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Linguistica - UNIT

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Linguística
Viviane Gomes de Deus
Danilo Maciel Machado
Jouberto Uchôa de Mendonça
Reitor
Amélia Maria Cerqueira Uchôa
Vice-Reitora
Jouberto Uchôa de Mendonça Junior
Pró-Reitoria Administrativa - PROAD
Ihanmark Damasceno dos Santos
Pró-Reitoria Acadêmica - PROAC
Domingos Sávio Alcântara Machado
Pró-Reitoria Adjunta de Graduação - PAGR
Temisson José dos Santos
Pró-Reitoria Adjunta de Pós-Graduação
e Pesquisa - PAPGP
Gilton Kennedy Sousa Fraga
Pró-Reitoria Adjunta de Assuntos 
Comunitários e Extensão - PAACE
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Gerente do Núcleo de Educação a Distância - Nead
Andrea Karla Ferreira Nunes
Coordenadora Pedagógica de Projetos - Nead
Lucas Cerqueira do Vale
Coordenador de Tecnologias Educacionais - Nead
Equipe de Elaboração e Produção de Conteúdos 
Midiáticos: 
Alexandre Meneses Chagas - Supervisor 
Ancéjo Santana Resende - Corretor
Claudivan da Silva Santana - Diagramador
Edivan Santos Guimarães - Diagramador
Geová da Silva Borges Junior - Ilustrador
Márcia Maria da Silva Santos - Corretora
Matheus Oliveira dos Santos - Ilustrador
Monique Lara Farias Alves - Webdesign
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Redação:
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Impressão:
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Copyright © Universidade Tiradentes
D486l Deus, Viviane Gomes de 
 Linguística / Viviane Gomes de 
 Deus, Danilo Maciel 
 Machado. – Aracaju : Gráf. UNIT, 
 2010.
 160 p.: il. 
 
 Inclui bibliografia
1. Linguística – estudo e ensino. I. Titulo 
Universidade Tiradentes (UNIT) Núcleo de 
Educação à Distância - NEAD 
 
 CDU : 81
Prezado(a) estudante,
 
A modernidade anda cada vez mais atrelada ao tempo, e a 
educação não pode ficar para trás. Prova disso são as nossas disci-
plinas on-line, que possibilitam a você estudar com o maior confor-
to e comodidade possível, sem perder a qualidade do conteúdo.
 
Por meio do nosso programa de disciplinas on-line você pode 
ter acesso ao conhecimento de forma rápida, prática e eficiente, 
como deve ser a sua forma de comunicação e interação com o 
mundo na modernidade. Fóruns on-line, chats, podcasts, livespace, 
vídeos, MSN, tudo é válido para o seu aprendizado.
 
Mesmo com tantas opções, a Universidade Tira-
dentes optou por criar a coleção de livros Série Biblio-
gráfica Unit como mais uma opção de acesso ao conhe-
cimento. Escrita por nossos professores, a obra contém 
todo o conteúdo da disciplina que você está cursando 
na modalidade EAD e representa, sobretudo, a 
nossa preocupação em garantir o seu acesso ao 
conhecimento, onde quer que você esteja.
 
Desejo a você bom 
aprendizado e muito sucesso!
Professor Jouberto Uchôa de Mendonça
Reitor da Universidade Tiradentes
Apresentação
iblio-
onhe-
ntém 
ando 
Sumário
Parte I: Introdução aos estudos linguísticos: conceitos, 
história, teorias e relação com outras ciências ......11
Tema 1: Conceituação e cronologia dos 
estudos l inguísticos .................................................13
1.1 A Linguística e seu objeto de estudo: 
implicações terminológicas ............................................15
1.2 Conceitos básicos para a compreensão das 
teorias linguísticas e das diferentes gramáticas. ...........24
1.3 Aquisição da linguagem e suas teorias ...................33
1.4 Do estudo ‘acientífico’ à ciência 
da linguagem: um breve histórico ................................38
Resumo do Tema I .............................................................. 45
Tema 2: Principais teóricos/teorias da 
Linguística moderna ................................................47
2.1 Formalismo x Funcionalismo: 
correntes e teorias linguísticas .......................................47
2.2 O Estruturalismo e as principais ideias de Saussure .....53
2.3 O Gerativismo e as ideias de Chomsky ...................60
2.4 Princípios da Sociolinguística: conhecendo Labov .......67
Resumo do Tema 2 ............................................................. 75
Parte II: Organização da Língua: Sistema, Norma e fala .........77
Tema 3: Conhecendo o sistema linguístico: 
níveis da gramática ..................................................79
3.1 Introdução ao nível fonético: 
delimitação e conceitos ..................................................79
3.2 Introdução ao nível fonológico: delimitação e con-
ceitos ...............................................................................88
3.3 Introdução ao nível morfológico: delimitação e con-
ceitos ...............................................................................94
3.4 Introdução ao nível sintático: delimitação e concei-
tos ..................................................................................102
Resumo do Tema 3 ........................................................... 111
Tema 4: A linguística em prática: norma x fala ..................113
4.1 A importância da comunicação: a semântica e a 
pragmática explicam ....................................................114
4.2 A(s) norma(s): conceitos e (pre)conceitos linguísti-
cos .................................................................................123
4.3 A fala: variação e mudança linguística ..................130
4.4 A Linguística em sala de aula: variação e ensino .138
Resumo do Tema 4 ........................................................... 147
Referências ............................................................................149
Concepção da Disciplina
Ementa
Fundamentos da linguística e suas relações com outras 
ciências; conhecimento da história dos estudos linguísticos e 
das teorias modernas sobre língua e linguagem.
Objetivos
Geral 
Apresentar os conceitos básicos da Linguística e a cronologia 
dos estudos nessa área, chegando à compreensão das teorias 
contemporâneas por meio da aplicação dos conteúdos.
Específicos
- Identificar o objeto de estudo da Linguística e os princípios 
teóricos básicos desta ciência.
- Reconhecer as principais teorias linguísticas e a sua 
aplicabilidade em diferentes contextos de análise.
- Compreender a organização da língua relacionando-a às 
teorias contemporâneas a respeito da linguagem e ao ensino-
aprendizagem do Português e do Espanhol.
- Observar os fenômenos linguísticos na fala de pessoas 
com diferentes perfis e classificá-los conforme os níveis da 
gramática.
- Analisar o prestígio e o estigma dos fenômenos linguísticos 
em diferentes situações de fala.
- Repensar a prática docente da diversidade linguística 
presente na sala de aula e interferir nessa realidade a fim de 
desconstruir a visão de preconceito linguístico.
Orientação para Estudo
A disciplina propõe orientá-lo em seus procedimentos de 
estudo e na produção de trabalhos científicos, possibilitando 
que você desenvolva em seus trabalhos pesquisas, o rigor 
metodológico e o espírito crítico necessários ao estudo.
Tendo em vista que a experiência de estudar a distância é 
algo novo, é importante que você observe algumas orientações:
• Cuide do seu tempo de estudo! Defina um horário regular 
para acessar todo o conteúdo da sua disciplina disponível neste 
material impresso e no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). 
Organize-se de tal forma para que você possa dedicar tempo 
suficiente para leitura e reflexão;
• Esforce-se para alcançar os objetivos propostos na 
disciplina;
• Utilize-se dos recursos técnicos e humanos que estão ao 
seu dispor para buscar esclarecimentos e para aprofundar as suas 
reflexões. Estamos nos referindo ao contato permanente com o 
professor e com os colegas a partirdos fóruns, chats e encontros 
presencias. Além dos recursos disponíveis no Ambiente Virtual 
de Aprendizagem – AVA.
Para que sua trajetória no curso ocorra de forma tranquila, 
você deve realizar as atividades propostas e estar sempre em 
contato com o professor, além de acessar o AVA.
Para se estudar num curso a distância deve-se ter a clareza 
que a área da Educação a Distância pauta-se na autonomia, 
responsabilidade, cooperação e colaboração por parte dos 
envolvidos, o que requer uma nova postura do aluno e uma nova 
forma de concepção de educação.
Por isso, você contará com o apoio das equipes pedagógica 
e técnica envolvidas na operacionalização do curso, além dos 
recursos tecnológicos que contribuirão na mediação entre você e 
o professor.
Parte I
INTRODUÇÃO AOS 
ESTUDOS LINGUÍSTICOS: 
CONCEITOS, HISTÓRIA, 
TEORIAS E 
RELAÇÃO COM OUTRAS 
CIÊNCIAS
1 Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos
Bem-vindo ao ‘universo de (ou das?) Letras’!
Por essa simples saudação já se pode perceber que, para 
expressarmos ‘aquilo’ que queremos dizer implica escolha: seja 
entre uma letra e outra ( ‘e’ ou ‘a’ ), ou entre palavras/expressões 
já formadas (universo/mundo de/das... ‘alguma coisa’). A 
princípio parece muito complexo, ou até fácil para alguns. Mas, 
atenção: “[...] para quem gosta de certezas e seguranças, tenho 
más notícias: a gramática não está pronta! Para quem gosta de 
desafios, tenho boas notícias: a gramática não está pronta.
Sofrendo a gramática 
(MÁRIO PERINI, 2002) [Com base 
no avanço da Linguística e na 
sua contribuição para o ensino-
aprendizagem de línguas, Perini 
reflete sobre algumas questões 
referentes à linguagem e ao ensino 
de gramática no Brasil.] 
Fonte: http://i.s8.com.br/images/books/
cover/img1/60651.jpg
14 Linguística
Preparados? Iniciemos, então, o nosso curso!
Esta primeira parte trata da fundamentação teórica e da his-
tória dos estudos linguísticos. No Tema 1 veremos os fundamen-
tos da Linguística e um breve histórico da consolidação dessa 
ciência, desde a gramática comparada até as teorias contempo-
râneas (SARFATI, 2006). No Tema 2, conheceremos as principais 
teorias que norteiam os estudos linguísticos da atualidade, bem 
como os teóricos que mais contribuíram para o avanço da ciên-
cia da língua(gem).
Apresentamos a vocês, portanto, informações básicas 
acerca da ciência Linguística. Mas... isso é só o começo!
