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Psicoterapia Breve e EMDR

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TÉCNICAS PSICOTERAPÊUTICAS – PSICOTERAPIA BREVE
ROTEIRO
1-Introdução e Conceitos Básicos Teóricos.
2-O Tratamento com Psicoterapia Breve.
3-Como trabalha o Psicanalista.
4-Como trabalha o Psicanalista Breve.
5-Uma sessão de Psicoterapia Analítica.
6-Uma sessão de Psicoterapia Breve Analítica.
7-Atendimento Grupal em Psicoterapia Breve Analítica.
8-Tipos de Intervenção Verbal do Terapeuta.
9-Traços Gerais de Contribuições do Terapeuta em Psicoterapia Breve.
10-Bibliografia.
1-INTRODUÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS TEÓRICOS.
Psicoterapia é o tratamento, por meio psicológicos, de problemas de natureza 
emocional, no qual uma pessoa treinada deliberadamente estabelece um relacionamento 
profissional com o paciente, com o objetivo de remover, modificar ou retardar sintomas 
existentes, interferir em padrões perturbados de comportamento, promover o 
desenvolvimento e crescimento positivo da personalidade.
A Psicoterapia Breve é um tratamento de natureza psicológica, de inspiração 
psicanalítica, cuja duração é limitada, buscam obter uma melhora da qualidade de vida 
em curto prazo, escolhendo um determinado problema mais premente e focando os 
esforços na sua resolução.
Dentre essas técnicas focais, uma que traz grandes benefícios em um prazo muito breve 
é o processamento de situações traumáticas por estímulos bilaterais (EMDR)1.
1 “EMDR – Eye Movement Desensitization and Reprocessing – (Dessensibilização e Reprocessamento 
através dos Movimentos Oculares) é a nova terapia especialmente útil para transformação das 
lembranças traumáticas. De uma forma revolucionária ajuda a libertar a mente, o corpo e abrir o coração. 
É uma nova forma de ver a conduta disfuncional, quando se acredita que a sua origem está em incidentes 
traumático do passado.”. Parnell, L. (1997).
A Associação Psiquiátrica Americana recomenda o EMDR como um dos principais métodos da 
atualidade para o tratamento de situações traumáticas.
Com o EMDR o cérebro recebe a ajuda necessária para processar o fato e arquivá-lo. Perde-se, 
assim, a carga negativa associada à situação, e muitas vezes se recuperam as lembranças positivas 
vinculadas a isso e que antes não se podiam perceber. Muitas pessoas têm a sensação de que a lembrança 
agora está realmente no passado e que já não incomoda quando se recordam dela. Uma cliente disse, 
depois do processamento de uma experiência de abuso sexual: "dói, mas já não fere”.
Criado pela Dra. Francine Shapiro, essa nova forma de terapia leva em conta as últimas 
descobertas no campo da neurofisiologia. Destacados neurocientistas têm declarado e colaborado com a 
importância do EMDR para o alívio de diversos sofrimentos, tais como: TEPT (Transtorno de estresse 
pós-traumático); Síndrome de trauma crônico; Transtornos dissociativos; Somatizações; Luto; Fobias; 
Síndrome do pânico; Reação aguda a estresse; Dependência química; Depressão; Distúrbios da 
Sexualidade.
Um princípio fundamental da terapia com EMDR é que a saúde básica existe dentro de nós e o 
que o EMDR faz é tirar o bloqueio causado pelas imagens, crenças e sensações corporais negativas e 
permitir que o estado normal (de saúde) da pessoa surja (Parnell, 1997:72). Numa comunicação pública a 
Dra. Shapiro disse: "se o corpo humano tem a capacidade de se curar das feridas físicas com relativa 
rapidez, por que não a mente?". O caráter de psicoterapia breve é mais uma das vantagens do método.
Há três reações possíveis a uma situação de perigo. Lutar, fugir ou paralisar-se. A 
paralisia é um último recurso para manter-se vivo, como um animal acuado que se finge 
de morto. Mas, ao contrário do lutar ou fugir, ela impede o processamento da 
experiência produzindo um trauma.
Uma experiência traumática não adquire um significado aceitável. Ela envolve uma 
intensidade de energia emocional, maior do que o organismo foi capaz de descarregar. 
Esse excesso de carga fica provocando o sofrimento.
As técnicas mais modernas permitem verificar que pessoas traumatizadas têm uma 
atividade cerebral muito maior de um lado do cérebro do que do outro.
A EMDR é um tratamento através de estímulos (visuais, auditivos, táteis) que facilitam 
o restabelecimento da comunicação entre os dois hemisférios cerebrais; vão se 
produzindo pequenas descargas suportáveis que possibilitam o processamento da 
situação e o alívio do sofrimento por uma re-significação da situação.
Vítimas de situações catastróficas ou de abuso físico, sexual ou emocional, e pessoas 
com sintomas de fobia ou pânico, rapidamente se restabelecem com a EMDR. Há 
também as situações dos pequenos abusos de situações opressivas ao longo de anos a 
fio que podem ser beneficiadas por este tratamento.
Mas percebe-se também que todos nós temos "trauminhas", situações difíceis ao longo 
de nossas vidas que não encontraram uma saída satisfatória, e que podem ser 
processadas desta forma para nos propiciar uma sensível melhora em nossa disposição. 
Essas situações podem produzir sintomas como depressão, estresse, ansiedade, pânico, 
fobia, desamparo e amnésia, como uma determinada época da vida que não deixou 
lembranças. 
A psicoterapia, em seu sentido genérico, como prática que se propõe a ajudar pessoas 
com sofrimentos psicológicos, mesmo que com distúrbios orgânicos (psicoterapia de 
pacientes com câncer, de coronarianos, ou mesmo de doentes mentais de causa orgânica 
ou bioquímica) se adaptará às novas ordens científicas, culturais e econômicas. Entre 
elas existe a tendência de comprovação científica (matemática) de resultados, mesmo 
que para isto se empreguem somente os critérios das ciências físicas ou biológicas e 
não, também, os das ciências humanas, onde as psicoterapias estão igualmente 
inseridas. Esta é uma pressão que, apesar dos protestos em contrário, implantará na 
psicoterapia do século XXI uma política de resultados. Outro fator de pressão para 
"resultados" situa-se na tendência do mundo ocidental especialmente do primeiro 
mundo, de submeter o atendimento médico aos seguros-saúde. Desta forma, as 
psicoterapias ficarão atreladas às companhias de seguro, privadas ou públicas, que 
exigirão psicoterapias breves, resultados objetivos e pouco dispendiosos. 
A Psicoterapia Breve Integrada coloca em dúvida o conceito de que para ajudar de 
modo eficaz um paciente seja sempre necessário um tempo prolongado. Através de uma 
abordagem psicoterapêutica mais dinâmica e flexível, essencialmente distinta da técnica 
psicanalítica tradicional, a Técnica Focal da P.B.I. possibilita que os objetivos 
terapêuticos sejam atingidos em prazo mais curto, através de um mecanismo 
denominado "Efeito Carambola", em que as mudanças em uma determinada área podem 
conduzir a alterações em outras áreas do comportamento do paciente. 
 
