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Andréia Reis Bacha Moriningo Práticas Psicopedagógicas aplicadas à Educação A n d ré ia R ei s B ac h a M o ri n in g o Ps ico pe da go gia P rá tic as P sic op ed ag óg ica s a pl ica da s à E du ca çã o Editora 2a Edição / Agosto / 2011 imprEssão Em são pAulo - sp AndréiA reis BAchA Moriningo PrÁTicAs PsicoPedAgÓgicAs APLicAdAs À edUcAÇÃo M859p Moriningo,, Andréia Reis Bacha. Práticas psicopedagógicas aplicadas à educação. / Andréia Reis Bacha Moriningo. – 2. ed. - São Paulo : Know How, 2011 164 p. : 21 cm. Inclui bibliografia ISBN : 978-85-8065-101-0 1. Desenvolvimento e aprendizagem. 2. Práticas psico- pedagógicas. 3. Psicopedagogia. 4. Educação. I. Título. CDD – 370.15 Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 PrÁTicAs PsicoPedAgÓgicAs APLicAdAs À edUcAÇÃo coordenAÇÃo gerAL Nelson Boni coordenAÇÃo de ProjeTos Leandro Lousada Professor resPonsÁveL Andréia Reis Bacha Moriningo revisÃo orTogrÁficA Célia Ferreira Pinto coordenAdorA PedAgÓgicA de cUrsos eAd Esp. Maria de Lourdes Araujo ProjeTo grÁfico, diAgrAMAÇÃo e cAPA Glaucia Ferraro 1a ediÇÃo: jULho de 2011 Impressão em São Paulo/SP Copyright © EaD Know How 2011 Nenhuma parte desta públicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. APresenTAÇÃo A criança deve amar tudo aquilo que aprende, que esteja ligado ao seu crescimento mental e emo- cional. O que quer que seja apresentado a ela deve ser feito de forma bonita e clara, impressionando sua ima- ginação. Uma vez que esse amor tenha sido despertado, todos os problemas que os especialistas em educação enfrentam desaparecerão. Maria Montessori Você está recendo o livro-texto da disciplina PRÁTICAS PSICOPEDAGÓGICAS APLICADAS À EDUCAÇÃO, elaborado com a finalidade de elucidar a importância dos conhecimentos psicopedagógicos apli- cados à prática educacional, tendo em vista a demanda institucional das dificuldades que interferem no desen- volvimento de aprendizagem do aluno. A A Psicopedagogia enquanto conhecimento insti- tuído considera que a criança deve amar, primeiro o ob- jeto do conhecimento para, posteriormente, apreendê-lo. Nesse sentido, a dimensão cognitiva fica condicionada ao desejo que compõe a estrutura psíquica do ser humano, e que, ao longo do processo de interação com o objeto do conhecimento, passa por alterações necessárias. O desejo, nesse caso, é o motor interno que motiva, que faz vibrar o aparato condicionante da capacidade de aprender. Quando circunstâncias (de ordem interna ou ex- terna) não favorecem o percurso normal, pelo qual per- corre o ser humano, para alcançar uma aprendizagem bem sucedida, a psicopedagogia intervém no sentido de auxiliar o sujeito a (re) construir, a (re) significar, a (re) es- truturar o caminho via aprendizagem. Em outras palavras: O psicopedagogo é mão, que levanta, que arre- messa, que impulsiona, que lança; mão que ajuda a unir realidade e prazer, sentir e agir, ter e poder ser. Mão que levanta: que oferece suporte ao sujeito aprendente; que impulsiona: ao acolhê-lo amorosamen- te, que lança ao conduzi-lo a caminhos desafiadores, que lhe permitam elaborar estratégias de aprendizagem e os capacite a revê-las sempre, quando eivadas de desafios. Visto assim, a função do psicopedagogo é similar à de um jogador de vôlei ou de basquete, em que ambos deverão desenvolver a concentração, a disciplina para que o lance seja certeiro e a partida obtenha sucesso. Deverá manter- se alinhado com as causas e dificuldades possíveis do sujeito que não aprende em seu processo natural, levan- tando-o, impulsionando-o, arremessando-o e lançando-o para o alcance das potencialidades constitutivas de sua própria aprendência. Mão que ajuda a unir realidade e prazer: as duas faces da mesma moeda – que no campo psicopedagógi- co significam as dimensões objetiva e subjetiva, que inte- gram a formação do saber. A dimensão objetiva não pode jamais sobrepujar a subjetividade e vice-versa. Ambas se complementam na interdependência de suas funções. A objetividade (a lógica) beneficia-se da subjetividade (de- sejo) para alcançar excelência. Sentir e agir: o sentimento, neste caso, precede a ação. A motivação é um fator de grande importância para a aprendizagem. O aluno tem mais motivação para aprender quando as coisas têm significado para ele. Ao participar ativamente do processo de ensino, o aluno aprende e, consequentemente, age sobre o universo real. Ser e poder: ser significa considerar a história pessoal da qual o sujeito apropriou-se na sua vivência familiar, esco- lar e social; arrancar do fundo do baú os fatores condi- cionantes de seus insucessos e derrotas quando o assunto é aprendizagem. É “poder ser”, ser útil, ser reconhecido, ser valorizado em seu processo de construção do saber. Elogios e recompensas ajudam a motivar melhor o sujei- to, do que as críticas e punições. O psicopedagago, tanto na instituição quanto na clínica, deverá exercer sua função terapêutica, ou seja, uma terapia centrada na aprendizagem, principalmente quando problemas ou dificuldades no aprender surgem de modo desordenado e improdutivo, provocando dese- quilibração, afetando outras áreas humanas. A Psicopedagogia concebe a relação ensinante – aprendente, como conhecimento de forma não linear. O Psicopedagogo, além de tratar dos sintomas da não- aprendizagem deverá ocupar-se, sobretudo, do ser desse processo, cuidando para acolhê-lo amorosamente, acredi- tando em suas potencialidades e competências. Quando se olha para o outro com os “olhos de estrangeiro”, expres- são utilizada por Alicia Fernándes, não fazemos acepção precipitada daquilo que ainda não conseguimos alcançar. Buscamos, de forma permanente, a atualização e a melhoria deste material. Você pode nos auxiliar, encami- nhando sugestões e propostas de melhoria, via monitor, tu- tor ou professor. Antecipamos nossa gratidão pela sua ajuda. Entre sempre em contato conosco, quando sur- gir alguma dúvida ou dificuldade, pois sua passagem por esta disciplina será também acompanhada pelo Sistema de Ensino EaD, seja por correio postal, fax, telefone, e- mail ou Ambiente Virtual de Aprendizagem. Participe dos bate-papos (chats) marcados, e envie suas dúvidas pelo Tira-Dúvidas. Toda equipe está à disposição para atendê-lo (a). Seu desenvolvimento intelectual e profissional é a nossa satisfação e nosso maior objetivo. Acredite no seu sucesso, seja persistente e tenha bons momentos de estudo! Equipe EaD Know How sUMÁrio s PLAno de esTUdos...................................................... PsicoPedAgogiA insTiTUcionAL: UM sABer necessÁrio À PrÁTicA edUcATivA...................................................... o desenvoLviMenTo dA APrendizAgeM nA escoLA.......... ePisTeMoLogiA consTrUTivisTA de PiAgeT...................... A reLAÇÃo do PsicoPedAgogo nA insTiTUiÇÃo escoLAr... fAMíLiA e As dificULdAdes de APrendizAgeM.................. disTúrBios qUe inTerfereM no APrender...................... BiBLiogrAfiA............................................................. 11 13 37 65 89 127 147 163 P 1. 2. 3. 4. 5. 6. B 11 PLAno de esTUdos P eMenTA coMPeTênciAs Objeto de estudo da Psicopedagogia; a Interdis- ciplinaridade na Psicopedagogia; a atuação profissional do psicopedagogo; a relação psicopedagogo/ aprenden- te; a família e os distúrbios de aprendizagem. • Reconhecer a dinâmica das relações da comunidade educativa, para promover orientações metodológicas considerando as características do grupo. • Auxiliar os alunos com dificuldades de aprendizagem, es- pecialmente no processo de aquisição da leitura e da escrita. 12 • Identificar as principais dificuldades que comprometem uma aprendizagem bem sucedida do aluno. hABiLidAdes cArgA horÁriA - 30 horAs • Identificaros sintomas das dificuldades no processo de aprendizagem. • Organizar projetos de prevenção, envolvendo todos os segmentos da instituição, inclusive a família dos alunos. • Propor recursos para atender os alunos com distúrbios ou dificuldades de aprendizagem. PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL: UM SABER NECESSÁRIO À PRÁTICA EDUCATIVA 01 E sta unidade destina-se a elucidar o conceito de Psicopedagogia, seu objeto de estudo, e a função do psicopedagogo institucional. A Psicopedago- gia voltada à tríade ensino-aprendizagem-conhecimento deverá abranger todos os sujeitos dessa relação, para res- ponder às necessidades que vão ocorrendo ao longo das relações entre os sujeitos, buscando estabelecer um elo entre ensinante e aprendente. O psicopedagogo institucional, na área da Educa- ção, deverá prestar assistência aos professores e a outros pro- fissionais da instituição de ensino, primando pela melhoria das condições do processo de ensino e aprendizagem, assim como pela prevenção dos problemas de aprendizagem. 15 coMo definir A Psico- PedAgogiA e idenTificAr seUs oBjeTos de esTUdo? 