Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Juliana de Carvalho Gaeta Évila Pinheiro Damasceno Marcielly Freitas Bezerra Bianca Del Bianco Sahm Renan Vandre da Silva Toscano Saes Pollyana Cristina Vasconcelos de Morais Lucas Buruaem Moreira Fernanda Reinhardt Piedras Samuel Soares Valentim Francisco Sekiguchi Buchmann PRINCÍPIOS DE OCEANOGRAFIA PRINCÍPIOS DE OCEANOGRAFIA Ministério da Educação - MEC Universidade Aberta do Brasil - UAB Universidade Federal do Piauí - UFPI Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD Renan Vandre da Silva Toscano Saes Samuel Soares Valentim Francisco Sekiguchi Buchmann Pollyana Cristina Vasconcelos de Morais Marcielly Freitas Bezerra Fernanda Reinhardt Piedras Juliana de Carvalho Gaeta Lucas Buruaem Moreira Bianca Del Bianco Sahm Évila Pinheiro Damasceno Editora da Universidade Federal do Piauí - EDUFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella CEP: 64049-550 - Bairro Ininga - Teresina - PI - Brasil Dados internacionais de Catalogação na Publicação EQUIPE TÉCNICA Revisão de Originais José Barbosa da Silva Projeto Gráfico e Diagramação Nalton Luiz Silva Parente de Pinho Vilsselle Hallyne Bastos de Oliveira Revisão Gráfica Clarissa Sousa de Carvalho De acordo com a Lei n. 9.9610, de 19 de fevereiro de 1998, nenhuma parte deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada num sistema de recuperação de informações ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico sem o prévio consentimento do detentor dos direitos autorais. P957 Saes, Renan Vandré da Silva Toscano Saes Princípios de oceanografia / Renan Vandré da Silva Toscano Saes ... [et al.]. – Teresina : EDUFPI, 2018. 164 p. ISBN: 978-85-509-0288-3 Vários autores. Pós-graduação Lato sensu em Ecologia, 2018. 1. Oceanografia. 2. Oceanógrafo – Profissão. I. Saes, Renan Vandré da Silva Toscano. II. Título. CDD 551.46 Reitor José Arimatéia Dantas Lopes Vice-Reitora Nadir do Nascimento Nogueira Superintendente de Comunicação Jacqueline Lima Dourado Editor Ricardo Alaggio Ribeiro EDUFPI - Conselho Editorial Ricardo Alaggio Ribeiro (presidente) Antonio Fonseca dos Santos Neto Francisca Maria Soares Mendes José Machado Moita Neto Solimar Oliveira Lima Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz Viriato Campelo Diretor do Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD Gildásio Guedes Fernandes Vice-Diretora do Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD Lívia Fernanda Nery da Silva Coordenador do Curso Especialização em Ecologia Cledinaldo Borges Leal Coordenador de Tutoria do Curso de Bacharelado em Sistemas de Informação Santina Barbosa de Sousa PREFÁCIO PESQUISADORA CONVIDADA DANDO A IMPRESSÃO DO LIVRO O livro apresenta de forma resumida conteúdos introdutórios a oceanografia, baseando-se em uma literatura amplamente utilizada em cursos de graduação em Ciências da Terra por todo o mundo. O objetivo central dessa publicação é apresentar a alunos do ensino médio assuntos de interesse e as principais abordagens de profissionais em oceanografia, e assim instigar a formação de novas oceanógrafas e oceanógrafos em nosso país. Nessa primeira versão do livro, o leitor será exposto a uma ciência pouco abordada durante o ensino médio, e terá assim recursos mais realistas para decidir por um futuro nessa carreira. O primeiro capítulo leva o leitor a uma viagem sobre dimensões, distâncias e um pouco da história de como os humanos começaram a registrar e descrever as características principais dos oceanos até os dias de hoje, com alguns exemplos de expedições e instrumentos. O segundo capítulo foca em como os movimentos dos oceanos são estudados, linha de pesquisa conhecida como oceanografia física, apresentando o desenvolvimento dos instrumentos utilizados e introduzindo uma de suas principais ferramentas - a modelagem numérica. O capítulo 3 apresenta alguns aspectos abordados pela oceanografia geológica, detalhando tanto os sedimentos como as distintas linhas de praias presentes ao longo da costa brasileira. O capítulo 4 traz noções de oceanografia química, linha de pesquisa que se preocupa com a composição da água do mar, tanto natural como após alterações resultantes de atividades humanas. O capítulo 5, descreve diferentes ramos da oceanografia biológica, abordando processos importantes como a produção primária e apresentando os principais grupos de organismos encontrados nos oceanos. Os capítulos 6 e 7 descrevem as correntes oceânicas e costeiras, respectivamente, fornecendo a nomenclatura e princípios físicos a elas associados. O livro inclui ainda textos sobre os impactos na zonas costeiras (capítulo 8) com destaques às atividades antrópicas, e sobre bioprospecção marinha (capítulo 9), uma linha de pesquisa relativamente nova em comparação às clássicas apresentadas nos capítulos de 1 a 5, mas igualmente multidisciplinar. O último capítulo do livro se dedica a profissão em oceanografia, apresentando locais de formação no Brasil e algumas das áreas de atuação. O conteúdo desse livro terá muita valia para professores e alunos de ensino médio, uma vez que traz um informações diferenciadas daquelas encontradas em livros textos de ciências e apresenta a oceanografia de uma forma realista. Profa. Dra. Aurea Ciotti Centro de Biologia Marinha - Cebimar Universidade de São Paulo - USP PALAVRAS DO EDITOR Considerando que a maior parte do planeta seja coberto por grandes porções de água, os oceanos, a oceanografia é considerada uma ciência de alta relevância, vasta e emocionante. Compreender as interações dos oceanos com os continentes e a atmosfera, assim como os movimentos das ondas e das correntes, é fundamental para a própria compreensão da vida na Terra. Recentemente, a profissão denominada oceanógrafo vem ganhando espaço, cada vez mais valorizada e requisitada. O livro Princípios de Oceanografia retrata de maneira sucinta os conceitos oceanográficos e indica oportunidades aos jovens que demostram interesse em formar-se nesta profissão. Boa leitura! Renan Vandre da Silva Toscano Saes Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR Universidade Federal do Ceará-UFC SUMÁRIO CAPÍTULO 1 Histórico da oceanografia Renan Vandre da Silva Toscano Saes.....................................................11 CAPÍTULO 2 Oceanografia física Samuel Soares Valentim.........................................................................29 CAPÍTULO 3 Oceanografia geológica Francisco Sekiguchi Buchmann..............................................................49 CAPÍTULO 4 Oceanografia química Pollyana Cristina Vasconcelos de Morais & Marcielly Freitas Bezerra.....63 CAPÍTULO 5 Oceanografia biológica Fernanda Reinhardt Piedras...................................................................79 CAPÍTULO 6 Circulação oceânica Juliana de Carvalho Gaeta.....................................................................93 CAPÍTULO 7 Circulação costeira Renan Vandre da Silva Toscano Saes..................................................105 CAPÍTULO 8 Impactos na zona costeira Lucas Buruaem Moreira........................................................................119 CAPÍTULO 9 Bioprospecção marinha: biotecnologia acoplada ao estudo da oceanografia Bianca Del Bianco Sahm......................................................................131 CAPÍTULO 10 Oceanógrafo como profissão Évila Pinheiro Damasceno & Renan Vandre da Silva Toscano Saes.....149 APÊNDICE Distribuição dos laboratórios de pesquisa em oceanografia física por instituição....................................................................................................161 MINICURRÍCULO DOS AUTORES....................................................163 OCEANOGRAFIA 11 Esférica,gigantesca, azul brilhante com grandes brancos em áreas de nuvens, gelo e espirais de tempestades. Essa é a Terra vista do espaço por um astronauta. O azul corresponde ao oceano que modera a temperatura, influencia significativamente no clima e garante a manutenção da vida como conhecemos hoje. A população humana utiliza o oceano há anos, sendo que a conquista dos mares está diretamente relacionada com a evolução da sociedade humana, essa estabelece como mar o trânsito de pessoas; matéria-prima; alimento; trocas de mercadoria/comércio; energia; e como área de descarte de resíduos, infelizmente, contribuindo atualmente para os efeitos das mudanças climáticas. Cerca de 4,6 bilhões de pessoas (78% da população mundial) residem em um raio de 200 km do mar, compondo as maiores metrópoles do planeta, quase todas conectadas diretamente ao oceano. Mares e oceanos são segmentos menores do único oceano que envolve toda a terra emersa do planeta, divididos apenas para fins de conveniência (social e política) e geolocalização. Durante a Idade Média, grande parte do comércio marítimo era realizado entre o Mar Mediterrâneo e outros pequenos mares daquela região, ficando famosos os ‘Sete Mares’, compreendidos pelos mares Adriático, Arábico, Cáspio, Mediterrâneo, Negro e Vermelho e o Golfo Pérsico. Atualmente, a civilização humana globalizada, em constante troca de informações, responde com um olhar muito mais amplo e analítico sobre o oceano. Os novos sete mares são compostos pelos oceanos Pacífico Norte, Pacífico Sul, Atlântico Norte, Atlântico Sul, Índico, Ártico e Antártico. De acordo com a Organização Hidrográfica Internacional, existem 61 mares na Terra, como o Mar do Caribe (América Central); Mar do Norte (Norte Europeu); Golfo do México (México e EUA); Mar de Bering (entre a América e a Ásia); Golfo Pérsico (no Oriente Médio); Baía de Hudson (Canadá e EUA). HISTÓRICO DA OCEANOGRAFIA CAPÍTULO 1 Renan Vandre da Silva Toscano Saes Universidade Federal do Ceará UNIDADE I 12 Mares e oceanos, somados, cobrem 71% da superfície terrestre, o que corresponde a uma área de 361.100.000 Km2 e um volume de 1.338.000.000 Km3 (Tabela 1.1). Seu ponto mais profundo é a fossa das Marianas, com 11.022 m de profundidade no Pacífico e o ponto mais alto fica na cordilheira marinha do Havaí (EUA), uma montanha marinha de 10.203 m de altura desde o assoalho oceânico (Figura 1.1). Em média, o oceano tem uma camada de 3.796 m de espessura, com uma temperatura de 3,9°C e salinidade de 34,482 gramas de sal por litro de água, usualmente como salinidade 35. Em comparação, a terra emersa tem apenas uma espessura de 840 m sendo a cordilheira do Himalaia (Nepal) com 8.848 m. Já o ponto mais profundo entre todos os continentes fica na Sibéria (norte da Rússia), o lago Baikal com 1.680 m de profundidade, que represa 20% da água doce de degelo do planeta (GLEICK, 1996) (Figura 1.2). Tabela 1.1 - As proporções de massa da água do planeta se distribuem de maneira distinta por todo o planeta, seja na forma sólida (gelo), líquida (oceano, rios, lagos, agua subterrânea) ou gasosa (vapor atmosférico). A maior porção é conhecida como oceano, sendo de água salgada. Fo nt e: T EI X EI R A et a l., 2 00 9 e G A R R IS O N , 2 01 0.Porções de água na Terra Volume (Km 3) Porcentagem (%) Água salgada (Oceanos e Mares) 1.338.000.000 97,0 Água doce 35.000.000 3,0 Porções de água na Terra Volume (Km3) Porcentagem (%) Geleiras 24.000.000 68,7 Água subterrânea 10.500.000 30,1 Permafrost 300.000 0,8 Água superficial e Atmosfera 135.000 0,4 Água superficial e atmosfera Volume (Km3) Porcentagem (%) Lagos 91.000 67,4 Umidade do Solo 16.500 12,2 Atmosfera 13.000 9,5 Água dos pântanos 11.500 8,5 Rios 2.120 1,6 Água biológica 1.120 0,8 OCEANOGRAFIA 13 Embora o oceano possa parecer incrivelmente grande, em uma escala planetária é insignificante. Numa imagem que retrata a superfície da Terra revestindo um globo de papel de 12 cm de raio, os oceanos representariam apenas a fina camada de tinta azul que colore o papel, considerando os 12 cm de raio do planeta. O oceano corresponde a cerca de 0,02% da massa do planeta. Há um volume imensamente maior de água no interior do planeta do que no oceano, na atmosfera e rios. O Hemisfério Norte apresenta 60,7% de sua área superficial de mar e 39,3% de terra, a maior porção de terra emersa. No Hemisfério Sul, sua maior área está destinada a mar com 80,9%, e apenas 19,1% de terra (Figura 1.1 e 1.2). Figura 1.1 – Cerca de 71% da superfície do planeta está coberta pelo oceano, esse volume corresponde a 97% de toda a água da crosta terrestre (fonte: Adaptado de GARRISON, 2010). ^ UNIDADE I 14 Figura 1.2 – Cerca de 71% da superfície do planeta está coberta pelo oceano; esse volume corresponde a 97% de toda a água da crosta terrestre (fonte: Adaptado de GARRISON, 2010). Evolução planetária As maiores descobertas do século XX, com certeza, foram em torno da origem e história do universo. Embora muitos aspectos ainda sejam vagos, a física quântica e a biologia molecular embasaram a teoria do Big Bang (A Grande Explosão), uma explosão que gerou o universo. De acordo com a teoria do Big Bang, aparentemente este universo partiu de um ponto inicial e continua em expansão. A teoria pressupõe que toda a massa e toda energia do universo estavam concentradas em um único ponto geométrico no início do espaço/tempo, que começou a expandir. Ainda não se tem certeza do motivo da explosão. Estima-se que esta expansão continuará para sempre. Esse momento teria ocorrido há cerca de 14 bilhões de anos. Cerca de 1 bilhão de anos após, a temperatura já teria esfriado o suficiente para iniciar os agrupamentos de energia e matéria, organizados no que conhecemos como OCEANOGRAFIA 15 átomos, dando origem às primeiras galáxias e estrelas (Figura 1.3). O Sol é uma estrela de médio porte, com o núcleo na temperatura de 15.000.000°C, e a camada visível (superfície) com uma temperatura de 6.000°C. O Sol e alguns planetas, dentre eles a Terra, são chamados de Sistema Solar, do qual o Sol é o astro central, uma estrela. O Sistema Solar está em um dos braços, o braço espiral, da galáxia Via Láctea, uma das milhões de galáxias que compõem o universo. Desde a formação do oceano, a Terra completou 20 circuitos em torno da galáxia, considerando-se o período para completar uma volta de 230 milhões de anos (TEIXEIRA et al., 2009). A galáxia formou-se a partir de uma pequena estrela que ‘morreu’, explodiu e dissipou energia/matéria distribuída na forma de uma nuvem, chamada nebulosa. O choque de matéria da nebulosa gerou o Sol, os planetas, asteroides e meteoros da Via Láctea. Esta possui cerca de 5 bilhões de anos. A Terra tem 4,6 bilhões de anos, sendo que os oceanos começaram a se condensar há cerca de 1 bilhão de anos depois (Figura 1.3). Toda matéria compreendida entre o campo gravitacional da galáxia executa uma órbita elíptica em torno do Sol, inclusive a Terra e seu satélite natural, a Lua. Figura 1.3 – O ser humano compõe a parte mais recente da história da Terra. Em comparação de tempo com um ciclo de um dia (24h), o homem surgiu as 23:59h de um dia que iniciou a 0:00h, sendo que o surgimento da Terra foi há 4,6br de anos (fonte: Adaptado de GARRISON, 2010). UNIDADE I 16 Logo no inicio da formação da Terra, a gravidade promoveu uma diferenciação, atraindo a parte mais densa para o núcleo, formado em maioria pelos elementos ferro e níquel. Metais mais leves como silício, magnésio, alumínio, fósforo, carbono e oxigênio formaram a crosta. Os gases e o magma que afloram do interior da Terra na superfície são chamados de emissões vulcânicas, que liberam vários compostos voláteis, inclusive vapor de água. Após a formação da crosta, esse vapor excessivo formou uma espessa camada de nuvens acima da superfície do planeta, a proto-atmosfera, que impediu a penetração da luz solar. As nuvens mais altas começarama se resfriar e formar gotículas, precipitando uma chuva quente, que tornava a se transformar em nuvem, pela elevada temperatura das recentes rochas. Essa densa chuva deve ter durado cerca de 20 milhões de anos. A água foi se acumulando em bacias e, há cerca de 3,6 bilhões de anos, o oceano se formou, iniciando o processo de intemperismo nas rochas, evento responsável pela elevada salinidade encontrada nas águas marinhas. A vida, sem sombra de dúvidas, foi um importante evento e talvez o mais importante desde a formação do planeta. Os raios ultravioleta que varriam a superfície da Terra não penetravam nas camadas mais profundas do oceano, propiciando a formação das primeiras formas de vida. Há cerca de 2 bilhões de anos os primeiros microrganismos foto-autotróficos começaram a dispor de oxigênio livre por meio da fotossíntese, criando uma atmosfera oxidada, iniciando o ciclo desse elemento (PRESS et al., 2006; GARRISON, 2010). Figura 1.4 – Representação das camadas terrestres, os estratos que compõem um raio de 6.600 km do planeta Terra, do núcleo até a crosta (fonte: Infográfico Drüm da universidade de York. Adaptado de FIORAVANTI, 2012). OCEANOGRAFIA 17 O oxigênio estocado desde este período na atmosfera e nos oceanos garantiu a vida como conhecemos atualmente (Capítulo 5). A teoria da tectônica de placas prevê que as sólidas placas oceâ- nicas e continentais derivam por cima da parte superior do manto, uma região plástica com elevada temperatura e presença de magma. Cerca de 210 milhões de anos atrás iniciou-se o processo de separação do único continente emerso, a Pangeia. Este era circundado pela única massa de água, a Pantalassa, o primeiro e único oceano da época. Há 130 milhões de anos, houve a primeira grande separação da terra emersa em dois megacontinentes: a Laurásia (norte) e a Godwana (Sul), formando-se en- tre eles um outro corpo de água, o Mar de Thethis. Depois disso, vários outros oceanos e mares se formaram (processo de ‘rifteamento’), dei- xando mais placas à deriva. Há 50 milhões de anos, aproximadamente, os continentes e os oceanos estavam posicionados em sua configuração atual (Capítulo 6). Ainda hoje as placas continuam se movendo. As placas divergentes que formam a cordilheira Mesoatlântica se afastam de 2 a 7 cm por ano. As placas oceânicas (crosta oceânica basáltica) são mais densas que as placas continentais (crosta continental granítica) (Figura 1.5). As placas continentais flutuam em equilíbrio isostático em cima das bacias oceânicas. Existem três diferentes limites entre as placas tectônicas: (1) Limite divergente: Em processos de formação de oceanos, ocorre a abertura e assim a exposição da crosta oceânica, afastando as placas oceânicas. A cordilheira marinha Mesoatlântica é um exemplo deste movimento de abertura do oceano Atlântico (Figura 1.5). (2) Limite convergente: Comum em áreas de subdução, que refletem a colisão de uma placa oceânica contra uma placa continental, resultando numa vala de subducção profunda na placa oceânica, enquanto que na placa continental será observado um levantamento vertical. Um exemplo clássico é a formação da cordilheira dos Andes e a fossa do Peru, entre o limite da costa oeste da América do Sul e a costa leste do Pacífico (Figura 1.5). Também ocorrem limites convergentes entre placas continentais; a maior cordilheira do mundo, Himalaia, é resultado deste processo. (3) Limite transformante: as placas deslocam-se uma em relação à outra horizontalmente; ocorrem tanto entre placas continentais quanto oceânicas. UNIDADE I 18 O assoalho oceânico pode ser dividido em duas porções, sendo a região central a bacia oceânica e a borda exterior, próxima aos continentes, a margem continental. Essa região afogada dos continentes pode apresentar características passivas ou ativas, estando diretamente relacionadas com a tectônica de placas. As bacias oceânicas (assoalho oceânico profundo) apresentam uma composição muito diferente das margens e dos continentes, com rochas basálticas (placas oceânicas). Tais bacias constituem cerca de metade da área superficial da Terra. São formadas principalmente