Buscar

ADM A TEORIA DA BUROCRACIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CAPÍTULO 3
Teoria da Burocracia, Teoria Estruturalista, Abordagem Sistêmica e Teoria da Contingência
Introdução a Administração
Introdução
Aqui você terá a oportunidade de entender melhor a terminologia “burocracia” e fazer um comparativo dos princípios desta Escola do pensamento com o desgastado conceito de burocracia nos dias atuais. Esta abordagem será complementada com o estudo da teoria estruturalista, que representa um complemento da Teoria da Burocracia.
Será apresentada também a abordagem sistêmica e a contingencial, que surgiram como uma tentativa de levar para as organizações uma visão ampla e interligada dos conceitos envolvidos numa organização para ser mais eficiente. Você poderá refletir acerca do desempenho de nossas organizações nos dias atuais caso o pensamento sistêmico não tivesse prevalecido.
1. Teoria da Burocracia
A Teoria da Burocracia se desenvolveu de maneira independente da Administração Científica, embora os períodos em que ocorreram sejam muito próximos.
A Administração Científica imprimiu um enfoque científico e técnico, sobretudo em razão da formação em Engenharia de Frederick W. Taylor. Já a Burocracia foi marcada por um enfoque sociológico, em razão da formação em Sociologia de seu principal representante, Max Weber.
Figura 1 – Cronologia das abordagens do pensamento administrativo.
Fonte: Elaboração própria.
A Teoria da Burocracia propõe uma forma de organização das atividades humanas baseada em papéis e documentos processados em sequência entre as unidades de uma estrutura organizacional.
A Teoria da Burocracia emergiu por volta da década de 1940, impulsionada por:
1. parcialidade da Teoria Clássica e da escola de Relações Humanas, por não apresentarem uma abordagem global e integrada dos problemas da Empresa;
2. necessidade de um modelo de organização capaz de integrar todas as variáveis envolvidas;
3. tamanho e complexidade das Empresas exigindo modelos organizacionais mais definidos;
4. o ressurgimento da Sociologia da Burocracia a partir da descoberta dos trabalhos de Max Weber.
Embora se possa julgar, à primeira vista, que a burocracia é encontrada apenas em organizações públicas, ela está presente em várias organizações com diferentes objetivos e características: organizações comerciais, industriais, militares, educacionais, religiosas, entre outras.
Embora a forma de organização burocrática seja antiga, ela apenas foi formalizada como uma teoria efetiva quando os estudos de Max Weber, devotado à Sociologia, à Ciência Política e ao Direito, ganharam reconhecimento.
Max Weber nasceu em Erfurt, Alemanha, em 1864. Formou-se em Direito, atuou como professor de Economia Política e contava com sólida formação em História, Literatura, Psicologia, Teologia e Filosofia. Quando faleceu, em 1920, seus estudos estavam em estado caótico e foram organizados a partir de manuscritos fragmentados, sendo, a partir daí, publicados A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, em 1930, e Economia e Sociedade, em 1947. Os estudos e a perspectiva de análise de Max Weber conduziram-no à posição de um dos fundadores da Sociologia como uma escola de pensamento.
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo vinculam o surgimento do capitalismo à doutrina calvinista protestante. O protestantismo condenava o dispêndio da renda em símbolos de vaidade e prestígio e vangloriava o trabalho árduo, a poupança e o ascetismo que proporcionavam a aplicação de rendas excedentes. Na obra, Weber detalha o tipo ideal de conduta religiosa que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento e fortalecimento do capitalismo.
SAIBA MAIS
Você sabe qual é o objetivo da criação da religião protestante? A religião protestante surgiu como resultado de uma tentativa de reforma da Igreja Católica pregando, sobretudo, que os ensinamentos registrados na Bíblia é que deveriam ser seguidos.
Outra característica é a prática de não cultuar santos e outras imagens, além de não acreditar em penitências para o perdão dos pecados. O protestantismo se expandiu por meio de três gerações da reforma: luterana, calvinista e anglicana.
A outra obra de Weber, Economia e Sociedade, discorre sobre o tipo ideal de organização. O “tipo ideal” de Weber foi construído para identificar uma organização burocrática. O “tipo ideal” não tem um fim em si mesmo, é uma forma de compreensão da sociedade e não é prescritivo, ou seja, não constitui um conjunto de recomendações, mas sim uma abstração descritiva. No “tipo ideal” a organização é considerada uma “máquina” impessoal que funciona de acordo com as regras, tem áreas de jurisdição fixas, conta com hierarquia e é pautada em documentos escritos.
A análise da burocracia por Weber tem um enfoque marcadamente sociológico e se inicia com a discussão dos processos de dominação, ou, em outras palavras, o emprego da autoridade e a probabilidade de haver obediência dentro de um grupo. São três os tipos puros de autoridade:
Tradicional:
respeito a quem tem o direito de comando segundo a prática tradicional ou costume. A autoridade tradicional não é resultante das qualidades intrínsecas de seu detentor. São exemplos de autoridade tradicional na “instituição família”, o pai nas sociedades paternais e a mãe nas sociedades matriarcais; na “instituição religiosa”, o padre, bispo ou papa; na “instituição política”, o presidente do partido.
Carismática:
devoção ao líder. Decorre das qualidades intrínsecas da pessoa. Lula, Kennedy e Hitler são considerados lideranças baseadas em autoridade carismática.
Racional, legal ou burocrática:
baseada em meritocracia, com traços impessoais, técnicos e racionais, como exemplificado nas empresas e organizações militares.
Os três tipos de autoridade correspondem ou são exercidos em três tipos de sociedade: sociedade tradicional; carismática; e legal, racional ou burocrática.
Os interesses de Max Weber recaem sobre a sociedade legal, racional ou burocrática, representada por organizações empresariais e militares de onde Weber extrai as características da burocracia:
· formalidade – as organizações são constituídas essencialmente por sistemas de normas e a autoridade é definida por elas;
· impessoalidade – os seguidores obedecem à autoridade definida pelas normas;
· profissionalismo – os funcionários são contratados, remunerados e qualificados para o cargo.
