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– AULA PRÁTICA 10: DETERMINAÇÃO DA DUREZA DE UMA ÁGUA 10.1 – OBJETIVOS Essa aula prática tem como objetivo integrar ao elenco de capacidades do aluno o domínio da técnica de titulometria de complexação. Durante a realização dos trabalhos serão perseguidos os seguintes objetivos específicos: - reconhecer os princípios que fundamentam a titulometria de complexação e sua relação com a prática; - conhecer as principais aplicações da titulometria de complexação; - identificar o EDTA enquanto principal reagente titulante aplicado em titulometria de complexação; - compreender o funcionamento dos indicadores metalocrômicos utilizados na titulometria de complexação. 10.2 – ABORDAGEM TEÓRICA 10.2.1 – Titulometria de complexação A titulometria de complexação é um tipo de análise titulométrica baseada em reações de formação de complexos. Essa técnica titulométrica é de grande utilidade na determinação de íons metálicos. a) Reações de complexação As reações de complexação são aquelas onde um íon metálico atua como receptor de pares de elétrons (ácido de Lewis) formando ligações coordenadas com espécies doadoras de pares eletrônicos (base de Lewis), as quais recebem o nome de ligantes. A espécie formada a partir dos íons metálicos e dos ligantes recebe o nome de complexo, por exemplo: [PbI4]- (íon tetraiodoplumbato) , [Fe(CN)6]4- (íon hexacianoferrato (II)), [Ag(CN)2]- (íon dicianoargentato) etc. A seguir mostramos um exemplo de reação de complexação onde podemos identificar os ligantes, o cátion central e o complexo formado: EXEMPLO: A constante de equilíbrio para a reação de formação de íons complexos será: M + L ML ]][[ ][ LM ML K f Quanto maior for o valor da constante de formação de um complexo, maior será sua estabilidade. b) Quelantes e quelatos QUELANTE: espécie química que possui dois ou mais grupos doadores de elétrons em sua estrutura molecular sendo capaz de formar duas ou mais ligações coordenadas com um cátion ou átomo metálico. QUELATO: Composto de coordenação cíclico formado quando um cátion ou átomo metálico está ligado por duas ou mais ligações coordenadas ao mesmo ligante. Figura 01 – Quelantes e quelatos Ácido de Lewis (íon central) Base de Lewis (ligante) Íon complexo Cr 3+ NH 3 [Cr (NH3)6]+ 6 3+ ¨ Obs.: “Quelato” vem do grego chélé, que significa “prender com garras” (pinçar). A grande maioria dos agentes de complexação usados em titulometria de complexação são quelantes, pois estes formam complexos mais estáveis que os ligantes que só podem formar uma ligação coordenada. Além disso, o uso de quelantes como titulantes fornece pontos finais mais nítidos. c) EDTA O EDTA é sem dúvida, o quelante mais usado em titulometria de complexação. Por titulação direta ou sequência de reações indiretas, praticamente todos os elementos da tabela periódica podem ser analisados com EDTA. O EDTA é um ácido hexaprótico, designado por H6Y2+. Os quatro primeiros valores de pKa aplicam-se aos prótons carboxílicos, e os dois últimos são para os prótons dos grupos amônio. O ácido neutro é tetraprótico, com a fórmula H4Y. Figura 02 – Estrutura do EDTA enquanto ácido hexaprótico (pKa1 = 0,0; pKa2 = 1,5; pKa3 = 2,0; pKa4 = 2,66; pKa5 = 6,16; pKa6 = 10,24) O EDTA é um quelante que pode formar seis ligações coordenadas. A relação estequiométrica entre o EDTA e o cátion complexado é sempre 1:1. A constante de formação, Kf, do complexo metal-EDTA é a constante de equilíbrio para a reação: A constante de formação para os complexos metal-EDTA apresentam, geralmente, valores elevados e tendem a ser maiores para cátions de maior carga. HN CH 2 CH 2 NH CH 2 CH 2 CH 2 CH 2 COOH HOOC HOOC COOH + + Mn+ + Y4 - MYn-4 ]][[ ][ 4 4 YM MY K n n fMn+ + Y4 - MYn-4 ]][[ ][ 4 