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Módulo I

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Prévia do material em texto

PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL
CONTRIBUIÇÕES PARA PENSAR O
PATRIMÔNIO EDIFICADO E A
PAISAGEM CULTURAL
Danilo Rodrigues
MÓDULO
 1
APRESENTAÇÃO ....................................................................................... 01
I. UMA BREVE INTRODUÇÃO AO PATRIMÔNIO
MATERIAL NO BRASIL .......................................................................... 02 
II. A CIDADE COMO ARTEFATO: DIREITO A HISTÓRIA E
A MEMÓRIA .................................................................................................. 06 
III. PATRIMÔNIO EDIFICADO E A PAISAGEM COMO
CATEGORIA DO PATRIMÔNIO CULTURAL ............................ 10 
IV. O CONJUNTO URBANO, ARQUITETÔNICO E
PAISAGÍSTICO DO CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁ ... 15 
V. INSTRUMENTOS DE PRESERVAÇÃO DO
PATRIMÔNIO MATERIAL .................................................................... 20 
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 23
SUMÁRIO
DANILO RODRIGUES 
É graduado em Ciências Sociais com ênfase em Antropologia
pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Possui pós-
graduação interdisciplinar em Patrimônio, Direitos Culturais e
Cidadania (UFG). Atualmente é técnico em Educação
Patrimonial e Patrimônio Cultural na empresa Archaeo
Pesquisas Arqueológicas. Membro do Núcleo de Pesquisa em
Antropologia Social, Artes, Performance e Simbolismos
(NAPAS/UFMT) e do Instituto Ecossistemas e Populações
Tradicionais (ECOSS). Tem experiência nas áreas de
Antropologia Social, Etnologia Indígena, Patrimônio Cultural,
Arqueologia e Educação Patrimonial.
SOBRE O AUTOR
Neste módulo iremos aprender
alguns conceitos que orientam os
sentidos do patrimônio material.
Para tanto, é preciso nos
atentarmos para a evolução das
políticas patrimoniais no Brasil ao
longo do tempo e do espaço. Isso
nos ajudará a compreender o
conceito de patrimônio como um
constructo social, fruto de
concepções que sinalizam o
tempo, o lugar social de produção,
perspectivas teórica, metodológicas
e políticas atribuída a noção de
patrimônio.
Em sua concepção a palavra
patrimônio tem origem no latim
patrimonium, junção das palavras
“pater” (pai) e “monium” (recebido),
manifestando à ideia de herança.
Desde a antiguidade a noção mais
contemporânea, o patrimônio está
relacionado a transmissão de bens
as gerações futuras.
No início do século XX a função dos
patrimônios nacionais era reunir os
bens materiais (monumentos,
edifícios e objetos), aos quais se
atribuíram valores simbólicos
representativos da cultura nacional
e que se supunham comuns a todo
povo brasileiro. De acordo com
APRESENTAÇÃO
Fonseca (2005, p. 58): “A ideia de
posse coletiva como parte do
exercício da cidadania inspirou a
utilização do termo patrimônio
para designar o conjunto de bens
de valor cultural que passaram a ser
propriedade da nação, ou seja, do
conjunto de todos os cidadãos”.
Para compreendermos a
construção dos sentidos atribuídos
ao conceito de patrimônio cultural
é preciso conhecer um pouco da
história e da trajetória das políticas
patrimoniais. Então, vamos nessa?
Guarda corpo em aço com detalhes em arabescos em casarão
no Centro Histórico de Cuiabá.
A história do Patrimônio Cultural
no Brasil remonta a marcos
políticos e institucionais que nos
levam ao ano de 1922, quando
existe uma grande preocupação no
Brasil em estabelecer uma
identidade nacional consolidada
através da valorização de uma arte
nacional. 
Nesse período o Brasil se
transformava e se modernizava,
precisava de um novo olhar
artístico, sociocultural e filosófico
que propusesse uma arte nacional
original e atualizada, trazendo
consigo um pensamento a respeito
dos problemas brasileiros e da
diversidade cultural que se estendia
por nosso vasto território.
É neste contexto que surge o
movimento modernista em
conjunto com a Semana de Arte
Moderna de 1922. Os intelectuais e
artistas da época, como Tarsila do
Amaral, Anita Malfatti, Di
Cavalcanti, Mario de Andrade,
Oswald de Andrade surgem como
expoentes da nova arte brasileira
em um panorama de florescimento
intelectual e artístico que iria
influenciar a construção das
políticas de patrimônio no país.
I. UMA BREVE INTRODUÇÃO AO
PATRIMÔNIO MATERIAL NO BRASIL
Cartazes de exposição da Semana de Arte Moderna de 1922:
Música; Pintura e Escultura; Capa do Catálogo.
Marco oficial do modernismo brasileiro,
a Semana de Arte Moderna aconteceu
em São Paulo (SP) e reuniu artistas das
mais diversas áreas no Theatro
Municipal de São Paulo ao longo dos
dias 13 e 18 de fevereiro de 1922.
Apresentações musicais e conferências
intercalavam-se às exposições de
escultura, pintura e arquitetura, com o
intuito de introduzir ao cenário
brasileiro as mais novas tendências da
arte.
PARA SABER MAIS!
Vídeo Documentário sobre a Semana
de Arte Moderna de 1922 -
https://www.youtube.com/watch?
v=r36R0-lBB3U 
FICA A DICA!
As décadas de 1920 e 1930 marcam
uma série de projetos voltados para
a proteção de monumentos
nacionais, decorrência de um
trauma deixado pela Primeira
Guerra Mundial. Intelectuais e
políticos da época se esforçavam
para manter a integridade das
antigas edificações em risco de
desaparecimento pela eminência
de uma novo conflito e frente as
reformas urbanas de modernização
e embelezamento emergente
(MAGALHÃES, 2017, p. 251).
Nesse período ocorre a criação da
Inspetoria de Monumentos
Nacionais (IMN) em 1934, que teve
como ponto de partida a
valorização e defesa da cidade de
Ouro Preto em Minas Gerais,
patrimônio diretamente
relacionado as memórias da
Inconfidência Mineira. A cidade foi
a primeira a ser reconhecida como
Monumento Nacional.