CONCEITUAÇÃO E CRONOLOGIA DOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS
Ao iniciar o estudo em qualquer área científica é de fun-
damental importância preparar o terreno para a construção do 
conhecimento. Para isso, é necessário lançar as bases concei-
tuais da ciência, a começar pela sua definição e a descrição do 
objeto a ser investigado (considerando suas implicações teórico-
filosóficas e terminológicas). Isto não é diferente com a Linguís-
tica, ramo de estudo que se formou dentre as ciências humanas, 
no início do século XX, impulsionado pela divulgação das ideias 
revolucionárias do suíço Ferdinand de Saussure (1916) em seu 
Curso de Linguística Geral (doravante Curso). 
Curso de Lingüística Geral é uma obra póstuma do 
autor Ferdinand de Saussure (1957-1913), publicada em 1916.
[Essa obra foi organizada por Charles Bally e Albert 
Sechehaya, alunos de Saussure. A partir dessa publicação 
foi ‘inaugurada’ a fase estruturalista dos estudos da 
linguagem, pois nela foram apresentados os pressupostos 
teórico-metodológicos do Estruturalismo, cujas ideias 
(principalmente as saussureanas) acabaram influenciando 
outras ciências sociais. Sua última edição em português foi 
pela Ed. Cultrix de São Paulo, em 2008, com tradução de 
Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein.]
Fonte: http://user.img.todaoferta.uol.com.br/J/L/FU/
AEK0GM/1230990680336_bigPhoto_0.jpg#1
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 15
Estão curiosos para saber que ideias foram essas que cau-
saram tanto alvoroço (influenciando até outras ciências)?
No desenvolvimento dos conteúdos deste primeiro tema, 
conheceremos, de modo geral, a visão de Saussure sobre a lin-
guagem. Contudo, as principais ideias saussureanas, apresenta-
das na célebre obra do linguista suíço, serão estudadas no Tema 
2 de forma mais específica.
1.1 A LINGUÍSTICA E SEU OBJETO DE ESTUDO: IMPLI-
CAÇÕES TERMINOLÓGICAS
Após a breve introdução do primeiro bloco temático, certa-
mente surgiram algumas ‘interrogações’. Nesse exato momento 
você deve estar se perguntando, por exemplo: para que me ser-
ve estudar Linguística? 
Informo a vocês que a resposta para essa pergunta, espe-
cificamente, não se encontra em nenhum manual para ser ‘deco-
rada’. Saber reconhecer a importância da ciência Linguística para 
a sua formação como pessoa e, principamente, como professor 
de línguas é um “dever de casa” que deve ser (re)feito (e sem 
dúvida será) a cada conteúdo estudado ao longo da disciplina, 
sobretudo, ao final do curso de Letras. 
Para orientar vocês nas descobertas sobre o universo da 
língua(gem), neste primeiro tópico discutiremos duas questões 
básicas do curso: 
O que é mesmo Linguística?
Qual o objetivo e o objeto dessa ciência?
Esses questionamentos são básicos (no sentido de espera-
dos), mas não possuem uma resposta tão objetiva como, a prin-
cípio, pode-se pensar. Aliás, como as demais ciências humanas, 
16 Linguística
a Linguística não é objetiva, não há verdades absolutas, desde 
quando o próprio objeto em estudo dá margem para interpreta-
ções diversas que abrangem desde a visão natural, que concebe 
a língua como organismo, até o conceito de língua como ativi-
dade social. No entanto, a discussão gerada por essas “simples” 
perguntas, contribuirá para as quais de um modo geral, para o 
entendimento da importância dos estudos nessa área. 
O que é mesmo Linguística?
A resposta a essa pergunta implica esclarecer outras ques-
tões que constituem a base da definição desta ciência, tais como: 
Em que consiste esse ‘fazer científico da língua(gem)?’; Como 
procedem os estudiosos dessa área do conhecimento e como 
estes podem/devem ser denominados (Filólogos, gramáticos ou 
linguistas?). São tantas perguntas que nos levam a tantas outras, 
mas... não se assustem! 
Na maioria dos manuais introdutórios, a Linguística é de-
finida, de modo geral, como o estudo científico da língua(gem) 
humana (WEEDWOOD, 2002; BORBA, 2005; MARTELOTTA, 
2008). No entanto, uma definição tão objetiva não corresponde à 
complexidade dessa ciência, o que se deve ao caráter dinâmico 
e multifacetado do seu objeto (do qual falaremos mais adiante). 
Para chegarmos a uma conclusão do que se entende por Lin-
guística hoje em dia, partiremos da discussão sobre a denomina-
ção desse campo de estudo. Destacamos, a princípio, que o termo 
linguística passou a ser usado para identificar uma nova aborda-
gem do estudo da língua que surgiu em meados do século XIX, 
contrastando com a abordagem tradicional (da filologia) feita pelos 
estudiosos da Antiguidade clássica (gramáticos gregos e romanos), 
autores renascentistas e gramáticos prescritivistas do século XVIII.
A distinção entre Filologia e Linguística foi necessária na-
quele momento. Hoje, de certa forma, a atribuição de nomes di-
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 17
ferentes às duas perspectivas de abordagem – tradicional ver-
sus inovadora – ainda é considerada importante para delimitar 
o campo de atuação dos pesquisadores, visto que o objeto de 
estudo é o ‘mesmo’ para a Filologia e para a Linguística, porém 
com enfoques diferentes. Enquanto o ‘filólogo’ atenta para o de-
senvolvimento histórico das 
línguas (tendo como fonte de 
pesquisa os textos escritos), 
o linguista, por sua vez, tem 
como prioridade a língua fa-
lada (ainda que se desenvol-
vam pesquisas linguísticas 
com base em textos escritos).
De acordo com Wee-
dwood (2002), a ciência da 
língua(gem) é dividida por 
três dicotomias:
1) sincronia vs. diacronia;
2) teórica vs. aplicada;
3) microlinguísticavs. 
macrolinguística. No entanto, 
falaremos apenas sobre as 
duas primeiras, visto que a 
terceira dicotomia apresentada por Weedwood (2002) ainda não 
se estabeleceu definitivamente. 
No que diz respeito ao primeiro par dicotômico – sincronia 
vs. diacronia –, introduzido na Linguística por Saussure, no iní-
cio do século XX, destaca-se a relação tempo/língua. O estudo 
sincrônico, caracterizado pela ausência de elementos temporais 
na descrição linguística, consiste em descrever a língua de um 
determinado tempo/período (também chamado de sincronia). 
Veremos mais adiante as ‘dicotomias saus-
sureanas’. Mas... você sabe o que significa a 
palavra ‘dicotomia’?
De acordo com o dicionário Aurélio, esse 
termo possui seis significados possíveis na 
língua portuguesa. No entanto, podemos 
perceber que em todas as entradas do termo 
no dicionário encontra-se a noção de ‘repar-
tir’, ‘dividir’, ou, simplesmente, a existência 
de duas coisas compondo outra. Entretanto, 
no que se refere à teoria linguística, predomi-
na o significado de número 1, registrado no 
referido dicionário, o mais abrangente, que 
apresenta a dicotomia como “[...] método de 
classificação em que cada uma das divisões 
e subdivisões não contém mais de dois ter-
mos”. (AURÉLIO séc. XXI, CD room)
18 Linguística
Podemos, por exemplo, estudar o uso de determinada palavra 
ou expressão em algum século passado, ou década, sendo des-
necessário considerar como era o uso da língua antes ou depois 
do recorte de tempo analisado. Um pesquisador que tenha inte-
resse em investigar o uso das formas de tratamento no período 
colonial ‘não precisa’ considerar o uso dessas formas em perío-
do antecedente ou posterior, visto que o interesse é: saber quais 
expressões eram utilizadas no trato da segunda pessoa no Brasil 
colônia. Por outro lado, alguém pode se interessar em estudar 
como as pessoas costumam tratar as outras na sociedade atual. 
Observamos, assim, que o estudo de um determinado fenômeno 
linguístico, no período colonial ou atualmente, sem considerar o 
antes ou depois, é o que se define como estudo sincrônico. 
A perspectiva diacrônica, por sua vez, caracteriza-se por 
considerar o fator tempo como determinante para a mudança 
linguística. Desse modo, os estudos diacrônicos correspondem à 
análise do desenvolvimento histórico da língua, observando-se, 
assim, suas mudanças ao longo de determinado período. Reto-
mando o exemplo do fenômeno apresentado para a perspectiva 
sincrônica, poderíamos fazer um estudo diacrônico das formas 
de tratamento. Se procedêssemos assim, estaríamos analisando 
esse fenômeno do ponto de vista histórico, ou seja, da diacronia. 
Sobre a segunda dicotomia que subdivide a Linguística – 
teórica vs. aplicada –, destacamos os objetivos que distinguem 
essas duas vertentes dos estudos linguísticos. Borba (2005), res-
salta que quando se busca desenvolver uma metodologia de tra-
balho, não se voltando para nenhuma língua em particular, cor-
responde à Linguística teórica e geral. 
Por outro lado, ainda segundo o referido autor, quando se 
pretende observar e descrever uma determinada língua, aplican-
do novos métodos e descobertas, a fim de aperfeiçoar o ensino 
de língua, temos aí a Liguística aplicada.
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 19
Qual o objetivo e o objeto da Linguística?
De modo geral, o objetivo principal da linguística é estudar 
e descrever a língua(gem) humana. Apesar de parecer simples, 
essa tarefa se torna bastante complexa quando tentamos definir 
o seu objeto: a língua(gem). 
Vale lembrar que em Linguística a palavra linguagem é usa-
da com o sentido de língua quando se refere ao objeto de estudo 
dessa ciência. Como vocês podem perceber, para compreender-
mos melhor o que se define como Linguística, é necessário que 
se tenham “bem claros” os conceitos de ‘linguagem’ e ‘língua’ 
(suas principais concepções – Tema 2). 
O que é a linguagem?
 
A primeira observação a ser feita é quanto à forma como 
venho grafando o termo língua(gem) – enquanto objeto de análi-
se da ciência linguística – desde a apresentação do nosso curso. 
