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Artigo esporotricose - Camila A Leme

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A Esporotricose e o surto na Cidade de São Paulo
LEME,Camila; BELTRAME, Registila Libania
milaaleme@gmail.com Centro de Pós-Graduação Oswaldo Cruz
Resumo: As dermatomicoses estão presentes em todo o mundo, sendo prevalecentes de regiões subtropicais e tropicais, uma das micoses mais presentes na América Latina é a Esporotricose. A Esporotricose é considerada uma zoonose e tem como agente etiológico fungos do gênero Sporothrix, e afetam sobretudo felinos e humanos. É de grande interesse na saúde pública visto que o número de casos teve um aumento significativo, particularmente o Estado de São Paulo no Sudeste do país. Os humanos podem ser infectados de duas formas, mediante o contato direto com solo contaminado ou plantas, sendo que o fungo se aloja no solo rico em resíduos orgânicos, vegetações em decomposição, ou através de arranhaduras e mordeduras de animais contaminados (sobretudo o gato) e até mesmo o contato com as lesões desses animais. Enquanto os felinos, podem se infectar ao ter contato com o solo contaminado e arranhando árvores, sendo comum esse tipo de comportamento, sendo assim o maior disseminador da doença, pois é normalmente é o que tem maior contato com o fungo no solo, outra forma de disseminação entre os gatos é através de brigas. A doença pode se manifestar de três formas, a cutânea, a linfocutânea e a sistêmica. Em humanos a forma mais comum é a linfocutânea e se apresenta de modo mais moderado, com lesões mais brandas, já os felinos costumam apresentar mais de duas formas, das quais a mais corriqueira é a cutânea, tornando-os mais afetados, podendo haver necrose dos tecidos, particularmente na região facial e nasal. O tratamento é realizado com antifúngicos, por um período prolongado, devendo haver cautela durante esse período pois há risco de transmissão, sendo necessário impedir o contato do animal infectado com outros animais e pessoas devem tomar os devidos cuidados. Sendo essa uma zoonose em expansão com um grande número de casos e o aumento de animais de estimação, especialmente os gatos, é necessário a consciencialização da sociedade, ao que se refere aos riscos e precauções com animais, mantendo-os em domicilio, castrando-os, limpando e cuidado regularmente de jardins, a fim de atenuar a incidência dessa zoonose. 
Palavras-chave: Esporotricose, fungos, felinos, humanos.
Abstract: Dermatomycoses are present all over the world, being prevalent in subtropical and tropical regions, one of the most common mycoses in Latin America is Sporotrichosis. Sporotrichosis is considered a zoonosis and its fungi of the genus Sporothrix are the etiologic agent, and affect mainly felines and humans. It is of great interest in public health since the number of cases has increased significantly, particularly in the State of São Paulo in the Southeast of the country. Humans can be infected in two ways, through direct contact with contaminated soil or plants, and the fungus lodges in soil rich in organic residues, decomposing vegetation, or through scratches and bites of contaminated animals (especially the cat) and even contact with the injuries of these animals. While felines can become infected by having contact with the contaminated soil and scratching trees, this type of behavior is common, thus being the greatest disseminator of the disease, as it is usually the one that has the greatest contact with the fungus in the soil, otherwise of dissemination among cats is through fights. The disease can manifest itself in three ways, cutaneous, lymphocutaneous and systemic. In humans, the most common form is lymphocutaneous and presents itself in a more moderate way, with milder lesions, whereas cats usually have more than two forms, of which the most common is the cutaneous, making them more affected, and there may be necrosis. tissue, particularly in the facial and nasal region. The treatment is carried out with antifungals, for a prolonged period, and there must be caution during this period as there is a risk of transmission, and it is necessary to prevent the contact of the infected animal with other animals and people must take due care. As this is an expanding zoonosis with a large number of cases and the increase in pets, especially cats, it is necessary to raise awareness of society, regarding the risks and precautions with animals, keeping them at home, castrating them them, regularly cleaning and taking care of gardens, in order to mitigate the incidence of this zoonosis.
Key words: Sporotrichosis, fungus, feline, humans.
