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Sustentabilidade-e-horticultura

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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: 
da retórica à prática
Carlos Alberto Lopes 
Maria Thereza Macedo Pedroso
Editores Técnicos
Embrapa 
Brasília, DF 
2017
ISSN 1677-5473
Exemplares desta publicação 
podem ser solicitados na:
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) 
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD)
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Colégio de editores associados
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Vera L. Divan Baldani
Vicente Galileu Ferreira Guedes
Zander Navarro
Supervisão editorial 
Erika do Carmo Lima Ferreira
Revisão de texto 
Corina Barra Soares
Normalização bibliográfica 
Márcia Maria Pereira de Souza
Editoração eletrônica 
Júlio César da Silva Delfino
Projeto gráfico 
Tenisson Waldow de Souza
1ª edição 
1ª impressão (2017): 600 exemplares
As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e de inteira responsabilidade do autor, não exprimindo, 
necessariamente, o ponto de vista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao 
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Todos os direitos reservados
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, 
constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Embrapa Informação Tecnológica
Sustentabilidade e horticultura no Brasil : da retórica à prática / Carlos Alberto Lopes, Maria 
Thereza Macedo Pedroso, editores técnicos. – Brasília, DF : Embrapa, 2017.
433 p. : il. ; 15 cm x 21 cm. - (Texto para Discussão / Embrapa. Departamento de Pesquisa 
e Desenvolvimento, ISSN 1617-5473 ; 47).
1. Agricultura sustentável. 2. Produção agrícola. 3. Propagação vegetativa. 4. Tecnologia 
agrícola. I. Lopes, Carlos Alberto. II. Pedroso, Maria Thereza Macedo. III. Embrapa. 
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento.
CDD 635
© Embrapa, 2017
Conselho editorial
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Alberto Roseiro Cavalcanti
Antonio Roosevelt de Moraes Junior
Assunta Helena Sicoli
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Geraldo B. Martha Jr.
Ivan Sergio Freire de Sousa
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Lucilene Maria de Andrade
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Marita Feres Cardillo
Otavio Valetim Balsadi
Paule Jeanne Mendes
Paulo Roberto Tremacoldi
Renato Cruz Silva
Roberto de Camargo Penteado Filho
Editor da série 
Ivan Sergio Freire de Sousa
Coeditores 
Adriana Reatto dos Santos Braga 
Daniela Matias de Carvalho Bittencourt 
Job Lúcio Gomes Vieira 
José Robson Bezerra Sereno 
Paulo Roberto Tremacoldi
Autores
Agnaldo Donizete Ferreira de Carvalho 
Engenheiro-agrônomo, doutor em Genética e 
Melhoramento de Plantas, pesquisador da Embrapa, 
Brasília, DF
Alice Kazuko Inoue-Nagata 
Engenheira-agrônoma, doutora em Fitopatologia, 
pesquisadora da Embrapa, Brasília, DF
Carlos Alberto Lopes 
Engenheiro-agrônomo, Ph.D. em Fitopatologia, 
pesquisador da Embrapa, Brasília, DF
Eliseu Roberto de Andrade Alves 
Engenheiro-agrônomo, doutor em Economia Rural, 
pesquisador da Embrapa, Brasília, DF
Fernanda Rausch Fernandes 
Engenheira-agrônoma, doutora em Fitopatologia, 
pesquisadora da Embrapa, Brasília, DF
Francisco Adriano de Souza 
Engenheiro-agrônomo, doutor em Ecologia Molecular 
Microbiana, pesquisador da Embrapa, Sete Lagoas, MG
Gilmar Paulo Henz 
Engenheiro-agrônomo, doutor em Fitopatologia, 
pesquisador da Embrapa, Brasília, DF
Giovani Olegário da Silva 
Engenheiro-agrônomo, doutor em Genética e 
Melhoramento de Plantas, pesquisador da Embrapa, 
Brasília, DF
Ítalo Moraes Rocha Guedes 
Engenheiro-agrônomo, doutor em Solos e Nutrição de 
Plantas, pesquisador da Embrapa, Brasília, DF
Lineu Neiva Rodrigues 
Engenheiro agrícola, doutor em Engenharia Agrícola, 
pesquisador da Embrapa, Brasília, DF
Marcos Brandão Braga 
Engenheiro-agrônomo, doutor em Irrigação e Drenagem, 
pesquisador da Embrapa, Brasília, DF
Maria Thereza Macedo Pedroso 
Engenheira-agrônoma, mestre em Desenvolvimento 
Sustentável, pesquisadora da Embrapa, Brasília, DF
Miguel Michereff Filho 
Engenheiro-agrônomo, doutor em Entomologia, 
pesquisador da Embrapa, Brasília, DF
Mirian Fernandes Furtado Michereff 
Bióloga, doutora em Biologia Animal, pesquisadora 
visitante da Embrapa, Brasília, DF
Mirtes Freitas Lima 
Engenheira-agrônoma, Ph.D. em Fitopatologia, 
pesquisadora da Embrapa, Brasília, DF
Núbia Maria Correia 
Engenheira-agrônoma, doutora em Produção Vegetal, 
pesquisadora da Embrapa, Brasília, DF
Sidney Luiz Stürmer 
Biólogo, Ph.D. em Genética e Biologia do 
Desenvolvimento, professor da Universidade Regional 
de Blumenau, Blumenau, SC
Thiago Roberto Schlemper 
Ecólogo, mestre em Engenharia Ambiental, Instituto 
Holandês de Ecologia (NIOO), Wageningen, Holanda
Waldir Aparecido Marouelli 
Engenheiro agrícola, Ph.D. em Engenharia Agrícola e 
de Biossistemas, pesquisador da Embrapa, Brasília, DF
Zander Navarro 
Engenheiro-agrônomo, doutor em Sociologia, 
pesquisador da Embrapa, Brasília, DF
Apresentação
Texto para Discussão é publicação seriada 
técnico-científica, empenhada na divulgação de resul-
tados de estudos e pesquisas cuja relevância e 
oportunidade recomendam seu oferecimento à refle-
xão e ao debate.
Criada em 1998 e publicada continuamente 
desde então, a série dedica-se, como sugere sua deno-
minação, a promover a circulação de dados e ideias e 
a ensejar seu debate em espaço mais ampliado do que 
aquele em que se insere(m) seu(s) autor(es).
A pesquisa é exitosa e o conhecimento avança 
quando pesquisadores produtivos interagem com 
liberdade e responsabilidade, compartilhando infor-
mações e cotejando abordagens.
Texto para Discussão aborda temas do desen-
volvimento agrícola contemporâneo, de relevo social 
e econômico, versados por autores com vínculos 
organizacionais diversificados.
A série é dirigida a pesquisadores, dirigentes, 
formuladores de políticas públicas, acadêmicos e 
demais segmentos profissionais que atuem ou tenham 
interesse nas temáticas e funções da ciência, tecnologia 
e inovação para o desenvolvimento da agricultura.
Cada trabalho recebido passa por crivo de 
admissibilidade na editoria e, ganhando ingresso, 
segue para o escrutínio de editores associados, na 
tradição da avaliação por pares. A responsabilidade 
do conteúdo publicado é de exclusiva responsabili-
dade do(s) autor(es), não exprimindo, necessariamente, 
o ponto de vista da Empresa Brasileira de Pesquisa 
Agropecuária (Embrapa).
Os volumes publicados são distribuídos nacio-
nalmente, com destaque para bibliotecas e demais 
centros de documentação, em cujos acervos os exem-
plares são catalogados e ficam à disposição do 
público. Assim, são contempladas bibliotecas de uni-
versidades, de institutos de pesquisa e de órgãos de 
extensão, entre outros. Os trabalhos são igualmente 
mantidos à disposição do público para serem baixa-
dos na forma de arquivos digitais idênticos aos 
volumes impressos.
De caráter monográfico, cada número veicula 
texto único, de autoria tanto singular quanto coletiva. 
Em ocasiões especiais, o número pode trazer coletâ-
nea de textos, reunidos em função de um tema ou ideia 
central.Nesses quase 20 anos, Texto para Discussão já 
ofertou mais de quatro dezenas de números e, como 
forma relevante de repercussão, contabiliza títulos 
incorporados como referência em projetos de pes-
quisa e como fontes bibliográficas em cadeiras de 
programas de pós-graduação.
O Editor
Prefácio
Com este número, Texto para Discussão 
acrescenta à sua característica de publicação de 
monografias a oferta de uma coletânea de textos em 
torno de um tema básico – neste caso, a sustentabili-
dade na horticultura. O tema é abordado com base 
em várias perspectivas, e com um viés proposital 
voltado à olericultura, visto que a maioria dos auto-
res é especialista em pesquisas com hortaliças. 
Dessa forma, a presente coletânea tem por objetivo, 
primeiramente, destacar a Embrapa como empresa 
pública que gera produtos, técnicas e processos 
derivados exclusivamente da ciência estabelecida. 
Pretende também apontar as potencialidades de 
algumas técnicas desenvolvidas ou adaptadas pela 
Embrapa no tocante ao tema e, por fim, tenciona 
valorizar o trabalho propriamente científico, estrita-
mente correspondente aos cânones consagrados da 
ortodoxia do método científico.
Em especial, a coletânea enfoca a sustentabili-
dade da horticultura segundo o princípio geral, já 
consolidado, que almeja produzir efeitos de poupar 
recursos naturais e utilizar menores quantidades de 
insumos (especialmente químicos) e, assim, poten-
cializar a produtividade, entre outros objetivos 
igualmente associados àquele termo. Trata-se de 
insistir que o caminho da sustentabilidade das ativi-
dades agropecuárias, lato sensu, ou da horticultura, 
em particular, deve-se orientar principalmente 
(embora não exclusivamente) pela elevação da agri-
cultura moderna, do atual patamar, adotado em 
grande parte do Brasil e nos variados ramos da pro-
dução, para outro, no qual sua configuração 
sustentável possa ser nitidamente evidenciada. Ou 
seja, nesta publicação, o pressuposto de orientação 
geral é que não existe a proposta de “substituir” a 
natureza essencial e as principais características da 
chamada agricultura moderna, fruto de uma longa 
trajetória das ciências agronômicas, por outro 
modelo tecnológico radicalmente novo e diferente.
