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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática Carlos Alberto Lopes Maria Thereza Macedo Pedroso Editores Técnicos Embrapa Brasília, DF 2017 ISSN 1677-5473 Exemplares desta publicação podem ser solicitados na: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD) Parque Estação Biológica (PqEB) Av. W3 Norte (final) CEP 70770-901 Brasília, DF Fone: (61) 3448-4451 Fax: (61) 3448-4887 textoparadiscussao@embrapa.br Colégio de editores associados Ademar Ribeiro Romeiro Altair Toledo Machado Antonio César Ortega Antonio Duarte Guedes Neto Arilson Favareto Carlos Eduardo de Freitas Vian Charles C. Mueller Dalva Maria da Mota Egidio Lessinger Geraldo da Silva e Souza Geraldo Stachetti Rodrigues João Carlos Costa Gomes John Wilkinson José de Souza Silva José Graziano da Silva José Manuel Cabral de Sousa Dias José Norberto Muniz Josefa Salete Barbosa Cavalcanti Léa Velho Levon Yeganiantez Marcel Bursztyn Maria Amalia Gusmão Martins Maria Lucia Maciel Mauro Del Grossi Oriowaldo Queda Pedro Carlos Gama da Silva Rui Albuquerque Sergio Salles-Filho Sergio Schneider Suzana P. M. Mueller Tarcízio Rego Quirino Vera L. Divan Baldani Vicente Galileu Ferreira Guedes Zander Navarro Supervisão editorial Erika do Carmo Lima Ferreira Revisão de texto Corina Barra Soares Normalização bibliográfica Márcia Maria Pereira de Souza Editoração eletrônica Júlio César da Silva Delfino Projeto gráfico Tenisson Waldow de Souza 1ª edição 1ª impressão (2017): 600 exemplares As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e de inteira responsabilidade do autor, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Todos os direitos reservados A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa Informação Tecnológica Sustentabilidade e horticultura no Brasil : da retórica à prática / Carlos Alberto Lopes, Maria Thereza Macedo Pedroso, editores técnicos. – Brasília, DF : Embrapa, 2017. 433 p. : il. ; 15 cm x 21 cm. - (Texto para Discussão / Embrapa. Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento, ISSN 1617-5473 ; 47). 1. Agricultura sustentável. 2. Produção agrícola. 3. Propagação vegetativa. 4. Tecnologia agrícola. I. Lopes, Carlos Alberto. II. Pedroso, Maria Thereza Macedo. III. Embrapa. Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento. CDD 635 © Embrapa, 2017 Conselho editorial Adriana Reatto dos Santos Braga Alberto Roseiro Cavalcanti Antonio Roosevelt de Moraes Junior Assunta Helena Sicoli Daniela Matias de Carvalho Bittencourt Eliane Gonçalves Gomes Geraldo B. Martha Jr. Ivan Sergio Freire de Sousa Job Lúcio Gomes Vieira Lucilene Maria de Andrade Maria Alice de Medeiros Marita Feres Cardillo Otavio Valetim Balsadi Paule Jeanne Mendes Paulo Roberto Tremacoldi Renato Cruz Silva Roberto de Camargo Penteado Filho Editor da série Ivan Sergio Freire de Sousa Coeditores Adriana Reatto dos Santos Braga Daniela Matias de Carvalho Bittencourt Job Lúcio Gomes Vieira José Robson Bezerra Sereno Paulo Roberto Tremacoldi Autores Agnaldo Donizete Ferreira de Carvalho Engenheiro-agrônomo, doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, pesquisador da Embrapa, Brasília, DF Alice Kazuko Inoue-Nagata Engenheira-agrônoma, doutora em Fitopatologia, pesquisadora da Embrapa, Brasília, DF Carlos Alberto Lopes Engenheiro-agrônomo, Ph.D. em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa, Brasília, DF Eliseu Roberto de Andrade Alves Engenheiro-agrônomo, doutor em Economia Rural, pesquisador da Embrapa, Brasília, DF Fernanda Rausch Fernandes Engenheira-agrônoma, doutora em Fitopatologia, pesquisadora da Embrapa, Brasília, DF Francisco Adriano de Souza Engenheiro-agrônomo, doutor em Ecologia Molecular Microbiana, pesquisador da Embrapa, Sete Lagoas, MG Gilmar Paulo Henz Engenheiro-agrônomo, doutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa, Brasília, DF Giovani Olegário da Silva Engenheiro-agrônomo, doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, pesquisador da Embrapa, Brasília, DF Ítalo Moraes Rocha Guedes Engenheiro-agrônomo, doutor em Solos e Nutrição de Plantas, pesquisador da Embrapa, Brasília, DF Lineu Neiva Rodrigues Engenheiro agrícola, doutor em Engenharia Agrícola, pesquisador da Embrapa, Brasília, DF Marcos Brandão Braga Engenheiro-agrônomo, doutor em Irrigação e Drenagem, pesquisador da Embrapa, Brasília, DF Maria Thereza Macedo Pedroso Engenheira-agrônoma, mestre em Desenvolvimento Sustentável, pesquisadora da Embrapa, Brasília, DF Miguel Michereff Filho Engenheiro-agrônomo, doutor em Entomologia, pesquisador da Embrapa, Brasília, DF Mirian Fernandes Furtado Michereff Bióloga, doutora em Biologia Animal, pesquisadora visitante da Embrapa, Brasília, DF Mirtes Freitas Lima Engenheira-agrônoma, Ph.D. em Fitopatologia, pesquisadora da Embrapa, Brasília, DF Núbia Maria Correia Engenheira-agrônoma, doutora em Produção Vegetal, pesquisadora da Embrapa, Brasília, DF Sidney Luiz Stürmer Biólogo, Ph.D. em Genética e Biologia do Desenvolvimento, professor da Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, SC Thiago Roberto Schlemper Ecólogo, mestre em Engenharia Ambiental, Instituto Holandês de Ecologia (NIOO), Wageningen, Holanda Waldir Aparecido Marouelli Engenheiro agrícola, Ph.D. em Engenharia Agrícola e de Biossistemas, pesquisador da Embrapa, Brasília, DF Zander Navarro Engenheiro-agrônomo, doutor em Sociologia, pesquisador da Embrapa, Brasília, DF Apresentação Texto para Discussão é publicação seriada técnico-científica, empenhada na divulgação de resul- tados de estudos e pesquisas cuja relevância e oportunidade recomendam seu oferecimento à refle- xão e ao debate. Criada em 1998 e publicada continuamente desde então, a série dedica-se, como sugere sua deno- minação, a promover a circulação de dados e ideias e a ensejar seu debate em espaço mais ampliado do que aquele em que se insere(m) seu(s) autor(es). A pesquisa é exitosa e o conhecimento avança quando pesquisadores produtivos interagem com liberdade e responsabilidade, compartilhando infor- mações e cotejando abordagens. Texto para Discussão aborda temas do desen- volvimento agrícola contemporâneo, de relevo social e econômico, versados por autores com vínculos organizacionais diversificados. A série é dirigida a pesquisadores, dirigentes, formuladores de políticas públicas, acadêmicos e demais segmentos profissionais que atuem ou tenham interesse nas temáticas e funções da ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento da agricultura. Cada trabalho recebido passa por crivo de admissibilidade na editoria e, ganhando ingresso, segue para o escrutínio de editores associados, na tradição da avaliação por pares. A responsabilidade do conteúdo publicado é de exclusiva responsabili- dade do(s) autor(es), não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Os volumes publicados são distribuídos nacio- nalmente, com destaque para bibliotecas e demais centros de documentação, em cujos acervos os exem- plares são catalogados e ficam à disposição do público. Assim, são contempladas bibliotecas de uni- versidades, de institutos de pesquisa e de órgãos de extensão, entre outros. Os trabalhos são igualmente mantidos à disposição do público para serem baixa- dos na forma de arquivos digitais idênticos aos volumes impressos. De caráter monográfico, cada número veicula texto único, de autoria tanto singular quanto coletiva. Em ocasiões especiais, o número pode trazer coletâ- nea de textos, reunidos em função de um tema ou ideia central.Nesses quase 20 anos, Texto para Discussão já ofertou mais de quatro dezenas de números e, como forma relevante de repercussão, contabiliza títulos incorporados como referência em projetos de pes- quisa e como fontes bibliográficas em cadeiras de programas de pós-graduação. O Editor Prefácio Com este número, Texto para Discussão acrescenta à sua característica de publicação de monografias a oferta de uma coletânea de textos em torno de um tema básico – neste caso, a sustentabili- dade na horticultura. O tema é abordado com base em várias perspectivas, e com um viés proposital voltado à olericultura, visto que a maioria dos auto- res é especialista em pesquisas com hortaliças. Dessa forma, a presente coletânea tem por objetivo, primeiramente, destacar a Embrapa como empresa pública que gera produtos, técnicas e processos derivados exclusivamente da ciência estabelecida. Pretende também apontar as potencialidades de algumas técnicas desenvolvidas ou adaptadas pela Embrapa no tocante ao tema e, por fim, tenciona valorizar o trabalho propriamente científico, estrita- mente correspondente aos cânones consagrados da ortodoxia do método científico. Em especial, a coletânea enfoca a sustentabili- dade da horticultura segundo o princípio geral, já consolidado, que almeja produzir efeitos de poupar recursos naturais e utilizar menores quantidades de insumos (especialmente químicos) e, assim, poten- cializar a produtividade, entre outros objetivos igualmente associados àquele termo. Trata-se de insistir que o caminho da sustentabilidade das ativi- dades agropecuárias, lato sensu, ou da horticultura, em particular, deve-se orientar principalmente (embora não exclusivamente) pela elevação da agri- cultura moderna, do atual patamar, adotado em grande parte do Brasil e nos variados ramos da pro- dução, para outro, no qual sua configuração sustentável possa ser nitidamente evidenciada. Ou seja, nesta publicação, o pressuposto de orientação geral é que não existe a proposta de “substituir” a natureza essencial e as principais características