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Continuação - fazer o problema - 01022020

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UNIVERSIDAD AUTONÓMA DE ASUNCIÓN
FACULTAD DE CIENCIAS DE LA EDUCACIÓN Y 
 LA COMUNICACIÓN
MAESTRÍA EN CIENCIAS DE LA EDUCACIÓN
 
ESTUDO SOBRE A EDUCAÇÃO E SISTEMA PRISIONAL: UMA REFLEXÃO SOBRE O ENSINO VOLTADO A POPULAÇÃO PRISIONAL NA CIDADE DE MANAUS/AMA-BRASIL
Gabriela Caldas Rodrigues 
Assunción, Paraguay
2020
Gabriela Caldas Rodrigues 
ESTUDO SOBRE A EDUCAÇÃO E SISTEMA PRISIONAL: UMA REFLEXÃO SOBRE O ENSINO VOLTADO A POPULAÇÃO PRISIONAL NA CIDADE DE MANAUS/AMA-BRASIL
Tese apresentada, defendida e aprovada para curso de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Ciências Jurídicas Política e de Comunicação da Universidade Autônoma de Assunção como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação.
 Orientadora: Prof. Dr. Luiz Ortiz Jimenez
Assunción, Paraguay
2020
	
Gabriela Caldas Rodrigues 
Estudo sobre a educação e sistema prisional: uma reflexão sobre o ensino voltado a população prisional na cidade de Manaus/Am-Brasil
Asunción (Paraguay)
Tutor: Prof. Dr. Luis Ortiz Jiménez.
Tese de Mestrado em Ciências da Educação. p.– UAA, 2020.
Palavras Chave:
1. Educação 2. Ressocialização 3. Prisional 4. Penal 5. Liberdade
Gabriela Caldas Rodrigues 
ESTUDO SOBRE A EDUCAÇÃO E SISTEMA PRISIONAL: UMA REFLEXÃO SOBRE O ENSINO VOLTADO A POPULAÇÃO PRISIONAL NA CIDADE DE MANAUS/AMA-BRASIL
Esta tese foi avaliada e aprovada para obtenção do título de Mestre em Educação, pela Universidade Autónoma de Asunción- UAA 
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“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. 
Paulo Freire
AGRADECIMENTO
A ansiedade e desejo de concluir esta jornada foi tão importante quanto à esperança e a confiança depositada naqueles que fazem parte da minha vida, pois o caminho é tortuoso e os obstáculos não são fáceis. Mas o desejo de cumprir meu objetivo, e não desapontar tantos olhares esperançosos na minha vitória me fizeram chegar aqui. 
Por isso primeiramente agradeço a Deus, fonte de toda sabedoria, força valiosa de amor, a quem devo toda honra e toda glória, sem o qual não sou nada, pois se aqui cheguei é porque até aqui me ajudou o senhor e este é o motivo de minha alegria. Ao meu orientador professor Dr. Luís Ortiz Jiménez a oportunidade de tê-lo como orientador. Agradeço pela confiança, paciência nas correções desse trabalho. 
Também àqueles que, encontrei nesta caminhada amigos de jornada que se fizeram amigos da vida Edson Júnior, Simara Abrantes, Claudio Abrantes, Regilaine Amazonas , Elexandra Lacerda, Joana Saraiva e Ruth Santos, e que sabem a minha admiração e gratidão. 
A minha amiga Mary Jane Pinheiro que soube dividir comigo sua experiência e conhecimentos teóricos me ajudando a concluir esse trabalho. 
A todos que se fizeram presentes em cada momento, em cada conquista e em cada dificuldade encontradas ao longo desta jornada onde também incluo a promotora Maria Jose pela dedicação de cada informação. 
SUMÁRIO
Lista	 de Tabelas ............................................................................................................................
Lista de Figuras	
Lista de Abreviaturas	
Resumo ........................................................................................................................................
Resumem ......................................................................................................................................
INTRODUÇÃO A INVESTIGAÇÃO .........................................................................................
1. MARCO DE REFERÊNCIA	
1.1 Breves Considerações Sobre o Sistema Prisional Brasileiro .......................................	
1.2. Marco Legal da Educação nas Instituições Penais do Brasil.......................................	
1.3. Os Índices de Presos Envolvidos em Atividades Educativas ......................................	
1.4. Contexto Histórico Sobre as Primeiras Políticas de Assistência Educacional Penal.	
2. Cenário Atual da Educação no Sistema Prisional do Amazonas ..................................	
2.1. As Primeiras Escolas Penitenciárias do Amazonas ......................................................	
2.2.O Perfil Educacional dos Apenados do Amazonas .......................................................	
3. A Educação Como Estratégia de Ressocialização ..............................................................	
3.1. Qual a Importância da Educação no Sistema Prisional ........................................................	
4. Os Desafios para Garantir o Direito à Educação no Sistema Prisional .............................	.
4.1. As perspectivas dos Docentes Acerca do Sistema Prisional .............................................	...
4.2. Educar para libertar: Uma Perspectiva para Além das Grades .............................................	
 5. MARCO METODOLÓGICO	
2.1. Justificativa da Investigação	
2.2. Problema da Investigação	
2.3. Objetivos da Pesquisa	
2.3.1. Objetivo Geral	
2.3.2. Objetivos Específicos	
2.4. Desenho Metodológico	
2.5. Desenho, Tipo e Enfoque da Pesquisa	
2.6. Contexto Espacial e Socioeconômico da Pesquisa	
2.6.1. Delimitação da Pesquisa	
2.8. Participantes da Pesquisa 	
2.8.1. Professores do AEE	
2.8.2. Professores da Sala Regular 	
2.8.2. Alunos com deficiência visual	
2.9. Técnicas e Instrumentos da Coleta de Dados	
2.9.1. Entrevistas	
2.10. Procedimento para Coleta de Dados	
CAPÍTULO 3: DADOS E CONCLUSÕES	
3. ANÁLISE DOS RESULTADOS	
3.1.	
3.2.	 
3.3.	
CONCLUSÕES	
SUGESTÕES	
REFERÊNCIAS	
ANEXOS	
LISTA DE TABELAS
TABELA Nº 01 – Participantes da Pesquisa	
TABELA Nº 02 – Técnicas qualitativas utilizadas na pesquisa	
	
LISTA DE FIGURAS
FIGURA Nº 1: Sistema Prisional Brasileiro ..........................................................................	
FIGURA Nº 2: Histórico das vagas de Ensino e dos Presos Estudando no Estado do Amazonas ................................................................................................................................	
FIGURA Nº 3: Percentual de Detentos Estudando por Unidade da Federação ..........................
FIGURA Nº 4: Oferta Educativa em Manaus ............................................................................
FIGURA Nº 5: Direitos Assegurados na Legislação Nacional e Local 	
FIGURA Nº 6: Perfil dos Estabelecimentos Penais do Estado do Amazonas 	
FIGURA Nº 7: População Carcerária: Presos e Presas do Estado do Amazonas.	
FIGURA Nº 8: Oferta de educação do Estado do Amazonas ................................................	
FIGURA Nº 9: Perfil Educacional dos Presos e Presas .........................................................	
FIGURA Nº 10: Perfil Educacional dos Presos em Porcentagem .........................................	
FIGURA Nº 11: Números de Presos Inscritos no ENEM ......................................................	
FIGURA Nº 12: Sistema de Registros da Oferta de Educação em Prisões ...........................	 
LISTA DE ABREVIATURAS
CNJ – Conselho Nacional de Justiça 
COSIPE – Coordenadoria do Sistema Penal 
DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional 
EJA – Educação de Jovens e Adultos 
ENEM – Exame Nacional para o Ensino Médio 
ENCEJA - Exame Nacional para Certificação de Competência de Jovens e Adultos 
FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação 
INFOPEN - Informações Penitenciárias 
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
LEP- Lei de Execuções Penais 
MEC – Ministério da Educação 
PARFOR – Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica 
PROUNI – Programa Universidade para Todos 
PRONASCI - Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania 
SEAP – Secretaria de Administração Penitenciária 
SEDUC – Secretariade Estado de Educação e Qualidade do Ensino 
SEJUS – Secretária de Justiça e Direitos Humanos 
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
RESUMO
RESUMEM
INTRODUÇÃO À INVESTIGAÇÃO
MARCO DE REFERÊNCIA
1. Breves Considerações Sobre o Sistema Prisional Brasileiro 
Nesta sessão busca-se fazer uma análise acerca de importantes aspectos relacionados ao sistema prisional brasileiro, destacando os aspectos legais que regem a educação dentro deste sistema, enfatizando as primeiras legislações que tratam da garantia de direitos educacionais direcionados a população carcerária do país.
Nesta sessão buscou-se ainda demonstrar a realidade que permeia o sistema educacional prisional, neste caso, discorrendo sobre como se desenvolve o projeto educativo nas prisões, assim como o envolvimento dos presos no que se refere o processo educacional.
Por fim, nesta parte trata-se ainda, sobre o contexto histórico da implantação de políticas de assistência educacional que já foram utilizadas, como também, as que estão em funcionamento nas instituições penais e sua importância para o desenvolvimento pessoal e profissional do encarcerado. 
1.1. Marco Legal da Educação nas Instituições Penais do Brasil
Nos últimos anos o sistema penitenciário brasileiro, passou por inúmeras mudanças. Entretanto, Melo (2016, p. 2), afirma que, “historicamente a construção dos regimes penitenciários por muitos séculos não atenderam ao projeto de ressocialização proposta pelo sistema prisional”. A mudança surge já no século XX onde foi sancionada a Lei 7.210 de 11 de julho de 1984, que ficou conhecida como a Lei de Execução Penal e a partir de então, os objetivos ultrapassam o contexto punitivo do apenado, isso implica em dizer que mesmo sendo um transgressor da lei, o apenado, finalmente é constituído como um ser de direitos. 
