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RODADA DE QUESTÕES PACOTE ANTICRIME RODADA DE QUESTÕES PACOTE ANTICRIME APRESENTAÇÃO Prezados concurseiros, As alterações introduzidas pela Lei nº 13.964/2019 na legislação pátria promoveram mudanças substanciais no tratamento da legislação penal e processual penal, com a modificação e introdução de diversos institutos. Em vista de sua novidade, a novel legislação tende a ser massivamente cobrada nos próximos concursos públicos. Nada obstante, embora estejam disponíveis no mercado inúmeros materiais doutrinários sobre o tema, o concurseiro não conta com questões a fim de aferir a apreensão do conteúdo. Dessa forma, esse material se propõe a auxiliar o concurseiro não só na execução do conteúdo apreendido, mas na árdua tarefa de estudar uma legislação que promoveu mudanças impactantes no ordenamento jurídico pátrio, contextualizando-o com questões pontuais que poderão ser objeto de cobrança pelas bancas de concurso. Assim, o material não se limita a fornecer questões, mas a dar um suporte doutrinário e jurisprudencial ao concurseiro, em quase 250 questões, distribuídas em mais de 200 páginas de conteúdo, para que este logre êxito na tão almejada APROVAÇÃO! Bons estudos! SOBRE AS AUTORAS Este material é autoral e foi integralmente confeccionado por: Jaynara Suassuna Nunes, bacharel em direito, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no ano de 2010, assistente de gabinete da 1ª Vara da Comarca de João Câmara/RN. Pós-graduada em Direito Civil e Processo Civil pela UFRN e em Penal e Processo Penal pela Estácio/CERS, modalidade EAD. Jéssica Vanessa Carlos Varela, bacharel em direito, formada pela Universidade Potiguar no ano de 2013, assistente de gabinete da Vara Única da Comarca de Florânia/RN. Viviane Salviano Fialho, bacharel em direito, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no ano de 2012, assistente de gabinete da Vara Única da Comarca de São José de Mipibu/RN. Pós-graduada em Direito Civil e Processo Civil pela UFRN. SUMÁRIO CÓDIGO PENAL – PARTE GERAL .............................................................................. 5 CÓDIGO PENAL – PARTE ESPECIAL ........................................................................ 5 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL ................................................................................. 5 LEI DE EXECUÇÃO PENAL ......................................................................................... 6 LEI DE CRIMES HEDIONDOS - Lei nº 8.072/90 ......................................................... 6 LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – Lei nº 8.429/92 ................................ 6 LEI DE INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS - Lei nº 9296/96 ................................... 7 LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO - Lei nº 9.613/98 .................................................. 7 ESTATUTO DO DESARMAMENTO - Lei nº 10.826/2003 .......................................... 7 LEI DE DROGAS - Lei nº 11.343/2006 .......................................................................... 7 LEI DOS PRESÍDIOS FEDERAIS - Lei nº 11.671/2018 .................................................. LEI DE IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL - Lei nº12.037/2009 ....... Erro! Indicador não definido. LEI DO JULGAMENTO COLEGIADO - Lei nº 12.694/2012 ....... Erro! Indicador não definido. LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS – Lei nº 12.850/2013 .............................. 8 LEI nº 13.608/2018 (whistleblower) ................................ Erro! Indicador não definido. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR ............................................................... 8 CÓDIGO PENAL – PARTE GERAL – GABARITO ..................................................... 9 CÓDIGO PENAL – PARTE ESPECIAL - GABARITO ................................................ 9 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – GABARITO ...................................................... 10 LEI DE EXECUÇÃO PENAL – GABARITO .............................................................. 16 LEI DE CRIMES HEDIONDOS - Lei 8.072/90 - GABARITO .................................... 16 LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – Lei nº 8.429/92 - GABARITO ...... 17 LEI DE INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS - Lei nº 9296/96 - GABARITO ......... 18 LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO – Lei nº 9.613/98 - GABARITO ....................... 19 ESTATUTO DO DESARMAMENTO - Lei nº 10.826/2003 - GABARITO ................ 20 LEI DE DROGAS - Lei nº 11.343/2006 - GABARITO ................................................ 21 LEI DOS PRESÍDIOS FEDERAIS - Lei nº 11.671/2018 - GABARITO ................. Erro! Indicador não definido. LEI DE IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL - Lei nº 12.037/2009 - GABARITO ........ Erro! Indicador não definido. LEI DO JULGAMENTO COLEGIADO - Lei nº 12.694/2012 - GABARITO ........ Erro! Indicador não definido. LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS – Lei nº 12.850/2013 – GABARITO .... 23 Lei 13.608/2018 (whistleblower) - GABARITO .............. Erro! Indicador não definido. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR - GABARITO ..................................... 24 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 26 5 CÓDIGO PENAL – PARTE GERAL 1. Considera-se em estrito cumprimento do dever legal o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes. ( ) CERTO ( ) ERRADO CÓDIGO PENAL – PARTE ESPECIAL 28. João estava em via pública tentando conectar o seu celular em algum wi-fi disponível para acessar um e-mail urgente. Ao observar aquela situação, Pedro apresentou-se como funcionário das Casas Bahia, perguntando se gostaria que ele colocasse a senha, que se encontrava anexada ao roteador no interior da loja, bastando que lhe entregasse o aparelho celular. Uma vez que estava em frente à loja, João, então, entregou a Pedro seu celular e permitiu que ele fosse ao interior do estabelecimento para registrar a senha do wi-fi no aparelho. 