Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIDÁTICA e DESIGN INSTRUCIONAL Antonio Simão Neto / Camile Gonçalves Hesketh Código Logístico 56602 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6334-5 9 7 8 8 5 3 8 7 6 3 3 4 5 IESDE BRASIL S/A 2017 Didática e Design Instrucional Antonio Simão Neto Camile Gonçalves Hesketh Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Hilch/iStockphoto CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S596d Simão Neto, Antonio Didática e design instrucional / Antonio Simão Neto, Camile Gonçalves Hesketh. - 2. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2017. 214 p. : il. ; 21 cm. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6334-5 1. Professores - Formação. 2. Prática de ensino. 3. Planeja- mento educacional 4. Didática. I. Hesketh, Camile Gonçalves. II. Título. 17-44247 CDD: 370.71 CDU: 37.02 © 2009-2017 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Apresentação Bem-vindos ao livro Didática e Design Instrucional. Gostaríamos de iniciar a apresentação deste livro a partir de um verso do sugestivo poema “Didática da invenção”, de Manoel de Barros, quando nos diz: “desaprender 8 horas por dia ensina os princípios”. Se para o poeta o princípio da aprendizagem está no ato de desa- prender, qual é o desafio que cabe a nós, educadores, no que se refere ao design de materiais para cursos presenciais e à distância? O que afinal de contas precisaríamos desaprender para que nossas aulas, bem como nossos materiais, passem a ter um novo sabor? Desaprender para aprender ou aprender a desaprender: uma apren- dizagem às avessas. Neste livro, veremos que muito do que sabemos hoje pode se tornar impedimento para que saibamos mais e melhor. Desaprender não sig- nifica apagar algo que já existe em nossa mente, mas saber abrir mão de algumas coisas que não fazem mais sentido na atualidade, criando espaço para novas ideias e ações. Desaprender é a condição básica para reapren- der e transformar. Em cada um dos capítulos enfatizaremos princípios fundamentais que precisam ser desaprendidos, como por exemplo: desaprender a di- dática de caráter instrumental; o modo autoritário de dar aulas; a edu- cação a distância como transposição da educação presencial; a relação pedagógica fundada no instrucionismo; o design dos materiais didáticos centrados no repasse de informações; os conteúdos como fins em si mes- mos; os exercícios capazes de desenvolver sempre as mesmas habilidades nos alunos; o professor como centro do processo educativo; o ensino que acredita que todas as pessoas aprendem da mesma forma; as tecnologias que reproduzem as velhas formas de ensinar e aprender; entre outros. Desta forma, este livro pretende contribuir para a “desaprendiza- gem” de algumas certezas que dificultam a construção dos princípios ne- cessários para que a educação alie o saber ao sabor. Desejamos que sua aprendizagem seja significativa! Antonio Simão Neto Camile Gonçalves Hesketh Sobre os autores Camile Gonçalves Hesketh Doutoranda em Educação, Especialista em Leitura de Múltiplas Linguagens e Pedagoga pela PUCPR. Experiência na área de educação a distância. Autora de alguns materiais para cursos a distância e tutora de vários cursos nessa modalidade. Tem atuado como designer pedagógico de materiais educativos. Antonio Simão Neto Doutor e mestre em Educação pelo Instituto de Educação da Universidade de Londres. Bacharel e licenciado em História, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). É diretor do Instituto Interfaces. Faz conferências e palestras sobre temas relacionados à educação a dis- tância e às tecnologias e mídias educacionais. 6 Didática e Design Instrucional SumárioSumário 1 Didática: entre saberes e sabores 9 1.1 Abrindo o apetite 9 1.2 Didática como receituário 10 1.3 Um pequeno passeio pela história da didática 12 1.4 A didática hoje 16 2 Didática na educação a distância: limites e possibilidades 25 2.1 Didática no contexto da EAD 25 2.2 Modelos didáticos na EAD 28 2.3 Novos rumos para a didática na EAD 31 3 Design instrucional: conceitos centrais e fundamentos 41 3.1 O que é design? 41 3.2 A semiótica social e o design instrucional 42 3.3 O que é design instrucional 48 4 O design instrucional na EAD 55 4.1 Design instrucional para a EAD 55 4.2 Do conteúdo à ação: uma mudança paradigmática 63 4.3 Design de atividades de aprendizagem: um primeiro olhar 65 5 Design de atividades de aprendizagem 71 5.1 Design de atividades de aprendizagem – uma proposta 71 5.2 Tipologia de atividades de aprendizagem 72 6 Design instrucional para mídias estáticas 89 6.1 Potencialidades e limites do meio impresso 89 6.2 Mudando o foco: dos conteúdos para as atividades 93 6.3 As imagens fixas no meio impresso 95 6.4 Caso para reflexão 101 Didática e Design Instrucional 7 SumárioSumário 7 Design instrucional para mídias audiovisuais 111 7.1 Mídias audiovisuais 111 7.2 Design e design instrucional para mídias audiovisuais 114 7.3 Caso para reflexão 117 8 Design instrucional para mídias em movimento 123 8.1 Mídias audiovisuais em movimento: características essenciais 123 8.2 Caso para reflexão 128 8.3 Linguagem audiovisual e educação 133 9 Design instrucional para mídias digitais 139 9.1 Mídias digitais: características essenciais 139 9.2 O computador na educação: balanço crítico 141 9.3 Caso para reflexão 147 10 Design instrucional para mídias interativas 157 10.1 Mídias digitais na EAD: características essenciais 157 10.2 A videoconferência na educação a distância 158 10.3 Os ambientes virtuais de aprendizagem 163 11 Tecnologias emergentes e promissoras para a educação 175 11.1 Tecnologias emergentes, convergentes, inovadoras e promissoras 175 11.2 Tecnologias emergentes e promissoras para a educação 176 11.3 Fontes de informação e referência sobre as TEPE 178 12 Design universal, mídia integrada e design instrucional 193 12.1 Tecnologias de assistividade e acessibilidade 193 12.2 Design universal e design instrucional 196 12.3 Mídias integradas 198 12.4 Design instrucional para mídias integradas 200 12.5 Caso para reflexão 202 Didática e design instrucional 9 1 Didática: entre saberes e sabores 1.1 Abrindo o apetite Aperitivos são aquelas entradas leves, servidas antes do prato principal, com a intenção de ajudar a enganar a fome antes de uma refeição. Sendo assim, as informa- ções organizadas neste primeiro tema têm a intenção de abrir o apetite para o assunto principal abordado nesta aula: a didática. Mas o que a gastronomia tem a ver com a didática? Será que existem semelhan- ças, por exemplo, entre um professor e um cozinheiro? O ato de aprender pode ser comparado ao ato de comer? E o ato de ensinar tem similaridade com o ato de cozinhar? Quais seriam os pontos comuns entre o saber e o sabor? Se analisarmos o significado etimológico das palavras saber e sabor, perceberemos que ambas têm a mesma origem no verbo latino sapere. Uma analogia com a educação nos permite pensar que o saber pode e deve ter sabor. E o responsável por essa arte de misturar os ingredientes necessários para uma aula saborosa é o professor. Didática: entre saberes e sabores1 Didática e design instrucional 10 Algumas aulas gostosas nos trazem boas lembranças, outras menos saborosas nos dei- xam com um gosto amargo na boca. Tiba (2006, p. 39) nos diz: “aprender é como comer”. Uma boa aula é como uma gostosa refeição: quanto mais atraentes estiverem os pratos que o cozinheiro-professor dispuser sobre a mesa, mais os alunos desejarão saboreá-los. Alves (2009) também compara o aprender com o saborear uma deliciosa comida. Para ele, nós olhamos a comida, sentimos o cheiro e logo nos vem a vontade de comer. Este autor, em seu artigo “A arte de produzirfome1”, nos lembra ainda de um ensinamento que apren- deu com a poetisa Adélia Prado: “Não quero faca nem queijo; quero é fome”. O comer não começa com o queijo. O comer começa na fome de comer queijo. Se não tenho fome é inútil ter queijo. Mas se tenho fome de queijo e não tenho queijo, eu dou um jeito de arranjar um queijo. (ALVES, 2009) Diante dessas palavras, vale a pena questionar: os professores têm provocado em seus alunos a fome pela aprendizagem? Fome de construir conhecimentos significativos? Fome de aprender coisas novas? Alves (2009) nos lembra que o professor-cozinheiro é aquele profissio- nal que cria e oferece situações reais para que a aprendizagem aconteça de forma prazerosa. Comer pode ser algo maravilhoso quando temos fome e aprender pode ser algo espe- tacular quando estamos motivados. Para preparar um prato apetitoso, precisamos, além de bons ingredientes, alguns temperos peculiares. Quais são aqueles capazes de tornar uma aula mais saborosa e deixar os alunos com água na boca? Tiba (2006, p. 42) nos dá algumas pistas: “Os melhores temperos de uma boa aula são movimento, humor e boa comunicação relacional. As aulas têm que ser ‘degustadas’ pelos alunos”. O desafio dos educadores é descobrir maneiras de tornar as suas aulas mais criativas, envolventes, dinâmicas, divertidas e desafiadoras, visando à aprendizagem dos alunos; afi- nal, ninguém gosta de repetir sempre o mesmo menu. Proporcionar espaço para a interação, exploração, pesquisa, criação, descoberta, pode ser o primeiro passo para despertar o prazer pelo conhecimento. Como a didática tem contribuído para que o professor consiga desper- tar no aluno o desejo de aprender pelo prazer de saber? 1.2 Didática como receituário O professor, como um bom cozinheiro, poderia preparar a aula com aperitivos e entradas, antes de servir o prato quente, e culminar com a sobremesa. Mas, mesmo sem entradas, nem aperitivos, se a aula for bastante prazerosa, todos sentirão vontade de absorvê-la. Portanto, a palatabilidade é muito importante. (TIBA, 2006, p. 41) 1 ALVES, Rubem. A Arte de Produzir Fome. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_ colunas/r_alves/id241102.htm>. Acesso em: 9 jun. 2017. Didática: entre saberes e sabores Didática e design instrucional 1 11 Muitos alunos já pronunciaram ou ouviram a velha frase: “Que aula legal, essa profes- sora tem didática!”, ou ainda, “Que aula mais entediante, esse professor não tem um pingo de didática!”. O termo didática tem sido utilizado nos corredores das escolas e universidades como algo meramente instrumental, aquilo que o professor precisa ter para ser bom em sua pro- fissão. A didática ainda é entendida por muitos como um “receituário” capaz de instrumen- talizar o professor a dar aulas melhores. É preciso ir além dessa lógica; caso contrário basta que os professores sem didática sigam um manual prático composto de uma série de métodos e técnicas para que suas aulas sejam eficazes. Na prática, porém, sabemos que as coisas não acontecem bem assim. Há muito tempo a Didática vem sendo ministrada como uma disciplina em diversos cursos. Na década de 1970, na antiga escola Normal e mais tarde nos cursos de Magistério, os alunos costumavam aprender nas aulas de Didática a utilizar cor- retamente diversos recursos pedagógicos. O foco estava na técnica, no como ensinar. Muitos professores de fato aprenderam a confeccionar materiais e a utilizar o flanelógrafo, o álbum seriado, a escrever adequadamente na lousa, a fazer transparências e operar um retroproje- tor; mas estas técnicas não garantiam que os alunos aprendessem melhor, nem que as aulas fossem mais saborosas. A metáfora do professor-cozinheiro revela algumas semelhanças entre ensinar e cozi- nhar. Várias pessoas que fizeram cursos de culinária juram seguir à risca as receitas aprendi- das, mas quando o prato fica pronto dizem que não tem o mesmo sabor daquele que haviam provado na aula. Para ser um bom cozinheiro, assim como para ser um bom professor, é preciso mais do que apenas dominar as técnicas: jeito com a cozinha, utensílios adequados, ingredientes apropriados, temperos peculiares, experiência acumulada, além de dedicação, criatividade e gosto pela profissão, podem ajudar uma pessoa a se tornar um exímio chef. Por outro lado, ter um relacionamento interpessoal bem desenvolvido, conhecer as formas pelas quais os alunos aprendem, ser capaz de experimentar novas maneiras de planejar, ensinar, aprender e avaliar, além de possuir a sabedoria capaz de ajudar os alunos a transformar informação em conhecimento, são alguns dos ingredientes capazes de tornar um professor inesquecível. Com o passar dos anos, a didática incorporou os pressupostos teóricos de diversas cor- rentes de pensamento sobre o processo de ensino e aprendizagem, deixando de ser conside- rada como um receituário capaz de garantir um bom ensino. Não há definição universal para o termo didática, pois não existe um consenso entre os próprios teóricos da área. Candau (2004), ao nos dizer que a didática é uma reflexão sistemá- tica capaz de buscar alternativas para os problemas da prática pedagógica, nos dá algumas pistas que nos ajudam a compreender melhor algumas das suas especificidades. Na prática pedagógica atual podemos encontrar alguns nós nas seguintes relações: en- sino versus aprendizagem; professor versus aluno; teoria versus prática; conteúdo versus for- ma; planejamento versus avaliação; dentre outros. Assim, torna-se cada vez mais necessária uma reflexão sistemática sobre tais problemas, para que possam ser criadas formas ade- quadas de intervenção. No entanto, antes de tal reflexão, é preciso conhecer mais de perto Didática: entre saberes e sabores1 Didática e design instrucional 12 a contribuição que diversos pensadores trouxeram para a didática ao longo dos tempos. Ao revisitar o passado a partir do presente, espera-se visualizar melhor os caminhos abertos para o futuro. 1.3 Um pequeno passeio pela história da didática Na fase de ingestão do alimento e recepção da informação, quem fornece comida ou informação tem um papel importante. Para atravessar essa etapa, é necessá- rio sentir fome ou ter o apetite despertado pela comida: cheiro, cor aparência, apresentação, forma e tempero podem tornar o alimento convidativo e inspirar a vontade de degustá-lo. (TIBA, 2006, p. 41) As informações a seguir, embora à primeira vista possam não parecer tão apetitosas, serão importantes no momento da digestão da aula, isto é, quando estas informações forem transformadas em conhecimento. A intenção é possibilitar um rápido encontro com as ideias de alguns importantes pensadores e rever suas contribuições para a didática, em particular, e para a Educação, de maneira geral. Vale destacar que, como a intenção não é fazer uma história geral da didática, pensa- dores e educadores igualmente importantes tiveram de ser deixados de fora dessa peque- na revisão; recomenda-se que mais leituras sejam realizadas para que um panorama mais abrangente do pensamento pedagógico seja construído. Pode-se arriscar dizer que a didática sempre existiu na história da humanidade, uma vez que ensinar e aprender são práticas que remontam à própria constituição dos grupos huma- nos. Em volta da fogueira ensinava-se sobre o mundo natural, a sobrevivência, a identidade do grupo, a vida social. Desde a Antiguidade temos registros de ações pedagógicas em academias, liceus, palá- cios e mosteiros. No entanto, Libâneo (1994, p. 57) nos lembra: “Até meados do século XVII não podemos falar de didática como teoria do ensino, que sistematize o pensamento didáti- co e o estudo científico das formas de ensinar”. A palavra grega Didaktiké aparece em obra em 1657, quando João Amos Comênio (1592- 1670), considerado o pai da didática moderna, escreveu sua Didática Magna – um tratado que se propunha a demonstrar como ensinar tudo a todos, sugerindo mudanças significativas na escola e na maneira de ensinar da época. Comêniobuscava superar as limitações a que a educação estava exposta no período medieval. Nós ousamos prometer uma “Didática Magna”, isto é, um método universal de ensinar tudo a todos que deverá auxiliar o professor a ensinar com prazer e solidamente para obter bons resultados, e de ensinar com tal certeza, que será impossível não conseguir bons resultados. E de ensinar rapidamente, ou seja, sem nenhum aborrecimento para os alunos e professores, mas antes como sumo prazer para uns e para outros. E de ensinar solidamente, não superficialmente e apenas com palavras, mas encaminhando os alunos para uma verdadeira instru- ção, para os bons costumes e para a piedade sincera. (COMÊNIO, 1987, p. 45-46) Didática: entre saberes e sabores Didática e design instrucional 1 13 Comênio é considerado o melhor representante da primeira fase da didática que surge no século XVII e vai até o início do século XIX. A didática proposta por Comênio apresenta- va desafios significativos para a época: A proa e a popa da nossa “Didática” será investigar e descobrir o método segun- do o qual os professores ensinem menos e os estudantes aprendem mais; nas escolas, haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho inútil, e, ao contrá- rio, haja mais recolhimento, mais atrativo e mais sólido progresso. (COMÊNIO, 1987, p. 44) Pode-se dizer que esse educador foi ousado ao propor um método democrático capaz de ensinar tudo a todos, numa época em que o ensino era privilégio de poucos; uma didática capaz de respeitar a inteligência e os sentimentos da criança, num tempo em que a única voz que prevalecia era a do professor; o educar pela delicadeza, num momento histórico onde o castigo corporal era rotineiro; um método empírico de explorar a natureza, num período onde as verdades absolutas e divinas costumavam ser impostas. Apesar de Comênio ter desafiado as formas do fazer pedagógico de sua época, em seu método o professor permanecia como o eixo em torno do qual girava o ensi- no, ainda transmissivo. No século XVIII, o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi o responsável pela segunda revolução didática ao defender e difundir um novo conceito de infância: para ele a educação é um processo natural do desenvolvimento da criança. Seus estudos sobre o ensino se baseavam nos interesses e necessidades imediatas do aluno e por isso valorizava o jogo, o trabalho manual e a experiência direta das coisas. Para esse pensador a criança não é um adulto em miniatura, mas sim alguém que possui interesses e tendências peculiares e é naturalmente boa. Ao crescer no mundo dos adultos, porém, sua natureza vai sendo modificada. Segundo Rousseau, toda criança nasce boa, quem a corrompe é a sociedade. O papel do educador é servir de barreira para que as influências maléficas da sociedade não interfiram no desenvolvimento natural do educando. Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), educador suíço, foi um dos primeiros a de- monstrar a influência do meio social sobre a educação. Para ele a educação é um instrumen- to capaz de propiciar a reforma social. Pestalozzi defendia a educação intelectual, baseada na intuição e no interesse. Seu método estava focado em três elementos simples – som, forma e número – e se baseava num processo indutivo, considerado revolucionário para a época. Suas ideias lançaram a base para a pedagogia moderna. A fase psicológica da didática se concretizou com o alemão Johan F. Herbart (1776- 1841), considerado simultaneamente como o pai da moderna ciência da educação. Herbart buscou inspiração na obra de Pestalozzi, mas suas ideias focalizavam o método de ensino, a ética e a psicologia. A ação pedagógica deveria ser orientada por três procedimentos: o governo, a instrução e a disciplina. Este educador acreditava que a instrução era a base da educação e por isso criou um método contendo cinco passos formais capazes de promover a aprendizagem do aluno: pre- paração, apresentação, comparação ou assimilação, generalização e aplicação. Este método Didática: entre saberes e sabores1 Didática e design instrucional 14 didático era baseado na estruturação lógica dos conteúdos, organizados em pequenas uni- dades. De certa forma, esta proposição sobrevive até os dias de hoje. Outro educador que se destacou nesta época foi o alemão Friedrich Froebel (1782-1852), o idealizador dos jardins de infância. Froebel foi um dos primeiros a enfatizar a importância da educação infantil e do brincar para a formação das pessoas. Essa ideia foi aceita e seguida mais tarde por outros teóricos da educação. Froebel acreditava na educação integral, respon- sável por levar as pessoas a encontrar harmonia consigo mesmas e com os outros. Lev Vygotsky (1896-1934), dentre muitas outras contribuições essenciais para a psicolo- gia da aprendizagem, introduziu o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), para destacar a importância da interação social na aprendizagem. A ZDP marca a fronteira das tarefas e ações (práticas ou cognitivas) que são difíceis demais para a criança dominar sozi- nha, mas que podem ser superadas contando com o apoio e a ajuda de outras pessoas, sejam professores, pais ou outras crianças. Vygotsky abre caminho para as teorias pedagógicas so- ciointeracionistas, que destacam o papel do contexto social e da interação na aprendizagem. O educador americano John Dewey (1859-1952) contribuiu intensamente para o de- senvolvimento da didática, enfocando e enfatizando a experiência. Antunes (2007, p. 165) destaca este ideal proposto por Dewey: A escola deve propiciar um espaço no qual possam ser realizadas experiências exemplares de vida social; mas também deve oportunizar o permanente confron- to do anseio de liberdade do indivíduo com conteúdos específicos que mostrem sua dimensão social. Para isso, é importante que a vida social na escola tenha como base a troca de experiências mediante a comunicação entre os alunos, uma vez que a descoberta da compreensão da vida no mundo adquire significado através da linguagem. Para Dewey a escola não é uma preparação para a vida, mas a própria vida. Considerava a vida escolar e a vida social como indissociáveis e apontava a escola como o instrumental fundamental e necessário para a democracia. Segundo Dewey, a aprendizagem deveria ser essencialmente coletiva, assim como deveria ser coletiva a produção do conhecimento. Esse educador fez muitas críticas à educação tradicional, principalmente no que se re- fere às práticas voltadas para a transmissão e memorização dos conteúdos. Dentre suas propostas, ao sugerir uma educação pela ação, encontramos a ideia de uma didática ativa, retomada por muitos educadores nos dias de hoje. A italiana Maria Montessori (1870-1952) trouxe contribuições significativas para a didática, principalmente para a educação mate- mática e para os trabalhos com a linguagem. Para ela, cada criança, além de ter um ritmo próprio, traz dentro de si o potencial criador que permite que ela mesma conduza a sua aprendizagem. Seu método destacava a atividade, a individualidade e a liberdade. Com o intuito de desenvolver as capacidades cognitivas da criança, Montessori criou vários tipos de materiais concretos, dentre os quais podemos destacar o material dourado2 2 Material dourado: é um material pedagógico utilizado na matemática. É confeccionado em madeira e baseia-se em regras do nosso sistema de numeração. É composto por 1 cubo (equivalente a 1 milhar), 10 placas (equivalentes a uma centena cada), 100 barras (equivalentes a uma dezena cada ) e 1000 cubi- nhos (equivalentes a unidades). Didática: entre saberes e sabores Didática e design instrucional 1 15 e o alfabeto móvel3, bem conhecidos nas escolas brasileiras. Antunes (2007, p. 172) destaca a importância do método montessoriano: Seu método desenvolve em profundidade a educação sensorial e estudos recen- tes sobre o cérebro humano revelam ser essencial para a excelência da vida. Além disso, estabeleceu uma série de diretrizes e idealizourecurso e materiais para estimular o desenho e a escrita, a leitura e a matemática. Seu método, adaptado a diferentes realidades nacionais, é conhecido em quase todo o mundo, influen- ciando de forma significativa as linhas-mestras da educação contemporânea. Os estudos científicos em Epistemologia Genética do suíço Jean Piaget (1896-1980) trou- xeram contribuições importantes tanto para a psicologia quanto para a educação. Piaget não teve a preocupação de orientar professores nem de discutir métodos de ensino, mas sim de compreender os processos pelos quais as crianças aprendem. É possível afirmar que Piaget jamais falou em construtivismo; no entanto, suas ideias inspiraram e inspiram até hoje mui- tos pensadores e educadores em todo o mundo. Os estudos de Piaget estavam baseados na investigação da inteligência humana. Para ele, o desenvolvimento cognitivo se dá pela interação entre o sujeito e o objeto de conheci- mento. Assim, o cérebro humano funciona baseado em esquemas de significação, os quais estão em permanente adaptação através de processos contínuos e simultâneos de assimila- ção e acomodação. Piaget (1996, p. 13) define a assimilação como [...] uma integração a estruturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem descon- tinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simples- mente acomodando-se à nova situação. Piaget (1996, p. 18) define assim o conceito de acomodação: “Chamaremos acomodação (por analogia com os ‘acomodatos’ biológicos) toda modificação dos esquemas de assimila- ção sob a influência de situações exteriores (meio) aos quais se aplicam”. A adaptação é definida por Piaget (1996) como o próprio desenvolvimento da inteli- gência e ocorre através da assimilação e da acomodação. Os esquemas de assimilação vão se modificando, configurando os estágios de desenvolvimento. Segundo Piaget (1996), é neste processo de busca pelo equilíbrio, ao compreender e apreender a novidade, acomodando o desconhecido ao que é conhecido, que o sujeito aprende. Ele coopera, opera mentalmente com e sobre as suas certezas, com e sobre as certezas de outros e do meio; busca o equilí- brio (que é sempre provisório, pois deixa de existir ao surgir um novo desequilíbrio). Para a Epistemologia Genética, o conhecimento não é apenas algo descoberto espontaneamente pelo indivíduo, nem algo que é transmitido de forma mecânica pelo meio exterior, mas é resultado de interações contínuas entre sujeitos e objetos, conhecimentos e experiências. Paulo Freire (1921-1997), o grande educador brasileiro, reconhecido mundialmente por sua visão da pedagogia como prática da liberdade, pensava numa didática baseada no 3 Alfabeto móvel: é um material pedagógico que pode ser confeccionado em diferentes materiais. É composto por diversas letras do alfabeto com o intuito de contribuir no desenvolvimento da lingua- gem oral e escrita. Didática: entre saberes e sabores1 Didática e design instrucional 16 desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem no interior dos grupos sociais. Para Freire (1997), a relação ensino-aprendizagem está intimamente ligada à leitura de mundo feita pelos alunos e professores. Assim, os termos ler e escrever estão relacionados à cons- trução e interpretação de um mundo que existe além da palavra. A dialogicidade é um dos princípios fundamentais para se pensar uma prática educativa que não se pretende mais estática e bancária, mas sim, nas palavras de Freire (1997, p. 22), “provocadora de experiências que abrem as possibilidades para a produção/construção dos saberes através de uma progressiva consciência de que ser humano é ‘ser inacabado’, é o estar em permanente ‘estado de busca’. Nos dias de hoje, diversas correntes de pensamento pedagógico disputam espaço na academia e nas instituições de ensino, enfocando a didática por ângulos ora convergentes, ora divergentes. 1.4 A didática hoje Quem nunca ouviu a expressão é canja de galinha? Essa frase é muito usada para ex- pressar que algo foi ou é muito fácil de fazer, como a receita daquela sopa tradicional tão conhecida. Uma aula fácil para os alunos pode ser aquela em que eles não precisam fazer muito esforço, não precisam mobilizar formas mais profundas de pensamento. O professor finge que ensina, ao despejar a matéria para os alunos, e os alunos fingem que aprendem, devolvendo para o professor, na hora da prova, aquilo que sabem que o professor quer, na forma de informações decoradas e procedimentos mecanicamente reproduzidos. Autores como Candau (2004) e Veiga (2006) têm demonstrado preocupação com a dico- tomização das dimensões da didática. Veiga (2006, p. 13) nos alerta dizendo que “a principal fragilidade ocorrida no processo didático foi tornar independente as dimensões ensinar e aprender”. Disso resultou a divisão de funções: ao professor cabe ensinar; ao aluno apren- der. Sob essa óptica dicotômica não é possível que o processo ocorra de forma relacional ou dialógica. Durante muito tempo, o papel do professor em sala de aula esteve baseado na noção clássica de ensino como atividade de inculcação, de fora para dentro, de saberes prontos. Pedro Demo (2003, p. 78) chama esta noção de instrucionismo: Num primeiro momento, instrucionismo é “linearizar” a aprendizagem no pla- no da mera lógica sequencial, tornando-a reprodutiva e mantendo o aprendiz na condição de objeto. Num segundo momento, o instrucionismo evita o saber pensar, ou seja, uma das bases mais flagrantes da autonomia, induzindo à su- balternidade. Num terceiro momento, o instrucionismo recai na fórmula pronta, tão pronta que o aluno basta copiar e reproduzir, como é, por exemplo, o caso dos vestibulares. Num quarto momento, o instrucionismo gera a quimera da so- lução simples de problemas simples, quando