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Revista Psique 119

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Coaching 
para os filhos 
Psicologia Positiva oferece 
intervenção em ações 
concretas com foco na 
relação saudóvel da famflia 
Arte 
transformadora 
O método Tatadrama alia 
psicodrama e sociodrama, 
abrindo caminho para a 
autocompreensão e o 
desenvolvimento pessoal 
NEUROPSICOLOGIA 
,e./ 
EJNCLUSAO 
Pessoas ~om DEFICIÊNCIA 
COGNITIVA enfrentam 
dificuldades em encontrar 
estratégias que possam 
viabilizar a verdadeira 
inserção no ensino superior 
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A TERAPIA DA COMPAIXÃO COM JOVENS INFRATORES, POR DANIEL RIJO 
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Desde 1991 formando 
profissionais na 
área da saúde 
p editorial 
Gl~ucia Viola. editora 
Educação 1nc USIVa de fato 
A 
integ ração das pessoas com deficiênc ia tem sido uma proposta norteadora na Educação, 
direcionando programas e políticas educacionais c de reabi litação. A Lei Brasileira de 
Inclusão, recentemente sa ncionada pela Presidência da Repú-
blica, é um movimento de preocupação com o tema, apesar de 
ter sido assinada pelo Executivo com vetos. Porém, é fato identificar nela 
maior relação com as questões de acessibilidade, já que, quando o debate 
é inclusão, logo se pensa em pessoas com deficiência física ou auditiva e 
visual. Entreta nto, o assunto vai muito além. Temos em pauta, por exem-
plo, a deficiênc ia cognitiva. Entre os muitos artigos da lei sobre os direitos 
das pessoas com defic iência, apenas alguns se direcionam especificamen-
te aos que se encontram nesse quadro. Em suma, estão contemplados 
bene fíc ios que dizem respeito à inclusão na sociedade em seus amplos 
aspectos, como trabalho, educação, morad ia, entre outros. Mas o ponto 
está em como assegu rar tudo isso? 
Estatísticas revela m que o país possui um número expressivo de pessoas 
que precisam dessa atenção especial. De acordo com a Organização 
Mundia l da Saúde, 10% da população possuem algum tipo de de ficiên cia, 
sendo que desse percentual 50% têm deficiência intelectual. 
Diante deste cenário, a matéria de capa desta edição de PsiqueCiência&Vida alerta para a 
dificuldade em encontrar estratégias legítimas de inclusão no setor educacional, principalmente 
quando se trata de deficiência cognitiva. Essa barreira é sentida na educação básica, mas na escola 
parece que a busca por soluções para concretizar a inclu são do alu no com deficiência in tclectualjá 
se constituiu como prioridade, ainda que haja lacunas. Contudo, se ampliarmos a ava liação para a 
instância do e nsino superior, "o processo se torna mais del icado, uma vez que a complexidade do 
conteúdo acadêmico é muito maior e exige um trabalho ma is minuc ioso", explica a neuropsicóloga 
e psicopedagoga Carla Daniela Rodrigues, autora do a rtigo. Ela leva nta outros questiona mentos 
importantes como o despreparo das instituições em relação à prática pedagógica, a fa lta de 
incentivo na capacitação do professor para lid ar com o processo de aprendizagem e a escassez de 
psicopedagogos especializados no comando das ações de inclusão. 
Alguns avanços j á foram conquistados, inclusive na legislação nacional, que pa rte do pressuposto 
teórico de que todos, indistintamente, faça m-se valer dos mesmos direitos. Esperamos que 
a educação inclusiva dê mais um passo à frente na prática efetiva para que os a lunos estejam 
realmente ocupando seu espaço nas escolas regulares de ensino e principalmente nas universidades, 
caminhando para o futuro. 
Boa leitura! 
Gláuc ia Viola 
psique@esmln.com.br 
wwwjàcebook.com/ R evt'staPsiqueCiencl'neV!dn 
"A educação é o grande motor do desenvolvimento pessoal:' 
N elson Mandelo 
sumário 
CAPA 
A ORDEM ~ INCLUIR 
Ainda pouco debatida, 
sobretudo no ensino superior, 
a inclusão de pessoas com 
deficiência cognitiva levanta 
polemica sobre o despreparo 
das instituições 26 ... _____ ..... ............................ .................................................................................................................................................................................. . 