15 minutos depois, entendendo que Pedro estava demorando, João o procurou no interior do estabelecimento, descobrindo que, na verdade, Pedro nunca trabalhara no local e que deixara a localidade na posse do seu telefone. Os fatos são informados ao Ministério Público, que, com base nas informações expostas, denunciou Pedro pelo crime de estelionato, o qual se procede mediante ação penal pública incondicionada. ( ) CERTO ( ) ERRADO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL 31. O art. 3º-A, o qual foi introduzido pela Lei 13.964/2019 no CPP, reafirma que a estrutura do processo penal brasileiro é acusatória, permitindo a iniciativa do juiz na fase de investigação, vedada a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. ( ) CERTO ( ) ERRADO 6 122. Antônio foi processado pelo crime de homicídio qualificado, tendo respondido a todo o processo em liberdade, foi, por fim, condenado pelo Tribunal do Júri a uma pena igual a 16 anos de reclusão. Em conformidade com a Lei 13.964/2019, o cumprimento da pena privativa de liberdade poderá iniciar imediatamente, mesmo antes do trânsito em julgado da condenação. ( ) CERTO ( ) ERRADO LEI DE EXECUÇÃO PENAL 129. Como forma de assegurar o princípio do nemo tenetur se detegere, o apenado poderá se recusar à realização do exame de identificação do perfil genético, sem que lhe seja imposta qualquer penalidade. ( ) CERTO ( ) ERRADO LEI DE CRIMES HEDIONDOS - Lei nº 8.072/90 145. O Brasil adotou o sistema legal de definição dos crimes hediondos, assim, somente a lei que define, de forma taxativa, quais são os crimes hediondos. Com a Lei 13.964/2019, o roubo com emprego de arma de fogo, seja de uso permitido ou proibido, passou a ser crime hediondo. ( ) CERTO( ) ERRADO LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – Lei nº 8.429/92 154. Considerando a supremacia do interesse público sobre o privado, bem como a indisponibilidade do interesse público, inadmissível transação por ato de improbidade administrativa. 7 ( ) CERTO ( ) ERRADO LEI DE INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS - Lei nº 9296/96 157. A captação ambiental é um meio de obtenção de prova previsto exclusivamente prevista na Lei nº 12.850/13 e somente pode ser deferida no contexto das investigações referentes a crimes cometidos por organização criminosa. LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO - Lei nº 9.613/98 165. Para a apuração dos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores admite-se a utilização da ação controlada e da infiltração de agentes. ( ) CERTO ( ) ERRADO ESTATUTO DO DESARMAMENTO - Lei nº 10.826/2003 172. Configura crime impossível a venda ou entrega de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial em atuação disfarçada, por se tratar de hipótese de flagrante preparado, figura que faz incidir o art. 17 do Código Penal. ( ) CERTO ( ) ERRADO LEI DE DROGAS - Lei nº 11.343/2006 178. Aldo, delegado de polícia, recebeu em sua unidade policial denúncia anônima que imputava a Mauro a prática do crime de tráfico de drogas em um bairro da cidade. A denúncia veio acompanhada de imagens em que Mauro aparece entregando a terceira pessoa pacotes em plástico transparente com considerável quantidade de substância esbranquiçada e recebendo dessa pessoa quantia em dinheiro. 8 Em diligências realizadas, Aldo confirmou a qualificação de Mauro e, a partir das informações obtidas, instaurou IP para apurar o crime descrito no art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006 — Lei Antidrogas. Iniciado procedimento investigatório, um policial disfarçado foi até o local da venda das drogas e, fingindo ser usuário, adquiriu de Mario certa quantidade de droga. Logo após a finalização das negociações, foi dada voz de prisão a Mario que foi conduzido à delegacia para os procedimentos de praxe. Diante dessa situação hipotética, julgue: o flagrante de Mario padece de vício de ilegalidade. ( ) CERTO ( ) ERRADO LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS – Lei nº 12.850/2013 190. O acordo de colaboração premiada é negócio jurídico pré-processual e meio de prova, que pressupõe utilidade e interesse públicos. ( ) CERTO ( ) ERRADO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR 242. Ricardo, servidor da polícia militar do Rio de Janeiro, figura como investigado em diversos inquéritos policiais militares, cujos objetos se referem à investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional. Apesar de sigiloso o inquérito, o indiciado poderá constituir defensor, no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas, inclusive nas hipóteses dos arts. 42 a 47 do Código Penal Militar, tais como a excludente do crime de estado de necessidade, exercício regular de direito e excesso escusável. ( ) CERTO ( ) ERRADO 9 CÓDIGO PENAL – PARTE GERAL – GABARITO 1. Considera-se em estrito cumprimento do dever legal o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes. Resposta: ERRADO. Age em legítima defesa e não em estrito cumprimento do dever legal o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes. Nos termos do art. 25, parágrafo único, do Código Penal: “considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes”. Percebe-se que a nova lei somente confirmou o que já era entendimento da doutrina e jurisprudência. Importa ressaltar não poder o agente estar protegido pela excludente de ilicitude do estrito cumprimento do dever legal, haja vista não existir, no Brasil, lei que permita matar, salvo em caso de guerra declarada. CÓDIGO PENAL – PARTE ESPECIAL - GABARITO 28. João estava em via pública tentando conectar o seu celular em algum wi-fi disponível para acessar um e-mail urgente. Ao observar aquela situação, Pedro apresentou-se como funcionário das Casas Bahia, perguntando se gostaria que ele colocasse a senha, que se encontrava anexada ao roteador no interior da loja, bastando que lhe entregasse o aparelho celular. Uma vez que estava em frente à loja, João, então, entregou a Pedro seu celular e permitiu que ele fosse ao interior do estabelecimento para registrar a senha do wi-fi no aparelho. 15 minutos depois, entendendo que Pedro estava demorando, João o procurou no interior do estabelecimento, descobrindo que, na verdade, Pedro nunca trabalhara no local e que deixara a localidade na posse do seu telefone. Os fatos são informados ao Ministério Público, que, com base nas informações expostas, denunciou Pedro pelo crime de estelionato, o qual se procede mediante ação penal pública incondicionada. 