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TCC arte contemporânea e educação infantil/instalações, artista, crianças

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO 
CURSO DE PEDAGOGIA – LICENCIATURA 
Andréia Moreira 
ARTE CONTEMPORÂNEA E REGISTROS DE CRIANÇAS: 
autacom_petit​, um ateliê supra-sensorial 
Porto Alegre 
2° Semestre 
2018 
Andréia Moreira 
ARTE CONTEMPORÂNEA E REGISTROS DE CRIANÇAS: 
autacom_petit​, um ateliê supra-sensorial 
Trabalho de Conclusão apresentado à         
Comissão de Graduação do Curso de           
Pedagogia - Licenciatura da Faculdade de           
Educação da Universidade Federal do Rio           
Grande do Sul, como requisito parcial e             
obrigatório para obtenção do título de           
Licenciatura em Pedagogia. 
Orientadora: Profª Drª Leni Vieira Dornelles 
Porto Alegre 
2° Semestre 
2018 
Agradecimentos 
A trajetória da graduação me apresentou uma infinidade de relações,                   
algumas pessoas passaram por mim sem que eu ao menos soubesse o nome, outras                           
pouco se aproximaram, outras talvez eu tenha preferido que não tivessem se                       
aproximado. Muitas fizeram parte deste caminho me deixando muitas boas                   
lembranças, mas outras chegaram, fizeram a diferença e seguem na minha vida e                         
seguirão além da graduação e estas são pessoas muito especiais às quais tenho                         
muito carinho. 
Também carrego comigo o carinho e atenção de muitas pessoas próximas a                       
mim e que independente dos momentos que passei ao longo desta trajetória,                       
estiveram presentes me acarinhando com olhos cuidadosos, olhos de VER e de                       
SENTIR. Recebi de todas essas pessoas a fortaleza que precisei em alguns                       
momentos difíceis e a felicidade de saber que tinha perto de mim gente                         
maravilhosa. 
Recebi de muitos a confiança necessária que encoraja para seguir em frente e                         
nunca desistir de um sonho, assim como o reconhecimento pelo meu trabalho.                       
Pessoas que estavam chegando na minha vida, assim como eu chegava na delas.                         
Agradeço pela vida que tenho hoje próxima a elas e agradeço por serem o que são na                                 
minha vida. 
À professora Leni Vieira Dornelles pela doçura na dose exata necessária para                       
acalentar a minha ansiedade. Por me aceitar nesta orientação com muito carinho e                         
atenção, sempre disponível em todos os momentos, inclusive no sossego da sua                       
casa em dia de descanso. Agradeço a confiança, a parceria, o estímulo, a paciência. 
Ao professor Rodrigo Saballa de Carvalho por me encorajar, por acreditar no                       
meu trabalho, por todas as discussões acerca da vida dentro de uma escola de                           
Educação Infantil e por ser parceiro nos momentos mais tensos. 
Ao professor Gabriel de Andrade Junqueira Filho por ser firme e doce quando                         
necessário na medida exata comigo, sempre muito parceiro, muito amigo e por ser                         
presença importante ao longo da minha graduação até os últimos dias, inclusive                       
sendo minha banca. 
À professora Paola Zordan pelo aceite do convite para ser minha banca e por                           
me brindar com sua presença tão importante pra mim e por representar a arte                           
contemporânea na docência. 
Às minhas amigas Grasiele Clack Schumacker e Dóris Helena de Souza por                       
acreditarem em meu trabalho, por serem parceiras de todas as horas, por fazerem                         
parte da minha vida tão amorosamente. 
Aos colegas de trabalho pela parceria, pela confiança, pelo carinho, pelos                     
cuidados comigo, pelo dia a dia leve e cheio de atenções. Em especial à Michelle                             
Lugo Duarte e a Greice Stivanin por acreditarem no meu trabalho, pela confiança e                           
parceria. 
Às famílias, seus filhos por tudo e por tanto, sem vocês nada teria sido                           
possível. 
Às queridas Bárbara Cecília Abreu e Mariana Prette pela paciência nas                     
minhas dúvidas e ignorâncias digitais e por todo o amor que recebi de vocês. 
À Nathalia Scheuermann e Pedro Bernardo, meus filhos de coração,                   
agradeço todos os carinhos e cuidados comigo e com a Miragua, além de toda                           
paciência que sempre tiveram comigo ao longo da minha graduação, em especial na                         
finalização dela, sendo incansáveis e extremamente meticulosos no               
embelezamento e organização final deste trabalho comigo. Amo vocês! 
Às minhas professoras “encantadoras” que não citarei o nome, mas que                     
devem se sentir contempladas neste agradecimento, que me formaram assim como                     
sou com as crianças da educação infantil, por todos os afetos que recebi e que                             
aprendi a retribuir, por todos os olhares atentos e por todas as escutas, por todo                             
conhecimento. 
Aos meus amigos, família escolhida, pessoas tão queridas agradeço a                   
paciência, o carinho, os colos, a vida juntos. 
À Daniela Bicca minha irmã maravilhosa, presente em todas as horas mais                       
difíceis da minha vida e nas mais felizes também, por me fazer acreditar que os                             
momentos ruins não são tão difíceis se tivermos as pessoas que amamos por perto. 
À Nádia Chies por ter sido a base que eu precisava durante algum tempo, me                             
auxiliando e me fortalecendo para que eu chegasse até aqui. 
À minha mãe Beatriz Helena Moreira pela vida. 
Aos meus irmãos Alexandre Moreira e Marcelo Moreira por todo o amor,                       
pelas inspirações e pelas sobrinhas maravilhosas, paixões da minha vida. 
Aos meus filhos João Marcelo e Luiz Pedro minhas razões de existência feliz,                         
agradeço por serem meus filhos, meus parceiros, meus amigos, meus confidentes,                     
minha vida. 
À minha esposa Marli “Mirágua” Freitas da Rosa pelo simples fato de                       
existires na minha vida e me aceitares assim tão cheia de defeitos, mas com muito                             
amor dentro de mim para ti. Por seres presente, pelo teu amor, pelos teus cuidados,                             
por me aceitares na tua vida. 
À minha família tão pequena, mas tão grande em carinho, parceria e                       
cuidados. 
Ao meu pai (​in memoriam​) por estar presente mesmo ausente, por todo o                         
amor... 
Resumo 
O presente trabalho de conclusão de curso propõe-se compartilhar as experiências                     
registradas da vivência de crianças de 3 e 4 anos, em uma proposta de ateliê                             
supra-sensorial, planejado a partir da inspiração em artistas da arte                   
contemporânea. Os registros aqui analisados resultam das experiências do ateliê                   
autacom_petit​, realizadas ao longo do estágio curricular da pedagogia, no primeiro                     
semestre de 2018, em escola pública de Educação Infantil, no município de Porto                         
Alegre. Diante disto, buscou-se discutir o trabalho inspirado pela arte                   
contemporânea; refletir acerca das possibilidades envolvidas entre o ateliê e a                     
educação infantil; e analisar os registros fotográficos, filmagens e anotações                   
obtidas nos momentos vivenciados com as crianças durante o primeiro semestre.                     
Tendo como base uma pesquisa com crianças, buscando possibilitar e transformar                     
a prática das vivências em arte com os pequenos. As experiências e caminhos                         
percorridosao longo do ateliê supra-sensorial, juntamente com o artista                   
contemporâneo Alexandre Navarro Moreira e as crianças, resultaram na obra                   
denominada ​autacom_petit​, aqui apresentada em formato de relato de experiência. 
Palavras-Chave:​ Arte contemporânea. Ateliê supra-sensorial. ​autacom_petit​. 
Educação Infantil. Pesquisa com crianças. 
MOREIRA,  Andréia.  ​ARTE  CONTEMPORÂNEA  E  REGISTROS  DE  CRIANÇAS:  
autacom_petit​, um ateliê supra-sensorial​. ​Porto Alegre, 2018. ​101​p. 
Monografia (Trabalho  de  Conclusão  de  Curso)  -  Licenciatura  em  Pedagogia,  
Faculdade  de  Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 
2018. 
Lista de Figuras 
Figura 01​ ​- ​autacom_1​.............................................................................................  26 
Figura 02​ ​- Coleções 1​.............................................................................................  27 
Figura 03​ ​- Coleções 2​.............................................................................................  27 
Figura 04​ ​- ​autacom_2​............................................................................................  36 
Figura 05​ ​- Roda dos Prazeres 1​...........................................................................  38 
Figura 06​ ​- Roda dos Prazeres 2​...........................................................................  38 
Figura 07​ ​- Parangolés 1​.........................................................................................  40 
Figura 08​ ​- Coleções 3​.............................................................................................  40 
Figura 09​ ​- ​autacom_3​............................................................................................  42 
Figura 10​ ​- Roda dos Prazeres 3​............................................................................  46 
Figura 11​ ​- Roda dos Prazeres 4​............................................................................  46 
Figura 12​ ​- ​autacom_4​.............................................................................................  49 
Figura 13​ ​- ​autacom_5​.............................................................................................  49 
Figura 14​ ​- Tropicália 1​...........................................................................................  51 
Figura 15​ ​- Tropicália 2​...........................................................................................  52 
Figura 16​ ​- Tropicália 3​...........................................................................................  52 
Figura 17​ ​- Tropicália 4​...........................................................................................  53 
Figura 18​ ​- Parangolés 2​.........................................................................................  54 
Figura 19​ ​- Parangolés 3​.........................................................................................  54 
Figura 20​ ​- Parangolés 4​........................................................................................  54 
Figura 21 ​- Parangolés 5​.........................................................................................  54 
Figura 22​ ​- Bólides 1​................................................................................................  55 
