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31 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Unidade II 5 EFEITOS FISIOLÓGICOS DO TREINAMENTO FÍSICO Sabemos que os programas de treinamento físico, quando aplicados durante um período de tempo suficiente, produzem alterações fisiológicas que resultam em maiores capacidades de produção de energia e em aprimoramento do desempenho físico. Os efeitos do treinamento podem ser estudados mais facilmente se classificarmos as alterações da seguinte forma: (1) as que ocorrem no nível tecidual, isto é, alterações bioquímicas; (2) as que ocorrem sistematicamente, isto é, as que afetam os sistemas circulatório e respiratório, incluindo o sistema de transporte de oxigênio; e (3) alterações outras, tais como aquelas relacionadas com a composição corporal, com os níveis sanguíneos de colesterol e triglicerídeos, com as alterações da pressão arterial e com alterações relacionadas com a aclimatação ao calor. Convém enfatizar nesse ponto que nem todos os efeitos do treinamento podem ser obtidos por meio de um único programa de treinamento. Os efeitos do treinamento são específicos para o tipo de esquema de treinamento utilizado, quer se trate de um programa aeróbio ou anaeróbio. 5.1 Alterações bioquímicas Diversos estudos científicos passaram a dispor de muita informação atualizada acerca dos efeitos do treinamento físico no nível celular ou bioquímico. Excelentes revisões sobre essas alterações foram escritas inicialmente por Gollnick e Hermansen (1973), além de Holloszy et al. (1977). 5.1.1 Alterações aeróbias Existem três principais adaptações aeróbias que ocorrem no músculo esquelético, principalmente como resultado dos programas de treinamento de resistência. Elas são destacadas a seguir. 5.1.1.1 Maior conteúdo de mioglobina O conteúdo de mioglobina no músculo esquelético aumenta substancialmente após o treinamento. Um programa de treinamento com ratos consistia em corrida na esteira ao longo de cinco dias por semana, durante 12 semanas. Havia uma resposta específica, pois a mioglobina somente aumentava nos músculos implicados no programa de treinamento (músculos ativos). Com o aumento na quantidade de mioglobinas, pode‑se agir como um depósito de oxigênio intramuscular, auxiliando de forma rápida nos períodos de recuperação em programas de treinamentos intervalados, contribuindo secundariamente para o aprimoramento do sistema aeróbio muscular. Sua renato Highlight renato Highlight 32 Unidade II principal função consiste em ajudar no fornecimento (difusão) de oxigênio da membrana celular para as mitocôndrias, onde, então, é consumido. 5.1.1.2 Maior oxidação dos carboidratos (glicogênio) O treinamento aumenta a capacidade de o músculo esquelético desintegrar o glicogênio, na presença de oxigênio (oxidação), em CO2 e H2O, com produção de ATP; em outras palavras, a capacidade de o músculo gerar energia aerobicamente é aprimorada. A evidência para essa alteração consiste no aumento da potência aeróbia máxima (VO2máx.). Existem duas adaptações subcelulares principais que contribuem para a maior capacidade de as células musculares oxidarem os carboidratos após o treinamento: (1) aumento de número, tamanho e área superficial da membrana das mitocôndrias do músculo esquelético; e (2) aumento no nível de atividade ou concentração das enzimas implicadas no ciclo de Krebs e no sistema de transporte de elétrons. Vários estudos mostraram aumento tanto no número quanto no tamanho das mitocôndrias após o treinamento. Com relação ao aumento de número, tamanho e área superficial da membrana das mitocôndrias do músculo esquelético, anteriormente mencionado, convém assinalar que, como demonstraram Hoppeler et al. (1973) e Howald (1975), o número de mitocôndrias por mioglobina é menor nas mulheres que nos homens. O significado dessa diferença não se torna evidente imediatamente, entretanto, parece representar uma limitação bioquímica definida com relação à potência aeróbia máxima global na mulher. Observação As reações metabólicas que participam do ciclo de Krebs e do sistema de transporte de elétrons são controladas pela presença de enzimas específicas. Um maior nível de atividade dessas enzimas, como resultado do treinamento, significa que mais ATP pode ser produzido na presença de oxigênio. Em ratos, os níveis da atividade dessas enzimas no músculo esquelético duplicam no transcorrer de um programa de treinamento de 12 semanas, cinco dias por semana. Em serem humanos, o aumento em apenas oito semanas de treinamento foi de aproximadamente 40%. Além da maior capacidade do músculo para oxidar glicogênio, lembramos também do aumento na quantidade de glicogênio armazenado no músculo após o treinamento (supercompensação). Essa supercompensação do glicogênio muscular se deve, em parte, ao fato de o treinamento intensificar as atividades das enzimas responsáveis pela síntese do glicogênio. 5.1.1.3 Maior oxidação de gordura Como o glicogênio, a desintegração (oxidação) da gordura em CO2 e H2O com produção de ATP na presença de oxigênio aumenta após o treinamento. Convém relembrar que a gordura intramuscular (ácidos graxos livres) pode e deve servir como principal fonte de combustível durante os exercícios de resistência. renato Comment on Text O ciclo de Krebs, tricarboxílico 852669 ou do ácido cítrico 745226, também referido como ciclo dos ácidos tricarboxílicos (em inglês, TCA), é uma série de reações químicas que ocorrem na vida da célula e seu metabolismo foi descrito pelo bioquímico alemão Hans Adolf Krebs. O ciclo é executado na matriz da mitocôndria dos eucariontes e no citoplasma dos procariontes. Trata-se de uma parte do metabolismo dos organismos aeróbicos (utilizando oxigênio da respiração celular); organismos anaeróbicos utilizam outro mecanismo, como a fermentação lática, onde o piruvato é o receptor final de elétrons na via glicolítica, gerando lactato.[1] O ciclo de Krebs é uma rota anfibólica, ou seja, possui reações catabólicas e anabólicas, com a finalidade de oxidar a acetil-CoA (acetil coenzima A), que se obtém da degradação de carboidratos, ácidos graxos e aminoácidos a duas moléculas de dióxido de carbono (CO2). 33 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Assim, uma maior capacidade em oxidar gordura constitui uma vantagem definida por resultar em aprimoramento no desempenho dessas atividades. Em verdade, para determinada carga submáxima de trabalho, uma pessoa treinada oxida mais gordura e menos carboidrato do que uma pessoa não treinada. Durante o exercício com cargas de trabalho intensas, porém submáximas, uma maior oxidação de gordura significa menos depleção de glicogênio, menos acúmulo de ácido lático e menos fadiga muscular. O aumento na capacidade dos músculos em oxidar gordura após um treinamento de resistência está relacionado a três fatores: (1) um aumento nas reservas intramusculares de triglicerídeos (AGL), que constituem a forma de armazenamento da gordura, (2) uma maior liberação de ácidos graxos livres a partir do tecido adiposo (isto é, a disponibilidade de gorduras como combustível aumenta) e (3) um aumento nas atividades das enzimas implicadas na ativação (retirada da gordura do tecido adiposo), no transporte (mobilização dos ácidos graxos livres na corrente sanguínea) e na desintegração (quebrar as moléculas dos ácidos graxos livres no interior da musculatura esquelética no nível mitocondrial). 5.1.2 Alterações anaeróbias As alterações anaeróbias no músculo esquelético que resultam do treinamento consistem em maiores capacidades (1) do sistema fosfagênio (ATP‑CP) e (2) glicólise anaeróbia, isto é, o sistema do ácido lático. 5.1.2.1 Maior capacidade do sistema do fosfagênio (ATP‑CP) A capacidade do sistema ATP‑CP é aprimorada por duas grandes alterações bioquímicas: (1) maiores níveis de reservas musculares de ATP e CP e (2) aumento nas atividades das enzimas‑chave implicadas no sistema ATP‑CP. Demonstrou‑se que as reservas musculares de ATP aumentam cerca de 25% após um programa de treinamento de corrida de longa distância realizadopor sete meses com atividade de dois a três dias por semana. Além disso, a concentração da CP nos músculos de meninos de 11 anos a 13 anos de idade aumentava quase 40% após quatro meses de treinamento. Já que esses fosfagênios representam a fonte mais rapidamente disponível de energia para o músculo, seu maior armazenamento se correlaciona muito bem com a melhor execução de atividades que exigem apenas alguns segundos para serem realizadas, o que também constitui uma consequência do treinamento físico. Convém lembrar que, no sistema ATP‑CP, o ATP é renovado continuamente, isto é, desintegrado e ressintetizado. A desintegração do ATP é facilitada por uma enzima denominada ATPase, enquanto a sua ressíntese é facilitada pelas enzimas mioquinase (MK) e creatina quinase (CK). A mioquinase catalisa as reações relacionadas à reposição do ATP com base no ADP, e a creatina quinase catalisa as reações envolvidas na reposição do ATP a partir da fosfocreatina (CP). Estudos realizados em seres humanos constataram que as atividades dessas enzimas aumentam após um treinamento de oito semanas em corridas da seguinte maneira: ATPase em 30%, MK em 20% e CK em 36%. Assim, o treinamento não serve apenas para aumentar o armazenamento de ATP e CP, mas funciona também no sentido de acelerar os ritmos de renovação (supercompensação). Essas alterações 34 Unidade II mutuamente benéficas demonstram claramente que a rápida liberação de energia pela célula muscular é alterável por meio de programas apropriados de treinamento (especialmente corridas de velocidade). 