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MARCELL PATACHI ALONSO Suplementação de bovinos de corte em sistema de integração lavoura e pecuária Cuiabá 2011 MARCELL PATACHI ALONSO Suplementação de bovinos de corte em sistema de integração lavoura e pecuária Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciência Animal da Universidade Federal de Mato Grosso para a obtenção do título de Mestre em Ciência Animal Área de Concentração: Nutrição e Produção de Ruminantes Orientador: Prof. Dr. Eduardo Henrique Bevitori Kling de Moraes Co-Orientadores: Prof. Dr. Dalton Henrique Pereira e Prof. Dr. Douglas dos Santos Pina Cuiabá 2011 A454s Alonso, Marcell Patachi. Suplementação de bovinos de corte em sistema de integração lavoura e pecuária. / Marcell Patachi Alonso; Orientador: Eduardo Henrique Bevitori Kling de Moraes; Co-orientadores: Dalton Henrique Pereira, Douglas dos Santos Pina, Cuiabá, 2011. 115 f. Dissertação (Mestrado - Programa de Pós Graduação em Ciência Animal. Área de concentração: Nutrição e Produção de Ruminantes) - Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso. 1. Nutrição animal. 2. Suplementação de bovinos. 3. Bovino de corte - alimentação. 4. Pastagens - manejo I. Título. CDU 636.084.4 AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Ficha Catalográfica elaborada por Carolina Alves Rabelo CRB1/2238 FOLHA DE APROVAÇÃO Aluno: MARCELL PATACHI ALONSO Título: Suplementação de bovinos de corte em sistema de integração lavoura e pecuária Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciência Animal da Universidade Federal de Mato Grosso para a obtenção do título de Mestre em Ciência Animal Aprovado em: Banca Examinadora: _______________________________ Prof. Dr. Eduardo Henrique Bevitori Kling de Moraes (Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais – Universidade Federal de Mato Grosso) (Orientador) _______________________________ Prof. Dr. Dalton Henrique Pereira (Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais – Universidade Federal de Mato Grosso) (Co-Orientador) _______________________________ Prof. Dr. Douglas dos Santos Pina (Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais – Universidade Federal de Mato Grosso) (Co-Orientador) _______________________________ Prof. Dr. Luciano da Silva Cabral (Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária – Universidade Federal de Mato Grosso) (Membro) _______________________________ Pesq. Dr. Mirton José Frota Morenz (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Centro Nacional de Pesquisa em Gado de Leite) (Membro) AGRADECIMENTOS A Deus, por me amar e me abençoar todos os dias. Ao meu pai Zaru Alonso e minha mãe Késia Greice Patachi, pelo amor, carinho, confiança, educação e pelo apoio incondicional. Amo muito vocês e agradeço por tudo o que representam em minha vida. À minha irmã Greice Cristiny Alonso de Macedo, por torcer por mim e pelo cumprimento de mais esta etapa da vida. À esta família que tanto amo e agradeço a Deus pelo apoio dado, mesmo que de longe. À minha companheira Helena Marília Passos de Castro, por me amar e estar ao meu lado sempre me ajudando. Sem você tudo ficaria mais difícil. Ao meu amigo Bremmer Clayston Gobira Mazete, pelos bons anos de amizade na UFRRJ e na UFMT, e pela motivação para realização deste curso. Aos estagiários e futuros Zootecnistas: Alvair Hoffmann, Breno Gimenez, Denise Caragnato, Fábio Júnior, Mircéia Mombach e Renan Medeiros, pelo auxílio nesta empreitada. Vocês tiveram papel preponderante na realização deste trabalho. Muito Obrigado. Aos professores: Eduardo Henrique Bevitori Kling de Moraes, Dalton Henrique Pereira, Douglas dos Santos Pina e Luciano da Silva Cabral pelo apoio cedido, cada qual da sua maneira, para a condução e conclusão deste curso. Aos bons 10 amigos feitos na 1° turma de 2009 da PGCA, obrigado pelas risadas e pelo ótimo convívio. Ao colega de mestrado Antônio José Neto, pela incubação das amostras dos tratamentos. Aos secretários do Programa de Pós Graduação em Ciência Animal – UFMT, Douglas e Elaine, pelo apoio e simpatia sempre presente. Ao pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, Flávio Jesus Wruck pela parceria e apoio no desenvolvimento deste experimento. Aos técnicos da Embrapa Agrossilvipastoril, Antônio Damasceno e Marcelo Moulin pelas caronas, auxílio nas pesagens dos animais e pelo transporte de amostras. Ao Sr. Agenor Pelissa, por disponibilizar a área do experimento e pelo apoio, através de equipamentos e veículos, para a realização das atividades de campo. Ao Sr. Albino Pelissa, por ter cedido os animais. Aos funcionários da Fazenda Dona Isabina, pelo auxílio na realização dos trabalhos de campo. Ao Programa de Pós Graduação em Ciência Animal – UFMT, pela oportunidade de realizar este curso. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão da bolsa de estudo. À Fundação de Amparo a Pesquisa de Mato Grosso (FAPEMAT), por financiar parte deste projeto de pesquisa. Ao PROCAD UFMT-UFV. À Agropel Sementes, pela parceria em fornecer insumos para confecção dos suplementos. À Rações Tertúlia, pela parceria em fornecer a mistura mineral para composição dos suplementos. E a todos que contribuíram de alguma forma para realização deste trabalho. “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” Cora Coralina http://pensador.uol.com.br/autor/Cora_Coralina/ RESUMO ALONSO, M.P. Suplementação de bovinos de corte em sistema de integração lavoura e pecuária. 2011. 115f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal), Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2011. Esta dissertação foi elaborada a partir de dois experimentos com o objetivo de avaliar o desempenho de bovinos de corte nas fases de recria e terminação, nos períodos de águas e seca, respectivamente, assim como a avaliação das características estruturais e nutricionais do pasto de Brachiaria brizantha cv. Marandu e dos suplementos utilizados na dieta dos animais. Os experimentos foram conduzidos na Fazenda Dona Isabina, localizada no município de Santa Carmem, situado na região norte do estado de Mato Grosso. As análises laboratoriais foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal e Forragicultura da UFMT campus Sinop. No Experimento 1 (período das águas), foram utilizados 100 novilhos, sendo 57 mestiços (sem grau de sangue definido) e 43 da raça Nelore, com idade média de 15 meses e peso corporal médio inicial de 281 ± 31 kg. A área experimental constituiu-se de quatro piquetes de 4,68 ha compostos por um bebedouro central comum a todos e comedouros individuais descobertos para fornecimento dos suplementos. O experimento foi estruturado segundo o esquema fatorial (2x4) distribuído em um delineamento inteiramente casualizado, onde foram avaliados dois grupos genéticos (Nelore vs. Mestiços) e quatro diferentes formulações de suplementos (suplemento mineral – SM; suplemento energético – SE; suplemento energético protéico– SEP e suplemento protéico energético – SPE). O arraçoamento dos animais ocorreu próximo as 10:00 h com tempo gasto total de 30 minutos sendo a quantidade ofertada aos animais de 0,5 kg/animal/dia para SE, SEP e SPE, aproximadamente 0,16% do peso corporal médio dos animais, salvo o SM ofertado ad libitum. Houve efeito (P>0,05) de grupo genético sobre o desempenho produtivo dos animais. O ganho de peso médio diário e o ganho de peso total foram maiores nos animais que consumiram SE e SEP (P<0,05). O tratamento SE permitiu maiores retornos econômicos por unidade monetária investida quando comparado aos tratamentos SM, SEP e SPE. No Experimento 2 (período de seca), foram utilizados 64 novilhos, sendo 32 mestiços (sem grau de sangue definido) e 32 da raça Nelore, com média de idade de 20 meses e o peso corporal médio inicial de 388 ± 26 kg. O experimento foi conduzido na mesma área e com as mesmas instalações descritas no Experimento 1. Foram avaliados o desempenho, ingestão, digestibilidade e o retorno econômico de dietas baseadas em pastagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu associada a suplementação. O