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1. INTRODUÇÃO
 A Esporotricose é uma dermatomicose subcutânea, crônica ou subaguda, causada por fungos da espécie Sporothrix, alcançando pelo menos seis espécies (ANTUNES et al., 2009, VÁSQUEZ-DEL-MERCADO et al., 2012): S. schenckii, S. mexicana, S. globosa, S. Brasiliensis, S. pallida e S. luriei (RODRIGUES et al., 2014). Foram isoladas no Brasil as quatro primeiras espécies. (RODRIGUES et al., 2014). Esporotricose já foi apontada em diversas espécies animais que incluem cães, gatos, ratos, equinos, tatus, bovinos, suínos, caprinos, asininos, hamsters, aves domesticadas e humanos (GINN et al., 2007, TÉLLEZ et al., 2014), porém a maior incidência é em gatos (LACAZ, 2002, GINN et al., 2007).
Sporothrix schenckii é um fungo dimórfico e é considerado a principal espécie relacionada à Esporotricose (GINN et al., 2007, HOWARD, 1960), sapróbio e geofílico, com ampla distribuição em meio ambiente, encontrado facilmente em solo em decomposição rico em matéria orgânica, acúleos e espinhos de plantas, musgos e madeiras (ANTUNES et al., 2009, LOPES-BEZERRA et al., 2006). Essa é uma doença tida como ocupacional, para aqueles que lidam com materiais vegetais, plantas ou solo (SCHUBACH et al., 2012, GINN et al., 2007). Sendo essa uma zoonose, sua disseminação pode se dar através de arranhões ou mordidas dos animais infectados especialmente os felinos, devido ao grande número de leveduras encontradas nas lesões, e por transportar o agente em suas unhas e cavidade oral (ANTUNES et al., 2009; SCHUBACH et al., 2012; SOUZA et al., 2006).
O fungo é habitualmente dissipado em regiões tropicais e temperadas, sugerindo que a umidade relativa do ar e a temperatura atmosférica possam interferir no crescimento do fungo em sua forma saprofítica (GINN et al., 2007, DÍAZ, 1989). É considerada endêmica na América Latina, e no Brasil é endêmica no Estado do Rio de Janeiro, no qual se observou um aumento exponencial de casos a partir do ano de 2000 (DÍAS, 1989; BARROS et al., 2010). Em São Paulo, no ano de 2011, foi identificado pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), o primeiro surto na cidade, até o ano de 2018 foram diagnosticados 955 gatos e 13 cães com essa zoonose. Em ambos os estados S. brasiliensis (a espécie do complexo Sporothrix mais virulenta) tem sido apontado como o agente prevalecente em gatos, sendo sua ocorrência é limitada às regiões Sudeste e Sul do País (RODRIGUES et al., 2014).
A relação das formas clínicas empregadas em humanos, extracutânea ou sistêmica, cutâneo-linfática e disseminada ou cutânea localizada, não é aplicada em gatos e cães, visto que constantemente eles apresentam mais de uma forma concomitantemente (LACAZ 2002, TÉLLEZ et al., 2014, GINN et al., 2007, SCHUBACH et al., 2015). Usualmente a transmissão ocorre pela pele, entretanto pode haver inalação, originando a forma extracutânea (BARROS et al., 2010, DÍAZ 1989).
O início da infecção se dá com a inoculação do fungo, penetrando no tecido atingindo as camadas mais profundas, ocorrendo a transição micélio-levedura, podendo durar em média 13 dias. (ANTUNES et al., 2009). A levedura pode acondicionar-se no subcutâneo (zona da inoculação) e na derme, disseminando-se por meio de drenagem linfática ou sistemicamente pelos vasos sanguíneos (SCHUBACH et al., 2015).
Nos felinos, a Esporotricose expressa-se clinicamente com lesões cutâneas nodulares ou em placas, alopécicas, firmes, indolores que ulceram ou fistulam, secretando exsudatos serossanguinolento (GROSS et al., 2009).Histologicamente, verifica-se uma resposta inflamatória fundamentalmente granulomatosa, variando quanto ao prevalecimento de células epitelióides ou macrófagos (MIRANDA et al., 2013).
A diagnose de Esporotricose consiste no isolamento e identificação do fungo em cultura (CHOMEL, 2014). Podendo ser detectada através da relação de dados clínicos, laboratoriais e epidemiológicos. O diagnóstico laboratorial compreende o exame histopatológico ou o exame direto (citologia do exsudato das lesões) (BARROS et al., 2011).
O objetivo do trabalho foi retratar os aspectos gerais da Esporotricose felina, e sua incidência na Cidade de São Paulo, sendo essa uma zoonose de risco a saúde pública, e sua transmissão para os humanos, com o auxílio de revisões de literatura.