5.1.2.2 Maior capacidade glicolítica Diversos estudos bem elaborados indicaram que várias das enzimas‑chave que controlam a glicólise são significativamente alteradas pelo treinamento físico. Por exemplo, a atividade de uma dessas enzimas, a fosfofrutoquinase (PFK), que é importante nas reações iniciais da glicólise anaeróbia, dobrava após um treinamento de resistência anaeróbia em um estudo e aumentava a sua atividade em 83% em outro. Relatou‑se também que outras importantes enzimas glicolíticas aumentam suas atividades após o treinamento físico. Além disso, foi demonstrado que as atividades de importantes enzimas glicolíticas são muito mais altas nos atletas de velocidade do que nos de resistência (especificidade do treinamento físico). O significado do aumento nas atividades das enzimas glicolíticas é o aumento do ritmo e da quantidade de glicogênio muscular desintegrado em ácido lático. Portanto, a energia ATP derivada do sistema do ácido lático também aumenta e, consequentemente, contribui para a melhor realização de atividades que dependem maciçamente desse sistema para a obtenção de energia. A evidência de uma maior capacidade glicolítica após o treinamento também é demonstrada pela habilidade de acumular quantidades muito maiores de ácido lático, muscular e sanguíneo, após um exercício máximo, isto é, há uma maior resistência muscular à maior formação de ácido lático, aumentando o ponto do limiar anaeróbio. 5.2 Alterações relativas nas fibras de contração rápida e lenta As adaptações nas fibras de contração rápida e lenta decorrentes dos programas de treinamento físico também obedecem ao princípio da especificidade. A seguir estão algumas dessas alterações específicas: • No caso das alterações aeróbias, existe uma concordância de que o potencial aeróbio do músculo esquelético após o treinamento aumenta igualmente em ambas as fibras. Isso significa que as diferenças inerentes na capacidade oxidativa entre os tipos de fibras não são alteradas pelo treinamento. Em outras palavras, a fibra de contração lenta possui uma maior capacidade aeróbia em comparação com a fibra de contração rápida, tanto antes quanto depois do treinamento. • As alterações na capacidade glicolítica do músculo esquelético humano parecem ser mais específicas, sendo maiores nas fibras de contração rápida. • Evidências sugerem existir uma hipertrofia seletiva das fibras de contração rápida e lenta. Por exemplo, as fibras de contração lenta ocupam uma maior área do músculo nos atletas de resistência do que as fibras de contração rápida. Pela mesma razão, as fibras de contração rápida ocupam uma maior área nos velocistas, nos lançadores de martelo e nos arremessadores de peso. Essa informação implica uma hipertrofia seletiva que depende do tipo de treinamento e/ou atividades esportivas realizadas pelos atletas. 35 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO • A maior parte das evidências científicas disponíveis sugerem não existir nenhuma interconversão de fibras de contração rápida e lenta como resultado do treinamento físico. Entretanto, estudos apresentaram evidências sugestivas de que o percentual de fibras de contração rápida aumentava, e o percentual de fibras de contração lenta diminuía após um programa de treinamento anaeróbio; e exatamente o oposto também ocorria. Os resultados desses estudos também mostraram que as fibras intermediárias, principalmente as fibras II c, que possuem ambos os metabolismos (aeróbio e anaeróbio), passavam a responder metabolicamente de forma mais intensa ou prioritária a um dos metabolismos, o que pode ter levado ao aumento dos percentuais do tipo de fibra muscular decorrente do tipo de treinamento oferecido. Saiba mais Para mais explicações sobre a interconversão das fibras musculares, você pode ler o artigo indicado a seguir: MINAMOTO, V. B. Classificação e adaptações das fibras musculares: uma revisão. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 50‑55, 2005. 6 ALTERAÇÕES CARDIORRESPIRATÓRIAS (SISTÊMICAS) As alterações cardiorrespiratórias (sistêmicas) induzidas pelo treinamento físico incluem aquelas que afetam principalmente o sistema de transporte de oxigênio. Como sabemos, o sistema de transporte do oxigênio comporta muitos fatores nos níveis circulatório, respiratório e tecidual, todos eles funcionando juntos para um objetivo comum: fornecer oxigênio aos músculos ativos. Discutiremos as alterações cardiorrespiratórias que acontecem em repouso e durante o exercício submáximo e máximo. 6.1 Alterações cardiorrespiratórias em repouso Existem cinco alterações principais que resultam do treinamento e que são evidenciadas (observadas) em repouso: (1) hipertrofia cardíaca, (2) uma menor frequência cardíaca (FC), (3) um maior volume de ejeção, (4) aumento no volume cardíaco e na hemoglobina e (5) alterações nos músculos esqueléticos. 6.1.1 Alterações na hipertrofia cardíaca Sabe‑se que a hipertrofia cardíaca com o aumento do tamanho (volume) do coração é maior em atletas do que em não atletas, podendo ser maior em indivíduos fisicamente ativos comparados a indivíduos sedentários. Essa adaptação ao treinamento é conhecida como coração de atleta. Essa comparação pode ser observada (mensurada) inicialmente em estudos utilizando uma técnica não invasiva, a ecocardiografia, que constitui um meio sensível para avaliar, entre outros fatores, como (1) o tamanho da cavidade (câmara) dos ventrículos e (2) a espessura da parede ventricular. Um ou ambos os fatores podem ser responsáveis por um aumento no tamanho do coração. Atualmente, os estudos científicos utilizam a ressonância magnética para avaliar o aumento das cavidades cardíacas decorrentes da prática do exercício físico. renato Highlight renato Highlight 36 Unidade II Observação A ressonância magnética é um exame que, por meio da ação do campo magnético, fornece imagens de alta definição dos órgãos, sem, portanto, utilizar radiação. Com a utilização de métodos mais modernos e fidedignos de imagens, foram constatadas diferentes mudanças nas dimensões cardíacas de atletas e não atletas masculinos e femininos em diferentes modalidades esportivas, listadas a seguir: • A hipertrofia cardíaca dos atletas em endurance (como fundistas, nadadores e ciclistas) se caracteriza por um aumento da cavidade ventricular e por uma espessura normal da parede ventricular. Isso significa que o volume de sangue que enche o ventrículo durantea diástole também é maior. Veremos a seguir que esse efeito faz com que as capacidades do volume sistólico ou de ejeção do atleta de endurance sejam maiores do que aquelas do não atleta, assim como do atleta de não resistência. Esse tipo de hipertrofia é chamada de hipertrofia excêntrica. • A hipertrofia cardíaca dos atletas em força, isto é, atletas engajados em tipos de atividades de alta intensidade ou isométrica, como lutadores, lançadores de martelo, levantadores de peso olímpico (força máxima), caracteriza‑se por uma cavidade ventricular de tamanho normal e por uma parede ventricular mais espessa. Portanto, embora a magnitude da hipertrofia cardíaca nesses atletas seja semelhante à de atletas de endurance, suas capacidades, em termos de volume de ejeção, não são diferentes daqueles de seus congêneres não atletas. Esse tipo de hipertrofia é chamada de hipertrofia concêntrica. Atleta treinado em endurance Não atleta sedentário e sem a presença de doença Corte transverso do ventrículo esquerdo (nível da válvula mitral) Atleta treinado em força Figura 3 – Representação da hipertrofia do ventrículo esquerdo em diferentes atletas comparado ao não atleta sedentário e sem doença cardiovascular Desse modo, com base nos estudos mais atualizados, torna‑se claro que as diferenças na hipertrofia cardíaca estão relacionadas ao tipo de esporte ou atividade física realizada ou praticada pelo indivíduo, renato Comment on Text é um período de relaxamento muscular ou recuperação do músculo cardíaco; alterna com o período de contração muscular (sístole). Nesse período, de pressão arterial mínima, a cavidade dilata os ventrículos e permite a entrada de sangue, para que possa ser expelido na contração. Corresponde à onda do electrocardiograma (ECG).Além disso,é a parte do ciclo cardíaco que segue a sístole . renato Highlight renato Highlight 37 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO indicando, assim, que o volume é influenciado pelo treinamento. Essa ideia é apoiada também pelo achado de que o volume cardíaco não é geneticamente tão dependente como o é, por exemplo, o consumo máximo de oxigênio. Além disso, o volume cardíaco de não atletas aumenta muito após vários meses de treinamento físico. O fato de a hipertrofia cardíaca nem sempre aumentar após um programa de treinamento físico sugere que o estímulo aplicado ao indivíduo deve ser suficientemente intenso, além de ser mantido por um período de tempo prolongado, talvez até por anos, antes de conseguir efetuar essa modificação. Lembrete A hipertrofia cardíaca dos atletas em endurance (como fundistas, nadadores e ciclistas) se caracteriza por um aumento da cavidade ventricular e por uma espessura normal da parede ventricular. Esse tipo de hipertrofia é chamada de hipertrofia excêntrica. A hipertrofia cardíaca dos atletas em força, isto é, atletas engajados em tipos de atividades de alta intensidade ou isométrica, como lutadores, lançadores de martelo, levantadores de peso olímpico (força máxima), caracteriza‑se por uma cavidade ventricular de tamanho normal e por uma parede ventricular mais espessa. Esse tipo de hipertrofia é chamado de hipertrofia concêntrica. Saiba mais Para mais explicações sobre a hipertrofia, você pode consultar o artigo indicado a seguir: GHORAYEB, N. et al. Hipertrofia ventricular esquerda do atleta: resposta adaptativa fisiológica do coração. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 85, n. 3, p.191‑197, 2005. As informações oriundas dos estudos científicos com base na imagem cardíaca permitiram também visualizar os tipos de estímulos necessários para desencadear alterações na função cardíaca. Por exemplo, o treinamento para atividades de resistência habitualmente requer esforços prolongados durante os quais o débito cardíaco é mantido em altos níveis. A resposta a esse tipo de estímulo, que pode ser denominada volume de estresse, consiste em hipertrofia cardíaca por meio de um aumento no tamanho da cavidade ventricular. Admite‑se que exercícios físicos denominados resistência muscular geral aeróbia (exercícios caracterizados pela capacidade de um músculo realizar movimento quando a atividade física tiver uma duração acima de três minutos, solicitar de 1/6 a 1/7 do total da musculatura esquelética e exigir pelo menos 50% da capacidade orgânica) poderão promover os aumentos dos ventrículos cardíacos, em 38 Unidade II especial, do ventrículo esquerdo, como decorrência do aumento significativo do débito cardíaco durante a prática desse tipo de exercício. Excepcionalmente, estudos registraram que exercícios físicos denominados resistência muscular geral anaeróbia (exercícios caracterizados pela capacidade de um músculo realizar movimento quando uma atividade física de intensidade elevada usar mais de 1/6 a 1/7 do total da musculatura esquelética, num tempo inferior a três minutos e com volume elevado de séries e repetições, como de três a quatro séries de 10 repetições) também poderão promover aumentos nos ventrículos em decorrência do aumento no débito cardíaco provocado pelo aumento do retorno venoso. Esse tipo de treinamento físico é visto, muitas vezes, com o objetivo de conquistar a hipertrofia muscular esquelética na musculação. Lembramos que a hipertrofia do músculo esquelético é acompanhada por um aumento na densidade capilar, e o mesmo processo se dá com relação à hipertrofia cardíaca. Esse efeito gera um melhor fluxo sanguíneo para o coração e, muito provavelmente, funciona como tratamento profilático contra as coronariopatias. Por outro lado, atletas que participam de (ou treinam para) atividades denominadas resistência muscular localizada (atividades caracterizadas pela capacidade de um músculo realizar movimento quando a atividade física exigir menos de 1/6 a 1/7 do total da musculatura esquelética com uma solicitação menor do que 20% ou 30% de sua força máxima, aeróbia, e com uma solicitação igual ou maior do que 50% de sua força máxima, anaeróbia) não ficam sujeitos ao estresse volêmico, mas, sim, a elevações intermitentes na pressão arterial semelhantes àquelas observadas durante um grande esforço de tensão. A hipertrofia cardíaca decorrente desse estímulo consiste em um espessamento da parede ventricular. Observação Débito cardíaco é a quantidade de sangue bombeado dos ventrículos esquerdo e direito por unidade de tempo. Sendo o produto da FC pelo volume sistólico, em repouso costumava equivaler a cerca de 5 l/min, podendo chegar a 25 l/min em níveis máximos de exercício numa pessoa que não seja atleta (os atletas de resistência podem atingir níveis de débito cardíaco entre 35 e 40 l/min). 6.1.2 Menor FC A bradicardia de repouso, ou seja, a redução da frequência cardíaca, é uma das adaptações mais comuns apresentadas após um período de treinamento aeróbico. Essa adaptação apresenta as seguintes características: • mais evidente ao se comparar indivíduos atletas e não atletas; • menos evidente, porém ainda nítida, quando os indivíduos sedentários são submetidos a um programa de treinamento; renato Highlight 39 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO • menos distinta quando se estudam atletas no estado destreinado versus treinado. Essa informação assinala que: (1) a bradicardia induzida pelo treinamento depende de um longo período de tempo (talvez anos) de treinamento intensivo e (2) a magnitude de redução na FC de repouso produzida pelo treinamento é menor quando o nível de aptidão é maior. Deve‑se assinalar também que a magnitude da bradicardia de repouso é a mesma nos atletas de endurance e nos atletas de força. Aparentemente, nem os diferentes programas de treinamentos nem os diferentes tipos de hipertrofia cardíaca por ele induzidos influenciam muito a magnitude da bradicardia. O que produz essa bradicardia do treinamento em repouso? Convém relembrar que o coração é inervado por dois grandes nervos autônomos: os nervos simpáticos, que, quando estimulados, produzem aumento na FC, e os nervos vagos (nervos parassimpáticos),que reduzem a frequência quando estimulados. Com esse duplo sistema nervoso, a FC pode ser reduzida pelos seguintes fatores: • um maior tônus ou influência parassimpática (vagal); • uma menor influência (impulso) simpática; • uma combinação dos dois fatores anteriores. Já foi apresentada evidência a favor desses três elementos, entretanto, existe também outro fator que deve ser levado em conta ao se analisar a bradicardia induzida pelo treinamento: o ritmo intrínseco do marca‑passo auricular ou nódulo sinoatrial. Se o ritmo intrínseco do marca‑passo diminuir com os exercícios físicos, a FC será mais lenta, independentemente da influência do sistema nervoso autônomo. Levando isso em conta, além das influências nervosas previamente mencionadas, a bradicardia de repouso que resulta dos exercícios físicos (treinamento) muito provavelmente inclui dois grandes componentes, descritos a seguir. • Uma redução ou lentidão no ritmo intrínseco do marca‑passo auricular (ou nódulo S‑A). Por sua vez, isso está relacionado com as maiores quantidades de acetilcolina (neurotransmissor parassimpático) encontradas no tecido auricular após os exercícios físicos e com a menor sensibilidade do tecido cardíaco às catecolaminas, que também ocorre sabidamente após o treinamento. • Um aumento na predominância parassimpática (vagal) sobre o ritmo do marca‑passo como resultado de uma redução na atividade simpática. Em outras palavras, admite‑se que a maior influência parassimpática é secundária à redução primária na atividade do sistema nervoso simpático causada pelos exercícios físicos. Observação As catecolaminas constituem uma classe de substâncias químicas que incluem os neurotransmissores simpáticos adrenalina e noradrenalina. renato Highlight renato Highlight 40 Unidade II 6.1.2.1 Respostas da FC ao exercício de fortalecimento muscular Uma linha de pesquisa muito em voga atualmente investiga as respostas cardiovasculares ao exercício de força para servir de base para as recomendações dos exercícios de fortalecimento muscular para idosos e cardiopatas em geral. Esse tipo de exercício possui uma segurança bastante apreciada pelos profissionais da saúde. O que se tem observado é que os exercícios de fortalecimento muscular propiciam menor resposta cardiovascular que os exercícios aeróbios. Para atestar esse fato, pesquisadores compararam as respostas de FC, pressão arterial e duplo produto (débito cardíaco) em indivíduos jovens e assintomáticos submetidos a 1, 6 e 20 repetições máximas do exercício cadeira extensora e 20 minutos de exercício aeróbio constante com intensidade relativa de 75% do VO2 máximo; em todas as variáveis fisiológicas analisadas, quanto maior o tempo de exposição ao exercício, maior a resposta hemodinâmica. Vale lembrar que, de um modo geral, recomenda‑se um menor número de repetições e cargas moderadas a pesadas, tendo em vista que o principal fator de estresse cardiovascular nesse tipo de exercício é o tempo de tensão e não a carga. Pode ser interessante também aumentar a velocidade de execução na fase concêntrica do movimento, de modo a reduzir o tempo de tensão nesses exercícios, caracterizando um exercício de potência muscular. 6.1.3 Maior volume de ejeção ou sistólico Já que o rendimento (débito) cardíaco (DC) de repouso é aproximadamente o mesmo para indivíduos treinados e destreinados, é fácil verificar que o volume de ejeção em repouso dos indivíduos atletas ou treinados será maior do que aquele dos congêneres não atletas. Observa‑se que o maior volume de ejeção é mais pronunciado nos atletas de endurance. Como já sabemos, esses atletas possuem uma maior cavidade ventricular, permitindo, assim, que mais sangue encha o ventrículo durante a diástole, resultando num maior volume de ejeção. Outro fator que contribui para um maior volume de ejeção de repouso após o treinamento físico é uma maior contratilidade miocárdica, a qual pode ser mediada por influências nervosas e hormonais, com aumentos nas atividades da ATPase dentro do músculo cardíaco e/ou com uma maior disponibilidade de cálcio extracelular, resultando em melhor interação com os elementos contráteis. A alteração no volume de ejeção em repouso como resultado do treinamento físico é mais pronunciada quando os atletas são comparados com não atletas. Isso assinala, novamente, que esse efeito requer, provavelmente, um programa de treinamento intensivo a longo prazo. Estudos nos quais indivíduos previamente destreinados foram treinados apenas por poucos meses mostraram que nem sempre ocorre um aumento no volume de ejeção em repouso. 41 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Lembrete Fala‑se em débito cardíaco (DC) para fazer referência à quantidade de sangue bombeado dos ventrículos esquerdo e direito por unidade de tempo. Trata‑se do produto da frequência cardíaca pelo volume sistólico. Em repouso, costuma estar por volta de 5 l/min, podendo aumentar para valores de até 25 l/min em níveis máximos de exercício em uma pessoa normal. Vale destacar que os atletas de resistência podem atingir níveis de débito cardíaco entre 35 l/min e 40 l/min. As diferenças no débito cardíaco devem‑se inteiramente ao grande volume sistólico de indivíduos treinados, já que o exercício físico contínuo de características aeróbias produz hipertrofia fisiológica do ventrículo esquerdo, com aumento do volume sistólico, gerando um batimento mais forte. Fígado (27%) 1.350 ml Músculo (20%) 1.000 ml Músculo (84%) 21.000 ml Fígado (2%) 500 ml Rins (1%) 250 ml Outras (3%) 780 mlOutras (7%) 350 ml Cérebro (4%) 900 ml Pele (2%) 600 ml Pele (6%) 300 ml Coração (4%) 1.000 ml Coração (4%) 200 ml Cérebro (14%) 700 ml Rins (22%) 1.100 ml Repouso 5.000 ml Exercício 25.000 ml Figura 4 – Representação do débito cardíaco em repouso e no exercício máximo Em consequência disso, aqueles que realizam exercícios aeróbios possuem um DC de repouso mais econômico, com menor FC do que pessoas sedentárias, uma vez que seu volume sistólico (VS) é maior (de 70 ml a 71 ml em indivíduos sedentários e aproximadamente 100 ml em indivíduos treinados). Os valores médios do DC em condições de repouso são dados a seguir: • débito cardíaco = FC x volume sistólico; • indivíduos sedentários: 4.970 ml/min = 70 bpm x 71 ml/batimento; • indivíduos treinados: 5.000 ml/min = 50 bpm x 100 ml/batimento. 