Sediada no Museu Histórico
Nacional e dirigido por Gustavo
Barroso (1888-1959), a IMN foi criada
a partir do Decreto nº 24.735/34
pelo governo de Getúlio Vargas. O
departamento foi desativado em
1937, e substituído pelo Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (SPHAN).
A institucionalização de um órgão
federal responsável pela
preservação do patrimônio
histórico e artístico nacional ocorre,
de um lado, por uma série de
iniciativas institucionais regionais e,
por outro, pelo clamor de artistas e
intelectuais ligado a Semana de
Arte Moderna de 1922 veiculados a
grande imprensa brasileira
(FLORÊNCIO et. al., 2014, p. 5).
Fundada pela Lei nº 378/37
durante o Estado Novo, o Sphan
torna-se o órgão gestor do
patrimônio brasileiro. O anteprojeto
escrito por Mário de Andrade
apresentava uma perspectiva
ampla para a noção de patrimônio,
incluindo a produção de cultura
popular, e expressava a importância
dos museus e das imagens como
elementos importantes para se
pensar as ações educativas como
estratégia de preservação e
valorização do patrimônio cultural
em conjunto com as comunidades.
Muito das ideias expressas por
Mário de Andrade acabaram sendo
deixadas de lado e viriam a tomar
corpo somente com a
promulgação da Constituição
Federal de 1988 – o tema será
abordado no módulo 2.
A Inconfidência Mineira foi um dos
mais importantes movimentos sociais
da História do Brasil. Significou a luta do
povo brasileiro pela liberdade, contra a
opressão do governo português no
período colonial. O movimento foi uma
tentativa de revolta abortada pelo
governo em 1789, em pleno ciclo do
ouro, na então capitania de Minas
Gerais.
PARA SABER MAIS!
Ainda na década de 1930 houve a
institucionalização do Decreto-Lei
n.º 25/37, conhecida com a Lei do
Tombamento, principal
instrumento de proteção dos bens
materiais vinculados às elites
nacionais. Em 1938 ocorre, então, o
Tombamento do Centro Histórico
de Ouro Preto, principal “cartão-
postal” do patrimônio brasileiro na
época. Em 1980 o conjunto
arquitetônico da cidade torna-se
Patrimônio Mundial pela Unesco,
sendo o primeiro bem cultural
brasileiro inscrito na Lista do
Patrimônio Mundial.
Nesse período o patrimônio era
entendido como documentos de
uma história oficial, era preciso
manter a integridade do bem dado
seu valor histórico e artístico. A
seleção dos bens a serem
preservados ocorria de acordo com
a ideia de excepcionalidadeartística, monumentalidade,
singularidade ou
representatividade histórica, de
acordo com uma visão
marcadamente comprometida
com a história das elites.
Os elementos descritos nessa
pequena cronologia englobam o
período conhecido como Fase
Heroica do Patrimônio (1937 a 1967),
período de 30 anos onde Rodrigo
Melo Franco de Andrade esteve à
frente das atividades do Sphan.
Observamos que nesse contexto
foram priorizados o salvamento do
patrimônio de “pedra e cal”,
expressão comumente utilizada em
referência as edificações e
monumentos históricos, os sítios
arqueológicos, paleontológicos,
etnográficos e paisagístico, foco
principal das políticas patrimoniais
no Brasil naquela época.
Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) foi criada em 16 de
novembro de 1945, logo após a Segunda
Guerra Mundial, com o objetivo de
garantir a paz por meio da cooperação
intelectual entre as nações.
 
A agência é responsável por desenvolver
projetos de cooperação técnica em
parceria com o governo, sociedade civil
e a iniciativa privada. Além de auxilar os
Estados Membros da Organização a
formular e desenvolver políticas
públicas em sintonia com suas
diretrizes. 
 
Atualmente, a Organização reúne 193
países. No Brasil sua representação foi
estabelecida em 1964 e iniciou suas
atividades com a criação do seu
Escritório em Brasília em 1972.
SE LIGA!
Esta fase de consolidação do
patrimônio no Brasil foi
responsável, ainda, por incentivar a
criação e construção de museus
nas principais cidades brasileiras.
Um marco institucional desse
período foi a criação do Conselho
Internacional de Museus (Icom
Brasil) em 1948.
As principais frentes de ações
educativas eram dadas pelo
tombamento de coleções, acervos
artísticos e documentais, assim
como, de exemplares da arquitetura
civil, militar e vernacular. O incentivo
a publicações e exposições com vista
a sensibilizar o público mais amplo
foi muito difundido, especialmente a
partir das publicações da Revista do
Iphan.
O Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional
(Iphan), em seus parâmetros atuais,
foi estruturado pela Portaria nº 92, de
5 de julho de 2012 que regulamenta
o regimento interno da instituição. O
Iphan possui 27 superintendências
(uma em cada Unidade Federativa);
37 Escritórios Técnicos, a maioria eles
localizados em cidades que são
conjuntos urbanos tombados, as
chamadas Cidades Históricas; e,
ainda, seis Unidades Especiais, sendo
quatro delas no Rio de Janeiro:
Centro Lucio Costa, Sítio Roberto
Burle Marx, Paço Imperial e Centro
Nacional do Folclore e Cultura
Popular; e, duas em Brasília, o Centro
Nacional de Arqueologia e Centro de
Documentação do Patrimônio.
FICA A DICA!
O site do Iphan reuni uma diversidade
enorme de documentos e informações
sobre o Patrimônio Cultural Brasileiro.
Para saber mais informações a respeito
da instituição e ficar por dentro das
novidades sobre o patrimônio cultural,
consulte o site eletrônico pelo link:
http://portal.iphan.gov.br 
Lá você encontrará notícias, publicações
de revista, dossiês, artigos e dissertações,
legislação atualizada e muito mais!
Imagem da fachada do prédio do Iphan em Cuiabá-MT. Fonte:
http://www.google.com
As cidades, deste a Antiguidade no
século V, são marcadas como um
lugar de concentração de trocas,
centro de criação, energia e
transformação das diferentes
culturas.
A industrialização no século XIX
transforma a cidade em um lugar
de tensões e conflitos dado o seu
processo acelerado de crescimento.
No século XX esse processo é
aprofundado, especialmente no
Terceiro Mundo, onde as cidades
incham com a crescente migração
das populações do meio rural para
o urbano, tornando-se, também no
Brasil, um referencial para o
homem contemporâneo.