Neste sentido, observa-se que cabe ao Estado garantir, além de assistência, preparação para que este indivíduo seja reinserido ao convício da sociedade. Sendo assim, a LEP surge como um diferencial, pois enfatiza que a educação e o trabalho são determinantes para o pleno retorno do sujeito, privado de liberdade, na sociedade. Considerando as ideias de Duarte e Pereira (2018), a Lei de Execução Penal foi um divisor de águas, quando se trata das questões de direitos e garantia à educação, tendo como público a população lação carcerária. Sendo assim, a Lei nº 7.210/1984, de execução penal, determina que:
A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado. Art. 18. O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando- -se no sistema escolar da Unidade Federativa. Art. 19. O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico. Art. 21. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de uma biblioteca para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos (Brasil, 1984, p. 15).
Entende-se que foi a partir da substituição das Normas Gerais de Regimento Penitenciário (Lei n° 3.274/1957) pela Lei de Execução Penal (Lei n° 7.210/1984), inaugura-se uma nova fase na história da execução penal do Brasil.
Para Reginaldo (2017), a LEP surge como alternativa interessante, pois, seu objetivo buscava contornar o cenário caótico vivenciado pelas instituições penais à época de sua criação. Era preciso, portanto, fazer das prisões locais que fossem dignos de acolhimento, além de promover a ressocialização e recuperação social dos internos, isso só seria possível através de tratamento digno aos presos, tendo como retaguarda o amparo legal do Estado garantindo irrestrito apoio nas principais áreas de forma sistêmica, neste caso: saúde prisional, assistência educacional e trabalho prisional.
Diante desta premissa, é fato que as condições que foram pensadas pela lei, no intuito de que as cadeias se reformulassem e se tornassem locais de plena ressocialização, ainda não se concretizou de forma plena, embora alguns importantes avanços tenham ocorridos nas últimas décadas. E para que isso, aconteça é crucial que os presídios projetados de tal maneira que contemplem das necessidades mais básicas até as mais complexas, exigidas para que o apenado tenha sua pena cumprida de forma digna. Isso quer dizer que as acomodações prisionais devem contemplar, dentre outras questões, espaços de saúde, de trabalho e educação, bem como acomodações que tanto promovam a segurança, evitem fugas, mas propiciem aos presos uma vida digna dentro das necessidades básicas humanas (Lopes, 2019).
A respeito da Lei de Execuções Penais, está possui o aparato que determina todo o processo punitivo regido nas instituições prisionais, assim como, designa quais órgãos devem ser responsáveis pela efetivação da pena no território brasileiro. Portanto, a LEP é elemento fundamental e indispensável na garantia dos direitos do apenado, enquanto provado de liberdade. A este respeito Boiago (2014, p. 103), enfatiza que:
Mesmo sendo um documento anterior a década de 1990, por estar em vigor ainda hoje, é considerado essencial na garantia do direito à educação no sistema penal. Educação e trabalho são considerados elementos fundamentais para a ressocialização, reeducação e reinserção social dos sujeitos presos e egressos. De acordo com a Lei de Execuções Penais, o Estado é o órgão responsável por ofertar esses serviços, tendo como objetivo a prevenção do crime, orientando o retorno do recluso à convivência em sociedade.
Tal afirmação, endossa a importância da Lei de Execução Penal no que se refere a garantia de direitos da população prisional, entre estes acrescenta como essencial o direito à educação dentro das dependências dos sistemas prisionais, uma vez que, vem colaborar de forma significativa na ressocialização dos sujeitos considerados transgressores da lei. Ainda sobre este argumento, o parecer do Ministério da Educação (2016, p. 8) “ratifica que a presente legislação é responsável por coibir o excesso ou até mesmo coibir os equívocos da execução penal, que por ventura venha ser maliciosos para a humanidade e ainda da dignidade da execução”. 
A Lei de Execução Penal torna expressa a extensão de direitos constitucionais aos presos e internos, assegurando também condições para que os mesmos possam desenvolver-se no sentido de reinserção social como o afastamento de inúmeros problemas surgidos com o encarceramento. Como os principais direitos de índole constitucional, são reconhecidos e assegurados, dentre outros: o direito à vida; o direito à liberdade de consciência e convicção religiosa; o direito de instrução; o direito de assistência judiciária; o direito às atividades relativas às ciências, às letras, às artes e à tecnologia, etc (MEC, 2016, p. 08). 
Neste cenário, compreende-se ainda que a Lei de Execução Penal deve garantir que, nas dependências penais haja salas de aula, trabalho, além de recreação e prática esportiva. Com relação as salas de aula, estas devem ser voltadas à educação básica e ensino profissionalizante. Cabe ressaltar ainda que tudo isto consta no Art. 8 da Lei de Execução Penal, embora a exigência das salas de aula tenha sido acrescentada com a referida lei pela Lei nº 12.245/2010 que altera o artigo 83 da presente lei.
Atualmente, o sistema penitenciário brasileiro é composto por 821cadeias públicas, estas são voltadas ao recolhimento de pessoas detidas de forma provisória. Cabe ressaltar que concernente a tipologia acerca dos estabelecimentos penais, o Conselho Nacional de Justiça (2016), descreve que estes estão geralmente associados basicamente a sua finalidade. Assim sendo, a Lei de Execuções Penais define a penitenciária como, uma unidade reservada a pessoas apenadas, fadadas a cumprirem pena em regime fechado, por outro lado, as colônias agrícolas ou equivalentes são específicas para presos do regime semiaberto, já a casa do albergado se destina aos presos do regime aberto. Nestamesma configuração se encaixam os hospitais de custódia, os quais se destinam aos presos com diagnóstico mental, e que foram considerados “inimputáveis ou semi-imputáveis”. 
1.2. A realidade do sistema prisional brasileiro 
Para Lopes (2019), o cenário atual do sistema prisional brasileiro, não condiz com o que prevê a legislação vigente, a qual determina que é direito do apenado dispor de condições dignas para cumprir sua pena. Ao contrário disso, as cadeias hoje parecem mais com grandes depósitos de gente, que se amontoam em espaços minúsculos e insalubres, expostos a todo tipo de doenças e, vivendo e sendo tratados como animais, por isso, não poderiam tornar-se fruto diferente deste, pois através da antropologia e sociologia já se sabe que o homem só é homem porque é ensinado a sê-lo. O resultado desse infortúnio, recai em superlotação, fugas em massas, rebeliões, tráficos e consumo de drogas, nas dependências das prisões, reincidências, e todo esse emaranhado de problemas serviram de combustível para os crescentes índices da população carcerária do país. 
FIGURA Nº 01: Sistema prisional brasileiro.
	População prisional 
	726.712
	Sistema penitenciário 
	689.510
	Secretarias de segurança/carceragens/delegacias 
	36.765
	Sistema penitenciário federal 
	437
	Vagas 
	368.049
	Déficit de Vagas 
	358.663
	Taxa de ocupação 
	197,4%
	Taxa de aprisionamento 
	352,6
Fonte: Ministério da Justiça, (2017).
Os dados em evidência comprovam os argumentos de Lopes (2019), basta fazer um comparativo entre a oferta e o déficit de vagas, e perceber que este é um dos fatores que têm contribuído para que os presos vivam em condições sub-humanas. Este problema somado ao quadro de violência vivenciado no Brasil, em consonância com a precariedade de direitos como educação e saúde perante grande parte do povo brasileiro evidenciam que o problema da gestão pública dos presídios precisa contar com o apoio de outros setores para ser complementarmente elucidado.
Infelizmente, a realidade do sistema carcerário do Brasil, ao contrário de seu real objetivo, que é ressocializar e garantir o retorno do apenado à sociedade, tem vivido uma crise sem precedentes. Dentro deste contexto, Silva (2017, p. 23), enfatiza que:
Tal sistema vivencia diariamente situações de rebeliões, disputas entre facções rivais, e violência de todos os tipos. Para o autor, essas ações têm se destacados como fatores cruciais para os altos índices de violência nas prisões, e que colaboram para que imperem a impunidade e desrespeito à dignidade e à vida humana. 
Contrariando os argumentos descritos acima, Teixeira (2014, p. 13-14), ― afirma que a realidade dos presídios brasileiros é péssima e “crise é a ruptura de um certo equilíbrio, momento perigoso e decisivo e que corresponde a um certo intervalo temporal ou a interrupção de um período de normalidade”. Mas, o que ocorre hoje nos estabelecimentos penais do país, não é algo novo, e que tais problemas sempre existiram desde o surgimento das primeiras prisões, além disso, o sistema carcerário nunca cumpriu com seus objetivos, considerando que no decorrer de todo esse tempo, os problemas sempre foram os mesmos, rebeliões, tráfico de drogas, superlotação, falta de higiene, dentre outros. O autor acrescenta ainda que, os problemas existentes no sistema carcerário estão longe de serem sanados, pois, já virou uma situação crônica. 
Na visão do Conselho Nacional do Ministério Público (2016, p. 31), “há uma crise no sistema prisional brasileiro, onde as consequências refletem no “esvaziamento da execução penal”. Tal fato afeta de forma negativa os direitos básicos daqueles que se encontram em cumprimento penal, pois, as condições legais para o adequado resgate da pena não estão em conformidade com o regime fixado, os critérios disciplinares não são implementados de maneira correta. Tudo isso tem gerado aos apenados, do sistema prisional brasileiro, situações famigeradas de injustiça penal.
