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INSTITUTO EDUCACIONAL ÁGUIA Hebert Silva Santos DESAFIOS ATUAIS NO ÂMBITO DA SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL Iturama/MG 2020 Hebert Silva Santos DESAFIOS ATUAIS NO ÂMBITO DA SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Educacional Águia como exigência parcial para o curso de Gestão em Segurança Pública e Privada. Iturama/MG 2020 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo principal buscar compreender os principais desafios que a segurança pública no Brasil enfrenta; e mais específicos: traçar um breve histórico sobre a formulação e estruturação do sistema de segurança pública no Brasil e como O sistema público de segurança está estruturado em nosso país. Para tanto, foi realizada a revisão bibliográfica que contemplasse o tema, buscando os autores que discutiam a temática. O embasamento da pesquisa foi realizado a partir das teorias de Cruz (2013), Carvalho e Silva (2011), Rosa (2015), Lima, Bueno e Mingardi (2016), Martins (2007), Santos (2012), Morais e Souza (2011), Cano (2006), entre outros que auxiliaram a compreender e refletir os processos do surgimento e ampliação da temática de segurança pública no Brasil, o que nos permitiu analisar e comparar os dados coletados na pesquisa de forma integrada e contextualizada, realizando a triangulação dos dados. Desde modo, pudemos conhecer sobre o surgimento da discussão sobre segurança pública no Brasil, traçando suas origens e buscando entender sua estrutura, percebendo assim que embora tenha tido muitas discussões e iniciativas voltadas para área pesquisada, ainda enfrentamos inúmeros desafios a fim que a segurança pública realmente funcione no Brasil. Palavras-chave: Segurança pública. Políticas públicas. História. ABSTRACT The present work has as main objective to seek to understand the main challenges that public security in Brazil faces; and more specific: trace a brief history of the formulation and structuring of the public security system in Brazil and how the public security system is structured in our country. To this end, a bibliographic review that addressed the theme was carried out, looking for authors who discussed the theme. The research was based on the theories of Cruz (2013), Carvalho and Silva (2011), Rosa (2015), Lima, Bueno and Mingardi (2016), Martins (2007), Santos (2012), Morais and Souza (2011), Cano (2006), among others who helped to understand and reflect the processes of the emergence and expansion of the theme of public security in Brazil, which allowed us to analyze and compare the data collected in the research in an integrated and contextualized way, carrying out triangulation of data. In this way, we were able to learn about the emergence of the discussion about public security in Brazil, tracing its origins and seeking to understand its structure, realizing that although there were many discussions and initiatives aimed at the researched area, we still face numerous challenges in order that public security really work in Brazil. Keywords: Public security. Public policy. Story. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................5 CAPITULO I: A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: algumas reflexões históricas...7 CAPITULO II: O SISTEMA DE SEGURANÇA PUBLICA ATUAL................................11 2.1. O Plano Nacional de Segurança Pública.........................................................................12 2.2. Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania..........................................15 CAPITULO III: SEGURANÇA PÚBLICA: alguns desafios..............................................18 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................23 REFERENCIAS .....................................................................................................................25 5 INTRODUÇÃO A temática segurança pública é um assunto que já há muito se discute, pelo fato de que cada vez mais vemos os índices de criminalidade aumentar e as políticas em segurança pública não dando conta de solucionar os problemas enfrentados. As políticas de segurança pública no Brasil têm sido, em regra, pensadas e implementadas de forma fragmentada e pouco planejada. Na retomada da ordem democrática, no fim dos anos 1980, diferentemente do que aconteceu com outros direitos respaldados e reformulados pela Constituição, o direito à segurança e à ordem, bem como a estrutura organizacional que deveria garanti-los, ficou restrito à listagem de algumas organizações policiais vinculadas ao capítulo da “defesa do Estado e das instituições democráticas”, passando ao largo da característica cidadã atribuída às demais esferas da vida social brasileira que começava a se reconfigurar. (BALLESTEROS, 2014, p. 7). O interesse pela pesquisa deu-se pelo fato dos inúmeros desafios encontrados para que haja realmente e efetivamente um sistema publico de segurança que funcione para todos os seguimentos da sociedade. Desde modo, temos por objetivo geral desta pesquisa buscar compreender os principais desafios que a segurança pública no Brasil enfrenta; e mais específicos: traçar um breve histórico sobre a formulação e estruturação do sistema de segurança pública no Brasil e como O sistema público de segurança está estruturado em nosso país. Para realizar esta pesquisa nos pautamos em autores como Cruz (2013), Carvalho e Silva (2011), Rosa (2015), Lima, Bueno e Mingardi (2016), Martins (2007), Santos (2012), Morais e Souza (2011), Cano (2006), entre outros. No primeiro capítulo desta pesquisa, “A segurança pública no brasil: algumas reflexões históricas”, buscamos traçar um breve histórico sobre a segurança pública no Brasil, para tanto utilizamos Cruz (2013) para fundamentar este histórico. Cruz, argumenta que no Brasil o damos início a segurança Pública com a vinda da família real Portuguesa ao Brasil e deste modo criando assim a Intendência Geral da Polícia e do Estado do Brasil, na qual funcionava como polícia judiciaria. A partir disto foram sendo criados outros órgãos, de acordo com as necessidades da corte, como a Divisão Militar da Guarda Real de Polícia que tinha como objetivo prender escravos, desordeiros e criminosos. Porem a autora deixa claro que neste momento da história a segurança do indivíduo continuava sendo confundida com a segurança do país, não tendo assim uma delimitação do que seria a segurança da população. 