A modernidade no contexto
urbano veio associada a ideias de
mudança e de ruptura com o
passado, de substituição do velho
pelo novo. Na contemporaneidade
as cidades brasileiras, sejam elas
pequenas ou as grandes capitais,
vêm sofrendo processos acelerados
de transformações em seus
traçados, estéticas e densidades a
partir dessa cadeia de
transformações urbanas, sociais,
econômicas e culturais.
II. A CIDADE COMO ARTEFATO:
DIREITO A HISTÓRIA E A MEMÓRIA
O mundo recebeu e recebe diferentes
regionalizações, isso para facilitar o
estudo do mesmo em diferentes
abordagens, evitando generalizações
nas informações. Uma das formas de
regionalizar o mundo é a partir do
critério de nível de desenvolvimento
(econômico, político e social).
No período da Guerra Fria, o mundo foi
dividido em: Primeiro, Segundo e
Terceiro Mundo. Esse método de
análise, baseado na Teoria dos Mundos,
foi usado entre os anos de 1945 e 1990.
SE LIGA!
Em todas elas uma grande porção
da materialidade traduzida através
de suas edificações e monumentos
históricos, testemunha de sua
gradativa evolução, vai se
modificando e desaparecendo nas
renovações e nas modernizações,
processo em que desaparecem
muitas marcas evocativas das
memórias de diferentes grupos
sociais (SANTOS, 2008).
Fundada em 1722 pelo capitão
Jacinto Barbosa Lopes, a Catedral
Basílica Senhor Bom Jesus de
Cuiabá, popularmente conhecida
como Igreja Matriz, foi a primeira
igreja construída na região urbana
de Cuiabá. Sendo, portanto, uma
das edificações mais antiga da
cidade.
Ao longo do tempo a Catedral
passou por inúmeras reformas e
transformações em sua estrutura
histórica, passando de uma simples
capela de pau a pique, a Igreja,
Matriz e Catedral. No ano de 1964 a
edificação chegou a ser implodida
com dinamite, em um projeto que
previa a modernização dos espaços
urbanos. Essa grande mudança deu
origem ao prédio que vemos hoje,
edificado em 1973 pelas mãos do
então arcebispo Dom Orlando
Chaves.
Ao falarmos de patrimônio estamos
a ponderar momentos que
reverberam a história e a memória
de indivíduos, grupos e
comunidades. Para o autor Paul
Ricoeur (2007), a memória é algo
indissociável do esquecimento,
este pode existir a partir da
lembrança daquilo que já não está
presente. Os esquecimentos da
cidade somente existem diante de
traços das lembranças do que
desapareceu, isto é, sem a
lembrança não se saberia o que se
perdeu no tempo. São estes traços
e vestígios, marcas e imagens que
possibilitam rastrear as cidades
passadas e permitem a construção
de suas memórias, feitas de
lembranças, esquecimentos e de
sua história.
A Catedral possui, até os dias de
hoje, os restos mortais de grandes
personalidades que marcaram a
história do estado de Mato Grosso,
como é o caso dos bandeirantes
fundadores Pascoal Moreira Cabral
Leme e Miguel Sutil de Oliveira. Em
trabalho conjunto com a Igreja
Católica Romana, os bandeirantes
seguiam em missões em busca da
conquista de terras que pertenciam
à Espanha.
Na cripta da Catedral também
localizamos os jazigos de Dom
Carlos Luiz D'Amaur, Dom José
Antônio dos Reis, Dom Luiz de
Castro Pereira, Dom Francisco de
Aquino Corrêa, Dom Orlando
Chaves e frei José Maria de
Macerata, membros da
comunidade católica que
marcaram época na cidade. O
espaço é aberto à visitação ao
público.
Bandeirantes no local onde hoje é São Gonçalo Beira-Rio;
Pascoal Moreira Cabral; Combate de bandeirantes aos Paiaguás.
Pinturas em tela: Moacyr Freitas. Fonte: http://www.google.com
Primeiro registro da Igreja Matriz; Igreja na década de 1960;
Arquitetura atual. Fonte: http://www.google.com
Uma noção importante para o
entendimento da cultura material é
o conceito de artefato. De modo
geral, podemos compreender os
artefatos enquanto objetos, ou tudo
aquilo que é produto do trabalho
humano. O artefato nada mais é do
que o resultado do raciocínio do
homem sobre uma dada matéria
da natureza de modo a transformá-
la para seu usufruto. Eles podem ter
funções utilitárias (como os
instrumentos de preparação
alimentar), e também funções de
deleite (como pinturas, adereços,
ornamentos festivos, dentre outros).
Em um esforço para conceituar o
artefato, Charotti argumenta:
“(...) é um instrumento criado pelo
homem que só terá sentido se o
mesmo for usado em alguma
atividade. É definido poruma ação,
ou uso, que lhe é destinada. Um
objeto material, um instrumento,
ou ainda, um artefato é concebido
para uma coisa, no entanto, se
precisar de algo que não está na
sua concepção primeira, pode se
tornar um outro instrumento.
Exemplificando: às vezes, quando
se precisa de uma chave de fenda
para tirar um parafuso, se esta não
existir, recorre-se a uma faca de
cozinha para retirá-lo. Assim, a
função foi dada pelo uso e não pela
concepção pronta e acabada.
(CHAROTTI, 2005, p. 305)
Pode-se dizer que os artefatos são
produtos resultantes da
capacidade dos homens de
transformar o meio natural e
adaptá-lo a suas necessidades e
também a seu querer. Assim, os 
homens transformam a natureza e,
ao mesmo tempo, se auto
transformam, visto que a sua
evolução e o destaque dentre os
animais se deu por conta  dessa 
capacidade de  articular  ideias,
criar,  inventar, produzir,  manipular 
e lidar com informações que não se
apagam da memória.
Na perspectiva arqueológica sobre
os estudos de restauração e
preservação do patrimônio material
existe a percepção de que o seu
produto será sempre uma visão de
uma concepção vigente de um
determinado período histórico.
Para a pesquisadora Najjar (2007, p.
202) “o artefato arquitetônico
refletirá na sua materialidade toda
a sua história, sua trajetória no
tempo e no espaço. O resultado
dessa trajetória é o que virá a ser
objeto da arqueologia, da
arquitetura e da história em um
projeto de restauração”. Nesse
sentido, observando o objeto
arquitetônico enquanto um
artefato cultural, este deverá ser o
objeto de estudo das pesquisas
arqueológicas.