da chamada agricultura moderna, fruto de uma longa trajetória das ciências agronômicas, por outro modelo tecnológico radicalmente novo e diferente. Em consequência, o caminho da reflexão apre- sentada pelos diversos autores nesta coletânea é bastante distinto de narrativas oferecidas com cres- cente frequência, as quais sugerem a factibilidade de uma relativa facilidade para transformar a agricul- tura em sustentável e que essa transição não vem ocorrendo por razões que seriam, sobretudo, políti- cas e ideológicas, advindas do poder econômico dos grandes grupos agroindustriais. São argumentos gerais que, muitas vezes, surpreendem especialmente pela usual inexistência de comprovação demonstra- tiva de sua viabilidade prática. De um lado, são interpretações que surpreen- dem por serem propostas ligeiras e superficiais, demonstrativas de um raso conhecimento sobre as práticas dos agricultores, em seu labor cotidiano, para manter vivas as suas atividades produtivas, incluindo os riscos crescentes que a economia agrí- cola impõe aos seus agentes. Quase sempre, essas leituras parecem ignorar que a agropecuária é uma parte da economia e, portanto, precisa se organizar como tal para persistir com sucesso, em um ambiente no qual o acirramento concorrencial se acentua a cada dia, encurralando, em especial, os pequenos e médios produtores. Além do mais, tais interpretações parecem recusar o resultado obtido pelo expressivo desenvolvimento tecnológico da agricultura nos aproximadamente últimos 150 anos. De outro lado, surpreendem também tais pro- postas quando insistem que existiria uma crise igualmente manifesta no “mundo da ciência”, e que os cânones da ciência moderna também estariam demandando, em tese, uma radical transformação. Inspirados em autores que alimentam uma crítica contundente a aspectos particulares do modo de fun- cionamento da ciência moderna, essas narrativas, que se apresentam contrárias à agricultura moderna, não conseguem, contudo, oferecer outro caminho substitutivo operacionalizável, ou propor algo con- creto, além de platitudes, algumas pueris, sobre a suposta “crise da ciência”. Novamente aqui também se ignora o árduo esforço, de quase 500 anos, para desenvolver os pressupostos ontológicos da ciência moderna e, posteriormente, o penoso processo de construção do método científico. Dessa forma, a coletânea esforça-se em alertar para o perigo de ocorrer um retrocesso guiado por esforços que, de fato, constituem uma pseudociência. Por essa razão, o grupo de autores reunidos neste livro discute seus temas específicos de análise sob um quadro irrestrito de liberdade analítica, dessa forma sendo mantidos (e insista-se em tal pressuposto) o plu- ralismo e as opções de escolha explicativa de cada autor para lidar com seus temas de especialização segundo o indicado pelas respectivas trajetórias disciplinares. No tocante aos temas tratados nesta publicação, o objetivo principal foi introduzir, em cada artigo, um foco de especialização dos subcampos discipli- nares da Agronomia e das práticas agrícolas atualmente disponíveis (testadas e validadas), as quais, somadas à literatura existente e ao conheci- mento acumulado dos autores, permitem perscrutar o significado, principalmente prático, da busca da sustentabilidade. São destacados os desafios princi- pais a serem vencidos para permitir a transposição entre um desejo inicial, ainda retórico, e um resul- tado final, concreto e viável, de um modo sustentável de funcionamento, inclusive economicamente. Essa transição é essencial quando se discute sustentabili- dade e sua concretização em situações práticas, pois a linguagem retórica acabaria propondo, de fato, “tudo”, o que poderia esvaziar a noção de sustenta- bilidade, tornando-a inócua. Mantemos a expectativa de a publicação desper- tar o interesse de um leitorado preocupado com a agropecuária brasileira, em seus diversos ângulos ana- líticos. Seriam os formadores de opinião, mas não necessariamente somente aqueles com formação agro- nômica, pois os diversos artigos que constituem o livro poderão também atrair o interesse daqueles que tomam decisão e/ou influenciam decisões sobre o mundo rural. Por esse motivo, nos artigos, evitou-se, o quanto possível, o vocabulário essencialmente científico ou específico das áreas de cada especialista. Esse cui- dado estendeu-se até mesmo ao diálogo exclusivo entre os pares das respectivas comunidades científi- cas. Utilizar uma linguagem “popular” foi, porém, em certos casos, tarefa desafiadora. Aliás, os artigos foram relidos e revisados várias vezes para que fosse alcançado o propósito de garantir uma linguagem acessível, de fácil compreensão, ao leitor em geral. Os autores dos artigos da coletânea são espe- cialistas em quase todas as áreas que se relacionam com a produção agrícola: fitopatologia, irrigação, engenharia agrícola, entomologia, melhoramento vegetal, ciências dos solos, ciências dos alimentos, microbiologia, fitotecnia, economia agrícola e socio- logia rural. Cada autor seguiu por um caminho analítico de sua própria decisão. Alguns artigos dis- cutem a noção de “sustentabilidade” e “tecnologia” sob um aspecto mais geral, enquanto outros refletem sobre “sustentabilidade” com base em uma técnica produtiva particular, desenvolvida como resultado de pesquisas, ou embasada no conhecimento acumulado em uma área específica das ciências agronômicas. No total, são 20 autores e 15 artigos. A coletânea é inaugurada com o artigo de Alves, no qual se defende a tese de que o estabelecimento rural, para ser sustentável, precisa primeiramente ser capaz de remunerar todos os fatores de produção. O texto também analisa o setor específico da produ- ção de hortaliças no Brasil. Em seguida, Lopes reflete sobre diversos aspec- tos do controle de doenças que conferem complexidade à busca da sustentabilidadena olericultura em nosso país, analisando detalhes sobre o setor, muitas vezes ignorados em inúmeras interpretações. Pedroso, no artigo seguinte, discute cinco expres- sões que estão em voga e que se relacionam com a agricultura sustentável. São elas: “desenvolvimento sustentável”, “agricultura sustentável”, “agricultura fami- liar”, “inovações tecnológicas” e “políticas públicas”. Em seguida, Carvalho e Silva explicam o que significa exatamente a expressão “melhoramento vegetal”, tema muito pouco compreendido pelos lei- gos, às vezes criando primárias confusões de entendimento. Fernandes e Nagata, por sua vez, explicam a crescente e fundamental importância da certifica- ção de sementes, talvez o insumo agrícola mais nobre para a produção sustentável de hortaliças. Fernandes e Lima tratam da tecnologia de cultura de tecidos, um tema precioso para a produ- ção de determinadas hortaliças, explicando como a ciência avançou a partir de espécies de propagação vegetativa, como alho, batata-doce e batata. Em seu artigo, Guedes aborda, de uma forma geral, o tema do uso sustentável dos solos, focando o tema do sequestro de carbono no solo. Souza, Schlember e Stürmer tratam da impor- tância da tecnologia da inoculação de micorrizas, demonstrando sua significativa importância para o desenvolvimento sustentável. Braga discute, genericamente, o tema da sustentabilidade da irrigação no Brasil, apre- sentando dados e análises sobre o uso da água na agricultura. Marouelli e Rodrigues, por sua vez, em foco complementar, explicam aspectos técnicos relacionados com o seu uso racional, para garantir a sustentabilidade na irrigação de hortaliças. Michereff Filho e Michereff explicam e anali- sam o manejo integrado de pragas (MIP), descrevendo e analisando a sua aplicação no Brasil, seus avanços e percalços. Correia desmistifica o tema do uso de herbici- das, especialmente quando a mão de obra no campo é cada vez mais escassa, e esclarece os motivos pelos quais são recomendados. Nagata e Fernandes explicam a importância do vazio sanitário, salientando os fatores que tornam complexa a efetividade dessa fundamental medida no controle de pragas. Henz enfoca o tema da pós-colheita, mostrando que muitos dos problemas que residem nessa fase da produção de alimentos são multifatoriais e, por isso, devem ser analisados de forma multidisciplinar. Por fim, concluindo a publicação, Navarro dis- cute criticamente o tema da “agroecologia”, um termo que se expande no Brasil, mas sem clareza conceitual, conforme argumenta o autor. Carlos Alberto Lopes e Maria Thereza Macedo Pedroso Editores Técnicos Sumário A quem cabe a sustentabilidade da horticultura: ao horticultor ou ao meio físico (ou a ambos)? ... 19 Eliseu Alves Considerações sobre a sustentabilidade no controle de doenças das hortaliças produzidas em diferentes sistemas agrícolas ....... 41 Carlos Alberto Lopes Sustentabilidade e transformações produtivas e tecnológicas na agricultura: é preciso ampliar o debate ................................... 61 Maria Thereza Macedo Pedroso A importância do melhoramento genético e de sistemas de produção para a sustentabilidade da agricultura brasileira ............. 111 Agnaldo Donizete Ferreira de Carvalho e Giovani Olegário da Silva A contribuição da certificação de sementes para a produção sustentável de hortaliças ............ 139 Fernanda Rausch Fernandes e Alice Kazuko Inoue-Nagata A importância do uso de materiais de propagação vegetativa de alta qualidade fitossanitária (livres de vírus): estudos de caso sobre alho, batata e batata-doce .............. 161 Fernanda Rausch Fernandes e Mirtes Freitas Lima Um breve comentário sobre o uso sustentável do solo pela agricultura ........................................ 