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1 MANEJO DE PASTAGENS Módulo 3 2 2018 - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR 2018 - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 1a. Edição - 2018 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610). Este curso é uma parceria do SENAR com Embrapa Gado de Corte/Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Fotografia INFORMAÇÕES E CONTATO SENAR Administração Central SGAN 601 - Módulo K Edifício Antônio Ernesto de Salvo – 1º andar - Brasília - CEP 70830-021 Telefone: (61) 2109-1300 www.senar.org.br PRESIDENTE DO CONSELHO DELIBERATIVO DO SENAR João Martins da Silva Junior DIRETOR GERAL DO SENAR Daniel Klüppel Carrara DIRETORA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E PROMOÇÃO SOCIAL Andréa Barbosa Alves COORDENADORA DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Ana Ângela de Medeiros Sousa EQUIPE TÉCNICA SENAR Larissa Arêa Sousa PRESIDENTE DA EMBRAPA Sebastião Barbosa CHEFE-GERAL INTERINO DA EMBRAPA GADO DE CORTE Ronney Robson Mamede CHEFE ADJUNTA DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA DA EMBRAPA GADO DE CORTE Thaís Basso Amaral PESQUISADORES-AUTORES DA EMBRAPA Ademir Hugo Zimmer Alexandre Romeiro de Araujo Denise Baptaglin Montagner Fernando Paim Costa Manuel Claudio Motta Macedo Mariana de Aragao Pereira Rodrigo Amorim Barbosa Valeria Pacheco Euclides 3 Módulo 3 – Viabilidade econômica de sistemas de produção de pastos • Aula 1: Pastagem no custo de produção da pecuária • Aula 2: Consequências econômicas do manejo de pastagens Atividade de aprendizagem Conclusão Referências 04 05 11 19 20 21 Sumário 4 A pecuária de corte é uma atividade complexa, cujos resultados técnicos e econômicos resultam da interação de inúmeros fatores de produção. A forma de combinar esses fatores e o nível de sua utilização, por sua vez, exigem tratamento mais equilibrado do negócio da pecuária de corte, o que implica analisá-lo sob o enfoque sistêmico, tratando as partes sem perder de vista o todo no qual estão inseridas. Nesse contexto, um dos mais importantes componentes do sistema é a pastagem, base da alimentação dos bovinos de corte no Brasil. Confira as aulas do último módulo: Módulo 3 Viabilidade econômica de sistemas de produção de pastos Aula 1: Pastagem no custo de produção da pecuária Nesta aula, você compreenderá os custos fixos e variáveis associados às pastagens perenes e anuais, à formação e à manutenção de pastagens, conhecerá o custo relativo des- sa demanda dentro do custo total de produção de carne e as implicações da tomada de decisão no horizonte tempo- ral do planejamento. Aula 2: Consequências econômicas do manejo de pastagens Para finalizar o curso, você verá como classificar os trade- -offs entre a formação de pasto e a necessidade de manu- tenção, e como comparar resultados econômicos associa- dos a diferentes níveis de adubação de manutenção. 5 As pastagens no custo de produção de carne Aula 1: Pastagem no custo de produção da pecuária A importância da pastagem é comprovada por sua participação no custo total de produção da pecuária de corte, como demonstram alguns números extraídos de planilhas que retratam sistemas de produ- ção de ciclo completo — cria, recria e engorda —, em uso na região dos Cerrados (dados de COSTA et al., 2005, e de CORRÊA et al, 2009, atualizados para preços médios do período 2006-2015). Em sistemas de baixo uso de insumos com 1.600 hectares de pastagens, com taxa de lotação mé- dia anual de 0,60 UA/ha, formados por vacas aneloradas e touros da raça Nelore, usando suple- mentação mineral durante o ano inteiro e apresentando taxa de natalidade de 60%, com abate de machos com 42 meses e 240 hectares roçados por ano, o investimento na formação da pastagem corresponde a aproximadamente 35% do custo total, não incluindo o valor da terra nua. Já em sistemas mais intensivos com a mesma área de pastagem, adubada para um suporte médio anual de 1,1 UA/ha, mesmo padrão racial do gado, com suplementação mineral proteica na ração para machos em engorda, com taxa de natalidade de 80%, abate de machos com 30 meses e 320 hectares roçados por ano, o investimento na pastagem corresponde a 17%, praticamente a metade, mas mesmo assim altamente relevante. Nesse contexto, entender a natureza econômica da pastagem é fundamental para tratá-la adequa- damente no planejamento e no controle da atividade pecuária. É preciso, em primeiro lugar, classifi- cá-la quanto à origem e à vida útil. Quanto à origem, as pastagens podem ser nativas ou cultivadas. 