6 Desde modo, neste capítulo ressaltar algumas destas organizações e algumas legislações que contribuíram para a formação do conceito de segurança pública e sua organização no Brasil. No segundo capitulo, intitulado como “O sistema de segurança pública atual” exploramos como é o nosso sistema de segurança pública atual. Procurando entender como ele se organiza, sendo dividido em quatro subsistemas, de acordo com Martins: o policial, o penitenciário, o Judicial e do Ministério Público. Ainda segundo o autor estes subsistemas devem interagir entre si para uma melhor aplicação. Neste tópico também buscamos entender duas iniciativas que foram pensadas a fim de melhorar a segurança pública no Brasil: O plano Nacional de Segurança Pública em 2000 e em 2007 o Programa nacional de Segurança Pública com Cidadania(Pronasci). E no terceiro capitulo “Segurança pública: alguns desafios”, trouxemos uma breve reflexão sobre os desafios que enfrentamos, inclusive nos dias atuais para implementar uma verdadeira política de segurança pública no Brasil. Ao fim da pesquisa apresentamos as considerações finais e as referências. 7 CAPITULO I: A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: algumas reflexões históricas A segurança pública no Brasil é um assunto que vem enfrentando grandes desafios, principalmente pelo fato das constantes modificações da organização da sociedade brasileira, por conta disto nos últimos anos a discussão sobre segurança pública no Brasil vêm crescendo bastante. Deste modo, A segurança pública é considerada uma demanda social que necessita de estruturas estatais e demais organizações da sociedade para ser efetivada. Às instituições ou órgãos estatais, incumbidos de adotar ações voltadas para garantir a segurança da sociedade, denomina-se sistema de segurança pública, tendo como eixo político estratégico a política de segurança pública, ou seja, o conjunto de ações delineadas em planos e programas e implementados como forma de garantir a segurança individual e coletiva. (CARVALHO E SILVA, 2011, p.60) Rosa (2015), argumenta que o sistema de segurança pública brasileiro atual é fundamentado na Constituição Federal de 1988 se apresentando como um compromisso legal com a segurança individual e coletiva. Porém para o autor estas medidas não parecem resolver os problemas atuais de criminalidade. O autor utiliza-se de Sapori para defender esta opinião Planejamento, monitoramento, avaliação de resultados, gasto eficiente dos recursos financeiros não têm sido procedimentos usuais nas ações de combate à criminalidade, seja no executivo federal, seja nos executivos estaduais. Desse ponto de vista, a história das políticas de segurança pública na sociedade brasileira nas duas últimas décadas se resume a uma série de intervenções governamentais espasmódicas, meramente reativas, voltadas para a solução imediata de crises que assolam a ordem pública [...]. (SAPORI, 2007, p. 109 apud ROSA, 2015, p. 9 e 10). Deste modo para Rosa, deve haver um “[...] entrosamento bem organizado dos vários órgãos que são responsáveis pelo combate à criminalidade, como por exemplo, a polícia, o setor judiciário e legislativo”. (2015, p.10). Partindo deste princípio vamos tentar traçar um histórico sobre a segurança pública no Brasil, buscando entender deste modo, como ela foi formulado e aplicada no Brasil. Para tanto vamos nos apoiar nas pesquisas de Cruz (2013) em que ela traça um breve histórico da segurança pública no Brasil e dos órgãos que ajudaram a formulação da temática. A autora inicia seu estudo com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, no ano de 1808. Sendo criado assim a Intendência Geral da Polícia e do Estado do Brasil, no Rio de 8 Janeiro. Sua função era “[...] desempenhar a função de polícia judiciária, estabelecia punições, fiscalizava o cumprimento das mesmas e também era responsável pelos serviços públicos como abastecimento de água, obras urbanas, iluminação e outros serviços urbanos da cidade”. (CRUZ, 2013, p.2). Assim após um ano da chegada de D. João VI, criou-se a Divisão Militar da Guarda Real de Polícia, sendo que esta tinha a função de prender escravos, desordeiros e criminosos, além de inibir ações de contrabando. “Essas características eram definidas pela Corte Real e ligadas àqueles que não concordassem com o que lhes era determinado. Neste momento, ainda não se tinha noção a respeito da segurança pública, nem referências a essa questão”. (CRUZ, 2013, p.2). Em 1822, com a Independência do Brasil, a segurança do indivíduo continuava sendo confundida com a segurança do país. No período Regencial (1831), a Guarda Real foi substituída pelo Corpo de Guardas Municipais Voluntários Permanentes por província, e tinha como objetivo enfrentar os conflitos internos e agitação que tinha na época. (CRUZ, 2013). Criada no mesmo período a Guarda Nacional tinha como função “[...] defender a Constituição e a integridade do Império na manutenção da ordem interna”. (CRUZ, 2013, p.2). E em 1866, no Rio de Janeiro criou-se a Guarda Urbana, que mais tarde se tornou o Corpo Civil da Polícia. Em 1889 o governo determinou a ruptura da Guarda Urbana e com proclamação da República, ficou determinado “[...] através do art. 5º do Decreto nº 1, a responsabilização dos governos estaduais pela manutenção da ordem e segurança pública e pela defesa e garantia da liberdade e dos direitos dos cidadãos”. (CRUZ, 2013, p. 2 e 3). Logo no início do Governo Vargas, começou-se no Brasil uma série de conflitos, visto que a sociedade exigia a democracia, através de eleição e de uma nova Constituição. Deste modo, receando ser contraposto o governo passa a controlar as Forças Públicas. Em 1946 as Forças publicas passam a se denominar de Policia Militar, garantindo ainda a segurança interna e manutenção da ordem nos estados. (CRUZ, 2013). A partir da década de 1960, começamos a viver um período com a falta de democracia, de liberdade e perseguição política a quem era contra a ditadura militar. Nesse período, as Polícias Militares passaram a ser comandadas por oficiais do Exército, que imprimiram à corporação valores das Forças Armadas. Portanto, o Brasil adquiriu, nesse momento, um colaborador do período ditatorial, ou seja, uma polícia repressora que priorizava a segurança nacional, desfavorecendo a segurança pública e se inserindo num contexto negativo diante da sociedade brasileira. 