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Enferm. Foco 2019; 10 (3): 119-125 ARTIGO 20 DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM MAIS PREVALENTES EM GESTANTES DE ALTO RISCO Priscila Alvarenga Teles1, Elisiany Mello Costa, Marislei Sanches Panobianco, Thais de Oliveira Gozzo, Tatiana da Silva Vaz Paterra, Larissa Clara Nunes 1Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP/RP. Autor correspondente: Priscila Alvarenga Teles. E-mail: priscila.alvarenga@live.com Objetivo: identificar os diagnósticos de enfermagem em um centro de referência de gestação de alto risco. Metodologia: estudo descritivo e retrospectivo com coleta de informações em 200 prontuários de gestantes atendidas entre 2014 e 2015 em um centro de referência secundária. Foi aplicado um instrumento de coleta buscando dados demográficos, motivos de encaminhamento e diagnósticos de enfermagem. Resultados: os diagnósticos mais prevalentes foram: conforto prejudicado (60%), risco de infecção (36%) e manutenção ineficaz da saúde (29,5%). Ressalta-se o grande número de gestantes sem um companheiro (48,5%). As condições que mais motivaram encaminhamento foram o histórico e a apresentação atual das Síndromes Hipertensivas da Gestação (19%). Conclusão: estes dados podem direcionar a implementação da Sistematização de Assistência de Enfermagem, visando uma assistência de enfermagem mais eficiente e eficaz, interferindo de forma positiva no desfecho da gestação de alto risco. Descritores: Gravidez de Alto Risco; Cuidados de Enfermagem; Diagnóstico de Enfermagem. THE MOST PREVALENT NURSING DIAGNOSIS IN HIGH RISK PREGNANT WOMEN Objective: to identify the nursing diagnoses in a high risk pregnancy reference center. Methodology: descriptive retrospective study with collecting information through 200 medical records of patients treated in the period between 2014 and 2015 in a high risk pregnancy reference center. A data collection instrument was used, seeking demographic information, referral reasons and nursing diagnoses. Results: The most prevalent diagnoses found are impaired comfort (60%), risk for infection (36%) and ineffective self-health management (29,5%). Note the large number of pregnant women without a partner (48,5%). The most referrals reasons were motivated by historical and current presentation of pregnancy hypertensive syndromes (19%). Conclusion: this data can direct the implementation of Nursing Care Systematization, for a more efficient and effective nursing care interfering positively in the outcome of the high risk pregnancy. Descriptors: High-Risk Pregnancy; Nursing Care; Nursing Diagnosis. DIAGNÓSTICOS DE ENFERMERÍA MÁS PREVALENTES EN GESTANTES DE ALTO RIESGO Objetivo: identificar los diagnósticos de enfermería en un centro de referencia de gestación de alto riesgo. Metodologia: estudio descriptivo y retrospectivo con recolección de informaciones en 200 prontuarios de gestantes atendidas entre 2014 y 2015 en un centro de referencia secundaria. Se aplicó un instrumento de recolección buscando datos demográficos, motivos de encaminamiento y diagnósticos de enfermería. Resultados: los diagnósticos más prevalentes fueron: comodidad perjudicada (60%), riesgo de infección (36%) y mantenimiento ineficaz de la salud (29,5%). Se resalta el gran número de gestantes sin un compañero (48,5%). Las condiciones que más motivaron encaminamiento fueron el histórico y la presentación actual de los Síndromes Hipertensivos de la Gestación (19%). Conclusión: estos datos pueden direccionar la implementación de la Sistematización de Asistencia de Enfermería, buscando una asistencia de enfermería más eficiente y eficaz, interfiriendo de forma positiva en el desenlace de la gestación de alto riesgo. Descriptores: Embarazo de Alto Riesgo; Atención de Enfermería; Diagnóstico de Enfermería. 