Essa grafia é encontrada em algumas obras dessa área traduzi-
das do inglês para o português, especificamente no livro História 
concisa da Lingüística (WEEDWOOD, 2002). De acordo com uma 
nota de roda pé apresentada pelo tradutor, o linguista Marcos 
Bagno, o uso do termo língua(gem), assim grafado, justifica-se 
pelo fato de a língua inglesa só dispor de uma palavra – langua-
ge – para dois significados que, em português, correspondem a:
1) língua – o próprio código usado na comunicação, no 
caso, um idioma;
2) linguagem – capacidade do homem de usar um código 
para expressar seu pensamento por meio da fala e/ou da escrita, 
ou seja, ‘como’ fazemos uso desse código.
Na visão de Saussure, a linguagem é “heteróclita e multifa-
cetada”, pelo fato de abranger vários domínios; nessa perspec-
20 Linguística
tiva, a linguagem é física, fisiológica e psíquica ao mesmo tem-
po. Portanto, para esse autor, ela é própria do domínio individual 
e social. Logo, “não se deixa classificar em nenhuma categoria 
de fatos humanos, pois não se sabe como infirir sua unidade.” 
(SAUSSURE, 1969 apud FIORIM, 2003, p. 14)
A outra importante concepção de linguagem foi apresen-
tada pelo norte-americano Noam Chomsky em meados do sé-
culo XX. Para esse autor, a linguagem é considerada como um 
conjunto (finito ou infinito) de sentenças, todas elas finitas em 
comprimento e construídas a partir de um conjunto finito de ele-
mentos. 
Chamamos a sua atenção para a relação entre linguagem, 
língua e comunicação, o que podemos observar no esquema es-
boçado a seguir:
Recomendo ler o livro: JAKOBSON, Roman. Linguística 
e comunicação. 18. ed. São Paulo. Cultrix, 2001. 
Disponível no AVA
Esse livro é considerado uma obra clássica dos estudos 
linguísticos e, por isso, é indispensável para estudantes e pes-
quisadores da área. Nesta obra, o autor aborda a relação en-
tre linguagem, comunicação e outros sistemas semióticos, in-
clusive a arte, e apresenta a teoria das funções da linguagem.
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 21
Figura 2 – Esquema da relação linguagem-língua-comunicação e o seu es-
tudo científico. 
Nessa figura tenta-se ilustrar como os termos língua, linguagem estão in-
trinsecamente ligados no processamento da comunicação e que, por isso, 
dão margem a discussões teóricas entre correntes linguísticas divergentes 
quanto à concepção desses termos.
As funções da Linguagem
Você sabe como funciona, para que serve, uma tesoura? 
Pergunta fácil, não é? Difícil é responder: Qual a função (ou as 
funções) da linguagem? Isto ocorre por se tratar de algo abs-
trato e de uma complexidade ímpar. Tentando responder essa 
pergunta, alguns cientistas (o psicólogo Karl Bühler e os linguis-
tas Roman Jakobson e Michael K. Halliday) apresentaram suas 
propostas. Veremos a mais divulgada. 
Das três propostas referidas, a mais conhecida foi a de 
Jakobson. Segundo esse autor, para compreendermos a varie-
dade de funções da linguagem precisamos levar em conta os 
EXPRESSÃO (oral ou escrita)
↓
DIÁLOGO / TEXTO / DISCURSO
22 Linguística
elementos que constituem a comunicação, pois a predominância 
de um dos elementos corresponde a uma determinada função da 
linguagem. Veja o esquema a seguir:
Observamos, no esquema, que para haver comunicação é 
preciso que a mensagem seja compreendida pelo receptor. Para 
isso acontecer é necessário um código (linguagem) comum en-
tre os envolvidos no ato comunicativo.
Por fim, é sempre importante ressaltar que uma mensagem 
será eficaz quando atender as seguintes condições:
a) Um conceito apreensível pelo destinatário. Lembramos 
que contexto é o nome dado ao conjunto de conhecimentos 
necessários à compreensão da mensagem.
b) Um código que seja conhecido por emissor e receptor. 
O código consiste num conjunto de convenções de sinaisou 
signos visando a uma comunicação eficaz.
c) Um contato ou canal físico e uma conexão psicológica 
entre emissor e receptor. O ‘canal’ é o meio pelo qual a mensagem 
é transmitida.
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 23
Texto complementar 
Língua e Linguagem
Quando falamos ou escrevemos produzimos sentidos. 
Uma espécie de dependência entre linguagem e pensamento 
que forma uma unidade significativa. Nesse caso é impossível 
pensar um sem o outro. O pensamento só se manifesta atra-
vés da linguagem (inclusive a não verbal como os gestos, as 
cores, as imagens) e a linguagem só se manifesta pelo pensa-
mento. Pode-se afirmar que a linguagem é o próprio pensa-
mento em ação. Ou ainda, o pensamento só se materializa na 
linguagem. 
É importante, portanto, notar que o esforço para a produ-
ção dos sentidos ocorre em virtude de os homens desejarem 
estabelecer cadeias comunicativas, seja para informar, con-
vencer, emocionar, seja para explicar, determinar, aconselhar. 
Mas, para que isso acontecesse, foi necessário a criação de 
línguas que expressassem maneiras particulares de conceber 
os significados, as formas de uso, os mecanismos de elabora-
ção do universo das palavras. 
Em nosso caso, o código comum é a língua portuguesa: 
graças a ela, produzimos os efeitos do sentido. No entanto, 
não se deve considerar o código comum como uma referên-
cia padrão que se mantém inalterada. Ao contrário, a língua 
possui variabilidade, usos diferenciados conforme a situação 
cultural, econômica, etária e regional do usuário. 
Para se comunicar o falante não precisa necessariamente 
dominar as regras da gramática escolar. No entanto, ele utiliza 
(mesmo sem ter consciência disso) uma “gramática natural”, 
que admite a construção me dá um cigarro, mas não admite, 
por exemplo, a construção me cigarro um dá. Ou seja, essa 
24 Linguística
gramática natural possui um sistema de regras que formam a 
estrutura da língua, e que os falantes interiorizam ouvindo e 
falando. 
(Celso P. Luft, in Língua e liberdade)
Fonte: NETO, José Borges. Ensaios de filosofia da Linguística, 2004, p.50-51.
Para Refletir
Com base nessa breve introdução aos estudos linguísticos, re-
flita sobre a seguinte questão: Filólogo, linguista e gramático é 
tudo a mesma ‘coisa’? 
Após refletir, organize suas ideias e discuta no AVA com seus 
colegas.
1.2 CONCEITOS BÁSICOS PARA A COMPREENSÃO DAS TEO-
RIAS LINGUÍSTICAS E DAS DIFERENTES GRAMÁTICAS.
Não sei se você tem preferência por alguma língua (por 
achá-la ‘mais bonita’) ou se prefere um sotaque a outro (por 
achar ‘feio’), ou algo assim. Mas, aviso aos que se encaixam nes-
ses exemplos que o princípio básico da linguística é:
Isto se justifica porque, diferente da visão tradicional pres-
critivista, a perspectiva linguística acredita que é natural de toda 
língua apresentar variações. 
TODAS AS LÍNGUAS E SUAS 
VARIAÇÕES TÊM O MESMO VALOR.
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 25
No entanto, como esses fenômenos linguísticos são estu-
dados, vai depender da concepção de língua e de gramática dos 
teóricos. Logo, veremos conceitos que correspondem às três 
principais correntes teóricas dos estudos linguísticos.
Nesse início de curso, é comum a dúvida a respeito da cor-
rente teórica que determinado autor segue. Ao longo do curso 
poderemos identificar melhor as ideias principais de cada escola 
linguística. Entretanto, a depender da sua atenção às aulas e do 
seu empenho extra-classe, é bem provável que no final desse 
encontro você possa agrupar em três polos as teorias identifica-
das correspondentes a uma das três principais concepções de 
língua. Vejamos a seguir:
1) A língua é uma atividade mental. 
2) A língua é uma estrutura.
3) A língua é uma atividade social.
A língua como atividade mental 
Esta vertente que concebe a língua como uma atividade 
mental tem origem nas racionalistas clássicas e modernas. No séc. 
XIX foi retomada por Wilhelm von Humboldt, e no séc. XX, a partir 
de 1957, por Chomsky. Este teórico é o principal representante do 
Gerativismo. Nessa perspectiva, a natureza da linguagem está re-
lacionada à estrutura biológica, pensamento este que deu origem 
à Gramática Gerativa (ver Tema 2). Essa concepção de gramática 
fundamenta-se em dois princípios teóricos básicos: 
- princípio do inatismo – consiste em afirmar a existência de 
uma estrutura inata constituída de princípios gerais que estariam 
presentes em todas as línguas. A esse conjunto de princípios, os 
gerativistas atribuíram o nome de Gramática Universal. Observe 
o esquema abaixo:
26 Linguística
- princípio da modularidade da mente – de acordo com 
esse princípio, a mente humana é modular, o que significa dizer 
que é constituída por módulos ou partes. Essas divisões corres-
pondem aos diferentes sistemas cognitivos, ou seja, cada módu-
lo responde por uma atividade mental diferente.
A língua como uma estrutura
Esse conjunto de teorias toma parte do enunciado linguís-
tico, estabelecendo que a língua é uma estrutura composta por 
signos. Estes, por sua vez, são constituídos por unidades organi-
zadas em níveis dispostos hierarquicamente, como se descreve 
a seguir: 
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 27
- o nível fonológico – fonema (sons com significado em 
uma língua). (ver tema 3)
Ex.: 
pata e bata opõem-se pelos fonemas por um fonema /p/ e /b/.
- o nível morfológico - morfema, palavra (ver tema 3)
- o nível sintático (= sintagma e sentença). (ver tema 3)
Obs.: Sobre esses níveis, vale ressaltar que alguns mode-
los estruturalistas mais recentes incluem o nível discursivo.
O principal representante dessa corrente teórica que con-
cebe a língua como um sistema estruturado é Saussure. Com a 
publicação do seu Curso, o considerado pai do estruturalismo 
e da Linguística moderna instituiu a concepção de língua como 
estrutura e estabeleceu o campo de atuação da Linguística como 
disciplina autônoma. 
A partir da divulgação das ideias saussureanas, definiu-se 
o objeto de estudo da linguística e, especificamente, da Gramáti-
ca Estruturalista. De um modo geral, gramática tem por base as 
dicotomias propostas por Saussure (ver Tema 2), que podem ser 
assim resumidas:
- significante x significado – compõem o signo linguístico
28 Linguística
- langue x parole – constituem o objeto linguístico. 