ENTREVISTA 
Daniel Rijo desenvolveu um 
projeto baseado na Terapia Focada 
na Compaixão, para trabalhar 
problemas emocionais de jovens 
detentos em Portugal 
SEÇÕES 
05 EM CAMPO 
16 IN FOCO 
18 PSICOPOSITIVA 
20 PSICOPEDAGOGIA 
32 COACHING 
34 LIVROS 
48 CYBERPSICOLOGIA 
50 SEXUALIDADE 
52 NEUROCIÊNCIA 
54 RECURSOS HUMANOS 
64 DTV Ã LITERÁRIO 
66 CINEMA 
80 EM CONTATO 
82 PSIQUIATRIA FORENSE 
MATÉRIAS 
Sfndromes associadas 
O transtorno de ansiedade generalizada 
afeta pessoas de todas as idades e tem 
como um dos efeitos os ataques de pânico 
Para florescer com os filhos 
O coaching e a Psicologia Positiva 
colaboram para o desenvolvimento 
das relações familiares 
Brincando para transformar 
O Método Tatadrama diminui 
as resistências e abre caminho 
para a autocompreensão 
A terapia de pintar 
Livros de colorir se transformaram em 
febre para amenizar a ansiedade, mas não 
trazem todos os conceitos da arteterapia 
DOSSI~: AS POLrTICAS 
DO AMOR 
Descobrir os mistérios desse 
sentimento, bem como a maneira 
pela qual cada pessoa o encara, 
sempre foi - e continua sendo -
um desafio para a Psicanálise 
em campo 
-MOTIVAÇAO 
NO TRABALHO 
ELOGIOS DO CHEFE FUNCIONAM PARA TAREFAS 
SIMPLES, MAS NÃO PARA OS GRANDES DESAFIOS 
Segundo pesquisadores da Universidade de G reenwich e de Londres, seu 
chefe terá de "rebolar" para mantê-lo motivado. Se por um lado ele deve reco-
nhecer verbalmente o seu empenho nas tarefa s simples demandadas, por outro, 
deverá estudar caso a caso a forma de recompensar a realização de um projeto 
de maio r complexidade. 
Um estudo revelou que as pessoas relataram menor mo tivação intrínseca para 
uma tarefa complexa quando a recompensa verbal já era algo esperado - gostaram 
menos da tarefa e tiveram menos vontade de cumpri-la. 
Para tarefas simples, por outro lado, a motivação intrínseca dos entrevistados 
foi maio r quando a recompensa verbal era aguardada - provavelmente porque se a 
tarefa em si não é motivadora, então o incentivo extra é útil. 
A pesquisa requereu dos entrevistados o preenchimento de um pequeno ques-
t ionário no final do seu dia de t rabalho, a cada dia, por duas semanas. Eles res-
ponderam a perguntas sobre uma tarefa específica na qual tinham empen hado um 
tempo significativo d ia a d ia, relatando sua motivação e recompensas que esperavam 
receber. 
Muitas vezes um mero "muito obrigado!" resolve a questão- vale a reflexão dos 
ocupantes ou aspirantes a cargos de liderança e chefia. Em outras, o melhor é recor-
rer a outras estratégias que potencializem a motivação intrínseca e não a diminuam. 
Para saber mais: 
Rebecca Hewett, Neil Conway. T he undermining effect revisited: the salience of 
everyday verbal rewards and self-determined motivatioo. Joumal rf'Orgauizntional 
Behavior, 2015; DOI: 10.1002/ job.2051 
1;1 
I 
11:1 
~------------------------------------~ ' 
\V\Vw.portalcicnciaevida.com.br 
por Jussara Goyano 
i\ IE\ IÓRIA Cll30RGL'E 
Pesquisadores da Um'versity o/ 
Soutl1em Cal!fomia e Wake Fores/ 
Bapt!St 111/edical Gente r desenvolveram 
recentemente uma prótese cerebral, cujo 
objetivo é ajudar as pessoas que sofrem 
de perda de memória. A tecnolog ia, 
que incluimicroeletrodos implantados 
no cérebro, teve um bom desempenho 
em testes de laborató rio, realizados em 
animais, e sua aplicação, atualmente, 
vem sendo avaliada em seres humanos. 
Com a permissão dos voluntár ios que 
tiveram eletrodos implantados em 
seus hipocampos, os cientistas 
envolvidos puderam ler os sinais 
elétricos criados durante a formação 
de uma memória. Em centenas de 
ensa ios realizados com nove pacientes, 
a invenção previu com precisão como os 
sinais seriam traduzidos. 
LO'\lGO TERi\IO 
Ainda sobre memória, um novo 
estudo, anunciado em fi ns de setembro, 
identificou um número de genes 
que são reprimidos após a sua 
fo rmação, fornecendo pistas 
importantes sobre a maneira como 
as memórias de longo prazo são 
construídas. A pesquisa, publicada 
na revista Sâmce, foi conduzida por 
pesquisadores do Instituto de Ciências 
Básicas de Seul e Universidade Nacional 
de Seul, Coreia do Sul. 
psique ciência&,•ida 5 
ot em campo 
-CONEXOES 
NEURAIS 
NEUROIMAGEM MOSTRA 
RELAÇÃO ENTRE POSITIVIDADE 
E ALTA PERFORMANCE 
O cérebro é um órgão complexo, mas estudos a partir de res-
sonância magnética funcional avançam cada vez mais em mostrar 
como suas áreas são distintamente acionadas a cada atividade ou 
comportamento que desenvolvemos. A Psicologia Positiva acaba 
de receber um reforço de uma dessas pesquisas neurocientíficas, 
desta vez realizada pela Universidade de Oxford, no Reino Unido. 