10 Resposta: ERRADO. O estelionato, tipificado no art. 171, caput e as figuras equiparadas trazidas no §2º, antes da Lei 13.964/2019, deveriam processar mediante ação penal pública incondicionada. As exceções ficavam a cargo do art. 182 do CP. O Pacote Anticrime tornou o estelionato, em regra, crime de ação penal pública condicionada à representação, salvo se a vítima for: I - a Administração Pública, direta ou indireta; II - criança ou adolescente; III - pessoa com deficiência mental; ou IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.” ANTES DA LEI Nº 13.964/2019 DEPOIS DA LEI Nº 13.964/2019 Qual a ação penal no caso do crime de estelionato? Ação penal pública incondicionada. Qual a ação penal no caso do crime de estelionato? Em regra, é crime de ação penal pública condicionada à representação. Exceções: Será de ação penal pública incondicionada quando a vítima for: I - a Administração Pública, direta ou indireta; II - criança ou adolescente; III - pessoa com deficiência mental; ou IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. A inclusão do §5º alterou o panorama anterior, tornando o crime de estelionato, via de regra, de ação penal pública condicionada à representação, trazendo as exceções nos incisos, as quais deverão ser processadas mediante ação penal pública incondicionada. Assim, não basta que a vítima comunique o fato criminoso à autoridade policial, sendo agora necessário, em regra, formalizar sua vontade de que o Estado persiga o autor do referido delito. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – GABARITO 31. O art. 3º-A, o qual foi introduzido pela Lei 13.964/2019 no CPP, reafirma que a estrutura do processo penal brasileiro é acusatória, permitindo a iniciativa do juiz na fase de investigação, vedada a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. 11 Resposta: ERRADO. A Lei 13.964/2019 vem reafirmar que a estrutura do processo penal brasileiro é acusatória, contudo, apesar da criação da figura denominada “juiz de garantias”, não é permitida a iniciativa do magistrado na fase de investigação. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais. Apesar de não existir expressamente no texto constitucional que o processo penal brasileiro é acusatório, essa interpretação pode ser extraída do art. 129, I da CF . Assim, a partir do momento em que a CF atribui a órgão diverso do Poder Judiciário a função de acusar, significa que o sistema brasileiro é acusatório. E a intervenção ex officio do magistrado na fase de investigação, também chamada de iniciativa acusatória, é incompatível com o sistema acusatório. Vejamos as principaisdiferenças: SISTEMA INQUISITORIAL SISTEMA ACUSATÓRIO Todas as funções são concentradas no juiz inquisidor: acusar, defender e julgar. Há a separação das funções. A gestão da prova fica nas mãos do juiz. A gestão da prova recai sobre as partes. Comprometimento da imparcialidade do magistrado. Imparcialidade do magistrado. O acusado não é sujeito de direitos. O acusado é sujeito de direitos. No sistema inquisitorial, trabalha-se com a ideia da verdade real. No sistema acusatório, trabalha-se com a verdade processual. Pode parecer distante a ideia da presença do sistema inquisitorial no processo penal brasileiro, contudo, há alguns anos atrás foi necessária a manifestação do STF para reafirmar a sua incompatibilidade. Na ADI 1.570, o STF entendeu que a revogada Lei 9.034/95 seria inconstitucional por violar o sistema acusatório e a imparcialidade, in verbis: EMENTA: “AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 9034/95. LEI COMPLEMENTAR 105/01. SUPERVENIENTE. HIERARQUIA SUPERIOR. REVOGAÇÃO IMPLÍCITA. AÇÃO PREJUDICADA, EM PARTE. "JUIZ DE INSTRUÇÃO". REALIZAÇÃO DE 12 DILIGÊNCIAS PESSOALMENTE. COMPETÊNCIA PARA INVESTIGAR. INOBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. IMPARCIALIDADE DO MAGISTRADO. OFENSA. FUNÇÕES DE INVESTIGAR E INQUIRIR. MITIGAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DAS POLÍCIAS FEDERAL E CIVIL. 1. Lei 9034/95. Superveniência da Lei Complementar 105/01. Revogação da disciplina contida na legislação antecedente em relação aos sigilos bancário e financeiro na apuração das ações praticadas por organizações criminosas. Ação prejudicada, quanto aos procedimentos que incidem sobre o acesso a dados, documentos e informações bancárias e financeiras. 2. Busca e apreensão de documentos relacionados ao pedido de quebra de sigilo realizadas pessoalmente pelo magistrado. Comprometimento do princípio da imparcialidade e conseqüente violação ao devido processo legal. 3. Funções de investigador e inquisidor. Atribuições conferidas ao Ministério Público e às Polícias Federal e Civil (CF, artigo 129, I e VIII e § 2o; e 144, § 1o, I e IV, e § 4o). A realização de inquérito é função que a Constituição reserva à polícia. Precedentes. Ação julgada procedente, em parte” (ADI 1570. Relator Mn. Maurício Corrêa. Julgada em 12/02/2004. DJ 22/10/2004). No HC 94.641, o STF também entendeu que houve violação ao sistema acusatório e à imparcialidade. EMENTA: “HABEAS CORPUS. Processo Penal. Magistrado que atuou como autoridade policial no procedimento preliminar de investigação de paternidade. Vedação ao exercício jurisdicional. Impedimento. Art. 252, incisos I e II, do Código de Processo Penal. Ordem concedida para anular o processo desde o recebimento da denúncia.” (HC 94.641, Rel. Min. Ellen Gracie. Julgado em 11/11/2008. Segunda Turma. DJe 05/03/2009). Indaga-se: Durante a fase processual, o juiz ainda teria a chamada iniciativa probatória? O juiz ainda poderia produzir provas de ofício na fase processual? Para essa questão há duas correntes: • 1ª Corrente: A iniciativa probatória é compatível com o sistema acusatório e com a garantia da imparcialidade. (Antônio Scarance Fernandes e Gustavo Badaró). • 2ª Corrente – Mesmo antes da Lei 13.964/2019, essa corrente já afirmava que a iniciativa probatória é inconstitucional (Geraldo Prado). Esse tema é bastante polêmico. O CPP autoriza a produção de provas de ofício pelo juiz durante o trâmite processual ou antes do julgamento no art. 156, CPP: “Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: 