Essas três características principais da burocracia podem ser detalhadas conforme mostrado no quadro abaixo.
	Formalidade
	Caráter legal das normas
	Formalismo nas comunicações
	Divisão do trabalho.
	Impessoalidade
	Impessoalidade
	Hierarquização da autoridade
	Rotinas e procedimentos
	Profissionalismo.
	Competência técnica e mérito
	Especialização da administração
	Profissionalização.
Quadro 1 – Principais características da burocracia.
Fonte: Chiavenato (2004).
Essas características das organizações burocráticas possibilitam certa previsibilidade do comportamento humano e, sobretudo, a padronização do desempenho dos membros profissionais da organização, facilitando o alcance dos objetivos organizacionais.
Após analisar as características da Burocracia, Weber conclui que a administração burocrática é a forma mais racional de exercer autoridade, pois a organização burocrática possibilita o exercício da autoridade, a obtenção de obediência com precisão, a continuidade, a disciplina, o rigor e a confiança. Porém, é preciso encontrar, em um continuum, o ponto exato para construção do tipo ideal de organização burocrática. Imagine uma reta onde, em um extremo, uma organização pouco burocratizada e, no extremo oposto, uma organização muito burocratizada. Nesse continuum há uma infinidade de possibilidades e medidas. O desafio está em localizar o equilíbrio ou o que Weber convencionou chamar de “tipo ideal”. Essa análise de Max Weber serviu de marco, de ponto de partida para a análise de outros autores.
A Burocracia sofre críticas em razão da ênfase excessiva nas regras e procedimentos, que coíbe a iniciativa e o emprego da criatividade, elimina a flexibilidade necessária às atividades não rotineiras e conduza uma inversão de valores de que os meios são mais importantes que os fins organizacionais. Também é criticada por exaltar a impessoalidade, o que conduz a certa falta de sensibilidade ao exigir a completa separação entre cargo e indivíduo, quando, na prática, são indissociáveis.
A Burocracia, por não reconhecer o aspecto humano, não considera a existência da organização informal e, tampouco, considera a existência de conflito, elemento sempre presente onde existem relacionamentos humanos.
Com o desenvolvimento do pensamento administrativo, a Teoria da Burocracia também é criticada por não considerar o entorno da organização, ou seja, a conexão com o ambiente no qual ela está inserida.
SAIBA MAIS
Hannah Arendt, judia alemã emigrada para os Estados Unidos durante a ascensão do nazismo, com formação em teologia e filosofia, escreveu, em 1963, Eichmann em Jerusalém a partir da cobertura para o The New Yorker sobre o julgamento de Adolf Eichmann, responsável pelo extermínio em massa de três milhões de judeus. Durante todo o julgamento, Eichmann insistiu que estava apenas cumprindo ordens, a mesma estratégia de defesa adotada nos julgamentos dos crimes de guerra nazistas em Nuremberg. Declarou explicitamente que abdicou de sua consciência para seguir os princípios do Führer.
Mas qual a contribuição de Arendt para o que estudamos até aqui?
No livro Eichmann em Jerusalém, Arendt revela que Eichmann não era um “demônio e um poço de maldade”, mas alguém horrivelmente normal: um típico burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo, sem capacidade de distinguir o bem do mal. Arendt apontou para a complexidade da natureza humana e cunhou a expressão “banalidade do mal”. Foram seus escritos que sistematizaram e relacionaram o desvio do comportamento humano como resultante da obediência cega a uma ordem ou autoridade burocrática.
Transferindo essa discussão para um ambiente organizacional, quantos executivos assumem a responsabilidade de demissão de parte de sua equipe para atender uma ordem oriunda de uma autoridade burocrática, quando, individualmente, não têm motivos para realizar tal ato?
DICA DE LEITURA
O livro de Franz Kafka, O Processo, editado postumamente em 1925, narra o infortúnio que acomete o funcionário de banco Joseph K.
Joseph K. é um homem reservado que vive em uma pensão e tem bom relacionamento com os demais moradores. Um dia é acordado por um inspetor de polícia que lhe informa que está preso, mas não o leva sob custódia. Durante o processo, Joseph segue com suas atividades normais, tendo apenas que ficar à disposição das autoridades a qualquer hora do dia. Incomodado por não saber do que está sendo acusado, ele decide investigar em busca de uma resposta. O Processo é uma crítica à burocracia, destacando disfunções presentes em várias organizações onde Joseph K. busca elementos para elucidar o mistério.
2. Teoria Estruturalista
A Teoria Estruturalista surgiu como um desdobramento da Teoria da Burocracia de Max Weber. Foi influenciada pelo estruturalismo nas Ciências Sociais, que procura explorar as inter-relações ou estruturas por meio das quais o significado é produzido dentro de uma sociedade ou cultura. Considera a organização em todos os seus aspectos, em outras palavras, uma visão integrada de sua estrutura, sofrendo influência de aspectos externos, impacto de seus aspectos internos e das múltiplas relações que se estabelecem.
A estrutura consiste em um conjunto formal de elementos que permanece inalterado, ocorrendo uma mudança na organização ou alteração de um dos seus elementos ou relações. Uma analogia que exprime essa ideia é um rio que é sempre o mesmo, embora as águas que nele correm nunca sejam as mesmas.
James March, estudioso organizacional e do processo decisório, autor de dezenas de artigos científicos e livros de referência para os estudos organizacionais, com 17 títulos de doutor honoris causa, publicou Handbook of Organizations, em 1965, onde define a organização como um conjunto de relações sociais estáveis, criadas com a clara intenção de alcançar objetivos ou propósitos.
SAIBA MAIS
Você já ouviu falar em Honoris causa, ou causa nobre, em português? É um título honorífico concedido por uma instituição de Ensino Superior a uma personalidade que não faz parte de seu quadro docente ou funcional, em sinal de reconhecimento por suas contribuições às ciências, às artes e à sociedade em geral.
A Teoria Estruturalista conta com algumas características marcantes. Considera tanto a organização formal quanto a organização informal, diferentemente da Teoria da Burocracia, que considerava apenas a organização formal. Uma questão que merece destaque é que a Teoria Estruturalista identifica o homem organizacional que, movido por recompensas materiais e sociais, desempenha diferentes papéis sociais em seu trabalho e em outras organizações com as quais se relaciona.