Isso porque, segundo cientistas da instituição, há uma forte 
correspondência entre um determinado co1~unto de conexões no 
cérebro e os traços de estilo de vida e comportamento positivos. 
Eles investigaram neuroimagens de 461 pessoas, comparando 280 
diferentes medidas comportamentais e demográficas. A variação 
na conectividade cerebral seguia um eixo em que de um lado es-
tava associada ao comportamento positivo, elo outro ao padrão 
comportamental negativo. 
A performance positiva (em áreas como vocabulário, memó-
ria, satisfação com a viela, renda e anos ele educação, por exemplo) 
aparece vinculada ao comportamento positivo. Já os comporta-
mentos negativos foram associados a raiva, tendência a quebrar 
regras, abuso de substâncias e má qualidade do sono. 
Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Nature 
Newvscúmce. 
Para saber mais: 
Stephen M. Smith, Thomas E. Nichols, Di ego Vida urre, Anderson 
M. Winkler, T imothy E. J. Behrens, Matthew F. G lasser, Kamil 
Ugurbil, Deanna M. Barch, David C. van Essen, Karla L. Miller. 
A positive-oegative mode of population covariation links brain 
connectivity, demographics anel behavior. Nature Neuroscimce, 
2015; DOI: 10.1038/nn.4125 . 
6 psique ciência&vida 
PARA RIMAR 
DOR E HUMOR ESTÃO LIGADOS, 
DIZ ESTUDO COl\ti PACIENTES 
DE ARTRITE REUMATOIDE 
O estado de humor de um por-
tador de artrite reumatoide está 
diretamente relacionado à sua 
percepção de dor - o estado 
positivo liga-se a relatos 
de dor menos inten-
sa, ao passo que o 
humor negativo e 
a depressão se re-
lacionam com do-
res de maior inten-
sidade. A conclusão 
é de estudo publicado 
em agosto deste ano no 
periód ico estadunidense Amzals o/ Behavtoral Medú:àze 
e, segundo cientistas responsáveis pela pesquisa, a re-
lação verificada vale também para popu lações sem o 
problema da art rite. Trata-se de uma interdependência 
percebida cotidia namente, mas Ct~o mecanismo ainda 
não foi desvendado. 
O estudo em questão diferenciou-se dos demais 
existentes sobre o tema por empreender um monito-
ramento dia a dia do estado de humor e dor dos vo-
luntários. Normalmente, as pesquisas nesse campo 
envolvem registros da variação de humor e dor com 
intervalos maiores de tempo, em meses, e em ambien-
tes controlados. Desta vez, os própr ios participantes 
da pesquisa registravam, ci nco vezes ao dia, seu esta-
do de humor e dor em um d ispositivo mobt!e. 
Segu ndo depoimento da pesquisadora e nvolvi-
da Jennifer E . G ra ha m-Engeland, publicado no site 
Sci'rmceDat"ly.com, as análises sugerem que o humor 
positivo momentâneo é mais fortemente associado à 
flutuação da dor momentânea que o humor negativo, 
sendo importante, portanto, promover esse estado de 
humor, em intervenções comportamentais que visem 
o alívio da dor. 
Jussara Goyano é jornalista. membro da lnternational 
Science Writers Association. Estuda Psicologia. Medicina 
Comportamental e Neurociências. com foco em 
resiliência. bem- estar e performance. É coach certificada 
pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. 
giro escala 
INSPIRAÇÃO NA DANÇA 
REVISTA ARTE-EDUCA EF'2- hDIÇ'ÃO 3 
A entrevista da edição 3 da revista 
Arte-Educa EF2 é com a artista Ana 
Botafogo. Ela conta sua trajetória a té 
se tornar uma das ma is importantes 
e vitoriosas bailarinas do mundo. O 
sonho do balé era distante, embo-
ra a menina dançasse desde muito 
cedo. Com apenas 6 anos de idade, 
frequentava um conservatório musi-
cal. Graças a uma professora muito 
atenciosa, encantou-se com aquela 
dança, embora fosse a inda para ela 
uma brincadeira infant il. Não parou 
de estudar aquela a r te, mas pensava 
que seria um hobby. Aos 18 anos, no 
p rimeiro ano da facu ldade de Letras, 
foi a Paris se aperfeiçoar no idioma 
.. - ·--·-- .~--·­..-.... -
bretão e, claro, dançar nas horas vagas. Sua vida mudou, pois procurou uma 
companhia de dança por lá. Foi contratada de imed iato em um teste e nunca 
mais parou. Foi assim que o Brasil ganhou sua ba ila rina mais conceituada, 
inspiração para gerações de novas aprendizes. 