Tendo em vista, o acirramento da crise no sistema prisional do país, o Supremo Tribunal Federal, no ano de 2015, ratificou o “estado de coisa inconstitucional” que trata acerca da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental 347, a qual dentre algumas medidas estabelece o cumprimento das audiências de custódias, além da efetivação do saldo acumulativo do Fundo Penitenciário Nacional, afim de que fosse aplicado em suas reais finalidades. 
Para o Conselho Nacional do Ministério Público (2016, p. 32), “acerca do estado de coisas inconstitucional, percebe-se que a crise no sistema prisional se deve, principalmente ao pouco ou quase nenhum interesse político nessas questões”. Diante disto, ocorre a falta de esclarecimento sobre a temática, assim como um entendimento de que a pauta não tem relevância, sob o ângulo político, gerando um olhar equivocado sobre como se deve tratar esta pauta, que é tão importante para a sociedade atual. 
Considerando esses fatores, conclui-se que o descaso com o sistema prisional contribui para muitas outras violações de direitos e atinge tanto o cenário masculino quanto o feminino. Mas no caso das mulheres apenadas ocorre que: 
É possível observar um abandono de duas ordens, a primeira por parte do Estado, na linha acima explicitada, e a segunda de caráter social. Esta pode ser constatada nos dias reservados às visitas na PFDF. Em evidente contraste com as unidades prisionais que abrigam condenados do sexo masculino, as filas são pequenas e um reduzido número de internas possui visitantes assíduos. São raros os casos em que cônjuges buscam manter contato com mulheres presas, pois muitas delas acabam sendo esquecidas, negligenciadas até mesmo pelas próprias famílias (Conselho Nacional do Ministério Público, 2016, p. 33).
Vale lembrar que segundo o artigo 5º da Constituição Federal “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. Infelizmente no atual sistema do país o que é notório, são presídios superlotados, ou seja, grande parte destes estão com sua capacidade muito além do que prevê a legislação, por isso, não é difícil constatar que os direitos dessa população há muito tempo vêm sendo transgredidos.
Levando em consideração os direitos da pessoa apenada, Filho et al (2014), descreve ainda que, a realidade prisional brasileira vive um cenário caótico, onde essa população vivência as mais diversas formas de violação de seus direitos fundamentais, uma vez que, os espaços penais, são cada vez mais precários, marcados por problemas de todas as ordens, tais como: superlotação, rebeliões em massa, escassez de profissionais qualificados, falta de assistência básica, principalmente na área de saúde. Por fim, na área da educação o quadro não muda, e embora a Lei de Execução Penal, garanta os direitos à pessoa em situação de privação de liberdade, esses direitos ainda estão muito aquém de sua real efetividade.
Nesta mesma perspectiva, é relevante mencionar que o conceito de ressocialização não fica em evidência na Lei de Execução Penal, mas o Art. 1º, desta Lei, descreve que seu objetivo é viabilizar condições para integração social do condenado. Neste caso Costa (2014, p. 66), destaca que:
O Art. 3º prevê que os indivíduos privados de liberdade, são detentores de todos os direitos. Portanto, se a constituição garante, no Art. 205, que a educação é um direito de todos e um dever do Estado, portanto, “todos”, sem distinção, são sujeitos de direito.
Diante de todo o contexto, que envolve a ineficiência dos presídios brasileiros, percebe-se que sua essência não está em preparar o indivíduo para ser reinserido socialmente, mas em castigá-lo. Considerando este argumento Costa (2014), afirma que, na atual situação que se encontram grande parte dos estabelecimentos penais, nada se pode aproveitar em benefício dos apenados, muito pelo contrário, toda essa problemática vivenciada pelos presos tem sérias consequências para o cumprimento de sua pena. Tais problemáticas têm significativo impacto na educação deste apenado, pois, em virtude de todos os problemas vivenciados no ambiente prisional,o exercício da individualidade e da reflexão, fazem com que a educação fique reduzida em seu potencial de transformação das pessoas privadas de liberdade, o que interfere negativamente na prática educativa. 
1.3 Os índices de presos envolvidos em atividades educativas
Segundo dados estatísticos do Ministério da Justiça (2016), o número de presos que fazem alguma atividade educativa, no Brasil, é ínfima, o que pede medidas urgentes de implementação de políticas que garantam a esse público o direito que lhes cabe, no que se refere à educação. Para isso, o parecer 04/2010 do Conselho Nacional de Educação/Câmara Nacional de Educação Brasileira - CNE/CEB que trata que trata das Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais, reconhece que o acesso à educação, nos estabelecimentos prisionais não é tida como prioridade. 
Dados do Ministério da Justiça (2016), demonstram que o quantitativo de internos que desenvolvem alguma atividade escolar no Brasil ainda é muito pequeno diante da demanda que existe, o que leva à conclusão que é indispensável a implementação de políticas que garantam o direito à educação. Neste caso, o parecer 04/2010 do Conselho Nacional de Educação/Câmara Nacional de Educação Brasileira - CNE/CEB que trata das Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais, reconhece que, ainda hoje, quando se trata da educação tendo como público pessoas em conflitos com a lei, esta ainda é entendida como privilegio, ou seja, um direito não relevante para este público. 
Diante disto, é importante entender que a educação é um direito garantido por lei, inclusive em esfera internacional, a todos sem distinção, inclusive àqueles que estão momentaneamente privados de liberdade, no caso os presos. Infelizmente quando se fala das pessoas que estão encarceradas, esse direito parecer não ter o mesmo efeito, a nível de reconhecimento, e é ainda mais incisivo para essa parcela da população. Novo (2017), acrescenta ainda que, para os condenados da justiça brasileira, o direito à educação de qualidade esbarra em muitos percalços, o que dificulta ainda mais o acesso, desses presos, ao ensino de qualidade, direito tão essencial a qualquer outro cidadão. 
Considerando as pesquisas provenientes do Portal Brasil (2014), estes concluíram que que a cada dez presos somente um se propõe em participa de atividades educacionais, 66% da população presidiária não concluíram o ensino fundamental, menos de 8% têm ensino médio e a mesma proporção é analfabeta. Uma parcela considerando dos encarcerados, têm menos de trinta anos, de baixa escolaridade, que por algum motivo não conseguiram concluir seus estudos, mas sabe-se que um dos grandes empecilhos para que os estudos tenham sido interrompidos diz respeito ao envolvimento no mundo do crime. Daí a necessidade de um trabalho minucioso dentro das penitenciárias, a partir de projetos educacionais que estimulem os educandos à compreensão do seu papel como sujeitos históricos e sociais.
No contexto do Estado do Amazonas, segundo dados do Conselho Nacional do Ministério Público (2019), o número de presos envolvidos em atividades educativas é muito flutuante, o que demonstra que em determinados períodos há certo crescimento no percentual de aproveitamento de vagas de ensino, seguido, porém, de uma acentuada queda em termos percentuais, de acordo com o que evidencia a figura 2. 
FIGURA Nº 02: Histórico das vagas de ensino e dos presos estudando no Estado do Amazona
Fonte: Fonte: SIP/MP (2019) 
Com isso, constata-se que é fundamental que haja mudanças em todo o sistema prisional, onde o apenado seja verdadeiramente levado a uma reflexão sobre as consequências de seus atos, e dessa forma volte à convivência da sociedade de forma plena e digna. Para Costa (2014, p. 64):
É necessário mudar-se a cultura, o discurso e a prática para compatibilizar a lógica da segurança (de cerceamento) com a lógica da educação (de caráter emancipatório), pois ambas são convergentes quanto aos objetivos da prisão: o cumprimento da pena e a reintegração social ou ressocialização dos sujeitos privados de liberdade.
Além disso, outro fator relevante no que diz respeito ao índice de presos que estão inseridos em atividades educacionais, para o Conselho Nacional do Ministério Público (2019), o quantitativo de presos que estão estudando nos estabelecimentos penais do Estado do Amazonas representa 5,38% (cinco vírgula trinta e oito por cento) da população carcerária, o que o coloca com o penúltimo Estado da Federação em total de presos com atividades educacionais, de acordo com a figura 3.
FIGURA Nº 3: Percentual de detentos estudando por Unidade da Federação
Fonte: Fonte: SIP/MP (2019)
No que se refere as alternativas possíveis de mudanças, Andrade e Ferreira (2015), apontam que existem muitas mudanças a serem realizadas, para que o sistema carcerário tenha atuação eficiente juntos aos apenados. Para que isso aconteça é crucial uma articulação ente as instituições do Legislativo, o Judiciário e os Governos, o que não existe no sistema prisional atual, além disso, existe no país uma cultura de que manter um indivíduo preso é o mesmo que manter um problema afastado da sociedade.
Diante desses fatos é preciso entender que, nestas circunstâncias, quando o apenado é condenado e encarcerado no atual ambiente dos presídios brasileiros, ele retorna da mesma forma, ou até mesmo pior do que entrou, o que nos leva à conclusão que este vai continuar sendo um problema à sociedade. Portanto, é de suma importância que haja ações que atuem diretamente nos problemas das penitenciarias brasileiras, para que o preso tenha condições de voltar à sociedade recuperado e ciente de seu papel como cidadão.