Em algumas situações atua como superior, em outras como subordinado, cliente, fornecedor, entre outras. Outro entendimento da Teoria Estruturalista é que os conflitos são inevitáveis, dado que os interesses dos funcionários e os objetivos da empresa não são exatamente os mesmos.
Relembre as visões do Homem nas abordagens administrativas:
Abordagem clássica = Homo Economicus
Abordagem relações humanas = Homem Social
Teoria estruturalista = Homem Organizacional
Constitui outra característica o fato de a Teoria Estruturalista concentrar-se no estudo da estrutura interna das organizações e na interação destas com outras organizações. Em outras palavras, entende que nenhuma organização é autônoma, ou seja, toda organização depende de outras e da sociedade. Essa perspectiva resulta na compreensão da necessidade de adequação dos objetivos organizacionais à medida que ocorrem mudanças no ambiente externo, da influência do ambiente sobre a organização e da natural necessidade de desenvolver estratégias para lidar com o ambiente.
James D. Thompson, também estudioso organizacional e da teoria da decisão, publicou Organizations in Action: social science bases of administrative theory, em 1967, obra na qual aborda duas estratégias básicas para lidar com o ambiente:
1 - competição
 
2 - cooperação
é uma forma de rivalidade entre duas ou mais organizações mediadas por um terceiro grupo que pode ser constituído por clientes, fornecedores, entre outros.
A Teoria Estruturalista surge a partir da Teoria da Burocracia de Max Weber e ganha corpo a partir dos desdobramentos de algumas questões. Alguns estudiosos desenvolveram tipologias alternativas para as organizações e outros discutiram as disfunções da burocracia.
A Teoria Estruturalista utiliza uma abordagem mais ampla do que as escolas anteriores, pois tem intenção de conciliar a Teoria Clássica e a Teoria das Relações Humanas, e também basear-se na Teoria da Burocracia.
Essa abordagem ampla é feita com base em uma abordagem múltipla, considerando as contribuições das escolas mencionadas anteriormente. Essa abordagem múltipla considera vários aspectos: organização formal e informal, recompensas materiais e sociais, diferentes enfoques da organização, níveis da organização e diversidade de organizações.
Entre as tipologias alternativas ao tipo ideal de Burocracia proposto por Max Weber, duas se destacam: uma proposta por Amitai Etzioni e outra sugerida por Peter Blau e Richard Scott.
Figura 2 – Tipologias de burocracia.
Fonte: Maximiano (2006).
Amitai Etzioni publicou Organizações Complexas, em 1961. No livro o autor defende que o modelo weberiano do tipo ideal não abrange todas as organizações. Para Etzioni, uma organização consiste em uma unidade social grande e complexa, com objetivos específicos que não se enquadram em um modelo universal, ou, como denominado por Weber, “tipo ideal”.
Para Etzioni, há três tipos de organizações que correspondem cada uma a um tipo de poder exercido e a um tipo de obediência. O quadro a seguir ilustra a tipologia proposta por ele.
	Tipo de poder
	Tipo de contrato psicológico
	Tipo de organização
	Forma de controle
	Exemplos
	Coercivo (punições).Alienatório: obediência mecânica.
	Coercivo: objetivo é controlar o comportamento
	Violência
	Campos de concentração, prisões, hospitais penintenciários.
	Manipulativo (recompensas).
	Calculista: obediência interesseira.
	Utilitário: objetivo é obter resultados por meio de barganha com funcionários.
	Recompensa.
	Organizações de negócios.
	Normativa (crenças).
	Moral: disciplina Interior.
	Normativa: objetivo é realizar missão/ tarefa.
	Comprometimento.
	Organizações de voluntários, religiosos, políticos.
Quadro 2 – Tipologia de Etzioni.
Fonte: Etzioni (1961).
As organizações de negócios são consideradas organizações utilitárias por Etzioni, que entende que a remuneração é o principal meio de controle dos funcionários. Mas outros fatores, tais como satisfação com o cargo, prestígio, estima, além de relações sociais no trabalho, podem determinar o desempenho. Além da remuneração, há ainda outras recompensas: promoções, benefícios, incentivos.
Peter Blau e Richard Scott publicaram Organizações Formais, em 1962, obra na qual materializaram outro modelo para interpretar as organizações. Para os autores, a organização é estabelecida para atingir finalidades específicas agrupadas em categorias de acordo com o beneficiário principal da organização. O quadro a seguir ilustra a tipologia de Blau e Scott.
	Beneficiário
	Exemplo
	Próprios membros da organização.
	Clubes, associações, cooperativas, sindicatos.
	Proprietários ou dirigentes.
	Empresas em geral.
	Clientes.
	Hospitais, universidades.
	Sociedade em geral.
	Organizações do Estado/governo.
Quadro 3 – Tipologia de Blau e Scott.
Fonte: Blau, Scott (1962).
Outros autores estruturalistas dedicaram-se às disfunções da burocracia: Charles Perrow, William Roth e Robert Merton.
	Particularismo
	Características
	Disfunção
	Defender dentro da organização os interesses de grupos externos. 
Exemplo: panelinha com colegas de uma mesma escola.
	Patriamonialismo
	Defender interesses pessoais. 
Contratar parentes, fazer negócios com empresas da família etc.
	Excesso de regras
	Multiplicidade de regras e exigências para obtenção de um serviço. 
Exemplo: firma reconhecida.
	Hierarquia
	Divide responsabilidade e atravanca o processo decisório, realça vaidades e estimula disputa pelo poder.
Charles Perrow publicou Análise Organizacional: uma visão sociológica, em 1970, obra na qual afirma que as organizações são sistemas sociais constituídos por pessoas que têm interesses independentes e levam para esses ambientes sua vida pessoal. As organizações, portanto, não são compostas de funcionários exclusivamente burocráticos e refletem as imperfeições dos seres humanos. Perrow aprofunda na obra as disfunções da burocracia que estão resumidas no quadro a seguir
Quadro 4 – Disfunções da burocracia: Perrow.
