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UFLA – UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS GCH198/190 – Ciência Política e Teoria do Estado Marcelo Sevaybricker Moreira Olívia Gonçalves Monteiro O Abolicionismo – Joaquim Nabuco O livro “O Abolicionismo” de Joaquim Nabuco, lançado em 1883 – cinco anos antes da abolição da escravatura – tratou de analisar os aspectos negativos da escravidão para o Brasil no final do século XIX e para o futuro. Para tanto, o autor elucida os principais pontos do pensamento abolicionista e desenvolve sua obra em defesa de tais ideias. Logo no primeiro capítulo, Nabuco afirma que por volta de 1880 começaram a surgir alguns ideais de emancipação dos escravos dentro do parlamento. No entanto, antes disso, algumas oposições à escravidão já haviam surgido no país, como, por exemplo, a lei de 4 de setembro de 1850 que proibia o tráfico de escravos e a lei de 28 de setembro de 1871, popularmente conhecida como “lei do vente livre”. No entanto, conforme o autor, essas leis ainda não garantiam liberdade aos escravos, que continuariam em cativeiro por mais duas gerações ou, provavelmente, até a morte. Então o movimento abolicionista surge como um protesto a essa perspectiva e com a intenção de apagar os efeitos do regime escravocrata, garantindo a emancipação e a liberdade aos negros. Fica claro, entretanto, que os abolicionistas reivindicam direitos para os negros não por simples compaixão aos oprimidos, mas, sobretudo, em um movimento político que busca reconstruir o Brasil econômica e socialmente. Desta forma, Joaquim Nabuco faz, neste livro, uma análise política do Brasil e uma análise do regime escravocrata, defendendo não só a abolição em si, como também um projeto pós-abolição, que incluísse efetivamente os negros na sociedade. Algumas denúncias sociais também são feitas na obra, como, por exemplo, a crítica sobre o posicionamento do clero que, além de se abster diante do abolicionismo, acusava os participantes do movimento de ‘perversos’, por acreditar que eles criavam “esperanças irrealizáveis” para os oprimidos. A deserção, pelo nosso clero, do posto que o Evangelho lhe marcou foi a mais vergonhosa possível: ninguém o viu tomar parte dos escravos, fazer uso da religião para suavizar-lhes o cativeiro, e para dizer a verdade moral aos senhores. Nenhum padre tentou, nunca, impedir um leilão de escravos, nem condenou o regime religioso das senzalas. A Igreja Católica, apesar do seu imenso poderio em um país ainda em grande parte fanatizado por ela, nunca elevou no Brasil a voz em favor da emancipação. (NABUCO, 2013, p. 18). Outro ponto relevante tratado no texto é a relação entre o direito e a moral. De acordo com Nabuco, a lei nunca definiu nem limitou os poderes que uns podiam exercer sobre os outros, o que, consequentemente dava lugar a abusos. Para o autor, isso significava “a negação absoluta de todo o senso moral” (NABUCO, 2013, p. 35). O texto pode abrir uma frutífera reflexão sobre as conexões e separações complexas entre o direito e a moral, que ainda são assuntos polêmicos e atualmente muito discutidos no curso de Direito. Aliás, o texto de Nabuco deve incitar reflexões e discussões não só no âmbito jurídico, mas em toda a sociedade brasileira que ainda enxerga os reflexos da escravidão. Assuntos como o preconceito, as desigualdades de base racial, a questão das cotas nas universidades públicas são muito atuais e, a leitura de “O Abolicionismo” é interessante para esclarecer a origem de tais problemas e endossar a análise sociológica desses fatores no atual contexto do país. NABUCO, Joaquim. O abolicionismo. 1ª ed. Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro, 2013.
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