intensidade dos fenômenos regressivo- 
transferenciais. Disso deriva uma série de medidas técnicas que 
conferem perfis próprios à terapêutica breve.
O vínculo que se estabelece com o paciente é mais realista e 
definido, já que a ambigüidade aqui é inconveniente (11), pois 
promove situações persecutórias e por isso regressivas. Uma rela­
ção mais baseada na realidade contrabalança as tendências ao es­
tabelecimento de uma relação transferenciai neurótica. Fiorini 
qualificou o papel que o terapeuta deve assumir na psicoterapia 
de esclarecimento (em boa medida equiparávei, de acordo com a 
descrição deste autor, à terapia dinâmica breve) como papel real 
de docente experiente, sublinhando assim o que seria, a seu ver, 
um dos aspectos mais importantes (7).
Por parte do terapeuta, e ao contrário do que ocorre no trata­
mento psicanalítico, existe uma maior proximidade afetiva, que 
se espera opere positivamente sobre o processo terapêutico. E que 
em princípio será preciso que se estabeleça rapidamente um bom
86 Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
rapport, sobretudo se se trata de uma terapia cujo tempo será limi­
tado; dever-se-á fomentar o rápido desenvolvimento de uma alian­
ça terapêutica, condição básica para aspirar ao êxito. O terapeuta 
deverá então, na medida do possível, mostrar-se moderadamente 
cálido, oferecer uma imagem confiável e demonstrar interesse pe­
los problemas do paciente.
A relação terapêutica exige a manutenção de um delicado 
equilíbrio entre gratificações e privações do paciente. Deve-se per­
mitir-lhe certo grau de gratificação de necessidades emocionais 
(por exemplo, respondendo às perguntas formuladas por ele [42]); 
do contrário corre-se o perigo de despertar ou incrementar - por 
causa do ressentimento provocado pela frustração - a produção de 
reações hostis passíveis de determinar um aumento das resistên­
cias, às quais não teremos tempo suficiente para nos dedicar. Gra­
tificá-lo em demasia pressupõe, do mesmo modo, certos riscos, 
tais como dificultar a integração da agressividade e favorecer a 
dependência (33).
Dever-se-á, em suma, tender à manutenção de uma relação 
transferenciai positiva sublimada ao longo de toda a terapia (2). 
Só assim poderemos esperar que o paciente assuma uma atitude 
de colaboração e possa aceitar e utilizar com proveito as interpre­
tações2. Sentimentos transferenciais de idealização muito intensos 
podem complicar e prolongar o tratamento; quando surgem, é 
preciso dissolvê-los prontamente mediante a tarefa interpretativa. 
Cabe dizer o mesmo a respeito da hostilidade e do erotismo trans­
ferenciais.
Finalmente, a relação será menos assimétrica que no trata­
mento psicanalítico.
O número reduzido de sessões semanais e a duração limitada 
e geralmente prefixada do tratamento breve desencorajam a re­
gressão.
A posição frente a frente, que é habitual em terapias breves, 
diferentemente do que se adota em psicanálise (emprego do divã), 
atua contrapondo-se às tendências do paciente ao desenvolvimen­
to da regressão e da neurose de transferência. (A percepção visual 
ajuda a que se situe na realidade.) Tal posição aparece, além disso, 
como a mais adequada ao tipo de comunicação que tem lugar en­
tre paciente e terapeuta nessas terapias, posto que se traduz num
O tratamento 87
intercâmbio verbal fluido, mais próximo de um diálogo corrente 
que o psicanalítico.
Temos recordado que a regra fundamental da psicanálise é um 
dos fatores que explicam a intensidade particular que a transferên­
cia adquire no tratamento psicanalítico. Como em P.B. se trata de 
evitar um efeito dessa natureza, considero que tal regra não deve 
ser empregada do mesmo modo que no tratamento psicanalítico. 
Mais adiante abordarei exaustivamente esse ponto (pp. 89 ss.).
Voltando ao tema da comunicação em P.B., é preciso assina­
lar a função ativa que o terapeuta tem de exercer, e que será deci­
siva para o alcance de bons resultados. Isto se deve em primeiro 
lugar à sua possível incidência no vínculo, coadjuvando na manu­
tenção de uma transferência positiva - em contraste com os efei­
tos que teria uma atitude menos participante, que pudesse gerar 
descontentamento ou hostilidade. Deve-se também ao fato de que 
um papel ativo tem importância para a gestão da focalização da 
tarefa terapêutica (14), dado que comumente é necessário alcan­
çar determinadas metas e se dispõe de tempo limitado para isso. A 
situação requer certa ativação egóica no paciente, que se consegue 
precisamente através desse funcionamento ativo, pois não pode­
mos esperar demasiado tempo para que vença, por si mesmo, suas 
dificuldades para se manter numa comunicação terapêutica pro­
dutiva e poder aprofundar-se no conflito em questão. O terapeuta 
simplesmente tenta agilizar o intercâmbio, procurando produzir 
um efeito catalisador no processo terapêutico. Ao mesmo tempo 
deve dedicar-se desde o começo e plenamente a ajudar o paciente 
a resolver situações perturbadoras de sua vida diária. Com tal fim, 
recorrerá com ffeqüência a intervenções não-interpretativas. For­
mulará perguntas, assinalamentos, efetuará sugestões, oferecerá 
informações. Às vezes terá de tomar a iniciativa na comunicação 
(12), propondo o tema a ser tratado. (Exemplo: “Vejamos aquilo 
que você mencionou de passagem na última sessão.” Ou por meio 
de perguntas: “Como passou este fim de semana? Aconteceu al­
guma coisa especial?”.) E quanto às interpretações, têm de estar 
dirigidas fundamentalmente ao esclarecimento da conflitiva fo­
cal3. Em suma, o papel do terapeuta é mais ativo e diretivo que na 
técnica psicanalítica no que concerne à atitude ante o material que 
o paciente traz. O terapeuta encaminha a exploração em uma de-
88
terminada direção, escolhendo entre o material aquele relativo ao 
foco e descartando o extrafocal4.
Em certas ocasiões, pode caber ao terapeuta uma participa­
ção decididamente ativa e direta nos problemas atuais do pacien­
te. Por meio de sugestões, poderá incidir em alguma medida sobre 
eles. Assim, por exemplo, ante uma situação fobígena talvez con­
sidere necessário, depois que o paciente alcançou certa com­
preensão psicológica do conflito, estimulá-lo a enfrentá-la (27) 
(49), atitude avalizada já desde 1918 por Freud, com suas reco­
mendações acerca do tratamento das fobias (21), e posteriormente 
adotada por muitos profissionais na terapia psicanalitica. A res­
peito disso, expressaHaley: “A psicanálise dos tempos de Freud 
não era somente mais breve, mas também mais ativa. Freud esco­
lhia o tema sobre o qual um paciente tinha de associar e quando 
este obtinha algum insight do problema sugeria-lhe que se mos­
trasse ativo em sua vida pessoal, agora que já dispunha de tal 
conhecimento” (26)\ (Os grifos são meus.)
Em geral evita-se o prolongamento excessivo dos silêncios, 
não só porque incrementa a ansiedade e a conseqüente regressão 
(42), mas também porque se trata de utilizar operativamente o 
tempo disponível. Em particular, os silêncios prolongados do te­
rapeuta podem provocar hostilidade transferenciai devido à frus­
tração ocasionada.
Ante a posição frente a frente entre terapeuta e paciente, tam­
bém adquirem significação as manifestações pré-verbais do pri­
meiro. E necessário levar em conta a repercussão dos seus gestos 
e de sua atitude corporal no paciente se se pretende propiciar a 
produção de uma aliança terapêutica. Wolberg recomenda que o 
terapeuta dê “livre expressão à sua mímica facial” (48). E claro 
então que essas contribuições ao processo de tratamento, que po­
deriamos chamar de expressões terapêuticas do terapeuta, como 
o olhar atento e os gestos que revelam interesse pelo relato do 
paciente, serão benéficas, desde que sejam espontâneas e não-es- 
tudadas.
Por último, o tratamento efetuado no contexto institucional e 
o uso de diferentes recursos terapêuticos, com eventual participa­
ção de outros profissionais ligados ao campo da saúde mental, são 
fatores que contribuem para modificar as condições da relação
Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
0 tratamento 89
terapêutica, já que introduzem diversas variantes no campo dos 
fenômenos transferenciais e eontratransferenciais, marcando no­
vas e substanciais diferenças com o que acontece na psicanálise 
individual (7) (14).
Uma regra básica de funcionam ento em psicoterapia 
breve de orientação psicanalítictt
Na técnica psicanalítica, Freud instituiu o método da associa­
ção livre, pelo qual o paciente deve comunicar ao analista o que 
lhe ocorrer, quer dizer, todos os pensamentos que assomem à sua 
mente, sem nenhuma restrição. A livre associação é, junto com os 
sonhos c os atos falhos, uma via facilitadora de acesso ao incons­
ciente, e ao reger de modo praticamente ininterrupto no decorrer 
do tratamento psicanalítico, configura o que Freud chamou de 
“regra fundamental”.
No terreno das terapias de tempo e objetivos limitados sur­
gem várias interrogações relacionadas com este tema: 1) Qual 
deve ser a regra de funcionamento para o paciente? 2) Que papel 
há de lhe caber no procedimento da livre associação? Deve-se 
deixá-la completamente de lado ou, pelo contrário, é necessário 
empregá-la? Neste último caso, como, do mesmo modo que no 
tratamento psicanalítico ou diferentemente?
Revisando as obras mais destacadas da bibliografia corres­
pondente à psicoterapia breve de orientação psicanalítica, desco­
brimos que, apesar de se tratar de um aspecto técnico de decisiva 
importância, ou se tem omitido toda a referência à regra da asso­
ciação livre (abundando em troca as considerações sobre outros 
temas, tais como o papel da transferência, o das interpretações, 
etc.) ou no máximo registram-se alguns pontos de vista em torno 
da mesma - em geral no sentido de não utilizá-la - na maioria das 
vezes formulados “de passagem” e com certo caráter dogmático. 
Vejamos alguns deles: “(...) é desacertada essa atitude passiva e 
abstencionista, como também o é a associação livre (...)”; “Em 
geral, a falta material de tempo não nos permite empregar os 
recursos tradicionais da associação livre, passividade e anonima­
to”. (L. Wolberg [48]. Os grifos são meus.) “Não acredito nesses
90 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
tratamentos difusos, em que o paciente se senta para discutir a seu 
bel-prazer qualquer tema que se apresente e a falar praticamente 
de tudo o que aconteceu e vai acontecer, sem uma idéia diretriz, 
sobretudo em se tratando de uma psicoterapia breve” (Hoch [28]). 
“Na psicoterapia rápida, a associação livre, enquanto tal, não é 
um instrumento essencial” (Bellak e Small [2]).
Também Malan, em sua obra sobre psicoterapia breve, sus­
tenta que a indicação que se dá ao paciente de “dizer o que lhe 
venha à mente” raramente parece ser necessária. Em outra parte 
do livro, fala em desencorajar a associação livre (34).
No meu entender, não se explicitam claramente os funda­
mentos em que se sustentam esses critérios7. De minha parte, da­
rei minha opinião acerca dos problemas que aqui se colocam e 
que considero que requerem um estudo mais minucioso.
O emprego constante do método da associação livre 
(“regra fundamental” da psicanálise) nos tratamentos breves
Começarei por examinar as vantagens e as desvantagens que 
acarretaria o uso constante (desde o começo do tratamento e de 
modo praticamente contínuo, durante o mesmo, tal como se faz no 
tratamento psicanalítico) da associação livre em terapias breves.
Analisaremos primeiro as desvantagens. Já recordei os con­
ceitos de Racker (p. 84) no sentido de que a abolição do rechaço 
às associações e à sua comunicação por parte do paciente, pelo 
emprego da associação livre, determina uma maior intensidade 
de transferência no tratamento psicanalítico, ao dar lugar à ime­
diata projeção dos objetos internos no analista, em especial do su- 
perego (37). Esse fato é conveniente para o tratamento psicanalíti­
co, mas não para a P.B., já que no caso desta última nosso propósi­
to é o de proteger o paciente tanto da regressão como da neurose 
de transferência.
A associação livre no processo psicanalítico favorece a re­
gressão e constitui em si mesma um funcionamento mental re­
gressivo, assemelhando-se a fenômenos como a meditação e o 
sonho. Produz efeitos regressivos, tais como: a) Incrementar as 
ansiedades paranóides (entre outros motivos, pela projeção do
910 tratamento
superego sobre o analista e o temor ao próprio e desconhecido que 
poderá emergir), situação que, imagino, além de certo nível pode 
perturbar consideravelmente um tratamento de duração breve, b) 
Gerar uma atmosfera de ambigüidade, inadequada a essas tera­
pias. c) Conduzir o paciente à dispersão, quer dizer, levado pelo 
curso de suas associações, ele se desvia excessivamente das situa­
ções conflitivas a serem tratadas (sem maior aproveitamento do 
tempo em função do problema central do tratamento). Desse mo­
do, também abre brechas no paciente, pois permite que aflore 
material vinculado a outros conflitos relativamente alheios ao foco, 
inclusive os inerentes a situações ou etapas arcaicas, que ficam 
então a descoberto. Finalmente isso leva a acentuar a dependên­
cia regressiva em relação ao terapeuta, a qual, em terapia breve, 
reitero, deverá ser desencorajada8.
Em suma, o emprego constante do método da associação 
livre no tratamento intensificaria os fenômenos transferenciais- 
regressivos até um ponto indesejável, pelo que, a meu ver, na 
maioria dos casos não me parece recomendável.
Mas cabe agora examinar as vantagens de se adotar a “regra 
fundamental”. Seriam definidas desde já, pela facilitação do aces­
so aos conteúdos inconscientes. Sua aplicação pode ser especial­
mente útil quando se trata de pacientes com excessiva tendência à 
intelectualização, pois nesse caso a defesa pode ser incrementada 
se têm de se referir a um tema determinado (à situaçâo-problema), 
fato que pode resultar propício no tratamento para ser utilizado 
como o “argumento” ou “libreto” conhecido de antemão. Talvez 
seja essa uma das poucas situações de exceção em que se poderia 
apelar para o uso da “regra fundamental”’.
Em grupos de discussão, alguns colegas me assinalaram a 
possibilidade - e suposta conveniência de que em terapias bre­
ves todo paciente se ajustasse permanentemente à livre associa­
ção sempre que o terapeuta recorresse a intervenções focalizadas, 
mostrando-lhe a relação - ou, pelo contrário, a desconexão - domaterial com a problemática principal do tratamento, com o que 
se respeitaria a essência do procedimento em seu caráter de tera­
pêutica focal. Sem dúvida, embora não duvide de que antes de 
mais nada é preciso que seja o terapeuta quem não perca de vista 
os objetivos do tratamento, e por conseguinte o que corresponde à 
conflitiva focal - o motivo de preocupação não deve ser tanto que
92
o paciente “saia do foco”, mas sim que o terapeuta se descuide de 
relocalizá-lo nele; acrescento a este requisito os benefícios que 
comumente oferece o fato de que também o paciente concentre 
sua atenção desde o princípio nos problemas a resolver, e não 
creio que as vantagens provenientes do uso da associação livre, 
por exemplo, a eventual conexão entre as associações espontâneas 
e os elementos focais, sejam argumento suficiente para seu em­
prego sistemático e constante, dados os inconvenientes que o 
mesmo pode acarretar e que já foram assinalados10. Por outro la­
do, até agora, ainda que seja possível que no caso de uma situação 
traumática de reconhecida eficácia patogênica as associações 
livres do paciente girem em sua grande maioria em torno dela, 
como o atesta a experiência clínica psicanalítica (com as denomi­
nadas neuroses traumáticas, por exemplo), o certo é que nem 
todos os casos tratáveis por meio da P.B. pressupõem a presença 
de tal situação claramente definida e de suficiente intensidade 
traumática, razão pela qual a utilização da “regra fundamental” 
psicanalítica podería dar lugar em alguns momentos ao aprofun­
damento na estrutura focal, como em outros - e insisto neste 
aspecto - ao afastamento dela, quer dizer, a “enveredar por outros 
caminhos”, com as conhecidas conseqüências.
Assim sendo, o que pode ocorrer na prática das terapias bre­
ves? Que o papel ativo e focalizador desempenhado pelo terapeu­
ta, característica dominante dessas terapias, se interponha reduzin­
do ou até deixando sem efeito a associação livre espontânea do 
paciente, quer dizer, entrando em aberta contradição com esta 
como método dc trabalho. O terapeuta, com suas freqüentes inter­
venções, graças às quais promove a ativação egóica no paciente 
(não só através de assinalamentos e interpretações, mas também 
sugerindo temas ou fazendo perguntas, isto é, atuando de modo 
mais diretivo no que diz respeito à orientação que deverá imprimir 
ao pensamento do paciente em direção a uma problemática deter­
minada), estimulará, sim, neste, o que Fiorini chamou de “associa­
ções intencionalmente dirigidas”. (“Operativamente, a focalização 
conduz a trabalhar sobre associações intencionalmente dirigidas, 
mais do que sobre associações livres”, afirma este autor [8]".)
Assim mesmo, e em boa medida, a posição frente a frente, 
que é a usual nessas terapias, costuma perturbar a associação livre,
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
0 tratamento
propiciando antes o estabelecimento de uma comunicação em que 
predomina o processo secundário e portanto mais aproximada do 
que seria um diálogo corrente.
Adoção de uma regra básica de funcionamento 
para psicoterapias breves
F. Fromm Reichman (22) escreveu: “Muitos psicanalistas 
consideram que uma quantidade suficiente de material dissociado 
reconhecível chega à superfície e pode ter acesso à consciência no 
intercâmbio psicoterapêutico mais dirigido.” Isso significa que, 
por mais que a associação livre favoreça a exploração do incons­
ciente, isso não implica que sem sua ajuda esta não seja exeqüível.
Além disso, o natural e lógico para o paciente é ter que falar 
ante o terapeuta fundamentalmente de seus sintomas e situações 
conflitivas. Se a norma de funcionamento se baseia nessa premis­
sa, a comunicação se verá em geral facilitada, gerando-se um 
menor montante de ansiedade paranóide. Podemos assim dedicar- 
nos de maneira seletiva a seus sofrimentos atuais, os quais terão 
de se converter em tema primordial da terapia (focalização). Por 
esses motivos, costumo formular uma prescrição de trabalho para 
os pacientes antes de começar o tratamento breve que consiste no 
seguinte: esclareço-lhes que poderão falar do que desejem, mas 
que em princípio convirá que se refiram preferencialmente a tudo 
aquilo que suponham ter alguma relação com os problemas que 
combinamos abordar (poderá tratar-se tanto de relatos acerca de 
fatos atuais da vida deles, como de recordações, pensamentos 
variados, fantasias, vivências e sonhos).
Uso operativo do método da associação livre 
nos tratamentos breves
Será necessário descartar quase por completo a utilização da 
associação livre em terapias breves? Penso que não. Do mesmo 
modo que com outros recursos da técnica psicanalítica, podere­
mos apelar para esses métodos em determinadas circunstâncias.
94
Em minha experiência pessoal, venho ensaiando isso de maneira 
isolada nos tratamentos - tendo-me resultado de suma utilidade - 
perante a emergência de certo material que impressionava como 
significativo e sobretudo podia supor-se - ou inclusive compro­
var-se - estar ligado à estrutura focal (podendo relacionar-se a um 
sonho, ao aparecimento de um determinado sintoma, sentimento, 
fantasia, ato falho, etc.)12. Nesse momento, convidava o paciente a 
me comunicar as associações que iam surgindo a partir desse 
material. Essa instrumentalização seletiva do método da associa­
ção livre permite seu aproveitamento, já que é possível exercer 
certo controle sobre os efeitos regressivos que seu emprego pode­
ría provocar, diferentemente do que resultaria se utilizado cons­
tantemente13.
A flexibilidade de que o terapeuta deverá fazer uso há de pos­
sibilitar-lhe a opção de utilizar este recurso técnico quando o con­
sidere oportuno e ante pacientes capazes de responder positiva- 
mente ao mesmo14. A manobra em questão tem naturalmente a in­
tenção de aprofundar-se no material correspondente ao foco tera­
pêutico e ffeqüentemente permite ratificar, ampliar ou corrigir as 
hipóteses psicodinâmicas em jogo, com base no obtido.
Dessa maneira, também seríamos consequentes a respeito 
desse ponto com o que Freud propunha em 1918, quer dizer, a 
aplicação nas psicoterapias de elementos tomados da psicanálise, 
mas mediando uma tarefa de “adaptar nossa técnica às novas con­
dições” (21).
Em resumo e com respeito ao destino do método da associa­
ção livre como recurso técnico no campo das terapias breves, não 
considero adequado o emprego sistemático do mesmo - salvo es­
cassas exceções - e creio necessário alertar a respeito de tal 
emprego quando corresponde a uma simples transposição da téc­
nica psicanalitica corrente e carece de fundamentos válidos. Des­
taco, sim, os benefícios de um uso limitado e seletivo do procedi­
mento no tratamento breve, sugerindo-o com determinados pa­
cientes e em determinadas circunstâncias, definidas pelo surgi­
mento de algum elemento significativo, a partir do qual poderá ter 
lugar o processo associativo, a fim de se aprofundar na conflitiva 
focal.
Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
0 tratamento 95
Conformação definitiva de uma regra de funcionamento 
para psicoterapias breves
Finalmente, à norma ou prescrição de trabalho antes propos­
ta (p. 93), segundo a qual a principal contribuição do paciente será 
fornecer todo tipo de material que chegue a relacionar com seu 
sofrimento atual, poderia então agregar-se a explicitação do even­
tual emprego do método da associação livre em alguns momentos 
da terapia - ainda que, repito, só em caso de pacientes que reve­
lem atitudes egóicas suficientes para que tal emprego traga bene­
fícios . informando-se em detalhe em que consiste o mesmo 
antes de começar o tratamento.
A citada norma de funcionamento se ajustaria às condições 
próprias da terapia breve. Considero que em grande medida, as­
sim como a “regra fundamental”, no dizer de Laplanche e 
Pontalis, “estrutura a situação analitica” (32) (“Regra fundamen­
tal”, p. 370), esta norma poderia selar as caracteristicas essenciais 
da relação terapêutica naterapia breve psicanaliticamente orienta­
da, definindo muito especialmente seu próprio focalizador.
Digressões sobre a focalização e a atenção do terapeuta
Tem-se dito que na terapia focal o terapeuta deve empregar 
uma atenção seletiva, em virtude da qual tende a conservar men­
talmente um foco (na descrição de Malan, a interpretação central 
em torno da qual deve girar todo o tratamento). Ao mesmo tempo, 
o terapeuta se concentra de preferência no material que aparece 
mais diretamente ligado à problemática focal, conduz o paciente 
ao foco através do trabalho interpretativo e descarta o material 
distanciado dele (34); tal estado de atenção seletiva parece certa­
mente o oposto da atenção flutuante recomendada por Freud, de 
acordo com o qual o analista deve escutar o analisando, evitando 
na medida do possível privilegiar algum aspecto do material, quer 
dizer, sem focalizar sua atenção, sendo sua finalidade poder des­
cobrir neste as conexões inconscientes (17). Sem dúvida, conside­
ro que o emprego de atenção seletiva em P.B. de nenhuma maneira 
deve implicar a ausência total de atenção flutuante por parte do
96 Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
terapeuta. Resulta bastante útil em muitos momentos recuperar 
justamente a atenção flutuante, que ao ver-se inevitavelmente 
dificultada de maneira parcial pela necessidade estratégica de fo- 
calização, de planejamento e de um papel ativo do terapeuta 
(antes de tudo, o estar cara a cara, o que torna muito mais difícil 
mantê-la, já que devemos controlar nossa mímica, às vezes não 
muito apropriada para a ocasião quando nos abandonamos à aten­
ção flutuante), não deve por isso ficar anulada no decorrer do pro­
cesso terapêutico toda vez que desejamos preservar em alguma 
medida um método mais depurado de exploração do inconsciente, 
o qual requer seu concurso. Sustento que é possível, pois, valer-se 
dela, justamente para facilitar o aprofundamento na mesma con- 
flitiva focal, c ainda para a produção de interpretações focalizadas 
a partir da contribuição que oferecem as associações espontâneas 
do terapeuta diante do material focal do paciente.
Não se empregando a atenção flutuante, o tratamento breve, 
no meu entender, corre o risco de se reduzir automática e exclusi­
vamente a uma terapia do pré-consáente, podendo estereotipar- 
se consideravelmente o intercâmbio verbal terapeuta-paciente e 
empobrecer-se o procedimento em suas possibilidades terapêuti­
cas. Se se prescindir por completo da atenção flutuante, assim 
como da associação livre, a comunicação terapêutica não seria em 
momento algum - aceitemo-lo ou não a partir de um ponto de 
vista terapêutico, mas antes de mais nada coloquemo-lo clara­
mente - de inconsciente para inconsciente, como em troca se pro­
cura que seja no tratamento psicanalítico, o qual se sustenta, para 
isso, na associação livre do paciente e, em contrapartida, na aten­
ção flutuante do analista (17). Penso que nessas circunstâncias 
poder-se-ia questionar muito mais severamente que em outras - e 
com direito - a existência de algum grau de insight e de elabora­
ção do paciente nessas terapias, obstacularizados ou impedidos 
ambos pelo tipo de comunicação estabelecida.
A atenção flutuante do terapeuta, flexivelmente utilizada em 
P.B., não traz, a meu ver, consequências desfavoráveis para o tra­
tamento, muito pelo contrário. Embora retomemos periodicamente, 
quando seja necessário, à atenção seletiva e implementemos os 
resultados da atenção flutuante para gerar intervenções focaliza­
das, nada arriscaremos. Tratarei em seguida de esclarecer um 
pouco mais esses conceitos.