Figura 23​ ​- Bólides 2​................................................................................................  55 
Figura 24​ ​- Bólides 3​...............................................................................................  55 
Figura 25​ ​- Bólides 4​...............................................................................................  55 
Figura 26​ ​- Bólides 5​...............................................................................................  55 
Figura 27​ ​- Bólides 6​...............................................................................................  56 
Figura 28​ ​- Roda dos Prazeres 5​...........................................................................  58 
Figura 29​ ​- Roda dos Prazeres 6​..........................................................................  58 
Figura 30​ ​- Roda dos Prazeres 7​...........................................................................  58 
Figura 31​ ​- Roda dos Prazeres 8​............................................................................  58 
Figura 32​ ​- ​autacom​_neon 1​..................................................................................  59 
Figura 33​ ​- ​autacom​_neon 2​.................................................................................  59 
Figura 34​ ​- ​autacom​_neon 3​.................................................................................  60 
Figura 35​ ​- Divisor 1​................................................................................................  61 
Figura 36​ ​- Coleções 3​.............................................................................................  63 
Figura 37​ ​- Coleções 4​.............................................................................................  65 
Figura 38​ ​- Coleções 5​.............................................................................................  65 
Figura 39​ ​- Coleções 6​............................................................................................  66 
Figura 40​ ​- Coleções 7​.............................................................................................  66 
Figura 41​ ​- Coleções 8​.............................................................................................  66 
Figura 42​ ​- Coleções 9​............................................................................................  66 
Figura 43​ ​- Coleções 10​...........................................................................................  67 
Figura 44​ ​- Coleções 11​...........................................................................................  67 
Figura 45​ ​- Coleções 12​...........................................................................................  67 
Figura 46​ ​- Coleções 13​...........................................................................................  67 
Figura 47​ ​- Coleções 14​...........................................................................................  67 
Figura 48​ ​- Coleções 15​...........................................................................................  68 
Figura 49​ ​- Coleções 16​..........................................................................................  68 
Figura 50​ ​- Bólides 6​...............................................................................................  68 
Figura 51​ ​- Bólides 7​................................................................................................  68 
Figura 52​ ​- Estandartes-​autacom​_1​...................................................................  69 
Figura 53​ ​- ​autacom​_neon 4​.................................................................................  69 
Figura 54​ ​- Bordados 1​............................................................................................  71 
Figura 55​ ​- Bordados 2​...........................................................................................  71 
Figura 56​ ​- Bordados 3​...........................................................................................  71 
Figura 57​ ​- Bordados 4​...........................................................................................  71 
Figura 58​ ​- Bordados 5​...........................................................................................  71 
Figura 59​ ​- ​autacom_6​............................................................................................  73 
Figura 60​ ​- ​autacom_7​............................................................................................73 
Figura 61​ ​- ​autacom_8​............................................................................................  74 
Figura 62​ ​- ​autacom_9​............................................................................................  74 
Figura 63​ ​- ​autacom​_neon 5​.................................................................................  75 
Figura 64​ ​- ​autacom​_neon 6​................................................................................  75 
Figura 65​ ​- ​autacom​_neon 7​.................................................................................  75 
Figura 66​ ​- ​autacom​_neon 8​................................................................................  76 
Figura 67​ ​- ​autacom​_neon 9​.................................................................................  76 
Figura 68​ ​- ​autacom​_neon 10​...............................................................................  76 
Figura 69​ ​- ​autacom​_neon 11​...............................................................................  77 
Figura 70​ ​- ​autacom​_neon 12​...............................................................................  77 
Figura 71​ ​- ​autacom​_neon 13​...............................................................................  77 
Figura 72​ ​- ​autacom​_neon 14​...............................................................................  78 
Figura 73​ ​- ​autacom​_neon 15​...............................................................................  78 
Figura 74​ ​- ​autacom​_neon 16​...............................................................................  78 
Figura 75​ ​- ​autacom​_neon 17​...............................................................................  78 
Figura 76​ ​- ​autacom​_neon 18​...............................................................................  79 
Figura 77​ ​- ​autacom​_neon 19​...............................................................................  79 
Figura 78​ ​- ​autacom​_neon 20​...............................................................................  79 
Figura 79​ ​- ​autacom_10​……....​...............................................................................  80 
Figura 80​ ​- ​autacom_11.​……....​...............................................................................  80 
Figura 81​ ​- ​autacom​_neon 21​...............................................................................  82 
Figura 82​ ​- ​autacom​_neon 22​..............................................................................  82 
Figura 83​ ​- ​autacom​_neon 23​...............................................................................  82 
Figura 84​ ​- ​autacom​_neon 24​..............................................................................  82 
Figura 85​ ​- ​autacom​_neon 25​...............................................................................  82 
Figura 86​ ​- ​autacom​_neon 26​..............................................................................  82 
Figura 87​ ​- ​autacom​_neon 27​...............................................................................  82 
Figura 88​ ​- ​autacom​_neon 28​..............................................................................  82 
Figura 89​ ​- ​autacom​_neon 29​..............................................................................  83 
Figura 90​ ​- ​autacom​_neon 30​..............................................................................  83 
Figura 91​ ​- ​autacom​_neon 31​...............................................................................  83 
Figura 92​ ​- ​autacom​_neon 32​..............................................................................  83 
Figura 93​ ​- ​autacom_12​..........................................................................................  84 
Figura 94​ ​- ​autacom_13​..........................................................................................  84 
Figura 95​ ​- ​autacom_14​..........................................................................................  84 
Figura 96​ ​- ​autacom_15​..........................................................................................  84 
Figura 97​ ​- ​autacom_16​..........................................................................................  85 
Figura 98​ ​- ​autacom_17​..........................................................................................  85 
Figura 99​ ​- ​autacom_18​..........................................................................................  86 
Figura 100​ ​- ​autacom_19​.........................................................................................  86 
Figura 101​ ​- ​autacom_20​.........................................................................................  86 
Figura 102​ ​- ​autacom_21​.........................................................................................  87 
Figura 103​ ​- ​autacom_22​........................................................................................  87 
Figura 104​ ​- ​autacom_23​........................................................................................  87 
Figura 105​ ​- ​autacom_24​........................................................................................  88 
Figura 106​ ​- ​autacom_25​........................................................................................  88 
Figura 107​ ​- ​autacom_26​........................................................................................  88 
Figura 108​ ​- ​autacom_27​........................................................................................  88 
Figura 109​ ​- ​autacom_28​........................................................................................  89 
Figura 110​ ​- ​autacom_29​.........................................................................................  89 
Figura 111​ ​- ​autacom_30​..........................................................................................  89 
Figura 112​ ​- ​autacom_31​..........................................................................................  95 
Sumário 
01​ ​|​ ​Pra inicio de conversa 1​4
02​ ​|​ ​Um Lugar 17 
03​ ​|​ ​Uma Turma 19 
04​ ​|​ ​Meus Desafios 24 
05​ ​|​ ​Os Objetivos deste trabalho 29 
06​ ​|​ ​Os sentimentos envolvidos:
​as mandalas vividas com as crianças 31 
07​ ​|​ ​O Atêlie Supra-​Sensorial 35 
08​ ​|​ ​As​ Metodologias do Atêlie 43 
09​ ​|​ ​Artistas​ que Inspiraram o Atêlie 50 
Hélio Oiticica (1937-1980) 51 
Lygia Pape (1927-2004) 57 
Lygia Clark (1920-1988) 62 
Arthur Bispo do Rosário (1911-1989) 64 
Alexandre Navarro Moreira (02/05/1974) e o autacom_petit... 72 
10​ ​|​ ​Consi​derações Finais 90 
Referências 96 
Apêndice A 100 
Apêndice B 101 
Pra 
inicio de
conversa 
01 
 