4 YM MY K n n f Convém perceber que sendo o EDTA um ácido hexaprótico o valor da constante de formação do íon complexo é dependente do pH do meio. A estabilidade dos complexos metal-EDTA tende a crescer com o aumento do pH. d) Curvas de titulação de complexação com EDTA As curvas de titulação de complexação são gráficos que apresentam a variação da concentração do íon metálico na solução titulada, em função do volume de solução de EDTA adicionado ao titulado. Figura 03 – Curva de titulação de 30 mL de uma solução de CÁTION METÁLICO Mn+ 0,05 M c/ uma solução de EDTA 0,05 M. (Kf = 1,0 x 1010, pH = 10,0) Observação: pM = -log [Mn+] e) Indicadores de íons metálicos Os indicadores de íons metálicos são compostos que mudam de coloração quando se ligam a um íon metálico. Estes são também conhecidos como indicadores metalocrômicos. Numa titulação direta típica o indicador metalocrômico é adicionado à solução contendo o metal, este forma então um composto colorido com o indicador. O EDTA adicionado, durante a titulação, reage inicialmente com o cátion metálico livre e no final da titulação com o metal ligado ao indicador, deixando a molécula do indicador livre, o que ocasiona a mudança de coloração da solução. VOLUME DE EQUIVALÊNCIA = VE PE REGIÃO DE EXCESSO REGIÃO DE EXCESSO DE METALDE METAL REGIÃO DE EXCESSO REGIÃO DE EXCESSO DE EDTADE EDTA 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 Volume de EDTA (mL) p M VOLUME DE EQUIVALÊNCIA = VE PE REGIÃO DE EXCESSO REGIÃO DE EXCESSO DE METALDE METAL REGIÃO DE EXCESSO REGIÃO DE EXCESSO DE EDTADE EDTA 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 Volume de EDTA (mL) p M M-In + EDTA M-EDTA + In Cor 1 IncolorIncolor Cor 2 M-In + EDTA M-EDTA + In Cor 1 IncolorIncolor Cor 2 Figura 04 – Indicadores metalocrômicos 10.2.2 – Dureza de uma água A dureza de uma água refere-se a quantidade de íons de metais alcalino- terrosos na água. Considerando-se que as concentrações de íons Ca2+ e Mg2+ são predominantes na maioria das águas em relação aos outros íons alcalino-terrosos, pode-se dizer que a dureza da água equivale a: [Ca2+] + [Mg2+]. A dureza é expressa, geralmente, em termos de mg/L de CaCO3 na amostra. Assim, se a dureza ([Ca2+] + [Mg2+]) é 100 mg/L de CaCO3 temos uma concentração total de íons cálcio e magnésio que equivaleria a essa quantidade de CaCO3 na amostra (neste caso, 1 mM de CaCO3, pois MMCaCO3 = 100 mg/mmol). Uma água que possui uma dureza elevada é dita ser “dura”. Águas duras dificultam a utilização de sabões na limpeza, pois os cátions divalentes tendem a precipitar os íons carboxilato de cadeia longa que formam o sabão. Nas águas de caldeira a dureza da água é prejudicial pois leva à formação de incrustações. No caso da irrigação a dureza é benéfica, pois os íons alcalino-terrosos causam a N H N H N H N H N O -O OO O O N OH -O 3 S O 2 N N OH Negro de eriocromo T N OH -O 3 S O 2 N N OH Negro de eriocromo T N OH CH 3 N SO 3 - OH Calmagita N OH CH 3 N SO 3 - OH Calmagita Murexida floculação das partículas coloidais do solo, provocando assim o aumento da permeabilidade do mesmo. 10.2.3 – Determinação da dureza de uma água por titulometria de complexação com EDTA A dureza de uma água pode ser determinada por titulação complexiométrica, usando-se EDTA como titulante. O pH da solução é tamponado por adição de um tampão de pH 10. Pode-se utilizar negro de eriocromo T ou calmagita como indicadores. A viragem do indicador ocorre do vermelho-vinho para o azul quando todos os íons Ca2+ e Mg2+ são complexados pelo EDTA. As reações de complexação entre os cátions Ca2+ e Mg2+ são as seguintes: Mg2+ + Y4- MgY2- Ca2+ + Y4- CaY2- Para se garantir um ponto final adequado devemos ter pequenas concentraçõesde íons magnésio na solução titulada. O cálcio