6 Já quanto à vida útil, elas podem ser anuais, o que representa uma imobilização resultante de inves- timento que durará vários anos, ou perenes, que exigem desembolsos cujo resultado se esgota no horizonte do “ano pecuário”. Dada a ampla predominância das pastagens perenes, será esse o tema abordado daqui em diante. A formação ou a recuperação de uma pastagem perene é, de fato, um investimento, uma vez que este gerará frutos ao longo de diversos ciclos de produção. Essa condição é determinante de uma série de atributos, comentados a seguir. Nativas As pastagens nativas, como recurso natural, são um bem gratuito, embora sua propriedade privada implique custos de oportunidade referentes à terra em que se assentam. Sob a perspectiva da economia do meio ambiente, custos sociais podem ser atribuídos à sua exploração. Além disso, práticas de manejo que visem à sua melhoria podem gerar desembolsos, o que obviamente deve ser incluído no custo de produção. Cultivadas Nas pastagens cultivadas predominam as espécies forra- geiras perenes, com destaque para os gêneros Brachiaria e Panicum, mas há também o plantio de pastos anuais, como o azevém no Sul do país. Essas não são apenas questões conceituais, pois têm efeito prático na for- ma de computar custos e indicadores de desempenho econômico. 7 Custo de formação ou reforma Tanto a formação como a reforma da pastagem podem ser executadas seguindo diversos ca- minhos, conforme o estado dos recursos e o processo técnico escolhido, o que redundará no maior ou menor uso de equipamentos e insumos. Cada caminho apresenta um custo especí- fico com muitas possibilidades e investimentos associados. É importante ressaltar que o pro- cesso usado na formação ou reforma tem implicações diretas na produtividade da pastagem, em sua curva de produção e em sua vida útil. Valor residual Também este conceito é de difícil operacionalização quando aplicado ao caso da pastagem. Em que situação esta apresenta valor residual igual a zero? Mesmo pastagens extremamente de- gradadas produzem alguma forragem, capaz de suportar o pastejo de bovinos e, portanto, de produzir algum valor econômico. Como essa discussão é extremamente intricada, envolvendo o também complicado conceito de “degradação”, usualmente considera-se um valor residual igual a zero ao final da vida útil da pastagem. Vida útil Como qualquer outro bem de capital, a pastagem tem uma vida útil, ao fim da qual precisa ser reposta ou substituída. A obtenção desse número é mais simples para outros itens imo- bilizados na atividade pecuária, como construções, máquinas e equipamentos, podendo se consultar publicações que apresentam tabelas bastante completas. No caso da pastagem, porém, é difícil achar um dado concreto, devido às inúmeras situações exis-tentes, resultado das combinações entre tipos de solos, espécies forrageiras, processos de forma-ção/recupe- ração e práticas de manejo adotadas. Apesar dessa complexidade, alguns parâmetros podem ser en-contrados na literatura. Frank (1978), tratando da dura-ção dos bens na agropecuária argentina, na qual predo-minam as pastagens de clima temperado, atribuiu seis anos para “pradeiras permanentes”. Arruda (1982) esta-beleceu como 15 anos o ciclo de vida de uma pastagem do Brasil Central. Costa et al. (1986), para calcularem o custo de produção da arro- ba de boi gordo, consideraram10 anos. Questionados sobre a idade média das pasta-gens à época de sua recuperação, produtores de Mato Grosso do Sul entrevistados por Costa (2000) apresen-taram como resposta uma média de 10 anos. Em traba-lhos mais recentes, uma vida útil de até 20 anos tem sido considerada em estimativas de custo de produção. 