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• Cada um dos genes associados ao câncer apresenta uma função específica, cuja desregulação contribui para a origem ou progressão da malignidade; • A célula normal precisa sofrer um dano não letal que altere o seu genoma; esse dano pode ser devido: o Mutação herdada da linhagem germinativa (dos pais); o Exposição a radiações ionizantes, vírus e substâncias químicas; • A célula normal ao se transformar em tumoral, ela vai progredir, gerando variantes que irão sofrer mais alterações genéticas; • Algumas variantes morrem e outras conseguem se perpetuar; • Ao final desse processo, é gerado um tumor a partir da célula originalmente transformada por múltiplas mutações, que dará origem a vários subclones diferentes; • Com a progressão, a massa tumoral se torna enriquecida por variantes que são mais hábeis a evadir as defesas do hospedeiro e são propensas a ser mais agressivas; o Há subclones (variantes) que tem o perfil mais invasivo e que consegue invadir outros tecidos; outros que conseguem se expandir mais rápido; Tradicionalmente, descrevem-se os genes associados ao câncer com base em sua função presumida; É benéfico, no entanto, considerar os genes relacionados ao câncer no contexto de sete alterações fundamentais na fisiologia celular que, juntas, determinam o fenótipo maligno. São elas: • Os tumores apresentam a capacidade de proliferação sem estímulos externos de forma excessiva e desregulada, em geral como consequência da ativação de oncogenes; • Os oncogenes são os genes que promovem o crescimento celular autônomo nas células cancerosas; • Os proto-oncogenes são as contrapartes celulares não mutadas dos oncogene; o Os proto-oncogenes apresentam múltiplas funções, participando das funções celulares relacionadas ao crescimento e a proliferação; o Recebe esse nome porque ainda está na forma normal, caso seja mutado ele se transforma em um oncogene. • As oncoproteinas são codificadas pelos proto-oncogenes e podem atuar como fatores de crescimento ou como seus receptores, como transdutores de sinal, como fatores de transcrição ou como componentes do ciclo celular. • Os tumores podem nao responder as moléculas que são inibidoras da proliferação de células normais, como o fator de crescimento transformador β (TGF-β) e inibidores diretos das cinases dependentes de ciclina (CDKI). • Os tumores podem ser resistentes a morte celular programada, como consequência da inativação do p53 ou de ativação de genes antiapoptóticos. • As células tumorais apresentam capacidade de proliferação sem restrições, evitando a senescência celular e a catástrofe mitótica; • As células tumorais precisam ativar a telomerase, para que a cada vez que ela se divida na replicação do DNA, a região do telômero seja estendida, senão ela vai sofrer desgaste na região do telômero e comprometer genes. • As células tumorais, assim como as células normais, nao são capazes de crescer sem a formação de um suprimento vascular para trazer nutrientes e oxigênio e remover os produtos do catabolismo. Portanto, os tumores devem induzir a angiogênese. • Ela libera fatores de crescimento do endotélio vascular que promovem essa angiogênese. • As metástases tumorais são a causa da grande maioria das mortes por câncer e dependem de processos que são intrínsecos a célula ou são iniciados por sinais do ambiente tecidual. • Os tumores podem falhar em reparar ao dano ao DNA causado por carcinógenos ou causado durante a proliferação celular desregulada, levando a instabilidade genômica e a mutações em proto-oncogenes ou genes supressores de tumor. Carcinogênese Esse processo ocorre devido ao dano genético em quatro principais classes de genes reguladores: • Proto-oncogenes: genes promotores de crescimento – induzem a proliferação; • Supressores de tumor: inibem o crescimento; envolve vários genes que produzem proteínas que inibem o crescimento da célula; • Genes reguladores da apoptose; • Genes envolvidos no reparo ao DNA; • Dentro dos proto-oncogenes é possível encontrar várias proteínas diferentes: o Fatores de crescimento (PDGF - fator de crescimento derivado de plaquetas e TGF- a); o Receptores de fatores de crescimento; o Transdutores de sinal (via RAS, ABL) – associadas à sinalização das células para que ela cresça e se prolifere; o Fatores de transcrição (MYC, MYB, JUN, FOS e REL); o Componentes do ciclo celular (Ciclina D). • Sinais extracelulares regulam a sobrevivência, divisão e crescimento celular; há duas classes de moléculas extracelulares que são importantes nesse processo: o Mitógenos: estimulam a divisão celular; o