no mundo real as soluções, sendo complexas, não só oferecem soluções, como sobretudo novos problemas, e os Didática: entre saberes e sabores Didática e design instrucional 1 17 problemas, sendo complexos, não cabem em nenhuma solução reducionista. O instrucionismo, sobretudo, nega a condição de sujeito por parte do aluno, intro- duzindo o componente objeto da imbecilização. Para Demo (2002), o instrucionismo é uma relação típica de sujeito para objeto: de um lado há o professor que ensina, de outro o aluno que aprende. Paulo Freire fez severas críticas a essa prática transmissora, chamando-a de educação bancária, cuja característica ou função principal é apassivar ou domesticar o educando. Tal prática, ainda presente em muitas escolas e universidades, se resume em repassar aos alu- nos conteúdos desconexos, sem estimular a interpretação, a crítica, a criatividade. Freire (1997, p. 47) nos lembra que: “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Pedagogias inovadoras propõem mudanças significativas na didática, seja em relação à substituição da transmissão unidirecional de informação pela troca interativa entre os sujeitos da aprendizagem, seja em relação ao deslocamento de foco, de um ensino instrucionista para uma educação baseada na aprendizagem significativa. Há muito tempo educadores vêm propondo formas mais participativas e solidárias de ensinar e de aprender; para que estas formas possam ser de fato implantadas no dia a dia da educação, a didática precisa ser ressignificada. Vários autores acreditam ser possível superar a didática instrumental. Candau (1997), por exemplo, propõe uma didática fundamental que assuma a multidimensionalidade do processo de ensino-aprendizagem e coloque a articulação das dimensões técnica, huma- na e política no centro configurador de sua temática. A didática fundamental baseia-se na razão crítica: A razão crítica é aquela que analisa e interpreta os limites e os perigos do pen- samento instrumental e afirma que as mudanças sociais, políticas e culturais só se realizarão verdadeiramentese tiverem como finalidade a emancipação do gê- nero humano e não as ideias de controle e domínio técnico-científico sobre a natureza, a sociedade e a cultura. (CHAUÍ, 2004, p. 50) Assim, independente da técnica de ensino utilizada, a didática colocada em prática deve servir de base para um conjunto de mudanças significativas, as quais precisam de pro- fissionais não só inventivos, mas sintonizados com a realidade da qual fazem parte. Penso que a didática, para assumir um papel significativo na formação do educa- dor deverá mudar os seus rumos. Não poderá reduzir-se e dedicar-se tão somen- te ao ensino de meios e mecanismos pelos quais se possa desenvolver um pro- cesso ensino-aprendizagem, mas deverá ser um elo fundamental entre as opções filosófico-políticas da educação, os conteúdos profissionalizantes e o exercício diuturno da educação. Não poderá continuar sendo um apêndice de orientações mecânicas e tecnológicas. Deverá ser, sim, um modo crítico de desenvolver uma prática educativa, forjadora de um projeto histórico, que não se fará tão somente pelo educador, mas pelo educador, conjuntamente, com o educando e outros membros dos diversos setores da sociedade. (LUCKESI, 1994, p. 30) Didática: entre saberes e sabores1 Didática e design instrucional 18 A didática, ao se tornar instrumento de inspiração e criatividade do educador, tomado o processo de ensino-aprendizagem em suas múltiplas relações, poderá se transformar na mola propulsora do entusiasmo de ensinar, despertando no educando a vontade de apren- der. Alves (1998) cita Barthes para falar da aula, que é a vida do professor, dividindo-a em três fases: • o professor ensina o que sabe (somar, diminuir, geografia, história e outros saberes); • o professor ensina o que não sabe (é orientador de pesquisa, dá dicas de como alcançar aquilo que ainda não viu); • o professor entrega-se ao processo de desaprender, dedicado à sapiência – e deduz que o importante não é o saber, mas o sabor. Sabe-se que a aprendizagem é um processo inerentemente individual, mas vários teó- ricos como Piaget (1996), Vygotsky (1984) e Freire (1997) enfatizam a importância das trocas comunicativas, da interação social e da dimensão coletiva na aprendizagem. Vale destacar que aprender colaborativamente não significa simplesmente aprender em grupo, mas implica na possibilidade de poder contar com outras pessoas para apoiar a aprendizagem de cada um, ou seja, aprender conjuntamente. A aprendizagem colaborativa torna-se significativa quando as pessoas interagem entre si com o intuito de construir novas formas de perceber e interpretar a realidade na qual es- tão inseridas. Para isso, os educadores precisam pensar em propostas que sejam ao mesmo tempo desafiadoras, instigantes e envolventes, que possibilitem aos alunos a ampliação dos seus horizontes de compreensão e a produção de novos significados. O psicólogo norte-americano Carl Rogers (1902-1987) nos diz que a aprendizagem sig- nificativa pode ocasionar mudanças relevantes no comportamento dos indivíduos. Para Rogers (1988) a aprendizagem é mais do que transmissão de informações ou acumulação de fatos: é uma atividade que provoca mudanças, tanto no comportamento do sujeito, quanto em suas ações e personalidade. David Paul Ausubel (1918-2008) compreende a aprendizagem como um processo de modificação do conhecimento e não de mudança de comportamento. Este autor nos lembra que o ponto de partida de qualquer situação de ensino-aprendizagem é sempre o que o aluno já sabe: seus conhecimentos prévios, bem como suas experiências e vivências, seus valores, crenças, expectativas e desejos constituem os filtros pelos quais devem passar novos dados e informações, antes de serem transformados em conhecimentos. Assim, para que a aprendizagem significativa ocorra, conceitos relevantes e inclusivos devem estar claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo, funcionando como ponto de ancoragem. Nesse cenário o professor é um provocador que instiga o aluno a pensar, a refletir, a cri- ticar, a buscar explicações, a criar soluções, a tomar decisões. Ele precisa planejar ambientes instigadores e atividades desafiadoras para provocar o desequilíbrio cognitivo e possibilitar que o aluno faça sentido a partir das informações as quais tiver acesso. Didática: entre saberes e sabores Didática e design instrucional 1 19 Caso contrário, sem serem desafiados a desenvolver todo o seu potencial, os alunos poderão continuar achando que ir para aula é canja. Afinal, como nos lembra Alves4 (2017), [...] os programas de aprendizagem a que nossas crianças e adolescentes têm de se submeter nas escolas são iguais à aprendizagem de receitas que não vão ser feitas. Receitas aprendidas sem que se vá fazer o prato são logo esquecidas. A memória é um escorredor de macarrão. O escorredor de macarrão existe para deixar passar o que não vai ser usado: passa a água, fica o macarrão. Essa é a razão por que os estudantes esquecem logo o que são forçados a estudar. Não por falta de memória. Mas porque sua memória funciona bem: não sei para que serve; deixo passar. Entre saberes e sabores, a didática se encontra frente a caminhos distintos, alguns ins- piradores, outros desanimadores. Ampliando seus conhecimentos A didática como ressonância e reverberação (PIMENTA et al, 2013, p. 152-153) Tendo como foco essa amplitude de temáticas, é de se esperar que as contradições sejam a tônica desse campo conceitual, configurando o constante desafio que os educadores têm enfrentado para ressignificar o papel do ensino, da aprendizagem, da escola e dos professores perante as demandas do mundo contemporâneo. Qual a responsabilidade da didática diante dessas contradições? Se é considerada como um campo de estudos e pesquisas voltado para a tarefa de fundamentar o processo ensi- no-aprendizagem como uma prática social de incorporação e de emanci- pação política, isso impõe a essa área de conhecimento o papel de refletir as demandas dessa prática perante as novas expectativas sociais. Talvez, a sua principal tarefa para fundamentar a produtiva concretiza- ção do processo de ensinar-aprender será a de, ao tomar o ensino como prática social, buscar compreendê-lo em todas as suas determinações, olhar-se assim inserida nessa prática e ir dialogando com esse processo na busca de articulações cada vez mais produtivas entre as demandas do momento e as possibilidades que a prática evidencia. No processo de ação-reflexão, reflexão-ação, açãorreflexãoação, a didática vai se consti- tuindo, adquirindo novas configurações, propondo novas perspectivas. Didática: entre saberes e sabores1 Didática e design instrucional 20 No entanto, dadas as condições difíceis em que se coloca a escola hoje, as condições de pauperização dos docentes, a falta de um pacto social de valorização da escola e, em especial, da escola pública, a didática tem sido desafiada: como encontrar espaços de significação diante de tantas condições desfavoráveis? Estamos realçando que ela estará sempre impregnada das contradições impostas pelo momento histórico atual. Errará se não tomar para si as con- tradições e se, a partir destas, não buscar produzir conhecimentos e práti- cas. Conforme já mencionamos no início deste artigo, pode-se dizer que a didática, em sua origem, com Comênio, surge como instrumento político para romper com a hegemonia da educação católica medieval. Portanto, já em seu início, ela surge do e no enfrentamento das contradições políticas, éticas e sociais. O mesmo ocorre em diferentes momentos históricos, e um dos mais marcantes foi no início da década de 1980, quando a didática foi posta em questão (Candau, 1983). Novamente, observamos a didática reverberando os movimentos sociais