203 Ítalo Moraes Rocha Guedes A importância da tecnologia de inoculação de fungos micorrízicos para a sustentabilidade na olericultura ...................................................... 223 Francisco Adriano de Souza, Thiago Roberto Schlemper e Sidney Luiz Stürmer A sustentabilidade da irrigação no Brasil ............ 253 Marcos Brandão Braga Aspectos de sustentabilidade na irrigação de hortaliças ......................................................... 271 Waldir Aparecido Marouelli e Lineu Neiva Rodrigues Controle de pragas na agricultura brasileira: estamos no rumo da sustentabilidade? ................. 287 Miguel Michereff Filho e Mirian Fernandes Furtado Michereff A dinâmica dos herbicidas no ambiente e a sustentabilidade agrícola ................................... 317 Núbia Maria Correia Vazio sanitário: um estudo de caso para a produção sustentável do tomateiro .................... 341 Alice Kazuko Inoue-Nagata e Fernanda Rausch Fernandes Pós-colheita e consumo sustentável de hortaliças ......................................................... 363 Gilmar Paulo Henz A agroecologia no Brasil: magia, autoengano e ação política ................................... 401 Zander Navarro A quem cabe a sustentabilidade da horticultura: ao horticultor ou ao meio físico (ou a ambos)? Eliseu Alves A quem cabe a sustentabilidade da horticultura: ao horticultor ou ao meio físico (ou a ambos)? Resumo Neste capítulo, são defendidas duas teses. A primeira afirma que o estabelecimento rural é tido como qualificado quando é capaz de remunerar todos os fatores de produção, por meio da venda da produção. Pelo Censo Agropecuário 2006, somente 44% dos estabelecimentos que declararam produção e explo- ram a terra foram capazes de cumprir essa exigência; ou seja, 56% deles não atingiram o mesmo objetivo. Estes últimos difi- cilmente estarão dispostos a investir em preservação do meio ambiente. Impõe-se, pois, incentivá-los a investir na preserva- ção do meio ambiente. A segunda tese sugere que a discriminação contra a pequena produção é menor no ramo das hortaliças, tanto em nível de mercado quanto de produção. As Centrais de Abastecimento (Ceasas), os pontos de venda em bairros e os cinturões verdes criam condições bem mais favoráveis à pequena produção do que para outras explorações agrícolas. O grande dispêndio por hectare exigido pela tecnologia moderna favorece a concentração da produção, embora a maioria dos insumos e a terra sejam fracionáveis. As chamadas “hortaliças commodities”, como batata, tomate e cenoura, favorecem a grande produção e a concentração em poucos estabelecimentos. Por isso, merecem ser estudadas com mais detalhes. Termos para indexação: olericultura, produção de hortaliças, agricultura familiar, renda familiar, sistemas de produção. Who is responsible for horticulture sustainability: the horticulturist or the physical environment (or both)? Abstract In this chapter, there are two theses defended. The first one states that rural establishments are regarded as qualified if they are capable of paying all the factors of production through the sale of production. According to the 2006 Brazilian Census of Agriculture, only 44% of the establishments which reported production and exploit the land were able to meet this require- ment, or 56% of them failed in this respect. The ones that belong to the last category will not be receptive to invest in environ- mental conservation. There must be, therefore, encouragement for them to invest in environmental conservation. The second thesis suggests that discrimination against small producers is less serious and important in vegetable production, both at the market place and in the production level. The Supply Centers (Ceasas), urban direct sell of vegetables by farmers and the green belts are good examples of arrangements that were also designed to favor family farming rather than other types of farming systems. The large expenditure per hectare required by modern technology favors the concentration of production, although most of the inputs and earth are divisible.The so called“vegetable commodities”, such as potato, carrot and tomato, favor large production, and hence the concentration of produc- tion in few hands. Therefore, they deserve to be studied in more detail. Index terms: olericulture, vegetable production, family farm- ing, family income, production systems. Texto para Discussão 4723 Introdução hipótese que fundamenta as discussões sobre susten- tabilidade na agricultura é que o agricultor seja eco- nomicamente sustentável, no sentido de que, pelo menos com a venda da produção, sejam remunerados todos os fatores de produção. Ou seja, a renda líquida, que é o valor da produção menos a remuneração dos fatores de produção, é maior ou igual a zero. Num dado ano, ela pode ser negativa, em virtude das flutu- ações perversas dos preços, do ataque de doenças e pragas, do deficit de chuva, entre outras causas. Mas essa ocorrência deve ser uma exceção. Por isso, a pru- dência recomenda que, nos anos bons, reservas sejam feitas para que sejam enfrentadas futuras adversida- des, ou, então, que se recorra ao seguro, quando possível. Sendo sustentável financeiramente, é possível que o agricultor tenha condições de cuidar da sus- tentabilidade do ambiente físico. Contudo, comu- mente se argumenta que a sustentabilidade do meio físico é indispensável à sustentabilidade econômica do estabelecimento rural. Se a renda for negativa, o agricultor não fará investimentos em tecnologias que requerem anos para serem ressarcidos. Assim, necessariamente, a estratégia para que o estabeleci- mento rural possa passar a um patamar mais elevado de sustentabilidade precisa considerar sua renda líquida. Quando um agricultor tem renda líquida negativa, obter recursos para investimentos por .A Eliseu Alves Texto para Discussão 4724 meio de contrato de crédito rural é tarefa compli- cada, que implicará aval ou garantias em termos de propriedade rural ou de outros bens. Portanto, a melhor alternativa a seguir é recuperar economica- mente o estabelecimento, administrando com saga- cidade os recursos que o agricultor comanda. Saneada a contabilidade do negócio, o crédito rural volta a ser opção. Concentração e dispersão da renda bruta Censo Agropecuário 2006 permitiu estimar a renda líquida – os detalhes metodológicos podem ser encon- trados em Alves et al. (2012). Os estabelecimentos que declararam produção e exploram a terra (como proprietários, parceiros, arrendatários e ocupantes) corresponderam a 4.400.527, sendo que 44,36% tive- ram renda líquida não negativa (rl ≥ 0) e 55,64% tive- ram renda líquida negativa (rl < 0). Se persistir por alguns anos a situação de renda líquida negativa, este último grande grupo de produtores será forçado a vender parte de seu patrimônio para sobreviver. Ou, então, terão de se reorganizar com nova tecnologia, incluindo mais rigor na administração de seus estabe- lecimentos. Dessa forma, fica a pergunta: como os agricultores farão para pagar por tecnologias que pre- servem o meio ambiente, se o seu retorno não ocorrer no curso de um ano? No estudo referido anteriormente, todos os esta- belecimentos foram divididos em classes de salário .O Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 25 mínimo mensal (slm), equivalentes ao total do valor da produção agropecuária auferida no estabelecimento. O salário mínimo vigente em 2006 era de R$ 300,00, e as classes foram assim identificadas: a) miniprodu- tor, quando a estimativa do valor da produção total do estabelecimento, transformada em salários mínimos, era maior que zero e igual a 2 (0 a 2); b) pequeno pro- dutor, maior que 2 e igual a 10 (2 a 10); c) médio pro- dutor, maior que 10 e igual a 200 (10 a 200); e d) grande produtor, maior que 200 salários mínimos (> 200). Na sequência, o total dos estabelecimentos foi dividido em dois grandes grupos de área total dos estabelecimentos: menor e igual a 100 ha e maior que 100 ha. Na Tabela 1 estão os resultados obtidos, depois de realizados os agrupamentos indicados. Nela, a renda bruta (rb) é o valor da produção de 2006 em real do ano, incluindo o autoconsumo e a indústria caseira. O índice de Gini mede a dispersão da renda bruta ou sua desigualdade: o seu máximo é 1, para quando um dos estabelecimentos ficar com toda a renda bruta. Ou seja, quanto mais próximo estiver de 1, maior será a desigualdade dentro do grupo. O mínimo se iguala a 0, quando todos os estabeleci- mentos tiverem a mesma renda bruta. A renda bruta média é igual à renda bruta dividida pelo número de estabelecimentos, em real (R$) relativo ao ano de 2006, por estabelecimento. A Tabela 1 mostra o número de estabelecimen- tos e sua relação com o seu total, em porcentagem, e a relação da renda bruta da classe de salário mínimo com a renda bruta total, em porcentagem, o índice de Gini e a rb média. Eliseu Alves Texto para Discussão 4726 Tabela 1. Distribuição da renda bruta (rb) em classes de salário mínimo mensal (slm) e em duas classes de área (≤ 100 e > 100 ha) e por classe de área. Classes de rb (slm 2006) ≤ 100 ha (98,2% do total do número de estabelecimentos) > 100 ha (8,8% do total do número de estabelecimentos) Número % rb total (%) Número % rb total (%) (0 a 2] 2.795.789 69,64 6,98 108.980 28,23 0,31 (2 a 10] 885.057 22,05 19,90 110.693 28,67 2,22 (10 a 200] 326.446 8,13 45,22 146.256 37,89 27,64 > 200 7.185 0,18 27,90 20.121 5,21 69,83 Total 4.014.477 100,00 100,00 386.050 100,00 100,00 Índice de Gini 0,85 0,87 rb