1.1 Texto para reflexão e análise Lembro-me de uma manhã em que eu havia descoberto um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e preparava-se para sair. Esperei bastante tempo, mas estava demorando muito, e eu estava com pressa. Irritado, curvei-me e co- mecei a esquentar o casulo com meu hálito. Eu esquentava-o e o milagre começou a aconte- cer diante de mim, a um ritmo mais rápido que o natural. O invólucro abriu-se; a borboleta saiu arrastan- do-se e nunca hei de esquecer o horror que senti então: suas asas ainda não estavam abertas e com todo o seu corpinho, que tremia, esforçava-se para desdobrá-las. Curvado sobre ela, ajudava-a com o calor do meu hálito. Em vão. Era necessário um acidente natural e o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol. Agora, era tarde demais. Meu sopro obrigara a borboleta a mostra-se toda amarrotada, antes do tempo. Ela agitou-se desesperada, alguns segundos de- pois, morreu na palma da minha mão. Aquele pequeno cadáver é, eu acho, o peso maior que tenho na consciência. Pois, hoje entendo bem isso, é um pecado mortal forçar as leis da natureza. Temos que não nos apressar, não ficar impa- 16 cientes, seguir com confiança o ritmo do Eterno. Nikos Azanizaki Reflita sobre cada questão apontada, e registre seu ponto de vista. a. Os professores geralmente respeitam o ritmo de aprendiza- gem do aluno, levando em consideração sua história pessoal? b. Como a Psicopedagogia pode contribuir no desempe- nho dos alunos que apresentam defasagem na aprendiza- gem escolar e estão condenados às sucessivas reprovações? c. Que relação podemos estabelecer entre as ideias do texto e a função do psicopedagogo na instituição escolar? d. A escola, como espaço de produção do saber, conside- ra o ritmo de aprendizagem do aluno? e. Quem são os responsáveis por exigir respostas imedia- tas ao ensino ministrado? f. Psicopedagogia, o que é? Um campo específico do conhecimento científico? Uma perspectiva para a tarefa científica de leitura dos dados reais, que envolvem o ato de aprender? Um pré-saber? 1.1.1 o qUe é A PsicoPedAgogiA? Há diversas concepções quando se tenta elucidar o conceito do termo psicopedagogia. A princípio parece simples, dada a formação da palavra: psico+pedagogia, que indica a interseção entre duas ciências a Psicologia e a Pedagogia. Para Kiguel (apud Bossa, 1994, p.7), “his- toricamente a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir das necessidades de atendimento de crianças com distúrbios de aprendiza- gem, consideradas inaptas dentro do sistema educacional 17 convencional”. Inicialmente, a Psicopedagogia recebeu influên- cia das abordagens behaviorista e humanista, que con- cebiam o processo pedagógico como uma consequência das potencialidades do sujeito. O papel do professor limitava-se em facilitar que as potencialidades dos alunos fossem desenvolvidas. O aspecto social ficava relegado ao segundo plano. Bastava exigir que as aprendizagens acontecessem, e isso independia das condições do sujeito. De acordo, com Bossa (op.cit., p. 6): A Psicopedagogia como área de aplicação, ante- cede o status de área de estudos, a qual tem pro- curado sistematizar um corpo teórico próprio, definir o seu objeto de estudo, delimitar o seu campo de atuação, e para isso recorre à Psico- logia, Psicanálise, Linguística, Fonoaudiologia, Medicina, Pedagogia. Essa consideração permite-nos ir além da ideia de que a Psicopedagogia explica-se a partir dos pressu- postos teóricos dados pela Pedagogia e Psicologia. Feita essa análise podemos chegar ao consenso de que a Psicopedagogia constitui-se em uma nova área de conhecimentos sistematizados, para a qual convergem profissionais já graduados em Psicologia, Pedagogia, Fo- noaudiologia e outras áreas afins. Isso nos conduz à refle- xão do caráter interdisciplinar da Psicopedagogia, uma vez que busca conhecimento de outros campos, cria o seu pró- prio objeto, condição essencial dessa interdisciplinaridade. Para Maria M. Neves (apud Bossa, op. cit., p. 6): 18 Falar sobre psicopedagogia é, necessariamente, falar sobre a articulação entre educação e psi- cologia, articulação essa que desafia estudiosos e práticos dessas duas áreas. Embora quase sempre presente no relato de inúmeros trabalhos cientí- ficos que tratam principalmente dos problemas ligados à aprendizagem, o termo psicopedagogia não consegue adquirir clareza na sua dimensão conceitual. Para essa autora, a Psicopedagogia assumiu uma conotação adjetiva, e posteriormente, substantiva. A pri- meira indicava uma forma de atuação, apontando a inevi- tável interseção da Psicologia e da Pedagogia. A segunda correspondeu a uma aplicação conceitual, gerando com isso, um estado de confusão, devido à utilização de vários sentidos ou significados aplicados a um só termo. A conceituação de Bossa (op.cit., p.1): “a Psico- pedagogia nasceu de uma necessidade: contribuir na busca de soluções para a difícil questão do problema de aprendi- zagem” remete-nos entendê-la como múltipla e una, visto que reúne informações de ramos afins para transformá- -las em conhecimentos novos, que transcendem os ante- riores, formando um novo campo teórico e prático. Diante disso, podemos concebê-la como um saber mais do que interdisciplinar, pois articula novas abordagens sobre os problemas de aprendizagem, haja vista a complexidade de fatores que interferem no desen- volvimento cognitivo do ser humano, tornando-se, então, transdisciplinar. Tem, portanto, o compromisso com a aprendizagem, com o conhecimento, sua aquisição, de- senvolvimento e distorções. 19 E, nesse contexto, quem é o psicopedagogo? O psicopedagogo é um profissional cuja for- mação corresponde à configuração de uma identidade própria e singular que reúne qualidades, habilidades e competências de atuação. No Brasil, a formação psico- pedagógica dá-se em cursos de especialização, mestrado ou doutorado, cujo objetivo é o preparo para uma práti- ca psicopedagógica teórica e socialmente comprometida, uma vez que se baseia em conhecimentos de diversas áre- as. Sua atuação acontece em dois âmbitos: o clínico e o institucional. Como o trabalho deste livro converge para o institucional, daremos maior enfoque ao trabalho do psicopedagogo institucional. Na instituição (seja ela da área da Saúde ou da Educação) esse profissional integra a equipe multidisci- plinar, colaborando nos diagnósticos e tratamentos dos distúrbios relacionados com a aprendizagem. Na área da Educação, presta assistência aos professores e outros profissionais da instituição de ensino, buscando a me- lhoria das condições do processo de ensino e aprendiza- gem, prevenindo eventuais problemas de aprendizagem. Na clínica, recebe sujeitos portadoresde problemas de aprendizagem, para terapia psicopedagógica. Para Mery (1985), o trabalho do psicopedagogo jamais perde de vista os propósitos terapêuticos de sua ação, independente de qual tenha sido a formação. A au- tora considera o distúrbio de aprendizagem, a partir de uma perspectiva dinâmica do desenvolvimento infantil, como manifestação de uma perturbação que envolve a totalidade da personalidade e não parte dela. O objetivo do psicopedagogo, como especifica, é reintegrar o sujeito à vida escolar normal, respeitando suas possibilidades e 20 interesses. Decorre, portanto, que o trabalho psicopeda- gógico é uma terapia centrada na aprendizagem do sujei- to e não apenas um procedimento reeducativo. Na escola, o papel do psicopedagogo assume as características terapêuticas centradas na aprendizagem do aluno. Cabe, portanto, avaliar o educando e identificar os problemas decorrentes de seu processo de aprender, bus- cando conhecê-lo em seus potenciais e em suas dificul- dades. Quando houver a necessidade de um atendimento de outros profissionais (psicólogo, pediatra, neurologista, fonoaudiólogo etc.) deve ser encaminhado para que rece- ba um diagnóstico especializado e exames complementa- res, se for o caso. Muitas vezes, o aluno manifesta uma ansiedade latente por não conseguir articular, adequadamente, o processo que lhe seja peculiar na aquisição de habilidades, formação de conceitos, construção de ideias. Isso o tor- na, na maioria das vezes, revoltado, indisciplinado, com baixa autoestima. É nessa hora que acontece a interven- ção psicopedagógica, no sentido de resgatar o potencial cognitivo latente de cada um, independentemente do es- tágio de desenvolvimento intelectual em que se encontra. Desse modo, é importante que o sistema escolar respeite o ritmo de aprender de cada criança, pois cada uma apresenta uma maneira particular de lidar com o co- nhecimento. A experiência vivida é diferente, a forma de interpretar o mundo difere de um para outro. Aprender a: conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver, aprender a ser, conjugam-se com os propósitos da ação psicopedagógi- ca; pilares educacionais que há muito vêm sendo cogitados pela política educacional e quase nunca levados a contento de uma educação, politicamente, eficaz e igual para todos. 21 cAMPos de ATUAÇÃo dA PsicoPedAgogiA 1.2 Quando nos referimos aos campos de atuação do psicope- dagogo não nos limitamos ao espaço físico onde acontece esse trabalho, mas especialmente ao espaço epistemológico que lhe cabe (lugar desse campo de atividade e o modo de abordar o seu objeto de estudo). A modalidade de intervenção psicopedagógica pode ser: clínica, preventiva e teórica. Essa última visa re- fletir sobre a pertinência da aplicação das diversas teorias nos campos da Psicopedagogia, criando-lhe um corpo teórico próprio, com processos de investigação e diag- nóstico, além de estudos das questões educacionais e da saúde, no que concerne ao processo de aprendizagem. A princípio, a Psicopedagogia nasceu para aten- der a patologia da aprendizagem. Porém, está voltada cada vez mais para uma ação preventiva, acreditando que muitas dificuldades de aprendizagem decorrem da inadequação da pedagogia institucional e familiar. Segundo Lino de Macedo (apud Bossa, op. cit., p.24), o psicopedagogo, no Brasil, ocupa-se das seguin- tes atividades: 1. Orientação de estudos - Consiste em organizar a vida escolar da criança quando esta não sabe fazê-lo es- pontaneamente. Procura-se promover o melhor uso do tempo, a elaboração de uma agenda e tudo aquilo que é necessário ao “como estudar”. 