0 tratamento 97
Sob essa perspectiva chegamos à proposta do que seria no 
terapeuta uma combinação sucessiva, operativa e flexível de mo­
mentos de atenção flutuante, seguidos de momentos de atenção 
mais seletiva, que se alternam de acordo com as vicissitudes da 
comunicação terapêutica, ainda que sempre se dê no final um 
retorno ao estado de atenção seletiva focal. Como norma elemen­
tar, poderiamos estabelecer que toda vez que se solicitem associa­
ções livres ao paciente, tem-se de escutá-lo em estado de atenção 
flutuante (qualquer outra atitude implicaria neste caso uma incoe­
rência técnica, pois se nos decidirmos a procurar que circunstan­
cialmente o paciente vença a censura existente entre seu conscien­
te e seu pré-consciente, não vamos incorrer no erro de substituí- 
la, antepondo nossa própria censura às suas comunicações, efe­
tuando uma seleção à qual o paciente tenha renunciado [17]). No 
entanto, isso não significa que o emprego da atenção flutuante em 
P.B. tenha de reduzir-se somente a tais circunstâncias. Creio que 
de maneira geral o que poderia embasá-la como requisito básico 
seria o surgimento de material presumível ou - melhor ainda - 
claramente relacionado (pelo terapeuta) com o focai, tenha sido 
tal material trazido de modo espontâneo pelo paciente, tenha apa­
recido como conseqüência de intervenções focalizadoras do tera­
peuta (perguntas, assinalamentos, interpretações, pedidos de as­
sociação livre a partir de um elemento, etc.). Uma possível se- 
qüência ilustrativa da combinação dos tipos de atenção que pro­
ponho para o trabalho focalizador é a seguinte: em virtude de sua 
atenção seletiva, o terapeuta distingue um elemento focal signifi­
cativo no material do paciente (relativo a um sonho, por exemplo). 
Em seguida, solicita-lhe associações livres partindo de tal ele­
mento e se dispõe então a escutá-las com atenção flutuante. Em 
seguida se dá, por exemplo, o passo na direção da gestação de 
uma interpretação, como conseqüência da atividade pensante do 
terapeuta que tem lugar nesse momento (associações, conexões, 
sínteses, etc.), com retorno final à focalização (atenção seletiva 
focal) para a conseqüente seleção interna voluntária entre as 
linhas interpretativas (quando surge mais de uma) do que se rela­
ciona ao eixo terapêutico, de onde poderá sobrevir - ou não - a 
formulação de uma interpretação, que tem de ser focalizada. Esta 
poderá, por sua vez, ter como resposta: a) a emergência de mate-
98
rial focal (associações dirigidas) (8), ante o que o terapeuta tem 
de abandonar-se igualmente à atenção flutuante e reiniciar o 
ciclo, ou, então, b) resistencialmente, o distanciamento do foco, 
o qual, ao transcorrer certo tempo e ser corroborado pelo tera­
peuta, que voltou a focalizar - automaticamente - sua atenção, o 
levará a reencaminhar o paciente ao foco, por exemplo, com um 
assínalamento. Em síntese, material do paciente —> focalização 
baseada na atenção seletiva do terapeuta —» pedido de associa­
ção livre ao paciente —» atenção flutuante do terapeuta —> gesta­
ção da interpretação: atividade pensante com trabalho final de 
seleção interna do terapeuta (atenção seletiva focal) —»interpre­
tação focalizada -> material focal atenção flutuante do tera­
peuta, etc.
Mas não podemos extrair algo mais dessa exemplificação? 
De fato, ela mostra que a atenção seletiva serve basicamente para 
efetuar uma seleção do material do paciente (em razão de nosso 
interesse seletivo na problemática focal daquele), mas que na rea­
lidade a dita seleção segue uma recepção, em estado de atenção 
flutuante, por parte do terapeuta, do material focal que sobrevêm 
em continuação, e que é empregando essencialmente esta forma de 
atenção, a flutuante, que o terapeuta desenvolverá seu trabalho 
interpretativo. Desse modo, a noção de atenção seletiva na psico­
terapia focal também encerra no fundo a presença de estados de 
atenção flutuante do terapeuta (no conceito antes mencionado, de 
que a atenção seletiva pressupõe a concentração preferencial do 
terapeuta no material ligado à problemática focal, estaria implícito 
o emprego da atenção flutuante para a recepção de tal material). 
Esta é a forma pela qual pessoalmente concebo o que sucede - ou 
deveria suceder com a atenção do terapeuta na psicoterapia focal, 
e que me parece sumamente necessário explicitar, já que os diver­sos autores que vêm se referindo a essa técnica se ocuparam pouco 
ou nada de aclarar esse tema - da mesma maneira que o relativo à 
associação livre apesar da sua indubitável importância.
Os pacientes que têm certa capacidade para centrar-se na con- 
flitiva focal nos eximem de maiores preocupações e esforços para 
orientá-los em direção a ela, facilitando-nos o exercício de nossa 
atenção flutuante (isto se apresenta do mesmo modo diante dos 
quadros de neuroses traumáticas, nos quais com freqüência a
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
O tratamento 99
maior parte do material trazido está vinculada mais ou menos 
diretamente à situação traumática, inerente ao foco terapêutico).
Em suma, a atenção flutuante em P.B. pode ser empregada 
em diferentes momentos terapeuticamente significativos de nosso 
trabalho15.
A combinação que sugiro tem seu correlato no que foi pro­
posto para o paciente, quer dizer, colocação seletiva consciente de 
material focal e associações livres a partir de um elemento focal.
A combinação atenção flutuante/atenção seletiva, que pare­
cería difícil de concretizar na prática, pode dar-se em grau satisfa­
tório e de modo quase espontâneo em terapeutas convenientemen­
te treinados. Há uma regulação, que com o tempo se torna auto­
mática, da atenção, segundo as formas em que se vão dando as 
seqüências. Vale a pena preservar nesses procedimentos certo grau 
de atenção flutuante, capitalizada, como vimos, para os fins de 
aprofundar a elucidação dos psicodinamismos focais e de dar 
lugar à produção de intervenções focalizadas, tudo isso possibili­
tando o progresso terapêutico.
Elementos psicoterapêuticos verbais
Generalidades
Em P.B., as intervenções verbais do terapeuta devem reunir 
três condições básicas:
1?) Manter certa coerência interna (7) (13). Isso quer dizer 
que de um ponto de vista dinâmico não é admissível que haja con­
tradições no emprego das diferentes intervenções do terapeuta, as 
quais devem responder a uma estratégia terapêutica elaborada de 
acordo com as necessidades de cada caso. E inaceitável, por 
exemplo, que às intervenções tendentes a desencorajar a regres­
são se sigam outras que, pelo contrário, a favoreçam. Quando se 
cometem tais erros tem-se a impressão de que a terapia breve se 
converte num expoente da improvisação e da imprudência.
2?) Constituir-se de uma proporção elevada de intervenções 
não-interpretativas. Os assinalamentos, perguntas e comentários
100
que estimulam o intercâmbio verbal têm de ser empregados com 
uma freqüência maior do que na psicanálise tradicional, a fim de 
contrabalançar os efeitos da estimulação da dependência que um 
uso quase exclusivo de interpretações poderia trazer associado. 
Considera-se desse modo que se deva reafirmar uma relação tera­
peuta paciente em termos de realidade e de uma menor assime­
tria. Por outro lado, apelar com freqüência para intervenções não- 
interpretativas constitui uma clara expressão do papel ativo e 
focal izador do psicoterapeuta nesse tipo de terapia.
3°) Estar focalizadas. As intervenções, interpretativas ou 
não, deverão estar de preferência focalizadas, quer dizer, dirigidas 
seletivamente à problemática focal16. Dessa maneira serão tam­
bém focalizadoras em seus efeitos, já que estimulam a colocação 
por parte do paciente de material relacionado com o foco. Trata- 
se de uma premissa essencial dessas terapias, mediante a qual se 
procura centralizar o trabalho terapêutico nos problemas vitais e 
atuais do paciente e não abrir nele outras brechas, como acontece 
quando se segue uma direção definida e previamente incluída nu­
ma estratégia terapêutica determinada.
Dentre as diferentes intervenções do terapeuta, me ocuparei 
detalhadamente das interpretações, mencionando sucintamente as 
restantes.
As interpretações na psicoterapia breve 
de orientação psicanalitica
Ainda é objeto de viva discussão tudo o que concerne às 
interpretações em P.B. Examinarei aqui as contribuições de di­
versos autores e exporei, além disso, meus pontos de vista a res­
peito.
A apresentação do tema será feita na seguinte ordem:
a) Introdução.
b) Interpretações e transferências.
c) Variantes qualitativas nas interpretações. Atenuação dos 
efeitos regressivos.
d) Interpretação dos sonhos.
e) O terapeuta diante do trabalho interpretativo.
Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
0 tratamento 101
a) Introdução
Em primeiro lugar pode-se colocar a que lugar, em ordem de 
importância, corresponde a interpretação como instrumento 
terapêutico na P.B. de orientação psicanalítica. A meu ver deve ser 
a ferramenta fundamental, pois o objetivo principal continua sen­
do a busca de insight no paciente (sem que por isso se desconheça 
a incidência de outros mecanismos terapêuticos, que em minha 
opinião têm um papel secundário). Não obstante, cabería insistir 
em algumas considerações a respeito. Se aceitamos, partindo das 
idéias de Rogers (40), que toda interpretação, seja ou não “trans­
ferenciai”, favorece o estabelecimento de uma relação acentuada- 
mente dependente do paciente em relação ao terapeuta, parece 
conveniente que em P.B. as interpretações, sem deixar de ser, 
como na psicanálise, o elemento terapêutico essencial, se alter­
nem em maior medida com outros tipos de intervenção verbal 
(assinalamentos, perguntas, sugestões, etc.), capazes de relocali- 
zar o paciente uma vez ou outra em sua condição de adulto e nu­
ma relação menos assimétrica com o terapeuta. Numa palavra, é 
desejável que o tratamento não se reduza a um emprego exclusi­
vamente sustentado ou baseado em interpretações, por serem es­
tas indutoras da dependência regressiva.
Quanto à sua profundidade17, minha impressão é de que 
habitualmente é limitada pelas próprias características do enqua­
dramento. Existem, por exemplo, dificuldades para se exercer 
controle sobre as ansiedades que o paciente sofre por efeito das 
interpretações, dado o número relativamente reduzido de sessões 
semanais e, comumente, o curto prazo do tratamento. Além dis­
so, interpretações “profundas” podem, em certas ocasiões, indu­
zir a estados regressivos de certa consideração; será preciso tam­
bém contar com a possibilidade de que se produzam reações des­
favoráveis pelo incremento das resistências. Pois bem, em algu­
mas oportunidades, um tratamento coloca a necessidade de se 
atingirem certos niveis de profundidade para que os objetivos 
terapêuticos propostos possam ser alcançados. E conveniente 
então avaliar antes a capacidade do paciente para assimilar inter­
pretações desse teor, efetuando-se ocasional e prudentemente 
como experiência (48)18.
102 Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
O trabalho terapêutico na P.B. de insight é limitado em com­
paração com o que tem lugar na análise. Poderiamos dizer que o é 
tanto na superfície (ao ser focalizado) como em profundidade 
(não abarcando certos aspectos dos conflitos centrais do trata­
mento, sobretudo os que se acham ligados a conteúdos muito re­
primidos). Além disso, ignora a maior parte das manifestações 
inerentes à neurose de transferência, a qual, como sabemos, al­
cança pouco ou nenhum desenvolvimento no tratamento breve.
b) Interpretações e transferências
Um dos aspectos mais importantes e polêmicos da teoria da 
técnica da P.B. diz respeito aos tipos de interpretação que devem 
ser utilizados no que se refere à transferência ou, melhor dizendo, 
às transferências19.
Examinaremos, agora, os pormenores do uso das denomina­
das interpretações “transferenciais” e “extratransferenciais”20.
Interpretações "extratransferenciais "
Em primeiro lugar, vamos analisar o papel das interpretações 
“extratransferenciais” na terapêutica breve, as que na técnica psi- 
canalítica não costumam ser levadas muito em conta ou são dire­
tamente desestimuladas. A meu ver podem configurar sem dúvi­
da um recurso válido, usual e importante no trabalho interpretati- 
vo, e não carecem de valor para o tratamento psicanalítico. Isso 
obedece ao fatode que, em matéria de terapias breves, devemos 
nos dedicar à tarefa de resolver problemas atuais da realidade 
externa do paciente mediante a análise e a conseqüente busca de 
insight a respeito da natureza das situações conflitivas que apre­
sentam suas transferências, desenvolvidas em qualquer pessoa 
com quem se relaciona em sua vida diária (cônjuge, filhos, pais, 
chefes, etc.).
Mas o emprego dessas interpretações parece requerer toda­
via fundamentos teóricos suficientemente sólidos. O que ocorre é 
que em psicanálise as interpretações “extratransferenciais” quase 
sempre têm sido, como disse antes, subestimadas, atribuindo-se-
0 tratamento 103
lhes um valor muito secundário na cura, em comparação com as 
“transferências”. Um claro exemplo disso é a posição adotada por 
Strachey (41). Entre nós, Guiter, partindo da revisão de pontos 
essenciais do pensamento freudiano, expõe conceitos que permi­
tem reivindicar as interpretações “extratransferenciais” em sua 
significação terapêutica dentro do tratamento psicanalítico (25). 
Esse autor resgata seus fundamentos teórico-técnicos, o que se 
reveste de singular importância, já que disso dependerão em gran­
de parte a validade e o alcance terapêutico que adjudiquemos à 
técnica breve que apele frcqüentemente para as interpretações 
mencionadas.
Dos pensamentos de Guiter acerca das interpretações não 
relacionadas com o analista, tenho selecionado aqueles que me 
parecem mais eloqüentes e ilustrativos (25). Em que pese sua ex­
tensão, quero transcrevê-los, pois sua menção resulta mais que 
oportuna ao abordar este tema:
“A análise é uma investigação do inconsciente. Não da trans­
ferência, nem das recordações, nem de nenhuma circunstância em 
particular.”
Depois começa a expor seus pontos de vista em tomo das 
interpretações que operam “centrando o ponto de urgência fora da 
transferência ao psicanalista”, as que fazem alusão a “transferên­
cias” a outras pessoas em relação atual, passada ou futura com o 
paciente (ainda vou enfatizar - esclarece - as interpretações que 
se referem à vida atual do paciente, contemporâneas à situação 
analítica, por serem as mais descuidadas pela psicanálise em seu 
esquema teórico). Ao dizer isto - continua Guiter - vou afastar- 
me da maneira tradicional de trabalhar (talvez melhor do que tra­
balhar, devesse dizer teorizar acerca de técnica, dado que as 
necessidades da prática psicoterapêutica obrigam o analista a sair 
e ampliar sua estreita margem conceituai) de muitos psicanalistas 
de nosso país, nesse momento (1973) em que trabalham partindo 
da hipótese de que tudo o que o paciente diz se refere ao analista, 
e que a meta da análise é a busca do objeto transferido para este 
em suas múltiplas variantes e em seu interjogo com o analisado. 
Não estou de acordo com essa maneira de trabalhar. Freud confe­
ria grande valor à transferência, mas, a meu ver, como elemento 
incluído dentro de uma totalidade englobada pela reconstrução,
104 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
que inclui também o histórico próximo e distante da vida do 
paciente. O “aqui, agora e comigo” é, para mim, somente uma 
parte do processo analítico.
“O paciente vem à sessão estimulado pela angústia ocasiona­
da por um determinado problema com raízes no passado e estimu­
lado a partir do presente. Esse presente pode estar constituído 
pelo próprio analista ou por qualquer estímulo do dia ou dias ante­
riores (equiparando-o a um sonho, o elemento estimulador pode 
ser comparado a um resíduo diurno).”
“(...) De modo que, quando um paciente vem à sessão pode 
chegar estimulado por excitações que ultrapassam sua capacidade 
de elaboração (e que traz para elaborar na sessão), e essas excita­
ções podem então ter-se originado na relação com processos reais 
ou transferenciais, alheios ao analista. Penso então que a missão 
do analista é interpretar esses fatos sem incluir-se, pois o nível do 
conflito nesse momento não se relaciona com ele” (grifos do 
autor).
Continuando, Guiter refuta as críticas que se formulam contra 
essa modalidade de trabalho (no que concerne ao favorecimento de 
“atuações”, ao grau de veracidade acerca do que o paciente nos 
relata ou à circunstância de que se trate de “um fato que já passou”, 
enquanto “na sessão, a situação é presente”). Por razões de espaço 
abstenho-me de transcrever a passagem correspondente.
Mais adiante expressa: “A transferência pode acontecer em 
qualquer parte; não é forçoso que seja com o analista. Mais ainda, 
quanto mais se interprete o paciente em relação ao analista, tanto 
mais se pode tomar essa técnica como defesa, sem ver as transfe­
rências em outra parte.” (Assinala antes, que mesmo Freud “inter­
pretava transferências em outros contextos”.)
Prossegue dizendo: “Outro problema que se coloca é este: se 
tudo o que o paciente diz se relaciona com seu analista, e quase 
tudo o que ocorre na sessão é transferência, reduz-se ao mínimo a 
relação adulta (ou sã) entre o paciente e o analista, fomentando, 
no primeiro, regressões patológicas. Dessa maneira, o paciente 
sempre é um menino de quem o analista é um pai, e se fomenta, 
iatrogenicamente, a regressão, mas não a regressão útil, de modo 
que, nesse nivel, o que se consegue é adoecer mais o paciente.
0 tratamento 105
Assim sendo, nós, os analistas, podemos ser paradoxalmente 
reforçadores de neuroses” (grifos do autor).
A clareza expositiva de Guiter me exime de maiores comen­
tários e, na minha opinião, avaliza com acréscimos o emprego das 
interpretações “extratransferenciais”.
Concordo com o critério de Guiter e entendo que nenhuma 
terapia interpretativa deva descuidar-se das diferentes transferên­
cias extraterapêuticas, muito menos reduzir a tarefa à analise da 
transferência ao terapeuta.
Mas, no terreno de P.B., devemos reconhecer a existência de 
um inconveniente em nosso trabalho de análise das relações do 
paciente com os diferentes objetos transferenciais de sua realida­
de externa: o terapeuta conhece pouco o paciente em sua relação 
terapêutica, em virtude do limitado contato que proporciona o tra­
tamento. Disso poderíam derivar apreciações e interpretações 
errôneas da realidade externa do paciente (ainda quando a com­
preensão da transferência, já evidenciada com o terapeuta, seja de 
todo o modo um elemento valioso para diagnosticar as caracterís­
ticas das relações objetais do paciente, do mesmo modo que a 
compreensão da contratransferência, cabe recordar precisamente 
que, em psicanálise, o conhecimento que o analista adquire no 
decorrer do tempo sobre as características da transferência desen­
volvida pelo paciente para com ele, geralmente, lhe resulta de 
grande ajuda para inferir e interpretar as demais transferências do 
paciente. Em PB. devemo-nos desenvolver praticamente sem essa 
ajuda desde o começo). Mas considero que esse obstáculo pode 
ser - e é - vencido na maioria das vezes mediante um prévio estu­
do clínico e psicodiagnóstico o mais amplo possível do paciente, 
que se impõe em P.B. quase como imprescindível para oferecer 
sustentação adequada ao nosso trabalho terapêutico posterior.
Por outro lado, em função do enquadramento da P.B. e como 
venho repetindo, os mecanismos terapêuticos não consistem do 
desenvolvimento e da elaboração da neurose transferenciai; o tra­
balho não tem por que concentrar-se então na análise exaustiva da 
relação terapêutica - que poderia propiciar o desenvolvimento da 
neurose de transferência - recorrendo-se, em troca, a interpreta­
ções que a desvelem e clarifiquem parcialmente só em determina-
106
das circunstâncias que assim o aconselhem e que citarei em se­
guida.
Com o propósito de evitar fenômenos transferenciais inten­
sos, Pumpian-Mindlin (36) sugere “desviar a transferência”, quer 
dizer, os problemas a tratar, em direção a uma figura importante 
para o paciente, em vez de concentrar a atividade na relação 
paciente-terapeuta. Eu não chamaria a isto “desviar a transferên­
cia” - em que desviar poderia ser entendidocomo desviar de 
maneira forçada, senão melhor, de acordo com o que quase sem­
pre ocorre na prática, hierarquizar outras transferências preexis­
tentes do paciente, em função, primeiramente, da real significa­
ção em sua vida (ou seja, de relações objetais dotadas de um 
importante montante de libido), e, em segundo lugar, do enqua­
dramento e das finalidades do procedimento terapêutico breve.
Em conseqüência, como numa terapia breve costumam pre­
dominar as impropriamente chamadas interpretações “extratrans- 
ferenciais” em relação às “transferenciais”, a tarefa interpretativa 
se diferencia claramente da do tratamento psicanalítico, no qual 
prevalecem as segundas ou pelo menos em que se manifesta uma 
maior proporção delas com relação às que geralmente averigua­
mos num tratamento breve (as diferenças se acentuam muito mais 
na análise kleiniana que na análise que mantém uma modalidade 
técnica freudiana).
Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
Interpretações "transferenciais "
Em P.B. existem critérios díspares quanto ao uso das inter­
pretações “transferenciais”. Malan assinala que parece haver 
acordo geral acerca da necessidade de não fomentar o desenvolvi­
mento da neurose de transferência21. A questão esbarra em como 
fazê-lo. Ali começam as divergências. Malan não vê nenhum 
inconveniente em empregar precoce e intensivamente interpreta­
ções “transferenciais”. Sustenta que os perigos que se corre (de 
aumentar a dependência, por exemplo) são escassos, que é preci­
samente através dessas interpretações que se pode resistir ao de­
senvolvimento de uma neurose transferenciai e lhes assinala um 
papel muito importante ao alcance de resultados favoráveis (34). 
Rogers, no outro extremo, alarmado porque induziram o paciente
0 tratamento 107
à dependência, propõe suprimi-las por completo (40). Mas talvez 
a maioria se incline a um uso prudente e limitado (2) (14) (48), 
pois considera que utilizadas de modo sistemático como em psi­
canálise podem fomentar a neurose de transferência (7) (14). 
Compartilho plenamente essa posição. Além disso, entendo que 
comumente o paciente tarda em aceitar como algo próprio os ele­
mentos da transferência para o terapeuta, e que não temos tempo 
suficiente para insistir demasiado neles (não é conveniente fazê- 
lo em P.B. por múltiplas razões), e muito menos para incluir reve­
lações acerca das raízes genéticas infantis do conflito transferen­
ciai. A fim de resolver problemas vitais atuais que o afetam, o 
paciente se apresenta para tratar-se só uma ou duas vezes por 
semana; se apesar de tal situação instarmos para que se concentre 
em sua relação conosco, poderemos gerar consideráveis resistên­
cias à tarefa, que reduzirão nossas possibilidades, fundadas no 
insight, de alcançar o êxito terapêutico desejado”.
Por isso creio que devemos nos conformar em prover o 
paciente de elementos para a conscientização de suas transferên­
cias para com pessoas significativas, geralmente envolvidas na 
situação conflitiva em questão, e incluir o vínculo com o terapeuta 
na maioria dos casos só como uma nova relação transferenciai - e 
não como o eixo do tratamento - na qual podem, isso sim, aflorar 
talvez mais seletivamente e apreciar-se com maior clareza as pau­
tas repetitivas e neuróticas de sua conduta. Assim, sem deixar de 
“seguir o fio” dos fenômenos transferenciais relacionados àquele 
a que sua compreensão se refere, o terapeuta geralmente tratará de 
não estimular com suas intervenções (refiro-me às de qualquer 
tipo, quer dizer, não só às interpretações, senão também aos assi- 
nalamentos, perguntas, etc.) o surgimento excessivo desse tipo de 
material.
Mas, paralelamente, ocorre o fato incontestável de que se em 
certos momentos não se apela para a interpretação “transferen­
ciai” poderão aparecer ou acentuar-se diversas dificuldades. 
Quase sempre trata-se da interpretação da transferência negativa. 
Seguiriamos assim a regra freudiana de não interpretar a transfe­
rência positiva sublimada, que em troca deverá ser estimulada e 
utilizada para tornar possível o trabalho terapêutico (18) (19).
108 Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
Com este último concordam autores como Bellak e Small (2) e 
Malan (34). Vejamos então quais são as principais situações em 
que será necessário recorrer às interpretações “transferenciais”:
a) Quando surgem resistências transferenciais. Tratar-se-á 
de vencer através da tarefa interpretativa os obstáculos resisten- 
ciais provenientes da transferência assim que aparecerem (28)23'. 
Ausências, atrasos e outras dificuldades do paciente essencial­
mente para trazer material focal (intervalos de silêncio reiterados, 
afastamento do foco) quase sempre podem ser interpretados ao 
menos em parte com relação a situações transferenciais.
A título de ilustração, darei um exemplo simples; uma mu­
lher jovem, num momento do tratamento breve, se negava a falar 
durante as sessões, durante as quais manifestava uma expressão 
de nojo para comigo, sem que ela mesma encontrasse motivos ra­
zoáveis que pudessem justificar tal estado. Ao cabo de algumas 
sessões, pude apreciar com clareza que repetia em seu vínculo 
comigo o tipo de relação que mantinha com seu pai, a quem desde 
tempos atrás não dirigia a palavra. Revelei esta situação transfe­
renciai à paciente, o que permitiu remover o obstáculo e facilitar o 
curso posterior do tratamento, ao dissipar de imediato e em gran­
de parte a resistência surgida, o que se alcançou mediante uma 
mensagem interpretativa denunciadora do “falso vínculo”, mas 
que por sua vez desalentava a revivescência de situações infantis 
na relação com o terapeuta24.
b) Quando podem constituir para o paciente um elemento 
demonstrativo de determinados aspectos de sua problemática 
focal. Em qualquer momento, a relação com o terapeuta poderá 
funcionar como um modelo experimental esclarecedor dos pro­
blemas do paciente com suas relações interpessoais. Mas será 
conveniente que a interpretação da transferência se realize em 
circunstâncias em que o fenômeno transferenciai possa ser cla­
ramente reconhecido pelo paciente. Desse modo, um fragmento 
de transferência converte-se prontamente em ponto de partida 
para propiciar insight no paciente acerca dos conflitos com 
outros seres de sua vida atual - e eventualmente do passado 
pois o propósito é basicamente estabelecer de imediato a cone­
xão com esses objetos de conflitos para alcançar uma adaptação 
à realidade.