8 Custos fixos e variáveis associados às pastagens Sem adubação 1,3% no sistema mais intensivo. Com adubação A manutenção da pastagem alcança 25% do custo total. Como afirmado anteriormente, a formação e a recuperação de pastagens perenes, predominantes no Brasil, podem ser classificadas como um investimento, pois exigem grande aporte de capital, ao que se segue um longo período de exploração. Além desse investimento inicial, a pastagem in- corre em custos de manutenção, que podem variar desde um pequeno gasto anual, quando estes englobam apenas trabalhos elementares, como a roçada, até gastos significativos, decorrentes de práticas como adubação. O investimento, categorizado como custo fixo, implica calcularem-se depreciação e juros sobre o capital imobilizado. Já a manutenção pode ser vista como um gasto variável, e nos dois sistemas descritos no item anterior representa os seguintes percentuais do custo total. Clique nas caixas para saber mais. Esses números demonstram o grande impacto financeiro de práticas como a adubação da pasta- gem, reforçando a necessidade de se subsidiar tal decisão com análises criteriosas. Vale comentar que as pastagens nativas podem receber melhorias, como a semeadura de azevém e adubação no Sul, aumentando os custos variáveis. Esses casos específicos requerem análise de acordo com suas particularidades. 9 Para calcular o custo anual uniforme equivalente, pode ser usada a função “pagamento” da planilha Excel, o que torna essa tarefa bastante fácil. Se houver interesse em expressar separadamente os componentes depreciação e juros embutidos no aluguel calculado, pode se usar o artifício de zerar a taxa de juros (requerida pela função PGTO), obtendo-se assim a depreciação. Os juros equivalem à diferença entre o valor do aluguel e a depreciação. Cabe ainda comentar outra questão que exige certo arbítrio. O arrendatário de pasto naturalmente usa as benfeitorias a ele associadas, como cercas que dividem as invernadas, cochos de sal, aguadas e curral, sem qualquer ônus. Parece coerente, portanto, desconsiderar a depreciação e os juros relativos a esses itens quando se opta por usar tal critério na determinação do custo de produção. Calculando depreciação e juros O critério para calcular depreciação e juros é mais trabalhoso, exigindo muitos cálculos, mas em con- trapartida produz números de mais fácil entendimento. O ponto de partida é determinar o custo de formação ou reforma da pastagem por hectare. Para isso, é preciso definir primeiramente o processo utilizado, já que eles são inúmeros. Para simplificar, podem se classificar os processos de recuperação em três grandes grupos: sistema convencional com baixo nível de insumos; sistema convencional com alto nível de insumos e sistema integrado com agricultura. Calculando o custo da pastagem: critérios e justificativas Ao calcular o custo da pastagem cabe, em primeiro lugar, definir o critério básico a utilizar. O mais fácil de compreender é aquele que considera depreciação e juros calculados sobre o custo de formação ou recuperação do pasto. Um segundo critério usa o conceito de “custo de oportunidade”: onera-se a pastagem com o valor que o produtor, proprietário do recurso, está deixando de receber por não a arrendar a terceiros. Nesse caso, toma-se o valor de arrendamento vigente no mercado da região. Usando o valor de aluguel da pastagem O uso do valor de arrendamento é um procedimento expedito. No Brasil Central, é prática comum o arrendamento de pasto cobrado como 10% a 15%, variação que se deve a diferenças na qua- lidade e na localização da pastagem, e na categoria animal a utilizá-la, do valor da arroba do boi gordo, por cabeça e por mês. Esse critério, porém, apresenta um sério inconveniente: o custo da pastagem, e consequentemente o custo total de produção, torna se dependente direto do preço do boi gordo. Assim, em períodos de recuperação de preço do gado, o custo da pastagem sobe automaticamente, o que não faz sentido. Uma alternativa para contornar esse problema é computar o valor de aluguel do pasto usando a matemática financeira e o conceito de “custo anual uniforme equivalente de um ativo”. O valor daí obtido corresponde ao “aluguel” que o dono do bem deveria receber e aplicar todos os anos até o fim da vida desse bem. Clique nas abas para ver por quê. 1. Para ter os recursos necessários para substituir o bem por um novo ao fim de sua vida útil (se houver um valor residual, este será abatido). 2. Receber os juros que ganharia se o valor inicial do bem tivesse sido aplicado no mer- cado financeiro. 