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INTERAÇÕES FÁRMACO- FÁRMACO CARDIOVASCULAR − Fármaco receptor: atua diretamente no sistema cardiovascular − Fármaco precipitante: interage com o fármaco receptor e provoca alteração no seu efeito − Os efeitos mais comuns das interações medicamentosas no sistema cardiovascular são: • Arritmias • Hemorragias • Tromboembolia • Hipotensão • Hipertensão • Distúrbios hidroeletrolíticos − É comum que pacientes tenham diversas afecções, de modo a necessitar de polimedicação, facilitando a ocorrência de interações medicamentosas − Fármacos que interferem no sistema cardiovascular: • Diuréticos; • Simpatolíticos; • Vasodilatadores; • Inibidores da ECA; • Inibidores de renina; • Antagonistas de receptores para Angiotensina 2; • Antiarrítmicos; • Glicosídeos cardíacos; • Antiagregantes plaquetários; • Anticoagulantes. INTERAÇÕES FUROSEMIDA X VARFARINA − Varfarina: anticoagulante que inibe as ações da vit. K, impedindo síntese correta de agentes pró-coagulantes no fígado − Furosemida: diurético de alça • Tem alta afinidade de ligação as proteínas plasmáticas • Consegue deslocar a varfarina das proteínas plasmáticas. Isso leva a um aumento da biodisponibilidade da varfarina, aumentando o risco de hemorragias − Interação considerada leve ESPIRONOLACTONA X VARFARINA − Espironolactona: diurético antagonista de receptor de aldosterona • O efeito diurético leva a uma maior concentração dos constituintes sanguíneos, de forma que os fatores de coagulação ficam mais concentrados. Assim, pode ser que a hemoconcentração dos fatores de coagulação dificulte a ação da varfarina, aumentando o risco de formação de trombos AAS X VARFARINA − AAS: inibidor da COX-1 irreversivelmente − Impede a formação de tromboxano (que atuam na agregação plaquetária). Esse mecanismo tem efeito sinergista com relação à varfarina, aumentando o risco de hemorragias − AAS diminui a formação de prostaglandinas protetoras da mucosa gástrica, podendo induzir a sangramentos gastrointestinais, os quais são piorados com o uso da varfarina − Interação considerada grave AINES X IECA, ARA, BB − IECA – inibidores da ECA − ARA – antagonistas dos receptores de angiotensina II − BB – Beta bloqueadores − Os AINES podem contrapor o efeito hipotensor dos IECA, ARA e BB. Por bloquearem a cox-2, podem diminuir a síntese de prostaglandinas, as quais são vasodilatadores e; com isso, podem alterar o fluxo sanguíneo renal, ativando o SRAA, podendo aumentar a PA METOPROLOL X PAROXETINA, FLUOXETINA − Metoprolol: beta bloqueador – inibe ações das catecolaminas no sistema cardiovascular (aumento da FC, PA) − Fluoxetina e paroxetina são inibidores enzimáticos da CYP. Assim, ah menor biotransformação do metoprolol, aumentando sua biodisponibilidade, aumentando sua ação, levando a bradicardia − Interação considerada ainda incerta; deve-se monitorar o paciente DIGOXINA X VERAPAMIL − Digoxina: glicosídeo cardíaco, usado em ICC − Verapamil: vasodilatador • Compete com a glicoproteína P, responsável pela secreção tubular renal de vários fármacos • O verapamil tem maior afinidade pela glicoproteína P, deslocando outros fármacos, diminuindo a sua secreção tubular renal. Isso pode aumentar a toxicidade ou os efeitos de fármacos que são secretados, também, pela glicoproteína P • No caso da digoxina, pode haver aumento da sua ação devido esse mecanismo, levando a risco de arritmia e toxicidade NIFEDIPINA X CIMETIDINA − Nifedipina: vasodilatador, bloqueador de canal de cálcio, específico para vasos periféricos; tem efeito antiarrítmico − Cimetidina: inibidor dos complexos enzimáticos metabolizados, como CYP3a4, a qual metaboliza a nifedipina. Isso diminui a biotransformação da nifedipina, aumentando sua biodisponibilidade, gerando aumento do seu efeito hipotensor DIURÉTICOS X CORTICOIDES − Diuréticos: aumentam a excreção de sódio e água − Corticoides, a longo prazo, induzem efeito mineralocorticoide, podendo atuar na retenção de sódio e água, provocando