Pensando, ainda, essa concepção
do patrimônio edificado enquanto
artefato cultural, ou um “super-
artefato”, isto é, enquanto um
documento arqueológico que narra
a história das ocupações humanas,
do uso dos espaços e dos objetos. O
que se buscar é resgatar, não só a
materialidade do bem, mas
também restaurar os “cacos de
memória” dos indivíduos e grupos
sociais que ali viveram (SANTOS,
2008).
Na abordagem de uma educação
para o patrimônio, o que importa é
colocar em diálogo as perspectivas
do passado e do presente, tendo
em vista a preservação e
valorização do patrimônio cultural
ao estimulando as relações de
identidade, afeto e estima. 
Agora que entendemos um pouco
mais da cidade como artefato
cultural, precisamos adentrar em
um novo conceito, ainda pouco
utilizado no âmbito das políticas
patrimoniais do Brasil. O conceito
de paisagem cultural é essencial
para o entendimento do
patrimônio edificado, uma vez que
esse não deve ser visto como
descolado do seu contexto
paisagístico, natural e cultural.
Edificação colonial do Museu de História Natural Casa Dom
Aquino, Cuiabá-MT. Fonte: http://www.google.com
O patrimônio edificado é a
expressão cultural mais visível da
produção humana em nossa
sociedade. Ela é também um
reflexo do conteúdo socioespacial
que a constituiu em épocas
pretéritas. Geralmente, inseridas no
contexto de paisagens urbanas são
resultado da materialidade
produzidas nesses territórios
configurados ao longo da história e
de acordo com a cultura local.
A partir da Convenção do
Patrimônio Mundial, Cultural e
Natural de 1972 que instituiu a
Lista do Patrimônio Mundial que
passamos a conhecer o conceito de
paisagem. Mas a paisagem
enquanto categoria do patrimônio
cultural é adotado pela UNESCO
somente em 1992 durante a 16º
Sessão do Comitê do Patrimônio
Mundial. O conceito é, então,
incorporado como uma nova
tipologia de reconhecimento dos
bens culturais com o objetivo de
superar a dicotomia entre o
patrimônio cultural e natural que
vinha sendo proposto ao longo dos
anos.
No Brasil, a Portaria nº 127 de 2009
do Iphan regulamenta a Chancela
da Paisagem Cultural Brasileira
como instrumento de preservação
do patrimônio cultural brasileira. O
dispositivo legislativo define em seu
Art. 1º a paisagem cultural como 
A Convenção do Patrimônio Mundial
estabelece as diretrizes sobre quais os
bens naturais e culturais podem vir a ser
inscritos na Lista do Patrimônio
Mundial. O documento fixa os deveres
dos Estados membros quanto à
identificação desses bens, assim como o
desempenho para a proteção e
preservação dos mesmos. 
O Brasil aderiu a convenção somente
em 1977 conforme consta no Decreto n.º
80.978 de 12 de dezembro de 1977.
Entre os principais sítios do Patrimônio
Mundial no Brasil, localizamos A Cidade
Histórica de Ouro Preto, Minas Gerais
(1980); As Missões Jesuíticas Guarani, Rio
Grande de Sul e Argentina (1983); O
Plano Piloto de Brasília, Distrito Federal
(1987); O Parque Nacional Serra da
Capivara, Piauí (1991); Centro Histórico
da Cidade de Goiás (2001); As paisagens
cariocas entre a montanha e o mar do
Rio de Janeiro, (2012); O Sítio
Arqueológico Cais do Valongo, Rio de
Janeiro (2017) e, mais recentemente a
diversidade cultural do sítio de Paraty e
Ilha Grande, Rio de Janeiro (2019). 
Você pode conhecer na integra toda
Lista do Patrimônio Mundical acessando
o site: http://whc.unesco.org/en/list/
IMPORTANTE!
III. PATRIMÔNIO EDIFICADO E A
PAISAGEM COMO CATEGORIA DO
PATRIMÔNIO CULTURAL
“uma porção peculiar do território
nacional, representativa do
processo de interação do homem
com o meio natural, à qual a
vida e a ciência humana
imprimiram marcas ou atribuíram
valores.”
Em conformidade com o
instrumento legislativo, as
paisagens culturais são definidas
como resultadas de ações
antrópicas, isto é, da utilização e
transformação dos elementos da
natureza por atividades realizadas
pelo homem. Nesse sentido, todas
as edificações artificialmente
construídas, bem como as
intervenções não naturais sobre o
espaço constituem uma paisagem
cultural, como o espaço de uma
cidade ou um campo de produção
agrícola.
O entendimento da paisagem
cultural perpassa por pelo menos
duas dimensões de análise, uma
simbólica e outro morfológica. A
dimensão morfológica envolve o
tempo da natureza e o tempo da
história humana. Segundo o autor
Aziz Ab’Saber (1977) “A paisagem é
sempre uma herança. Na verdade,
ela é uma herança em todo o
sentido da palavra: herança de
processos fisiográficos e biológicos,
e patrimônio coletivo dos povos
que historicamente as herdaram
como território de atuação de suas
comunidades”.
Em relação ao tempo da história
humana, Santos (2012; 2014) o
define como rugosidades, isto é,
marcas que as ações humanas e as
sociedades vão imprimindo no
espaço geográfico, registrando suas
atividades, seus costumes, suas
tecnologias, suas culturas, crenças e
tradições.
Sobre o conteúdo simbólico,
Ribeiro (2007) destaca que a
paisagem incorpora valores
humanos e pode ser interpretada
com base na relação íntima e
afetiva que os grupos sociais
estabeleceram com os lugares
onde a vida humana se reproduz.
Nesta perspectiva, o que confere
identidade à paisagem pode não
necessariamente corresponder à
sua morfologia, mas ao significado
social de fazer parte dela.