O tratamento 109
Recorrerei novamente a um exemplo clínico: Trata-se de 
uma paciente de 32 anos, de caráter histérico, com marcados tra­
ços fálicos. A situação conflitiva principal na terapia era a relação 
intensamente competitiva e sadomasoquista que havia estabeleci­
do com seu cônjuge: descobri que conseguia com ffeqüência irri­
tá-lo até colocá-lo fora de si, provocando nele reações violentas 
contra ela que chegavam ao ataque físico. A relação ia sofrendo 
uma progressiva deterioração, motivo principal de sua consulta25. 
Foi necessário mostrar-lhe através de uma revisão parcial do vin­
culo transferenciai como tratava insistentemente e de modo incons­
ciente de atacar-me e denegrir-me, sobretudo com comentários 
hostis acerca dos psiquiatras, provocando assim sentimentos de 
rejeição, raiva e frustração. (Resultava claro que queria despertar 
minha raiva até conseguir alterar-me, do mesmo modo que a seu 
marido. Desejava “triunfar” sobre mim e, procurando tomar-me 
“cego de raiva”, anular-me em minha capacidade terapêutica pen­
sante. No fundo, sua conduta correspondia uma vez mais a um 
intenso masoquismo, que a levava a buscar que a maltratassem e 
também a atentar contra a relação terapêutica.) Com esta inter­
venção busquei provocar um insight na paciente a respeito do que 
lhe ocorria com seu marido, partindo da comprovação da situação 
que experimentava repetitivamente comigo. Além disso, tratei de 
chamar sua atenção para o fato de que esses aspectos doentes de 
sua personalidade conspiravam tambémna terapia, colocando-a 
seriamente em perigo. (Poder-se-á notar, neste último exemplo, 
que na verdade a intenção de relacionar o fenômeno transferen­
ciai com algumas perturbações nas relações interpessoais da rea­
lidade atual da paciente era acompanhada pela tentativa de dissol­
ver obstáculos resistenciais, o que é frequente na prática psicote- 
rapêutica. Também no exemplo anterior, ambos os aspectos coe­
xistiam em certa medida, mas predominava o objetivo de supera­
ção das resistências.)
Todavia, cabe fazer referência ao uso das interpretações 
“transferenciais” segundo as fases que o tratamento está atraves­
sando. Nesse aspecto considero que tanto nas etapas iniciais como 
nas finais do processo terapêutico costuma produzir-se em geral 
maior necessidade de se recorrer a essas intervenções. Durante as 
primeiras sessões - porque é preciso despejar o panorama de
110 Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
resistências transferenciais dadas pelo natural surgimento de 
ansiedades paranóides, que se traduz em temores e desconfiança 
(se estão efetuando então os já conhecidos ajustes à relação de 
trabalho e fomentando os sentimentos transferenciais positivos) 
- e nos estágios finais - porque o término da terapia e a eventual 
separação requerem certo trabalho interpretativo, que contemple, 
em alguma medida, as situações peculiares de luto que se repro­
duzem em cada paciente no seio da relação transferenciai. Ainda 
que no melhor dos casos não seja possível aspirar a níveis muito 
elevados de elaboração, pelo menos a situação de final de trata­
mento e de separação deverá ser sempre assinalada para o 
paciente, com o intento de evitar ou atenuar as reações desfavorá­
veis que este pudesse apresentar diante de tal situação e de afian­
çar assim os êxitos terapêuticos obtidos. (Este tema é examinado 
no capítulo 9.)
c) Variantes qualitativas nas interpretações.
Atenuação dos efeitos regressivos
Já disse que, a meu ver, o emprego - sobretudo fundamenta­
do - de interpretações “transferenciais” é na psicanálise um fator 
favorável ao desenvolvimento da neurose transferenciai regressi­
va, pois leva o paciente a concentrar seu interesse no vínculo tera­
pêutico e o estimula a reviver nele mesmo situações passadas 
(ainda que em última instância, ao fazer consciente o inconscien­
te, mostrando-lhe assim a conexão equivocada, serão em grande 
medida no curso do processo psicanalítico, o instrumento funda­
mental, por antonomásia, precisamente para a resolução da neuro­
se de transferência). Partindo dessa postura poder-se-á compreen­
der a preocupação de alguns autores, e a minha própria, no terreno 
da P.B., por debilitar seu efeito indutor da regressão. A idéia é não 
deixar de utilizá-las quando devemos servir-nos delas, diminuin­
do, o quanto possível, seu potencial regressivo. Isso implica, além 
da óbvia restrição quantitativa ao emprego desse tipo de interpre­
tações, ter de realizar modificações técnicas em sua índole quali­
tativa. Pessoalmente penso que essas modificações devem referir- 
se não só ao aspecto verbal, mas também ao para e ao pré-verbal
O tratamento 111
da mensagem interpretativa, já que, como sabemos, o tom de voz, 
por exempio, assim como a expressão corporal do terapeuta, ao 
formular a interpretação, não são indiferentes em sua repercussão 
no paciente e no que se refere a suas tendências regressivas. 
Podemos afirmar que, muito pelo contrário, interferem considera­
velmente. Na realidade, ante qualquer interpretação, transferen­
ciai ou não, esta questão se colocará em maior ou menor medida 
na P.B.. Disse Weiss: “O uso adequado das interpretações (quanto 
à escolha, momento e forma de apresentá-las) é o meio mais efi­
caz de que dispõe o terapeuta para regular o tipo e a intensidade 
da relação” (45). (Os grifos são meus.)
Trata-se de controlar na medida do possível a intensidade de 
regressão transferenciai. Para tanto é necessário que as interpreta­
ções possuam certas condições, sobretudo que estabeleçam uma 
ligação de maneira praticamente constante entre o que sucede ao 
paciente, em sua relação com o terapeuta, e nas relações daquele 
com os objetos transferenciais de “fora”. A intenção é incluir 
sempre a realidade que está mais além do consultório, em direção 
à qual se há de orientar continuamente o paciente, diminuindo 
dessa maneira a concentração excessiva de exploração psicológica 
no vínculo com o terapeuta. Descobrimos que Szpilka e Knobel 
(42) sugerem algo similar como uma maneira de usar a transfe­
rência sem os perigos de uma neurose transferenciai, isto é: “(...) 
acompanhar cada interpretação do que ocorre com o terapeuta de 
um assinalamento do que acontece, além disso com seus amigos, 
parentes ou demais objetos significativos de seu mundo exter- 
no”(grifos dos autores).
Também a Knobel e Szpilka corresponde uma das observa­
ções mais interessantes e claras que tenho encontrado a propósito 
do problema que estamos considerando: “Uma boa utilização da 
transferência nas psicoterapias breves é aquela que permite a alu­
são ao terapeuta, mas para desfazer em seguida a confusão que 
surge dessa alusão. Desfazer significa dizer à parte adulta da per­
sonalidade do paciente que ele se porta com o terapeuta como se 
este fosse seu pai, sua mãe ou qualquer outro objeto significativo 
primário, mas que na realidade isto é fruto de sua percepção errô­
nea de realidade, já que na verdade, por tais e quais motivos obje­
tivos, o terapeuta não é nenhum desses objetos primários por ele
112 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
trazidos e pelo terapeuta representados. Entre a emergência do 
bloco de transferência e sua resolução deve transcorrer por outro 
lado o menor tempo possível e quase diriamos tão logo venha à tona 
é necessário desfazê-la” (42). (Grifos dos autores.) Em um traba­
lho de Córdoba, Andrés Rascovsky e Wencelblat observa-se um 
nítido paralelismo com essas idéias (3). No meu entender estamos 
diante de um ponto-chave dentro do trabalho interpretativo. Con­
sidero que implica que a mensagem, ora manifesta, quer dizer, 
explicitada na interpretação, ora eventualmente implícita em seu 
conteúdo, deve ser tal que desalente o prosseguimento da revives- 
cência de situações infantis no seio da relação transferenciai, o 
que significa renunciar a explorar a maior parte do “como se” 
metafórico da técnica psicanalítica26. A importância do conteúdo 
e da forma de interpretação dever-se-á agregar, reitero, a influên­
cia de outros fatores, como, por exemplo, o tom de voz emprega­
do. (O modo como se faz a interpretação, a acentuação que o tera­
peuta confere a certas palavras ou frases que a integram também 
podem “convidar” o paciente a estabelecer uma relação regressi- 
vo-dependente com o terapeuta ou, pelo contrário, desalentá-la.)
Para controlar a regressão, e no que diz respeito às interpre­
tações em geral, registramos algumas coincidências relativas à 
conveniência de que as intervenções do terapeuta incluam sempre 
dois aspectos opostos e coexistentes do paciente e não apenas um. 
Por exemplo: o infantil acompanhado do adulto, o agressivo do 
construtivo (Szpilkae Knobel [42], Fiorini [ 13])27. Trata-se de não 
polarizar na direção que fomente a regressão, a dependência e a 
insegurança, e ao mesmo tempo de chamar a atenção do paciente 
para seus aspectos adultos ou mais bem integrados e para suas 
possibilidades evolutivas e autônomas.
O outro recurso a ser considerado para se evitar que o pacien­
te estabeleça uma relação excessivamente regressivo-dependente 
é apresentar as interpretações sob a forma de perguntas ou suges­
tões (Gerard [23], Tarachow [43]), como hipóteses que são, numa 
atitude de certa humildade (Fiorini [16]), que tende a opor obstá­
culos à idealização da figura do terapeuta. Para isso também será 
útil mostrar ao paciente de quais elementos do material trazido 
por ele extraímos nossas interpretações.
A atitude que deve assumir o terapeuta a respeito dos ele­
mentos histórico-genéticosdo conflito atual e particularmente sua
O tratamento 113
eventual inclusão nas interpretações que se formulam para o 
paciente é um ponto que em parte já foi tratado na “Introdução” 
(pp. 101 s.), a propósito da profundidade das interpretações em 
P.B., pelo que lhe cabem as considerações ali expostas28. Não obs­
tante, queria insistir em alguns aspectos fundamentais e particula- 
rizar outros a fim de aprofundar a visão do tema.
Diante de tudo isso, não devemos deixar de reconhecer que 
colocar ênfase excessiva nos aspectos infantis do paciente pode 
promover a regressão. Por isso, uma posição extrema consistiría 
em evitar toda incursão por esses níveis do conflito. Não compar­
tilho desse critério, por mais que nos tratamentos breves pareça 
aconselhável abster-se de interpretar em primeira instância e de 
maneira sistemática tais aspectos, e partir em troca da referência 
aos fatores atuais em jogo. (Em P.B., por conseguinte, diferente­
mente do que ocorre no tratamento psicanalítico, não haveria uma 
intenção prioritária de se remeter às experiências prematuras da 
vida do paciente.) Mas o certo é que na prática apresentam-se 
situações em que se tem a impressão, a priori ou no curso de um 
tratamento breve, de que, enquanto não se incorporarem às inter­
pretações elementos do passado infantil - os quais certamente 
sempre se levam em conta para compreender o conflito - poderá 
produzir-se um estancamento no processo de conscientização e 
mudança do paciente. Em tais circunstâncias, o terapeuta poderá 
estimar que é necessário efetuar uma revisão e um trabalho inter- 
pretativo mais profundo das perturbações do paciente.
Reconhecida a necessidade de que a tarefa interpretativa 
abarque conflitos genéricos infantis, estudaremos em cada caso a 
possibilidade de colocar isso em prática, com probabilidades de 
que seja terapeuticamente eficaz. Convirá tomar algumas precau­
ções (sobretudo se se trata de interpretar a transferência para com 
o terapeuta), as quais, reiterando o já assinalado em outras oportu­
nidades, serão as seguintes:
1. Que o paciente demonstre estar capacitado para receber e 
aproveitar essas interpretações sem experimentar reações desfa­
voráveis (isto significa em essência respeitar o timing).
2. Que as condições do enquadramento, principalmente as 
temporais (duração, freqüência e periodicidade das sessões, dura­
ção total do tratamento), sejam propícias.
114 Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
3. Que os componentes histórico-genéticos a incluir nas in­
terpretações sejam pertinentes à estrutura focal29. A isto terá de se 
agregar que:
4. Poder-se-á trabalhar um conflito infantil derivado (por 
exemplo, com relação a um(a) irmão(ã)30, mas o terapeuta não 
deve ter por aspiração principal eliminar a amnésia infantil (De- 
vald [5]), ainda que, quando se considere necessário fazê-lo, 
tenha de fazer alusão de maneira direta a componentes do conflito 
original. Neste último caso, realizo um trabalho interpretativo 
sempre parcial, limitado ao que é imediatamente relacionado à 
situação-problema, ou seja, ao necessário para obter certa mobili­
zação e progresso no paciente, descartando outros aspectos do 
conflito, pois não é possível abarcá-lo em sua totalidade e propen- 
der para a sua elaboração, carecendo de sentido “abrir feridas” 
nas defesas. Assim, dificilmente uma terapia breve chega a con­
frontar o paciente com seu conflito edípico, mostrando-lhe direta­
mente, por exemplo, o significado incestuoso ou parricida de suas 
fantasias31.
5. O modo de formular as interpretações tenderá a facilitar 
que o paciente, mais do que tudo, compreenda os determinantes 
históricos do conflito atual, em vez de fazê-lo reviver emocional­
mente os conflitos infantis no seio da relação transferenciai. Este 
ponto corresponde ao critério sustentado por Szpilka e Knobel, no 
sentido de que o insight em P.B. tem de ter “maior participação 
cognitiva que afetiva” (42). A propósito deste aspecto da técnica, 
têm dito esses autores: “Devemos reconhecer que isto, para al­
guns indivíduos, pode servir perfeitamente para mobilizar situa­
ções internas, para as quais ainda não temos métodos de avaliação 
e que podem ser úteis para alcançar uma adaptação produtiva à 
realidade” (42).
Como corolário da revisão das distintas modificações e agre­
gados realizáveis nas interpretações, podemos afirmar: de acordo 
com a conformação da interpretação e a modalidade que assume 
sua formulação, aquela poderá fornecer o desenvolvimento da 
regressão e o da neurose de transferência ou, pelo contrário, ten­
der a neutralizá-los.
0 tratamento 115
d) Interpretação dos sonhos
Em P.B. não há tampouco uma unidade de critério com res­
peito a se devem ou não ser formuladas interpretações acerca do 
material onírico dos pacientes.
A interpretação dos sonhos, praticada do mesmo modo que 
na psicanálise, conteria um risco básico, em função da possibili­
dade de estimular excessivamente a produção de fenômenos re­
gressivos no paciente. Apesar disso, creio que não convém rejei­
tar de imediato um material tão apropriado, já que a interpretação 
onírica é “a via régia para o conhecimento do inconsciente” 
(Freud [20]) e por conseguinte constitui uma ajuda valiosíssima 
para detectar o ponto de urgência. Mas uma vez mais certos cui­
dados terão de ser tomados para tratar de controlar a regressão 
que poderá ser gerada. Como responder a este problema técnico? 
Creio que diante dos sonhos o terapeuta deve assumir a mesma 
atitude que ante qualquer outro produto da atividade psíquica 
(atos falhos, fantasias, etc.), quer dizer, interpretar na medida em 
que o considere útil, ainda que tendo presente quando, o que e 
como interpretar. Mas vejamos a que me refiro com o que acabo 
de mencionar.
Quando interpretar
A interpretação dos sonhos deverá reger-se pelos mesmos 
princípios gerais que presidem toda interpretação em P.B., ou 
seja, se considerará o material onírico interprctável sobretudo 
quando servir para clarificar a problemática focal. Há sonhos que, 
desde seu conteúdo manifesto e por sua relação com o contexto, 
sugerem a priori sua vinculação com o foco. (De qualquer manei­
ra, não vejo nenhum inconveniente cm tentar, no geral, certa aná­
lise dos sonhos trazidos pelo paciente. Do que surgir da análise se 
verá se a formulação de interpretações é indicada ou se pelo con­
trário o sonho em questão deverá ser deixado de lado nesse senti­
do; tudo isso dependerá esscncialmente, repito, de tratar-se ou 
não de material focal. Com isso quero expressar que não costumo 
“deixar passar” um sonho sem antes efetuar uma tarefa mínima de 
exploração de seu conteúdo. Em última instância, ainda que não
116 Psicoíerapia breve de orientação psicanalítica
derive na formulação de uma interpretação, a análise do sonho, 
embora limitada em seu alcance, constitui - assim como acontece 
por exemplo com os fenômenos transferenciais em geral - um 
recurso de apreciável utilidade para enriquecer nossa compreen­
são dinâmica do paciente.)
O que interpretar
Desde logo será preciso hierarquizar aqueles aspectos do 
sonho inerentes ao focal-atual, o que implica conduzir uma vez 
mais o paciente ao contato com o conflito central do tratamento, e 
recolocá-lo assim na realidade de sua vida cotidiana, reduzindo ao 
mínimo a indução de fenômenos regressivos. Geralmente deve-se 
evitar referir as interpretações a desejos infantis inconscientes, 
remetendo-nos em troca só às idéias latentes pré-conscientes. Por 
outro lado, sempre dentro do que se refere ao conflito a resolver, 
devem-se interpretar-se mais que tudo aqueles conteúdos que 
parecem mais claros para o paciente, pois a limitação de tempo 
permite introduzi-lo só até certo ponto nos significados dos 
mecanismos oníricos (Hoch [28]).
Como interpretar
Consideraremos duas questões: uma referente ao método de 
análise dos sonhos e outra ao conteúdo das interpretações formu­
ladas para o paciente.
Os recursos para analisar os sonhos são em essênciaos da 
psicanálise, incluindo o auxílio oferecido pelas associações livres 
do paciente, a quem se podem pedir associações a partir dos dife­
rentes elementos, tal como se faz na técnica psicanalítica.
A tarefa interpretativa se efetuará segundo as normas já assi­
naladas para a interpretação na PB. psicanaliticamente orientada, 
especialmente no que concerne à focalização e à transferência.
e) O terapeuta diante do trabalho interpretativo
Em minha experiência de supervisão de tratamentos breves, 
venho observando com freqüência que os colegas cometem diver-
O tratamento 117
sos erros gerados pela transposição de elementos técnicos da psi­
canálise sem nenhuma modificação à técnica breve. Entre eles 
encontramos muito correntemente o abuso da referência a situa­
ções transferenciais. Recordo com relação a isto um acertado 
comentário: “Ocorre-me que toda terapia breve apela para a mais 
primorosa sensibilidade do terapeuta, ao mesmo tempo em que 
significa justamente cavalgar permanentemente entre a transfe­
rência e extratransferência.” Fiorini apontou do mesmo modo a 
necessidade de que o terapeuta se autocontrole na utilização das 
interpretações “transferenciais” (14).
Certas dificuldades próprias do terapeuta determinam que 
este, além de empregar reiterada e excessivamente interpretações 
da transferência, com os perigos decorrentes, não resista a seus 
efeitos regressivos. (Os motivos subjacentes a esta atitude do tera­
peuta serão considerados no capítulo 8.)
Outras intervenções verbais
Além das interpretações, o terapeuta conta com diversos ins­
trumentos na psicologia verbal. Dentre os mais relevantes, pode­
mos citar:
1. Os assinalamentos, instrumento terapêutico necessário em 
toda terapia de insight para facilitar o trabalho interpretativo.
2. As perguntas. Cabem não só na etapa diagnostica, mas 
também durante o tratamento propriamente dito, a fim de se obte­
rem diversos e necessários dados acerca do paciente sobre o anda­
mento. Também nesse ponto pode-se apreciar o papel ativo que 
desempenha o terapeuta. Em outro contexto, as perguntas revelam 
um terapeuta não-onipotente e interessado no paciente (16).
3. O fornecimento de informações. Em certas ocasiões pode 
ser benéfico oferecer informações ao paciente acerca de certos 
temas, tais como os vinculados à sexualidade.
4. As sugestões. São de diversas tendências. Exemplo: desde 
Freud, leva-se em conta a possibilidade de estimular o paciente 
fóbico, num dado momento do processo terapêutico, a enfrentar 
as situações temidas (21).
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica118
5. Os comentários. Realizam-se essencialmente com o pro­
pósito de fomentar o intercâmbio verbal.
6. As intervenções de reasseguramento ou de reforço. Já fiz 
alusão às mesmas ao referir-me ao tema “Fortalecimento e ativa­
ção das funções egóicas” no capítulo 3, pp. 34 ss.
7. As in d icações. Exemplo: a prescrição de uma psicodroga.
8. Os conselhos. De uso muito esporádico, exceto quando se 
trata de apoio emocional.
Sobre as sessões
Em primeiro lugar referir-me-ei à fre q u ê n c ia das sessões. 
Em geral é conveniente adequar-se às necessidades de cada caso 
particular. Sem dúvida posso dizer que, na maioria dos casos, 
duas sessões semanais é um número apropriado para uma psicote­
rapia breve de insight, uma vez que possibilita uma tarefa de certo 
aprofundamento e restringe as perspectivas de regressão e depen­
dência que poderíam ser incrementadas com um maior número de 
sessões.
Em certas ocasiões, pode bastar uma sessão por semana.
Além disso, para facilitar a separação ao terminar o trata­
mento, às vezes pode ser útil ir reduzindo gradualmente a fre- 
qüência das sessões (sempre que o estado do paciente o permita).
Uma maior freqüência pode ser conveniente, ao menos no 
começo, em casos tais, como:
a) S itu a çõ es d e c r ise s muito intensas, que transcorrem com 
grande angústia, depressão, excitação psicomotriz, etc.; em de­
pressões intensas e agudas, por exemplo, com grande necessida­
de de provimentos narcísicos, dada a diminuição da auto-estima. 
Tentar-se-á assim alcançar um rápido alívio sintomático, que es­
timule por sua vez a confiança do paciente em suas possibilida­
des de melhoria (a p o s te r io r i poder-se-á reduzir o número de ses­
sões).
b) P acientes com m arcadas tendências a o actin g out. Para 
prevenir e conter os a ctin g out, costuma ser recomendável uma 
freqüência de mais de duas sessões semanais, além de interpretar
as fantasias transferenciais que possam estar presentes (mais co­
mentários sobre esse ponto poderão ser achados no capítulo 10).
Quanto à duração das sessões, supõe-se que também pode 
variar de acordo com as circunstâncias. Pessoalmente penso que 
uma duração de 40 minutos por sessão resulta adequada, já que 
geralmente basta para efetuar uma tarefa proveitosa. A medida 
que a sessão se estende por mais tempo, aumentam as possibili­
dades de fadiga do terapeuta (não esqueçamos que em P.B. se 
trabalha comumente frente a frente, exercendo o profissional 
um papel ativo e buscando obter determinados resultados em um 
prazo limitado, para o que deve agilizar o processo terapêutico, 
geralmente o que implica na realização de um esforço significa­
tivo).
O tratamento _ __________________________________ I l y
Outros recursos terapêuticos
Em muitas ocasiões resulta benéfico agregar outros instru­
mentos terapêuticos à psicoterapia individual verbal e breve. É 
sobretudo no âmbito institucional que ocorrem as oportunidades 
mais promissoras para efetuar tratamentos combinando instru­
mentos terapêuticos que incluem eventualmente uma tarefa em 
equipe com outros profissionais da saúde mental, o que pode ser 
altamente positivo. Supostamente, quando se apela para outros 
elementos, o ponto de partida deve ser sempre uma fundamenta­
ção psicodinâmica acerca de sua incorporação ao tratamento e 
dos efeitos esperados com ela.
Um dos tantos propósitos válidos e usuais na aplicação de 
diversos recursos em P.B. é o de procurar agilizar o processo tera­
pêutico.
As alternativas com que contamos no momento são realmen- 
‘te numerosas: psicodrogas, intervenção de familiares e/ou pes­
soas próximas do paciente, dramatização, psicoterapia grupai, 
terapia ocupacional, comunidade terapêutica, hipnose, serviço 
social, intervenção breve, etc. (9) (10) (14) (46) (47).
Ocupar-me-ei de dois recursos que me são mais familiares 
por utilizá-los em minha experiência pessoal como terapeuta. São
120 Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
eles: o emprego de psicofármacos e a participação de familiares 
e/ou figuras próximas do paciente em tratamento.
O emprego de psicofármacos
A combinação de psicoterapia com psicodrogas pode ser 
muito útil em diversas circunstâncias, sempre que se tenham pre­
sentes certas precauções. Não insistirei nas reconhecidas vanta­
gens provenientes dos efeitos da medicação (alívio sintomático; 
melhoria na comunicação, permitindo o acesso à psicoterapia de 
pacientes que de outro modo seriam muito difíceis de tratar; faci- 
litação do insight, etc.). Em troca, especificarei alguns aspectos 
de sua aplicação, assim como certas dificuldades que podem sur­
gir se os psicofármacos não forem manejados adequadamente.
Em primeiro lugar, opino que a medicação deve ser forneci­
da na medida do possível pelo mesmo terapeuta encarregado da 
psicoterapia (sempre e quando, é claro, se trate de um profissional 
capacitado para o manejo dos psicofármacos). Sem dúvida é ele 
quem, conhecendo o paciente melhor que seus colegas, parece o 
mais indicado para poder realizar uma escolha adequada do medi­
camento, graduar a dose, controlar seus efeitos e ir efetuando as 
modificações que julgar convenientes, sem que se necessite da 
participação de um terceiro.
Em segundo lugar, e particularmente naquelas ocasiões em 
que se efetua uma terapia breve de insight, deverá evitar-se um 
emprego indiscriminado e rotineiro de medicações, já que isto 
pode conduzir opaciente a escamotear seus conflitos, anulando-o 
em suas possibilidades de esclarecê-los e de encontrar uma solu­
ção mais satisfatória para eles. Ministrar-se-á medicação só na­
quelas situações em que seu uso seja requerido como coadjuvante 
da psicoterapia e durante o tempo que se considere estritamente 
necessário.