Em consequência, o caminho da reflexão apre-
sentada pelos diversos autores nesta coletânea é 
bastante distinto de narrativas oferecidas com cres-
cente frequência, as quais sugerem a factibilidade de 
uma relativa facilidade para transformar a agricul-
tura em sustentável e que essa transição não vem 
ocorrendo por razões que seriam, sobretudo, políti-
cas e ideológicas, advindas do poder econômico dos 
grandes grupos agroindustriais. São argumentos 
gerais que, muitas vezes, surpreendem especialmente 
pela usual inexistência de comprovação demonstra-
tiva de sua viabilidade prática.
De um lado, são interpretações que surpreen-
dem por serem propostas ligeiras e superficiais, 
demonstrativas de um raso conhecimento sobre as 
práticas dos agricultores, em seu labor cotidiano, 
para manter vivas as suas atividades produtivas, 
incluindo os riscos crescentes que a economia agrí-
cola impõe aos seus agentes. Quase sempre, essas 
leituras parecem ignorar que a agropecuária é uma 
parte da economia e, portanto, precisa se organizar 
como tal para persistir com sucesso, em um ambiente 
no qual o acirramento concorrencial se acentua a 
cada dia, encurralando, em especial, os pequenos e 
médios produtores. Além do mais, tais interpretações 
parecem recusar o resultado obtido pelo expressivo 
desenvolvimento tecnológico da agricultura nos 
aproximadamente últimos 150 anos.
De outro lado, surpreendem também tais pro-
postas quando insistem que existiria uma crise 
igualmente manifesta no “mundo da ciência”, e que 
os cânones da ciência moderna também estariam 
demandando, em tese, uma radical transformação. 
Inspirados em autores que alimentam uma crítica 
contundente a aspectos particulares do modo de fun-
cionamento da ciência moderna, essas narrativas, 
que se apresentam contrárias à agricultura moderna, 
não conseguem, contudo, oferecer outro caminho 
substitutivo operacionalizável, ou propor algo con-
creto, além de platitudes, algumas pueris, sobre a 
suposta “crise da ciência”. Novamente aqui também 
se ignora o árduo esforço, de quase 500 anos, para 
desenvolver os pressupostos ontológicos da ciência 
moderna e, posteriormente, o penoso processo de 
construção do método científico.
Dessa forma, a coletânea esforça-se em alertar 
para o perigo de ocorrer um retrocesso guiado por 
esforços que, de fato, constituem uma pseudociência. 
Por essa razão, o grupo de autores reunidos neste 
livro discute seus temas específicos de análise sob um 
quadro irrestrito de liberdade analítica, dessa forma 
sendo mantidos (e insista-se em tal pressuposto) o plu-
ralismo e as opções de escolha explicativa de cada 
autor para lidar com seus temas de especialização 
segundo o indicado pelas respectivas trajetórias 
disciplinares.
No tocante aos temas tratados nesta publicação, 
o objetivo principal foi introduzir, em cada artigo, 
um foco de especialização dos subcampos discipli-
nares da Agronomia e das práticas agrícolas 
atualmente disponíveis (testadas e validadas), as 
quais, somadas à literatura existente e ao conheci-
mento acumulado dos autores, permitem perscrutar 
o significado, principalmente prático, da busca da 
sustentabilidade. São destacados os desafios princi-
pais a serem vencidos para permitir a transposição 
entre um desejo inicial, ainda retórico, e um resul-
tado final, concreto e viável, de um modo sustentável 
de funcionamento, inclusive economicamente. Essa 
transição é essencial quando se discute sustentabili-
dade e sua concretização em situações práticas, pois 
a linguagem retórica acabaria propondo, de fato, 
“tudo”, o que poderia esvaziar a noção de sustenta-
bilidade, tornando-a inócua.
Mantemos a expectativa de a publicação desper-
tar o interesse de um leitorado preocupado com a 
agropecuária brasileira, em seus diversos ângulos ana-
líticos. Seriam os formadores de opinião, mas não 
necessariamente somente aqueles com formação agro-
nômica, pois os diversos artigos que constituem o livro 
poderão também atrair o interesse daqueles que tomam 
decisão e/ou influenciam decisões sobre o mundo rural.
Por esse motivo, nos artigos, evitou-se, o quanto 
possível, o vocabulário essencialmente científico ou 
específico das áreas de cada especialista. Esse cui-
dado estendeu-se até mesmo ao diálogo exclusivo 
entre os pares das respectivas comunidades científi-
cas. Utilizar uma linguagem “popular” foi, porém, em 
certos casos, tarefa desafiadora. Aliás, os artigos 
foram relidos e revisados várias vezes para que fosse 
alcançado o propósito de garantir uma linguagem 
acessível, de fácil compreensão, ao leitor em geral.
Os autores dos artigos da coletânea são espe-
cialistas em quase todas as áreas que se relacionam 
com a produção agrícola: fitopatologia, irrigação, 
engenharia agrícola, entomologia, melhoramento 
vegetal, ciências dos solos, ciências dos alimentos, 
microbiologia, fitotecnia, economia agrícola e socio-
logia rural. Cada autor seguiu por um caminho 
analítico de sua própria decisão. Alguns artigos dis-
cutem a noção de “sustentabilidade” e “tecnologia” 
sob um aspecto mais geral, enquanto outros refletem 
sobre “sustentabilidade” com base em uma técnica 
produtiva particular, desenvolvida como resultado de 
pesquisas, ou embasada no conhecimento acumulado 
em uma área específica das ciências agronômicas. No 
total, são 20 autores e 15 artigos.
A coletânea é inaugurada com o artigo de Alves, 
no qual se defende a tese de que o estabelecimento 
rural, para ser sustentável, precisa primeiramente ser 
capaz de remunerar todos os fatores de produção. 
O texto também analisa o setor específico da produ-
ção de hortaliças no Brasil.
Em seguida, Lopes reflete sobre diversos aspec-
tos do controle de doenças que conferem complexidade 
à busca da sustentabilidadena olericultura em nosso 
país, analisando detalhes sobre o setor, muitas vezes 
ignorados em inúmeras interpretações.
Pedroso, no artigo seguinte, discute cinco expres-
sões que estão em voga e que se relacionam com a 
agricultura sustentável. São elas: “desenvolvimento 
sustentável”, “agricultura sustentável”, “agricultura fami-
liar”, “inovações tecnológicas” e “políticas públicas”.
Em seguida, Carvalho e Silva explicam o que 
significa exatamente a expressão “melhoramento 
vegetal”, tema muito pouco compreendido pelos lei-
gos, às vezes criando primárias confusões de 
entendimento.
Fernandes e Nagata, por sua vez, explicam a 
crescente e fundamental importância da certifica-
ção de sementes, talvez o insumo agrícola mais 
nobre para a produção sustentável de hortaliças.
Fernandes e Lima tratam da tecnologia de 
cultura de tecidos, um tema precioso para a produ-
ção de determinadas hortaliças, explicando como a 
ciência avançou a partir de espécies de propagação 
vegetativa, como alho, batata-doce e batata.
Em seu artigo, Guedes aborda, de uma forma 
geral, o tema do uso sustentável dos solos, focando o 
tema do sequestro de carbono no solo.
Souza, Schlember e Stürmer tratam da impor-
tância da tecnologia da inoculação de micorrizas, 
demonstrando sua significativa importância para o 
desenvolvimento sustentável.
Braga discute, genericamente, o tema da 
sustentabilidade da irrigação no Brasil, apre-
sentando dados e análises sobre o uso da água 
na agricultura. Marouelli e Rodrigues, por sua 
vez, em foco complementar, explicam aspectos 
técnicos relacionados com o seu uso racional, 
para garantir a sustentabilidade na irrigação de 
hortaliças.
Michereff Filho e Michereff explicam e anali-
sam o manejo integrado de pragas (MIP), descrevendo 
e analisando a sua aplicação no Brasil, seus avanços 
e percalços.
 Correia desmistifica o tema do uso de herbici-
das, especialmente quando a mão de obra no campo é 
cada vez mais escassa, e esclarece os motivos pelos 
quais são recomendados.
Nagata e Fernandes explicam a importância do 
vazio sanitário, salientando os fatores que tornam 
complexa a efetividade dessa fundamental medida no 
controle de pragas.
Henz enfoca o tema da pós-colheita, mostrando 
que muitos dos problemas que residem nessa fase da 
produção de alimentos são multifatoriais e, por isso, 
devem ser analisados de forma multidisciplinar.
Por fim, concluindo a publicação, Navarro dis-
cute criticamente o tema da “agroecologia”, um termo 
que se expande no Brasil, mas sem clareza conceitual, 
conforme argumenta o autor.
