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RESENHA: HISTÓRIA DA RIQUEZA NO BRASIL CALDEIRA, Jorge. História da riqueza no Brasil. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. Inicialmente, Jorge Caldeira aborda as particularidades dos costumes e da forma de organização social dos povos do território conhecido como Terras Baixas, a porção a leste dos Andes no continente sul-americano, no intuito de entender, posteriormente, o próprio governo dos povos nativos do Brasil. De forma semelhante com os estudos detalhados nas obras de Sigmund Freud- em Totem e Tabu- e Malinowski- em Crime Costume na Sociedade Selvagem-, o autor registra que apesar de não conhecerem a escrita, os nativos seguiam regras de comportamento não escritas, afinal, as leis se mostravam nos seus costumes. O autor destaca a diversidade dos Tupis-Guarani ao evidenciar nível em comum de conhecimentos e costumes, tinham um bom domínio tecnológico e sistemas agrícolos muito produtivos, o que rompe com a ideia de que tais povos não seriam capazes de produzir excedentes, que foi empregada fortemente no século XX; apesar disso, o nível de desenvolvimento tecnológico das aldeias era variável. Enquanto algumas comunidades desenvolviam-se na agricultuta, outras destacavam-se na atividade coletora. De forma geral, havia um conhecimento avançado acerca das espécies naturais, inclusive cabe ressaltar que atualmente cerca de 75% das drogas medicinais de origem vegetal são provenientes desse conhecimento nativo. Ao produzir um estoque de excedentes, um grupo se destacava dos demais. Consequentemente, são formados dois grupos sociais: um de produtores e outro de não produtores. Assim, forma-se o governo como uma parte diferenciada do restante da sociedade. Porém, o trabalho tinha obrigação de respeitar à preservação. Por isso, ao invés de aumentar a produção acumulada em uma sociedade hierarquizada, todo o esforço econômico se voltava para a distribuição e igualdade social. Havia um separação entre as tarefas do homem e da mulher, enquanto os homens promoviam a derrubada das matas, da abertura de roças e da caça, as mulheres cuidavam da roça e do preparo dos alimentos. Contudo, essa organização cotidiana poderia ser modificada em momentos de guerra. Em virtude da necessidade de armazenar p excedente alimentar para o grupo quando os conflitos faziam-se presentes, era realizado um planejamento que exigia mudança na forma de governo. Ao cessar o conflito, o chefe cuidava apenas de conversar com todos, visando manter a união e o modo de vida da tribo. Os pajés organizavam grandes festas rituais quando havia muitos excedentes e, em casos importantes, convidavam os aliados para participar dos rituais. Normalmente, os rituais da guerra e da religião eram separados, mas nos casos de morte de prisioneiros de guerra valorosos tais rituais eram feitos juntos e ocorria a ingestão antropofágica dos corpos, para se obter a coragem do morto e a força dos espíritos. Ao acabar a festa e após o consumo dos estoques, a autoridade do pajé era dissolvida sobre o Tesouro e a rotina habitual voltava. Dessa forma, nota-se que os Tupi-Guarani nutriam um equilíbrio entre produção econômica, alianças diplomáticas, chefia política na guerra e destinação ritual dos excedentes que permitia a existência de um governo sem uma divisão permanente entre governantes e governados. Porém, o governo era organizado e possuía instituições indicadas pelo costume respeitadas que atuavam regularmente. Esse modus operandi dos nativos permitiram que esse povo obtivesse o controle de uma extensa faixa de terra fértil na região mais interiorana do país. Seguidamente, Jorge Caldeira retrata as relações entre os europeus que chegavam no litoral sul-americano e os Tupi-guarani, a partir de 1500. Inicialmente, esse contato foi marcado por conflitos, que posteriormente deram lugar ao casamento dos europeus com as filhas dos chefes Tupi-guarani, conforme as suas regras consuetudinárias. Essa relação marcava um espécie de comprometimento