13 I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.” Na opinião do professor Renato Brasileiro: “a redação do art. 3º-A do CPP vem ao encontro da segunda corrente, no sentido de dizer que já não se pode mais admitir a iniciativa probatória do magistrado na fase processual. Vale ressaltar que o Enunciado 5 da PGJ-CGMP foi emitido preceituando que: “ O art. 3º-A do CPP não revogou os incisos I e II do art. 156 do mesmo diploma, salvo no caso do inciso I no que tange à possibilidade de determinar de ofício a produção antecipada da prova na fase investigatória”. Conclui-se, portanto, que o dispositivo inserido tem por objetivo deixar claro que o Brasil adota o sistema acusatório, em que as funções de acusar, defender e julgar são exercidas por sujeitos processuais bem distintos. “Para além disso, é de todo relevante que o juiz não seja o gestor da prova, cuja produção deve ficar a cargo das partes. Afinal, enquanto o juiz não se mantiver estranho à atividade investigatória e instrutória como um mero observador, tendo liberdade para produzir atos investigatórios e probatórios de ofício a qualquer momento da persecução penal, não há falar em um magistrado verdadeiramente imparcial.” 1 122. Antônio foi processado pelo crime de homicídio qualificado, tendo respondido a todo o processo em liberdade, foi, por fim, condenado pelo Tribunal do Júri a uma pena igual a 16 anos de reclusão. Em conformidade com a Lei 13.964/2019, o cumprimento da pena privativa de liberdade poderá iniciar imediatamente, mesmo antes do trânsito em julgado da condenação. Resposta: CERTO. A Lei 13.964/2019 alterou o art. 492 do Código de Processo Penal para dizer que, se o réu for condenado, pelo Tribunal do Júri, a uma pena igual ou superior a 15 anos de reclusão, será possível a execução provisória da pena, ou seja, iniciará o cumprimento da pena privativa de liberdade, mesmo que tenha interposto apelação, portanto, mesmo antes do trânsito em julgado da condenação. 1 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8ª ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2020 14 A execução provisória da pena é o início do cumprimento da pena imposta, mesmo que a decisão condenatória ainda não tenha transitado em julgado (cabe recursos). O principal argumento daqueles que são contrários à execução provisória da pena é a alegação de que ela violaria o princípio da presunção de inocência, previsto no art. 5º, LVII, da CF/88, o qual prevê que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. O entendimento atual do STF é pela proibição da execução provisória da pena. Vejamos: “Se não houve ainda trânsito em julgado, não se pode determinar que o réu inicie o cumprimento provisório da pena. Não importa que os recursos pendentes possuam efeito meramente devolutivo (sem efeito suspensivo). Não existe cumprimento provisório da pena no Brasil porque ninguém pode ser considerado culpado antes do trânsito em julgado (art. 5º, LVII, da CF/88).O art. 283 do CPP, que exige o trânsito em julgado da condenação para que se inicie o cumprimento da pena, é constitucional, sendo compatível com o princípio da presunção de inocência, previsto no art. 5º, LVII, da CF/88.” (STF. Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 7/11/2019). Existe uma corrente que defende que seria possível a execução provisória da pena em caso de condenações proferidas pelo Tribunal do Júri. Essa posição está baseada na ideia de que, se o indivíduo foi condenado pelo Tribunal do Júri, mesmo que ele interponha apelação, o Tribunal não poderá reapreciar os fatos e provas, considerando que a responsabilidade penal do réu já foi assentada soberanamente pelo Júri. A Constituição Federal prevê a competência do Tribunal do Júri para o julgamento de crimes dolosos contra a vida (art. 5º, XXXVIII, “d”), ressaltando, ademais, a soberania dos veredictos(art. 5º, XXXVIII, “c”). Isso significa que os Tribunais não podem substituir a decisão proferida pelo júri popular, podendo, no máximo, determinar a realização de novo júri. Contudo, prevalece que essa tese não foi acolhida pelo STF: “Não é possível a execução provisória da pena mesmo em caso de condenações pelo Tribunal do Júri.” (STF. 2ª Turma. HC 163814 ED/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/11/2019) Apesar de prevalecer no STF a proibição da execução provisória da pena, existe decisão da 1ª Turma do STF em sentido contrário, ou seja, afirmando que “a prisão de réu condenado por decisão do Tribunal do Júri, ainda que sujeita a recurso, não viola o princípio constitucional da presunção de inocência ou não-culpabilidade.” (STF. 1ª Turma. HC 118770, Relator p/ Acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 07/03/2017). 15 Assim, 1ª Turma do STF entendeu pela possibilidade da execução provisória da pena, como consequência da soberania dos veredictos do Tribunal do Júri. Contudo, essa decisão da 1ª Turma foi tomada antes do resultado das ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, julgadas em 7/11/2019. Vale ressaltar, portanto, que a constitucionalidade do dispositivo inserido pela Lei 13.964/2019 deverá ser analisada em breve. O STF vai decidir se a soberania dos vereditos do Tribunal do Júri, prevista na Constituição Federal, autoriza a imediata execução de pena imposta pelo Conselho de Sentença. O tema será apreciado no Recurso Extraordinário nº 1.235.340, cujo relator é o ministro Luís Roberto Barroso, tendo havido, inclusive, o reconhecimento de Repercussão Geral. Em pesquisa realizada no site do STF, no dia 23/05/2020, observa-se decisão proferida nos autos do RE nº 1.235.340 no dia 05/05/2020, a qual trazemos como forma de atualização, deixando claro que resta pendente a decisão definitiva sobre a questão. “Decisão: Após os votos dos Ministros Roberto Barroso (Relator) e Dias Toffoli (Presidente), que conheciam e davam provimento ao recurso extraordinário para negar provimento ao recurso ordinário em habeas corpus, fixando, para tanto, a seguinte tese de julgamento (tema 1.068 da repercussão geral): "A soberania dos veredictos do Tribunal do Júri autoriza a imediata execução de condenação imposta pelo corpo de jurados, independentemente do total da pena aplicada"; e do voto do Ministro Gilmar Mendes, que negava provimento ao recurso extraordinário de modo a manter a vedação à execução imediata da pena imposta pelo Tribunal do Júri, assentando a seguinte tese: "A Constituição Federal, levando em conta a presunção de inocência (art. 5º, inciso LV), e a Convenção Americana de Direitos Humanos, em razão do direito de recurso do condenado (art. 8.2.h), vedam a execução imediata das condenações proferidas por Tribunal do Júri, mas a prisão preventiva do condenado pode ser decretada motivadamente, nos termos do art. 312 do CPP, pelo Juiz Presidente a partir dos fatos e fundamentos assentados pelos Jurados" e, ao final, declarava a inconstitucionalidade da nova redação determinada pela Lei 13.964/2019 ao art. 492, I, e, do Código de Processo Penal. Pediu vista dos autos o Ministro Ricardo Lewandowski.” 