Aqui é pertinente recordar também que alguns já alertaram 
sobre os perigos que contém a idealização do medicamento, uma 
vez que pode gerar no paciente atitudes maníacas (30). Outros 
assinalaram a decisiva importância do fato de que desde o começo 
se explicite para o paciente o sentido da administração dos psico-
0 tratamento 121
fármacos (35), posição com a qual concordo e segundo a qual 
costumo explicar ao paciente, por exemplo, que a medicação é 
destinada a tornar possível (ou facilitar) sua comunicação comi­
go, no caso em que esta esteja muito difícil. Também é convenien­
te esclarecer os objetivos do uso das psicodrogas associadas à P.B. 
quando se tenha um alívio sintomático, explicando o caráter pa­
liativo de sua administração. Dever-se-á insistir junto ao paciente 
que ele deve aspirar a algo mais, isto é, à compreensão e à resolu­
ção do conflito por meio da psicoterapia. Com essas explicações 
tende-se a evitar a eventual interferência do efeito da medicação 
no processo psicoterapêutico (o alívio fácil, sem os esforços e a 
participação ativa que a psicoterapia supõe), ou seja, a procurar 
que a melhoria sintomática não seja acompanhada de uma desva­
lorização da psicoterapia ou, diretamente, da perda de interesse 
pela mesma.
Para esclarecer a questão aos pacientes, costumo recorrer a 
exemplos simples: freqüentemente refiro-me ao que ocorre quan­
do a uma pessoa se ministra um analgésico (droga) para acalmar 
uma dor de dente (representante do sintoma psíquico). A dor pode 
ceder, mas passado o efeito da medicação, e se não se recorre 
novamente a ela, ela voltará, pois sua origem, por exemplo, é uma 
cárie (assimilável ao conflito psíquico), que é a que no fundo deve 
ser tratada. Em síntese, se não tentamos “curar” a infecção “pela 
raiz” por meio da psicoterapia, ela persistirá.
A participação de familiares e/ou pessoas 
próximas do paciente no tratamento
Freqüentemente é necessário incluir no processo terapêutico 
breve pessoas vinculadas ao paciente, o que poderá acontecer ou 
na fase diagnóstico-prognóstica ou na busca de objetivos comuns, 
na terapêutica e/ou na avaliação de resultados.
As metas que mais comumente se buscam com essa conduta
são:
1. Obter informações. Resulta em geral sumamente benéfico 
ter a oportunidade de entrevistar familiares e/ou pessoas próxi­
mas do paciente e conhecer suas impressões sobre ele32. Procura- 
se além disso chegar a um diagnóstico psicodinâmico do casal
122 Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
e/ou da família, determinar o papel que nela ocupa o paciente, so­
bretudo quando a problemática está principalmente relacionada 
com seu meio familiar, partindo da concepção de que aquele é, na 
realidade, o emergente de um grupo enfermo.
2. Informar sobre o estado do paciente para conseguir que 
seus familiares ou as pessoas próximas assumam a responsabili­
dade do tratamento nos casos em que isso seja necessário.
3. Atuar terapeuticamente sobre o meio que rodeia o enfer­
mo. Isto poderá realizar-se através de entrevistas de orientação e 
além disso, se for preciso, de uma psicoterapia a cargo do mesmo 
terapeuta que efetua o tratamento do paciente, ou de outro, com 
ou sem a inclusão do paciente no tratamento grupai, tudo isso de 
acordo com os critérios predominantes em cada caso. Em algu­
mas ocasiões, a indicação poderá ser uma psicoterapia breve ex­
clusivamente grupai (casal, família) desde o começo.
Quisera efetuar agora algumas considerações acerca da RB. 
dc pacientes adolescentes no que diz respeito ao papel dos pais.
Tem-se enfatizado, na PB. de adolescentes, a necessidade de 
incluir os pais no tratamento, já que se acham profündamente im­
plicados na crise do filho (31). E não poderia ser de outra maneira 
quando se trata de buscar modificações em um prazo geralmente 
limitado, para o que resulta até imperioso trabalhar sobre os pro- 
genitores e ter constantemente presente a unidade grupai de pato­
logia. Atualmente, o tratamento pode ser concebido, já não como 
uma psicoterapia do adolescente, senão do grupo familiar, fato 
que deverá configurar a regra e não a exceção na P.B. de adoles­
centes.
A participação dos pais (ou tutores) do adolescente no pro­
cesso terapêutico deverá estender-se desde o início até o final do 
mesmo. Além dos fins anteriormente mencionados, pelos quais 
se dá espaço a familiares e/ou pessoas próximas do paciente no 
tratamento, apresenta-se especialmente aqui a necessidade de 
fazer intervirem os pais em função de outros fins que se acrescen­
tam em determinadas fases do procedimento. São elas: a) fase de 
devolução diagnóstico-prognóstica; b) fase de combinação das 
metas terapêuticas e dos distintos aspectos do contrato; c) fase de 
avaliação dos resultados terapêuticos.
0 tratamento 123
a) Os pais, por serem responsáveis pela terapia, e por ter sido 
requerida sua colaboração, necessitam ter uma noção real do esta­
do de saúde do filho e de suas perspectivas prognosticas. Quando 
não recebem informações, ficam mais facilmente sujeitos a suas 
próprias fantasias acerca da enfermidade de que o filho padece, o 
que pode produzir efeitos perturbadores de natureza diversa, seja 
considerando-a mais grave do que o é na realidade seja pelo con­
trário diminuindo sua importância.
b) É imprescindível combinar, junto com o adolescente e 
seus pais, os objetivos terapêuticos e o contrato. No que concerne 
especificamente aos objetivos, a situação mais desejável para 
enfrentar nosso trabalho terapêutico consistirá em alcançar um 
acordo unânime acerca dos mesmos, quer dizer, entre paciente, 
pais e terapeuta. Mas com freqüência as coisas não são tão sim­
ples. Os pais costumam chegar à consulta com determinadas ex­
pectativas e intenções a respeito do tratamento do filho, que não 
coincidem com as do paciente e/ou as do terapeuta. Não c possí­
vel passar por alto desacordos ou mal-entendidos de início e dei­
xá-los à mercê, por exemplo, da ação retificadora que sobre os 
pais - no caso em que sejam eles os que interferem inicialmente 
em nossas finalidades terapêuticas - podería mais adiante exercer 
a psicoterapia do grupo familiar a ser efetuada, ainda admitindo 
que depende substancialmente desta que eles aceitem as modifi­
cações que possam produzir-se na dinâmica familiar. Uma míni­
ma concordância inicial acerca dos objetivos terapêuticos consti­
tui um requisito fundamental porque permite começar a tarefa em 
melhores condições, e que os pais, ante as possíveis mudanças 
que o filho experimente, não se sintam inteiramente tomados de 
surpresa ou “atraiçoados” com relação ao planejamento previsto 
no começo do tratamento a respeito dos fins deste. Trataremos 
então de que colaborem desde o princípio e de ir preparando-os 
para que aceitem essas mudanças, objetivo que será facilitado por 
meio da psicoterapia familiar que virá em continuação. Caso con­
trário, é muito mais fácil que sobrevenham inconvenientes deriva­
dos da incompreensão e que consistem em diversos tipos de rea­
ções negativas por parte dos pais, por exemplo, atitudes represso- 
ras, culpogênicas e, definitivamente, desqualificadoras dos suces-
124 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
sos do paciente ou, o que é muito comum, que retirem diretamen­
te o fiiho do tratamento.
Por outro lado, é indubitável que os pais têm direito a um 
esclarecimento sobre o sentido e o alcance do tratamento que o 
filho venha a empreender.
No caso de se apresentarem dificuldades para chegar a um 
acordo inicial sobre os objetivos, será de utilidade efetuar, logo 
após obtido um diagnóstico psicodinâmico do grupo familiar e 
da situação-problema, entrevistas operativas (44) especialmentedestinadas a este fim, as quais poderíam ser conjuntas (29) com 
os pais e o adolescente ou realizar-se em separado. Essas entre­
vistas adquirem na realidade grande valor terapêutico, pois nelas 
devem-se encarar já alguns problemas cruciais da conflitiva fa­
miliar.
A título de exemplo do exposto até aqui, descreverei uma si­
tuação muito freqüente na psicoterapia de adolescentes: a do 
jovem que tem uma atitude de rebeldia em relação aos pais. Antes 
de tudo, devemos fazer compreender a estes pais que nossa finali­
dade terapêutica não consiste simplesmente em converter o pa­
ciente, de repente, num filho submisso e obediente, mas em tratar 
de entender juntos a problemática familiar global que pode estar 
originando sua rebeldia e o significado profundo da mesma como 
expressão da crise adolescente e da consequente crise deles mes­
mos. Procurar-se-á que os pais cheguem a reconhecer que tam­
bém eles estão imersos no problema e que, para obterem certas 
mudanças em sua relação com o paciente, será preciso que se 
comprometam firmemente no esforço terapêutico, pois será ne­
cessário revisar o que acontece não só com o paciente, mas tam­
bém com eles.
c) Tampouco, os pais devem ficar excluídos da avaliação dos 
resultados obtidos” . Apelando uma vez mais para entrevistas con­
juntas ou em separado, solicitar-se-á que tragam suas impressões 
sobre o estado atual do paciente, o deles mesmos (quando tenham 
sido tratados) e sobre o tratamento, sendo também eles objeto de 
uma devolução por parte do terapeuta, mediante a qual este comu­
nicará sua própria avaliação dos resultados terapêuticos.
0 tratamento 125
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O tratamento___ ______________ ____________________ l £ /
7. Uma sessão depsicoterapia breve
Apresentarei aqui o material de uma sessão de psicoterapia 
focal, que espero possa ser útil para ilustrar aspectos inerentes à 
relação paciente -terapeuta, às intervenções do terapeuta, à tarefa 
dc focalização e a outros temas de interesse. Antes de mais nada, e 
para permitir uma melhor compreensão do que aconteceu na ses­
são, exporei os dados principais da história clínica e um esboço da 
estrutura focal da maneira como foi concebida inicialmente'.
A paciente, a quem chamarei Rita, é uma jovem que na época 
da consulta tinha 23 anos. Estava casada há 14 meses, trabalhava 
como empregada numa oficina e pertencia à classe média baixa. 
Tinha completado o curso secundário (efetuou algumas matérias 
no curso de psicologia, mas abandonou-o logo em seguida).
Veio à consulta apresentando uma gravidez cujo diagnósti­
co foi confirmado - de aproximadamente 50 dias, e por não poder 
tomar uma decisão diante da mesma, isto é, prosseguir com a gra­
videz ou submeter-se a um aborto. A princípio queria ajuda para 
compreender melhor suas qualidades a esse respeito e em conse- 
qüência tomar uma resolução.
Consultou-me às escondidas de seu marido, de 27 anos, tam­
bém empregado, o qual, segundo a paciente, “não acreditava” na 
psicoterapia e nunca havia aceitado consultar um psiquiatra.
O casal havia se conhecido três anos antes. Rita dizia que a rela­
ção com seu marido era “bastante boa e carinhosa”, ainda que não 
poucas vezes tivessem desentendimentos e discussões acaloradas.
130
A gravidez não foi planejada conscientemente pelo casal. 
Haviam começado a manter relações sexuais antes do casa­
mento. As mesmas eram pouco satisfatórias, seja porque eram 
vividas por ambos com muita culpa (em Rita, chocavam-se com 
seu desejo dc chegar virgem ao casamento, simbolizado pelo 
“casar-se de branco”), seja porque eram constantemente acompa­
nhadas pelo medo de uma gravidez. Até esse momento não ha­
viam empregado nenhum método anticonceptivo, a não ser o coi- 
tus interruptus, assim mesmo cm poucas ocasiões. A paciente não 
encontrava explicações razoáveis para esse descuido, alegando 
apenas que assim “era mais cômodo”, que não tinha interesse em 
submeter-se aos procedimentos habituais de contracepção e que 
ultimamente, ao verificar que não ficava grávida, havia se desin­
teressado do assunto. Na realidade, há dois anos ficara grávida e 
de comum acordo com seu atual marido praticara um aborto. Para 
tanto, submeteu-se a uma anestesia geral c, segundo lhe contaram, 
enquanto voltava a si, chorara muito, gritando, de vez em quando, 
angustiadamente: “tiraram ele de mim!”.
A partir do aborto foi sobretudo seu marido quem pareceu 
ficar preocupado. Temia que tivessem produzido lesões importan­
tes nos genitais da paciente, que ocasionassem sua esterilidade. 
Mas, uma vez passado o momento crítico, quase não voltaram a 
falar no assunto.
Ainda que Rita insistisse na dúvida acerca do que queria com 
relação à gravidez, por momentos parecia inclinar-se ao aborto. 
Alegava, antes de mais nada, razões econômicas, mas dizia tam­
bém que se sentia insegura de si mesma e incapacitada para ter um 
filho. Seu marido adotava uma posição oposta, mostrando-se 
muito entusiasmado com a idéia de ser pai e confiava em que 
iriam poder superar os diversos inconvenientes que se apresentas­
sem. A jovem temia em conseqüência que um aborto afetasse a 
relação do casal, já que seu marido desejava um filho, enquanto, 
dizia ela, “deve ser feio tê-lo sem sentir muito desejo”. Um dia, 
antes de vir à primeira entrevista em meu consultório, havia esta­
do a ponto de visitar um médico residente para praticar o aborto, 
mas logo mudou de idéia c, aceitando o conselho de uma amiga, 
decidiu consultar antes um psicoterapeuta.
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Uma sessão de psicoterapia breve 131
Dos antecedentes familiares importa assinalar que a paciente 
era proveniente de uma família de educação e costumes tradicio­
nais, com os conhecidos tabus sexuais.
A relação com seus pais era de marcada dependência. Vi­
sitava-os diariamente com seu marido “para bater papo e jantar”.
A mãe, segundo ela, era uma pessoa muito severa e domina- 
dora. Qualificou-a também de “muito nervosa”, com reações 
anormais de violência, que experimentava ocasionalmente. (“E 
como se ela não hesitasse em matar alguém nesse momento. Logo 
se arrepende, se domina...”) Teve dois abortos, um antes e outro 
depois do nascimento de Rita.
Segundo a descrição da paciente, o pai impressionava por ser 
uma pessoa muito controlada em seus afetos: “Eu sempre digo 
que é muito diplomático. Nunca se pode saber o que está sentindo 
e nunca discute com ninguém.” Padecia de hipertensão arterial. 
Sua relação com ele - disse - era “cordial”.
Tinha um irmão, cinco anos mais velho que ela, casado, com 
uma filha de 4 anos, que após ter vivido um tempo separado dos 
pais voltara à casa paterna acompanhado da esposa e filha. 
Segundo Rita, não podia “separar-se deles”2.
Tudo o que foi mencionado, além de muitos outros indícios, 
fazia supor que o grupo familiar correspondia ao tipo dos denomi­
nados aglutinados (F. e L. Bleger [2]). Sobressaíam as característi­
cas matriarcais, ante as quais, todavia, a paciente se encontrava em 
plena luta para alcançar sua individualização. (“Não vivemos ali 
porque não dormimos. Mas é só o que falta”, dizia com ironia.)
A família de Rita se opusera tenazmente a seu casamento, e 
só ultimamente parecia dar mostras de começar a aceitar ou tole­
rar seu marido. Diante da notícia da gravidez, o irmão reagiu com 
aparente indiferença; em troca, o pai adotou uma atitude de franco 
desagrado, que tratou de explicar à jovem com argumentos, 
como: “A mulher não deveria sofrer na gravidez, como sofreu sua 
mãe nas dela, por exemplo, com tantos vômitos e indisposições. 
Tive que lhe dar soro. Nem água podia beber.” A reação de sua 
mãe havia sido especialmente desconcertante para Rita e parecia 
assentar-se em uma intensa ambivalência para com sua gravidez. 
Segundo a paciente, vivia zombando do genro, dizendo-lhe que 
“não servia” (alusão ao fato de que não engravidava sua filha).
132
Logo lhe levaram a notícia da confirmação da gravidez, à qual,a 
princípio, não deu crédito. Em seguida pareceu emocionar-se e 
começou a chorar. “Mas não sei até que ponto se alegrou - co­
mentou Rita - porque depois me disse que tomasse algo para tirá- 
lo. Não, você acha? respondi. ‘Olha que é muito cedo para você 
perder tempo com uma criança’, me disse ela”.
Cabe dizer, também, que os pais do marido, que era filho 
único, se alegraram muitíssimo com a novidade.
Dos antecedentes pessoais de Rita, assinalarei alguns dados 
significativos: ela acreditava ter sido produto de uma gravidez 
não desejada por seus pais (já em sua primeira gestação, a mãe 
havia sofrido diversas moléstias, o que supostamente levou o 
casal a não desejar outra gravidez). Por outro lado seu pai preferia 
um menino. Interessa em especial destacar que a mãe de Rita, 
estando grávida de três meses, teve de se submeter a uma inter­
venção cirúrgica de urgência, devido a um quadro de apendicite 
aguda. Essa intervenção foi realizada com anestesia local, corren­
do as duas, ao que parece, grande risco de vida. Além do mais, sua 
mãe, segundo lhe contou, havia tido outras moléstias durante essa 
gravidez (anemia profunda, flebite, e episódios diarréicos). O par­
to foi normal.
Até se casar, Rita sempre dormiu na casa dos pais (a casa em 
que ainda vivem e que conta apenas com um quarto, sala, cozinha 
e banheiro). Até os seis anos, dormiu na mesma cama que seu ir­
mão, instalada ao lado da de seus pais (alegava, para justificar, 
dificuldades econômicas familiares), depois passou a dormir com 
sua mãe na cama de casal (enquanto o pai dormia em seu local de 
trabalho, e o irmão, na sala) até que, com seu casamento, foi viver 
com o marido em um apartamento alugado.
Nesses momentos a preocupava o fato de ver-se obrigada a 
deixar o bebê aos cuidados da mãe, diariamente, para ir trabalhar. 
Dizia-me: “Essa casa é um desastre. Não tem lugar para nada.” 
(Não descartava a possibilidade de recorrer a uma creche, ainda que 
lhe parecesse que sua mãe cuidaria do filho com mais carinho.)
Dois anos antes, num exame clínico motivado por transtor­
nos intestinais, um médico diagnosticara uma presumível apendi­
cite crônica3.
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Uma sessão de psicoterapia breve 133
Alguns diagnósticos considerados foram: personalidade hi- 
pomaníaca, com conflitos de natureza neurótica, não chegando a 
configurar um quadro característico de neurose; funcionamento 
egóico adequado, com atitudes para o insight, ainda que manifes­
tando resistências que poderíam acentuar-se4; foco definido, ba­
seado nos conflitos ante a maternidade.
Assinalarei agora os componentes do foco inicial e alguns 
dos principais psicodinamismos em jogo. Pensei em questões que 
se vinculavam ao motivo da consulta, tais como: Quais foram os 
fatores determinantes da busca inconsciente da gravidez atual? O 
que ela representava para a paciente e para o seu mando? Que 
fatos motivavam sua ambivalência afetiva e seus temores ante a 
gestação? Por que se inclinava conscientemente ao aborto?, etc.
Creio que podemos partir das dificuldades sexuais de Rita, e 
dali ir retrocedendo em sua história até chegar a considerar a pro­
vável incidência de fatos a elas concernentes, inclusive as primei­
ras etapas de sua vida. Suas relações sexuais pareciam despertar 
nela intensos sentimentos de culpa, que sem dúvida tinham muito 
a ver com suas experiências de coabitação e de partilha de cama, e 
as conseqüentes fantasias incestuosas. Em conseqüência do men­
cionado, seu aborto podia ser considerado, em parte, como um 
mecanismo de autocastigo por infringir a proibição, principalmen­
te por tratar-se de relações sexuais pré-conjugais. Mas o aborto 
também era gerador de culpa pela destruição do filho, diante da 
qual a paciente - e ao que parece, ainda que em grau menor, tam­
bém seu esposo - reagia com tipicas defesas maníacas, negando a 
dor e a perseguição provocadas por essa perda. A gravidez atual 
continha então um desejo inconsciente de reparar o dano produzi­
do, associado à necessidade de comprovar a preservação de seus 
genitais diante do temor de que tivessem sofrido danos. Mas Rita 
parecia sentir novamente e de modo imperativo a necessidade de 
pagar por suas “faltas” com um novo aborto. Além do mais, consi­
derando seus antecedentes pré-natais, podemos compreender 
melhor o porquê de suas elevadas ansiedades paranóides ante a sua 
gestação e suas intenções de abortos. Vamos aventar a hipótese de 
que suas fantasias de ataque ao ventre materno, alimentadas pelo 
risco cirúrgico que sofrerá sua mãe, a faziam temer agora por sua 
própria sorte. Diante de uma imagem fetal seguramente muito per-
134
secutória, em função do luto patológico não-elaborado (aborto), 
também para ela a imagem materna continha características filiei- 
das (5), em relação à qual teria lugar o conflito básico da proble­
mática. (Rita havia nascido entre dois abortos, de uma gravidez, ao 
que parece, não desejada e muito acidentada, e na qual correu peri­
go de ser abortada. Inclusive sua mãe a incentivava em certos 
momentos a abortar, e a jovem, temerosa, só acumulava dúvidas 
sobre o que desejava fazer. A conduta materna reproduzia, assim, a 
de um superego ambíguo, já que primeiro incentivava o casal à 
gravidez por meio de troças a seu genro, para em seguida dizer que 
abortasse.) Deduz-se que Rita não se sentia com direito de ser mãe, 
adquirindo a gravidez o caráter de algo pecaminoso, através da 
qual se via obrigada a abandonar seus desejos maternais5.
Havia muito mais elementos em jogo, correspondentes à 
conflitiva focal. Os relativos à relação de casal da paciente não 
pareciam relevantes num primeiro momento. Mas sim, por outro 
lado, os provenientes do meio familiar; a rejeição ante o marido 
e à gravidez, no que, em uma observação mais profunda, poder- 
sc-ia descobrir a persistente resistência familiar à sua individuali- 
zação c desprendimento. A família parecia exercer grande in­
fluência sobre a paciente, através de seu elevado montante de 
agressão, da severa educação religiosa, dos tabus sexuais e da 
crença quase mítica de que a gravidez era uma espécie de enfer­
midade, desgraça ou maldição, pela qual é preferível não passar. 
Essa crença era fundamentada nos problemas sofridos por sua 
mãe e sua cunhada, e expressa verbalmente pelo pai, como emer­
gente. Por sua vez, a paciente sem dúvida não havia conseguido, 
até esse momento, superar sua dependência patológica do gru­
po. Recordando o conceito de foco enunciado por Fiorini (3), 
interessava além do mais considerar o momento evolutivo que 
este caso estava atravessando: pudera começar a separar-se físi­
ca e gradualmente de seu grupo familiar ao contrair matrimônio 
cerca de um ano atrás. Nessa etapa de doloroso e difícil despren­
dimento, a perspectiva de ter um filho repercutia curiosamente 
na jovem, incrementando-se seus temores de experimentar um 
retrocesso nesse sentido: deixar o bebê aos cuidados de sua mãe 
consistiría em voltar a ligar-se e submeter-se intensamente à 
família, especialmente à mãe. Parecia temer que os familiares,
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
135Uma sessão de psicoterapia breve
em particular a mãe, a despojassem de seu filho, o qual, no caso 
de não abortar, teria de oferecer a ela, renunciando à sua condi­
ção de mãe.
Estas seriam as regras do jogo que deveria cumprir para não 
perder o carinho dos seus, sobretudo o materno. Rita tomava 
como referência o que ocorria com sua pequena sobrinha, que se 
achava sob o domínio da avó e exposta a uma educação retrógrada. 
Mas seus temores se baseavam, antes de mais nada, em sua pró­
pria experiência, que se reativava ao identificar-se com o filho - 
monopolizado em sua fantasia por sua mãe - no sentido de não 
poder liberar-se da ligação com a figura materna.
Tratarei de reproduzir, com as limitações próprias de todo 
esquema, o desenvolvido até aqui:
136 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
A paciente não se achava motivadapara realizar um trata­
mento prolongado. Recorria à consulta por uma necessidade que 
era, para ela, perfeitamente localizada e circunscrita, motivo pelo 
qual lhe propus uma psicoterapia de objetivos limitados e de final 
“aberto”, dependendo da evolução do seu estado e das vicissitu- 
des que poderíam acompanhar sua gravidez.
As metas terapêuticas imediatas consistiam em ajudá-la a en­
tender melhor as causas determinantes de suas dúvidas a respeito 
de sua gravidez, assim como as fantasias subjacentes que haviam 
acompanhado a sua busca. Caso decidisse prosseguir com a gravi­
dez, o objetivo do tratamento seria a revisão das ansiedades por 
ela produzidas durante a gestação, assim como das dificuldades 
de diversos tipos que eventualmente pudessem aparecer. Caso se 
decidisse pelo aborto, a situação seria reestudada, levando-se em 
conta seu estado e motivação para o tratamento, ainda que nesse 
caso tenha-se adiantado que uma assistência psicológica seria 
tanto ou mais necessária'’.
O tratamento foi planejado com base na técnica de insight, 
com duas sessões semanais de 40 minutos cada, considerando-se 
útil em algum momento a possibilidade de inclusão do esposo e 
de outros familiares da paciente no processo terapêutico, por 
meio de entrevistas de orientação.
A sessão
A seguir é transcrita quase que literalmente a sétima sessão 
do tratamento de Rita, que estava próxima de completar o terceiro 
mês de gestação. Chega com 20 minutos de atraso.
P1: (Sorri, um pouco perturbada)-. Não me diga nada...
T 1: (Respondo com um sorriso. Há um silêncio de alguns segun­
dos, que interrompo para dirigir-me a ela, em tom amável)’. 
O que você pensa a respeito de ter chegado tarde desta vez? 
P2: A verdade é que sentia frio e tive dificuldades para me le­
vantar da cama e vir.
T2: Além disso, acredita que poderia haver outros motivos?
P3: (Incisivamente): Não. ( pensa breve) Sobra-me apenas 
metade da sessão... (muda bruscamente o tom de voz, que 
revela agora certa preocupação).