experimento foi estruturado segundo o esquema fatorial (2x4) distribuído em um delineamento inteiramente casualizado, onde foram avaliados dois grupos genéticos (Nelore vs. Mestiços) alimentados com quatro suplementos diferenciados pelos níveis crescentes de grão de milheto em substituição ao milho (0%, 33%, 66% e 100%). O arraçoamento dos animais ocorreu próximo as 10:00 h, a quantidade ofertada aos animais foi de 4,0 kg/animal/dia, aproximadamente 0,93% do peso corporal médio dos animais. Para avaliação de consumo de MS de forragem dos animais foi utilizado a fibra em detergente neutro indigestível (FDNi) e o dióxido de titânio (TiO2) como indicadores interno e externo, respectivamente. O ganho de peso médio diário, ganho de peso total e peso corporal final, foi influenciado pelo grupo genético (P<0,05). Contudo, o grupo genético não afetou (P>0,05) o consumo e a digestibilidade aparente dos nutrientes. Os ganhos de peso médio diário, ganho de peso total e peso corporal final dos animais decresceram com aumento da inclusão dos níveis de milheto (P<0,05). Os níveis de substituição entre ingredientes energéticos não afetaram (P>0,05) o consumo dos nutrientes. Os tratamentos contendo 33% e 66% de milheto como ingrediente energético apresentaram maior retorno econômico por unidade monetária investida. Palavras chave: suplemento, desempenho, níveis de substituição, consumo, digestibilidade aparente total ABSTRACT This dissertation was drawn from two experiments that aimed to evaluate the performance of growing beef cattle and finishing in the rainy and dry seasons, respectively, as well as evaluation of nutritional and structural characteristics of the pasture of Brachiaria brizantha cv. Marandu and supplements used in animal diets. The experiments were conducted at Fazenda Dona Isabina, in Santa Carmen, located in the northern state of Mato Grosso. Laboratory analyses were conducted at the Laboratory of Animal Nutrition and Forage UFMT campus Sinop. In Experiment 1 (rainy season), used 100 steers, 57 crossbred and 43 Nelore, with 15 months of average age and were 281 ± 31 kg initial body weight. The experiment was perfomed in four paddocks of 4.68 ha composed by central waters common to all paddocks and individual feeders in each paddock for the supply of supplements. The work was designed as a factorial arrangement (2x4) in a completely randomized design to evaluate two genetic groups (Nelore vs. Crossbred) and four different formulations of supplements (mix mineral - MM; energy supplement - SE; protein and energy supplement – SEP; energy and protein supplement - SPE). The animals feeding were around 10:00 am with the total time spent of 30 minutes and the quantity supplied to the animals of 0.5 kg/animal/day for the SE, SEP and SPE, approximately 0.16% of average body weight, except to MM the was offered ad libitum. There was significant effect (P<0.05) of genetic group on productive performance of animals. The average daily and total gain weight, were higher in animals that consumed SE and SEP (P<0.05). The SE treatment allowed greater economic return per unit monetary invested when compared to other treatments MM, SEP and SPE. In the experiment 2 (dry season), were used 64 steers, 32 crossbred and 32 Nelore, with 20 months of average age and the initial body weight of 388 ± 26 kg. The experiment was conducted in the same area and with four paddocks as described in Experiment 1. Were evaluate did the performance, intake and digestibility of diets based on Brachiaria brizantha cv. Marandu pastures and the economic return of supplementation. The experiment was designed as a factorial arrangement (2x4) in a completely randomized design with two genetic groups (Nelore vs. Crossbred) fed with four different supplements compose by increasing levels of grain millet instead of maize (0%, 33%, 66% and 100%). The animals were feeding around 10:00 am, the quantity offer of supplements to the animals was 4.0 kg/animal/day, approximately 0.93% of average body weight. To estimate of forage and dry matter intake of animals was used indigestible neutral detergent fiber (NDFi) and titanium dioxide (TiO2), as internal and external indicator, respectively. The average daily gain weight, total gain weight and final body weight were affected by genetic group (P<0.05). However, the genetic group not affected (P>0.05) the intake and digestibility of nutrients. The average daily gain weight, total gain weight and final body weight of animals were decreased as the inclusion level of millet increased (P<0.05). The levels of substitution between energy ingredients did not affect (P>0.05) nutrients intake. The treatments containing 33% and 66% of source of energy as millet had higher economic return per unit monetary invested. Keywords: supplement, performance, levels of substitution, consumption, total apparent digestibility BIOGRAFIA Marcell Patachi Alonso, filho de Zaru Alonso e Késia Greice Patachi, nasceu em São Paulo, estado de São Paulo, no dia 11 de outubro de 1983. Em abril de 2004 iniciou o curso de graduação em Zootecnia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro campus Seropédica, obtendo o título de Zootecnista em dezembro de 2008. Em março de 2009 ingressou no curso de Mestrado em Ciência Animal na Universidade Federal de Mato Grosso campus Cuiabá, concentrando seus estudos na área de Nutrição e Produção de Ruminantes, submetendo-se à defesa de dissertação em 28 de março de 2011. SUMÁRIO Página CAPÍTULO 1 1.1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 14 1.2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................ 17 1.2.1. Panorama da bovinocultura de corte no estado de Mato Grosso..................... 17 1.2.2. Sistema de integração lavoura e pecuária........................................................ 19 1.2.3. Alimentação animal......................................................................................... 22 1.2.3.1. Aspectos relativos ao pasto...................................................................... 24 1.2.3.2. Aspectos relativos à suplementação alimentar......................................... 27 1.3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................... 33 CAPÍTULO 2 – Suplementação de bovinosde corte recriados em sistema de integração lavoura e pecuária no período das águas 2.1. RESUMO................................................................................................................. 40 2.2. ABSTRACT............................................................................................................ 41 2.3. Introdução.............................................................................................................. .. 42 2.4. Material e Métodos.................................................................................................. 43 2.5. Resultados e Discussão............................................................................................ 51 2.6. Conclusões............................................................................................................... 68 2.7. Referências Bibliográficas....................................................................................... 69 CAPÍTULO 3 – Grão de milheto em suplementos para terminação de bovinos de corte em sistema de integração lavoura e pecuária no período da seca 3.1. RESUMO................................................................................................................. 74 3.2. ABSTRACT............................................................................................................ 75 3.3. Introdução................................................................................................................ 76 3.4. Material e Métodos.................................................................................................. 77 3.5. Resultados e Discussão............................................................................................ 