 
1.4 Contexto Histórico sobre as Primeiras Políticas de Assistência Educacional Penal 
Diante dos diversos problemas que o sistema prisional do país vem enfrentando ao longo das últimas décadas, é importante destacar que, algumas medidas têm sido bastante relevantes e tem apresentado, mesmo que timidamente, alguns resultados significativos. Especificamente no que se refere as políticas educacionais, estas têm o objetivo de combater as desigualdades sociais, assim como, incentivar a equidade, tendo em vista a importância que tem a educação diante desses fatores, e também por se tratar de um direito garantido, pela constituição brasileira a todos os indivíduos sem distinção. Considerando a importância da efetivação da garantia de direitos dos presos, assim como o acesso à educação. Ribeiro (2017, p. 53), apresenta o seguinte argumento:
Um dispositivo importante que busca garantir os direitos dos indivíduos presos, é o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, que dentre outras medidas, fixou em 1994 a resolução nº 14, que aborda as “Regras Mínimas para o Tratamento de Presos no Brasil”, documento que reserva capítulo específico para o direito de acesso à assistência educacional no sistema penitenciário. 
Historicamente, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária significou um importante marco para a educação dentro do ambiente carcerário, pois, os debates em torno dessa problemática, evidenciaram a necessidade urgente de implementação de políticas educacionais, nas penitenciárias brasileiras, por ser considerada uma alternativa bastante relevante no processo de ressocialização dos presos. 
O capítulo XII, da resolução 14 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária intitulado “Das instruções e assistência educacional”, no bojo do artigo 38 até o artigo 42 dispõe que: o preso disporá de assistência educacional consubstanciada em instrução escolar e formação profissional; a instrução primária será obrigatória para os presos que não a possuam, sendo o curso de alfabetização obrigatório para os analfabetos; a instalação de bibliotecas em todos os estabelecimentos prisionais e, querendo,ao preso será concedida autorização para participar de curso por correspondência (Ribeiro, 2017, p. 53).
No âmbito internacional, algumas ações também ganham expressiva notoriedade, nesse caso destaca-se o evento da V Conferência Internacional Sobre Educação de Adultos, que ocorreu em Hamburgo na Alemanha no ano de 1997 e foi promovida pela UNESCO, e contou com cerca de 1.500 representantes de 170 países, dentre estes o Brasil, que assumiu o compromisso de instituir projetos direcionados à educação nas dependências dos presídios brasileiros. Neste sentido Ribeiro (2017, p. 54) destaca que: 
No ano de 2011 foi apresentado, pelo governo federal, um conjunto de metas, para serem implementadas no prazo de dez anos. Entre os principais objetivos, desta proposta, estava a implantação em todas as unidades prisionais e nos estabelecimentos que atendam adolescentes e jovens infratores, programas de formação profissional e de educação de jovens e adultos de nível fundamental e médio.
Dessa forma, foi instituído o Plano Estratégico de Educação na esfera do sistema prisional, conforme o Decreto nº. 7.626, de 24 de novembro de 2011. Dentro deste plano muitas ações direcionadas a área educacional, nas prisões, foram implementadas, destacam-se, portanto, o Projovem Urbano Prisional; Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA), o Programa Brasil Profissionalizado; e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego.
O Projovem Urbano Prisional, foi implantado pelo governo federal no ano de 2005 e foi estabelecido pela lei n° 11.692 de 10/06/2008 e regulamentado pelo decreto n° 6.629 de 04/11/2008. Segundo Vigano e Laffin (2017), primeiramente o programa foi chamado de Projovem Original, o qual dispensava atenção aos jovens que tinha idade entre 18 a 24 anos, que tinham escolaridade limitada até a quarta série e que não tinham nenhum vínculo empregatício. 
No entendimento de Borba (2015), O Projovem Urbano se destacou como importante marco na promoção social dos indivíduos que estão em cumprimento de pena, isso devido ao potencial do programa em promover uma formação integral aos apenados. Desta forma, esta modalidade de ensino foi expandida para as instituições penais nos âmbitos estaduais e municipais e permitiu que os apenados tivessem acesso ao sistema educacional possibilitando, assim, mais uma oportunidade para que este preso retornasse à saciedade tendo maiores chances não reincidir em sua pena. 
No contexto prisional, Borba (2015, p. 54) afirma que:
O Projovem Urbano busca priorizar a contextualização da educação, onde o aluno é o agente principal de sua própria formação, buscando ainda promover o reposicionamento dos atores envolvidos neste processo. Assim sendo, entende-se que a educação em todas as situações, mas principalmente no cenário prisional, é um instrumento de grande importância na promoção de mudança de vida de seus participantes.
Infelizmente, é fato que o cotidiano das dependências das cadeias, no que se refere ao direito à educação, não condiz com a proposta das políticas públicas de educação, fato comprovado por Nascimento (2018), que traz à tona a triste realidade das pessoas apenadas, onde destaca que apenas 13% deste público estava inserido em alguma atividade de ensino formal ou demais atividades educativas. 
Para o Ministério da Educação (2014), esses baixos índices comprovam que as políticas públicas educacionais de uma forma geral estão muito aquém da realidade prisional brasileira, isso implica em dizer que, não há por parte das entidades responsáveis um olhar mais sensível no que diz respeito ao acesso à educação da população carcerária. 
Outro programa de grande importância, implementado para atuar também, nas dependências dos institutos penais brasileiros é conhecido como Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Conforme Moura (2015), correlaciona formação geral à educação profissional, quando dentro de sua diretriz, articula a modalidade Educação de Jovens e Adultos – EJA, nos ensinos fundamental e médio a cursos técnicos ou de qualificação profissional. Neste caso diz respeito a oferta de cursos em formato diferenciado que são viabilizados dentro da modalidade presencial semipresencial e a distância. 
Neste sentido compreende-se que o programa é uma política pública implantada pelo Ministério de Educação, através da Secretaria de Educação Tecnológica – SETEC, pelo Decreto 5.840 de 13 de julho de 2006. É importante enfatizar que Programa de Ensino de Jovens e Adultos, defende uma proposta educativa diferenciada tendo como peculiaridade atendimento especifico aos públicos das comunidades das zonas rural e urbana, podendo, ainda, desenvolver-se por meio de projetos voltados ao atendimento das classes consideradas minorias, dentre estes se destaca o Proeja prisional, direcionado as pessoas jovens e adultas que estava cumprimento pena nas instituições penais brasileiras.
Historicamente, a realidade da educação inserida dentro do contexto prisional do país, é marcada por fatores que comprometem negativamente sua efetivação. Considerando este argumento Moura (2015, p. 138) descreve que, “Na educação prisional, da realidade brasileira, historicamente, explicita a real problemática em que se insere a educação em prisões, dada à fluidez e à baixa incidência das medidas governamentais implementadas até o final do século XX no Brasil”. 
A partir da década de 2000, surgem as iniciativas relevantes no que diz respeito à deliberação de parâmetros voltados à educação no âmbito das instituições prisionais, priorizando os marcos legais criados para esta finalidade. 
Foi a partir da primeira década dos 2000 que se introduziram iniciativas importantes no tocante à definição de diretrizes a educação em prisões no país, especialmente no que se trata de marcos legais instituídos para esse fim. Primeiro, a inserção da educação em prisões no Plano Nacional de Educação - PNE. Segundo o Parecer nº 4/2010/CNE-CEB, que culminou na Resolução nº 2, de 19 de maio de 2010/CNE-CEB (que dispõem sobre as diretrizes nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais brasileiros). Terceiro, o Decreto 7. 626, de 24 de novembro de 2011, que institui o Plano Estratégico de Educação no âmbito do Sistema Prisional - PEESP. Todos eles representam avanços no que se refere à garantia de direitos de cidadania e às conquistas sociais relativas a esse público.
Em contexto mais atual, a educação prisional, nos remete ao Plano Nacional de Educação (LEI Nº 13.005/2014), com seus princípios e objetivos, principalmente acerca da meta nº 9, na estratégia 9.8, os quais recomenda assegurar a oferta de educação de jovens e adultos, nas etapas de ensino fundamental e médio, às pessoas privadas de liberdade em todos os estabelecimentos penais, assegurando-se formação específica dos professores e das professoras e implementação de diretrizes nacionais em regime de colaboração estratégia que discorre sobre a educação no sistema prisional. 
Considerando o contexto histórico das políticas educacionais, implementadas no decorrer das últimas décadas, entende-se que a história da educação brasileira, de modo geral, é marcada por lutas e muitas conquistas, que viabilizaram importantes avanços, principalmente na área prisional. 
Conforme Duarte e Pereira (2018), atualmente, foram instituídos novos parâmetros sobre o regimento e a oferta educacional nas dependências prisionais. Incialmente foi lançada a Resolução n° 3, de 11 de março de 2009 que demanda acerca das diretrizes nacionais para a oferta de educação nos estabelecimentos penais. Posteriormente surge a Resolução n° 2, de 19 de maio de 2010, que dispõe sobre as diretrizes nacionais para a oferta de educação escolar para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais. 
Vale ressaltar que as políticaseducacionais, em todas as suas nuances, conferem ao indivíduo inúmeras possibilidades de mudanças e crescimento de um modo geral. Portanto, a educação no sistema prisional pode representar a única oportunidade ao apenado de se desenvolver pessoal e socialmente, já que as condições atuais dos presídios não correspondem com o que propõe as diretrizes legais do setor. 
Portanto, conforme enfatiza Silva (2017), a educação prisional pode potencializar as habilidades, desenvolver o senso crítico, e o mais importante, é a oportunidade do apenado adquirir uma formação técnica e profissional, o que pode ser um diferencial deveras relevante no processo de reintegração dos reeducandos no mercado de trabalho, assim como na vida cotidiana e familiar, fatores que podem contribuir na formação de valores, pautando-se em princípios éticos e morais.