9 Típica do regime ditador, a ideologia militarista baseia-se no combate e eliminação de um inimigo que perturbe a ordem pública. Isso explica o comportamento da polícia, acarretando para a sociedade uma concepção de guerra. (CRUZ, 2013, p. 3 e 4). Lima, Bueno e Mingardi (2016) colocam que o termo segurança pública foi utilizado pela primeira vez na Constituição Federal de 1937, porém a constituição de 37 não teve forças suficientes para as estruturas que organizavam as policias, sendo a segurança vista como algo interno nos Estados e não algo a ser garantido a população. E é somente na constituição de 1988, após o termino da ditadura, que esse conceito é resgatado, porém ela não define o que vem a ser segurança pública, apenas a organiza. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I – polícia federal; II – polícia rodoviária federal; III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis; V – polícias militares e corpos de bombeiros militares (BRASIL, 1988). A constituição ainda define o papel de cada órgão de segurança citado a cima, sendo, § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III - exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras; IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, estruturado em carreira, destina- se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais. § 3º A polícia ferroviária federal, órgãopermanente, estruturado em carreira, destina- se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. 10 § 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. § 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades. § 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. (BRASIL, 1988). Deste modo, podemos perceber que cada órgão tem o seu papel definido na destacando- se uma certa autonomia para os estados, gerando deste modo uma descentralização na política de segurança pública. (CRUZ, 2013). Porém para Lima, Bueno e Mingardi (2016) temos que caminhar muito ainda em relação a uma política em segurança pública, já que ainda é bastante ineficiente visto que não existe uma articulação nas ações. Nosso desafio é adensar politicamente a defesa de que, exatamente, essas são duas faces complementares de um mesmo processo e que nenhuma delas conseguirá êxito permanente sem que a outra seja simultaneamente assumida também como prioridade. Temos que modernizar a arquitetura institucional que organiza as respostas públicas frente ao crime, à violência e à garantia de direitos. O foco, a nosso ver, não está no debate exclusivo da legislação penal e processual penal e/ou na gestão incremental da ordem conservadora, mas na forma como o Estado organiza e administra seus poderes e instituições. (LIMA, BUENO E MINGARDI, 2016, p. 65). Deste modo, no próximo capitulo buscaremos traçar um pouco do nosso sistema de segurança pública elencando algumas políticas de segurança pública. 11 CAPITULO II: O SISTEMA DE SEGURANÇA PUBLICA ATUAL De acordo com Martins (2007) citando o ponto de vista de Neto (1990) o sistema de segurança pública se divide em quatro subsistemas: - o policial - o penitenciário - o Judicial - e do Ministério Público. Estes quatro Subsistemas precisam interagir e se relacionarem entre si, já que eles se complementam, prestando deste modo um serviço de segurança pública para a população. O subsistema policial, pertence ao Poder Executivo e é composto pela Policia Militar e Civil, e ainda neste sistema podemos colocar a Policia Federal, Policia Rodoviária, Policia Ferroviária Federal, Corpo de Bombeiros, Guarda municipal, fazenda Pública, Órgãos Ambientas, Vigilância Sanitária, entre outros. (MARTINS, 2007) No subsistema penitenciário, pertencente ao Poder Executivo e Judiciário [...] destacam-se os meios e processos para a execução penal, envolvendo os estabelecimentos de recolhimentos provisórios e de cumprimento de medidas de segurança e sócio-educativas, assim como os estabelecimentos para recolhimento de adolescentes infratores, as cadeias públicas, os presídios, as penitenciárias, os albergues e os manicômios judiciais, entre outros. Nesses estabelecimentos persistem ainda as questões ligadas à administração e a segurança interna e externa realizada pelas corporações policiais. (MARTINS, 2007, p. 49). O subsistema judicial, está atrelado ao Poder Judiciário, junto com o Ministério Público, são autônomos e independentes, se relacionando um com o outro complementando as ações policiais. O subsistema Ministério Público é responsável por controlar externamente a atividade policial impondo deste modo “[...] uma série de medidas administrativas e judiciais de controle e de articulação de todo o subsistema policial. Outra faceta importante do seu papel é ser detentor exclusivo da ação penal pública, que via de regra, decorre também das ações policiais”. (MARTINS, 2007, p.49 e 50). O judiciário, por sua vez, decidirá os processos penais a partir da provocação legal do MP, o que, se não ocorrer, praticamente interrompe qualquer medida punitiva do Estado. Cabe também destacar a competência do Ministério Público para a 12 propositura de ações civis públicas, as quais também possuem grande repercussão para todo o sistema de Segurança Pública. (MARTINS, 2007, p. 50). Martins elenca que com a atual legislação, o Ministério Publico passou a ter maior autonomia para decisão de grande parte dos casos atendidos pelo subsistema policial, como [...] infrações penais de menor potencial ofensivo, passando a adotar medidas compensatórias, transacionado, entre outros encaminhamentos”. (MARTINS, 2007, p. 50). Para Carvalho e Silva a atuação dos órgãos da segurança pública “[...] requer interação, sinergia de ações combinadas a medidas de participação e inclusão social e comunitária, cabendo ao Estado o papel de garantir o pleno funcionamento dessas instituições [...]”