	
2. A Esporotricose
A Esporotricose é uma micose causada pelo fungo Sporothrix schenckii, sendo esse um fungo dimórfico, nos tecidos infectados assume a forma leveduriformes e in vitro a forma de micélio. Facilmente isolado em solo e em locais com vegetações e rico em matéria orgânica vegetal e animal, encontrado em madeiras, espinhos e acúleos, sendo considerado um fungo saprófito. (CARDOSO et al., 2015, ANTUNES et al., 2009, LOPES-BEZERRA et al., 2006).
A ocorrência de casos em humanos, especialmente os que se infectam atráves de gatos e que residem em regiões menos desenvolvidas, vem crescendo (SILVA et al., 2012). Muitos estudos relatam casos nas regiões Sul e Sudeste, sobretudo nos estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo (BARROS et al., 2010; DÍAS, 1989; RODRIGUES et al., 2014; CASTRO, 2016).
Atualmente, por meio de estudos genotípicos e morfológicos de diversas cepas, foi descoberto que S. schenckii é um grupo de espécies crípticas, correspondendo as seguintes espécies: S. globosa, S. luriei, S. mexicana, S. schenckii, S. pallida (previamente conhecida por S. albicans) e S. brasiliensis, sendo todas correlacionadas a ocorrências da doença no país, mas a última demasiadamente patogênica e virulenta, vinculada com epidemias em São Paulo e Rio de Janeiro (CASTRO, 2016; SILVA et al., 2015). No ano de 2016, Castro, analisou as particularidades fenotípicas e moleculares de 246 amostras de indivíduos, atendidos no centro de pesquisa clínica em dermatologia infecciosa, encontrado no Fiocruz/IPEC, e constatou que a espécie S. brasiliensis é predominante, presente em 84,3% dos isolados. Assim sendo, a Esporotricose é apontada como uma doença emergente sendo necessário medidas imediatas para controle (SILVA et al., 2012).
Os episódios de Esporotricose em animais, especificamente em gatos, e sua disseminação em humanos têm sido retratadas em inúmeros países, apesar disso, os contágios em humanos podem dar-se meio a atividades profissionais, acometendo jardineiros, sementeiros, horticultores, floristas, que podem se infectar mediante o contato com acúleos, espinhos, palhas contaminadas e talos de plantas, uma vez que o fungo se aloja matéria em decomposição ou no solo abundante de matéria orgânica (SCHUBACH et al., 2015; LARSSON, 2011; CASTRO, 2016; MORA-MONTES; LOPES-BEZERRA, 2017).
Não apenas gatos e humanos podem desenvolver a doença, mas também cães, suínos, bovinos, caprinos, tatus, equinos, mulas, ratos, aves domésticas e golfinhos, entretanto somente nos gatos, foi comprovado o isolamento de S. Schenckii em unhas, lesões cutâneas, cavidade oral e nasal, constituindo um reservatório do fungo (CASTRO, 2016).
O período de incubação em animais pode variar de 1 a 3 meses. Havendo contato com o exsudato das lesões de felinos infectados, a forma de contaminação será a leveriduriforme, já no caso de inoculação, após a penetração do fungo no tecido subcutâneo há a transformação para a forma leveriduriforme (NETO; KOGIKA; JERICÓ, 2015), surgindo lesões nodulares, que habitualmente ulceram e liberam exsudato purulento ou serossanguinolento. O fungo pode persistir no ponto da inoculação, todavia, quando o animal infectado apresentar uma falha no sistema imune, o agente infectante prolifera e invade os linfonodos regionais e as vias linfáticas, provocando linfadenite e linfagite ou ainda se alastrar por vias hematógenas, acarretando o aumento de lesões cutâneas disseminadas e/ou arremetendo vários órgãos (GROSS et al., 2009; GREENE, 2015).
Diversos fatores que definem a forma de exposição clínica da enfermidade são a intensidade da inoculação, virulência da cepa, tolerância e a resposta imune do hospedeiro. Indivíduos desnutridos, etilistas e imunocomprometidos podem apresentar formas clínicas mais graves, podendo ser letal (CASTRO, 2016). 
Normalmente a Esporotricose tem um aspecto benigno e restrita ao tecido subcutâneo e a pele, esporadicamente se desenvolve nas formas disseminadas e osteoarticular principalmente em humanos e cães. Visto que em gatos a dermatomicose frequentemente desenvolve a forma disseminada severa da doença, revelando que os felinos são intensamente suscetíveis ao fungo (SCHUBACH et al., 2015).