Até o presente momento, os sítios
reconhecidos mundialmente como
paisagem cultural relacionam-se a
áreas rurais, a sistemas agrícolas
tradicionais, a jardins históricos e a
outros locais de cunho simbólico,
religioso e afetivo. Entre eles,
podemos citar o exemplo
emblemático da Cidade do Rio de
Janeiro, primeira área urbana do
mundo a receber a Chancela de
Paisagem Cultural da UNESCO em
2012. Os espaços da cidade
valorizados com o título são o Pão
de Açúcar, o Corcovado, a Floresta
da Tijuca, o Aterro do Flamengo, o 
Jardim Botânico, a praia de
Copacabana, e a entrada da Baía
de Guanabara. Os bens cariocas
incluem ainda o Forte e o Morro do
Leme, o Forte de Copacabana e o
Arpoador, o Parque do Flamengo e
a Enseada de Botafogo.
bens culturais, cuja acepção
compreende aqueles que possuem
valor histórico, artístico, paisagístico,
arqueológico, espeleológico,
fossilífero, turístico, científico, entre
outros, reflete as características de
uma determinada sociedade. O
Centro Histórico de Cuiabá e seu
entorno é um importante
patrimônio cultural material de
Mato Grosso tombado pelo Iphan
em 1992. Veremos no tópico
seguinte que, depois de passar por
marcantesmudanças, ser
apropriado e transformado de
acordo com ideais políticos e
discursos de época, antigas
edificações que caracterizavam o
local e sua identidade regional
foram sacrificados. A exemplo da
implosão da Catedral Basílica do
Senhor Bom Jesus de Cuiabá em
1965.
Em uma abordagem educativa
voltada ao patrimônio cultural
precisamos compreender que é na
paisagem onde se encontram os
resultados dos processos da relação
entre sociedade e espaço a qual
revela conteúdos sociais pretéritos
e presente. Nesse sentido, devemos 
Se é do seu interesse apresentar uma
proposta de chancela da paisagem
cultural presente na sua região saiba
que isso é possível com simples passos.
Segundo a Portaria 127/2009, qualquer
pessoa natural ou jurídica pode requerer
a instauração de um processo
administrativo visando a Chancela de
Paisagem Cultural Brasileira. Para isso,
basta encaminhar um requerimento
acompanhado da documentação
pertinente, a superintendência regional
do Iphan no seu estado encaminhado
ao presidente do Iphan ou ao Ministro
de Estado da Cultura.
Acesse o site: http://portal.iphan.gov.br/
FICA A DICA!
Atual cartão-postal do Brasil no
exterior, a Cidade Maravilhosa já foi
inspiração e palco de grandes
produções cinematográficas
premiados no cenário
internacional, como a franquia de
filmes Rio produzido pela 20th
Century Fox e Blue Sky Studios,
dirigido pelo brasileiro Carlos
Saldanha. A saga da ararinha-azul
Blue retrata a riqueza da
biodiversidade das florestas
tropicais e a diversidade étnica,
além de trazer em cena expressões
da cultural local como o carnaval e
o samba.
A cidade entendida como um
artefato cultural, constituído por 
Rio de Janeiro patrimônio mundial como paisagem cultural
urbana. Fonte: http://www.google.com
buscar responder, no âmbito da
construção da paisagem da cidade,
a perguntas tais como: “Quais são
os mecanismos que ligam a
produção de uma paisagem à
sociedade? Que escolhas e modelos
culturais estão sendo veiculados
nessa paisagem? O que eles nos
dizem sobre a sociedade que os
produziu?” 
A Chancela da Paisagem Cultural
Brasileira valoriza a relação
harmônica entre o homem e a
natureza, estimulando a dimensão
afetiva com o território, tendo como
premissa a qualidade de vida da
população.
Agora que você compreende um
pouco mais sobre os conceitos que
norteiam os sentidos do patrimônio
material, que tal planejar uma
atividade de visitação no Centro
Histórico de Cuiabá? Ou em outro
local de sua escolha na cidade
como museus, teatros, galerias,
memoriais, comunidades
tradicionais, parques, sítios
arqueológicos?
É importante ter em vista que em
uma atividade de visitação em
espaços urbanos é necessário
pensar em um roteiro: quais áreas
queremos conhecer? Se esses
lugares são abertos ao público ou
se cobram entrada? Se possuem ou
não acessibilidade? Para isso é
necessário realizar uma pesquisa
prévia sobre esses espaços. A 
internet é uma ótima ferramenta
de busca e de informações. Você
também pode buscar em livros,
revistas, bibliotecas e arquivos
públicos a história desses lugares.
Outra dica importante, é criar uma
lista de contatos com números de
Museus, Instituições e Casas de
Cultura onde você poderá falar com
pessoas que já conhecem de perto
a realidade do espaço a ser visitado.
Munido com as informações do
levantamento, agende uma visita
ao local, e aproveite o passeio para
fazer anotações, tirar dúvidas e
planejar seu roteiro.
Durante a atividade de visitação em
grupo, é você, como mediador do 
Lavar as mãos com água e sabão ou
higienizador à base de álcool;
Manter distância de pelo menos 1
metro entre você e qualquer pessoa
tossindo ou espirrando;
Evite tocar nos olhos, nariz e boca;
Certificar-se que você e as pessoas
ao seu redor seguem uma boa
higiene respiratória;
As pessoas que usarem máscaras
devem seguir as boas práticas de
uso, remoção e descarte, assim
como higienizar adequadamente as
mãos antes e após a remoção;
Fique em casa se não se sentir bem.
Em todo o mundo e no território
nacional os estados estão tomando
medidas de prevenção da COVID-19.
Mantenha-se informado sobre os
últimos desenvolvimentos a respeito do
COVID-19 e siga todas as orientações do
OMS (Organização Mundial da Saúde):
ALERTA COVID-19
patrimônio cultural que lançará
questões e curiosidades para
manter a atenção do público.
Busque levantar questões sobre o
tombamento como instrumento de
proteção, o contexto político e os
períodos históricos, o significado
dos nomes de ruas, praças e
edificações.
Em uma visita no Centro Histórico
de Cuiabá lance um olhar sobre os
elementos da paisagem cultural.
Instigue o público a pensar sobre a
grandiosidade dos casarões antigos,
o que eles representam para as
pessoas que estão em contato com
este patrimônio? Desafie-os a
treinar um olhar aguçado sobre
quem são as pessoas que se
encontram no lugar? Como vieram
parar ali? Como vivem as
comunidades no entorno dessas
edificações? E, como essas
edificações históricas estão
associadas a construção dessa
paisagem cultural? Incentive
associações entre a história do
lugar com as lembranças e
memórias do grupo.