UMA SOLUÇÃO 
SAUDE 
Pensar pollticas públicas da á r C! a 
no Brasil requer mais d~logo 
entre teoria e prática social, 
lndulndo a Sociologia como 
recurso slst~mlco da Medicina 
CLIMA DE 
INCERTEZA 
REVISTA SOCIO I ,OGIA 
EDIÇAO 60 
H á um cl ima de incerteza e in-
definição no país. Novamente, se 
apresenta a possibilidade de inte r-
rupção do mandato presidencial. 
D esta vez pelas decla rações de viés 
golpista do PSDB. Intensificam-se 
os ataques ao governo, convocam-
-se manifestações e os meios de 
comunicação atacam com requen-
tadas denúncias. A opção principal 
da direita, no sentido mais preciso 
dos interesses de classe ligados ao 
grande capita l monopolista, caminha no sentido de produzir uma transição 
sob um governo fraco, enquanto se gesta uma alternativa para substituí- lo em 
2018. A constante ameaça de impedimento da presidente pode ganhar uma 
dinâmica própria e se viabilizar como alternativa e, dessa maneira, não estaria 
descartada como possibilidade pelo bloco dominante. Para agravar a situação, 
a base de sustentação do governo no Congresso está corroída. Veja matéria 
completa na edição 60 da revista Sociologia. 
www.ponalcicnciacvicl:tcom.br 
O NEOATEÍSMO 
POLÍTICO 
RI\ lt.;T\ I ILO<.;OFI.\ 
I DI(,. \O 11'> 
O neoateísmo voltou a ser tema 
da revista Filosofia, em sua edição 
112. Esse pensamento tem a lg umas 
diferenças e m relação ao ateísmo do 
início do século XX. A princípio é 
possível perceber que o neoateísmo 
não é niil ista nem tampouco relati-
vista. Muito pelo contrário, é posi t i-
vo, prepositivo e muitas vezes c ient i-
ficista. Sua g rande base de referência 
é o Darwinismo e sua resposta ao 
a rg umento de W illiam Paley (con-
siderado errôneo, que diz que seres 
o rganizados precisam de um p roje-
tista inteligente para desenhá-los). 
No entanto, seu ponto mais fo rte de 
referênc ia está na luta pelos direitos 
e libe rdades individuais que repre-
sentam o Estado Laico. O u seja, o 
neoateísmo é fundamenta lmente um 
mov imento po lítico. E se no passado 
não se o rganizava e não tinha uma 
plataforma política conjunta, hoje, 
e m função de seu crescimento, pas-
sou a se orga nizar em defesa de um 
Estado L a ico. 
psique ciência&vida 7 
E N T R E v s T A 
, 
TRAÇOS PSICOPATICOS 
DEJOVENS INFRATORES 
O psicólogo Daniel Rijo desenvolveu um projeto baseado 
na Terapia Facada na Compaixão, com o objetivo de regular 
as dificuldades emocionaisdos chamados delinquentes 
juvenis do sistema prisional de Portugal Por: Lucas Vasques/ Foto: DivulgaçCio 
U
sar elementos da Terapia Focada na 
Compaixão (TFC) para minimizar 
os efeitos das psicopatologias em 
jovens detentos do sistema prisional 
de Portugal é o objetivo do projeto desenvolvido 
por Daniel Maria Bugalho Rijo. O programa, 
que contemplará jovens infratores, começará, 
efetivam ente, em janeiro de 2016. Como base 
para alcançar o sucesso da iniciativa, o psicólogo 
usará a TFC, que vem obtendo bons resultados 
para diversos quadros clínicos. O projeto é 
pioneiro, na medida em que testará o seu impacto 
na modificação dos traços psicopáticos em 
delinquentes juvenis. 
Segundo Rijo, a ideia é adotar em presídios 
portugueses um ensaio clínico aleatório, em que 
um grupo de menores delinquentes do gênero 
masculino, com elevados traços psicopáticos, será 
selecionado. D epois disso, metade deles receberá 20 
sessões estruturadas de Terapia da Compaixão. ''As 
sessões serão concebidas para auxiliá-los a regular o 
comportamento impulsivo, a reduzir a agressividade 
e a desenvolver uma atitude autocompassiva, que 
lhes permita um maior ajustamento nas relações 
interpessoais", explica o psicólogo. 
No final do tratamento, o funcionamento 
psicológico, emocional e comportamental dos 
W\V\v.ponnlcicnciaevida.com.br 
jovens tratados será comparado com o dos jovens 
do grupo de controle: "Esperamos alcançar 
melhorias na regulação emocional, no combate 
aos atos violentos, diminuição dos traços de frieza 
emocional e maior capacidade de autocompaixão e 
de compaixão pelos outros". 
Rijo tem se envolvido em projetos de 
investigação na área das perturbações da 
personalidade e do comportamento antissocial. 
Tem colaborado com instituições públicas e 
privadas portuguesas em diversos cursos de 
formação para professores e psicólogos em 
áreas como indisciplina escolar, comportamento 
desviante, psicoterapias das perturbações da 
personalidade, Terapia Focada nos Esquemas 
e entrevista motivacional com doentes difíceis. 