42 Unidade II Observação O volume sistólico (VS) é a quantidade de sangue bombeado pela musculatura do ventrículo esquerdo do coração durante um batimento cardíaco. Esse volume depende do tamanho do coração, e quanto mais forte for o batimento cardíaco maior é a descarga sistólica (e vice‑versa). 6.1.4 Alterações no volume sanguíneo e na hemoglobina O sangue que flui para os diferentes tecidos do organismo é geralmente proporcional à atividade metabólica realizada em estado de repouso ou em atividade física. Problemas de saúde podem alterar o fluxo sanguíneo, em condições de repouso, para diferentes órgãos. O exercício físico modifica o volume de fluxo sanguíneo no organismo, deslocando uma quantidade significativa de sangue para os músculos que trabalham. O fluxo sanguíneo de 5 L, em condições de repouso, distribui‑se em proporções aproximadas às ilustradas na tabela a seguir. Cerca de um quinto do débito cardíaco dirige‑se ao tecido muscular, ao passo que a maior parte do sangue irriga o baço, o fígado, o intestino, o trato gastrintestinal e o cérebro. Tabela 1 – Distribuição relativa do débito cardíaco em condições de repouso Órgão Porcentagem Volume por minuto (ml) Hepático‑esplênico 27% 1.350 Rins 22% 1.100 Músculos 20% 1.000 Cérebro 14% 700 Pele 6% 300 Coração 4% 200 Outros 7% 350 Total 100% 5.000 Fonte: McArdle, Katch e Katch (2016, p. 352). Em repouso, em torno de 4 a 7 ml de sangue são fornecidos a cada minuto para cada 100 g de músculo. Esse débito aumenta constantemente. Com esforço máximo, o fluxo sanguíneo muscular pode ser tão alto quanto 50 a 75 ml por 100 g de tecido. Isso representaem torno de 85% do débito cardíaco total. Tanto o volume sanguíneo total quanto a quantidade total de hemoglobina aumentam com o treinamento. Vamos lembrar que o volume sanguíneo total e os níveis de hemoglobina são importantes para o sistema de transporte do oxigênio (o que é evidente pelo fato de ambos estarem intimamente correlacionados com o VO2máx.). O volume sanguíneo e a hemoglobina desempenham 43 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO também papéis importantes durante o exercício nas grandes altitudes. Além disso, já que o calor corporal profundo é carreado pelo sangue para a periferia corporal, onde pode então ser dissipado, o volume sanguíneo é importante durante o exercício em altas temperaturas. Observação Convém assinalar que a concentração de hemoglobina habitualmente não se modifica com o treinamento. Os atletas, principalmente os praticantes de provas de resistência, tendem a apresentar concentrações de hemoglobina levemente inferiores à da população em geral. Essa sutil modificação é conhecida como pseudoanemia dilucional, anemia do desportista ou falsa anemia. Isso ocorre porque na prática de exercícios físicos regulares, com características aeróbicas, há um aumento no volume plasmático, resultando em diluição das hemácias e diminuição da concentração de hemoglobina, o que é compensado pelo aumento do volume sistólico cardíaco causado pela elevação do volume sanguíneo. Lembremos que fatores externos podem influenciar nosso corpo. Por exemplo, à medida que a altitude aumenta, ocorre uma diminuição da pressão atmosférica em conjunto com a pressão parcial de O2 presente no ar. Essas alterações modificam o conteúdo de O2 presente no sangue arterial e também sua quantidade. A falta de O2 suficiente para o organismo manter‑se em trabalho normal é denominada hipóxia. No caso efetivo de exposição à hipóxia hipobárica (redução da pressão atmosférica), essa escassez de O2 em nível tecidual pode provocar uma diminuição no trabalho e o aparecimento da fadiga. Essa fadiga limita principalmente os exercícios físicos de predomínio aeróbio, que necessitam de O2 para realizar os movimentos contínuos e de longa duração com eficiência. Logo que os indivíduos são expostos a uma altitude elevada, o sistema respiratório previne‑se para não sofrer com a falta de O2 e, consequentemente, evitar uma fadiga prematura. Uma das primeiras alterações fisiológicas que ocorrem é um aumento na frequência respiratória, para tentar suprir a pouca saturação de O2 presente no ambiente. Com essa resposta, o corpo aumenta a excreção de CO2, levando a uma mudança da PCO2 (pressão parcial de gás carbônico), fazendo com que ocorra um aumento no pH sanguíneo. Esse aumento na frequência respiratória deve‑se ao fato de o corpo possuir quimiorreceptores em torno do tubo respiratório, permitindo uma percepção do conteúdo arterial de O2. A partir do momento que o conteúdo arterial de O2 diminui, o corpo, em resposta, aumenta o número de respirações para minimizar os efeitos da hipóxia (BRASH, 2000; MAGALHÂES et al., 2002; LIRA; BARGIERI; NAKAMOTO, 2004; TRUIJENS et al., 2008; CALBET et al., 2010). Com a diminuição da saturação de O2, observou‑se as alterações que o sistema respiratório efetua para que se mantenha o mecanismo de entrega de nutrientes intacto. Contudo, os sistemas respiratório e cardiovascular trabalham em conjunto para que o corpo não entre em fadiga precocemente. A dificuldade do processo respiratório em altas altitudes deve‑se ao fato de a troca gasosa estar com gradiente de pressão diferenciado quando comparado ao nível do mar. O ar fica mais rarefeito em altitude, porém a saturação de O2 em altitude é menor que ao nível do mar. O ar adentra com mais facilidade nos pulmões, contudo, como 44 Unidade II a saturação de O2 é reduzida, a frequência respiratória é aumentada para que seja inspirado o mesmo número de moléculas de O2 que ao nível do mar. A quantidade de O2 entregue para os músculos realizarem trabalho sem entrar em fadiga depende muito dessa troca gasosa. A PO2 no tecido tem uma estabilidade no seu valor de aproximadamente 40 mmHg em repouso, já a PO2 arterial varia de valor, sendo 104 mmHg a pressão normalmente encontrada ao nível do mar. A diferença de 64 mmHg, ou seja, o gradiente de pressão, define o sentido dessa troca. O sentido é sempre de um local com maior pressão parcial para um de menor pressão parcial. Porém, quando se ascende, o valor da PO2 arterial tende a sofrer uma diminuição, já o valor da PO2 tecidual permanece praticamente inalterado. O gradiente de pressão antes visto como 64 mmHg ao nível do mar sofre uma redução e pode alcançar o valor de apenas 20 mmHg em uma altitude maior. Como a transferência de O2 do sangue para os tecidos depende desse gradiente, pode ocorrer uma deficiência no transporte para a musculatura esquelética, o que poderá, por sua vez, acarretar uma fadiga precoce (DEHNERT et al., 2002; BERNE et al., 2004; TRUIJENS et al., 2008; SHEEL; MACNUTT; QUERIDO, 2010; WILMORE; COSTILL, 2001). Magalhães et al. (2002) apontam que os valores da ventilação em altitude podem ser de 2 a 5 vezes maiores que os valores de ventilação ao nível do mar. A frequência respiratória apresenta um aumento quando se adentra um ambiente hipobárico (baixa pressão atmosférica), como no caso de altitudes maiores do que ao nível do mar. Com isso, mudanças no consumo de O2 ocorrem. Campos e Costa (1999) afirmam que o consumo máximo de O2 (VO2 máx.) tende a diminuir em repouso, quando exposto a ambientes de grande altitude. Corroborando essa ideia, foi feito um estudo com 20 idosos numa altitude de 2.500 metros e relatou‑se uma diminuição de 12% do VO2máx. na exposição aguda à altitude. Segundo Wilmore e Costill (2001), o consumo máximo de O2 não sofre reduções significativas até a altitude de 1.600 metros. A partir dessa altitude, o consumo máximo de O2 tem uma decadência. Os mesmos autores relatam também que, a partir de 1.600 metros, o VO2máx diminui, aproximadamente, 11% a cada 1.000 metros, ou seja, mais que 1% de queda do consumo máximo de oxigênio a cada 100 metros de ascensão. Contudo, estudiosos não encontraram melhoras do VO2máx. mesmo após a aclimatação. Outra alteração importante é o fato de o fluxo sanguíneo ser mais seletivo. Essa seleção é devida à ausência de O2 em abundância para os sistemas corporais, dessa forma, os locais que necessitam com urgência de O2 têm prioridade (MAGALHÃES et al., 2002). Em altitudes elevadas, o ar fica mais seco e a temperatura sofre uma redução em seu valor. A atividade em altitude faz com que ocorra perda de água corporal, aumentando, assim, a viscosidade sanguínea. Com o sangue mais denso, o volume de ejeção diminui, contudo, como precisa ocorrer um aumento no débito cardíaco, a FC aumenta para sanar temporariamente essa queda de volume. O aumento da densidade sanguínea faz com que o coração trabalhe com mais força, pois a resistência exercida pelo sangue na parede dos vasos está aumentada (CAMPOS; COSTA, 1999; BRASH, 2000; LIRA; BARGIERI; NAKAMOTO, 2004; WILMORE; COSTILL, 2001). Nas primeiras horas de exposição à altitude, ocorre um aumento na produção de eritropoetina, um hormônio liberado pelos rins que age na formação e liberação de eritrócitos (glóbulos vermelhos), renato Highlight 45 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO uma das maiores formas de transporte de O2 dos pulmões para os tecidos. A produção desse hormônio é realizada principalmente pelos rins. Os ambientes hipóxicos estimulam a liberação de eritropoetina, consequentemente, um aumento também ocorre no número de hemoglobinas presentes em cada eritrócito. Como a eritropoetina aumenta o número de eritrócitos, que por sua vez contém dentro de si hemoglobinas, que são transportadoras de oxigênio, a tendência de uma melhora na capacidade aeróbia aumenta. Essa melhora seria porque, com um maior número de hemoglobinas, o conteúdo de O2 circulante pelo sangue seria aumentado, tendo, assim, uma