Baseia-se no modelo de abordagem integrada biopsicossocial e privilegia a visão 
psicodinâmica dos conflitos, permitindo a integração de diversas técnicas de diferentes 
abordagens psicoterapêuticas, além da utilização conjugada do tratamento 
psicofarmacológico. 
O termo "Psicoterapia Breve" teve origem na intenção de S. Ferenczi e O. Rank 
(discípulos de S. Freud), que em 1924 tentaram diminuir o tempo dos tratamentos 
psicanalíticos. Posteriormente, outros psicanalistas também fizeram importantes 
"transgressões" à técnica psicanalítica, sedimentando as características atuais da técnica 
de P.B.
Atualmente enfatiza-se a perspectiva teórica psicodinâmica da Teoria dos Afetos. A 
denominação "breve" deve-se ao fato de que as características específicas de sua 
Técnica Focal permitem abreviar a duração do tratamento e também reduzir o número 
de sessões. A Técnica Focal da Psicoterapia Breve Integrada tem como objetivo ajudar 
o indivíduo na busca de soluções mais adaptativas aos seus problemas, dentro do tempo 
mais breve possível. É orientada para objetivos claramente delimitados e para mudanças 
legítimas nas vidas das pessoas e não somente para autoconhecimento e apoio.
1.1- TÉCNICA FOCAL
O objetivo da Técnica Focal não é atingir todos os aspectosde mudanças estruturais, 
mas sim, dar início ao processo e deixar o paciente suficientemente estabilizado de 
forma que possa dar continuidade a esse processo de crescimento através de outros 
relacionamentos em sua vida. O papel do terapeuta será o de catalisador nesse processo 
de facilitação de mudanças proporcionando Experiências Emocionais Corretivas.
A Técnica Focal tem se provado extremamente eficaz em alguns transtornos mentais 
tais como: 
- Transtornos depressivos
- Transtornos ansiosos
- Transtornos de comportamento
- Transtornos alimentares 
- Reações de ajustamento
- Transtorno de estresses pós-traumático
A técnica da P.B.I., baseia-se no princípio da flexibilidade, que permite a integração de 
diversas técnicas de diferentes abordagens terapêuticas, além dos recursos da 
psicofarmacologia.
Tem objetivo delimitado e enfatiza a realidade objetiva. Utiliza-se dos Triângulos de 
Interpretação para a compreensão do psicodinamismo do paciente e também dos 
conceitos de Experiência Emocional Corretiva (E.E.C.) e de Efeito Carambola para a 
explicação dos mecanismos terapêuticos. 
Além disso, a técnica de P.B.I. se sustenta no que foi denominado em 1984 por Vera 
Lemgruber, de "Tríade da P.B".: 
Atividade do terapeuta, que se opõe à Regra de Abstinência, já que a atenção seletiva 
do terapeuta em P.B.I. contrapõe-se à atenção flutuante do psicanalista e evita-se o 
estabelecimento da Neurose de Transferência também através de interpretações que 
valorizem o vértice da realidade atual no Triângulo do Insight e do emprego de 
focalização através de interpretação, atenção e negligenciar seletivos em relação ao foco 
de trabalho previamente estabelecido e discutido pelo terapeuta com o paciente. 
Planejamento das estratégias terapêuticas a serem utilizadas e dos objetivos a serem 
atingidos, a partir da avaliação inicial e indicação terapêutica. É necessária uma 
avaliação prévia das condições internas e estrutura de personalidade do paciente, através 
de um diagnóstico nosológico (CID-10 e/ou D.S.M. IV) e de um diagnóstico 
psicodinâmico (com base no esquema dos Triângulos de Interpretação), pois nem todo 
paciente tem indicação para este tipo de técnica.
Foco estabelecido através da compreensão do psicodinamismo do problema do 
paciente, obtida pela avaliação do Triângulo do Conflito, com base na Teoria dos 
Afetos. É importante para o terapeuta, na P.B.I., uma adequada avaliação das 
dificuldades do paciente e da gênese de seus problemas, para uma melhor compreensão 
dos conflitos psicodinâmicos. Dessa forma, apoiado numa sólida teoria de 
desenvolvimento psicológico, ele busca aumentar a probabilidade de propiciar 
Experiências Emocionais Corretivas.
A Focalização impede a Regra Fundamental da Associação Livre da Psicanálise, 
mantendo o problema principal como o foco central do processo terapêutico. O paciente 
é levado a identificar e correlacionar seus problemas e dificuldades, com as situações de 
sua vida diária nas quais eles aparecem. 
Essas características essenciais distinguem a técnica da P.B.I. da técnica psicanalítica 
clássica, por se oporem às principais bases dessa.
1.2- EFEITO CARAMBOLA
Carambola é a expressão usada para identificar uma jogada de bilhar ou sinuca em que 
uma determinada bola ao ser impulsionada por um taco, gera movimento em outras 
bolas que não haviam sido atingidas diretamente mas que passam a mover-se 
impulsionadas pelo movimento gerado pela primeira bola.
Por analogia à carambola do bilhar, o termo Efeito Carambola foi utilizado por Vera 
Lemgruber para expressar o mecanismo interno de potencialização dos benefícios 
terapêuticos obtidos através da técnica focal, com isso identificando a característica da 
técnica focal, na qual, ao se resolver o conflito focal circunscrito a uma determinada 
área da vida do paciente, outras modificações em diversos aspectos do indivíduo podem 
ocorrer, como reflexo de repercussões positivas da reformulação desse aspecto 
específico que foi focalizado e trabalhado durante a terapia. 
O Efeito Carambola encontra-se fundamentado nas neurociências. A partir das 
Experiências Emocionais Corretivas (E.E.C.) é possível uma formatação biológica do 
domínio psicológico da ordenação e construção da experiência. Com isso propicia-se o 
estabelecimento de novas redes de conexões neuronais. 
No processo psicoterapêutico, com o objetivo de promover essas experiências de 
reaprendizado que levam às modificações internas no modo como o indivíduo vê a si 
próprio e aos outros, um importante elemento da facilitação de mudanças é a E.E.C. 
"Efeito Carambola significa tornar um círculo vicioso em círculo virtuoso". 
(Comentário de um paciente após alta do tratamento de um episódio depressivo). 
1.3- TEORIA DOS AFETOS
Essa espécie de "kit-básico de sobrevivência" tem vantagens adaptativas para o ser 
humano e pode ser classificado em 3 grupos:
 
- Afetos inibidores: restringem ou limitam reações. 
- Afetos ativadores-reguladores: regulam experiência de separação e estabelecimento de 
limites e da intimidade.
 
- Afetos ativadores-geradores de prazer: promovem interesse, conforto ou desejo sexual. 
O neurocientista A. Damásio ("Os Mistérios da consciência", 2000), ressalta a visão de 
Darwin sobre a evolução das emoções nos seres humanos, dizendo que, "do ponto de 
vista evolutivo, o problema de vida e sobrevida é fundamental e influenciou a forma de 
organização do cérebro humano, levando aos trilhões de sinapses cerebrais e redes 
nervosas que configuram a complexidade da mente humana". Para ele, o fato de o ser 
humano ter emoções é o que leva à criação do estado mental da consciência e permite 
ao ser humano ter pensamento, memória, imagem do self e comunicação. 
Porque os afetos são mais dinâmicos e menos fixos que os instintos e porque sua 
expressão é passível de modificação pela aprendizagem, a Experiência Emocional 
Corretiva (EEC) leva à possibilidade de mudança durante a psicoterapia pela 
reaprendizagem inerente ao processo psicoterapêutico. 
1.4- TIPOS DE PSICOTERAPIA BREVE 
Assim, o primeiro ponto a ser determinado é o tipo de Psicoterapia Breve, pode ser 
classificada em três tipos básicos: 
a) Psicoterapia breve mobilizadora.
Trata-se de um processo que tem como objetivo a evidenciação da ansiedade contida em 
processes mórbidos apresentados pelo paciente, mas que, devido a diversos fatores, 
ainda não se encontra apto (ou mobilizado) para se submeter a um processo 
psicoterápico. 
b) Psicoterapia breve de apoio.
Trata-se, por sua vez, de um processo de ação terapêutica que tem como objetivo 
diminuir a ansiedade de um paciente que sofra de dificuldades emocionais, sejam elas 
de que origem for. Notadamente eficiente no acompanhamento de pacientes da área 
hospitalar cuja principal dificuldade está em lidar adequadamente com algum distúrbio 
somático que o levou ao hospital, seja clínico ou cirúrgico.
c) Psicoterapia breve resolutiva.
Destina-se a procurar a origem intrapsíquica que originou a situação de crise vivida pelo 
paciente com o objetivo de efetivamente resolver o quadro apresentado, com a 
resolução do problema. É o tipo de Psicoterapia Breve que tem em sua determinação o 
principal objetivo de uma psicoterapia que é óbvio ao meu ver, ser terapêutico, isto é, 
efetivamente tratar. 
Tendo então delimitado o campo em que se pretende trabalhar, isto é, o terapêutico, 
salientam-se algumas questões básicas como: as indicações dessa modalidade de 
tratamento, o problema da "focalização", a duração do processo, o prognóstico esperado 
e, destacadamente, a metodologia adequada a este tipo de processo.
A prática da psicoterapia psicodramática clínica converteu-se, influenciada 
principalmente por modelos psicanalíticos, em um processo cada vez mais longo e mais 
amplo, do que inicialmente idealizara Moreno. Para Moreno, que sem assim o definir 
foi um grande defensor da Psicoterapia Breve, a psicoterapia psicodramática tem como 
meta a cura, a possibilidade de atingir o retorno do pacienteàs suas condições psíquicas 
anteriores ao transtorno apresentado, em um tempo mínimo, em que se consiga ajudar à 
pessoa a: 
a) Aceitar a realidade de seu ser-no-mundo, isto é, como a pessoa é e quais são as suas 
reais possibilidades de ser e agir; 
b) Penetrar no psiquismo da pessoa e ajudá-la na realização de si mesma, a continuar 
seguindo o caminho de sua vida que foi interrompido pelo estabelecimento de uma 
situação especial de "doença" (uma crise, por exemplo) e permitir que ela tenha domínio 
sobre suas próprias variáveis individuais.
c) O objetivo deve ser reintegrar o "doente" na cultura a que pertence, ajudando-o a 
manifestar todo o seu potencial possível, restabelecendo seu potencial criativo e sua 
espontaneidade. 
Nos processes terapêuticos, o conto do "Patinho Feio", não importa ser "pato" ou 
"cisne", mas o importante é conscientizar-se que se está no "lugar errado" e que se quer 
ser "pato" quando se é "cisne" e vice-versa, muitas vezes perdendo a oportunidade de 
ser um "bom pato, se é pato" ou um "bom cisne, se é cisne". 
E assim se concentra a idéia de uma psicoterapia breve, isto é, a de procurar, ao lado do 
ser que sofre, encontrar a solução para a sua aflição, pesquisando no campo do "mundo 
externo", primeiramente, e a seguir no seu "mundo interno", as origens de seu 
sofrimento, sem se estender em longos caminhos de modificação.
 