inchaço e aumento de PA, contraponto a ação da furosemida e HDTZ. Assim, um fármaco contrapõe a ação do outro SISTEMA ENDÓCRINO − Algumas das principais ações dos anticoncepcionais é inibidor a ovulação através levar a um mecanismo de feedback negativo, inibindo liberação de hormônios como LH e FSH − Podem modificar a constituição do muco cervical e a peristalse na região, dificultando a passagem dos espermatozoides e, consequentemente, a gravidez ESTROGÊNIO − Etinilestradiol PROGESTOGÊNIOS − Ciproterona − Desogestrel − Etinodiol − Gestodeno − Levonorgestrel − Medroxiprogesterona − Noretisterona APRESENTAÇÕES DOS CONTRACEPTIVOS HORMONAIS CONTRACEPTIVO ORAL COMBINADO − Orais: Combinados (estrogênio + progestogênio) ou somente progestogênio − Injetáveis: Mensais (estrogênio + progestogênio), Trimestrais: (somente progestogênio) − Intradérmicos: somente progestogênio − Dispositivo intrauterino: somente progestogênio − Anel vaginal: estrogênio + progestogênio − Adesivo: estrogênio + progestogênio − A interação mais importante dos contraceptivos hormonais é aquela com os antibióticos EXEMPLOS DE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ANTICONCEPCIONAL X ANTIBIÓTICOS − Quando os contraceptivos são ingeridos, são disponibilizados na corrente sanguínea. Uma parte deles faz seu efeito hormonal, e outra porção do fármaco segue para o fígado e sofre biotransformação em metabolitos inativos − Uma forma de eliminação do estrógeno conjugado no fígado é pela bile − Uma vez metabolizado, ele é excretado no trato TGI − No intestino, ocorre hidrolise do conjugado inativo do contraceptivo. A própria microbiota intestinal faz essa hidrolise, convertendo-o em uma forma ativa, o qual novamente é absorvido e levado em direção ao sangue. Isso aumenta a biodisponibilidade do contraceptivo, já que uma parte dele, que deveria ser excretada, foi reabsorvida na forma de fármaco ativo − O antibiótico pode reduzir a microbiota, fazendo com que essa hidrolise do contraceptivo conjugado inativo não ocorra. Dessa forma, há diminuição do efeito contraceptivo − Esse mecanismo explica a interação de antibióticos com contraceptivos combinados (estrógenos + progestogênios) − Esse mecanismo não explica a diminuição do efeito de contraceptivos isolados de progestogênios, quando se tem uso concomitante de antibióticos. Ainda não se sabe o mecanismo correto − Os antibióticos mais relevantes nesse contexto são: ampicilina, amoxicilina, tetracilcina, rifampicina, farmacos indutores enzimáticos, entre outros − Quando se tem sangramento intermenstrual, pode-se ter diminuição do efeito contraceptivo T4 X AMIODARONA − Amiodarona tem alta concentração de iodo na sua fórmula molecular. Assim, quando se há uso de amiodarona, o excesso de iodo na corrente sanguínea pode levar a uma autorregulação na tireoide (Fenômeno de Wolff-Chaikoff). Nesse caso, há uma redução da liberação de t4 da tireoide. − O fornecimento de grandes quantidades de iodo a indivíduos com função tireoidiana normal resulta em diminuição transitória da síntese de HT e de iodeto orgânico devido ao aumento intratireoidiano de iodeto inorgânico. Com isso, haverá diminuição da produção de T3 e T4. − Além disso, o mecanismo central da interação é a inibição da 5’desiodase, enzima necessária para a conversão e T4 → T3, que é a forma ativa do hormônio tireoidiano. Assim, haverá diminuição da ação dos hormônios tireoidianos, podendo levar a um hipotireoidismo farmacológico • A inibição da 5`desiodase tipo 1 é um dos principais efeitos bioquímicos da amiodarona. Tal efeito provoca um aumento sérico do T4 em até 50% acima dos valores pré-tratamento, redução de 10 a 30% do T3, com consequente aumento do rT3 BETABLOQUEADORES X T4 E T3 − Betabloqueadores podem causar hipotireoidismo tambem − O bloqueioperiférico de T4 para T3, e a redução de sua atividade da 5’desiodase tipo I, sem alterar os níveis séricos do TSH. Este efeito foi relacionado às doses de propranolol >160mg/dia. ANTICONVULSIVANTES