Arte contemporânea e registros de crianças: ​autacom_petit​, um ateliê                 
supra-sensorial trata-se do meu trabalho de conclusão de curso, que é composto                       
pelas experiências vivenciadas ao longo do estágio curricular docente no primeiro                     
semestre de 2018. Estas experiências não se restringem apenas aos registros ou as                         
questões metodológicas docentes, mas procura compartilhar a memória, a                 
vivência, as possibilidades das crianças, enquanto sujeitos participantes do                 
processo, envolvidas em um ateliê planejado com inspiração e constante diálogo                     
com a arte contemporânea. 
Neste sentido a escrita desta pesquisa por tratar-se de vivências, memórias,                     
no âmbito da arte, o que nos permite criação, recriação, não se apresenta, muitas                           
vezes de forma cronológica. Assim, em uma dinâmica, quase como um ir e vir,                           
apresento, discuto e proponho a reflexão das propostas, das vivências eexperimentações das crianças, que inspiradas em determinados artistas               
contemporâneos e suas obras compõem este relato. Afasta-se, portanto, de uma                     
possível metodologia de didática da arte contemporânea, mas aproxima-se de uma                     
docência poética e aberta aos acontecimentos, em uma constante busca por uma                       
escuta atenta e sensível às crianças. O ateliê supra-sensorial aqui descrito é um                         
lugar que reflete, discute e analisa as possibilidades da arte contemporânea na                       
educação infantil como espaço de experimentação e criação. 
Esta relação das crianças e/com a arte contemporânea foram vivenciadas a                     
partir das propostas organizadas em um ateliê: o ateliê supra-sensorial. Este ateliê                       
difere dos ateliês das escolas de arte, pois o ambiente era o de uma escola de                               
educação infantil, frequentado por um público diverso do público das escolas de                       
arte ou das escolas de arte para crianças. Nas escolas de educação infantil não                           
contamos apenas com profissionais da arte, aliás raramente vemos um artista                     
visual ou um professor de artes em uma escola de educação infantil. Somos                         
professoras de crianças que sensíveis a arte, aqui propomos uma experiência em                       
um ateliê supra-sensorial. 
O ateliê foi o lugar (ou os lugares) no qual as crianças experimentaram,                         
exploraram, se expressaram, comunicaram suas ideias e possibilidades a partir do                     
uso e contato com diferentes materiais, que aqui são considerados também uma                       
linguagem. Cada proposta era composta por materiais plásticos (tintas,                 
pigmentos..) e materialidades (tecidos, linhas, rolhas, bolas...) espaços (sala,                 
pátio), ambientação (luzes, músicas), sentimentos/ ritualísticas (mandalas...) que               
 
 
15 
 
serão citados ao longo desta escrita, com o intuito de nos aproximarmos das                         
criações das crianças e seus processos. Não há uma lista de materiais específicos,                         
didáticos ou modelos de trabalho que envolvem arte com crianças obrigatórios, a                       
serem seguidos. Contrário a isso, o trabalho com arte contemporânea na educação                       
infantil pode perpassar pelos mais diversos materiais - inclusive materiais do                     
cotidiano, que não precisam ser comprados - e inspirações. Busco com os registros                         
aqui apresentados e refletidos mostrar o efeito e as possibilidades de ação com                         
crianças, a partir de seus elementos de criação e experimentação.  
Neste contexto, ao longo das propostas do ateliê, que perpassaram                   
diferentes artistas da arte contemporânea, ora isoladamente, ora em composição. E                     
a partir das obras de Alexandre Moreira, com ele participando deste processo                       
propondo instalações para as crianças com sua obra autacom, surgiu o                     
autacom_petit​, uma “colaboração criativa”. Alexandre Moreira define que as                 
propostas surgidas a partir desta instalação com as crianças serão o ​autacom_petit​,                       
um ateliê supra-sensorial, no qual, o lugar é onde ele está, a motivação é a própria                               
colaboração criativa e participativa na qual artista, obra e crianças se entrelaçam,                       
se fundem. 
Decorrente deste momento e sua intensidade com o espaço de criação                     
proporcionado às crianças, é que se denomina e estabelece o foco desta pesquisa                         
com crianças. Para tanto, ​traço ​como objetivos desta pesquisa, ​discutir ​o efeito do                         
trabalho pedagógico inspirado pela arte contemporânea, ​refletir ​acerca das                 
possibilidades envolvidas entre o ateliê e a educação infantil, e ​analisar ​os registros                         
fotográficos, filmagens e anotações obtidas nos momentos vivenciados pelas                 
crianças durante as experimentações nos ateliês.   
 
 
16 
Um 
Lugar 
02 
 
 
Meu Trabalho de Conclusão de Curso resulta dos dados obtidos a partir do                         
estágio curricular final do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio                       
Grande do Sul, em uma Escola Municipal de Educação Infantil, uma região de fácil                           
acesso da cidade que atende 97 crianças em turno integral, das 7h às 19h, em idades                               
entre 4 meses e 5 anos e 11 meses, divididas em 6 grupos etários. Seu corpo docente                                 
é composto por professores, um para cada turma de crianças de acordo com sua                           
faixa etária; monitores para atendimento direto das turmas desde o horário de                       
chegada até a saída; professores especializados de Música e Educação Física; equipe                       
diretiva; assessorias ligadas à Secretaria Municipal de Educação (SMED), tais como:                     
educação especial; pedagógica; bem como, equipes: de nutrição; de limpeza e um                       
assistente administrativo. A comunidade escolar é bastante heterogênea, pois                 
atende crianças de diferentes realidades sociais e culturais. A Escola Municipal                     
firmou um convênio desde 2010 ​com a Polícia Civil do Estado e, por isso, 40% das                               
crianças que atende são filhos ou netos de policiais ativos ou inativos deste órgão                           
público, 60% são oriundos das diferentes partes da cidade e ingressaram na escola                         
através de processo seletivo estabelecido pela prefeitura Municipal de Porto Alegre. 
Este Trabalho de Conclusão de Curso mostra como convivi com a turma do                         
maternal dois, em momentos desafiadores e encantadores que ressignificaram o                   
modo de pensar e olhar da ação docente e as relações com as crianças durante meu                               
estágio curricular. Considerando que cada criança tem a capacidade inata de                     
comunicarem-se através da sua arte como afirma Judith Burton (apud CABRAL                     
2016). Pretendi como Marta Cabral (2016, p.xi) me empenhar em dar voz às                         
crianças, reconhecendo sua autoria, respeitando a sua maneira de saber, fazer e                       
ser. 
 
 
 
18 
Uma 
Turma 
03 
 
A turma de maternal, na qual estive durante o período de coleta de dados                           
desse trabalho, tem 15 crianças, sendo uma delas de inclusão, que só frequentou a                           
escola no turno inverso ao do meu trabalho com as crianças. Esta turma também é a                               
turma onde atuo no turno da tarde, trabalhando como monitora, portanto                     
convivemos por dez horas diárias durante este período. Esta turma de seis meninas                         
e nove meninos são crianças ativas, criativas, potentes e encantadoras.                   1
Conquistaram-me no ano anterior ao meu estágio e, fiz tudo o que estava ao meu                             
alcance, para poder retribuir todo o encantamento que elas me proporcionaram ao                       
longo do nosso convívio. 
 
   
1 ​Sobre o termo de consentimento de pais, e ao estabelecer a temática condutora para o trabalho com as                                     
crianças no “ateliê supra-sensorial”, conversei com a diretora da escola, para conversar sobre a                           
preocupação com a divulgaçãodas imagens das crianças. Chamamos os pais para contar sobre o que                               
estava planejado para as crianças naquele semestre. Nesta reunião expliquei o que seria trabalhado,                           
falei dos materiais que seriam utilizados e adiantei sobre a possibilidade deste material ser publicado                             
em meu TCC. Fizemos esta primeira reunião e uma última para apresentar todo o trabalho junto com a                                   
proposta de exploração dos materiais pelos pais com as crianças. Tive apoio irrestrito dos pais e direção                                 
da escola. Tive seu consentimento. Bem como na conversa com as crianças sobre o Termo de                               
assentimento, essas assentiram em participar das atividades, sabendo que poderiam se negar a                         
fazê-las ou mesmo sair dessas a qualquer momento. 
 