. (2011, p.62). Porem para as autoras essa interação não ocorre visto que, “[...] no Brasil, em regra, as políticas de segurança pública têm servido apenas de paliativo a situações emergenciais, sendo deslocadas da realidade social, desprovidas de perenidade, consistência e articulação horizontal e setorial”. (CARVALHO E SILVA, 2011, p. 62). Ainda defendendo esta ideia as autoras completam afirmando que, Mecanismos essenciais não têm sido utilizados pelos diversos governos para possibilitar o pensar, o implementar, o implantar, o efetivar, com eficácia e eficiência, uma política de segurança pública como instrumento do Estado e da sociedade. A promulgação de leis, decretos, portarias e resoluções, visando instrumentalizar o enfretamento da criminalidade e da violência, sem que haja articulação das ações de segurança pública no contexto social, acaba apresentando resultados inconsistentes e insatisfatórios. (CARVALHO E SILVA, 2011, p. 62). Neste panorama, pensando em uma política de segurança pública pautada no respeito aos direitos humanos e “[...] em que o enfrentamento da criminalidade não significa a instituição da arbitrariedade, mas a adoção de procedimentos tático operacionais e político-sociais que considerem a questão em sua complexidade”, são criados dois Planos de ações. Em 2000 o Plano nacional de Segurança Pública (PNSP) e em 2007 o Programa nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). (CARVALHO E SILVA, 2011, p. 62). Nos tópicos a seguir iremos abordar um pouco destas duas iniciativas. 2.1 O Plano Nacional de Segurança Pública A década de 90 no Brasil foi marcada por várias iniciativas voltadas para o âmbito do Direitos Humanos, principalmente após a Conferência Mundial de Direitos Humanos em Viena, 13 ocorrida no ano de 1993. Desta conferencia, foram criados no Brasil o Programa Nacional de Direitos Humanos (1996), e após a IV Conferência Nacional de Direitos Humanos em 1999 o programa foi aperfeiçoada criando assim o II Programa Nacional de Direitos Humanos no ano de 2000. (CARVALHO E SILVA, 2011) Deste modo, o Governo Federal visando uma reorganização sobre o arranjo e gestão em segurança pública, cria em 1995, [...] no âmbito do Ministério da Justiça, a Secretaria de Planejamento de Ações Nacionais de Segurança Pública (Seplanseg), transformando-a, no ano de 1998, em Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), tendo como perspectiva atuar de forma articulada com os estados da federaçãopara a implementação da política nacional de segurança pública. (CARVALHO E SILVA, 2011, p. 62). A criação da Senasp, possibilitou a criação do Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP), que era voltado para o combate da violência no país, principalmente nas áreas em que o índice de criminalidade era elevado. O Plano Nacional de Segurança Pública de 2000 é considerado a primeira política nacional e democrática de segurança focada no estímulo à inovação tecnológica; alude ao aperfeiçoamento do sistema de segurança pública através da integração de políticas de segurança, sociais e ações comunitárias, com a qual se pretende a definição de uma nova segurança pública e, sobretudo, uma novidade em democracia (LOPES, 2009, p. 29 apud CARVALHO E SILVA, 2011, p. 63). Conforme Carvalho e Silva (2011) o Plano Nacional de Segurança Pública, foi um marco significativo para a política de segurança pública, cujo principal objetivo era diminuir a criminalidade no Brasil. Para tanto era necessário um apoio financeiro assim no mesmo ano foi criado o Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP). Porém para as autoras o PNSP não produziu os resultados que se esperavam dele. “Os principais problemas do PNSP geralmente estão relacionados a indefinição de recursos para a segurança pública, a falta de delineamento de metas e de modelos de avaliação de eficácia dos programas implementados, dentre outros”. (ROSA, 2015, p. 12 e 13) No documento que detalha o PNSP, encontramos a seguinte definição para o Plano: Este é um Plano de ações. Seu objetivo é aperfeiçoar o sistema de segurança pública brasileiro, por meio de propostas que integrem políticas de segurança, políticas sociais e ações comunitárias, de forma a reprimir e prevenir o crime e reduzir a impunidade, aumentando a segurança e a tranquilidade do cidadão brasileiro. Nesse sentido, é importante ressaltar que a ênfase em alguns compromissos de segurança propriamente ditos, não reduz a importância dos compromissos relativos a Políticas Sociais e Ações Comunitárias que estarão perpassando todo o conjunto de 14 ações e propostas deste documento, em face de sua importância para que, de fato, um novo patamar de segurança pública para o País seja alcançado. A solução para a complexa e desafiadora questão da segurança exige o efetivo envolvimento de diferentes órgãos governamentais em todos os níveis, entidades privadas e sociedade civil. Busca-se, com o estabelecimento de medidas integradas, aperfeiçoar a atuação dos órgãos e instituições voltadas à segurança pública em nosso País, permitindo-lhes trabalhar segundo um enfoque de mútua colaboração. Somente com essa participação conjunta, este programa terá efetividade e criar· condições para o desenvolvimento de ações mais eficazes. (BRASIL, 2000) No documento são detalhados 15 compromissos, distribuídos entre o Governo Federal, Governo Estadual, e outros poderes, voltados para os princípios de “[...] interdisciplinaridade, pluralismo organizacional e gerencial, legalidade, descentralização, imparcialidade, transparência das ações, participação comunitária, profissionalismo, atendimento das peculiaridades regionais e no estrito respeito aos direitos humanos”. (BRASIL, 2000). Desde modo, abaixo elencaremos os compromissos contidos no Plano Nacional de Segurança Pública. Tabela 1: Compromissos do Plano Nacional de Segurança Pública Compromissos Nº de ações Medidas no âmbito do Governo Federal 1. Combate ao Narcotráfico e ao Crime Organizado 