média 18.322,20 238.126,15 Fonte: IBGE (2006 citado por ALVES et al., 2012). A Tabela 1 mostra como se distribui a renda bruta nas duas classes de área e por classe de renda bruta, em salário mínimo mensal. Ou seja, como se dividem os produtores agrupados em mini, pequenos, médios e grandes produtores, para cada uma das duas classes de área. A classificação não é feita por área, como é usual nas discussões mais corriqueiras na lite- ratura, pois o interesse aqui é verificar como se distri- bui o valor da produção. E a tabela mostra ser muito grande a concentração em ambas as classes, no sen- tido de que poucos produtores produziram muito, enquanto muitos produtores produziram muito pouco. Na classe definida no estudo como aquela menor ou igual a 100 ha, os miniprodutores, que tota- lizaram 69,64% dos 4.014.477 que compuseram a classe, contribuíram com apenas 6,98% da produção total. Os pequenos produtores (22,05% do total de produtores da classe) geraram 19,90% da produção Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 27 total da classe – juntos, os mini e os pequenos produ- tores correspondem a 91,69% da classe de 100 ha e menos, e contribuíram com 26,88% da produção da classe, ou seja, muitos produtores contribuíram com muito pouco. No outro extremo, ainda na classe (≤ 100), os grandes produtores, cuja renda bruta equivale a mais de 200 salários mínimos de renda mensal por estabe- lecimento, são apenas 7.185 (0,18%), mas responde- ram por 27,90% da renda bruta. A contribuição dos médios produtores, 8,13% do total da classe, equiva- leu a 45,22%. As duas classes juntas, em número de estabelecimentos, totalizaram 8,31% e, em proporção da rb, 73,12%. Ou seja, poucos produziram a maior parte da produção da classe de área ≤ 100 ha. Já na classe de mais de 100 ha, os grandes pro- dutores em porcentual do número de estabelecimen- tos (5,21%) corresponderam a 68,8% do valor total. Os médios estabelecimentos, em porcentual do número de estabelecimentos, são 37,89% e geraram 27,64% do valor da produção. Juntas, as duas classes correspondem a 43,10% do número de estabeleci- mentos e têm participação no valor da produção igual a 97,47%. Os mini e pequenos produtores, agregadamente, são 56,90% do número de produto- res da classe, mas respondem por apenas 2,53% do valor da produção. A concentração da produção é expressiva nas duas classes, embora bem maior na classe de mais de100 ha, na qual a pequena produção, embora expres- siva em número de produtores (56,90%), somente contribuiu com 2,53% do valor da produção. Eliseu Alves Texto para Discussão 4728 O índice de Gini, que mede a desigualdade da renda bruta entre os produtores de cada classe, atin- giu, respectivamente, 0,85 e 0,87. Assim, a desigual- dade é praticamente a mesma nas duas classes e muito elevada. Note-se que o índice de Gini mede a disper- são – no caso, entre a renda bruta dos estabelecimen- tos de cada classe –, e ele foi estimado com os microdados, sem utilizar a tabela acima. Note-se ainda que é possível ter concentração da produção diferente de desigualdade. A concentração retrata a posição de uma classe de área contra a da outra, no que tange às classes de renda bruta. O índice de Gini mede a dispersão da renda bruta dentro de cada classe; no caso em análise, muito elevada. Os dados analisados no artigo citado também mostram que a terra perdeu muito da capacidade de explicar a variação da produção e a desigualdade de renda. Atualmente, esse poder pertence, em grande parte, à tecnologia. Por isso, a política de distribuição de terra precisa, necessariamente, ser implemen- tada de forma articulada com programas de tecnologia. Caso contrário, fracassará. Renda líquida ustentabilidade e renda líquida positiva, ou não nega- tiva, caminham juntas. A Tabela 2 é uma simplifica- ção de outra tabela, apresentada no documento citado acima. .S Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 29 Na classe dos miniprodutores, a grande maioria de todos os estabelecimentos, pela última coluna, per- tence a essa classe (66,00%), e a grande maioria (65,20%) tem renda líquida negativa. De acordo com a Tabela 2, os produtores dessa classe obtinham ape- nas meio salário mínimo, em valores de 2006. Por- tanto, contam com muito poucos recursos. A despeito disso, 34,80% remuneram todos os fatores de produ- ção. Muito provavelmente, esses têm condições de assimilar práticas conservacionistas, desde que res- peitem os limites de seus recursos e aquelas práticas possam ser subsidiadas pelo governo. Tabela 2. Distribuição da renda líquida, em porcentagem, por classe de salário mínimo (slm) e por classe de área, em hectares. Classes (slm) ≤ 100 Mais de 100 Total Número % rl ≥ rl < Mini: (0 a 2] 34,80 65,20 2.904.769 66,00 Pequeno: (2 a 10] 58,93 41,07 995.750 22,64 Médio: (10 a 200] 70,25 29,75 472.702 10,74 Grande: > 200 81,44 18,56 27.306 0,62 Total 44,36 55,64 4.400.527 100,00 Fonte: Alves et al. (2012). A grande maioria (65,20%), no entanto, teve renda líquida negativa; por isso, constitui um perfil de agricultores que precisa reformular a administra- ção do estabelecimento para que possam remunerar os fatores de produção. Como sequer remuneram seus fatores de produção, pode-se supor que, muito prova- velmente, serão produtores que oferecerão muita resistência a práticas preservacionistas que impli- quem mais custos. O melhor seria subsidiá-los para Eliseu Alves Texto para Discussão 4730 preservar os recursos naturais, até que possam equili- brar as contas de seus estabelecimentos rurais. Quanto ao grupo denominado de pequenos pro- dutores, perto de 59% remuneraram todos os fatores de produção; por isso, provavelmente recepcionarão de bom grado as práticas conservacionistas e as colocarão em prática se demonstrado for que elas implicam cus- tos razoáveis, com retorno no ano do investimento. Quanto àqueles de renda negativa (41%), são produto- res que estão nas mesmas condições dos miniproduto- res, mas com melhores condições de equilibrar as contas dos estabelecimentos, pois têm mais recursos. As classes dos médios e grandes produtores, embora contenham, respectivamente, 29,75% e 18,56% de seus membros com renda líquida negativa, estão em melhor situação: dispõem de mais terra, animais, máquinas e equipamentos nos respectivos patrimônios. Ou seja, dispõem de recursos para realizar os investi- mentos e poderem equilibrar as contas e aplicar em sustentabilidade, desde que se mostre ser lucrativo o correspondente investimento. Também são grupos mais propensos a cuidar da sustentabilidade de seus empreendimentos, pois terão muito a perder se não o fizerem. Em conclusão, o meio rural é muito heterogêneo em relação à capacidade de realizar investimentos destinados a aumentar o patamar de sustentabilidade. Ao analisar a capacidade de pagamento dos fatores de produção, pode-se sugerir que os mini e os pequenos produtores estarão dispostos a investir em práticas sustentáveis nas seguintes condições: se o investi- mento se pagar no ano, se custar pouco e se não for Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 31 tarefa complicada. Tomar empréstimo não é recomen- dado para quem tem renda líquida negativa porque há muita resistência dos bancos em atender ao pedido de empréstimo; ademais, o risco de perder o patrimônio é alto. Esses dois grupos são candidatos a forte ajuda do governo (a fundo perdido), para que possam viabilizar os investimentos em preservação. Os outros dois gru- pos, principalmente aqueles com renda líquida nega- tiva, se convencidos da rentabilidade do investimento em sustentabilidade, o farão, mesmo se for preciso recorrer ao sistema de crédito rural. Premissas sobre arranjos da produção de hortaliças no Brasil obre o setor específico da produção de hortaliças, algumas premissas básicas precisam ser enfatizadas inicialmente: • Hortaliças, em geral, são altamente perecí- veis, em virtude de ser muito curto o espaço de tempo máximo entre o final da produção e o consumo. Excedido esse tempo, a deterio- ração é rápida, inviabilizando o consumo. Há tecnologias para dilatar o tempo de perecibi- lidade ao máximo, mas implicam custos quase sempre elevados. • Nas grandes cidades brasileiras, o custo do fator trabalho é bem mais alto do que esse custo nas regiões rurais. .S Eliseu Alves Texto para Discussão 4732 • Há também os custos com a padronização e a embalagem, e também aqueles relaciona- dos com a eliminação dos resíduos, a redução de desperdícios e a manutenção, em virtude da padronização e da comercialização das sobras. • Nas grandes cidades, o acesso dos consumido- res finais às hortaliças se dá em milhares de estabelecimentos: pequenos, médios, grandes e supermercados. Os gestores desses estabele- cimentos comerciais dispõem de pouco tempo e estão à procura de vasta diversidade de pro- dutos. Portanto, acessam um ou alguns poucos pontos de venda intermediária, onde compram hortaliças para revender, de acordo com deter- minada especificação ou padronização. • As sobras da comercialização se tornarão des- perdícios se não forem utilizadas imediata- mente. Aliás, têm sido constatados grandes desperdícios. Quase sempre o valor do produto, antes de se tornar imprestável para consumo humano, é menor do que o custo de eliminar o desperdício. Por isso, é relativamente comum ceder as sobras a custo zero ou a custo muito baixo a transportadores que vão vendê-las em outras regiões. Outro método é destinar as so- bras a instituições de caridade ou ao consumo animal. Muitas cidades pequenas e de porte médio são abastecidas pelas