16 LEI DE EXECUÇÃO PENAL – GABARITO 129. Como forma de assegurar o princípio do nemo tenetur se detegere, o apenado poderá se recusar à realização do exame de identificação do perfil genético, sem que lhe seja imposta qualquer penalidade. Resposta: ERRADO. Embora o ordenamento jurídico assegure ao acusado o direito de não produção de provas contra si (art. 5º, LXIII, CF e art. 186, CPP), a submissão ao exame de identificação do perfil genético constitui uma obrigatoriedade prevista em lei, configurando a recusa falta grave. Dessa forma, o art. 9º-A previu em seu novo §8º a infração disciplinar configuradora de falta grave relativa à recusa do condenado em submeter-se ao procedimento de identificação criminal. Para dar correta aplicação à nova previsão, o PAC também acrescentou ao art. 50 da LEP o inciso VIII, que prevê justamente o seguinte: Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: VIII - recusar submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético. LEI DE CRIMES HEDIONDOS - Lei 8.072/90 - GABARITO 145. O Brasil adotou o sistema legal de definição dos crimes hediondos, assim, somente a lei que define, de forma taxativa, quais são os crimes hediondos. Com a Lei 13.964/2019, o roubo com emprego de arma de fogo, seja de uso permitido ou proibido, passou a ser crime hediondo. Resposta: CERTO. A base normativa da tipificação dos crimes hediondos é a própria Constituição Federal que, em seu art. 5º, XLIII, prevê um mandado de criminalização de condutas, bem como para que recrudesça a pena e diminua os benefícios penais de determinados crimes, como é o caso dos considerados hediondos. A tipificação dos crimes hediondos surgiu no contexto do Direito Penal Máximo, que entende o Direito Penal como o meio de controle social mais eficaz por restringir o direito de liberdade do ser humano, devendo, portanto, ser a solução adotada sempre em primeiro lugar. Tal movimento baseia-se na ideia da repressão, para o qual a pena se justifica por meio das ideias de retribuição e castigo. Os adeptos desse movimento pregam que somente as leis severas, que imponham longas penas privativas de liberdade ou até mesmo a pena de morte, têm o condão de controlar e inibir a prática de delitos. 17 A lei de crimes hediondos não cria crimes, ela apenas prevê tratamento diferenciado a tipos penais já existentes. O sistema adotado no Brasil para tipificação de crimes hediondos é o sistema legal, segundo o qual crime hediondo é aquele rotulado como tal pelo legislador. Feita essa contextualização do tema, antes da Lei 13.964/2019 o roubo só era considerado hediondo quando qualificado pela morte (latrocínio). Agora, novas modalidades de roubo foram incluídas no rol de crimes hediondos, quais sejam: a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima; b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, §2°-A, I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito e c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte. LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – Lei nº 8.429/92 - GABARITO 154. Considerando a supremacia do interesse público sobre o privado, bem como a indisponibilidade do interesse público, inadmissível transação por ato de improbidade administrativa. Resposta: ERRADO. A jurisprudência do STJ já vinha se posicionando pela admissibilidade do compromisso de ajustamento de conduta no âmbito das ações de improbidade administrativa: “(…) no caso concreto, a análise do ato de improbidade administrativa, sob a perspectiva da extensão do dano, da gravidade do fato e do proveito patrimonial obtido, à luz dos princípios constitucionais da proporcionalidade, da razoabilidade e da eficiência, poderá levar à conclusão da suficiência de eventual ressarcimento ao erário, cumulado ou não com outras sanções, como resposta do Estado ao ilícito praticado” (STJ. AgRg no AREsp 126660/SC, 1ª T., Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 04/09/2014). O artigo 17, §1º, da Lei 8.429/1992, em sua redação originária, vedava a celebração de transação, acordo ou conciliação nas ações de improbidade administrativa. Agora, com a redação dada pela Lei 13.964/2019 (Lei Anticrime), referida norma passou a admitir expressamente a solução consensual, nos seguintes termos: “As ações de que trata este artigo admitem a celebração de acordo de não persecução cível, nos termos desta Lei”. 18 Assim, com o advento da Lei nº 13.964/2019 encerrou-se a discussão acerca da possibilidade de celebração de acordo de não persecução cível nos casos envolvendo improbidade administrativa. A expressão “acordo de não persecução cível” designa a ideia de autocomposição na esferade improbidade administrativa, que torna desnecessária a propositura ou a continuidade da ação eventualmente proposta com o objetivo principal de impor sanções ao agente ímprobo. Por outras palavras, estabeleceu-se, no plano normativo, instituto de consensualidade e cooperação que permite a conciliação antes ou depois da propositura da ação de improbidade administrativa. O acordo de não persecução cível tem natureza jurídica de negócio jurídico, na medida em que depende da clara e livre manifestação de vontade das partes. Embora os efeitos mais importantes deste negócio jurídico estejam previstos na lei, a declaração de vontade, ínsita ao acordo de não persecução cível, tornará específica a forma de incidência da norma no caso concreto, vinculando os pactuantes aos efeitos expressos no ajuste2. LEI DE INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS - Lei nº 9296/96 - GABARITO 157. A captação ambiental é um meio de obtenção de prova previsto exclusivamente prevista na Lei nº 12.850/13 e somente pode ser deferida no contexto das investigações referentes a crimes cometidos por organização criminosa. Resposta. ERRADO. A Lei nº 13.964/2019 veio suprir uma lacuna há muito criticada pela doutrina especializada, pois a captação de sinais eletromagnéticos apenas era prevista na Lei nº 12.850/13. Com a inovação, foi introduzido o art. 8ºA à Lei nº 9.296/96 possibilitando a utilização de captação ambiental como meio de prova. A captação ambiental distingue-se da interceptação telefônica por se tratar de meio de obtenção de prova voltado a captação de imagens, sons e quaisquer outros sinais eletromagnéticos. 