17 ações 2. Desarmamento e Controle de Armas 8 ações 3. Repressão ao Roubo de Cargas e Melhoria da Segurança nas Estradas 12 ações 4. Implementação do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública 4 ações 5. Ampliação do Programa de Proteção a Testemunhas e Vítimas de Crime 4 ações 6. Mídia x violência: Regulamentação 5 ações Medidas no Âmbito da Cooperação do Governo Federal com os Governos Estaduais 7. Redução da Violência Urbana 10 ações 8. Inibição de Gangues e Combate à Desordem Social 9 ações 9. Eliminação de Chacinas e Execuções Sumárias 6 ações 10. Redução da Violência Rural 5 ações 11. Intensificação das Ações do Programa Nacional de Direitos Humanos 12 ações 15 12. Capacitação Profissional e Reaparelhamento das Polícias 7 ações 13. Aperfeiçoamento do Sistema Penitenciário 8 ações Medidas de Natureza Normativa 14. Aperfeiçoamento Legislativo 11 ações Medidas de Natureza Institucional 15. Sistema Nacional de Segurança Pública 6 ações Fonte: BRASIL, 2000 Deste modo podemos observar que no documento existem 124 ações divididas em 15 compromissos. Sendo 5 órgãos responsáveis por colocar estas ações em funcionamento. Assim, Santos, coloca que Para Mesquita Neto (2011) o PNSP partia do pressuposto de que a melhoria na segurança pública não era tarefa exclusiva das instituições policiais, e que a política nacional de segurança pública definida no plano deveria ser implementada tendo em vista as especificidades estaduais e municipais, em conformidade com a política de direitos humanos definida pelo Programa Nacional dos Direitos Humanos. Além do mais, entre os compromissos estabelecidos pelo plano, visava promover o policiamento comunitário, apoiar e incentivar a criação de guardas municipais, e promover e apoiar financeiramente os municípios para a criação de projetos que visassem a melhoria na qualidade de vida da população e também para a implementação de equipamentos e serviços sociais em áreas de risco. (2012, p. 148). 2.2. Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania Com o intuito de renovar as instituições da segurança pública, tinha-se uma ideia de implementar um Sistema Único de Segurança (SUSP), este atuaria de forma articulada “[...] por meio de políticas preventivas, principalmente voltadas para a juventude”. (CARVALHO E SILVA, 2011, p. 63). Deste modo, a partir disto objetivou-se o controle e redução da violência e da criminalidade, estabelecendo um plano de ações em que parte dos órgãos de segurança pública deveriam trabalhar de forma conjunta, porém o sistema prisional não foi considerado neste contexto. (CARVALHO E SILVA, 2011). Estabelecer ações integradas no campo da segurança pública sem que o sistema prisional, receptor dos resultados de ações policiais ou judiciais, dominado em alguns estados pelo crime organizado, esteja contemplado, significa limitar as possibilidades de atuação coordenada, tanto de forma vertical quanto horizontal. Nesse contexto, as 16 questões relacionadas à situação prisional não podem ser pensadas e trabalhadas de forma deslocada dessa realidade, tendo em vista que as ações, voltadas para o enfrentamento da violência e da criminalidade, ao culminarem com a prisão, impõem a questão do cumprimento da pena na lógica estrutural do sistema de segurança pública. (CARVALHO E SILVA, 2011, p. 64) Procurando desta forma, então uma integração nas ações, em 2007 o Governo Federal institui o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), este programa foi formulado em parceria com os estados brasileiros, procurando combinar ações com políticas sociais a fim de diminuir a criminalidade, pincipalmente nas regiões em que este índice de criminalidade era bastante alto. (CARVALHO E SILVA, 2011). Conforme Cruz, O Ministério da Justiça, quando desenvolveu o PRONASCI, instituído pela Lei nº 11.530, de 25 de outubro de 2007, e alterado pela Lei nº 11.707, de 19 de junho de 2008, teve como um dos eixos principais o envolvimento direto da população na prevenção e redução da violência, proporcionando uma articulação maior entre Estado e sociedade civil. (2013, p. 5). Para Carvalho e Silva é neste contexto que surge o conceito de segurança cidadã, que [...] parte da natureza multicausal da violênciae, nesse sentido, defende a atuação tanto no espectro do controle como na esfera da prevenção, por meio de políticas públicas integradas no âmbito local. Dessa forma, uma política pública de Segurança Cidadã envolve várias dimensões, reconhecendo a multicausalidade da violência e a heterogeneidade de suas manifestações (FREIRE, 2009, p. 105-106 apud 2011, p.64). Sobre este conceito as autoras buscam ainda em Freire (2009) uma definição, A perspectiva de Segurança Cidadã defende uma abordagem multidisciplinar para fazer frente à natureza multicausal da violência, na qual políticas públicas multissetoriais são implementadas de forma integrada, com foco na prevenção à violência. Nesse sentido, uma política pública de Segurança Cidadã deve contar não apenas com a atuação das forças policiais, sendo reservado também um espaço importante para as diversas políticas setoriais, como educação, saúde, esporte, cultura, etc. (FREIRE, 2009, p. 107 apud CARVALHO E SILVA, 2011, p.64). Deste modo, entendemos que o Pronasci representa uma iniciativa que busca enfrentar a violência e criminalidade, tendo como base ações sociais e desta forma considerando o sistema prisional. (CARVALHO E SILVA, 2011). Em sua estrutura, o Pronasci apresenta-se como uma política de segurança pública, baseada em princípios democráticos, interdisciplinares e humanitários, tendo em vista a participação da sociedade na construção de uma cultura de paz, a médio e a longo prazo. Adota um conjunto de medidas que objetivam a imediata diminuição da 17 violência e da criminalidade, por meio da implementação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em áreas urbanas consideradas de elevados índices de criminalidade e violência. Deve-se ressaltar que a ocupação dessas áreas pela polícia e a instalação das UPPs indica o reconhecimento, por parte do Estado, da necessidade de reorientação estratégica das ações de controle e manutenção da