Em parceria com o Ministério daJustiça de 
Portugal, vem desenvolvendo projetos de 
intervenção e de investigação na prevenção 
e reabilitação de jovens e adultos agressores, 
incluindo agressores conjugais. 
Daniel Rijo é doutor em Psicologia, professor na 
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação 
da Universidade de Coimbra, em Portugal, além 
de, como ele mesmo se define, investigador no 
Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e 
Intervenção Cognitivo-Comportamental (Cineicc). 
Lucas Vasques é j ornalista e escreve para esta publicaçao. 
psique ciência&vida 9 
VOCÊ DESENVOLVEU UM PROJETO DE ThRA-
PIA DA COMPA IXÃO COM JOVENS INFRATORES 
EM P ORTUGAL, QUE COMEÇARÁ EFETIVA-
MENTE EM JANEIRO DE 2016. PRIMEIRAMEN-
TE, O QUE É ThRAPLA DA COMPAIXÃO? 
0.\NIEL Ruo: A Terapia Focada na Com-
paixão (TFC) é de índole cognitivo-com-
portamental, inserida num movimento 
reconhecido como terapias de terceira 
geração ou de terceira onda, que rompe 
com o paradigma dominante nas interven-
ções cognitivo-comportamentais. Trata-se 
de um modelo conceitual que valoriza o 
peso que variáveis de natureza evolucio-
nária têm na explicação do sofrimento 
humano e da psicopatologia. A partir do 
conhecimento sobre a forma como a men-
te humana funciona, propõe-se ajudar os 
indivíduos promovendo o funcionamento 
psicológico e emocional numa mentalida-
de evoluída de prestação de cuidados aos 
outros e ao próprio. Em outras palavras, 
sendo os mamíferos evolutivamente dota-
dos da capacidade de funcionarem numa 
mentalidade de prestação de cuidados 
(para poderem assegurar a sobrevivência 
de seus fi lhos), essa mentalidade pode ser 
promovida na forma como funcionamos 
em relação aos outros, mas também em 
relação a nós próprios (sendo capazes de 
nos sentirmos seguros perante a adversi-
dade e as ameaças da vida, por exemplo). 
Ao funcionarmos nessa mentalidade de 
prestação de cuidados em relação a nós 
mesmos, desenvolvemos uma atitude au-
tocompassiva (por oposição ao autocri-
ticismo, que é a vergonha de si mesmo), 
que nos ajuda a enfi·entar os problemas, a 
tolerar os fracassos e a lidar com as perdas 
de forma mais adaptativa e tranquila. 
ThORICAMENTE, COMO FUNCIONARÁ ESSA 
INTERVENÇÃO, O QUE ESTÁ PLANEJADO PARA 
ESSA PRÁTICA, QUANTO TEMPO DEVERÁ DU-
RAR E QUAIS OS RESULTADOS ESPERADOS? 
Ruo: A TFC vem obtendo bons resultados 
para diversos quadros clínicos e este proje-
to será pioneiro, na medida em que testará 
o seu impacto na modificação dos traços 
psicopáticos em delinquentes juvenis. No 
que diz respeito ao desenho da investiga-
1 O psique ciênci:t&vid:t 
Ao fonczonarmos na mentalidade de prestação de 
cuzdados em relação a nós mesmos, desenvolvemos 
uma atitude autocompassiva, que nos qjuda a 
enfrentar os problemas, a tolerar os fracassos 
e a lidar com as perdas de forma mais tranquila 
ção, trata-se de um ensaio clínico aleatório 
(a forma mais vigorosa de testar a eficácia 
de um tratamento), em que um grupo de 
menores delinquentes do gênero masculi-
no, com elevados traços psicopáticos, será 
selecionado e metade deles (grupo de tra-
tamento) receberá 20 sessões estrutmadas 
ele Terapia da Compaixão. As sessões se-
rão concebidas para auxiliá-los a regular 
o comportamento impulsivo, a reduzir a 
agressividade e a desenvolver uma atitude 
auto e heterocompassiva, que lhes per-
mita um maior ajustamento nas relações 
interpessoais. lo final elo tratamento, o 
funcionamento psicológico, emocional e 
comportamental dos jovens tratados será 
comparado com o dos jovens do grupo de 
controle. Esperamos alcançar melhorias na 
regulação emocional, no combate à agres-
sividacle, uma diminuição dos traços de 
fi·ieza emocional e maior capacidade de au-
tocompaixão e de compaixão pelos outros. 
CoMo APRESENTAR A ThRAPIA DA CoMPAI-
xAo PARA JOVENS QUE EM SUA MAIORIA NÃO 
CONHECEM ESSE CONCEITO E, ALÉM DISSO, 
SÃO NEGLIGENCIADOS E MARGINALIZADOS? 