 (língua) (fala/discurso) 
- sincronia (=descritiva) x diacronia (=histórica) - o estudo 
da língua pode ser feito numa determinada sincronia (recorte de 
tempo (década ou século), ou numa perspectiva histórica (a par-
tir de dois períodos (ver tópico 1.1).
- sintagma x paradigma – são os dois eixos de relações 
sobre os quais a língua é feita. Correspondem, respectivamente, 
ao eixo horizontal (ordem-sequência) e vertical (associação - es-
colha). Como detalharemos a seguir essa dicotomia, apresento 
resumidamente os tipos de sintagma. 
Como se observa, as dicotomias são formadas sempre por 
duas ideias opostas. 
As duas correntes teóricas que apresentamos, até aqui, com-
partilham, de um modo geral, a maneira de ver a língua. Isto se diz 
porque ambas, tanto o Gerativismo (a Gramática Gerativa) quanto 
o Estruturalismo (a Gramática Estrutural), preservando suas parti-
cularidades, concebem a língua como um fenômeno homogêneo. 
Assim, o empenho dos gerativistas e estruturalistas conferiram à 
Linguística autonomia enquanto disciplina científica.
Todas as aulas...
 ↑ ↑ ↑
Todos os alunos fizeram a prova.
 ↓ ↓
Sintagma 
verbal
Sintagma 
nominal
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 29
A língua como atividade social
No que diz respeito à terceira corrente teórica, a língua é 
vista como uma atividade social por meio da qual emitimos in-
formações, expressamos sentimentos e agimos sobre o outro. 
De acordo com essa perspectiva, a língua é um somatório de 
usos concretos, historicamente situados, que envolve sempreum locutor e um interlocutor. Estes, por sua vez, estão situados 
num determinado espaço; em geral, interagem a propósito de 
um tópico previamente combinado. Diante disso, conlui-se que 
a língua como atividade social é heterogênea.
Em consequência dessa nova concepção, que diverge das 
duas correntes teóricas anteriormente citadas, a Gramática dei-
xa de ser uma disciplina científica autônoma, passando a buscar 
pontos de contacto com outras ciências, tais como: a Psicologia, 
a Sociologia, a Antropologia, a Semiologia, a Ciência Política, a 
História e a Filosofia. Algumas teorias auxiliares compartilham 
dessa visão interdisciplinar dos estudos linguísticos:
Língua como comunicação:
- Jakobson (1969, p. 19), ao estabelecer os elementos do 
contexto comunicativo – emissor, receptor, tema, código, canal 
e mensagem. (ver tópico 1.1) –, enfatizou o lado social da comu-
nicação.
30 Linguística
- Alguns linguistas da Escola de Praga, por sua vez, a exem-
plo de Mathesius, elaboraram uma teoria da comunicação em 
sua argumentação sintática, desenvolvendo hipóteses a respeito 
da “articulação tema e rema”. 
 
a língua como um conjunto de funções socialmente defi-
nidas 
- De acordo com esta teoria, as estruturas linguísticas não 
são autônomas, podem, portanto, ser descritas e interpretadas a 
partir das propriedades seguintes: 
i) flexibilidade e vulnerabilidade às pressões do uso; com-
binam padrões morfossintáticos com as estruturas emergentes;
ii) não-arbitrariedade das estruturas;
iii) dinâmismo, que cor-
responde à capacidade de 
refazimento (reelaboração) 
das línguas através do pro-
cesso de gramaticalização. 
Nesse sentido, não tem 
uma gramática, o que elas 
têm são gramaticalizações.
Essa obra apresenta de forma clara os principais conceitos 
e teorias envolvidos no processo de gramaticalização. 
a língua como um conjunto 
de atos de fala. 
a variação e a mudança como 
fenômenos inerentes à heteroge-
neidade da língua.
a língua como discurso.
Para saber mais sobre ‘variação lin-
guística’, leia o texto: BASSO, Renato; 
ILARI; Rodolfo. A variação que vemos 
e a variação que esquecemos de ver. 
Contexto, 2007, p151-196. 
Gramaticalização é um fenômeno que reflete 
a necessidade de se refazer, próprio de toda 
gramática. Basicamente, consiste na passa-
gem de um item lexical para a condição de 
“mais gramatical“. Para saber mais sobre gra-
maticalização indico a leitura de:
GONÇALVES, S. C. L. et al. (Org.). Introdução 
à gramaticalização. São Paulo: Parábola, 2007.
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 31
Por fim, a gramática da língua, a partir da concepção de lín-
gua como atividade social, consiste num conjunto de regras em 
que se procura correlacionar as classes, as relações e as funções 
com as situações reais em sociedade, no contexto em que elas 
foram geradas. Para que isso ocorra, essa gramática – denomina-
da Gramática Funcional (ou Funcionalista) – vai além da senten-
ça, avançando na análise dos textos inteiros.
Texto complementar
O que vem a ser uma teoria linguística? Para que serve?
Ataliba Castilho
Teoria é uma palavra grega que quer dizer “visão”, “ponto de 
vista”. Lembre-se da fábula dos deficientes visuais e do elefante. Foi 
mais ou menos assim. Três deficientes visuais rodearam um elefante. 
Um pegou em seu rabo e disse que o elefante era um animal cilíndrico, 
fininho e duro como uma corda, ocupando no espaço uma posição va-
riável. Outro apalpou uma das pernas e logo discordou do primeiro: o 
elevante até pode ser cilíndrico, mas não é fininho, nem duro, e ocupa 
no espaço uma posição fixa, vertical. Um terceiro conseguiu agarrar a 
tromba e considerou que seus dois colegas estavam certos só até cer-
to ponto: cilíndrico, OK, posição variável, OK, mas nem fino nem duro. 
Qual deles estava certo? Individualmente, nenhum. Coletiva-
mente, todos, ainda que sua visão do elefante fosse apenas aproxi-
mativa. Eles tiveram opiniões diferentes por que tiveram “pontos de 
vista” diferentes – permitam-me usar respeitosamente essa expressão, 
que é igualmente usada pelos deficientes visuais, visto que, como se 
sabe, nossa fala é recheada de imagens. Isso sem mencionar que os 
deficientes visuais desenvolvem bastante os outros sentidos. Então, se 
um quarto deficiente subisse em seu lombo, e um quinto apalpasse 
suas trombas, teriam surgido mais duas opiniões, pelo menos. Nossa 
percepção sobre o elefante teria melhorado, mas ainda assim faltaria 
32 Linguística
muito para que conhecêssemos a coisa por inteiro. 
Primeira moral da história: a língua é o elefante, os usuários 
da língua, os linguistas e os gramáticos são os deficientes visu-
ais. Assim como o elefante é um objeto parcialmente escondido 
para quem não enxerga bem, assim a língua é um objeto escon-
dido para todo mundo, mesmo para aqueles que enxergam bem. 
Segunda moral da história: a cada ponto de vista corresponde 
uma percepção do que é a língua. Nenhuma está errada, a menos 
que se torne inconsistente em relação ao ponto de vista adotado. 
Imagine a confusão se um dos deficientes visuais deixasse de lado o 
tato, que estava sendo utilizado pelos outros, e usasse outro dispo-
sitivo dos sentidos, como o olfato, ou a audição, por exemplo. Sua 
opinião, por mais valiosa, seria inconsistente com a de seus colegas. 
Seria de pouca utilidade comparar cheiros com formas, por exemplo. 
Transposta a situação da fábula para o estudo da língua por-
tuguesa, fica claro que se não dispusermos previamente de um 
ponto de vista sobre a língua, torna-se difícil refletir coerentemen-
te e com a maior amplitude possível sobre esse objeto escondido. 
Saussure acrescenta que na Linguística “o ponto de vista 
cria o objeto” – e apenas isto já mostra a importância das teorias 
para o estudo das línguas. Por objeto pode-se entender tanto o 
objeto teórico (isto é, o ponto de vista sobre a língua), quanto o 
objeto empírico (isto é, os materiais sobre que fundamentare-
mos nossa análise). Saussure sabia o que estava falando!
(Disponível em: www.museudalinguaportuguesa.org.br)
Para Refletir
Você já consegue definir qual é a melhor teoria para o estudo 
da língua portuguesa? Busque mais informações e discuta com 
seus colegas no fórum do AVA. 
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 33
1.3 AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM E SUAS TEORIAS
Como é que as crianças podem falar? O adulto tem, na 
aprendizagem infantil, papel fundamental na aprendizagem da 
língua? Existe uma gramática universal?
Caro leitor, estas e outras questões intrigam os estudiosos 
da linguagem desde muito tempo. A aquisição da linguagem é 
assunto que é estudado por algumas teorias que serão explana-
das aqui.
Behaviorista
O estruturalismo (ver tópico sobre “Estruturalismo”) bus-
cou na psicologia behaviorista a explicação para a aprendizagem 
da língua. Visão associacionista entre som e significado, tipo de 
aproximação que previa o aprendizado de comportamentos não-
linguístico e linguístico, por 
meio de estímulos, priva-
ções e reforços; resumo 
na visão de Skinner (1957), 
para o comportamento.
 
Skinner sugeria ser capaz de predizer e controlar o com-
portamento verbal mediante variáveis que controlam o compor-
tamento (estímulo, resposta e reforço). Esse esquema serve para 
verificar a interação que determina a resposta verbal particular. 
Um estímulo externo provoca uma resposta externa do organis-
mo. Se a resposta for positiva, o comportamento se mantém. Já 
se a resposta for reforçada negativamente, o comportamento é 
eliminado. E se não há reforço, tanto positivo como negativo, é a 
desaparecer que tende o comportamento.
S (estímulo) → R (Resposta) → Reforço
Relembrar as teorias de Skinner no livro de 
Psicologia da Educação, no tópico 1.2 Cor-
rentes Teóricas da Psicologia: Behavioris-
mo, Gestalt, Psicanálise.
34 Linguística
Empirismo
A aquisição da linguagem não é caótica, sujeita a incer-
tezas somente. O fato de as crianças, porvolta de três anos, 
serem capazes de fazer uso produtivo de suas línguas suscita 
a questão de como estas línguas são aprendidas, adquiridas. É 
essa a questão que as teorias de aquisição tentam responder. 