ordem pública. Isso contribui para diminuir os índices de criminalidade, porém, de forma territorialmente limitada. Na verdade, as UPPs significam a possibilidade de retomada de controle territorial de forma autoritária, porém não necessariamente truculenta. Além disso, podem servir de instrumento tanto ao confinamento da pobreza, quanto ao exercício de direitos básicos de cidadania. (CRAVALHO E SILVA, 2011, p. 65). Cruz corrobora com esta afirmação colocando que, O Programa foi criado para atuar no enfrentamento da criminalidade e também em suas causas, priorizando integração entre a polícia e a comunidade nos territórios de paz, locais (comunidades) escolhidos para a prática de ações desse programa, tais como: posto de policiamento comunitário, Canal Comunidade, medidas de urbanização, projetos educacionais, programas ligados a esporte e lazer e Conselhos Comunitários de Segurança Pública, entre outros. O intuito foi servir de alternativa a um modelo de política de segurança pública voltado para ações corretivas, dando lugar à atividades de prevenção. (CRUZ, 2013, p. 6). 18 CAPITULO III: SEGURANÇA PÚBLICA: alguns desafios Como observado nos capítulos anteriores, buscamos trazer um panorama histórico sobre a segurança pública no Brasil e como ela está estruturada em nosso sistema. Porém é nítido que ainda necessitamos superar inúmeros desafios para buscar uma política em segurança pública eficiente. Morais e Souza (2011) apontam que a “[...] questão da Segurança Pública passou a ser considerada problema fundamental e principal desafio ao Estado de Direito no Brasil. A Segurança Pública ganhou enorme visibilidade e tornou-se presente nos debates tanto de especialistas como do público em geral”. Destaca-se que esta discussão em nosso país ganhou grande destaque por causa do aumento constante da criminalidade e da sensação de insegurança que a sociedade sente, principalmente nas grandes cidades, considerando uma aparente ineficiência na ação policial para conduzir esta questão. (MORAIS E SOUZA, 2011). Deste modo, neste capitulo tentaremos traçar alguns desses desafios enfrentados no âmbito da segurança pública. Cano (2006) elenca que O Brasil, como muitos outros países da região, vive um cenário de crise na segurança pública, com altas taxas de incidência criminal, que cresceram de forma significativa ao longo dos anos 80 e 90. Até os anos 70, o crime era concebido basicamente como um problema de polícia; a esquerda esperava, como em outros países, que o fim da ditadura e a democratização, de alguma forma resolveriam a questão. O tema da criminalidade era concebido como um tema “da direita”, dos defensores da lei e da ordem, e qualquer ênfase na questão já era vista como suspeita. Em conseqüência, não existia sequer a reflexão, nem a proposta dos setores progressistas que se contrapusesse à simples demanda pela ordem por parte dos grupos conservadores. (p. 137) Por este motivo, o autor coloca que a segurança pública entrou com notoriedade para a agenda política e social, trazendo consigo reformas e propostas inovadoras, muitas vezes ineficientes. (CANO, 2006). Deste modo, o autor destaca as deficiências mais comuns no campo de segurança social: • falta de investimento suficiente, o que se traduz, entre outras coisas, por baixos salários para os escalões inferiores das polícias. Esses salários obrigam os agentes a trabalharem em outros empregos, geralmente em segurança privada, gerando altos níveis de estresse e a tendência de privatização da segurança pública; • formação deficiente dos agentes policiais, sobretudo nos níveis hierárquicos inferiores; 19 • herança autoritária: a polícia era um órgão de proteção do Estado e das elites que o dirigiam contra os cidadãos que representavam um perigo para o status quo, as chamadas “classes perigosas”. A transição do modelo de uma polícia de controle do cidadão para uma polícia de proteção das pessoas é gradual e ainda não foi concluída. Ademais disso, o Estado brasileiro conserva resquícios de sua formação oligárquica, como a prisão especial para as pessoas com formação universitária; • insistência no modelo da guerra como metáfora e como referência para as operações de segurança pública. Desse modo, o objetivo continua sendo, em muitos casos, o aniquilamento do “inimigo”, freqüentemente sem reparar nos custos sociais. O problema de segurança pública aparece às vezes como uma questão de calibre, como um nó que será desatado quando o poder de fogo das polícias supere o do inimigo. Em conseqüência, a segurança pública se apresenta fortemente militarizada em suas estruturas, doutrinas, formação, estratégia e táticas. As operações de segurança pública em áreas pobres se assemelham a operações de guerra em território inimigo: ocupação, blitz etc.; • no contexto anteriormente mencionado não é de se estranhar a existência de numerosos abusos aos direitos humanos, particularmente os que se referem ao uso da força. Os tiroteios em comunidades pobres produzem um alto índice de mortes, incluindo as vítimas acidentais. As alegações de tortura contra presos e condenados também são freqüentes; • relações conflitivas com as comunidades pobres, sobretudo em lugares onde o crime organizado é forte. A juventude que vive nesses lugares considera a polícia inimiga e um setor da polícia tem esta mesma visão. As pesquisas mostram que existem muitas comunidades onde os moradores têm mais medo da polícia que dos traficantes de drogas, cujo despotismo é mais previsível; • numerosos casos de corrupção policial, desde pequenos subornos para não aplicar multas de trânsito até proteção a traficantes. Em muitas ocasiões, o abuso de força está também vinculado aos casos de corrupção. (CANO, 2006, p. 141 e 142) Porém o autor coloca que embora tenham tidograndes desafios e deficiências, existiram iniciativas voltadas para reformas que podem servir como experiencias para uma futura mudança. Abaixo destacaremos algumas delas: • experiências de polícia comunitária em vários estados, em geral com resultados positivos, pelo menos em relação à imagem da polícia em suas relações com a comunidade. Não tem havido, contudo, redução significativa