dos europeus em fornecer instrumentos metalúrgicos para os nativos, que em troca forneciam as toras de pau-brasil. Os franceses, portugueses e espanhóis eram os intermediários desse sistema de troca, uma vez que recebiam os utensílios de ferro, trazidos dos portos europeus e até então desconhecidos pelo povo Guarani. Tal sistema modificou a estrutura da economia local, que passou a se organizar para produzir excedentes regularmente e efetuar as trocas, bem como começou a importar produtos externos de forma intensa. Apenas os governos Tupi viabilizaram esse fluxo comercial, adaptando seus modos de produzir, mas assegurando seus governos consuetudinários. Para os portugueses, o ganho era claro, pois o ferro era bem mais barato que o pau-brasil. Já para o grupo Tupi, o benefício não era o acúmulo de riqueza, mas o fato de os utensílios de ferro diminuírem o tempo necessário de trabalho, tendo em vista que abrir as roças era muito mais fácil com o machado de ferro e, com o trabalho sendo feito de forma mais rápida, a aldeia ficaria menos tempo desprotegida, dando menos oportunidades de ataques de outros grupos. O autor ressalta ainda que alguns traços da cultura e os espaços dos europeus e da população Tupi acabaram se mesclando, a exemplo dos europeus que viajaram para seu continente levando suas esposas e lá as batizaram. Ademais, em 1526, o português Aleixo Garcia, que vivia na região de Cananeia, viajou pelo interior com guerreiros, avançando por regiões dominadas por Tupi ou Guarani. Garcia encontrou e recolheu amostras de prata, as quais chegaram intactas ao ponto de partida da expedição, apesar da sua morte no caminho. Com a comprovação da existência de minerais preciosos, os soberanos dos reinos de Portugal, Espanha e França concluíram que seria lucrativo investir dinheiro próprio para montar postos avançados de governo no território. Distanciando-se do contexto da colônia, Caldeira se volta para a abordagem da história do governo português era semelhante às demais monarquias da Europa. Desde a Antiguidade, baseava-se na manutenção da desigualdade entre os seres humanos como a regra máxima que norteava a lógica das leis e do exercício da autoridade, sendo essa regra formulada por Aristóteles. Para o cristianismo, o governante mais sábio era o que não interferia nas desigualdades introduzidas por Deus na natureza, sendo a atitude correta, para a corrente religiosa, a manutenção das disparidades já criadas. Desde o século XV, os reis de Portugal criaram o hábito de editar as leis de modo a manter as desigualdades entre os homens num código conhecido como as Ordenações do Reino. Em 1521, o rei D. Manuel foi ainda mais longe e empregou as chamadas Ordenações Manuelinas. Ele utilizou a recente invenção da tipografia para fazer cópias do conjunto de leis e distribuí-las aos órgãos com poderes judiciários, a fim de aumentar a uniformidade de aplicação e estabelecer não o cumprimento de justiça, mas sim a manutenção da desigualdade. A finalidade da lei escrita em Portugal, portanto, consiste em definir direitos diferentes segundo a posição social do indivíduo. Com as Ordenações Manuelinas, esse quadro se agravou, sendo essa diferenciação de indivíduos nomeadas de “corporativismo”, uma metáfora do corpo biológico como modelo ideal para o funcionamento do conjunto social. O governo seria a cabeça da sociedade, enquanto as outras partes dela são os diversos órgãos a ela subordinados. O corporativismo configurava uma versão atenuada da definição aristotélica. Essa nuance era importante, pois deu origem a um instrumento eficaz de ação política depois da codificação escrita das leis: o recurso de buscar o Judiciário para arrancar concessões no sentido do reconhecimento de pequenos privilégios pelo enquadramento na lei. Além dessa expressão, o termo “direitos adquiridos” também se consolidou. Na origem, seu significado consistia no contrárioda igualdade, determinando privilégios que diferenciavam um indivíduo de outro, a exemplo do fato de alguns serem condenados a