Portanto, o processo de psicoterapia breve envolve a criação de um vinculo transitório 
entre terapeuta e cliente, baseado na relação dialógica, estruturado na empatia, com um 
nível mínimo de consolidação para que se possa desenvolver, tanto no contexto 
dramático, quanto no relacional, uma certa experiência emocional de correção 
("Experiência Emocional Corretiva", aqui empregada num sentido mais amplo do que o 
proposto por Alexander, pois envolve não apenas a experiência relacional, mas também 
a revivência psicodramática corretiva), possibilitando a emergência de aspectos 
inconscientes transferencialmente agregados à situação vivida no presente pelo paciente, 
permitindo o reconhecimento destes aspectos profundos (insight) e a liberação de cargas 
emocionais bloqueadas ligadas a eles (catarse de integração). 
Um outro elemento que se apresenta para a conceituação de psicoterapia breve é a 
questão da determinação dos objetivos a serem alcançados pelo processo. E o objetivo, 
primordialmente, não é outro senão o de se atingir aquele equilíbrio existente 
anteriormente A crise, com a resolução destes aspectos transferenciais agregados. 
Isto traz à tona outra questão: a da focalização, que merecerá um item destacado mais á 
frente ainda neste capitulo. Mas, desde já é importante afirmar a necessidade da sua 
correta identificação por parte do terapeuta, pois disto depende o êxito do processo. 
Quanto a questão do termo breve, que indica um fator especifico nesta modalidade de 
psicoterapia, trata-se efetivamente da limitação do tempo de duração do tratamento, 
determinado desde o inicio do trabalho. Tem como fundamentação não somente as 
questões sócio-econômicas institucionais ou particulares, mas também a observação de 
que uma situação de crise é limitada no seu tempo de duração. Há também, em sua 
argumentação, a proposição colocada por Malan de que o período predeterminado para 
a duração do processo desencadeia uma "ansiedade positiva", algo como no principio 
existencialista de que o "reconhecimento da morte possibilita a vida!"
Finalmente, neste item quero deixar ressaltado que os meios de alcançar o objetivo 
terapêutico envolvem vários níveis de ação, que vão desde mostrar ao paciente o que 
esta realmente acontecendo e de que forma ele está reagindo (clareamento), passando 
por uma etapa pedagógica, em que lhe são oferecidas algumas alternativas de solução 
(esclarecimento) até atingir a fase mais importante do processo que é a abordagem 
psicodramática direta dos conteúdos do mundo interno que impedem o seu livre 
desempenho (resolução). 
Assim, neste sentido, a Psicoterapia Breve tem a finalidade de uma "experiência 
emocional corretiva", em que se oferece ao paciente a oportunidade de vivenciar uma 
situação especial em um contexto relacional de aceitação e segurança, onde ele possa 
chegar a uma formulação interna do conflito e reestruturar a sua vivência de ansiedade 
frente a uma situação emocional antes insuportável. Reunindo todos estes elementos 
apresentados é possível chegar a uma conceituação de Psicoterapia Breve: 
Uma forma de tratamento de distúrbios de natureza emocional, fundamentada no 
referencial teórico do Psicodrama, que se utiliza alguns elementos técnicos e até mesmo 
teóricos de outras linhas de psicoterapia; de objetivos terapêuticos determinados, na 
medida em que se restringe a abordar certas áreas de conflito previamente limitadas em 
um foco; caracterizada por se desenvolver em um tempo limitado de duração, fixado ao 
início do processo; praticada por um terapeuta previamente treinado que adote uma 
atitude bastante ativa, de verdadeiro "ego-auxiliar" baseando seu trabalho na relação 
empática; dando especial ênfase ao "atual ". sem deixar de se preocupar com os 
conflitos internos no que tenham de interligação com os atuais, na expectativa de que, 
através do insight e da catarse de integração, posse ser restabelecido o equilíbrio 
psíquico anteriormente presente. 
1.5 - CRITÉRIOS DE INDICAÇÃO
Vários autores têm apresentado em suas publicações uma gama bastante variável de 
indicações para Psicoterapia Breve, que vão de indicações bastante restritas, como as de 
Sifneos (1977) para as muito amplas e flexíveis de Davanloo (1977), que incluem até 
traços graves de caráter. 
É indiscutível que nem todos os pacientes podem se beneficiar de um processo de 
psicoterapia breve, levando-se em conta sua modalidade resolutiva, devendo a seleção 
basear-se não apenas em critérios clínicos, que são fundamentais porém não suficientes, 
mas também em hipóteses psicodinâmicas e sociodinâmicas.
 
Alguns quesitos são fundamentais para o sucesso do processo breve de psicoterapia 
como, por exemplo, a chamada "força de ego" do paciente, isto é, sua capacidade 
egóica, sua percepção do ambiente, sua avaliação de valores e seus sentimentos devem 
estar equalizados e presentes; reconhecer-se em um estado alterado de seu psiquismo e 
querer sair dele é condição "sine qua non" não só para o desenrolar da terapia como para 
sua própria indicação. Usando uma linguagem estritamente psicodramática, pode-se 
auferir o grau de maturidade e liberdade egóica de uma pessoa pela sua maior ou menor 
oferta de papéis ao longo da vida: pessoas com pouco relacionamento interpessoal, com 
poucos papeis sociais e poucas capacidades de abstração psicodramática são mais 
difíceis de se trabalhar em qualquer psicoterapia.
 
De maneira geral, a indicação de Psicoterapia Breve se ampara em um tripé assim 
estabelecido: 
a) "Quadro clínico" - indicação para pacientes de quadros agudos, de origem imediata 
ou muito recente, caracterizando situações de crise.
b) "Quadro Social" - disponibilidade econômica e/ou de pessoal, tanto da parte do 
paciente quanto do agente terapêutico.
 
c) "Quadro de Expectativa" - avaliação do nível intelectivo-cultural, levando-se em 
conta o nível de expectativa frente ao processo terapêutico apresentado pelo paciente. 
Observe que, de maneira geral, está-se falando em psicoterapia breve resolutiva, sendo 
que para as modalidades mobilizadora e de apoio não há tantas exigências.
Contra-indicações 
Pouco eficaz, ou mesmo contra-indicada é a Psicoterapia Breve, segundo vários autores, 
de acordo com dois aspectos básicos:
a) Diagnóstico clínico: psicoses, doenças psicossomáticas (que, de acordo com certas 
interpretações têm sido consideradas como as "psicoses no corpo"), personalidades 
psicopáticas, droga-dicção, homossexualidade, obsessões graves, tentativas 
potencialmente eficientes de suicídio, agitação psicomotora com agressividade. 
b) diagnóstico psicodinâmico: quando há grandes debilidadesegóicas, com 
dependências simbióticas intensas, ambivalência, tendência ao acting-out, escassa 
motivação para o tratamento, dificuldade para se estabelecer um foco, devido ao 
entrelaçamento de situações dinâmicas múltiplas.
1.6- FOCALIZAÇÃO.
Um outro ponto importante a ser abordado na delimitação teórica da Psicoterapia Breve 
é o conceito de foco. Lemgruber (1984) define como foco: o material consciente e 
inconsciente do paciente, delimitado como uma área a ser trabalhada no processo 
terapêutico atrav6s de avaliação e planejamento prévios.
Fiorini (1978) faz uma excelente apresentação deste conceito em seu livro, 
descrevendo-o como uma organização complexa da qual fazem parte formulações que 
enfatizam aspectos sintomáticos (como, por exemplo, o próprio motivo da consulta), 
aspectos interacionais (o conflito interpessoal que desencadeou a crise), aspectos 
caracterológicos ("uma zona problemática do indivíduo"), além de aspectos próprios da 
díade terapeuta-cliente e o desenvolvimento da técnica.
 