por áreas planas, que podem ter até 7 km de sedimentos por cima da base basáltica, e áreas montanhosas (ilhas, colinas, atóis, zonas de expansão). Uma margem continental passiva situa-se em regiões mais interiores das placas tectônicas, afastadas dos limites, geralmente associados a movimentos divergentes, apresentando maior estabilidade e comprimento. Por serem muito frequentes ao longo dos continentes voltados para o litoral Atlântico, também podem ser chamadas de margens atlânticas. Já as margens ativas apresentam forte instabilidade com ocorrência de terremotos e vulcões próximos aos limites das placas, muito comuns em movimentos convergentes. Por serem características ao oceano Pacífico, podem ser também denominadas de margens tipo Pacífico (Figura 1.6). A largura da plataforma continental está relacionada com a distância que esta se encontra do limite da placa a qual pertence. Nota-se, pela Figura 1.5, que a margem ativa (oeste do continente sul-americano) é estreita, enquanto a margem passiva (leste da América do Sul) é muito espessa. A plataforma continental é a porção da margem continental mais próxima das características dos continentes (ainda se encontra acima uma placa granítica). As plataformas de todo o planeta compõem 7,4% de toda a área do oceano. No Brasil, a plataforma continental apresenta um comprimento médio de 170 km com uma profundidade final de 140 m. A região sul possui a maior plataforma (250 km) em relação ao nordeste (costa do PE/PB com 32 km de plataforma). No ultimo período glacial, 18.000 anos atrás, o nível da água do mar recuou aproximadamente 125 m em relação ao atual, expondo as plataformas continentais. Estes movimentos de transgressões e regressões marinhas, bem como a deriva de placas tectônicas, formaram as atuais linhas de costa que hoje conhecemos (Capítulo 3). OCEANOGRAFIA 19 Figura 1.5 – Os movimentos de elevação e subducção entre placas continentais (em cinza) e oceânicas (em marrom), respectivamente, modelam o assoalho oceânico (limites divergentes e convergentes) (fonte: TEIXEIRA et al., 2009. Adaptado de LAPA (2015) da Universidade Federal de Roraima). O talude continental marca o fim da plataforma e o início da área de transição entre as placas graníticas (continental) e basálticas (oceânica). A quebra de plataforma é a região mais acentuada do talude com uma elevada inclinação. O talude possui em média 20 km de comprimento e pode ter um desnível de até 3.500 m. O sopé continental recebe o aporte final dos sedimentos provenientes do continente, marcando o fim da margem continental e o início das bacias oceânicas (Figura 1.6). ^ UNIDADE I 20 Figura 1.6 – Composição das diferentes regiões das margens continentais, como exemplo de uma margem passiva. Escala vertical exagerada da real (Fonte: Adaptado de GARRISON, 2010). Primeiras navegações Historicamente, civilizações que utilizavam o transporte marítimo (mobilidade ou alimento) possuíam maior desenvolvimento e maiores fronteiras territoriais em relação às outras culturas. Os primeiros registros escritos de comércio marítimo datam de 2000 a.C., no Mar Mediterrâneo. Os cretenses foram o primeiro povo a estabelecer uma supremacia marítima no Mediterrâneo. Apos a queda deste império, em 1200a.C., os fenícios obtiveram o controle e expandiram a zona comercial para além do Estreito de Gibraltar. A cultura grega iniciou seu domínio do oceano Atlântico em 900 a.C. Foram os primeiros a observar uma corrente sentido norte-sul além de Gibraltar, considerando toda essa porção de água como um imenso rio, chamado de ‘Okeanos’. Porém, estas expedições eram muito associadas à zona costeira; pouquíssimas se aventuravam em alto mar. Do outro lado do mundo, outros povos também se lançaram ao mar, como os chineses, que desenvolveram um complexosistema aquaviário que interligava os diversos rios ao oceano Pacífico. Estima-se que em 3000 a.C. os povos polinésios já se deslocavam com facilidade entre as ilhas da atual Indonésia e do sul da Ásia, iniciando a colonização de OCEANOGRAFIA 21 ilhas na porção central do Pacífico. Estes “marinheiros” se baseavam simplesmente na observação do Sol e das estrelas durante o amanhecer e o anoitecer (GARRISON, 2010). O comércio e a conquista de novas terras promoveram viagens cada vez mais ambiciosas, longas e distantes da costa. É inegável que as ciências marinhas tiveram um começo ligado a simples observações descritas pelos navegadores. Em 300 a.C. foi fundada a maior biblioteca da história do mundo antigo, com o maior acervo de pergaminhos, a Biblioteca de Alexandria (Egito), considerada a primeira universidade do planeta. Devido a esta fonte de informações, as ciências marinhas tiveram um grande salto em seus estudos aplicados. Um dos bibliotecários mais famosos que dirigiu a biblioteca foi o grego Erastóstenes de Cirena, o primeiro a calcular, de maneira notável, a circunferência da Terra. Embora Pitágoras já tivesse chegado à conclusão de que o planeta era redondo em 600 a.C., foi Erastóstenes quem estimou seu tamanho. O valor original publicado pelo bibliotecário em 230 a.C. difere em apenas 8% do valor real calculado atualmente (40.075 km). As primeiras cartas náuticas datam de 800 a.C., com o objetivo de comunicar mudanças necessárias nas rotas, ou características físicas perigosas, como rochedos. Mas a ciência da cartografia foi implementada pelos estudiosos de Alexandria. O sistema de linhas imaginárias que dividem a superfície da Terra também foi criado por Erastóstenes. Anos depois, outros dois bibliotecários famosos, Hiparco e Ptolomeu, aperfeiçoaram o sistema de coordenadas, baseados na latitude e na longitude, considerando que a Terra possuía 360°, e com especificações de graus, minutos e segundos para georeferenciar os pontos. Hoje em dia utilizamos este sistema para a navegação, embora associados a satélites orbitais em torno do planeta para orientar os pontos (Capítulo 6). Após a queda do Império Romano e a destruição da Biblioteca de Alexandria no século IV d.C., o desenvolvimento intelectual do Ocidente enfraqueceu, pois os símbolos e conceitos da ciência eram considerados pagãos durante todo o período da Idade Média. Todo o conhecimento começou a ser difundido pelos árabes durante esse período. O povo árabe também importou muito conhecimento da Ásia, pois estes se utilizavam da bússola, uma invenção chinesa, a fim de orientar suas embarcações e suas caravanas pelos desertos. Graças aos conhecimentos árabes sobre os ventos periódicos no oceano Índico (as monções), o navegador UNIDADE I 22 Vasco da Gama viajou do leste da África até a Índia, em 1498. Outros povos também tiveram destaque em suas navegações, enquanto a Europa regredia durante os ‘mil anos de trevas’ da Idade Média. Os vikings exploraram e invadiram terras a norte e ao oeste (os vikings foram o primeiro povo europeu a chegar a América, cerca de 500 anos antes da Espanha). Os polinésios realizaram as maiores viagens exploratórias sobre os oceanos, apesar de utilizarem embarcações muito menores e simples que os outros povos citados até o momento, e isto no oceano Pacífico, o maior oceano do planeta. Entre 300 e 600 d.C., os polinésios povoaram as ilhas mais longínquas da costa, como o Havaí e a Ilha de Páscoa, sendo estes lugares os últimos da Terra a serem habitados. Entre 1405 e 1433 d.C., o almirante chinês Zheng He comandou a maior frota marinha que já existiu, com 317 navios e 37.000 marinheiros; estes percorreram 64.000 km chegando até mesmo a adentrar o Atlântico (há relatos indígenas de que grandes velas vermelhas foram avistadas na costa brasileira). O objetivo desta viagem não estava voltado à colonização, mas sim exibir as riquezas e grandiosidade da China e demonstrar amizade a povos distantes (alianças). Além da bússola, os chineses inventaram o leme central, as velas em mastros múltiplos e compartimentos à prova da água (GARRISON, 2010). Com o Renascimento no século XV d.C, o comércio na Europa ressurgiu, reativando as antigas rotas comerciais e a circulação de mercadorias entre a Europa e o Oriente, utilizando as rotas da Ásia Central e Arábia. Em 1453 o Império Turco-Otomano estabeleceu controle sobre toda esta área, impossibilitando a manutenção destas rotas. As ‘grandes navegações’ europeias vieram como forma alternativa para suprir tais rotas, através do meio marítimo. O infante D. Henrique (família real portuguesa) patrocinou a formação do centro de estudos de ciências marinhas e de navegação, chamado centro de Sagres (Portugal). Porém foi em 1492 que Cristóvão Colombo, um navegador genovês sob comando do império espanhol, que ‘descobriu’ a América. Desde 11.000 anos atrás nativos americanos já estavam estabelecidos pelo continente. Já em 1507 as cartas náuticas incluíam o novo continente com o nome América (Carta Waldseemüller). Fernão de Magalhães foi o primeiro navegador europeu a comandar uma expedição para circunavegar o mundo (1519-1522). Sob a bandeira do governo espanhol, provou de maneira definitiva que a Terra era redonda. Após a viagem de Fernão, encerraram as viagens de grandes OCEANOGRAFIA 23 navegações, e iniciou-se uma era de exploração e dizimação dos povos e recursos naturais das novas colônias. Outras potências, como Inglaterra e França, também se aventuram ao mar e conquistaram colônias como os EUA, a Índia, a Polinésia Francesa, a Austrália e diversos povos africanos. Navegações científicas A primeira expedição cientifica documentada ocorreu entre 1768 e 1771, sob bandeira inglesa do comandante James Cook, no navio HMS Endeavour. Embora a expedição tivesse vários objetivos, a observação científica foi um deles. Foi nesta expedição que ‘descobriram’ a Nova Zelândia e mapearam a Grande Barreira de Corais Australiana. O sucesso de sua primeira viagem resultou em outras duas expedições: uma (entre 1772 e 1775) ao extremo sul, sendo o