10 O cálculo da depreciação é geralmente feito por meio da fórmula Dep = ( Vi - Vr ) / VU. Vi = Valor Inicial Vr = Valor Residual Vu = Vida Útil Essa forma de calcular depreciação é a mais simples, chamada linear, não havendo necessidade de usar fórmulas mais complexas. Quanto aos juros, considera-se inadequado aplicar juros sobre o custo integral de uma pastagem re- cém-formada, já que esta vai perdendo valor ao longo de sua vida útil. Por isso, toma-se o valor médio entre o valor inicial e o residual, sobre o qual se aplica uma taxa de juros real, equivalente ao período de um ano. Geralmente, essa taxa oscila entre 6% e 12%, e depende das oportunidades de aplicação financeira disponíveis ao produtor que está investindo na pastagem. Despesas com as pastagens Como referido anteriormente, essas despesas apresentam grande variação, dependendo do nível tec- nológico empregado. Geralmente, as roçadas são necessárias e têm baixo custo; adubações já impli- cam despesas consideráveis. Seja qual for o montante gasto, a manutenção da pastagem entra de maneira direta no cálculo do custo de produção da pecuária, como um componente do custo variável, ao lado da suplementação mineral, da mão de obra, dos produtos veterinários etc. 11 Aula 2: Consequências econômicas do manejo de pastagens É inquestionável a importância das pastagens para a produção brasileira de carne e leite. Não obstante, sua formação e seu manejo continuam sendo grandes pontos de estrangulamento da produção, conforme as dificuldades a eles associados. A consequência tem sido a degradação das pastagens Brasil afora, em maior ou menor escala, com perdas econômicas para o setor produtivo. As principais causas de degradação comumente relatadas na literatura são a escolha errônea da forrageira, as falhas no plantio e no estabelecimento da pastagem, o manejo inadequado, a baixa ou nula reposição de nutrientes, a superlotação dos pastos ou ainda fatores indutores externos, como o baixo preço da terra. Sendo a pastagem e sua manutenção importantes componentes na composição dos custos de produção de carne, é imprescindível a compreensão das consequências econômicas da tomada de decisão do produtor quanto ao manejo dos pastos visando ao ajuste da capacidade de supor- te e do nível de produção. Costa e Reehman (1999), por exemplo, observaram que o fenômeno do superpastejo, que levava à degradação das pastagens no Brasil Central, estava associado ao objetivo dos pecuaristas de possuir alto valor em gado para mitigação de riscos econômicos as- sociados à inflação da época. Nos dias atuais, com inflação sob controle, essa justificativa não se sustenta tecnicamente, apesar de muitos ainda o fazerem. 12 Na prática, a formação da pastagem é vista por muitos produtores como uma despesa que deve ser minimizada. Contudo, sem a devida atenção às receitas a serem potencialmente geradas por uma pastagem bem formada, a análise dos retornos fica prejudicada, o que pode levar o produtor à conclusão equivocada de cortar gastos. Isso gerará, no longo prazo, a degradação da pastagem,com consequências negativas para o desempenho técnico-econômico da pecuária. A manutenção da pastagem, por sua vez, é função direta da qualidade da formação, bem como do nível de produção pretendido na área. Logo, uma pastagem bem formada, a princípio, requer me- nor manutenção que uma pastagem malformada. Esta última provavelmente incorrerá em gastos adicionais para minimizar os problemas da malformação, tais como replantio de áreas, adubação de manutenção mais expressiva e, eventualmente, uma recuperação. A condução do pasto, tanto da fase agronômica (adubação de manutenção, controle de ervas daninhas etc.) como da fase zootécnica (por exemplo, manejo do pastejo, ganho de peso animal etc.), também determina a longevidade da pasta- gem e a necessidade, ou não, de sua recuperação ou reforma futura. Diante disso, ficam configurados os “trade-offs” (relações de compensações) entre formação e manutenção de pastagens, conforme ilustrado a seguir. A imagem apresenta relações de compensação entre F-M-R que se dão ao longo do tempo, considerando apenas os aspectos agronômicos. Clique nas imagens para ver mais. Formação e manutenção das pastagens: existe um ótimo econômico nessa relação? Uma boa formação de pastagem garante parte do sucesso na exploração e na ampliação