119 120 Enferm. Foco 2019; 10 (3): 119-125 DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM MAIS PREVALENTES EM GESTANTES DE ALTO RISCO Priscila Alvarenga Teles, Elisiany Mello Costa, Marislei Sanches Panobianco, Thais de Oliveira Gozzo, Tatiana da Silva Vaz Paterra, Larissa Clara NunesARTIGO 20 INTRODUÇÃO A Organização Mundial da Saúde (OMS) (1) estimou a ocor- rência de 303 mil óbitos maternos no mundo em 2015. Para cada óbito ocorrido, estima-se que de 20 a 30 mulheres ma- nifestam alguma morbidade materna (2). Todavia, a assistência qualificada voltada a essas mulhe- res, principalmente à assistência pré-natal, pode alterar os prognósticos tanto para a mãe quanto para o feto, contri- buindo para que haja maior número de desfechos favoráveis (3). Dentro deste contexto encontra-se a assistência voltada para a gestação de alto risco. A gestação de alto risco pode ser classificada quando é identificado patologia e/ou problemas na saúde da mãe du- rante o ciclo gravídico ou o agravamento de uma condição pré-existente, que ameaça tanto a saúde materna quanto do feto. Podem ser de caráter patológico (diabete mellitus, hi- pertensão arterial, hemorragias, entre outras), ou encontrado no campo psicossocial (imaturidade psicológica, conflitos fa- miliares, entre outros) (4, 5, 6). O Ministério da Saúde classifica os fatores de risco como: características individuais e condições sociodemográficas adversas, história reprodutiva antecedente à gestação atual, condições clínicas prévias, e ainda há aqueles fatores que po- dem ocorrer durante a gestação como: exposição imprópria ou de forma acidental a fatores teratogênicos, doença obs- tétrica na gestação atual e intercorrências clínicas. De modo geral, essas mulheres são atendidas inicialmente no nível pri- mário e quando um ou mais riscos são identificados, elas são posteriormente referenciadas para níveis mais complexos de atenção à saúde (4). Mulheres com alterações como cardiopatias, síndromes hemorrágicas, doenças autoimunes e psiquiátricas, ou rela- cionadas ao feto como restrição de crescimento intrauterino, exigem níveis de cuidados diferenciados sendo encaminhadas para níveis secundários ou terciários, que contêm equipa- mentos mais específicos e equipes multidisciplinares consti- tuídas por profissionais especialistas de diversas áreas (7). Nesta área, o enfermeiro, utilizando da sua capacidade e qualificação, tem ocupado espaço de ação, aplicando seu co- nhecimento em uma assistência com planos e ideias que pos- sam colaborar com o pré-natal dessa gestante. Nesse senti- do, estudos comprovam que a consulta de enfermagem tem sido de suma importância, pois pode garantir uma melhoria na qualidade da assistência no pré-natal, por meio de ações de prevenção e de promoção de saúde da gestante, demons- trando assim a competência técnica e humanística do profis- sional enfermeiro (8, 9). A resolução do Conselho Federal de Enfermagem (CO- FEN) nº 358/2009 dispõe sobre a necessidade da aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) por viabilizar a operacionalização do processo de enfermagem, fornecendo uma assistência de forma ordenada e com qua- lidade, contribuindo ainda para que o cuidado oferecido pela classe de enfermagem seja organizado e conferindo a este profissional uma maior independência em suas atividades, re- velando