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PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi • Apresentar os conceitos de ética e de moral e a concepção de ética no âmbito organizacional. • Apresentar os diversos princípios éticos aplicáveis às ati- vidades organizacionais. • Descrever ações que podem ser tomadas nas organiza- ções a fim de institucionalizar padrões éticos de conduta. Conceitos de ética aplicados ao âmbito organizacional Princípios éticos nas atividades organizacionais Gestão da ética nas organizações Ética Empresarial Conceitos de Ética Aplicados ao Âmbito Organizacional Caro(a) aluno(a)! Aqui estamos nós em nossa última unidade. E por que colocamos ética justamente aqui no final? Porque é menos importante? Não, justamente o contrário: para fechar com chave de ouro! A ética, na realidade perpassa — ou deveria perpassar — tudo o que vimos até agora no nosso livro, ou seja, tudo aquilo que diz respeito à vida das pessoas em sociedade e, por conseguinte, tam- bém nas organizações. Primeiramente, é claro, precisamos do conceito de ética. O dicionário de filosofia Abbagnano (2007) define ética da página 380 à página 387 (em le- tras minúsculas de dicionário), então imagine você o quanto o conceito é complexo e repleto de concepções que ora concordam entre si, ora se complementam e ora distinguem-se. Bem, ge- ralmente em dicionários a primeira definição é a mais amplamente aceita e nesse caso é a que diz que ética é: “em geral, ciência da conduta” (AB- BAGNANO, 2007, p. 380). 275UNIDADE IX Segundo o conceito de Vázquez (1999, p. 23), por- tanto, “ética é a teoria ou ciência do comportamen- to moral dos homens em sociedade”. Essa definição nos ajuda logo a compreender o que confunde muita gente: que ética e moral estão estreitamente relacionadas, mas não são a mesma coisa. Segundo o mesmo dicionário de filosofia, a moral é “objeto da ética, conduta dirigida ou disci- plinada por normas” (ABBAGNANO, 2007, p. 682). Nesse sentido, filosofando aqui um pouquinho com você, podemos pensar o seguinte: se a moral é a conduta dirigida ou disciplinada por normas, há uma infinidade de “morais” aí pelo mundo, cor- reto? Afinal as normas que disciplinam a conduta aqui no Brasil, por exemplo, são muito diferentes daquelas dos países do Oriente Médio, para fazer- mos uma comparação extrema. Sendo assim, “a ética não cria ou determina a moral. Esta pressupõe determinados princípios, determinadas normas ou regras de comporta- mento, mas não é determinante, no sentido de que não impõe ou estabelece no âmbito de cada sociedade” (CHAVES, 2006, p. 21). De fato, “ para Vázquez (1999), a ética enfrenta e até certo ponto se mescla com as experiências histórico-sociais no âmbito da moral. Isto é, a partir de uma série de práticas morais em vigor, busca determinar a essência, sua ori- gem, as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes de avaliação a natureza dos juízos morais, os critérios de justificação de tais juízos e o princípio que rege a mudan- ça e a sucessão dos sistemas morais distintos. O termo ética vem do grego ethos que designa “modo de ser” ou “caráter”. Aristóteles a definia como “ciência do costume”, e pouco se tem acrescentado a esta definição. Vázquez (1999, p. 23) acrescenta que “ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade” e, em uma visão mais ampla, Cury (1997, p. 19) diz que “a ética pode ser entendida como um estudo ou uma reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, a respeito dos costumes ou ações humanas, com desdobramentos diretos sobre o indivíduo e a própria sociedade”. Fonte: Chaves (2006, p. 20). Moral, do latim mos ou mores, quer dizer hábitos e costumes. Ambos os termos, ética e moral, reme- tem à ideia de costumes. Isso porque, originariamente, ethos e mos, caráter e costume, assentam-se num modo de comportamento que não corresponde a uma disposição natural, mas é adquirido ou conquistado por hábito. Mas Vázquez (1999) distingue os dois termos, afirmando que, ao passo que ética é a ciência, a moral é o objeto de estudo dessa ciência. Enquanto a primeira está relacionada com questões teóricas que fundamentam o comportamento humano, a segunda se volta para questões práticas. Fonte: Chaves (2006, p. 20-21). 276 Ética empresarial Veja você que interessante e paradoxal: quando a gente pensa em ética segundo o senso comum, nos vem em mente imediatamente algo bom, certo, justo. No entanto, aí vem essa questão: bom, certo e justo para quem? Para determinada sociedade somente, que tem tais práticas (atos morais) como boas, certas e justas. “ Montaigne, filósofo moderno, questiona: “que bondade será essa, que da banda de lá do rio é delito? Os céticos defendem a ideia de que somente aqueles conceitos que são derivados da própria natureza podem ser elevados à categoria de universal: doce e amargo, quente e frio. Isso não acontece, por exemplo, com os conceitos de ética e justiça (CHAVES, 2006, p. 22). Bem, a discussão aqui seria longa, muito longa! E é uma delícia parar para pensar em tudo isso, não é? Quando o fazemos? Praticamente nunca! Vivemos em uma sociedade onde a moral já foi institucionalizada e a seguimos — ou não — e pronto, sem muito questionamento. Seria muito produtivo se começássemos a pensar mais a fundo na ética, de fato, nos motivos da ações. Podemos deduzir, então, “que a ética analisa as escolhas que os agentes fazem em situações concretas, verificando as opções de conformida- de aos padrões sociais estabelecidos” (PINTO; FARIA, 2004, p. 2). Vamos agora falar de ética no âmbito organi- zacional. E vamos entender ética em seu sentido científico já explorado, mas também em seu sen- tido de senso comum — de conduta adequada ao bem social. Vamos, então, tentar uma definição de ética para organizações. Aguilar (1996, p. 26) traz um conceito bastante claro de empresa ética: “ A empresa ética é definida, pelos nossos padrões, como aquela que conquistou o