Carlos Alberto Lopes e 
Maria Thereza Macedo Pedroso
Editores Técnicos
Sumário
A quem cabe a sustentabilidade da horticultura: 
ao horticultor ou ao meio físico (ou a ambos)? ... 19 
Eliseu Alves
Considerações sobre a sustentabilidade 
no controle de doenças das hortaliças 
produzidas em diferentes sistemas agrícolas ....... 41 
Carlos Alberto Lopes
Sustentabilidade e transformações 
produtivas e tecnológicas na agricultura: 
é preciso ampliar o debate ................................... 61 
Maria Thereza Macedo Pedroso
A importância do melhoramento genético 
e de sistemas de produção para a 
sustentabilidade da agricultura brasileira ............. 111 
Agnaldo Donizete Ferreira de Carvalho 
e Giovani Olegário da Silva
A contribuição da certificação de sementes 
para a produção sustentável de hortaliças ............ 139 
Fernanda Rausch Fernandes 
e Alice Kazuko Inoue-Nagata
A importância do uso de materiais 
de propagação vegetativa de alta qualidade 
fitossanitária (livres de vírus): estudos 
de caso sobre alho, batata e batata-doce .............. 161 
Fernanda Rausch Fernandes 
e Mirtes Freitas Lima
Um breve comentário sobre o uso sustentável 
do solo pela agricultura ........................................ 203 
Ítalo Moraes Rocha Guedes
A importância da tecnologia de inoculação 
de fungos micorrízicos para a sustentabilidade 
na olericultura ...................................................... 223 
Francisco Adriano de Souza, Thiago Roberto 
Schlemper e Sidney Luiz Stürmer
A sustentabilidade da irrigação no Brasil ............ 253 
Marcos Brandão Braga
Aspectos de sustentabilidade na irrigação 
de hortaliças ......................................................... 271 
Waldir Aparecido Marouelli 
e Lineu Neiva Rodrigues
Controle de pragas na agricultura brasileira: 
estamos no rumo da sustentabilidade? ................. 287 
Miguel Michereff Filho 
e Mirian Fernandes Furtado Michereff
A dinâmica dos herbicidas no ambiente e 
a sustentabilidade agrícola ................................... 317 
Núbia Maria Correia
Vazio sanitário: um estudo de caso para 
a produção sustentável do tomateiro .................... 341 
Alice Kazuko Inoue-Nagata 
e Fernanda Rausch Fernandes
Pós-colheita e consumo sustentável 
de hortaliças ......................................................... 363 
Gilmar Paulo Henz
A agroecologia no Brasil: magia, 
autoengano e ação política ................................... 401 
Zander Navarro
A quem cabe a sustentabilidade 
da horticultura: ao horticultor 
ou ao meio físico (ou a ambos)?
Eliseu Alves
A quem cabe a sustentabilidade da horticultura: 
ao horticultor ou ao meio físico (ou a ambos)?
Resumo
Neste capítulo, são defendidas duas teses. A primeira afirma 
que o estabelecimento rural é tido como qualificado quando é 
capaz de remunerar todos os fatores de produção, por meio da 
venda da produção. Pelo Censo Agropecuário 2006, somente 
44% dos estabelecimentos que declararam produção e explo-
ram a terra foram capazes de cumprir essa exigência; ou seja, 
56% deles não atingiram o mesmo objetivo. Estes últimos difi-
cilmente estarão dispostos a investir em preservação do meio 
ambiente. Impõe-se, pois, incentivá-los a investir na preserva-
ção do meio ambiente. A segunda tese sugere que a discriminação 
contra a pequena produção é menor no ramo das hortaliças, 
tanto em nível de mercado quanto de produção. As Centrais de 
Abastecimento (Ceasas), os pontos de venda em bairros e os 
cinturões verdes criam condições bem mais favoráveis à 
pequena produção do que para outras explorações agrícolas. 
O grande dispêndio por hectare exigido pela tecnologia moderna 
favorece a concentração da produção, embora a maioria dos 
insumos e a terra sejam fracionáveis. As chamadas “hortaliças 
commodities”, como batata, tomate e cenoura, favorecem a 
grande produção e a concentração em poucos estabelecimentos. 
Por isso, merecem ser estudadas com mais detalhes.
Termos para indexação: olericultura, produção de hortaliças, 
agricultura familiar, renda familiar, sistemas de produção.
Who is responsible for horticulture sustainability: 
the horticulturist or the physical environment (or both)?
Abstract
In this chapter, there are two theses defended. The first one 
states that rural establishments are regarded as qualified if they 
are capable of paying all the factors of production through the 
sale of production. According to the 2006 Brazilian Census of 
Agriculture, only 44% of the establishments which reported 
production and exploit the land were able to meet this require-
ment, or 56% of them failed in this respect. The ones that belong 
to the last category will not be receptive to invest in environ-
mental conservation. There must be, therefore, encouragement 
for them to invest in environmental conservation. The second 
thesis suggests that discrimination against small producers is 
less serious and important in vegetable production, both at the 
market place and in the production level. The Supply Centers 
(Ceasas), urban direct sell of vegetables by farmers and the 
green belts are good examples of arrangements that were also 
designed to favor family farming rather than other types of 
farming systems. The large expenditure per hectare required by 
modern technology favors the concentration of production, 
although most of the inputs and earth are divisible.The so called“vegetable commodities”, such as potato, carrot and tomato, 
favor large production, and hence the concentration of produc-
tion in few hands. Therefore, they deserve to be studied in more 
detail.
Index terms: olericulture, vegetable production, family farm-
ing, family income, production systems.
Texto para Discussão 4723
Introdução
hipótese que fundamenta as discussões sobre susten-
tabilidade na agricultura é que o agricultor seja eco-
nomicamente sustentável, no sentido de que, pelo 
menos com a venda da produção, sejam remunerados 
todos os fatores de produção. Ou seja, a renda líquida, 
que é o valor da produção menos a remuneração dos 
fatores de produção, é maior ou igual a zero. Num 
dado ano, ela pode ser negativa, em virtude das flutu-
ações perversas dos preços, do ataque de doenças e 
pragas, do deficit de chuva, entre outras causas. Mas 
essa ocorrência deve ser uma exceção. Por isso, a pru-
dência recomenda que, nos anos bons, reservas sejam 
feitas para que sejam enfrentadas futuras adversida-
des, ou, então, que se recorra ao seguro, quando 
possível.
Sendo sustentável financeiramente, é possível 
que o agricultor tenha condições de cuidar da sus-
tentabilidade do ambiente físico. Contudo, comu-
mente se argumenta que a sustentabilidade do meio 
físico é indispensável à sustentabilidade econômica 
do estabelecimento rural. Se a renda for negativa, o 
agricultor não fará investimentos em tecnologias 
que requerem anos para serem ressarcidos. Assim, 
necessariamente, a estratégia para que o estabeleci-
mento rural possa passar a um patamar mais elevado 
de sustentabilidade precisa considerar sua renda 
líquida. Quando um agricultor tem renda líquida 
negativa, obter recursos para investimentos por 
.A
Eliseu Alves
Texto para Discussão 4724
meio de contrato de crédito rural é tarefa compli-
cada, que implicará aval ou garantias em termos de 
propriedade rural ou de outros bens. Portanto, a 
melhor alternativa a seguir é recuperar economica-
mente o estabelecimento, administrando com saga-
cidade os recursos que o agricultor comanda. 
Saneada a contabilidade do negócio, o crédito rural 
volta a ser opção.
Concentração e dispersão da renda bruta
Censo Agropecuário 2006 permitiu estimar a renda 
líquida – os detalhes metodológicos podem ser encon-
trados em Alves et al. (2012). Os estabelecimentos 
que declararam produção e exploram a terra (como 
proprietários, parceiros, arrendatários e ocupantes) 
corresponderam a 4.400.527, sendo que 44,36% tive-
ram renda líquida não negativa (rl ≥ 0) e 55,64% tive-
ram renda líquida negativa (rl < 0). Se persistir por 
alguns anos a situação de renda líquida negativa, este 
último grande grupo de produtores será forçado a 
vender parte de seu patrimônio para sobreviver. Ou, 
então, terão de se reorganizar com nova tecnologia, 
incluindo mais rigor na administração de seus estabe-
lecimentos. Dessa forma, fica a pergunta: como os 
agricultores farão para pagar por tecnologias que pre-
servem o meio ambiente, se o seu retorno não ocorrer 
no curso de um ano?
No estudo referido anteriormente, todos os esta-
belecimentos foram divididos em classes de salário 
.O
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
25
mínimo mensal (slm), equivalentes ao total do valor da 
produção agropecuária auferida no estabelecimento. 
O salário mínimo vigente em 2006 era de R$ 300,00, 
e as classes foram assim identificadas: a) miniprodu-
tor, quando a estimativa do valor da produção total do 
estabelecimento, transformada em salários mínimos, 
era maior que zero e igual a 2 (0 a 2); b) pequeno pro-
dutor, maior que 2 e igual a 10 (2 a 10); c) médio pro-
dutor, maior que 10 e igual a 200 (10 a 200); e d) grande 
produtor, maior que 200 salários mínimos (> 200).
Na sequência, o total dos estabelecimentos foi 
dividido em dois grandes grupos de área total dos 
estabelecimentos: menor e igual a 100 ha e maior que 
100 ha. Na Tabela 1 estão os resultados obtidos, 
depois de realizados os agrupamentos indicados. 
Nela, a renda bruta (rb) é o valor da produção de 2006 
em real do ano, incluindo o autoconsumo e a indústria 
caseira. O índice de Gini mede a dispersão da renda 
bruta ou sua desigualdade: o seu máximo é 1, para 
quando um dos estabelecimentos ficar com toda a 
renda bruta. Ou seja, quanto mais próximo estiver 
de 1, maior será a desigualdade dentro do grupo. 
O mínimo se iguala a 0, quando todos os estabeleci-
mentos tiverem a mesma renda bruta. A renda bruta 
média é igual à renda bruta dividida pelo número de 
estabelecimentos, em real (R$) relativo ao ano de 
2006, por estabelecimento.
A Tabela 1 mostra o número de estabelecimen-
tos e sua relação com o seu total, em porcentagem, e 
a relação da renda bruta da classe de salário mínimo 
com a renda bruta total, em porcentagem, o índice de 
Gini e a rb média.
Eliseu Alves
Texto para Discussão 4726
Tabela 1. Distribuição da renda bruta (rb) em classes de salário 
mínimo mensal (slm) e em duas classes de área (≤ 100 e 
> 100 ha) e por classe de área.