assim a importância de sua implantação em todos os ambientes em que os enfermeiros estão inseridos (10-12). Gestantes de alto risco são um grupo com necessidades peculiares e possuem vários diagnósticos de enfermagem em comum, mostrando assim a importância da identificação deles para que rapidamente sejam selecionadas interven- ções que garantam uma assistência de qualidade, que previna complicações e promova a saúde materno-fetal (13). Este trabalho se justifica diante da escassez de estudos existentes sobre a ocorrência de diagnósticos de enferma- gem em gestantes de alto risco mesmo sendo uma temática importante, e ainda porque muitos destes trabalhos se vol- tam em um único diagnóstico. Propõe-se assim este estudo que tem como objetivo iden- tificar os diagnósticos de enfermagem em gestantes de alto risco atendidas em um Centro Viva Vida de Referência Secun- dária(CVVRS) de Minas Gerais. METODOLOGIA Tipo de estudo Trata-se de um estudo descritivo e retrospectivo com a uti- lização de dados secundários coletados dos prontuários de gestantes de alto risco que realizaram o pré-natal em um ser- viço de Referência Secundária. Participantes da pesquisa A partir de uma estimativa de 200 casos novos/ano aten- didos neste serviço, realizou-se o cálculo amostral obtendo um n mínimo de 197 para este estudo (14), acrescentando-se 10% de prontuários em decorrência de possíveis perdas. Por fim, incluíram-se 200 gestantes de alto risco por amostragem aleatória simples após análise dos critérios de inclusão, sen- do eles: realização de pelo menos três consultas pré-natais no serviço e prontuários devidamente preenchidos, inclusive com resultados de exames; e os critérios de exclusão: prontu- ários não localizados e mulheres com gestação em curso no momento da coleta dos dados. Local do estudo Estudo realizado em um serviço de Referência Secundária de um município do estado de Minas Gerais. Coleta de dados A coleta ocorreu no período de janeiro de 2014 a dezem- 121Enferm. Foco 2019; 10 (3): 119-125 DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM MAIS PREVALENTES EM GESTANTES DE ALTO RISCO Priscila Alvarenga Teles, Elisiany Mello Costa, Marislei Sanches Panobianco, Thais de Oliveira Gozzo, Tatiana da Silva Vaz Paterra, Larissa Clara Nunes ARTIGO 20 bro de 2015. Foi aplicado um instrumento para obtenção dos dados baseado nas informações de uma equipe multiprofis- sional contidas nos prontuários, sendo divido em: dados de- mográficos, motivo do encaminhamento e outros dados que auxiliaram na classificação dos diagnósticos de enfermagem – problemas evidenciados no exame físico, alterações de exa- mes subsidiários, características psicossociais, problemas evidenciados na entrevista e observações pertinentes – visto que os diagnósticos não estavam discriminados nos prontu- ários. Todas as informações foram organizadas em um banco de dados desenvolvido no Microsoft Excel for Windows® 2013. Procedimento de análise dos dados Para análise dos dados, as frequências absolutas e rela- tivas de todas as variáveis foram calculadas. Além disso, a formulação dos diagnósticos de enfermagem foi realizada segundo a Taxonomia II da North American Nursing Diagno- sis Association – NANDA (2015-2017), que é reconhecida de modo oficial e amplamente divulgada no Brasil, a qual padro- niza a linguagem e auxilia na escolha de uma intervenção de enfermagem de forma individual, direcionando na avaliação do cuidado. Ela exige que seja feita uma coleta de dados que aborde vários aspectos e de forma completa, garantindo a melhoria nesta etapa, que influencia