X T4 E T3 − Anticonvulsivantes: A fenitoína e a carbamazepina exercem efeito duplo sobre os HT: competem pela ligação com a TBG e aceleram o metabolismo hepático do T3 e T4, ocasionando uma queda de seus níveis séricos, sem alterar significativamente o TSH • O fenobarbital eleva o metabolismo hepático dos HT e a eliminação fecal do T4. No indivíduo normal, o eixo hipotálamo-hipófise compensa o aumento do metabolismo hormonal, elevando a síntese e secreção dos HT, e mantendo as concentrações de T3, T4 e TSH dentro dos valores de normalidade. No entanto, pacientes com hipotireoidismo subclínico ou franco não podem elevar a produção dos HT, agravando o hipotireoidismo GLICOCORTICOIDES X T3 E T4 − Glicocorticoides: Níveis fisiológicos de hidrocortisona parecem exercer papel importante na variação do TSH sérico, com valores baixos pela manhã e elevados à noite.(42,43) Um dos efeitos dos glicocorticoides bem estabelecido é a supressão da secreção do TSH, ao nível do hipotálamo, por meio da inibição da terapia da reposição hormonal (TRH). Porém, em longo prazo, não parecem causar hipotireoidismo central, clinicamente evidente, que necessite de reposição de HT(44,45). Doses baixas de dexametasona, como 0,5mg, podem reduzir os níveis de TSH, enquanto que para a prednisona são necessárias 30mg para alterar significativamente o TSH. AAS X T3 E T4 − AAS: O ácido acetilsalicílico é o medicamento mais frequentemente utilizado capaz de alterar a função tireoidiana.(52) Atua competindo com os HT na ligação com a TBG e TTR (sigla do inglês transthyretin).(4,53) A elevação dos HT pode alterar a resposta do TSH ao TRH , e ter um efeito hipermetabólico.(54,55) Pode aumentar a fração de T4 livre em até 100%.(3) O efeito na função tireoidiana está associado à dose de salicilatos >2g/dia.(4) − Lítio: O carbonato de lítio é muito utilizado para o tratamento de transtorno bipolar.(19) Exerce efeito inibitório na secreção dos HT, pois impede a formação de gotículas de coloide, gerando estimulação da glândula pelo TSH e formação de bócio. Este tem sido descrito em 4 a 60% dos pacientes em uso do fármaco na dose terapêutica.(15,16,19,28-33) O hipotireoidismo induzido pelo lítio apresenta uma prevalência variável, com média de 3,4%.(33-38) Os fatores de risco relatados são presença de autoanticorpos tireoidianos previamente e sexo feminino.(11-19,28-33) A maioria dos pacientes em uso de lítio sem anticorpos tireoidianos positivos apresenta aumento discreto ou moderado do TSH, sem alteração dos níveis dos HT.(33) Com a interrupção do lítio, ocorre resolução tanto do bócio quanto do hipotireoidismo − http://files.bvs.br/upload/S/1679- 1010/2014/v12n4/a4381.pdf − OBS a absorção de levotiroxina é muito prejudicada pela presença de antiácidos e sulfato ferroso INSULINOTERAPIA INSULINOTERAPIA X CONTRACEPTIVOS HORMONAIS − Os contraceptivos hormonais são considerados drogas hiperglicemiantes, pois eles interferem na sinalização intracelular da insulina • via mecanismos de estresse oxidativo, os contraceptivos diminuem a expressão de receptores de insulina, provocando aumento da resistência a insulina, gerando hiperinsulinemia INSULINOTERAPIA X CORTICOIDES − Corticoides também são drogas que geral hiperinsulinemia, pois eles estimulam a gliconeogênese hepática e aumento da glicemia − Eles também inibem os transportadores glut4 no musculo, dificultando a entrada de glicose no musculo, fazendo com que sua quantidade acabe aumentando na corrente sanguínea − Assim, há hiperglicemia associado a maior dificuldade de ação da insulina DROGAS HIPOGLICEMIANTES / INSULINOTERAPIA X BETABLOQUEADORES − Propranolol, com seu bloqueio beta adrenérgico, atua reduzindo a glicogenólise e diminuindo a secreção de glucagon http://files.bvs.br/upload/S/1679-1010/2014/v12n4/a4381.pdf http://files.bvs.br/upload/S/1679-1010/2014/v12n4/a4381.pdf − Esse mecanismo, associado a drogas hipoglicemiantes, pode levar a crises de hipoglicemia acentuadas INSULINOTERAPIA X ANGIOTENSINA − Quando a angiotensina se liga a seus receptores na membrana celular, ela leva a estimulação de uma serie de serina quinases que são capazes de evitar/bloquear vias sinalizadoras da insulina − Assim, fármacos bloqueadores dos receptores de angiotensina, como losartana, podem ter como efeito secundário o aumento do efeito hipoglicemiante • Isso ocorre pois além de diminuir a PA, aumentam a sensibilidade a insulina, bloqueando o bloqueio que a angiotensina faz nas vias sinalizadoras de insulina CASOS CLÍNICOS EXERCÍCO 1: Joelmira, 53 anos, em consulta médica apresentou-se com humor marcadamente deprimido, anedonia, astenia, ideias de suicídio e anorexia. Hipertensa de longa data, estava em dieta hipossódica e fazendo uso de captopril 25 mg/dia. Não referia nenhuma outra patologia, tendo sido confirmado o diagnóstico de depressão. Nesse mesmo dia, foi iniciado esquema terapêutico com venlafaxina 25 mg/dia, dosagem que foi aumentada gradualmente nos próximos dias. No sexto dia de tratamento, a paciente chegou a dose de 100 mg/dia de venlafaxina, com sinais de uma excelente resposta clínica. Mantida a dosagem, dois dias após começou a queixar-se de cefaleia e mal-estar abdominal, sendo então registrado por sua cardiologista um pico hipertensivo de 180 mmHg x 110 mmHg. A cardiologista decidiu elevar a dosagem de captopril para 50 mg. A partir dessa data, a paciente passou a ter instabilidade nos níveis pressóricos, apresentando treze dias depois novo pico hipertensivo em valores de 160 mmHg x 100 mmHg, com acentuada remissão dos sintomas depressivos. Tomou-se a decisão de retirar a venlafaxina e substituí-la pela fluoxetina 20 mg/dia. Após sete dias, realizou-se uma nova avaliação, tendo a paciente mantido a resposta clínica antidepressiva iniciada com venlafaxina e níveis pressóricos estabilizados em 140 mmHg x 80 mmHg. Com a manutenção desse padrão, nove meses após o início do tratamento foi dada sua alta clínica. Analise o caso acima e indique as interações medicamentosas que podem ter acontecido, explicando-as farmacologicamente. A velanfaxina faz parte da classe dos Inibidores de recaptação de serotonina-norepinefrina. Ela pode aumentar a pressão arterial. Ela pode causar desconfortos abdominais, como os relatados pela paciente Joelmira. A CYP2d6 está envolvida no metabolismo da maioria dos ISRSs, sendo que esses são inibidores moderadamente potentes dessa isoenzima. A velanfaxina é uma inibidora fraca. Deve-se ter cuidado ao combinar ISRSs com fármacos que são metabolizados por CYPs 1A2, 2D6, 2C9 e 3A4 (p. ex., varfarina. antidepressivos tricíclicos, paclitaxel). O captopril é um anti-hipertensivo, cuja ação hipotensora se estabelece basicamente pela inibição da enzima conversora de angiotensina, levando a uma redução da angiotensina II, que se liga a receptores específicos na membrana celular de vários tecidos, exercendo ação fisiológica de regulação da TA e sendo um potente vasopressor. Ele é metabolizado pela enzima CYP2d6. O mecanismo de interação entre o captopril e velanfaxina é o seguinte: a velanfaxina inibe a recaptação tanto de serotonina como noradrenalina (NA), e com isso, o aumento da transmissão noradrenérgica pode levar a aumento da PA. Isso ocorre a partir da ligação da NA com: • Receptores alfa → constrição das artérias coronárias • Receptores Beta1 → aumento da FC Assim, a velanfaxina antagonizou os efeitos hipotensores do captopril. Mesmo aumentando a dosagem de captopril para 50mg, a instabilidade hemodinâmica se manteve. Por isso, teve que haver substituição da velanfaxina por fluoxetina.MARCOLIN, Marco Antonio; CANTARELLI, Maria da Graça; GARCIA JUNIOR, Manoel. Interações farmacológicas entre medicações clínicas e psiquiátricas. Rev. psiquiatr. clín., São Paulo , v. 31, n. 2, p. 70-81, 2004 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S0101-60832004000200003&lng=en&nrm=iso>. access on 08 Aug. 2020. http://dx.doi.org/10.1590/S0101- 60832004000200003. SUCAR, Douglas D. Interação medicamentosa de venlafaxina com captopril. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo , v. 22, n. 3, p. 134-137, Sept. 2000 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S1516-44462000000300008&lng=en&nrm=iso>. access on 08 Aug. 2020. http://dx.doi.org/10.1590/S1516- 44462000000300008. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-60832004000200003 http://dx.doi.org/10.1590/S0101-60832004000200003 EXERCÍCIO 2: Gislene, 32 anos, foi admitida na UPA referindo um quadro de dispneia há mais de uma semana, associada a epistaxe, hematúria e melena há 3 dias. Este se iniciou logo após episódio gripal, quando a paciente automedicou-se com nimesulida e paracetamol, e, por iniciativa própria, aumentou a dose de varfarina, fármaco que usava há 7 anos devido um reparo cardíaco com colocação de válvula mecânica. Apresentou desde então icterícia, dor abdominal e edema de membros inferiores. Em um primeiro momento foi realizado a total suspensão da varfarina, administrado vitamina K para reversão da ação do anticoagulante. No 5° dia de tratamento hospitalar, foi reiniciado o uso de varfarina na dose de 5 mg. Após melhora significativa do quadro de icterícia, paciente recebeu alta hospitalar portando encaminhamento para o cardiologista. Analise o caso acima e indique as interações medicamentosas que podem ter acontecido, explicando-as farmacologicamente. A nimesulida e paracetamol são fármacos da classe dos anti-inflamatórios não esteróides (AINEs), que atua através da inibição da enzima ciclooxigenase e, consequentemente, da cascata do ácido araquidónico, que é responsável pela síntese de muitas substâncias, dentre elas, o tomboxano, o qual participa do processo de agregação plaquetária. O mecanismo de dano hepático por AINEs é geralmente dose-dependente. Assim, ao associar nimesulida + paracetamol, houve uma sobrecarga de AINES no fígado, gerando lesão hepática. Um dos exemplos de dano hepático causado pelos AINES é a colestase, na qual há bloqueio do fluxo de bile para o duodeno. Dessa forma, há aumento da quantidade de bilirrubina na corrente sanguínea, já que ela não está conseguindo ser corretamente eliminada pela bile. Isso pode explicar os sintomas de icterícia. A dor abdominal provavelmente vem da lesão dos hepatócitos. Algumas substancias pró-coagulantes são produzidas no fígado, mediante ação da vitamina K reduzida. A enzima que faz a redução da vit. K é a vitamina K redurase. A varfarina bloqueia a ação dessa enzima, fazendo com que os pró-coagulantes não sejam produzidos corretamente. Com isso, a varfarina terá sua ação anti-coagulante. Os AINES, por bloquearem a COX-2, impedem a formação de tromboxano. Sendo assim, o uso concomitante de AINEs + Varfarina facilita a ocorrência de hemorragias, devido a sinergia entre esses fármacos, no que diz respeito a diminuição da coagulação. EXERCÍCIO 3: Dona Rubisleia, 75 anos, procurou atendimento médico relatando emagrecimento, sonolência, desânimo, constipação intestinal, unhas quebradiças e depressão. Referiu fazer uso de Amiodarona 200 mg/dia há oito anos para controle de arritmia cardíaca. O exame físico não apresentou alterações. Com o auxílio de exames laboratoriais, foi feito o diagnóstico de hipotireoidismo, sendo iniciada reposição com Levotiroxina 25 mcg/dia, e concomitantemente a redução da Amiodarona. Após 6 meses, foi substituída a Amiodarona por um betabloqueador. Após alguns meses, a paciente encontrava-se eutireoidiana clínica e laboratorialmente. Nesta ocasião, foi suspenso o uso da Levotiroxina. Atualmente, a paciente ainda encontra-se assintomática, apesar da suspensão do hormônio tireoidiano, mas continua fazendo acompanhamento periódico, em uso do betabloqueador (Atenolol 50mg/dia), mantendo níveis pressóricos dentro dos limites normais. Avalie o caso acima e comente a respeito da conduta médica, dos fármacos utilizados e das interações que podem ter ocorrido. Amiodarona tem alta concentração de iodo na sua fórmula molecular. Assim, quando se