de sua vida útil. Para tanto, são precisos planejamento e a consecução de alguns passos essenciais para asse- gurar a qualidade da formação. Uma pastagem bem formada garantirá um stand de plantas dese- jado, que futuramente definirá sua capacidade de suporte e, por conseguinte, o nível de produção do sistema. Dado que seu benefício se estende no longo prazo, a formação da pastagem assume características de um investimento econômico, isto é, possui valores inicial e final e vida útil prede- terminados (pelos coeficientes técnicos empregados durante a fase de estabelecimento). Logo, é possível o cálculo de sua depreciação, associada à perda natural do vigor da pastagem se nenhuma intervenção adicional for feita, e de outros parâmetros de investimento, por exemplo, valor presen- te líquido (VPL), taxa interna de retorno (TIR) etc. Figura 1. Representação gráfica da evolução do processo de degradação de pastagens cultivadas (Fonte: Macedo, 2001). 13 Considerando que o nível de produção desejado é outro fator determinante no estabelecimento do ponto de equilíbrio FMR, vale a regra: quanto maior a expectativa de produção, maior a necessidade da manutenção das pas- tagens e do ajuste de lotação. Este deve ser feito à medida da capacidade de suporte demonstrada da pastagem e usando artifícios, como a régua de manejo para o estabelecimento do momento ideal de entrada e saída de animais na área. Normalmente, esse tipo de manejo não incorre em custos adicionais, o que favorece seus retornos econômicos. A t0= momento “t” na formação, recuperação ou reforma da pastagem. t(1+n)= horizonte temporal das pastagens sob manejo. Gangorra econômica FMR: trade-offs entre formação (F), manutenção (M) e renovação/recuperação (R) das pastagens. Fonte: preparado pela autora. t(anos) RS / h a F/ R t0 t(1+n) M t(anos) RS / h a t0 t(1+n) F/ R M t(anos) RS / h a t0 t(1+n) F/ R M A B C Sugere que um investimento adequado (R$/ha) na fase de formação (F) da pastagem (t0), seguindo as recomendações técnicas, leva a uma menor necessidade de manutenção (M). Essa mesma ilustração, vista da direita para a esquer- da, sugere que uma baixa manutenção da pastagem (M) pode elevar a demanda para uma recuperação ou renova- ção do pasto (R) (especialmen- te com altas taxas de lotação), induzindo a gastos futuros. Visualiza-se uma situação de médio nível tecnológico, com formação (F) e manutenção (M) em níveis basais e que, por consequência, determinarão níveis de produção de carne não muito elevados. Se bem manejada, e com taxas de lotação reduzidas, essa pasta- gem pode, teoricamente, ser perenizada, sem contudo dar como certos os retornos eco- nômicos. Apresenta a situação já descrita anteriormente, na qual uma má- -formação cria necessidade de manutenções mais frequentes ou mais intensas, aumentando os gastos com esses processos. Por outro lado, essa mesma ilustração pode ser interpretada, da direita para a esquerda, como uma situa- ção em que os gastos com manu- tenção (M) são mais elevados e, por isso, há menos necessidade de uma futura recuperação ou reforma do pasto (R), mantendo-o perene, porém persistindo as deficiências decorrentes da for- mação. Figura 2. Gangorra econômica FMR: trade-offs entre formação (F), manutenção (M) e renovação/recuperação (R) das pastagens. 14 Diante da dinâmica apresentada e dos desafios postos ao manejo das pastagens, torna-se difícil a determinação de um ponto ótimo de equilíbrio da “gangorra econômica FMR”. Análises econômicas específicas devem ser, então, realizadas considerando os seguintes fatores. 1. Estimativa de custos de formação (CF) da pastagem, incluindo todos os insumos e serviços e a vida útil (VU). 3. Produção estimada de carne por hectare (@/ha) e valor de mercado da arroba (R$/@). 2. Estimativa de custos de manutenção (CM) das pastagens, incluindo todos os insumos e serviços. 