2. O CENÁRIO ATUAL DA EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL DO AMAZONAS 
Nesta segunda parte da presente pesquisa será destacado a realidade da educação prisional, tendo como enfoque principal o cenário do Amazonas, buscando compreender como se construiu e se consolidou a educação no âmbito prisional do Estado. 
Acerca desta sessão pode-se ainda, conhecer as primeiras escolas prisionais que foram implantadas, e alguns projetos que estão em funcionamento até os dias de hoje. Busca-se ainda compreender os desafios enfrentados para que a educação prisional fosse de fato, inserido, dentro deste contexto prisional.
Outra abordagem bastante relevante nessa segunda parte da pesquisa, diz respeito ao perfil educacional dos encarcerados do Amazonas. Neste aspecto, serão evidenciados o perfil educacional das pessoas que se encontram privadas de liberdade nas prisões do Estado do Amazonas, demonstrando assim, um quadro alarmante sobre a baixa escolaridade dessa população.
 
2.1 As primeiras escolas penitenciárias do Amazonas
 
Considerando o contexto geral da educação, sabe-se que sua história, ao longo dos séculos foi marcada por intensas lutas, principalmente para se tornar protagonista na construção de uma sociedade ciente de deus direitos perante a sociedade. Entretanto, conforme explica Garcia et al (2018), a luta pela conquista do direito à educação das pessoas que se encontram privadas de liberdade, ainda é muito recente, por isso, tem surtido pouco efeito. No caso do Amazonas educação no sistema prisional iniciou no século XX, com a criação da Escola Agnello Bittencourt, por meio do Decreto de Número 173, de 12 de maio de 1928, sendo publicado no Diário Oficial, Ano XXXV, Número 9.925, em 13 de maio de 1928. 
O objetivo da escola Agnello Bittencourt era alfabetizar os detentos, que tinham a obrigação de frequentar e seguir os estudos até o ensino primário completo, em conformidade com a aplicação e aproveitamento. Com o passar dos anos a designação dada ao local que estava instalada a escola sofreu diversas mudanças. A partir deste viés, Garcia e Souza (2019, p. 757), esclarecem que: 
No ano de 1928, a partir da lei sancionada pelo Presidente Ephigenio Ferreira Salles, passou a ser chamada de Casa de Detenção de Manaus. Em 1942 outra mudança aconteceu e a escola passou a se chamar Penitenciária Central do Estado, o que não agradou o governador daquela época, José Bernardino Lindoso, que sancionou Lei n° 1478 de 03 de dezembro de 1981, passando a ser denominada de Unidade Prisional Central. Em 1985, no mandato do então Governador Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo, foi sancionada a Lei nº 1694, de 15 de julho de 1985, na qual a Unidade Prisional Central passou a ser intitulada de Penitenciária Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, o que perdurou até 1999. 
FIGURA Nº 04: Oferta educativa em Manaus 
	1
	Penitenciária Feminina de Manaus/fechado – PFM
	2
	Unidade Prisional Semiaberto Feminino – UPSF
	3
	Centro de Detenção Provisória Feminino – CDPF
	4
	Complexo Penitenciário Anísio Jobim – COMPAJ/Fechado
	5
	Complexo Penitenciário Anísio Jobim – COMPAJ/Semiaberto
	6
	Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa/Masc. – CPDRVP
	7
	Instituto Penal Antônio Trindade – IPAT
	8
	Centro de Detenção Provisória de Manaus/Masculino – CDPM
	9
	Hospital de Custódia e Tratamento de Psiquiátrico de Manaus – HCTPM 
	10
	Unidade Prisional do Puraquequara - UPP.
Fonte: Garcia e Souza, (2019).
Segundo pesquisas de Saraiva (2018), a Escola Prisional de Manaus, é um importante sistema educacional direcionado à escolarização dos presos. Esta escola foi instalada no ano de 1999, é funciona nas dependências do prédio do Regime Fechado do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, situado na BR 174. A Escola Prisional conta com turmas distribuídas em outras penitenciárias da cidade, e foi uma das primeiras escolas a ofertar educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade. Outras unidades prisionais de Manaus oferecem atividades educativas aos presos, sendo elas: 
No que diz respeito às políticas públicas voltadas a educação dentro dos sistemas prisionais do Estado do Amazonas, é relevante destacar que, historicamente a educação nas prisões do Estado tem sua origem em meados do século XX. Neste período foi criada a Escola Agnello Bittencourt, que funcionava na Casa de Detenção de Manaus, na área central da cidade. Essa escola tinha o intuito de alfabetizar os presos, os quais tinham a obrigação de participar e continuar os estudos até o ensino primário completo.
Dentro desta perspectiva, conforme destacado pelo Plano Estadual de Educação nas Prisões (2015), a Secretaria de Educação e Qualidade de Ensino, oferta na modalidade de Educação de Jovens e Adultos para as instituições penais do Estado do Amazonas, através dos seguintes projetos:
· Programa Brasil Alfabetizado - PBA (Amazonas Alfabetizado); 
· EJA - Ensino Fundamental e Ensino Médio Presencial e Semipresencial; 
· Programa Projovem Urbano (arcos ocupacionais); 
· Exame Supletivo Eletrônico – SEA “off line” (sem internet) ou “on line” (com internet); 
· Expedição de certificação pelo Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM – PPL (desde 2010); 
· Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos – ENCCEJA – PPL - Ensino Fundamental (contar de 2013).
No cenário amazonense, no campo da educação, existe o Plano Estadual de Educação nas Prisões (PEEP – AM, 2012). Para Garcia e Souza, (2019), o PEEP-AM, foi criado com o objetivo de arrecadar suporte financeiro a expansão e qualificação da oferta de educação nas instituições penais do Estado, nos exercícios de 2012, 2013 e 2014. O PEEP – AM específica o trabalho pedagógico realizado dentro do sistema prisional fornecendo informações como: o diagnóstico das Unidades Prisionais, caracterização, histórico, dinâmica pedagógica, procedimentos de rotina, Planos de Ação e Práticas Pedagógicas. 
O Planos de Ação e Práticas Pedagógicas é apresentado como um documento fundamentado em preceitos morais sociais da “liberdade, na justiça social, na pluralidade, na solidariedade”, na restituição técnica e familiar, nas extensões social e individual de sujeitos cientes de seus deveres e direitos, comprometido com sua mudança social. Ademais o Planos de Ação e Práticas Pedagógicas, em consonância com a LDB9394/96, busca flexibilizar as práticas é os métodos, tendo em vista a carga horária, a avaliação e ação articulada ou não com a educação profissional, com projetos de atendimento à educação no âmbito prisional. Conforme Garcia et al. (2018, p.207) “a partir da figura 5 é possível compreender demonstra os direitos assegurados na Legislação nacional e local a partir dos dados gerais das duas pesquisas e do registro específico do primeiro estudo em relação a Unidade Prisional Semiaberto Feminino”.
FIGURA Nº05: Direitos assegurados na legislação nacional e local
	LEIS
	Direito Previsto
	PNE
	PEE-AM
	Plano de aula da
UPSF
	Constituição Federal
	Art. 205. A
educação,
direito de todos e
dever do Estado e
da família, será
promovida e
incentivada com a
colaboração da
sociedade, visando
ao pleno
desenvolvimento da
pessoa, seu preparo
para o exercício da
cidadaniae sua
qualificação para o
trabalho
	Art.2o São diretrizes do
PNE:
I - erradicação do
analfabetismo;
II - universalização do
atendimento escolar;
III - superação das
desigualdades
educacionais, com
ênfase na promoção da
cidadania e na
erradicação de todas as
formas de
discriminação;
	SEDUC- PEE/AM;
Garantir que no
Sistema Penitenciário
seja oferecida
educação como fruto
da articulação entre o
órgão responsável
pela administração
Penitenciária e a
Secretaria de
Educação, levando
em consideração as
Diretrizes Nacionais
para o Sistema
Penitenciário.
	Componente
Curricular: Ciências
Humanas
Disciplina: Língua
portuguesa
Tema gerador:
Reconhecer os limites
dos privados de
liberdade, leitura e
interpretação de textos
Objetivo: identificar os
gêneros textuais
propostos.
	Lei de Execuções Penais
	Art.17. A
assistência
educacional
compreenderá a
instrução escolar e a
formação
profissional do
preso e do
internado.
	Estratégias:
9.8) assegurar a oferta
de educação de jovens
e adultos, nas etapas de
ensino fundamental e
médio, às pessoas
privadas de liberdade
em todos os
estabelecimentos
penais, assegurando-se
formação específica
dos professores e das
professoras e
implementação de
diretrizes nacionais em
regime de colaboração;
	Implementar em
Unidades Prisionais e
nos estabelecimentos
que atendam
adolescentes e jovens
infratores, programas
de Educação de
Jovens e Adultos
oferecendo a
Alfabetização, Ensino
Fundamental, Ensino
Médio e outras
formas de ofertas,
garantindo a
formação para o
mundo do trabalho;
	Componente
Curricular: Linguagem.
Disciplina: Artes
Quando a arte e a
história se encontram:
fios e linhas; colagem
em M.D.F
Objetivo: incentivar as
reeducandas para o
desenvolvimento e
trabalhos manuais,
como forma de
reintegração à
sociedade.
	Lei de Diretrizes e Bases 
	Art. 2º A educação,
dever da família e
do Estado, inspirada
nos princípios de
liberdade e nos
ideais de
solidariedade
humana, tem por
finalidade o pleno
desenvolvimento do
educando, seu
preparo para o
exercício da
cidadania e sua
qualificação para o
trabalho.