Partindo-se da premissa que tem sua base teórica na formulação gestáltica de que o 
mundo fenomenal é organizado pelas necessidades do indivíduo, que energizam e 
organizam o comportamento, vemos que estas observações de Fiorinni seguem como 
que "um rio canalizado", abrangendo diferentes níveis de um mesmo foco. Isto porque o 
indivíduo, ainda segundo este pensamento, executa as atividades que levam à satisfação 
das necessidades seguindo um esquema hierárquico em que desenvolve e organiza as 
figuras de experiência segundo um certo grau de complexidade. A medida que as 
enfrenta, há sua resolução e conseqüente desaparecimento, podendo o indivíduo 
continuar no caminho de sua meta.
 
Ora, em uma situação terapêutica, temos como um único foco em seus diversos níveis - 
a situação trazida por um paciente em que a "porta de entrada" seja realmente uma série 
de sintomas somáticos (taquicardia, palpitações, falta-de-ar, tonturas), desencadeados 
num segundo nível pela ansiedade ou angústia frente a uma situação especifica (da qual, 
em muitos casos, a pessoa nem se deu conta). Deve-se ter em conta que a angústia é o 
sentimento natural que se apresenta em um indivíduo perante uma situação de conflito. 
Portanto, como delimitação do foco, tem-se a sintomatologia apresentada, a ansiedade 
que Ihe deu origem e o conflito atual que gerou essa ansiedade. 0 conjunto atual é a 
situação vivida pelo sujeito, que encontra dificuldades para resolver um problema 
(obstáculo) que a vida lhe ofereça.
 
Este conflito atual, uma perturbação na relação eu-tu ou eu-isso que o indivíduo 
apresente, pode ser "curto-circuitado" com uma situação emocionalmente semelhante 
vivida em seu passado e mal elaborada por ele em seu desenvolvimento. Esta situação 
pretérita constitui outro elemento do foco, já agora mergulhando no mundo interno, 
inconsciente, projetado no presente pelo mecanismo da transferência. 
Por aqui, chega-se ao conflito nuclear, muito provavelmente alguma situação ou 
momento da vivência com figuras parentais em que altas cargas de emoção foram 
bloqueadas, gerando o que comumente é chamado de "núcleos transferenciais". 
Nas palavras de Fiorini de que "a focalização da terapia breve é a sua condição essencial 
de eficácia" compreendemos o sentido primordial do trabalho terapêutico breve, 
abandonando, pelo menos no momento, a sugestão apresentada por Malan de se 
trabalhar com mais de um foco em terapia breve, pois vejo nisto o risco de se perder a 
essência do processo breve e de se criar uma outra forma alternativa de abordagem - que 
poderia ser aplicada em processos psicoterapêuticos de duração limitada (como o 
trabalho realizado por residentes em Hospital de Ensino ou o de Estudantes de 
Psicologia na Clínica-Escola) - mas que, a meu ver, foge em precisão do termo 
"Psicoterapia Breve" em sua conceituação anteriormente explicitada. 
Com esta perspectiva de avaliação e ação sobre o foco, contraria-se a opinião de muitos 
psicoterapeutas (principalmente psicanalistas) que afirmam ser o trabalho de 
Psicoterapia Breve muito superficial, visando apenas a remoção de sintomas. Ora pois, 
ao se abordar em um mesmo foco diferentes níveis de profundidade de um conflito, 
espera-se atingir o "conflito nuclear", obtendo a sua resolução no seu mais profundo 
nível, ainda que - ligados a este ponto conflitivo - existam outros pontos, outros focos a 
serem abordados. Esta "ramificação" de conflitos profundos compõe toda a estrutura 
psíquica da pessoa e sua abordagem completa realmente é apanágio das psicoterapias 
prolongadas. 
Assim, creio ser importante distinguir-se entre profundidade e amplitude em 
Psicoterapia Breve, visto que é possível ser atingida uma profundidade nuclear nesta 
forma de terapia, sem que, no entanto, se tenha uma grande "amplitude" de campo de 
ação terapêutica.
No entanto, é preciso estar atento para que não se trabalhe realmente apenas no sentido 
de suprimir os sintomas, como pode ocorrer em outras formas de abordagem 
(principalmente a medicamentosa). Neste sentido é interessante observar a colocação de 
Jurandir Freire (1978):
 
Um sintoma é a manifestação visível e sensível de uma estrutura e a estrutura é ela 
mesma. Mais ainda, um sintoma sintetiza um conflito presente e uma história conflitual 
passada, ele é um resumo, um instantâneo da vida do sujeito... Se a Psicoterapia Breve 
consegue fazer com que o sintoma desapareça no ato da cura ou sua estratégia foi bem-
sucedida, o sintoma foi suprimido e com ele o funcionamento patológico que lhe deu 
origem, ou sua estratégia foi malsucedida, o sintoma pode desaparecer, mas deu lugar a 
uma "sintomatização" do ego ou do caráter, problemas psicopatológicos bem mais 
graves. No primeiro caso, quer queira, quer não, o terapeuta agiu sobre a estrutura. 
Neste sentido, a psicoterapia obteve um efeito pleno... 
1.7- DURAÇÃO E PROGNÓSTICO 
" Se, durante nossa própria vida, assistimos a uma deterioração corporal irreversível, a 
brevidade de nossa existência só faz torná-la mais excitante. Uma flor conhece apenas 
por uma noite sua plena floração, mas nem por isso sua eclosão nos parece menos 
suntuosa". (Sigmund Freud, "O efêmero", 1920).
 
Se assim o é na vida, assim o pode ser na nossa Psicoterapia, principalmente em se 
tratando da sua brevidade de duração. Se, para os autores que trabalham com o 
referencial psicanalitico, torna-se muitas vezes paradoxal e até mesmo impraticável o 
trabalho de curta duração, para o Psicodrama este problema parece não aparecer, pois a 
teoria na qual se apoia é fundamentalmente existencialista e reconhece as suas 
proposições, além de ter sido criado por Moreno com este mesmo objetivo de 
praticidade e curta duração.. Como trabalham com a transferência, e não com a relação 
télica (ou empática), os autores psicanalistas ficam perdidos em contradições e acabam 
por impor, arbitrariamente, um tempo qualquer para a evolução de, um processo que 
chamam de Psicoterapia Breve. Para citar alguns autores e mostrar a variedade de 
posições neste campo, vale fazer uma varredura bibliográfica. Assim, Perez-Sanchez e 
Cols (1987) falam em um mínimo de um ano de tratamento; Sifneos (citado por 
Gillieron, 1983) diz ao paciente que o tratamento será interrompido, mas sem dizer-se 
quando; J. Mann (também citado por Gillieron, 1983) dispõe de 12 horas para realizar a 
psicoterapia, distribuindo estas 12 horas conforme a natureza da problemática do 
paciente em 12 sessões de uma hora, 24 sessões de meia hora ou 48 sessões de 15 
minutos; Malan (1963) em seu primeiro trabalho sobre Psicoterapia Breve não 
explicitava ao paciente a limitação do tempo no inicio do processo. Reconheceu 
posteriormente que isto foi motivo de dificuldades ao se planejar o término da terapia, 
vindo posteriormente a determinar a data de término do processo e não o número de 
sessões; Bellak e Small (1980) determinam precisamente o número de seis sessões para 
seus tratamentos de emergência; Knobel (1986) questiona muitoestas questões, 
preferindo deixar em aberto o tempo de cada sessão, sua freqüência e sua duração. 
Por outro lado, tendo o Psicodrama e o existencialismo na retaguarda e um correto 
diagnóstico de uma situação de crise autolimitada vivida pelo paciente, torna-se 
relativamente simples delimitar o número de sessões para o processo de uma 
psicoterapia breve resolutiva.
 