primeiro navegador a circunavegar o mundo em altas latitudes, o que ‘descobriu’ a ilha de Pascoa e chegou até a latitude 71°S, embora não tenha encontrado a Antártica. Sua última expedição foi entre 1776 e 1779, com o objetivo de explorar as altas latitudes do Norte (Canada, Alasca e Sibéria). Nesta viagem Cook ‘descobriu’ o Havaí e cartografou a costa oeste da América do Norte. Ele e os cientistas da Academia Real Britânica coletaram amostras de plantas, animais, diversos organismos marinhos e amostras do assoalho oceânico. O detalhamento na descrição das suas cartas náuticas do Pacífico é tão preciso que ajudaram os aliados durante a Segunda Guerra Mundial (GARRISON, 2010). Os EUA também contribuíram para o avanço sobre os mares. A expedição a bordo do navio Vincennes liderado pelo capitão Charles Wilkes (1838-1842) foi responsável pela descoberta da Antártica, confirmando esta terra afastada como um continente. Matthew Maury, um oficial da marinha americana, iniciou estudos de densas e completas compilações de temperatura do oceano, temperatura atmosférica e direção dos ventos. Embora Benjamin Franklin tenha publicado em 1769 a primeira carta náutica com direções de correntes (Corrente do Golfo), Maury foi o primeiro a perceber um padrão global de ventos e correntes de superfície. Em 1836, o autor publicou o primeiro mapa de batimetria oceânica impresso, com dados do navio USS Dolphin (Figura 1.7). Em 1855 publicou sua maior obra The physical geography of the seas (em português, “A geografia física dos oceanos”), livro que o deixou conhecido como o pai da oceanografia física (Figura 1.8). UNIDADE I 24 Figura 1.8 – Capa original do livro A geografia física dos oceanos, que consagrou Matthew Maury como o pai da oceanografia física (Fonte: Internet Archive, 2015). Figura 1.7 – Primeiro mapa batimétrico impresso produzidopelo norte-americano Matthew Maury (Fonte: NOAA, 2015). OCEANOGRAFIA 25 Todas as expedições acima promoveram grandes avanços nas ciências marinhas, ainda que nenhuma delas tivesse como objetivo principal a pesquisa acadêmica. A primeira expedição de circunavegação com o objetivo central exclusivo voltado para as ciências marinhas foi a do navio britânico HMS Challenger de 1872-1876. Outra famosa expedição anterior, a do navio HMS Beagle, foi comandada pelo capitão Robert FitzRoy e o naturalista Charles Darwin, entre 1831 a 1836. Esta resultou em descobertas marcantes para a teoria da evolução da vida no planeta, porém foi principalmente voltada para experimentos e amostragens continentais, O best-seller A origem das espécies, de C. Darwin (publicado em 1859), foi um dos frutos desta esplêndida expedição, que inspirou a futura Challenger. A expedição Challenger teve o cunho científico marinho. Embora tivesse um comandante da marinha britânica, a direção e o tempo de viagem foram decididos por dois pesquisadores, Charles Wyville Thomson e John Murray, que percorreram 127.600 km (Capítulo 2). Estes criaram o termo oceanografia, que designa atualmente os estudos dos mares e oceanos. Números impressionantes de amostragens e recordes de profundidades para a época foram quebrados por esta expedição: 492 sondagens profundas (até 8.185 m nas Filipinas); 133 dragagens; 151 arrastos; 77 amostragens de água; 4.717 espécies novas. A expedição confirmou que existe vida em áreas profundas nos oceanos; refinou os dados de correntes de superfícies e correntes de fundo; introduziu a distribuição de sedimentos; estudou os perfis dos recifes de corais. A descoberta da vida marinha nas profundezas foi a base da biologia marinha. As denominadas ‘bolotas escuras de sedimento’ ricas em minerais (petróleo do solo oceânico) foram umas das maiores descobertas da expedição, levando ao interesse crescente até hoje em estudar o assoalho oceânico. O resultado da expedição foi o ‘Relatório Challenger’, uma série de volumes muito detalhados e com ilustrações belíssimas, servindo, na verdade, para estabelecer a recém-criada ciência da oceanografia. Até hoje a expedição Challenger foi a mais longa expedição oceanográfica contínua da historia. Em menor escala, os russos também contribuíram para a evolução da oceanografia com um detalhado relatório sobre a temperatura e salinidade do Pacífico Norte durante a expedição do navio Vitiaz, sob o comando do capitão Marakov entre 1886-1888. Estes dados são utilizados atualmente para discussões em relação às mudanças climáticas globais (GARRISON, 2010). UNIDADE I 26 A partir do século XX, as explorações oceanográficas se tornaram ainda mais ambiciosas e caras, com novos equipamentos eletrônicos e óticos (sondas). Em 1925, o navio alemão Meteor inovou ao levar uma ecossonda a bordo, e durante dois anos mapeou a bacia oceânica do Atlântico Sul, que emite ondas sonoras da superfície até o assoalho oceânico e retornam em períodos específicos, ‘desenhando’ o fundo do oceano. Estas informações foram fundamentais para revelar o relevo altamente irregular do fundo oceânico, e não um perfil plano, como se imaginava. Este estudo subsidiou a descoberta da cordilheira marinha Mesoatlântica. A escuna Scripps, sob o comando do norueguês Harald Sverdrup, explorou as características geofísicas na costa sul da Califórnia, resultando na publicação do livro O oceano, em 1942, a primeira referência moderna às ciências do mar. Com uma capacidade de perfuração a 6.000 m abaixo da coluna de água, o navio Glomar Challenger iniciou em 1968 uma importante missão para determinar as origens do assoalho oceânico. Estas descobertas fundamentaram a teoria da deriva das placas tectônicas, descritas em 1912 pelo alemão Alfred Wegener. Em 2007, o navio oceanográfico japonês Chikyu iniciou operações de perfurações em torno do globo, sendo atualmente um dos maiores e mais modernos navios de pesquisa oceanográfica em operação. Ele possui autonomia para perfurar até 11.000m de profundidade, sendo o mais importante instrumento do Programa Internacional de Perfuração Oceânica (em inglês, “Integrated Ocean Drilling Program – IODP”). A fim de processar os dados obtidos pelas expedições oceanográficas modernas, os centros de pesquisas oceanográficos acompanharam esta evolução histórica da oceanografia a partir do solo. Um destaque é o primeiro centro de oceanografia, o Institut Océanographique, fundado em 1906 pelo príncipe Albert I, de Mônaco. Um dos famosos alunos deste instituto foi Jacques Cousteau, inventor do equipamento de mergulho autônomo, em 1943. Atualmente o órgão americano de Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (National Oceanic and Atmospheric Administration - NOAA) é um dos maiores centros de informações sobre os oceanos e mundialmente influentes no investimento e desenvolvimento de tecnologias oceanográficas. Outro órgão americano que ganhou destaque na oceanografia moderna foi a Administração Nacional do Espaço e da Aeronáutica (National Aeronautics and Space Administration - NASA). A agência espacial americana usou o satélite Seasat, pela primeira vez em 1978, para registrar a temperatura de superfície dos oceanos. Desde então, uma ciência chamada sensoriamento OCEANOGRAFIA 27 remoto vem se utilizando de satélites para obter diversas características oceanográficas (Capítulo 6). Um destaque é o satélite Aqua, um dos satélites de nova geração, lançado em 2002, e que registra as mais diversas informações sobre a superfície dos oceanos, desde temperaturas até a estimativa da altura de ondas. Os EUA também formaram a rede de satélites que compõem o sistema de posicionamento global (em inglês, global positioning system - GPS), amplamente utilizado até mesmo em celulares e automóveis no estabelecimento de coordenadas em tempo real de localização em terra. O GPS revolucionou o sistema de coordenadas na coleta de dados oceanográficos (GARRISON, 2010). Atualmente a oceanografia é conhecida por estudar os processos de formação e manutenção dos oceanos, as formas de vida associadas a estes e as áreas de terra que os limitam. Assim, uma gama de disciplinas forma a ciência da oceanografia (GARRISON, 2010). Para fins didáticos, as ciências marinhas são divididas em quatro vertentes, que serão estudas mais a fundo nos capítulos seguintes. (1) Oceanografia física (Capítulo 2). (2) Oceanografia geológica (Capítulo 3). (3) Oceanografia química (Capítulo 4). (4) Oceanografia biológica (Capítulo 5). Referências FIORAVANTI, C. Revista Pesquisa Fapesp - Edição 198 - Agosto de 2012. Abrindo a terra. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp. br/2012/08/10/abrindo-a-terra/>. Acesso em 20 de junho de 2015. GARRISON, T. Fundamentos de oceanografia. São Paulo: Cengage Learning, p. 426, 2010. GLEICK, P. H, Recursos de água. In: SCHNEIDER, S. H. (Ed.) Enciclopé- dia do clima e tempo. Vol. 2, New York: Oxford University Press, p. 817- 823, 1996. UNIDADE I 28 INTERNET ARCHIVE. US Archive. Disponível em: <https://ia600803.us.ar- chive.org/zipview.php?zip=/15/items/olcovers587/olcovers587-L.zip&file=- 5872927-L.jpg>. Acesso em 20 de junho de 2015. LAPA - Laboratório de Paleontologia da Amazonia Campus do Paricarana. Universidade Federal de Roraima. Tectônica de Placas. Disponível em: <http://ufrr.br/lapa/index.php?option=com_content&view=article&id=%20 94>. Acesso em 20 de junho de 2015. NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration. NOAA's page about the memoirs of 1852: Vicissitudes of Ocean Exploration Rear Admiral S. R. Franklin. Matthew Fontaine Maury - USS Dolphin (1836). Disponível em: <http://oceanexplorer.noaa.gov/library/readings/vicissitudes/ media/gulf.html>. Acesso em 20 de junho de 2015. PRESS, F.; GR OTZINGER, J.; SIERVER, R.; JORDAN, T. H. Para enten- der a Terra. Ed. 4, Porto Alegre: Bookam, p. 656, 2006. TEIXEIRA, W.; FAIRCHILD, T. R.; TOLEDO, M. C. M.; TAIOLI, F. Decifran- do a Terra.Ed. 2, São Paulo: Companhia Editora Nacional, p. 624, 2009. OCEANOGRAFIA 29 A oceanografia é uma ciência multi-interdisciplinar dividida basicamente em quatro grandes subáreas: oceanografia biológica, oceanografia química, oceanografia geológica e a oceanografia física. Esta divisão se torna necessária diante da grandeza dessa ciência repleta de especificidades e a necessidade de detalhamento de cada área de conhecimento. No entanto, um oceanógrafo necessita possuir uma visão holística em suas pesquisas de modo que a integração das subáreas proporcione um estudo mais robusto e eficaz. Este capitulo está focado em detalhar alguns principios da oceanografia física. Dentro desta subárea, a teoria e observação devem caminhar juntas para minimizar os possíveis erros. A teoria é simplesmente uma explicação baseada na observação, medição e fundamentos. Uma observação de qualidade com método coerente possibilita incorporar informações para o desenvolvimento de novas teorias, e tais teorias possibilitam o surgimento de melhores formas de realizar observações. Por que estudar a física dos oceanos? A oceanografia física é uma área da oceanografia que estuda o movimento dos fluidos nos oceanos e ambientes adjacentes, sendo o estudo das propriedades físicas e dinâmica do oceano (STEWART, 2008). Os interesses primários são a interação do oceano com a atmosfera, o fluxo de calor no oceano, a formação de massas da água, as correntes e dinâmica costeira. A oceanografia física é considerada por muitos uma subdisciplina de geofísica, com significativa importância na aplicação de estudos climáticos globais, regionais e locais, e em estudos de sistemas costeiros. Pode ainda ser um elemento chave nos estudos interdisciplinares de produção primária, fontes hidrotermais, e dinâmica e estoque de dióxido de carbono (CO2). Em uma visão prática, a oceanografia física estuda e observa as correntes, a dinâmica das ondas e a interação oceano-atmosfera (GARRISON, 2010). A pergunta do por que de estudar os oceanos, levantada pelo autor Stewart (2008), se faz relevante para o maior entendimento do tema em questão. A resposta a essa pergunta depende dos nossos interesses, ou seja, do nosso OCEANOGRAFIA FÍSICA Samuel Soares Valentim Universidade Federal do Ceará CAPÍTULO 2 UNIDADE II30 uso dos oceanos. Três importantes temas serão descritos a seguir: (1) Nós obtemos comida dos oceanos desde as grandes navegações; a prática de descobrimento de novas terras e a pesca para sobrevivência e posteriormente como comércio, é um marco para este tema. Somos interessados em processos que influenciam o mar, assim como os agricultores são interessados no tempo e clima. O oceano não apenas tem o tempo como as mudanças de temperatura e correntes, mas as condições climáticas nos oceanos têm capacidade de fertilização, desde a produtividade primária nos primeiros centimetros da coluna d’água até o desenvolvimento de toda a cadeia trófica. (2) Nós usamos o oceano; há um exorbitante número de habitações e obras costeiras ao longo das zonas costeiras e também em regiões offshore. Os oceanos e mares são usados para transporte, seja de pessoas, seja de cargas ou ambos. Os oceanos nos fornecem recursos valiosos (exs.: óleos e gases). E os oceanos são usados para recreação diversas (exs.: natação, pesca, surfe, velejar e mergulho). Diante disso, é nitido nosso interesse em processos que influenciam essas atividades, especialmente das ondas, ventos, correntes e temperaturas. (3) O oceano influencia o clima, seja na distribuição das chuvas, secas, climas regionais, eventos extremos (exs.: inundações, marés meteorológicas), seja no desenvolvimento de outros fenômenos (tornados, furacões e tufões). Com isso, somos interessados em interações oceano-atmosfera, especialmente nos fluxos de calor e água ao longo da superficie do oceano, no transporte do calor pelas correntes oceânicas e na influência dos oceanos sob os padrões climáticos. Antecedentes e desenvolvimento histórico É milenar o conhecimento sobre correntes oceânicas, ventos, ondas e marés. Navegadores da Polinésia realizavam comércio a longas distâncias no oceano Pacífico por volta de 4000 a.C. (SERVICE, 1996). Pytheas, geógrafo e mercador grego, explorou o Atlântico da Itália à Noruega no ano 325 a.C. Comerciantes árabes usaram o conhecimento de ventos inversos e correntes no oceano Índico para estabelecer rotas de comércio para China na Idade Média e depois para Zanzibar, na costa africana. E a conexão entre marés e o sistema Sol-Lua foi descrito na Samaveda no período da védica indiana (1750- 500 a.C.), estendendo-se de 2000 a 1450 a.C. (PUGH, 1987). O conhecimento europeu moderno do oceano iniciou-se com as viagens de descobrimento OCEANOGRAFIA 31 por Bartolomeu Dias (1487-1488), Cristóvão Colombo (1492-1494), Vasco da Gama (1497-1499), Fernando de Magalhães (1519-1522) e muitos outros. Estes precursores lançaram as bases para as rotas marítimas/comerciais globais que se estendem desde a Espanha até as Filipinas no início do século XVI. As rotas foram baseadas em um bom conhecimento dos ventos alísios, ventos de oeste e correntes de contorno oeste no Atlântico e no Pacífico (COUPER, 1983: 192- 193) (Figura 2.1). Os primeiros exploradores europeus foram logo seguidos por viagens científicas de descobrimento lideradas por James Cook (1728-1779) no Endeavour, Resolution, e Adventure; Charles Darwin (1809-1882) no Beagle; Sir James Clark Ross and Sir John Ross, que pesquisaram as regiões Ártica e Antártica, no Victory, Isabella e no Erebus; e Edward Forbes (1815-1854), que estudou a distribuição vertical da vida no oceano. Outros coletaram observações oceânicas e produziram úteis resultados, incluindo Edmond Halley, que traçou a rota dos ventos alísios e das monções; e Benjamin Franklin, que traçou os primeiros vetores da corrente do Golfo. Um histórico mais detalhado sobre a evolução das expedições marítimas pode ser encontrado no capítulo inicial deste livro. Navios lentos e sem tanta modernidade dos séculos XVIII e XIX deram lugar aos satélites, derivadores e instrumentos autônomos por volta do fim do século XX. Os satélites têm observado o oceano, ar e a terra. Milhares de derivadores coletam informações em 2 km do oceano. Os dados desses sistemas, quando inseridos em modelos numéricos, permitem o estudo da Terra como um sistema. Primeiramente, é possível estudar como a biologia, a química e os sistemas físicos interagem para influenciar o meio ambiente. Figura 2.1 – Exemplo da era da exploração dos oceanos. Curso percorrido pelo H.M.S Challenger durante a expedição britânica Challenger (1872-1876) (Fonte: Adaptado de STEWART, 2008). UNIDADE II32 Marcos para a compreensão dos oceanos O marco inicial se deu na primeira investigação científica no final do século XVII. A princípio, o progresso foi bem lento, com simples observações que tinham sua importância para os cientistas da época, que não se consideravam oceanógrafos, até porque nem existia o termo ainda. Mais tarde, descrições detalhadas e experimentos oceanográficos foram apresentados por cientistas que se especializavam em estudos do oceano. A seguir serão apresentados alguns dos principais marcos para o entendimento dos oceanos ao longo da história (STEWART, 2008). 1685 - Edmond Halley, investigando os sistemas de ventos e correntes oceânicas, publicado em “Um relato histórico dos ventos alísios, e monções, observado nos mares entre e perto dos Trópicos, com uma tentativa de atribuir a causa física dos referidos ventos”. 1735 - George Hadley publicou a história dos ventos alísios baseado nas observações do momentum angular em “No que diz respeito a causa da geração dos ventos alísios” (Philosopical Transactions, 39:58-62). 1751 - Henri Ellis realizou a primeira sondagem profunda de temperatura dos Trópicos, encontrando massa da água fria abaixo de uma camada superficial quente, indicando que as águas vieramdas regiões polares. 1769 - Benjamin Franklin, após ser titulado como mestre, fez o primeiro mapa da corrente do Golfo usando informações de navios correios que navegavam entre a Nova Inglaterra e a Inglaterra. As informações foram coletadas pelo seu tio Timothy Folger. 1775 - Laplace publicou uma teoria sobre as marés. 1800 - Conde Rumford propôs uma circulação meridional do oceano com água afundando (movimento descendente) próximo aos polos e subindo perto do Equador (movimento ascendente ). 1847 - Matthew Fontaine Maury publicou sua primeira carta de ventos a correntes baseadas em dados de navios. Maury estabeleceu a prática de OCEANOGRAFIA 33 intercâmbio internacional de dados ambientais, iniciando pela prática de troca de diários de bordo para confecção de mapas e cartas através dos dados coletados. 1872-1876 – A Expedição Challenger marcou o início do estudo sistemático de biologia, química e fisica do oceano ao longo do mundo. 1885 - Pillsbury realizou medições diretas da corrente da Flórida usando medidores de correntes fundeados por um navio ancorado no fluxo da corrente. 1903 - Fundação do Laboratório de Biologia Marinha da universidade da Califórnia, anos depois renomeado para Instituto de Oceanografia. 1910-1313 - Vilhelm Berknes publicou “Meteorologia dinâmica e hidrologia”, que lançou as bases da dinâmica dos fluidos geofísicos. A partir disso, foi desenvolvida a ideia de frentes, fluxo geostrófico, interação oceano- atmosfera e ciclones. 1930 - Fundação do Instituto Oceanográfico da Woods Hole. 1942 - Publicação do “O Oceano”, por Sverdrup, Johnson e Fleming, tratando sobre a compreensão da pesquisa de conhecimento oceanográfico até esse momento. 1945 (Após Segunda Guerra Mundial) - A necessidade de detectar submarinos gerou nas Marinhas de todo o mundo o objetivo de expandir os estudos sobre o mar. Esse fato levou a fundação de departamentos de oceanografia em universidades estaduais, incluindo estado de Oregon, Universidade do Texas, Universidade de Miami, Universidade de Rhode Island, e a fundação de laboratórios nacionais sobre os oceanos como os vários institutos de ciência oceanográfica. 