grandemente na desen- voltura das demais (15-17). Para que os diagnósticos de enfermagem fossem os mais precisos possíveis, após a coleta de dados e a classificação dos diagnósticos pela autora, os dados foram submetidos a análise de duas enfermeiras obstetras. Desta forma, após o consenso e confirmação dos diagnósticos de enfermagem pelas especialistas, tais diagnósticos foram incluídos. Procedimentos éticos O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição sob o número CAAE: 42019515.7.0000.5116, e parecer nº 968.868. RESULTADOS Os dados demográficos das gestantes de alto risco sele- cionadas estão descritos na Tabela 1: Tabela 1: Perfil demográfico das gestantes atendidas no CV- VRS entre 2014 e 2015 VARIÁVEL n % IDADE Entre 15 e 35 anos 165 82,5 Maiores que 35 anos 24 12 Menores que 15 anos 11 5,5 SITUAÇÃO CONJUGAL Com companheiro 103 51,5 Sem companheiro 97 48,5 ANOS DE ESCOLARIDADE Sem informação 126 68 Até 8 35 17,5 9 a 11 27 13,5 Mais que 11 2 1 OCUPAÇÃO Sem informação 122 61 Estudantes 38 19 Profissionais diversas 20 10 Do lar 14 7 Sem ocupação 6 3 Fonte: Banco de dados da autora Quanto aos motivos de encaminhamento identificados no prontuário e classificados conforme o manual técnico do Mi- nistério da Saúde sobre Gestação de Alto Risco (4), destacam- -se o histórico e a apresentação atual das Síndromes Hiper- tensivas da Gestação (SHG) que totalizaram 19% dos motivos de encaminhamento ao CVVRS (Tabela 2). Vale ressaltar que os casos encaminhados por proble- mas exclusivamente fetais, como alterações no crescimen- to uterino e volume de líquido amniótico, malformação fetal e gemelaridade, totalizaram 6% dos prontuários analisados, mostrando que problemas primariamente maternos foram predominantes (Tabela 2). Tabela 2: Motivo de encaminhamento das gestantes de alto risco atendidas no CVVRS entre 2014 e 2015 MOTIVO DE ENCAMINHAMENTO n % Características individuais e condi- ções sociodemográficas desfavorá- veis Idade maior que 35 anos 24 12 Idade menor que 15 anos 11 5,5 Adolescente com risco psicossocial 9 4,5 Baixa escolaridade 8 4 Conflitos familiares 6 3 Dependência de drogas ilícitas 5 2,5 Peso pré-gestacional menor que 45kg e maior que 75kg 5 2,5 Hábito de vida – Fumo 3 1,5 Anormalidades estruturais nos ór- gãos reprodutivos 1 0,5 História reprodutiva anterior Histórico de aborto 12 6 Síndrome hipertensiva 10 5 Parto pré-termo anterior 4 2 122 Enferm. Foco 2019; 10 (3): 119-125 DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM MAIS PREVALENTES EM GESTANTES DE ALTO RISCO Priscila Alvarenga Teles, Elisiany Mello Costa, Marislei Sanches Panobianco, Thais de Oliveira Gozzo, Tatiana da Silva Vaz Paterra, Larissa Clara NunesARTIGO 20 Morte perinatal inexplicada 2 1 Doença obstétrica na gravidez atual HAS gestacional 20 10 Diabetes gestacional 7 3,5 Hemorragias da gestação 6 3 Desvio quanto ao crescimento uteri- no e volume de líquido amniótico 5 2,5 Trabalho de parto prematuro 5 2,5 Ganho ponderal inadequado 4 2 Gemelaridade 4 2 Aloimunização 3 1,5 Malformação fetal 3 1,5 Insuficiência istmo-cervical 2 1 Condições clínicas preexistentes HAS 8 4 Doenças Psiquiátricas 3 1,5 Endocrinopatias 3 1,5 Alterações genéticas maternas 2 1 Cardiopatias 2 1 Epilepsia 2 1 Intercorrências Clínicas Doenças infectocontagiosas vividas durante a presente gestação ITU* persistente 5 2,5 Sífilis 4 2 HPV** 3 1,5 Toxoplasmose 3 1,5 Pielonefrite 2 1 Hepatite B 1 0,5 Doenças clínicas diagnosticadas pela primeira vez nessa gestação 3 1,5 Legenda: ITU – Infecções do Trato Urinário; HPV – Human Papiloma Virus. Fonte: Banco de dados