COMO FUNCIONA ESSA DINÂMICA? 
Ruo: O projeto de investigação decorre-
rá em centros educativos (unidades de 
reabilitação em que os menores que são 
autores de atos criminosos são colocados 
pelo sistema de justiça português). Nessas 
unidades de reeducação para a vida 
em sociedade, os menores já recebem 
intervenções de diversas naturezas: fi·e-
quência de cursos de formação escolar 
e profissional que os habilite para a con-
tinuação dos estudos e para a inserção 
profissional no final da medida judicial; 
programas de tratamento ele competên-
cias sociais etc. Aos jovens que se encon-
tram internos por medida tutelar educati-
va, por um tempo suficientemente longo, 
será proposta a participação voluntária 
nesse estudo. Pela nossa experiência em 
projetos anteriores com essa população, 
a maioria man ifesta desejo de participar 
e está aberta para receber ajuda psico-
terapêutica, uma vez que a internação 
nesses centros os confronta com as pró-
prias necessidades de mudança atitudinal 
e comporta mental. Muitos desses jovens 
reconhecem a necessidade ele mudar, 
embora man ifestem dificuldades e in-
consistências quando alcançam algum 
grau de mudança. Com ajuda psicotera-
pêutica, a maioria costuma colaborar e 
se emprenhar no processo de mudança 
de um modo sério. A intervenção pode 
e deve ser apresentada como um veículo 
para <"Uuclá-los a melhor regular as suas 
dificuldades emocionais, o seu compor-
tamento e saber lidar com situações des-
con fortáveis que possam vir a sofrer, mes-
mo durante a internação ordenada pela 
justiça juvenil. Para além dessa atuação, 
os terapeutas são também treinados no 
manejo da entrevista motivacional, a fim 
de promover maior adesão dos jovens à 
intervenção terapêutica e envolvimento 
mais intenso no processo de mudança. 
QUAIS AS RELAÇÕES ENTRE A ThRAPIA DA 
COMPAIXAO E OS CONCEITOS DA ThRi\PIA 
CoGNrrrvo-CoMPORTAMENTAL, TAMBÉM 
ALVO DE SUA PRÁTICi\ CLÍNICA? 
Ruo:A Terapia Focada na Compai-
xão é uma das modalidades de Terapia 
Cogn itivo-Comportamental atualmente 
existentes. É considerada uma terapia 
de terceira geração pois, ao contrário 
ela cognitiva tradicional, que visa a mu-
dança dos conteúdos de pensamento e 
\Vww.ponalcienciacvid:t.com.br 
a correção das formas de pensar disfun-
cionais, a TFC privilegia o papel que a 
mente, resultante da evolução, possui na 
regulação emocional. Dedica-se bastante 
tempo para "educar" o cliente sobre os di-
versos sistemas de regulação do afeto que 
os humanos possuem, mostrando como o 
funcionamento no modo de prestação de 
cuidados, de calor e afeto pode ser ativado 
para nos apaziguar perante a adversidade 
e o fracasso. Grande parte da intervenção 
é focada no desenvolvimento de compe-
tências ele autocompaixão, combatendo 
o autocriticismo e as defesas patológicas 
que os stúeitos desenvolvem contra o seu 
próprio autocriticismo. Nesse trabalho, 
há um foco considerável no "desenvergo-
nhamento" do indivíduo, ou seja, na redu-
ção dos sentimentos de vergonha, que nos 
fazem sentir inferiores e sem valor. este 
aspecto, o foco da intervenção é idêntico 
ao que já acontece em intervenções cog-
nitivas, por exemplo, na Terapia Focada 
nos Esquemas. No entanto, a postura do 
terapeuta e as explicações fornecidas ao 
cliente acerca do funcionamento da nos-
sa mente e da produção de cognições 
disfuncionais são bem diferentes do que 
se faz na Terapia Cognitivo-Comporta-
mental clássica. Na Terapia Focada na 
Compaixão, a própria relação terapeuta-
doente é um ingrediente fundamental da 
mudança terapêutica e o terapeuta deve 
ser treinado no desenvolvimento ela auto-
compaixão e da compaixão pelos outros. 
SEUS ESTUDOS DETECTARAM ELEVADA PREVA-
LÊNCIA DE PSICOPATOLOGlAS E PERTURBAÇÕES 
MENTAIS NO SISTEMA PRISIONAL. A QUE SE 
DEVE ISSO E COi\10 ~llNil\UZAR O PROBI..E!\!A? 
RIJO: A investigação internacional tem 
mostrado uma elevada prevalência de per-
turbações mentais em amostras forenses. 