há uso de amiodarona, o excesso de iodo na corrente sanguínea pode levar a uma autorregulação na tireoide (Fenômeno de Wolff-Chaikoff). Isso quer dizer que o fornecimento de grandes quantidades de iodo a indivíduos com função tireoidiana normal resulta em diminuição transitória da síntese de hormônios tireoidianos e de iodeto orgânico devido ao aumento intratireoidiano de iodeto inorgânico. Sendo assim, haverá uma redução da liberação de t4 da tireoide. Como esse processo já vem ocorrendo a 8 anos na paciente Rubisleia, ela começou a apresentar sintomas de hipotireoidismo, já que a admiodarona pode levar a hipotireoidismo, dependendo da dose e tempo de uso do fármaco. Os sintomas clássicos de hipotireoidismo são depressão, desaceleração da frequência cardíaca, intestino preso, cansaço excessivo e sonolência excessiva. Por isso, já que a paciente apresentava sintomas parecidos e ainda fazia o uso de amiodarona, o médico suspeitou de hipotireoidismo. Sua conduta em pedir exames foi correta, haja visto que confirmou a suspeita de hipotoreoidismo farmacológico. A levotiroxina é um fármaco que repõe a quantidade de T4 no organismo. Por isso, com a diminuição da amiodarona e o uso de levotiroxina, houve reposição dos hormônios tireoidianos, diminuindo os sintomas da paciente. Além disso, é recomendado que haja substituição da amiodarona por outro fármaco que combata os sintomas de arritmias, como os betabloqueadores (atenolol), ou ainda, poderia ser um fármaco da classe dos bloqueadores dos canais de sódio ou bloqueadores dos canais de potássio. FONSECA, Caroline Walger; MELEK, Flora Eli. Fármacos de amplo uso na prática clínica que interagem com os hormônios tireoidianos. Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, [S. l.], v. 12, n. 4, p. ., 24 out. 2014. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/1679- 1010/2014/v12n4/a4381.pdf. Acesso em: 6 ago. 2020. EXERCÍCIO 4: “O primeiro relato de falha contraceptiva associada ao uso de antimicrobianos ocorreu em 1971, quando REIMERS & JEZEK observaram uma incidência aumentada de sangramento intermenstrual em mulheres que utilizavam contraceptivos orais e, ao mesmo tempo, estavam tomando rifampicina, um antimicrobiano para tratamento de tuberculose. O sangramento intermenstrual é considerado, por muitos autores, como um sinal clínico de perda da eficácia contraceptiva, caso não tenha ocorrido antes, em um dado paciente, com a mesma preparação contraceptiva. Rev. Odontol. Univ. São Paulo; vol.12 n.3, São Paulo, 1998. Comente o texto acima, enfatizando os parâmetros farmacológicos utilizados na explicação do fenômeno apresentado. Os contraceptivos hormonais, geralmente, são constituídos por uma associação de estrógenos e progesterona sintéticos (podendo também ser isolados), os quais inibem a ovulação, pela supressão dos hormônios folículo-estimulante e luteinizante. Também aumentam a viscosidade do muco cervical, dificultando a penetração dos espermatozóides e causam atrofia endometrial, reduzindo a probabilidade de implantação. O uso incorreto, vômitos, diarreias e interação com outras drogas podem diminuir o efeito contraceptivo. Quando os contraceptivos hormonais são ingeridos, o estrógeno e a progesterona são absorvidos do trato gastrintestinal para a corrente circulatória,sendo conduzidos até o fígado, onde são metabolizados. Uma parte dos metabólitos estrogênicos são excretados na bile e outra parte é hidrolisada pelas enzimas das bactérias intestinais, liberando estrógeno ativo, podendo ele ser reabsorvido, estabelecendo-se o ciclo êntero- hepático, o qual aumenta o nível plasmático de estrógeno circulante. Esse processo é responsável por aumentar a ação dos contraceptivos. Alguns antibióticos podem diminuir a ação dos contraceptivos. A rifampicina é um antibiótico usado no esquema de tratamento da tuberculose. Ela provoca indução das CYPs hepáticas, intensificando o metabolismo contraceptivos hormonais, diminuindo sua ação. Por isso, o texto fala que