Uma sessão de psicoterapia breve 137
T3: Assim é. Então, metade da sessão não vem e a outra metade, 
sim. Creio que isso tem a ver com seus sentimentos ante a 
sua gravidez. Quer dizer, você parece se sentir como que 
dividida em duas partes: uma quer prosseguir a gravidez e 
ter o bebê, a que vem, e outra não, a que não vem na primei­
ra metade da sessão... Porque vir aqui adquiriu o significado 
de ocupar-se de você e de sua gravidez com a idéia de pre­
servá-la. Um dia, antes de me consultar pela primeira vez, 
você ia procurar um aborteiro, pelo que eu me converti em 
algo assim como a contrapartida dele.
P4: (Adota uma expressão meditativa): Pode ser, não sei...
(A seguir ocorre uma nova pausa, mais prolongada. Mas 
Rita começa a mostrar-se tensa. Volta a sorrir-me, com si­
nais visíveis de ansiedade. De novo interrompo o silêncio.)
T4: Parece que lhe custa prosseguir, não?
P5: (Com expressão de alívio): Sim. E não sei por onde co­
meçar...
T5: Pelo que sente necessidade de trazer hoje e que lhe parece 
possa ser útil para entender seu problema.
P6: Sim, estive pensando, recordando algumas coisas relaciona­
das com o que você me perguntou nas entrevistas, e que 
naquela ocasião eu não pude lembrar, sobre alguma coisa 
ruim de minha infância. Lembrei-me que quando tinha sete 
anos mataram meu cachorro...
T6: (Acompanho seu relato, externando através de um olhar 
atento e movimentos de cabeça em sinal de aprovação, o in­
teresse que me desperta sua abordagem): Como foi isso? 
Conte-me por favor.
P7: Você já notou os cachorros, quando estão no cio? Bem. Tí­
nhamos um cachorro que “andava” com uma cachorra que 
estava no cio. Como incomodavam e o cachorro estava mui­
to agitado, meu irmão bateu-lhe com uma cadeira que o 
“descadeirou”. No dia seguinte, celebrávamos minha pri­
meira comunhão. Lembro-me de que meus pais e meu irmão 
comentavam: “Não vamos deixar que as pessoas vejam um 
cachorro assim maltratado.” O cachorro desapareceu. Logo 
soube que meu pai e meu irmão o tinham atirado no rio, num 
saco. Sofri muito com isso... Depois, meu outro cachorro foi
138 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
atropelado por um caminhão, despedaçando a boca. Tudo 
isso eu não recordava, e ontem me perguntava se era por não 
serem coisas tão feias, ou se justamente por serem feias pre­
feri deixá-las de lado... Estive também me lembrando de 
outras coisas: de quando minha mãe, que sempre foi muito 
nervosa, brigava com meu pai e pegava uma faca, ameaçan­
do se matar...
T7: Ela tentou alguma vez?
P8: Não, pelo menos que eu saiba...
T8: Bem, tratemos de ver o que significaram para você esses 
fatos de sua vida e por que foram recordados agora. Com 
certeza, você poderia ter recordado outras coisas desagradá­
veis de sua infância, mas por algum motivo surgem essas 
recordações, o que não é casual. Parecem estar em parte re­
lacionadas com os problemas que tem agora. Sua gravidez é 
sua principal preocupação, e por isso surgem essas lembran­
ças. Vejamos um pouco por quê: você sofria pelo que acon­
tecia aos cachorros. Em sessões passadas e nas entrevistas, 
abaixar um pouco, vimos que para você os cachorros repre­
sentam os filhos7. Quer dizer, essas recordações, quem sabe, 
expressam uma grande preocupação que agora tem por sua 
gravidez, seu carinho maternal e seus desejos de proteção 
para com seu filho, dos quais não se dá conta, não reconhe­
cendo em você. Creio que no fundo teme muito perdê-lo, 
abortar outra vez, que o arranquem como o seu cachorro, 
que atiraram dentro do rio, num saco.
P9: Talvez, mas eu não me dou conta de que isso aconteça com 
minha gravidez. Não sinto isso tudo... (pausa um pouco pro­
longada).
T9: E no que diz respeito à gravidez de sua mãe, o que viria? 
Com o que poderia relacionar?
PIO: Não sei, não sei se tenho medo por mim mesma... Quem 
sabe seja isso...
TIO: Medo de que lhe suceda algo por estar grávida?
PI 1: Sim...
TI 1: Sua mãe com a faca, será seu medo ao bisturi, que lhe acon­
teça o mesmo que a ela? Que a tenham de operar de apendi­
cite?
Uma sessão de psicoterapia breve 139
P12: (Aprova com um movimento de cabeça).
T I2: Se bem que um médico lhe haja dito que tem apendicite crô­
nica, não fica claro o porquê desse temor. Quero dizer, se 
não haveria mais coisas nisso tudo.
P13: Pode ser, na verdade não sei por que me atormenta tanto esse 
medo de que algo de ruim me aconteça... (pausa). Quero lhe 
dizer também que estive pensando sobre o que disse na últi­
ma sessão, de que nada me atraía. Na verdade antes de me 
casar havia muitas coisas de que eu gostava. Não só viajar, 
ser uma dama, mas também modelo, estudar. Podia tê-lo 
feito antes de me casar, mas não quis.
T I3: Não quis ou não pôde? Porque talvez algo lhe acontecesse, 
já que vontade não lhe faltava.
P14: Sim... (sorri, como se tivesse sido descoberta)’. Eu gostava 
de muitas coisas...
T I4: É certo que, próximo do casamento, teria de pensar em con­
seguir um emprego com urgência para poder enfrentar todas 
as despesas que viriam...
P15: (Interrompendo-me)... Sim, mas antes disso não existia esse 
problema, e no entanto não pude fazer coisas...
T I5: Sim, parece que é assim.
PI6: Com a psicologia, que eu gostava, minha família e meu 
marido, cheios de preconceitos, se opunham e me diziam: 
“Para essa faculdade é que você vai? E psicologia que você 
quer estudar? Ali são todas umas sem-vergonha, umas Tou­
cas’. Depois cheguei a pensar que me invejava por ele não 
ter podido seguir uma carreira nos estudos. Por fim, senti- 
me cansada da faculdade e a deixei.
T 16: O cansaço é, então, uma desculpa, como a de não ter querido 
fazer coisas que na realidade você gostava. São explicações 
que procuram esconder quanto você dependia da opinião 
dos outros e quanto estava submetida a eles. Assim acabou 
por se submeter a seu marido, abandonando os estudos 
quando estudar era algo muito desejado por você. Pergunto- 
me se tudo isso não está relacionado ainda com suas dificul­
dades em vir àssessões. E como se fosse algo relacionado 
aos seus estudos de psicologia, para os quais não teve apro­
vação deles, motivo pelo qual lhe custa vir aqui. Além do
140
mais, Iembre-sc de que você não comentou com seu marido 
que está se tratando. Você o faz às escondidas.
P I7: Tem razão. Creio que é como você diz. Enquanto você fala­
va, eu pensava: parece que sempre necessitei que alguém me 
desse um empurrãozinho, que me apóie para eu poder fazer 
coisas...
TI 7: Talvez esteja buscando isso em mim. Hoje, você se permite 
falar aqui de seus interesses, mostra-se com mais iniciativa, 
quem sabe espera que a ajude, assinalando. Esse problema 
de suas dificuldades para empreender algumas atividades 
muito desejadas é muito importante, e creio que é parecido 
com o que acontece com suas dificuldades ante sua gravi­
dez. Tem desejos muito encobertos de ser mãe, deles dando 
mostras hoje, com o caso dos cachorros. Mas quem sabe, 
também nisso se sinta sem permissão para seguir adiante. 
Uma permissão que estava esperando sobretudo de sua mãe, 
mas também de mim. Queria sentir-se autorizada por mim a 
prosseguir com sua gravidez. Seria o empurrãozinho de que 
necessita para preservá-la, defendê-la. Pelo visto, se preocu­
pa muito com o que pensa sua família sobre sua gravidez, 
em especial sua mãe. Recorde como sua disposição sobre 
sua gravidez se modificou quando ela mudou de opinião e a 
aprovou. Recentemente então se sentiu com permissão, 
ainda que, como sente que ela não a aceita de todo, não se 
sinta muito tranqüila, segundo parece.
P I8. E que eu sempre tive medo de minha mãe. Meu irmão a con­
testava, se rebelava e então “levava”. Eu me salvava por ficar 
caladinha.
T18: Isso explica por que quando ela lhe disse “tire-o”, você ensaiou 
uma defesa muito tímida: “Não, você acha?”, disse você. Foi 
então, não só por suas próprias dúvidas, mas também por 
seus temores em contradizê-la. Seria desobedecer-lhe, rebe­
lar-se e expor-se a ser castigada por ela. Por isso tem medo de 
manter a gravidez, a qual teria, como castigo, a ocorrência de 
alguma coisa ruim, como por exemplo que a tenham de ope­
rar de apendicite. Em parte, por tudo isso sente que seria 
melhor “tirá-lo” e assim evitar o perigo. Isso significa que 
continua dependendo dos outros, esperando aprovação para 
levar suas coisas adiante e agora sua gravidez.
Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
Uma sessão de psicoterapia breve 141
P I9: (Protestando em tom amável): Bem, doutor, mas meus pais 
não aceitavam meu marido, opunham-se a que eu me casas­
se, e no entanto eu o fiz!
T I9: Está certo, então se entende que é com muita razão que você 
se sinta tão inquieta. Além de se atrever a casar sem a apro­
vação de seus pais, agora quer ter um filho dele... (brincan­
do)'. É o fim!
P20: Ah!... (surpresa). Não havia pensado nisso... Acho que é 
assim.
T20: Então, acho que se coloca na posição do cachorrinho, te­
mendo ser duramente castigada por “esquentar” e ter rela­
ções sexuais. Seu sentimento de culpa por ter-se casado, 
apesar da oposição de seus pais, e por ter relações sexuais 
antes e depois do casamento, parece que não desapareceu, e 
agora é maior com a gravidez. Se bem que deva haver mui­
tas outras coisas para se ver com respeito aos problemas ante 
sua gravidez, creio que hoje vimos algumas que parecem ser 
muito importantes e que devem estar pesando muito em você. 
O que acha?
P21: Acho que sim, que tem razão.
T21: Temos que encerrar por hoje.
Comentários sobre a sessão
A paciente chega tarde, coisa que já havia ocorrido em algu­
mas sessões anteriores. Em primeiro lugar, trato de concentrar sua 
atenção sobre este fato, já que ele interfere sensivelmente em 
nosso trabalho. Faço-o de modo a ser o menos persecutório possí­
vel, não permitindo que ocorra um silêncio prolongado, que cor­
rería o risco de ser vivenciado como muito inquisidor ou direta­
mente acusador (Intervenções T 1 e T2). Por mais que o fato de 
querer ficar na cama possa em parte ser explicado pela retração e 
excesso de sono que as mulheres costumam sentir durante as pri­
meiras semanas de gravidez, e cuja causa é a regressão que se pro­
duziría a partir da identificação com o feto (6), abordo suas resis­
tências através de um fator determinante, essencial às mesmas. Isto 
é, através de sua ambivalência ante a gravidez, mostrando-lhe
142
também o pape! de defensor e protetor desta, no qual parece que­
rer me situar (T3). Além do mais, trata-se fundamentalmente de 
uma interpretação “transferencia!”, destinada a superar o obstácu­
lo resistencial, uma vez que já nos momentos iniciais da sessão 
uma intenção focalizadora se manifesta através desta intervenção.
Em T4, volto a interromper seu silêncio com uma interven­
ção que tende a tranqüilizá-la, atenuando assim sua perseguição, 
visto que quero fazê-la sentir que compreendo - e tolero - suas 
dificuldades de trabalhar na sessão.
Em T6, através da expressão corporal que manifesto, de­
monstro à paciente também verbalmente atenção e interesse diante 
do material que me traz, numa tentativa de propiciar boa relação 
terapêutica e particularmente de estimular sua atividade egóica 
(recordar, raciocinar, etc.), a serviço da tarefa terapêutica. Em P6 
mencionou algo que lhe aconteceu com um cachorro. Corno em 
sessões anteriores havia ficado evidenciado que este animal sim­
bolizava para ela os filhos, deduzo então que se trata de material 
pertinente ao foco. Reforço, portanto, a canalização nessa direção, 
dispondo-me a escutá-la fazendo uso da atenção flutuante.
No transcorrer do tratamento, a tarefa mterpretativa estimula 
o aparecimento de um rico material associativo, como o de P7. 
Rita relata ali recordações que impressionam pelo vínculo à 
repressão sexual e à violência de seu meio familiar. A esse respei­
to, esboça levemente uma atitude crítica, na verdade pouco desen­
volvida em conseqüência de sua submissão, quando admite a pos­
sibilidade de tratar-se de coisas “feias”. Estamos sem dúvida 
diante de um material focal que convém abordar. Parece estar do­
tado de uma grande carga emocional que me impressiona muito, 
dando-me a sensação, além do mais, por indícios que a seguir 
veremos, de estar diante de algo de decisiva importância para 
compreender a problemática da paciente.
As recordações de Rita provocam em mim ocorrências que, 
segundo vislumbro, podem ajudar-me a detectar o ponto de urgên­
cia. Tudo isso acontece rapidamente. Trata-se agora de decidir o 
que interpretar e de eleger uma determinada linha interpretativa 
entre várias possíveis, situação essa que se apresenta com freqüên- 
cia nessas terapias. Mencionarei alguns dos pensamentos que me 
passaram pela mente nesses momentos sobre o significado que
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Uma sessão depsicoterapia breve 143
poderiam ter essas recordações surgidas em tais circunstâncias, e 
prestarei especial atenção à primeira das ditas recordações.
1. Estariam relacionadas com sentimentos infantis de culpa e 
fantasias de castigo pela sexualidade incestuosa. (E sobretudo a 
recordação descrita pela paciente no primeiro momento que suge­
re tal conteúdo.)
2. Penso a seguir que poderiam estar encobrindo situações 
tanto anteriores quanto posteriores à época de que datam. A esse 
respeito me ocorre que a primeira comunhão poderia então repre­
sentar seu casamento (as meninas trajando longos vestidos bran­
cos se assemelham a pequenas noivas); as atividades sexuais dos 
animais na véspera dessa comunhão, suas próprias relações pré- 
conjugais; o cachorro machucado, sua genitalidade culposa e 
rejeitada que ela sente que a destrói, pois a faz perder sua pureza e 
que por isso, por tratar-se de um pecado, deve ocultar, casando-sc 
“de branco”. (“Não vamos mostrar um cachorro assim maltratado 
aos outros”.) Também o cachorro jogado ao rio dentro de um saco 
e o sofrimento experimentado encobririam outro fragmento de 
sua história: o aborto, a dor que lhe causa, a preocupação pelo feto 
perdidoe seu destino, tudo isso que é necessário negar ou subesti­
mar e ao qual se soma o fato de que o aborto é por sua vez o casti­
go por haver realizado algo proibido.
3. A cadela no cio me faz pensar na atual gravidez de Rita, já 
que o cio é o período em que ocorre a fecundação. Este pensa­
mento é o ponto de partida para as duas suposições que figuram a 
seguir.
4. Poderia haver, além do mais, fantasias subjacentes referi­
das ao parto, nas quais prevalecería o temor de dar à luz um filho 
deficiente ou talvez monstruoso (cachorro “descadeirado”), que 
teria de ocultar ou eliminar, o que se relacionaria com sua culpa 
por desejos sexuais incestuosos e pelo aborto.
5. Expressariam sua atual preocupação e seus temores pelo 
que poderia acontecer a seu filho e em especial pela perspectiva 
de ser vítima de um violento ataque familiar à sua gravidez, ata­
que fantasiado como aborto, já que a família aparece condenando 
sua sexualidade e por fim seu matrimônio e gravidez.
Ainda que todas essas hipóteses sejam concernentes à confli- 
tiva focal c se encontrem intimamente relacionadas, decido for-
144 Psicoterapia breve de orientaçãopsicanalitica
mular uma interpretação que possa conectá-la com as prováveis 
fantasias subjacentes enunciadas no item 5. É que este último 
enfoque se ajusta melhor ao que tem sido evidenciado nas ses­
sões. Por outro lado, seu medo de abortar é próprio da etapa de 
gestação que está atravessando, na qual existe um risco de aborto 
espontâneo (6). Nessas circunstâncias poderia ser menos difícil 
que compreenda e aceite uma interpretação referente a esses 
temores, do que se a opção tivesse sido por outras interpretações. 
Isto porque parto de fatores já conhecidos de Rita, como o dos 
cachorros que para ela têm o significado de bebês, e a oposição 
familiar à sua gestação. Um objetivo importante aqui é que ela 
possa tomar consciência de seus sentimentos de proteção para 
com o filho, assim como o faz com os sentimentos de rejeição 
ante a gravidez. Também é necessário que reconheça que foram 
os sentimentos de proteção projetados no esposo e em mim que 
possibilitaram sua consulta8.
Em T8 configura-se então uma abertura para uma linha inter- 
pretativa a ser seguida no transcorrer dessa sessão. Começo ali tra­
tando de comunicar à jovem que a aparição dessas recordações se 
deve ao determinismo psíquico. Mostro suas tendências maternais 
ocultas, o medo de perder o filho outra vez através de novo aborto, 
fantasiado como se fosse a família que lhe arrebata violentamente 
o filho e o destrói, como aconteceu com seu cachorro. (A evocação 
de um cachorro atropelado por um caminhão parece expressar 
também sua preocupação pelo destino do filho.)
Em P9, a paciente aparentemente rejeita a interpretação, uti­
lizando-se essencialmente da negação.
Em T9, procuro indagar - mediante uma pergunta o que 
significa o ressurgimento da recordação dos acessos de violência 
de sua mãe1. Pode-se observar aqui. além do mais, e no seguimen­
to da sessão, a assunção de um papel decididamente ativo por 
parte do terapeuta, que não se limita a esperar o material da pa­
ciente e interpretar a partir de sua apresentação, mas que participa 
intensamente e de diversas maneiras, incluindo a formulação ffe- 
qüente de perguntas (Tl, T2, T4, T6, T7, T9) e de explicações que 
recordam sinteticamente a ordem de trabalho (T5). Junto à ativa­
ção egóica da paciente, isso se vai traduzindo numa gradual de­
marcação e aprofundamento focais.
Uma sessão de psicoterapia breve 145
A partir de PIO, vai-se confirmando a existência de uma 
imago materna muito persecutória, pela qual inconscientemente 
se sente ameaçada e condenada a abortar, o que configuraria o 
conflito básico. TIO e TI 1 são na realidade interpretações que es­
boçam e apontam para esse conflito (ainda que sem revelá-lo dire­
tamente no momento), formuladas como interrogações, quer 
dizer, como suposições, e também destinadas a comprovar sua 
resposta a elas a fim de verificar sua tolerância para enfrentar os 
referidos conflitos. Seu medo de ter de se submeter a uma inter­
venção cirúrgica de apendicite, como o fora sua mãe, está sem 
dúvida muito mais próximo da consciência que seu medo do 
aborto - daí sua rápida resposta de aceitação da interpretação em 
P 12, o que não ocorre em P9 - configurando o ponto de emergên­
cia, dado pelos temores particulares correspondentes à etapa de 
gestação que está atravessando10 e que o mito familiar acerca da 
gravidez fomenta sobremaneira11.
Em T 12 trato de incrementar sua motivação para compreen­
der melhor as causas de seus temores, formulando uma nova 
interrogação. Em P I3, inicialmente não aborda de modo direto 
elementos de interesses como resposta. Logo sobrevêm uma 
pausa, através da qual parece querer fugir ao tema, quem sabe 
muito ansiógeno (o que sugere que devo ter cuidado em não for­
mular interpretações prematuras dentro do conflito em questão), 
ainda que aquilo a que faz referência guarde igualmente estreita 
relação com o evitado. Isso porque alude à sua submissão ao 
grupo familiar, assim como ao seu parceiro - como se pode com­
provar mais adiante na sessão - , que a levou a abandonar diversas 
atividades, censuradas essencialmente pelas conotações sexuais 
que teriam para eles.
Em T I3, assinalo a negação maníaca da realidade, isto é, a 
submissão às normas grupais. (Nesta paciente toma-se necessário 
assinalar constantemente o empobrecimento a que conduz a exa­
cerbação de suas defesas maníacas, que se opõem fundamental- 
mente ao autoconhecimento.)
Em P14 e P I5, a paciente demonstra aceitar a realidade evi­
denciada. A negação parece ceder um pouco. Já em P 16 se anima 
a resgatar e evocar juízos críticos para com aqueles que se opu­
nham preconceituosamente a seus estudos.
146 Psicoterapia breve de orientaçãopsicanalitica
Em T I6 aludo às suas racionalizações diante das dificulda­
des causadas pela submissão, às quais acrescento as que registra 
para vir às sessões por sua vinculação com o proibido (a psicolo­
gia). Insisto assim em deter-me nos obstáculos resistenciais. Por 
outro lado, observa-se também a extensão que nessa oportunidade 
como em outras, dentro dessa sessão, pode alcançar a formulação 
de uma interpretação ou de qualquer outra intervenção verbal nes­
ses tratamentos. Isso se harmoniza com o tipo de vínculo e por­
tanto de comunicação que se instala, cujas características são uma 
mútua participação ativa, numa atmosfera de ágil intercâmbio, na 
qual não preocupa muito que em certos momentos o terapeuta 
possa chegar a falar tanto ou mais que o paciente.
Em P I7, pode-se dizer que Rita está próxima de um insight. 
O material que fornece se apresenta extremamente produtivo e 
revela, além do mais, um bom funcionamento egóico a serviço da 
tarefa.
Em T I7 faz-se necessário interpretar a transferência. Por 
meio dessa interpretação espera-se que Rita compreenda um 
aspecto importantíssimo de sua problemática atual e o motivo 
latente da consulta, que seria a busca de uma figura parental - 
sobretudo materna - permissiva e protetora para sua maternida­
de12. Incluo-me nessa interpretação, sem que isso no entanto 
implique concentrar todo o interesse da paciente na relação tera­
pêutica. Assim sendo, procuro de imediato orientar sua atenção 
para as figuras de sua realidade externa e cotidiana, característica 
fundamental dessas terapias. Para a paciente, a interpretação 
“transferenciai” cumpre aqui uma função claramente ilustrativa 
de seus problemas atuais (dependência patológica), sem no entan­
to ser utilizada como um instrumento para promover a dependên­
cia regressiva transferenciai, não constituindo necessariamente o 
tipo principal de interpretação e conectando o que sucede com 
outros objetos da realidade externa.
Em T 17 pode-se observar também a intenção de recolocar a 
paciente na situação-problema, trazendo novamente para o pri­
meiro plano sua gestação, o que configura um aspecto do trabalho 
de focalização.
Em P 18 surgeo temor de Rita à sua genitora, em especial o 
castigo pela rebelião, o que, dentro de uma estrutura focal, já en-
Uma sessão depsicoterapia breve 147
volve o conflito básico. Esse momento é resultado da lenta pene­
tração no foco durante a sessão e de que pouco a pouco foram 
cedendo as defesas maníacas, permitindo assim que venha à tona 
a situação persecutória subjacente.
T18 é uma nova interpretação “extratransferencial”, por 
meio da qual se tenta promover um insight inicial de um aspecto 
decisivo de seus conflitos, dado por sua submissão à figura mater­
na e por extensão a outras figuras superegóicas. A perspectiva é 
conseguir, em sessões posteriores - até onde seja possível e indi­
cado e com base nessa revelação - , um maior aprofundamento, 
que contemple entre outras coisas o problema da culpa, num sen­
tido mais amplo, pelo fato de crescer e desprender-se do grupo 
familiar.
Em P19, a paciente traz elementos para que em T 19 se con­
firme e complemente o expresso em T I8, favorecendo assim que 
se clarifique ainda mais sua visão do problema atual à luz de seus 
sentimentos de culpa por ter-se “rebelado”.
A intervenção em T I9, em tom de brincadeira - sempre com 
base numa atitude cordial para com a paciente responde ao mo­
do expressivo assumido por Rita em P I9 e encerra um momento 
de insight obtido, como parece atestar sua reação em P20, 
demonstrativa do efeito emocional produzido pelas descobertas. 
(Este momento da sessão é por sua vez um dos que melhor exem­
plificam a afabilidade e a fluidez de diálogo que a comunicação 
pode assumir.)
Em T20, por fim, creio ser possível e oportuno confrontar a 
paciente, contando com certas perspectivas de que consiga um 
insight, com conteúdos reprimidos que possam emergir das recor­
dações do cachorro maltratado, de tal modo que quase toda a ses­
são pode ser considerada sob esse ponto de vista como um traba­
lho preparatório para a receptividade de interpretações similares, 
de importância crucial no processo terapêutico, posto que abor­
dam, ainda que parcialmente, o conflito básico dentro do foco, o 
que nem sempre é possível. Também tento, em T20, reafirmar o já 
formulado em interpretações imediatamente anteriores. Por últi­
mo e como forma de encerrar, incluo apreciações acerca das des­
cobertas obtidas na sessão, que espero sirvam para estimular a 
participação de Rita na tarefa, e ao mesmo tempo procuro manter
148 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
sua curiosidade e suas expectativas a respeito desta (“...deve haver 
muitas outras coisas para serem vistas...”, etc.) e propiciar nela 
uma atitude reflexiva, de introspecção, dificultando eventuais ten­
dências ao acting out (na forma de uma “pseudo-independência”, 
por exemplo).
P21 é uma nova resposta afirmativa de aceitação às minhas 
intervenções. Respostas como esta vão-se fazendo mais freqüen- 
tes no decorrer da sessão (o que se confirma a partir de PI 1 e 
especialmente em P I7 e P20) e me sugerem, pelo clima afetivo 
que impera, tratar-se de uma atenuação dos mecanismos manía­
cos e de um ascendente predomínio da transferência positiva, em 
vez de respostas vazias ou de submissão ao terapeuta.