respeito e a confiança de seus empregados, clientes, fornecedores, investidores e outros, estabelecendo um equilíbrio aceitável entre seus interesses econômicos e os interesses de todas as partes afetadas, quando toma decisões ou empreende ações. Lembrando que quando o autor fala da “empre- sa ética que conquistou” determinada coisa, está falando da conduta dos gestores por trás dessa empresa que ao longo dos anos estabeleceu uma cultura tão forte a ponto de se tornar cultura da empresa e patrimônio dela; a ponto de caracteri- zá-la. Por isso se fala em empresa como “um ser que age”, nesse sentido. E por que uma empresa deveria ser ética? O que ela ganha com isso? Lacombe (2009) lança esses ques- tionamentos e traz alguns insights a respeito. Em pri- meiro lugar, segundo o autor, não são só os recursos materiais que importam na vida e isso se aplica in- clusive às empresas. Ele cita exemplos de outros valo- res, como prestígio, respeito de todos os stakeholders, confiança, e poderíamos acrescentar muitos outros. Esses valores, no longo prazo, contribuem para os resultados financeiros da própria empresa. Em segundo lugar, Lacombe (2009) mencio- na que empresas éticas atraem e retém emprega- dos, fornecedores e clientes éticos e responsáveis, sendo assim uma via de mão dupla em que essa relação virtuosa se estabelece. Em terceiro lugar, o autor chama a atenção so- bre o fato de que a empresa faz parte da sociedade como um todo e que, para que prospere, também essa sociedade precisa prosperar em termos éti- cos. Sendo assim, essa escolha da empresa a faz contribuir com essa sociedade que será benéfica para ela mesma e para todos os que nela vivem. 277UNIDADE IX E aí Lacombe (2009, p. 317) propõe um novo questionamento: “se, no longo prazo, a postura ética tende a beneficiar a empresa, por que essa postura nem sempre é seguida?” E traz algumas razões: primeiramente porque muitas vezes as empresas colocam como prioridadea sua sobre- vivência e se o agir ético for algo custoso em deter- minado momento crítico, pode ser que abra mão dele pelo menos temporariamente. Em segundo lugar, a visão de curto prazo em detrimento da de longo prazo. De fato, postura ética leva tempo para se tornar cultura e é uma construção diária; se não se está disposto a fazê-lo, a perspectiva nesse sentido será somente a de curto prazo, no qual nem sempre é possível entrever benefícios imediatos da conduta ética. Por fim, há os casos em que pequenas condutas de desvios éticos se tornam a porta para o caminho que distancia-se da cultura ética. Somados a todos esses motivos elencados pelo referido autor, poderíamos acres- centar diversos outros. Um deles, por exemplo, são os valores do próprio dono, fundador ou da alta direção, que podem simplesmente não condizer com uma postura ética de gestão. Em resumo, podemos dizer que a concepção de ética no âmbito organizacional se refere a esse agir empresarial voltado a relações pautadas em valores como respeito, honestidade, confiança e responsabi- lidade. É evidente que isso implica em uma série de escolhas e ações cotidianas que formam ao longo do tempo uma cultura organizacional. Somente assim a organização poderá ser considerada ética: quan- do ela já estiver caracterizada culturalmente como tal. Conforme já mencionei, trata-se de desafios e escolhas diárias, como tudo na vida, não é mesmo? Se queremos alcançar determinado objetivo, temos que começar pelas pequenas ações e isso também se aplica à ética no âmbito organizacional. 278 Ética empresarial Caro(a) aluno(a)! Já vimos os conceitos de ética e moral e a con- cepção de ética no âmbito organizacional. Agora neste tópico falaremos sobre os diversos princípios éticos aplicáveis às atividades organizacionais. Bem, vamos nos lembrar primeiramente que a empresa é o resultado de uma rede de relações com diversos agentes e o próprio ambiente em que atua — são os stakeholders, lembra desse concei- to? Então poderíamos elencar como stakeholders os acionistas, os funcionários, os concorrentes, os fornecedores, os distribuidores, as comunidades lo- cais, os meios de comunicação, os sindicatos, o go- verno, os clientes, as entidades de crédito… e a lista poderia ainda se estender, pois são muitos mesmos os agentes que de algum modo são afetados pelas atividades de uma empresa ou organização. A ética nas organizações, para que exista de fato, é necessário que esteja presente em todas as relações com cada um de seus stakeholders. A em- presa ética é um conjunto de ações pautadas em valores éticos que formam a cultura da empresa a ponto de caracterizá-la, então não haveria como ser ética com relação aos funcionários, mas sone- gar impostos, por exemplo, ou então ser ética com os fornecedores e enganar seus clientes ou ainda ser ética com a comunidade local e desleal com Princípios Éticos nas Atividades Organizacionais 279UNIDADE IX os concorrentes. Enfim, ética requer coerência, que se manifesta em cada relação com cada um desses stakeholders, sem exceções. Vamos falar um pouco sobre a ética com relação a alguns dos stakeholders, primeiramente. E vamos começar com aquele que talvez seja o mais bom- bardeado com ações não éticas: os concorrentes. É claro que a competição faz parte do mundo dos negócios e da economia como um todo. Todavia, a ética não precisa ser excluída desse mundo por causa disso. A postura ética nesse caso pressupõe a existência da competição mas que obedece determinadas regras, de modo que não seja algo destrutivo ou predatório para a concor- rência (ALENCASTRO, 2016). Por lei, no Brasil, defende-se a livre concorrên- cia como um dos princípios econômicos. Por que essa preocupação regida por lei? Porque a livre concorrência é algo benéfico para a economia. Faz que as empresas busquem por qualidade, bons preços, tenham motivação para inovar e, ainda, permite que determinada atividade econômica não fique somente nas mãos de uma empresa (monopólio), duas (duopólio) ou