Em minha experiência clínica, passei,a adotar o critério de sempre definir com o 
paciente a data do término depois de uma, duas, ou mesmo três sessões iniciais em que 
me detive na apreciação da problemática apresentada para estabelecer um diagnóstico 
preciso de quadro reativo, ou mesmo, de quadro agudo em um processo crônico que não 
procurarei atingir. Assim, nos casos em que o paciente efetivamente apresentava uma 
situação de crise, intensamente motivado para a psicoterapia, com estruturação de ego 
satisfatória (avaliada pelo seu costumeiro desempenho de papéis), o trabalho não 
ultrapassou dez semanas de evolução, levando-se em conta, ainda, um pequeno período 
para elaboração do ocorrido e planejamento de novas atitudes perante a vida. 
Portanto, em minha proposta de psicoterapia breve, sempre procuro avaliar de inicio a 
possibilidade de sua aplicação (indicação) e só assim me sinto à vontade para estipular o 
tempo limitado de dez semanas para a duração do processo, deixando em aberto a 
possibilidade da realização de um novo "bloco" de mais dez sessões, ou então a 
indicação de psicoterapia prolongada (o que na minha prática acabou por se restringir, 
em casos de terapia individual, à indicação de um trabalho grupal). 
Quanto ao prognóstico, respeitando-se - repito - os critérios rigorosos de indicação, são 
extremamente favoráveis, sendo recomendável, apenas, a realização de entrevistas 
periódicas de reavaliação.
1.8- SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO DE PSICOTERAPIA BREVE 
(PROPOSTA DE UM MODELO DE AÇÃO TERAPÊUTICA)
 
Fugindo da proposição de muitos autores de que o Psicodrama é apenas "um ótimo 
recurso de técnica" na terapia breve, minha proposta se baseia em que, de "método 
auxiliar", passe o Psicodrama a ocupar o espaço que lhe atribuíra Moreno, qual seja o de 
técnica, teoria e filosofia de compreensão e tratamento do ser humano, neste caso 
envolvido em uma situação tão comum, ainda que especial, que se traduz por um quadro 
de crise ou descompensação psicológica.
 
Pretendo apresentar aqui não uma série de "receitinhas" de como se fazer Psicoterapia 
Breve, mas, apenas, esboçar um plano geral de atendimento nesta forma de abordagem 
que leve em consideração os principais pontos de apoio em que pode se basear o 
terapeuta psicodramatista que se proponha a utilizar este recurso, seja na clinica privada 
ou em ambiente institucional. Inicialmente, procurarei apresentar uma idéia do 
psicoterapeuta psicodramatista trabalhando na função de "ego auxiliar" de uma pessoa 
em crise. Encontra-se em Moreno (1978) a afirmação que delimita esta postura, quando 
ele diz: 
A situação de ego auxiliar consiste, pois, em atingir a unidade com uma pessoa, 
absorver os desejos e necessidades do paciente e agir em seu interesse sem ser, contudo, 
idêntico a ele. Para tanto, é preciso que, desde o início, o terapeuta se despoje de 
algumas posturas que tomam corpo em nosso trabalho cotidiano devido aos vícios de se 
realizar uma psicoterapia prolongada, onde sempre se tem tempo para deixar que o 
próprio cliente dirija o processo terapêutico para uma exaustiva e profunda 
compreensão e elaboração de sua vida.
 
Na Psicoterapia Breve, o papel do terapeuta é muito mais amplo, muito mais ativo, 
participativo e, por isso mesmo, muito mais responsável. Exige-se alguma experiência e 
muito mais disposição para exercer ativamente o papel de terapeuta que se exige em 
processos prolongados. Isto porque, se na terapia prolongada assumimos o papel de ser, 
aquele que apenas carrega uma lanterna ao lado do paciente para iluminar os seus 
próprios passos" (como nos ensina a experiência dos mais antigos), na Psicoterapia 
Breve temos o dever de - ainda que por breve período de tempo - iluminar todo o 
momento de vida do paciente. Assim, recebemos o indivíduo imerso em uma situação 
em termos comparada à vivência da Matriz de Identidade Indiferenciada, ainda que em 
devido à uma situação existencial especial. Portanto, cabe-nos assumir a função de ego 
auxiliar (em seu sentido mais amplo), favorecendo a momentânea formação de um 
vínculo sólido e, através das técnicas de treinamento da espontaneidade e 
reconhecimento do eu, reconduzirmos o indivíduo para o seu pr6prio e livre caminho.
 
Este processo exige muito do terapeuta, pois além de simplesmente observar o paciente 
em sua "viagem através de si mesmo", devemos viajar junto com ele, cedendo-lhe a 
nossa "parte sadia". Moffatt diz que "com nossos núcleos histéricos nos introduzimos no 
mundo do paciente representando e transmitindo emoções e com nossos núcleos 
esquizóides ,evitamos que no final do processo sejamos dois no fundo do poço em lugar 
de um só", através da dissolução instrumental que permite que uma parte nossa 
acompanhe o paciente em sua viagem, enquanto a outra permanece testemunhando o 
que está acontecendo e possa conduzir o processo terapêutico a termo. 
Disponibilidade e experiência são, portanto, dois pré-requisitos fundamentais para o 
psicodramatista que se proponha a realizar a Psicoterapia Breve. Por outro lado, deve-se 
exigir do paciente que ele tamb6m tenha "muita vontade" de se tratar e que esta situação 
em que se encontra seja um quadro reativo, sem grande comprometimento da 
personalidade. 
Na Psicoterapia Breve, cliente e psicoterapeuta formam uma dupla baseada na relação 
Eu-Tu, devendo o terapeuta abandonar a postura de "agente catalisador" para apresentar 
um papel muito mais intenso e atuante no trabalho, o de "agente participante". 
Terapeuta e cliente embarcando juntos nesta experiência, impedindo a cronificação do 
quadro, pois se o paciente tiver de conduzi-la sozinho, recorrera mais facilmente a 
mecanismos de defesa cada vez elaborada,estruturada e mais subjetiva, vinda, 
eventualmente, a desenvolver quadros neuróticos severos e até psicóticos. 
É de fundamental importância salientar que, neste tipo de trabalho, o papel ativo do 
terapeuta terá muitos efeitos sobre o paciente. Portanto, é preciso estar sempre atento 
para que os fatores intervenientes de cura, como o efeito placebo, não se traduz na 
prática em um efeito nocebo. A profundidade que se alcançará em um processo de 
terapia breve dependerá da "força do ego" do cliente e da habilidade do terapeuta em 
aprofundar a pesquisa da Psicodinâmica verticalmente, em um único foco. 
Logo, é mais do que importante que o terapeuta tenha em mente a necessidade de, 
sempre que possível, fornecer dados e elementos para o fortalecimento da parte sadia do 
cliente, pois esta será a sua grande aliada na jornada pela recuperação do paciente. 
Um trabalho amplo de Psicoterapia Breve, principalmente em nível institucional, requer 
uma combinação de procedimentos oriundos das diversas especialidades que atuam em 
saúde mental, notadamente dos serviços de enfermagem, terapia ocupacional e 
assistência social.
Ressalto aqui, como já o fiz repetidas vezes, a importância da capacidade empática do 
terapeuta, aliada ao seu conhecimento técnico e teórico e a sua espontaneidade em 
caminhar ao lado do paciente, para que não se perca em elaborações c explicações que, 
por mais sedutoras que sejam, possam implicar o desvio do objetivo determinado. 
E, finalmente, reafirmo que é fundamental manter-se atento para que o ecletismo de 
técnicas e teorias não sancione uma terapia desregrada, mas que contenham coerência e 
harmonia entre si.
1.9- ESQUEMA TÉCNICO GERAL
 
O desenvolvimento de um processo de Psicoterapia Breve implica na estruturação de 
um esquema técnico geral, que pode ser seguido em todos os casos em que se proponha 
realizá-lo. Tal esquema pode partir do diagnóstico realizado por ocasião da entrevistainicial com o paciente, em que se encontre predominância de ansiedade devida a uma 
história reativa recente, sem antecedentes que façam pensar em um processo psicótico, 
desenvolvimento de quadro neurótico crônico ou distúrbio caracterológico formal. 
Isto não quer dizer que a Psicoterapia Breve não possa ser aplicada a neuróticos 
crônicos ou a pacientes psicóticos. Apenas que, nestes casos, deve-se ter como 
expectativa não a resolução do processo de base, mas apenas da situação de crise que se 
instalou sobre ele. 0 prognóstico portanto é mais reservado e a indicação mais restrita, 
sendo conveniente sua utilização apenas como um processo de mobilização para uma 
psicoterapia prolongada. 
Com expectativas de bons resultados em Psicoterapia Breve são aqueles pacientes que 
apresentam quadros agudos de crise ou descompensação psicológica de inicio recente. 
Bons resultados são também alcançados em pacientes em situações potencialmente 
criticas, como adolescência, vestibular, casamento, graduação, descasamento, viuvez, 
aposentadoria, rompimento amoroso, etc.
 