85 3.6. Conclusões............................................................................................................... 109 3.7. Referências Bibliográficas....................................................................................... 110 4. CONCLUSÕES GERAIS........................................................................................ 115 14 CAPÍTULO 1 1.1. INTRODUÇÃO A produção de alimentos protéicos de origem animal ocupa ao longo dos anos posição de destaque no setor agropecuário nacional. Esta posição reflete intensos trabalhos desenvolvidos no sentido de trazer aos sistemas de produção uma característica de condução tecnificada, buscando aumentar as oportunidades e reduzir possíveis ameaças. Entretanto, é evidente que os índices zootécnicos ainda estão aquém do potencial quando comparado a produtores tidos como referência, o que torna de competência ao conhecimento gerado ao longo dos resultados de pesquisas, promover técnicas eficientes, viáveis e aplicáveis permitindo indicadores produtivos mais próximos aos adequados. Ao tratar-se da cadeia produtiva da carne bovina, o ponto principal do planejamento e do desenvolvimento de projetos que visam à precisão dos sistemas de produção são técnicas apropriadas que promovam índices zootécnicos mais favoráveis, em relação aos animais e ao alimento consumido, seja este na forma de volumoso ou na forma de complementos/suplementos. Técnicas que envolvam a exploração do potencial genético dos animais e das forrageiras, tornando-os mais adaptados e eficientes à região a serem explorados, redução da dependência de insumos e diminuição dos custos de produção são reflexos às tecnologias aplicadas. Assim, modelos de produção mais eficientes e com menores ciclos produtivos tornam-se possíveis através da otimização da capacidade produtiva. Esta forma de desenvolvimento da produção encontra-se dentro de uma perspectiva denominada bovinocultura de precisão. Concomitantemente aos adequados índices zootécnicos e ainda dentro do mesmo conceito, torna-se relevante o papel da agropecuária na contribuição econômica, social e ambiental (FAO, 2009) sendo esta última através de formas de mitigação dos impactos promovidos pelo sistema produtivo, melhorando a qualidade de vida e preservando a capacidade de produção para gerações futuras, desta forma, estimulando a sustentabilidade dentro do sistema de produção agropecuário (PAULINO et al., 2006a). Dentre os diferentes sistemas de condução da produção de bovinos de corte, encontra- se a integração lavoura e pecuária (ILP). Neste sistema, a produção da cultura anual é introduzida sob o conceito de minimização dos custos com aplicações de insumos, melhora dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo (VILELA et al., 2003), quebra do ciclo de 15 pragas, doenças e plantas daninhas, melhora da conservação de água e redução da oscilação da temperatura no solo. Simultaneamente à cultura anual, conduz-se a exploração pecuária através do cultivo de plantas forrageiras, onde os objetivos vão desde recuperar pastagens degradadas à produção de alimento na entressafra mantendo alta produtividade do pasto. Assim, atribui-se maior eficiência de utilização da terra e ao sistema como um todo, apresentando, segundo Lopes et al. (2008), maior sustentabilidade econômica e ecológica. Quando contrastado aos sistemas de produção convencionais, a ILP promove melhores benefícios quanto à conservação dos recursos ambientais, assegurando o uso racional das áreas agrícolas e de pastagens. Tais benefícios tornam-se evidentes pela redução da pressão de desmatamento de novas áreas e pela redução dos problemas ambientais originados por erosão e queimadas (GONÇALVES e FRANCHINI, 2007). Desta forma, o objetivo da ILP é o sincronismo do manejo dos animais e da produção agrícola, tendo alta eficiência no aproveitamento da área de produção e manutenção das características adequadas do solo, conservando os recursos ambientais. Aspectos relativos à fase de recria em bovinocultura de corte são de grande valor, visto que esta detém os animais por maior período na propriedade, sobretudo nos sistemas tradicionais de produção. Segundo Aidar e Kluthcouski (2003), a duração deste período pode alongar-se por até 30 meses em sistemas de produção inadequados, com baixa aplicação de tecnologia. Entretanto, os autores destacam que esta fase pode ser reduzida para 10 a 12 meses, ou até mesmo ser eliminada, visto que a ampliação da recria resulta em baixos índices zootécnicos e eleva os custos de produção. Deste modo, práticas que reduzam o número de animais em recria e a duração desta fase tornam-se consideráveis para o desenvolvimento de uma bovinocultura de corte com menores ciclos de produção (PAULA, 2008). Para tal objetivo, algumas limitações devem ser transpostas, principalmente as relativas à alimentação animal. Assim como na recria, grande importância relativa à fase de terminação/engorda de bovinos de corte é relatada, devido a esta categoria corresponder ao produto final entregue ao frigorífico sendo o principal componente responsável pela remuneração ao pecuarista. Dentre os componentes do custo na fase de terminação, o preço de aquisição dos animais constitui, segundo Bonfim et al. (2001), o fator mais relevante, participando com cerca de 70 a 80 % do custo total. Desta forma, o preço do animal para engorda torna-se fator decisivo para resultados econômicos positivos da atividade. Contudo, ao desconsiderar o preço de aquisição dos animais, a alimentação torna-se o fator preponderante para composição 16 dos custos influenciando diretamente a rentabilidade da produção. Assim, a condução da produção sob conceitos de custos mínimos, especificamente alimentação, contempla a fase de terminação através da condução de regime alimentar onde a fonte prioritária de nutrientes encontra-se no pasto. Entretanto, para alcançar elevado desempenho dos animais em terminação sob pastejo, formas suplementares na alimentação tornam-se interessantes de emprego ao manejo alimentar. Acerca de pastagenstropicais, estas se comportam de acordo com uma irregularidade natural, onde a constância na produção deste recurso ao longo do ano é sabidamente inexistente, fator decorrente do período seco (outono/inverno) que correlaciona-se positivamente com valores inadequados de forragem, seja do ponto de vista nutricional como produtivo. Em contrapartida, no período das águas composto pelas estações primavera e verão, elevada oferta de forragem de maior valor nutritivo é encontrada. No entanto, os pastos tropicais durante o período das águas mesmo apresentando valores nutricionalmente adequados, ainda proporcionam aos animais ganhos de peso inferior aos observados em condições de clima temperado. De acordo com Da Silva e Pedreira (1996), um princípio inerente à tomada de decisão em sistemas de produção de ruminantes em pastagens, é a adequação do suprimento de nutrientes aos animais durante todas as épocas do ano. Para obtenção de tais metas, a suplementação da dieta dos animais em pastagens surge como uma ferramenta para o suprimento de nutrientes limitantes, bem como para o aumento da eficiência de utilização das forragens (POPPI e McLENNAN, 1995), isto porque na maioria das situações, a fonte de forragem não contém todos os nutrientes essenciais na proporção adequada de forma a atender integralmente as exigências dos animais em pastejo (PAULINO et al., 2005). Desta forma, a utilização de suplementos na dieta de animais em pastejo, ainda que no período das águas, pode proporcionar aumento do desempenho e reduzir a idade de abate dos animais (PORTO et al., 2009). O emprego de suplementos na estação seca adquire enfoque diferenciado, no sentido de suprir nutrientes não verificados na forragem. Ao provê-los, obtêm-se manutenção de ganho de peso nos animais a um ponto em que se alcance objetivos pré determinados para o sistema de produção. A fase de terminação de gado de corte torna-se comum a esta época do ano e a sua gestão, por meio da utilização de sistemas pasto-suplemento, promove resultados de desempenho produtivo semelhantes àqueles encontrados em animais oriundos de confinamentos (PAULINO et al., 2002a). 