Fatores de crescimento: estimulam a síntese e inibe a degradação de proteínas. • PROCESSO DE CRESCIMENTO CELULAR: O fator de crescimento irá se ligar a um receptor que irá ativar uma cascata de sinalização intracelular. Essa cascata de sinalização pode acabar induzindo a transcrição de genes, que promove o crescimento e a proliferação da célula; • A célula precisa burlar o controle do ciclo celular para se transformar em uma célula tumoral; o Fase M – mitose propriamente dita; o Interfase - período entre as mitoses e é dividida em G1, S e G2; o A fase S é onde ocorre replicação do DNA. • Entre as fases, o ciclo celular tem alguns pontos de checagem; • Ponto de checagem G1: Ocorre na passagem do G1 para o S, e é muito importante, pois depois que a célula sofre a mitose, ela pode entrar em G0, na qual ela para o seu ciclo celular (quiescente); o A célula verifica se o meio é favorável, se tem todos os nutrientes e o se o DNA está integro; o Caso seja estimulada por um fator de crescimento ou mitógeno, ela volta para o ciclo; • Ponto de checagem G2: Ocorre de G2 para M, onde a célula checa se todo o DNA foi replicado, se todos os danos no DNA estão reparados para entrar na mitose; • Ponto de checagem M: Ocorre na mitose e serve para checar se todos os cromossomos estão ligados de forma apropriada no fuso mitótico para dar início a anáfase. • CDKs: Cinases dependentes de ciclinas o são capazes de transferir radicais fosfato para seus substratos; o Atividade das CDKs dependem de associação com ciclinas; o Necessitam de uma etapa de fosforilação e desfosforilação para sua ativação; • Ciclinas: Proteínas cuja expressão varia de forma dependente da fase do ciclo celular. • Para que o ciclo ocorra são necessárias essas proteínas de controle; • Durante o ciclo celular você tem aumento de um tipo de ciclina específico em cada fase, que será degradada conforme a fase acaba; • Ainda existem proteínas inibitórias das cdk e ciclinas, as quais vão fazer com essas proteínas se degradem na fase certa do ciclo; Uma modificação de DNA nessas proteínas inibitórias, vai promover o desregulamento do ciclo e a proliferação da célula, posteriormente; o Um exemplo é a superexpressão da Ciclina D, a qual é modificada no seu DNA, amplificando seu gene, se associando ao CDK4 e assim progredindo o ciclo celular; esse complexo está presente em câncer de mama, esôfago, fígado, entre outros; o Outro exemplo é a amplificação do gene da CDK4 que está presente em melanomas, sarcomas e gliobastomas; • Uma mutação nos genes de proteínas inibidoras de CDK, comprometem a inibição dessas proteínas (proteínas não-funcionais), fazendo com que as CDKs se mantenham sempre ativadas, desregulando a entrada do ciclo; o Um exemplo é a mutação na p16 que altera a inibição do complexo ciclina D + CDK4 (importante para a passagem de G1 para S). O resultado é que em 25% dos familiares que possuem essa mutação no gene p16 estão predispostos ao melanoma; o Outro exemplo é a deleção ou inativação da p16, que está associadaa 75% dos carcinomas pancreáticos, 40 a 70% dos glioblastomas e 50% dos cânceres esofágicos. : Ç • RAS (Rat Sarcoma Vírus); • A RAS possui um papel importante nas cascatas de sinalização posteriores aos receptores de fatores de crescimento, resultando na mitogenese. • É uma proteína G de membrana que quando ocorre a ligação do receptor de fator de crescimento ao fator de crescimento, ela vai se ligar a GTP e ativar uma cascata de sinalização para a célula entrar em divisão; • Em uma célula com esse gene normal, depois que o sinal é enviado, a RAS degrada o GTP para GDP e é desativada; • A célula em que esse gene foi mutado, a RAS fica continuamente ativada sem conseguir fazer a hidrólise de GTP para que ele vire GDP; sendo assim, a célula fica sempre recebendo sinais para se proliferar, podendo se desenvolver para um tumor; • A mutação dessa proteína é a anormalidade isolada mais comum dos proto-oncogenes nos tumores humanos; o 90% dos adenocarcinomas pancreáticos e 50% dos cânceres de cólon são devido a mutações nessa proteína; • Inibem o crescimento e a proliferação celular; são eles: o Reguladores do ciclo celular (gene da Proteina Rb); o Reguladores da resposta ao dano ao DNA (p53); o Inibição da Transdução de sinais (APC/β- catenina); o Inibição do sinal de transdução de RAS (NF1); • Esses genes sofrerão mutações, que irão acarretar a desativação dessas proteínas citadas acimas, para que a célula se prolifere descontroladamente; PROTEÍNA p53 • Durante todo a interfase o DNA é verificado nas fase G1, S e G2, para que o DNA não seja replicado com danos e passe esses danos para as células-filhas; A p53 é conhecida como a guardiã do DNA e ela vai atuar das seguintes formas: • Ativa a produção de p21; • Se o dano ao DNA for muito severo, a célula entra em apoptose. 