Buscar

Do Sintoma à Síndrome - Capítulo 27 Dalgalarrondo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

Capítulo 27 
Do Sintoma à Síndrome 
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.
TRANSFUNDO OU ANCORAGEM DAS VIVÊNCIAS PSICOPATOLÓGICAS E SINTOMAS EMERGENTES. 
O psicopatólogo alemão Hans Jörg Weitbrecht (1909-1975) ordena as vivências psicopatológicas em duas perspectivas fundamentais. Se definem em transfundos das vivências psicopatológicas que seria um contexto mais geral, e nos sintomas específicos, que se desenvolvem de forma única e delimitável a partir dos transfundos. Os transfundos são responsáveis pelo sentido que os sintomas vão ter, eles possuem uma correlação constante entre suas variáveis, que pode ser comparada ao conceito da relação entre figura e fundo. 
Os tipos de transfundos definem-se em: Os Transfundos Estáveis são representados pela personalidade e a inteligência. Ou seja, a personalidade irá influenciar na forma como se apresentam a alucinação, delírio, o afeto, entre outras experiências, onde isso vai ser diferente de acordo com cada sujeito. Pacientes passivos tendem a vivenciar os sintomas de modo também passivo e pessoas mais reativas, tendem a vivenciar os sintomas de forma intensa. A inteligência determina os contornos, a profundidade e a riqueza de todos os sintomas psicopatológicos. Pacientes muito inteligentes apresentam conteúdos muito ricos em detalhes, complexos e acabados. Já pacientes com inteligência reduzida criam quadros psicopatológicos com menos detalhes.
	Os transfundos mutáveis e momentâneos são representados pelo nível de consciência e atenção e pelo humor e estado afetivo de fundo. São responsáveis pela qualidade e sentido do conjunto das vivências psicopatológicas. O nível de consciência e a atenção estabelecem a clareza dos sintomas emergentes. Se o sujeito estiver em um estado de turvação da consciência, por exemplo, a sua vivência psicopatológica será menos clara e até confusa. O humor e o estado afetivo de fundo influenciam no desencadeamento de sintomas, no colorido e no brilho específico do sintoma. Em um estado depressivo grave, a vivência psicopatológica passa ser muito importância enorme para o sujeito.
Os chamados sintomas emergentes são todas as vivências psicopatológicas mais destacadas e individuais que o paciente vive. Eles têm um caráter mais preciso, como uma alucinação (sensopercepção), um sentimento determinado (afetividade), um delírio (juízo), um pensamento obsessivo (pensamento), uma paramnésia (memória), uma alteração da linguagem ou da vontade. 
	
COMPONENTES DO SURGIMENTO, CONSTITUIÇÃO E MANIFESTAÇÃO DOS SINTOMAS E DOS TRANSTORNOS MENTAIS
A manifestação de sintomas e transtornos mentais dependem de uma série de fatores para que ocorram. Dentre eles, os Fatores Predisponentes seriam aqueles que configuram a vulnerabilidade constitucional do sujeito, abarcam a genética, experiências emocionais e condições de vida, principalmente na primeira e segunda infância. Também existem os chamados Precipitantes, que seriam o estresse, perdas, fatores atuais ou recentes, que ocorrem em proximidade temporal com o surgimento da psicopatologia. Desta forma, se considera a história de vida, fatores biológicos, psicológicos e sociais do ser humano em relação ao surgimento de sintomas, síndromes ou transtornos mentais.
 