pequeno grupo de empresas (oligopólio), que poderiam praticar preços abusivos ou se organizar para combinar preços ou condutas uniformes (cartel). Isso so- mente para simplificar a questão, pois diversos outros fatores econômicos e sociais estão envol- vidos nesse âmbito. Então, a livre concorrência seria o cenário ideal desejado e, dentro dela, a concorrência leal. O que seria uma concorrência desleal? Mattar (2004, p. 319) define concorrência desleal como os “atos praticados pela indústria ou pelo comércio para prejudicar os concorrentes”. Ontem mesmo ouvi de um amigo uma história desse tipo. Ele me contou que estava feliz porque tinha mobiliado o quarto todo dos filhos dele por R$ 1.300,00. Contudo, ele me confessou que, se por um lado estava feliz com a oportunidade que apareceu de comprar todos os móveis por esse preço tão bom, por outro lado, ficou triste por saber a razão pela qual a loja estava fechando e por isso liquidando os estoques: uma outra loja muito maior na cidade impôs ao fornecedor que ele vendesse somente a ela e se caso fornecesse para alguma outra loja da cidade, eles não com- prariam mais desse fornecedor. O fornecedor aceitou a proposta (ou ameaça!) e a outra loja fi- cou sem fornecedor (pois era uma loja pequena e comprar de fornecedores mais distantes a pouca quantidade de que precisava se tornou inviável para o negócio). Resultado: a concorrente pre- cisou fechar as portas. Nada ético por parte da empresa maior, não é mesmo? E nada leal esse tipo de concorrência. Outras posturas antiéticas com relação à con- corrência são “atitudes como o desvio de segredos industriais e comerciais (‘espionagem industrial’), a difamação do concorrente e o aliciamento de funcionários” (ALENCASTRO, 2016, p. 89). Mat- tar (2004, p. 320) destaca ainda a “concorrência pa- rasitária, na qual se imita, de forma contínua e sis- temática, tudo o que o concorrente faz: produtos, embalagens, marcas e até mesmo a publicidade”. Já falamos sobre a Economia de Comunhão (EdC) em outro capítulo do nosso livro. Um dos pontos tratados nessa abordagem de gestão é jus- tamente o relacionamento da empresa com seus concorrentes. Segundo a proposta da EdC, “ Os concorrentes deixam de ser encarados como inimigos potenciais e passam a re- presentar operadores de um mesmo setor com os quais é possível estabelecer relacio- namentos de colaboração tendo em vista interesses comuns. Procuram também apresentar a qualidade dos próprios pro- dutos, privando-se de ressaltar os defeitos dos produtos e serviços dos outros (LIMA, 1999 apud MENEGASSI, 2007, p. 51). 280 Ética empresarial A proposta da Economia de Comunhão exempli- fica bem o que significa a ética com relação aos concorrentes. Passamos agora a outro stakeholder: o consumidor. A ética na relação com o consumidor e os clientes. Aqui nós poderíamos conversar uma semana inteira sobre as experiências que cada um de nós já passou na vida com relação à ética ou à falta dela como consumidores. Muitos são os exemplos de posturas antiéti- cas na relação entre empresa e consumidor. Uma delas é a propaganda enganosa ou que induz à interpretação equivocada. Tive uma experiência há poucos minutos exatamente nesse sentido: ao comprar livros pela internet me deparei com uma proposta muito bacana, que era fazer o cadas- tro do site e ganhar R$ 30,00 na minha próxima compra. Bacana, não? Achei ótima a proposta e fui preencher o cadastro. Aí lá pelas tantas eles pediram os dados do cartão de crédito. Achei estranho porque afinal eu estaria ganhando um desconto na próxima compra e não aderindo a nada. Mas não: olhei os passos seguintes e pedia a autorização de debitar cerca de R$ 20,00 por mês no meu cartão e isso geraria um desconto de R$ 30,00 na próxima compra. Ou seja, esse “desconto” estava atrelado à adesão a um plano mensal em que eu deveria gastar pelo menos R$ 20,00 em produtos naquele site.Não continuei o cadastro, obviamente, e a sensação como cliente foi que a empresa usou de má fé, induzindo por meio de sua propaganda a uma interpretação equivocada do que estavam oferecendo. A empresa certamen- te perdeu muitos pontos comigo em termos de credibilidade e confiança. Outro aspecto é o atendimento ao consumidor. Quantos canais nos vencem pela canseira? Digite 2, depois digite 5, 7, 9, 6, 4… 40 minutos depois está você lá, ainda digitando números, ouvindo musiquinhas de espera e isso quando a ligação não cai no meio dessa novela de números ou o atendente te transfere para outro setor em que a contagem recomeça. Confesso que já deixei pra lá muitas vezes meus direitos por não ter tempo de encarar essa longa trajetória cheia de obstáculos que certas empresas colocam para o atendimento ao consumidor. Será ético dificultar os canais de atendimento ao cliente? Há diversos princípios que se seguidos con- duzem à ética na relação entre empresa e con- sumidor. Dentre eles, Nash (2001) destaca: atuar sempre no âmbito da lei; manter a qualidade do produto; evitar produtos que oferecem perigo à saúde ou à segurança das pessoas ou danos ao meio ambiente; oferecer atendimento cortês e so- lícito e respeitar a liberdade de escolha do cliente. Poderíamos acrescentar tantos outros, como for- necer informações verdadeiras e completas sobre os produtos ou serviços oferecidos e seguir à risca o que prevê o Código de Defesa do Consumidor, que foi criado certamente porque a ética não é algo praticado por todas as empresas. Vamos falar agora sobre a ética no relaciona- mento com empregados. Aqui poderíamos pensar em três momentos: a contratação, a permanência e o desligamento. O processo de seleção para contratação de pes- soas em algumas empresas ou organizações se- guem padrões isonômicos, ou seja, os candidatos possuem condições de equidade para concorrer a uma determinada vaga de emprego. Nesses casos, a postura ética é seguir à risca os padrões deter- minados para todos, sem exceções ou privilégios. Nos casos de empresas