penas menores. Por meio desses instrumentos, os privilégios considerados direito não eram apenas tradicionais, mas, sobretudo, assunto de tribunal. Em 1116, Jerusalém estava novamente cercada pelos árabes, apesar da conquista dos cristãos na Primeira Cruzada. Nesse momento, os nobres franceses Hugo de Poiens e Geoffroi de Saint-Omer juraram, na igreja do Santo Sepulcro, viver em pobreza e defender os peregrinos que se dirigiam à Terra Santa. Assim, surgia a Ordem dos Templários, após algumas renomeações. Os membros de tal organização eram monges-guerreiros que atuavam em combates militares. Os templários receberam milhares de propriedades por doação ou herança, o que proporcionou uma oportunidade administrativa e financeira. As sedes criaram uma caixa- forte para depósitos de joias de viajantes e outros objetos valiosos, entregando uma letra com o valor do depósito. Quando entregava a letra em uma sede, o viajante recebia o valor: Assim, surgiam as primeiras letras de câmbio e o banco de empréstimos com agências internacionais. Além disso, os templários também trouxeram desenvolvimento para a arquitetura e engenharia, assim como conhecimento acerca cruzamento e seleção de raças de cavalos, muito utilizados por eles. Porém, tais avanços tecnológicos estavam vinculados a um elemento central. Enquanto houve cruzadas, os templários estavam mantendo tudo sobre controle. A queda da Cidade Santa, em 1244, e a expulsão das tropas cristãs da Palestina, em 1291, marcaram o início da decadência dos templários. Nesse clima instável, em 13 de outubro de 1307, o rei francês Felipe, o Belo, invadiu as sedes templárias na França, detendo cavaleiros e até degolando alguns. Em razão da pouca riqueza recolhida, surgiu a crença de que tesouros teriam sido transferidos para outro país, mais precisamente Portugal. Em 1317, reiterando que os templários não haviam cometido crime em Portugal, D. Dinis transferiu o patrimônio deles para uma organização recém-fundada, a Ordem de Cristo. Já no ano de 1418, formou-se uma notável aliança, uma vez que uma bula papal autorizou o projeto de navegação, sendo reconhecido como uma cruzada. Nota- se, tecnicamente, que o reconhecimento desse estatuto na bula transferia à Ordem de Cristo o poder de organizar e administrar a Igreja nos territórios conquistados. Porém, com a consolidação do comércio na rota das Índias, desde a descoberta, em 1498, a Coroa foi paulatinamente absorvendo os poderes da ordem. No reinado de D. Manuel, o rei de Portugal era também o comandante dela. Antes disso, as terras americanas estavam subordinadas apenas à Ordem de Cristo. Posteriormente, o rei D. João III, herdeiro de D. Manuel, lidando com os maridos de mulheres Tupi, decidiu como iria governar as terras brasileiras. Ademais, o autor aborda o contexto histórico da formação das vilas no Brasil. Durante 30 anos, a monarquia portuguesa vinha recebendo notícias, bens e pessoas do Brasil. Nesse tempo, o rei continuava sem instalar qualquer dispositivo de governo no território. Isso começou a mudar quando Martim Afonso de Sousa, um amigo de infância do rei, recebeu de D. João III, além do comando das naus, uma carta que o designava capitão- mor de todo o Brasil, ou seja, ele adquiriu a permissão de exercer uma série de poderes que eram apenas do rei. Entre seus papéis, o mais importante era o de tomar posse do território, pois ele devia percorrer todo o litoral e fincar marcos de pedra no caminho como prova material do domínio de Portugal. Após passar mais de um ano de porto em porto e de ter conhecido várias instalações de genros de chefes Tupi, Martim Afonso voltou para São Vicente, local onde as naus de Gonçalo Coelho haviam aportado. Martim ofereceu aos seus homens a oportunidade de desembarcar, casar e viver na terra. A grande aceitação fez o comandante determinar providências escritas, criando um governo regido por leis, formalizando por escrito os títulos de sesmarias. Martin Afonso de Sousa tornou São Vicente em uma vila mediante decreto. Os eleitores das