Manifestação dos transtornos mentais: patogenia, patoplastia e psicoplastia.
O fator patogenético está mais relacionado à manifestação dos sintomas produzidos pelo transtorno mental. Ex: o humor triste, o desânimo e a inapetência relacionados à depressão, ou as alucinações auditivas e a percepção delirante relacionadas à esquizofrenia.
O fator patoplástico (patoplastia) inclui as manifestações relacionadas à personalidade pré-mórbida do paciente, à história de vida e aos padrões de sentir e se comportar relacionados à cultura de origem do indivíduo, seu meio familiar, religioso, de classe social, profissional, que lhe eram particulares desde antes de adoecer. São fatores externos e prévios ao processo patológico de base. Eles intervêm de forma marcante na constituição e na conformação dos sintomas e na exteriorização do quadro clínico. 
O fator psicoplástico relaciona-se aos eventos e às reações do indivíduo e do meio psicossocial posteriores ao adoecer. São as reações aos conflitos familiares, à desmoralização, às perdas sociais e ocupacionais associadas aos episódios e ao curso da síndrome ou do transtorno. Essas reações do meio, o padrão de interação do indivíduo adoentado e seu meio sociofamiliar contribuem para determinar o quadro clínico resultante.
A EVOLUÇÃO TEMPORAL DOS TRANSTORNOS MENTAIS A EVOLUÇÃO TEMPORAL DOS TRANSTORNOS MENTAIS 
Os cursos longitudinais dos transtornos mentais crônicos podem ser de dois tipos: processo e desenvolvimento. Processo refere-se a uma transformação lenta e insidiosa da personalidade, decorrente de alterações psicologicamente incompreensíveis, de natureza endógena. Utiliza-se o termo “processo”, por exemplo, para caracterizar a natureza de um quadro esquizofrênico de evolução insidiosa, que lenta e radicalmente transforma a personalidade do sujeito acometido.
Desenvolvimento refere-se à evolução psicologicamente compreensível de uma personalidade. Essa evolução pode ser normal, configurando os distintos traços de caráter do indivíduo, ou anormal, determinando os transtornos da personalidade e as neuroses
 Já os fenômenos agudos ou subagudos, classificam-se em: Crise, que se caracteriza por surgimento e término abruptos, com duração de segundos ou minutos, raramente horas. Utilizam-se os termos “crise” ou “ataque” para fenômenos como crises epilépticas, crises ou ataques de pânico, crises dissociativas, crises de agitação psicomotora, entre outros. 
A reação vivencial anormal caracteriza-se como um fenômeno psicologicamente compreensível, desencadeado por eventos vitais significativos para o indivíduo que os experimenta. É designada reação anormal por causa da intensidade muito marcante e duração prolongada dos sintomas. Ocorre geralmente em personalidades vulneráveis, predispostas a reagir de forma anormal a certas ocorrências da vida. Após a morte de uma pessoa próxima, a perda do emprego ou a separação conjugal, o indivíduo reage, por exemplo, apresentando um conjunto de sintomas depressivos ou ansiosos, sintomas fóbicos ou mesmo paranoides. Pode durar semanas, meses ou anos. Passada a reação vivencial, o indivíduo retorna ao que era antes, sua personalidade não sofre ruptura; pode empobrecer-se ou enriquecer-se, mas não se modifica radicalmente. 
A fase refere-se aos períodos de depressão e de mania dos transtornos afetivos (transtorno bipolar e transtorno depressivo recorrente). Passada a fase, o indivíduo retorna ao que era antes dela, sem alterações duradouras na personalidade, ou seja, não há sequelas na personalidade. Pode durar semanas ou meses, menos frequentemente anos, e há sempre (ou quase sempre) recuperação total. Fala-se, então, em fase depressiva, fase maníaca e período interfásico assintomático, eutímico. 
O surto, segundo a noção da patologia geral, é uma ocorrência aguda, que se instala de forma mais ou menos repentina, fazendo eclodir uma doença de base endógena, não compreensível psicologicamente. A característica do surto é que ele produz sequelas irreversíveis, danos à personalidade e/ou à esfera cognitiva e/ou afetiva do indivíduo. Aqui não há recuperação total, a pessoa sai diferente.
A designação episódio é mais genérica, compreende duração de dias até semanas. Tanto o termo crise como o termo episódio não especificam a natureza do fenômeno mórbido: são denominações referentes apenas ao aspecto temporal dele. Na prática, é comum utilizar-se o termo episódio de forma inespecífica, quando não há condições de precisar a natureza do fenômeno mórbido.
A personalidade pré-mórbida e os sinais pré-mórbidos são aqueles elementos identificados em períodos da vida do paciente claramente anteriores ao surgimento da síndrome ou transtorno propriamente dito, em geral na infância. Já pertencendo ao iníciodo transtorno, fala-se em sinais e sintomas prodrômicos, que representam de fato a fase precoce, inicial, do adoecimento.
Termos:
Remissão: É o retorno ao estado normal tão logo acaba o episódio agudo. Fala-se em remissão espontânea quando o paciente se recupera sem o auxílio de intervenção terapêutica. 
Recuperação: É o retorno e a manutenção do estado normal, já tendo passado um bom período de tempo (geralmente se considera um ano) sem que o paciente apresente recaída do quadro. 
Recaída ou recidiva: É o retorno dos sintomas logo após haver ocorrido melhora parcial do quadro clínico ou quando o estado assintomático é ainda recente (não tendo passado um ano do episódio agudo). 
Recorrência: É o surgimento de um novo episódio, depois de o indivíduo apresentar-se assintomático por um bom período (pelo menos por cerca de um ano). Pode-se dizer que a recorrência é um novo episódio da doença.

Continue navegando