Nos adultos reclusos, as perturbações de 
personalidade (especialmente a antisso-
cial, a paranoide, a borderline e a narcí-
sica) podem ser encontradas em cerca de 
80o/o dos reclusos do sexo masculino. Nas 
populações de menores em conflito com a 
justiça, pela fase de desenvolvimento em 
que se encontram, são os precursores da 
www.ponalcicnciacvida.com.br 
A Terapta Focada na CompatxCío valonza o peso que variávets de natureza evoluctonana têm na 
exphcaçCío do sofnmento humano e da pstcopatologta 
Trata-se de um ensazo 
clínico aleatóno, em que 
um grupo de menores 
delinquentes do gênero 
masculino, com elevados 
traços psicopáticos, será 
seleczonado e metade 
deles receberá 20 sessões 
estruturadas de Terapia 
da Compaixão 
perturbação de personalidade antissocial 
(a pern1rbação de conduta e a perturbação 
de oposição) que se revelam igualmente 
prevalentes. Na verdade, os aspectos iden-
ti ficados como fatores de risco para o cri-
me são comuns a quem tem predisposição 
a esse tipo de patologia. A questão que 
se coloca é a da necessidade de interven-
ção em saúde mental na reabilitação dos 
indivíduos que cometem crimes. Se não 
forem aval iadas as suas necessidades de 
tratamento e não for oferecida nenhuma 
forma ele intervenção especializada, é de 
esperar que, após o término da medida ju-
dicial, a reincidência se mantenha elevada. 
Alguns estudos mostram que a presença 
de patologia severa da personalidade em 
reclusos constitui um fator que dificulta a 
eficácia das intervenções tradicionais no 
t ratamento penitenciário (por exemplo, 
programas cognitivo-comportamentais 
de competências sociais). Nesse sentido, 
os detentos deveriam ser avaliados no 
início da pena e deveriam proporcionar 
a eles tratamentos diferenciados em fun-
ção das suas necessidades de intervenção 
em saúde mental. Alguns países oferecem 
unidades especializadas de tratamento 
dentro dos sistemas prisionais para indiví-
duos com tais necessidades. 
EssAS PERT URBAÇÕES OBSERVADAS SE TRJ\-
DUZEI\1 El\1 COMPORTMIENTOS VIOLENTOS 
DOS DETENTOS E EM QUE MEDIDA O CONVÍ-
VIO COM OUTROS ENCARCERADOS t\JUDA A 
AGRJ\VAR O PROBLEMA? 
RIJO: Os detentos com patologia mais 
severa da personalidade (por exemplo, 
que possuem mais de uma perturbação 
desse tipo) tendem a ser mais impulsi-
vos e a possuírem maior desregulação 
emocional perante a frustração ou quan-
do existe algum conflito interpessoal. 
Como resultado dessas características, 
quando se encontram em grupo podem 
tornar-se mais explosivos e passar ao ato 
com maior fàcilidade. No entanto, apesar 
dessas características de impulsividade, 
a realidade mostra que a grande maioria 
dos detentos tende a adotar um compor-
tamento mais manipulativo dentro da 
prisão e manifesta menos agressivida-
de aberta e direta. Fica-se com a ideia 
de que o sistema prisional, totalitário e 
psique ciência&vida 11 
fechado, parece capaz de controlar de 
forma razoavelmente eficaz esse tipo de 
comportamento. A punição contingente, 
sempre que um detido descumpre o regu-
lamento, parece ser eficaz na regulação 
do comportamento agressivo dentro dos 
limites da prisão. A questão importa nte a 
se ponderar é se, uma vez em liberdade, 
o sujeito internalizou competências de 
regulação emocional e comportamental 
que lhe permi tam funcionar num modo 
pró-social, mesmo quando já não tem 
ninguém a controlá-lo o tempo inteiro. 
0 TRABALHO QUE VAI DI~ENVOLVER EM 
PRESfDIOS PRECONIZA lNTERVENÇÓES INDIVI-
DUAIS OU fiM GRUPO? 
Ruo: O ensaio clínico sobre a eficácia 
da Terapia Focada na Compaixão vai 
ser realizado no formato de sessões in-
dividuais de Psicoterapia. Habitualmen-
te, por uma questão de custo/ benefício, 
atendendo à proporção de técnicos por 
agressor, a generalidade dos tratamen-
tos penitenciários é realizada em grupo 
(pelo menos parte da intervenção). Isso 
aconteceu com um projeto anterior -
Gerar Percu rsos Sociais - , em que testa-
mos o impacto de um programa estrutu-
rado de 40 sessões em grupo na melhoria 
do fu ncionamento cognitivo, emocional 
e interpessoal dos detentos. Esse progra-
ma foi construído com base no modelo 
ela Terapia l:<Qcada nos Esquemas para 
as perturbações da persona lidade e pro-
duziu bons resultados na investigação 
que ainda vamos publicar. No entanto, 
no novo projeto, o primeiro estudo apli-
cando a Terapia Focada na Compaixão 
num contexto forense, a ideia é melho r 
compreendermos os mecanismos de mu-
dança terapêutica. Por isso, optamos pela 
intervenção em fo rmato individual. 