2. Apropriação dos conteúdos escolares - O psicope- dagogo visa propiciar o domínio de disciplinas escolares 22 em que a criança não vem tendo um bom aproveitamen- to. Ele diferencia-se do professor particular, pois o con- teúdo escolar é usado apenas como uma estratégia para ajudar e fornecer ao aluno o domínio de si próprio e as condições necessárias ao desenvolvimento cognitivo. 3. Desenvolvimento do raciocínio - Trabalho feito com os processos de pensamento necessários ao ato de aprender. Os jogos são muito utilizados, pois são férteis no sentido de criarem um contexto de observação e diá- logo sobre processos de pensar e de construir o conhe- cimento. Este procedimento pode promover um desen- volvimento cognitivo maior do que aquele que as escolas costumam conseguir. 4. Atendimento a crianças - A Psicopedagogia presta- se a atender crianças com necessidades especiais, ou com simples dificuldade de aprendizagem. O importante é que o psicopedagogo tenha em vista os propósitos terapêuticos de sua ação, qualquer que tenha sido sua formação acadêmica. De acordo com Janine Mery (apud Bossa, op. cit., p.25), o trabalho do psicopedagogo possui como especificidades: • O distúrbio de aprendizagem – manifestado como per- turbação que envolve a totalidade da personalidade do indivíduo; • O desenvolvimento infantil considerado a partir de uma perspectiva dinâmica; • A neutralidade do papel do psicopedagogo; • O objetivo do psicopedagogo que é levar o sujeito a reintegrar-se à vida escolar normal. Independentemente dos campos de atuação, cabe ao psicopedagogo ajudar a criança a desenvolver e a 23 expandir a personalidade, favorecendo as suas iniciativas pessoais, suscitando os seus interesses, respeitando seus gostos, propondo e não impondo atividades. Assim, quer na área educativa como na da saúde, o psicopedagogo tem uma atitude clínica frente ao seu objeto de estudo, não significando com essa colocação que o lugar de tra- balho seja a clínica, mas referindo-se às atitudes do pro- fissional ao longo de sua atuação. A Psicopedagogia no âmbito escolar é uma for- ma de intervenção preventiva. E o psicopedagogo pode- rá auxiliar na elaboração dos conteúdos e na orientação metodológica, tornando-os mais significativos e voltados para a realidade educacional do grupo. Essa medida pre- vine dificuldades de aprendizagem, que podem ocorrer no decorrer do ensino-aprendizagem. Diante disso, a função do psicopedagogo abran- geria todos os trabalhos de apoio pedagógico realizados no espaço da escola e por iniciativa da equipe escolar, com vistas à melhoria nas condições externas proporcio- nadas pela escola que poderiam conduzir à construção efetiva da aprendizagem. Cabe, também, ao psicopedagogo institucional orientar os professores, promover-lhes estudos dirigidos, a fim de que se criem condições para discutir questões de aprendizagem, voltados a ações rotineiras em sala de aula e ao procedimento de avaliação da aprendizagem do alu- no. Também, é importante promover às famílias palestras orientativas, com base nas ações pretendidas pela equipe pedagógica escolar. 1.2.1 A PsicoPedAgogiA PrevenTivA 24 Verificamos, portanto, que o trabalho psicopeda- gógico deverá envolver todos os segmentos escolares, pois de uma forma ou de outra, todos estão envolvidos direta ou indiretamente com a aprendizagem do aluno, incluindo aqui, a família que pode tornar-se a responsável pelo su- cesso ou pelo fracasso frente ao aprender da criança. A contribuição da família para o progresso na aprendizagem do aluno é fator primordial. Ela pode au- xiliar o filho nas tarefas escolares e organizar um horário apropriado de estudo. Mesmo aquela com baixo nível de instrução poderá ser modelo para a criança, ao demons- trar-lhe o interesse por aquilo que a escola tem ensinado. Além disso, poderá contribuir no sentido de verificar as dificuldades que a criança encontra nas tarefas da escola, destinadas à lição de casa: lentidão para executá-las, pen- samento confuso, troca de letras, dificuldade de cálculo. Feitas as observações, os pais deverão contatar a escola para passar-lhes as dificuldades do filho. Vale esclarecer que o sucesso ou fracasso na aprendizagem independem da classe social do aluno. Há casos de crianças mal nutridas, que sofrem miséria e abandono na família,que são molestadas pelos pais, como de crianças bem amparadas pela família e que, no entanto, não avançam no desenvolvimento intelectual. Tal evidência leva-nos a conceber o aprender como for- ma particular de vivenciar o saber instituído. E o não- aprender como um sintoma, sinal de que algo não está funcionando fluentemente. Existe um “aprisionamento” que necessita ser investigado. Importante destacar, também, que a maioria do aparecimento do fracasso escolar está ligada a questões 25 culturais, sociais e políticas, que regem a instituição esco- lar e seus diferentes grupos de pertença. Oportunizar a equipe escolar à reflexão, à observação e à busca de signi- ficado na própria aprendizagem e, a seguir, na dos outros, é compromisso da Psicopedagogia com a comunidade, a que pertence o grupo escolar. Aliás, Bossa (op. cit., p.23) destaca que na função preventiva o psicopedagogo deverá: • Detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; • Participar da dinâmica das relações da comunidade edu- cativa, a fim de favorecer processos de integração e troca; • Promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos; • Realizar processos de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo. O trabalho psicopedagógico na área preventiva é de orientação do processo ensino-aprendizagem, ressal- tando que para aprender, dois sujeitos entram em cena: um que ensina e outro que aprende. Porém, a relação “ensinante e aprendente” deverá apresentar flexibilidade, uma vez que é impossível permanecer todo o tempo ocu- pando a mesma posição. Nesse sentido, o psicopedagogo também deverá observar como se estabelece, na institui- ção, esse vínculo, se prevalece uma relação autoritária, im- positiva, ou uma relação dialógica, aberta e construtiva. 1.2.2 A PsicoPedAgogiA cLínico-TerAPêUTicA O trabalho clínico dá-se em consultórios, em hospitais de atendimento psicológico ou psiquiátrico, podendo ser desenvolvido, também, em instituições, que mantêm serviços de atendimento psicopedagógico 26 a crianças provenientes de comunidades de baixa renda. Nesse caso, o trabalho clínico faz-se, geralmente, de for- ma grupal, em virtude do número elevado de crianças para serem atendidas. O psicopedagogo clínico busca compreender o porquê da não aprendizagem do sujeito, e acima de tudo, a forma como a condicionou. A busca desse conheci- mento inicia-se no processo diagnóstico, considerado como uma avaliação ampla, estruturada, que conta com técnicas e métodos específicos e sistematizados, para en- tender os problemas e dificuldades escolares. A ênfase, inicialmente, é a investigação, momen- to em que o profissional procura o sentido da proble- mática do sujeito que lhe é encaminhado. Num segundo momento, a medida é a intervenção. É importante, nes- sa direção, compreender que, em cada situação torna-se necessário pesquisar no que o conhecimento científico pode auxiliar, pois cada uma apresenta detalhes e especi- ficidades que devem ser buscados sempre. No diagnóstico psicopedagógico clínico, além das entrevistas e anamnese, são utilizadas provas psicomoto- ras, de linguagem, de nível mental, pedagógicas, de per- cepção, projetivas e outras, conforme o referencial teórico adotado pelo profissional, ressaltando a importância da observação em todas as etapas, para precisar com eficácia o quadro do problema e melhor processar o tratamento. Importante, também, ressaltar que a Psicopeda- gogia Clínica desenvolve-se sob diferentes modalidades de intervenção, que espelham a estrutura teórica que as fundamenta: prática psicopedagógica de inspiração beha- viorista (talvez a menos praticada, no momento), ou de 27 base construtivista, apoiada principalmente na contribui- ção piagetiana; ou resultante das postulações da chamada escola de epistemologia convergente proposta por Jorge Visca, hoje talvez a mais difundida. Outro fator pontual na intervenção do psicope- dagogo clínico diz respeito ao olhar e à escuta, que esta- belece frente à produção do sujeito (hora do jogo, testes, entrevistas dos pais, desenvolvimento de ações lúdicas, gráficos, discurso verbal). Nesse momento, é importante que seja um olhar e uma escuta cuidadosos, criteriosos para decifrar a mensagem do jogo, de um gesto, de um silêncio, de uma recusa. Mais importante que os instru- mentos utilizados é a atitude do profissional frente à men- sagem do paciente, concebido como um sujeito epistêmi- co-epistemofílico (sujeito do conhecimento e do desejo). Conclui-se, portanto, que a possibilidade de aprender está situada no nível inconsciente, no desejo de conhecer, que segundo Freud, é o