	Meta 9: elevar a taxa de
alfabetização da
população com 15
(quinze) anos ou mais
para 93,5% (noventa e
três inteiros e cinco
décimos por
cento) até 2015 e, até o
final da vigência deste
PNE, erradicar o
analfabetismo absoluto
e reduzir em 50%
(cinquenta por cento) a
taxa de analfabetismo
funcional. Estratégias:
9.1) assegurar a oferta
gratuita da educação de
jovens e adultos a todos
os que não tiveram
acesso à educação
básica na idade própria;
	Garantir a oferta, o
acesso e a
permanência com
qualidade da
educação para jovens,
adultos e idosos com
distorção idade-série,
ampliando as
perspectivas de
trabalho, renda e de
participação políticosocial,
(...), em toda
rede de ensino,
inclusive no sistema
prisional;
	Componente
Curricular: Ciências
Humanas
Disciplina: Geografia
A estrutura política do
Brasil
Objetivo: reconhecer a
estrutura política do
Brasil, Identificar o
Brasil como uma
potência regional,
Identificar o Brasil no
cenário internacional.
	Constituição do Estado do Amazonas 
	ART. 199. O
Sistema Estadual de
Educação, integrado
por Órgãos e
estabelecimentos de
ensino estaduais e
municipais e por
escolas particulares,
observará, além dos
princípios e
garantias previstos
na Constituição da
República.
	Art. 8o Os Estados, o
Distrito Federal e os
Municípios deverão
elaborar seus
correspondentes planos
de educação, ou
adequar os planos já
aprovados em lei, em
consonância com as
diretrizes, metas e
estratégias previstas
neste PNE, no prazo de
1 (um) ano contado da
publicação desta Lei.
	Coordenar o processo
de implementação,
execução,
manutenção e
avaliação das
políticas públicas
para a educação no
Estado, nos diversos
níveis e modalidades
de ensino, observando
as Diretrizes
Nacionais e Estaduais
para jovens e adultos
em situação de
privação de liberdade
	Componente
Curricular: Ciências
Humanas
Disciplina: História
As origens dos estados
brasileiros
Objetivo: Conhecer
através da pesquisa a
origem do estado
brasileiro; Conhecer o
desenvolvimento do
governo português no
Brasil.
Fonte: adaptado de Garcia et al. (2018).
É possível que, segundo o Plano Estadual de Educação no Amazonas (2012), que a oferta educativa no Amazonas esteja entre as mais antigas, no que diz respeito ao sistema penitenciário do Brasil, tendo uma caminhada de 90 anos. Neste sentido Garcia e Souza (2019, p. 757) afirmam que: 
O Planos de Ação e Práticas Pedagógicas (2012), no item 3, intitulado “História da Educação nas Prisões do Estado”, narra que a primeira experiência de educação nas prisões do Estado do Amazonas teve início no século XX com a criação da Escola Agnello Bittencourt, por meio do Decreto N° 173, de 12 de maio de 1928. A referida escola estava instalada na Casa de Detenção de Manaus, sendo dirigida pelo capitão José Marques Galvão, estando situada na Avenida Sete de Setembro.
Nesta perspectiva Garcia et al (2018), acrescenta ainda que, no que tange ao Estado do Amazonas, a educação tem destaque, na Constituição do Estado embasada também pela Constituição de 1988. Embora o acesso e continuidade ao ensino básico sejam constituídos nos documentos oficiais, não há citação precisa em relação à educação no sistema prisional. Entretanto, a Constituição do Estado, prevê em seu capítulo 7, na primeira seção, nos artigos 198 e 199, o Estado tem permissão para assegurar e promover educação ao sistema prisional, pois, nos artigos são estabelecidos direitos ao ingresso de qualquer sujeito em instituições de ensino, os direitos dispostos nos artigos citados, são:
ART. 198. A educação, baseada nos princípios da democracia, da liberdade de expressão, da sabedoria nacional e do respeito aos direitos humanos, é direito de todos e dever do Estado e da família.
Parágrafo único. Como agente do desenvolvimento, a educação será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa para a elaboração e reflexão crítica da realidade, a preparação para o trabalho e para o exercício da cidadania. 
ART. 199. O Sistema Estadual de Educação, integrado por Órgãos e estabelecimentos de ensino estaduais e municipais e por escolas particulares, observará, além dos princípios e garantias previstos na Constituição da República, os seguintes preceitos: I - de observância obrigatória por todos os integrantes do Sistema: igualdade de condições para acesso e permanência na escola; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de ideia e de concepções pedagógicas; [...]
Diante desses princípios legais, Garcia et al (2018), afirmam que a educação é incentivada e promovida tendo a participação efetiva da sociedade, tendo o enfoque de desenvolver o pensamento crítico da situação atual, com isso, incentivar a prática dos direitos civis, políticos e sociais, ou seja, os princípios que embasam a Constituição do Estado, referente ao direito à educação no Estado do Amazonas, acrescenta-se as ações e objetivos que servem como base geral para sustentar as ações educacionais desenvolvidas a favor dos jovens e adultos privados de liberdade.
Informações obtidas por meio do Conselho Nacional do Ministério Público (2019), o Amazonas hoje conta com treze instituições prisionais, onde é viabilizada a assistência educacional aos internos, isso representa cerca de 76,47%, com aproveitamento de 83,86% de aproveitamento das vagas de ensino ofertadas. Sobre este viés é necessário mencionar que o Estado oferece apenas 663 vagas de ensino, o que significa a oportunidade de ensino e aprendizagem apenas para 6,8 de sua população carcerária. Para além do baixo quantitativo de vagas oferecidas, observa-se a seguinte estratificação do tipo de ensino ofertado, na Figura 2. 
FIGURA Nº06: Perfil dos estabelecimentos penais do Estado do Amazonas
	Estado
	Alfabetização
	Ensino Fundamental
	Ensino Médio
	Ensino Profissionalizante
	Ensino Superior
	Amazonas 
	29,41% 
	76,47%
	70,59%
	47,06%
	0%
Fonte: Sistema Prisional/Ministério Público, 2019
Quando se pensa no percentualde presos que estão em atividade educacional, nas instituições penais do Estado, segundo o Conselho Nacional do Ministério Público (2019), este percentual fica em torno de 5,8%. Tal fato, constata que o Amazonas fica com o penúltimo lugar em total de presos com atividades educacionais, da região norte.
Para Garcia e Souza (2019), os presídios da região norte do país, não diferem dos demais existentes no país, e nos últimos anos os problemas se intensificaram significativamente, e os presídios do Estado se transformaram em verdadeiras “bombas relógios”, sempre na iminência de explodir. As rebeliões de ocorridas no ano de 2017, no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, foi considerada um dos piores massacres da história envolvendo penitenciárias, e foi noticiado em rede nacional e internacional devido a gravidade da situação. Após o ocorrido o Conselho Nacional de Justiça instituiu o Grupo Especial de Monitoramento e Fiscalização, que tinha o intuito de atuar nos limites das competências constitucionais do Conselho Nacional de Justiça e acompanhar as inspeções das unidades prisionais do Estado. O resultado das fiscalizações constatou diversas irregularidades e problemas de todas as ordena nas dependências dos presídios, denunciando que o sistema penal do Amazonas se encontrava nas mesmas condições que os demais presídios do país.
2.2 Perfil educacional dos presos do Amazonas
O Estado do Amazonas é o maior em área territorial do País, com uma e uma área territorial (km²): 1.559.161,682, o equivalente ao território de cinco países, somados: França, Espanha, Suécia e Grécia. O Estado detém um dos mais baixos índices de densidade demográfica do país, com 2,23 habitantes por quilômetro quadrado, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A população do Estado, de acordo com o Censo 2010, tem 3.483,985 habitantes, dos quais 2.755.490 vivem na área urbana e 728.495 na área rural. A capital Manaus, um dos 62 municípios do Amazonas, é cidade mais populosa da Região Norte, com 1.802.525 habitantes.
Considerando os fatores sejam eles, sociais, culturais, políticos ou econômicos como a várias as causas que remete para a questão social no nosso país, na cidade Manaus não é diferente. Nesse sentido a população prissional cresce a cada dia. Figura 7.
FIGURA Nº07: População Carcerária: presos e presas do Estado do Amazonas
	Quantidade de presos no sistema penitenciário 
	Quantidade
	Presos provisórios 
	4.536
	Regime fechado
	1.543
	Regime semiaberto
	647
	Regime aberto
	-
	Medida de segurança – internação 
	18
	Medida de segurança – tratamento ambulatorial 
	-
	Total 
	7.297
Fonte: COSIPE/ SEAP, 2014.
Neste cenário, dados da Secretaria de Estado de Administração penitenciária (SEAP), revelaram que até abril de 2018 o Amazonas já contabilizava em média 10.223 indivíduos apenados o que confirma os crescentes índices.
Considerando a legislação vigente, o Capítulo II da Lei de Execução penal, que se refere a Assistência, no seu Art. 10. Dita que, a assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade
Já no Art. 17 que se refere à assistência educacional, afirma que, essa compreenderá, a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado. E no Art. 18. Rege que o ensino de primeiro grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da unidade federativa. E no Art. 19 que o ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico. No Art. 20 as atividades educacionais podem ser objeto de convênio com entidades públicas ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados. 
No caso do Amazonas, antes de mais nada é relevante considerar a oferta de ensino disponíveis nas instituições prisionais. Figura 8. Desta forma, observa-se que por meio da Secretária de Estado de Educação e Qualidade do Ensino são disponibilizados da Alfabetização ao Ensino, onde há uma expressiva adesão, por parte dos internos, ao Ensino Fundamental, o que nos remete a refletir que há um índice muito grande de presos que não completaram nem mesmo o Ensino Fundamental. 