Classes de rb 
(slm 2006)
≤ 100 ha (98,2% do total do 
número de estabelecimentos)
> 100 ha (8,8% do total do número 
de estabelecimentos)
Número % rb total (%) Número % rb total (%)
(0 a 2] 2.795.789 69,64 6,98 108.980 28,23 0,31
(2 a 10] 885.057 22,05 19,90 110.693 28,67 2,22
(10 a 200] 326.446 8,13 45,22 146.256 37,89 27,64
> 200 7.185 0,18 27,90 20.121 5,21 69,83
Total 4.014.477 100,00 100,00 386.050 100,00 100,00
Índice de Gini 0,85 0,87
rb média 18.322,20 238.126,15
Fonte: IBGE (2006 citado por ALVES et al., 2012).
A Tabela 1 mostra como se distribui a renda 
bruta nas duas classes de área e por classe de renda 
bruta, em salário mínimo mensal. Ou seja, como se 
dividem os produtores agrupados em mini, pequenos, 
médios e grandes produtores, para cada uma das duas 
classes de área. A classificação não é feita por área, 
como é usual nas discussões mais corriqueiras na lite-
ratura, pois o interesse aqui é verificar como se distri-
bui o valor da produção. E a tabela mostra ser muito 
grande a concentração em ambas as classes, no sen-
tido de que poucos produtores produziram muito, 
enquanto muitos produtores produziram muito pouco.
Na classe definida no estudo como aquela 
menor ou igual a 100 ha, os miniprodutores, que tota-
lizaram 69,64% dos 4.014.477 que compuseram a 
classe, contribuíram com apenas 6,98% da produção 
total. Os pequenos produtores (22,05% do total de 
produtores da classe) geraram 19,90% da produção 
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
27
total da classe – juntos, os mini e os pequenos produ-
tores correspondem a 91,69% da classe de 100 ha e 
menos, e contribuíram com 26,88% da produção da 
classe, ou seja, muitos produtores contribuíram com 
muito pouco.
No outro extremo, ainda na classe (≤ 100), os 
grandes produtores, cuja renda bruta equivale a mais 
de 200 salários mínimos de renda mensal por estabe-
lecimento, são apenas 7.185 (0,18%), mas responde-
ram por 27,90% da renda bruta. A contribuição dos 
médios produtores, 8,13% do total da classe, equiva-
leu a 45,22%. As duas classes juntas, em número de 
estabelecimentos, totalizaram 8,31% e, em proporção 
da rb, 73,12%. Ou seja, poucos produziram a maior 
parte da produção da classe de área ≤ 100 ha.
Já na classe de mais de 100 ha, os grandes pro-
dutores em porcentual do número de estabelecimen-
tos (5,21%) corresponderam a 68,8% do valor total. 
Os médios estabelecimentos, em porcentual do 
número de estabelecimentos, são 37,89% e geraram 
27,64% do valor da produção. Juntas, as duas classes 
correspondem a 43,10% do número de estabeleci-
mentos e têm participação no valor da produção 
igual a 97,47%. Os mini e pequenos produtores, 
agregadamente, são 56,90% do número de produto-
res da classe, mas respondem por apenas 2,53% do 
valor da produção.
A concentração da produção é expressiva nas 
duas classes, embora bem maior na classe de mais de100 ha, na qual a pequena produção, embora expres-
siva em número de produtores (56,90%), somente 
contribuiu com 2,53% do valor da produção.
Eliseu Alves
Texto para Discussão 4728
O índice de Gini, que mede a desigualdade da 
renda bruta entre os produtores de cada classe, atin-
giu, respectivamente, 0,85 e 0,87. Assim, a desigual-
dade é praticamente a mesma nas duas classes e muito 
elevada. Note-se que o índice de Gini mede a disper-
são – no caso, entre a renda bruta dos estabelecimen-
tos de cada classe –, e ele foi estimado com os 
microdados, sem utilizar a tabela acima. Note-se 
ainda que é possível ter concentração da produção 
diferente de desigualdade. A concentração retrata a 
posição de uma classe de área contra a da outra, no 
que tange às classes de renda bruta. O índice de Gini 
mede a dispersão da renda bruta dentro de cada classe; 
no caso em análise, muito elevada.
Os dados analisados no artigo citado também mostram que a 
terra perdeu muito da capacidade de explicar a variação da 
produção e a desigualdade de renda. Atualmente, esse poder 
pertence, em grande parte, à tecnologia. Por isso, a política de 
distribuição de terra precisa, necessariamente, ser implemen-
tada de forma articulada com programas de tecnologia. Caso 
contrário, fracassará.
Renda líquida
ustentabilidade e renda líquida positiva, ou não nega-
tiva, caminham juntas. A Tabela 2 é uma simplifica-
ção de outra tabela, apresentada no documento citado 
acima.
.S
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
29
Na classe dos miniprodutores, a grande maioria 
de todos os estabelecimentos, pela última coluna, per-
tence a essa classe (66,00%), e a grande maioria 
(65,20%) tem renda líquida negativa. De acordo com 
a Tabela 2, os produtores dessa classe obtinham ape-
nas meio salário mínimo, em valores de 2006. Por-
tanto, contam com muito poucos recursos. A despeito 
disso, 34,80% remuneram todos os fatores de produ-
ção. Muito provavelmente, esses têm condições de 
assimilar práticas conservacionistas, desde que res-
peitem os limites de seus recursos e aquelas práticas 
possam ser subsidiadas pelo governo.
Tabela 2. Distribuição da renda líquida, em porcentagem, por 
classe de salário mínimo (slm) e por classe de área, em hectares.
Classes (slm)
≤ 100 Mais de 100
Total Número %
rl ≥ rl <
Mini: (0 a 2] 34,80 65,20 2.904.769 66,00
Pequeno: (2 a 10] 58,93 41,07 995.750 22,64
Médio: (10 a 200] 70,25 29,75 472.702 10,74
Grande: > 200 81,44 18,56 27.306 0,62
Total 44,36 55,64 4.400.527 100,00
Fonte: Alves et al. (2012).
A grande maioria (65,20%), no entanto, teve 
renda líquida negativa; por isso, constitui um perfil 
de agricultores que precisa reformular a administra-
ção do estabelecimento para que possam remunerar 
os fatores de produção. Como sequer remuneram seus 
fatores de produção, pode-se supor que, muito prova-
velmente, serão produtores que oferecerão muita 
resistência a práticas preservacionistas que impli-
quem mais custos. O melhor seria subsidiá-los para 
Eliseu Alves
Texto para Discussão 4730
preservar os recursos naturais, até que possam equili-
brar as contas de seus estabelecimentos rurais.
Quanto ao grupo denominado de pequenos pro-
dutores, perto de 59% remuneraram todos os fatores de 
produção; por isso, provavelmente recepcionarão de 
bom grado as práticas conservacionistas e as colocarão 
em prática se demonstrado for que elas implicam cus-
tos razoáveis, com retorno no ano do investimento. 
Quanto àqueles de renda negativa (41%), são produto-
res que estão nas mesmas condições dos miniproduto-
res, mas com melhores condições de equilibrar as 
contas dos estabelecimentos, pois têm mais recursos.
As classes dos médios e grandes produtores, 
embora contenham, respectivamente, 29,75% e 18,56% 
de seus membros com renda líquida negativa, estão em 
melhor situação: dispõem de mais terra, animais, 
máquinas e equipamentos nos respectivos patrimônios. 
Ou seja, dispõem de recursos para realizar os investi-
mentos e poderem equilibrar as contas e aplicar em 
sustentabilidade, desde que se mostre ser lucrativo o 
correspondente investimento. Também são grupos 
mais propensos a cuidar da sustentabilidade de seus 
empreendimentos, pois terão muito a perder se não o 
fizerem.
Em conclusão, o meio rural é muito heterogêneo 
em relação à capacidade de realizar investimentos 
destinados a aumentar o patamar de sustentabilidade. 
Ao analisar a capacidade de pagamento dos fatores de 
produção, pode-se sugerir que os mini e os pequenos 
produtores estarão dispostos a investir em práticas 
sustentáveis nas seguintes condições: se o investi-
mento se pagar no ano, se custar pouco e se não for 
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
31
tarefa complicada. Tomar empréstimo não é recomen-
dado para quem tem renda líquida negativa porque há 
muita resistência dos bancos em atender ao pedido de 
empréstimo; ademais, o risco de perder o patrimônio é 
alto. Esses dois grupos são candidatos a forte ajuda do 
governo (a fundo perdido), para que possam viabilizar 
os investimentos em preservação. Os outros dois gru-
pos, principalmente aqueles com renda líquida nega-
tiva, se convencidos da rentabilidade do investimento 
em sustentabilidade, o farão, mesmo se for preciso 
recorrer ao sistema de crédito rural.
Premissas sobre arranjos da 
produção de hortaliças no Brasil
obre o setor específico da produção de hortaliças, 
algumas premissas básicas precisam ser enfatizadas 
inicialmente:
• Hortaliças, em geral, são altamente perecí-
veis, em virtude de ser muito curto o espaço 
de tempo máximo entre o final da produção e 
o consumo. Excedido esse tempo, a deterio-
ração é rápida, inviabilizando o consumo. Há 
tecnologias para dilatar o tempo de perecibi-
lidade ao máximo, mas implicam custos 
quase sempre elevados.
• Nas grandes cidades brasileiras, o custo do 
fator trabalho é bem mais alto do que esse 
custo nas regiões rurais.
.S
Eliseu Alves
Texto para Discussão 4732
• Há também os custos com a padronização e 
a embalagem, e também aqueles relaciona-
dos com a eliminação dos resíduos, a redução 
de desperdícios e a manutenção, em virtude 
da padronização e da comercialização das 
sobras.
• Nas grandes cidades, o acesso dos consumido-
res finais às hortaliças se dá em milhares de 
estabelecimentos: pequenos, médios, grandes 
e supermercados. Os gestores desses estabele-
cimentos comerciais dispõem de pouco tempo 
e estão à procura de vasta diversidade de pro-
dutos. Portanto, acessam um ou alguns poucos 
pontos de venda intermediária, onde compram 
hortaliças para revender, de acordo com deter-
minada especificação ou padronização.