Fonte: Perrow (1970).
Para William Roth, o crescimento das organizações dificulta o processo de tomada de decisão em razão de as competências e responsabilidades serem limitadas, de haver conflito na disputa para ocupação de cargos, da distância entre decisão da chefia e executores, resultante dos muitos níveis hierárquicos, do desestímulo à inovação e da indefinição de responsabilidades, já que os resultados pela eficiência não podem ser avaliados com precisão.
Robert K. Merton critica o modelo weberiano por não ter considerado o fator humano e apresenta como disfunções da burocracia: a valorização excessiva dos regulamentos, o excesso de formalidade, a resistência a mudanças, a despersonalização das relações humanas, a hierarquização do processo decisório, a exibição de sinais de autoridade e as dificuldades no atendimento a clientes.
Burns e Stalker distinguiram dois modelos organizacionais: mecanicista e orgânico. No primeiro, as tarefas são especializadas e fragmentadas, marcadas por regras e controle. A centralização é proveniente da hierarquia formal de autoridade e o fator humano necessita ser abafado, pois é produtor potencial de ineficiência. No segundo, os indivíduos trabalham em grupos, a comunicação percorre todos os níveis organizacionais, as regras e controle são menores, e o fator humano é considerado e estimulado na tomada de decisão. Para Burns e Stalker, o sistema mecanicista é mais apropriado para um ambiente estável, e o orgânico mais indicado para ambientes turbulentos.
SAIBA MAIS
Você considera que exista alguma situação organizacional que não esteja imersa em um ambiente em permanente estado de mudança ou turbulento?
A Teoria Estruturalista recebe duas duras críticas. Uma refere-se às tipologias organizacionais que, criadas para que seja possível comparar as organizações entre si, são limitadas quanto à aplicação prática. A outra se refere às disfunções organizacionais, ou seja, enfoca problemas e patologias organizacionais em detrimento do seu funcionamento mais regular.
Mas afinal, por que estudamos a Teoria Estruturalista se sua contribuição prática é pequena?
O aspecto prático não é o forte da Teoria Estruturalista. Por outro lado, representa o nascedouro da Teoria Organizacional, que estuda em profundidade os aspectos sociológicos organizacionais. Especificamente, dedica-se ao estudo da estrutura organizacional: formas, consequências e elementos de sustentação; processos organizacionais: liderança, tomada de decisão, poder; ambientes organizacionais: natureza e tipos de organização, e que contribui, sobremaneira, para a compreensão dos formatos e significados das organizações atuais.
3. Abordagem Sistêmica
O contexto histórico do surgimento da Teoria dos Sistemas não é recente. Os gregos já trabalhavam a ideia de sistema. Mary Parker Follett, em 1918, já destacava a necessidade dos administradores considerarem uma situação em sua integralidade. A Filosofia ou Psicologia da Forma ou Gestalt, como é mais conhecida, data da década de 1920 e explica o comportamento humano como sendo resultante de processos perceptivos.
SAIBA MAIS
Você sabe o que é Gestalt? Gestalt é um termo em alemão de difícil tradução, mas que se aproxima de “forma” ou “configuração”.
Para a Gestalt, os elementos da realidade são indissociáveis, não devem ser separados uns dos outros. A natureza de cada elemento é definida pela estrutura, pela finalidade do conjunto a que pertence. O todo não é apenas a soma das partes, é mais do que isso. Sua essência depende da configuração das partes e precisa ser analisado em seu conjunto.
A Gestalt tem aplicações na Psicanálise e explica fenômenos do aprendizado relacionados à Semiótica como, por exemplo, crianças que ainda não sabem ler, mas reconhecem produtos pela forma, como a imagem da Coca-Cola.
A Teoria Cibernética (1948) ganha corpo com o matemático Norbert Wiener, ao identificar que todo sistema pode ter seu desempenho autocontrolado por meio de algum fluxo de informações que permita medir seu comportamento relativamente ao objetivo pretendido, mantendo o funcionamento desejado. Os estudos da Teoria Cibernética tiveram como inspiração o estudo dos mísseis autocontrolados, mas apenas mais tarde é que foi explorada essa aplicação às organizações.
A Teoria dos Sistemas, surge, efetivamente, com os estudos do biólogo alemão Ludwig von Bertalanffy, em 1937. Bertalanffy constatou que a ciência tratava de forma compartimentada problemas que exigiam uma abordagem mais ampla, a integração de várias ciências. Também identificou a interdependência das partes que formam o todo, o que significa que não basta analisar as partes, mas suas inter-relações também. Além disso, percebeu que para tratar uma realidade complexa é necessário um tratamento igualmente complexo. Por fim, apontou que os limites de um sistema dependem do observador e que as fronteiras entre os sistemas ou entre o sistema e seu ambiente são arbitrárias.
A análise das inter-relações sugerida por Bertalanffy pode ser comparada com as estruturas das células. Não é suficiente observar e conhecer em profundidade as mitocôndrias, complexo de Golgi, e outras células, mas também as inter-relações das enzimas produzidas por cada uma dessas estruturas celulares.
A complexidadeé a base do enfoque sistêmico na Administração e é resultante direta do número de problemas e variáveis em uma situação. Constitui uma condição normal que organizações e administradores têm que enfrentar, dado que nenhum problema é simples e linear. Quanto mais evolui a sociedade, mais complexos seus problemas. E quanto mais modernas as organizações, mais complexos os problemas que enfrentam. Para lidar com essa complexidade, é necessário adotar um enfoque sistêmico.
São exemplos de organizações modernas: aeroportos, portos, consórcios de empresas, cooperativas e condomínios de empresas, como a fábrica da GM em Gravataí (RS) e o complexo industrial da Ford em Camaçari (BA), cuja arquitetura organizacional é bastante inovadora.
O enfoque sistêmico possibilita entender a interdependência das causas e variáveis dos problemas complexos, facilitando a organização de soluções.
É importante compreender o significado de sistema. Sistema é um todo complexo ou organizado, um conjunto de partes ou elementos interdependentes. Todo sistema tem um objetivo e todo sistema tem uma natureza orgânica, ou seja, uma mudança em uma das partes provoca alterações em todo o sistema.