impulso do conhecer associado, desde a infância, ao interesse sexual. E esse desejo mantém sempre seu vínculo inicial, ou seja, a par- tir das representações que vamos tecendo, nas relações familiares e sociais. oBjeTo de esTUdo dA PsicoPedAgogiA 1.3 Ao analisarmos a definição do objeto de estudo da Psi- copedagogia abordada por vários teóricos, não restam dúvidas de que a maioria converge para um ponto comum, qual seja, o estudo do processo de aprendizagem humana. Isso se comprova 28 com a definição dada pelos autores a seguir: Segundo Scoz (1992, p.2): A Psicopedagogia estuda o processo de aprendiza- gem e suas dificuldades, e numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os. Isso nos remete a tudo o que foi dito anterior- mente: o caráter interdisciplinar da Psicopedagogia, seu campo de atuação, e o principal, como se processa o co- nhecimento no sujeito aprendente. Para Kiguel (1991, p.24): O objeto central de estudo da Psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de aprendi- zagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos – bem como a influência do meio (fa- mília, escola, sociedade) no seu desenvolvimento. Aqui, o autor retoma o sujeito na sua integralida- de, em seus aspectos físico, emocional, intelectual (nor- mal ou patológico), e sua relação com o meio social. Para Golbert: (1985, p.13): [...] o objeto de estudo da Psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêutico. O enfoque preventivo considera o ob- jeto de estudo da Psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento, enquanto educável. Seu objeto 29 de estudo é a pessoa a ser educada, seus processos de desenvolvimento e as alterações de tais processos. Focaliza as possibilidades do aprender, num senti- do amplo. Não deve se restringir a uma só agência como a escola, mas ir também à família e à comu- nidade. Poderá esclarecer, de forma mais ou menos sistemática, a professores, pais e administradores sobre as características das diferentes etapas do de- senvolvimento, sobre o progresso nos processos de aprendizagem, sobre as condições determinantes de dificuldades de aprendizagem. O enfoque terapêu- tico considera o objeto de estudo da Psicopedagogia a identificação, análise, elaboração de uma meto- dologia de diagnóstico e tratamento das dificulda- des de aprendizagem. Sendo assim, fica claro que o objeto de estudo da Psicopedagogia alinha-se ao processo cognitivo do sujei- to aprendente, que deverá ser estudado por outro sujeito (que neste momento adquire o status de ensinante), e, portanto, adquire características específicas. O vínculo terapêutico, que se estabelece nesse momento, deve ser investigativo, motivador, analítico, uma vez que, do ponto de vista de Weiss (1991, p.6): A Psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qua- lidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores. Dos profissionais brasileiros supracitados, verifi- 30 camos que o tema aprendizagem “ocupa-os e preocupa- -os, sendo os problemas desse processo (de aprendiza- gem) a causa e a razão da Psicopedagogia”. (Bossa, op. cit., p. 9). Paraos profissionais argentinos que atuam na área e envolvem-se com o trabalho teórico, “a aprendiza- gem com seus problemas” (Bossa, op. cit., p. 10) consti- tui-se o pilar-base da Psicopedagogia. Vejamos. Alicia Fernández (1984, p. 102) ao referir-se à Psicopedagogia, ressalta: Pero aún no hemos podido construir alguna teoria acerca de nuestra prática específica, em la patología del aprendizaje. Recurrimos a la teoria de la inteli- gência de Piaget, que nos aporta un modelo de la in- teligência, pero no uma teoria acerca de lãs fracturas em el aprender, acerca del sujeto que no aprende. Re- currimos también al psicoanálisis, que nos permite, entre tantas otras cosas, realizar uma lectura de lo inconciente y nos posibilita un marco psicopatológi- co al cual remitimos para comprender la estructura de personalidad de nuestros pacientes. Pero carece- mos de uma Psicopatologia acerca del aprendizaje. Estamos realizando intentos de construir nuestra propia teoria, nuestro específico encuadre, los rasgos diferenciadores de nuestra técnica y nuestro lugar como especialistas em problemas de aprendizaje. De acordo com Jorge Visca (1987), a Psicope- dagogia que anteriormente subsidiou a Medicina e a Psi- cologia, quando a questão envolvia problemas de apren- dizagem, hoje se apresenta como um conhecimento independente e complementar, possuidora de um objeto 31 de estudo próprio – o processo de aprendizagem – e de recursos diagnósticos corretores e preventivos. Podemos chegar à conclusão de que a Psicopeda- gogia adveio de uma demanda – os problemas de apren- dizagem – e evolui graças à existência de recursos para atender a essa demanda, constituindo-se, assim, uma prá- tica. O que vale é compreendermos que a Psicopedagogia ocupa-se da aprendizagem humana e de sua relação com o sujeito do conhecimento e do desejo (epistêmico-epis- temofílico); significando que a possibilidade de aprender se situa no nível inconsciente, no desejo de conhecer, ou seja, a epistemofilia, conceito Kleineano, como adjetivo, alusivo ao impulso de conhecer associado, desde a mais tenra infância ao interesse sexual; deriva de Freud e sua visão “pansexualista”. (cf. Klein, 1981) Sugestão para complementação de estudos 1. Excerto do livro: “A práxis Psicopedagógica Brasileira - uma proposta de atuação.” Julgamos que o trabalho psicopedagógico na es- cola deva ser um levantamento, uma análise crítica e a transformação do processo de construção e produção do conhecimento em diferentes níveis. Será sempre um trabalho com a cultura e com a ciência. Propomos que o trabalho desenvolva-se em di- ferentes níveis: 1. O conhecimento dos educadores, de como se proces- sou a construção de seu próprio modelo de aprendiza- gem, de que modo, aqui e agora, ele atua como mediador na relação do aluno-aprendente com o objeto da aprendi- zagem escolar. É preciso que fique claro que não estamos preconizando nenhuma forma de “tratamento” do pro- 32 fessor, nenhuma intervenção clínica, nem posturas psico- lógicas autocentradas, mas sim a reflexão dos educadores como co-responsáveis pelo que a escola produz, sobre sua história de aprendizagem. 2. O estudo teórico e a identificação na realidade do pro- cesso de construção do conhecimento humano, especial- mente do aluno em suas diferentes etapas evolutivas, o que de algum modo tem interface com o item anterior. Por exemplo: esse estudo abrangeria um apro- fundamento em Epistemologia Genética, Sociolinguísti- ca, Psicanálise, e outras teorias explicativas de construção do conhecimento humano. 3. O conhecimento pelos educadores de como identificar o fracasso na aprendizagem e a discriminação do que é possível de melhoria no âmbito escolar, e as questões que exigem o encaminhamento do aluno para uma avaliação com profissionais e/ou serviços especializados. 4. O estudo aprofundado das questões relativas ao meio cultural, social e político que é parte integrante de todo processo de ensino-aprendizagem escolar. Por exemplo, estudos de Vygotsky, da Psicologia Social, em diferentes abordagens, que explicitam o processo interativo e o peso do cultural e do meio social, no que a escola produz. 5. O conhecimento, por parte do educador, de como se processou, na história da humanidade, a construção dos conhecimentos, que ele pretende que seus alunos adqui- ram. Assim, conhecer a História da Cultura Humana, a História da Ciência, é fundamental para saber o que se traz para a sala de aula. Por exemplo, é preciso saber como o homem construiu a escrita, para entender como o aluno constrói sua própria escrita. Isso nos é dado pe- 33 las pesquisas de Emília Ferreiro – sobre a Psicogênese da Leitura e da Escrita. Nessa linha de pensamento, é importante ressaltar os saltos da Física, da Geometria etc. 6. A melhoria das condições da escola, que fazem parte das “condições externas do ato de aprender”, ou seja, a melhor qualidade do ambiente escolar, que é parte básica da mediação no processo de interação do aluno-apren- dente, com o objeto de conhecimento que está nesse mesmo meio escolar. O melhor ambiente escolar evitaria a formação de forças, que conduziriam à construção de desvios na aprendizagem já trazidos pelos alunos para a escola. (Maria Lúcia Lemme Weiss, p. 101, 1994) 2. Livro: “A Psicopedagogia no Brasil” Bossa, A. Nadia. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. 3. Livro: ”Psicopedagogia: novas contribuições” Visca, Jorge. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. 34 As atividades, a seguir, são de natureza pesso- al. Primamos, acima de tudo, pela pesquisa e pelo trabalho de autoria. O nosso objetivo é proporcionar momentos de estudo que lhes permitam a construção do conhecimento pela investigação, pela curiosidade, pela reflexão. Seja, portanto, um pesquisador. Desenvolva sua formação, utilizando critérios objetivos e subjetivos. 1. Produza um texto, narrando os principais acontecimentos de sua vida escola, desde a pré-escola ao ensino superior: relação com os professores, com os conteúdos escolares, com os colegas; as dificuldades encontradas no processo de aprendizagem, estratégias que usou para superá-las. Quem o (a) ajudou nesse processo? 