 
 
20 
São elas:
 
Fiz duas semanas de observação, antes de iniciar o Ateliê Supra-Sensorial ,                     2
nas quais, pude perceber que se tratava de crianças sempre dispostas ao                       
movimento de criação, às construções com os materiais disponíveis na sala e                       
mesmo em outros ambientes da escola.  
Tal grupo de crianças, quando percebem que existe escuta adoram contar                       
sobre histórias de suas vidas, nos mais variados momentos da rotina desde no                         
pátio, até na sala antes do soninho. E consoante com Martins Filho e Barbosa                           
(2010) percebi também que a observação era sempre participante e que este tipo de                           
observação acabava por estabelecer e criar laços, também possibilitando o acesso                     
dos adultos ao que as crianças pensam, fazem, sabem, falam e de como vivem. 
As crianças traziam muito do repertório musical de casa: ​funk​, sertanejo,                     
pagode. Tínhamos alguns pais que tem a música como profissão. Depois de feriados                         
ou finais de semana contavam que assistiam com os pais (cinema, televisão etc.),                         
do que acontecia com elas fora da escola, algumas histórias muito divertidas e                         
outras nem tanto. Falavam da realidade das famílias para nossas rodas de conversa,                         
no pátio ou durante as brincadeiras em sala. O ateliê possibilitou que a arte                           
contemporânea fosse vivenciada a cada experimentação, nesse as crianças                 
passaram de meros espectadores da arte para sujeitos criativos, ativos, que                     
participavam e expandiam seus pensamentos e imaginação a partir da inspiração                     
das obras dos artistas contemporâneos. 
  Eram carinhosos, atentos ao que acontecia ao redor, extremamente                 
observadores, adoravam conversar sobre os mais variados assuntos, muito críticos,                   
discutiam, argumentavam, eram crianças potentes, criativas. Ilustro com o                 
pensamento de Larrosa (apud LOPONTE 2008, p.115) que ensina: “o outro nome da                         
criança de “As três metamorfoses” de Nietzsche é criação, e poderíamos dizer que                         
a criação é força impulsionadora para a vida, pura potência, afirmação da vida que                           
está aqui”. Podemos ainda arriscar, pensar com o filósofo alemão, que arte e                         
infância são forças potencialmente criadoras. Poéticas da própria vida! 
Para realizar o trabalho proposto com as crianças desse grupo, tive grande                       
parceria de todos na escola, cada um ajudou a seu modo: cedendo seu espaço no                             
pátio, atrasando ou adiantando as refeições, aceitando o barulho da “criação” do                       
M2 enquanto os bebês dormiam, com os “faxinões” coletivos diários na sala da                         
turma ou em outros espaços e algumas vezes em todos os espaços, enfim fui                           
acolhida pelo grupo de colegas e, principalmente pelos pais que foram disponíveis                       
2 ​Ateliê Supra-Sensorial, fio condutor dos planejamentos do estágio curricular, que será especificado 
ao longo deste trabalho. 
 
 
22 
 
ao longo do semestre. Traziam materiais para as propostas em sala, recebendo as                         
marcas do dia nas roupas de seus filhos, marcas essas que não ficaram apenas na                             
roupa, mas ficaram nas nossas memórias destas vivências, afinal, “nem sempre                     
infância é doce e alegre, ela também é desvio, perversão, manipulação” (LOPONTE                       
2008, p.117). 
Faço uso das palavras de Marta Cabral (2016), para dizer que esta pesquisa                         
será também “uma maneira de homenagear as crianças e suas explorações, de                       
partilhar nossos dias de arte” (CABRAL, 2016, p.1). Ela trará a minha impressão                         
pessoal dessas experiências e relações, consoante com alguns autores, mas será                     
através dos meus olhares e das minhas palavras que as vozes das crianças estarão                           
presentes nas suas obras, nas suas palavras, na sua produção artística e em cada                           
imagem aqui impressa. Farei o papel de intermediária dos seus sentimentos, das                       
suas emoções, mesmo que ao longo da escrita suas falas sejam apresentadas, ainda                         
assim não conseguiria traduzir fidedignamente o que pensaram, o que                   
imaginaram, pois aí é que está a autoria dos sujeitos desta pesquisa. 
   
 
 
23 
Meus 
Desafios 
04 
 
O trabalho docente na Educação Infantil é organizado de maneira que cada                       
turma possua uma professora titular, responsável pela regência da turma, pelos                     
planejamentos, pareceres. E uma professora de apoio/monitora responsável por                 
auxiliar no desenvolvimento do planejamento e acompanhamento das crianças nos                   
momentos cotidianos. Sendo que a quantidade de professora /monitoras é variável                     
de acordo com a idade e quantidade de crianças por turma. 
Foi muito desafiador tentar construir a parceria com o adulto que estava me                         
dando apoio na sala, para que ele não indicasse o que as crianças tinham ou não que                                 
fazer, afinal a proposta era estruturada por mim, mas as descobertas tinham que                         
ser espontâneas, a potência estava nas crianças. Segundo Girardello (2011, p.80)                     
“deve haver um equilíbrio entre a estruturação das atividades pelo adulto e a                         
possibilidade de que as crianças possam brincar sozinhas, livres de supervisão”. 
  Minha parceira fixa na sala desde o início compartilhou esta ideia comigo,                       
mas ao longo do percurso precisou se afastar em alguns momentos e, acabei tendo                           
que explicar mais de uma vez a cada um que entrava na sala, qual era a minha                                 
intenção durante a exploração das crianças. Também nas propostas com a luz                       
negra ou com projeções, tive muitas dificuldades em relação ao entendimento dos                       
adultos para que não deixassem a porta aberta por muito tempo, ou que ao entrar                             
ficassem em silêncio.   
 
 
25 
Figura 01 - autacom_1
Outro grande desafio era o tempo de preparação dos espaços das propostas, 
geralmente levava em torno de uma hora entre a organização do espaço e o 
preparo da proposta. Enquanto eu preparava, a turma estava com minhas colegas 
no lanche e depois no pátio, o que aumentava o ar misterioso e de expectativas das 
criançaspara o que aconteceria no ateliê. Em alguns momentos, a turma já estava 
junta, pois fazia parte da proposta este contato, o que nos revelava o olhar das 
crianças de admiração e encantamento que remetiam ao que estava sendo 
organizado. Fundia-se aqui, um jogo de arte e imaginação, que como nos mostra 
Girardello (2011, p.77), “uma das condições mais frequentemente apontadas como 
favoráveis a imaginação é a possi-bilidade de fruição estética, especialmente o 
contato profundo da criança com a arte”.
Fomos aos poucos, nos adaptando e construindo juntos o trabalho, mesmo 
com os imprevistos. Durante a exploração das crianças nas instalações propostas do 
ateliê supra-sensorial, pude observar o interesse de cada uma, observava e dava 
espaço de exploração. Percebia o que mais buscavam e o que repeliam. Aos poucos e 
com calma pude ao longo deste período perceber o que chamava atenção de cada 
uma, durante suas descobertas com os materiais oferecidos.
DM³ (3 anos e 5 meses), que protagoniza a imagem acima, observava 
através de sua lente, criada com um cone, aquilo que lhe cativava naquele momento. 
Tal como ele, com nossa super lente, eu observava quase que individualmente, cada 
um deles durante o momento das instalações, notei que na maioria das vezes, os 
mesmos se salientavam nas falas e nas descobertas, mas busquei ficar atenta 
também, ao que chamava a atenção dos mais quietinhos e não menos encantados. 
3 Por questões do comitê de ética de pesquisa da UFRGS, optamos em não colocar o nome real das 
crianças. 
27 
Figura 02 - Coleções 1 Figura 03 - Coleções 2
 
Segundo Martins Filho e Barbosa (2010) torna-se necessário o                 
“desenvolvimento de um olhar e de uma escuta atenta e sensível em um diálogo                           
coletivo” para com as crianças (MARTINS FILHO; BARBOSA, 2010, p. 11). E que este                           
olhar certamente nos aproxima de suas vozes, ações, reações, manifestações,                   
relações e ainda nos possibilita ultrapassar o muro que isola a criança do adulto                           
como nos apontam. 
Nos registros de fotos e vídeos, minha dificuldade era tentar captar a beleza                         
que os olhos viam pelas lentes da câmera que muitas vezes, não traduziram o que                             
eu gostaria, pois tendo a possibilidade de vivenciar com as crianças sua                       
participação a cada ateliê proposto, não capturava toda a intensidade de cada                       
momento. Cada cena se tornava indescritível. Era preciso vivenciá-la com a magia                       
que só as crianças possuem. 
Concordo ao pensar sobre as crianças do grupo referido, com Sarmento                     
(apud MARTINS FILHO; PRADO, 2011, p. 55): “Os olhos com que veem esse mundo                           
têm a limpidez e a perturbação dos primeiros olhares; é por eles que descobrem                           
objectos, nexos e sentidos que não é legítimo de modo nenhum menosprezar”. 
 