que não possuem es- ses padrões pré-determinados, a escolha do novo funcionário pode ocorrer de diferentes maneiras, como indicações, competência técnica ou rela- cional específica, por entrevistas, provas, enfim, as formas são as mais variadas. Quando não há padrões definidos, a atenção com a ética deve ser ainda maior, pois podem acontecer deslizes em diversos pontos do processo. Arruda, Whitaker 281UNIDADE IX e Ramos (2005) trazem alguns exemplos: deixar de contratar intencionalmente uma pessoa ideal ao cargo ou contratar alguém sabidamente não habilitado para se obter algum tipo de vantagem em troca; ou omitir informações importantes do candidato quanto à missão, visão, cultura e estra- tégias da organização ou sobre o cargo que almeja. Bem, além das questões éticas da empresa re- lacionadas ao processo de contratação, também há o outro lado: a preocupação dela em contratar alguém que seja uma pessoa ética. De fato, se a intenção é que a organização seja ética, a base disso é que as pessoas que ali traba- lham sejam éticas e o processo de seleção e contra- tação certamente é a primeira “peneira” para colo- car para dentro somente aqueles que tendem a ser assim. Porque eu disse “tendem”? Porque por mais entrevistas que se faça ou testes psicológicos ou outras técnicas, é praticamente impossível ter toda a certeza sobre a conduta que a pessoa terá depois de contratada, ao longo do tempo. No entanto, certamente esse esforço já diminuirá bastante as chances de surpresas desagradáveis nesse sentido. Sobre a ética na permanência dos empregados há inúmeras questões a serem apontadas. Vamos falar sobre algumas delas. Aqui entrariam aspectos que são vias de mão dupla como a transparência e honestidade na comunicação, a confidencialidade, o cumprimento de acordos e contratos, o respeito mútuo… Os critérios de avaliação e remuneração devem ser claros, cumpridos e respeitados e ainda questões relacionadas a assédio sexual e moral preci- sam ser constantemente averiguadas para que nunca ocorram dentro de um ambiente organizacional. São tantos outros aspectos ainda que pode- ríamos falar, como até mesmo o uso do celular para questões pessoais em horário de trabalho — o acesso a e-mails pessoais ou redes sociais ou ainda aplicativos de conversas que já se tornou até mesmo vício para algumas pessoas é um exemplo do uso do tempo de trabalho, pelo qual a pessoa é remunerada e deveria estar trabalhando em ati- vidades em prol da organização, para uso pessoal — isso também é comportamento antiético. O Código de Defesa do Consumidor traz em seu Capítulo III — Dos Direitos Básicos do Consumidor — dentre outros, os seguintes itens: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação cor- reta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas. Fonte: Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990). 282 Ética empresarial A permanência dos empregados em uma or- ganização trará sem dúvidas dilemas constantes relacionados à posturas éticas, tanto deles com relação à empresa quanto da empresa com relação a eles. Cabe a cada um buscar ter o melhor dis- cernimento possível a fim de que a contribuição singular do indivíduo contribua para a formação e manutenção de uma cultura organizacional ética. Por fim, a ética no desligamento de empre- gados. Arruda, Whitaker e Ramos (2005) desta- cam que a saída não desejada de um funcionário requer muita compreensão e respeito e ressalta que “quando os processos não são claros, com frequência surgem atitudes pouco éticas por parte do empregado que não deseja sair: pressão, ameaça, trabalho mal feito, boicote” (ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2005, p. 122). Se a parceria foi ética durante todo o tempo do empregado na empresa, é de se esperar que também depois do seu desligamento essa relação continue. Aqui en- tram questões como guardar segredos industriais, não difamar a empresa e tantos outros. Por parte da empresa, recomendar a pessoa para outras em- presas e talvez também manter as portas abertas para um possível futuro retorno. Sabe com quem também se deve agir com ética? Com os estagiários! Por vezes parece que todos se sentem chefes do estagiário. Essas pessoas procuram aprendizado, experiência e inserção no mercado de trabalho e muitas vezes suas atri- buições não são respeitadas e o que ele aprende é transportar papéis de uma sala para outra para pessoas que têm preguiça de se levantar de suas cadeiras. Os estagiários estão nas empresas para tarefas específicas e não cabe a ninguém desviá- -los de suas atribuições. Devem ser respeitados por todos. A ética perpassa, evidentemente, todos os de- mais stakeholders. O pagamento de impostos, por exemplo, em vez da sonegação é uma postura ética da empresa com relação ao governo e à socieda- de; a redução de qualquer impacto negativo às comunidades locais e meio ambiente também é uma postura ética; a precisão contábil e transpa- rência financeira para com os acionistas também é uma postura ética e assim com relação a todos os outros stakeholders. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar,use seu leitor de QR Code. Sendo assim, em relação à ética empresarial, os princípios éticos devem ser aplicados em cada uma de suas atividades, departamentos e funções administrativas a fim de que essas ações reflitam no relacionamento com cada um de seus stakehol- ders. Toda organização ou empresa é um “peda- ço de sociedade” e agir com ética nesse espaço é ajudar a tornar a sociedade mais ética, ou seja, a sociedade em que todos sonhamos em viver. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/668 283UNIDADE IX Caro(a) aluno(a)! Estamos aqui no último tópico da última unidade do nosso livro! Já falamos sobre mui- tos assuntos do mundo organizacional e agora fechamos com um objetivo que não poderia ser mais apropriado: descrever ações que podem ser tomadas nas organizações a fim de instituciona- lizar padrões éticos de conduta. Falamos já no tópico anterior que a organiza- ção ou a empresa é um pedacinho de sociedade e, se ela é ética, está contribuindo para que a socieda- de também o seja. Falamos também nessa unidade que isso só se consegue por meio de cultura, cul- tura ética, estabelecimento ou institucionalização de cultura ética. Sendo assim, neste último tópico falaremos justamente sobre as ações que podem levar à ins- titucionalização da ética nas organizações, o que levará à formação de cultura que, por sua vez, ca- racterizará uma organização como ética de fato. Marinho (2016) descreve alguns elementos da cultura da empresa que pretende trilhar o ca- minho da ética: com relação ao público interno, externo e à comunidade. Com relação ao público interno, a autora salienta as relações de compro- misso e confiança com os funcionários, bem como Gestão da Ética nas Organizações 284 Ética empresarial saúde, segurança e qualidade no ambiente de tra- balho. Com relação ao público externo, entraria a qualidade dos produtos ou serviços ofertados pela organização, o relacionamento honesto com os clientes e parceiros, a proteção ao meio ambiente e o cumprimento de todas as responsabilidades legais, fiscais e sociais que dizem respeito à orga- nização. Por fim, com relação à comunidade, a autora traz dois grandes caminhos: exercer a ci- dadania e contribuir para uma sociedade melhor para todos. Perceba que em ambos está implícito o exemplo que a própria organização deve dar e isso geralmente parte dos líderes ou gestores e que pode — e deve — ser difundido na empresa de di- versas formas — pelo próprio exemplo dos líderes, por palestras de conscientização, por códigos de conduta ou de ética e muitos outros. E como é possível disseminar valores dentro das organizações de modo que se tornem cultura e caracterizem a empresa como ética? Bem, vamos lembrar primeiramente que “a empresa é uma or- ganização em que as pessoas influenciam umas às outras na definição e na aceitação de valores e práticas” (ANDREWS, 2005, p. 67). Sendo assim, o cotidiano de cada organização poderia inspirar dezenas de respostas diferentes a essa questão, com base nos diferentes contextos específicos existentes, mas vamos trazer aqui a visão de alguns autores a respeito de práticas que talvez possam ser adequadas para a maioria das organizações. Moreira (1999), por exemplo, sugere alguns passos para a implantação de um programa de ética nas organizações: o primeiro seria a criação de um código de ética, mas que essa criação fosse realizada com a participação de pessoas de todos os níveis da organização (vimos isso também em nosso livro, se lembra? São os níveis estratégico, tático e operacional). O segundo passo seria o treinamento para a aceitação dos valores deste código — nesse aspecto o autor sugere que seja feito pela chefia direta do funcionário para que seja efetivo. Por fim, o autor salienta a importância do compromisso com o código de ética que deve ser de todos na organização. Weaver (1993) define código de ética como docu- mento formal distinto, que especifica obrigações éticas conscientes para a conduta organizacional, só existindo se for formulado com o propósito único de ser guiado por padrões morais para condutas éticas. Fonte: Cherman e Tomei (2005, p. 101). As pessoas muitas vezes têm entendimentos dife- rentes sobre os fatos da vida, acho que isso não é nenhuma novidade, não é mesmo? Bem, é essa di- ferença de entendimento e percepção que faz que seja tão necessários nas organizações os códigos de ética — que podemos também chamar de códigos de conduta ou códigos morais (MOREIRA, 1999). O objetivo de um código de ética é “padroni- zar e formalizar o entendimento da organização empresarial em seus diversos relacionamentos e operações” (MOREIRA, 1999, p. 33). E qual o teor desses códigos? O que é contem- plado neles exatamente? Bem, não há uma norma ou um padrão rigoroso a ser seguido, mas um levantamento realizado por Srour (2013) apontou temas recorrentes nos códigos de conduta moral, tais como: 285UNIDADE IX • Relacionamento com cada um dos sta- keholders. • Conflitos de interesse entre os vários pú- blicos. • Regulamentação sobre troca de presentes, gratificações, brindes, favores, cortesias de fornecedores ou clientes. • Observância das leis e normas vigentes. • Segurança e confiabilidade das informa- ções não públicas e/ou privilegiadas. • Teor dos balanços, demonstrações finan- ceiras e relatórios da diretoria endereçados a acionistas. • Propriedade intelectual de marcas ou pa- tentes. • Formação de cartéis e participação em as- sociações empresariais. • Prestação de serviços profissionais por parte dos colaboradores a fornecedores, prestadores de serviços, clientes ou con- correntes. • Uso do tempo de trabalho para assuntos pessoais. • Discriminação de pessoas por quaisquer razões ou atributos pessoais. • Assédio moral e sexual. • Uso de drogas ilícitas, ingestão de bebidas alcoólicas. • Relações de apadrinhamento. • Privacidade dos colaboradores. • Difusão interna de fofocas. • Proibição da comercialização interna de produtos ou serviços por colaboradores. • Utilização dos equipamentos e das instala- ções da empresa para uso pessoal. E a lista aqui seria infindável, até porque ela deve se adequar também ao tipo de organização. Srour (2013, p. 207) exemplifica o caso das instituições financeiras, por exemplo, que “costumam agregar preocupações que lhes são particularmente rele- vantes porque administram recursos de terceiros e proveem serviços financeiros, de modo que a relação fiduciária constitui a razão de ser do ne- gócio”. E a mesma lógica se aplica com todos os tipos de organizações. Aquelas do Terceiro Setor, por exemplo, poderia inserir em seu código de ética a transparência dos recursos utilizados junto a seus benfeitores e assim por diante. Embora os códigos de éticas sejam fundamen- tais para orientar a conduta dentro de uma organi- zação, ele por si só não garante o comprometimento das pessoas em agir em conformidade a eles. A esse respeito, Andrews (2005, p. 73) chama a atenção: “ Não obstante a importância dos códigos de ética, das normas morais referentes a vulne- rabilidades específicas e da execução disci- plinada das políticas vigentes, esses requi- sitos não contém em si o poder emocional definitivo do comprometimento pessoal. O engajamento com os objetivos de quali- dade - entre eles o cumprimento da lei e a observância de altos padrões morais - é uma conquista da organização. Matos (2011, p. 149) corrobora essa visão afirman- do que “certamente não se estabelece ética corpora- tiva por meio de códigos, mas da conscientização de valores, corporificados em diretrizes éticas que traduzem cultura, estilos de liderança e estratégias”. 