• As sobras da comercialização se tornarão des-
perdícios se não forem utilizadas imediata-
mente. Aliás, têm sido constatados grandes 
desperdícios. Quase sempre o valor do produto, 
antes de se tornar imprestável para consumo 
humano, é menor do que o custo de eliminar o 
desperdício. Por isso, é relativamente comum 
ceder as sobras a custo zero ou a custo muito 
baixo a transportadores que vão vendê-las em 
outras regiões. Outro método é destinar as so-
bras a instituições de caridade ou ao consumo 
animal. Muitas cidades pequenas e de porte 
médio são abastecidas pelas Ceasas localizadas 
nas grandes cidades, mesmo se existirem cin-
turões verdes no local. Um comerciante de 
Lavras, MG, cidade distante 400 km de São 
Paulo, ao ser questionado por que não adquiria 
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
33
hortaliças na própria cidade, afirmou: “[aqui] 
não encontro a diversidade e o padrão de qua-
lidade [de] que necessito. Com duas horas de 
trabalho, além do tempo da viagem – 8 horas 
(ida e volta) –, compro tudo [de] que necessito 
na Ceagesp” (comunicação pessoal)1.
• Como a colheita de hortaliças é de alto custo 
e requer curto tempo para ser realizada, pois 
as hortaliças são perecíveis,o arranjo da pro-
dução é de vital importância. Dessa forma, os 
cinturões verdes podem ser vistos como os 
melhores locais para se produzirem hortali-
ças, já que estão próximos dos mercados 
consumidores e da mão de obra. Como os 
dispêndios por hectare para produzir hortali-
ças são muito elevados, quando comparados, 
por exemplo, com a produção de grãos, a exi-
gência em capital humano (disciplina e co-
nhecimentos de como fazer) fica restrita a 
uma pequena parcela dos agricultores.
• Algumas hortaliças têm características de 
commodities, pois correspondem a uma enor-
me quantidade de consumo, tanto no mercado 
interno quanto no externo. Parte delas costuma 
ser industrializada e corresponde a esquemas 
financeiros específicos. Destacam-se, entre 
elas, o tomate, a batata, a cenoura e o melão. 
Essas hortaliças interessam à grande produção, 
e há, com efeito, grandes áreas e alguns produ-
tores de porte dedicados a sua produção.
1 Notícia fornecida por um comerciante, falando sobre local de compra de hortaliças em 
Lavras, MG. 
Eliseu Alves
Texto para Discussão 4734
Consequências das premissas
O propósito das Ceasas foi reunir, num único 
local, certa quantidade e diversidade de hortaliças e 
outros produtos consumidos no agregado urbano. Era 
parte da retórica, na época da sua criação, estabelecer 
um acesso direto entre produtores e consumidores. 
Porém, os atacadistas rapidamente dominaram esses 
entrepostos, frustrando a realização inicial desse pro-
pósito. De uma forma geral, as Ceasas vendem direta-
mente a consumidores, lojas e supermercados, e 
compram de agricultores, nos cinturões verdes e em 
outros locais de produção.
Os custos urbanos de padronização e elimina-
ção dos resíduos dessa padronização induziram os 
atacadistas a comprar em regiões produtoras os pro-
dutos de que precisavam, já devidamente padroniza-
dos e embalados. Evoluiu-se em seguida para os 
contratos, que favoreceram a grande produção. Mas 
contratos também costumam ser feitos com um grupo 
de produtores pequenos que, em conjunto, alcança o 
nível de produção demandado. Os contratos podem 
ser escritos ou informais.
As vendas de hortaliças, frutas e outros produ-
tos em bairros da cidade, nas feiras livres, em dias 
predeterminados, antecederam a criação das Ceasas. 
No entanto, as feiras livres costumam encontrar mui-
tos obstáculos, impostos por normas regularmente 
ditadas pelas autoridades urbanas, tanto as sanitárias 
quanto as de limpeza pública. Ultimamente, a quanti-
dade de hortaliças vendida em feiras é pouco rele-
vante em comparação com o volume total de vendas.
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
35
Por sua vez, os supermercados passaram a ter 
papel relevante no comércio de hortaliças e frutas. 
Compram de atacadistas, de grandes produtores e 
diretamente dos cinturões verdes. A padronização é 
feita também no meio rural, e os contratos não são os 
únicos instrumentos de compra. As perdas tendem a 
ser muito mais reduzidas do que nas Ceasas, porque 
os supermercados, de uma forma geral, conhecem, 
com certa margem de segurança, a demanda dos con-
sumidores. Tendem a substituir esses grandes entre-
postos, como ocorreu na história dos sistemas 
alimentares dos Estados Unidos.
Os cinturões verdes são uma forma muito inteligente de 
organizar a produção, tanto em hortaliças quanto em frutas. 
Em parte, resolvem o problema de escala, favorecendo a 
pequena e a média produção. Favorecem tanto os vendedores 
quanto os compradores, quaisquer que sejam: atacadistas, 
supermercados ou consumidores individuais. A base de 
conhecimento coletivo é muito mais ampla, seja ela técnica, 
seja de mercados ou, então, do sistema financeiro. A assis-
tência técnica, tanto pública quanto privada, é mais barata e 
mais eficiente.
Hortaliças e frutas do tipo commodities, quando 
um único estabelecimento rural explora uma grande 
área, não são produzidas nos cinturões verdes. Nesses 
casos, os contratos, as decisões de compra e venda e o 
financiamento da produção são baseados tão somente 
no produtor como indivíduo; ou seja, pouco se valem 
do coletivo. Em algumas espécies, esse tipo de orde-
nação da produção tem grande relevância.
Eliseu Alves
Texto para Discussão 4736
Concentração da produção de hortaliças no Brasil
onvém salientar que, na atividade de produção de hor-
taliças, uma pequena área pode obter grande produ-
ção quando é empregada uma tecnologia sofisticada. 
Assim, classificar por área não nos interessa. É mais 
interessante classificar por valores em real. Alguns 
exemplos: em 2012, 1 ha de cebola teve um dispêndio 
total de R$ 35.000,00, o que equivale a 17 ha de soja. 
Um hectare de tomate, R$ 65.000,00, foi equivalente 
a 37 ha de soja. Um hectare de cenoura, R$ 36.000,00, 
foi o valor correspondente a 18 ha de soja. Um hectare 
de uva, R$ 61.000,00, correspondeu a 30,5 ha de soja.
O salário mínimo mensal de 2012 equivalia a 
R$ 622,00. Considerando-se o dispêndio total do 
tomate, de R$ 65.000,00, em salário mínimo de 2012, 
esse valor equivaleu a 104 salários mínimos. Admi-
tindo-se que o valor da venda da produção corresponda 
a pelo menos R$ 65.000,00, com 2 ha de tomate ter-se-
-ia uma renda bruta de mais de 200 salários mínimos. 
Ou seja, o estabelecimento de 2 ha de tomate pertence-
ria à classe de grande produtor, conforme discutido nas 
seções iniciais deste artigo; de uva, 2 ha seriam sufi-
cientes para enquadrar o produtor no mesmo grupo de 
grandes produtores; de cebola, equivaleria a 4 ha; e de 
cenoura, a 3,5 ha. A lição que os dados de custos ensi-
nam é que a tecnologia moderna, apesar de ser dispen-
diosa, oferece condições para que pequenas áreas 
produzam volumes finais que transformem seus pro-
prietários em grandes produtores.
.C
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
37
Como a área é divisível, é possível, em tese, ter 
uma pequena área em produção, por produtor. E as 
áreas em produção com tecnologia moderna (e não o 
tamanho do estabelecimento) seriam as responsáveis 
pela concentração da produção. Aí, o fator dominante 
são as restrições com as quais o produtor tem lidado – 
algumas oriundas dos mercados, outras da localização 
do estabelecimento, e outras, ainda, do meio ambiente.
De início, cabe salientar que, em um mundo 
regido crescentemente por contratos – uns formais, 
outros nem tanto –, o volume de produção comanda as 
melhores condições e os melhores preços nos contra-
tos. Embora as áreas sejam divisíveis, as vantagens 
nos contratos favorecem a grande produção.
Por fim, cabe indagar sobre as razões que levam 
o horticultor a aderir à pequena área para executar sua 
atividade. As seguintes razões podem ser aduzidas:
• Pertence ao cinturão verde, vende em conjun-
to com outros produtores e não quer correr 
grandes riscos de endividamento nos montan-
tes mencionados acima, por ser avesso ao 
risco.
• O estabelecimento rural não dispõe de água 
suficiente para atender a áreas maiores.
• Está distante dos grandes mercados ou não 
tem acesso a eles.
• Não tem acesso à tecnologia e é um produtor 
individual.
• Não dispõe de recursos próprios e não tem 
acesso ao crédito rural do governo.
Eliseu Alves
Texto para Discussão 4738
As restrições interagem com as forças de mer-
cado e levam à concentração da produção, represen-
tada pelas hortaliças do tipo commodities. São aquelas 
de elevado dispêndio e de grande produção por uni-
dade de área, ou seja, as transacionadas em grande 
escala, nas nossas grandes cidades. Muitas hortaliças 
destinam-se ao consumo local e regional. Nos âmbi-
tos local e regional, as forças da concentração cami-
nham infladas pelas restrições de mercado. Os que 
são deixados para trás – centenas de milhares de hor-
ticultores que se tornam retardatários – enfrentam a 
pobreza e não têm recursos para investir em preserva-
ção. Comando e controle existem para os infratores 
da lei. Se aplicados aos deixadospara trás pela 
modernização, isso resultará em mais pobreza, atraso 
e revolta social, sem nenhum benefício para o meio 
ambiente. Por isso, é importante estabelecer uma dis-
tinção entre o criminoso e aquele que, por alguma 
razão, tropeçou na condução do negócio.