As propostas do empirismo entendem-se aquelas para as quais 
o conhecimento é originado da experiência. A questão proble-
matizada é de como as ideias adquiridas, dotadas de capacida-
de de formar associações entre estímulo, ou entre estímulo e 
resposta, com base na similaridade e proximidade. A estrutura 
não está no indivíduo, nem é construída por ele, mas está no 
exterior, fora do organismo.
Inatismo
A hipótese do Inatismo de 
dizer que o ser humano 
é possuidor de uma gra-
mática inata remonta a 
Chomsky (1965). Sua pro-
posta afirma que existe 
uma gramática universal, que é uma matriz biológica responsá-
vel pela grande semelhança entre as línguas e pela rapidez com 
que as crianças aprendem a falar.
Essa corrente dá maior importância ao organismo, à codifi-
cação genética, que traz muitas informações sobre o comporta-
mento humano, a personalidade, a capacidade de compreensão 
de quantidades, a capacidade de distinção entre os sons da fala e 
Relembrar as teorias de Chomsky no livro 
de Psicologia da Educação no tópico 2.2 
Correntes teóricas do desenvolvimento: 
Inatismo, Ambientalismo e Interacionismo.
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 35
outros sons, entre outras informações. O meio, o papel somente 
de acionar o dispositivo responsável pela aquisição da linguagem. 
Hipóteses construtivistas e interacionistas
Há diferentes abordagens que tentam dar conta da lingua-
gem a partir das relações interativas entre as crianças e o ambien-
te, sendo a linguagem consequência da construção da inteligência 
em geral (hipótese construtivista de Piaget) ou entre a criança e as 
pessoas com quem ela convive (hipóteses interacionistas).
Cognitivismo construtivista
Desenvolvida pelo es-
tudioso suíço Jean Piaget, 
sua visão tem por base a 
ideia de que o desenvol-
vimento das estruturas do 
conhecimento ou estrutu-
ras cognitivas é feito pela interação entre ambiente e organismo. 
Ou seja, não existe uma gramática independente de outros do-
mínios cognitivos.
O conhecimento linguístico não seria inato, mas sim, per-
mite que a experiência seja armazenada e recuperada na intera-
ção entre ambiente e organismo. 
Interacionismo social
Proposta desenvolvi-
da pelo psicólogo soviético 
Vygotsky (1996), explica 
o desenvolvimento da lin-
guagem e do pensamento 
Relembrar as teorias de Piaget no livro de 
Psicologia da Educação no tópico 2.2 Cor-
rentes teóricas do desenvolvimento: Inatis-
mo, Ambientalismo e Interacionismo.
Relembrar as teorias de Vygotsky no livro de 
Psicologia da Educação no tópico 2.2 Cor-
rentes teóricas do desenvolvimento: Inatis-
mo, Ambientalismo e Interacionismo.
36 Linguística
com base na interação entre os indivíduos. Autor, fala e pensa-
mento têm origens genéticas diferentes. 
Desta forma, o mais importante está na troca comunica-
tiva entre a criança e o adulto contexto em que a linguagem e 
o pensamento são desenvolvidos. As estruturas construídas so-
cialmente são internalizadas quando a criança passa a controlar 
o ambiente e o próprio comportamento.
Visão sociocognitiva
O sociocognitivismo junta a base social, interacional, com a 
base cognitiva. A aquisição da linguagem dá-se em termos funcio-
nalistas, assim, o processo começa quando a criança passa a en-
tender que existe uma intenção no ato comunicativo dos adultos. 
O conjunto de habilidades cognitivas que caracterizam os 
humanos modernos constitui o resultado de algum processo ca-
racterístico, unicamente da espécies de transmissão cultural. 
Os estudos sobre Aquisição da Linguagem
Como vimos, na abertura deste tópico há alguns questiona-
mentos a respeito da linguagem da criança que vêm provocando 
várias especulações entre leigos ou estudiosos dessa área de pes-
quisa. No entanto, a produção científica nesse campo de investi-
gação não acompanhou as demais áreas dos estudos linguísticos. 
Hoje, numa época em que as crianças “só faltam nascer fa-
lando”, o número de pesquisas nesse campo vem aumentando, 
na tentativa de entender como seres tão pequenos, e com tão 
pouca experiência de vida, podem ser tão criativos no que se 
refere ao uso da língua.
Essas pesquisas sobre o que e como a criança aprende a 
falar tiveram início, de forma mais sistemática, no século XX. A 
partir de então, diversos estudiosos passaram a estudar os fe-
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 37
nômenos da linguagem e do pensamento infantil. Psicólogos do 
desenvolvimento, a exemplo de Stern, Bühler, Binet e Guillaume, 
entenderam que a linguagem infantil está relacionada à atividade 
intelectual exercida pela criança desde os primeiros anos de vida.
Durante a primeira metade do século XX, as pesquisas so-
bre a aquisição da linguagem nos Estados Unidos eram de base 
mecanicista. Nessa época predominava, no campo científico, a 
corrente Behaviorista ou ambientalista, pensamento este que do-
minou as teorias da aprendizagem nesse período.
Como vimos, de acordo com as ideias behavioristas, a 
aprendizagem da linguagem seria resultado da exposição ao 
meio, em decorrência de mecanismos comportamentais como 
reforço, estímulo e resposta, conforme Scarpa (2001). Desse 
modo, a linguagem passaria a ser vista como a origem física de 
todo o pensamento.
 
Para Refletir
Como vimos, a aquisição da linguagem por pessoas não-por-
tadoras de alguma deficiência já é complexa. Você já conheceu 
alguém que tem dificuldades para falar determinadas palavras? 
E os surdos-mudos, como será que eles adquirem a linguagem?
Ficou interessado sobre esse linha de pesquisa? Passe a obser-
var essas situações e compartilhe com seus colegas no AVA o 
que você conseguiu perceber.
Ler o texto: O instinto da linguagem (um best-seller na Neu-
rociência) – resenha do livro “The language instinct”.
CAMPOS, Jorge. O instinto da linguagem (um best-seller na Neu-
rociência) – resenha do livro “The language instinct”, de Steven 
Pinker. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL. V. 3, n. 
5, agosto de 2005. ISSN 1678-8931 [www.revel.inf.br].
38 Linguística
1.4 DO ESTUDO ‘ACIENTÍFICO’ À CIÊNCIA DA LINGUAGEM: 
UM BREVE HISTÓRICO 
Enfim, chegamos ao último tópico do nosso primeiro 
tema. Isto não significa dizer que as perguntas acabaram. En-
tão, vamos lá!
É possível imaginar quando começaram, de fato, os estu-
dos linguísticos?
Enfim, existe (ou não) uma ciência da linguagem?
Em geral, costuma-se, datar o nascimento da Linguística 
moderna, de maneira mais precisa, no ano de 1916, quando foi 
publicado, em francês, o livro Curso de Linguística Geral, do suí-
ço Ferdinand de Saussure (1857-1913). Realmente, após a publi-
cação desse livro, o estudo das línguas humanas não foi mais a 
mesmo. 
A importância dessa publicação foi tão grande que outros 
cientistas começaram a aplicar os mesmos critérios e métodos 
de Saussure em suas próprias áreas de conhecimento, fazendo 
nascer uma das mais importantes escolas científicas do século 
XX, o estruturalismo. As ideias dessa escola influenciaram, além 
da Linguística, também a Antropologia, a Psicanálise, a Psicolo-
gia, a Filosofia, etc.
No entanto, não se deve imaginar que a Linguística surgiu 
assim, com data fixa, como se resultasse do esforço de apenas 
um pesquisador. Conforme os manuais de Linguística, os estu-
dos nessa área tiveram início com o trabalho investigativo de 
muitos pesquisadores, sobretudo dos que se ocupavam com os 
estudos de comparação entre as diferentes línguas – de caráter 
‘acientífico’ –, aos quais o próprio Saussure recorria). Destaca-
se, portanto, que as bases da moderna ciência da linguagem já 
tinham sido lançadas, na realidade, durante o século XIX. 
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 39
A “linguística” antes do século XIX 
A linguísticaocidental teve início em Atenas com os 
Pensamentos de Platão. Tendo sido o primeiro pensador eu-
ropeu a refletir sobre a problemática da linguagem, esse filó-
sofo levantou quastionamentos importantes, aos quais se re-
corre até hoje. Ressalta-se, porém, que muitas de suas ideias 
foram importadas da tradição judaica, da linguística hebraica 
e árabe e, também, da India. No entanto, a tradição ociden-
tal apresenta um padrão de desenvolvimento próprio e bem 
definido.
No século XVIII, vários linguistas, de forma independente, 
destacaram-se no interesse pelo estudo das línguas, dentre eles 
Sir William Jones, chegando à descoberta de que o sânscrito 
relacionava-se com o latim, o grego e outras línguas europeias. 
Não se pode dizer que a linguística oitocentista seja a responsável 
pela descoberta ou invenção dos estudos da mudança linguísti-
ca, no entanto, é necessário ressaltar a importância da reflexão 
linguística durante este século. Uma vez que inaugura uma nova 
concepção da relação história do tempo/história da linguagem e 
constrói um novo plano para sua análise, a reflexão oitocentista 
a respeito das mudanças observadas nas línguas constitui um 
marco na História da Linguística. 
O desenvolvimento da Linguística dentre as Ciências Hu-
manas pode ser constatado na vasta bibliografia e no número 
crescente de produções científicas em andamento nos diversos 
cursos de graduação e pós-graduação em Letras, em diferentes 
países (independente da língua), especificamente nas universi-
dades brasileiras. Esse avanço científico se torna possível pela 
aplicação de princípios e conceitos que fundamentam os estu-
dos linguísticos e são, portanto, indispensáveis aos futuros pro-
fessores de línguas e profissionais de áreas afins. 
40 Linguística
A linguística moderna
Como vimos na introdução deste livro, foi depois da publi-
cação do ‘Curso de linguística geral’, de Ferdinand de Saussure, 
a partir do século XX, que os estudos linguísticos acabaram se 
dividindo em dois grandes polos: formalista e funcionalista (ver 
Tema 2). Tais perspectivas de análise, segundo Berlinck; Augus-
to; Shaer, (2006, p.210), “constituem as duas vias principais pelas 
quais se têm desenvolvido os estudos linguísticos de um modo 
geral nesse último século”. 