dos trabalhadores no período pós- -Ditadura e no bojo de movimentos sociais de reorganização da sociedade civil brasileira. Constituíram-se, naqueles anos, movimentos sociais como sindicatos, organiza- ções em prol dasaúde e educação, lutas por mora- dia, organizações para assentamento dos sem-terra. Organizaram-se as Conferências Brasileiras de Educação (CBEs), os encon- tros nacionais de pesquisadores em educação, como o Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE), a criação da ANPEd, entre outros. Naquela época, houve fortes movimentos que buscavam a trans- formação das escolas, dos currículos, das práticas pedagógicas. Assim, fortaleceu-se a organização dos professores em sindicatos, acentuaram-se os movimentos reivindicatórios dos docentes, surgiram as greves, amplia- ram-se os cursos de formação de professores e surgiram as lutas pela pro- fissionalização dos docentes. A didática, como um campo de conhecimento em permanente construção, assumiu as questões pedagógicas como base para a sua produção, inseriu a questão política como determinante das questões pedagógicas e se opôs à didática instrumental, fincando as bases de uma didática fundamen- tal. Mais uma vez, percebe-se esse campo do conhecimento ser tocado, sensivelmente, pelas questões mais amplas que estavam sendo apontadas Didática: entre saberes e sabores Didática e design instrucional 1 21 pelos movimentos sociais, pelo mundo do trabalho e pela ação dos sujei- tos sócio-históricos e, novamente, reverbera e reinterpreta os desafios do mundo atual. Dicas de estudo • ABRAMOVICH, Fanny (Org.). Meu Professor Inesquecível: ensinamentos e aprendizados contados por alguns dos nossos melhores escritores. São Paulo. Editora Gente. 1997. Neste livro organizado por Fanny Abramovich, onze escritores contemporâ- neos foram convidados a falar do seu professor inesquecível, aquele que dei- xou marcas por ser o melhor ou pior. Cada mestre ficou na memória por ter sido o modelo, agente de transformação pessoal, responsável por revelações, descobertas decisivas, momentos iluminadores. Histórias instigantes que nos fazem refletir sobre o papel da didática e do professor, bem como as marcas deixadas em nossa formação. Uma deliciosa leitura! • Os filmes A Festa de Babette do diretor Gabriel Axel e Como Água para Chocolate do diretor Alfonso Arau. Vale a pena assistir a esses filmes, pois em ambos, as protagonistas Babette e Tita são feiticeiras. Elas sabiam que os banquetes não começam com a comi- da que se serve, eles se iniciam com a fome. Como nos lembra Alves (1996), a verdadeira cozinheira é aquela que sabe a arte de produzir fome... Que tal tentar relacionar esses filmes com a questão da didática? É possível encon- trarmos pontos em comum? Atividades 1. Elabore uma tabela a partir da metáfora utilizada neste capítulo, comparando a ação do professor com a ação de um cozinheiro. Procure identificar alguns pontos co- muns entre o saber e o sabor. 2. Imagine que numa aula de Didática em um curso de formação de educadores, o professor tenha passado no quadro o seguinte conteúdo: Didática: entre saberes e sabores1 Didática e design instrucional 22 Q ua dr o de g iz C la ss if ic aç ão Ti po s R ec om en da çõ es (a nt es d o us o) R ec om en da çõ es (d ur an te o u so ) R ec om en da çõ es (a pó s o us o) C on ce ito : É u m a pe ça d e su pe rf íc ie pl an a em c im en to o u m ad ei ra , p in ta da c om tin ta fo sc a, p or os a e la vá ve l ( no rm al m en te ve rd e es cu ro o u ne gr o) , q ua dr ila te ra l, qu as e se m pr e fix a nu m a pa re de . S eu us o se fa z co m g iz , em a pr es en ta çã o es qu em át ic a de in fo rm aç õe s te xt ua is , cá lc ul os o u tr aç ad os . É pa rt e in te gr an te da s al a de a ul a, co ns tit ui nd o- se n um im po rt an te re cu rs o de c om un ic aç ão . M ei o in di re to de co m un ic aç ão vi su al – Q ua dr o m óv el (s us te nt ad o po r ca va le te ). – Q ua dr o fix o (d e pa re de ). O u so d o qu ad ro d e gi z é ac on se lh ad o pa ra : – de sp er ta r a ca na liz ar a a te nç ão do s al un os ; – co m pl em en ta r a s ex po si çõ es o ra is ; – re gi st ra r a s id ei as qu e su rg em d ur an te as d is cu ss õe s; – ilu st ra r c om ex em pl os o s co nc ei to s m ai s co m pl ex os . Pa ra fa ci lit ar a co m pr ee ns ão d o as su nt o ex po st o, o us o do q ua dr o de ve se r p la ne ja do : a) o es qu em a, a sí nt es e e o o bj et iv o da a ul a po de m se r r eg ist ra do s no la do es qu er do d o qu ad ro , a nt es o u no de co rr er d a m es m a, à m ed id a qu e o as su nt o es te ja se nd o ex pl ica do (m an tê -lo s du ra nt e t od o o te m po ); b) a s r ef er ên ci as bi bl io gr áf ic as p od em se r r eg is tr ad as , a nt es ou a pó s a ul a, n o la do di re ito d o qu ad ro ; c) d ei xa r o ce nt ro do q ua dr o pa ra re gi st ra r a s a no ta çõ es m om en tâ ne as , ilu st ra çõ es , o u da do s e xp lic at iv os , du ra nt e a au la . – os e le m en to s de in te re ss e m om en tâ ne o de ve m s er a pa ga do s ao fin al d a ci ta çã o, p ar a qu e nã o se d ê se u re fo rç o em o ut ra s itu aç ão q ue nã o a de d es ta qu e; – o ap ag ad or d ev e se r m an tid o em a ce ss o fá ci l p ar a se e vi ta r ap ag ar p eq ue no s er ro s co m a s m ão s; – a po nt ei ra é re co m en da da p ar a in di ca r o s de st aq ue s do e sq ue m a ou te xt o; – a le tr a, q ue p od e se r de fo rm a ou m an us cr ita , de ve s er s uf ic ie nt em en te gr an de e e sp aç ad a, a fim d e ga ra nt ir s ua le gi bi lid ad e a to do s; – o gi z de c or d ev e se r us ad o pa ra d es ta ca r tít ul os o u ci ta çõ es cu rt as e im po rt an te s. – lim pa r o q ua dr o, to ta lm en te , p ar a qu e o pr óx im o pr of es so r o re ce ba em o rd em . R ec ur so s A ud io vi su ai s: Didática: entre saberes e sabores Didática e design instrucional 1 23 Imagine também que tal conteúdo tenha sido cobrado na hora da prova da seguinte forma: a. Cite exemplos de alguns recursos audiovisuais. b. O que é um quadro de giz? c. Como o quadro de giz pode ser classificado e quais os tipos existentes? d. Em que situações o quadro de giz é recomendado? e. Cite algumas recomendações quanto ao uso do quadro de giz (antes, durante e após) o seu uso. Agora faça uma crítica sobre a forma como a disciplina de Didática foi trabalhada nesta aula, considerando os seguintes aspectos: função da didática, papel do ensino e função da avaliação. 3. Antunes (2007, p. 185-187) imaginou e descreveu como seria uma aula excelente numa escola brasileira, na opinião de alguns teóricos que marcaram de forma de- cisiva o conceito de didática. Observe o trecho a seguir e com base nas informações apresentadas neste capítulo, procure identificar quem é o educador responsável pe- las opiniões apresentadas a seguir. Elabore um texto expressando as conclusões a que chegou. Singularíssimo não é, com certeza, uma palavra simpática. Mas, talvez, a única que definisse bem a estranha figura deste educador. Baixo, falante, sempre com seu sotaque ritmado, parece que não podia conversar com uma pessoa sem nela se apoiar. (...) — Meu sonho é, um dia, libertar essa gente. Libertar porque, embora não saibam, são prisioneiros. Estão aprisionados em seu medo, silenciados em seu protesto, achando que a vida que têm não pode ser melhorada. Quero libertá-los para dar-lhesdireito ao sonho, mas não o sonho que só se sonha, mas aquele outro que é meta e que buscado com sofreguidão e luta, transforma-se em realidade. Sou um caçador de palavras porque são elas que poderão cortar as grades que aprisionam essa gente em seu mundo. São pessoas lindas, possuem soluções mágicas, mas são pessoas amedrontadas pelo sistema, gente que não sabe que Deus não dividiu o mundo para que alguns usufruíssem o trabalho dos demais... — Mas, espera aí, professor. Como você acha que a palavra pode liber- tá-los? Será que seu sonho não é mais utópico que o sonho dessa gente? Didática: entre saberes e sabores1 Didática e design instrucional 24 — Não. Posso ser sonhador, mas não sou ingênuo. Preciso antes de uma ajuda concreta, conhecer seu mundo para levá-lo a outro melhor, mas a única forma de identificar o mundo das pessoas é por suas palavras. Quando eu souber, posso delas fazer ferramenta para alfabetizá-las, mais que isso, usar as palavras para gerar outras palavras e, dessa forma, ensi- ná-los a pensar, mostrar sua força e deixar claro que, do sonho à ação, existe o passo inevitável da compreensão da palavra. A palavra corta mais que a faca, queima mais que o fogo. E assim, atarefado pelo rico fazer, seguia este educador com a arma na mão, caçando palavras para delas fazer sonho. O sonho da justiça, a peda- gogia da libertação. Resolução 1. Cozinheiro Professor É responsável por misturar os ingre- dientes necessários para tornar uma co- mida saborosa. É responsável por misturar os ingre- dientes necessários para tornar uma aula saborosa. É capaz de provocar a fome por determina- da comida. É capaz de provocar a fome por conhe- cimentos significativos e pela aprendiza- gem de coisas novas. Para ser um bom cozinheiro, é preciso mais do que apenas dominar as técnicas: jeito com a cozinha, utensílios adequa- dos, ingredientes apropriados, temperos peculiares, experiência acumulada, além de dedicação, criatividade e gosto pela profissão, podem ajudar uma pessoa a se tornar um exímio chef. Ter um relacionamento interpessoal bem desenvolvido, conhecer como os alunos aprendem, ser capaz de experimentar no- vas maneiras de planejar, ensinar, apren- der e avaliar, além de possuir a sabedoria capaz de ajudar os alunos a transformar informação em conhecimento, são alguns dos ingredientes capazes de tornar um professor inesquecível. 