Casarões antigos no “Calçadão da Galdino Pimentel” no Centro
Histórico de Cuiabá. Fonte: http://www.google.com
O Pantanal, bioma presente nos
territórios do estado de Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul representam um
importante ecossistema brasileiro,
sendo reconhecido como o maior
sistema inundado contínuo de água
doce do mundo e um dos mais ricos
em vida silvestre. Em reconhecimento
de sua paisagem, o Complexo de
Áreas Protegidas do Pantanal foi
inscrito pela Unesco em 2000 na Lista
do Patrimônio Natural Mundial e
Reserva da Biosfera. A área
compreende o Parque Nacional do
Pantanal Mato-Grossense as Reservas
Particulares de Proteção Natural de
Acorizal, Penha e Dorochê,
compreendendo uma extensão
territorial de aproximadamente 200
mil quilômetros quadrados.
VIVA O PATRIMÔNIO
DE MATO GROSSO!
O Pantanal é composto por um mosaico de matas, cerradões,
savanas, campos inundáveis, brejos e lagoas com uma enorme
diversidade de animais e plantas típicas da região. Fonte:
http://www.google.com
Casarões antigos no "Beco do Candieiro” no Centro Histórico de
Cuiabá. Fonte: http://www.google.com
Existem algumas explicações para
a origem do nome Cuiabá, a mais
recorrente delas deriva do uso feito
pelos povos indígenas que
habitavam aqui, antes da chegado
dos colonizadores europeus em
1525 durante as primeiras
expedições guiada por Pedro Aleixo
Garcia.
Denominado de Ikuiapá, palavra
de origem Bororo que significa
“lugar onde se pesca com flecha-
arpão”. O nome designava um
topônimo (nome de lugar) da etnia,
localizado próximo às margens do
córrego da Prainha, onde os Bororo
costumavam pescar e caçar
utilizando essa técnica tradicional.
A primeira aglomeração urbana
que mais tarde se transformaria na
cidade de Cuiabá se formou a partir
de 1719, com as descobertas de
jazidas de ouro pela bandeira de
Pascoal Moreira Cabral as margens
do rio Coxipó, na região conhecida
como Córrego da Prainha –
Fundava-se naquela localidade o
Arraial de Cuiabá.
Em 1726, o Arraial de Cuiabá
recebeu novo nome: Vila Real do
SIGNIFICADO!
Ikuipá: ikúia, flecha-arpão (arma
utilizada para pescar, feita de madeira);
pá, lugar (lugar da flecha-arpão).
Designação: 1. De uma localidade onde
se pesca com flecha-arpão; 2. De uma
localidade onde antigamente os Bororo
costumavam pescar com flecha-arpão
correspondente à foz do Ikuiébo,
córrego da Prainha, afluente esquerda
do rio Cuiabá, na cidade homônima.
(Albisetti & Venturelli, 1962, p. 610).
IV. O CONJUNTO URBANO,
ARQUITETÔNICO E PAISAGÍSTICO
DO CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁ
Indígenas da etnia Bororo durante o Encontro Indígena no
Museu de História Natural Casa Dom Aquino (2015).
Indígenas da etnia Bororo durante o Encontro Indígena no
Museu de História Natural Casa Dom Aquino (2015).
Senhor Bom Jesus de Cuiabá e, no
ano seguinte, foi elevado à
categoria de vila por ato do Capitão
General de São Paulo, Dom Rodrigo
César de Menezes. Naquela época a
capital do estado aindaera
localizada em Vila Bela de
Santíssima Trindade. Em 1835, sede
da Província de Mato Grosso volta a
ser instalada em Cuiabá.
A construção do centro antigo de
Cuiabá ocorre a partir do século
XVIII com aplicação de técnicas
construtivas convencionalmente
chamadas de arquitetura de terra
crua. São técnicas de construção
que os portugueses e ibéricos
herdaram dos povos árabes e
norte-africanos, sob o domínio dos
quais estiveram por vários séculos.
De acordo com Nolasco (2010, p.
96): A teia urbana edificada
segundo a orientação de
engenheiros militares o fora por
trabalhadores africanos, ameríndios
e descendentes que se
qualificavam mediante orientação
de mestres e oficiais livres no
aprendizado dos ofícios mecânicos.
Ainda hoje, o traçado sinuoso das
vias, que se acomoda à topografia
próxima ao Córrego da Prainha, e a
maior parte das edificações do
conjunto urbano, construídas em
terra crua, se mantém.
O Conjunto Arquitetônico do
Centro Histórico de Cuiabá foi
erguido em taipa de pilão e adobe.
A Terra Crua é o material de construção
mais antigo do mundo. As técnicas de
construção com barro datam de mais
de 9.000 anos. Todas as culturas antigas
utilizaram o solo para a construção de
casas, fortalezas e obras religiosas. Um
exemplo é a grande muralha da China,
que foi construída 4.000 anos atrás,
inicialmente com terra compactada
(taipa de pilão), e posteriormente
forrada com pedras naturais.
Na península ibérica, as técnicas de
construção em terra crua foram
introduzidas pelos romanos e
enriquecidas pelos árabes. Já na
América pré-colombiana existiram
construções em adobe em quase todas
as culturas. Na América Latina, as
técnicas foram aperfeiçoadas a partir de
inúmeras combinações introduzidas
pelo processo de colonização de
portugueses e espanhóis.
No Brasil, a terra permaneceu e se
desenvolveu quando e onde sua
utilização se adaptou pela experiência
com solo e clima. Assim, formam parte
do patrimônio brasileiro, das casas
paulistas de taipa de pilão ao longo dos
caminhos bandeiristas, até Minas Gerais,
Mato Grosso e Goiás, onde a taipa de
pilão introduzida foi substituída pelo
pau-a-pique ou adobe e/ou perdeu sua
função estrutural, combinando-se com
estruturas de madeira. Foi de pau-a-
pique o primeiro muro na cidade de
Salvador, na Bahia, para defesa contra
os índios. Inúmeros monumentos com
essa tecnologia são encontrados nas
cidades coloniais brasileiras. As igrejas e
casas de Ouro Preto e Diamantina, em
Minas Gerais, as fortificações militares
em Recife, Pernambuco, as fazendas de
café do Vale do Paraíba, São Paulo, e em
tantas outras cidades brasileiras.