1. O DNA sofre danos, tendo quebra da dupla fita; com isso, a p53 é ativada através de proteínas cinases que fosforilam-a e estabilizam-a; 2. A p53 estável se liga a região reguladora do gene p21, induzindo a transcrição dele; 3. A p21 é transcrita e traduzida; 4. A p21 se associa a CDK e ciclina impedindo a sua ativação e a progressão do ciclo; 5. O ciclo celular vai esperar o DNA ser reparado, caso ele não seja, a célula vai entrar em apoptose. • Uma alteração na p53, vai fazer com que o DNA se replique mesmo danificado, pois a p53 atua principalmente no ponto de checagem entre G1 e S; o Cerca de 50% de todos os cânceres está relacionado a uma alteração na p53 A ativação da p53 normal pelos agentes que provocam dano ao DNA ou pela hipoxia leva à interrupção do ciclo celular em G1 e à indução do reparo do DNA, pela regulação aumentada da transcrição do inibidor da cinase dependente de ciclina CDKN1A (p21) e dos genes GADD45. O reparo bem-sucedido do DNA permite que as células procedam com o ciclo celular; se o reparo do DNA falha, o p53 ativa a apoptose ou a senescência. Nas células com perda ou mutação do p53, o dano ao DNA não induz a interrupção do ciclo celular ou o reparo do DNA e as células geneticamente danificadas proliferam, dando origem, eventualmente, aos neoplasmas malignos. Síndrome de Li-Fraumeni • Síndrome autossômica dominante rara da herança de um alelo do gene p53 mutado; • É necessário lembrar que temos 2 dois genes para a p53, um herdado da mãe e outro do pai; • Nessa síndrome a pessoa herda um gene mutado, fazendo com que ela tenha 25% de chances a mais de desenvolver um câncer aos 50 anos de idade, quando comparado com à população geral; • Tumores mais comuns: o Sarcomas; o Carcinomas de mama; o Leucemia; o Tumores de cérebro; o Carcinomas do córtex da glândula suprarrenal. Protéina Retinoblastoma (Rb) • É outro exemplo de supressor de tumor; • Tem esse nome pois foi identificada a partir do câncer de retina, chamado de retinoblastoma; • No esquema abaixo, temos o funcionamento de uma célula normal com o seu receptor de mitógeno; Quando esse receptor se liga ao mitógeno, a célula recebe um sinal para se proliferar; A) Quando o receptor está inativo (sem o mitógeno), a retinoblastoma está ativa no núcleo e se liga a um fator de transcrição, assim, ela bloqueia que esse fator de transcrição se associe ao DNA e permita a transcrição de genes de proliferação; B) Quando o receptor está ativo (com o mitógeno), é ativada toda uma cascata de sinalização; Com essa sinalização, Ciclina e CDK são ativadas, fosforilando a Rb, posteriormente; A proteína Rb fosforilada, irá ativar o fator de transcrição, o qual irá se ligar ao DNA e promover a proliferação da célula. • Alterações na proteína Rb, como mutações no gene da mesma, podem ocasionar a perda de função, fazendo com que essa proteína não consiga mais se ligar ao fator de transcrição, permitindo que esse fator esteja se ligando continuamente ao DNA e a proliferação desordenada da célula ocorra; RECAPITULANDO.... • A Rb hipofosforilada no complexo de ligação com os fatores de transcrição se liga ao DNA, recruta os fatores remodeladores de cromatina e inibe a transcrição de genes cujos produtos são requeridos para a fase S do ciclo celular. Quando a Rb está fosforilada pelos complexos ciclina DCDK4, ciclina D-CDK6 e ciclina E-CDK2, ela libera o fator de transcrição E2F, que então ativa a transcrição dos genes da fase S. • Virtualmente, todas as células cancerosas exibem a desregulação do ponto de checagem G1-S, como consequência da mutação de um dos quatro genes que regulam a fosforilação do RB; Via APC/β catenina • O gene APC participa da Via de Sinalização WNT, a qual funciona como um fator de crescimento; • A principal função da APC é diminuir a regulação dos sinais promotores do crescimento, ou seja, é um gene que tem a função de inibir o crescimento celular; • Alterações nesse gene promovem a menor inibição do crescimento celular, provocando a proliferação e o desenvolvimento de pólipos adenomatosos no cólon, os quais são formações precursoras de cânceres de cólon; • Ambas as cópias precisam ser alteradas para promover a carcinogênese, ou seja, os tumores precisam acumular defeitos nas duas copias dos genes; • No funcionamento normal da célula, a proteína APC age diminuído a regulação da β-catenina; A) O receptor de WNT quando está inativo (sem o fator de crescimeto