   
 
 
28 
Os 
Objetivos 
deste 
trabalho 
05 
01 Discutir o trabalho pedagógico inspirado pela arte contemporânea
02 Refletir acerca das possibilidades envolvidas entre o ateliê e a educação infantil
03 Analisar os registros fotográficos, filmagens e anotações obtidas nos momentos vivenciados pelas crianças durante o estágio.
Os 
sentimentos 
envolvidos: 
as mandalas vividas 
com as crianças 
06 
 
Antes de iniciar a descrição das propostas do ateliê, gostaria de tratar sobre                         
um termo utilizado, no momento da descrição da organização de alguns espaços,                       
muito importante para o entendimento do meu envolvimento com este trabalho.                     
Em muitas propostas utilizo ​“mandalas” para circunscrever o espaço de exploração                     
das crianças. Mandala em sânscrito significa círculo de cura, o mundo integral, o                         
círculo na mandala, significa a representação do todo. No Budismo a elaboração de                         
uma mandala é um processo lento e é um ritual sagrado. Fernando da Silva Ramos                             
(2006) nos esclarece ainda que a “mandala cumpre a função de aglutinar o disperso                           
em torno de um eixo e que é antes de tudo uma imagem sintética do dualismo entre                                 
diferenciação e unificação, variedade e unidade, exterioridade e interioridade,                 
diversidade e concentração.” Para Jung (1959) a “mandala é o centro, é o ponto                           
para onde convergem todos os caminhos, é o trajeto ao centro, à individuação”. E                           
ainda esclarece que “um símbolo não traz explicações; impulsiona para além de si                         
mesmo na direção de um sentido ainda distante, inapreensível, obscuramente                   
pressentido e que nenhuma palavra poderia exprimir de maneira satisfatória.” Por                     
isso faço a opção por esta palavra e não círculo, pois apesar de na forma serem a                                 
mesma coisa, existe um sentido desta palavra que é bem maior, pois carregam                         
energias mágicas, significados mágicos de criação com as crianças. 
Por estas simbologias metodológicas acredito que neste trabalho, arte e                   
energia se fundem. Durante a preparação de todas as propostas, fui intensa,                       
integral, pois tudo fazia parte de um ritual, desde a escolha das músicas que                           
ambientavam a proposta aos elementos que iriam compor a cena, portanto a                       
ritualística se fez presente e as energias foram vibrantes do primeiro ao último                         
instante, bem como acontecia com as crianças e comigo durante cada uma das                         
propostas. Sagrado, segundo Houaiss (2008) significa aquilo que inspira ou deve                     
inspirar profundo respeito, assim não sendo utilizado no sentido de deidades, de                       
divino. Meu compromisso com aquelas crianças e com as propostas metodológicas                     
organizadas para elas eram sagradas em todas as suas formações, não se                       
restringindo somente as mandalas. 
No decorrer das preparações sempre era observada por alguém e, inúmeras                     
vezes, ouvi das pessoas que observavam, ou presenciavam as explorações das                     
crianças, que sentiam uma energia maravilhosa ali, ou ainda que ficavam                     
arrepiadas só de olhar. O encantamento era de todos, não só dos observadores, mas                           
dos participantes também. Havia algo como um elo nos unindo, eu vibrava tanto                         
 
 
32 
 
quanto as crianças ao observar seus olhos e suas onomatopeias ao visualizarem o                         
ambiente preparado para eles. 
As expectativas eram muito grandes das crianças, enquanto esperavam a                   
organização do ambiente e eu durante todas as preparações até o momento do                         
deleite. As trocas desses sentimentos envolvidos ao longo deste semestre foram                     
muitas, muitos agradeciam ao final de cada proposta, outros diziam me amar,                       
alguns me beijavam, outros queriam me levar pra casa, à recíproca era verdadeira.                         
Loponte (2008, p.118) nos conta que a arte é feita de possibilidade, de invenção, de                             
criação, de ruptura, do imprevisível, do inesperado e que a infância também é puro                           
acontecimento. Dessa forma se constituía, o modo de com eles pesquisar. 
Esse modo de investigar com as crianças passava pelo apoio e carinho das                         
colegas, desde o acolhimento dos meus planejamentos até cuidados com meu bemestar físico. Sempre muito atentas e amorosas comigo, me senti muito tranquila e                         
em um ambiente propício para que pudesse desenvolver meu trabalho ao longo                       
deste percurso. Das famílias da mesma forma, sempre muito atentas a tudo o que ia                             
acontecendo, colaborativas com materiais inclusive, muito participativas inclusive               
em momentos de reuniões para que eu pudesse expor meu planejamento, ou                       
apresentar o que vínhamos fazendo ao longo do percurso. Amorosas no retorno que                         
me davam de seus filhos. 
Sou muito feliz por saber que apesar da política dos governos atuais, não 
favorecerem muito a pesquisa entre outras formas de valorizar a educação, existem 
pessoas que nos respeitam e acreditam no verdadeiro sentido da educação, o de 
formar cidadãos conscientes e batalhadores por uma sociedade mais justa, 
igualitária de direitos e isso é o que move professores responsáveis e dignos da sua 
formação.   
 
 
33 
O Atêlie 
Supra- 
Sensorial 
07 
Neste capítulo faço uma breve apresentação acerca das minhas intenções e 
inspirações para este ateliê.
Busco apoio em Lella Gandini (2012) nos convida saber que Loris Malaguzzi 
nos apresenta a ideia de ateliê na educação infantil, com a intenção de gerar uma 
revolução no ensino e na aprendizagem nestas escolas para crianças bem pequenas, 
tendo como foco a criança como interacionista e construtivista.
Consoante  com  essa  ideia,  Cunha  (2017)  sugere  que  “as  demandas  das  
crianças  pequenas,  de  fato,  são  exploratórias  como  o:  amassar,  rasgar,  furar, 
molhar,  provar,  roçar  pelo  corpo  materiais,  ações  comuns  que  devem  ser  
incentivadas  e  nunca  controladas”  (CUNHA,  2017,  p.13),  reafirmando  as  ideias 
de interacionismo  e  construtivismo,  sugeridas  na  intenção  de  Malaguzzi  (apud  
GANDINI,  2012).  Cunha  (2017)  ainda  defende  que  as  crianças  tenham  a 
oportunidade de interagir, experimentar, criar, aprender com a arte de seu tempo e 
não apenas com a do passado. E Loponte (2008) faz uma belíssima relação entre a 
arte  e  a criança, dizendo que “de algum modo, de alguma forma, a arte diz, pinta,  
canta,  dança, imagina, fantasia o que dizem as crianças. Ou que ainda poderíamos 
dizer  o  modo  com  a qual a arte diz coisas sobre a vida e o mundo tem a ver com o  
modo  com  o  qual  as  crianças  dizem,  com  que  interpretam  esse  mesmo 
mundo” (LOPONTE,  2008,  p.112).  Zordan  (2005),  ao  destacar  o  acontecimento  
que  a  arte  provoca na aprendizagem, salienta: 
36 
Figura 04 - autacom_2
Por essas constatações, entre outras, “a 
grande ‘novidade’ da arte contemporânea 
é, então, transformar os sujeitos, antes 
espectadores passivos, em sujeitos criati-
vos, ativos, que participam e expandem 
seus pensamentos e imaginação a partir 
das obras” (CUNHA, 2017, p.15). Este pens-
amento apresenta-se como um propulsor 
para as propostas deste ateliê para esta 
turma.
O que é importante para o campo 
educacional é a função que a arte tem no 
acontecimento da aprendizagem. Sem a 
captura sensível dos signos materiais e sua 
transmutação ― a redescoberta do tempo 
perdido, do tempo mundano e enganoso que 
se passou ― não se aprende. Não aprender 
supõe que não se faça na vida, arte 
(ZORDAN, 2005, p. 264).
Figura 05 - Roda dos Prazeres 1
Figura 06 - Roda dos Prazeres 2
Proposta do ateliê, a partir da obra
“Roda dos Prazeres” de Lygia Pape
SEN
TIDOS
OLHA
RES
 Sobre os SENTIDOS, as vivências das 
crianças, conforme Lygia Pape que ensina 
ser necessário trabalhar o olhar, pois existe 
aprendizado e que para ver algo, basta ele 
existir, tudo está aí, pronto para ser 
revelado e eu acrescentaria que para que isto 
aconteça, a professora precisa ser atenta e 
também ter muitos OLHARES, sentir. 
 Hélio Oiticica nos convida a pensar sobre sua proposta SUPRA-SENSORIAL 
(1967), na qual os objetos são caminhos e as propostas não existem sem a 
participação do público. Pensando nesta afirmação pensava como propor uma 
atividade, um espaço, um lugar de interação, no qual as crianças estando presentes 
dessem sentido ao que disponibilizei e de que maneiras fazer, para que não fosse 
necessário o convite verbal à exploração aos elementos.
 Lygia Clark, pensando no corpo como memória, um corpo que sente, vive, 
tem em seu trabalho propostas voltadas para o corpo, visando ampliar a percepção, 
retomar memórias ou provocar diferentes emoções, como no curta “Memória do 
Corpo” (1984) e na exposição "A casa é o corpo", propostas que inspiraram muitas 
de minhas ações e pensares com as crianças, propostas que me sugeriram 
visceralidade.
Figura 07 - Parangolés 1
Figura 08 - Coleções 3
 