Considerações finais
no estabelecimento rural que se planta, colhe e vende; 
portanto, ele tem de ser economicamente sustentável. 
Quando isso ocorre, a família rural tem condições de 
fazer investimentos com visão de longo prazo e de 
manter seu estabelecimento sempre produtivo, ou seja, 
de praticar a agricultura sustentável, a qual, por sua 
vez, vai garantir o futuro do produtor. Os arranjos pro-
dutivos, em termos de produção e comercialização, 
.É
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
39
são mais favoráveis aos pequenos produtores. Desses 
arranjos participam os cinturões verdes e a proximi-
dade dos compradores, quaisquer que sejam eles: 
supermercados, atacadistas e Ceasas. Pesa contra eles, 
nesse ramo de atividade agrícola, o elevado dispêndio 
por hectare. E a seu favor está a grande produção por 
unidade de área e a possibilidade de produzir em 
pequenas áreas, com níveis razoáveis de renda. No 
entanto, isso não significa que forças a favor da con-
centração da produção sejam mais fracas no campo 
das hortaliças. Significa que o pequeno agricultor dos 
cinturões verdes, tendo acesso a vários fatores – como 
preços mais elevados de venda de seus produtos, assis-
tência técnica de boa qualidade, em ambiente de 
conhecimento coletivo privilegiado, inclusive quanto 
ao crédito rural, preços acessíveis de insumos e de 
outros produtos e garantia de assistência à família –, 
terá boa chance de tornar-se mais sustentável econo-
micamente e, dessa forma, será capaz de investir em 
tecnologias mais sustentáveis.
Referências
ALVES, E.; SOUZA, G. da S. e; ROCHA, D. P. Lucratividade 
da agricultura. Brasília, DF. Revista de Política Agrícola, 
v. 21, n. 2, p. 45-63, abr./jun. 2012.
IBGE. Censo agropecuário 2006. Disponível em: <http://
www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/
censoagro/>. Acesso em: 11 maio 2015.
.
Considerações sobre a 
sustentabilidade no controle de 
doenças das hortaliças produzidas 
em diferentes sistemas agrícolas
Carlos Alberto Lopes
Considerações sobre a sustentabilidade 
no controle de doenças das hortaliças produzidas 
em diversos sistemas agrícolas
Resumo
O controle fitossanitário no ramo da olericultura é muito com-
plexo, em virtude da grande suscetibilidade das hortaliças a 
doenças. Em ambientes favoráveis à ação dos microrganismos 
parasitas, o controle das doenças de plantas requer uma combi-
nação de medidas preventivas e curativas, em que, muitas 
vezes, os agrotóxicos não podem ser dispensados. No atual 
cenário olerícola nacional – caracterizado por cultivares pouco 
rústicas, desenvolvidas para atender a um mercado consumidor 
exigente em aparência do produto, por solos contaminados por 
cultivos contínuos, pelo inadequado controle fitossanitário de 
lavouras vizinhas e pela parca assistência técnica aos produto-
res –, os agrotóxicos são ainda essenciais à sustentabilidade 
econômica da grande maioria dos olericultores. A reconhecida 
utilidade desses agrotóxicos, entretanto, não pode servir de jus-
tificativa para seu uso indiscriminado. Por sua vez, o banimento 
imediato dos agentes químicos de controle de doenças, como 
sugerido pela parcela radical dos defensores da agroecologia, é 
atualmente utópico, pois comprometeria gravemente o abaste-
cimento do mercado atual das hortaliças. Se alicerçada por boa 
ciência, a olericultura orgânica poderá se estabelecer definiti-
vamente como prática sustentável, sob os pontos de vista 
econômico, ambiental e social. Seu apoio deve ser incremen-
tado, pois dela certamente sairão soluções ambientalmente 
saudáveis, que poderão ser inseridas em sistemas convencionais 
de produção. Em situação de transição, por exemplo, a produ-
ção integrada, que privilegia as medidas culturais de controle 
fitossanitário, para ser menos dependente dos agrotóxicos, é 
vista como uma solução mais equilibrada.
Termos para indexação: agroecologia, agricultura orgânica, 
produção integrada, controle fitossanitário, olericultura.
Thoughts about sustainability on disease control 
of vegetable crops grown under different farming systems
Abstract
The phytosanitary management of vegetables is especially 
complex due to the high susceptibility of most of these crops to 
diseases. In environments favorable to the action of parasitic 
microorganisms, plant disease control requires integrated 
preventive and curative measures, frequently dependent on 
undesired, but necessary, chemical pesticides. In the present 
Brazilian scenario – characterized by mostly susceptible 
pesticide-dependent cultivars developed to meet a product- 
-appearance market demand, soils infested through continuous 
crops, uncontrolled phytosanitary management on neighbor 
crops, and poor assistance to farmers –, the pesticides are still 
an essential input to the economic sustainability to the great 
majority of vegetable growers. The acknowledged usefulness 
of pesticides in some growing situations, however, cannot be 
used to legitimate their indiscriminate use. On the other hand, 
the immediate banning of pesticides, as suggested by the radi-
cal wing of the agroecological philosophy, is not viable since it 
can seriously jeopardize the vegetable supply to the population. 
If based in good science, the organic vegetable crops production 
might establish itself as a sustainable activity under the eco-
nomic, environmental and social aspects. Organic production 
support must be warranted not only for its own success, but also 
for providing environmental friendly technical solutions to the 
conventional production systems. The integrated production 
system, which privileges the non-chemical cultural measures 
for pest control, is taken as an balanced solution during the 
slow, but solid scientifically based construction of techniques 
towards sustainability of food production.
Index terms: agroecology, organic farming, integrated produc-
tion, plant disease control, vegetable crops.
Texto para Discussão 4745
Introdução
agricultura orgânica está em alta faz algum tempo. Seu 
mote baseia-se nas suas indiscutíveis vantagens para 
uma alimentação humana saudável, na sua potenciali-
dade econômica para atender a um nicho de mercado 
crescente e nos benefícios ambientais, respaldados na 
exploração da terra sem o uso de poluentes químicos. 
Especula-se até que ela dominará a agricultura do futuro 
(MACILWAIN, 2004). Nada mal para um já desgastado, 
porém louvável, discurso do “economicamente viável, 
ecologicamente saudável e socialmente correto”. Tudo a 
ver com o conceito de sustentabilidade adotado pela 
Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento das Nações Unidas (conhecida como Comissão 
Brundtland), segundo a qual “desenvolvimento sustentá-
vel é aquele que atende às necessidades do presente sem 
comprometer as possibilidades de gerações futuras aten-
derem a suas próprias necessidades” (COMISSÃO 
MUNDIAL PARA O MEIO AMBIENTE E DESEN-
VOLVIMENTO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1988, p. 46).
A sustentabilidade da olericultura será aqui dis-
cutida em seus atributos de produtividade, os quais, 
por seu turno, estão intimamente ligados à dimensão 
econômica, e é mais fácil de ser avaliada ao permitir a 
continuidade da atividade agrícola, em curto e médio 
prazos, por parte dos olericultores.
Seja por questão de oportunismo, seja por autên-
tica preocupação, a sustentabilidade na agricultura tem 
sido explorada de várias maneiras e movida por diver-
sos interesses, algumas vezes de forma equilibrada, 
.A
Carlos Alberto Lopes
Texto para Discussão 4746
com recomendações técnicas claras sobre procedimen-
tos sustentáveis, a exemplo da publicação do Instituto 
Agronômico do Paraná (Iapar) (2015), outrasvezes com 
foco exageradamente alarmista, como nas duas versões 
do filme O veneno está na mesa, de Silvio Tendler1. 
Conquanto seja importante alertar a população sobre o 
uso abusivo dos agrotóxicos e seus efeitos nocivos sobre 
a saúde, nem por isso se pode chamar de irresponsáveis 
todos os produtores que usam agrotóxicos.
A agricultura orgânica em evidência
m contraposição ao crescente uso de agroquímicos ao 
longo das últimas décadas no Brasil, surgiram pro-
postas de alternativas de cultivo para a “recuperação” 
da agricultura. Entre elas, a agricultura orgânica é a 
mais conhecida em nosso país, pois é a mais exposta 
ao público em feiras e supermercados, e até mesmo 
apoiada por uma lei que dispõe sobre o tema. Nela são 
acomodadas todas as outras formas de agricultura 
regenerativa (sensu Lutzemberger).
De acordo com a Lei n° 10.831 (BRASIL, 2003), considera-se 
sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em 
que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do 
uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o 
respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo 
por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a
1 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=8RVAgD44AGg e https://www.
youtube.com/watch?v=fyvoKljtvG4>.
.E
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
47
maximização dos benefícios sociais e a minimização da 
dependência de energia não renovável, empregando, sempre 
que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em 
contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do 
uso de organismos geneticamente modificados e radiações 
ionizantes, em qualquer fase dos processos de produção, pro-
cessamento, armazenamento, distribuição e comercialização, 
e a proteção do meio ambiente.
[...] § 2o O conceito de sistema orgânico de produção agropecu-
ária e industrial abrange os denominados: ecológico, biodi-
nâmico, natural, regenerativo, biológico, agroecológicos, 
permacultura e outros que atendam os princípios estabelecidos 
por esta lei.
É inegável o interesse do atual governo em 
apoiar os “orgânicos”, ainda mais quando esses têm 
forte vínculo com a agricultura familiar, outra inques-
tionável prioridade do atual governo. Nem é extempo-
râneo discutir esse assunto, especialmente em tempos 
em que nossa gigantesca produção de grãos colabora 
para manter baixos os preços dos alimentos e, junta-
mente com a produção de etanol, gera divisas, certa-
mente com alto custo ambiental, como praticamente 
toda atividade econômica em nosso planeta, em espe-
cial a agricultura.