havia uma “incidência aumentada de sangramento intermenstrual em mulheres que utilizavam contraceptivos orais e, ao mesmo tempo, estavam tomando rifampicina”. CORREA, Elisabete Míriam de Carvalho; ANDRADE, Eduardo Dias de; RANALI, José. Efeito dos antimicrobianos sobre a eficácia dos contraceptivos orais. Rev Odontol Univ São Paulo, São Paulo , v. 12, n. 3, p. 237-240, July 1998 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S0103-06631998000300007&lng=en&nrm=iso>. access on 08 Aug. 2020. https://doi.org/10.1590/S0103- 06631998000300007. EXERCÍCIO 5: Creusleny, 22 anos, foi diagnosticada há poucos dias com diabetes mellitus tipo I e hipertensão arterial primária. O tratamento prescrito pelo médico incluiu, além de medidas não farmacológicas, a utilização dos fármacos propranolol, captopril, insulina regular e insulina NPH. Após alguns dias, Creusleny procurou o médico novamente, relatando cefaleia, tontura, sonolência, náuseas, fome, tremores, fraqueza, sudorese e palpitações. Com isso, a terapia da paciente teve que sofrer algumas alterações. Explique o que aconteceu com a terapia medicamentosa de Creusleny, do ponto de vista das interações medicamentosas e sugira quais alterações foram realizadas após o relato dos sintomas pós-terapia. O propranolol é um betabloqueador usado no tratamento de hipertensão arterial. Ele combate à ação da epinefrina e da norepinefrina nos receptores beta- adrenérgicos β1 e β2. Quando esses neurotransmissores se ligam aos receptores beta, ocorre os seguintes efeitos: • Receptores β1: São responsáveis por aumentar o débito cardíaco, aumentar a fração de ejeção de sangue e a frequência cardíaca; Causa o aumento de lipólise e libera renina. • Receptores β2: Causam relaxamento visceral (graças a sua grande presença em músculos lisos): Lipólise; Aumento da secreção de reninas nos rins; Inibição da liberação de histamina dos mastócitos; Dilatação das artérias do músculo liso; Glicogenólise e Gliconeogênese. Os betabloqueadores como o propranolol agem bloqueando esses efeitos nos receptores beta. No caso apresentado, o receptor beta2 leva a glicogenólise e gliconeogênese e esses processos aumentam a disponibilidade de glicose na corrente sanguínea. Já https://doi.org/10.1590/S0103-06631998000300007 https://doi.org/10.1590/S0103-06631998000300007 com o uso do propanolol, esses processos não vão ocorrer. Por um lado, isso diminui a hiperglicemia, o que seria bom para pacientes pré-diabéticos por exemplo. Contudo, a paciente já estava fazendo uso de insulina e tem diabetes tipo 1, não é indicado. Assim, o mecanismo de interação medicamentosa ocorreu entre o propranolol e a insulina, em que houve um sinergismo entre o propranolol e a insulina, levando a uma crise de hipoglicemia, provocando os sintomas como sonolência, fraqueza e fome. Como sugestão de alteração no esquema de tratamento da paciente, pode-se remover o uso do propranolol e substituindo-o por outro fármaco, como diurético, para auxiliar no tratamento da hipertensão. Quanto a diabetes, manteria a insulina NPH e regular, podendo substituir a regular, caso a paciente tenha condições financeiras, por uma insulina de ação ultrarrápida, um pouco mais cara, contudo, melhor para seu dia-a-dia, devendo ela ser usada cerca de 15 min antes das refeições. LOPES, Gabriel Quintino. Betabloqueadores: particularidades para as quais não nos atentamos no dia-a-dia. [S. l.], 28 nov. 2019. Disponível em: https://pebmed.com.br/betabloqueadores- particularidades-para-as-quais-nao-nos-atentamos-no- dia-a- dia/#:~:text=Agentes%20de%20primeira%20gera%C3 %A7%C3%A3o%20s%C3%A3o,diminuir%20com%20d oses%20elevadas%20(p. Acesso em: 6 ago. 2020. https://www.sanarsaude.com/blog/beta-bloqueadores- farmacia-tudo-o-que-voce-precisa-saber https://www.sanarsaude.com/blog/beta-bloqueadores-farmacia-tudo-o-que-voce-precisa-saber https://www.sanarsaude.com/blog/beta-bloqueadores-farmacia-tudo-o-que-voce-precisa-saber
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