Segundo Lemgruber (1984), é fundamental para o sucesso terapêutico que já na fase de 
diagnóstico averigúe-se a capacidade de o paciente formar uma "aliança terapêutica". 
Nas suas palavras: 
Este potencial se relaciona com a identificação do paciente com os objetivos do 
tratamento, com a sua motivação para a mudança, com seu nível de frustração e com a 
existência de uma "confiança básica" (capacidade de o indivíduo reagir às vicissitudes 
da vida por meio de uma atitude positiva frente ao mundo).
 
O segundo passo no esquema técnico geral é o enquadramento, em que são 
estabelecidas as regras gerais que norteiam todo o processo. Tais regras, que devem ter 
a plasticidade exigida para cada caso, incluem limitar o número de sessões ou de 
semanas a serem realizadas, sendo considerados o limite de tempo, a freqüência das 
sessões, previsão de paralisações e retornos periódicos de reavaliação.
 
O número de sessões, a meu ver, deve ser calculado a partir da entrevista inicial com o 
cliente, em que se levará em conta a gravidade da queixa apresentada. Como um 
“número mágico” pode pensar em dez semanas como referência básica, aumentando ou 
diminuindo o número de sessões semanais (3, 2 ,1 ou, mesmo, nenhuma) de acordo com 
a evolução do processo. 0 principio que indica a delimitação precisa do número de 
semanas baseia-se na idéia de um "sistema fechado" que impede derivações de foco e 
alimenta uma ansiedade positiva (como uma "panela de pressão") que impulsiona o 
processo terapêutico em uma só direção, com a rapidez necessária para satisfazer as 
exigências sociais, econômicas e pessoais.
 
Como um exemplo, pode-se propor um "bloco" de, digamos, dez semanas de terapia, 
com uma freqüência variável de sessões semanais (de acordo com a ansiedade do 
paciente) e nas últimas serão discutidas as seguintes alternativas, de acordo com a 
evolução do processo:
 
a. Alta do paciente, propondo-se que sejam feitas reavaliações periódicas, com um 
intervalo de inicio mensal e, posteriormente, semestral até a alta definitiva. 
b. Prolongamento da Psicoterapia Breve, com um recontrato para mais um bloco de 
sessões (que poderão até ter um número menor de semanas). 
c. Indicação de um processo de psicoterapia prolongada. 
Todas estas informações devem ser fornecidas ao paciente, assim como as normas 
básicas do contrato terapêutico e, principalmente, a chamada "devolução de dados" em 
que lhe são transmitidas, com a suficiente clareza de linguagem, a compreensão de seu 
quadro atual (ainda que panorâmica e parcial). Ressalto que se deve deixar bem 
esclarecido que ele foi entendido globalmente e que nos propomos a ajudá-lo a "sair 
desta"! 
1.10- ESQUEMA TÉCNICO ESPECIFICO
O esquema de trabalho será dividido didaticamente em três etapas, procurando-se 
ordenar o processo terapêutico, sem, no entanto, perdermos a noção de que tais etapas 
podem acontecer simultaneamente, sobrepondo-se umas às outras no desenrolar do 
processo. As três etapas, nomeadas pela sua característica principal, são as seguintes: 
acolhimento, resolução e (Re)projetação.
 .
1.11- ACOLHIMENTO (O INICIO DO PROCESSO TERAPÊUTICO)
 
Esta primeira etapa é de extrema importância, pois o êxito do processo terapêutico 
dependerá substancialmente do sucesso de sua concretização. Aqui deverá o terapeuta 
dirigir seus esforços no sentido de organizar uma estrutura de sustentação na qual o 
paciente se instalará, criando uma verdadeira "placenta terapêutica". Ainda com o 
objetivo didático, esta primeira etapa pode ser subdividida em duas fases, assim 
denominadas: vinculação e ansiolitica.
a) Fase de vinculação
 
Pichon-Riviére, citado por Moffatt, diz da "necessidade do paciente, em estado de crise, 
de que alguém lhe segure o medo". Neder (1984) cita as experiências do psiquiatra 
norte-americano Eric Wright, que acompanhou pacientes em estado grave (de origem 
clinica ou acidental) no transporte de ambulância desde o local em que foi encontrado 
até o hospital. No trajeto, Wright mantinha-se próximo ao paciente e, segurando-lhe a 
mão, informava-lhe brandamente: "Você não está sozinho, não se preocupe, eu estou 
aqui com você. Está tudo sob controle; você já foi medicado e está tudo organizado. 
Não há com o que se preocupar. Descanse! ". Segundo o seu relato, isto era feito mesmo 
com o paciente inconsciente e os resultados revelaram uma diminuição no número de 
pacientes que faleciam antes de chegar ao hospital, mesmo tendo o mesmo nível de 
apoio clinico.
 
Portanto, já a partir da primeira sessão de Psicoterapia Breve, o terapeuta deve 
estabelecer uma comunicação com seu paciente em que se tenha em mente o processo 
da "confirmação da existência" da pessoa.
 
Laing (1978), citando Buber e William James, faz a importantíssima afirmação: "O 
mais ligeiro sinal de reconhecimento do outro confirma pelo menos a presença da 
pessoa em seu mundo". 0 objetivo desta fase é, pois, despertar no cliente a sensação de 
que não está sozinho neste mundo e que será compreendido e ajudado exatamente no 
que precisa. Para tanto, é necessário que o terapeuta esteja familiarizado com os 
principais concertos da teoria da comunicação desenvolvidos por Watzlawicki, Beavin 
& Jackson (1973).
b) Fase ansiolítica.
Esta é a fase em que será abordada a simultaneidade da ação músculo-emoção. Tal 
simultaneidade de ação parte de um principio fisiológico que coloca o animal em 
posição de "briga" ou de "fuga" frente a uma situação de perigo, mobilizando todo o seu 
esquema muscular. 0 relaxamento muscular pode ser considerado como a mais antiga 
técnica de acolhimento, pois é "nada mais, nada menos, do que o abraço e as caricias da 
mãe ante o pânico infantil, abraço que é simultaneamente contenção, encontro e 
relaxamento" (Moffatt, 1982).
É no jogo, no entanto, que encontramos a expressão psicodramática máxima. Monteiro 
(1979) diz que o jogo permite ao homem reencontrar sua liberdade, através não só de 
respostas a seus problemas, mas também na procura de formas novas para os novos 
desafios da vida, liberando sua espontaneidade criativa. Bustos (1979) cita Moreno para 
dizer que "ele adorava o jogo, porque ai se encontra a liberdade".
 
Nas psicoterapias de grupo, os mais variados jogos podem ser propostos, sempre tendo 
cm mente que, nesta situação especial, cm que o indivíduo não esta trabalhando 
diretamente o seu conflito, o nível de ansiedade se tornará cada vez menor, facilitando 
cm muito as demais etapas do tratamento. 
Nas psicoterapias bipessoais, devem ser estimulados os jogos com objetos 
intermediários, como bonecos, fantoches, tintas, "jogos de armar", etc. 
1.12- RESOLUÇÃO.
Esta etapa é a "espinha dorsal" de todo o tratamento. Trata-se do momento em que se irá 
abordar dramaticamente o "foco" da situação critica apresentada pelo paciente. Deve, 
então, o terapeuta trabalhar mantendo um "foco" de ação, termo que se refere As 
dramatizações centrais que derivam diretamente da"queixa" do paciente. O paciente 
deve ser sempre encaminhado para este foco, desprezando-se possíveis derivações que 
eventualmente surjam durante a dramatização. Aqui novamente é solicitada a 
experiência do terapeuta, pois de suas "hipóteses" dependerão a manutenção do "foco" 
em evidência. 
Na situação de crise, a pessoa não se apercebe da presença de barreiras secundárias 
(pertencentes ao seu mundo interno) que a limitam e se lança em campo em busca da 
resolução de sua meta, at6 a qual só vê um caminho, sem se dar conta destas barreiras 
que, obviamente, tornam árdua e desastrosa a caminhada, com evidente rebaixamento 
das funções egóicas.
 
Portanto, o caminho para a meta é desviado pelas barreiras secundárias, levando o 
indivíduo a direções refratárias, chegando a distanciar-se tanto de sua meta que, por fim, 
se vê confuso, perdido e só, característico da crise.
 