Certamente o uso abusivo dos agrotóxicos inco-
moda muito, mesmo que sua recomendação seja 
constantemente atrelada a campanhas educativas das 
boas práticas de cultivo. E é nesse cenário que foi 
criada a Política Nacional de Agroecologia e Produ-
ção Orgânica (Pnapo), recentemente instituída pela 
Presidência da República, pelo Decreto nº 7.794 
(BRASIL, 2012).
Carlos Alberto Lopes
Texto para Discussão 4748
A Pnapo tem o objetivo de: “integrar, articular e adequar polí-
ticas, programas e ações indutoras da transição agroecológica 
e da produção orgânica e de base agroecológica, contribuindo 
para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da 
população, por meio do uso sustentável dos recursos naturais e 
da oferta e consumo de alimentos saudáveis”.
Sem entrar no mérito dessa bem intencionada 
política, embora extremamente complexa, é estratégico 
analisar a crescente onda da agricultura orgânica e da 
ainda pouco entendida agroecologia. Sem intenção de 
privilegiar qualquer ideologia ligada a formas de con-
duzir a agricultura, serão aqui comentados alguns 
aspectos de produtividade e qualidade ligados às doen-
ças de origem biótica das hortaliças, ou seja, aquelas 
causadas por organismos vivos, no caso microrganis-
mos parasitos, que constituem um grande desafio para 
o segmento da olericultura orgânica. Quem lida com a 
agricultura sabe que cultivar grãos, normalmente mais 
rústicos e colhidos secos, é muito mais fácil do que 
colher hortaliças e frutas; essas, por conterem, em sua 
composição, maior teor de umidade, são mais sensíveis 
ao ataque de doenças, as quais, por sua vez, interferem 
na produtividade e no valor cosmético do produto.
A dependência dos agrotóxicos
tentando controlar as doenças com potencial destrutivo 
de suas lavouras, conduzidas sob grandes riscos e altos 
investimentos, que os olericultores convencionais, em 
.É
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
49
especial os que cultivam grandes áreas, ganham injus-
tamente a fama de vilões por parte da sociedade (ver 
versões de O veneno está na mesa), ao usarem os agro-
tóxicos como ferramentas complementares de controle. 
É bom lembrar que a grande maioria desses produtores 
age de forma legal ao utilizar produtos registrados no 
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 
(Mapa) e ao seguir as recomendações de seu uso 
seguro, obedecendo a doses, períodos de carência e uso 
de equipamentos de proteção individual no momento 
da sua aplicação.
As análises de resíduos de agrotóxicos em ali-
mentos, realizadas periodicamente pela Agência 
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), agência do 
Ministério da Saúde, são uma ferramenta poderosa 
para distinguir os maus produtores, ou seja, aqueles 
que fazem uso abusivo dos agrotóxicos, daqueles que 
agem de acordo com as boas práticas de cultivo. 
O aperfeiçoamento contínuo dessas análises propor-
cionará meios para distinguir os produtos seguros 
daqueles que realmente colocam em risco a saúde da 
população. O que não é certo é tomar uma posição 
radical de considerar como vilão qualquer agricultor 
que use agrotóxicos. Ademais, não é correto condenar 
uma tecnologia quando não se dispõe de outra para 
substituí-la a contento.
O risco decorrente do uso de alimentos produ-
zidos com agrotóxicos é real, assim como é real uma 
série de outros riscos que assumimos na vida, como 
andar de avião. O que conta é o balanço do benefício/
custo e a possibilidade de termos uma opção entre o 
alimento orgânico e o não orgânico, obviamente 
seguro. A ciência tem de oferecer meios para manter 
Carlos Alberto Lopes
Texto para Discussão 4750
essa dualidade, com isenção de preferências. O fato é 
que já está mais do que na hora de parar de insistir no 
simplismo de debater extremos: de um lado, gente 
afirmando que estamos comendo veneno e, de outro, 
gente alertando que vai faltar alimentos em caso da 
abolição do uso de agrotóxicos.
A contribuição da ciência
s desafios de produzir alimento bastante para atender 
às necessidades da população mundial que não para de 
crescer, e mantendo o menor impacto ambiental, nos 
leva a gerar e divulgar resultados obtidos com ética e 
rigor científico, em busca de soluções equilibradas, 
com inovação tecnológica para o bem da sociedade, 
independentemente de interesses econômicos e ideo-
lógicos. Isso se faz com a verdadeira ciência, ou seja, 
aquela que serve indistintamente a todos. A influência 
de uma pseudociência, qualquer que seja a posição que 
ela assuma – a favor ou contra o emprego de agrotóxi-
cos –, não pode ser aceita sob quaisquer pretextos, 
para perpetuar os empirismos que costumam servir a 
interesses eticamente questionáveis.
Concordemos ou não, essa geração de cientistas 
em final de carreira, formada principalmente na 
década de 1970, deixa o legado da Revolução Verde, 
e não cabe aqui contestar sua opção pela produção de 
alimentos baseada em uma “agricultura moderna”, 
altamente dependente de insumos químicos, postura, 
aliás, coerente com o agronegócio de um país em 
.O
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
51
desenvolvimento, inserido num sistema capitalista 
com grande influência norte-americana.
No debate dos extremos, algumas perguntas se 
repetem, principalmente por parte dosque defendem 
a agricultura moderna:
• Como é possível controlar as doenças de 
plantas (neste caso, as hortaliças) em cultivos 
orgânicos sem a utilização de agrotóxicos 
convencionais (químicos), em regiões e épo-
cas favoráveis a doenças, usando cultivares 
nem sempre adaptadas ou resistentes, e com 
o baixo grau de tecnificação, característico 
da maioria das lavouras? Duas questões crí-
ticas ao controle fitossanitário na agricultura 
orgânica têm sido a baixa confiança na eficá-
cia de muitos produtos recomendados para 
tal fim, às vezes com formulações secretas, 
protegidas em verdadeiras “caixas-pretas”, e 
a falta de padronização de alguns desses 
produtos, como os bokashi. Além disso, há 
um problema conceitual, pois, de acordo 
com o Decreto n° 6.913 (BRASIL, 2009), 
existem “produtos fitossanitários com uso 
aprovado para a agricultura orgânica”, ou 
seja, aqueles contendo exclusivamente subs-
tâncias permitidas, em regulamento próprio, 
para uso na agricultura orgânica. Esses pro-
dutos, de acordo com o Decreto n° 4.074/2002 
(BRASIL, 2002), que regulamenta a Lei 
nº 7.802 (BRASIL, 1989), que dispõe sobre 
do uso de agrotóxicos, não deixam de ser 
agrotóxicos.
Carlos Alberto Lopes
Texto para Discussão 4752
O Decreto n° 4.074, de 4 de janeiro de 2002, regulamenta a Lei 
n° 7.802, de 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a 
experimentação, a produção, a embalagem e a rotulagem, o 
transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda 
comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino 
final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o 
controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus com-
ponentes e afins, e dá outras providências.
Nesse decreto, agrotóxicos e afins são definidos como produtos 
e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destina-
dos ao uso nos setores de produção, no armazenamento e bene-
ficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de 
florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de 
ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja 
alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las 
da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como 
as substâncias e produtos empregados, como desfolhantes, des-
secantes, estimuladores e inibidores de crescimento.
• Por quanto tempo se consegue fazer agricul-
tura orgânica sustentável explorando a mesma 
área ou região, sujeita a infestações recorren-
tes, em um país, que, sendo tropical, não se 
beneficia da quebra natural climática de ciclos 
de pragas e patógenos?
• Onde buscar assistência técnica especializa-
da, consolidada e disponível, se os próprios 
serviços de extensão rural estão sucateados, 
praticamente substituídos por agentes ligados 
à comercialização de agrotóxicos?
• É possível implementar uma agricultura re-
generativa (sensu Lutzemberger), altamente 
dependente de mão de obra, em áreas onde o 
êxodo rural é uma constante?
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
53
Nesse contexto, sugerimos que, assim como um 
veneno só atua como tal a depender da dose adminis-
trada, as ações políticas (e técnicas?) sejam também 
dosadas, sob pena de deteriorarem o estado clínico do 
“paciente” ou causarem dependência do “medica-
mento”, em vez de combaterem o mal diagnosticado. 
Tendo como pano de fundo a sustentabilidade, algu-
mas considerações associadas com a sanidade das 
hortaliças merecem reflexão:
• A grande massa do consumidor brasileiro 
está acostumada a comprar hortaliças (e 
frutas) valorizando-as, acima de tudo, pelo 
seu aspecto cosmético, rejeitando sumaria-
mente produtos manchados, furados ou com 
outros defeitos.
• Embora existam cultivares de espécies olerí-
colas resistentes a várias doenças, um contro-
le eficaz nem sempre é possível pelo uso 
exclusivo dessa tecnologia. É bom lembrar 
que a quase totalidade das cultivares disponí-
veis no mercado de sementes foi desenvolvida 
com o fito de se obter maior produtividade e 
melhor aparência, e não para ser rústica e 
bem adaptada ao clima tropical.
• Invernos rigorosos e estações climáticas bem 
definidas em países de clima temperado eli-
minam ou reduzem drasticamente a popula-
ção de patógenos de solo ou interrompem o 
ciclo de vida de patógenos da parte aérea, 
com seus eventuais vetores (especialmente 
insetos). Esses eventos, porém, são específi-
cos de pouquíssimas regiões no nosso país.
Carlos Alberto Lopes
Texto para Discussão 4754
• A rotação de culturas com gramíneas e o 
pousio, práticas de alta eficácia para o controle 
de doenças associadas ao solo, nem sempre 
são economicamente viáveis em pequenos es-
tabelecimentos rurais onde predomina a agri-
cultura orgânica.
• A carência de informações de pesquisa locali-
zada e sistêmica, até certo ponto justificável, 
consideradas as complexidades física, química 
e biológica dos solos brasileiros e as diversida-
des climáticas e de manejo nos estabelecimen-
tos rurais, dificulta sobremaneira a elaboração 
de recomendações técnicas para os produtores. 