Também pensando na relação sujeito-objeto, estabelecida por Bispo do                 
Rosário, a partir dos objetos de suas coleções e mesmo nas possibilidades que ele                           
encontra para fazer suas coleções e preparar os materiais necessários para suas                       
criações. Inspiro-me nessas relações ao propor os espaços para possibilitar as                     
criações das crianças. Possibilitar a experiência naquilo que ela tem de mais                       
visceral, daquilo que toca, tendo em vista que, 
 
Numa realidade cada vez mais cerebral e padronizada, nossa apreensão tátil                     
do mundo vem se perdendo enquanto forma do saber, na medida em que                         
nossas mãos não se exercitam no ofício de tocar sensivelmente, de tocar com                         
vistas ao prazer e à sabedoria que as coisas podem nos proporcionar pelo                         
contato com a nossa pele (DUARTE JR., 2010, p.101). 
 
Visceral como o que aparece no vídeo do Programa Campus , da Universidade                         
do Estado do Rio de Janeiro, podemos ler a frase do próprio Bispo que compara os                               
loucos aos beija-flores, sugerindo que estão sempre flutuando. E com este                     
pensamento, exponho meu desejo de que então professoras e crianças possam ser                       
como loucos e beija-flores e, que nos seus momentos de criação, possam sempre                         
tirar os pés do chão e sentir prazer.  
Colorindo com um trecho da crítica de Lázaro (2012) à arte de Alexandre                         
Navarro Moreira, sugeri que a ideia deste ateliê fosse dotada destas tão magníficas                         
sensações. E assim ensina: 
 
Os desenhos-pinturas de Alexandre são repletos, por isso mesmo, de                   
descoberta, de surpresa, de um colorido nas nuances de cinza, de preto e de                           
branco que dá sentido épico ao próprio desenvolvimento do lirismo. Há                     
mesmo, em numerosas passagens suas, uma espécie de frêmito de extrema                     
expansão do imaginário do desenho pelo artista, que nos faz entrar na sua                         
pintura feita por apenas papel e lápis, um sinal dos novos tempos. Seus                         
desenhos parecem olhos da infância, que se descobre ao olhar (LÁZARO,                     
2012). 
 
Desta maneira quero esclarecer que estes artistas e suas obras, foram fontes                       
de inspiração e não foi intenção em nenhuma proposta fazer releituras de suas                         
obras, mas sim buscar a partir das ideias destes artistas a essência para a                           
idealização de cada elemento que seria utilizado para compor cada proposta. 
   
 
 
40 
Com estas ideias e com a certeza de que assim como na arte contemporânea,                           
o sujeito não é mais um simples expectador e sim ativo e criador, além de                         
participativo, acredito ter possibilitado momentos de expansão do olhar, dossentidos, das emoções destas crianças. Ao observar seus gestos, olhares,
movimentos, interações, ao perceber suas reações, ao receber o retorno das                     
famílias, quando relatavam como as crianças narravam o que estavam vivenciando,                     
podia perceber que minhas aspirações estavam presentes ali. 
41 
Figura 09 - autocom_3
As 
Meto 
dolo 
gias 
do Atêlie 
08 
As propostas surgiram a partir da observação e escuta atenta aos interesses                       
demonstrados cotidianamente pelas crianças em seus relatos, suas ações,                 
interesses, e brincadeiras, as quais me levaram a uma pesquisa sobre algumas                       
obras de artistas contemporâneos que eu já conhecia, admirava e pensava como                       
poderia fazer a aproximação destes artistas às crianças, por sentir falta disso. 
Inicialmente inspirada por um livro organizado por Susana Rangel Vieira da                     
Cunha (2012, p.31) no qual ela fala da importância da diversidade de materiais                         
oferecidos às crianças, especialmente na educação infantil. Ainda inspirando-me                 
com a recente publicação de outro livro, este organizado por ela e Rodrigo Saballa                           
de Carvalho, sobre “A Arte Contemporânea e a Educação Infantil” (2017), no qual                         
ela refere esta arte como “a arte do nosso tempo para as crianças de hoje”. 
Desta forma a presente pesquisa parte de uma pesquisa-ação, definida por                     
Tripp (2005) como toda forma “continuada, sistemática e empiricamente                 
fundamentada de aprimorar a prática” (TRIPP 2005, p.443) e parte também de                       
uma pesquisa com crianças que tem como foco as transformações “no âmbito da                         
educação e do cuidado da criança em todas as esferas da vida social” (DORNELLES;                           
LIMA 2018, p.125). Por essas escolhas, concordo com Martins Filho e Barbosa                       
(2010) que apontam como consenso de que em “investigação com crianças é                       
necessário lidar com mais de um procedimento metodológico para compreender o                     
fenômeno que se quer estudar” (Martins Filho; Barbosa, 2010, p.21). 
A escolha pelos artistas foi feita a partir das minhas memórias, de algumas                         
conversas com meus irmãos, graduados em artes visuais pela UFRGS, assim como                       
as memórias das obras de outros artistas que me inspiraram e me encantaram em                           
outros momentos da minha vida. Mas além das minhas memórias recorri aos sites,                         
aos livros, catálogos e aos vídeos dos próprios artistas. 
A escolha pela arte contemporânea e não por outra, foi em função do que                           
pude observar ao longo do tempo no qual convivi com as crianças desta turma, que                             
me mostravam seu imenso interesse em propostas sensoriais e exploratórias e                     
acredito que nenhuma outra arte poderia proporcionar de maneira tão intensa                     
quanto a arte contemporânea, nem mesmo em outras propostas como a culinária                       
teríamos oportunidade de diversidade de materiais e possibilidades como esta arte                     
nos proporciona, além da minha intenção de aproximar o artista contemporâneo e                       
sua arte às crianças. 
44 
O ateliê organizava-se com uma proposta diária, com a regularidade de                     
quatro dias por semana, em uma sequência de treze semanas de propostas, as quais                           
foram antecedidas por duas semanas de observação da turma. 
Para cada proposta, planejava-se a sua organização em um croqui, que                     
tinham como finalidade a organização prévia do espaço e materiais necessários                     
para a execução de cada proposta, tratando-se de uma das solicitações que                       
compunham o planejamento do estágio curricular. A proposta inspirada na obra a                       
“Roda dos Prazeres”, demonstrada abaixo, primeiramente na imagem do croqui, e                     
seguidamente no espaço organizado para as crianças.  
45 
Para ambientar as propostas, fiz uma seleção de músicas que estavam                     
presentes diariamente, com exceção da proposta inspirada nos “Parangolés”, na                   
qual realizei uma seleção de sambas enredo da Mangueira (Escola de Samba do Rio                           
de Janeiro). 
O planejamento diário era formado por: objetivos da proposta, tempo, local 
que seria realizada a proposta, contando com possibilidades climáticas, favoráveis 
ou não, com a adequação do espaço e a proposta, a descrição do espaço, pensando 
como seria a organização do espaço, seu croqui, a listagem dos materiais que seriam 
utilizados naquele momento e, finalmente, a estrutura da proposta, na qual era 
descrito como seria o início, como aconteceria à ação com as crianças durante e 
como seria a finalização. O planejamento estava pronto sempre com uma semana ou 
mais de antecedência, o que não implicaria, sempre que necessário sua 
reorganização ou modificação.
A maioria das preparações das ambiências levava em média 40 minutos à uma 
hora até que estivesse finalizado para receberem as crianças, geralmente era o 
horário do café da manhã e do pátio que eu utilizava para organizar, enquanto as 
crianças estavam com minhas colegas. O tempo de exploração das crianças variava 
de proposta a proposta, mas o interesse e o envolvimento eram visíveis, mesmo que 
não tocassem em nada logo no primeiro contato, percebia que em alguns momentos 
exploravam com os olhos e depois de determinado tempo iniciavam a exploração 
com outras partes do corpo.
46 
Figura 10 - Roda dos Prazeres 3 Figura 10 - Roda dos Prazeres 4
 