1947-1950 - Sverdrup, Stommel e Munk publicaram suas teorias de circulação do vento em direção ao oceano. Os três artigos lançaram as bases para a compreensão da circulação oceânica. UNIDADE II34 1949 - Inicio da Cooperativa de Pescadores da Califórnia, que investigou a corrente da Califórnia. O estudo mais completo realizado sobre uma corrente costeira. 1952 - Cronweill and Motngomery redescobriram a corrente de fundo equatorial dentro do Pacífico. 1955 - Bruce Hamon e Neil Brown desenvolveram o “Conductivity, Temperature and Depth System” (CTD) para medições da condutividade e temperatura ao longo da coluna da água dos oceanos. 1958 - Stommel publicou teorias para a circulação profunda (circulação termohalina) do oceano. 1963 - Corporação Sippican (Tim Francis, Willian Van Allen Clark, Graham Campbell e Sam Francis) inventaram o “Expendable Bathy Thermograph” (XBT), um perfilador muito sensível, principalmente para temperatura. Um dos instrumentos oceanográficos mais utilizados em navios de pesquisa. 1969 - Kirk Bryan e Michael Cox desenvolveram o primeiro modelo numérico para circulação oceânica. 1978 - NASA lançou o primeiro satélite oceanográfico, o SEASAT. O projeto desenvolveu técnicas usadas por gerações de satélites de sensoriamento remoto. 1979-1981 - Terry Joyce, Rob Pinkel, Lloyd Regier, F. Rowe e J.W. Young desenvolveram técnicas que levaram a criação do perfilador acústico de correntes por efeito doppler “Acoustic Doppler Current Profile” (ADCP) para a medição de correntes oceânicas superficiais a partir de navios em movimento. Esse instrumento oceanográfico é amplamente utilizado na oceanografia. 1988 - Comitê da Ciência do Sistema da Terra da NASA, dirigido por Francis Bretherton, descreve como todos os sistemas terrestres estão interligados, quebrando assim as barreiras que separam as ciências tradicionais da astrofísica, ecologia, geologia, meteorologia e oceanografia. OCEANOGRAFIA 35 1991 - Wally Broecker propôs que mudanças na circulação profunda do oceano modulam as eras glaciais, e que a circulação profunda do Atlântico pode entrar em colapso, podendo o Hemisfério Norte entrar em uma nova era glacial. 1992 - Russ Davis e Doug Webb inventaram os derivadores autônomos que medem continuamente as correntes em profundidade de 2 km. 1992 - NASA e CNES desenvolveram e lançaram o satélite TOPEX/Poseidon, que traça mapas das correntes oceânicas superficiais, ondas, marés a cada 10 dias, revolucionando o entendimento da dinâmica dos oceanos e das marés. 1993 - Membros do time de cientistas TOPEX/Poseidon publicaram os primeiros mapas globais com acurácia sobre as marés. 1997 - Criação do Sistema Global de Observação dos Oceanos (GOOS), criado pela Comissão Intergovernamental (COI) em cooperação com a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com base nos dispositivos da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) e da Agenda 21. O objetivo do GOOS é desenvolver um sistema global de observação para aprimorar o conhecimento e monitorar as mudanças nos oceanos e suas influências. Diante da extensão da área maritima de interesse nacional, foi criado o programa piloto GOOS/Brasil que tornou completamente operacional a coleta, a análise e a transmissão de dados em toda área oceânica que o Brasil exerce soberania. A coleta oceanográfica e meteorológica foi estabelecida através da implementação de uma rede de observação por boias fixas, de deriva, ondógrafos, marégrafos e XBT. 2002 - O ENVISAT foi lançado pela Agência Espacial Europeia (ESA). É considerado o maior satélite de observação da Terra e é constituído por 10 instrumentos para medições oceanográficas e meteorológicas. 2010 - O satélite AQUARIUS é lançado pela NASA. É o primeiro satélite desenvolvido para medir a salinidade da superfície dos oceanos. UNIDADE II36 Além dessa ordem cronológica dos principais fatos históricos correlacionados com a oceanografia física ao longo de séculos, é importante mostrar o cenário atual dessa ciência no Brasil. Existem 13 instituições de ensino que oferecem o curso de oceanografia, e dentre eles, algumas possuem departamentos e laboratórios mais desenvolvidos para os estudos na oceanografia física, como por exemplo, o departamento de Oceanografia Física do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), que possui duas estações maregráficas instaladas no litoral norte (Ubatuba) e sul (Cananéia) com o maior (ou mais longo) registro maregráfico (série temporal) do país. O IOUSP foi fundado em 1946 como Instituto Paulista de Oceanografia (IPO) e em 1951 foi incorporado à USP como unidade de pesquisa e assumiu o nome atual, perfazendo 64 anos de atuação na ciência nacional e na oceanografia. A COPPE/UFRJ dentro do seu curso de graduação e pós-graduação em engenharia naval e oceânica é referência na aplicação e desenvolvimento da modelagem numérica nos estudos dos oceanos e corpos adjacentes para criar cenários contra eventos extremos (inundações, tempestades, marés meteorológicas, etc). Outros departamentos de universidades e grupos de pesquisas especificos também desenvolvem essa ferramenta bastante utilizada no cenário global. Dentre os vários modelos numéricos desenvolvidos no Mundo e difundidos no Brasil, o modelo holandês Delft3D, desenvolvido pelo instituto DELTARES é um utilizado para estudos de hidrodinâmica em plataforma, baías e ambientes estuarinos, podendo gerar simulações sobre a hidrologia do ambiente, morfologia, transporte de sedimentos e criação de cenários para tomadas de decisão. Métodos para melhor entendimento do oceano O oceano é uma parte essencial do sistema terrestre. Há processos de interação entre atmosfera e oceano portransferência de massa, momentum e energia através da superfície oceânica. Os oceanos recebem aporte de água e substâncias dissolvidas do continente, deposição de sedimentos através dos processos costeiros. O entendimento dos processos oceânicos é importante para compreender, por exemplo, como o sistema se comporta ou é influenciado pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas. A interação oceano-atmosfera realiza trocas significativas para intensificação ou a atenuação de fenômenos meteo-oceanográficos, podendo amenizar OCEANOGRAFIA 37 temperaturas superficiais, moldar o tempo e o clima da Terra, e criar a maior parte da dinâmica de ondas e correntes. E, para conseguir compreender esse sistema complexo, é necessário utilizar e integrar a teoria, realizar observações e modelos numéricos para descrever as dinâmicas do oceano (Figura 2.2) Coleta de dados Modelos Numéricos Análise dos dados e aprendizado Predição Teoria Figura 2.2 – Coleta de dados, modelos numéricos, e teoria são todos necessários para o entendimento do oceano. Eventualmente, o entendimento do sistema oceano-atmosfera-continente vai levar a predições (ou prognósticos) do estado futuro do sistema (Fonte: Adaptado de STEWART, 2008). A combinação da teoria, observações e da modelagem numérica é relativamente nova e um avanço para os cientistas, principalmente para os programadores e modeladores. As últimas décadas de desenvolvimento da computação tem disponibilizado computadores capazes de simular importantes processos físicos e dinâmicas oceânicas. Todos os envolvidos nas ciências sabem que o computador se tornou uma significativa ferramenta para o desenvolvimento da pesquisa mundial (LANGER, 1999). Atualmente, os laboratórios possuem sistemas operacionais robustos que aplicam as teorias matemáticas em modelos e/ou em softwares de programação com resultados em curto período de tempo. A combinação desse sistema – teoria, observação e modelos computacionais – implicam em um novo caminho de fazer pesquisas oceanográficas. Circulação atmosférica O sol e a atmosfera controlam diretamente ou indiretamente quase todos processos dinâmicos dentro do oceano. Os fatores externos dominantes e os sumidouros de energia são luz solar, evaporação, emissão de radiação UNIDADE II38 infravermelha da superfície do oceano e o calor sensível do oceano por ventos quentes e frios. Ventos controlam a circulação superficial do oceano até cerca de 1 km de profundidade. Vento e marés conduzem as correntes profundas do oceano. O oceano, por sua vez, é dominado por uma força de calor que conduz a circulação atmosférica de forma diferenciada do Equador aos polos (Figura 2.3). A distribuição desigual do balanço de calor (perda e ganho) pelo oceano conduz os ventos pela atmosfera. O sol aquece o oceano tropical, que evapora, transferindo calor em forma de vapor d’água para atmosfera. O calor é liberado quando o vapor se condensa em forma de chuva. Ventos e correntes oceânicas transportam calor em direção aos polos, onde é perdido para atmosfera. Figura 2.3 – Circulação global de ar conforme descrito no modelo de seis células. Atenção para influência do efeito de Coriolis (Hemisfério Norte: deflexão para direita; Hemisfério Sul: deflexão para esquerda) na direção do vento. A circulação aqui é idealizada, ou seja, um fluxo médio de longo prazo (Fonte: MARTINS et al., 2008). A Figura 2.3 é uma representação idealizada da circulação atmosférica. O ar se aquece, expande, e ascende no Equador; da mesma forma que ele se resfria, contrai e realiza movimento descente nos polos. Alísios Alísios OCEANOGRAFIA 39 Porém, ao invés de dar continuidade a partir do Equador até os polos de maneira contínua em cada hemisfério, o ar que sobe no Equador é gradualmente defletido para o leste ao se mover em direção aos polos, ou seja, o ar vira para a direita no Hemisfério Norte (HN) e para a esquerda no Hemisfério Sul (HS). Essa mudança de direção é causada pelo efeito de Coriolis (efeito real que depende do referencial), que, apesar de não causar o