das taxas de criminalidade. O elemento mais importante, de fato, é a mudança no relacionamento entre a polícia e a comunidade. De qualquer forma, nenhum estado adotou o modelo de polícia comunitária como modelo geral para a Polícia Militar; • criação de Ouvidorias de Polícia em vários estados. As Ouvidorias têm como missão receber denúncias de abusos cometidos por policiais, garantindo o anonimato do denunciante, se for necessário. As denúncias são encaminhadas às Corregedorias (Departamentos de Assuntos Internos) para serem investigadas e a Ouvidoria acompanha esta investigação. A instituição pública relatório periódico sobre as denúncias recebidas e funciona como elemento de mobilização e conscientização sobre o assunto. No entanto, a falta de comunicação posterior com os denunciantes e a baixa proporção de casos que resultam em punição para os acusados provocam um considerável grau de insatisfação entre os denunciantes, como mostraram as pesquisas realizadas em três Ouvidorias. O grau de institucionalização é ainda incipiente e o desempenho depende em grande medida da figura do Ouvidor. Não é comum contarem as Ouvidorias com um quadro de funcionários ou orçamentos próprios, e muitas funcionam nos edifícios das Secretarias de Segurança, contrariando sua vocação de manter sigilo; • uso de técnicas de geo-referenciamento para mapear as áreas e horários de maior incidência criminal, com a finalidade de dirigir o patrulhamento preventivo a esses pontos críticos. De fato, os estudos clássicos que avaliavam o impacto do 20 patrulhamento, como o de Kansas City em 1972, concluíram que o patrulhamento não específico, sem foco espacial ou temporal, não consegue reduzir a criminalidade. A Polícia Militar de Belo Horizonte, entre outras, trabalhou na linha do geo- referenciamento; • programas-piloto para reduzir a violência letal em áreas marginais com alta incidência de homicídios. Entre eles, podemos citar GPAE no Rio de Janeiro e “Fica Vivo” em Belo Horizonte. Constituem uma certa novidade no país, porque os crimes contra a vida, ao contrário dos crimes contra a propriedade e os seqüestros, nunca foram uma prioridade das políticas de segurança pública brasileira. Isso acontece, entre outras razões, porque as vítimas de homicídios são em sua maioria pessoas das classes mais humildes, sem voz nem influência política comparáveis às classes médias e altas. (CANO, 2006, p. 142 e 143). O autor da ênfase para o programa GPAE (Grupo de Policiamento em Áreas Especiais) e para o programa “Fica Vivo”, nos quais resultaram positivamente, reduzindo tiroteios e por consequência a redução de homicídios. (CANO, 2006). Para Cano, é nítido observas que programas realizados em iniciativa nacional tem maiores chances de não funcionar, do que aqueles realizados em iniciativas locais, visto que os nacionais estão sujeitos a mudar, atrasar ou perder força por causa das mudanças de condições políticas, já as iniciativas municipais, embora estas sofram com as incertezas, deficiências técnicas e não possuírem uma homogeneidade e articulação que um programa nacional, estas possuem melhores perspectivas de continuidade. É interessante a capacidade de articulação dos municípios entre si para enfrentar o problema. Entre as vantagens desta opção, estão as economias de escala relativas ao investimento técnico, sobretudo em municípios pequenos. O planejamento, a supervisão e a avaliação dos programas poderiam ser realizados por uma única equipe técnica contratada para esse fim por todos os municípios de uma determinada região. Há também vantagens metodológicas, quando se trata de um único programa aplicado em um conjunto de municípios. Por exemplo, poder contar com uma amostra maior, dispor de alguns locais como grupos de controle e outros como grupo experimental etc. (CANO, 2006, p. 146). Também é destacado pelo autor que a participação social para melhorar a segurança pública pode ter vários benefícios, entre eles: • efeitos sobre a concepção, gestão e acompanhamento dos programas, quanto à sua descentralização, democratização etc.; • o impacto preventivo que o crescimento das redes sociais e a melhora nas relações comunitárias podem implicar com relação ao temor e à violência, seja de forma indireta, ao reduzir o temor e estimular a ocupação dos espaços públicos, ou de forma direta, ao promover a resolução pacífica dos conflitos cotidianos; • uma mudança na percepção social da violência, que interiorize o novo paradigma da prevenção; (CANO, 2006, p. 149). 21 Porém para o autor é notável que a participação social enfrente inúmeros desafios, o que a dificulta bastante. Morais e Souza destacam essa participação social afirmando que uma “[...] Política de Segurança Pública cidadã deve ser rigorosa no enfrentamento da impunidade e humanista na valorização da participação comunitária nas questões da Segurança Pública e na inserção de jovens pobres das periferias urbanas ao mercado de trabalho”. (2011) Conforme Lima, Bueno e Mingardi, [...] ao contrário do que pensa o senso comum, muitas energias são gastas na busca por soluções e há várias iniciativas que podem e devem ser mais bem estudadas e incentivadas. As melhores práticas na redução da violência e da criminalidade têm se concentrado no tripé aproximação com a população, uso intensivo de informações e aperfeiçoamento da inteligência e da investigação. (2016, p. 66). Os autores argumentam que pensar nestas práticas de forma isolada, faz com que se não tenha percepção da carência de coordenação, integração e da articulação, o que fundamenta a segurança pública brasileira. Assim “sem que ataquemos essa grande fragilidade, o país continuará refém do medo e da insegurança e pouco conseguiremos avançar na transformação de práticas institucionais reconhecidamente ineficazes”. (LIMA, BUENO E MINGARDI, 2016, p. 66). Deste modo os atores sintetizam que Brasil, ao largo do notável aprimoramento técnico operacional dos últimos vinte anos, ainda se impõe um silêncio obsequioso frente ao problema da segurança pública, que nos desafia a pensar em um projeto de reforma das polícias que as valorizem como uma instituição central do Estado