4. Custo (implícito) de não se realizar nenhuma intervenção no sistema. De forma prática e simplificada, a inequação a ser analisada é representada pelo cálculo a seguir. (CF/VU) + CM anual < R CF = custo de formação VU = vida útil estimada da pastagem CM = custo de manutenção anual R = receita esperada (dada pela produção estimada de carne, em arrobas, multiplicada pelo preço de mercado, mesmo que não haja venda) Essa inequação é aplicável em qualquer situação de decisão, feitos os devidos ajustes, e idealmente analisada para um horizonte de tempo de 5 a 10 anos, para evitar uma análise muito pontual. Por exemplo, suponha uma pastagem de oito anos (t = 8), cujos custos de formação já tenham sido absorvidos (CFt=8 = 0), e para a qual se deseja analisar a viabilidade de rea- lizar apenas o controle de pragas, mas não a adubação. Nesse caso, o CM será o custo da roçada, e a receita será estimada, a preços atuais, a partir da produção esperada de carne, que será decrescente nos anos subsequentes. Provavelmente, uma renovação/reforma será necessária no futuro, e esse custo também deve ser computado. Se a reforma de pasto for uma opção, a mesma inequação se aplica, agora incluindo os investimentos e a manutenção programada, bem como o novo patamar de receitas. Os resultados podem ser comparados para fins de decisão. O aplicativo Gerenpec, desenvolvido pela Embrapa Gado de Corte e disponível para download gratuito, pode ser usado para calcular o impacto dessa e de outras intervenções no sistema produtivo, já que permite o planejamento e a apuração de resultados técnico-econômicos em um horizonte de 10 anos. 15 Para cada alternativa aplicável, é preciso realizar a análise entre benefício e custo, e ainda com- parar à situação-referência (atual). É importante lembrar que os benefícios dos investimentos em pastagem no tempo “t0” serão usufruídos no longo prazo, quando a produção for comercializada (tempo t1+n). Nesse caso, além do preço da arroba no mercado spot também chamado de mercado disponível, mercado físico ou mercado pronto, abrange operações na bolsa de mercadorias com Outra análise que pode ser realizada é a relação entre benefício e custo, que mostra o retorno eco- nômico para cada real despendido, e é calculada dividindo-se a receita anual esperada (R) pelos cus- tos anuais incorridos (manutenção (M) e a parcela anual correspondente ao investimento (CF/VU)). Se o resultado for maior que 1, o benefício superará o custo e a estratégia será economicamente viável; se for menor que 1, o custo será maior que a receita e a estratégia deverá ser revista ou ana- lisada em um contexto mais amplo, no qual ainda se possa justificar, por exemplo, excesso de gado na propriedade, que necessite ser realocado para evitarvenda em momento inadequado. Pode-se ainda realizar uma análise de investimento completa a partir da elaboração de um fluxo de caixa com n anos, ao qual se aplica uma taxa de desconto para calcular o VPL, a TIR e outros parâmetros. Esse resultado servirá de referência para a decisão de alterar ou não alterar algo no sistema pro- dutivo ou, ainda, para identificar as perdas econômicas assumidas ao se optar pela manutenção da condição atual, por exemplo, o uso de áreas maiores para comportar o gado em vez de área reduzida com maior capacidade de suporte, o que inviabilizaria o arrendamento de áreas para terceiros. Em seguida, deve-se passar à análise das alternativas. Para que o produtor seja capaz de compreender as consequências econô- micas de sua tomada de decisão em formar, recuperar ou reformar pasta- gens, deve analisar a condição atual da pastagem, verificando as expecta- tivas de resultados técnico-econômicos caso tudo seja mantido como está. 1. Boa formação com adubação anual 3. Recuperação com adubação de manutenção 2. Boa formação sem adubação anual 4. Recuperação em sistema ILP 16 transações em que a entrega da mercadoria é imediata e o pagamento é à vista.), é recomendável analisar as receitas também com base no mercado futuro (e, se possível, utilizar-se dessa ferra- menta de controle de risco) para verificar se as margens potenciais serão suficientes para cobrir os custos incorridos dadas as estimativas de produção de carne. Caso não sejam, é importante fazer ajustes nas estratégias do negócio, como trabalhar com animais mais erados e próximos do abate para aproximar as receitas do momento atual, ou ainda considerar a suplementação alimentar com a mesma finalidade, por exemplo. É importante relembrar que diversos estudos apontam que a alimentação baseada em forrageiras é, em geral, mais barata do que a suplementação, que deve se restringir ao uso estratégico na maio- ria dos sistemas produtivos brasileiros. Que respostas