da autora Na tabela 3 está listado os 39 diagnósticos de enfermagem identificados nas gestantes de alto risco do CVVRS. Conside- rando os que tiveram frequência maior que 25%, temos con- forto prejudicado, seguido de risco de infecção, manutenção ineficaz da saúde e dor aguda. Vale ressaltar também os diagnósticos de enfermagem relacionados à nutrição inade- quada a mais do que o necessário, os quais totalizaram 56% (sobrepeso e obesidade). Tabela 3: Diagnósticos de enfermagem em gestantes de alto risco atendidas no CVVRS entre 2014 e 2015 de acordo com a NANDA 2015-2017 DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM n % PROMOÇÃO DA SAÚDE Manutenção ineficaz da saúde 59 29,5 Comportamento de saúde propen- so à risco 32 16 Estilo de vida sedentário 16 8 Falta de adesão 15 7,5 NUTRIÇÃO Sobrepeso 31 15,5 Obesidade 25 12,5 Nutrição desequilibrada: menos do que as necessidades corporais 17 8,5 Risco de glicemia instável 16 8 Risco de desequilíbrio eletrolítico 8 4 Risco de função hepática prejudi- cada 1 0,5 ELIMINAÇÃO E TROCA Eliminação urinária prejudicada 37 18,5 Risco de constipação 9 4,5 Constipação 5 2,5 ATIVIDADE/REPOUSO Risco de função cardiovascular prejudicada 31 15,5 Insônia 5 2,5 Fadiga 5 2,5 Risco de perfusão renal ineficaz4 2 PERCEPÇÃO/COGNIÇÃO Conhecimento deficiente 14 7 AUTOPERCEPÇÃO Risco de baixa autoestima situa- cional 8 4 PAPÉIS E RELACIONAMENTOS Risco de relacionamento ineficaz 29 14,5 Risco de maternidade prejudicada 21 10,5 Processos familiares disfuncionais 17 8,5 Relacionamento ineficaz 1 0,5 SEXUALIDADE Risco de binômio mãe-feto pertur- bado 15 7,5 Risco de processo de criação de filhos ineficaz 8 4 123Enferm. Foco 2019; 10 (3): 119-125 DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM MAIS PREVALENTES EM GESTANTES DE ALTO RISCO Priscila Alvarenga Teles, Elisiany Mello Costa, Marislei Sanches Panobianco, Thais de Oliveira Gozzo, Tatiana da Silva Vaz Paterra, Larissa Clara Nunes ARTIGO 20 Padrão de sexualidade ineficaz 1 0,5 ENFRENTAMENTO/TOLERÂNCIA AO ESTRESSE Ansiedade 36 18 Resiliência prejudicada 10 5 Tristeza crônica 6 3 Sobrecarga de estresse 4 2 SEGURANÇA/PROTEÇÃO Risco de infecção 72 36 Risco de sangramento 7 3,5 Integridade de integridade da pele prejudicada 5 2,5 Risco de quedas 2 1 Risco de trauma 1 0,5 CONFORTO Conforto prejudicado 120 60 Dor aguda 53 26,5 Náusea 16 8 Fonte: Banco de dados da autora DISCUSSÃO A gestação de alto risco é determinada a partir de condi- ções clínicas preexistentes ou diagnosticadas pela primeira vez durante a gestação, além de intercorrências clínicas, po- dendo gerar uma evolução desfavorável ao binômio mãe/fi- lho(4). Este estudo identificou os diagnósticos de enfermagem mais prevalentes e analisou o perfil de 200 gestantes de alto risco acompanhadas no CVVRS. Apesar de a maioria das gestantes se encontrar em uma faixa etária ideal, chama a atenção o número referente às maiores que 35 anos. Este trabalho revelou que 12% das ges- tantes estavam nesta faixa etária; este percentual foi próximo ao encontrado em dois estudos realizados no estado de Minas Gerais (11%) e Santa Catarina (12,5%) (18, 19). O índice de gravidez tardia tem crescido em diversos paí- ses. Seu acontecimento está relacionado “aos novos padrões e conformações familiares, posicionando a mulher cada vez mais à frente das suas decisões” (19). Além disso, há provas de que nesta faixa etária as gestantes estão mais susceptíveis a eventos adversos tanto pré quanto perinatais, incluindo pre- maturidade, baixo peso ao nascer, entre outros, aumentando o risco de mortalidade materna