Cabe ao processo de Psicoterapia Breve manter o indivíduo no caminho de sua meta, 
parando a cada barreira, tentando solucioná-la. Ou, se isto não for possível devido à sua 
amplitude e ramificação, deve-se ao menos contorná-la, sem perder o rumo da solução. 
Em termos de "operação dramática", isto eqüivale a realização de sucessivos "atos 
terapêuticos", em que cada obstáculo secundário é abordado isoladamente, tendo-se a 
obrigatoriedade de encerrar a sessão sempre retomando o rumo da resolução do foco 
primário. 
1.13- (RE)PROJETAÇÃO.
Esta é a última e certamente a mais delicada etapa do processo de Psicoterapia Breve. 
Delicada sim, pois se as duas etapas propostas anteriormente exigiam experiência e 
talento do terapeuta, esta exige - além disto - sua capacidade télica. 
Aqui novamente é requerida a "capacidade empática" do terapeuta, pois é preciso 
"trocar de papel" com o cliente e, como no poema de Moreno, "vê-lo com seus próprios 
olhos", pois é nesta fase final do processo terapêutico que será elaborado e encaminhado 
um novo projeto de vida do paciente.
 
Massaro (1984), ao discutir o conceito de temporalidade em Berg-son diz: Para criar o 
futuro, é preciso que algo lhe seja preparado no presente, e como a preparação só pode 
ser feita utilizando-se o que já foi, a vida se empenha desde o começo em conservar o 
passado e antecipar o futuro; numa duração em que o presente, o passado e o futuro 
penetram um no outro e formam uma continuidade indivisa.
 
Assim, esta etapa ocorre em um “continuum” com a anterior, pois o papel social 
potencialmente mobilizado na fase de Resolução será aqui solicitado a demonstrar seu 
desenvolvimento e "lapidado" em suas arestas. Isto significa que, na elaboração de um 
novo projeto, 6 fundamental a analise critica e o questionamento sucessivo, a fim de se 
assegurar da solidez das soluções propostas.
 
1.14- CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Não nos cabe discutir neste trabalho a validade ou não da psicoterapia Breve, em seu 
sentido mais amplo. Isto porque as inúmeras publicações a respeito trazem informações 
irrefutáveis de sua utilização e eficácia a curto, médio e até longo prazos. Mesmo em 
relação às criticas de psicoterapeutas mais radicais e ortodoxos, nas quais se observa a 
preocupação enfática dada aos conteúdos mais profundos da personalidade, o trabalho - 
ainda que focal e de curta duração - responde com resultados que revelam alterações 
significativas no comportamento das pessoas que dele se serviram, desenvolvendo uma 
nova realidade existencial, com mais clareza e menos sofrimento.
 
As teorias de comportamento e técnicas de psicoterapia que têm surgido nos últimos 
anos, cada uma dando ênfase a uma parte do psiquismo, a uma parte da pessoa, não se 
importam em ver a pessoa como um todo em um dado momento de sua vida, inserida 
em seu ambiente social e antropológico, em que novas regras e solicitações existem e 
são construídas a cada momento, tornando pelo menos desatualizadas certas posturas 
mais ortodoxas. Ou seja, habituamo-nos a ver o Homem em "cortes longitudinais", 
esquecendo de vê-lo em sucessivos "cortes transversais" que compõem o seu cotidiano. 
Assim, como o próprio Moreno cita: "Deve haver uma seleção do veiculo e também do 
sistema de termos e interpretações que o paciente requer". Isto é, o "foco" da atuação 
terapêutica deve estar no paciente e não na teoria.
 
E, pensando assim, vemos que há um enorme contingente de pessoas que sofrem de 
ansiedade pura ou somatizada, atingindo já níveis que se poderia considerar endêmicos 
em alguns centros como São Paulo. E, paradoxalmente, nada ou muito pouco se faz por 
estas pessoas, devido a uma somatória interminável de fatores, em que pesam 
argumentos tanto do lado do paciente quando do agente terapêutico. Alega-se pouca 
verba para ampliação de instituições, ou porque se tem pouco profissional treinado na 
custosa área de Saúde Mental, ou porque nossos esquemas teóricos não são tão 
abrangentes como se supõe, ou ainda porque não se compreende a linguagem simples, 
concreta e superficial do homem comum. 
Enfim, muitos são os motivos alegados para que não se realize um trabalho mais 
voltado para a necessidade emergente da população, restringindo-se o trabalho 
terapêutico a uma elite cada vez mais selecionada.
 
A Psicoterapia Breve, assim como foi apresentada neste trabalho, é, no entanto, apenas 
mais um dos recursos do qual se pode valer uma instituição no sentido de ampliar seu 
campo de ação para a comunidade que dela se serve.
 
Em seu livro, Kesselman (1971) fala de "processos corretores de duração e objetivos 
limitados", desenvolvendo um amplo programa de saúde mental, incluindo o trabalho de 
vários profissionais na área de saúde, em que a Psicoterapia Breve ocupa apenas um dos 
níveis de atendimento, ao lado do social, familiar, ocupacional, etc. 
Neste sentido é que se torna importante a elaboração de um plano de atendimento que 
beneficie a todos que dele se servem, como, por exemplo, no trabalho realizado por 
estagiários junto a departamentos de Psicoterapia, trabalho que teria a meu ver, muito 
mais sentido (tanto no referente á própria aprendizagem quanto no assistencial) se fosse 
projetado com vistas aos objetivos e tempo limitados, porque na prática é assim que 
acontece. 
Tendo-se sempre em mente a noção de foco, é perfeitamente possível realizar-se um 
trabalho de psicoterapia em que em cada "bloco" de atendimento seja abordado apenas 
um foco crítico apresentado pelo paciente.
 
Há, no entanto, que se ressaltar que a Psicoterapia Breve não um inovador instrumento 
milagroso que irá resolver todos os problemas apresentados por todos os pacientes. 
Para tanto, é preciso que se firme o trabalho terapêutico em uma indicação precisa em 
que, contrariando algumas das mais modernas tendências, é preciso partir-se de um 
diagnóstico previamente elaborado, antes de se indicar o tratamento adequado. 
Com isto, será possível distinguir um grande contingente de pacientes que, apresentando 
quadros reativos ou mesmo neuróticos de origem recente, podem ter seu sofrimento 
aliviado em pouco tempo, não apenas pela eficácia do processo terapêutico, mas 
também pela eliminação da cansativa "fila de espera" para estes casos, possivelmente 
evitando-se, assim, a sua cronificação.
 
Portanto, se bem orientada e indicada, a Psicoterapia Breve pode contribuir 
decisivamente para: 
a) Diminuição da ansiedade e conseqüente relaxamento de campo, permitindo a real 
avaliação dos obstáculos.
 
b) Identificação da noção de "campo de liberdade" e responsabilidade, desenvolvendo 
na pessoa a noção de que é livre dentro dos limites de seu campo de liberdade e 
impedindo que se esmague no centro dele, impotencializando sua ação.
 
c) Chamar a atenção da pessoa para a sua própria vida e o sentido dela, contribuindo 
para um enriquecimento pessoal, como o desenvolvimento de papéis até então 
desconhecidos ou pouco desenvolvidos.
 
d) Maior ajustamento nas relações interpessoais: trabalho em muito facilitado na 
psicoterapia de grupo, mas que também pode ser desenvolvido em trabalhos bipessoais 
na medida emque se dá noções de uma comunicação clara e sadia.
 