perspectiva de suprircom mais facilidade as demandas de O2 exigidas. Campos e Costa (1999) alertam para o fato de que, apesar de ocorrer esse aumento de eritropoetina logo nas primeiras horas de exposição à altitude, os benefícios dessa liberação só são sentidos após alguns dias, na fase de aclimatação (adaptação a altitude). Concordando com essa teoria, Magalhães et al. (2002) relatam que o tempo necessário para se atingir um nível máximo de eritropoetina pode variar de acordo com o grau de hipóxia a que os sujeitos estão expostos. Em um estudo recente observou‑se um aumento significativo (cerca de 40%) na concentração de eritropoetina no 10º e 17º dia de treinamento em uma altitude que variou de 1.300 metros a 1.650 metros. O que sugere que, mesmo em baixas ou moderadas altitudes, ocorre o processo de eritropoiese. Na literatura, é comum tratar‑se as denominações aclimatação e adaptação como sinônimas, contudo, alguns autores diferenciam as duas denominações. Adaptação, no caso de altitude, corresponderia exatamente aos efeitos agudos provocados pela exposição à altitude. Já aclimatação à altitude significaria as alterações fisiológicas que o corpo executa quando exposto por um período prolongado à altitude. As respostas fisiológicas do corpo ao período prolongado de exposição à altitude acontecem geralmente entre duas a três semanas após a exposição inicial à elevada altitude, levando o corpo a desencadear mecanismos para uma melhor estada nessa nova situação. Após duas ou três semanas, o corpo começa a sofrer alterações centrais e periféricas a fim de melhorar a utilização e a distribuição de O2, fazendo com que seu funcionamento volte ao estado homeostático. A FC, que num primeiro momento da adaptação aguda à exposição à altitude foi elevada, sofre um decréscimo em seus valores, juntamente com uma diminuição do débito cardíaco. Ocorre também um aumento na secreção de bicarbonato para tentar retornar o nível do pH ao normal, que sofreu uma alcalose respiratória devido à maior quantidade expirada de CO2 (já que ocorre hiperventilação como resposta aguda). Além de a FC diminuir e ser secretada maior quantidade de bicarbonato, a secreção de eritropoetina, que ocorreu no início da exposição à altitude, eleva o número de eritrócitos e, consequentemente, há um aumento no número de hemoglobinas, favorecendo, assim, o carregamento de O2 para o corpo. Campos e Costa (1999) afirmam que duas semanas seria o tempo necessário para uma boa aclimatação em altitudes moderadas até 2.300 metros. Acima dessa altitude, para cada 610 metros seria necessária a permanência de uma semana a mais. Para altitudes extremas, acima de 8.000 metros, seria necessário um período superior a 70 dias para que ocorresse a aclimatação. renato Highlight renato Comment on Text Débito cardíaco ou Gasto cardíaco é o volume de sangue sendo bombeado pelo coração em um minuto. É igual à frequência cardíaca multiplicada pelo volume sistólico. Portanto, se o coração está batendo 70 vezes por minuto e a cada batimento 70 mililitros de sangue são ejetados, o débito cardíaco é de 4900 ml/minuto. 46 Unidade II Observação Um dos grandes problemas de treinar em altitude é que os atletas não conseguem manter a intensidade do treinamento. A intensidade do treinamento ao nível do mar não consegue ser mantida em altitude, podendo gerar o processo de destreinamento por falta de estímulos adequados. Essa queda de rendimento faz com que algumas adaptações que dependem de uma intensidade de treinamento maior não aconteçam, ou seja, por mais que ocorram algumas adaptações após a aclimatação, outras adaptações importantes deixam de acontecer devido à intensidade de treinamento reduzida. Essa diminuição da intensidade do treinamento vai ao encontro da teoria da sobrecarga progressiva, sendo, assim, um dos motivos para não haver a melhora do desempenho esportivo. Fica claro, no entanto, que a escolha de uma altitude adequada para o processo de aclimatação é um dos fatores que influenciam a otimização desse treinamento e que altitudes entre 1.800 metros e 2.300 metros seriam as ideais. Essa escolha seria pelas alterações fisiológicas causadas pela exposição à altitude; já em altitudes inferiores a 1.800 metros, a estimulação dessas alterações não teria efeitos significativos. Quanto maior o período de permanência em altitude, mais o desempenho se aproxima do normal obtido ao nível do mar. Observação Um modelo de treinamento em altitude vem sendo muito utilizado pelos treinadores. Trata‑se do living high‑training low (em português, “viver alto e treinar baixo”). Essa metodologia de treinamento tenta unir os benefícios fisiológicos da aclimatação à altitude, como a melhora no transporte de oxigênio em consequência do aumento da secreção de eritropoetina, e com uma intensidade de treinamento ao nível do mar maior que a utilizada em altitude. Essa maior intensidade de treinamento deve‑se ao fato de a capacidade aeróbia não estar tão prejudicada como em altitudes elevadas, nas quais o percentual de VO2máx diminui cerca de 1% para cada 100 metros acima de 1.500 metros. Fulco et al. (apud BRASH, 2000) declaram a hipótese de que se os atletas vivessem em altitudes certas, por um período correto, de 4 semanas, ocorreria um aumento do número de eritrócitos, e esse aumento, com o treinamento ao nível do mar, seria capaz de otimizar o desempenho. Pesquisadores realizaram um estudo que contou com 39 atletas competitivos (27 homens e 12 mulheres). Os atletas foram divididos em 3 grupos: no grupo 1 (living high‑training high), viviam e treinavam numa altitude de 2.500 metros; no grupo 2 (living high‑training low), viviam na altitude de 2.500 metros e treinavam em baixa altitude (1.250 metros); no grupo 3, viviam e treinavam em baixa altitude. Os autores concluíram que o modelo 47 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO de treinamento living high‑training low melhora o VO2máx. ao nível do mar, melhora não observada no modelo living high‑training high. Desse modo, o método de treino living high‑training low parece ser eficaz quando o intuito é a melhora da performance ao nível do mar. 6.1.5 Alterações na densidade capilar e hipertrofia do músculo cardíaco Como indicado em diversos estudos por imagem, a hipertrofia do músculo esquelético que resulta dos programas de treinamento com pesos em geral é acompanhada por um aumento na densidade capilar. Densidade capilar se refere ao número de capilares abertos que circundam uma fibra muscular esquelética. O treinamento aeróbio de longa duração, para competição em corrida, natação ou ciclismo, por exemplo, às vezes produz hipertrofia muscular e quase sempre uma maior densidade capilar no músculo esquelético. Esse efeito é mostrado em estudos que indicam que as fibras musculares de atletas de resistência aeróbia (VO2máx = 71,4 ml/kg/min) eram 30% maiores que aqueles em grupos de indivíduos não treinados da mesma idade (VO2máx. = 50,2 ml/kg/min). Além disso, para os atletas, determinou‑se que cada fibra muscular era circundada, em média, por 5,9 capilares. Já no caso dos indivíduos não treinados, a fibra comum era circundada por apenas 4,4 capilares. O fornecimento de oxigênio e de outros nutrientes ao músculo, assim como a remoção dos produtos de desgaste, estão todos acelerados, pois existem mais capilares por fibra muscular. O número de capilares que circunda cada fibra muscular esquelética está relacionado com dois fatores: (1) o tamanho ou diâmetro da fibra muscular e (2) o tipo de fibra (ou o número de mitocôndrias por fibra muscular). Desse modo, a relação anteriormente exposta é válida tanto para indivíduos treinados quanto para os indivíduos não treinados. Observação As fibras de contração lenta possuem mais mitocôndrias do que as de contração rápida. Portanto, o número de capilares que circunda a fibra de contração lenta é maior do que nas fibras de contração rápida. 6.2 Alterações durante o exercício submáximo Várias alterações importantes no funcionamentodo transporte do oxigênio e de sistemas correlatos, após o treinamento, são evidenciadas durante o treinamento submáximo (intensidade moderada) em estado estável (estado de equilíbrio). 6.2.1 Nenhuma modificação ou ligeira redução no consumo de oxigênio O consumo do oxigênio durante o exercício para determinada carga de trabalho submáxima é o mesmo, ou ligeiramente menor antes, em comparação com aquele observado após o treinamento. A redução se dá em razão de um aumento na eficiência mecânica (coordenação) e é 48 Unidade II mais pronunciada nas comparações de atletas altamente treinados com indivíduos destreinados. Essa diferença é igualmente evidente entre corredores bons e médios. O desempenho de atletas de resistência tem sido constantemente estudado, e um dos fatores importantes para um alto rendimento é a capacidade de o atleta utilizar o metabolismo aeróbio para gerar energia. Assim, o alto consumo de oxigênio máximo (VO2máx.) está diretamente relacionado ao desempenho em atividades de longa duração. Apesar de o consumo de oxigênio ser considerado a principal variável para predizer a capacidade cardiorrespiratória do atleta, outros fatores têm sido estudados para a avaliação do desempenho, como a economia de corrida, definida por alguns estudiosos como o dispêndio energético em uma determinada velocidade, sendo o atleta com melhor economia de corrida aquele que mantiver um gasto energético menor em relação a outros atletas para a mesma velocidade. O VO2máx. e o limiar de lactato podem influenciar a economia de corrida. Dessa forma, consideramos uma ótima economia de corrida um atleta com VO2máx. aumentado e um dispêndio de energia menor no limiar de lactato. Assim podemos perceber como o treinamento esportivo pode agir diretamente para melhorar a economia de corrida, tornando‑se uma importante ferramenta para o desempenho do atleta. Estudos mostraram que o treinamento esportivo, além de provocar alterações fisiológicas importantes para o VO2máx. (como aumento da difusão do oxigênio na corrente sanguínea e sua utilização tecidual), também produz mudanças no limiar de lactato (como diminuição da concentração de lactato e aumento da tolerância do lactato em intensidades elevadas, resultando na economia de corrida decorrente da redução da demanda de energia para o esforço). 