2. O trabalho psicopedagógico na escola deve ser um levantamento, uma análise crítica e a transformação do processo de construção e produção do conhecimento em diferentes ní- veis. Será, portanto, um trabalho com a Cultu- ra e com a Ciência. Com base nesse trecho, responda: a. Como a escola, hoje, lida com os alunos que apresentam dificuldades para aprender, ou quando são portadores de alguma necessidade ATividAdes A 35 especial? b. No espaço escolar, em geral, a relação do aluno com o professor é de subordinação ou de construção? c. Como atua a equipe pedagógica (supervisão, orientação educacional) quando solicitada a prestar auxílio frente a uma dificuldade didática do professor, ou quando o problema diz respei- to à indisciplina do aluno em sala de aula? d. O psicopedagogo tem clara sua função no âmbito escolar? e. A formação do professor permite-lhe lidar com os problemas de aprendizagem, de dis- ciplina e motivacionais que se apresentam em sala de aula? 3. O psicopedagogo necessita conhecer seu próprio processo de aprendizagem, seus talen- tos e habilidades, bem como suas limitações e dificuldades, que interferem positiva ou nega- tivamente em seu processo de aprendizagem, para assim poder intervir no processo cognitivo do outro. Portanto, pensamento criador! Reflita sobre suas habilidades e expresse-as abaixo. Liste tudo o que você sabe fazer muito bem. (aprender a aplicar) ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ 36 Liste tudo o que você sabe que faria bem, se tentasse. (aprender a aprender) ____________________________________ ________________________________________________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ Liste tudo o que você gostaria de aprender a fazer muito bem. (aprender a fazer) ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ O DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA ESCOLA 02 N esta unidade, estudaremos alguns aspectos re-lativos ao desenvolvimento da aprendizagem na escola: as condições físicas desse espaço, e as condições psíquicas, que envolvem o estudo da per- cepção, sensação, imaginação e linguagem, presentes no processo de desenvolvimento cognitivo da criança. Tomaremos como referência a contribuição da Psicanálise no processo de desenvolvimento cognitivo dos alunos, a partir dos estudos de Freud sobre o inconsciente. Veremos, também, que a motivação é o ponto crucial que conduz o educando a uma aprendizagem bem sucedida. 39 condiÇões físicAs dA APrendizAgeM – UM oLhAr PsicoPedAgÓgico 2.1 As condições físicas referem- se, aqui, ao espaço e tempo, nos quais são desenvolvi- das as atividades escolares e isso consiste em promover nas salas de aula condições para que os alunos consigam aprender e estudar de uma maneira saudável. Ao planejarem-se as atividades escolares, em pri- meiro lugar há que se pensar no local, onde serão realiza- das, pois muitas que poderiam ser favoráveis à aprendiza- gem do aluno, acabam fracassando devido às condições do espaço físico. Se, por exemplo, planejamos dramatizar um teatro, o espaço da sala de aula deverá levar em con- sideração o número de participantes (atores), de espec- tadores, pois um espaço desconfortável facilita a indis- ciplina, gerando dispersão e tumulto. A disciplina, aliás, associa-se à boa utilização do espaço de aprendizagem. Para Artur Noguerol (1999, p. 30), é necessário, também, “considerar o espaço físico, como o entorno educa- tivo dos alunos. Isso implica que tenha condições estéticas e funcionais – cartazes, anúncios e informações de todo tipo”. O espaço pessoal de que dispõe cada um na aula, para guardar os objetos pessoais, os materiais das ativi- dades é outro aspecto a ser observado. As carteiras e as cadeiras deverão oferecer comodidade, pois o contrário causa inquietação e também a dispersão. A luminosidade da sala, da mesma forma, deverá estar adequada ao turno de aula. Uma sala muito escura, de baixa luminosidade, provoca também a distração do aluno. Inclusive o profes- 40 sor sente-se desconfortável nessas condições. Esses aspectos, embora pareçam prescindíveis, visam à criação de hábitos de organização nos alunos e favorecem uma melhor utilização de sua predisposição para aprender. Do mesmo modo, deverão ter continuida- de no ambiente de estudo, que os alunos vivem em casa. Ainda, segundo Noguerol (op. cit., p. 31): Sem cair em excessos que pouco tenho de realista, e sendo conscientes da realidade sociocultural de nossos alunos, deveremos exercitá-los nos hábitos de trabalho pessoal, relacionando-os com os aspec- tos físicos do estudo, sem utopias; temos que exigir de nossos alunos algumas condições de estudo que estejam em consonância com as condições reais em que se movimentam e, a partir dessa situação, dar-lhes os instrumentos que os ajudem a rentabi- lizar sua realidade mais imediata. Há, também, a necessidade do aluno repousar diariamente: dormir em horários adequados, para acor- dar bem disposto e com sensação de descanso. A atenção ao cansaço físico tem que ser levada em conta na escola. A saúde física, do mesmo modo, afeta diretamente nos resultados do trabalho escolar: se o aluno tem dor de ca- beça, é muito difícil concentrar-se adequadamente. O organismo para servir de base para a aprendi- zagem necessita estar bem estruturado, em boas condições de funcionamento. Para Sara Paín (1984), “o organismo se conforma como um sistema de autorregulação inscrito; o 41 corpo seria um mediador e por sua vez um sintetizador dos comportamentos eficazes para a apropriação do “em torno” por parte do sujeito”. A autora define o organis- mo como uma programação, “memória assentada sobre a morfologia anatômica dos diferentes órgãos.” Fica comprovada a necessidade de oferecer-se e exigir do aluno um ambiente físico facilitador de sua aprendizagem, assim como orientá-lo a cuidar de sua saú- de física, pois o funcionamento equilibrado do organismo firmar-se-á em um corpo. O corpo torna-se o responsável pelo acúmulo de experiências, pela aquisição de destrezas, automatização dos movimentos, produção de programa- ções originais ou culturais de comportamento. A aprendi- zagem passa pelo corpo e registra-se nele. Este coordena as aprendizagens novas que irão integrar as aprendizagens anteriores. É através dele que se realizam as demonstra- ções de “como fazer”’. Portanto, ele é fundamental quan- to à transmissão de conhecimentos. É deste modo que in- tervém na aprendizagem, o organismo já “corporizado”, no qual interatuam a inteligência e o desejo. condiÇões PsíqUicAs dA APrendizAgeM 2.2 2.2.1 o desenvoLviMenTo dA sensAÇÃo, dA PercePÇÃo e dA iMAginAÇÃo A sensação, a percepção e a imaginação estão implicadas no processo de construção do conhecimento, as quais se desenvolvem através da experiência da criança em seu ambiente, dependendo das atividades realizadas 42 em seu grupo social. A sensação se refere ao reconhecimento dos es- tímulos presentes num ambiente, percebida pelos órgãos dos sentidos. Através dela o sujeito apreende caracterís- ticas e propriedades de coisas e fenômenos de seu meio, como, por exemplo, as formas das coisas, as cores, os sons, a temperatura ambiente, os objetos e pessoas. A percepção relaciona-se à maneira como se or- ganizam as informações obtidas por meio das sensações. Referem-se aos atributos dos estímulos como forma, peso, altura, distância, tamanho, localização temporal, to- nalidade, entre outros. Atribuímos a essas características significados como grande, alto, longe, perto, antes, claro, escuro, barulhento etc. Cada objeto, pessoa ou situação são percebidas como um todo imbuído de sentido. É importante, ressaltarmos que a percepção é parte do sistema dinâmico do comportamento humano. Depende, pois, de outras atividades intelectuais do sujei- to, ao mesmo tempo em que as influencia. Compreende- se, portanto, que a percepção e o raciocínio são processos que se apóiam mutuamente. Para Piaget existe uma diferença entre percep- ção e inteligência. Segundo ele, a percepção está voltada ao conhecimento que se tem dos objetos ou dos movi- mentos. A inteligência, por sua vez, possibilita que se co- nheçam outros aspectos dos objetos e dos movimentos, mesmo na ausência de contato direto com eles. Ao estudar o desenvolvimento perceptivo, Pia- get afirma que no período sensoriomotor, a percepção é indissociável da ação. Nesse sentido, é indiferenciada, global e sincrética. Por exemplo: o bebê percebe um ob- 43 jeto que já conhece reproduzindo o gesto que, habitual- mente, emprega quando o usa. Gradativamente, a crian- ça passa a agir diante do objeto de forma cada vez mais distanciada da sua experiência imediata: analisa, sintetiza, relaciona, antecipam dados acerca do objeto em questão, avaliando-os. Vygostski ressalta a importância da linguagem, através da fala, na modificação das percepções iniciais da criança. Através das palavras, incorporadas na relação com os membros da família, de sua cultura, a criança pas- sa a isolar determinados atributos dos objetos, formando novas categorias explicativas. Por meio de rótulos verbais podem perceber o objeto: “é pequeno”, “é grande”, “está bem perto” e assim por diante. A fala, dessa maneira, per- mite à criança reorganizar seu campo perceptivo. • A capacidade, por exemplo, para distinguirentre formas tão complexas como são os números e as letras do alfa- beto desenvolve-se, gradualmente, e fica razoavelmente estabelecida por volta dos cinco anos, quando a discrimi- nação