Cabe ressaltar, segundo Silva (2017), que é dever do Estado oferecer educação escolar aos internos, entretanto, na prática o que se constata é que a lei não assegura os direitos dos presos à educação, tendo em vista que em muitos sistemas carcerários nem mesmo contam com um espaço adequado para as aulas, e em outros, este espaço, sequer existe, o que pode ser um agravante para a baixa adesão dos presos as aulas. 
FIGURA Nº8 - Oferta de Educação no Estado do Amazonas 
	Referência
	Quantidade
	Percentual
	Alfabetização
	110
	5,18%
	Ensino Fundamental (anos iniciais)
	331
	15,58%
	Ensino Fundamental (anos finais)
	510
	24,01%
	Ensino Fundamental completo
	951
	44,77%
	Ensino Médio 
	222
	10,45%
	Ensino Superior
	0
	0
Fonte: GELOT/DGP/SEDUC, (2014).
No que tange ao perfil educacional dos indivíduos privados de liberdade, estudos apontam que entre os apenados o percentual dos que possuem apenas o Ensino Fundamental incompleto é bastante significativo, uma vez que, chega a um ao índice de 34%. Figura 9.
Diante da problemática, ressalta-se a importância das políticas educacionais implantadas nas unidades prisionais, no sentido de que se cumpra o que preconiza a legislação vigente, tendo em vista que tais ações podem ser cruciais para que estes indivíduos sejam plenamente reinseridos na sociedade.
FIGURA Nº9: Perfil Educacional dos Presos e Presas
	Referência
	Quantidade
	Percentual
	Alfabetização 
	450
	6,35%
	Ensino Fundamental incompleto 
	2.413
	34,05%
	Ensino Fundamental (anos iniciais)
	980
	13,83%
	Ensino Fundamental (anos finais)
	415
	5,86%
	Ensino Fundamental completo
	834
	11,77%
	Ensino Médio incompleto
	727
	10,26%
	Ensino Médio completo 
	289
	4,08%
	Ensino Superior incompleto 
	8
	0,11%
	Ensino Superior completo
	-
	-
Fonte: COSIPE/ SEAP (2014).
Destacando ainda o perfil educacional dos presos do estado do Amazonas, no ano de 2016, segundo dados do levantamento nacional de Informações Penitenciaria, 65% dos presos possuem apenas o Ensino Fundamental Incompleto, o que deixa em evidência a relação existente entre a baixa escolaridade e o número de pessoas privadas de liberdade. 
FIGURA Nº10: Perfil Educacional dos Presos no Amazonas em Porcentagem 
	Referência
	Percentual
	Analfabetos 
	1%
	Ensino Fundamental incompleto 
	65%
	Ensino Fundamental completo
	8%
	Ensino Médio incompleto
	12%
	Ensino Médio completo 
	11%
	Ensino Superior incompleto 
	1%
	Ensino Superior completo
	0%
Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - Infopen, Junho/2016
Com a criação da LEP em 1984, ao preso coube o direito à educação, a qual a instituiu como instrumento de assistência, além disso colaborou para a oferta escolar dentro do sistema prisional. Mas, mesmo com as conquistas e avanços da Lei de Execuções Penais, pouco mais de 10% dos presos estão inseridos em atividades educacionais, comprovam as estatísticas (Departamento Penitenciário, 2018). 
Diante deste cenário, os dados do departamento de informações penitenciárias, revelam que a população carcerária, em nível nacional, pouco participa de alguma atividade educacional ofertada pela instituição, onde os dados levantados demonstram que apenas 12% frequentam as atividades de ensino nos presídios. No caso do Amazonas, este índice é ainda menor, pois, conforme comprovam as estatísticas da Secretaria de Administração Penitenciária (2016), apenas 9% dos presos estão estudando. 
Considerando ainda dos dados da Secretaria de Administração Penitenciária (2016), os números de presos que participam das atividades educacionais dentro das instituições de Manaus estão em um quantitativo de 603 pessoas, sendo 554 homens e 49 mulheres. Por outro lado, Secretaria de Estado de Educação do Amazonas, por meio do censo escolar, registra em torno de 273 alunos estudando nas unidades prisionais de Manaus. E no ano de 2017, os dadosforam disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, onde foi constatado que apenas 174 alunos estavam presentes no sistema de ensino dos presídios.
Neste contexto, é relevante destacar que mesmo com a baixa participação dos presos junto ao sistema de educação carcerária, é expressivo os números de presos que buscaram participar do Exame Nacional do Ensino Médio. Figura 11. Neste caso os dados revelam que no ano de 2012 ocorreram 269 inscrições, sem nenhuma aprovação; os números de 2013 apontaram que os inscritos foram 339, onde 4 pessoas foram aprovadas. Em 2014 este índice cresceu e o Exame Nacional para o Ensino Médio teve 473 presos inscrito no processo. No ano de 2015 houve novo crescimento do número de inscritos, com a participação de 574 pessoas e 16 aprovados; por fim, no ano de 2016 o ENEM contou com aproximadamente 598 inscrições oriundas das instituições prisionais de Manaus, desse total 16 foram aprovados (Amazonas, SEAP:ESAP, 2017).
FIGURA Nº11: Números de Presos Inscritos no ENEM – (anos de 2013 a 2014) 
	Unidade Prisional
	População total - ano 2013
	Inscritos no ENEM ano 2013
	População total ano 2014
	Inscritos no ENEM ano 2014
	Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa 
	730
	23
	792
	27
	Centro de Detenção Provisória - CDP Masculino 
	999
	50
	1021
	19
	Centro de Detenção Provisória - CDP Feminino
	299
	14
	251
	15
	Unidade Prisional do Puraquequara – UPP 
	1.110
	17
	999
	34
	Instituto Penal Antônio Trindade – IPAT 
	396
	38
	631
	72
	Penitenciária Feminina de Manaus 
	68
	11
	60
	21
	Casa do Albergado 
	321
	0
	-
	-
	Total 
	3.923
	153
	3.754
	188
Fonte: Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos – SEJUS, 2017.
Diante deste discurso, confirma-se a necessidade de maiores investimentos na área de educação prisional, ou seja, é urgente que sejam ampliadas as ofertas de vagas neste sistema, para que sejam oportunizadas maiores oportunidades e participação dos presos. Tal afirmação, colabora para que esses cidadãos, mesmo que estejam em situação de privação de liberdade, possam repensar suas atitudes e entendam que sua história pode ser reinventada, mas dentro de um viés diferente da qual se encontra. 
3. A educação como estratégia de ressocialização
 
Nesta terceira sessão, trata-se sobre aspectos relevantes da educação, enquanto estratégia para a ressocialização dos indivíduos privados de liberdade. Pontos importantes como, a execução de politicas educacionais, dentro das instituições penais podem ser essenciais para que o encarcerado possa voltar ao convívio social de forma digna, além, disso a educação pode abrir um leque de oportunidades para que esse preso não seja reincidente no mundo do crime. 
Diante disto, a presente sessão, endossa as principais nuances do processo educacional, nas instituições penais, como elemento de suma importância para a redução dos índices de reincidência nas instituições penais brasileiras.
Sob este ponto de vista, é importante destacar que a educação prisional, em seu contexto amplo, se destaca como um fator necessário dentro das prisões, pois, pode contribuir para o pleno crescimento social e pessoal dos indivíduos privados de liberdade.
3.1. Qual a importância da educação no sistema prisional
Conforme preconiza a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (2014), a educação é um direito humano fundamental e é essencial para o exercício de todos os direitos. Diante desta afirmativa, é fato que garantir o acesso à educação, a todos os cidadãos, é um direito inalienável, e que tem a prerrogativa de viabilizar conhecimento, o que é indispensável para a construção de uma vida digna. 
Levando em consideração a relevância e excepcionalidade da garantia do direito à educação gratuita e de qualidade à população, uma vez que, é a partir deste direito que se expandem as possibilidades de uma vida mais digna e com maiores oportunidades, que emergem importantes discussões acerca do acesso à educação sob o viés do direito de todos. Diante disto, conforme enfatizam Haddad e Siqueira (2014, p. 1):
Entende-se que a educação, sob a perspectiva de direitos, deve estar acessível (gratuita para todas as pessoas sem discriminação), disponível (instituições de ensino em número suficiente e apropriadas), ser aceitável (adequada e relevante de acordo com os instrumentos de direitos humanos) e adaptável (capaz de ajustar-se às demandas da comunidade educativa) a todos seres humanos igualmente sujeitos desse direito.
Os parâmetros da Organização das Nações Unidas, prevê que até o ano de 2030, o direito à educação de qualidade, igualitário e inclusiva seja uma realidade para todos. Para isso, será importante que os países envolvidos com a “meta universal” se comprometam em assegurar a promoção do direito à educação, e também com demais direitos sociais, tais como: renda, habitação, saúde e trabalho. Portanto, compreende-se que as medidas que buscam garantir o acesso à educação para as próximas gerações, estão entre as mais importantes, principalmente no que se refere ao direito à educação entre os países mais pobres. 
No contexto nacional, o direito à educação é constitucional, garantida pela Carta Magna de 1988, precisamente em seu artigo 205, e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, lei 9.394/1996. Cabe ressaltar que ao se tratar da educação como um direito de todos, entende-se que ela engloba todos os cidadãos, sem distinção, inclusive aquele que se encontra em privação de liberdade. Neste caso, destaca-se a Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/1984) a qual prevê a oferta educacional direcionadas aos presos. Neste cenário Silva (2017), afirma que o Plano Nacional de Educação legitima essa garantia, ao recomendar metas e estratégias a fim de fomentar a implementação desse direito. Além disso, os preceitos que compõem as Resoluções nº 59 03/2009 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária e nº 02/2010 do Conselho Nacional de Educação, garantem a oferta da educação nas dependências dos presídios, considerando a Educação de Jovens e Adultos.