e) Avaliação das perspectives pessoais, com a reorganização de um plano de vida, em 
que se inclua suas percepções e reposicionamento durante o processo terapêutico. 
Enfim, se não produz um ser humano novo, espontâneo e criativo, conhecedor intimo 
das profundezas de seu ser, a Psicoterapia Breve pelo menos se propõe a acompanhar 
este mesmo ser humano em um momento especial de sua vida, em que prevalecem a dor 
e o sofrimento, ajudando-o a encontrar a melhor maneira de enfrentar e vencer um 
obstáculo (real e/ou fantasioso) que se interpôs no caminho de uma meta de sua vida. 
E, seja qual for o enfoque teórico dado ao procedimento técnico, todos aqueles que 
trabalham em saúde mental e, notadamente, em Psicoterapia Breve, têm muito clara a 
noção da necessidade de exercer esta profissão de ajuda com a dedicação que a situação 
exige. 
2-O TRATAMENTO COM PSICOTERAPIA BREVE
· Etapas iniciais de entrevistas, diagnóstico, contrato terapêutico e planejamento.
· “Rapport” : proximidade afetiva entre paciente e o terapeuta (aliança terapêutica).
· O terapeuta deve transmitir confiabilidade e interesse pelos problemas do paciente.
· Manter equilíbrio entre gratificações e privações do paciente.
· Permitir gratificações moderadas de necessidades emocionais (ex.: responder 
perguntas).
· Manter a posição frente-a-frente (usar a cadeira).
· Participar dando sugestões, em algumas ocasiões, nos problemas atuais do paciente.
· O terapeuta poderá buscar interpretar, lembrar causas, ajudando o paciente.
3-COMO TRABALHA O PSICANALISTA.
· Tornar conhecido ao paciente aquilo que há de estranho dentro dele.
· Saber fazer com que o paciente abra um diálogo, falando seus problemas.
· Ser flexível, tolerante, empático, paciente buscando um “relacionamento amigável”.
· Buscar conhecer o paciente.
4-COMO TRABALHA O PSICANALISTA BREVE.
· Desencorajar a neurose de transferência e a regressão.
· Buscar estimular um vínculo mais realista e definido.
· Manter uma proximidade mais afetiva do paciente.
· Fomentar uma rápida aliança terapêutica.
· Oferecer uma imagem confiável.
· Demonstrar interesse pelos problemas do paciente.
· Permitir certo grau de gratificações de necessidades emocionais, respondendo 
perguntas formuladas pelo paciente.
· Usar cadeira no lugar do divã.
· Se posicionar frente-a-frente.
· Ter uma função mais ativa, na busca de resultados.
· Evitar o prolongamento excessivo do silêncio para evitar a ansiedade, regressão e 
perda de tempo.
5-UMA SESSÃO DE PSICOTERAPIA ANALÍTICA.
· Já fez as entrevistas iniciais e contato verbal.
· Recebe o paciente com cortesia.
· Permite ao paciente se adapte ao ambiente.
· Fala: “muito bem, agora podemos começar o tratamento”.
· O paciente e o terapeuta devem sentar em poltronas.
· O consultório deve possuir : mesa de centro, escrivaninha, armário com livros e um 
divã.
· O terapeuta deve fazer uma avaliação com relato resumido das sessões anteriores.
· O terapeuta deve oferecer o divã para o paciente deitar. Caso o paciente se recuse pode 
deixá-lo na posição ou lugar que lhe agradar.
· O terapeuta deve explicar que fará anotações.
· O paciente não deve esconder nada , relatando o que pensa, sem ordem, importância e 
não deve se preocupar com coisas lógicas.
· O terapeuta deve informar ao paciente que a hora da terapia deve ser utilizada da 
forma que ele quiser.
· O terapeuta pode relembrar fatos e solicitar pormenores ou permanecer calado 
enquanto o paciente fala.
· Após 3 meses deve ser realizado um balanço se a terapia deve continuar da mesma 
maneira.
· O paciente deve contar sonhos, o terapeuta deve escutar e comentar caso necessário.
· Os resultados são imprecisos ( a cura pode ou não acontecer).
6-UMA SESSÃO DE PSICOTERAPIA BREVE ANALÍTICA.
· É o mesmo de uma sessão de psicoterapia analítica, observando as diferenças técnicas.
· Motivar a aliança terapêutica.
· Participar ativamente e diretamente.
· Se posicionar frente-a-frente.
· Usar cadeira no lugar do divã.
· Valorizar o foco conflitivo do paciente.
· Cumprir um planejamento prévio.
· Elaborar critérios de alta do paciente.
· Elaborar relatórios: anamnese, diagnósticos e evolução clínica.
· Dar a sua visão no início e no final do tratamento.
7-ATENDIMENTO GRUPAL EM PSICOTERAPIA BREVE ANALÍTICA.
· Alcoólicos, Toxicômanos e Neuróticos Anônimos. Pais de excepcionais e grupos de 
soropositivos de HIV. 
· Grupos homogêneos (com as mesmas questões), em busca de apoio, consolo e alívio.
· A conivência com pessoas do grupo cria laços emocionais que contribuem para 
melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.
· As pessoas aprendem a avaliar seus padrões de comportamento através da ajuda de 
seus pares, podendo experimentar mudanças internas e externas em suas relações.
· Abaixo seguem 10 fatores curativos propostos por Vera Lemgruber:
· Coesão grupal: atração do grupo para os seus membros e seus problemas que 
possibilita a ocorrência de fatores curativos.
· Instalação de esperança: acompanhamento da evolução de cada membro do grupo, 
crédito na própria dinâmica, no potencial de cada um e na existência de soluções viáveis 
para suas questões.
· Compartilhamento de informações: são as questões introduzidas pelos terapeutas ou 
pelos membros do grupo que depois de discutidas são incorporadas. As experiências 
novas, fruto dos debates, podem gerar a reestruturação de novas atitudes em alguns 
membros do grupo.
· Universalidade: cada membro do grupo constata que não está só, nem é o único a 
enfrentar tal problema.
· Altruísmo: oportunidade de ajudar o companheiro, sair de si mesmo para compreender 
o problema do outro e encontrar soluções, partilhando sua dúvidas e celebrando suas 
conquistas.
· Desenvolvimento de técnicas socializantes: atividade que se torna possível devido ao 
convívio do grupo, que pressiona a cada um a deixar-se ajudar a contribuir para a 
melhora dos outros, a reagir a provocações, a se defender, a se divertir, a reformular 
padrões de reação, a entrosar-se e a respeitar a si próprio e aos outros.
· Comportamento imitativo: utilizar como modelos às relações estabelecidas entre o 
terapeuta e o grupo, bem como dos membros do grupo entre si. É fundamental que as 
relações sejam de boa qualidade para que a imitação seja de efeito positivo.
· Ventilação e catarse: intercâmbio de sentimentos gerados por experiências 
compartilhadas, que por sua vez provocam a liberação de emoções que incomodam por 
seu acúmulo.
· Recapitulação corretiva do grupo familiar primário: repetir no grupo terapêutico o 
padrão relacional estabelecido com a família durante a infância. Em cima deste modelo 
o paciente pautará o seu relacionamento com outros membros do grupo, substituindo 
pessoas significativas da sua vida. Isto facilita a elaboração de conflitos reais ou 
imaginários que serão resolvidos através do “feedback” oferecido pelo grupo e pelas 
interpretações do terapeuta.
· Aprendizado Interpessoal: fato curativo que se sustenta na importância das relações 
interpessoais. Cada indivíduo cria no grupo o universo interpessoal que é adaptativo no 
sentido evolutivo e cultural.
8-TIPOS DE INTERVENÇÃO VERBAL DO TERAPEUTA.
· Interrogar : pedir ao paciente, dados precisos, explorar em detalhe as suas respostas.
· Proporcionar informações: o terapeuta é também um docente, dentro de uma 
perspectiva mais profunda e abrangente de certos fatos humanos, como por exemplo, na 
interpretação de um sonho.
· Confirmar ou retificar os conceitos do paciente sobre a sua situação.
· Clarificar: reformular o relato do paciente de modo que certos conteúdos e revelações 
do mesmo adquiram maior relevo.
· Recapitular: resumir pontos essenciais sugeridos no processo exploratório de cada 
sessão e do conjunto do tratamento.
· Assimilar: relações entre dados, seqüências, constelações significativas, capacidades 
manifestas e latentes do paciente.
· Interpretar o significado dos comportamentos, motivações e finalidades latentes, em 
particular os conflitos.
· Sugerir atitudese determinadas mudanças a título de experiência.
· Indicar: especificamente a realização de certos comportamentos com caráter de 
prescrição (intervenções diretas).
· Dar enquadramento à tarefa: local das sessões, duração e freqüência das sessões, 
ausências e honorários.
· Meta intervenções: comentar ou aclarar o significado de haver recorrido a qualquer 
das intervenções anteriores.
· Outras intervenções: anunciar interrupções, variações ocasionais nos horários, etc.
9-TRAÇOS GERAIS DE CONTRIBUIÇÕES DO TERAPEUTA EM PSICOTERAPIA 
BREVE.
· O terapeuta deve manter uma postura solene.
· O paciente deve ter uma sensação de conforto e segurança com o terapeuta e o 
ambiente.
· O terapeuta deve ser se manifestar empaticamente utilizando-se da linguagem (sim..., 
compreendo..., e então?...).
· O terapeuta deve transmitir “calor humano”, não ser indiferente, frio ou calculista com 
o paciente. 
10-BIBLIOGRAFIA.
BRITANNICA, ENCYCLOPAEDIA DO BRASIL Publicações Ltda.
ENCARTA, ENCICLOPÉDIA - 1993-1999 Microsoft Corporation.
NETO, FRANCISCO BATISTA, Psicoterapia Breve, SPOB, RJ.2000.
NUNES, PORTELLA, Psiquiatria e Saúde Mental, Atheneu, SP- 2000.
LAPLANCHE E PONTALIS, Vocabulário da Psicanálise – Martins Fontes, SP-2000.
INTERNET - http://www.orgonizando.psc.br/zeg/breve.htm
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