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A colocação do paciente em posição prona tem a grande vantagem de recrutar alvéolos com impacto hemodinâmico positivo. Estudos têm demonstrado melhora hemodinâmica, no desempenho do ventrículo direito (VD) – principalmente nos casos em que há cor pulmonale agudo (ACP) –, na pressão de platô e na pressão parcial de gás carbônico (PaCO2). O trabalho avaliando pacientes com SDRA ventilados em posição prona, e a diminuição de PaCO2 observada nesses pacientes foi identificada como marcador de mortalidade. A posição prona é um procedimento relativamente simples, seguro e de baixo custo, desde que realizado por equipes treinadas. Seu uso precoce em pacientes com SDRA moderada e grave (PaO2/FiO2 < 150) é atualmente recomendado em virtude de reduzir significativamente a mortalidade, benefício este demonstrado em duas metanálises e pelo estudo PROSEVA. Conforme descrito pelo estudo testou a ventilação mecânica protetora em mais de 400 pacientes com SDRA, com randomização para uso ou não da posição prona. A mortalidade observada foi menor no grupo prona de maneira muito significativa (p < 0,0000256). Vale ressaltar que ambos os grupos tiveram pressão de platô < 30 cmH2O e volume corrente adequado, com variação aproximada de pressão positiva expiratória final (PEEP) média entre 9 e 10 cmH2O, ou seja, uma estratégia com PEEP considerada baixa para pacientes com SDRA grave, ponto que chamou a atenção no estudo. Para a realização da manobra para a posição prona é preciso ter uma equipe de assistência treinada e capacitada para realizar com exatidão todos os procedimentos. “Deve realizar o treinamento constante tanto aprimorando a técnica quanto capacitando mais profissionais . Pelo menos, cinco á seis profissionais são necessários nessa operação: um fica para os ajustes na cabeça do paciente, dois ficam de cada lado da cama e o sexto profissional é responsável pelo check-list de todos os procedimentos e por monitorar os sinais vitais do paciente. É uma manobra que exige técnica e habilidade e em que não pode haver falha”. No contexto da covid-19, a frequência com que realizamos a pronação aumentou muito dada a necessidade de melhorar a capacidade respiratória dos pacientes. Em condições normais, o perfil dos nossos pacientes (pós-cirúrgicos, em sua maioria) não exigia essa demanda tão frequente da equipe”, completa. Para realizar corretamente a posição prona, é preciso atentar para as seguintes orientações: * Separar todo o material necessário e definir a equipe antes de iniciar a manobra * Rechecar o carrinho de parada e os recursos de intubação e deixá-los à disposição * Elevar a FiO2 para 100% 10 minutos antes, durante e após a rotação * Checar o tamanho da extensão de linhas endovenosas e arteriais que serão mantidas durante a pronação * Manter drogas vasoativas e sedação durante a pronação * Checar a extensão dos circuitos do ventilador antes de pronar * Interromper a dieta 2 horas antes da pronação * Checar – e reforçar, se preciso – todas as fixações de acessos arteriais ou venosos, tubo/traqueostomia, sondas e drenos eventuais * Se o paciente estiver ventilando em pressão controlada (PCV), monitorar a queda de volume exalado; se estiver em volume controlado (VCV), atentar para pico de pressão * Otimizar a sedação e a analgesia; o paciente deve estar profundamente sedado e, se necessário, curarizado * Instituir acesso venoso central e monitoramento contínuo de pressão arterial invasiva antes de iniciar o processo. Pode-se realizar hemodiálise depois de pronado, mas não durante a rotação * Colocar travesseiros ou coxins na frente do paciente distribuídos de modo a aliviarem os pontos de apoio anatômicos principais * Colocar coxins na cintura pélvica e escapular para alívio da compressão sobre o abdome. É preciso ter cuidado com o apoio e o repuxamento de sondas em genitais Usar proteção para testa, face, joelhos e ombros (placas hidrocoloides) * Considerar colocar uma fralda absorvente na face do paciente; trocar, quando estiver muito úmida. Disponibilizar coxim especial para a cabeça, evitando apoio em olho, pavilhão auricular e mento * Monitorar o eletrocardiograma pelo dorso após a rotação. Durante a rotação, é possível colocar os eletrodos nos braços, usando o “método do envelope” * Movimentar o paciente, principalmente a face, a cada 2 horas pelo menos Mudar a posição dos braços, acima e abaixo da linha interescapular, a cada 2 horas pelo menos * Manter dieta enteral com volume menor, conforme aceitação, durante a pronação * Certificar-se de que os olhos estão fechados; ocluir, se necessário * Manter o decúbito em prona pelo menos 16 horas nos respondedores, desde que não existam sinais de sofrimento cutâneo ou de dor em outro órgão atribuídos à posição prona * Monitorar a resposta à rotação com SpO2 imediatamente após pronar: se houver dessaturação abaixo de 90%, mantida após 10 minutos da rotação, retornar à posição supina. Do contrário, manter o paciente pronado e coletar gasometria após 1 hora de pronação. Considerar o paciente como respondedor se a relação PaO2/FiO2 aumentar em 20 ou a PaO2 aumentar em 10 mmHg * Retornar à posição supina se houver parada cardiorrespiratória, piora hemodinâmica grave, arritmias malignas ou suspeita de deslocamento da prótese ventilatória Existem também algumas contraindicações absolutas e relativas para a realização da posição prona, como: - Hipertensão intracraniana - Fratura pélvica - Fratura de coluna vertebral - Hipertensão intra-abdominal (contraindicação relativa; avaliar a relação risco/benefício) Peritoniostomia - Gestação (contraindicação relativa; avaliar a relação risco/benefício para a mãe e o feto de acordo com o trimestre da gestação) - Tórax instável - Síndrome compartimental abdominal - Instabilidade hemodinâmica (ou seja, uso crescente da dose de substâncias vasoativas). Após estabilizada a pressão arterial, mesmo em uso de substâncias vasoativas, pode-se indicar a pronação - Equipe não treinada.
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