O ajustamento sistemático é contínuo. O primeiro movimento é denominado entropia, que é a tendência à desordem como resultado da alteração de uma ou mais de uma das partes, seguido do próximo movimento, que é a homeostasia, ou seja, a tendência ao equilíbrio.
Os sistemas podem ser, de acordo com sua constituição, físicos ou materiais, conceituais ou abstratos, ou, de acordo com sua natureza, fechados ou abertos. Sistemas fechados não têm intercâmbio com o meio ambiente e são herméticos, como as máquinas e equipamentos. Sistemas abertos estabelecem relações com ambiente, como no caso de organismos vivos e organizações.
Exemplos:
· sistema físico e fechado: relógio;
· sistema conceitual e fechado: regras e procedimentos;
· sistema físico e aberto: seres humanos e empresas;
· sistema conceitual e aberto: negociações internacionais.
SAIBA MAIS
Na Administração Científica, o enfoque de Taylor era única e exclusivamente o binômio “produtividade e eficiência”. E se Taylor tivesse adotado uma visão sistêmica? Ele poderia ter considerado o impacto no ambiente da poluição das fábricas, ou mesmo o impacto no comporta- mento humano considerando a sobrecarga de trabalho.
As organizações são sistemas abertos que processam insumos e geram produtos ou serviços cuja avaliação de qualidade e desempenho retroalimenta o processo.
Todas as organizações estão embutidas em sistemas mais amplos, como o sistema político-legal, que é fruto da atuação do Estado ao definir o funcionamento dos agentes econômicos; o sistema econômico e financeiro, que rege o funcionamento dos mercados; o sistema tecnológico, que determina o acesso às inovações tecnológicas; o sistema social, que determina o nível educacional e cultural da mão de obra e o comportamento do consumidor; e o sistema concorrencial, que determina o conhecimento dos concorrentes e permite melhor posicionamento estratégico. Todos esses sistemas são chamados genericamente de ambiente. 
Figura 3 – Enfoque sistêmico e a interface ambiental.
Fonte: Bertalanfy (1975)
SAIBA MAIS
As nomenclaturas “entropia” e “homeostasia”? Elas são relativas à alteração e acomodação dos sistemas, são oriundas da termodinâmica, que estabelece uma relação com a energia.
Os elementos constituintes de um sistema são: entradas ou insumos, saídas ou resultados, processamento ou transformação, retroalimentação ou feedback e o ambiente em que atua.
Constituem entradas ou insumos um projeto de produto, peças, máquinas e equipamentos, recursos humanos, procedimentos, instalações, informações, entre outros. A etapa de processamento é diferente em todas as organizações e envolve um mix de entradas e uma tecnologia de processamento diferentes. As saídas são produtos ou serviços, além de salários, impostos, lucro aos acionistas e melhor qualificação dos recursos humanos.
O feedback é a retroação, a avaliação dos resultados gerando novos inputs para processamento. E o ambiente imediato é composto por concorrentes, fornecedores, clientes, mercado, distribuidores, sindicatos, entre outros. O macroambiente é marcado pelo desenvolvimento tecnológico, sustentável, legal, econômico, demográfico, político, entre outras questões de natureza mais ampla.
SAIBA MAIS
Como uma organização como o Greenpeace pode influenciar o sistema econômico? Um movimento contra a exportação de grãos de soja transgênica de uma empresa nacional, por exemplo, pode ativar o sistema político legal, que passará a criar impedimentos para as empresas produtoras e exportadoras de soja transgênica. Fatalmente será ativado o sistema econômico, já que o balanço das exportações brasileiras sofrerá impacto direto.
Também o movimento do Greenpeace pode tornar de conhecimento mais amplo as informações sobre os eventuais malefícios da soja transgênica e isso pode influenciar o sistema social, ou mais precisamente, o comportamento do consumidor. Enfim, uma série de relações e impactos pode ocorrer provocada a partir de um único agente.
PRATIQUE
Uma indústria ilustra facilmente um sistema. Procure apontar quais são as entradas ou insumos no processo produtivo avícola e automobilístico. Em que consiste o processamento? Quais são as saídas? Pense em exemplos de feedback e no ambiente no qual a indústria está inserida e arrole alguns exemplos.
Podem ser considerados insumos de uma indústria avícola as matrizes animais, as granjas, os frangos, o maquinário, a lagoa de decantação necessária para aprovação dos órgãos fiscalizadores, os recursos humanos empregados, o projeto de produção, entre outros.
O processamento consiste na engorda do frango com ração de milho, no processo de abate após 30 dias, na higienização dos animais, no processamento efetivo dos cortes de frango, além de salários, impostos e outros. A saída é o frango embalado inteiro ou cortes tradicionais e específicos, miúdos, acondicionados em embalagens, resfriados ou congelados. Um feedback interessante para retroalimentar o processo é a informação de que um número elevado de pés de frango contém calosidades e, muito embora não causem prejuízo algum à saúde, não são aceitáveis esteticamente e podem gerar insatisfação do consumidor. Assim sendo, uma providência a ser tomada é aumentar a cama de serração nas granjas, dado que a calosidade do animal é fruto da fricção da pata com a estrutura de madeira das granjas.
No que compete ao ambiente, como exemplo pode-se considerar que o preço da carne, sobretudo bovina, determina fortemente o preço do frango. Outro exemplo é a febre aviária, que impactou a venda de frango, ou novas determinações sanitárias legais para exportação para a Rússia, um dos grandes importadores do frango brasileiro.
Agora reflita considerando a indústria automobilística.
Realizada a reflexão e o exercício com a indústria de produtos, sugere-se que agora o mesmo com a indústria de serviços. Resgate o exemplo da empresa de telemarketing e identifique quais são as entradas, processamento e saídas, assim como exemplos de feedback e questões ambientais.
Após essas reflexões, fica evidente que a organização é um sistema aberto com objetivos múltiplos e diversas interações com o meio ambiente. É composta por vários subsistemas em interação dinâmica e mutuamente dependentes, imersa em um ambiente dinâmico sujeito a diferentes demandas e limitações, sendo difícil determinar os limites fronteiriços entre um sistema e outro.