2. A didática aplicada neste tipo de atividade é instrucional, focada na técnica, no como ensinar. O ensino é entendido como um repasse de conteúdos desconexos, sem esti- mular a interpretação, a crítica e a criatividade. A avaliação tem a função de reconhe- cer meramente a assimilação das informações recebidas. 3. O educador descrito nesta história de Celso Antunes é Paulo Freire. Ao longo do texto, encontramos várias pistas que nos permitem fazer tal afirmação. A pedagogia libertadora põe no centro do trabalho educativo temas e problemas políticos e so- ciais, entendendo que o papel da educação é, fundamentalmente, abrir caminho para a libertação dos oprimidos. Didática e design instrucional 25 2 Didática na educação a distância: limites e possibilidades 2.1 Didática no contexto da EAD Comênio (1592-1670), já no século XVII, propunha em sua Didática Magna o desen- volvimento de um método de ensino em que os professores ensinassem menos e os alunos aprendessem mais. Quase quatro séculos mais tarde, após várias mudanças políticas, culturais, científicas, tecnológicas e epistemológicas na sociedade e na edu- cação, essa proposição continua desafiando os educadores. Há quem acredite que a educação a distância – EAD – é uma opção viável para a realização do antigo sonho de Comênio; há quem pense que o ensino a distân- cia pode apenas contribuir para a concretização daquilo que Comênio propunha; existem ainda aqueles que, por não fazerem distinção entre educação e ensino, não sabem ao certo como tornar real um sonho tão antigo. Moran (1998, p. 18) define educação a distância como: Didática na educação a distância: limites e possibilidades2 Didática e design instrucional 26 O processo de ensino e aprendizagem, mediado por tecnologias, no qual pro- fessores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente. Apesar de não estarem juntos, de maneira presencial, podem estar conectados, interligados por tecnologias, principalmente as telemáticas, como a internet. Mas também podem ser a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o telefone, o fax e tecnologias semelhantes. Landim (2002) enfatiza que muitas pessoas têm utilizado os termos ensino e educação como sinônimos, embora existam entre eles diferenças relevantes. Para a autora, o termo ensino está ligado às atividades de treinamento, adestramento e instrução. Já o termo educa- ção refere-se à prática formativa, ao processo ensino-aprendizagem capaz de levar o aluno a aprender a aprender, a saber, pensar, criar, inovar, construir conhecimentos e participar ativamente de seu próprio crescimento. Esse esclarecimento inicial é importante para compreendermos os rumos da didática na modalidade da EAD. Como na expressão ensino a distância a ênfase é dada ao papel do professor (como al- guém que ensina a distância), não podemos estranhar o fato de encontrarmos nesse cam- po muitos cursos instrucionistas, centrados na simples oferta e distribuição de conteúdos para alunos. Mesmo sabendo que a mera utilização de um conceito mais abrangente como educação a distância não garantirá que a prática pedagógica ocorra de maneira diferenciada, essa de- nominação será empregada neste texto porque aponta na direção da aprendizagem e não da instrução por si só. A aprendizagem não pode mais ser encarada como um processo mecâni- co de transmissão/recepção/assimilação, dada a diversidade e a complexidade da realidade na qual estamos inseridos. Para Demo (2003), a realidade é um fenômeno reconstrutivo, no sentido de que se apre- senta como processo sempre multifacetado, complexo e dinâmico. Assim, conhecimento e aprendizagem são atividades humanas que deveriam expressar processos não lineares, ape- sar de muitas vezes a prática pedagógica não corresponder a essa abordagem. Diante disso, pode-se questionar: como a didática tem sido utilizada no processo de aprendizagem na modalidade a distância e quais as contribuições que pode trazer para o próprio presencial? O primeiro passo nessa importante reflexão consiste em conhecer as especificidades da modalidade EAD. Afinal, o que a educação a distância tem de específico, isto é, quais são as características que a diferenciam da educação presencial? De acordo com as ideias apresentadas por Moran (1998), podemos dizer que um dos aspectos marcantes da EAD consiste na mediação das relações entre os docentes e os alunos por meio da tecnologia. Belloni (1999, p. 106) destaca a flexibilização como outra palavra-chave no contexto da EAD: A flexibilização de acesso como alternativa de democratizar as oportunidades [...]; a flexibilização do ensino para promover o desenvolvimento de habilidades Didática na educação a distância: limites e possibilidades Didática e design instrucional 2 27 de autoaprendizagem [...], a flexibilização da aprendizagem, que exige do alu- no mais autonomia e independência no desenvolvimento de sua capacidade de gerir seu processo de aprendizagem; e a flexibilização da oferta em função das demandas sociais numa perspectiva de educação ao longo da vida. A flexibilidade que o aluno tem em poder estudar a qualquer hora, em qualquer lugar, no seu próprio ritmo, é uma das características que fazem da EAD uma modalidade viável e atrativa para muitas pessoas. A telepresença foi um termo usado por alguns autores para descrever essa forma de “estar presente, mesmo a distância”. Hesketh e Simão (2006, p. 2) nos dizem que este é um conceito que à primeira vista encerra uma contradição em termos: Como se pode estar presente, quando não se está presente? A educação a distân- cia tem reveladoque essa é uma nova condição, tornada possível pelas tecnolo- gias interativas como a internet, o vídeo e a audioconferência. Obviamente não se pode estar em dois ou mais lugares ao mesmo tempo, mas a presença física não é o mais importante nesse processo. É justamente para ultrapassar esse im- pedimento que a EAD vem sendo utilizada na maioria dos contextos onde esta modalidade é ofertada. Segundo esses autores, a telepresença aponta para algo mais importante do que a pre- sença física: a presença no processo de aprendizagem. Esta forma de presença permite que, além de professores e alunos, novos agentes possam participar – e cada vez mais significativa- mente – do ensino e da aprendizagem. Enquanto no presencial a relação ensino-aprendizagem ocorre basicamente entre pro- fessor e aluno, na EAD podemos observar a participação de novos agentes, alguns dos quais adquiriram papel relevante nessa modalidade. Dentre eles podemos destacar: os designers instrucionais, os professores-autores (co- nhecidos como conteudistas), os diversos técnicos e produtores, além daquele profissional que exerce várias funções de apoio ao aluno. Este tipo de agente educacional tem sido cha- mado por muitos nomes distintos: “Tutor, orientador, mentor, instrutor, guia, mediador, facilitador, animador, catalisador, preceptor, apoiador, coach, conselheiro, motivador, pro- fessor auxiliar...” (HESKETH; SIMÃO, 2006, p. 4). Mas, apesar de todas as características destacadas, várias experiências têm demons- trado que “muitas organizações estão se limitando a transpor para o virtual adaptações do ensino presencial [...]. Há um predomínio de interação virtual fria (formulários, rotinas, provas, e-mail) e alguma interação on-line [...]” (MORAN, 2009b) Superar a chamada transposição didática é um dos grandes desafios a serem vencidos pelos novos agentes que atuam no processo de aprendizagem a distância, em especial os designers instrucionais. Em relação à educação on-line, por exemplo, Azevedo (2002) nos lembra que precisamos olhar com certa desconfiança para algumas iniciativas que tentam adaptar a velha sala de aula ao mundo virtual. Didática na educação a distância: limites e possibilidades2 Didática e design instrucional 28 Uma grande parte dos cursos é estruturada a partir de uma concepção tradicio- nal de educação (muitas vezes velada sob uma nova roupagem mais avançada) em que o objetivo do processo de aprendizagem é apenas a reprodução de um conhecimento já estabelecido, propiciando poucas condições efetivas para uma construção do conhecimento mais criativa, a ser realizada pelos sujeitos dessa prática educativa. Reproduz-se, dessa forma, um modelo pedagógico já satura- do, impedindo a exploração dos potenciais trazidos pelas estruturas e comunica- ção em rede. Os cursos on-line tornam-se assim, espelhos daquilo que há de pior no ensino presencial de hoje, com o agravante de estarem sendo apresentados para a população como uma das grandes inovações educacionais dos últimos tempos. (ALVES; NOVA, 2003, p. 6) Na educação a distância, apesar de todo o potencial das tecnologias interativas, per- cebe-se que muitos cursos estão centrados na comunicação unidirecional, com pouca ou nenhuma interação entre os participantes. Os processos comunicativos muitas vezes se li- mitam à resolução de exercícios previamente distribuídos em formatos de múltipla escolha ou em atividades mecânicas e simplistas, muitas vezes chamadas de interativas apenas por conta das simulações existentes. Isso se dá principalmente em virtude dos custos menores deste tipo de curso – se comparados aos modelos mais interativos – uma vez que não neces- sitam de uma (provavelmente) dispendiosa estrutura de suporte aos alunos. Sabemos que o instrucionismo e o conteudismo ainda pautam muitas ações desenvol- vidas na EAD e que o emprego de tecnologias de ponta por si só não garante o sucesso dos cursos nessa modalidade. Os novos agentes precisam aprender a trabalhar com as especifici- dades da EAD: mediar a aprendizagem a distância, por exemplo, é bem diferente de fazer a mediação da aprendizagem em contextos presenciais, mesmo para professores com grande conhecimento no seu campo de saber. A simples transposição do presencial para a distância é uma prática bastante questio- nável, pois deixa de aproveitar o potencial comunicativo das novas mídias e tecnologias. Por exemplo: entre um texto que anteriormente era apresentado no formato de um livro impresso e que agora pode ser baixado em formato digital, não há muita diferença. O pro- cesso comunicativo unidirecional existente numa videoaula gravada pode ser reproduzido da mesma maneira linear num meio potencialmente interativo como a videoconferência. Moran (2009b) nos lembra que estamos numa fase de transição na educação a distância e que, diante de tantas mudanças na sociedade e no mundo do trabalho, precisamos reinven- tar a forma de ensinar e aprender, presencial e virtualmente. Nessa nova trajetória, na qual o presencial se virtualiza e a distância se presencializa, a didática precisa ser ressignificada. 