6.2.2 Redução na utilização do glicogênio muscular Durante o exercício submáximo prolongado para uma determinada sobrecarga de trabalho ou consumo de oxigênio, a quantidade de glicogênio muscular utilizada é menor após o treinamento. Às vezes esse efeito é denominado poupança de glicogênio, estando relacionado, provavelmente, à maior capacidade de os músculos utilizarem (oxidarem) ácidos graxos livres como combustível metabólico, poupando, assim, o glicogênio muscular. Do ponto de vista prático, qual a importância de poupar o glicogênio muscular durante a prática do exercício físico de longa duração? Vamos relembrar que a depleção intensa das reservas musculares de glicogênio tem sido relacionada ao aparecimento da fadiga muscular (através da formação do ácido lático), e, portanto, o efeito de reserva do glicogênio parece constituir um fator importante por retardar a fadiga muscular e, consequentemente, melhorar o desempenho nos exercícios físicos de longa duração. Outro fator importante relacionado à poupança do glicogênio durante a realização dos exercícios físicos de longa duração está na maior preservação da glicose sanguínea (glicemia). Ou seja, as moléculas de glicose poderão atender de forma prioritária às células do sistema nervoso central, as quais necessitam de combustível para o envio contínuo de correntes elétricas 49 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO a toda musculatura esquelética gerando a sua contração (movimento) por um tempo ainda mais prolongado, o que resultará numa fadiga central mais retardada. Por sua vez, a maior oxidação de ácidos graxos resulta de algumas alterações bioquímicas previamente discutidas, principalmente em decorrência da maior difusão de oxigênio na musculatura esquelética participante do movimento de longa duração. Observação O exercício físico cuja intensidade seja a submáxima (60% do VO2máx) e de longa duração faz com que o nível da contração muscular seja moderado, o que intensifica a chegada de sangue oxigenado a toda musculatura esquelética do movimento. Através de sua maior difusão, há o aumento no metabolismo de gordura intramuscular. 6.2.3 Redução na produção de ácido lático (aumento no limiar aeróbio) O treinamento produz uma redução no acúmulo de ácido lático durante determinado exercício submáximo. Essa é uma modificação importante, pois a maior parte do trabalho, incluindo aquele realizado durante as sessões de treinamento, é submáxima. Esse fator é ilustrado na corrida de longa distância, que requer um esforço submáximo durante períodos de tempo prolongados. Os corredores envolvidos nesse tipo de atividade precisam não apenas possuir uma potência aeróbia máxima (VO2máx.) altamente desenvolvida, mas, para serem bem‑sucedidos, ser capazes também de empregar grande parte dessa potência com um acúmulo mínimo de ácido lático. Isso permite manter um ritmo mais intenso durante toda a corrida, sem experimentar a fadiga precoce. Um menor acúmulo de ácido lático durante o exercício após treinamento significa também que o limiar aeróbio aumentou. Estudos já mostraram que o limiar aeróbio (a intensidade de trabalho na qual o ácido lático começa a se acumular) fica ao redor de 60% do VO2máx. nos indivíduos destreinados e 75% do VO2máx. nos fundistas treinados. Os mecanismos fisiológicos responsáveis pelo menor acúmulo de ácido lático durante o exercício submáximo após o treinamento não são inteiramente conhecidos. Entretanto, existem várias possibilidades, algumas delas descritas a seguir: • Maior utilização de ácidos graxos como combustível metabólico para satisfazer as demandas energéticas do exercício pode resultar em menor utilização de glicogênio e, dessa forma, em menor produção de ácido lático pelos músculos (relembremos que o ácido lático é um coproduto da desintegração do glicogênio). Essa seria uma das melhores possibilidades durante os exercícios prolongados, como as corridas de longa distância, nas quais existe tempo suficiente para uma oxidação significativamente maior de ácidos graxos, porém não durante os exercícios de curta duração. 50 Unidade II • Menor déficit de oxigênio contraído no início do exercício devido a um aumento mais rápido no consumo de oxigênio e nas maiores reservas intramusculares de oximioglobina poderiam também resultar em menos acúmulo de ácido lático. • Maior utilização (oxidação) de qualquer ácido lático produzido como combustível metabólico durante o exercício também resultaria num menor acúmulo global de ácido lático. Essa situação parece constituir um fator mais importante durante o exercício prolongado, devido ao fator tempo (duração do exercício). • Redução nos níveis de concentração intramusculares de ADP+Pi, já que os níveis de ADP+Pi controlam o ritmo da glicólise muscular (quanto mais altos forem os níveis de ADP e Pi no interior da célula muscular, maior será a velocidade da glicólise). Cabe ressaltar que os níveis de ADP e Pi são necessários para as mitocôndrias. Apesar de o treinamento com cargas submáximas possibilitar o aumento do número e do tamanho das mitocôndrias, suas reservas intramusculares passam a ser menores após os programas de treinamento, havendo, dessa forma, a ressíntese do ATP por meio da via metabólica aeróbia (e não pela via metabólica anaeróbia com a formação do ácido lático). 6.2.4 Nenhuma alteração ou ligeira redução no débito cardíaco Durante o exercício submáximo para determinada carga ou VO2, o débito cardíaco de indivíduos treinados às vezes é ligeiramente menor do que o dos indivíduos destreinados. A razão para essa discrepância é desconhecida, entretanto, pode estar relacionada com o tipo de intensidade e duraçãodos programas de treinamentos implicados. 6.2.5 Maior volume de ejeção O volume de ejeção aumenta durante os exercícios submáximos para determinada carga de trabalho após o treinamento. Como no caso do maior volume de ejeção em repouso, esse efeito do exercício está relacionado principalmente com o maior volume da cavidade ventricular e com o aumento da contratilidade miocárdica, também promovidos pelo treinamento. Quanto maior forem a quantidade de sangue que enche a cavidade e a força de contração (contratilidade), maior será o volume de ejeção. Convém lembrar que um dos componentes mais importantes do sistema de transporte do oxigênio é o volume de ejeção e que o fluxo sanguíneo, durante o exercício, possui uma distribuição variável, dependendo de o exercício ser leve, moderado, intenso ou máximo. Na tabela a seguir, observamos as diferenças no fornecimento de sangue aos vários órgãos e o percentual do débito cardíaco total nos diversos níveis de intensidade do exercício. Embora a irrigação sanguínea durante a atividade física varie consideravelmente segundo alguns fatores (como tipo de exercício, sua intensidade e duração, nível de condicionamento físico, estado de saúde e idade do indivíduo, além de condições ambientais), a maior parte do débito cardíaco desvia‑se para os músculos ativos. 51 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Tabela 2 – Distribuição do débito cardíaco durante exercícios leves, moderados e vigorosos Órgão/tecido Exercício leve (ml/%) Exercício moderado (ml/%) Exercício intenso (ml/%) Esplâncnico 1.100 (12%) 600 (3%) 300 (1%) Renal 900 (10%) 600 (3%) 250 (1%) Cerebral 750 (8%) 750 (4%) 750 (3%) Coronário 350 (4%) 750 (4%) 1.000 (4%) Muscular 4.500 (47%) 12.500 (71%) 22.000 (88%) Epitelial 1.500 (15%) 1.900 (12%) 600 (2%) Outros 400 (4%) 400 (3%) 100 (1%) Total 9.500 ml/min 17.500 ml/min 25.000 ml/min Adaptado de: McArdle, Katch e Katch (2016); Wilmore e Costill (2001). Devemos salientar que a eficiência do trabalho é muito diferente entre os exemplos que podemos apresentar, já que o que é um esforço máximo para um sedentário (por exemplo, correr 2 km em 13 minutos e 30 segundos) pode ser um esforço submáximo ou moderado para uma pessoa que realiza atividade física aeróbia de forma sistemática (correr esses 2 km em 12 minutos e 45 segundos) ou um esforço leve para um esportista de alto rendimento (que percorra 2 km em 11 minutos e 20 segundos). Os mecanismos de recuperação da FC, do VS e, por conseguinte, do DC são mais rápidos em indivíduos treinados. Durante exercícios realizados em pé, o volume sistólico aumenta durante a transição do repouso ao exercício leve, com valores máximos que chegam a 45% do VO2máx. Depois desse ponto, o débito cardíaco intensifica‑se conforme aumenta a FC. Os aumentos no volume sistólico em exercícios realizados em pé devem‑se, geralmente, a um esvaziamento sistólico mais completo, em lugar de um maior enchimento dos ventrículos durante a diástole. A ejeção sistólica aumenta por meio dos hormônios simpáticos. O treinamento de fundo melhora a força miocárdica, que também contribui consideravelmente para a potência do batimento durante a sístole. A FC e o consumo de O2 estão relacionados de maneira linear, tanto em indivíduos treinados como em não treinados, durante a maior parte do exercício. Com o treinamento de resistência, essa relação desloca‑se significativamente para a direita, devido à melhora no volume sistólico cardíaco. Por conseguinte, a FC reduz‑se consideravelmente, em nível de trabalho submáximo, nos indivíduos treinados em exercícios de resistência aeróbia. Na tabela a seguir, observa‑se o comportamento do volume sistólico em condições de repouso e durante o exercício em indivíduos com perfis distintos: pessoas sedentárias, pessoas ativas que treinam para melhorar o condicionamento cardiorrespiratório e esportistas de alto rendimento de modalidades de resistência. Vê‑se que o volume sistólico de repouso das pessoas ativas que treinam o condicionamento aeróbio ou cardiorrespiratório e o dos esportistas de resistência é praticamente igual ou superior ao volume sistólico dos sedentários durante o exercício. Se a pessoa tiver uma maior atividade de resistência aeróbia, terá um maior volume sistólico de repouso e durante o exercício. renato Comment on Text Em fisiologia cardiovascular, o volume sistólico (VS) ou volume sistólico de ejeção é o volume de sangue bombeado pelo ventrículo cardíaco esquerdo por batimento. 