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ATIVIDADE COMPLEMENTA


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O significado de Viva La Vida
A canção por si só já é uma referência a uma pintura de Frida Kahlo, também intitulada Viva La Vida. É considerada a última obra da artista antes de falecer: adoecida e de cama, a pintora teria inscrito viva a vida em sua arte. Interessante, né? 
Em sua segunda visita ao México, o vocalista Chris Martin ficou marcado pela história da obra e pela força de Frida. Assim, decidiu usar a frase em seu trabalho seguinte.
Já o conceito do disco tem outra história: todo o álbum, que leva o nome da música, tem relação com guerrilhas e forças revolucionárias. 
Segundo o baixista Guy Berryman, as letras foram escritas sob uma perspectiva anti-autoritária, revoltada com figuras de poder. Foi o que ele disse à revista Rhino: “Somos seres humanos com emoções e vamos todos morrer e é uma estupidez o que temos que aguentar todos os dias”. Daí vem o conceito Viva La Vida. 
Dá pra sentir esse clima no vídeo e na capa do álbum, que usa a obra A Liberdade Guiando O Povo, de Eugene Delacroix. A imagem é bastante icônica e é um marco da Revolução Francesa.
Análise da letra de Viva La Vida
É interessante pensar a letra a partir da fala do baixista, que afirma que o disco é anti-autoritário: a faixa Viva La Vida trata do poder em primeira pessoa, como se fosse a própria autoridade cantando sobre sua vida. Dá uma olhada:
I used to rule the world, seas would rise when I gave the word
(Eu costumava dominar o mundo, oceanos se abriam quando eu ordenava)
Nesse verso, existem duas possíveis referências: a primeira é a Moisés, conhecido no conto bíblico por dividir o Mar Vermelho. A segunda é do conto de Canuto, o Grande, Rei da Dinamarca. O monarca teria mandado colocar seu trono à beira do mar e ordenado ao mar que não a molhasse. 
Quando, claro, seus pés se molharam, ele teria proclamado: “Que todos os homens saibam quão vazio e inútil é o poder dos reis, pois não há nome digno, mas Aquele a quem o céu, a terra e o mar obedecem pelas leis eternas.”
De qualquer modo, é clara a relação entre poder e essa alegoria ao mar. Assim, Chris Martin canta sobre já ter sido poderoso.
Now in the morning I sleep alone, sweep the streets I used to own
(Agora pela manhã durmo sozinho, varro as ruas que já foram minhas)
Agora, ele se sente impotente, como Pu Yi (o último imperador da China), que acabou trabalhando como um camponês varrendo ruas. Pode ser só uma metáfora mesmo: tipo uma bad pesada depois de se sentir muito confiante ou de perder tudo. 
I used to roll the dice (Eu costumava rolar os dados)
Feel the fear in my enemy’s eyes (Sentir o medo nos olhos dos meus inimigos)
Listened as the crowd would sing (Ouvia enquanto a multidão cantava)
Now the old king is dead! Long live the king! (Agora o velho rei está morto! Vida longa ao rei!)
De novo, mais uma referência a uma figura de poder. A expressão rolar os dados vem de Júlio César, que disse alea iacta est (os dados foram jogados/ rolados) ao encarar a difícil batalha de Pompeia. É uma figura de expressão que significa algo como colocar nas mãos do destino.
Já a parte sobre o canto da multidão se refere ao velho ditado europeu, O rei está morto, vida longa ao rei. Era uma proclamação comum quando acontecia a ascensão de um novo monarca.
One minute I held the key , next the walls were closed on me (Em um minuto eu segurava a chave, no outro as paredes estavam fechadas contra mim)
Ainda falando sobre ter perdido o poder repentinamente, ele demonstra como foi encurralado. Na Bíblia, Cristo dá as chaves do reino para São Pedro e é daí que vem a ideia da chave como um símbolo de poder. 
Como notamos, a pessoa retratada perdeu toda a sua autoridade. É possível que seja o ponto de vista de um governante em queda, enquanto acontece uma revolução. Assim, dá pra ligar a música até à capa do álbum: pode ser, por exemplo, Luís XVI durante a Revolução Francesa.
And I discovered that my castles stand upon pillars of salt and pillars of sand (E eu descobri que meus castelos se apoiavam sobre pilares de sal e pilares de areia)
Nessa metáfora sobre o poder ruindo, tem mais uma referência! Os pilares de sal vêm do conto bíblico de Ló, em que os anjos falaram para que ele fuja com a família e não olhe pra trás.
Incapaz de resistir à tentação, a esposa de Ló olhou para trás e se tornou um pilar de sal. Já o pilar de areia vem de uma história sobre um homem sábio e um homem tolo. O sábio construiu sua casa sob um monte de rochas, enquanto o tolo construiu a sua sob um monte de areia e perdeu tudo com a tempestade. 
Assim, o reinado do narrador na música foi perdido graças a traições (como a esposa de Ló) e pessoas tolas, como no caso da casa na areia. 
Assim, chegamos no refrão:
I hear Jerusalem bells are ringing (Eu ouço os sinos de Jerusalém tocando)
Roman Cavalry choirs are singing (Corais da cavalaria romana estão cantando)
Be my mirror, my sword and shield (Seja meu espelho, minha espada e escudo)
My missionaries in a foreign field (Meus missionários em um campo estrangeiro)
Quando os sinos de Jerusalém tocam, algo importante aconteceu. Nesse momento, a vida do narrador está de ponta-cabeça, com corais da cavalaria cantando. Desprotegido e em crise, ele precisa de um espelho para refletir e de espada e escudo para se defender. 
For some reason I can’t explain (Por algum motivo que não sei explicar)
Once you’d gone there was never (Desde que você se foi, nunca mais houve)
Never an honest word (Nunca houve uma palavra honesta)
That was when I ruled the world (Isso foi quando eu dominava o mundo)
Assim, ele não consegue compreender como perdeu o título. Mas ele mesmo afirma: desde que alcançou o poder, foi corrupto e desonesto. 
Quando esse refrão é repetido mais pra frente, eles acrescentam um verso:
I know Saint Peter won’t call my name (Eu sei que São Pedro não chamará o meu nome)
Ele fala da lista de nomes lida por São Pedro para entrar no céu. Dessa forma, reconhece que, quando morrer, irá para o inferno. Agora, entra a revolução e o conflito:
It was the wicked and wild wind (Foi o vento cruel e selvagem que)
Blew down the doors to let me in (Derrubou as portas para me deixar entrar)
Shattered windows and the sound of drums (Janelas estilhaçadas e o som de tambores)
People couldn’t believe what I’d become (O povo não podia acreditar no que eu havia me tornado)
Nessa descrição, ele conta como usou da força como tentativa de manter o poder. Com violência, janelas estilhaçadas e o som de tambores, ele se torna um tirano.
Revolutionaries wait (Revolucionários esperam)
For my head on a silver plate (Pela minha cabeça numa bandeja de prata)
Just a puppet on a lonely string (Apenas uma marionete numa corda solitária)
Oh who would ever want to be king? (Oh, quem jamais desejaria ser rei?)
Claramente, o monarca reconhece que o povo não o quer lá. Pensando ainda na referência francesa, o próprio Luís XIV foi decapitado, o que se relaciona bem com o verso revolucionários esperam pela minha cabeça numa bandeja de prata. 
Apesar de falar em primeira pessoa sobre o poder, a crítica é clara, né? Ainda tem o verso quem jamais desejaria ser rei? que reafirma isso. É um jeito super interessante de narrar uma revolução em uma música!

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