286 Ética empresarial O mesmo autor propõe algumas diretrizes para o estabelecimento de um modelo de gestão da ética, tais como: definir a filosofia da empresa, definir as diretrizes éticas, criar os instrumentos institucionais para a gestão da ética e desenvolver continuamente a consciência ética por meio da educação.O Quadro 1 traz essas diretrizes e suas descrições: Diretrizes Descrição Definir a filosofia da empresa É imprescindível que todos na empresa tenham plena consciência dos valores fundamentais que orientam os comportamentos. Significa tornar palpáveis os traços fundamentais da cultura corporativa. Definir as diretrizes éticas Explicitar os padrões de comportamento esperados, consoantes aos valores da cultura corporativa. Criar os instrumentos institucionais para a gestão da ética A viabilização do comportamento ético depende fortemente da instituição de meios adequados. Sem os espaços à reflexão e ao exercício partici- pativo da decisão, a gestão torna-se centralizadora e autocrática. Nesses casos, a cultura corporativa fechada inibe a gestão da ética. Desenvolver continua- mente a consciência ética por meio da edu- cação Exercícios permanentes de percepção e competência criativas por in- termédio de técnicas e metodologias dinâmicas de aprendizagem que reforcem os valores e a práxis da ética no trabalho, contribuindo para a consolidação de uma cultura corporativa aberta. Quadro 1 - Recomendações essenciais para um modelo de gestão da ética Fonte: adaptado de Matos (2011, p. 153). O ideal para que tudo isso se institucionalize é que haja na empresa um comitê estratégico de ética corporativa, que procura constantemente refletir, discutir, avaliar, promover e acompanhar as con- dutas e ações na empresa de modo a serem éticas. Cabe a um comitê como esse realizar eventos de conscientização e reforço acerca da ética, tais como seminários, convenções, debates… enfim, o que for apropriado para os objetivos propostos. A grande importância de um comitê de ética corporativa é seu caráter pragmático e sistêmico, o que garante a continuidade e perenidade da cultura ética e não somente ações isoladas ou esporádicas (MATOS, 2011). Outra ação conjunta para a institucionalização de padrões éticos de conduta é a observação, refle- xão e ações relacionadas a algumas dimensões essenciais para se chegar a essa finalidade, tais como as apresentadas no Quadro 2: 287UNIDADE IX Dimensão Descrição Proposta 1. Ser ético Comportamento ético como úni- ca forma de ser bem-sucedido na vida e no trabalho. Definir coletivamente o perfil do ser ético. 2. Consciência ética Valores como a base da conduta ética. Desenvolver meios para efetivar a ética nas relações de trabalho. 3. Comportamento ético Em todos os âmbitos, desde as pequenas atitudes cotidianas às grandes decisões. Estabelecer diretrizes para o comportamento ético. 4. Competência ética Líderes éticos desenvolvem com- petências e formam uma comuni- dade ética. Desenvolver líderes e liderados para trabalharem em equipe de forma ética. 5. Cultura ética Um meio cultural saudável é con- dição fundamental para a conti- nuidade da conduta ética. Conscientização e aceitação es- pontânea de valores que con- dicionam atitudes positivas de solidariedade grupal. 6. Responsabilidade social ética Ter uma efetiva atitude pública coerente e não apenas a preten- são de passar uma imagem ética. Buscar formas de promover ações solidárias. 7. Humanismo ético Valorização humana como condi- ção da dignidade pessoal e para a realização social no trabalho. Valorizar as pessoas, favorecen- do oportunidades de realização humana e profissional. Quadro 2 - Ideário para gestão da ética Fonte: baseado em Matos (2011, p. 154-156). Em suma a ideia é que sejam elaboradas estratégias de interatividade que promovam e motivem a participação criativa e que se busque a conscientização coletiva dos valores éticos, determinantes na formação de uma cultura ética madura na organização (MATOS, 2011). Matos (2011) propõe, por fim, algumas etapas para a formulação de um modelo de ética corpora- tiva que envolve lideranças em todos os níveis. A sequência de ações que compõem esse modelo está descrita no Quadro 3: 288 Ética empresarial Etapas Descrição 1. Diagnose da situação empresarial Entrevistas qualitativas, individuais e coletivas com amostras dos públicos internos. 2. Avaliação situacional preliminar Reunião de análise com a presidência e diretoria. 3. Rodada de reflexão estratégica Encontro com a direção sobre a visão diagnóstica e a visão estratégica em busca de consenso sobre linhas para a con- solidação da ética corporativa. 4. Auditoria de cultura e clima organizacional / ética na empresa Pesquisa realizada com todo o público interno com ênfase nos aspectos relacionados à cultura corporativa e à ética. 5. Fórum de reflexão estratégica Encontros periódicos reunindo todos os executivos para palestras e debates sobre cultura corporativa, liderança e estratégia voltada à ética corporativa. Resultados das entrevistas e da pesquisa sobre cultura e clima organizacional e linhas estratégicas de ação recomen- dadas. 