não forma um complexo estável o suficiente com o indicador, porém o magnésio forma um complexo estável com o indicador, mas menos estável que o complexo Mg-EDTA. Vários íons metálicos podem interferir na determinação da dureza. Muitos desses interferentes podem ser contornados por adição de íons cianeto. Os íons cianeto formam complexos fortes com os cátions metálicos interferentes e os tornam impossibilitados de complexar com o EDTA, diz-se que estes foram mascarados. Partindo das reações entre os metais e o EDTA, nós podemos tirar a seguinte expressão estequiométrica: EDTAMgCa nn )( 22 (1) Onde: )( 22 MgCa n = número de moles de íons cálcio e magnésio presentes na amostra, EDTAn = número de moles de EDTA gastos na titulação. Podemos escrever o número de moles de das espécies envolvidas em termos do produto da concentração em quantidade de matéria e do volume da amostra: EDTAEDTAamostraMgCa VMVM )( 22 (2) ou amostra EDTAEDTA MgCa V VM M )( 22 (3) Expressando a dureza em termos de mg/L de CaCO3 equivalente vamos obter o seguinte resultado: amostra CaCOEDTAEDTA CaCO V MMVM ppmdureza 1000 3 3 (4) Onde: )( 22 MgCa M = concentração em mol/L de íons cálcio e magnésio (dureza); amostraV = volume da amostra em mL; EDTAM = concentração em mol/L do EDTA; EDTAV = volume de EDTA gasto na titulação; 3CaCO MM = massa molar do carbonato de cálcio = 100 g/mol; 1000 = fator de conversão (mg/g). A seguir apresentamos um exemplo dos cálculos envolvidos na determinação da dureza de uma água. EXEMPLO: 100 mL de uma amostra de água de açude foi tamponada a pH 10 e titulada com EDTA 0,01 mol/L, necessitando de 15,1 mL do titulante para atingir o ponto final de titulação usando-se como indicador o negro de eriocromo T. Calcule a dureza da água analisada. Dados: EDTAM = 0,01 mol/L EDTAV = 15,1 mL 3CaCO MM = 100 g/mol amostraV = 100 mL Solução: amostra CaCOEDTAEDTA CaCO V MMVM ppmdureza 1000 3 3 )(100 )/(1000)/(100)(1,15)/(01,0 3 mL gmgmolgmLLmol ppmdureza CaCO Dureza = 151,0 mg/L de CaCO3 10.3 – PROCEDIMENTO PRÁTICO a) Transfira 100 ml da amostra de água em estudo para um erlenmeyer de 250 ml. b) Adicione 1 ml da solução tampão pH = 10 e misture bem (use a capela). c) Acrescente uma pequena porção (uma ponta de espátula) do indicador Negro de Eriocromo T d) Com o auxílio de uma bureta, titule com a solução de EDTA 0,01 mol/L até a cor vermelho-vinho virar para azul. e) Anote o volume gasto da solução titulante e calcule a dureza através da equação 4 10.4 – PÓS-LABORATÓRIO a) Por que precisamos tamponar a amostra titulada a pH 10. b) Explique o que significa a dureza de uma água e sua importância como parâmetro de qualidade da água. c) Explique o funcionamento de um indicador metalocrômico. d) Pesquise se existe algum limite para o valor da dureza na legislação brasileira. (verificar nas portarias do ministério da saúde) – anotar o número da portaria e o valor recomendado para a dureza. 10.5 – MATERIAIS E REAGENTES MATERIAIS REAGENTES Erlenmeyer de 250 ml, solução tampão pH = 10 bureta de 25 ml, Negro de Eriocromo T 1,0 % em NaCl balão volumétrico de 100 ml, solução de EDTA 0,01 N pipeta de 1 ml.. 10.6 – BIBLIOGRAFIA 1 - HARRIS, Daniel C. Análise química quantitativa. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001. 862 p. 2 - SKOOG, D.H. et al. Fundamentos de Química Analítica. 8. ed. São Paulo: Thomson, 2006. 999 p. 3 - BACCAN, Nivaldo et al. Química analítica quantitativa e elementar. 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Edgard Blücher; Campinas 4 – APHA, Standards Methods for Examination of Water and Wastewater. 19 th edition. 5 - MENDHAM, J. et al. Análise química quantitativa (Vogel). 6. Ed. Ver. Rio de Janeiro: LTC, 2002. 462 p.
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