As organizações são sistemas embutidos em outros sistemas, e por se tratar de um sistema aberto, o comportamento organizacional é previsível, mas nunca determinístico, visto que há variáveis desconhecidas que podem emergir.
Vários autores contribuíram para a Teoria dos Sistemas aplicada às organizações, sobretudo na década de 1960. Fremont Kast, James Rosenzweig e Richard Johnson legitimaram a complexidade da tecnologia e da sociedade, tornando-se necessário utilizar abordagens sistêmicas, criando, assim,um novo paradigma científico para a Administração. Charles W. Churchman insere a ideia de sistema de informações gerenciais como fundamental para apoiar o trabalho do gerente.
Nesse mesmo período outras abordagens da Administração surgiram, evidenciando a ebulição e grande desenvolvimento da área nessa época. Justamente nesse período, precisamente no dia 9 de setembro de 1965, dia em que é comemorado o Dia do Administrador, a profissão foi instituída pela Lei 4.769. No ano seguinte foi publicado o currículo mínimo para o curso de Administração pelo Ministério da Educação, definindo um quantum mínimo de carga horária de matérias que deveria ser cumprido. Atualmente não existe mais currículo mínimo para nenhuma profissão, já que o conceito foi substituído por diretrizes curriculares que são significativamente mais flexíveis.
Daniel Katz e Robert Kahn (The Social Psychology of Organizations, John Wiley & Sons, New York, 1966) estudaram de maneira detalhada as características da organização como um sistema aberto e contribuíram assim com muitos dos conceitos importantes relativos à Teoria dos Sistemas aplicada às organizações. Essas características são: o ciclo repetitivo de recebimento de inputs; transformação desses inputs e os outputs desse processamento; as forças de entropia e homeostase; o feedback como insumo ao processo; os tênues limites e fronteiras que separam a organização dos vários sistemas que está imersa; a diferenciação em função do ambiente em que atuam.
O modelo sociotécnico de Tavistock foi proposto por sociólogos e psicólogos do Instituto de Relações Humanas da Tavistock com base em resultados de pesquisas efetuadas em minas de carvão e empresas têxteis indianas. O modelo aponta que a organização é formada por dois subsistemas: o técnico e o social. O primeiro é composto por recursos e componentes físicos e abstratos, como objetivos, divisão do trabalho, tecnologia, instalações, procedimentos. O segundo é composto por todas as manifestações do comportamento dos indivíduos e grupos, como relações sociais, grupos informais, cultura, clima, atitudes e motivação.
A Teoria dos Sistemas evidenciou a importância do pensamento integrado, reconheceu e valorizou a percepção do ambiente como determinante da eficácia da organização e abriu caminho para o surgimento e consolidação de novas abordagens da Administração, como a Abordagem Contingencial e a Abordagem Estratégica, que ainda serão objeto de estudo no âmbito dessa disciplina.
4. Abordagem Contingencial
Contingência é algo incerto ou eventual, que depende de alguma coisa. A Abordagem Contingencial entende que não existe uma forma única ou melhor de alcançar os resultados organizacionais. A estrutura de uma organização e seu funcionamento são dependentes da sua interface com o ambiente externo, dado que as características ambientais condicionam as características organizacionais.A Teoria Contingencial nasceu na década de 1960 de uma série de pesquisas para verificar as estruturas organizacionais mais eficazes em determinados tipos de empresas, por isso também é chamada de Neoestruturalista, por alguns estudiosos.
Os principais autores que contribuíram para a estruturação dessa abordagem foram: Alfred Chandler, Burns e Stalker, Lawrence e Lorsch e Joan Woodward, com destaque para Lawrence e Lorsch, cuja produção marca efetivamente o surgimento da Teoria da Contingência.
Alfred Chandler publicou Strategy and Structure, em 1962, obra baseada em pesquisas realizadas com quatro empresas: DuPont, GM, Standard Oil e Sears. Concluiu que a estrutura das empresas foi sendo adaptada e ajustada à sua estratégia, e que diferentes ambientes conduzem à adoção de novas estratégias, que por sua vez exigem diferentes estruturas organizacionais.
Tom Burns e George Stalker, como já visto nesta unidade, pesquisaram 20 indústrias inglesas para verificar a relação entre as práticas administrativas e o ambiente externo e classificaram a empresa em dois tipos: mecanicistas e orgânicas.
Afinal, por que os tipos mecanicista e orgânico, de Burns e Stalker, citados na Teoria Estruturalista, também são citados na Teoria Contingencial? Porque os limites entre uma teoria e outra não são tão evidentes. Inclusive, por esse motivo, a Teoria da Contingência também é denominada Teoria Neoestruturalista, ou seja, uma continuidade daquela.
Paul Lawrence e Jay Lorsch pesquisaram dez empresas pertencentes a três áreas: plásticos, alimentos empacotados e recipientes e identificaram duas questões organizacionais básicas: diferenciação e integração. A primeira se refere às tarefas especializadas desempenhadas pelos departamentos. A segunda corresponde à necessidade de alcançar unidade de esforços e coordenação entre os departamentos. São processos opostos e antagônicos e não existe uma “solução pronta” que indique a melhor medida ou forma de organizar, já que as organizações precisam ser sistematicamente ajusta- das às condições ambientais.
É com os estudos de Lawrence e Lorsch que a Teoria da Contingência ganha força. Esta percebe a organização como um sistema aberto, no qual as variáveis organizacionais se inter-relacionam de maneira complexa e são dependentes das variáveis ambientais que, por sua vez, são independentes. Significa afirmar que as condições organizacionais dependem das condições ambientais.
Joan Woodward desenvolveu uma pesquisa na qual investigou se os princípios da Administração correlacionavam-se com o êxito do negócio. A pesquisa envolveu cem empresas inglesas classificadas em três grupos de tecnologia de produção: unitária, em torno da qual se reúnem os funcionários e o maquinário; em massa, mecanizada, que conta com linhas de produção; e em processo ou automatizada, cuja participação humana é mínima.