Rita decidiu prosseguir com sua gravidez. Nos estágios fi­
nais da mesma, padeceu de uma afecção renal, motivo pelo qual 
teve de guardar repouso na cama por aproximadamente um mês e 
meio, tendo-se recuperado por completo. Deu à luz uma robusta 
menina, em parto normal. Pouco tempo depois, demos por encer­
rado o tratamento.
R e fe rê n c ia s b ib lio g rá fic a s
1. A lleg ro , L ., C o m u n icac ió n personal.
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1971, cap. 1.
8. Dificuldades do terapeuta para a 
formação, prática e investigação 
em psicoterapias breves1
Introdução
Vou rcferir-me a alguns dos problemas que em nosso meio 
apresentam-sc aos terapeutas ante a psicoterapia individual breve 
de orientação psicanalítica. Poderiamos considerar a questão 
como uma conscqüência das dificuldades dos terapeutas para se 
ajustarem ao seu enquadramento e finalidade, o que por sua vez 
se traduz inevitavelmente em dificuldades no exercício desse 
método terapêutico, na avaliação dos resultados obtidos e, o que é 
ainda mais grave, ameaça desacreditá-lo cada vez mais.
Antes de tudo, não devemos nos enganar: por mais que desde 
alguns anos se fale bastante em terapias breves, de cuja utilidade 
para avaliar o problema que a assistência psiquiátrica maciça da 
população suscita muito poucos duvidam, mesmo assim observa­
mos uma considerável resistência por parte dos profissionais para 
o seu emprego ou, no caso de praticá-las, para adequar-se ao en­
quadramento que as mesmas exigem e que as diferencia de outras 
técnicas psicoterapêuticas.
Assim sendo, na prática assistência!, seja nos serviços psi­
quiátricos hospitalares ou nos centros de saúde mental, seja nos 
hospitais psiquiátricos ou nas instituições privadas, à medida que 
os anos passam, ainda permanece a impressão de que os terapeu­
tas que se dedicam às psicoterapias breves “fazem o que podem” e 
enfrentam, à sua maneira, as vicissitudes e dúvidas que lhes im-
150 _ Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
põem a tarefa. Não podemos deixar de supor que tal situação 
diminui a eficácia terapêutica do procedimento e que é necessá­
rio portanto vencer os empecilhos que existem para instrumentar 
com êxito os diferentes recursos que podem fazer parte da terapia 
breve.
Esses fatos têm-me chamado muito a atenção e também 
tenho me formulado as perguntas obrigatórias: Por que isso 
ocorre? Que motivos existem para que o processo de aprendiza­
gem dos terapeutas do emprego das terapias breves se atrase e 
se veja freqüentemente entorpecido? Diversos investigadores já 
assinalaram algumas das causas. Pela importância que têm a re­
lação com o que colocarei em seguida, vou citá-las aqui. De mi­
nha parte quero referir-me à incidência que em minha opinião 
certos fenômenos próprios da relação paciente- terapeuta, em 
sua maior parte inconscientes têm sobre esses fatos, e que, jus­
tamente por essa condição, influem sobremaneira na mesma, 
sendo mais difíceis de controlar. Convém esclarecer que essas 
opiniões são basicamente resultado de minhas reflexões a res­
peito das próprias vivências experimentadas ao longo de minha 
tarefa em psicoterapia de tempo limitado e do conhecimento 
das idéias de H. Searlcs (15) (16) (17) sobre a inter-relação pa­
ciente-terapeuta, que me despertaram um profundo interesse, 
esclarecendo-me aspectos de decisiva importância no processo 
terapêutico.
Ao longo deste capítulo, abordarei os seguintes pontos:
• A dificuldade de adaptação ao enquadramento da psicote­
rapia breve.
• Dificuldades diante do término do tratamento psicotera- 
pêutico breve.
• Dificuldades na avaliação dos resultados obtidos em psico­
terapia breve.
• Desprestígio da psicoterapia breve enquanto indicação tera­
pêutica.
• Outras dificuldades do terapeuta diante das terapias breves.
• Conclusões.
Dificuldades do terapeuta 151
A dificuldade de adaptação ao enquadramentoda psicoterapia breve
“Psicoterapia breve ‘versus’ psicanálise”
A P.B. de orientação psicanalítica constitui, como se de­
preende desta denominação, um procedimento terapêutico basea­
do em certos elementos fundamentais da teoria psicanalítica. Já 
em 1918 Freud antecipou que os novos métodos que seriam utili­
zados com o correr do tempo para efetuar tratamentos psicotera- 
pêuticos em grandes massas da população deveriam, em sua opi­
nião, partir da psicanálise; mas acrescentava que esta teria de 
sofrer um processo de adaptação às novas condições (11). Não 
obstante, na prática, para muitos é difícil aceitar a coexistência da 
psicanálise e da psicoterapia breve e reconhecer que se trata de 
métodos que têm utilidade, alcance e indicações determinados.
E habitual a tendência a desvalorizar a P.B. e a difundir a idéia 
de que só um tratamento psicanalítico tem reais propriedades 
curativas, capazes de produzir autênticas mudanças nos pacientes. 
Muitas vezes tal idéia se relaciona com a necessidade que os tera­
peutas jovens sentem de idealizar a psicanálise, o que por sua vez 
se acha ligado a seus desejos de se converterem em psicanalistas 
(20). Como é de se supor, têm de maneira geral extremo interesse 
em exercitar-se na técnica psicanalítica.
Que acontece então quando as circunstâncias impedem de se 
efetuar um tratamento psicanalítico? Cai-se freqüentemente na 
realização de uma psicanálise “curta”, portanto interrompida, 
pouco eficaz e, como logo veremos, até perturbadora para o pa­
ciente.
Comumente é nos estabelecimentos assistenciais, onde se 
deve oferecer atenção psicológica a um número elevado de 
pacientes, que se faz sentir com mais intensidade a necessidade de 
empregar a P.B.. Nesses estabelecimentos, os terapeutas princi­
piantes são maioria e, em definitivo, têm a seu cargo de maneira 
geral a realização dos tratamentos breves. Esses terapeutas são 
objeto das influências já citadas, ao que se soma uma tendência 
defensiva natural em aplicar aos pacientes aquilo que melhor
152 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
conhecem (o novo é menos seguro e gera ansiedades paranóides), 
quer dizer, a técnica psicanalítica. Além disso, as modificações 
técnicas que necessitam introduzir são sentidas com frequência 
como uma “heresia” ante o modelo psicanalítico, originando-se 
situações persecutórias, que se costuma chamar de “superego ana­
lítico”, que podem intensificar-se diante de supervisores aferrados 
em demasia à técnica da psicanálise ortodoxa e que não aceitam 
facilmente essas modificações. Toda essa situação torna difícil a 
aplicação dos novos métodos, pois é vivida como uma falta de 
garantia interna e externa para o trabalho a ser desenvolvido.
Também como conseqüência dessas pressões, as terapias 
breves podem traduzir-se na prática em uma psicanálise “breve” 
(19), a qual, como bem disse Usandivaras, leva a uma “desvalori­
zação da nova técnica” (20).
Apesar do relativo interesse que a P.B. tem despertado, esses 
problemas lamentavelmente ainda existem, e para muitos a P.B. 
continua sendo um parente pobre da psicanálise, como assinalam 
Szpilka e Knobel, os quais sublinham o estado de desprestígio e 
de confusão que se observa em torno dela. Concordo com ambos 
os autores quando atribuem tal situação ao fato de que se trans­
põem uas vivências, os conhecimentos e as técnicas psicanaliti- 
cas para essa psicoterapia” (19). (O grifo é meu.)
Na intimidade da relação terapeuta-paciente
Pessoalmente perguntei-me o porquê de tal transposição. 
Creio que sua persistência obedece não só aos motivos até aqui 
enunciados, nem somente à carência de possibilidades de infor­
mação a respeito da teoria e da técnica da P.B., quanto à qual, na 
atualidade, felizmente contamos com um valioso, embora não 
abundante, material bibliográfico; tampouco considero que sejam 
as discrepâncias entre os diversos autores que provoquem confu­
são, já que, no final das contas, tais discrepâncias não são tão 
grandes nem tão abundantes. Essa pergunta se impôs a mim com 
maior intensidade quando me dediquei à realização de uma expe­
riência hospitalar sistemática em P.B. durante um ano, e ao com­
provar que, se bem que eu tivesse suficientemente clara, de início,
Dificuldades do terapeuta 153
a maneira segundo a qual me havia proposto a trabalhar, diferen­
ciando com certa precisão a técnica a ser empregada da técnica 
analítica, comecei a notar em mim uma forte e às vezes irresistí­
vel tendência de criar ou favorecer o estabelecimento da “atmos­
fera” psicanalítica nas sessões, sobretudo através de insistentes 
interpretações transferenciais (afortunadamente reduziram-se, em 
geral, a ocorrências que não foram postas em prática e que pode­
ríam facilitar o desenvolvimento da neurose de transferência e 
estimular a conseqüente regressão e dependência do paciente). 
Corria-se o risco de que isso sucedesse a contragosto, contraria­
mente à minha ideologia terapêutica em matéria de terapias de 
tempo limitado e respondendo a uma tendência que não conse­
guia controlar e que nem poderia explicar unicamente através das 
razões aqui expostas (preconceitos com relação a qualquer técni­
ca que não fosse a do tratamento psicanalitico, etc.). Cheguei a 
pensar então que uma força interior me conduzia insensivelmente 
a tal atitude, a respeito do que me indicava a realidade (objetivos 
limitados, poucos meses de tratamento, inconveniência do estabe­
lecimento de uma neurose transferenciai e de estimular a regres­
são, etc.). Mas tampouco tinha eu dúvidas de que, em vários de 
meus pacientes, manifestava-se uma notória inclinação para cons­
tituir comigo um vínculo emocionalmente intenso e regressivo. 
Foi o conceito proposto por H. Searles sobre a simbiose terapêuti­
ca (15) (16) (17) que me permitiu entender o fenômeno e formu­
lar minha hipótese sobre o que acontece no tratamento breve. Sus­
tenta Searles que o vínculo terapeuta paciente atravessa um mo­
mento de simbiose e que tanto o paciente como o terapeuta contri­
buem para que ele seja assim. Esse vínculo simbiótico tem suas 
raízes na relação mãe filho e tende a se estabelecer e consolidar 
cedo ou tarde durante o tratamento psicanalitico, devendo final­
mente se atingir sua resolução.
Com base num insight progressivo em seus pacientes e nele 
próprio, Searles desenvolveu suas impressões referentes ao papel 
fundamental da simbiose terapêutica, oferecendo uma maior 
“compreensão do significado emocional do paciente para o tera­
peuta e vice-versa” (16) e ressaltando, além disso, “o efeito dos 
processos inconscientes do terapeuta sobre o paciente” (16) no 
vínculo simbiótico2.
154 Psicoterapia breve de orientaçãopsicanalítica
Para Searles, a simbiose terapêutica se apresenta tanto em 
pacientes psicóticos quanto em neuróticos. E ainda que inicial­
mente a tenha detectado e descrito na psicoterapia de esquizofrê­
nicos crônicos (15), logo teve que reconhecê-la na evolução trans­
ferenciai de pacientes neuróticos.
Searles descreveu, além disso, como a inter-relação simbióti- 
ca atravessa distintas “fases”, na psicoterapia de esquizofrênicos 
crônicos, até chegar finalmente à de individualização do paciente. 
Em tais fases, a simbiose terapêutica experimenta mudanças de 
significado qualitativas e quantitativas. Assim, em determinado 
momento, durante meses ou anos, constitui fonte de intensa grati­
ficação para paciente e terapeuta, com freqüência negada por 
este último, mas profundamente valorizada (15). Diz esse autor: 
“(...) atualmente tenho me dado conta - mesmo quando isso me 
provoca muita ansiedade - dos profundos, embora inconscientes, 
processos gratificantes da relação simbiótica que tanto o paciente 
quanto o terapeuta se mostram renitentes em abandonar” (16). 
Sustenta também que a relação de transferência simbiótica “(...) 
apesar de seus tormentos (...) constitui uma fase necessária na psi­
canálise ou psicoterapia tanto de pacientes neuróticos como de 
psicóticos''' e que “tanto o paciente quanto oterapeuta (...) se vêem 
submersos e arrastados em direção à corrente, ao processo de tra­
tamento (...). Não só o paciente, mas também ele está agarrado a 
um processo, o processo terapêutico, o qual, por sua força, é com­
parável ao processo de maturação na criança (...), o qual (...) tam­
bém é poderoso tanto para o paciente quanto para ele mesmo, 
demasiadamente poderoso para serem capazes de desviá-lo com 
facilidade (...) para fora do canal confluente, o qual tende a for- 
mar-se por si mesmo” ( 16). (Os grifos são meus.)
a) A relação terapeuta-paciente no tratamento psicanalitico
A análise das emoções transferenciais e contratransferen- 
ciais mostra freqüentemente que estas alcançam grande intensida­
de e muitas delas são altamente gratificantes para o analista. Isso 
é particularmente notório na psicanálise de esquizofrênicos crôni­
cos, quando estes despertam sentimentos maternais no terapeuta,
Dificuldades do terapeuta 155
permitindo uma tarefa reparatória, e nesses momentos o próprio 
paciente vive o terapeuta transferencialmente como uma mãe (ou 
pai) ideal, o que estimula no terapeuta o sentimento de onipotên­
cia3. Essas emoções aparecem em parte como conseqücncia da 
situação regressiva do paciente, que o leva a situar o analista no 
lugar de uma figura parental. Vai-se configurando uma estreita 
relação, na qual o analista, ao fomentar por sua vez a regressão do 
paciente, sente-se cada vez mais objeto de todos os sentimentos 
deste e protagonista decisivo em sua vida, o que é altamente grati- 
ficante. Pode “converter-se” então na muito amada (ou inclusive 
muito odiada) mãe, nesse “mundo dos dois”, do paciente e do 
analista, que se prolongará por anos e no qual o “como se” da rela­
ção não o impede de experimentar intensos e prazerosos senti­
mentos'1.
Esclareçamos desde já que tudo isso também ocorre em me­
nor magnitude na psicanálise de neuróticos, especialmente nas 
etapas de maior regressão dos pacientes; sabemos além disso que 
o tratamento costuma centrar-se na elaboração da relação transfe­
renciai.
Em resumo: o estabelecimento do vínculo simbiótico na re­
lação paciente-terapeuta parece ser um fenômeno que tende a se 
produzir espontaneamente. No tratamento psicanalítico, essa inter- 
relação simbiótica pode ser fomentada em beneficio do processo 
terapêutico.
b) A relação terapeuta-paciente na psicoterapia breve
Qual é a situação que se apresenta em P.B.? Que acontece 
com o fenômeno que acabamos de descrever e que se anuncia 
desde que começam a interatuar paciente e terapeuta? Penso que o 
enquadramento que requer a P.B. resulta frustrante nesse aspecto, 
pois oferece um campo menos propício para as citadas gratifica­
ções do terapeuta. Sabemos que temos que nos propor objetivos 
limitados, que carecemos do tempo necessário para trabalhar a 
neurose de transferência e a regressão conseqüente até conseguir 
que sejam elaboradas, e que é preciso controlar, na medida do 
possível, a regressão do paciente. As condições do enquadramen­
to da P.B. são dirigidas para evitar a instauração de um vínculo
156 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
pacientc-terapeuta demasiado intenso emocionalmente; mas não 
ignoramos que em certas circunstâncias os sentimentos transfe­
renciais e contratransferenciais são muito fortes, e que além disso 
encontramos pacientes que de um modo quase espontâneo desen­
volvem uma intensa regressão desde o início do tratamento. Con­
sidero que, numa terapia breve, esse fato geralmente constitui 
uma complicação (ver capítulo 10, pp. 178 ss.).
Na opinião de numerosos autores, (1) (3) (8) (10) (19) (22), 
nos quais me incluo, em P.B. convém em termos gerais recorrer à 
interpretação da transferência somente em determinadas circuns­
tâncias, quer dizer, que não se deve empregá-la com a assiduidade 
e com a finalidade com que se utiliza em psicanálise5, já que se 
deverá evitar a regressão transferenciai. Parece conveniente, pelo 
contrário, recorrer às interpretações denominadas “extratransfe- 
renciais”, que na realidade tendem a tornar conscientes outras 
transferências do paciente, aquelas que estabelece com as pessoas 
com as quais se relaciona em sua vida cotidiana, já que desde um 
primeiro momento procura-se que concentre seu interesse nela, 
em lugar de fazê-lo na relação com o terapeuta. Isso naturalmente 
é coerente com o propósito de conseguir a resolução de seus con­
flitos atuais. É de supor então que a P.B. não se presta a que o tera­
peuta satisfaça suficientemente certas expectativas latentes na 
relação com o paciente, diferentemente do que acontece na práti­
ca da psicanálise. A experiência do terapeuta que realiza uma 
terapia breve pode diferir bastante da que vivência com um 
paciente em tratamento psicanalítico. Neste último caso pode 
“atrair” o paciente para uma intensa neurose de transferência, na 
qual o terapeuta se sentirá um protagonista importante. Mas numa 
terapia breve, devendo ater-se ao “de fora”, e levar o paciente a se 
interessar pela revisão de seus vínculos com seu verdadeiro pai, 
mãe, cônjuge, chefe, etc., o terapeuta pode experimentar um sen­
timento de exclusão. Quer dizer, já não será um terapeuta-mãe e 
deverá, em troca, conformar-se com sua condição real de docente 
experimentado (8) no tratamento, procurando manter uma trans­
ferência positiva moderada. Sentir-se-á, então, fora do universo 
do paciente. As conseqüências dessa vivência contratransferen- 
cial de frustração que, como se deduz, pode repetir-se com assi­
duidade numa terapia breve, dependerão de suas possibilidades
Dificuldades do terapeuta 157
de resolução do conflito. Se este alcança certa intensidade e não é 
controlado adequadamente, pode dificultar em alto grau a tarefa 
do terapeuta, que chegará a adquirir ou não consciência da situa­
ção. E possível, por exemplo, que reaja com intervenções agressi­
vas, que poderão por sua vez ser racionalizadas. Se os motivos 
estiverem reprimidos, pode erroneamente atribuir essa sensação 
de insatisfação e desilusão a uma suposta ineficácia ou fracasso 
do método psicoterapêutico breve, tendendo além disso a conven­
cer-se de que só a análise exaustiva e sistemática da transferência 
pode ajudar o paciente, e que de outro modo a terapia é “superfi­
cial”. Em suma sustentará que é preciso insistir em interpretar o 
“aqui e agora comigo”6, na busca inconsciente de gratificação 
através do fomento da neurose transferenciai.
c) Quando a psicoterapia breve converte-se 
em “psicanálise breve ”
Dessa maneira pode pôr-se em marcha o que há de ser uma 
espécie de “psicanálise breve” (19), induzindo o paciente, cons­
ciente ou inconscientemente, a estabelecer um vínculo simbióti- 
co, caracterizado por uma regressão a um tipo de dependência 
infantil com relação ao terapeuta. Creio ser por isso que lhe resul­
ta difícil renunciar a tal tipo de relação para aceitar o outro, mais 
ajustado às condições da realidade - e portanto mais frustrante - 
que a PB. exige, e que é por esta razão que a transposição da téc­
nica psicanalítica para as terapias breves se produz com tanta 
frequência. Com o paciente como criança-filho, o terapeuta pode­
rá ter acesso em certa medida às gratificações comumente nega­
das, mas profundamente valorizadas, que uma tal relação promete 
proporcionar-lhe.
Para estimular a regressão, o terapeuta pode apelar para o uso 
reiterado e até sistemático de interpretações transferenciais, au­
mentar a frequência e a periodicidade das sessões7, renunciar ao 
papel ativo na tarefa, usar o divã, etc.
Isso nos explica por que diferentes autores falam, em P.B., da 
“tentação” que o terapeuta pode experimentar de analisar a trans-
158
ferència. A esse respeito assinalam vários terapeutas; “Não se 
fomentou a regressão, respeitando-se a lógica e adequada pro­
gressão dada pela mesma relação terapêutica. Frequentemente 
houve necessidade de firmar-se nessa postura ante o material que 
trazia o paciente, que se apresentava como sedutor para a análise 
da transferência(...); a análise sistemática da transferência é 
uma tentação permanente para o terapeuta” (5). (Os grifos são 
meus.) Eu acrescentaria que se trata de uma tentação que não só 
corresponde ao desejo de investigação do terapeuta e de extrapo­
lar o sistema psicanalítico, pelas diversas razões assinaladas no 
começo deste capítulo, mas também e muito especialmente à 
busca das gratificações que lhe daria uma relação mais profunda 
com o paciente.
Outros autores fazem referência a uma necessidade de auto­
controle do terapeuta para regular as interpretações transferen­
ciais e com isso a regressão do paciente (1) (10).
Diz acertadamente Fiorini: “Flaveria além disso uma contra­
dição entre um enquadramento de tempo limitado e um processo 
no qual as intervenções do terapeuta ‘propusessem’ a regressão e 
a concentração de afetos do paciente nessa relação bipessoal (a 
situação se expressaria nesta proposição: ‘a relação que o senhor 
mantém comigo é muito importante para entender e tratar sua 
enfermidade; volte para ela todas as suas emoções e expectativas. 
Mas prepare-se para cortá-la de repente’)” (8). Mensagem e ação 
resultariam aqui do tipo estímulo-frustraçào, o que costuma per­
turbar o paciente.
Também tenta interpretar conflitos alheios ao foco terapêuti­
co, ainda que saibamos que em P.B. não é aconselhável abrir 
demasiadas feridas no paciente. Além do mais, não desconhece­
mos, pelo exercício da psicanálise, que isso conduz a um incre­
mento da regressão. Pessoalmente, e em especial em minhas pri­
meiras experiências em P.B., demandou-me um grande esforço 
“deixar passar” sem interpretar o material não relacionado com o 
foco.
Assim mesmo podemos compreender a resistência que às 
vezes experimenta o terapeuta para buscar e encontrar objetivos 
limitados em cada caso, pois isso o obrigaria a centrar-se mais na 
problemática atual do paciente para ajudá-lo a resolver questões
Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
Dificuldades do terapeuta 159
muito concretas e imediatas com um critério prospectivo, procu­
rando estimular nele a confiança em si próprio, assim como seu de­
senvolvimento independente, e conseguir desse modo que possa 
obter alta.
Dificuldades ante o término do tratamento 
psicoterapêutico breve
Em geral a tendência para fomentar a dependência no paciente 
complica a separação ao terminar o tratamento. Mas desse ponto 
me ocupo em mais detalhes no capítulo seguinte.
Só acrescentarei a respeito que, como consequência da dificul­
dade do paciente e do terapeuta para aceitarem a separação, chegam 
a ajustar recontratos que permitem prolongar a relação.
Dificuldades na avaliação dos resultados 
obtidos em psicoterapia breve
Em função da frustração que podem experimentar os tera­
peutas ao comprovar que o enquadramento da P.B. não lhes faci­
lita o acesso às negadas, ainda que muito desejadas, gratificações 
próprias de uma relação mais estreita e emocionalmente mais 
intensa com os pacientes, não é difícil supor que isso interfere na 
possibilidade do terapeuta de efetuar uma avaliação realista e 
justa dos resultados obtidos com o método, os quais por sua vez 
podem ser certamente pouco alentadores, se é que se insistiu em 
fomentar nos pacientes a dependência regressiva em lugar do 
autodesenvolvimento. Por isso, as mudanças de atitude que estes 
puderam apresentar em sua vida real são com muita freqüência 
rapidamente subestimadas e qualificadas como atuações, “fuga 
em direção à saúde”, etc. (Com isso não quero desconhecer a 
presença, nada rara por certo, de tais eventualidades nas terapias 
breves8.)
O terapeuta pode então resistir a reconhecer os progressos do 
paciente e até parecer muito decepcionado pelos resultados do 
tratamento, já que, em seu afã inconsciente de perpetuar sua
160 Psicoíerapia breve de orientação psicanalítica
dependência, não deseja que se produza a separação (a alta defini­
tiva significaria a ruptura do vínculo e a perda absoluta das possi­
bilidades de gratificação ligadas a ela). Atua como aquelas mães 
que, como não podem aceitar o crescimento e desprendimento de 
seus filhos, continuam a tratá-los como crianças.
Searles assinala que o terapeuta, na fase de resolução da sim­
biose^ pode experimentar os sentimentos de desvalorização e 
perda, por tudo aquilo que para ele o paciente significa, com o 
qual mantém “uma relação muito mais profunda do que a que crê 
capaz de perceber em si mesmo” (15).
Tende-se assim a desvalorizar a terapia breve, ante a necessi­
dade inconsciente de manter o uso excludente do método psicana- 
lítico como fonte de gratificação a partir do estabelecimento de 
um vínculo simbiótico com o paciente (neurose ou psicose trans­
ferenciai). A passividade que ainda observamos para resistir a 
este “movimento” faz-me pensar em uma espécie de acordo tácito 
entre os terapeutas, numa cumplicidade inconscientemente con­
solidada, cujos motivos subjacentes mantêm-se ocultos.
Desprestígio da psicoíerapia breve enquanto 
indicação terapêutica
Pode-se deduzir que os motivos expostos, ainda que de modo 
geral não reconhecidos, diminuem o entusiasmo dos terapeutas 
para optar pela indicação e utilização da P.B. em determinadas 
situações em que a mesma poderia ser um recurso terapêutico 
nada depreciável. Desanima-os principalmente a perspectiva de 
estabelecer uma relação fugaz, com um objeto que logo perderão. 
O luto pela separação predeterminada desempenha um importan­
te papel em P.B. tanto para o paciente como para o terapeuta e, 
com freqüência, parece repercutir mais no terapeuta que no 
paciente (6). O tratamento psicanalítico, pelo contrário, oferece a 
possibilidade de um vínculo mais duradouro e portanto menos 
frustrante.