Ainda sob o viés legal, é importante mencionar que o preso de regime fechado ou semiaberto pode sanar, por meio de trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena, que passou a vigorar com a Lei nº. 12.433 de 2011. Sendo assim, Ribeiro (2017), defende o argumento de que, no contexto brasileiro, ao se referir à produção de medidas positivas que possibilitem a realização do direito à educação junto às pessoas privadas de liberdade, grandes avanços foram alcançados nas últimas décadas, e atualmente percebe-se um trabalho mais eficiente, principalmente no que tange à humanização do sistema penitenciário. O que leva ao entendimento que as políticas educacionais a este público, embora, caminhem em passos lentos, já é uma realidade, dentro do sistema prisional do país. 
A Lei de Execuções Penais, se destaca por apresentar características retributivas, mais do que isso, a punição aplicada tem o objetivo de “reeducar”, e conceder ao condenado possibilidades para que este seja reinserido no âmbito social. Para Souza e Silveira (2015), no cenário nacional, os programas voltados a ressocialização da população carcerária, estão focadas, principalmente para o atendimento psicossocial, inserção no mercado de trabalho e qualificação profissional. Entretanto, esses programas ainda não têm conseguido suprir a demanda que só tem aumento nos últimos anos. 
Acerca deste contexto, cabe às instituições penitenciárias garantir os elementos possíveis para que o apenado seja capaz de retornar ao convívio da sociedade, neste contexto, Andrade et al., (2015), afirmam que os estabelecimentos prisionais devem trabalhar na execução de componentes que foquem na reabilitação do preso, isso implica em dizer que esses fatores dizem às atividades de promoção ao “tratamento” penal com fundamentos nas “assistências” material, à saúde, jurídica, educacional, psicológica, social, religiosa, ao trabalho e à profissionalização. Para que isso seja possível,é imprescindível que as instituições penais tenham estrutura física e humana.
Bezerra (2016), acerca dos objetivos da educação prisional, esclarece que, estes são previstos pelo Decreto nº. 7.626, de 24 de novembro de 2011, sendo eles: 
 (I) executar ações conjuntas e troca de informações entre órgãos federais, estaduais e do Distrito Federal com atribuições nas áreas de educação e de execução penal; 
II) incentivar a elaboração de planos estaduais de educação para o sistema prisional, abrangendo metas e estratégias de formação educacional da população carcerária e dos profissionais envolvidos em sua implementação;
(III) contribuir para a universalização da alfabetização e para a ampliação da oferta da educação no sistema prisional; 
(IV) fortalecer a integração da educação profissional e tecnológica com a educação de jovens e adultos no sistema prisional; 
(V) promover a formação e capacitação dos profissionais envolvidos na implementação do ensino nos estabelecimentos penais; 
(VI) viabilizar as condições para a continuidade dos estudos dos egressos do sistema prisional. Parágrafo único - para o alcance dos objetivos previstos neste artigo serão adotadas as providências necessárias para assegurar os espaços físicos adequados às atividades educacionais, culturais e de formação profissional, e sua integração às demais atividades dos estabelecimentos penais (Brasil, 2011, art. 4º).
Para Boiago (2014), a Lei de Execuções Penais (LEP) determina que o processo punitivo disciplinar, executado dentro das instituições penais, institui os órgãos enquanto responsáveis por realizar e acompanhar e auxiliar a execução da pena referente a privação de liberdade, tendo em vista todo o território brasileiro. Para isso a LEP é um instrumento indispensável, no que se refere a garantia dos direitos dessa população, inclusive no que diz respeito a garantia do direito à educação dentro do ambiente penal, o que leva à compreensão que a educação é considerada essencial para o processo de ressocialização do preso. 
Conforme considerações de Santos (2017), a LEP determina ainda que toda instituição penitenciária, de acordo com sua natureza, disponha de espaços destinados a oferecer assistência, no que tange à educação, trabalho, recreação e prática esportiva. Isso quer dizer que nessas dependências penais devem ser viabilizadas salas de aula direcionadas à educação básica e ensino profissionalizante, tudo isso está assegurado no artigo 83 da Lei de Execução Penal.
É importante frisar segundo Guido (2015), que a Carta Magna preconiza que é de responsabilidade do Estado garantir que todos os cidadãos tenham direito e acesso facilitado à educação, neste caso, inclui-se também pessoas que se encontram privadas de liberdade. Portanto, para que este direito seja de fato, seja viabilizado, os presos devem ter seus direitos preservados e serem submetidos a uma integração social dentro dos estabelecimentos penais. 
A educação no âmbito prisional, objetivamente, busca fazer com que aquele cidadão que se encontra privado de sua liberdade, busque naquele momento oportunidades de aprendizagens, para que assim possa realizar seus projetos de vida após cumprir sua pena, seja reinserido junto a sociedade sem maiores sequelas. Neste cenário é importante lembrar que é de responsabilidade do Estado debater as políticas de inclusão, e elas devem existir, não somente na teoria, para que isso ocorra é crucial a promoção de mecanismos para a efetivação de inclusão social, cultural e econômica. Acerca deste argumento entende-se que: 
Em relação às políticas de educação escolar nas prisões, ressalta-se o seu caráter complexo de organização e funcionamento, pois se realizam a partir da articulação do sistema de educação com o sistema penitenciário (Ministério da Educação, Ministério da Justiça, Secretarias Estaduais de Educação e Secretarias de Defesa Social ou Administração Prisional, além de órgãos integrantes desses sistemas, como os presídios e as penitenciárias), que, por sua vez, articula-se com o sistema de justiça penal e com a sociedade (Oliveira, 2014, p. 957).
A partir desses argumentos Sant’Anna (2014), discorre que os debates em torno da ressocialização, tendo como princípio a educação, deve ser analisada e repensada de forma abrangente e com muito cuidado, considerando que trabalhar a educação neste contexto é algo complexo, além de envolver fatores que parte da própria concepção do apenado, ou seja, embora o Estado tenha o dever de ofertar uma oportunidade para que ele tenha sua pena reduzida, ou até mesmo de concluir seus estudos, aumentando a chance de se qualificar profissionalmente, cabe a ele decidir se aceita ou não fazer parte do projeto educacional da instituição. 
Entretanto, o ensino dentro das prisões, mesmo com todas as dificuldades que se apresenta, ainda é considerado como um dos projetos de ressocialização mais importantes de resgate do cidadão em privação de liberdade, e que tem poder de conduzir um ser tido como num estado de marginalidade a um estado de aceitação das normas sociais, ou seja, de socializado. 
De acordo com Julião (2014), quando se trata de educação em ambiente, como as instituições penais, é importante frisar que existem três objetivos a serem alcançados de imediato e que repercutem acerca das opiniões sobre o verdadeiro propósito do sistema de justiça penal sendo eles: preencher o tempo ocioso dos apenados de maneira proveitosa; (2) melhorar a qualidade de vida na prisão; e (3) viabilizar um resultado útil, tais como ofícios, conhecimentos, compreensão, atitudes sociais e comportamento, que permitam que o preso tenha a sensibilidade de entender que esses valores podem ser fundamentais para que este tenha chance de galgar novas oportunidade fora da prisão, possibilitando assim ao apenado o acesso ao emprego ou a uma capacitação superior, que, sobretudo, propicie mudanças de valores, pautando-se em princípios éticos e morais. 
Ainda sobre os argumentos de Julião (2014), estes levam ao entendimento que a educação é considerada um dos mecanismos mais importante para a promoção da integração social, pois, abre diversas possibilidades de mudanças por meio do conhecimento, isso significa que, a partir disto é possível que o preso tenha maiores chances de recuperar a liberdade com maior dignidade, porém, é importante que este tenha o pleno entendimento de que o encarceramento têm objetivos que vão muito além do contexto da penalidade, e assim compreendem a figura reformuladora do sistema penal e de forma espontânea aceitam participar do processo educativo, assim como de outros projetos sociais que podem gerar outras oportunidades. Mas há também os que preferem romper com este processo por considerar ele como um sistema impositivo e castrador. 
Considerando os programas de ressocialização, para Focault (2014), todas as propostas com propõem a ressocialização dos encarcerados à sociedade, foram criadas a fim de atenderam aos anseios e necessidades dessa parcela da população. Todavia, esses elementos não foram eficientes no combate à criminalidade. Nestes aspectos conclui-se que: 
A prisão funciona como um agenciamento de subjetividades majoritariamente delinquentes, além disso, são poucos os casos de regeneração por meio do trabalho e da educação. Em relação à construção de delinquentes, a prisão seria muito mais um caso de sucesso, do que apenas um fracasso total, pois há mais de dois séculos, ela molda, desenha, agencia o mesmo sujeito que ela dociliza, controla, disciplina (Foucault, 2014, p. 272).
Compartilhando do mesmo pensamento Julião (2016), propõe maior objetividades nas propostas pedagógicas das escolas que desenvolvem atividades nas prisões. Tal argumento emerge de pesquisas abrangentes realizadas sobre educação prisional, como exemplo podemos citar a tese “A ressocialização através do estudo e do trabalho no sistema penitenciário brasileiro”. Este estudo aponta o impacto da educação e do trabalho nos programas de ressocialização, problematizando os desafios pelo entendimento dos diferentes operadores

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