No que diz respeito às teorias formalistas, o que engloba o 
estruturalismo (ver tópico 2.2) e o gerativismo (ver tópico 2.3), 
conforme dito, viu-se que a língua contextualiza-se nela mesma, 
ou seja, nas suas propriedades internas, e seleciona a gramática 
como seu componente central. Como principais representantes 
dessa linha de investigação tem-se Saussure, no Estruturalismo, 
e Chomsky, no Gerativismo (ver tema 2).
Ao longo do século XX, muitas outras escolas de estudos 
linguísticos foram se desenvolvendo, produzindo uma quanti-
dade enorme de pesquisa, revelando aspectos até então nunca 
explorados do funcionamento das línguas e mostrando definiti-
vamente a inadequação e as limitações das análises tradicionais 
(mas sempre reconhecendo seu pioneirismo). Diante disso, sur-
giram outros campos de estudo das línguas, além dos campos 
tradicionais - fonética, morfologia, sintaxe, semântica –, cada 
uma com seus objetivos e métodos de trabalho próprios. 
Divisões da Linguística
Conforme anunciamos no parágrafo anterior, o campo da 
Linguística é constituído de diversas áreas, nas quais se desen-
volve o estudo da linguagem com diferentes enfoques. Vejamos 
uma ilustração da divisão geral da Linguística: 
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 41
Fonte: http://www.cefala.org/fonologia/imagens/img_divisoes_linguisti-
ca_PQ.jpg
Como se observa, os fenômenos linguísticos podem ser analisados à luz da 
Psicolinguística, da Sociolinguística, Pragmática, etc. É importante ressaltar 
que cada uma dessas áreas, principalmente as tradicionais, ainda se rami-
fica (a Fonética, por exemplo, divide-se em Fonética Articulatória, Fonética 
Acústica, Fonética Auditiva e Fonética Instrumental).
42 Linguística
Texto complementar
HISTÓRIA DA LINGUÍSTICA: A opção “HISTÓRICA”
No século XIX, os estu-
dos linguísticos sofrem 
uma modificação em seu 
caráter, em função da al-
teração de seus objetivos. 
Ao invés de se estudar a 
linguagem para fazer filo-
sofia ou para fazer crítica 
literária, como nos sécu-
los anteriores, passa-se a 
estudar a linguagem pen-
sando-se em fazer ciên-
cia. Em oposição a toda 
a linguística precedente, 
os linguistas desse perí-
odo – os comparativistas- pretendem que a sua linguística 
seja “científica’: nos moldes da noção de cientificidade que 
se impôs no início do século XIX. Esse novo objetivo vai de-
terminar não só uma metodologia como também um novo 
objeto para a linguística. A proposição de “fazer ciência” for-
ça os comparativistas a se afastarem da praxis dos linguistas 
precedentes e a desenvolverem novas formas de abordar os 
fatos linguísticos, bem como os força a definir um novo obje-
to para a linguística, um objeto em que seja possível encon-
trar regularidades que possam ser enunciadas sob a forma 
de leis (o que antes se buscava eram normas ou regras).A 
comparação entre as línguas e a história de seus desenvolvi-
mentos é esse novo objeto. 
A descoberta do sânscrito (antiga língua da India, pre-
Indicamos o livro: Quinhentos anos de 
história linguística do Brasil
[MATTOS E SILVA, R. V. Uma compre-
ensão histórica do Português Brasileiro 
(PB): velhos problemas repensados. In: 
CARDOSO, S. A. M.; MOTA, J. A.; MAT-
TOS E SILVA, R. V. (Org.). Quinhentos 
anos de história linguística do Brasil. Sal-
vador: Secretaria da Cultura e Turismo do 
Estado da Bahia, 2006. p. 219-254.
Nese livro você encontra uma coletânea 
de textos na área da Linguística Histórica 
com resultados de várias pesquisas.]
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 43
servada por razões religiosas) foi o lance de sorte que per-
mitiu que Franz Bopp criasse uma nova forma de encarar 
os fatos linguísticos. Tudo levava a crer, no início do século 
XIX,que a comparação entre as línguas fosse um bom lugar 
para se encontrar regularidades.Os paradigmas de declina-
ção do grego e do latim, quando comparados com o paradig-
ma do sânscrito, exibiam regularidades notáveis e permitiam 
a obtenção de hipóteses razoavelmente bem fundadas sobre 
o processo evolutivo que separou as três línguas. Como as 
primeiras regularidades tivessem sido observadas nos sis-
temas morfológicos e fonológicos das línguas comparadas 
(línguas com flexão de caso e com sistemas fonológicos já 
descritos de forma razoável), foi, obviamente, sobre a morfo-
logia e a fonologia das línguas que os comparativistas - como 
o bêbado da piada - debruçaram-se. A história das línguas, 
obtida a partir do método comparativo, passou a ser central, 
na medida em que permitia um estudo científico dos fatos 
linguísticos,ou seja, permitia a obtenção de leis gerais que 
descrevem regularidades. 
Ao contrário do que ocorreu no século XVIII, quando 
surgiram inúmeras hipóteses sobre a origem e o desenvol-
vimento das línguas, os comparativistas limitaram-se a des-
crever os fatos e não tentaram explicá-los. Eles se recusaram 
a levantar hipóteses, seja sobre a direção das mudanças lin-
guísticas, seja sobre suas razões. A linguística do século XIX 
privilegiou a “adequação descritiva”, para usar os termos de 
Chomsky. Todos os aspectos da linguagem para os quais não 
se dispunham de leis descritivas razoáveis, formuladas em 
termos histórico-comparativos, foram relegados a um segun-
do plano. 
A linguística histórico-comparativa do século XIX força-
nos a reconhecer uma terceira opção, ao lado das opções 
nocional e filológica. Chamemo-la de histórica.
44 Linguística
A opção histórica, como seu nome indica, concentra 
sua atenção no caráter dos fenômenos linguísticos. Nessa 
perspectiva, a questão da variação liguística, no tempo e no 
espaço, passa a ser o objeto de estudos. Isso significa, en-
tre outrascoisas, que se abandona a idéia de que a tare-
fa da lingüística é identificar uma essência da língua (seja 
ela localizada na sua função representativa, como pretende 
a perspectiva nocional, seja numa forma pura e privilegiada 
de expressão, como pretende a perspectiva filológica), mas 
se reconhece que as línguas, como todo fenômeno humano 
e social, mudam historicamente e que, portanto, a tarefa de 
quem quer que seja no estudo objetivo (“científico”) da lin-
guagem é descrever mudanças e descobrir as leis subjacen-
tes. Essa opção é típica do século XIX e seus principais re-
presentantes são comparativistas – como Bopp, Schleicher, 
Grimm e Schlegel – e neogramáticos como Osthoff, Brüg-
mann, Delbrück e Hermann Paul.
Para Refletir
Linguística Histórica e História da Linguística têm o mesmo sig-
nificado? Reflita e compartilhe sua opinião no AVA com seus 
colegas.
Tema I | Conceituação e cronologia dos estudos linguísticos 45
Resumo do Tema I
Ao longo dos conteúdos deste primeiro tema buscamos 
esclarecer algumas questões básicas sobre a natureza da lingua-
gem humana, visando a sua descrição em geral. Mostrou-se, por-
tanto, que a linguagem humana constitui-se o objeto da Linguísti-
ca, mas que este mesmo objeto pode ser estudado, também, por 
outras ciências, porém com objetivos distintos da ciência que dá 
nome a esta disciplina – a Linguística. Observamos, por fim, que 
os estudos linguísticos já eram realizados de maneira “acientífica” 
(na antiguidade clássica) e que se afirmou cientificamente após 
Saussure vindo a se destacar no campo das ciências humanas. 
Na sequência do livro, veremos como se desenvolveu 
o fazer científico sobre a língua(gem), ou seja, quais as princi-
pais teorias e teóricos da Linguística.
2 Principais teóricos/teorias da Linguística moderna
No nosso primeiro encontro, você foi convidado a entrar 
no universo da língua(gem), onde, conhecemos um pouco 
das principais teorias linguísticas ao estudarmos os conceitos 
básicos e princípios da Linguística. Hoje, no nosso segundo 
tema, convido você a mergulhar no estudo das principais teorias 
da Linguística moderna.
2.1 FORMALISMO X FUNCIONALISMO: CORRENTES E TEO-
RIAS LINGUÍSTICAS
No primeiro tópico do tema 1 falei a respeito de uma obra 
que foi de fundamental importância para a história e consolidação 
dos estudos da linguagem. Alguém lembra que obra é essa? E o 
que aconteceu após a sua publicação?
Como vimos, rapidamente, a partir do século XX, os estudos 
linguísticos agruparam-se em dois grandes polos: de um lado os 
formalistas e do outro os funcionalistas. 
48 Linguística
Essas escolas teóricas, segundo Berlinck; Augusto; Shaer, 
(2006, p.210), “constituem as duas vias principais pelas quais 
se têm desenvolvido os estudos linguísticos de um modo geral 
nesse último século”. 
Visão geral: forma x função
De acordo com a visão formalista, a língua é objeto formal 
abstrato, ou seja, um conjunto de orações. A gramática, por sua vez, 
é concebida como uma tentativa de caracterizar esse objeto abstrato, 
em termos de regras da sintaxe formal. Já na visão funcionalista, 
língua é um instrumento de interação social, logo não existe por si só, 
mas sim em virtude de seu uso, visando à interação entre os falantes. 
Na visão funcionalista, observa-se a língua na situação social 
que gera as estruturas. Contudo, ao se fazer um confronto dessas 
duas teorias, foi possível concluir que a notória divergência de 
pontos de vista não implica dizer que os estudos funcionalistas 
excluíram as ideias dos estudos formalistas, senão que acresceram 
a noção de funcionalidade à concepção estrutural (formal) da língua. 