vento, influencia a direção (GARRISON, 2010). A partir do momento em que o ar ascende no Equador, ocorre uma diminuição da umidade pela precipitação (chuva) causada pelo resfriamento e expansão. A seguir, esse ar mais seco torna-se mais denso na atmosfera superior quando começa a irradiar calor para o espaço, e se resfria. Após deslocar-se do Equador até cerca de 30°N e 30°S de latitude, o ar torna-se denso o suficiente para descer até a superfície da Terra. Grande parcela do ar que descende volta em direção ao Equador quando atinge a superfície. No HN, o efeito de Coriolis influencia a direção do ar superficial para direita (“Alísios de nordeste” na Figura 2.3). Apesar de ter sido aquecido pela compressão durante seu movimento descendente, o ar é normalmente mais frio do que a superfície pela qual flui. Com isso, o ar se aquece ao se mover em direção ao Equador, entretanto evapora água superficial e se torna úmido. Esse ar úmido, aquecido e menos denso, começa a subir ao se aproximar do Equador, fechando o ciclo. Esse significativo circuito de ar recebe o nome de célula de circulação atmosférica. Existem duas células nos trópicos (0° até 30°): células de Hadley. Duas células nas latitudes médias (entre 30° até 50-60°): células de Ferrel. E duas células em altas latitudes (50-60° até 90° - polos): células polares. Essas três grandes células de circulação atmosférica descritas, são também representadas pelos ventos alísios (nordeste e sudeste), ventos de oeste e ventos de leste, respectivamente (GARRISON, 2010). Esse modelo de circulação atmosférica descrito proporciona um entendimento muito interessante para oceanografia física. A partir da compreensão dessa dinâmica atmosférica, é possível estender o estudo para vários fenômenos ou processos que ocorrem no sistema terra- oceano-atmosfera, como monções, brisas (marítimas e terrestres), tempestades, ciclones (tropicais e extratropicais) e até fenômenos, como El Niño e La Ninã (também correlacionados com circulação oceânica). Para maior detalhamento e aprofundamento, recomenda-se a leitura do livro Introduction to Physical Oceanography elaborado por Stewart (2008), UNIDADE II40 Regional Oceanography: An Introduction desenvolvido por Tomczak e Godfrey (2001) e “Fundamentos de Oceanografia”, por Garrison (2010). Circulação oceânica Como foi visto na descrição de circulação atmosférica, há um balanço de energia ou calor entre o Equador e os polos, através da atmosfera e dos oceanos. Essa interface tem extrema importância. Esse equilibrio energético (ou térmico) é essencial para a dinâmica dos ventos e da circulação oceânica. O transporte de energia pelos oceanos através das correntes oceânicas representa 10 a 20% da distribuição de calor ao longo do planeta. Basicamente, a água do mar move-se em correntes, superficiais ou profundas. As correntes superficiais afetam apenas a décima parte mais rasa dos oceanos, e seu movimento é influenciado pelo balanço de calor e os ventos. No geral, o movimento das correntes superficiais é horizontal, podendo também fluir verticalmente de acordo com o vento que sopra próximo as regiões costeiras ou ao longo da região equatorial. As correntes superficiais que fluem do Equador (baixas latitudes) transportam calor para os polos (altas latitudes), nutrientes, e influenciam o clima e o tempo. Além disso, são essenciais para navegação. A circulação oceânica profunda ou termohalina é impulsionada pelas diferenças de densidade entre as massas da água. Lembrando que a densidade nos oceanos é definida pela relação entre temperatura, salinidade e pressão (devido às grandes profundidades). Essa circulação representa 90% da água do mar abaixo da camada superficial (GARRISON, 2010) (Figura 2.4). No geral, o efeito de Coriolis, a força da gravidade e o atrito influenciam o movimento (direção, ascendente e descendente, e intensidade/velocidade)das correntes oceânicas superficiais e profundas (termohalina). Os oceanos são interligados, mas não realizam significativas trocas de água entre eles, e esse fato ocorre porque as massas da águas possuem diferentes características oceanográficas (temperatura, condutividade, salinidade, balanço de calor); dinâmicas de ondas; marés; e correntes que se diferenciam ao longo do planeta (MIGUENS, 1996; TRUJILLO & THURMAN, 2011). Diante disso, os oceanos são divididos em cinco grandes porções: Atlântico, Pacífico, Índico, Ártico e Antártico. adria Realce adria Realce OCEANOGRAFIA 41 Figura 2.4 – Descreve o fluxo padrão da circulação oceânica nos oceanos. Próximo à superficie estão as correntes quentes (em vermelho); as correntes frias e profundas estão representadas pela linha azul. Essa representação mostra como o sistema oceânico está continuamente movendo água da superfície para o fundo, e mantendo o ciclo (Fonte: Artic Climate Impact Assessment - ACIA, 2005). Correntes e massas da água da costa brasileira A circulação oceânica para a região oeste do Atlântico Sul, onde está localizada a costa brasileira, tem sido estudada nas últimas décadas principalmente através de dados observacionais adquiridos por cruzeiros oceanográficos; e modelagem numérica da circulação oceânica tanto no âmbito regional como global. Os principais estudos oceanográficos no Atlântico Sul têm descrito os aspectos gerais da circulação, os padrões dos parâmetros temperatura e salinidade e as características das massas das águas nessa porção do oceano (CIRANO et al., 2006). A reunião de vários trabalhos que relatam os principais sistemas de correntes, considerando a coluna da água como um todo, e as diferentes massas da águas associadas, considerado um oceano dividido em diversas camadas, geraram informações sobre a circulação oceânica da costa do Brasil (PETERSON & STRAMMA, 1991; STRAMMA & ENGLAND, 1999; SILVEIRA et al., 2000) (Figura 2.5). A principal corrente que flui ao longo da costa brasileira é a corrente do Brasil (CB), que é a corrente de contorno oeste associada ao Giro Subtropical do Atlântico Sul. A CB origina-se da bifurcação da corrente Sul Equatorial (CSE), ao sul de 10° S, e flui para o sul, margeando o continente sul-americano até a região da Convergência Subtropical, localizada a cerca de 38°S (OLSON ET al., 1988), onde ocorre a confluência com a corrente adria Realce UNIDADE II42 das Malvinas (CM) e se distancia da costa. A CSE também origina a corrente norte do Brasil (CNB) ou corrente das Guianas (CG), que flui em direção ao Equador (Figura 2.5). Figura 2.5 – Representação esquemática das correntes e do giro subtropical no Atlântico Sul (Fonte: CIRANO et al., 2006). A conceituação de “massas d’água” foi extraída da meteorologia, que classifica diferentes caracteristicas atmosféricas como “massas de ar”. No início do século XX, oceanógrafos físicos também utilizaram outro conceito da meteorologia para dividir ou caracterizar as águas oceânicas em camadas de massas quentes ou frias. Um outro ponto de vista considera as massas d’água como uma descrição das propriedades físicas das camadas de água ao longo da coluna d’água (estrutura vertical) (EMERY, 2003). Com relação às massas de águas que têm influência sobre a costa brasileira, são descritas massas de água continentais e de fora da plataforma, oriundas do oceano Atlântico. Também no Brasil temos influência de massas da água provenientes da Antártica. (1) Água Costeira: apresenta as características da massa d’água do setor da costa que está localizada, podendo ser afetada por processos adria Realce adria Realce adria Realce adria Realce OCEANOGRAFIA 43 costeiros, como a descarga fluvial, podendo ocorrer diminuição da salinidade e alteração na densidade. (2) Água da Plataforma Continental: depende do tipo de plataforma (interna, intermediária e externa), porém geralmente é afetada por características continentais. (3) Água Tropical (AT): Emilson (1961) caracterizou por águas com temperaturas superiores a 20°C, e salinidades superiores a 36 g/kg. (4) Água Central do Atlântico Sul (ACAS): Miranda (1985) caracterizou por temperaturas superiores a 6°C, e inferiores a 20°C, e salinidade variando entre 34,6 a 36 g/kg. (5) Água Intermediária da Antártica (AIA): Sverdrup et al., (1942) caracterizou por temperaturas entre 3-6°C e salinidades variando de 34,2 a 34,6 g/kg. (6) Água Profunda do Atlântico Norte (APAN): Silveira et al., (2000) caracterizou por valores de temperatura entre 3-4°C e salinidades entre 34, 6 a 35 g/kg. (7) Água Antártica de Fundo (AFF): formada no Mar de Weddell, possui valores médios de temperatura de 1,9°C e salinidade de 34,6 g/kg. Zona costeira O conhecimento atual sobre o oceano começou na zona costeira ou simplesmente costa. Essa está constantemente, de forma direta ou indireta, sujeita a modificações geradas pela ação das ondas e marés; processos erosivos naturais e artificiais; regressão e transgressão do nível do mar; processos quimicos e biológicos; e impactos antrópicos dos mais variados níveis. A zona costeira costuma ser um ambiente de interface entre o sistema oceano-continente-atmosfera-homem e devido a isso torna-se uma área muito sensível a mudanças climáticas e de grande importância socioeconômica para o nosso planeta. As principais megacidades do mundo estão localizadas dentro da zona costeira, e muitas dessas estão inseridas dentro de baías, deltas e estuários, onde combinações de condições econômicas, geográficas e históricas específicas têm atraído a população e conduzem a migração para costa (SETO, 2011). A zona costeira brasileira é extensa, variada e possui especificidades ao longo das suas regiões (Norte, Nordeste, Sudeste e Sul). A linha de costa adria Realce adria Realce adria Realce adria Realce adria Realce adria Realce adria Realce adria Realce adria Realce adria Realce UNIDADE II44 tem uma extensão de 8.500 km, na qual é possível identificar uma grande diversidade de ambientes: dunas, ilhas, baías, recifes, costões rochosos, estuários, praias (NEVES & MUEHE, 2008) (Figura 2.6). O litoral está inserido nas zonas equatorial e subtropical, com latitudes desde 04°30’ N até 33°44’ S. O Brasil possui 17 estados costeiros, com 463 municipios inseridos na zona costeira, perfazendo um total de 50,7 milhões de brasileiros vivendo próximos ao litoral, o que representa cerca de 27% da população nacional (IBGE, 2011). Figura 2.6 – Classificação da costa brasileira proposta por Silveira (1964) e modificada por Cruz et al., (1985) (Fonte: SOUZA et al., 2005). Zona costeira do estado do Piauí O Piauí está inserido na região nordeste do Brasil. Dentre os estados que possuem contato com o mar é o que possui a menor zona costeira com aproximadamente 70 km. Com apenas 5 municípios inseridos na zona costeira, com uma população de aproximadamente 190 mil habitantes, representando 6,7% da população residente na zona costeira nacional OCEANOGRAFIA 45 (MMA, 1996). A Figura 2.7 apresenta uma carta geomorfológica do Delta do Parnaíba, localizado no litoral do estado do Piauí. Essa região destaca-se pela expansão da carcinicultura, principalmente no municipio de Cajueiro da Praia. Essa região apresenta um perfil morfológico razoavelmente regular, caracterizada por regime de macromarés, com presença de estuários e o Delta do rio Parnaíba (Figura 2.7). Figura 2.6 – Carta geomorfológico do Delta do Parnaíba extraído do macrodiagnóstico da zona costeia e marinha (Fonte: MMA, 1996). Laboratórios de oceanografia no Brasil No geral, ainda é comum a indisponibilidade de informações sobre os principais grupos de pesquisa e/ou laboratórios que trabalham com oceanografia física no Brasil. Os websites das universidades não possuem um padrão, tampouco o endereço eletrônico dos cursos de oceanografia no país. Diante disso, foi realizado um levantamento sobre a distribuição dos laboratórioscom ênfase em oceanografia física ao longo das 13 universidades que dispõem do curso de graduação em oceanografia (APÊNDICE I). É importante saber onde se localizam esses centros de pesquisa/formação, pois servem como ponto de partida para estudantes que queiram entrar em UNIDADE II46 contato com os grupos de interesse, seja da graduação até oportunidades de concurso na área. É necessário ressaltar que podem existir outros grupos em outras universidades que não possuem curso de graduação em oceanografia, mas programas de pós-graduação com linhas de pesquisa que abordem a oceanografia física. Vale lembrar, porém, que esse levantamento está apenas condicionado as universidades que possuem a graduação em oceanografia (APÊNDICE I). Referências ARTIC CLIMATE IMPACT ASSESSMENT (ACIA). Impacts of a warming Arctic: Arctic climate impacts assessment. Cambridge: Cambridge University Press, p. 1042, 2005. CIRANO, M.; MATA, M. M.; CAMPOS, E. J. D.; DEIRO, N. F. R. A circulação oceânica de larga-escala na região oeste do Atlântico Sul com base no modelo de circulação Global OCCAM. Rev. Bras. Geof., v. 24, p. 209-230, 2006. EMERY, W. J. Water types and water masses: ocean circulation. Elsevier Scien- ce, p 1556-1567, 2003. EMILSON I. The shelf and coastal waters off Southern Brazil. Bolm. Inst. Ocea- nogr., v. 17, p. 101–112, 1961. GARRISON, T. Fundamentos de oceanografia. São Paulo: Cengage Learning, p. 426, 2010. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Atlas Geográfico das Zonas Costeiras e Oceânicas do Brasil. 2011. Disponível em: <http://loja.ibge.gov.br/atlas-geografico-das-zonas-costeiras-e-oceanicas-do- -brasil.html>. Acesso: 01/03/2015. LANGER, J. Computing in physics: Are we taking it too seriously? Or not serious- ly enough? Physics Today, v. 52, p. 11-13, 1999. MARTINS, F. R.; GUARNIERI, R. A.; PEREIRA, E. B. O aproveitamento da ener- gia eólica. Rev. Bras. Ensino Fís., v .30, p. 1304.1-1304.13, 2008. OCEANOGRAFIA 47 MIGUENS, A. P. Maré e correntes de maré; corrente oceânica. DIRETORIA DE HDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO (DHN). Navegação: a ciência e a arte da navegação costeira, estimada e em águas restritas. Vol. 1, Rio de Janeiro: DHN, p. 227-274, 1996. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Macrodiagnóstico da Zona Cos- teira na Escala da União. Brasília: Ministério do Meio Ambiente (MMA), p. 280, 1996. MIRANDA, L. B. Forma de correlação T-S de massa de água das regiões cos- teira e oceânica entre o Cabo de São Tomé (RJ) e a Ilha de São Sebastião (SP), Brasil. Bolm Inst. Oceanogr., v. 33, p. 105–119, 1985. NEVES, C. F.; MUEHE, D. Vulnerabilidade, impactos e adaptação a mudanças do clima: a zona costeira. Parcerias estratégicas. Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, v. 13, p. 217–295, 2008). OLSON, D. B.; PODESTA, G. P.; EVANS, R. H.; BROWN, O. B. Temporal varia- tions in the separation of Brazil and Malvinas Currents. Deep Sea Res., v. 35, p. 1971–1990, 1988. PETERSON, R.; STRAMMA, L. Upper-level circulation in the South Atlantic Oce- an. Progr. Oceanogr., v. 26. p. 1-73, 1991. PUGH D. T. Tides, surges, and mean sea-level. Chichester: John Wiley & Sons, 1987. SETO, K. C. Exploring the dynamics of migration to mega-delta cities in Asia and Africa: contemporary drivers and future scenarios. Global Environmental Change, p. 94-107, 2011. SILVEIRA, I. C. A.; SCHMIDT, A. C. K.; CAMPOS, E. J. D.; GODOI, S. S.; IKE- DA, Y. A corrente do Brasil ao largo da costa leste brasileira. Rev. Bras. Oceano- gr., v. 48, p. 171-183, 2000. STEWART, R. H. Introduction to physical oceanography. 2008. Disponível em: <http://oceanworld.tamu.edu/ocean410/ocng410_text_book.html>. Acesso: 01/03/2015. UNIDADE II48 STRAMMA, L.; ENGLAND, M. On the water masses and mean circulation of the South Atlantic Ocean. J. Geophys. Res., v. 104, p. 20863–20883, 1999. SVERDRUP, H. U.; JOHNSON, M. W.; FLEMING, R. H. The oceans: their physics, chemistry and general biology. Englewood Cliffs: Prentice-Hall Inc, p. 1087, 1942. TRUJILLO, A.; THURMAN, H. Essentials of oceanography. Ed. 10, 2011. OCEANOGRAFIA 49 A oceanografia geológica descreve os processos costeiros e seus respectivos produtos sedimentares. Junto com a oceanografia química, a oceanografia física e a oceanografia biológica não podem ser vistas de forma individualizada. A zona litorânea é popularmente chamada de praia, constituindo uma área de intensa ocupação humana em seus mais diferentes usos. A classificação mais abrangente da composição das praias brasileiras se baseia em sedimentos alóctones ou autóctones, respectivamente, agregados deposicionais originados fora ou dentro da bacia de deposição. As praias arenosas são constituídas principalmente de sedimentos clásticos terrígenos e por sedimentos clásticos carbonáticos. Os clásticos terrígenos são formados por detritos que se desintegraram pela ação das intempéries, provenientes de rochas magmáticas, metamórficas e outras rochas sedimentares. Os detritos resultantes são transportados pela água, vento ou gelo e novamente depositados em um local diferente. Esses sedimentos são classificados segundo a classe de tamanho (granulometria): grãos com menos de 0,06 mm de diâmetro são classificadas como lamas (silte e argila); entre 0,06 e 2,0 mm são areias; e maior que 2,0 mm de diâmetro denominam-se cascalhos. No ambiente costeiro, o tamanho do grão representa a energia das ondas e correntes (Figura 3.1). Ou seja, praias com ondas de alta energia são constituídas por areia grossa, enquanto praias de baixa energia são constituídas por areia fina (FOLK & WARD, 1957; GALLOWAY & HOBDAY, 1983). OCEANOGRAFIA GEOLÓGICA Francisco Sekiguchi Buchmann Universidade Estadual Paulista CAPÍTULO 3 adria Realce adria Realce adria Comentário do texto Alóctones são sedimentos produzidos num local diferente da sua sedimentação; por outro lado os autóctones são depositados no mesmo local de onde foram produzidos. Processo de formação das rochas sedimentares, ou seja, transformação dos sedimentos em rochas propriamente ditas. adria Realce adria Realce adria Realce adria Realce UNIDADE III50 Figura 3.1 – Sedimentos clásticos terrígenos na praia de Jurubatiba – Macaé, Rio de Janeiro (Foto: BUCHMANN, 2015). Os clásticos carbonáticos (ou biogênicos) são produzidos diretamente através da intermediação de processos biológicos e bioquímicos, ou mesmo pela precipitação direta a partir da água do mar; e o tamanho do grão não representa a energia das ondas e correntes, pois os grãos são gerados no local, dentro da própria bacia de sedimentação pela biota. As areias carbonáticas biogênicas normalmente são constituídas de bioclastos de algas calcárias (Halimeda sp.), moluscos, corais, foraminíferos, briozoários, equinodermos e crustáceos (Figura 3.2). Como consequência da contribuição adria Realce adria Realce adria Realce OCEANOGRAFIA 51 biogênica, fatores como latitude, temperatura, salinidade, profundidade da água, intensidade da luz, turbidez, circulação oceânica, pressão de CO2 e suprimento sedimentar, atuam de forma conjunta, e criam condições necessárias para a proliferação dos organismos formadores da “fábrica carbonática” (BATHRUST, 1975; LOUCKS & SARG, 1993; SOARES et al., 2009). Figura 3.2 – Sedimentos clásticos carbonáticos na praia dos Concheiros – Santa Vitória do Palmar, Rio Grande do Sul (Foto: BUCHMANN, 2015). A linha de costa é uma das feições naturais mais dinâmicas do planeta. Sua posição no espaço muda constantemente em escalas adria Realce adria Realce UNIDADE III52 temporais de segundos (ondas), horárias (marés altas e marés baixas), diárias (tempestades), sazonais (estações do ano), anuais (el niño), decadais, seculares e milenares (SHORT, 1999). A subida e descida diária do nível do mar e de outros corpos de água ligados ao oceano (estuários, lagunas etc.) são causadas pela interferência da Lua e do Sol sobre o campo gravitacional da Terra. A amplitude das marés (a diferença
Compartilhar