que pudesse retomar cada proposta e observar o que talvez pudesse ter perdido                         
como nos mostram Martins Filho e Barbosa (2010, p. 22 e 23) ao afirmarem que a                               
fotografia mostra sempre o passado lido aos olhos do presente, embora já não seja                           
o mesmo passado, mas sua leitura ressignificada e que a filmagem é uma maneira                           
de obter dados os mais próximos possíveis ao movimento das crianças. 
As anotações eu fazia logo que chegava em casa, enquanto revisava e                         
rememorava o momento com as crianças, algumas falas foram anotadas em um                       
bloco enquanto ainda estava com as crianças. Francischen (1999, p.171) define que                       
“pesquisa-ação na educação é o processo de investigação da ação e pela ação, que                           
possibilita a melhoria da prática pedagógica e a produção de conhecimento”. 
Por essas razões Martins Filho e Barbosa (2010, p.14) nos apontam que a                         
“criança nos fala de muitos jeitos e que com base nessa crença a criança passa a ser                                 
compreendida como sujeito principal, em primeira mão, a dar informações aos                     
investigadores”, pois são os sujeitos privilegiados para o pesquisador perguntar,                   
observar, conversar, fotografar, filmar e registrar em suas pesquisas. 
As observações eram feitas com foco em uma ou duas crianças por proposta,                         
mas todas as propostas eram realizadas com todo o grupo, que se fazia presente                           
por completo, em quase todas as manhãs. No decorrer dessas raramente mais de                         
uma criança ficava concentrada no mesmo espaço em que a outra estava, eram                         
muitos os elementos em cada uma delas e muitos os convites para explorações,                         
dentro da mesma ambiência haviam vários gruposde experimentações ou até                     
mesmo algumas crianças que preferiam fazer sua experimentação quietinha em                   
algum “cantinho”. 
Antes de iniciar cada exploração, as crianças eram chamadas por mim com o                         
som de um pandeiro, todos vinham correndo saber qual era a “novidade” do dia,                           
como eles referiam as propostas. S. (3 anos e 11 meses) encaminhava os perdidos no                             
pátio anunciando: “Pussual, a Déia bateu o ‘tambeiro’, vamo lá! A gente vai fazê                           
alguma coisa.” 
Quando todos estavam reunidos, fazíamos algumas combinações de               
cuidados do corpo, do espaço, dos materiais, com os colegas. Iniciava a conversa                         
perguntando o que eles achavam importante cuidarmos durante a exploração da                     
atividade, então logo vinha à primeira determinação da turma, quase em uníssono:                       
“não pode bater e nem empurrar”. E isso variava conforme o que acontecia no dia                             
anterior, ou eu acrescentava coisas ou eles, isso fazia parte da nossa rotina, avaliar                           
 
 
47 
 
coletivamente os cuidados que eram necessários aos momentos de exploração no                     
ateliê. 
Sobre as explorações não havia uma combinação prévia, eles ficavam livres,                     
dentro das nossas combinações de cuidados, para fazer o que imaginavam ser                       
possível com os elementos disponíveis. Eu interferia somente quando era solicitada                     
por eles, ou quando havia necessidade de mediação de algum conflito, caso não                         
conseguissem se organizar sozinhos. Ao final das propostas, as crianças eram                     
convidadas a retornarem à sala para que pudéssemos organizar a turma, fazer a                         
higiene e levá-los ao almoço com minhas colegas. O espaço era organizado                       
posteriormente por mim e pelas gurias da limpeza, colegas muito parceiras destes                       
momentos. 
Ao estabelecer a temática condutora para o trabalho com as crianças, no                       
“ateliê supra-sensorial”, sentei com a diretora da escola, Grasiele Clack                   
Schumacker, para conversar sobre a preocupação com a divulgação das imagens                     
das crianças. Então resolvemos chamar os pais para contar sobre o que estava                         
planejado para as crianças naquele semestre e fazer uma conversa sobre o meu                         
trabalho. Nesta reunião expliquei o que seria trabalhado, falei dos materiais que                       
seriam utilizados e adiantei sobre a possibilidade deste material ser publicado em                       
meu TCC e esta foi a primeira reunião que tivemos, pois tivemos essa no início,                             
uma para contar como estávamos indo e a última para apresentar todo o trabalho                           
junto com a proposta de exploração dos pais com as crianças. Tive apoio irrestrito                           
dos pais e direção da escola, menciono devido a tamanha importância que tiveram                         
em minha trajetória neste semestre e ainda tem. 
Fiz um termo de consentimento para que os pais autorizassem a publicação                       
das fotos das crianças. Durante a reunião que realizei para esclarecimentos sobre o                         
meu planejamento, apresentei o termo construído, lendo e explicando passo a                     
passo e ao final pedi que se não concordassem com qualquer item ali mencionado                           
me falassem para que eu modificasse. Não pediram nenhuma alteração, então no                       
dia seguinte fiz a impressão do termo, uma cópia para cada família e as originais                             
para ficarem comigo. 
   
 
 
48 
O termo de assentimento é o nome que damos para o aceite da criança na                             
participação da pesquisa. Fiz o termo, levei impresso e fui explicando pra turma                         
cada item do termo, depois cada um colocou sua marca e combinamos que quem                           
não quisesse participar deixaria o seu sem assinar, ou sem deixar sua marca.                         
Martins Filho e Barbosa (2010) ao nos interrogar sobre a quem devemos pedir                       
consentimento para realizar a pesquisa e se as crianças deveriam ser consultadas                       
sobre a realização da mesma, já nos respondem nas entrelinhas ao esclarecer sobre                         
quem são os sujeitos da pesquisa e por esses motivos percebo a importância deste                           
termo na minha investigação.  
Quando as propostas dos ateliês foram concluídas chamamos novamente os                   
pais para que apreciassem em fotos e vídeos todas as maravilhas vivenciadas por                         
seus filhos e, como surpresa apresentamos uma proposta parecida com uma já                       
experienciada pelas crianças, para que os pais pudessem sentir o gostinho. Foi um                         
momento de agradecimentos e boas emoções. Por esses e outros motivos                     
compactuo com Adelina Baldissera (2001) que salienta que este tipo de pesquisa                       
não é um simples levantamento de dados e que para alcançar o objetivo proposto é                             
necessário que se estabeleçam relações entre o conhecimento e a ação, entre os                         
pesquisadores e pessoas implicadas na situação investigada. Sobre a pesquisa com                     
crianças Dornelles e Lima (2018, p. 142) apontam que “passamos a estar atentos às                           
suas múltiplas linguagens, aos sentidos que atribuem às coisas do mundo,                     
trejeitos, emoções, modos de dizer o que querem, gostam e pensam”. Elas nos                         
alertam para que ao utilizarmos esta metodologia, a voz do adulto se espraie, que                           
seja minimizada e que a voz da criança seja realmente ouvida, que não seja mera                             
coadjuvante, mas autora.  
49 
Figura 12 - autacom_4 Figura 13 - autacom_5
Artistas 
que 
Inspiraram 
o Atêlie
09 
 
Hélio Oiticica (1937-1980) 
Apresentei Hélio Oiticica às crianças,           
artista plástico brasileiro, sendo a sua           
principal característica a experimentação,       
realizou sua primeira obra em 1954, quando             
começou a frequentar o curso de pintura de               
Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio                 
de Janeiro. Entre 1955 e 1956, participa do               
Grupo Frente e em 1959 passa a integrar o                 
Grupo Neoconcreto (juntamente com       
Ferreira Gullar, Lygia Pape e Lygia Clark).             
Em 1960 que começa a pensar sua obra com a                   
participação do espectador com a obra Penetrável, o PN1. Em 1963, faz os primeiros                           
Bólides e dois anos depois os Parangolés. Em 1967, mostra na exposição Nova                         
Objetividade Brasileira, a obra Tropicália. Obras destacadas por mim, por suas                     
importâncias em meu trabalho. 
 