Fonte:
http://www.escoladacidade.org/wp/wp-
content/uploads/cadernos_pesq_ec_n1.
pdf
CURIOSIDADE!
As paredes dos casarões são
grossas, seus telhados são de
estrutura de madeira e cobertura
de telhas de barro cozidas com
largos beirais, adequados ao clima
quente da cidade. As casas menos
abastadas eram cobertas de palha,
técnica herdada dos indígenas da
região que desapareceram com o
tempo.
As primeiras alterações na
paisagem cultural ocorrem a partir
do século XIX, em projeto que
previa a modernização das cidades
e suas construções. Nesse período,
foram introduzidas a moda das
platibandas, viabilizadas pelas
calhas metálicas, os ornamentos e
os pisos de ladrilho hidráulico entre
outras novidades que eram
importadas até esta região
longínqua através de comércio
fluvial.
Os terrenos das casas eram mais
estreitos que profundos e cheios de
árvores frutíferas. Ainda hoje,
muitas características desse núcleo
urbano permanecem vivos, mas o
lugar enfrenta grandes processo de
degradação física e relativa aos
tipos de usos. Embora resistente à
passagem do tempo, a arquitetura
de terra crua é danificada a cada
período de chuvas, pois muitos
exemplares estão abandonados,
vazios e subutilizados.
Em 2018 observamos a comoção da
população cuiabana entorno da
Casarão de Nhô-Nhô de Manduca
(Casa de Bembem), construção de
estilo colonial localizado no Centro
Histórico de Cuiabá datado de 1850.
Em meados dos anos de 1970 e
início de 1980, a casa habitada por
Constança Figueiredo, dona
Bembem, foi palco de importantes
manifestações festivas da cidade
em celebração a São Benedito. Ao
presenciar a queda de parte de sua
estrutura histórica, a família, que
havia doado o prédio a Secretaria
de Estado de Cultura, em conjunto
com outros membros da
comunidade realizou uma
manifestação em frente a
edificação. Em um ato simbólico,
realizou-se um abraço coletivo
entorno do bem cultural. Hoje a
Casa de Bembem passa por um
processo de restauração que visa a
recuperação dos seus traçados
originais. 
Faixada da Casarão de Nhô-Nhô de Manduca (Casa de
Bembem) antes e depois da queda de sua estrutura histórica.
O trabalho minucioso é realizado
por uma equipe técnica
especializada de arqueólogos,
engenheiros e arquitetos. O novo
prédio sediará o Centro Cultural da
capital.
Ministério da Cultura.
Ao tombar um bem cultural como
patrimônio o Estado Brasileiro
reconhece sua importância e valor
histórico, artístico, científico,
arqueológico e paisagístico, entre
outros, a nível Federal. O
tombamento garante a
preservação do patrimônio cultural,
protegendo o bem de qualquer
dano ou destruição que possa vir a
ocorrer, com vistas a garantir sua
sobrevivência e usufruto as
gerações futuras.
É importante salientar que o
tombamento por si só não é
suficiente para assegurar a
integridade de um bem cultural.
Para isso é fundamental a
envolvimento da sociedade e a
conscientização dos indivíduos
sobre a importância da preservação
de sua história e sua memória.
O tombamento não traz somente
restrições aos proprietários e
usuários das edificações e casarões
antigos, ele visa contribuir para o
desenvolvimento das cidades,
trazendo benefícios econômicos,
sociais e financeiros. O Turismo
Cultural, por exemplo, tem
motivado a busca por lugares de
memória e manifestações de
caráter único, carregados de
simbologia expressa através da
história, da arte, da arquitetura ou
de manifestações religiosas e
festivas de caráter popular, onde a
PORQUÊ TOMBAR?
Durante os anos de 1970 e 1980 há
uma grande onda de demolições e
descaracterização do Centro
Histórico de Cuiabá (CHC). Nesse
sentido, houve uma sensibilização
por parte do poder público, em
especial da equipe do recém
instalado Escritório Técnico do
Sphan/Pró-Memória no ano de
1984. A equipe formada por
arquitetos, engenheiros,
historiadores e pesquisadores
iniciam os estudos para realizar o
pedido de tombamento da área.
Como medida paliativa, a Divisão
de Cultura da Prefeitura Municipal
inicia um levantamento cadastral
dos imóveis do CHC que são por
seguinte tombados
provisoriamente em 1985. A área
tombada abarcou uma região do
centro antigo e outra área no bairro
do Porto.
Em 1988 o Conselho Consultivo do
Patrimônio Cultural do Iphan
aprovou o tombamento do CHC e
do seu entorno, ficando a área do
Porto de fora do projeto. O
tombamento foi homologado pela
Portaria Federal nº 10 de 4 de
novembro de 1992 através do
música, a dança e inúmeras outras
linguagens que compõem um todo
diferenciado. Através do turismo
cultural muitas cidades tem
aumentado sua arrecadação, o
índice de emprego e contribuindo
para o desenvolvimento sustentável
das comunidades locais.
VOCÊ SABIA?
Segundo a Organização Mundial do
Turismo (OMT), o turismo cultural no
mundo representa cerca de 37% do
total do setor.
Igreja Senhor dos Passos foi construída 1797 na região do
Centro Histórico de Cuiabá. Fonte: http://www.google.com
Existem inúmeros instrumentos de
acautelamento e preservação do
patrimônio material, entre eles
temos disponível, conforme
legislação específica, o inventário, o
registro, as leis de planejamento
urbano, a vigilância, a
desapropriação e o tombamento.
Criado pelo Decreto-Lei nº 25 de
30 de novembro de 1937, o
tombamento é o principal e mais
antigo instrumento de preservação
do patrimônio material no Brasil.
Em seu Art. 1º, o decreto define
como patrimônio histórico e
artístico nacional todo “[...] conjunto
dos bens móveise imóveis
existentes no país e cuja
conservação seja de interesse
público, quer por sua vinculação a
fatos memoráveis da história do
Brasil, quer por seu excepcional
valor arqueológico ou etnográfico,
bibliográfico ou artístico”.