17 Conclusões obtidas na condução de ensaios pertinentes ao tema destacaram que a técnica de suplementação em pastejo na fase de terminação/engorda constitui uma alternativa aplicável e viável para produção de carne durante o período seco quando garantida a disponibilidade mínima de forragem (PAULINO et al., 2002a; FIGUEIREDO et al., 2007; BARONI, 2007), a saber que para tal viabilidade questões biológicas e mercadológicas relativas aos ingredientes que comporão os suplementos necessitam ser ponderadas. Assim sendo, através das considerações precedentes, conduziram-se dois experimentos com o propósito de promover informações e esclarecimentos da técnica de suplementação alimentar sobre animais em fase de recria no período das águas e em fase de terminação no período da seca, considerando aspectos de desempenho produtivo e econômico em um sistema de ILP. 1.2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.2.1. Panorama da bovinocultura de corte no estado de Mato Grosso Segundo publicação da FAO (2009), o setor pecuário é uma das partes mais dinâmicas da economia agrícola, expandindo-se rapidamente nas últimas décadas e com expectativa de manutenção de crescimento ao longo dos anos, impulsionado pelo notável aumento na demanda por produtos de origem animal. De acordo com Rosegrant e Thornton (2008), o consumo de carne (per capta) nas principais regiões do mundo apresentará incremento de 0,288 kg/pessoa/ano. Segundo os autores, no ano de 2000 a população destas regiões apresentou um consumo médio de 40 kg de carne/pessoa/ano, sendo previsto para o ano de 2050 um consumo de 54,4 kg/pessoa/ano. Dada a grande participação de carne bovina neste incremento, cabe a produção brasileira elevar seus índices de produtividade através de sistemas de produção mais eficientes com o objetivo de suprir grande parte desta demanda. Segundo Cepea/ESALQ (2011), o Brasil, dentro de um cenário geral, figurou-se em 2010 com um mercado aquecido na comercialização de carne bovina, decorrente em grande parte, pelo suprimento da demanda, sobretudo do mercado interno. Adicionalmente, os valores de exportação apresentaram-se 2,72% superiores ao ano de 2009, corroborando a informação do aumento mundial no consumo deste produto, o que coloca o país em situação privilegiada por concentrar o segundo maior rebanho comercial de bovinos. 18 O estado de Mato Grosso detém uma área de aproximadamente 903.357,91 km 2 , o que representa 10,61% da área total do país, localizado na região Centro-Oeste, ao lado de Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso do Sul. Por sua vez, a região abrange em sua distribuição espacial a fronteira agrícola brasileira, onde a área de pastagens apresenta grande expansão, evidenciando as maiores taxas de crescimento do rebanho na região (CEZAR et al., 2005). O estado tem grande papel na produção nacional de alimentos e na geração de renda proveniente de produtos de origem vegetal e animal. Como uma das bases econômicas do estado, a pecuária de corte destaca-se por sua presença em grande parte dos municípios através da atuação de criadores, profissionais autônomos, empresas de consultoria e indústrias frigoríficas, que contribuem de forma direta, assim como os sistemas agropastoris relatados por Yokoyama e Stone (2003), ao desenvolvimento da região por meio do aumento na arrecadação e pela contribuição na geração de novas frentes de trabalho. Segundo dados disponibilizados pelo IBGE (2009) e IMEA (2010), o estado de Mato Grosso possui o maior efetivo de bovinos de corte do país, sendo predominante nos municípios constituintes das regiões Norte, Nordeste e Sudeste do estado que representam juntos 54,2% do rebanho bovino do estado. A atividade pecuária está associada a diferentes aspectos econômicos e históricos no processo de ocupação e desenvolvimento do território. Dentre os sistemas de produção encontrados no estado, o extensivo possui maior representatividade, entretanto, outros sistemas também são praticados (intensivos e semi-intensivos), porém, com menor expressão. A prática destes sistemas detém de modo similar o comportamento evidenciado no país, que se caracteriza por distintas formas de produção que empregam diversos níveis tecnológicos resultando em indicadores técnicos e econômicos diferenciados. A distribuição destes sistemas abrange distintas regiões do estado e apresentam maior intensidade em algumas localidades e menor em outras (FAMATO e FABOV, 2008). Com o objetivo de aumentar a eficiência produtiva, através da elevação de índices zootécnicos e econômicos, pecuaristas passaram a iniciar um processo de modernização de seus sistemas produtivos, racionalizando o manejo da pastagem e utilizando de forma técnica, acasalamentos dirigidos com raças de maior interesse na região. Na mesma direção, entretanto em uma concepção holística, o estado de Mato Grosso participa, assim como São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Goiás, das regiões consideradas livre de aftosa com vacinação, certificação fornecida pela OIE – Circuito Internacional Epizootias, uma instituição ligada a Organização das Nações Unidas para o comércio internacional de produtos de origem animal. 19 A importância desta certificação permite que o estado exporte carne bovina para países componentes da União Européia, Ásia e para os Estados Unidos da América (FAMATO e FABOV, 2008). A exportação originada em Mato Grosso apresenta-se superior a outros estados componentes da região Centro-Oeste. No período compreendido de janeiro a maio de 2010 as exportações atingiram valores de 85.549 toneladas de equivalente carcaça, representando 14,22% do total exportado pelo país no período supracitado, o que torna o estado o segundo maior exportadorde carne bovina nos primeiros cinco meses do ano. Esta posição encontra-se superior a observada no ano de 2009, em que o estado ficou atrás apenas de São Paulo e Goiás (IMEA, 2010). O mercado cárneo apresenta-se com alto potencial de desenvolvimento para atendimento às demandas internas e externas, contudo, a cadeia produtiva agroindustrial da bovinocultura de corte deve ser aprimorada como um todo, a fim de tornar o Brasil e o estado de Mato Grosso mais competitivos no segmento (FAMATO e FABOV, 2008). 1.2.2. Sistema de integração lavoura e pecuária A pecuária de corte nacional encontra-se em transição, pois o mercado exige uma evolução natural dos sistemas produtivos com objetivo de melhorar a qualidade dos produtos e aumentar a eficiência de produção, conferindo maior competitividade e sustentabilidade à cadeia da carne bovina (LEÃO et al., 2005). Assim encontra-se a bovinocultura de corte, onde outrora, seu desenvolvimento baseou-se na expansão da fronteira agropecuária, onde a exploração se deu a níveis de baixa aplicação técnica. Contudo Paulino et al., (2006a), destacaram a presença de iniciativas de otimização da capacidade produtiva dos sistemas através de um amplo leque de tecnologias embasadas sob o aspecto de arranjos produtivos compatíveis com a realidade, o que caracteriza a evolução dos sistemas produtivos dentro de um conceito de sustentabilidade e precisão. Seja qual for o sistema produtivo considerado, tem-se a sustentabilidade como uma das bases para o sucesso da atividade. Segundo Ponciano et al. (2008) e Lima e Pozzobon (2005), sustentabilidade é descrita como a capacidade de algo ou alguém persistir ao longo do tempo em determinado lugar, englobando desta forma, a habilidade de superar as dificuldades não esperadas. Os mesmos autores consideram sustentabilidade sobre o ponto de vista 20 ambiental, como a exploração de recursos naturais sem comprometer, ao longo do tempo, a integridade ecológica, assim, conservando os recursos naturais. Ao destacarem demais conceitos, identificaram e classificaram duas formas distintas de sustentabilidade: a agrícola que demanda um balanço de nutrientes no sistema, incluindo compensações por perdas dentro da cadeia produtiva, e a sustentabilidade social que exige do sistema a permanência