Dificuldades do terapeuta 161
Outras dificuldades do terapeuta ante as terapias breves
Recapitulando até aqui, consideramos que os terapeutas, es- 
pecíalmente os novatos, tropeçam, para o estudo e emprego eficaz 
da P.B., em obstáculos que remetem:
a) à idealização da psicanálise, junto ao desejo de desempe­
nhar o papel de psicanalistas nos tratamentos que empreendem e 
ao temor de utilizar outros procedimentos que são desvalorizados, 
apresentando-se como muito duvidosas suas possibilidades de 
eficácia. As terapias breves aparecem como o novo e incerto 
diante de técnicas mais conhecidas e seguras;
b) às dificuldades para adaptar-se ao enquadramento que exi­
ge a P.B., por tratar-se de uma relação terapeuta -paciente que ofe­
rece menos gratificações que a psicanalítica;
c) às resistências do ambiente profissional circundante. Os 
supervisores adquirem aqui especial importância.
A fim de oferecer uma visão mais completa do problema, 
acrescentaremos os seguintes fatores:
d) uma experiência prévia insuficiente em tratamentos pro­
longados, como o psicanalítico, experiência que, ainda que não 
seja imprescindível, é muito conveniente para a formação psicote- 
rapêutica em terapias breves;
e) necessidades econômicas do terapeuta (em parte em virtu­
de dos gastos que lhe demanda sua formação profissional), que o 
levam a preferir os tratamentos prolongados, já que geralmente 
lhe possibilitam uma remuneração mais estável.
Por último quero mencionar a influência de outros fatos dc 
particular importância que me foram apontados:
f) em P.B., a ênfase recai na melhoria clínica do paciente e 
em grau muito menor na investigação exaustiva de sua psicopato- 
logia ou de qualquer outro aspecto, como o permite a psicanálise, 
circunstância que também contribui para a perda de interesse por 
essa terapêutica (13);
g) freqüentemente a P.B. impõe ao terapeuta um ritmo fati- 
gante “[...] pode fazer com que para este a experiência resulte 
embrutecedora e compulsiva” (2). A isto junta-se o esforço que no 
meio hospitalar, por exemplo, requer a abordagem de um novo 
caso tão logo termine o tratamento breve de um paciente anterior.
162
Em comparação com a prática da psicoterapia prolongada, ocorre 
agora que deve atender mais pacientes num mesmo espaço de 
tempo, comcerta exigência de conseguir mudanças a curto prazo, 
o que em termos de economia psíquica significa “um mau negó­
cio” (uma nova responsabilidade e em suma um maior stress) (7). 
Nesse sentido, é significativo o que se costuma observar nos ser­
viços psiquiátricos: freqüentemente os terapeutas parecem tender 
inconscientemente a prolongar os tratamentos, postergando o mo­
mento da alta e com isso a troca de paciente;
h) Fiorini destaca também a incidência que tem nos terapeu­
tas o desconhecimento de uma teoria da mudança em P.B.. Como 
não têm interiorizados os dinamismos da mudança e só conhecem 
e aceitam os fenômenos inerentes às modificações que se produ­
zem nos tratamentos prolongados, não chegam a ter a necessária 
convicção de que os pacientes tratados com psicoterapias breves 
podem experimentar mudanças favoráveis. Tal situação além 
disso se acresce de suas dúvidas a respeito da decisão a tomar 
quanto à alta do paciente (7). Todas essas dificuldades se esclare­
ceríam em parte se houvessem incorporado a seus conhecimentos 
uma teoria da mudança. Nesse sentido contamos hoje com impor­
tantes descobertas no campo da P.B., que somam a noção de 
insight e estão fundamentadas essencialmente na concepção da 
existência de partes autônomas do ego, quer dizer, de forças “cons­
trutivas latentes” (21), que permitiríam, a partir de uma experiên- 
. cia terapêutica corretiva, e uma vez finalizado o tratamento do 
paciente, a continuação ininterrupta do progresso nas mudanças. 
Desse modo, o processo de transformação, ainda que lento, pros­
seguiría com uma reação em cadeia e seria verificável nos acom­
panhamentos ao longo de anos em pacientes tratados com tal 
método (9) (14) (18) (21).
Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
Conclusões
Quis assinalar diversas dificuldades do psicoterapeuta no 
que se refere à P.B., com a intenção de contribuir para aplainá-las, 
enfatizando especialmente a importância que tem o reconheci­
mento dos fenômenos próprios da relação terapeuta -paciente e de
Dificuldades do terapeuta 163
sua influência no processo terapêutico. Tal reconhecimento pode­
ría favorecer um exercício bem-sucedido da P.B., através de uma 
mais ajustada e eficaz adaptação do terapeuta ao seu enquadra­
mento, e aumentar o interesse pela investigação sobre esse méto­
do. A ninguém escapa que em nosso meio só uma pequena mino­
ria de psicanalistas se ocupa da investigação em P.B. A maioria, 
em troca, interessa-se por outras técnicas, como por exemplo as 
psicoterapias grupais prolongadas (possivelmente mais gratifi- 
cantes no sentido considerado neste trabalho).
As experiências clínicas em P.B. adequadamente supervisio­
nadas são, no momento atual, muito necessárias para afastar pre­
conceitos e permitir a comprovação direta da real utilidade desse 
recurso terapêutico.
Se tudo isso se concretizasse, provavelmente se conseguiria 
também uma valorização mais objetiva e favorável das terapias 
breves dentro do panorama da terapêutica psiquiátrica.
Creio que é necessário um estudo mais exaustivo do proble­
ma. Aspiro a que estas minhas impressões funcionem como um 
estímulo e que finalmente consigamos obter descobertas que lan­
cem mais luz sobre o controvertido campo das terapias breves.
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psiq. psicol. Amér. Lat., ju n h o 1968, vol. X IX , n ° 2 , B u en o s A ires.
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2 2 . __ , e c o la b o ra d o re s , ob. cit. em 21.
9. 4 respeito do término do tratamento 
em psicoterapia breve
Introdução
Proponho-me neste capítulo a analisar algumas das vicissi- 
tudes que se apresentam nas terapias breves psicanaliticamente 
orientadas, em razão do término do tratamento, partindo do 
reconhecimento de que tanto o paciente quanto o terapeuta de­
vem enfrentar o luto ocasionado pela finalização do vínculo tera­
pêutico.
Quero expor de que maneira e até onde os resultados do tra­
tamento estarão de forma indefectível relacionados com as possi­
bilidades de ambos tolerarem suficientemente a separação. No 
que concerne ao terapeuta, sua capacidade de enfrentar o luto ade­
quadamente será uma condição fundamental para o manejo eficaz 
da situação.
Com a finalidade de poder mostrar com mais clareza o que 
sucede com o binômio paciente- terapeuta ante a finalização de 
uma terapia de tempo limitado, dividirei minha apresentação nos 
seguintes pontos:
• Reações causadas no paciente pela separação.
• Reações causadas no terapeuta pela separação.
Ocupar-me-ei primeiro dos aspectos técnicos, para em segui­
da expor sinteticamente as conclusões.
166
Reações causadas no paciente pela separaçãoA separação de seu terapeuta afetará o paciente com uma 
intensidade variável em cada caso, o que estará em parte relacio­
nado com uma estrutura psíquica correspondente.
Certos pacientes, que possuem um ego relativamente forte, 
aceitam a separação melhor do que outros, e podem chegar a vivê- 
la como uma oportunidade de comprovar e pôr em prática o 
aprendido até então durante o tratamento.
Outros pacientes se conformam com o alívio sintomático, e 
uma vez conseguido este, desejam de bom grado o término do tra­
tamento. Em geral preferem, seguindo o modelo da clínica médi­
ca, que a terapia seja o mais curta possível.
Diante da perda, em muitas ocasiões aparecem em troca an­
siedades intensas, e chegam a mobilizar-se inclusive o temor à 
morte e à loucura. Supõe-se que o fato repercuta mais em quem 
tem tendência a estabelecer espontaneamente vínculos de caracte­
rísticas simbióticas, regressivas e altamente dependentes, assim 
como naqueles cuja dependência regressiva tenha sido fomentada 
pelo terapeuta ao longo do tratamento.
A repercussão da perda no paciente pode traduzir-se em 
manifestações diretas de pesar e/ou preocupação, ou evidenciar- 
se de maneira mais velada, por exemplo, no material onírico. 
Este último foi o que aconteceu no caso de um paciente a quem 
atendi numa terapia breve. Perto da finalização da mesma, rela­
tou-me numa sessão vários sonhos, os quais mostravam, como 
denominador comum, suas ansiedades e hostilidade diante da 
separação, vivida inconscientemente como um abandono de 
minha parte1. Os sonhos eram semelhantes entre si (sobretudo os 
três primeiros a que me referirei), sendo talvez o primeiro deles o 
mais demonstrativo.
Primeiro sonho: O paciente aparece num depósito em que 
tempos atrás “tinha havido um ‘barulho’ ” - segundo sua 
expressão - porque continha mercadorias, e que agora está 
muito limpo e em ordem, ainda que se tenha “a impressão de 
vazio”. Acrescenta que se trata de uma “velha construção 
em reforma” que ficou interrompida, e que o teto do depósi-
Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
167
to é negro. Por último, disse que no sonho lhe deviam di­
nheiro, o qual tinha de reclamar.
Associou o depósito com aquele que, na realidade, havia tido 
um ano atrás em sociedade com um amigo.
O depósito representava ele mesmo, particularmente sua 
cabeça, na qual havia ocorrido um “barulho” (confusão) quando 
chegou ao tratamento. Sentia agora que tinha as coisas (idéias) 
mais claras, sua mente mais “limpa” e seus pensamentos (no so­
nho, mercadorias), mais ordenados; mas ao mesmo tempo con­
densava no depósito sua sensação de abandono, de vazio pela 
separação. Disse-lhe que a menção a seu amigo parecia referir-se 
à minha pessoa; a sociedade cra uma referência ao nosso contrato 
terapêutico, através do qual nos ocupávamos de sua cabeça-depó- 
sito. Ele sentia, além disso, que ficava “separado no meio” como 
o depósito, c que cu interrompia sua reconstrução; seu acanhado 
protesto e reprovação contra mim, ao sentir-se abandonado, apa­
reciam no sonho como o dinheiro que lhe deviam e que tinha que 
reclamar.
Também o teto simbolizava sua cabeça. A cor negra do mes­
mo foi associada pelo paciente como “mau augúrio, mau destino”; 
e era uma referência a seus temores pelos perigos aos quais se sen­
tia exposto por causa da separação. Este detalhe do sonho cra, pois, 
especificamente, uma representação de seu medo à loucura2.
Segundo sonho: Um amigo seu trabalha como ajudante num 
teatro. Por sete horas de jornadas, pagam-lhe uma escassa so­
ma em dinheiro. Sente uma grande indignação.
O amigo era por certo cie mesmo, que se encontrava muito 
enraivecido contra mim porque sentia que eu lhe dava pouco e que 
estava cm dívida para com cie, abandonando-o, tal como aparecia 
no sonho anterior.
Terceiro sonho: Trabalha no interior de um grande edifício, 
no qual há muita gente. Tem um aposento só para ele e utiliza 
ferramentas de cor negra.
O edifício grande no qual havia muita gente representava o 
hospital onde o atendi. Outra vez se evidencia seu sentimento de
A respeito do término do tratamento em psicoterapia breve
168
abandono, sob a aparente satisfação de ter um aposento só para 
ele. Tinha que conservá-la (trabalhar) sozinho e não confiava em 
seus próprios recursos (as ferramentas negras. De novo figurava a 
cor negra como símbolo de mau augúrio).
Quarto sonho: Vê um menino descer por um tobogã em
grande velocidade.
Ao associar, expressou em tom risonho que o menino deveria 
ser ele, com muito medo de escorregar “ladeira abaixo”.
Aparecer como menino tinha a ver além disso com a relação 
de dependência infantil que em parte havia estabelecido comigo.
Depois, na mesma sessão, contou-me que em matéria de traba­
lho ele sentia que precisava de alguém que o guiasse e que não 
podia fazer nada por conta própria. Sua esposa lhe assegurava que 
isso não era certo e que devia animar-se a “navegar sozinho”. 
Novamente aludia a seus temores pela finalização do vínculo tera­
pêutico.
Nesses pacientes, que por diferentes motivos não toleram 
suficientemente a separação, interessa ver qual é o destino da 
transferência, sobretudo em circunstâncias nas quais o terapeuta 
pode perder o controle da situação. É possível que se produzam 
no paciente diferentes reações, que vão desde o afloramento de 
novos conflitos, ao aproximar-se o final do tratamento, até a rea­
ção terapêutica negativa’, passando por retrocessos e pioras por 
simples manifestações de hostilidade transferenciai e pelo acting 
out. Essas reações, como é óbvio supor, acham-se intimamente 
vinculadas entre si (são diferenciáveis só até certo ponto), supe­
rando-se ou apresentando-se em forma sucessiva, frequentemen­
te acompanhadas de defesas maníacas (negação da perda, des­
prezo pelo terapeuta, etc.). Por outro lado, pode resultar conve­
niente que o paciente tenha ocasião de desenvolver essas reações 
enquanto se encontra sob tratamento para permitir que sejam 
mais bem-examinadas, compreendidas e resolvidas no seio da 
relação terapêutica.
a) A referência a novos conflitos nas partes finais do trata­
mento, através dc colocação espontânea por parte do paciente de 
material alheio ao foco, é uma circunstância que tenho podido 
observar em minha prática. Tal situação costuma estar motivada
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
A respeito do término do tratamento em psicoterapia breve 169
inconscientemente por um desejo de permanecer ligado ao tera­
peuta, tratando de despertar neste interesse por outros padecimen- 
tos (numa tentativa de sedução por meio do material), ou ainda 
preocupação e - eventualmente - culpa por deixá-lo nessas condi­
ções, quer dizer, exposto aos perigos de conflito não resolvidos 
para conseguir deste modo que o tratamento seja prolongado. 
Deve-se procurar que o paciente tome consciência das motivações 
de sua atitude.
b) Os retrocessos e pioras no estado do paciente são algumas 
das reações que se observam com maior assiduidade nas etapas 
terminais do tratamento psicoterapêutico breve, tal como em ou­
tras formas de psicoterapia, e freqüentemente constituem uma 
tentativa de evitar que lhe seja dada alta, e com isso a dolorosa 
separação do terapeuta (ganhos secundários). O paciente, que até 
esse momento vinha inclusive evidenciando claros progressos e 
uma apreciável melhora sintomática, pode apresentar uma reapa- 
rição de sua sintomatologia inicial, acusar um incremento de an­
siedade, de depressão, dos diversos transtornos somáticos, etc.
Será conveniente assinalar ao paciente sua intenção incons­
ciente de obter ganhos secundários através de suas recaídas nos 
últimos períodos do tratamento, tal como sugere Bellak (2).
c) As manifestações de hostilidade transferenciai podem co­
locar em sério perigo os resultados do tratamento. Quando tal 
hostilidade alcança certa intensidade, torna-se necessário inter­
pretá-la, como destaca Malan (6). Tal situação de separação, ao 
ser vivida consciente ou inconscientementepelo paciente como 
um abandono, pode trazer como conseqüência algumas das de­
mais complicações que mencionei, ou sua raiva pode jogar por 
terra o obtido durante a terapia, posto que a manutenção da me­
lhora certamente dependerá em grande parte de suas possibilida­
des de introjectar e conservar uma boa imagem do terapeuta (2). 
Isso só será possível se prevalecer uma transferência positiva ao 
terminar o tratamento.
d) Outra opção está dada pela tendência de alguns pacientes 
ao acting out, diante do incremento da ansiedade, o que se acha 
claramente vinculado à perda ocasionada pela finalização da rela­
ção terapêutica (conforme o caso, o acting out costuma expressar 
fantasias agressivas para com o terapeuta ou objetivar substituí-lo
170 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
por outro objeto, etc.). Quando o terapeuta detecta essa tendência, 
deve inclinar-se à compreensão psicológica do conflito no pacien­
te, sobretudo por meio de interpretações “transferenciais”, evitan­
do assim as atuações.
e) A reação terapêutica negativa se manifesta com ffeqüência 
através da interrupção brusca do tratamento por parte do paciente. 
Tal interrupção significa principalmente que o paciente quer 
abandonar - ativamente - o terapeuta para não sofrer de maneira 
passiva o que vivência como um abandono por parte deste.
Reações causadas no terapeuta pela separação
Com freqüência, a separação repercute mais no terapeuta que 
no paciente. Ferrari e Marticorena comentam acerca da experiên­
cia cm psicoterapia breve: “O mais notável (...) foi observar as 
dificuldades de desprendimento dos próprios terapeutas (...). Co- 
mumente, as dificuldades para separar-se apareceram mais do 
lado do médico que do paciente” (3).
Já me ocupei em parte no capítulo anterior dos problemas do 
terapeuta para aceitar a separação do paciente ao chegar ao fim o 
vínculo terapêutico. O terapeuta pode apresentar resistência em 
reconhecer os eventuais progressos do paciente e atuar fomentan­
do neste, durante o tratamento, a neurose transferenciai e a regres­
são, em seu afã inconsciente de perpetuar sua dependência, evi­
tando a ruptura de um vínculo que lhe oferece profundas gratifi­
cações, comumente negadas. A separação significa, para ele, ver­
se privado de gratificações simbióticas; o luto provoca sentimen­
tos de desvalorização e perda (7)4.
Um mecanismo defensivo do terapeuta ante as ansiedades 
pela separação é a negação do conflito e sua projeção maciça no 
paciente, o que às vezes adquire características de inoculação no­
civa, mesmo naqueles pacientes que inicialmente não se veriam 
demasiadamente afetados pela separação. O terapeuta “atua” nes­
sas circunstâncias através de suas intervenções (interpretações), 
indutoras de dependência regressiva.
Desejo então que fique clara minha impressão de que na prá­
tica o término do vínculo terapêutico é, não em poucas ocasiões,
A respeito do término do tratamento em psicoterapia breve 171
mais um problema do terapeuta que do paciente. Este, com efeito, 
não tem que vivê-la necessariamente como algo penoso e angus­
tiante, sobretudo no caso de sentir-se seguro de sua própria capa­
cidade para enfrentar seus problemas, daí para a frente, por sua 
própria conta, com base no que adquiriu durante o tratamento.
Adverte-se o terapeuta de que, ao fomentar a natural tendên­
cia regressiva do paciente com base numa extrapolação da técnica 
psicanalítica (uso reiterado ou sistemático de interpretações trans­
ferenciais, interpretação de material alheio ao foco, aumento da 
freqüência e/ou periodicidade das sessões, uso do divã, atuação 
pouco ativa do terapeuta, etc.), o processo se complicará ainda 
mais (nenhum dos dois componentes do par aceitará facilmente a 
separação) desembocando com freqüência na já mencionada 
recontratação, como expressão de uma necessidade mútua de pro­
longar a relação.
Aspectos técnicos
Tenho mencionado até aqui a conduta que deve assumir o 
terapeuta diante da insinuação ou franca aparição das diferentes 
reações do paciente, conduta que em síntese consiste em abordar 
o problema ocasionado pela iminente separação. Para isso será 
preciso interpretar a transferência; deixá-la de lado significaria 
correr o risco de expor o paciente a algumas das conseqüências às 
quais já fiz referência. Mas agora desejo examinar mais detida­
mente o problema da repercussão, perturbadora, do final do vín­
culo terapêutico sobre o paciente. Compreender melhor por que 
chega a produzir-se ou a incrementar-se, em certas ocasiões, e 
particularizar a conduta que, a meu ver, resultará mais convenien­
te em P.B., para tentar preveni-la, enfrentá-la e atenuá-la.
1. Considero que devemos nos remontar aos primeiros conta­
tos com o paciente, já que o problema se coloca, de certo modo, 
desde o momento em que se efetua uma indicação de P.B. Como 
disse antes, haverá pacientes que superam melhor que outros a 
separação. Na bibliografia sobre P.B. descobrimos que alguns 
autores levam em conta esse aspecto, que está naturalmente rela­
cionado com a capacidade egóica para tolerar frustração. Bellak
172
(2) sublinha a importância de se efetuar previamente uma avalia­
ção das funções do ego, que servirá para o diagnóstico, prognósti­
co e tratamento, e que poderá ser realizada por meio de dados clí­
nicos e de testes psicológicos. Mas é sobretudo Malan (6) quem 
assinala especificamente a utilidade de detectar, antes do trata­
mento propriamente dito, a capacidade do paciente para suportar 
suficientemente o luto pela separação do terapeuta. Os testes pro­
jetivos poderíam oferecer-nos regularmente elementos para essa 
apreciação.
Se, além de existir essa condição de tolerância diante da 
separação, trata-se de um paciente que atravessa um problema 
atual e se encontra motivado para efetuar uma psicoterapia, esta­
remos diante da situação menos discutível para indicar uma tera­
pia breve. Poderemos, pelo contrário, considerar que pode ser tec­
nicamente objetável indicá-la para um paciente que revele pouca 
capacidade para suportar e elaborar lutos e uma modalidade sim- 
biótica, muito regressiva e dependente em suas relações de objeto, 
portanto mais propenso a reações como as já assinaladas e com 
menores probabilidades de êxito terapêutico5. Creio que em al­
guns casos as complicações que logo aparecem no tratamento 
breve, principalmente por ocasião da separação definitiva entre 
paciente e terapeuta, são em parte conseqüência dessa atitude ini­
cial, mas o que acontece é que em nossa prática assistencial com 
freqüência não temos outro remédio senão efetuar um tratamento 
de tempo limitado em muitos dos pacientes que apresentam essas 
características. Realizaremos uma eleição dos casos na medida do 
possível, pois sem dúvida será o mais conveniente; mas quando, 
por diferentes motivos, essa seleção não puder ser feita, não pode­
remos fazer outra coisa senão embarcar com o paciente num pro­
cesso que terá muito de uma difícil aventura e que requererá ao 
máximo nossa perícia terapêutica para poder atingir um bom 
final.
2. O passo seguinte será a contratação que temos de realizar, 
em especial com aqueles pacientes que apresentam uma franca 
tendência a desenvolver espontaneamente intensa regressão no 
vínculo terapêutico. Trataremos, como condição fundamental em 
P.B., de não facilitá-la ou incrementá-la, e para isso será preciso, 
na medida do possível, delimitar claramente os objetivos do trata-
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
A respeito do término do tratamento em psicoterapia breve 173
mento; quanto às sessões, ter-se-á especial cuidado em evitar que 
a freqüência das mesmas possa chegar a favorecer a tendência 
regressiva'.
Um aspecto que merece especial atenção dentro da contrata­
ção é a duração que fixaremos para o tratamento. Em algumas 
destas situações será preferível outorgar um tempo suficiente, de 
modo a permitir que uma parte do mesmo se destine à análise do 
luto pela separação7, sem que isto nos prive do temponecessário 
para abordar a situação crítica em si, verdadeiro objetivo do trata­
mento8.
3. Se seguirmos adiante no processo terapêutico, defrontare- 
mo-nos com as complicações às quais aludimos, que poderão ser 
evitadas ou ao menos - freqüentemente - bastante atenuadas, se o 
terapeuta se desempenhar adequadamente ao longo da terapia, 
conseguindo ajustar-se ao enquadramento da P.B. Vale dizer, se 
estimular no paciente sua iniciativa pessoal com um critério pros- 
pectivo, em lugar de fomentar a neurose transferenciai e a depen­
dência regressiva. Como procurei demonstrar no capítulo ante­
rior, isso dependerá de vários fatores: de sua familiaridade com a 
técnica da P.B., de que haja vencido os preconceitos contra todo 
procedimento que não seja o psicanalítico, além da tendência de 
extrapolar esse modelo técnico para a terapia breve por crer que 
só assim poderá obter bons resultados, mas também e fundamen­
talmente de que possa renunciar às gratificações que oferece o 
tipo de relação analista-paciente e aceitar as condições, nesse 
sentido mais frustrantes, que a P.B. impõe. Em síntese, requer-se 
que o terapeuta tenha um insight dessa problemática e um auto­
controle de suas tendências naturais a estabelecer uma modalida­
de simbiótica de relação com o paciente que, segundo minha 
hipótese, é o que com freqüência costuma conduzi-lo - incons­
cientemente - a realizar consideráveis e decisivas modificações 
no enquadramento, favorecedoras da simbiose terapêutica.
Considero que o manejo da relação transferenciai, por parte 
do terapeuta, juntamente com sua capacidade para superar os pró­
prios conflitos que puderem derivar da perda do paciente como 
objeto gratificante, terão uma influência decisiva no aspecto que 
adquire o término do tratamento e a posterior separação para 
ambos os protagonistas. Quando o terapeuta não pode controlar
174 Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
essa situação e não toma as precauções correspondentes, costu- 
ma-se chegar a uma fase final do tratamento em que a separação 
se torna mais difícil para ele e para seu paciente, mais perturbado­
ra e mais frustrante: este se encontra no final numa atitude regres­
siva e dependente, e aquele, privado de seu objeto gratificante, 
com uma sensação de desilusão por haver efetuado um tratamento 
curto e pouco eficaz.
Já me referi à conveniência de abordar, geralmente na fase 
final do tratamento, o problema da separação.
4. Beliak e Small (2) também assinalaram a importância de 
manter algum contato com o paciente logo após haver-se encerra­
do o tratamento, a fim de que este não se sinta abandonado e de 
conservar uma transferência positiva. Para isso sugerem que se 
solicite ao paciente que informe o terapeuta de seu estado me­
diante cartas ou chamadas telefônicas. Considero que esse propó­
sito pode ser cumprido tanto ou mais satisfatoriamente por meio 
de entrevistas de acompanhamento.
Conclusões
As maiores possibilidades de êxito, e por sua vez de se evita­
rem certas complicações ao longo de uma terapia breve em geral 
e, em razão do término do tratamento em particular, estão relacio­
nadas:
1. À capacidade do paciente de tolerar suficientemente o luto 
pela separação. Será conveniente tratar de detectar o grau de tal 
capacidade a partir dos primeiros contatos.
2. As condições do contrato terapêutico: procurar-se-á dimi­
nuir a intensidade das regressões; em pacientes com tendência a 
estabelecer relações simbióticas terá que se oferecer um tempo 
suficiente de tratamento, que inclua a possibilidade de analisar o 
luto pela separação.