52 Unidade II Tabela 3 – Volumes sistólicos típicos para diferentes estados de treinamento Indivíduos VS em repouso (ml) VS máximo (ml) Sedentários 55‑75 80‑110 Ativos 80‑90 130‑150 Esportistas de resistência 100‑120 160‑220 ou > 220 Fonte: McArdle, Katch e Katch (2016, p. 349). Após um treinamento de resistência cardiorrespiratória, o volume sistólico aumenta em repouso, assim como ao realizar exercícios de nível submáximo ou máximo de intensidade. Durante o treinamento aeróbio, ocorre um aumento do volume diastólico final, causado principalmente pelo aumento do volume plasmático. O ventrículo esquerdo é a câmara do coração mais modificada em resposta ao treinamento de resistência. As dimensões internas do ventrículo esquerdo aumentam sobretudo como resposta a um aumento no enchimento ventricular. Durante o treinamento de resistência cardiorrespiratória, a espessura da parede ventricular esquerda também aumenta, intensificando o potencial de força das contrações do ventrículo esquerdo. A lei de Frank Starling descreve que o fator principal no controle e no desenvolvimento do volume sistólico é o grau de estiramento dos ventrículos. Quando os ventrículos se estiram mais, eles se contraem com mais força. Por exemplo, se um grande volume de sangue entra na câmara quando os ventrículos se enchem durante a diástole, as paredes dos ventrículos se distenderão mais do que quando entra um volume menor de sangue. Com o objetivo de expulsar essa quantidade maior de sangue, os ventrículos devem reagir ao estiramento, contraindo‑se com mais força. Observação O efeito Frank Starling, descrito por Otto Frank e David Starling, avalia a força de contração ventricular em diferentes graus de estiramento do ventrículo, ou seja, em diferentes pré‑cargas. O trabalho sistemático de treinamento de resistência aeróbia ou de condicionamento cardiorrespiratório produz uma hipertrofia cardíaca esquerda com predomínio do ventrículo esquerdo, o que garante um coração mais forte e eficiente em condições de repouso e durante os exercícios submáximo e máximo. 6.2.6 Redução da FC Talvez a alteração mais constante e pronunciada associada ao treinamento seja uma redução da FC durante o exercício submáximo, após o treinamento. renato Highlight 53 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Como no caso da bradicardia de repouso, essa redução é mais pronunciada nas comparações entre indivíduos sedentários e atletas altamente treinados. Convém enfatizar também, novamente, que um coração que bate lentamente é mais eficiente, exigindo menos oxigênio, do que um coração que bate rapidamente, para o mesmo nível de rendimento cardíaco. A bradicardia do exercício, como a bradicardia do repouso, é causada por modificações dentro do próprio músculo cardíaco e do sistema nervoso autônomo. A evidência para um menor impulso simpático durante o exercício em seres humanos já foi apresentada. Os níveis plasmáticos de noradrenalina e adrenalina (catecolaminas) e a resposta da FC a um determinado exercício submáximo são plotados contra as semanas de treinamento. É claramente evidente que, durante as duas ou três primeiras semanas de treinamento, a redução na FC é paralela às reduções na noradrenalina e adrenalina plasmática. Entretanto, convém observar que, com a continuação do treinamento, as catecolaminas plasmáticas tendem a se nivelar, porém, a FC continua a cair. Isso sugere que outros fatores, como um maior tônus parassimpático (vagal) ou uma lentidão do ritmo intrínseco do marca‑passo auricular,poderiam também estar relacionados à bradicardia induzida pelo exercício. Não obstante, um menor impulso simpático durante o exercício poderia ter duas origens, descritas a seguir: • Um mecanismo intracardíaco ou central, isto é, um efeito diretamente sobre o próprio músculo cardíaco, poderia ser responsável. Já vimos, por exemplo, que o treinamento produz aumentos na contratilidade miocárdica e na hipertrofia que resultam em maior volume de ejeção durante um trabalho submáximo. Assim, para um débito cardíaco igual ou ligeiramente reduzido, a necessidade de uma FC mais alta, induzida por estimulação simpática, é muito menor. • Um mecanismo extracardíaco ou periférico, isto é, um efeito indireto que resulta de alterações nos músculos esqueléticos estriados, poderia constituir a causa. Sabemos, por exemplo, que a estimulação simpática do coração pode ser modificada por impulsos nervosos que se originam de músculos e articulações ou por impulsos descendentes provenientes do córtex motor. Uma FC reduzida resultante desses tipos de modificações significaria que o efeito do treinamento sobre o coração é secundário em relação a alterações bioquímicas que ocorrem nos músculos esqueléticos treinados. Como discutido anteriormente, o comportamento da Frequência Cardíaca (FC) ao longo do exercício é mediado pelo sistema nervoso autônomo (SNA). A variabilidade da FC representa a oscilação temporal entre consecutivas contrações do miocárdio (sístoles). Estudos com bloqueio farmacológico seletivo foram realizados e demonstraram a participação exclusiva do nervo vago na resposta da FC no transiente inicial do exercício, a predominância da atividade vagal durante o repouso sendo gradualmente inibida no exercício submáximo (tanto ativo como passivo) até o nível máximo de esforço, no qual a atividade parassimpática aparentemente é totalmente inibida, produzindo redução ou ausência de variabilidade da FC. Nos primeiros segundos do exercício, a FC aumenta por inibição da atividade vagal, que não só aumenta a contratilidade dos átrios, mas também eleva a velocidade de condução da onda de despolarização dos ventrículos a partir do nódulo atrioventricular (AV), independentemente do nível de intensidade do renato Highlight renato Highlight 54 Unidade II esforço e do nível de condicionamento aeróbio de indivíduos saudáveis. Por outro lado, um indivíduo que não consiga elevar a sua FC significativamente nessa fase inicial do exercício pode estar sinalizando uma deficiência da atividade vagal. Após essa fase inicial, com o prosseguimento do exercício, a FC aumenta novamente pela exacerbação da estimulação adrenérgica no nódulo sinusal ou pelo aumento da concentração sanguínea de norepinefrina, distensão mecânica do átrio e, por conseguinte, do nódulo sinusal em função de maior retorno venoso, além do aumento da temperatura corporal e da acidez sanguínea. 6.2.7 Alterações no fluxo sanguíneo muscular Contrariamente ao que se poderia pensar, o fluxo sanguíneo por quilograma de músculo ativo para a mesma carga de trabalho submáxima absoluta é menor nos indivíduos treinados que nos indivíduos destreinados. Os músculos ativos compensam o menor fluxo sanguíneo, no estado treinado, extraindo mais oxigênio. Isso é evidenciado por uma maior diferença entre o oxigênio arterial e venoso misto (diferença arteriovenosa de oxigênio – DAVO2) e pode estar relacionado com as alterações bioquímicas já mencionadas (aumentos na quantidade de mioglobinas) e que ocorrem nos músculos esqueléticos. Observação Diferença arteriovenosa é a diferença no conteúdo de oxigênio do sangue arterial e venoso. Em repouso, a DAVO2 fica entre, aproximadamente, 4 e 5 ml de O2 por 100 ml de sangue; já durante um exercício vigoroso, a DAVO2 pode alcançar 15 ml por 100 ml de sangue. A diferença é igual à quantidade de O2 extraída pelo músculo. Como já dissemos, o fluxo sanguíneo total (isto é, o débito cardíaco) permanece o mesmo ou é ligeiramente menor após o treinamento e durante o exercício com a mesma carga de trabalho, como antes do treinamento. No caso em que o débito cardíaco é o mesmo, um menor fluxo sanguíneo muscular significaria que mais sangue se torna disponível para as áreas que não estão exercitando, como a pele. Durante o exercício em altas temperaturas, essa seria uma vantagem com relação à eliminação do calor. Por outro lado, o fluxo sanguíneo reduzido para os músculos seria responsável pela redução no débito cardíaco às vezes observada. Todas as alterações do exercício submáximo induzidas pelo treinamento tendem a reduzir a tensão relativa imposta ao sistema de transporte do oxigênio e aos sistemas correlatos. Em outras palavras, determinada quantidade de exercícios submáximos se torna “mais submáxima” como resultado do treinamento físico. 6.3 Alterações durante o exercício máximo É do conhecimento geral que o treinamento físico faz aumentar muito a capacidade máxima de trabalho. Vamos aqui destacar algumas das alterações fisiológicas que são necessárias para produzir esse tipo de aprimoramento. 