da lucratividade em longo prazo. Para a ciência agropecuária, a manutenção da produção agrícola em níveis tais que sustentem uma população em crescimento, não contribuindo para o aumento na degradação e agressão do meio ambiente, apresenta-se como grande desafio a ser superado (AROEIRA e MORENZ, 2004). Tratando-se de sustentabilidade agropecuária, com enfoque na produção nacional, é necessário o conhecimento de alguns conceitos e premissas básicas, tais como a recuperação de áreas degradadas pelo cultivo de lavouras ou condução da atividade pecuária, a preservação ambiental e o aumento na competitividade de produtos gerados no campo. Países europeus, detentores de uma agropecuária desenvolvida e eficiente, empregam a sustentabilidade como alicerce para desenvolvimento de sistemas de produção apropriados às necessidades sociais. Assim, a aplicação de tal conceito, com o objetivo de atender índices de produção apropriados, permitiriam nos sistemas de produção agropecuários conduzidos em nível nacional, atingir eficiência similar (KLUTHCOUSKI e YOKOYAMA, 2003). A condução da atividade agropecuária sob conceitos que associam a produção animal com a produção de grãos contemplam seu desenvolvimento através das considerações supracitadas acerca de sustentabilidade, permitindo ao sistema melhor aproveitamento de recursos, desta forma, menores tornam-se os custos aplicados promovendo maior rentabilidade. Portanto, aos sistemas de ILP confere-se uma característica de trilogia sustentável, sendo de acordo com Ofugi et al. (2009), um sistema economicamente viável, ecologicamente correto e socialmente justo. As vantagens advindas da exploração de diferentes culturas em sistemas de integração são conhecidas e estimulam sua utilização por ser uma alternativa extremamente importante do ponto de vista da sustentabilidade da produção, entretanto alguns pré-requisitos são exigidos para que o sistema possa ser implementado (VILELA et al., 2003). De fato, Yokoyama et al. (1998) destacaram que as maiores limitações à adoção de tal tecnologia são os custos de sua implementação, sendo a ausência de maquinário apropriado na fazenda um grande entrave. 21 Contudo, ao longo dos anos, tornaram-se inúmeras as ofertas tecnológicas aplicáveis de integração às diversas condições socioeconômicas de produtores, seja desde agricultura a nível familiar até a agricultura de precisão conduzida a nível empresarial, cada qual satisfazendo objetivos distintos (KLUTHCOUSKI e YOKOYAMA, 2003). Segundo publicação da FAMATO e FABOV (2008), o estado de Mato Grosso possui opções de programas de incentivo à assimilação do sistema de ILP por parte de produtores rurais. O Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO) foi instituído pela Lei n.° 7.827/89, e promove o desenvolvimento econômico e social da região através de programas de crédito aos diferentes setores de produção. O FCO Rural apresenta uma linha denominada de Programa de ILP, onde são financiados bens e serviços necessários ao empreendimento rural, estes contemplam o preparo do solo, aquisição de sementes e mudas, aquisição de maquinário agrícola, adequação ambiental da propriedade rural à legislação vigente, aquisição de animais (matrizes, reprodutores e novilhos), custeio associado ao investimento, entre outros. De acordo com Trecenti et al. (2009), além do Fundo Constitucional como financiador de projetos de ILP, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também disponibiliza recursos através do Programa de Estímulo à Produção Agropecuária Sustentável (PRODUSA), acessados via agentes públicos e privados que beneficiam produtores rurais, pessoas físicas ou jurídicas, cooperativas agropecuárias, inclusive para repasse a cooperados. O sistema de ILP possui uma gama de benefícios às atividades que o compõem. Na aplicação pecuária, têm-se a recuperação de pastagens degradadas ou em processo de degradação, a produção de forragem na entressafra e a consequente manutenção de alta produção de volumoso ao longo do ano como principais benefícios. Na atividade lavoureira, constituem-se na quebra do ciclo de pragas, doenças e plantas daninhas, melhoria nas qualidades físico-químicas e biológicas do solo e agregação de valores ao sistema (KLUTHCOUSKI e YOKOYAMA, 2003). Tais benefícios influem de forma direta na redução dos custos de produção de áreas em recuperação de produtividade (agricultura e pastagens) quando comparados aos sistemas tradicionais de cultivo, visto que estes promovem grande dispêndio financeiro inerente a maior necessidade de insumos (KLUTHCOUSKI e STONE, 2003). Segundo Paulino et al. (2006a), a integração entre lavoura e pasto promove grandes oportunidades para inclusão do bovino ao sistema. Ao considerarem a terminação de bovinos no período seca/inverno grande relevância é dada a vantagem por parte dos produtores que 22 não necessitariam disponibilizar uma área de verão para engorda, o que não acarretaria em redução da área destinada à agricultura, uma vez que o acabamento se daria em um único ciclo de pastagem. Corroborando tal informação, Teixeira Neto et al. (2009) relataram sobre elevados desempenhos de bovinos observados em pastagem de Brachiaria ruziziensis após 60 dias à colheita do milho, com utilização de animais anelorados em fase de terminação na entressafra, promovendo, segundo os autores, uma boa alternativa de remuneração para o acabamento de bovinos alimentados a pasto. A expansão nacional de sistemas de ILP por parte dos produtores é evidente, trabalhos conduzidosem centros de ensino e pesquisa, por órgãos públicos e privados, além de relatos acerca de adeptos comprovam cada vez mais a vantagem de sua utilização. A amplitude de assimilação é constatada pela condução de ensaios observados na região Sul do país (LOPES et al., 2008), Sudeste (CORDEIRO e IORA, 2009), Centro-Oeste (KLUTHCOUSKI et al., 2003) e Nordeste (TEIXEIRA NETO et al., 2009). De acordo com Macedo (2009) outras regiões como Maracaju, MS; Rio Verde, GO; Campo Mourão, PR; e Rondonópolis, MT, destacam-se pela prática de tal tecnologia e iniciativas como nos municípios de Luis Eduardo Magalhães, BA; Uberlândia, MG; Pedro Afonso, TO; e Assis, SP comprovam a abrangência de sua aplicação. Entretanto, faz-se necessário maior incentivo, público e/ou privado, a fim de promover cada vez mais conhecimento e planejamento à adoção do sistema, acompanhado de técnicas que beneficiem a produção agropecuária com vistas à sustentabilidade do agronegócio. 1.2.3. Alimentação animal Segundo Jacquot et al. (1960) citado por Andriguetto et al. (1990), a definição dada ao alimento é a de uma substância que, quando consumida por um indivíduo, seja capaz de contribuir para assegurar o ciclo regular de sua vida e a sobrevivência da espécie a qual pertence. Com base neste conceito, torna-se clara a contribuição da alimentação aos animais domésticos, uma vez que esta promove a um ou mais indivíduos, os nutrientes capazes de manutenção da vida e quando em condições adequadas de rendimento, o atendimento das produções demandadas pelo homem (ANDRIGUETTO et al., 1990). Ao considerar o pasto como o alimento natural dos ruminantes, este deve constituir a sua principal dieta. De acordo com Paulino (2005), deve haver um grande destaque quanto à 23 utilização sustentável dos pastos para produção de ruminantes, uma vez que estes recursos representam a principal e mais econômica fonte de nutrientes a estes animais. Um princípio inerente à tomada de decisão em sistemas de produção de ruminantes em pastagens é o equilíbrio entre o suprimento e a demanda dos animais durante todas as épocas do ano (DA SILVA e PEDREIRA, 1996). Diferenças quanto à quantidade e propriedades físicas dos compostos que fazem parte do pasto, em especial a fibra, afetam de forma direta a utilização da dieta, proporcionando diferentes desempenhos por parte dos animais, os quais podem ser positivos ou negativos, em reflexo ao efeito da quantidade e do valor nutricional da forragem sobre o consumo e a alterações na fermentação ruminal (PAULINO et al., 2001). Segundo Paulino et