Assim, tecnologias desenvolvidas em um 
agroecossistema orgânico dificilmente podem 
ser utilizadas em outros sistemas.
• O controle integrado de pragas (que valoriza 
as práticas culturais preventivas de controle 
para reduzir a necessidade do uso de agrotóxi-
cos) é complexo e tem sido executado de ma-
neira eficaz, mas somente por um limitado 
número de produtores, que detêm alta qualifi-
cação técnica. Ademais, a carência da assis-
tência técnica oficial compromete seriamente 
os programas de produção orgânica vincula-
dos à agricultura familiar.
• A proximidade física entre campos de agricul-
tura (convencional ou orgânica) pode inviabi-
lizar tecnicamente a produção orgânica, pela 
fácil disseminação de propágulos e vetores de 
patógenos de uma propriedade para outra. 
Os patógenos e seus vetores não respeitam 
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
55
leis, cercas ou avisos; a política de boa vizi-
nhança requer complexas intervenções de 
âmbito social.
• Para serem economicamente competitivos no 
atendimento de seu crescente mercado, pro-
dutores da agricultura orgânica são pressio-
nados a produzir sem respeitar sazonalidades, 
em volume e qualidade compatíveis com as 
demandas dos exigentes consumidores urba-
nos, os quais nem sempre estão conscientes 
das dificuldades e limitações desse sistema 
de produção.
Considerados os aspectos acima relatados, veri-
fica-se que, embora indesejáveis, os agrotóxicos conti-
nuam a ser um mal necessário, pelo menos para 
garantir a produção de algumas espécies em determi-
nadas épocas do ano. Os grupos que se batem por uma 
produção essencialmente agroecológica, ou seja, que 
rejeitam sumariamente o uso de agroquímicos, aca-
bam por induzir perdas significativas aos agricultores, 
por não lhes fornecerem tecnologias alternativas con-
fiáveis, que assegurem a redução de riscos pelo ataque 
de doenças, as quais frequentemente frustram safras e 
levam o produtor a abandonar a atividade.
A propósito, chama a atenção o depoimento do 
senhor João Pedro Stédile, em entrevista concedida 
ao Terramérica, ao afirmar que o Brasil não precisa 
de venenos:
Ainda é possível que vários pequenos produtores 
rurais em algumas regiões utilizem esses produtos. 
Contudo, são insignificantes os agricultores assenta-
dos que usam venenos. É possível manter a mesma 
Carlos Alberto Lopes
Texto para Discussão 4756
produção agrícola de alimentos que o Brasil conso-
me sem usar nenhum quilo de veneno. Existe 
conhecimento científico para deixar de usar tais ve-
nenos, e há superfície e mão de obra para cultivar no 
Brasil. Essa é a grande contradição do agronegócio. 
A que não consegue produzir sem veneno é a grande 
propriedade, porque substituiu a mão de obra pela 
máquina, enquanto a agricultura familiar e a reforma 
agrária têm essa vantagem2.
Não há melhorresposta às palavras do senhor 
Stédile do que as oportunas observações de Jaku-
baszko et al. (2005), de que a ideologia é normalmente 
simplista, contrapondo-se à complexidade dos pro-
cessos biológicos.
A busca do equilíbrio
etomando o tema da agricultura orgânica e das doen-
ças que a atormentam, cumpre lembrar que tecnica-
mente nem sempre está claro o que pode ou não ser 
usado nela para o controle fitossanitário, sobretudo 
com base na definição de agrotóxicos, independente-
mente dos aspectos técnicos e filosóficos que norteiam 
as agências certificadoras. Por exemplo, no caso do 
Iapar (2015), o uso de caldas à base de enxofre é permi-
tido na agricultura orgânica, mesmo sendo essa calda 
considerada um agrotóxico. Seu maior mérito, no 
entanto, é focar na valorização das medidas culturais e 
preventivas de controle, mantendo os patógenos fora da 
lavoura e, ao mesmo tempo, preparando a planta e o 
2 Notícia fornecida pelo senhor João Pedro Stédile ao Jornal Terramérica, São Paulo, 2003.
.R
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
57
ambiente para que esses patógenos, caso cheguem à 
lavoura, não encontrem condições de se estabelecerem 
e de se multiplicarem a ponto de comprometer a produ-
ção e a qualidade dos produtos. E são exatamente essas 
medidas preventivas que a filosofia do controle inte-
grado (ou manejo integrado) propõe incorporar na ole-
ricultura convencional, de modo a retardar ou mesmo 
dispensar o uso dos agrotóxicos.
Além das tecnologias atualmente em uso nessa 
atividade, não se pode negligenciar o avanço da ciência 
em busca de produtos menos poluentes ou menos tóxi-
cos, como os princípios ativos naturais, a exemplo das 
estrobilurinas e dos indutores de resistência em plantas.
As estrobilurinas formam um grupo de fungicidas considerado 
de baixo risco, tanto à saúde humana quanto ao meio ambiente. 
São produzidas na natureza por fungos do gênero Strobilurus 
para se defenderem contra outros microrganismos presentes no 
nicho ecológico (plantas em apodrecimento) de onde retiram 
seus nutrientes.
Indo além, não há por que excluir, de forma 
ideológica, os transgênicos, como se todos fossem 
originados de eventos genéticos similares e com pers-
pectivas de criação de monstros ou formas ameaçado-
ras ao equilíbrio ambiental e econômico. Por exemplo, 
a incorporação de um gene de resistência a uma 
doença que, por meios naturais, levaria mais de 
10 anos para alcançar resultado, poderia ser realizada 
por transgenia em 2 ou 3 anos, e, assim, ser de grande 
utilidade para a agricultura orgânica. Isso certamente 
depois de serem rigorosamente analisados seus even-
tuais riscos toxicológicos e ambientais. Por que, então, 
Carlos Alberto Lopes
Texto para Discussão 4758
simplesmente considerá-los vilões, e não aliados, para 
a mesma causa, que é a de alimentos de boa qualidade 
e em abundância, em um sistema sustentável?
Os defensores conscientes da agricultura orgâ-
nica devem se preocupar com que a agricultura orgâ-
nica não fique associada a um atraso tecnológico, ao 
renegar novas tecnologias. Quando necessário, eles 
devem promover a quebra de paradigmas, desde que 
essas novas tecnologias possam se tornar aliadas, na 
busca de uma agricultura econômica e ambientalmente 
equilibrada. Sem dúvida, as implicações seriam muito 
mais de fundo ideológico do que técnico, ambiental, 
social ou econômico; afinal, algumas das novas tecno-
logias podem ser formulações comercializadas em 
grande escala. Para compensar, isso representaria uma 
grande conquista para os inseguros produtores orgâni-
cos ou em fase de transição agroecológica, que veriam 
seus riscos amenizados e garantida a oferta de produtos, 
resultando em maior número de atores inseridos perma-
nentemente no sistema. Conforme mencionado por 
Jakubaszko et al. (2005), “o agricultor é conservador 
por natureza, mas inovador por necessidade”; portanto, 
ele espera inovação tecnológica para ajudá-lo a resolver 
velhos e novos problemas fitossanitários e “salvar” sua 
lavoura. Na situação atual – que se caracteriza por 
oferta inconstante, má apresentação da maioria dos pro-
dutos ofertados, poucos produtores se sustentando na 
atividade, carência de assistência técnica e insegurança 
sobre a sanidade de sementes orgânicas –, a agricultura 
orgânica tenderá a ser elitizada. Perderá, então, espaço 
para a também crescente onda da produção integrada, 
cuja premissa básica é que, ao se permitir o uso, natu-
ralmente racional, de agrotóxicos, aumentam-se as pos-
sibilidades de ofertar maiores volumes de produtos, 
também mais saudáveis, a uma sociedade cada vez mais 
Texto para Discussão 47
Sustentabilidade e horticultura no Brasil: da retórica à prática
59
consciente e exigente em aparência e qualidade, e com 
preços mais acessíveis.
Controle integrado (ou manejo integrado) é conceituado de 
várias maneiras. Em qualquer um deles, entretanto, estão 
implícitas as ideias de integração e manejo. A integração 
refere-se ao uso harmônico de táticas distintas e complementa-
res de proteção de plantas e ao manejo do conjunto de informa-
ções (técnicas, econômicas, sociais e ambientais) que orientam 
a tomada de decisão (inclusive a aplicação de agrotóxicos), 
com o objetivo de manter a população do organismo nocivo 
abaixo de um limiar de dano econômico (KOGAN, 1998).
Essa disputa entre a agricultura orgânica e a pro-
dução integrada felizmente se intensifica, ambas vis-
lumbrando um futuro para uma agricultura menos 
dependente de agrotóxicos, por meio da adoção de 
medidas restritivas e principalmente educativas. Levará 
vantagem a que der preferência à tecnologia e ao empe-
nho dos produtores em promover um desenvolvimento 
sustentável, com produtividade associada a alimentos 
seguros e menores riscos de produção, em vez de privi-
legiar discursos politicamente corretos, até mesmo 
aqueles divulgados nos programas de governo.
Referências
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Lei no 7.802, de 11 de julho de 1989. Diário Oficial [da] 
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 8 jan. 2002. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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.
Carlos Alberto Lopes
Texto para Discussão 4760
BRASIL. Decreto n° 7.794, de 20 de ago. 2012. Institui a 
Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. 
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 
DF, 21 ago. 2012. Disponível em: <http://xa.yimg.com/kq/
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Acesso em: 15 maio 2013.
BRASIL. Lei n° 7.802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre a 
pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem, e 
rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a 
propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, 
o destino final dos resíduos e embalagens, a classificação, o 
controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus 
componentes e afins, e dá outras providências. Diário Oficial 
[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 jul. 
1989. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l7802.htm>. Acesso em: 15 maio 2013.
BRASIL. Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Dispõe 
sobre a agricultura orgânica e dá outras providências. Diário 
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 
jul. 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/2003/l10.831.htm>. Acesso em: 13 jun. 2012.
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