visual torna-se mais acurada. Os progressos na re- alização das discriminações visuais, resultantes da maior maturidade e prática na captação de constantes, desem- penham um papel essencial no ensino de leitura à criança. A capacidade para extrair ou diferenciar partes de uma percepção global, originalmente indistinta, desenvolve-se gradualmente com a idade. • Finalmente, a capacidade para perceber detalhes e rela- ção entre partes é, geralmente, adquirida durante um longo período. Através da experiência, os vários componentes e aspectos do mundo acabam por relacionarem-se mutua- mente, graças a novos processos e novas integrações. A imaginação é a habilidade, que os indivíduos 44 têm de formar representações, ou seja, de construir ima- gens mentais do mundo real ou mesmo de situações não diretamente vivenciadas, que passam a fazer parte da fan- tasia da criança. Nesse sentido, a imaginação não consiste em uma cópia exata de objetos ou situações, nem em uma invenção desprovida de influência do real. É, antes, um reflexo criativo da realidade. Percebemos isso, através dos desenhos feitos pelas crianças, das histórias e jogos de faz de conta, e também, nos filmes, livros, e assim por diante. Ela faz-se presente quando a criança adquiriu um número significativo de experiências, aproximadamente, aos três anos de idade. A criança consegue representar mentalmente em novos contextos graças à imaginação. Ao desenhar um menino, por exemplo, demonstra já ter desenvolvido a capacidade de simbolização. Entretanto, quando acres- centa uma bola, uma trave, um gramado, pode querer re- presentar algo criado por sua imaginação: um jogador de futebol, por exemplo. A capacidade imaginativa pode ser desenvolvida pelo ser humano por meio de um ambiente acolhedor, seguro, que promova a liberdade de pensamento, que incentive as formas de expressão e que valorize a des- coberta do novo. Diante disso, a escola deverá ser um local onde as crianças possam aperfeiçoar seus processos sensoriais, perceptivos e imaginativos. 2.2.2 As fUnÇões dA LingUAgeM A princípio, cabem aqui estas perguntas: Por que a linguagem é tão importante? Qual é seu papel no desen- volvimento infantil? 45 A linguagem é fator de interação social: permite a comunicação entre os seres, a troca de experiências e in- formações. Permite que percepções sejam assimiladas. Ao entrar na escola, a criança passa a aprender a ler, a escrever, a lidar com números, apropriando-se de toda uma experi- ência humano-social, que levou tempo para ser construída, e ainda continua sendo modificada pelos homens. Outra função da linguagem é a de organizar, articular e orientar o pensamento. Ao designar objetos e eventos do mundo exterior com palavras isoladas ou combinação de palavras, a criança está discriminando es- ses objetos, está prestando atenção em suas característi- cas, podendo guardá-las na memória. Nisso, a linguagem permite que a criança vá distanciando-se da experiência imediata, fato esse que assegura o aparecimento da ima- ginação e do ato criativo. Outro aspecto essencial da linguagem reside no fato de que as palavras não servem, apenas, para repre- sentar coisas e eventos. Atuam, também, no sentido de abstrair as propriedades e características fundamentais das coisas e eventos a que se referem. Isso faz com que se relacionem elementos semelhantes entre si e os agru- pem em categorias. Por exemplo: as palavras “árvore” e “casa” não nomeiam apenas certo tipo de árvore ou certa casa. Na verdade, representam todas as árvores e todas as casas, independentemente de seu aspecto exterior. Isso quer dizer que a língua permite distinguir (ou abstrair) características fundamentais dos objetos. A esse fato dá-se o nome de generalização. É, portanto, por meio da linguagem, que se passa do nível dos sentidos ao nível do racional; o que possibilita a formação do pensa- mento abstrato e lógico. 46 o desenvoLviMenTo AfeTivo 2.3 É comum quando uma crian- ça não consegue aprender atri- buir a isso o fato de ter “graves problemas emocionais”. No entanto, podemos correr sé- rios riscos ao responsabilizarmos a emoção pelo fracasso do processo cognitivo do aluno; haja vista que não conhe- cemos o suficiente vários aspectos da dinâmica emocional do ser humano e o papel da emoção na aprendizagem. Assim, não é fácil saber como agir em sala de aula. Não só aspectos emocionais precisam ser levados em consideração, quando o problema é a não-aprendiza- gem, mas o uso de metodologia inadequada, a falta de re- cursos didáticos, as condições insatisfatórias de trabalho (aqui vale incluir as condições de salário do professor). Porém, isso não descarta as dificuldades cogniti- vas e emocionais por que passam muitas crianças. Muitas sofrem medos e problemas de relacionamento em casa, com adultos e com outras crianças. O que quero dizer é que não é prudente concluirmos que todas as crianças que sofrem dificuldades escolares são anormais ou difí- ceis. A dificuldade, em sua maioria, pode ser criada pelo próprio professor. Além disso, a ação da escola não é resolver di- ficuldades emocionais e afetivas que ocorrem durante o processo de aprendizagem. A instituição tem como meta propiciar a aquisição e a reformulação dos conhecimen- tos elaborados socialmente. A saúde mental, o ajusta- mento afetivo é competência de profissionais da saúde. 47 E o psicopedagogo deve estar bem atento a isso. Quando situações que envolvem aspectos emo- cionais acontecem, o aluno deverá ser encaminhado ou então, via aprendizagem, ser resolvido a situação no próprio ambiente escolar, quando se tratar de situações corriqueiras de relacionamento interpessoal. O papel da escola, nesse sentido, é propiciar um ambiente estável e seguro, onde as crianças sintam-se bem, pois nessas con- dições a atividade intelectual fica facilitada. 2.3.1 A iMPorTânciA do AfeTo no Processo cogniTivo dA criAnÇA A tendência do homem para buscar contato e in- teragir com outro membro da sua espécie pode ser toma- da como uma manifestação instintiva. O bebê nasce com uma predisposição para interagir, dispondo de certas es- truturas orgânicas que o levam a privilegiar determinados estímulos na sua relação com o meio. Responde, por- tanto, aos estímulos associados a outros seres humanos, como a face e a voz. Desde cedo, consegue distinguir a voz humana do conjunto de sons presentes no ambiente. Suas estruturas perceptuais são ativadas pelas ações dos adultos ao responderem-lhe, estabelecendo, assim, uma interdependência comportamental, desde o início, entre adulto e bebê. Diante disso, compreendemos que criar uma re- lação estável com um ou mais adultos em seu ambiente é uma necessidade do bebê. Essa relação fornece a base a partir da qual podem ocorrer as transformações no com- portamento da criança. É na relação com adultos que o bebê inicia a construção dos seus esquemas perceptuais, motores, cognitivos, linguísticos, e de sua afetividade. 48 As condições de segurança física e emocional da- das pelos adultos levam a criança a explorar mais o am- biente e, portanto, a aprender. Então, pode-se dizer que a interação humana envolve a afetividade e a emoção, como elementos básicos. Defendem Vygotski e Freud que a inte- ração com adultos proporciona à criança a construção de suas funções mentais superiores e de sua personalidade. Portanto, afeto e cognição constituem aspectos inseparáveis, presentes em qualquer atividade, embora em proporções variáveis. Pelas ações e nas ações dos in- divíduos se estruturam a inteligência e a afetividade. O afeto, nesse sentido, passa a ser entendido como a energia necessária para que a estrutura cognitiva passe a operar. O ritmo com que se constrói o conhecimento passa a ser proporcionalà influência do afeto, uma vez que se a criança sente-se segura, a chance de aprender, facilmente, é muito maior. O afeto passa a ser portanto, condição elementar da construção do conhecimento. O afeto, também, regula a ação, influindo na es- colha de objetivos específicos e na valorização de deter- minados elementos, eventos ou situações pelo indivíduo. Isso se verifica quando amor, ódio, tristeza, alegria ou medo levam o indivíduo a procurar – ou a evitar – certas pessoas ou experiências. Inclui, também, expressividade e comunicação, pois na interação, cada um busca o aten- dimento de alguns de seus desejos: de proteção, de reali- zação da vontade etc. De acordo com Fernandez (1990), o processo de aprendizagem além de sofrer interferência de estruturas cognitivas sofre interferência da estrutura desejante do sujeito. Numa colocação mais precisa, a aprendizagem 49 para alcançar a objetividade passa pelo nível do desejo. É aí, que o sujeito encontra “motivos” para construir novas aprendizagens. Piaget (1964, p.38) faz alusão à importância dos aspectos afetivos e cognitivos na construção do conhe- cimento, quando coloca: existe um estreito paralelismo entre o desenvolvimento da afetividade e das funções in- telectuais, já que estes são aspectos indissociáveis de cada ação. A aprendizagem na perspectiva da epistemologia construtivista não é inata nem adquirida, resulta de uma construção que ocorre a partir da interação das pré-con- dições do sujeito às circunstâncias do meio social. Dessa forma, Piaget considerou o desenvolvimento da inteligên- cia em estágios ou etapas, a saber: sensório-motor, pré- operatório, operatório