55 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 6.3.1 Aumento na potência aeróbia máxima (VO2máx.) Os efeitos do treinamento sobre a quantidade de oxigênio que pode ser consumida por minuto durante o exercício máximo foram estudados extensamente; existem poucas dúvidas de que essa potência aumenta com o treinamento. A magnitude do aumento do VO2máx varia consideravelmente e depende de inúmeros fatores que iremos discutir posteriormente. Entretanto, estudos iniciais sobre essa variável fisiológica encontraram uma melhora média de 5% a 20% para estudantes universitários do sexo masculino e feminino após o intervalo de 8 a 12 semanas de treinamento (POLLOCK, 1973). Além disso, o VO2máx é mais alto em atletas que competem e treinam para tipos de atividades de resistência (MORGAN et al., 1971). Como já sabemos hoje, o VO2máx. representa uma medida da capacidade funcional do sistema do oxigênio (ou do sistema cardiorrespiratório ou do sistema de transporte do oxigênio). É considerado, pela maioria dos estudos na área da fisiologia do exercício, como a medida isolada mais precisa da aptidão para a resistência. Observação A potência aeróbia máxima é uma capacidade medida pelo consumo máximo de oxigênio na unidade de tempo. Isso significa o maior consumo de oxigênio que um indivíduo pode obter. A potência aeróbia máxima é registrada em valores absolutos e relativos. No primeiro caso é expressa em ml/min, no segundo caso em ml/kg/min (mililitro por quilograma de peso corporal). Dessa forma, os fatores fisiológicos relacionados ao sistema de transporte do oxigênio (ou VO2máx) podem ser representados pela seguinte fórmula: VO2máx. = VE (volume de ejeção) X FC (FC) X DAVO2 Assim, o aumento no VO2máx. é produzido por duas alterações principais: (1) um maior fornecimento de oxigênio aos músculos ativos através de um aumento no débito cardíaco (DC = VE x FC) e (2) uma maior extração de oxigênio do sangue pelos músculos esqueléticos. Nesse momento, cabe‑nos perguntar qual fator limita o VO2máx, o débito cardíaco ou a capacidade de os músculos esqueléticos extraírem o oxigênio do sangue. A resposta não é inteiramente clara, porém a informação atual parece responsabilizar o débito cardíaco. Por exemplo, um maior débito cardíaco implica aumento no fornecimento de sangue e de oxigênio aos músculos ativos. Entretanto, como discutiremos agora, o fornecimento de sangue por quilograma de músculo ativo durante o exercício máximo não se modifica após o treinamento. Portanto, o maior débito cardíaco não representa um maior fornecimento de oxigênio a cada fibra muscular, mas, pelo contrário, para uma maior massa muscular ativa. renato Highlight renato Highlight 56 Unidade II Por outro lado, a extração de oxigênio por cada fibra muscular aumenta durante o exercício máximo, fato esse que se reflete numa maior diferença de oxigênio arterial‑venoso misto. Parece razoável sugerir, com base nessainformação, que, uma vez que o treinamento resulta em maior extração de oxigênio por cada fibra muscular na ausência de aumento no fornecimento de oxigênio, o VO2máx. é limitado pelo fornecimento circulatório de oxigênio aos músculos ativos. Pelo menos é esse o caso durante o tipo de exercício máximo utilizado para avaliar o VO2máx. (por exemplo, pedalar na bicicleta ou correr na esteira até a exaustão de 4 a 8 minutos). 6.3.2 Maior débito cardíaco Como acabamos de indicar, o débito cardíaco máximo aumenta com o treinamento, e a magnitude dessa alteração é semelhante àquela do VO2máx. O débito cardíaco máximo que se pode alcançar e o VO2máx. estão diretamente relacionados: o primeiro constitui um fator na determinação do último. Como era de se esperar, o débito cardíaco máximo é maior em atletas de resistência altamente treinados. Convém lembrar que o débito cardíaco constitui o produto do volume de ejeção e da FC. Já que a FC máxima ou não se modifica ou diminui ligeiramente após o treinamento, o aumento no débito cardíaco após o treinamento deve‑se inteiramente a um maior volume de ejeção. 6.3.3 Maior volume de ejeção O aumento no volume de ejeção máximo que resulta do treinamento se relaciona com a hipertrofia cardíaca e com o aumento na contratilidade miocárdica já descritos. Um maior volume ventricular, associado a uma maior força de contração, permite que se obtenha um débito (rendimento) máximo de sangue com cada batimento. A característica isolada mais importante que diferencia o atleta que esteve treinando por vários anos da pessoa sedentária que esteve treinando por apenas alguns poucos meses é a magnitude do volume de ejeção. Em outras palavras, o volume de ejeção é um dos principais determinantes da magnitude do débito cardíaco e, consequentemente, do VO2máx. 6.3.4 Nenhuma alteração ou ligeira redução na FC A FC máxima que pode ser obtida não se modifica ou diminui ligeiramente após o treinamento. Embora a redução na FC máxima seja particularmente evidente nos atletas de resistência, o treinamento a curto prazo de pessoas anteriormente sedentárias também pode produzir um aumento ligeiro (3 a 10 batimentos/min), porém significativo, na FC máxima. 6.3.5 Maior produção do ácido lático Uma das alterações bioquímicas induzidas pelo treinamento é um aumento na capacidade glicolítica (sistema do ácido lático). Esse aumento é evidenciado pela capacidade em produzir maiores quantidades de ácido lático muscular durante o trabalho máximo exaustivo. Assim sendo, pode‑se gerar mais energia ATP através dessa via metabólica numa menor unidade de tempo, aprimorando, renato Comment on Text Débito cardíaco ou Gasto cardíaco é o volume de sangue sendo bombeado pelo coração em um minuto. É igual à frequência cardíaca multiplicada pelo volume sistólico. Portanto, se o coração está batendo 70 vezes por minuto e a cada batimento 70 mililitros de sangue são ejetados, o débito cardíaco é de 4900 ml/minuto. renato Comment on Text Débito cardíaco ou Gasto cardíaco é o volume de sangue sendo bombeado pelo coração em um minuto. É igual à frequência cardíaca multiplicada pelo volume sistólico. Portanto, se o coração está batendo 70 vezes por minuto e a cada batimento 70 mililitros de sangue são ejetados, o débito cardíaco é de 4900 ml/minuto. 57 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO assim, o desempenho ou a capacidade de trabalho nas atividades que dependem maciçamente desse sistema para o fornecimento de energia. 6.3.6 Nenhuma modificação no fluxo sanguíneo muscular Mesmo durante o exercício máximo, o fluxo sanguíneo por quilograma de músculo não é diferente para os indivíduos treinados ou destreinados. Isso não deve ser interpretado como significando que o fluxo sanguíneo para toda a massa muscular ativa é menor após o treinamento. Na verdade, demonstrou‑se que o fluxo sanguíneo para a musculatura ativa total de fato é maior durante o trabalho máximo após o treinamento. Como pode ser resolvida essa aparente contradição? Como explicamos previamente, a resposta reside no fato de que, já que a carga máxima de trabalho é maior após o treinamento, é provável que a massa muscular total necessária para realizar o trabalho também seja maior. Em outras palavras, o maior fluxo sanguíneo se distribui para uma massa muscular maior, mantendo, assim, constante o fluxo por quilograma de músculo. Saiba mais Para mais explicações sobre as adaptações cardiorrespiratórias ao treinamento físico, você pode consultar o capítulo 17 da obra indicada a seguir: MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. l. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano. São Paulo: Guanabara Koogan, 2016. p. 346‑357. Resumo O treinamento físico promove alterações bioquímicas no músculo esquelético, tanto aeróbias quanto anaeróbias. Nas adaptações aeróbias destacam‑se: maior conteúdo de mioglobina, maior oxidação dos carboidratos (glicogênio) e maior oxidação de gordura. Já nas adaptações anaeróbias destacam‑se: maior capacidade do sistema do fosfagênio (ATP‑CP) e maior capacidade glicolítica. Adicionalmente, ocorrem adaptações específicas nas fibras musculares lentas e rápidas. Além disso, o treinamento físico promove alterações no sistema cardiorrespiratório em repouso, durante o exercício submáximo e máximo. Em repouso, uma das possíveis adaptações é a hipertrofia cardíaca (ou coração de atleta), tanto em atletas de endurance quanto em atletas de resistência. Nos atletas de endurance observa‑se uma hipertrofia excêntrica com aumento da cavidade do ventrículo esquerdo e uma espessura normal da parede ventricular; nos atletas de resistência há uma hipertrofia concêntrica com aumento da espessura da parede ventricular, com a cavidade ventrículo renato Highlight 58 Unidade II esquerdo de tamanho normal. Outras adaptações que podem acontecer são: redução da frequência cardíaca (bradicardia) por meio da diminuição da influência simpática, aumento da influência parassimpática, diminuição do ritmo do marca‑passo ou de ambos e aumento do volume de ejeção (ou sistólico), o que acarreta na manutenção do débito cardíaco. Já no exercício submáximo as adaptações são: possibilidade de menor consumo de oxigênio (conhecido como eficiência mecânica), redução na utilização do glicogênio muscular, redução na produção de ácido lático e consequente aumento do limiar aeróbio, ligeira redução no débito cardíaco, maior volume de ejeção, menor frequência cardíaca e maior diferença arteriovenosa de oxigênio. Por fim, no exercício máximo acontece aumento do consumo de oxigênio em decorrência de um maior fornecimento de oxigênio aos músculos ativos por meio de um aumento no débito cardíaco e por uma maior extração de oxigênio do sangue pelos músculos esqueléticos. Dessa maneira, também se pode observar: maior débito cardíaco; maior volume de ejeção; possível manutenção ou ligeira queda da frequência cardíaca; maior produção de ácido lático e maior fluxo sanguíneo para a musculatura ativa total. Exercícios Questão 1. Uma das principais adaptações após um período de treinamento aeróbico é a redução da frequência cardíaca (FC) de repouso (bradicardia). Em relação aos possíveis mecanismos responsáveis pela redução da FC em repouso, marque a única alternativa correta: A) Aumento da influência simpática, aumento da influência do marca‑passo e redução da influência parassimpática. B) Redução da influência simpática, aumento da influência parassimpática e redução da influência do marca‑passo. C) Redução da influência simpática, redução da influência parassimpática e redução da influência do marca‑passo. D) Aumento da influência simpática, aumento da influência parassimpática e aumento da influência do marca‑passo. E) Aumento da influência simpática, redução da influência parassimpática e redução da influência do marca‑passo. Resposta correta: alternativa B. renato Highlight renato Comment on Text Débito cardíaco ou Gasto cardíaco é o volume de sangue sendo bombeado pelo coração
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