e/ou fetal (21). Quanto à situação conjugal, a alta taxa de gestantes sol- teiras pode ser considerada um aspecto negativo, podendo influenciar aspectos sociais, econômicos e psicológicos de vida. Sabidamente, a situação conjugal instável é um risco à saúde da gestante (4), ainda que esta possa contar com outras estruturas de apoio (familiares, amigos, grupos sociais a que pertence). Chama a atenção o elevado número de gestantes com risco social: quase 50% não tinham um companheiro e, den- tro desse grupo, 20,6% estavam fora da faixa etária ideal para gravidez. Isso é particularmente preocupante quando se as- sociam os dois fatores, elevando o risco de desfechos ne- gativos tanto para a mãe quanto para o feto. Ainda sobre os fatores sociais, também foi constatado que 76,8% das adoles- centes eram solteiras e 12% das gestantes tinham adicção a algum tipo de droga (lícita ou ilícita). Além disso, 23% do total das gestantes alegaram gestação sem planejamento. Prova- velmente este último dado está subestimado pelo não regis- tro desta informação em todos os prontuários, já que a taxa de gestação não planejada no mundo é de 41% (22). Quanto aos motivos de encaminhamento listados, den- tre eles destacam-se as Síndromes Hipertensivas Gestacio- nais (SHG): Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) gestacional (10%), histórico de SHG (5%) e HAS preexistente (4%), totali- zando 19% dos motivos de encaminhamento ao CVVRS. Este percentual é maior do que o encontrado na população global de gestantes que, segundo a OMS (22), é de 2 a 10%, porém se- melhante aos de outros serviços especializados em gestação de alto risco no Brasil (24). O diagnóstico conforto prejudicado foi caracterizado a partir de fatores que proporcionavam um ambiente desfavo- rável às gestantes com modificações biológicas e até mesmo psicossociais, como irritabilidade, ansiedade e relato de des- conforto. Risco de infecção associou-se principalmente ao conhe- cimento insuficiente destas gestantes para evitar a exposição a patógenos, como por exemplo, calendário vacinal incom- pleto e desconhecimento de profilaxia contra rubéola e toxo- plasmose. Manutenção ineficaz da saúde é definida como a incapa- cidade para procurar ajuda afim de se manter a saúde (15). No presente trabalho, isso se manifestou principalmente através do desconhecimento das gestantes em relação às boas práti- cas de saúde. Dor aguda foi manifesta pelas gestantes por meio de ex- pressões verbais, além de inquietação e choro, e aqui foi ado- tado a classificação da NANDA a qual considera dor aguda com duração menor que seis meses. Quanto aos diagnósticos de enfermagem relacionados à nutrição inadequada a mais do que o necessário, foi obser- vado por meio do Índice de Massa Corporal (IMC) que 56% das gestantes apresentavam peso corporal acima do ideal para a faixa etária, caracterizando sobrepeso ou obesidade. 124 Enferm. Foco 2019; 10 (3): 119-125 DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM MAIS PREVALENTES EM GESTANTES DE ALTO RISCO Priscila Alvarenga Teles, Elisiany Mello Costa, Marislei Sanches Panobianco, Thais de Oliveira Gozzo, Tatiana da Silva Vaz Paterra, Larissa Clara NunesARTIGO 20 Destaca-se que estes são agravos crescentes às gestantes, sendo três vezes mais prevalente do que a nutrição desequi- librada por menor ingesta do que as necessidades corporais. Considerando os diagnósticos sobrepeso e obesidade juntos, um estudo (13) encontrou percentual semelhante de nutrição inadequada por maior ingesta do que o necessário (33,8%) e um percentual maior de gestantes com