2 Por Landolfo Andrade Disponível em < http://genjuridico.com.br/2020/03/05/acordo-de-nao-persecucao-civel/> Acesso em 30 de maio de 2020. http://genjuridico.com.br/2020/03/05/acordo-de-nao-persecucao-civel/ 19 Apesar de haver posições em sentido contrário, a expressão “captação” ambiental deve ser tomada como um gênero, do qual são espécies a interceptação, a escuta e a gravação ambiental. INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL ESCUTA AMBIENTAL GRAVAÇÃO AMBIENTAL Ocorre quando um terceiro capta o diálogo ou as imagens envolvendo duas ou mais pessoas, sem que nenhum dos alvos saiba. Ocorre quando um terceiro capta o diálogo ou as imagens envolvendo duas ou mais pessoas, sendo que um dos alvos sabe que está sendo realizada a escuta. Ocorre quando o diálogo ou as imagens envolvendo duas ou mais pessoas é captado, sendo que um dos alvos é o autor dos registros. Também é chamada de gravação ambiental clandestina (obs: a palavra “clandestina” está empregada não na acepção de “ilícito”, mas sim no sentido de “feito às ocultas”). LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO – Lei nº 9.613/98 - GABARITO 165. Para a apuração dos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores admite-se a utilização da ação controlada e da infiltração de agentes. Resposta: CERTO. O PAC acrescenta ao art. 1º da Lei 9.613/98 o § 6º, o qual expressa exatamente a possibilidade de utilização da ação controlada e da infiltração de agentes. Nos termos do art. Art. 4º-B da Lei 9.613/98, introduzido pela Lei 13.964/2019, “a ordem de prisão de pessoas ou as medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores poderão ser suspensas pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua execução imediata puder comprometer as investigações”. Desta feita, é possível que o juiz determine a suspensão da ordem de prisão de pessoas ou das medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores quando a execução imediata puder comprometer as investigações, seja por impedir a impedir a identificação de outros criminosos envolvidos, seja por impedir a descoberta de outros bens objeto dos crimes previstos (princípio da oportunidade). 20 A chamada ação controlada consiste no retardamento da intervenção do aparato estatal, que deve ocorrer no momento mais oportuno do ponto de vista da investigação criminal e tem por função permitir ao magistrado identificar outros criminosos ou outros crimes que dificilmente seriam descobertos caso a ordem de prisão ou de medidas acautelatórias fossem cumpridas de plano. A infiltração de agentes é uma técnica especial de investigação por meio da qual um policial, escondendo sua real identidade, finge ser também um criminoso a fim de ingressar na organização criminosa e, com isso, poder coletar elementos informativos a respeito dos delitos que são praticados, identificando a forma de atuação, os locais onde atuam, o produto dos delitos e qualquer outra prova que sirva ao processo penal. Portanto, a utilização da ação controlada e da infiltração de agentes na Lei 9.613/98 torna mais eficiente a persecução penal dos crimes. ESTATUTO DO DESARMAMENTO - Lei nº 10.826/2003 - GABARITO 172. Configura crime impossível a venda ou entrega de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial em atuação disfarçada, por se tratar de hipótese de flagrante preparado, figura que faz incidir o art. 17 do Código Penal. Resposta: ERRADO. O PAC regulamentou a figura dos agentes disfarçados, prescrevendo que incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente (Art. 17, §2º, Lei nº 10.826/2003). O PAC também amplia para o crime do art. 18 (tráfico internacional de arma de fogo) a referida figura. Com efeito, o novo parágrafo único deste dispositivo legal dispõe que: “incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo, acessório ou munição, em operação de importação, sem autorização da autoridade competente, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente”. Por agente disfarçado tem-se aquele que, ocultando sua real identidade, posiciona-se com aparência de um cidadão comum (não chega a infiltrar-se no grupo criminoso) e, 21 partir disso, coleta elementos que indiquem a conduta criminosa preexistente do sujeito ativo. O agente disfarçado ora em estudo não se insere no seio do ambiente criminoso e tampouco macula a voluntariedade na conduta delitiva do autor dos fatos3. Esta figura não se confunde com aquela do agente infiltrado, que, segundo a definição da jurisprudência do STF trata-se “daquele cuja atuação é repressiva e investigativa, ou buscando investigar organização criminosa já existente e a prática de crimes já consumados ou em consumação, logo a finalidade é justamente a de investigar crime específico, buscando, com as informações angariadas, desbaratar a organização criminosa (STF. HC 147.837/RJ, 2ª T., Rel. Min. Gilmar Mendes, 26/02/2019)”. A validade da atuação do agente disfarçado, que independe de prévia autorização judicial, está condicionada à presença de elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente, característica esta que afasta a configuração de flagrante preparado. Dessa forma, não esbarra no óbice da Súmula 145, STF, segundo a qual “não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”. LEI DE DROGAS - Lei nº 11.343/2006 - GABARITO 178. Aldo, delegado de polícia, recebeu em sua unidade policial denúncia anônima que imputava a Mauro a prática do crime de tráfico de drogas em um bairro da cidade. A denúncia veio acompanhada de imagens em que Mauro aparece entregando a terceira pessoa pacotes em plástico transparente com considerável quantidade de substância esbranquiçada e recebendo dessa pessoa quantia em dinheiro. Em diligências realizadas, Aldo confirmou a qualificação de Mauro e, a partir das informaçõesobtidas, instaurou IP para apurar o crime descrito no art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006 — Lei Antidrogas. Iniciado procedimento investigatório, um policial disfarçado foi até o local da venda das drogas e, fingindo ser usuário, adquiriu de Mario certa quantidade de droga. Logo após a finalização das negociações, foi dada voz de prisão a Mario que foi conduzido à delegacia para os procedimentos de praxe. 