2.2 Modelos didáticos na EAD Sabe-se que a educação a distância tem sido alvo de críticas, principalmente no que se refere a certas questões relacionadas à didática: a EAD já foi classificada de ensino de se- gunda categoria, acrítico, tecnicista, com conteúdo superficial e pouca interatividade – uma Didática na educação a distância: limites e possibilidades Didática e design instrucional 2 29 versão empobrecida e sucateada do ensino presencial. Seriam estas características próprias da modalidade EAD? Ou se pode dizer que existem na mesma proporção no ensino pre- sencial? A presença física do professor em sala de aula garante uma aprendizagem crítica, significativa e interativa? Uma formação diferenciada não depende da forma de oferta (presencial ou a distância) mas sim da abordagem didático-pedagógica escolhida e implementada. Os esforços na busca de alternativas didáticas para “superar, reduzir, amenizar ou até mesmo anular a distância física” na EAD continuam a desafiar os especialistas da área (PETERS, 2001, p. 47), pois durante muito tempo os atos de ensinar e aprender foram vistos como dependentes da proximidade física. Segundo Peters (2001), a educação a distância tem suas raízes na educação presencial, mas ao longo da sua evolução, por meio de práticas, concepções e modelos, passou a incor- porar peculiaridades próprias dessa modalidade, motivo pelo qual o autor propõe em seu livro uma Didática de EAD. O autor faz uma análise de seis modelos didáticos utilizados na educação a distância: modelo da correspondência, modelo da conversação, modelo profes- soral, modelo tutorial, modelo tecnológico de extensão e modelo da distância transacional. Conhecer e analisar cada um desses modelos nos permitirá compreender a trajetória da didática na educação a distância. O modelo da correspondência caracterizou-se como o primeiro modelo de educação a distância. Procurava minimizar a distância por meio do material impresso, com conteúdos didáticos endereçados do professor ao aluno. Ambos se correspondiam e assim buscam ven- cer o isolamento físico. Sem dúvida, o modelo da correspondência foi aprovado na prática. No século XIX ele contribuiu para o sucesso da telescola comercial. Está muito claro, que, depois de organizado um sistema postal confiável na base do tráfego dos trens, a correspondência era na época, o meio de comunicação mais importante e que, portanto, se oferecia como solução para vencer a distância entre docentes e dis- centes. (PETERS, 2001, p. 49) O modelo da conversação foi outro passo dado para se tentar diminuir a distância entre professores e alunos. O material didático neste novo modelo não mais transmitia conheci- mentos objetivos, sistematicamente organizados, mas procurava estabelecer uma conversa- ção informal com o aluno. No entanto, apesar das vantagens em relação ao modelo anterior, Peters (2009) nos alerta parao fato de haver casos em que a natureza de alguns conteúdos pedia uma linguagem menos dialógica e mais objetiva. Além disso, esse diálogo estabele- cido pelo professor pode adotar um tom falso, forçado e pouco natural, que o autor chama de diálogo fingido: “A ideia, porém, de que empatia pode ser reproduzida à vontade tecnica- mente para facilitar a aprendizagem, com certeza ainda é estranha para muitos” (PETERS, 2001, p. 54). O modelo professoral foi outra forma criada para compensar a ausência física dos docentes. Neste novo modelo o professor transfere para o texto impresso muitos dos pro- cedimentos didáticos realizados no presencial. O material impresso agora apresenta uma Didática na educação a distância: limites e possibilidades2 Didática e design instrucional 30 estrutura mais didática: há uma introdução explicando as suas finalidades; os conteúdos são apresentados em pequenas partes; há a descrição dos objetivos a serem alcançados e su- gestões de como estudar e como melhorar nos estudos, há um glossário com termos pouco conhecidos e exercícios para fixar a matéria. O autor destaca a influência deste modelo sobre a educação a distância da atualidade. Outra forma utilizada para tentar simular a proximidade entre professores e alunos é o modelo tutorial, tal como apresentado por Peters (2001). Neste caso a distância é en- frentada por meio de um tutorial, isto é, de um texto didático que simula uma conversa de orientação e aconselhamento com o aluno. “Aqui o texto didático não se destina a apresentar conteúdos, mas, sim, a despertar a ideia de um diálogo com um tutor imaginário” (p. 59). Diferentemente dos outros modelos, o tutorial oferece aconselhamento apenas se houver previsão de dificuldades; caso contrário o aluno tem autonomia para estudar sozinho. Uma quinta maneira de superar a distância entre docentes e discentes é o modelo tec- nológico de extensão, com foi chamado por Peters (2001). Esse modelo caracteriza-se por propiciar a participação dos alunos a distância em atividades didáticas realizadas presen- cialmente, utilizando meios técnicos de informação e comunicação (como áudios e vídeos). Do ponto de vista da didática do ensino a distância, estamos aqui praticamente diante de um modelo zero. No fundo sequer se trata de ensino a distância, mas, sim, apenas a ampliação do clássico ensino com presença. Todavia, ele merece consideração especial, ainda que crítica, por ser praticado atualmente de novo com o recurso de meios eletrônicos em escala crescente, pois no fundo a sala de aula virtual, o college virtual, a universidade virtual e todas as variantes de teleconferência trabalham conforme o mesmo princípio, apenas em um nível co- municativo tecnicamente mais exigente e mais elevado. Até mesmo quando se interligam vários grupos de estudantes geograficamente distantes entre si por meio da televisão a cabo ou por satélite, acompanhando as preleções de um pro- fessor universitário, está se empregando esse modelo. (PETERS, 2001, p. 62) O sexto modelo apresentado por Peters envolve o conceito de distância transacional, desenvolvido por Moore (1993 apud PETERS, 2001). Esse conceito de distância não tem sen- tido estritamente físico/geográfico, mas sim comunicacional. Ele distingue a distância física da distância comunicativa. A distância transacional será maior ou menor dependendo da situação dos alunos: se abandonados à própria sorte com seus materiais de autoestudo, ou se podem se comunicar com seus professores e outros agentes. Isso significa que se houver maior comunicação entre alunos e professores, a distância transacional entre eles será me- nor, independentemente da distância física. A distância transacional atinge seu auge quando docentes e discentes não têm qual- quer intercomunicação e quando o programa de ensino está pré-programado em todos os detalhes e prescrito compulsoriamente, sendo que, consequentemente, ne- cessidades individuais não podem ser respeitadas. (PETERS, 2001, p. 63) Apesar disso, Peters (2001) destaca que a proximidade transacional exagerada impede a forma de estudar com autonomia. Didática na educação a distância: limites e possibilidades Didática e design instrucional 2 31 A autonomia dos alunos alcança um nível máximo quando objetivos e caminhos do ensino são determinados por eles, o controle do ensino é feito por eles e quan- do nesse ensino não são limitados em por diálogos tampouco por estruturas preestabelecidadas, como, por exemplo, num autoestudo particular. (PETERS, 2001, p. 64-65) Após conhecer os seis modelos apresentados por Peters, nota-se que a didática da EAD tem mudado de forma. De aulas por correspondência e de cursos autoinstrucionais basea- dos em textos impressos já avançamos para processos de aprendizagem diferenciados, que empregam diversas outras mídias, tecnologias e procedimentos didáticos. No entanto, ainda é comum observarmos a didática utilizada no ensino presencial ser adaptada ou transposta para a modalidade a distância. Como muitas das práticas educa- tivas utilizadas no presencial já estão ultrapassadas, centradas em modelos pedagógicos inadequados ao mundo de hoje, não se pode esperar que, ao serem transpostas para a EAD, tragam bons resultados. Sendo assim, novos caminhos são necessários para a didática, independente da moda- lidade adotada ser presencial ou a distância. Embora saibamos que toda proposta educativa deve levar em conta as características, condições de estudo, estilos, inteligências, necessi- dades e interesses dos alunos, devemos, como sugere, Beloni (1999, p. 41), “[...] procurar superar o enfoque tecnicista centrado nos meios técnicos e metodológicos (como), buscando uma filosofia da educação que oriente as escolhas e definições relativas às finalidades da educação (por que) e aos seus conteúdos (o quê)”. Ao refletir sobre as questões levantadas por Beloni, percebe-se que elas servem tanto para a didática da educação presencial quanto para a didática da EAD. Vale destacar que a educação a distância ainda não produziu teorias tão novas que possam ser oficialmente chamadas de teorias de EAD em si próprias. Por isso, a EAD tem encontrado seus fundamentos nas teorias de ensino e aprendizagem já desenvolvidas para a educação presencial. Aprofundar essa questão fica para outra oportunidade: o importante nesse momento é compreender o novo papel que a didática deve ocupar na atualidade. 