Pelo decreto, estão sujeitos ao
tombamento os monumentos
naturais, sítios e paisagens que
sejam significativos. Além disso, ele
institui a criação dos Livros do
Tombo que visam registrar e
proteger os bens de valor histórico
e cultural para uma comunidade:
V. INSTRUMENTOS DE PRESERVAÇÃO
DO PATRIMÔNIO MATERIAL
CURIOSIDADE!
A palavra tombamento, tem origem
portuguesa e remonta ao século XIV
quando da instalação do Arquivo
Público do Reino em uma das torres do
Castelo de São Jorge em Lisboa,
Portugal.
Denominada Torre do Tombo, a
instituição funcionou no local entre 1378
a 1755. Com o terremoto de Lisboa, a
torre que abrigava o acervo nacional
ficou ameaçada de ruína, obrigando a
realocação do arquivo, em 1755, no
Mosteiro de São Bento.
A instituição funciona até os dias atuais
como um Arquivo Nacional, que guarda
documentos importantes sobre a
administração portuguesa, incluindo
suas colônias, como o Brasil. No Brasil, a
partir do Decreto-Lei nº 25/1937, o verbo
tombar tem o sentido de registro,
atribuindo a determinado bem cultural
a importância de preservação,
conservação e difusão cultural.
§ 1º Os bens a que se refere o
presente artigo só serão
considerados parte integrante do
patrimônio histórico o artístico
nacional, depois de inscritos
separada ou agrupadamente num
dos quatro Livros do Tombo, de que
trata o art. 4º desta lei.
§ 2º Equiparam-se aos bens a que
se refere o presente artigo e são
também sujeitos a tombamento os
monumentos naturais, bem como
os sítios e paisagens que importe
conservar e proteger pela feição
notável com que tenham sido
dotados pela natureza ou
agenciados pela indústria humana.
O tombamento pode ser realizado
a nível federal, estadual e
municipal, desde que em cada
instância existam órgãos e leis que
possam instituir o reconhecimento
e a importância dos bens materiais.
O objetivo do tombamento de
um bem cultural é impedir sua
destruição ou mutilação, em busca
de mantê-lo preservado para as
gerações futuras. Nos termos do
decreto-lei, qualquer pessoa, sendo
ela física ou jurídica, pode solicitar o
tombamento de um bem cultural,
sendo realizada diretamente no
órgão gestor do patrimônio cultural
brasileiro (Iphan).
O interessado deve encaminhar a
superintendência do Iphan do seu
estado dados que caracterize o
bem cultural e qualifique sua
importância como patrimônio,
informações como: descrição e
localização; justificativa do pedido,
esclarecendo a importância de
preservação do bem; nome e
endereço do interessado; se
possível, nome e endereço do
proprietário; documentação como
dados históricos, desenhos e
fotografias. Para ser considerado
tombado, o bem cultural passa por
um processo administrativo que
avaliará sua importância e
contribuição no contexto nacional.
Uma vez tombado, não é possível
fazer qualquer alteração ou
modificação no bem cultural sem
autorização expressa do Iphan,
órgão responsável pela
manutenção e conservação dos
bens móveis e imóveis tombados.
Qualquer intervenção de reforma
ou restauração no bem cultural
deverá ser solicitada à prefeitura
que montará um processo junto ao
Iphan para obter autorização de
emissão do respectivo alvará da
obra. Sem a anuência do Iphan, a
prefeitura não poderá emitir
alvarás, tanto na área tombada,
quanto na área do seu entorno.
A autorização do Iphan é expedida
com base em um projeto
devidamente elaborado por
arquiteto e/ou engenheiro,
observando as normas de
preservação do Centro Histórico de
Cuiabá localizadas por meio da
Instrução Normativa do Conjunto
Arquitetônico, Urbanístico e
Paisagístico da Cidade de Cuiabá
de 1994, elaborada pelos arquitetos
Maria Clara Migliacio e Júlio De
Lamonica Freire com base no poder
discricionário do Iphan.
O ato de tombar um bem cultural
como forma de preservação da
cultura é mais do que manter sua
As ruínas de Vila Bela da
Santíssima Trindade; 
Casa Barão de Melgaço;
Centro Histórico de Cáceres;
condição material. O tombamento
vai além, pois ele transcende a
materialidade, alcançando
significados que são históricos,
artísticos e cultural. Ele garante a
continuidade do direito a história e
a memória dos grupos sociais que
compõem a nossa sociedade.
No estado de Mato Grosso, os bens
culturais tombados e registrados se
encontram sobre a proteção da
Secretaria do Estado de Cultura
(SECEL). Criada através Decreto nº
167, de 01 de julho de 2015 a
Coordenação do Patrimônio
Histórico e Cultural é o setor
responsável por executar as
políticas de preservação,
conservação, elaboração de
projetos e proteção legal dos
patrimônios móveis e imóveis do
estado.
Neste módulo buscamos
apresentar alguns exemplares de
bens de natureza material presente
no estado de Mato Grosso, em
especial aqueles localizados no
CHC – lugar percebido como
artefato cultural. Atualmente, Mato
Grosso possui 109 bens culturais
inventariados, tombados e
registrados a nível de estado. Entre
os bens de natureza material
tombados podemos citar:
Centro Histórico de Cuiabá;
Cine Teatro Cuiabá;
Grande Hotel;
Igreja de Santana do
Sacramento em Chapada dos
Guimarães;
Igreja Nossa Senhora do Bom
Despacho;
Palácio da Instrução; 
Palácio da Justiça;
Residência dos Governadores;
Academia Mato-grossense de
Letras;
Casa Barão de Melgaço;
Casa Dom Aquino (Museu de
História Natural);
Grupo Escolar Senador Azeredo
(Casa do Artesão);
Mercado do Peixe (Museu do
Rio);
Palácio da Instrução (Museu de
Arte de Mato Grosso);
Seminário da Conceição (Museu
de Arte Sacra);
Thesouro do Estado (Museu
Histórico de Mato Grosso).
Além dos exemplos citados, não
podemos deixar de fora os
tradicionais e aconchegantes
casarões presente no CHC e seu
entorno. Ao todo, são mais de 1000
imóveis tombados. Este número
representa uma infinidade de
possibilidades para discutir o
patrimônio sobre diversos aspectos
e, porque não, sugerir o
tombamento de novos bens que
evoque a história, a cultura e a
memória da sua região?
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