Ceasas localizadas nas grandes cidades, mesmo se existirem cin- turões verdes no local. Um comerciante de Lavras, MG, cidade distante 400 km de São Paulo, ao ser questionado por que não adquiria Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 33 hortaliças na própria cidade, afirmou: “[aqui] não encontro a diversidade e o padrão de qua- lidade [de] que necessito. Com duas horas de trabalho, além do tempo da viagem – 8 horas (ida e volta) –, compro tudo [de] que necessito na Ceagesp” (comunicação pessoal)1. • Como a colheita de hortaliças é de alto custo e requer curto tempo para ser realizada, pois as hortaliças são perecíveis,o arranjo da pro- dução é de vital importância. Dessa forma, os cinturões verdes podem ser vistos como os melhores locais para se produzirem hortali- ças, já que estão próximos dos mercados consumidores e da mão de obra. Como os dispêndios por hectare para produzir hortali- ças são muito elevados, quando comparados, por exemplo, com a produção de grãos, a exi- gência em capital humano (disciplina e co- nhecimentos de como fazer) fica restrita a uma pequena parcela dos agricultores. • Algumas hortaliças têm características de commodities, pois correspondem a uma enor- me quantidade de consumo, tanto no mercado interno quanto no externo. Parte delas costuma ser industrializada e corresponde a esquemas financeiros específicos. Destacam-se, entre elas, o tomate, a batata, a cenoura e o melão. Essas hortaliças interessam à grande produção, e há, com efeito, grandes áreas e alguns produ- tores de porte dedicados a sua produção. 1 Notícia fornecida por um comerciante, falando sobre local de compra de hortaliças em Lavras, MG. Eliseu Alves Texto para Discussão 4734 Consequências das premissas O propósito das Ceasas foi reunir, num único local, certa quantidade e diversidade de hortaliças e outros produtos consumidos no agregado urbano. Era parte da retórica, na época da sua criação, estabelecer um acesso direto entre produtores e consumidores. Porém, os atacadistas rapidamente dominaram esses entrepostos, frustrando a realização inicial desse pro- pósito. De uma forma geral, as Ceasas vendem direta- mente a consumidores, lojas e supermercados, e compram de agricultores, nos cinturões verdes e em outros locais de produção. Os custos urbanos de padronização e elimina- ção dos resíduos dessa padronização induziram os atacadistas a comprar em regiões produtoras os pro- dutos de que precisavam, já devidamente padroniza- dos e embalados. Evoluiu-se em seguida para os contratos, que favoreceram a grande produção. Mas contratos também costumam ser feitos com um grupo de produtores pequenos que, em conjunto, alcança o nível de produção demandado. Os contratos podem ser escritos ou informais. As vendas de hortaliças, frutas e outros produ- tos em bairros da cidade, nas feiras livres, em dias predeterminados, antecederam a criação das Ceasas. No entanto, as feiras livres costumam encontrar mui- tos obstáculos, impostos por normas regularmente ditadas pelas autoridades urbanas, tanto as sanitárias quanto as de limpeza pública. Ultimamente, a quanti- dade de hortaliças vendida em feiras é pouco rele- vante em comparação com o volume total de vendas. Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 35 Por sua vez, os supermercados passaram a ter papel relevante no comércio de hortaliças e frutas. Compram de atacadistas, de grandes produtores e diretamente dos cinturões verdes. A padronização é feita também no meio rural, e os contratos não são os únicos instrumentos de compra. As perdas tendem a ser muito mais reduzidas do que nas Ceasas, porque os supermercados, de uma forma geral, conhecem, com certa margem de segurança, a demanda dos con- sumidores. Tendem a substituir esses grandes entre- postos, como ocorreu na história dos sistemas alimentares dos Estados Unidos. Os cinturões verdes são uma forma muito inteligente de organizar a produção, tanto em hortaliças quanto em frutas. Em parte, resolvem o problema de escala, favorecendo a pequena e a média produção. Favorecem tanto os vendedores quanto os compradores, quaisquer que sejam: atacadistas, supermercados ou consumidores individuais. A base de conhecimento coletivo é muito mais ampla, seja ela técnica, seja de mercados ou, então, do sistema financeiro. A assis- tência técnica, tanto pública quanto privada, é mais barata e mais eficiente. Hortaliças e frutas do tipo commodities, quando um único estabelecimento rural explora uma grande área, não são produzidas nos cinturões verdes. Nesses casos, os contratos, as decisões de compra e venda e o financiamento da produção são baseados tão somente no produtor como indivíduo; ou seja, pouco se valem do coletivo. Em algumas espécies, esse tipo de orde- nação da produção tem grande relevância. Eliseu Alves Texto para Discussão 4736 Concentração da produção de hortaliças no Brasil onvém salientar que, na atividade de produção de hor- taliças, uma pequena área pode obter grande produ- ção quando é empregada uma tecnologia sofisticada. Assim, classificar por área não nos interessa. É mais interessante classificar por valores em real. Alguns exemplos: em 2012, 1 ha de cebola teve um dispêndio total de R$ 35.000,00, o que equivale a 17 ha de soja. Um hectare de tomate, R$ 65.000,00, foi equivalente a 37 ha de soja. Um hectare de cenoura, R$ 36.000,00, foi o valor correspondente a 18 ha de soja. Um hectare de uva, R$ 61.000,00, correspondeu a 30,5 ha de soja. O salário mínimo mensal de 2012 equivalia a R$ 622,00. Considerando-se o dispêndio total do tomate, de R$ 65.000,00, em salário mínimo de 2012, esse valor equivaleu a 104 salários mínimos. Admi- tindo-se que o valor da venda da produção corresponda a pelo menos R$ 65.000,00, com 2 ha de tomate ter-se- -ia uma renda bruta de mais de 200 salários mínimos. Ou seja, o estabelecimento de 2 ha de tomate pertence- ria à classe de grande produtor, conforme discutido nas seções iniciais deste artigo; de uva, 2 ha seriam sufi- cientes para enquadrar o produtor no mesmo grupo de grandes produtores; de cebola, equivaleria a 4 ha; e de cenoura, a 3,5 ha. A lição que os dados de custos ensi- nam é que a tecnologia moderna, apesar de ser dispen- diosa, oferece condições para que pequenas áreas produzam volumes finais que transformem seus pro- prietários em grandes produtores. .C Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 37 Como a área é divisível, é possível, em tese, ter uma pequena área em produção, por produtor. E as áreas em produção com tecnologia moderna (e não o tamanho do estabelecimento) seriam as responsáveis pela concentração da produção. Aí, o fator dominante são as restrições com as quais o produtor tem lidado – algumas oriundas dos mercados, outras da localização do estabelecimento, e outras, ainda, do meio ambiente. De início, cabe salientar que, em um mundo regido crescentemente por contratos – uns formais, outros nem tanto –, o volume de produção comanda as melhores condições e os melhores preços nos contra- tos. Embora as áreas sejam divisíveis, as vantagens nos contratos favorecem a grande produção. Por fim, cabe indagar sobre as razões que levam o horticultor a aderir à pequena área para executar sua atividade. As seguintes razões podem ser aduzidas: • Pertence ao cinturão verde, vende em conjun- to com outros produtores e não quer correr grandes riscos de endividamento nos montan- tes mencionados acima, por ser avesso ao risco. • O estabelecimento rural não dispõe de água suficiente para atender a áreas maiores. • Está distante dos grandes mercados ou não tem acesso a eles. • Não tem acesso à tecnologia e é um produtor individual. • Não dispõe de recursos próprios e não tem acesso ao crédito rural do governo. Eliseu Alves Texto para Discussão 4738 As restrições interagem com as forças de mer- cado e levam à concentração da produção, represen- tada pelas hortaliças do tipo commodities. São aquelas de elevado dispêndio e de grande produção por uni- dade de área, ou seja, as transacionadas em grande escala, nas nossas grandes cidades. Muitas hortaliças destinam-se ao consumo local e regional. Nos âmbi- tos local e regional, as forças da concentração cami- nham infladas pelas restrições de mercado. Os que são deixados para trás – centenas de milhares de hor- ticultores que se tornam retardatários – enfrentam a pobreza e não têm recursos para investir em preserva- ção. Comando e controle existem para os infratores da lei. Se aplicados aos deixadospara trás pela modernização, isso resultará em mais pobreza, atraso e revolta social, sem nenhum benefício para o meio ambiente. Por isso, é importante estabelecer uma dis- tinção entre o criminoso e aquele que, por alguma razão, tropeçou na condução do negócio. Considerações finais no estabelecimento rural que se planta, colhe e vende; portanto, ele tem de ser economicamente sustentável. Quando isso ocorre, a família rural tem condições de fazer investimentos com visão de longo prazo e de manter seu estabelecimento sempre produtivo, ou seja, de praticar a agricultura sustentável, a qual, por sua vez, vai garantir o futuro do produtor. Os arranjos pro- dutivos, em termos de produção e comercialização, .É Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 39 são mais favoráveis aos pequenos produtores. Desses arranjos participam os cinturões verdes e a proximi- dade dos compradores, quaisquer que sejam eles: supermercados, atacadistas e Ceasas. Pesa contra eles, nesse ramo de atividade agrícola, o elevado dispêndio por hectare. E a seu favor está a grande produção por unidade de área e a possibilidade de produzir em pequenas áreas, com níveis razoáveis de renda. No entanto, isso não significa que forças a favor da con- centração da produção sejam mais fracas no campo das hortaliças. Significa que o pequeno agricultor dos cinturões verdes, tendo acesso a vários fatores – como preços mais elevados de venda de seus produtos, assis- tência técnica de boa qualidade, em ambiente de conhecimento coletivo privilegiado, inclusive quanto ao crédito rural, preços acessíveis de insumos e de outros produtos e garantia de assistência à família –, terá boa chance de tornar-se mais sustentável econo- micamente e, dessa forma, será capaz de investir em tecnologias mais sustentáveis. Referências ALVES, E.; SOUZA, G. da S. e; ROCHA, D. P. Lucratividade da agricultura. Brasília, DF. Revista de Política Agrícola, v. 21, n. 2, p. 45-63, abr./jun. 2012. IBGE. Censo agropecuário 2006. Disponível em: <http:// www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/ censoagro/>. Acesso em: 11 maio 2015. . Considerações sobre a sustentabilidade no controle de doenças das hortaliças produzidas em diferentes sistemas agrícolas Carlos Alberto Lopes Considerações sobre a sustentabilidade no controle de doenças das hortaliças produzidas em diversos sistemas agrícolas Resumo O controle fitossanitário no ramo da olericultura é muito com- plexo, em virtude da grande suscetibilidade das hortaliças a doenças. Em ambientes favoráveis à ação dos microrganismos parasitas, o controle das doenças de plantas requer uma combi- nação de medidas preventivas e curativas, em que, muitas vezes, os agrotóxicos não podem ser dispensados. No atual cenário olerícola nacional – caracterizado por cultivares pouco rústicas, desenvolvidas para atender a um mercado consumidor exigente em aparência do produto, por solos contaminados por cultivos contínuos, pelo inadequado controle fitossanitário de lavouras vizinhas e pela parca assistência técnica aos produto- res –, os agrotóxicos são ainda essenciais à sustentabilidade econômica da grande maioria dos olericultores. A reconhecida utilidade desses agrotóxicos, entretanto, não pode servir de jus- tificativa para seu uso indiscriminado. Por sua vez, o banimento imediato dos agentes químicos de controle de doenças, como sugerido pela parcela radical dos defensores da agroecologia, é atualmente utópico, pois comprometeria gravemente o abaste- cimento do mercado atual das hortaliças. Se alicerçada por boa ciência, a olericultura orgânica poderá se estabelecer definiti- vamente como prática sustentável, sob os pontos de vista econômico, ambiental e social. Seu apoio deve ser incremen- tado, pois dela certamente sairão soluções ambientalmente saudáveis, que poderão ser inseridas em sistemas convencionais de produção. Em situação de transição, por exemplo, a produ- ção integrada, que privilegia as medidas culturais de controle fitossanitário, para ser menos dependente dos agrotóxicos, é vista como uma solução mais equilibrada. Termos para indexação: agroecologia, agricultura orgânica, produção integrada, controle fitossanitário, olericultura. Thoughts about sustainability on disease control of vegetable crops grown under different farming systems Abstract The phytosanitary management of vegetables is especially complex due to the high susceptibility of most of these crops to diseases. In environments favorable to the action of parasitic microorganisms, plant disease control requires integrated preventive and curative measures, frequently dependent on undesired, but necessary, chemical pesticides. In the present Brazilian scenario – characterized by mostly susceptible pesticide-dependent cultivars developed to meet a product- -appearance market demand, soils infested through continuous crops, uncontrolled phytosanitary management on neighbor crops, and poor assistance to farmers –, the pesticides are still an essential input to the economic sustainability to the great majority of vegetable growers. The acknowledged usefulness of pesticides in some growing situations, however, cannot be used to legitimate their indiscriminate use. On the other hand, the immediate banning of pesticides, as suggested by the radi- cal wing of the agroecological philosophy, is not viable since it can seriously jeopardize the vegetable supply to the population. If based in good science, the organic vegetable crops production might establish itself as a sustainable activity under the eco- nomic, environmental and social aspects. Organic production support must be warranted not only for its own success, but also for providing environmental friendly technical solutions to the conventional production systems. The integrated production system, which privileges the non-chemical cultural measures for pest control, is taken as an balanced solution during the slow, but solid scientifically based construction of techniques towards sustainability of food production. Index terms: agroecology, organic farming, integrated produc- tion, plant disease control, vegetable crops. Texto para Discussão 4745 Introdução agricultura orgânica está em alta faz algum tempo. Seu mote baseia-se nas suas indiscutíveis vantagens para uma alimentação humana saudável, na sua potenciali- dade econômica para atender a um nicho de mercado crescente e nos benefícios ambientais, respaldados na exploração da terra sem o uso de poluentes químicos. Especula-se até que ela dominará a agricultura do futuro (MACILWAIN, 2004). Nada mal para um já desgastado, porém louvável, discurso do “economicamente viável, ecologicamente saudável e socialmente correto”. Tudo a ver com o conceito de sustentabilidade adotado pela Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvi- mento das Nações Unidas (conhecida como Comissão Brundtland), segundo a qual “desenvolvimento sustentá- vel é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de gerações futuras aten- derem a suas próprias necessidades” (COMISSÃO MUNDIAL PARA O MEIO AMBIENTE E DESEN- VOLVIMENTO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1988, p. 46). A sustentabilidade da olericultura será aqui dis- cutida em seus atributos de produtividade, os quais, por seu turno, estão intimamente ligados à dimensão econômica, e é mais fácil de ser avaliada ao permitir a continuidade da atividade agrícola, em curto e médio prazos, por parte dos olericultores. Seja por questão de oportunismo, seja por autên- tica preocupação, a sustentabilidade na agricultura tem sido explorada de várias maneiras e movida por diver- sos interesses, algumas vezes de forma equilibrada, .A Carlos Alberto Lopes Texto para Discussão 4746 com recomendações técnicas claras sobre procedimen- tos sustentáveis, a exemplo da publicação do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) (2015), outrasvezes com foco exageradamente alarmista, como nas duas versões do filme O veneno está na mesa, de Silvio Tendler1. Conquanto seja importante alertar a população sobre o uso abusivo dos agrotóxicos e seus efeitos nocivos sobre a saúde, nem por isso se pode chamar de irresponsáveis todos os produtores que usam agrotóxicos. A agricultura orgânica em evidência m contraposição ao crescente uso de agroquímicos ao longo das últimas décadas no Brasil, surgiram pro- postas de alternativas de cultivo para a “recuperação” da agricultura. Entre elas, a agricultura orgânica é a mais conhecida em nosso país, pois é a mais exposta ao público em feiras e supermercados, e até mesmo apoiada por uma lei que dispõe sobre o tema. Nela são acomodadas todas as outras formas de agricultura regenerativa (sensu Lutzemberger). De acordo com a Lei n° 10.831 (BRASIL, 2003), considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a 1 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=8RVAgD44AGg e https://www. youtube.com/watch?v=fyvoKljtvG4>. .E Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 47 maximização dos benefícios sociais e a minimização da dependência de energia não renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase dos processos de produção, pro- cessamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente. [...] § 2o O conceito de sistema orgânico de produção agropecu- ária e industrial abrange os denominados: ecológico, biodi- nâmico, natural, regenerativo, biológico, agroecológicos, permacultura e outros que atendam os princípios estabelecidos por esta lei. É inegável o interesse do atual governo em apoiar os “orgânicos”, ainda mais quando esses têm forte vínculo com a agricultura familiar, outra inques- tionável prioridade do atual governo. Nem é extempo- râneo discutir esse assunto, especialmente em tempos em que nossa gigantesca produção de grãos colabora para manter baixos os preços dos alimentos e, junta- mente com a produção de etanol, gera divisas, certa- mente com alto custo ambiental, como praticamente toda atividade econômica em nosso planeta, em espe- cial a agricultura. Certamente o uso abusivo dos agrotóxicos inco- moda muito, mesmo que sua recomendação seja constantemente atrelada a campanhas educativas das boas práticas de cultivo. E é nesse cenário que foi criada a Política Nacional de Agroecologia e Produ- ção Orgânica (Pnapo), recentemente instituída pela Presidência da República, pelo Decreto nº 7.794 (BRASIL, 2012). Carlos Alberto Lopes Texto para Discussão 4748 A Pnapo tem o objetivo de: “integrar, articular e adequar polí- ticas, programas e ações indutoras da transição agroecológica e da produção orgânica e de base agroecológica, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da população, por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta e consumo de alimentos saudáveis”. Sem entrar no mérito dessa bem intencionada política, embora extremamente complexa, é estratégico analisar a crescente onda da agricultura orgânica e da ainda pouco entendida agroecologia. Sem intenção de privilegiar qualquer ideologia ligada a formas de con- duzir a agricultura, serão aqui comentados alguns aspectos de produtividade e qualidade ligados às doen- ças de origem biótica das hortaliças, ou seja, aquelas causadas por organismos vivos, no caso microrganis- mos parasitos, que constituem um grande desafio para o segmento da olericultura orgânica. Quem lida com a agricultura sabe que cultivar grãos, normalmente mais rústicos e colhidos secos, é muito mais fácil do que colher hortaliças e frutas; essas, por conterem, em sua composição, maior teor de umidade, são mais sensíveis ao ataque de doenças, as quais, por sua vez, interferem na produtividade e no valor cosmético do produto. A dependência dos agrotóxicos tentando controlar as doenças com potencial destrutivo de suas lavouras, conduzidas sob grandes riscos e altos investimentos, que os olericultores convencionais, em .É Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 49 especial os que cultivam grandes áreas, ganham injus- tamente a fama de vilões por parte da sociedade (ver versões de O veneno está na mesa), ao usarem os agro- tóxicos como ferramentas complementares de controle. É bom lembrar que a grande maioria desses produtores age de forma legal ao utilizar produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e ao seguir as recomendações de seu uso seguro, obedecendo a doses, períodos de carência e uso de equipamentos de proteção individual no momento da sua aplicação. As análises de resíduos de agrotóxicos em ali- mentos, realizadas periodicamente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), agência do Ministério da Saúde, são uma ferramenta poderosa para distinguir os maus produtores, ou seja, aqueles que fazem uso abusivo dos agrotóxicos, daqueles que agem de acordo com as boas práticas de cultivo. O aperfeiçoamento contínuo dessas análises propor- cionará meios para distinguir os produtos seguros daqueles que realmente colocam em risco a saúde da população. O que não é certo é tomar uma posição radical de considerar como vilão qualquer agricultor que use agrotóxicos. Ademais, não é correto condenar uma tecnologia quando não se dispõe de outra para substituí-la a contento. O risco decorrente do uso de alimentos produ- zidos com agrotóxicos é real, assim como é real uma série de outros riscos que assumimos na vida, como andar de avião. O que conta é o balanço do benefício/ custo e a possibilidade de termos uma opção entre o alimento orgânico e o não orgânico, obviamente seguro. A ciência tem de oferecer meios para manter Carlos Alberto Lopes Texto para Discussão 4750 essa dualidade, com isenção de preferências. O fato é que já está mais do que na hora de parar de insistir no simplismo de debater extremos: de um lado, gente afirmando que estamos comendo veneno e, de outro, gente alertando que vai faltar alimentos em caso da abolição do uso de agrotóxicos. A contribuição da ciência s desafios de produzir alimento bastante para atender às necessidades da população mundial que não para de crescer, e mantendo o menor impacto ambiental, nos leva a gerar e divulgar resultados obtidos com ética e rigor científico, em busca de soluções equilibradas, com inovação tecnológica para o bem da sociedade, independentemente de interesses econômicos e ideo- lógicos. Isso se faz com a verdadeira ciência, ou seja, aquela que serve indistintamente a todos. A influência de uma pseudociência, qualquer que seja a posição que ela assuma – a favor ou contra o emprego de agrotóxi- cos –, não pode ser aceita sob quaisquer pretextos, para perpetuar os empirismos que costumam servir a interesses eticamente questionáveis. Concordemos ou não, essa geração de cientistas em final de carreira, formada principalmente na década de 1970, deixa o legado da Revolução Verde, e não cabe aqui contestar sua opção pela produção de alimentos baseada em uma “agricultura moderna”, altamente dependente de insumos químicos, postura, aliás, coerente com o agronegócio de um país em .O Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 51 desenvolvimento, inserido num sistema capitalista com grande influência norte-americana. No debate dos extremos, algumas perguntas se repetem, principalmente por parte dosque defendem a agricultura moderna: • Como é possível controlar as doenças de plantas (neste caso, as hortaliças) em cultivos orgânicos sem a utilização de agrotóxicos convencionais (químicos), em regiões e épo- cas favoráveis a doenças, usando cultivares nem sempre adaptadas ou resistentes, e com o baixo grau de tecnificação, característico da maioria das lavouras? Duas questões crí- ticas ao controle fitossanitário na agricultura orgânica têm sido a baixa confiança na eficá- cia de muitos produtos recomendados para tal fim, às vezes com formulações secretas, protegidas em verdadeiras “caixas-pretas”, e a falta de padronização de alguns desses produtos, como os bokashi. Além disso, há um problema conceitual, pois, de acordo com o Decreto n° 6.913 (BRASIL, 2009), existem “produtos fitossanitários com uso aprovado para a agricultura orgânica”, ou seja, aqueles contendo exclusivamente subs- tâncias permitidas, em regulamento próprio, para uso na agricultura orgânica. Esses pro- dutos, de acordo com o Decreto n° 4.074/2002 (BRASIL, 2002), que regulamenta a Lei nº 7.802 (BRASIL, 1989), que dispõe sobre do uso de agrotóxicos, não deixam de ser agrotóxicos. Carlos Alberto Lopes Texto para Discussão 4752 O Decreto n° 4.074, de 4 de janeiro de 2002, regulamenta a Lei n° 7.802, de 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e a rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus com- ponentes e afins, e dá outras providências. Nesse decreto, agrotóxicos e afins são definidos como produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destina- dos ao uso nos setores de produção, no armazenamento e bene- ficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados, como desfolhantes, des- secantes, estimuladores e inibidores de crescimento. • Por quanto tempo se consegue fazer agricul- tura orgânica sustentável explorando a mesma área ou região, sujeita a infestações recorren- tes, em um país, que, sendo tropical, não se beneficia da quebra natural climática de ciclos de pragas e patógenos? • Onde buscar assistência técnica especializa- da, consolidada e disponível, se os próprios serviços de extensão rural estão sucateados, praticamente substituídos por agentes ligados à comercialização de agrotóxicos? • É possível implementar uma agricultura re- generativa (sensu Lutzemberger), altamente dependente de mão de obra, em áreas onde o êxodo rural é uma constante? Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 53 Nesse contexto, sugerimos que, assim como um veneno só atua como tal a depender da dose adminis- trada, as ações políticas (e técnicas?) sejam também dosadas, sob pena de deteriorarem o estado clínico do “paciente” ou causarem dependência do “medica- mento”, em vez de combaterem o mal diagnosticado. Tendo como pano de fundo a sustentabilidade, algu- mas considerações associadas com a sanidade das hortaliças merecem reflexão: • A grande massa do consumidor brasileiro está acostumada a comprar hortaliças (e frutas) valorizando-as, acima de tudo, pelo seu aspecto cosmético, rejeitando sumaria- mente produtos manchados, furados ou com outros defeitos. • Embora existam cultivares de espécies olerí- colas resistentes a várias doenças, um contro- le eficaz nem sempre é possível pelo uso exclusivo dessa tecnologia. É bom lembrar que a quase totalidade das cultivares disponí- veis no mercado de sementes foi desenvolvida com o fito de se obter maior produtividade e melhor aparência, e não para ser rústica e bem adaptada ao clima tropical. • Invernos rigorosos e estações climáticas bem definidas em países de clima temperado eli- minam ou reduzem drasticamente a popula- ção de patógenos de solo ou interrompem o ciclo de vida de patógenos da parte aérea, com seus eventuais vetores (especialmente insetos). Esses eventos, porém, são específi- cos de pouquíssimas regiões no nosso país. Carlos Alberto Lopes Texto para Discussão 4754 • A rotação de culturas com gramíneas e o pousio, práticas de alta eficácia para o controle de doenças associadas ao solo, nem sempre são economicamente viáveis em pequenos es- tabelecimentos rurais onde predomina a agri- cultura orgânica. • A carência de informações de pesquisa locali- zada e sistêmica, até certo ponto justificável, consideradas as complexidades física, química e biológica dos solos brasileiros e as diversida- des climáticas e de manejo nos estabelecimen- tos rurais, dificulta sobremaneira a elaboração de recomendações técnicas para os produtores. Assim, tecnologias desenvolvidas em um agroecossistema orgânico dificilmente podem ser utilizadas em outros sistemas. • O controle integrado de pragas (que valoriza as práticas culturais preventivas de controle para reduzir a necessidade do uso de agrotóxi- cos) é complexo e tem sido executado de ma- neira eficaz, mas somente por um limitado número de produtores, que detêm alta qualifi- cação técnica. Ademais, a carência da assis- tência técnica oficial compromete seriamente os programas de produção orgânica vincula- dos à agricultura familiar. • A