3 Disponível em https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/12/27/nova-figura-agente- disfarcado-prevista-na-lei-13-9642019/ Acesso em 29 de maio de 2020. https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/12/27/nova-figura-agente-disfarcado-prevista-na-lei-13-9642019/ https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/12/27/nova-figura-agente-disfarcado-prevista-na-lei-13-9642019/ 22 Diante dessa situação hipotética, julgue: o flagrante de Mario padece de vício de ilegalidade. Resposta: ERRADO. Agente disfarçado: Por agente disfarçado tem-se aquele que, ocultando sua real identidade, posiciona-se com aparência de um cidadão comum (não chega a infiltrar-se no grupo criminoso) e, partir disso, coleta elementos que indiquem a conduta criminosa preexistente do sujeito ativo. O agente disfarçado ora em estudo não se insere no seio do ambiente criminoso e tampouco macula a voluntariedade na conduta delitiva do autor dos fatos4. Flagrante preparado: O flagrante preparado (também conhecido como flagrante provocado, crime de ensaio, delito de experiência) é aquele que ocorre por ação do chamado “agente provocador” – que induz, convence alguém a praticar suposto delito e, ao mesmo tempo, toma providências para impedir a consumação. Nesse sentido, eis a Súmula 145, STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. Modificação introduzida pela Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime): Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: § 1º Nas mesmas penas incorre quem: [...] IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) O PAC cria a figura equiparada ao tráfico e regulamenta a atuação disfarçada do policial. Neste caso, o fato de o legislador ter tipificado, como crime autônomo, o envolvimento preexistente - por isso, voluntário - do investigado com a venda ou entrega desses artefatos ao policial, já será o suficiente para que se possa atestar o preenchimento de todas as elementares da figura típica, autorizando, pois, não apenas eventual prisão em flagrante, mas também a deflagração da persecução penal. 4Disponível em https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/12/27/nova-figura-agente- disfarcado-prevista-na-lei-13-9642019/ Acesso em 29 de maio de 2020. https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/12/27/nova-figura-agente-disfarcado-prevista-na-lei-13-9642019/ https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/12/27/nova-figura-agente-disfarcado-prevista-na-lei-13-9642019/ 23 A validade da atuação do agente disfarçado, que independe de prévia autorização judicial, está condicionada à presença de elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente, característica esta que afasta a configuração de flagrante preparado. Por fim, a atuação do agente disfarçado não está condicionada à autorização judicial prévia, nem tampouco de prévia comunicação ao juiz competente, como se exige no caso da ação controlada. LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS – Lei nº 12.850/2013 – GABARITO 190. O acordo de colaboração premiada é negócio jurídico pré-processual e meio de prova, que pressupõe utilidade e interesse públicos. Resposta: ERRADO. O acordo de colaboração premiada é negócio jurídico processual e meio de obtenção de prova, que pressupõe utilidade e interesse públicos (art. 3º-A da Lei 12.850/13). Nas palavras de Renato Brasileiro, a colaboração premiada é uma técnica especial de investigação por meio da qual o coautor e/ou partícipe da infração penal, além de confessar seu envolvimento no fato delituoso, fornece aos órgãos responsáveis pela persecução penal informações objetivamente eficazes para a consecução de um dos objetivos previstos em lei, recebendo em contrapartida, determinado prêmio legal. O primeiro erro da questão se destaca no termo pré-processual, sendo o acordo de colaboração premiada um negócio jurídico processual. O PAC trouxe a consagração de sua natureza jurídica de negócio jurídico processual, aditando a ela os pressupostos de utilidade e interesse públicos. O segundo equívoco da questão se refere a afirmação de que a colaboração premiada é um meio de prova. Importante ressaltar que a colaboração premiada já era tratada como meio de obtenção de prova desde antes da Lei nº 13.964/2019. Em que pese os termos meios de prova e meios de obtenção de prova parecerem sinônimos, trazem distinções profundas. Os meios de prova são os meios utilizados pelas partes no processo para o convencimento do juiz, que remontem à formação do fato criminoso (Ex. prova testemunhal, documental, etc). 24 Já os meios de obtenção de prova são os meios que objetivam adquirir a prova em si, servindo de instrumentos para o alcance desta (Ex. interceptação telefônica, busca e apreensão, etc). Em síntese, a principal diferença entre meio de prova e meio de obtenção de prova está no fato que de o primeiro é a própria prova (em si), e o segundo se revela no procedimento para se chegar à prova propriamente dita. Por fim, o Supremo Tribunal Federal, em vários julgados, já se referiu à colaboração como um meio de obtenção de prova e como um negócio jurídico processual (STF. PET 7074/DF. Pleno, Rel. Min. Edson Fachin, 29/06/2017). CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR - GABARITO 242. Ricardo, servidor da polícia militar do Rio de Janeiro, figura como investigado em diversos inquéritos policiais militares, cujos objetos se referem à investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional. Apesar de sigiloso o inquérito, o