al. (2006a) em ocasiões onde a alimentação baseia-se na dúplice pasto e mistura mineral, frequentemente há um fator limitante ao ótimo desempenho biológico e econômico e, diante disto, caberá ao manejador prover os nutrientes limitantes para os animais com o objetivo de suprir suas necessidades nutricionais. Paulino et al. (2001), relatam que as diferenças inerentes ao animal pastejador no fator ingestão de forragem estariam ligadas ao estádio de desenvolvimento da planta e são mais importantes que aquelas ligadas à espécie vegetal. Assim, no manejo ideal dos pastos são priorizadas espécies que mantenham durante o ciclo fenológico teores mais elevados de nutrientes disponíveis. Esta forma de manejo encontra-se dentro da perspectiva de uma bovinocultura de precisão que envolve a exploração do potencial genético tanto de forrageiras como de animais. Desta forma, um sistema que demanda precisão, exige espécies de forragens e animais adaptados para atuarem sinergicamente com objetivo de se obter elevado desempenho. Aos animais, cabe a atribuição de possuírem a eficiência na conversão de forragens em produto animal, e para o pasto, a minimização da variação quantitativa e qualitativa ao longo do ano. Assim sendo, os fatores nutricionais passíveis de ajuste devem ser realizados a fim de permitirem aos animais a expressão do seu potencial genético (PAULINO et al., 2006a). A evolução natural destes conceitos conduz ao desenvolvimento de formas de manejo que integrem qualidade e quantidade de forragem através da oferta de MS potencialmente digestível, independentemente da época do ano (PAULINO et al., 2004) e concomitantemente objetivem o equilíbrio entre três fases do processo de produção, ou seja, o crescimento, a utilização e a conversão de material vegetal em produto animal (HODGSON, 1990). 24 1.2.3.1. Aspectos relativos ao pasto O pasto caracteriza-se por ser o componente mais importante na dieta de bovinos de corte, sendo no Brasil constituído basicamente por gramínneas perenes (nativas e cultivadas), sendo notadas, entretanto em menor escala, pastagens cultivadas de ciclos anuais (CEZAR et al., 2005). Segundo Detmann et al. (2010), o pasto deve ser entendido como um componente da produção de elevada complexidade, uma vez que este fornece substratos aos animais e é passível de apresentar uma variação qualitativa e quantitativa ao longo do ano determinado, principalmente, por fatores abióticos (e.g., precipitação, temperatura e radiação solar). Dada a sua complexidade, importância e estreita relação com a produtividade animal, um manejo adequado do pasto se aplica com a finalidade de obter altos rendimentos, seja por animal como também por área. Tal manejo deve voltado para maximizar a produção forrageira conciliada à sua perenidade ao longo do ciclo produtivo, aliado a alta eficiência de utilização por parte dos animais (GOMIDE e GOMIDE, 1999; MARCELINO, 2004; REIS et al., 2007). Da mesma forma, a escolha de espécies adaptadas associadas a técnicas de adubação e correção do solo permitem maiores taxas de lotação no ambiente da pastagem intensificando o sistema de produção (ALMEIDA et al., 2000). Paulino et al. (2006a), ao abordarem formas de condução da produção pecuária com ênfase em precisão, apresentaram um conceito moderno e aplicável de manejo de pastagem, com menção ao manejo para qualidade e quantidade através da MSpd descrito em Paulino et al. (2001) e Paulino (2005). A este manejo caberia a construção de ambientes pastoris compatíveis com um elevado padrão de bem-estar e nutrição, sendo este último caracterizado pela acessibilidade dos nutrientes em proporções adequadas às exigências dos animais, tanto à mantença como à produção, durante todo o desenvolvimento do ciclo de produção. Formas de manejo de pastagem que promovam melhorias em seus índices produtivos constituem elementos de constantes pesquisas para aprimoramento da produção pecuária a pasto. De acordo com Marcelino (2004), há a necessidade de maiores estudos a respeito do tema, principalmente quando abordado gramíneas tropicais. Ampla importância deve ser destacada a ingestão de forragem em sistemas de criação de bovinos. Segundo Mertens (1994) citado por Da Silva et al. (2008), a resposta produtiva dos animais é função do consumo de nutrientes digestíveis e metabolizáveis, contudo, aproximadamente 60 a 90% das variações em desempenho são definidas pelas variações 25 correspondentes em consumo e apenas 10 a 40% pelas variações correspondentes em digestibilidade. O consumo de forragem é regido por fatores nutricionais e não nutricionais. Os fatores nutricionais são aqueles decorrentes da dieta basal, sendo grande a influencia determinada pela fibra insolúvel que participa diretamente no efeito de repleção ruminal, Detmann et al. (2010) destaca este efeito ao tratar do tema na utilização de recursos alimentares basais de baixa qualidade. A caracterização de tais recursos é determinada pelo baixo nível de compostos nitrogenados e pela elevada lignificação da fração fibrosa insolúvel (PAULINO et al., 2006b). Aos fatores não nutricionais, considera-se o efeito promovido pela planta através da apresentação da estrutura do dossel e ao efeito dos animais na seleção da forragem, tamanhoe taxa de bocados e tempo de pastejo (DA SILVA et al., 2008). Segundo Sarmento (2003), características estruturais do dossel forrageiro, como a altura e a densidade volumétrica, determinam padrões de comportamento ingestivo realizado pelos animais. O mesmo autor destaca que o consumo de forragem é passível de controle através das variações da condição e estrutura do dossel sob um manejo adequado da pastagem, o que pode atender a diferentes demandas nutricionais em diferentes épocas do ano. Como evidenciado por Sbrissia (2004), maiores taxas de acúmulo líquido Brachiaria brizantha cv. Marandu foram obtidos com a manutenção do dossel forrageiro a uma altura de 30 cm (resultados observados ao final da primavera, verão e outono). Sendo o acúmulo líquido de forragem isento de material senescente, melhor tornam-se as condições de oferta de forragem aos animais, influindo sobre seu consumo e contribuindo no desempenho animal. Entretanto, vale ressaltar de que mesmo quando a disponibilidade de forragem apresenta-se elevada, o colmo e o material morto podem limitar o consumo por parte do animal (DA SILVA et al., 2008). Cabendo ao agente manejador adequar ao pasto qualidade e quantidade a fim de atender aos requisitos exigidos à produção animal. Atualmente uma variante que tem despertado interesse por tornar o sistema de produção mais eficiente e sustentável, suprindo as demandas dos animais e mantendo a qualidade da forrageira, é o sistema de ILP que possui como uma de suas características a manutenção da pastagem em bom estado produtivo ao longo do ano (PAULINO et al., 2006a). De acordo com Vilela et al. (2003), produtores que praticam a integração apresentam vantagem considerável sobre demais produtores praticantes do sistema convencional, como exemplo à produção pecuária são evidenciados rendimentos de carne de 25 @/ha no primeiro ano de pastejo após o cultivo de soja. 26 O período seco é onde se encontra o principal fator limitante no desempenho dos bovinos em virtude da escassez de forragens. Segundo Aidar et al. (2003) ao tratarem da produção de forragem no bioma Cerrado, destacaram que esta sazonalidade na produção é devida a marcante escassez de chuva em determinados períodos do ano. Esta carência na pluviosidade promove uma deficiência hídrica que influi negativamente na absorção de nutrientes pelo sistema radicular das plantas. Para tal situação, são propostas técnicas que possibilitem o aumento da disponibilidade de forragem durante o período crítico, atingindo a mesma lotação animal do período chuvoso (EUCLIDES e QUEIROZ, 2000). Destaque às opções de irrigação, fertirrigação e diferimento de pastagem. A fim de amenizar a escassez de chuva no período de seca, a técnica de irrigação e a fertirrigação (aplicação de fertilizantes via água de irrigação) apresentam-se como ferramentas úteis à produção