WNT), A APC forma o complexo que irá destruir a B-catenina; B) Na presença do fator de crescimento WNT, o receptor se liga a ele, ativa uma sinalização que irá promover a desassociação do complexo de APC com B-catenina; com isso, a B-catenina não vai ser destruída, indo pro núcleo e se associando com o fator de crescimento TCF, que irá promover transcrição de genes e a proliferação. C) Alterações no gene da APC irão resultar na falha da destruição da B-catenina, a qual promoverá a proliferação celular mesmo sem o estímulo do WNT; portanto, a célula fica em constante crescimento; • Relembrando... o Via extrínseca da apoptose: via receptor de FasL, que quando ativada, vai induzir a ativação de caspases desencadeadoras, como a caspase 8 que vai induzir a ativação de caspases executoras, culminando na apoptose; o Via intrínseca: se dá através da liberação de citocromo c pela mitocôndria que vai acabar liberando a caspase 9, que ativa a caspase 3 e a apoptose ocorre. • Muitos cânceres sofrem mutações em genes que regulam a apoptose: o As proteínas BAX E BAK são proteínas regulatórias pró apoptóticas, enquanto BCL-2 e BCL-XL são antiapoptóticas; o Outras proteínas são as IAPS, as quais são inibidoras de caspases, ou seja, antiapoptóticas também; • Essas proteínas citadas acima, poderão sofrer mutações e desenvolver a proliferação celular; as alterações são: o Hiperexpressãode IAPs; Se há muita produção de IAPs, há inibição da caspase 9, caspase 3 e, assim, a apoptose não será promovida; o Redução dos níveis de CD95/Faz: Se não há o receptor de morte, não há capacidade de promover a apoptose; o Hiperexpressão da proteína BCL-2: O aumento dessa proteína anti-apoptótica, favorece a inibição da apoptose; TELOMERASE • É importante para a manutenção do genoma, para que o genoma seja amplificado a cada divisão e não entre no estado de instabilidade genômica e acabe morrendo; • No nosso corpo, a telomerase só está ativa em células que se dividem muito, como nas células tronco; a maioria das nossas células tem a telomerase inativa ou com atividade muito baixa; • Quando a telomerase está inativa, a célula tem a capacidade de se dividir de 50 a 70 vezes; após isso, os telômeros estão muito curtos e não vão mais entrar em divisão, devido à ação da p53 que interrompe o ciclo celular e coloca essa célula em senescência. Essa célula então não irá se multiplicar mais, irá envelhecer e à medida que o tempo passar, ela irá morrer posteriormente por apoptose ou necrose; • No entanto, se a célula estiver lesada e a p53 inativa, ela irá ativar a recuperação e a via da adesão não homóloga de extremidades, fazendo com as células de telômero encurtado promovam a ligação de uma extremidade de cromossomo com a outra, gerando cromossomos dicêntricos (alterados), iniciando um ciclo de ponte- fusão-quebra (sequência de alterações); • Caso a telomerase permaneça inativa, essas múltiplas alterações resultarão em células com genoma alterado, as quais irão entrar em catastrofe mitótica e irão morrer; • No entanto, caso a telomerase seja ativada, esse ciclo de ponte-fusão-quebra continuará acontecendo, promovendo mais alterações na célula e resultando em câncer. • Alguns vírus são chamados de oncogênicos e acabam favorecendo o desenvolvimento de cânceres; • O HPV é um desses vírus, relacionado ao câncer de colo de útero; o As proteínas E6 e E7 do HPV, tem a capacidade de se ligar e desativar a p53; além disso, a E7 tem a capacidade de desativar a p21 e a Rb; o Esses genes que são desativados por essas proteínas do HPV, são genes supressores de tumor, por isso quando desativados, irão promover a proliferação da célula e o favorecimento de células tumorais; o A medida que essa célula se prolifera estando infectada pelo vírus, ela irá passar o vírus para sua prole, favorecendo a sua infecção; • Outro exemplo é o HTLV, o qual não produz nenhuma oncoproteína, mas sim o próprio RNA do vírus que funciona como um fator de transcrição do E2F (fator de transcrição inibido pela Rb); • Sendo assim, a transcrição de E2F vai promover a transcrição de genes de proliferação celular e promover a proliferação da célula infectada, favorecendo o vírus. ATENÇÃO! O indivíduo que adquire essas alterações/mutações anteriormente citadas terá mais chances de desenvolver o câncer. Isso não significa que uma alteração irá desenvolver o tumor, pois existem mecanismos que regulam esse crescimento. Para desenvolver um tumor, é preciso que vários mecanismos sejam alterados. Quanto mais alterações ocorrerem, mais chances têm de se desenvolver.
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