A conclusão de Woodward foi que diferentes tipos de tecnologia envolvem diferentes manufaturas de produtos e influenciam a estrutura organizacional. Em outras palavras, o desenho organizacional é afetado pela tecnologia adotada. Confira alguns exemplos aplicados ao mercado brasileiro:
Tecnologia de produção unitária
fábrica da Embraer em São José dos Campos.
Tecnologia de produção em massa
GM em São Caetano do Sul.
Tecnologia de produção em processo
Oxiteno, indústria química presente em três plantas no estado de São Paulo e unidades de produção também no Rio Grande do Sul, Bahia, México e Venezuela.
As contribuições para a Teoria da Contingência de Chandler, Burns e Stalker, e Lawrence e Lorsch, apontam para a estreita dependência da organização em relação ao seu ambiente. Woodward, além de também tratar dessa questão, indica dependência da organização em relação à tecnologia adotada. Portanto, a principal conclusão da Teoria da Contingência é que as características de uma organização dependem das circunstâncias ambientais e da tecnologia que ela utiliza.
4.1 Variáveis ambientais
O ambiente, como já visto na Teoria de Sistemas, compreende inúmeros outros sistemas: desenvolvimento tecnológico, legal, político, econômico, demográfico, ecológico, cultural, entre outros, comuns a todas as organizações e por isso também denominado macroambiente. Há também o ambiente mais direto, por vezes denominado ambiente de tarefa e que compreende: fornecedores de insumos, clientes, concorrentes, entidades reguladoras, como órgãos regulamentadores governamentais e órgãos protetores do consumidor.
As organizações ora têm poder sobre seu ambiente de tarefa, ora são dependentes deste. Ora impõem um preço para compra de insumos de fornecedores, ora são submetidas ao controle e fiscalização da vigilância sanitária ou de agências reguladoras, como é o caso do produto Speedy, da antiga Telefônica, atual Vivo, que teve sua comercialização suspensa pela Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel.
As organizações procuram aumentar o seu poder e reduzir sua dependência. Esse é o papel da estratégia. Como se trata de um tema que merece destaque, a abordagem estratégica será estudada detalhadamente em outra unidade.
Há, basicamente, duas tipologias de ambiente relacionadas a variaçõesde estabilidade e homogeneidade. Em um ambiente estável há regras e regulamentos que regem o cotidiano de trabalho; em um ambiente instável, é preciso incorporar novas informações continuamente, o que conduz a um planejamento contingente. Em um ambiente homogêneo, há pouca segmentação de mercado, características homogêneas de fornecedores, clientes e concorrentes, entre outros aspectos. No ambiente heterogêneo, ao contrário, há necessidade significativa de diferenciação e descentralização para lidar com os diferentes perfis de fornecedores, clientes e concorrentes. A figura 4 ilustra essa questão, evidenciando as diferentes combinações dessas tipologias.
Figura 4 – Comparativo entre ambientes.
Fonte: Adaptado de Chiavenato (2004).
De novo a noção de continuum entra em cena. Há infinitas possibilidades de posicionamento entre uma linha que liga o ambiente homogêneo em um extremo a um ambiente heterogêneo em outro. O mesmo vale para o ambiente estável e instável.
Outra perspectiva interessante é analisar a presença da lógica de sistema aberto e fechado em um mesmo ambiente organizacional. A lógica de sistema aberto é mais perceptível no nível institucional, onde a incerteza é bastante presente, exigindo uma postura mais estratégica, já que é necessário definir e redefinir o posicionamento da empresa com base em informações captadas do ambiente. A lógica do sistema fechado é mais presente no nível operacional, que exerce a racionalidade limitada restrita ao que é conhecido e lhe foi apresentado, e que executa os planos e programas determinados pelo nível intermediário, que por sua vez recebeu instruções do nível institucional. A figura abaixo evidencia essa discussão.
Figura 5 – Logística dos sistemas fechado e aberto. O sistema fechado engloba os 3 níveis.
Fonte: Adaptado de Chiavenato (2004).
4.2 Variáveis tecnológicas
Todas as organizações utilizam alguma forma de tecnologia ou know-how que se desenvolve nas organizações e extrapola a manifestação física incorporada e contida em máquinas, equipamentos e instalações, e está presente também nas pessoas sob a forma de conhecimentos intelectuais ou operacionais. Essa perspectiva, relativa à tecnologia não incorporada, tem sido bastante divulgada por meio de um conceito relativamente recente denominado “capital intelectual” das empresas.
James Thompson (1920 – 1973) julga a tipologia proposta por Woodward (produção unitária, em massa e automatizada) insuficiente, considerando a amplitude de tecnologias encontradas nas organizações. Assim, o autor propõe uma nova tipologia baseada em três diferentes tipos de tecnologia, incluindo aí as empresas ditas complexas.
Organizações complexas são aquelas cuja tecnologia empregada é intensiva e aplicada de maneira a atender as necessidades de cada cliente. Os exemplos clássicos de organizações complexas são hospitais e universidades, mas atualmente, dada a complexidade de muitos produtos e serviços, a complexidade organizacional está presente em vários outros setores de atuação.
	Tecnologia
	Principais características
	Elos em sequência 
A B C D Produto
	Repetitividade do processo produtivo. 
Ênfase no produto. Linha de produção.
	Mediadora 
Cliente Organização Cliente 
mediadora
	Diferentes tarefas padronizadas. Ênfase em clientes interdependentes, 
mediados pela empresa. 
Produto abstrato.
	Serviços e técnicas especializadas 
A 
B Cliente 
C 
D
	Diferentes tarefas são convergidas para cada cliente. 
Ênfase no cliente. Tecnologia flexível.
Quadro 5 – Tipologia de Thompson.
Fonte: Chiavenato (2004).
Exemplos:
· Tecnologia em sequência: adotada na Volkswagen em São Bernardo do Campo.
· Tecnologia mediadora: agência de seguros, bancos.
· Tecnologia intensiva: hospital.
James Thompson, juntamente com Frederick Bates, aprofundaram a análise e desenvolveram outra tipologia evidenciando como os objetivos organizacionais podem influenciar a natureza da organização.