de pastagem (DRUMOND, 2005). De acordo com Paulino et al. (2006a), a utilização de recursos hídricos superficiais e ou subterrâneos através da irrigação, possui potencial para uso intensivo da terra, reduz riscos de baixas produtividades e contribui para o desenvolvimento da bovinocultura dentro do enfoque da ILP na viabilização de culturas como sorgo, milho, cana-de-açúcar e pastagens de uso direto na bovinocultura. Todavia, sabe-se que as técnicas apresentam custo final elevado, decorrente da infra- estrutura a ser disposta, assim como da energia utilizada e da manutenção dos equipamentos, podendo não apresentar eficiência econômica em determinadas situações (AIDAR et al., 2003). Acerca do diferimento de pastagens, este consiste na estratégia de manejo que seleciona determinadas áreas da propriedade e as exclui do pastejo, garantindo acúmulo de forragem para utilização durante o período em que naturalmente a sua disponibilidade é baixa (SANTOS e BERNARDI, 2005). Santos (2007) destacou que a técnica além de constituir uma reserva de forragem, permite, caso seja o objetivo, o florescimento das plantas e a produção de sementes, contribuindo para a regeneração e sustentabilidade da pastagem. Contudo, uma condução errônea da técnica pode promover acúmulo de matéria vegetal indesejável, a exemplo de colmos maduros e materiais senescentes que contém elevado percentual de fibra em detergente neutro indigestível (FDNi), influenciando negativamente o consumo de MS potencialmente digestível (PAULINO et al., 2006b). 27 Sobre os constituintes das pastagens nas regiões tropicais brasileiras, diferentes sistemas empregam variados exemplares forrageiros (nativos e cultivados). As pastagens nativas apresentam capacidade de suporte variando de 0,1 a 0,3 UA/ha, conseqüentemente os indicadores de desempenho desses sistemas encontram-se relativamente baixos. Pastagens cultivadas podem apresentar capacidade de suporte média anual oscilando de 0,5 a 2,5 UA/ha, com ganhos de peso corporal oscilando de 42 a 255 kg/ha/ano (CEZAR et al., 2005). Segundo os autores supracitados e corroborados por Da Silva et al. (2008), os gêneros de gramíneas Brachiaria sp. e Panicum sp. são os principais constituintes das pastagens cultivadas tropicais (80%) e possuem a característica de permanecerem perenes ao longo do ano. Todavia, nos sistemas de ILP, utilizam-se também gramíneas de ciclo anual (e.g., milheto, aveia e sorgo). Sobre Brachiaria sp., especificamente o exemplar Brachiaria brizantha cv. Marandu, detém de grande representatividade nas pastagens localizadas na região central do Brasil, sendo a recomendação do cultivar feita a solos de média a alta fertilidade, tendo como principais características, a alta produtividade, persistência, tolerância à seca e ao fogo e resistência às cigarrinhas das pastagens, denotando ao material grande interesse econômico e científico na pesquisa de pastagens (MARCELINO, 2004). 1.2.3.2. Aspectos relativos à suplementação alimentar No Brasil os sistemas de produção de bovinos residem quase que em sua totalidade regidos sob alimentação a pasto e com pouca utilização de alimento concentrado. Desta forma, ampla importância se faz na composição de dietas a baixo custo, utilizando (manejando) de forma eficiente o componente basal da alimentação dos animais ruminantes (PAULINO, 2005; PAULINO et al., 2006a). Este componente basal caracteriza-se por uma heterogeneidade natural de fatores, tanto quantitativos como qualitativos, onde a composição botânica e morfológica apresenta variações de acordo com o estádio fenológico das plantas e com a forma em que estas se dispõem em diferentes direções no espaço compondo a arquitetura do dossel, estas variações possuem papel determinante sobre a ordem de grandeza das respostas produtivas de animais criados sobre pastagem (DA SILVA, 2006). 28 Entretanto, a criação a pasto é altamente influenciada pelos efeitos climáticos, visto que estes promovem uma estacionalidade na produção de forrageiras concentrando 80 % da produção no período das águas e 20 % no período da seca (EUCLIDES et al., 2007). Conforme Paulino et al., (2006a), a fim de atender desempenhos acima do obtido através do consumo exclusivo de pasto, a suplementação através de alimento concentrado torna-se uma técnica indispensável quando as exigências por nutrientes se fazem em maior quantidade (crescimento acelerado). Sendo o conceito da terminologia de suplemento, segundo a descrição realizada por Malafaia et al. (2003), como algo que se fornece a mais; aquilo que serve para suprir a deficiência de...; parte que se adiciona a um todo, visando aperfeiçoá-lo. Da interpretação deste conceito, suplementa-se à dieta (o pasto) e não os animais como observado em algumas citações. Quanto ao papel da suplementação para bovinos em pastejo, este se constitui na ação de suprir a demanda não atendida exclusivamente pela dieta basal (pasto) através do fornecimento de uma fontede nutrientes adicionais para o sistema. Adicionalmente, Reis et al. (2005) destacaram outros papéis da utilização da técnica de suplementação, tais como o aumento na capacidade de suporte das pastagens, a potencialização do ganho de peso dos animais, a diminuição da idade de abate, o auxílio no manejo das pastagens e o fornecimento de aditivos ou promotores de crescimento via concentrado. Respostas à suplementação são evidenciadas através de variações no consumo de forragens e desempenho animal, decorrente do aumento na disponibilidade de energia dietética e nas reservas de precursores bioquímicos do metabolismo (PAULINO, 2005; PAULINO et al., 2010). De forma similar, Mieres (1997) ressaltou as implicações quanto à utilização de suplementos na dieta de ruminantes, segundo o autor há melhora no status nutricional dos animais, maior eficiência no uso dos alimentos, prevenção de enfermidades nutricionais e destino mais adequado aos resíduos de colheitas. Outra implicação é dada pela manipulação de parte da microbiota ruminal. Segundo Malafaia et al. (2003) o consumo de suplementos contendo elevados níveis de NaCl (7,5 %), promove aumento proporcional da ingestão de água, contribuindo para o aumento do fluxo de protozoários ruminais para o intestino delgado. O aumento da ingestão de água torna o conteúdo ruminal mais diluído o que promove um impedimento na migração de protozoários de volta ao rúmen, não ocorrendo retenção ruminal de proteína microbiana de origem protozoa. 29 A técnica de suplementação é fatível em qualquer período do ano atendendo a diferentes objetivos de produção, sendo sua composição e quantidade de fornecimento aos animais sujeitos às metas estabelecidas no pré-planejamento da produção. Diferentes enfoques são conferidos aos períodos de seca e das águas, bem como aos períodos de transição águas/seca e seca/águas marcantes em algumas regiões do país. Estas divisões acontecem principalmente pelas diferenças na qualidade e quantidade de forragem ao longo do ano. Segundo Paulino et al. (2002a) a função primária da suplementação no período de seca (inverno) é o suprimento de nutrientes não disponíveis pela fonte basal de alimento. Considerando a lei de Liebig (lei do mínimo), o suprimento através de alimento concentrado possibilitaria o adequado desenvolvimento do animal no período seco, visto que elementos nutricionais essenciais, naturalmente deficitários neste período, seriam supridos. Resultados obtidos através de ensaios realizados no período de seca retratam a eficiência do sistema pasto-suplemento em diferentes fases da criação de bovinos de corte. Detmann et al., (2004) ao pesquisarem níveis de PB para suplementos de animais terminados a pasto, evidenciaram ganho médio diário de 0,983 kg/animal e rendimento de carcaça superior a 51,0 % para tratamentos com teor de 20 % de PB. Os autores inferem que este percentual de PB otimiza o desempenho produtivo dos animais permitindo rentabilidade favorável no período da seca. Adicionalmente, incrementos a esta rentabilidade podem ser obtidos através da aquisição estratégica de insumos. Santos et al. (2002) ao avaliarem