democrático de direito e da cidadania. As polícias, bem como as demais instituições da área, retratam a forma como o Brasil optou por administrar conflitos sociais e de se conceber como nação. Assim, falar hoje de segurança pública significa falar de um projeto de país; significa ter coragem política e institucional para liderar um pacto pela promoção de uma vida digna e em paz para parcelas majoritárias da população. (LIMA, BUENO E MINGARDI, 2016, p. 67). Assim Carvalho e Silva apontam que Diante destas considerações, deve-se acrescentar que o processo de estruturação da política de segurança pública exige rupturas, mudanças de paradigmas, sistematização de ações pontuais combinadas a programas consistentes e duradouros fincados, sobretudo, na valorização do ser humano sob todos os aspectos, levando em consideração os contextos sociais de cada cidadão. Os avanços na consolidação de uma política de segurança pública de Estado no Brasil, pautada em princípios democráticos, de solidariedade e dignidade do ser humano indicam que os desafios a serem superados tornam indispensável o exercício da cidadania com fulcro nos direitos de igualdade e na justiça social. (CARVALHO E SILVA, 2011, p. 66). 22Deste modo, a partir dos expostos podemos perceber que temos ainda muito a caminhar e enfrentar para enfim estipular uma política em segurança pública eficiente, procurando uma articulação entre ações do Governo Federal, Governo Estadual, Municipal e da sociedade civil. Visto que As experiências realizadas até hoje na área da segurança pública têm sido, em regra, pautadas por padrões top-down de concepção, decisão e execução, combinados, além disso, a fatores como a ausência de processos de avaliação e a espaços limitados de negociação política. A gestão na área da segurança pública é, pois, entendida como uma política centralizada e que padece de fragilidade decisória, posto que sem legitimidade. Falta legitimidade porque a política não se constrói com base no diagnóstico prévio e participativo, e sua implementação ocorre de forma seletiva e segmentada, a depender dessas burocracias insuladas que fazem parte do sistema de segurança e, porque não dizer, impulsionada pelos casos de violência de grande repercussão nacional. (BALLESTEROS, 2014, p. 15). 23 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo da presente pesquisa procuramos traçar um breve histórico de como se iniciou a discussão de segurança pública no Brasil, como ela se estruturou e os principais desafios encontrados atualmente para sua real efetivação. Para entender a temática historicamente Rosa (2015) e cruz (2013) trouxeram grandes contribuições para a pesquisa. Pudemos compreender que inciativa de se implementar um sistema de segurança pública no Brasil aconteceu principalmente com a vinda da família real portuguesa ao Brasil e que a partir deste fato iniciaram inúmeras iniciativas voltadas a área de segurança. Porém os autores argumentam que neste período histórico a segurança pública não era voltada ao cidadão e sim a proteção do país. Sendo algo que não era garantido a população. Em nossas constituições federais o termo “Segurança pública”, de acordo com Lima, Bueno e Mingardi (2016), foi aparecer apenas em 1937, porém é apenas em 1988, após o final da ditatura que o termo é resgatado e passa a tentar organiza-lo. Deste modo, conforme Martins (2007) o nosso sistema de segurança público é dividido em quatro subsistemas sendo estes o Policial, o penitenciário, o Judicial e do Ministério Público nos quais estes subsistemas devem interagir e trabalhar em conjunto para que haja uma efetivação no serviço de segurança pública. Carvalho e Silva (2011) apontam que esta interação não ocorre, visto que no Brasil não se tem um serviço de segurança pública e este serviço age apenas e situações emergenciais. Duas iniciativas aparecem nesta presente pesquisa, que procuraram buscar uma melhor efetivação e enfrentar os desafios encontrados na área de segurança pública, sendo elas o Plano Nacional de Segurança Pública criado no ano 2000, após uma década voltada a discussões, voltadas para área. De acordo com Carvalho e Silva (2011), este plano foi um marco importantíssimo na política de segurança pública, porém os resultados obtidos com ele não foi o esperado, principalmente pela questão de falta de recursos adequados. Outra iniciativa foi o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, criado em 2007, este programa procurava combinar ações com políticas sociais, visando diminuir a criminalidade, principalmente em regiões em que este índice era alto. Porem apesar das iniciativas voltadas para melhorar o sistema de segurança pública no Brasil, ainda enfrentamos inúmeros desafios, Cano (2006) destaca alguns deles como: alto 24 índice de criminalidade, falta de investimentos, formação ineficiente de agentes policiais, corrupção policial, entre outros fatores. O autor ainda destaca algumas ações que contribuíram para melhorar a criminalidade e o sistema de segurança pública, enfatizando que as iniciativas locais tem mais chances de funcionar do que as iniciativas nacionais, já que as locais possuem melhores perspectivas de continuidade. Também se destaca que a participação social é importantíssima para uma efetiva política de segurança pública. A partir do exposto é nítido a concordância dos autores que a questão de segurança pública no pais ainda há muito o que melhorar e de discutir no Brasil, principalmente na questão de articulação de ações entre Governo Federal, Estadual, Municipal e sociedade civil, buscando assim uma efetiva política de segurança pública. 25 REFERENCIAS BALLESTEROS, Paula Rodriguez. Gestão de políticas de segurança pública no Brasil: problemas, impasses e desafios. Rev. bras. segur. Pública. São Paulo v. 8, n. 1, p. 6-22, fev/mar. 2014. Disponível em: < https://forumseguranca.org.br/publicacoes_posts/gestao-de-politicas-de-seguranca-publica- no-brasil-problemas-impasses-e-desafios/>. Acesso em 03 abril 2020. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm >. Acesso em 07 maio 2020. BRASIL. Ministério da Justiça. 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