proximidade física entre campos de agricul- tura (convencional ou orgânica) pode inviabi- lizar tecnicamente a produção orgânica, pela fácil disseminação de propágulos e vetores de patógenos de uma propriedade para outra. Os patógenos e seus vetores não respeitam Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 55 leis, cercas ou avisos; a política de boa vizi- nhança requer complexas intervenções de âmbito social. • Para serem economicamente competitivos no atendimento de seu crescente mercado, pro- dutores da agricultura orgânica são pressio- nados a produzir sem respeitar sazonalidades, em volume e qualidade compatíveis com as demandas dos exigentes consumidores urba- nos, os quais nem sempre estão conscientes das dificuldades e limitações desse sistema de produção. Considerados os aspectos acima relatados, veri- fica-se que, embora indesejáveis, os agrotóxicos conti- nuam a ser um mal necessário, pelo menos para garantir a produção de algumas espécies em determi- nadas épocas do ano. Os grupos que se batem por uma produção essencialmente agroecológica, ou seja, que rejeitam sumariamente o uso de agroquímicos, aca- bam por induzir perdas significativas aos agricultores, por não lhes fornecerem tecnologias alternativas con- fiáveis, que assegurem a redução de riscos pelo ataque de doenças, as quais frequentemente frustram safras e levam o produtor a abandonar a atividade. A propósito, chama a atenção o depoimento do senhor João Pedro Stédile, em entrevista concedida ao Terramérica, ao afirmar que o Brasil não precisa de venenos: Ainda é possível que vários pequenos produtores rurais em algumas regiões utilizem esses produtos. Contudo, são insignificantes os agricultores assenta- dos que usam venenos. É possível manter a mesma Carlos Alberto Lopes Texto para Discussão 4756 produção agrícola de alimentos que o Brasil conso- me sem usar nenhum quilo de veneno. Existe conhecimento científico para deixar de usar tais ve- nenos, e há superfície e mão de obra para cultivar no Brasil. Essa é a grande contradição do agronegócio. A que não consegue produzir sem veneno é a grande propriedade, porque substituiu a mão de obra pela máquina, enquanto a agricultura familiar e a reforma agrária têm essa vantagem2. Não há melhorresposta às palavras do senhor Stédile do que as oportunas observações de Jaku- baszko et al. (2005), de que a ideologia é normalmente simplista, contrapondo-se à complexidade dos pro- cessos biológicos. A busca do equilíbrio etomando o tema da agricultura orgânica e das doen- ças que a atormentam, cumpre lembrar que tecnica- mente nem sempre está claro o que pode ou não ser usado nela para o controle fitossanitário, sobretudo com base na definição de agrotóxicos, independente- mente dos aspectos técnicos e filosóficos que norteiam as agências certificadoras. Por exemplo, no caso do Iapar (2015), o uso de caldas à base de enxofre é permi- tido na agricultura orgânica, mesmo sendo essa calda considerada um agrotóxico. Seu maior mérito, no entanto, é focar na valorização das medidas culturais e preventivas de controle, mantendo os patógenos fora da lavoura e, ao mesmo tempo, preparando a planta e o 2 Notícia fornecida pelo senhor João Pedro Stédile ao Jornal Terramérica, São Paulo, 2003. .R Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 57 ambiente para que esses patógenos, caso cheguem à lavoura, não encontrem condições de se estabelecerem e de se multiplicarem a ponto de comprometer a produ- ção e a qualidade dos produtos. E são exatamente essas medidas preventivas que a filosofia do controle inte- grado (ou manejo integrado) propõe incorporar na ole- ricultura convencional, de modo a retardar ou mesmo dispensar o uso dos agrotóxicos. Além das tecnologias atualmente em uso nessa atividade, não se pode negligenciar o avanço da ciência em busca de produtos menos poluentes ou menos tóxi- cos, como os princípios ativos naturais, a exemplo das estrobilurinas e dos indutores de resistência em plantas. As estrobilurinas formam um grupo de fungicidas considerado de baixo risco, tanto à saúde humana quanto ao meio ambiente. São produzidas na natureza por fungos do gênero Strobilurus para se defenderem contra outros microrganismos presentes no nicho ecológico (plantas em apodrecimento) de onde retiram seus nutrientes. Indo além, não há por que excluir, de forma ideológica, os transgênicos, como se todos fossem originados de eventos genéticos similares e com pers- pectivas de criação de monstros ou formas ameaçado- ras ao equilíbrio ambiental e econômico. Por exemplo, a incorporação de um gene de resistência a uma doença que, por meios naturais, levaria mais de 10 anos para alcançar resultado, poderia ser realizada por transgenia em 2 ou 3 anos, e, assim, ser de grande utilidade para a agricultura orgânica. Isso certamente depois de serem rigorosamente analisados seus even- tuais riscos toxicológicos e ambientais. Por que, então, Carlos Alberto Lopes Texto para Discussão 4758 simplesmente considerá-los vilões, e não aliados, para a mesma causa, que é a de alimentos de boa qualidade e em abundância, em um sistema sustentável? Os defensores conscientes da agricultura orgâ- nica devem se preocupar com que a agricultura orgâ- nica não fique associada a um atraso tecnológico, ao renegar novas tecnologias. Quando necessário, eles devem promover a quebra de paradigmas, desde que essas novas tecnologias possam se tornar aliadas, na busca de uma agricultura econômica e ambientalmente equilibrada. Sem dúvida, as implicações seriam muito mais de fundo ideológico do que técnico, ambiental, social ou econômico; afinal, algumas das novas tecno- logias podem ser formulações comercializadas em grande escala. Para compensar, isso representaria uma grande conquista para os inseguros produtores orgâni- cos ou em fase de transição agroecológica, que veriam seus riscos amenizados e garantida a oferta de produtos, resultando em maior número de atores inseridos perma- nentemente no sistema. Conforme mencionado por Jakubaszko et al. (2005), “o agricultor é conservador por natureza, mas inovador por necessidade”; portanto, ele espera inovação tecnológica para ajudá-lo a resolver velhos e novos problemas fitossanitários e “salvar” sua lavoura. Na situação atual – que se caracteriza por oferta inconstante, má apresentação da maioria dos pro- dutos ofertados, poucos produtores se sustentando na atividade, carência de assistência técnica e insegurança sobre a sanidade de sementes orgânicas –, a agricultura orgânica tenderá a ser elitizada. Perderá, então, espaço para a também crescente onda da produção integrada, cuja premissa básica é que, ao se permitir o uso, natu- ralmente racional, de agrotóxicos, aumentam-se as pos- sibilidades de ofertar maiores volumes de produtos, também mais saudáveis, a uma sociedade cada vez mais Texto para Discussão 47 Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática 59 consciente e exigente em aparência e qualidade, e com preços mais acessíveis. Controle integrado (ou manejo integrado) é conceituado de várias maneiras. Em qualquer um deles, entretanto, estão implícitas as ideias de integração e manejo. A integração refere-se ao uso harmônico de táticas distintas e complementa- res de proteção de plantas e ao manejo do conjunto de informa- ções (técnicas, econômicas, sociais e ambientais) que orientam a tomada de decisão (inclusive a aplicação de agrotóxicos), com o objetivo de manter a população do organismo nocivo abaixo de um limiar de dano econômico (KOGAN, 1998). Essa disputa entre a agricultura orgânica e a pro- dução integrada felizmente se intensifica, ambas vis- lumbrando um futuro para uma agricultura menos dependente de agrotóxicos, por meio da adoção de medidas restritivas e principalmente educativas. Levará vantagem a que der preferência à tecnologia e ao empe- nho dos produtores em promover um desenvolvimento sustentável, com produtividade associada a alimentos seguros e menores riscos de produção, em vez de privi- legiar discursos politicamente corretos, até mesmo aqueles divulgados nos programas de governo. Referências BRASIL. Decreto n° 4.074, de 4 jan. de 2002. Regulamenta a Lei no 7.802, de 11 de julho de 1989. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 8 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/2002/D4074.htm>. Acesso em: 26 jun. 2013. . Carlos Alberto Lopes Texto para Discussão 4760 BRASIL. Decreto n° 7.794, de 20 de ago. 2012. Institui a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 21 ago. 2012. Disponível em: <http://xa.yimg.com/kq/ groups/1865195/1375884509/name/http___www. in.gov.pdf>. Acesso em: 15 maio 2013. BRASIL. Lei n° 7.802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem, e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 jul. 1989. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l7802.htm>. Acesso em: 15 maio 2013. BRASIL. Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 jul. 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/2003/l10.831.htm>. Acesso em: 13 jun. 2012. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1988. IAPAR. Instituto Agronômico do Paraná. Agricultura orgânica. Disponível em: <http://www.iapar.br/arquivos/File/ agricultura_organica.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2015. JAKUBASZKO, R.; LUCHIARI JÚNIOR, A.; GAZZONI, D. L.; KITAMURA, P. C. Marketing da Terra. Viçosa: Ed. da UFV, 2005. 280 p. KOGAN, M. Integrated pest management: historical perspectives and contemporary development.
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