características de desempenho e de carcaça de animais terminados em sistema pasto-suplemento, demonstraram que o fornecimento de suplementos proporciona a obtenção de carcaças mais pesadas, com menor proporção de ossos, maior relação músculo:osso e melhor acabamento, quando comparado às carcaças dos animais não-suplementados. Desta forma a técnica de suplementação durante o período seco permite a terminação e o abate de animais classificados como jovens e com carcaças de alta qualidade. No período de transição seca/águas os ganhos observados devem-se ao fato de que os animais podem expressar ganhos compensatórios devido à disponibilidade de forragens de bom valor nutricional, situação notada após um período de subnutrição devido ao período de seca (POPPI e McLENNAN, 1995; SANTOS et al., 2002). Neste contexto, Moraes et al., (2006) concluíram que diferentes níveis de PB ofertada através de suplementos influenciam de forma distinta o desempenho dos animais. Segundo os autores, o suplemento com 24,0 % de PB apresenta-se como sendo o mais eficiente, 30 imprimindo aos animais melhor performance e permitindo retorno econômico favorável durante o período de transição seca/águas. Quanto à suplementação no período das águas, esta detém o escopo de aumento no ganho de peso além do obtido naturalmente sem a utilização da técnica, isto porque mesmo constituindo-se de um período favorável ao desenvolvimento de forragens, há situações em que variações quanto aos seus valores nutritivos são observados, sendo estas variações possíveis de não atingirem à demanda exigida pelos animais (MORAES, 2006). Um dos fatores contribuintes para o aumento em desempenho no período das águas é a influencia determinada pela nutrição. Sob o intuito de atender maiores exigências nutricionais estabelecidas pelo crescimento acelerado, um aumento na oferta de proteína na alimentação apresenta-se como uma opção adequada (POPPI e McLENNAN, 1995). Adicionalmente, Malafaia et al. (2003) descrevem sobre a conveniência de suplementos com proteínas de menor degradabilidade ruminal, mesmo para animais pastejando forragens com altos níveis de proteína. Entretanto, Costa (2009) inferiu que a suplementação de bovinos em pastejo no período das águas é mais adequada quando se utiliza fontes de compostos nitrogenados degradáveis, o que permite ampliar a eficiência de uso do pasto por elevar a concentração de nitrogênio amoniacal ruminal. Afirmativa esta corroborada por Detmann et al. (2010), em que a recomendação de um planejamento nutricional no período das águas deve ser realizada envolvendo suplementos que contenham compostos degradáveis no rúmen a fim de elevar a concentração de nitrogênio amoniacal ruminal ao mínimo de 13 mg/dl. Outro fator abordado por Poppi e McLennan (1995) e Malafaia et al. (2003), diz respeito à suplementação energética no período das águas, esta promoveria melhora na utilização da proteína do pasto, principalmente quando a proteína possuísse elevada degradação ruminal, o que permitiria um aumento no crescimento microbiano, em consequência, maiores suprimentos de proteína microbiana para o intestino delgado seriam evidenciados. Zervoudakis et al. (2002), em trabalho desenvolvido com recria de novilhas mestiças sob o consumo de 0,5 kg de suplemento/dia, constataram respostas ao ganho de peso diário em valores médios de 0,838 kg por novilha. De acordo com os autores os resultados apresentados demonstraram-se adequados face ao contexto avaliado. De forma semelhante, Porto et al. (2009), observaram efeitos significativos no ganho de peso de animais em recria consumindo suplemento alimentar comparados aos que consumiam mistura mineral. Os 31 resultados destes trabalhos confirmam a afirmativa de Paulino et al. (2002b) sobre o efeito da suplementação protéica durante a estação das águas. De acordo com os autores, os animais suplementados geralmente respondem à utilização de suplementos com ganhos adicionais variando de 0,200 a 0,300 kg. Sobre a suplementação no período de transição águas/seca, Barbosa et al. (2008) evidenciaram diferenças significativas quanto ao ganho médio diário e ao ganho total por novilho consumindo suplemento protéico-energético quando comparados a animais que consumiam mistura mineral. Além disto, conclusões a respeito de rentabilidade da técnica demonstraram-se positivas, segundo os autores recomenda-se a suplementação protéico- energética, pois o retorno econômico é maior do que o observado para animais consumindo apenas suplemento mineral. Um possível efeito ao suplementar a dieta de bovinos de corte foi apresentado por Lange (1980) citado por Mieres (1997), sobre as relações entre o pasto e osuplemento. Estas relações apresentam-se de distintas formas sobre o consumo da pastagem, sendo descritas como aditivas, substitutivas, aditiva substitutiva, aditiva com estímulo e substitutiva com depressão. Efeitos associativos positivos permitem que haja incremento no consumo de forragem quando providos, através de suplementos concentrados, os nutrientes limitantes deficientes no pasto (e.g., nitrogênio e fósforo) (PAULINO, 2005). Quanto aos efeitos negativos, é importante considerar que estes não se enquadram em sistemas que preconizam precisão na produção. Detmann et al. (2005) destacam que efeitos substitutivos sobre o consumo de forragem não são interessantes, visto que o objetivo principal da suplementação no sistema produtivo reside sobre a otimização do uso das forragens, minimizando o efeito de substituição. Segundo Euclides (2002), o efeito dessa substituição ocorre geralmente em situações onde a suplementação alimentar é fornecida simultaneamente a pastagens de alta qualidade resultando em depressão do consumo de forragem por parte do animal. O motivo pelo qual o animal apresenta esta alteração de consumo se dá em função do controle quimiostático, que é sensível à quantidade de energia digerível ingerida. Costa (2009) ao avaliar o desempenho nutricional de bovinos em sistema pasto-suplemento apresentou coeficientes de substituição médios de 2,11 g de MS de pasto e 1,07 g de FDN de pasto para cada grama de suplemento ingerido. Segundo Paulino (2005) os efeitos associativos negativos são frequentes e podem influenciar a digestibilidade da forragem de forma negativa, o que contribuiria também para uma baixa eficiência na utilização de grãos. 32 Estas interações foram igualmente destacadas por Detmann (2002), alegando que a taxa de crescimento específico dos microrganismos ruminais sofre influencia dos efeitos de interação entre alimentos. Portanto, sejam os efeitos associativos positivos ou negativos, de grande ou pouca magnitude, estes existem e ocorrem em circunstâncias práticas de alimentação. Um aspecto relevante ao sistema pasto-suplemento se deve a avaliação econômica de adesão da técnica. Uma administração com caráter empresarial, com gestão embasada em projeções de custos e rentabilidade são prioridades nas considerações realizadas no planejamento pecuário que antecede a definição de sua aplicação. Além disto, Nogueira (2003) destacou o estabelecimento de um plano anual a ser aplicado dentro das possibilidades da empresa rural para se obter uma condição eficientemente lucrativa. Quanto ao sucesso da técnica, Da Silva et al. (2008) destacam que em sistemas de produção baseados em pastagens que objetivem a eficiência e otimização dos recursos suplementares, torna-se imprescindível o conhecimento das relações entre níveis de suplementação, disponibilidade e oferta de forragem. Uma suplementação adequada depende do entendimento dos efeitos da utilização do suplemento, assim como da eficiência do sistema de produção como um todo. Um planejamento que empregue a técnica de suplementação no sistema de produção de bovinos a pasto, através de gestão integrada dos recursos alimentares, tornará índices produtivos mais compatíveis com o potencial latente da pecuária de corte brasileira. Os capítulos a seguir foram elaborados segundo as normas da Revista Brasileira de Zootecnia. 33 1.3. 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