econômicas esperar dos investimentos em pastagens? Para discutir esse assunto, é importante introduzir o conceito da Lei dos Rendimentos Decrescentes (LRD), que explica a produção das forrageiras conforme os níveis de adubação aos quais são subme- tidas e outros aspectos econômicos associados. A LRD estabelece que, quando unidades adicionais de um insumo variável, por exemplo, adubo, ração etc., são aplicadas, mantendo-se fixos os demais insumos, o produto marginal eventualmente cairá. O que isso significa? Que as respostas ao insumo aumentarão a taxas decrescentes, atingindo um ponto ótimo econômico (0) e caindo a partir daí. Note que no gráfico a seguir a quantidade produzida continua aumentando após o ponto ótimo econômico, porém de forma menos ótima economicamente, tendo se em conta o aumento dos custos relativos para cada unidade adicional de insumo. Por dedução, extrai-se uma regra simples: quando se atinge o teto de produção, o máximo retorno econômico ocorreu em algum momento an- terior. Para produtores que possuem histórico de controle do nível do uso de insumos e respectivas produções, não é tão difícil encontrar o ponto ótimo econômico; os que não o têm precisam usar recomendações técnicas e opinião de especialistas para definir o nível ideal. 1 O produto marginal é a mudança na quantidade física total de um produto em resposta a uma mudança na quantidade de insumo. Esse indicador é usado na identificação do nível ótimo econômico de insumo a se empregar (OLSON, 2011). Figura 3. Curva de produção, sendo q a quantidade produzida conforme o aumento no insumo x; PMe, o produto médio; PMg, o produto marginal e 0, o ponto ótimo econômico. 17 Como se nota, a produtividade máxima é obtida quando a adubação nitrogenada atingiu o nível sete. Contudo, dadas as relações de preços de insumos e produtos, o ótimo econômico se dá no nível quatro, quando a lucratividade atinge seu pico. A partir daí, tem-se aumentos na quantidade produzida, porém a custos adicionais cada vez maiores, o que, eventualmente, reduz a lucratividade a patamar inferior ao que se obteria com adubação zero. Os resultados econômicos da recuperação da pastagem sem preparo de solo, mas com e sem adubação de manutenção de 1995 a 2001, são explorados por Kichel et al. (2002). Apesar dos valores monetários defasados, as conclusões sobre essa prática ainda se aplicam: A tabela a seguir ilustra numericamente a LRD para um hectare de milho, cuja lógica é replicável para pas- tagens e outros processos semelhantes, por exemplo, suplementação animal. Tabela 1. Função de produção da adubação nitrogenada em milho (1 ha)*. *Produt. = produtividade (kg/ha); Produto Total (kg) = adicional produzido em relação à produção-referência (que nesse caso foi 8.743 kg/ha); Produto Médio (kg) = produto total dividido pelo respectivo nível de adubação (nesse exemplo, vai de 0 a 9); Produto Marginal (kg) = mudança entre as produtividades, conforme se adiciona mais um nível de adubação (ex. do nível 1 para o nível 2, a produtividade aumentou 941 kg). 18 Os exemplos aqui apresentados sugerem que os investimentos em formação, manutenção e reforma/ recuperação de pastagem acarretam, em geral, retornos econômicos ao produtor rural. O nível ótimo de adubação, apesar das dificuldades metodológicas, assegura bons retornos econômicos e menores riscos ao produtor, se comparado com níveis excessivamente altos. 1. Uma pastagem que recebe adubação inicial, mas não a manutenção anual, tem redu- ção média de 8% ao ano da taxa de lotação. 3. A recuperação e a manutenção da pastagem aumentaram sua produtividade em 227% e a lucratividade em 322%. 2. Enquanto uma pastagem mantida sem adubação teve margem bruta (MB) de 1,5 @/ ha, aquela que recebeu adubo anualmente obteve MB de 6,3 @/ha, o que a preços atuais (1 @ boi gordo = R$ 132,00) equivale a uma diferença de R$ 633,60/ha. 4. Para cada real gasto no ano, obteve-se um retorno de R$ 1,94, a preços da época. O acompanhamento contínuo dos preços do boi no mercado futuro e dos insumos no mercado spot ajudará o produtor a identificar o momento ideal de compra de insumos para melhorar as margens econômicas da pecuária. 19 Chegou o momento de responder algumas questões relacionadas ao conteúdo estudado neste mó- dulo. Não se esqueça de também realizar a atividade no seu ambiente virtual de aprendizagem. 