concreto e hipotético-dedutivo. Da mesma forma, interessa para a Psicopedago- gia as manifestações emocionais a partir dos pressupostos psicanalíticos. A psicanálise revelou a existência de víncu- los afetivos positivos e negativos do sujeito com objetos e situações, podendo assumir diferentes intensidades e orientar-se em estruturas de conduta e personalidade, ou esquemas de reação com menor ou maior grau de estabili- dade. O sujeito, nesse aspecto, é concebido como uma uni- dade de complexidades, ao considerar que o processo de construção do conhecimento engloba aspectos do próprio sujeito que conhece. Por um lado, a estrutura cognitiva caracteriza-se pela tendência a organizar, classificar, com- parar, seriar, generalizar, por outro, o desejo individualiza e diferencia, subjetivando a originalidade de cada sujeito. Concluímos, a partir dessas considerações, que o pensamento encontra-se diretamente relacionado à for- 50 mação simbólica, uma vez que o inconsciente marca com a representação os esquemas cognitivos. Nesse sentido, a contribuição da psicanálise, a partir dos estudos freudia- nos, ressalta a importância do inconsciente na vida men- tal e na aprendizagem do sujeito. Portanto, a construção do conhecimento vai além da consciência, ou seja, não é possível apresentar algum comportamento que seja des- conectado das representações afetivas. Tanto a dimensão cognitiva, quanto a dimensão relacional apresentam re- presentações significativas no aparelho psíquico, funcio- nando consciente ou inconscientemente. Ao interagirem professores e alunos, os fatores afetivos e cognitivos de ambos exercem influência decisi- va. Para que essa interação leve à construção de conheci- mentos, a forma como o professor vê (enxerga) o aluno é fundamental. Ele precisa atentar-se para o fato de que existem muitos significados para os comportamentos as- sumidos por seus alunos. Além disso, o educador precisa compreender os aspectos de sua própria personalidade: desejos, frustrações, dificuldades, valores – que influem em seu comportamento, ao longo do contato que ele mantém com a turma. A conTriBUiÇÃo dA PsicAnÁLise PArA A PsicoPedAgogiA 2.4 Segundo a teoria freudiana, a vida psíquica é constituída por três instâncias: duas delas inconscientes e apenas uma consciente: o id, o superego e o ego. Os dois primeiros, inconscientes; o terceiro, consciente. 51 O “id” representa os instintos, impulsos orgâ- nicos e desejos inconscientes, designados como pulsões, as quais são de natureza sexual. Aqui, a sexualidade é en- tendida como todos os desejos que encontram satisfação na totalidade de nosso corpo. O recém-nascido para agir, dispõe apenas do id. Suas ações visam satisfazer suas ne- cessidades imediatas. O id representa, portanto, a energia dos instintos e dos desejos em busca da realização do princípio do prazer. Freud descobriu três fases dessa sexualidade: • Fase oral – O desejo e o prazer localizam-se, primor- dialmente, na boca e na ingestão de alimentos. Exemplo: o seio materno, a chupeta, a mamadeira, os dedos são objetos de prazer. • Fase anal – O desejo e o prazer localizam-se, primor- dialmente, nas excreções e nas fezes. Exemplo: brincar de amassar barro ou argila, comer coisas cremosas, brincar com massas, sujar-se são objetos de prazer. • Fase genital ou fálica – O desejo e o prazer localizam-se, primordialmente, nos órgãos genitais e nas partes do cor- po que excitam tais órgãos. É nessa fase que para as me- ninas o pai é o objeto de desejo; para os meninos, a mãe. O complexo de Édipo encontra-se no centro do id, determinando toda a vida psíquica. Resume-se no de- sejo incestuoso pelo pai ou pela mãe. E é justamente esse desejo que organiza a vida psíquica e determina o sentido de nossas vidas. O superego ou censura desenvolve-se no perí- odo da latência, situado entre os 6 ou 7 anos e o início da puberdade ou adolescência. Limita-se à censura das pulsões imposta pela cultura e pela sociedade, impedindo 52 que os instintos e os desejos satisfaçam-se plenamente. É a manifestação da moral, caracterizada por um conjunto de deveres e interdições, e através da Educação, pela pro- dução da imagem do “eu ideal”. O “ego” ou o “eu” é a consciência, que repre- senta uma pequena parte da vida psíquica. Submete-se ao “princípio da realidade”: os desejos do id, as exigências do superego e os perigos do mundo exterior. Por isso, a angústia passa a ser a forma fundamental de existência para o ego, ou seja, se nos submetemos ao id, tornamo- nos imorais e destrutivos; se nos submetemos ao supere- go, viveremos numa insatisfação permanente; se não nos submetemos à realidade do mundo, seremos destruídos por ele. É aí que entra o ego, na tentativa de encontrar caminhos para essa angústia existencial. O inconsciente jamais se manifestará, direta- mente, à consciência. Porém, a sua maneira de manifesta- ção acontece através das imagens, que são representações analógicas dos objetos e dos desejos, e que formam o imaginário psíquico. Além dos substitutos reais (chupeta, dedo, tinta, argila, escultura etc.), o inconsciente oferece outros, como: os sonhos, os lapsos e os atos falhos. Para a Psicopedagogia, só é possível analisar o sujeito do conhecimento tendo como matriz os regis- tros psíquicos do sistema inconsciente-consciente: de um lado o sujeito é regido por um sistema simbólico, por outro apresenta um sistema consciente, lógico, intelecti- vo regido pelo princípio da realidade. Para compreender, portanto, como o conhecimento se constrói, devemos relacionar o princípio do prazer ao princípio da realidade. Por esse motivo, a dimensão do desejo do ser 53 cognoscente (sujeito do conhecimento) deve ser conside- rada como constituinte fundamental no processo de cons- trução do conhecimento, uma vez que o sujeito é determi- nado por um saber inconsciente, que se delineia a partir do verdadeiro desejo. Nesse contexto, cabe conhecermos a história do sujeito aprendente, o qual dá sentido a suas novas experiências, a partir de sua vivência com o passado. A experiência, qualquer que seja o tipo, desen- cadeia um processo cognitivo que conduz à construção de outros conhecimentos. De acordo com Paín, (1987, p.64): “não há sujeito que se sustente no pensamento sem aproposta de uma objetividade que o excede”. Ou seja, em toda elaboração do pensamento as operações in- conscientes estão presentes. O pensamento, então, não se pode articular, objetivamente, sem revelar a intersubjeti- vidade do sujeito. Chega-se, portanto, à conclusão de que a estru- tura inconsciente tem por função a criação de um senti- do, que se encontra à margem da significação lógica. O processo de aprendizagem encontra-se em conformidade com o nível de organização interna de cada sujeito, alcan- çado no seu acesso ao simbólico. Para aprender é preciso colocar-se no lugar do não conhecimento, do não saber, que significa a incompletude do ser. O conhecimento como fonte inesgotável do saber apresenta-se ao sujeito cognoscente, como um eterno processo, que se constitui ao longo da trajetória humana e que jamais se esgotará. Quando a escola apresenta uma pedagogia en- cerrada em si mesma, voltada para as respostas prontas, contribui dessa maneira para a morte do desejo. Ficam aqui estas indagações: Que conhecimentos buscar, se a 54 escola apresenta uma resposta pronta para as tarefas? Será a falta de compromisso com o ensino real, o motivo de tanta evasão, de muita indisciplina? O que motiva o aluno a construir sua aprendizagem? ModALidAde de APrendizAgeM 2.5 Podemos considerar a modalida- de de aprendizagem como um dos pontos sobre os quais recai a atua- ção psicopedagógica. Abarca o vínculo que estabelece- mos com o objeto do conhecimento, a história de nossa aprendizagem, a maneira de articulação dos saberes den- tro do grupo familiar. Herdamos, geneticamente, estruturas biológi- cas e fisiológicas e estruturas nervosas, que dependem de troca com meio ambiente para sua maturação. As estruturas cognitivas são construídas na interação com o meio, num processo de estruturação contínua. Essa construção tem início com os primeiros esquemas mo- tores, visuais, táteis, auditivos. Iniciando no ato reflexo de sucção e de outras experiências reflexas, a inteligência passa de um proces- so de organização até chegar ao pensamento formal do adulto, pensamento este que permite a formulação de hipóteses e sua testagem a nível abstrato. Segundo Fer- nandez (1991), nós apresentamos uma maneira única, pessoal de nos apropriarmos do conhecimento. Por isso, cada ser traz consigo, de um modo particular, uma “mo- dalidade de aprendizagem”. O significado de modalidade de aprendizagem 55 gira em torno do esquema de operar que utilizamos em diferentes situações de aprendizagem. Ainda, segundo Fernandez (1991, p. 108): Diferenciamos modalidade de aprendizagem de modalidade de inteligência. A aprendizagem é um processo em que intervém a inteligência, o corpo, o organismo, articulados em um determinado equi- líbrio; mas a estrutura intelectual tende também a um equilíbrio para estruturar a realidade e sistema- tizá-la através de dois movimentos que Piaget defi- niu como invariantes: assimilação e acomodação. De acordo com a teoria piagetiana, a inteligência é uma das formas de adaptação biológica, uma criação contínua de formas cada vez mais complexas e equilíbrio progressivo entre essas formas e o meio. No processo de adaptação, que é um equilíbrio progressivo entre a assi- milação e acomodação, ocorre a interação organismo e meio, em que o organismo modifica-se em função dessa interação. O pensamento organiza-se através da adapta- ção às coisas e à medida que se organiza. Piaget define momentos de assimilação e de acomodação no operar intelectual. Concebe assimilação como a filtragem do estímulo, apreensão ou incorpora- ção de um novo conceito ou experiência, em um conjun- to de esquemas já existentes (estruturas mentais com que os indivíduos intelectualmente adaptam-se e organizam o ambiente. É um conjunto de processos dentro do nosso sistema nervoso), através da própria atividade do sujeito. 