2.3 Novos rumos para a didática na EAD As novas tecnologias têm possibilitado interações inusitadas entre as pessoas, tecendo uma complexa rede de relações antes impossível de ser construída. A internet favoreceu o surgimento de diferentes formas de comunicação e de uma nova maneira de compreender a aprendizagem. As tecnologias de comunicação e informação atuais oferecem meios facilitado- res, mas, de forma isolada, não garantem em absoluto novas formas de ensinar, pensar e conviver. O que se tem agora é a oportunidade de desenvolver um ambiente com a possibilidade técnica de entrelaçar a cultura, a prática social, sa- beres, a prática pedagógica, a ciência, expressando-se por diferentes linguagens, Didática na educação a distância: limites e possibilidades2 Didática e design instrucional 32 na tentativa de produzir novos sentidos e, em consequência, uma nova paisagem educativa. (NAJMANNOVICH, 2001 p. 44) As tecnologias digitais interativas podem potencializar e estruturar novas sociabilida- des e por conseguinte novas aprendizagens. A partir do advento da internet, as paredes da sala de aula se romperam, possibilitando que pessoas geograficamente dispersas pelo mun- do possam interagir e aprender umas com as outras, em tempos e espaços variados. Uma rede colaborativa de aprendizagem permite que cada participante possa expressar suas ideias, defendê-las e redefini-las, o que contribui para a construção do conhecimento. Por meio de uma rede colaborativa é possível buscar formas mais interativas e cooperadas, nas quais alunos e professoresestão engajados em tarefas comuns, mesmo que separados espacial e em muitos casos também temporalmente. (SIMÃO NETO, 2001, p. 61) Assim a internet – a grande rede mundial, com todas as suas teias e nós, suas possibi- lidades e desafios – é um ambiente propício para a educação a distância. As redes digitais permitem a implementação de formas novas e mais complexas de interação social, fazendo emergir a possibilidade da troca imediata no ciberespaço. No entanto, Moran (1998, p. 150) nos alerta: Ensinar na e com a internet atingem-se resultados significativos quando se está integrado num contexto estrutural de mudança do processo de ensino-aprendi- zagem, no qual professores e alunos vivenciam formas de comunicação abertas, de participação interpessoal e em grupo. O processo educacional mediado pelas tecnologias da informação e comunicação ad- quire dimensões que precisam ser exploradas segundo as perspectivas da era das redes. As relações educativas se dinamizam, possibilitando trocas comunicativas multidireciona- das, baseadas na participação, na colaboração e na interação entre todos os agentes. Rompe- se assim com os velhos modelos pedagógicos baseados na comunicação unilateral que pri- vilegia o professor, desconsiderando as peculiaridades do aluno. Jonassen (1996) afirma que as tecnologias interativas têm permitido novos enfoques pedagógicos: Essas tecnologias têm o potencial de afastar a Educação a Distância dos métodos instrucionais tradicionais, tanto em sala de aula quanto a distância, em direção a uma aproximação da aprendizagem centrada no aluno, que não mais enfatiza o professor como fonte e o árbitro de todo conhecimento. (JONASSEN, 1996, p. 75) Atualmente a educação, seja presencial ou a distância, não pode mais estar centrada na figura do professor como centro de todo o processo, preocupado apenas em instruir – ou seja, transmitir sequencialmente conteúdos acabados – e depois em aplicar exercícios e provas para verificar se os conteúdos foram aprendidos. Se faz necessária uma mudança significativa na educação, seja em relação à substituição da transmissão unidirecional de informação pela troca interativa entre os agentes da aprendizagem, seja no que se refere à mudança de foco de um ensino conteudista para uma educação baseada na construção do conhecimento. Didática na educação a distância: limites e possibilidades Didática e design instrucional 2 33 Partindo do princípio que o conhecimento é construído e não transmitido por um es- pecialista e que a interação social, o trabalho coletivo e as relações do sujeito com o am- biente são fatores essenciais para uma aprendizagem autêntica, precisamos de propostas pedagógicas que se afastem dos modelos tradicionais de educação bancária e reprodutivista (FREIRE, 2002). Educadores conscientes de que aprender é mais que memorizar conteúdos têm focado seus esforços na construção de práticas baseadas na relação dialógica entre os sujeitos, num processo de autoria e coautoria de sentidos. Assim, precisamos escolher metodologias que favoreçam a comunicação em múltiplas vias, aberta e participativa. Estes pressupostos suge- rem que a educação a distância seja construída e norteada pelos princípios da dialogicidade. Freire (2002) destaca que a dialogicidade é uma exigência da natureza humana. Ele considera o diálogo como uma relação não verticalizada, mas sim horizontal, de troca com o outro, baseada no amor, na humanidade, na esperança, na fé e na confiança. Relação em que ambos os sujeitos crescem a partir do respeito à diferença. A dialogicidade é um dos princípios fundamentais de uma prática educativa que não se pretende mais estática e passiva, mas sim, em palavras de Freire (1997, p. 22), “provocadora de experiências que abrem as possibilidades para a produção/construção dos saberes [...]”. A concepção dialógica de Freire (1997) é significativa dentro desse contexto porque parte do princípio da participação/intervenção do aluno, da possibilidade de criação e de coautoria, pautado num outro conceito de comunicação. Freire (1997) nos lembra ainda que o sujeito aprendiz, educador ou educando, age autenticamente sobre a realidade quando estabelece com ela uma relação dialógica. Nesta relação dinâmica com o outro e com a realidade é que o conhecimento vai sendo apreendido, descoberto. No entanto, quando falamos em diálogo a primeira ideia que nos vem à mente é a ideia de interação verbal, porém a etimologia do termo revela outros significados importantes para a educação. A produção de ideias novas e de significados compartilhados não precisa necessariamente ocorrer sob forma oral. De acordo com Mariotti (2009), o termo diálogo resulta da fusão das palavras gregas dia e logos. Dia significa por meio de. Logos foi traduzido para o latim ratio (razão), mas têm vários outros significados, como palavra, expressão, fala, verbo. Dessa maneira, o diálogo é um meio de gerar e de fazer circular sentidos e significados – e assim pode ocorrer em diver- sas mídias e canais comunicativos. A experiência dialógica permite a formação de redes de aprendizagem, onde cada pessoa tem a possibilidade de exercitar novos modos de ver e de criar significados. Um diálogo é direcionado, construtivo e é apreciado pelos participantes. Cada uma das partes presta respeitosa e interessada atenção ao que o outro tem a dizer. Cada uma das partes contribui com algo para seu desenvolvimento e se refere às contribuições do outro partido. Podem ocorrer interações negativas e neutras. O termo diálogo, no entanto, sempre se reporta às interações positivas. (MOORE, 1993, p. 24, apud PETERS, 2001, p. 73) Didática na educação a distância: limites e possibilidades2 Didática e design instrucional 34 Na aprendizagem dialógica cada pessoa constrói novas compreensões sobre a vida e o mundo, tanto do ponto de vista individual como coletivo, mas sempre respeitando os dife- rentes modos de ver, ou seja, conquistando a unidade na diversidade. Essa é uma contribuição importante que a didática pode deixar tanto para a educação presencial, quanto para a educação a distância. Mas para que os sujeitos do processo de aprendizagem possam estabelecer relações dialógicas, não mais como consumidores passi- vos das produções, mas como autores/produtores de conhecimento, são necessárias estraté- gias pedagógicas inovadoras e diferenciadas. A forma de abordagem dos conteúdos, bem como a criação das atividades de aprendi- zagem, pode influenciar decisivamente o processo de aprendizagem, permitindo e facilitan- do – ou dificultando e até impedindo – o desenvolvimento do potencial cognitivo do aluno. A EAD se apresenta neste contexto como uma modalidade com características próprias, sugerindo a necessidade de novas aprendizagens, as quais, por sua vez, demandam novas práticas por parte de quem as planeja, medeia e avalia. Na educação a distância, embora haja uma grande parcela de autonomia por parte do aluno, o processo de aprendizagem necessita muitas vezes de um acompanhamento sis- temático, metodológico e didático. Daí a importância da atuação de novos agentes e da renovação da prática de agentes que atuavam apenas esporadicamente no presencial. Neste contexto, a didática e o design instrucional precisam se esforçar para reduzir a distância tran- sacional entre professores e alunos, independente da tecnologia utilizada. Ao invés de reproduzir o modelo de ensino tradicional baseado na pedagogia da trans- missão de informações desconexas, a didática da EAD deve priorizar a formação de sujeitos ativos, envolvidos com a construção de saberes, práticas e valores. Ampliando seus conhecimentos Personalização do ensino em ambientes virtuais de aprendizagem (BRASÃO, et al, 2017) A educação é o processo de ensino e aprendizagem em que os indivíduos da sociedade buscam aprender e interagir com as áreas do conhecimento, com o objetivo de suprir carências do saber e exercer sua cidadania. “A arte de ensinar com base nas ciências
Compartilhar