3. A capacidade do terapeuta para ajustar-se ao enquadra­
mento que a P.B. exige, evitando a extrapolação da técnica psica- 
nalítica, favorecedora da dependência regressiva. Dever-se-á abor­
dar, sobretudo nos estágios finais do tratamento, o problema que 
coloca para o paciente a finalização e a separação, diante do risco 
da aparição neste de reações (retrocessos e pioras, hostilidade
A respeito do término do tratamento em psicoterapia breve 175
transferenciai, acting out, reação terapêutica negativa), recorren­
do-se especialmente a interpretações transferenciais. Em essência 
dever-se-á ao menos assinalar a situação de luto, já que não conta­
mos com melhores possibilidades para a sua elaboração.
4. A manutenção de uma transferência positiva a posteriori 
da realização do tratamento, para o que poderão contribuir as en­
trevistas periódicas de seguimento.
Em P.B. deve-se tratar de chegar à finalização do tratamento 
de modo tal que a alta coloque o paciente em condições de viver 
uma experiência estimulante e reasseguradora a partir da compro­
vação de que seu autodesenvolvimento agora é possível. No que 
se refere ao terapeuta, é de se esperar que encontre gratificações 
nos resultados terapêuticos, quer dizer, na obtenção de uma atitu­
de relativamente independente e nos demais progressos do pa­
ciente, e portanto que encontre no método psicoterapêutico breve 
um recurso útil, sem precisar em troca fomentar a gratificante 
simbiose terapêutica, radicalmente oposta aos propósitos ineren­
tes a esse procedimento.
Referências bibliográficas
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7. S earles, H ., “ F ases de la in te racc ió n p a c ie n te - te ra p e u ta en la p s ico te ­
rap ia de la e sq u izo fren ia c rô n ica” , Brit. Journal Med. Psychol. (1981), 
im presso na G rã-B re tan h a . A p o stila inéd ita .
10. Alguns problemas técnicos característicos 
e riscos em psicoterapia breve
Mencionarei aqui alguns inconvenientes técnicos de que so­
fre o exercício das terapias de tempo e objetivos limitados, assim 
como certos perigos que com elas se corre. Tanto os inconvenien­
tes como os riscos, acham-se relacionados com as peculiaridades 
desses tratamentos e com os eventuais erros dos terapeutas, e se 
apresentam com mais facilidade diante de pacientes que por de­
terminada patologia não resultam suficientemente aptos para 
obter maiores benefícios terapêuticos com o emprego desses pro­
cedimentos.
1. Os pacientes que recorrem excessivamente à intelectuali- 
zação podem criar sérias dificuldades, que aumentam nos casos 
em que o terapeuta compreende a psicoterapia focal como um 
processo individual, reduzido a “explicar” ao paciente o significa­
do de suas manifestações patológicas, esperando que mediante a 
compreensão intelectual possa conseguír-se a cura.
Ainda que nessas terapias se aspire a conseguir um insight 
que possa ser mais cognitivo que afetivo (Szpílka e Knobel [7]), 
este deve diferenciar-se do pseudo-insight com reforçamento da 
intelectualização que, como vemos, é um risco que devemos ter 
em conta, entendendo além do mais que nessas terapias se realiza 
uma análise apenas parcial das resistências, que às vezes não é 
suficiente para que o paciente “apreenda” as interpretações e 
reconheça assim seus conteúdos inconscientes como algo que lhe 
é próprio. De fato, estamos consignando uma limitação da psico-
178
terapiaverbal de tempo e objetivos limitados, segundo o método 
que descreví até aqui, já que diante de certos pacientes poderemos 
nos ver na necessidade de nos voltar - e reduzir a um intenso 
trabalho interpretativo de suas resistências ao insight, de modo 
que tenhamos que dedicar boa parte do tratamento ou inclusive 
todo o tempo que dure o mesmo a tal trabalho, sem que nos seja 
possível pretender outra coisa. Se bem que fazer ver ao paciente 
suas defesas patológicas possa ser importante, tais alterações 
caracteropáticas atuam como um freio que chega às vezes a difi­
cultar em grau máximo o trabalho relativo a seus problemas 
atuais, obrigando a uma recolocação estratégica1 dos objetivos ou 
diretamente do tipo de tratamento recomendável.
2. Outro problema, originado no terapeuta e em estreita rela­
ção com o descrito em 1, que pode se apresentar com bastante 
facilidade é o de não exercer aquele um autocontrole adequado 
diante de certas vivências que possivelmente experimente na prá­
tica dessas terapias. Quando a duração estabelecida para as mes­
mas foi limitada, é habitual que se sinta um tanto pressionado em 
seu afã por obter determinados resultados, sensação que se incre­
menta ante a proximidade da finalização do tratamento. Se a 
impaciência o domina, corre o perigo de depreciar o timing e de 
“bombardear” o paciente com interpretações prematuras em seu 
desejo de oferecer-lhe muito mais do que este, nesse momento 
pelo menos, está em condições de assimilar, o que pode trazer 
paralelamente um aumento de suas resistências e de sua angústia 
ou ainda ocasionar sua deserção.
Vinculadas com essa questão se acham as advertências formu­
ladas por T. French a respeito das “complicações resultantes das 
tentativas de forçar o conhecimento” (4). Esse autor assinala parti­
cularmente o efeito perturbador de certas interpretações em psico­
terapia breve, em razão do número relativamente reduzido de ses­
sões semanais com que se costuma trabalhar nela: “Devemos destacar 
aqui a grande diferença no uso da interpretação quando se vê o 
paciente todos os dias ou quase todos os dias, e quando se o vê uma 
ou duas vezes por semana ou ainda com intervalos mais prolonga­
dos. No procedimento psicanalítico ortodoxo, o terapeuta poderia 
arriscar uma interpretação desagradável, pois pode apreciar seu 
efeito no dia seguinte e proteger o paciente contra um aumento de
Psicoterapia breve de orientaçãopsicanalitica
Alguns problemas técnicos característicos 179
angústia. Formulada essa mesma interpretação numa psicoterapia 
mais breve, a angústia podería acumular-se em tal medida que o 
paciente cairia em pânico (...). Requer-se portanto maior atenção e 
inclusive maior agilidade por parte do terapeuta” (3).
3. A partir da necessária circunscrição que a abordagem de 
uma terapêutica setorial requer, em que se deve atender preferen­
cialmente àquilo que concerne à conflitiva focal do paciente, exis­
te a possibilidade de que a dinâmica do tratamento sofra uma limi­
tação esquemútica, com o conseqüente estancamento. Mas todo 
terapeuta disposto a manter-se suficientemente receptivo às comu­
nicações do paciente e a extrair sempre novos significados poderá 
contribuir na obtenção de um processo terapêutico rico, possibili­
tando reajustes e descobertas que o conduzam a readcquar-se à 
estratégia, evitando assim ficar reduzido a um plano rígido que, 
em virtude de o ser, limite seus alcances.
4. O manejo técnico deficiente por parte do terapeuta - por 
transposição da técnica psicanalítica - pode fomentar iatrogeni- 
camente a regressão vivencial e a neurose de transferência no pa­
ciente e acarretar diversas complicações, dada a fugacidade da 
relação paciente terapeuta e, diante da separação, levar às com­
plicações que já mencionei nos capítulos 8 e 9, assim como as me­
didas preventivas e terapêuticas a serem tomadas.
5. Mas a regressão, indesejada, alcança inevitavelmente e de 
modo espontâneo grande intensidade em algumas ocasiões. Em 
nosso meio se observou a ocorrência desse fato especialmente em 
tratamentos de pacientes de baixo nível sociocultural, que recorrem 
a estabelecimentos assistenciais por contar com uma oportunidade 
única de confiar seus problemas a um profissional, quer dizer, uma 
pessoa qualificada que possa escutá-los sem julgá-los (5).
6. O trabalho do terapeuta pode ver-se dificultado, compro­
metendo-se, com isso, a eficácia do procedimento toda vez que 
não seja possível delimitar com facilidade o foco e, em conse- 
qüência, tampouco os objetivos do tratamento, diferentemente do 
que acontece quando uns e outros surgem de maneira clara e pre­
cisa, como por exemplo nos quadros reativos. Não contando com 
um foco mais ou menos definido, o trabalho se complica, vendo- 
se perturbado nosso propósito de centralizar a ação terapêutica de 
um modo operativo e com fins de aprofundamento.
180
7. Diante de pacientes com sentimentos de perda patológicos 
e/ou recentes de importância, submetidos a tratamentos cuja dura­
ção, limitada, resulta curta, isto é, insuficiente para abordar com 
possibilidades de benefícios terapêuticos apreciáveis a dita proble­
mática, existe a alternativa de que sofram uma reativação traumáti­
ca desses sentimentos, precisamente em função da limitação tem­
poral e da separação com respeito ao terapeuta, que reaviva a per­
da, com os perigos conseqüentes (acentuação da angústia e da dor, 
depressão, acting out, etc ). Portanto e antes de mais nada, há de se 
rever nesses casos na medida do possível - a indicação terapêuti­
ca, em particular o que corresponde à duração do tratamento, pro­
curando dotar o processo terapêutico do tempo necessário para 
evitar esses efeitos indesejáveis. (Pode ser adequado instituir uma 
técnica de enfoque com final “aberto”, por exemplo.)
8. E sabido que em P.B. o terapeuta deve de modo geral dedi­
car o trabalho terapêutico à resolução de problemas da realidade 
externa atual do paciente (comumente representados por conflitos 
em determinadas relações interpessoais), apelando freqüente- 
mente para isso para as interpretações, chamadas “extratransfe- 
renciais”. Devemos então reconhecer uma limitação própria des­
sas terapias, que às vezes adquire grande importância, à qual já 
me referi no capítulo 6 (ver “Interpretações extratransfereneiais”, 
p. 102) e que aqui menciono novamente. Trata-se do fato de o 
terapeuta não contar com conhecimento suficiente do paciente - 
em particular de suas relações de objeto - além de ter pouco 
tempo para adquiri-lo durante o tratamento, em função da curta 
duração deste e de serem as sessões relativamente pouco freqüen- 
tes. Assim sendo, encontra dificultado seu acesso a uma adequa­
da compreensão em interpretação dos sucessos do mundo externo 
do paciente, o que pode acarretar diversas consequências negati­
vas se não trabalha com cautela suficiente.
Esse inconveniente pode acentuar-se no caso de pacientes 
que, por deficiências egóicas, registrem uma marcante distorção 
em sua captação da realidade, razão pela qual, ao termos de nos 
remeter em boa medida ao material que nos trazem, será escassa a 
confiança nesse sentido que possam nos inspirar. Em tais circuns­
tâncias, isso pressupõe uma maior margem de erro por parte do
Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
terapeuta na apreciação da natureza dos conflitos da realidade ex­
terna do paciente.
Na terapêutica breve, a limitação mencionada deve compen­
sar-se com um estudo prévio exaustivo e o mais profundo possível 
do paciente no começo do tratamento (uma razão poderosa para 
realizar várias entrevistas diagnosticas quando o caso o requer, 
confeccionar uma história clínica minuciosa, e muito especial­
mente detectar as principais características das relações objetais 
do paciente, sobretudo através de testes projetivos). Esse estudo 
prévio deverá então prover-nos de elementos diagnósticos nos 
quais possamos apoiar nossas hipóteses explicativas e nossas in­
tervenções terapêuticas.
9. Os pacientes que evidenciamtendências ao acting out in­
troduzem um novo problema técnico. Uma medida poderá ser 
contratar um número necessário - talvez maior que o habitual 
nessas terapias de sessões semanais - três, por exemplo - para 
garantir uma tarefa interpretativa mínima da transferência desen­
volvida que permita diminuir as possibilidades de apresentação 
da conduta de acting out. Se bem que elevar a freqüência das ses­
sões traz consigo por sua vez outro risco, o de favorecer a depen­
dência regressiva do paciente; é o preço que se há de pagar para 
evitar uma complicação maior, e às vezes sumamente perigosa - a 
do acting out.
10. Por outro lado, o risco do acting out aumenta quando o 
caminho se vê possibilitado ou facilitado porque o terapeuta, leva­
do pelo critério de orientar o paciente na direção dos problemas 
atuais de sua realidade externa, prescinde em demasia da análise 
da transferência. Fantasias transferenciais negligenciadas podem 
então ser atuadas por parte do paciente.
Em seu afã de conseguir “resultados práticos” em pouco 
tempo, o terapeuta pode induzir a atuação2.
11. Entre outros resultados que se podem produzir em rela­
ção ao assinalado em último lugar no item 10, figuram as meras 
condutas adaptativas, promovidas pelo fervor terapêutico, que 
implicam modificações só em nível superficial. Também se des­
crevem mecanismos tais como a fuga à saúde e à cura transferen­
ciai, que ainda que não sejam raros tampouco considero que sejam 
habituais em PB. Quero aqui formular uma advertência: alguns
Alguns problemas técnicos característicos l s ‘
182 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
detratores dessas terapias não vacilam em rotular pejorativamente 
como fuga à saúde ou cura transferenciai todo sucesso do paciente 
obtido através das mesmas3.
As recaídas, ainda que se produzam na ausência dos fatos 
que acabo de citar, conjuntamente ou em continuação a eles, con­
figuram em troca uma eventualidade mais ou menos freqüente 
nessas terapias. Teremos de contar com essa possibilidade, pois 
são a expressão de uma reativação dos conflitos que tinham sido 
objeto de uma resolução em essência incompleta, o que é regra 
nessas terapias, ou correspondem diretamente a uma resolução 
falsa-1 Nessas ocasiões costumamos detectar a persistência dos 
conflitos transferenciais subjacentes, incrementados pela separa­
ção devida ao término da terapia, a qual pode ser vivida como um 
abandono e condicionar diversas reações prejudiciais ao paciente, 
durante e depois do tratamento (ver capítulo 9).
Os agravamentos constituem uma complicação que por sua 
vez também pode estar relacionada com a separação, em função 
do final do tratamento (ver capítulo 9, pp. 168 s.).
Em todos esses casos, o acompanhamento prolongado possi­
bilitará a comprovação desses resultados e a adoção das medidas 
terapêuticas mais indicadas.
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A ires , 1969 (E stúd io V III).
7. S zp ilka , J. e K nobel, M ., “ A cerca de la p sico terap ia b rev e” , Coloquio 
Acta 1967: Psicoterapia Breve, Acta psiq. psicol. Amér. Lat., ju n h o 
1968, vol. X IV , n° 2, B uenos A ires.
Alguns problemas técnicos característicos_____________________ lfS i
11. A avaliação dos resultados terapêuticos 
em psicoterapia breve
Introdução
A avaliação dos resultados terapêuticos nas terapias breves 
tem por finalidade primordial verificar se estão sendo cumpridos 
os objetivos fixados. Paralelamente se poderá indagar outros as­
pectos que resultem de interesses, como logo veremos.
Com base na avaliação dos resultados obtidos, será possível 
recolocar a situação do paciente e determinar os passos a serem 
seguidos a partir desse momento.
Quero destacar a conveniência de que a tarefa avaliatória não 
fique exclusivamente a cargo do terapeuta, mas que haja partici­
pação ativa do paciente. Considero que isso permitirá que a apre­
ciação dos resultados seja enriquecida e possa na maioria das 
vezes aproximar-se mais da realidade, o que não costuma aconte­
cer quando é efetuada de forma isolada por ambos os protagonis­
tas do processo terapêutico. Desse modo, a avaliação conjunta 
deixa no paciente a impressão de que se levou a caso uma tarefa 
em comum, a qual tem assim um encerramento cuidadoso, plane­
jado, no qual se aprecia sua opinião, requerida num intercâmbio 
cordial e franco com o terapeuta. Este último passo do processo 
adquire então um alcance terapêutico, que eventualmente inclui a 
confirmação, por parte do paciente, de suas impressões a respeito 
dos progressos obtidos, sendo estas ratificadas pelo julgamento 
do terapeuta, criando-lhe uma sensação de reasseguramento.
186
No que se refere ao terapeuta, o emprego de um procedimen­
to metódico de avaliação dos resultados terapêuticos, de base psi- 
codinâmica, costuma estimulá-lo a efetuar um estudo mais exaus­
tivo dos mesmos, permitindo um registro que facilite a elaboração 
estatística e ulteriores investigações quanto aos alcances e limita­
ções do procedimento que nos ocupa1.
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Um método de avaliação
A partir das considerações expostas por Usandivaras em nos­
so meio, recordarei uma questão básica. Nada melhor do que 
transcrever suas próprias palavras: “Para que uma avaliação de 
terapia seja realmente válida deve ser não apenas imediata, ao tér­
mino da cura, mas também mediata. É necessário o follow-up ou 
acompanhamento do paciente em alta para poder saber se os 
resultados alcançados se mantêm e durante quanto tempo”(6). 
(Grifos do autor.)
A avaliação é, dentro do possível, anunciada e ajustada de 
antemão com o paciente ao efetuar-se o contrato terapêutico; 
explica-se quais são seus motivos, como se fará e quais serão as 
datas de realização das entrevistas de avaliação imediata, já que as 
de avaliação mediata costumam ser combinadas a partir da finali­
zação do tratamento, variando sua periodicidade em função de 
diversos fatores, em parte relacionados com as necessidades e 
possibilidades de cada caso (entrevistas a cada seis meses, um 
ano, etc.).
O procedimento que descreverei é o que adotei pessoalmen­
te2. Como qualquer outro, é suscetível de ser objetado e/ou aper­
feiçoado a fim de se conseguir uma maior precisão. Não obstante, 
sem chegar a constituir um rigoroso instrumento de medição, con­
sidero que possui um valor prático, na medida em que provém de 
uma técnica suficientemente fundamentada.
Para levar a cabo a avaliação tanto imediata como mediata, 
recorro a dois recursos fundamentais: a) entrevistas com o pacien­
te (eventualmente estendidas a familiares e/ou figuras próximas 
dele, como por exemplo quando se trata de adolescentes) e b) psi- 
codiagnóstico.
A avaliação dos resultados terapêuticos 187
A avaliação imediata
Efetuam-se duas entrevistas. A primeira, de uns 40 minutos 
de duração e que se realiza pouco depois de finalizada a terapia, 
está destinadaa recolher as apreciações e informações que o 
paciente fornece (auto-avaliação). Na segunda, um pouco mais 
breve, tem lugar uma devolução por parte do terapeuta, que inclui 
a avaliação dele.
A técnica que utilizo na primeira entrevista de avaliação ime­
diata é a seguinte: para começar, indico ao paciente que poderá 
expressar amplamente suas opiniões acerca do tratamento que 
acaba de concluir e de seus resultados e que em seguida lhe for­
mularei algumas perguntas a respeito. Na primeira parte da entre­
vista, o paciente opina sobre distintos pontos: as mudanças nota­
das, como havia imaginado que seria seu tratamento, que críticas 
sugere, as vivências que teve, de que forma foi ajudado, etc., im­
pressões que haverão de ser úteis para o terapeuta.
A seguir efetua-se uma indagação sistemática da auto-avalia­
ção do paciente, a propósito dos pontos que exponho mais abaixo, 
com base em perguntas, se possível claras e simples.
Na segunda entrevista, geralmente realizada poucos dias 
depois da primeira, comunico ao paciente minha própria avalia­
ção - estudo prévio de todo o material recolhido na primeira 
entrevista - que confronto com minhas observações. Depois de 
haver revisado a evolução do caso, já estou em condições de trans­
mitir-lhe minhas impressões sobre cada um dos pontos considera­
dos, tratando ao final de precisar fundamentalmente: 1) o que se 
aclamou e se resolveu e o que ficou pendente; 2) minha opinião a 
respeito dos próximos passos a serem seguidos.
Para avaliar cada caso levo em conta os seguintes pontos:
Insight da problemática focal (I.P.F.)
Resolução da problemática focal (R.P.F.)
Melhoria sintomática (M.S.)
Consciência da enfermidade
Auto-estima
Outras modificações favoráveis (vida sexual, relações de 
casal, outras relações interpessoais, estudo, trabalho e lazer)
Projetos para o futuro
188 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica 
"In sigh t" da problem ática fo c a l (I.P.F.)
Incluo esse ponto, pois me parece de decisiva importância. 
As expectativas do terapeuta no sentido de que se produzam 
modificações significativas e medianamente perduráveis no pa­
ciente devem assentar-se principalmente no insight que este possa 
adquirir a respeito dos dinamismos psíquicos subjacentes à situa- 
ção-problema. Para o paciente, trata-se de saber concretamente se 
chegou a compreender seus problemas de um modo diferente e 
mais profundo. Na realidade, a avaliação, neste ponto, mais do 
que em qualquer outro, depende do terapeuta, a quem diferentes 
indicadores clínicos, ao seu alcance ao longo do próprio tratamen­
to, já lhe terão dado indicações sobre o grau de insight obtido 
(quando a uma interpretação se segue um silêncio reflexivo do 
paciente, ou a associação por parte deste com situações análogas à 
que foi objeto de interpretação, ou uma mudança do clima emo­
cional da sessão, com uma sensação contratransferencial de desa­
parecimento das resistências, ou uma exclamação do paciente que 
revela surpresa diante de uma descoberta, etc.).
Resolução da problemática focal (R.P.F.)
Além de excluir conclusões acerca da existência ou não de 
insight sobre a problemática focal de cada caso, levo em conside­
ração este item, que se refere à resolução propriamente dita dessa 
mesma problemática e sobre cuja denominação cabem alguns 
esclarecimentos. Veremos o que implica o termo resolução tanto 
dinâmica quanto clinicamente. Em relação ao primeiro, significa 
que as mudanças produzidas mediante o tratamento deverão 
basear-se essencialmente no insight para que se possa considerar 
tal resolução como real, ou seja, que, neste caso, o item preceden­
te, I.P.F., registre invariavelmente um resultado positivo, quer 
dizer, a existência de insight’. Mas aqui me refiro apenas a expe­
riências iniciais de insight, que é na realidade o que costuma pro­
porcionar um tratamento focal, ou seja, do ponto de vista dinâmi­
co esta resolução não implica - seria absurdo pretendê-lo - uma 
superação (elaboração) substancial dos conflitos subjacentes,
A avaliação dos resultados terapêuticos 189
como poderia esperar-se - ainda com certas reservas - num trata­
mento psicanaiítico. Trata-se então, como já foi assinalado ante­
riormente (ver capítulo 3, p. 24) de uma resolução dinamicamente 
incompleta ou parcial, o que explica que possam produzir-se 
recaídas circunstanciais. Em suma, podemos esperar na melhor 
das hipóteses que o conflito se torne inativo, deixando assim de 
ter um caráter perturbador por um período cuja duração é impre­
visível.
Clinicamente, a resolução pode traduzir-se com freqüência 
na superação de um episódio (com aquisição de certo grau de 
insight e retomo ao equilíbrio psicológico). De um modo mais 
preciso, e seguindo Malan, o termo resolução é uma forma sinté­
tica de fazer referência à substituição de uma reação imprópria 
por outra, apropriada (4). Malan acrescenta que isso não confunde 
necessariamente a resolução do processo patológico subjacente, 
fato que por outro lado não seria possível distinguir. Aclarado o 
significado do termo do ponto de vista clínico, veremos que neste 
sentido, sempre baseando-nos em Malan, a resolução poderá ser 
total ou parcial. A primeira corresponde à definição do termo já 
assinalada e se apresenta quando um paciente, depois do trata­
mento e ante situações ligadas à conflitiva focal, não só deixa de 
registrar as dificuldades e sintomas do início, mas em troca 
enfrenta tais situações de uma forma mais adequada. O mesmo 
autor dá um exemplo muito claro, referindo-se ao caso de um 
homem que tinha uma relação conflitiva com seu patrão, cuja 
resolução clinicamente total seria dada pela desaparição de seu 
medo do patrão e de seus temores obsessivos de cometer erros em 
seu trabalho, ao qual devia somar-se o fato de que começara a ter 
confiança em seu próprio desempenho e que se estabelecera uma 
relação satisfatória com seu patrão, sem excessiva submissão ou 
hostilidade. Por outro lado, a resolução clínica parcial consistirá 
no desaparecimento de uma reação inadequada (por exemplo, 
irritabilidade, ansiedade, etc.), que não venha acompanhada da 
reação apropriada (4).
Além da resolução real, clinicamente completa ou incomple­
ta, Malan menciona as falsas soluções, entre as quais se incluem 
fenômenos tais como a “cura transferenciai” e a “fuga para a 
saúde”, assim como o desaparecimento de sintomas alcançados a
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expensas da evitação das situações conflitivas. Denomina de falsa 
situação valiosa àquela na qual as mudanças se vinculam com 
alguma determinação do paciente ou com algum outro fato signi­
ficativo gerado a partir do tratamento, que serve para romper um 
círculo vicioso e instalar em seu lugar um ganho benigno e modi­
ficações vitais (4)\ Bem, Malan assinala que na prática se colo­
cam interrogações decisivas: Como reconhecer a melhoria “bási­
ca” ou “específica”? Como diferenciar uma “resolução” - real - 
de várias categorias de “soluções falsas”? (4). Sem dúvida, efe­
tuar tais distinções pode ser às vezes uma tarefa difícil, cuja reali­
zação costuma ser facilitada mediante um estudo realizado ao 
longo do acompanhamento, em realidade imprescindível se se 
pretende valorizar adequadamente o item R.P.F., ao qual deverão 
agregar-se os elementos fornecidos pelo psicodiagnóstico. As 
apreciações contudo continuarão tendo caráter empírico.
Não obstante, é possível mencionar, com fins de orientação, 
algumas das distintas possibilidades que podem ocorrer em maté­
ria de resultados terapêuticos, partindo-se da idéia de aceitar 
como real toda resolução da problemática central do tratamento 
que, assentando-se no insight, perdure sem que se produzam re­
caídas ao longo de um determinado período, que podemos fixar 
arbitrariamente, por exemplo, em 24 meses a partir da finalização 
da terapia, desde que o paciente não se submeta a outro tratamen­
to psicoterápico nesse intervalo. Desse modo podem apresentar- 
se alternativas como as seguintes:
1. Resolução (clinicamente) total da problemática

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