Nos gatos pode ser comum a apresentação de mais de uma forma clínica concomitantemente, podendo ser classificado em forma subclínica ou em três formas clínicas: cutânea, cutânea-linfática e sistêmica, sendo a cutânea mais comum nos felinos. Eles podem apresentar leões na região da cabeça, particularmente nas orelhas e nariz, nos membros e base da cauda, áreas essas, atingidas durante confrontos (CASTRO, 2016). 
Nas lesões cutâneas regularmente são vistos nódulos e úlceras com exsudato purulento e serossanguinolento, frequentemente há o acometimento das mucosas (bucal, conjuntival, nasal e genital). Pode haver a necrose dessas lesões exibindo osso e músculos e surgimento de lesões cutâneas generalizadas por auto inoculação, alastrando-as para demais partes do corpo, como orelhas e cabeça. (GREENE, 2015; JERICÓ; KOGIKA; NETO, 2015).
Na forma sistêmica pode acontecer o acometimento de vários órgãos, como olhos, pulmões, trato gastrointestinal, testículos, fígado, baço, rins, articulações, ossos e linfonodos. Sendo a infecção do trato respiratório a mais comum, ocorrendo por intermédio de inalação de conídios, desenvolvendo tosse, espirros, secreção nasal, dispneia, linfadenomegalia e o progresso de múltiplas lesões cutâneas através da difusão hematógena. Nos humanos e nos equinos a forma mais observada é a cutâneo-linfática (CASTRO, 2016).
Por meio do histórico do paciente, da epidemiologia e da apresentação das lesões pode haver o diagnóstico presuntivo. No entanto, o diagnóstico definitivo ocorre unicamente por meio de exames laboratoriais. Por essa razão, a colheita precisa do material a ser analisado é imprescindível para um diagnóstico correto. (ROSA, 2017). Com a amostra do material colhido, a semeadura deve ser realizada em Ágar Sabouraud Dextrose, com cicloheximida, encubado entre 25°C e 37°C, Meio de Celeste Fava Neto (37°C) ou Ágar BHI (37°C), havendo crescimento fúngico de colônias castanho enegrecidas, deve se realizar o microcultivo em lâmina (25°C), para definir os aspectos micro morfológicos. É necessário entre 10 a 14 dias para assegurar ou descartar o diagnóstico etiológico (LARSON, 2011). 
O tratamento constitui principalmente na administração via oral por prolongados períodos de drogas antifúngicas sistêmicas. O Itraconazol é o fármaco de escolha para uso em animais. Assim como a anfotericina B e o fluconazol e suas associações, devem ser pensados como possibilidades terapêuticas. O tratamento deve ser mantido por mais 30 dias, após total cicatrização das lesões para impedir recorrência (JERICÓ; KOGIKA; NETO, 2015). Quando o tratamento não é mantido de maneira apropriada pode haver recorrência, o período médio de tratamento varia entre 26 e 28 semanas (GREENE, 2015). 
A Esporotricose tem se tornado um problema de saúde pública, sendo necessário a consciencialização da sociedade sobre medidas preventivas, instruções aos responsáveis, castração, limpeza e desinfecção das residências, limpeza em áreas externas com retirada de matéria organica e em decomposição, cuidados com a higiêne dos animais e cremação dosanimais mortos. Além do mais, são fundamentais ações de saneamento básico, coleta e disposição final de resíduos, especialmente aqueles que tiveram em contato com infectados, e serviço de saúde animal em regiões carentes (BARROS et al., 2010).
3 Surto em São Paulo
Entre os anos de 1956 a 2001 foram apontados 51 casos de Esporotricose em gatos e 15 em humanos (NOBRE, 2001).
Na Cidade de São Paulo há notícias de 25 gatos esporotricóticos recebidos no Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), no intervalos entre 1986 a 2002 e no período de 19 anos, entre os anos de 1993 a 2011 foram descritos 8 casos em cães e 29 casos em felinos diagnosticados (LARSSON, 2011). 
Até o ano de 2010, não foram apontados pelo CCZ animais infectados com o fungo, alguns casos isolados pontuais no Estado de São Paulo, são relatados em publicações (LARSSON, 2011; LARSSON et al., 1989; ROSSI, ODAGUIRI, LARSSON, 2013).
No mês de maio de 2011, foi constatado a transmissão de Esporotricose pelo Centro de Controle de Zoonoses do Estado de São Paulo (CCZ), na região da zona leste de São Paulo no Distrito Administrativo de Itaquera, sendo 10 pessoas diagnosticadas com o fungo e 62 gatos, sendo esse o primeiro surto na Cidade de São Paulo. Todos os indivíduos contaminados eram próximos dos animais infectados, e foram atendidos no Instituto de Infectologia do Hospital Emílio Ribas (SILVA, et al., 2015). 