56 Por exemplo, o bebê assimila o bico da mamadeira a seu esquema de sucção. Define acomodação como o proces- so pelo qual as crianças modificam suas ações, a fim de manejarem novos objetos e situações. Faz com que os esquemas de assimilação sejam modificados quando têm que reagir a novos objetos ou situações. Se o processo ocorre sem problemas, em con- formidade com o processo de equilibração – considerado como processo ativo pelo qual uma pessoa reage a distúr- bios ocorridos, em sua maneira comum de pensar, atra- vés de um sistema de compensações, isso resulta em nova compreensão e satisfação, ou seja, em equilíbrio. Nesse processo, podemos estabelecer correlações sobre a mo- dalidade de aprendizagem com determinadas patologias. Podemos encontrar pessoas que agem, cognitivamente, de um modo hiperassimilativo e outras hiperacomodati- vamente. Sara Paín (apud. Fernández, 1991 p.109) é quem classificou as modalidades de aprendizagem no operar patológico do sujeito: • “Hipoassimilação/ hiperacomodação: a primeira carac- teriza uma pobreza de contato com o objeto que redunda em déficit lúdico e criativo. A segunda, pobreza de conta- to com a subjetividade, superestimulação da imitação, fal- ta de iniciativa, obediência passiva às normas, submissão. • Hipoacomodação/hiperassimilação: a primeira revela pobreza de contato com o objeto, dificuldade na interna- lização de imagens, a criança sofreu a falta de estimulação ou o abandono. A segunda consiste no predomínio da subjetivação, desrealização do pensamento, dificuldade para resignar-se. Em síntese, o sujeito para aprender incorpora o 57 objeto às estruturas cognitivas (assimila-os), acomoda re- lativamente aos conceitos e pré-requisitos, adaptando a uma nova experiência de aprendizagem. Os efeitos dos estímulos provocam modificações, que adaptam o indiví- duo às condições predominantes. Sugestão para complementação de estudo Texto: “A modalidade de aprendizagem tem uma fonte somática.” 1. (Esquema extraído do livro: “A Mulher escondida na profes- sora”, da autora e psicopedagoga argentina Alicia Fernández). Neste quadro, a autora associa significantes sur- gidos desde a fonte somática – processos de alimentação (lugar onde a psique encontra o material para fabricar as significações inconscientes) – com o aprender. Fonte somática Alimentação Fome. Prazer de alimen- tar-se. Registro de falta de comida Inicialmente a comida é possuída por outro; é escolhida e deve ser outorgada por outro. Para que o leite seja assi- milado e possa ser usado pelo organismo do bebê, é necessário que este seja ativo e o transfor- me, incorporando-lhe Significação inconsciente Aprender Desejo de conhecer. Função positiva da igno- rância. Inicialmente, o conhe- cimento é possuído por outro; é eleito e ensina- do por outro. Para que o conheci- mento seja assimilado e possa ser usado pelo sujeito cognoscente (do conhecimento), é neces- sário que este seja 58 seus próprios líquidos corporais e eliminando parte do alimento incor- porado junto com parte de seus líquidos. O organismo humano faz a digestão. A mãe sente prazer em amamentar e o filho recebe, junto com o leite materno, o amor e o prazer que isto propor- ciona à mãe. O organismo humano faz a digestão, mas o corpo (organismo trans- versalizado pela inteli- gência e pelo desejo) O corpo, transversalizado pela inteligência e pelo desejo, alimenta-se e aprende, passando a repre- sentar o cenário onde se mostrará a história do alimentar-se, do aprender e do ensinar do sujeito. ativo e o transforme, incorporando-lhe seu saber. A partir da utili- zação do “juízo crítico” e da capacidade expul- sante, poderá descartar os “restos” da atividade pensante. A inteligência opera através da seriação e da classificação. O ensinante sente prazer ao ensinar e o aprenden- te recebe o conhecimen- to atravessado pelo dese- jo de conhecer e pelo prazer do ensinante. O aprendente é também participante do prazer de ensinar, que sente seu professor aoperceber que ele aprende. A inteligência tem dispo- níveis suas operações, mas o corpo, através do sintoma na aprendiza- gem (a inteligência e a 59 pode dar os alicerces para a construção de um sintoma na alimen- tação, como a bulimia, para gritar às escondidas a culpa por guardar; e como a anorexia, para denunciar o não - direito a incorporar. Quando a fome, o dese- jo de comer e o orga- nismo estão presentes e sadios, mas a estru- tura econômico-social cerceia a possibilidade de alimentar-se adequa- damente, já não falamos de anorexia, mas de desnutrição. No plano dos processos de alimentação seria muito difícil confundir uma desnutrição com uma anorexia, e responsabilizar o desnutrido por não se alimentar. No cenário do ensino-aprendizagem, lamentavelmente, realiza-se uma confusão similar quando se considera o fracasso escolar como problema de aprendizagem, res- ponsabilizando o aluno por sua “não – aprendizagem”. corporeidade aprisiona- das), pode representar a permissão não-outorga- da e a não-autorização do sujeito aprendente para recordar, man- ter, desfrutar e usar o conhecido, ou pode re- presentar frustradamen- te, através da inibição cognitiva, o direito a não conhecer. Quando a pulsão epis- temofílica, o desejo de conhecer e a inteligência estão presentes e sadios, mas a estrutura socio- educativa (através dos ensinantes) cerceia a possibilidade de apren- der adequadamente; já não falamos de proble- mas de aprendizagem, mas de fracasso escolar. 60 2. Livro: “A Mulher Escondida na Professora”. FERNÁNDEZ, Alicia: Artes Médicas, 1994 3. Livro: ”A inteligência aprisionada”. FERNÁNDEZ, Alicia. 2ª reedição: Artes Médicas, 1991 4. Filme: “Gênio Indomável” Resumo: Um garoto dotado de grande inteligência, mas que vive se metendo em encrenca. Sem família e com pouca educação formal, devora livros, mas guarda tudo que aprende para si e procura empregos que dispensam qualificação. Um professor do MIT descobre que Will é um gênio e quer o garoto em sua equipe de matemática, mas como Will tem problemas com a polícia, é preciso fazer um acordo com a justiça. São impostas duas condi- ções: ele tem que trabalhar com o professor e fazer tera- pia. Sean McGuire (Robin Willians) é o terapeuta chama- do para domar o difícil temperamento do rapaz. Ambos são igualmente teimosos, mas surge uma amizade que convence Will a encarar seu passado e seu futuro. 5. Filme: “Pro dia nascer feliz” Resumo: Documentário sobre as diferentes situações que adolescentes de 14 a 17 anos, ricos e pobres, enfrentam dentro da escola: a precariedade, o preconceito, a violên- cia e a esperança. Foram ouvidos alunos de escolas da periferia de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco e, também, de dois renomados colégios particulares, um de São Paulo e outro do Rio de Janeiro. 6. Filme: “O Nome da Rosa” Resumo: Adaptação do livro de Umberto Eco. Sean Con- 61 nery faz o Sherlock Holmes dos monges, tentando solu- cionar uma série de assassinatos ocorridos num mosteiro do século XIV. 62 1. Faça a análise de cada segmento textual dado a seguir. “Sei que não sou meu comportamento. Posso mudar todo comportamento que sei que me é prejudicial porque conservo sempre minha parte boa, à qual posso recorrer. Quanto mais vemos o que há de bom em nós, mais vemos o que há de bom nos demais. O que vejo na mente é o que consigo na vida”.(Dr. Spencer Johnson –“O professor minuto”) A partir dessas ideias, estabeleça um paralelo (um quadro comparativo) entre o comportamento do psicopedagogo na institui- ção escolar e o comportamento do professor. 2. Você está de acordo com as assertivas a se- guir, dadas por Feurstein? Apresente uma jus- tificativa para cada uma. a. O ser humano é modificável. b. Eu sou capaz de produzir modificações no indivíduo. c. Eu próprio devo modificar-me. d. Toda a sociedade e toda a opinião pública são modificáveis e podem ser modificadas. 3. Dentre as funções psicológicas envolvidas no ato de aprender – memória, atenção, per- cepção, pensamento e imaginação –, esta últi- ma é a menos lembrada no processo educacio- ATividAdes A 63 nal. Cabe à escola desenvolvê-la por meio de experiências proporcionadas ao aluno. Como os professores podem desen- volver o pensamento criador de seus alunos? Elabore atividades em que isso seja possível. 4. Trabalhar a imaginação, em qualquer nível de ensino, desenvolve processos de pensamen- to e instrumentos mentais, que dão autonomia e maiores recursos para a criança e o adoles- cente lidarem com os problemas da vida coti- diana. Você está de acordo com o supracitado? Dê sua opinião.
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