1. Assinale a alternativa correta: a) No cálculo do custo de produção da carne bovina, é sempre necessário computar a depreciação da pastagem. b) A depreciação equivale ao valor a ser pago ao banco para quitação de financiamento, caso essa seja a fonte do recurso usado na formação do pasto. c) A depreciação da pastagem é calculada em sua forma mais simples, dividindo o resultado da subtração do valor inicial menos valor residual pela vida útil. d) Juros sobre o capital só são incluídos nos cálculos de custos quando o produtor financia em banco a formação ou a recuperação da pastagem. 2. Sobre a natureza econômica das pastagens, são verdadeiras as afirmações a seguir, exceto qual alternativa: a) A formação da pastagem perene pode ser tratada como investimento devido a seu longo período de utilização. b) Se a análise de uma estratégia de manutenção resultou em uma relação entre benefício e custo de 0,89, essa estratégia é economicamente viável. c) O nível de produção de carne desejado e os preços futuros da arroba de boi são critérios a serem consi- derados na análise da viabilidade econômica da estratégia de manutenção das pastagens. d) Mudanças no manejo da pastagem (por exemplo, ajuste de carga animal) são, em geral, mais eco- nomicamente interessantes do que mudanças nas variáveis agronômicas (adubação, controle de ervas daninhas etc.) e devem ser priorizadas dentro do sistema de produção. Atividade de aprendizagem 20 Ao longo deste curso, você teve acesso a diversos conteúdos e, com seu esforço, agora é capaz de responder às perguntas de quando começou seus estudos: • Você sabe quais são os ganhos produtivosao manejar o pasto corretamente? • Identifica os benefícios da atividade e os resultados que ela pode gerar para o negócio? Com todo esse aprendizado, você compreendeu as vantagens de um manejo bem realizado e viu o que é necessário para alcançá-las. Se tiver qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail monitoria@senar.org.br ou ligue gratuita- mente para 0800-642-7070, de segunda a sexta-feira, das 8 h às 18 h, horário de Brasília. Conclusão O solo é imprescindível para o sucesso da produção, pois ele é a base para a germinação saudável e o crescimento de pastagens nutritivas, por isso conhecer suas características e planejar seu uso é fundamental. Considerar a vocação natural das terras e também sua capacidade de suportar as interfe- rências humanas é uma atitude que garante a sustentabilidade da produção agropecuária. Por falar em sustentabilidade, o uso de práticas de manejo adequadas promove uma pro- dução sustentável tanto econômica como ambientalmente, pois, além de garantirem pro- dutividades compensadoras, essas práticas minimizam a degradação do meio ambiente, dando aos recursos naturais a possibilidade de se manter ou de se recuperar. A produção animal em pasto é um sistema que depende de fatores ligados ao clima, ao solo, à planta e ao animal. A infraestrutura da propriedade e a adoção de técnicas, como o uso de fertilizantes ou a suplementação alimentar, também interferem na eficiência desse sistema. Portanto, esses são fatores fundamentais para o alcance de níveis de produtivi- dade mais elevados. Estamos falando de um sistema que sustenta atividades complexas, cujos resultados téc- nicos e econômicos resultam da interação de inúmeros fatores de produção. Se seu negócio é pecuária de corte, fique atento para a combinação e o nível de utilização desses fatores, pois essa é uma atividade que exige um equilíbrio maior. Para isso, é ne- cessária uma análise sob o enfoque sistêmico, tratando as partes sem perder de vista o todo no qual estão inseridas. Nesse contexto, um dos mais importantes componentes do sistema é a pastagem, base da alimentação dos bovinos de corte no Brasil. Para finalizar o curso, responda à pesquisa de satisfação que está dispo- nível no Ambiente de Estudos. 21 Referências A ALLEN, V. G.; BATELLO, C.; BERRETTA, E. J.; HODGSON, J.; KOTHMANN, M.; LI, X.; MCIVOR, J.; MILNE, J.; MORRIS, C.; PEETERS, A.; SAN- DERSON, M. An international terminology for grazing lands and grazing animals. Grass and Forage Science, v. 66, p. 2-28, 2011. ARRUDA, Z. J. 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