autoridades que poderiam governá-la eram os “homens bons” (cristãos- velhos, proprietários de bens de raiz, que não viviam do comércio com dinheiro e que seguem a lei da igreja) que, reunidos em uma câmara, escolheram aqueles que seriam vereadores, administradores e juízes. Tudo foi registrado em ata, incluindo as decisões dos três primeiros eleitos para governar. Com o domínio sobre a vila, Martim providenciou um investimento de longo prazo no local, instalando um engenho de açúcar. Um dos grupos financeiros mais significativos da época, os Fugger alemães, se associaram ao flamengo Erasmo Schetz para financiar as compras de equipamentos e instalações. Dessa forma, já com esses projetos assegurados, Martim Afonso de Sousa partiu. Durante mais de vinte anos, a vila de São Vicente manteve-se sem contatos com qualquer representante da autoridade real. As autoridades eleitas na vila governaram, entregaram títulos mal escritos pelos poucos alfabetizados, prenderam, multaram e julgaram. Em Portugal, os vereadores eleitos tinham poderes muito limitados e só podiam decidir questões que não afetassem os poderes do rei, dos nobres, da Igreja e dos fidalgos. Por sua vez, no Brasil, tais autoridades superiores não existiam, sendo os eleitos os únicos governantes formais. Eles compartilhavam a autoridade com seus aliados, os chefes Tupi. Como os genros desses chefes passaram a ser também homens bons, ocorreu uma sobreposição do governo sem escrita das aldeias e do governo baseado em fórmulas escritas legais. Entretanto, pondo fim a esse sistema, o rei D. João III providenciou no território outra forma de governo. Fez uma carta a Martim Afonso de Sousa pela qual cancelou as franquias concedidas ao capitão para governar todo o território em seu nome e decidiu dividir o domínio em “capitanias hereditárias”. O soberano reservou as melhores partes para o comandante e para o irmão deste, os quais receberam capitanias alternadas no litoral sul. Em 1534, os títulos começaram a ser distribuídos. Posteriormente há a discussão a respeito da história e o funcionamento das capitanias hereditárias. O reino de Portugal estava com problemas financeiros e, por essa razão, os conselheiros do rei o convenceram que não era vantajoso gastar muito recurso com o governo no Brasil, o que o levou a optar por repassar essa tarefa a particulares. O rei permitia o exercício de parte de seus poderes a empreendedores que realizavam serviços governamentais, cobrando impostos dos beneficiários e recebendo a diferença na forma de lucros. Além das capitanias, o rei concedia ao donatário os poderes de criar vilas ou escravizar nativos para o cultivo da terra e a isenção de parte dos impostos. Surgiram interessados em 15 fatias no Brasil, sendo que cada um deles tinha sua forma para transformar o que estava no papel em governo efetivo e dinheiro. Jorge Caldeira faz um breve relato do que aconteceu com as capitanias, traçando os elementos que levaram ao sucesso de algumas e à decadência de outras. Segundo ele, sete dos quinze lotes permaneceram sob governo dos nativos e dos negócios franceses. Em Itamaracá e Porto Seguro, ocorreu uma ocupação portuguesa, porém os franceses mantiveram as negociações do pau-brasil. Nas fatias em que nativos e genros portugueses se aliavam, os resultados foram diversos. Em Ilhéus e na Bahia, os donatários acabaram perdendo o domínio por não saber como negociar com os que precederam. Quanto aos resultados políticos, nas capitanias em que a ocupação se consolidou, vilas foram instaladas e os governos eleitos funcionaram. Quanto aos resultados econômicos, diversos investimentos foram perdidos e pouco imposto foi enviado ao rei. Em duas capitanias apenasa aliança entre chefes Tupi e genros portugueses possibilitou progresso junto ao governo do donatário: Pernambuco (a capitania com o maior sucesso, visto que a boa produção de açúcar permitiu os impostos para o rei, o conforto do donatário e os utensílios de ferro para os nativos) e em São Vicente. D. João III, então, pensou