“Tropicália” me inspira na proposição, demonstrada abaixo, na qual                 
disponibilizei às crianças vários elementos, como: água, areia, pedras, madeira,                   
serragem, folhas secas. Inicialmente circunscrevi o espaço com tecidos, lembrando                   
os “Penetráveis” do próprio Oiticica. Depois disponibilizei os materiais em                   
bandejas de plástico ou sobre um tecido utilizado em outra proposta e contendo                         
“marcas” das crianças.    
 
 
40 
Figura 14 - Tropicália 1
Quando as crianças chegaram ao ambiente proposto, sem precisarem serconvidadas, entraram pelo local no qual imaginei ser à entrada do ambiente e logo                           
se espalharam aos sons de “uauuuuu”, “nossaaaaa”, “uhullll” que eu ouvia                     
enquanto eles se movimentavam pelo espaço do pátio, entre panos e trapos. Alguns                         
me agradeciam dizendo “Déia que lindo! Eu te amo!”, ou “Déia tu é linda, eu te                               
amo!”, entre outras frases cheias de muito amor, não só nas palavras, mas                         
principalmente nos olhinhos de encantamento. 
A maioria inicia a exploração na bandeja com água, M. (3 anos e 11 meses)                             
começa jogando serragem dentro dela e logo todos vão acrescentando outros                     
elementos e aquele pequeno espaço se transforma em um gigante sensorial, no                       
qual todas as sensações são permitidas. A cada elemento que vai sendo acrescido a                           
bandeja de água, acontece uma festa das crianças depois de cada efeito causado do                           
elemento em queda ou chegando até a água. Em outro espaço, com um pouco                           
menos de adesões, no qual estão disponibilizadas as bandejas de pedra brita e areia                           
sobre um pedaço grande de juta, D. C. (3 anos e 11 meses) faz suas explorações no                                 
tecido e ali permanece por um tempo, como se estivesse em um barco, depois se                             
junta aos colegas. 
52 
Figura 15 - Tropicália 2 Figura 16 - Tropicália 3
Ao final da exploração, a bandeja que inicialmente tinha água, agora continha 
todos os outros elementos disponibilizados no espaço, tudo virou uma grande 
meleca sensorial, um grande ponto de cores, texturas e sensações. Percebo assim 
que toda a criança tem um modo de fazer suas artistagens, suas descobertas e 
experimentações. Foi oferecendo muitas possibilidades de criação, diversos e 
diferentes materiais que, eles colocaram para dentro e levaram para fora deles, o seu 
modo de entender e curtir as coisas do mundo. Os parangolés da infância!
53
Figura 17 - Tropicália 4
54 
 Os “Parangolés” estiveram presentes além do momento no qual foi 
proposto, pois o envolver-se foi presente enquanto existiram possibilidades. Para 
Oiticica um manifesto, para mim uma inspiração, para as crianças um universo em 
criação.
Na proposta, ilustrada pela imagem acima, disponibilizei as capas feitas de 
sacos de farinha, pintados pelas crianças em formato de mandala, sobre um tecido 
no chão. No gramado, disponibilizei outros tecidos coloridos e circunscrevendo o 
espaço, fiz varais de tecido e na frente deles outro varal com as fotos dos artistas das 
primeiras propostas (Lygia Pape, Lygia Clark e Hélio Oiticica) e de algumas obras, 
sobre pinturas feitas pelas crianças em quadrados de papelão.
O som que ambientava a proposta 
eram sambas da Mangueira (escola de 
samba do Rio de Janeiro) para que, 
assim como na ritualística da 
montagem do espaço, o manifesto de 
Oiticica pudesse fazer parte deste 
momento não só na inspiração, mas 
no sentido de uma maior aproximação 
com a sensorialidade. Ao chegarem ao 
ambiente, escuto R. (3 anos e 9 meses) 
dizendo:
“Genteeee! É carnaval!”
Figura 18 - Parangolés 2
Figura 19 - Parangolés 3
Figura 20 - Parangolés 4 Figura 21 - Parangolés 5
Os  “Bólides”  também  foram  muito  inspiradores,  apareceram  nas  mais 
variadas  propostas,  entre  elas  e  uma  das  mais  encantadoras  foram  os  “Ovos 
Bólides” . Dentro de cascas de ovos, coloquei com a ajuda de seringas os pigmentos  
(corantes) com grude (cola caseira feita de farinha), mistura que utilizei em todas as 
propostas com tintas para que a quantidade de tinta fosse em quantidade 
abundante, tendo em vista que precisava “baratear” os custos, pois nesta mistura eu 
utilizava apenas uma colher de tinta para meio litro de grude.
Organizei o espaço em frente a escola, com um cercado de classes forradas                         
com tecidos e ao longo deste cercado, sobre as mesas, disponibilizei bandejas de                         
ovos recheados e copinhos plásticos com a mesma mistura da tinta. Tive ajuda de                           
colegas para poder chegar com segurança neste espaço, pois estava com uma turma                         
de 14 crianças em plena avenida movimentada de Porto Alegre. A proposta era                         
descobrir o que aconteceria ao jogarmos os ovos no painel na frente da escola. 
55 
Figura 24 - Bólides 3 | C.
(C. - 3 anos anos e 8 meses)
cantarolava durante suas
produções
Figura 25 - Bólides 4 | D.C. e M.X.
(D.C. - 3 anos anos e 8 meses e M.X. - 4 anos)
brincaram com o corpo
e as sensações
Figura 26 - Bólides 5 | M.E.
(M.E. - 3 anos anos e 11 meses)
 experimentou com
todo o corpo
Figura 22 - Bólides 1 Figura 23 - Bólides 2
M  experimentava  e  escorregava  tentando  equilibrar-se.  Acabou  utilizando  
as  palhas  que  estavam  no  chão  para  fazer  sua  produção  no  painel.  Ao final da 
proposta, tínhamos uma bela obra de arte na frente da escola. 
 
Durante o decorrer desta proposta, a euforia da chegada foi dando lugar à                         
concentração, cada um em um canto, 
[...] sem que ninguém à sua volta perceba, a criança elabora hipóteses                       
em silêncio, cria estratégias e enredos a partir do que já conhece,                       
experimenta a liberdade radical da imaginação que, movida pela                 
curiosidade e assegurada pelo adulto em seu ambiente, dá-lhe base                   
para formulações cada vez mais complexas em seu conhecimento de                   
mundo (GIRARDELLO, 2011, p.80). 
56 
Figura 27 - Bólides 6
 
Lygia Pape (1927-2004) 
Apresentei às crianças - Lygia Pape - uma               
artista plástica brasileira, escultora,       
gravadora, cineasta. Estudou com Fayga         
Ostrower no Museu de Arte Moderna do Rio de                 
Janeiro. Participava dos mesmos grupos nos           
quais Hélio Oiticica participou. Após a morte             
de Hélio Oiticica, Lygia organizou com o             
artista gráfico Luciano Figueiredo e o poeta             
Waly Salomão, o Projeto Hélio Oiticica (HO),             
destinado a preservar e divulgar a obra do               
artista.  
Sua obra é marcada pela liberdade com que               
experimenta e manipula as diversas         
linguagens e por incorporar o espectador           
como agente ativo. Destaco suas obras “Roda             
dos Prazeres” ​(1968) e ​“Divisor”​ (1968), por suas importâncias ao meu trabalho.  
A ​“Roda” era uma proposta com 16 bacias, em formato circular e em cada                           
uma delas anilina, água e sabores, as anilinas eram 4 cores que iam se alternando e                               
o espectador. Ativamente participavam experimentando com os conta gotas                 
disponíveis entre as bacias, sobre pratinhos. Minha proposta inspirada nesta obra                     
continha: potes de plástico brancos com uma mistura de grude e corantes; conta                         
gotas com essências (chocolate, limão e morango); pincéis feitos com ​hashi​, atílio e                         
palha de milho secas; quadrados de tecido branco e quadrados de papelão.   
 
 
57 
Organizei o espaço no pátio da frente da escola em formato de mandala.                         
Sendo esta a primeira proposta do Ateliê “Supra-Sensorial”. 
Ao chegarem no espaço, as crianças exploraram os materiais de todas as                       
formas possíveis. M. (3 anos e 10 meses) deu início as transformações das cores,                           
inicialmente o A. (4 anos) estranhou e logo me disse: “Déia, óia ali, óia ali o que ele                                   
fez!”, com um tom de repreensão. Mas quando eu disse que havia visto e ele                             
percebeu que tudo estava

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