Segundo Pezatti (2004, p.175), “os diferentes enfoques não 
estudam objetos diferentes, mas elegem diferentes fenômenos do 
mesmo objeto”. Isto se justifica porque, na visão do autor, “enquanto 
forma função
X
Tema II | Principais teóricos/teorias da Linguística moderna 49
a linguística formal gera explicações a partir da própria estrutura”, 
a linguística funcional “encontra bases explanatórias na função que 
exercem as unidades estruturais” (PEZATTI, 2004, p.168). 
Até o século XIX, predominava uma visão estritamente formal 
da língua, desenvolvida pelo Estruturalismo. O Funcionalismo, que 
dá preferência à função da língua em vez da forma, desenvolveu-
se mais intensamente a partir da década de 1970, mas tem suas 
raízes na Primeira Escola Linguística de Praga, em voga nos anos 40 
e 60, cujos principais representantes eram Trubetzkoy, Jakobson, 
Karcevsky e Martinet. Segundo Neves (1997), a ‘Escola linguística 
de Praga’ é a designação que se dá a um grupo de estudiosos 
que começou a atuar antes de 1930, para os quais a linguagem, 
acima de tudo, permitia ao homem reação e referência à realidade 
extralinguística. Em 1946, Martinet afirmava que “a língua é um 
sistema de meios adaptados a um fim” (a comunicação). Desse 
ponto de vista, a língua varia durante a comunicação. 
Contestando preceitos de Saussure, ao se opor à ideia da 
“sincronia estática”, Martinet propõe uma “sincronia dinâmica”: 
a língua está em constante mutação e evolui para atender às 
necessidades de uma comunidade. Para Saussure, a língua é um fato 
social independente do indivíduo, e, ao estabelecer a dicotomia langue 
vs parole, considera a fala, mas não estuda a realidade individual, e 
sim o sistema. Mathesius, por sua vez, visto como um dos principais 
representantes da corrente funcionalista, também já destacava em 
seus trabalhos que na comunicação as formas lexicais e gramaticais 
de uma língua são produzidas para servir a um propósito especial 
imposto sobre elas pelos falantes no momento da interação. 
Funcionalismo ou Funcionalismos?
De acordo com Neves (1997), não há uma teoria monolítica 
do funcionalismo. Este modelo apresenta vertentes bastante 
diferentes que compartilham a ideia de que a linguagem é um 
instrumento de comunicação e interação social e estabelecem 
50 Linguística
um objeto de estudo baseado no uso real (não há distinção entre 
sistema e uso). Segundo Pezzati (2004, p. 168), na perspectiva 
funcional “a linguagem é vista como uma ferramenta cuja forma 
se adapta às funções que exerce e, desse modo, ela pode ser 
explicada somente com base nessas funções, que são, em última 
análise, comunicativas.” O termo “função” remete à dependência 
de um elemento estrutural com relação a elementos linguísticos 
de uma ordem estrutural ou não-estrutural.
Bühler chamou a atenção para o fato de que a língua tem 
funções:
- representativa (descrição do contexto social do falante);
- apelativa (necessária para chamar a atenção do receptor 
e modificar seu comportamento) e de;
- exteriorização psíquica (expressão dos sentimentos do 
falante).
Jakobson retoma as funções de Bühler ao propor as funções 
da linguagem: emotiva, metalinguística, poética, apelativa, fática 
e referencial. Essas ideias influenciaram a corrente funcionalista, 
segundo a qual tudo o que se passa no fenômeno linguístico 
requer uma função, um motivo. Isso implica dizer que essa 
vertente se contrapõe à visão estruturalista, que concebia a 
linguagem como imotivada, arbitrária. 
Para sintetizar o principal pen-
samento das teorias funciona-
listas é necessário ir ao pensa-
mento de Martinet. Para ele o 
objeto da verdadeira linguísti-
ca é o modo como as pesso-
as conseguem comunicar-se 
pela língua, e o linguista, por 
sua vez, deve ser sempre 
guiado observando a compe-
tência comunicativa.
André Maertinet (1908-1999), um linguista 
francês, foi professor de linguística francesa e 
destacou-se dentro da corrente do funciona-
lismo linguístico. Quando jovem, esteve em 
contato com os mestres do Círculo Linguísti-
co de Praga, o que lhe possibilitou, mais tar-
de, desenvolver a teoria funcionalista, que vi-
ria a influenciar profundamente as gerações 
de linguistas posteriores, estabelecendo, as-
sim, mais um paradigma em linguística.
Tema II | Principais teóricos/teoriasda Linguística moderna 51
Como vocês podem perceber, a questão primordial de toda 
a abordagem funcionalista de determinada língua é “explicar as 
regularidades observadas no uso interativo da língua, analisando 
as condições discursivas em que se verifica esse uso”. (CUNHA, 
2008, In: MARTELOTTA, 2008, p. 158).
No que tange à aquisição da linguagem e aos universais 
linguísticos, a abordagem funcionalista considera que a criança 
desenvolve o sistema linguístico subjacente ao uso, a partir de 
suas necessidades comunicativas na sociedade. Os universais, 
assim, devem ser explicados através dos fins de comunicação, 
dos contextos em que a língua é usada e das propriedades 
biológicas, psicológicas e cognitivas dos usuários
Halliday, de acordo com Neves (1997), propõe uma teoria 
que tenta explicar fatos intrínsecos à língua. As múltiplas funções 
que a língua exerce se refletem na organização interna da língua, 
e a investigação da estrutura linguística revela as necessidades a 
que a língua serve. “A pluralidade funcional se constrói claramente 
na estrutura linguística e forma a base de sua organização 
semântica e simbólica, ou seja, lexical e gramatical.” (NEVES, 
1997, p. 12) 
Halliday (1970) percebe a linguagem servindo, em um 
primeiro momento, à expressão do conteúdo (como função 
ideacional), em um segundo momento, à função interpessoal, 
mantenedora dos papéis sociais e, em um terceiro momento, à 
função textual, a qual trabalha a criação do texto. 
 Para os funcionalistas, o importante é o uso das expressões 
linguísticas na interação verbal. É através dela que se conhece 
a interação social entre os indivíduos, estabelecendo-se assim, 
relações comunicativas entre os usuários. 
52 Linguística
A Gramática Funcional
A Gramática Funcional, que estuda a gramática de uma 
língua e a sua instrumentalidade de uso, tem como base de 
investigação e análise a perspectiva funcional da linguagem 
natural, entendida como instrumento de interação social. Sob 
este enfoque, entende-se que cada falante tem competência 
comunicativa e que há reciprocidade entre os usuários de 
determinada língua possibilitando-lhes trocas de experiências 
linguísticas, sejam elas mentais ou práticas. 
A teoria linguística da gramática funcional, portanto, atenta 
para as questões da parte da linguagem que atuam na competência 
comunicativa, além de se preocupar com a implementação desta 
competência na interação social. Na gramática funcional os 
princípios sintáticos e semânticos da língua se explicam a partir 
do princípio pragmático (motivações psicológicas dos falantes, 
reações dos interlocutores, tipos socializados da fala, objeto da 
fala, etc.). A comunicação é, portanto, moldada de acordo com 
o ouvinte.
Castilho não considera a existência de uma gramática 
funcional, mas uma sintaxe (funcional) do discurso. Para ele 
a sintaxe e a semântica são moldadas pelo discurso. Essa 
sintaxe funcional seria o estudo da competência comunicativa 
(o conhecimento que o falante tem do receptor e, sobretudo, 
das intenções dos falantes, o conhecimento linguístico e o 
conhecimento pragmático). Para Castilho, a competência 
comunicativa é vista como:
1) capacidade de criar sentidos e processar informações 
(semântica);
2) capacidade de criação textual (sintaxe);
3) capacidade de promover interação verbal (pragmática). 
Tema II | Principais teóricos/teorias da Linguística moderna 53
Para Refletir
‘Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?’
Certamente você já ouviu essa pergunta, mas não relacionada 
às teorias linguísticas. Então, tomando por base as abordagens 
formal e funcional da língua(gem), discuta com seus colegas no 
AVA como os representantes dessas correntes responderiam a 
seguinte questão: 
Quem veio antes, a forma (estrutura da língua determina o uso) 
ou a função (o uso molda as estruturas linguísticas)? 
 
2.2 O ESTRUTURALISMO: A DE SAUSSURE
Finalmente, chegou 
a hora de conhecermos 
melhor as ideias que revo-
lucionaram os estudos lin-
guísticos e consolidaram 
a ciência da língua(gem). 
Como se sabe, pela apre-
sentação do Curso de Lin-
güística Geral no Tema 1, 
essas ideias foram herda-
das de Saussure e publica-
das após a sua morte.
Mas... o que é mesmo Estruturalismo?
 Quando se trata do termo estruturalismo, não é possível 
falar em um conceito único. Ainda que não considerássemos o 
uso desse termo por outras ciências, entre as próprias escolas 
linguísticas, as abordagens estruturalistas foram diferentes, tais 
Ferdinand de Saussure (Genebra, 26 de no-
vembro de 1857 - Morges, 22 de fevereiro 
de 1913) foi um linguista suíço que contri-
buiu de forma significativa para o desen-
volvimento da linguística enquanto ciência. 
Suas teorias desencadearam o surgimento 
do estruturalismo e estimularam muitos dos 
questionamentos presentes na linguística 
do século XX.
54 Linguística
como a europeia (representada por Saussure) e a Americana 
(representada por Bloomfield). No entanto, pode-se dizer, de um 
modo geral, que o estruturalismo consiste numa abordagem da 
língua (langue) como um sistema estruturado.
O Estruturalismo europeu: a herança saussureana
Diferindo do pensamento linguístico predominante no 
século XIX, cujo foco era necessariamente histórico, Saussure 
(1857-1913) estabeleceu que o estudo era, na verdade, 
bidimensional, comportando, assim, uma dimensão histórico-
temporal – a diacronia – e outra estática – a sincronia, uma vez que 
concebia a língua (fala) como uma realidade em tranformação. 
No entanto, segundo essa ótica, as mudanças nunca afetariam o 
sistema (langue) – a língua – globalmente, o que ocorreria seriam 
apenas alterações de elementos da fala.