em outra tentativa de governo. O território era, em sua maior extensão, governado pelos habitantes nativos da sua forma tradicional e com contatos eventuais para as trocas por ferro. Esses governos consuetudinários tinham participação forte de aliados portugueses e franceses no litoral, sobretudo destes últimos citados. O governo de fato português tinha autoridade sobre uma pequena parte do território, ocupada pelas vilas e onde dominava a autoridade dos donatários. Ademais, apenas em Pernambuco prevaleceu a combinação de duas esferas de governo, a das vilas e a do donatário. Tudo isso fez o rei decidir por instalar uma representação da Coroa para prevalecer seu domínio no território. Nesse contexto, o rei escolheu Tomé de Sousa como primeiro governador-geral. Dessa forma, Tomé recebeu poderes temporários, devendo seguir os objetivos determinados pelo soberano. Tudo foi explicitado pelo rei em um Regimento entregue ao futuro governador. No campo econômico, o principal objetivo tratava-se do mesmo das doações de capitanias, ou seja, juntar pessoas e meios capazes de permitir a instalação de atividades produtivas geradoras de lucro e impostos. Ademais, o monarca reconhecia a necessidade do apoio dos chefes nativos, pois todos os sobreviventes no Brasil haviam aceitado a necessidade de aliança com os governantes Tupi. Também cabe destacar que as terras para a agricultura foram distribuídas com as aldeias aliadas sem haver atritos. Os utensílios de ferro chegavam de modo mais que suficiente, uma parte era trocada por escravos, de forma que não faltava mão de obra para abrir matas, plantar cana e construir engenhos. Salvador foi considerada vila com a repetição dos rituais de São Vicente e Olinda, sendo títulos de propriedade distribuídos e uma eleição para dar poder ao governo local instituída. Todavia, determinar uma capitania produtiva para o real donatário não era tudo que o rei deseja. Ele queria também converter os nativos à fé cristão. Tal missão foi designada ao padre Manuel da Nóbrega, que devia chefiar a missão, e José de Anchieta. Este último afirmou que, por terem alma racional e capacidade de entendimento, ele não via diferenças humanas essenciais entre antropófagos e europeus. Por isso, projetou um programa de catequese, estabelecendo que os índios deveriam ser transformados à força em cristãos e mudar ações como a de comer carne humana, guerrear sem licença do governador e casar com várias mulheres. A realidade do governo no território brasileiro quando a coroa portuguesa traçou seu projeto ainda era marcada pelo governo autônomo de pequenos grupos. Entretanto, o comércio de ferro e madeira por navios proporcionaram mudanças das alianças entre europeus e grupos significativamente extensos de Tupi. Nota, ainda, que o governo-geral teve início como uma capitania que teve êxito e como um centro que deveria ter seu poder mantendo alianças com nativos e, posteriormente, obteve oportunidade para subir de patamar. Inicialmente, os franceses e a população Tupi tinham uma relação marcada por um forte aliança, que se estendia por todo o litoral, desde o Maranhão até o Rio de Janeiro. Esse forte vínculo se deu devido aos métodos políticos dos franceses, que era baseado no casamento deles com as filhas dos chefes Tupi. Tal aliança possibilitou um fluxo de comércio no qual o algodão e o pau-brasil eram trocados por utensílios de ferro. O vínculo entre eles era tão forte que as naus francesas levavam não só pau- brasil, mas também algodão, que ganhava cada vez mais prestígio entre tecelões, e o tabaco, fumado até pela rainha Catarina de Médici. A relação entre eles era tão boa que nenhum francês pensou em implantar algum tipo de governo no território. Porém, com o governo- geral, o quadro tornou-se diferente. Por isso, em 1554, o cavaleiro Nicolas Durand de Villegagnon, convenceu o rei de que seria vantajoso instalar um governo francês no Brasil. Henrique II aceitou e permitiu que ele armasse uma esquadra e fosse em direção à baía de Guanabara. Todavia, Villegagnon, temendo