indiciado poderá constituir defensor, no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas, inclusive nas hipóteses dos arts. 42 a 47 do Código Penal Militar, tais como a excludente do crime de estado de necessidade, exercício regular de direito e excesso escusável. Resposta: CERTO. O sigilo do inquérito, já inserido na lei processual penal, já permitia que fosse dado conhecimento ao advogado do indiciado no art. 16 do CPPM. Todavia, a Lei 13.964/2019 acrescentou o art. 16-A ao Código de Processo Penal Militar, prescrevendo as situações permitidas quando o objeto da investigação diz respeito aos fatos relacionados ao uso de força letal praticados no exercício da profissão, de forma consumada ou tentada. Vejamos os dispositivos do CPPM e as hipóteses elencadas no Código Penal Militar, in verbis: Código de Processo Penal Militar: “Art. 16-A. Nos casos em que servidores das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares figurarem como investigados em inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas nos arts. 42 a 47do Código Penal Militar, o indiciado poderá constituir defensor.” 25 Código Penal Militar: “Exclusão de crime - Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento do dever legal; IV - em exercício regular de direito. Parágrafo único. Não há igualmente crime quando o comandante de navio, aeronave ou praça de guerra, na iminência de perigo ou grave calamidade, compele os subalternos, por meios violentos, a executar serviços e manobras urgentes, para salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror, a desordem, a rendição, a revolta ou o saque. Estado de necessidade, como excludente do crime - Art. 43. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para preservar direito seu ou alheio, de perigo certo e atual, que não provocou, nem podia de outro modo evitar, desde que o mal causado, por sua natureza e importância, é consideravelmente inferior ao mal evitado, e o agente não era legalmente obrigado a arrostar o perigo. Legítima defesa - Art. 44. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Excesso culposo - Art. 45. O agente que, em qualquer dos casos de exclusão de crime, excede culposamente os limites da necessidade, responde pelo fato, se êste é punível, a título de culpa. Excesso escusável - Parágrafo único. Não é punível o excesso quando resulta de escusável surprêsa ou perturbação de ânimo, em face da situação. Excesso doloso - Art. 46. O juiz pode atenuar a pena ainda quando punível o fato por excesso doloso. Elementos não constitutivos do crime Art. 47. Deixam de ser elementos constitutivos do crime: I - a qualidade de superior ou a de inferior, quando não conhecida do agente; II - a qualidade de superior ou a de inferior, a de oficial de dia, de serviço ou de quarto, ou a de sentinela, vigia, ou plantão, quando a ação é praticada em repulsa a agressão.” Ademais, o Pacote Anticrime disciplinou a defesa do investigado no §1º do art. 16-A do CPPM, o qual deverá ser citado da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação. Esgotado esse prazo sem nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que esta, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação do investigado. 26 REFERÊNCIAS AVENA. Norberto Cláudio Pêncaro. Processo penal: esquematizado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: MÉTODO, 2015. CABETTE, Eduardo Luiz Santos; CARUSO, Gianfranco Silva. Lei anticrime e crimes hediondos. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 25, n. 6090, 4 mar. 2020. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/79849. Acesso em: 26 de maio de 2020. CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Anuário de Atualidades Jurídicas de 2019. Encarte integrante do Vade Mecum 2020. 7ª ed. Ed. JusPodivm, 2020. CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não é possível a execução provisória da pena mesmo em caso de condenações pelo Tribunal do Júri. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/803a82dee7e3fbb3 438a149508484250>. Acesso em: 23 de maio de 2020. CUNHA, Rogério Sanches. A nova figura do agente disfarçado prevista na Lei 13.964/2019. Disponível em: https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/12/27/nova-figura-agente- disfarcado-prevista-na-lei-13-9642019/. Acesso em: 21 de maio de 2020. LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8ª ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2020. LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Criminal Especial Comentada. 8ª ed. Salvador: Ed. Juspodivm, 2020. LOPES JUNIOR, Aury Direito processual penal / Aury Lopes Junior. – 17. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020. TAVORA, Nestor e ALENCAR Rosmar Rodrigues. Comentários ao Anteprojeto da Lei Anticrime. Salvador. Ed. Juspodivm, 2019. E-book “Pacote Anticrime – As modificações no sistema de justiça criminal brasileiro” de autoria de Estácio Luiz e Pedro Tenório, ano 2020. Material disponibilizado gratuitamente pelo proprietário do perfil no Instagram @parquet_jurídico, acessível através do link: https://drive.google.com/file/d/1X6jWh9O7tVdnY_Fu-FaqAhpasrZgI0Sf/view. Acesso em 19 de março de 2020. Material Pacote Anticrime, Curso Vipjus. Disponível em https://materiais.vipjus.com.br/material-pacote-anticrime. Acesso em 12 de maio de 2020. https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/803a82dee7e3fbb3438a149508484250 https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/803a82dee7e3fbb3438a149508484250 https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/author/rogerio-renee-caroline/ https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/12/27/nova-figura-agente-disfarcado-prevista-na-lei-13-9642019/ https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/12/27/nova-figura-agente-disfarcado-prevista-na-lei-13-9642019/ https://drive.google.com/file/d/1X6jWh9O7tVdnY_Fu-FaqAhpasrZgI0Sf/view https://materiais.vipjus.com.br/material-pacote-anticrime 27 Metzker, David. Lei Anticrime (Lei 13.964/2019): Comentários às modificações no CP, CPP, LEP, Lei de Drogas e Estatuto do Desarmamento / David Metzker – Timburi, SP: Editora Cia do eBook, 2020. Jurisprudência e comentários a leis e julgados: site Dizer o Direito.
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