nutrição prejudicada por ingestão menor que as necessidades (18%). Os três diagnósticos mais frequentes encontrados pelo presente trabalho foram os mesmos encontrados por um es- tudo realizado em São Paulo (12), porém não na mesma ordem e também com diferentes prevalências, que podem ser expli- cadas pelos fatores que são considerados em cada diagnósti- co. Frente a esta gama variada de diagnósticos de enferma- gem presentes entre as gestantes de alto risco, faz-se neces- sário uma melhor instrumentalização da equipe assistencial, afim de que esteja atenta a essas condições e intervenha prontamente com o propósito de diminuir riscos e, conse- quentemente, desfechos negativos para essas gestantes e seus conceptos. Limitações do estudo O estudo possui limitações no sentido de que dados se- cundários podem se apresentar incompletos, dificultando a classificação de certos diagnósticos. Além disso, até o pre- sente e de nosso conhecimento, foi identificado somente um artigo (12) que possibilitou a comparação dos diagnósticos en- contrados neste estudo. Contribuições do estudo para a prática Este estudo contribui para que a SAE possa ser implanta- da em serviços de saúde que atendam gestantes de alto risco, utilizando-se dos diagnósticos de enfermagem mais prevalen- tes encontrados, os quais também auxiliarão nas respectivas intervenções de enfermagem. Além disso, também contribui para o aprimoramento do cuidado prestado pela equipe de enfermagem, fornecendo subsídios para as ações direciona- das às gestantes de alto risco frente aos principais problemas encontrados. CONCLUSÃO A amostra caracterizou-se por gestantes de alto risco entre 15 a 35 anos. Quase a metade não possuía um compa- nheiro. O motivo de encaminhamento de maior frequência foi o relacionado às SHG. Os principais diagnósticos de enfer- magem classificados foram: conforto prejudicado seguido de risco de infecção, manutenção ineficaz da saúde e dor agu- da. Éimportante que os profissionais da enfermagem tenham uma visão integralizada das principais necessidades da ges- tante de alto risco, o que contribui para a melhora da assis- tência prestada a esta mulher. Contribuições dos autores Concepção e desenho, análise e interpretação dos dados, redação do artigo, revisão crítica, revisão final: Priscila Alva- renga Teles; Elisiany Mello Costa. Revisão crítica, revisão final: Marislei Sanches Panobianco; Thais de Oliveira Gozzo; Tatiana da Silva Vaz Paterra; Larissa Clara Nunes. Agradecimentos Ao Centro Universitário de Lavras (UNILAVRAS) pelo auxí- lio financeiro que possibilitou a realização deste trabalho. 125Enferm. Foco 2019; 10 (3): 119-125 DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM MAIS PREVALENTES EM GESTANTES DE ALTO RISCO Priscila Alvarenga Teles, Elisiany Mello Costa, Marislei Sanches Panobianco, Thais de Oliveira Gozzo, Tatiana da Silva Vaz Paterra, Larissa Clara Nunes ARTIGO 20 REFERÊNCIAS 1. World Health Organization. Trends in maternal mortality: 1990 to 2015 [Internet]. Geneva: World Health Organization, 2015 [ci- ted 2018 Jan 18]. Available from: https://apps.who.int/iris/bits- tream/handle/10665/194254/9789241565141_eng.pdf;jsessio- nid=FEC6E5B15D9A789E233F05D038A5C324?sequence=1 2. Vanderkruik RC, Tunçalp O, Chou D, Say L. Framing maternal morbidity: WHO scoping exercise. BMC Pregnancy Childbir- th [Internet]. 2013 [cited 2017 Dec 30]; 13:213. Available from: https://bmcpregnancychildbirth.biomedcentral.com/arti- cles/10.1186/1471-2393-13-213 3. Moura BLA, Alencar GP, Silva ZP, Almeida MF. 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