perder autoridade e ser governado pelos moradores, lançou medidas draconianas para separar as partes, o que gerou os motins e fugas. Na tentativa de recuperar o comando, Villegagnon escreveu cartas para conhecidos da Europa buscando ajuda. Uma dessas cartas foi aberta pelos auxiliares de João Calvino, os quais logo se interessaram pela oportunidade de difundir sua religião. Era o primeiro grupo de protestantes a cruzar o Atlântico, entre os quais destaca-se Jean de Léry. Os pastores ficaram horrorizados e frustrados ao se depararem com a realidade dos costumes dos nativos. Até Jean de Léry, um dos que mais tinham tido experiência com os índios, fez um julgamento extremamente negativo sobre os canibais. O pastor foi bem mais rígido do que o padre Manuel da Nóbrega em seus comentários. Léry incluiu os Tupinambá entre os descendentes de Caim, classificando-os como animais desprovidos de razão e malditos. Diferente da consideração de Nóbrega de que eles teriam alma racional como todos os demais. Ao final, Jorge Caldeira ressalta o pensamento de Montaigne, o qual considera a possibilidade serem os Tupi, e não os reis ou religiosos europeus, os que manteriam a integridade mística entre corpo e espírito, a qual era perdida nas guerras cercadas pela cristandade. Tal integridade tinha resistido a governos e religiosos durante meio século em que os Tupi conseguiram controlar a força do governo formal e da palavra escrita mediante aliança com os genros, mas esse controle não duraria por mais tempo. Há ainda, linearmente, a descrição da situação de Portugal em 1557, quando o trono de portugal passa para um menino de três anos, D. Sebastião. A regente, D. Catarina, avó do menino, indicou Mem de Sá, filho de padre e figura de grande prestígio político, para ocupar o cargo de governador-geral do Brasil. Mem de Sá reuniu exércitos Tupi aliados de toda a colônia para lutar contra o governo francês no Rio de Janeiro. Antes, só se recrutava os indivíduos devido a aliança local. Os jesuítas possibilitaram um alistamento geral em todas as áreas nas quais viviam portugueses com alianças indígenas. Em 1560, reuniu-se os aliados para a guerra, cujo alvo era o forte francês na baía de Guanabara. A vitória foi rápida, mas foi seguida de um longo embate com a base dos contribuintes à economia francesa, os miscigenados e Tamoio (Tupinambá aliado aos franceses). Os Tamoio foram expulsos de Cabo Frio em 1575. Refugiando-se no interior, os Tamoio perderam contato com os franceses, o que impediu a troca de mercadorias entre eles. Os franceses perderam o negócio e o domínio. Assim, interrompeu-se os fluxos de pessoas do Rio de Janeiro para Rouen e as compras de produtos como pau-brasil, algodão e tabaco. Convém ressaltar, ainda, que os negócios produtivos internos eram entregues ao espaço da informalidade, tornando-se invisíveis para o governo e sendo colocadosno campo dos costumes e não da lei. Os que produziam para o mercado tentavam, por sua vez, afastar-se da autoridade central portuguesa, a qual só se importava em dar a cada um o que lhe era devido para as pessoas próximas do governo-geral. Dessa forma, um representante do governo central consistia em um cobrador de impostos, e não alguém comprometido com a prestação de serviços gerais. Tem- se uma dupla legalidade: aquela que refletia o interesse dos moradores, produtores locais interessados em enriquecer, e aquela que refletia os interesses do centro, o governo-geral e pelos jesuítas. Ademais, ogoverno-geral e os administradores de capitanias tinham domínio apenas sobre o litoral, já as câmaras eram a autoridade efetiva no sertão. Assim, pode-se afirmar que nas regiões mais afastadas do território, ainda existiam apenas os governos pautados no costume. Historicamente, é difícil separar as ações do clero católico e o poder do rei, visto que muitas ações do Estado – como entidade – eram diretamente influenciadas pela Igreja. Estudando a fundo o contexto histórico durante o século XVI, é possível notar certo equívoco