Assim, opondo-se ao estudo da linguagem numa 
perspectiva histórica, Saussure ampliou o horizonte da ciência 
Linguística. Isto ocorreu porque, até então, os estudos nessa 
área atentavam para o ser da linguagem, e não para o seu 
funcionamento. Ao levantar essas questões, Saussure chama a 
atenção para a necessidade de a Linguística ampliar seu olhar 
para o estudo dos signos, sugerindo assim, a arbitrariedade dos 
signos e a rigidez do sistema. Nessa perspectiva, o que deve ser 
investigado é parte da língua comum aos falantes, ou seja, “o 
sistema, e não as mensagens a que ele serve de suporte” (ILARI, 
2007, p. 53, In: MUSSALIM; BENTES, 2007).
Tema II | Principais teóricos/teorias da Linguística moderna 55
Conforme vimos na breve apresentação das principais teorias 
linguísticas (tema 1), Saussure deixou um legado não só para a 
ciência da linguagem. As suas ideias resumem-se num conjunto de 
dicotomias (ver conteúdo 1.2), dentre as quais destacamos: língua 
e fala, sincronia e diacronia, paradigma e sintagma, significado e 
significante, forma e substância, motivado e arbitrário.
Língua e fala
De acordo com Saussure, a linguagem deve ser tomada como 
um objeto duplo, com seu lado social, a língua (langue), e um lado 
individual, a fala (parole), sendo impossível conceber um sem o outro.
A língua na visão saussureana é um sistema supra-individual 
utilizado como meio de comunicação entre os membros de uma 
comunidade; corresponde assim à parte essencial da linguagem, um 
sistema gramatical depositado no cérebro de um conjunto de indivíduos 
pertencentes a uma mesma comunidade linguística. Daí seu caráter social.
A fala por sua vez, segundo Saussure é a utilização prática, 
concreta de um código de língua por um determinado falante num 
momento preciso de comunicação, daí seu caráter individual.
[Para saber mais sobre Saussure, leia:
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure. 12. ed. 
Petrópolis: Vozes, 2003.
Esse livro já se encontra em sua 12ª edição, contendo os 
fundamentos e uma visão crítica das iluminadas ideias do 
genial fundador da Linguística moderna. Nessa obra, de 
linguagem bastante acessível, você encontrará também 
exercícios com questões voltadas para o estudo da língua 
portuguesa de acordo com a perspectiva dessa teoria.]
56 LinguísticaPara Saussure, a língua é condição da fala, uma vez que, 
quando falamos, estamos submetidos ao sistema estabelecido 
de regras que corresponde à língua.
O objeto de estudo da linguística estrutural é a língua e não 
a fala, sendo esta última tomada como objeto secundário. Isso 
se dá porque é na língua, conhecimento comum a todos, que 
se encontra a essência da atividade comunicativa, e não naquilo 
que é específico de cada um.
Saussure não só apontava para um tipo de pesquisa 
totalmente diferente do que tinha praticado toda sua vida, como 
provocou uma mudança de atitude nos estudos linguísticos, 
mudança que é sentida até hoje.
Sincronia e diacronia
“É sincrônico tudo que se relacione com o aspecto estático da 
nossa ciência, diacrônico tudo que diz respeito a evoluções. Do mesmo 
modo, sincronia e diacronia designarão, respectivamente, um estado 
de língua e uma fase de evolução” (SAUSSURE, 1975, p. 96).
Enquanto um estudo sincrônico de uma língua tem como 
finalidade a descrição de um determinado momento no tempo, o 
estudo diacrônico busca estabelecer uma comparação entre dois 
momentos da evolução histórica de uma determinada língua.
A linguística proposta por Saussure põe como prioritário o 
estudo sincrônico da língua:
Saussure se opõe aos estudos sócio-comparativos 
do século XIX, mostrando que não há possibilidade 
de se fazer um estudo histórico sério se o lingüista 
se ocupar de meras “porções” da língua. A língua é 
um sistema e, na verdade, é o próprio sistema que 
muda e que é história. Assim, o estudo autônomo 
do sistema (linguística sincrônica) é condição 
lógica para o estudo de sua história (linguística 
diacrônica). (BORGES; NETO, 2004, p. 103)
Tema II | Principais teóricos/teorias da Linguística moderna 57
Diante disso, Lucchesi (2004), conluiu que a nova dicotomia 
saussureana está relacionada com a primeira de forma direta: a 
sincronia correpondendo à língua, e a diacornia à fala.
O signo linguístico
A língua é um sistema de signos, ou seja, o signo é a 
unidade constituinte do sistema linguístico. Ele é formado por 
duas partes inseparáveis, como duas faces de uma folha de 
papel, o significado e o significante.
O significante é uma imagem acústica de uma dado conceito, 
ou significado. Ambos são entidades psíquicas, então não se 
deve associar a imagem acústica a uma sequência de fonemas, 
pois não se trata do som material, já que a fala é excluída dos 
estudos estruturalistas.
O signo linguístico é arbitrário, ou seja, a relação que se 
estabelece entre significante e significado não é motivado, e 
sim convencional. No entanto, Saussure admite que há signos 
parcialmente motivados, como dezenove.
A Linguística pós-saussureana 
As gerações que se seguiram a Saussure mantiveram 
uma orientação estruturalista, estudando a língua sob um olhar 
sincrônico, preocupados com o sistema, com uma concepção 
de língua que priorizava a forma, em detrimento da substância. 
Estas correntes foram, entretanto, bastante diferentes entre 
si e, por isso, muitas vezes referiam-se a elas no plural, como 
estruturalismos; entre elas, há a Escola Linguística de Praga, 
com seu caráter funcionalista, a glossemática de Hjemslev, o 
funcionalismo de Martinet, entre outros.
O aspecto mais característico da Escola de Praga, que teve 
forte atuação na década que antecedeu a II Guerra Mundial, é a 
58 Linguística
combinação de estruturalismo com funcionalismo. Para eles, a 
estrutura das línguas é, em grande parte, determinada por suas 
funções características.
É também grande contribuição desta Escola a distinção 
entre tema e rema: o tema de um enunciado é a parte que se 
refere ao que já é conhecido ou dado no contexto (também 
chamado por outros teóricos de tópico ou assunto psicológico), 
e rema é a parte que veicula a informação nova (o comentário ou 
predicado psicológico). 
A glossemática, de Hjemslev, foi a escola linguística 
estrutural que mais procurou aplicar a tese saussuriana de que 
as línguas se constituem como sistemas de oposição, o que a 
levou a uma caracterização exaustiva das relações por meio das 
quais as línguas se estruturam. Isto fez com que fosse acusada 
de uma preocupação excessiva com os instrumentos de análise 
linguística e de produzir textos abstratos e de difícil aplicação. 
No entanto, há muitas distinções apresentadas por 
Hjelmslev que são bastante claras, tais como:
a) A explicação de como a forma e a substância se articulam 
com a expressão e o conteúdo; e
b) A demonstração de que a variedade de relações entre os 
eixos sintagmáticos e paradigmáticos é objeto de uma tipologia 
exaustiva.
Com Saussure, a linguística passa a ter um ponto de vista próprio, 
“interno”, não subordinado ao de outras áreas do conhecimento.
Indico a vocês a leitura de LUCCHESI, Dante. Sistema, Mudança 
e Linguagem. Parábola Editorial. São Paulo, 2004. Nessa obra, 
encontramos um percurso na história da linguística moderna, 
o autor aborda a problemática da contradição entre mudança 
e sistema e sistema questionando a ‘concepção de língua 
como sistema’ apresentada por Saussure.
Tema II | Principais teóricos/teorias da Linguística moderna 59
Eugênio Coseriu, em seu livro Sincronia, diacronia e 
história, de 1973, contrapõe-se à visão de Saussure, propondo 
que se veja a língua como um sistema em movimento, em 
permanente sistematização. De acordo com a visão coseriana, 
as línguas são objetos históricos e, por isso, seu estudo deve 
envolver tanto descrição quanto história. Além de Coseriu, 
outros estudiosos, como William Labov, também questionaram e 
sugeriram alterações ao modelo de estudo separatista proposto 
por Saussure.
Para Refletir
Um dos princípios básicos da visão estrutural da língua é a 
arbitrariedade do signo. Você entende o que isto quer dizer? 
Reflita e discuta com seus colegas no AVA.
Prof. Dr. Dante Lucchesi cursou o doutora-
do em Linguística pela Universidade federal 
do Rio de Janeiro, após concluir o mestrado 
em Linguística Portuguesa Histórica pela Uni-
versidade de Lisboa. Desde 1992 ele é pro-
fessor de Língua Portuguesa da Universidade 
Federal da Bahia; é responsável pelo Projeto 
VERTENTES – grupo de pesquisa na área da 
sociolinguística que investiga os vestígios da 
crioulização na fala de comunidades afro-bra-
sileiras.
60 Linguística
2.3 O GERATIVISMO E AS IDEIAS DE CHOMSKY
O gerativismo é uma corrente de estudos linguísticos que 
teve início nos Estados Unidos, no final da década de 50, a partir 
dos trabalhos de Noam Chomsky. Considera-se o ano de 1957 a 
data de nascimento da linguística gerativa com a publicação de 
Syntactic Structures.
Ao longo de meio século de existência, o gerativismo 
passou por diversas modificações e reformulações, que refletem 
a preocupação dos pesquisadores em elaborar um modelo 
formal capaz de explicar e descrever abstratamente o que é e 
como funciona a linguagem humana.
A linguística gerativa surgiu em resposta e rejeição ao 
modelo behaviorista (ver tema1) de descrição dos fatos da 
linguagem, que interpretava a linguagem como uma resposta que 
o organismo humano produzia diante de estímulos externos que 
recebia. Esta resposta, a parte de repetição mecânica e constante, 
se tornaria um hábito, que caracterizariam o comportamento 
linguístico do falante.
Com o gerativismo, as línguas deixam de ser interpretadas 
como um comportamento socialmente condicionado e passam a 
ser analisadas como uma faculdade mental natural.
Conceito de Gramática
Há definições diversas para o conceito de gramática, e o mais 
recorrente no senso comum é aquela da gramática tradicional, que 
é vista como um conjunto de regras do “bem falar”, que prescreve 
o que é certo e o que é errado em uma língua.
O conceito de gramática adotado pela gerativa não é 
determinado por um padrão de correção. Partindo-se do princípio 
de que só os humanos são capazes de combinar um número 
finito de elementos. 
Tema II | Principais teóricos/teorias da Linguística moderna 61

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