Nessa tipologia, os autores relacionam tecnologia e produto, gerando quatro combinações, conforme expresso no quadro a seguir. A tecnologia fixa não permite utilização em outros produtos e serviços, 
	 
	Concreto
	Abstrato
	Fixa
	Pouca possibilidade de mudança.
Estratégia voltada para a colocação de produto no mercado.
Ênfase na área mercadológica da empresa. Receio de ter o produto rejeitado pelo mercado.
Ex.: empresas do ramo automobilístico.
	Alguma possibilidade de mudança, respeitados os limites impostos pela tecnologia.
Estratégia voltada para obtenção de aceitação de novos produtos pelo mercado.
Ênfase na área mercadológica (promoção e propaganda).
Ex.: Universidades.
	Flexível
	Mudanças relativamente fáceis nos produtos.
Estratégia voltada para a inovação e criação constante de novos produtos ou serviços.
Ênfase na área de P&D.
Ex.: Empresas do ramo automobilístico.
	Adaptabilidade ao meio ambiente.
Estratégia voltada à obtenção de consenso externo (novos produtos) e interno (novos processos).
Ênfase nas áreas de P&D, mercadológica e RH.
Ex.: Empresas de consultoria e propaganda.
exatamente o oposto da tecnologia flexível, que pode ser aplicada em outros produtos e serviços. Um produto concreto pode ser descrito com precisão, já um produto abstrato não permite descrição precisa, nem especificação ou identificação claras.
Quadro 6 – Matriz de tecnologia X produto de Thompson.
Fonte: Chiavenato (2014)
A Teoria da Contingência recebeu algumas críticas, sobretudo no que compete à assunção de um estado de independência das variáveis ambientais destacado nos estudos pioneiros de Lawrence e Lorsch, dado que muitas vezes as organizações estão na posição de exercer controle sobre certos aspectos do seu ambiente.
Outro ponto criticado e que merece referência é que as mudanças nas variáveis ambientais e tecnológicas são cada vez mais frequentes, entretanto, a estrutura organizacional não deve ser alterada na mesma medida.
DICA DE LEITURA
Muitos fatos do dia-a-dia podem ser criticados e relacionados com as teorias administrativas. Basta lembrar a escolha pelo governo brasileiro do padrão de TV digital japonês e a influência da TV Globo nessa escolha, evidenciando claramente o poder de uma organização sobre o ambiente. O artigo de Kennedy Alencar, publicado na Folha de S.Paulo, no dia 8 de março de 2006, ilustra essa situação. Você pode ler o texto selecionando o botão a seguir:
ACESSAR
SAIBA MAIS
Afinal, qual a principal contribuição da Abordagem Contingencialista?
A principal contribuição da Teoria da Contingência é avançar a noção de que a organização é um sistema aberto em contínua inter-relação com o ambiente, adicionando a variável “tecnologia” como determinante da estrutura organizacional.
Síntese
A partir da década de 1940, em função das críticas às Abordagens da Teoria Clássica e da Escola de Relações Humanas, e também pela redescoberta dos trabalhos da Sociologia da Burocracia elaborados por Max Weber, surgiu a Teoria da Burocracia. Ela baseia-se na racionalidade e na adequação dos meios para atingir os objetivos planejados. Sua essência baseia-se nos princípios: caráter legal das normas e regulamentos, comunicações formais, caráter racional e divisão do trabalho, impessoalidade nas relações, hierarquia de autoridade, rotina e procedimentos padronizados, competência técnica e meritocracia.
Ao longo do tempo a terminologia burocracia descaracterizou-se e nos dias de hoje é muito usada para ilustrar volume alto de documentos, regras rígidas e etapas desnecessárias de procedimentos, que impedem ações rápidas ou eficientes. Entretanto para Weber, burocracia é a organização eficiente, e para tanto define com detalhes como as operações devem ser realizadas.
A Teoria Estruturalista apresenta uma visão ampla da organização, procurando conciliar os aspectos mostrados nas Abordagens da Teoria Clássica, na Escola de Relações Humanas e na Teoria da Burocracia, através de uma concepção múltipla que envolve: a organização formal e a informal, tanto as recompensas materiais como as sociais, os diferentes níveis hierárquicos da organização, as análisesintraorganizacional e a interorganizacional.
A partir da década de 1960 surge a Teoria dos Sistemas, com base nas ideias do alemão Ludwig Bertalanffy. A Teoria dos Sistemas baseia-se em três premissas básicas: os sistemas existem dentro de sistemas, os sistemas são abertos, e as funções de um sistema dependem de sua estrutura. E nessa concepção todos os sistemas são compostos dos seguintes parâmetros: entradas ou insumos, saídas ou resultados, processamento, retroação ou feedback e ambiente.
A partir da premissa da influência ambiental no contorno organizacional, a Teoria Contingencial afirma que não há uma única forma de se organizar, e sim múltiplas, as quais são influenciadas continuamente pelas mudanças ambientais. A visão da Teoria Contingencial procura enfatizar desenhos organizacionais e sistemas gerenciais que sejam adequados para cada situação específica, visto que o ambiente em que a organização atua está em continua mudança.
Referências Bibliográficas
BERTALANFY, Ludwig Von. Teoria Geral dos Sistemas. Petropólis: 1975.
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração: edição compacta. 7a. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2004.
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração, 9a. ed. Barueri (SP): Manole, 2014.
ETZIONI, Amitai. Análise comparativa de Organizações Complexas. São Paulo: Atlas, 1961.
HALL, Richard. Organizações: estrutura, processos e resultados. 8a. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
LITTLE, Stephen. ISMS: understanding art. Nova York: Universe, 2004.
MAXIMIANO, Antônio Cesar Amaru. Introdução à Administração. 7a. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
______. Introdução à Administração. 7a. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
MILNER, John. Mondrian. London: Phaidon Press, 1997.
SILVA, Reinaldo O. Teorias da Administração. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
THOMPSON, J.; BATES, FL. Tecnnology organization and administration. Ithaca, Business and Public Administration School, Cornell University, 1969.

Outros materiais