quanto a influência católica os governos de Portugal e Espanha, apesar, apesar das viagens as Américas serem financiadas pelo estado, era uma forma de trabalho dependente e que não tinha obrigações para com o rei, além de relatórios. As missões com caráter evangelizador não eram bem vistas, pois geravam gastos e não receitas, mas em muitos casos eram a única saída de padres e sacerdotes, que dependiam da caridade de moradores. Os jesuítas hispânicos, que se estabeleceram na américa central e ao Sul, eram poucos e foram instalados com o objetivo de garantir o trabalho forçado de nativos. Com a criação de empregos e escolas, o governo espanhol passou a investir no crescimento da comunidade jesuíta, o número passou de oito a sessenta e três em poucos anos. A instalação dos padres em Buenos Aires gerou a criação de grandes cidades e a aliança com os nativos Guaranis criou a possibilidades de expansão territorial, para o que é hoje conhecido como Paraguai. A divisão política era bastante organizada, tendo líderes em várias esferas, câmaras eleitas governando a vila, um governador na província e um vice-rei em Lima. Existia uma legislação, mas uso mais comum era do encomienda como reguladora da ordem social. As alianças mais comuns eram por forma de casamento. Com o tempo, os jesuítas passaram a achar que o trabalho escravo dos guaranis era algo contra o divino e que isso deveria mudar, em 1611 foi criado um código jurídico conhecido como “Ordenações de Alfaro”, elas dispunham que um único direito passaria a vigorar para os Guarani: o direito natural à liberdade. O objetivo dos holandeses era implantar um governo no Brasil. A Holanda, que vinha de muitas guerras contra a Espanha, a fim de retomar sua liberdade, e contra a Igreja católica, já que o país estava cada vez mais perto de consolidar sua religião como calvinistas. Com uma economia afetada, a renda da Holanda se dava em função de seu principal negócio, a pirataria. A invasão dos holandeses a Salvador, que buscavam saquear e deixar os moradores a mercê de seus produtos, não funcionou a priori. Eles que se tornaram vítimas do abastecimento naval, assim as frotas espanholas não tiveram nenhuma dificuldade em expulsá-los da cidade. Pelas características de sua religião, os holandeses tinham vários princípios, como o não casamento inter-racial, guerras de extermínio, tratamento de nativos como membros de nações inimigas. A base da economia era a empresa Companhia das Índias Ocidentais, que tinha como seu serviço saquear e lucrar em cima disso. Após se concretizarem os planos de invadir Pernambuco, tomando Olinda e Recife, foi repetido o processo de saque a armazéns e igrejas. Com a paralisação econômica dessa região, os holandeses tinham total controle, isso os levou a expulsar padres e jesuítas, chegando até a mandá-los para a Holanda. Com a libertação dos índios da igreja católica e o surgimento do protestantismo, muitos índios foram libertos da escravidão, isso ocasionou um grande apoio dos nativos a causa holandesa. A ajuda dos locais foi essencial para adaptar o modo de guerrilha europeu as condições da América. O domínio territorial dos holandeses fez com que mudassem sua forma de negócio, já que os saques a região começaram a rarear. Fez-se necessário um novo investimento, em mão de obra para trabalhar em engenhos, sendo esta a nova forma de economia da região, gerida pelo governo holandês. Uma nova proposta foi criada com a chegada de Maurício de Nassau, o príncipe veio para estabelecer melhor relação entre nativos e holandeses. Sua primeira medida na Companhia, foi contrariar a regra holandesa sobre escravidão e buscar escravos africanos para trabalhar em engenhos, além de manter indígenas trabalhando em suas tropas junto aos holandeses. Com o domínio espanhol sobre Portugal, foi impossível que o país continuasse de desenvolvendo no mesmo ritmo de antes. O país foi perdendo território e em 1661 eram poucos os territórios que ainda dominavam.
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