O Centro de Controle de Doenças (CCD) juntamente com o CCZ, instauraram ações de vigilância, permitindo a constatação desse surto e seguidamente nas demais localidades da cidade. Essas ações baseiam-se em orientar sobre prevenção e tratamento, rastrear novas ocorrências do fungo em pessoas e animais, divulgar a doença entre médicos veterinários, profissionais de saúde das Unidade de Vigilância em Saúde (UVIS), universidades e conselhos de classe, dentre outros. Através dessas ações foi possível localizar animais infectados nas demais regiões da cidade e sobretudo detectar precocemente a doença em humanos. (SILVA et al., 2015).
Diversos tutores infectados pelos seus animais têm receio de novos casos em suas residências e acabam por abandonar os gatos, contribuindo para a propagação da doença. Muitos optam pelo sacrifício enterrando os corpos em quintais ou desprezando-os em terrenos e valas, favorecendo a eterninização do fungo no ecossistema (BARROS, 2010).
Grande parte dos focos de transmissão, são em áreas excluídas socialmente, o que dificulta o acesso a um tratamento adequado.
4 Aspectos epidemiológicos
Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT, 2020), o número de casos de Esporotricose no país tende a crescer. 
No município de Guarulhos (região metropolitana de São Paulo) e nos estados de Pernambuco e Rio de Janeiro, a Esporotricose é uma doença de notificação obrigatória, entretanto ainda é apontada como subnotificada em relação à sua expansão geográfica no país (MACEDO-SALES et al., 2018; GONÇALVES et al., 2019).
 	Sendo essa uma zoonose negligenciada e um problema para a saúde pública, isso se dá ao fato de muitos municípios não conseguirem fazer o diagnóstico correto, da escassez de medicamentos adequados, até mesmo do desconhecimento de médicos veterinários sobre a importância dessa epizootia e sobretudo da falta de instrução da população. São poucos os tutores que possuem conhecimento da Esporotricose, como sua transmissão, etiologia (OLIVEIRA-NETO, et al., 2019) Acredita-se que os números de casos em felinos e humanos diagnosticados, é muito maior do que os demonstrados (GONÇALVES et al., 2019). 
	De acordo com informações do Ministério da Saúde, a Esporotricose permanece constante na região sudeste do País. Em meio aos anos de 2012 a 2016, 133 casos em humanos foram relatados, entre esses, 75 descritos no estado do Rio de Janeiro. (ROSSI; ODAGUIRI; LARSSON, 2013; CARVALHO; SANTOS; AMARAL, 2017; FALCÃO et al., 2019).
Os dados epidemiológicos que se tem conhecimento provêm, em sua maioridade de levantamentos de órgãos de saúde pública e artigos publicados, dos quais exibem um aumento de casos na última década (CASTRO,2018).
Devido ao fato de a Esporotricose não ser de notificação obrigatória em todos estados do Brasil, dificulta a obtenção de dados. (BARROS, 2011). 
5 CONCLUSÃO
A Esporotricose é uma zoonose emergente com grande incidência nas regiões Sul e Sudeste do país, com grande evidência nos últimos anos por conta do grande número de humanos infectados por animais, especialmente felinos, podendo sua transmissão ser através de matérias orgânicas, espinhos ou madeiras contaminadas, podendo ser considerada também, uma doença ocupacional.
Normalmente é causada pelo fungo Sporothrix schenckii, nos humanos se manifestam com lesões extracutânea ou sistêmica, cutâneo-linfática e disseminada ou cutânea localizada, nos gatos, muitas vezes essas formas podem se manifestar simultaneamente. 
Através da revisão da literatura é possível constatar o quanto é importante um diagnóstico preciso e rápido, para evitar a transmissão para outros animais e humanos e uma melhor recuperação para o animal infectado.
Por ser um problema de saúde pública é necessário a conscientização da sociedade sobre a ocorrência dessa doença, a orientação aos proprietários e o apoio de profissionais de saúde animal e humano é de extrema importância, colaborando com a prevenção e controle do fungo. Há falta de dados epidemiológicos disponíveis para consulta, acreditando, que a falta de obrigatoriedade da notificação dessa doença possa ser um dos motivos. Sendo essa uma doença emergente, intervenções precisam ser realizadas instantaneamente, por via de políticas públicas de saúde, com a finalidade de controlar essa doença em humanos e felinos.
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