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Pediatria Thomás R. Campos Distúrbios Renais na Infância Medicina - UFOB GLOMERULONEFRITE DIFUSA AGUDA (GNDA) 1. O QUE É GLOMERULONEFRITE? É um processo inflamatório de origem imunológica que acomete todos os glomérulos de ambos os rins e cuja expressão clínica é uma síndrome nefrítica, caracterizando por hematúria, proteinúria leve, HAS e edema. 2. QUAL A DIFERENÇA DO EDEMA DE ORIGEM RENAL PARA O EDEMA DE ORIGEM CARDIOVASCULAR? O edema de origem renal é caracterizado por ser matutino e predominantemente em face. Na criança pode ser mais difícil de verificar o edema, uma dica é sempre olhar a região umbilical. Por mais que o abdome esteja plano, se o umbigo estiver estufado é sinal de edema. Já o edema de origem cardiovascular caracterizado por ser matutino e predominantemente em MMII. 3. QUAIS AS CAUSAS DE GLOMERULONEFRITE? 80% dos casos é pós-estreptococcica, causados por Estreptococos hemolítico do grupo A. O risco médio de desenvolver GNDA é de 15%, sendo que existem sorotipos mais comuns em diferentes apresentações: Pós-faringite (risco de 5%): Sorotipos M1,2,4 12,18 ,25 e 49. Pós-impetigo (risco de 25%): Sorotipos M2,49,55,57 e 60. *os sorotipos M2 e M49 são os mais nefrotóxicos, aparecendo nos dois casos A GNDA se relaciona com condições de higiene, clima quente e escabiose (porque é uma precursora importante das lesões de impetigo), atingindo mais pacientes do sexo masculino (proporção de 2:1) e é rara antes dos 02 anos de idade, tendo seu pico aos 07 anos. 4. QUAL O PERÍODO DE INCUBAÇÃO DA GNDA? Piodermite: 15 a 28 dias após a infecção. Faringoamigdalite: 7 a 21 dias após a infecção. Perceba que o desenvolvimento de GNDA é mais rápido pós-faringoamigdalite em comparação com a piodermite. Não se sabe o porquê. Vale relembrar que a maioria dos casos de GNDA se desenvolve pós-piodermite do que em casos de faringoamigdalite. Pediatria Thomás R. Campos Distúrbios Renais na Infância Medicina - UFOB 5. QUAL A ETIOPATOGENIA DA GNPE? O mecanismo fisiopatogênico da GNPE envolve deposição de imunocomplexos nos glomérulos, que ativa a cascata do complemento resultando em inflamação local mediada principalmente por neutrófilos, que liberam substâncias quimiotáxicas e proteases, alterando a membrana basal. O glomérulo fica obstruído, aumenta de tamanho e aumenta a quantidade de células epiteliais, fazendo com que a membrana se torne mais espessa. Junto com isso, começa a haver processo cicatricial, lesionando o glomérulo e diminuindo a taxa de filtração glomerular. Só que, à medida que o tempo passa, os componentes do complemento diminuem, e começa a haver reversão da lesão renal e o rim melhora de novo. Por isso que, com o médico ou apesar do médico, a maioria das GNDAs melhoram espontaneamente. O papel do profissional médico é dar suporte (intervir na hipertensão, anúria, etc). 6. QUAL A FISIOPATOLOGIA DA GNDA? A perda de barreira física dos capilares glomerulares, facilita a passagem de proteínas em pequenas quantidades (proteinúria leve), hemácias (hematúria) e leucócitos (piúria). Com a piora do processo inflamatório, ocorre redução da luz dos capilares, levando à menor filtração glomerular com retenção de ureia, creatinina, podendo evoluir para IRA. O sistema tubular funcionante aumenta a absorção de água, levando ao aumento do volume. 7. QUAIS COMPONENTES FORMAM A TRÍADE CLÁSSICA DO QUADRO CLÍNICO DE GNDA? Edema (80% dos casos inicia-se na face) Hipertensão arterial (60% encefalopatia hipertensiva) Hematúria (apenas 30% é macroscópica) Pediatria Thomás R. Campos Distúrbios Renais na Infância Medicina - UFOB 8. QUAIS EXAMES PODEM AUXILIAR O DIAGNÓSTICO DE GNDA? EAS: densidade normal ou aumentada, proteinúria leve, hematúria, piúria e cilindros leucocitários. Hemograma: anemia dilucional (porque a água que não foi pra urina, fica no sangue). Uréia e Creatinina: aumentadas no caso de IRA. ASLO (antiestreptolisina O): positivo em 90% pós-faringoamigdalites e 50% pós- piodermites. Complemento: c3 diminuído, c5 levemente diminuído e c4 normal. Complemento total diminuído (às custas dos c3 e c5 diminuídos) Biópsia indicada em casos de: Anúria ou oligúria importante > 7 dias. Proteinúria nefrótica por > 4 semanas. Hipertensão ou hematúria macroscópica > 6 semanas. Níveis baixos de complemento > 8 semanas. 9. QUAL O TRATAMENTO DA GNDA? Restrição hídrica: 20 mL/kg/dia 1° dia, após 20 mL/kg/dia + diurese do dia anterior. Ex: -Paciente pesa 15 kg Dar 300 mL de água -No dia seguinte ele faz 100 mL de urina dar 300 mL + 100 mL = 400 mL *Se o paciente perder 1 kg no dia seguinte, calcular (14*20) = 280 mL. Chega uma hora que o paciente vai estabilizar o peso, aí você diminui o diurético e vê se o paciente continua fazendo xixi. Dieta Hipossódica. Restrição proteica, se uréia > 100 mg/dl. Furosemida (DIU): 1 a 4 mg/kg/dia. Nifedipina (BCC): 0,2 a 0,4 mg/kg/dose, de 3 a 4 h (picos hipertensivos). Captopril (IECA): 0,2 a 0,5 mg/kg/dose, de 12/12 h. Penicilina benzatina: erradicar o estreptococcos. O tratamento preconizado é: usar furosemida para fazer a diurese, anotar essa diurese a cada 24h e iniciar o captopril em paciente hipertenso. A nifedipina deve ser utilizada nos picos hipertensivos. Pediatria Thomás R. Campos Distúrbios Renais na Infância Medicina - UFOB 10. QUAL O PROGNÓSTICO DA GNDA? 95% tem remissão espontânea, 5% evoluem para IRC (GNRP). A recidiva é rara, é muito difícil a pessoa ter GNPE duas vezes na vida. É importante ressaltar que a hematúria microscópica pode perdurar por até 12 meses, o complemento por até 8 semanas e a proteinúria sub-nefrótica por 2 até 5 anos.
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