6. Comitê estratégico de ética corporativa É um espaço de reflexão e de busca pela institucionalização da ética corporativa. 7. Oficina de liderança Oficinas com textos e exercícios práticos sobre liderança ética e para a ética. Quadro 3 - Etapas para a formulação de um modelo de ética corporativa Fonte: baseado em Matos (2011, p. 157-158). 289UNIDADE IX Você pode perceber que o papel da liderança é fundamental em todo o processo de um modelo de ética corporativa. O envolvimento dos líderes e, sobretudo, o exemplo deles é a base para que uma cultura ética possa se estabelecer. Sendo assim, podemos nos perguntar: e quanto aos líderes e suas decisões? É fácil tomar decisões éticas? Andrews (2005) afirma que tomar decisões éticas pode ser até fácil quando os fatos são claros, mas que a coisa se complica quando “ a situação está encoberta pela ambiguidade, pela falta de infor- mações, pela diversidade de pontos de vista e pelo conflito de atribuições. Nessas situações — com que os gerentes convivem o tempo todo — as decisões éticas dependem tanto do processo decisório em si quanto da experiência, da inteligência e da inte- gridade do decididor (ANDREWS, 2005, p. 64). Andrews (2005, p. 74) complementa essa ideia dizendo que “em último caso, os executivos resolvem questões conflitantes com base em seus próprios ditames emocionais e racionais”. A partir disso podemos concluir que a escolha das pessoas que ocuparão os cargos estratégicos de decisão é um dos aspectos mais importantes quando se quer fazer da organização um espaço ético. Nash (2001) elenca quatro traços essenciais de caráter que juntos representam um caminho para o atingimento de padrões éticos em uma organização: 1) habilidade para reconhecer e articular a ética de um problema; 2) coragem pessoal para não racionalizar a má ética; 3) respeito inato pelos outros; e 4) o valor pessoal derivado do comportamento ético. Haveria diversas outras características a serem somadas a essas, entretanto, talvez essas englobem grande parte daquilo que leva um líder a agir em conformidade com padrões éticos e promover em sua organização essa cultura. Em suma, a institucionalização da ética corporativa depende de uma cultura voltada à ética que, por sua vez, se faz por meio de valores incorporados e difundidos na organização, por exemplos de líderes, por condições e ambiente favorável à ética, por explicitação daquilo que se espera por meio de códigos de ética e, por fim, por meio da adesão convicta de cada membro da organização a ser um indivíduo ético em seu dia a dia, em suas ações cotidianas a fim de construir todos juntos a ética corporativa. Conforme já dissemos, toda organização é um “pedaço de socie- dade” e, trabalhando para que esse “pedaço” seja um ambiente onde a ética é vivenciada, se está cer- tamente contribuindo para uma sociedade melhor para todos nós e para as gerações futuras. E tudo começa pelas pequenas coisas, pelas pequenas atitudes na nossa vida que é composta por diver- sas facetas — nossa vida familiar, profissional, social… Em cada uma delas, sejamos essa pessoa que age pensando também nooutro, conforme a chamada “re- gra de ouro” que é “fazer aos ou- tros o que gostaria que fosse feito a mim e não fazer aos outros o que não gostaria que fosse feito a mim”. Certamente as muitas “pe- quenas coisas” somadas é o que constrói a sociedade mais ética, justa e solidária. Vamos lá! Vamos fazer de cada uma de nossas ações um tijolinho a mais na construção dessa sociedade em que todos nós sonhamos viver. Modelo de ética corporativa 290 1. A empresa ética é definida, pelos nossos padrões, como aquela que conquistou o respeito e a confiança de seus empregados, clientes, fornecedores, investidores e outros, estabelecendo um equilíbrio aceitável entre seus interesses econômicos e os interesses de todas as partes afetadas, quando toma decisões ou empreende ações. Sobre a ética no âmbito organizacional, leia as afirmações abaixo: I) A ética é algo que não influencia a vida organizacional ou a reputação da empresa frente aos seus stakeholders. É somente uma escolha pessoal dos gestores. II) Valores comuns a uma empresa ética no longo prazo contribuem também para os resultados financeiros da própria empresa. III) O fato de uma empresa se propor a ser um espaço onde se vivencia a ética é uma forma de contribuição também para a sociedade prosperar em termos éticos. IV) Empresas éticas atraem e retém empregados, fornecedores e clientes éticos e responsáveis, sendo assim uma via de mão dupla em que essa relação se estabelece. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 2. Pode-se dizer que a concepção de ética no âmbito organizacional se refere a esse agir empresarial voltado a relações pautadas em valores como respeito, honestidade, confiança e responsabilidade. Assinale Verdadeiro (V) para as afirmações que representam atitudes éticas nas organizações e Falso (F) para aquelas que não representam: Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 291 )( Atuar sempre no âmbito da lei; manter a qualidade do produto; evitar produtos que oferecem perigo à saúde ou à segurança das pessoas ou danos ao meio ambiente; oferecer atendimento cortês e solícito e respeitar a liberdade de escolha do cliente. )( Seguir o que prevê o Código de Defesa do Consumidor. )( Pagar corretamente os impostos. Assinale a alternativa correta: a) V-V-V. b) V-F-F. c) F-F-F. d) F-V-V. e) V-F-V. 3. Sobre as ações que podem levar à institucionalização da ética nas organizações, leia as afirmações abaixo e em seguida assinale a alternativa que contenha aquelas que expressam essas ações: I) As relações de compromisso e confiança com os funcionários, bem como saúde, segurança e qualidade no ambiente de trabalho. II) A qualidade dos produtos ou serviços ofertados pela organização, o relacio- namento honesto com os clientes e parceiros, a proteção ao meio ambiente e o cumprimento de todas as responsabilidades legais, fiscais e sociais que dizem respeito à organização. III) Exercer a cidadania e contribuir para uma sociedade melhor para todos. IV) Difundir uma cultura ética pelo próprio exemplo dos líderes, por palestras de conscientização, por códigos de conduta ou de ética entre outros. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e IV estão corretas. c) Apenas I e III estão corretas. d) Todas estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 292 Wall Street: Poder e Cobiça Sinopse: um jovem e ambicioso corretor é atraído pelo mundo ilegal e altamente lucrativo da espionagem empresarial ao ser seduzido pelo poder, status e magia financeira da lenda de Wall Street. Comentário: é um clássico. Traz muitos elementos interessantes por mostrar o “lado B” de várias situações do mundo corporativo que envolvem a escolha entre a atitude ética e antiética. FILME Ética para Engenheiros Autor: Armenio Rego e Jorge Braga Editora: Lidel Sinopse: complementada com dezenas de casos concretos, envolvendo dilemas éticos para os engenheiros, esta edição inclui também códigos de ética profis- sional de diversas organizações e países. LIVRO 293 ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. AGUILAR, F. J. A ética nas empresas: maximizando resultados através de uma conduta ética nos negócios. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996. ALENCASTRO, M. S. C. Ética empresarial na prática: liderança, gestão e responsabilidade corporativa. 2. ed. Curitiba: Intersaberes, 2016. ANDREWS, K. R. Ética na prática. In: RODRIGUEZ, M. V. R. Ética e Responsabilidade Social nas Empresas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 61-75. ARRUDA, M. C. C.; WHITAKER, M. C.; RAMOS, J. M. R. Fundamentos de ética empresarial e econômica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2005. BRASIL. LEI nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 01 dez. 2017. CHAVES, P. S. V. Clima ético e Economia de Comunhão: estudo de caso. 129 f. Dissertação (mestrado em Administração de Empresas) Universidade de Fortaleza – UNIFOR, 2006. CHERMAN, A.; TOMEI, P. A. Códigos de ética corporativa e a tomada de decisão ética: instrumentos de gestão e orientação de valores organizacionais? Revista de Administração Contemporânea, v. 9, n. 3, p. 99-120, 2005. LACOMBE, F. J. M. Teoria geral da administração. São Paulo: Saraiva, 2009. LIMA, M. A. B. Economia de Comunhão x custos de transação: uma visão das organizações imbuídas da cultura da partilha. REAd – Revista Eletrônica de Administração. v. 5, n. 4, nov./dez. 1999. MARINHO, S. A importância da ética dentro das organizações. Disponível em: <http://www.administra- dores.com.br/mobile/noticias/negocios/a-importancia-da-etica-dentro-das-organizacoes/114098/>. Acesso em: 06 nov. 2017. MATOS, F. G. Ética na gestão empresarial. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. MATTAR, J. Filosofia e ética na administração. São Paulo: Saraiva, 2004. MENEGASSI, C. H. M. As dimensões do modelo burocrático nas organizações: um estudo das empresas do Polo Empresarial Spartaco orientadas pela abordagem da economia de comunhão. 109 f. Dissertação (Mes- trado) – Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2007. MOREIRA, J. M. A ética empresarial no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1999. NASH, L. Ética nas empresas. São Paulo: Makron Books, 2001. 294 PINTO, R. S.; FARIA, J. H. de. O Discurso e a Prática da Ética nas Relações de Trabalho: os Paradoxos da Práxis de uma Organização Bancária. In: XXVII Encontro Nacional da ANPAD, 2004, Curitiba. Anais do XXVII EnANPAD. Rio de Janeiro: ANPAD, 2004. SROUR, R. H. Ética empresarial. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. VÁZQUEZ, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. WEAVER, G. R. Corporate Codes of Ethics: Purpose, Process and Content Issues. Business and Society. CA, v. 32, n. 1, p. 44-58, Spring 1993. 295 1. D. 2. A. 3. D. 296 297 298 299 300 301 302 303 CONCLUSÃO Caro(a) aluno(a)! E chegamos ao final desta nossa jornada! Será? Se por um lado concluímos este estudo, por outro lado ele nos abriu as por- tas para uma nova visão de mundo e você percebe que agora não enxerga mais as organizações, as pessoas, as relações entre elas e a sociedade como antes. E quer mais, muito mais! Que bom!!! Atingi assim todos os objetivos que tinha ao escrever para você este livro! Como o próprio título do livro diz, aqui temos “conceitos de administração e ética empresarial” e para cada um deles necessitaria outro livro inteiro para tratar com mais profundidade — quando não até mesmo outro curso. Todavia, você dispôs aqui de um compêndio sobre o mundo organizacional elaborado com todo o cuidado para que você tivesse acesso àquilo de que necessitará de imediato em sua vidaprofissional — e com pitadas para sua vida pessoal e estudantil também. Organizações existem por todos os lados em todos os âmbitos da nossa vida. São elas que compõem a sociedade e por isso tratamos muito mais delas de modo abrangente do que somente empresas — um tipo específico, mas não único, de organização. Desse modo, nosso livro abordou as organizações como um todo, seus diversos tipos, os conceitos de administração e de organizações, as funções da administração, suas áreas funcionais e suas teorias; deu destaque ao fator humano nas organizações, abordou também elementos fundamentais de gestão estratégica, gestão de projetos e de tendências no campo da admi- nistração. Por fim, trouxe uma discussão específica sobre ética empresarial, tão relevante para nossa sociedade e nosso país. Espero que essa jornada tenha sido de fato somente o começo para você. Sua escolha por este curso já demonstra o quanto você, caro(a) aluno(a), é ávido por conhecimento e uma vez tendo “as portas da mente” abertas, elas nunca mais serão como antes. Obrigada por termos caminhado juntos até aqui e muito sucesso para a continuação de seu caminho! 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