0 FATO DE O UNIVERSO PRISIONAL SER DE EX-
T REMA COMPLEXIDADE E VULNERABILIDADE 
I•:XIGE NOVOS MODELOS DE PSICOTERAPIA? 
RIJO: Inúmeros autores e estudiosos dos 
sistemas prisionais apontam para várias 
perversidades ela prisão. A cultura pri-
sional é uma cultura totalitária, num 
12 psique ciência&vida 
Pela nossa expenencia 
com essa população, 
a maioria maniftsta 
dese;o de participar e 
está aberta para receber 
a;Uda pszcoterapêutzca, 
umavezquea 
internação nesses centros 
os corfronta com as suas 
pr6pnas necesszdades de 
mudança atitudinal 
universo fechado e longe da observação 
públ ica ou de entidades reguladoras inde-
pendentes. A reclusão é uma oportunida-
de ún ica para promover a mudança dos 
autores de atos criminosos. No entanto, se 
nada for feito nesse sentido, corremos o 
risco de, em vez de conduzir à mudança, a 
experiência da reclusão pode agravar mais 
ainda fatores intrapsíquicos subjacentes a 
um padrão de comportamento agressivo 
e criminal. Mais do que novos modelos de 
Psicoterapia, o universo prisional convida 
a uma mudança de cultura institucional, 
fazendo os profissionais que intervêm no 
sistema prisional passar de uma cultura 
meramente punitiva para uma cultura 
de reabilitação. Na verdade, a pena de-
terminada por um tribunal é privativa da 
liberdade ... não inclui outra punição que 
não a privação ela liberdade. Mas, como 
evidenciam os estudos de reincidênciacriminal , a reclusão só por si não produz 
automaticamente a mudança do padrão 
comporta mental e do estilo de vida. Esse 
período deve ser aproveitado como uma 
oportunidade privi legiada para desenvol-
vermos esforços de reabilitação. E esses 
esforços devem envolver todos, desde os 
guardas prisionais ao pessoal médico, 
professores, formadores e psicólogos que 
intervêm junto dos detentos. 
A ESTRUTURA E AS DINÂMICAS FAMILIMES 
DOS jOVENS DE1'EI'ITOS SÃO FAT ORES DE RIS-
CO OU DE PROTEÇÂO PARA O DESENVOLVI-
MENT O DOS PROBLEM AS DE COMPORTAMEN-
TO. SUA INTERVENÇÃO TERAP~UTICA PREVÊ 
UMA ATUAÇÃO JUNT O ÀS FAMfLLAS? 
Ruo: A quase totalidade dos menores 
agressores provém de famílias com ele-
vada deterioração e instabilidade, onde 
abundam modelos de comportamento 
destrutivo e é comum famil iares próximos 
ou mesmo irmãos mais velhos constituí-
rem modelos de criminalidade e desvio 
social. A questão da responsabilização das 
famílias e da necessidade de intervenção 
junto das mesmas vem sendo debatida em 
Portugal com mais intensidade. Até mui-
to recentemente, a Lei Tutelar Educativa 
(aplicada a menores entre 12 e 16 anos de 
idade) não contemplava a corresponsabili-
zação das famíl ias em relação aos atos cri-
minosos. Na verdade, essa é uma questão 
polêmica, pois, em muitos casos, a estru-
tura familiar desses menores é fi·aquíssima 
e as intervenções oferecidas às famílias são 
de natureza voluntária e menos intensas do 
que as que podemos oferecer aos menores. 
No sistema de justiça juvenil português, é 
oferecida uma breve intervenção junto à 
fàmília dos agressores juvenis, com o ob-
jetivo de apoiar e intensificar os esforços 
de mudança do jovem. Essa intervenção é 
fi1cultativa e as familias podem aceitar ou 
rejeitar esse apoio. Quando as fa mílias se 
mostram disponíveis e interessadas podem 
ser encaminhadas para serviços na comu-
nidade que oferecem intervenção familiar 
de forma mais intensa e prolongada. 
P ELAS CONCLUSÓES DOS SEUS ESTUDOS, A 
ThRAPLA DA CO~IPAIXÂO PODE SER USADA 
EM OUTROS PA!sE_c;, COMO O B RASIL, OU ELA 
FOI CONCEI31Di\ APENAS PARA A REALIDADE 
PRISIONAL DE P ORTUGAL? 
Ruo: Embora o projeto que estamos ini-
ciando seja o primeiw a testar o impacto 
da Terapia Focada na Compaixão deforma 
vigorosa no contexto forense, já existem al-
guns indicadores de que essa modalidade 
terapêutica tem um impacto positivo com 
agressores. Um primeiro ensaio feito num 
\V\V\\·.portalcicnciaevida.com.br 
projeto de apoio psicoterapêutico indivi-
dual, promovido pela Direção Geral de 
Reinserção e Serviços Prisionais, junta-
mente com uma equipe da Faculdade de 
Psicologia e ele Ciências da Educação da 
Universidade ele Coimbra, mostrou que 
existe mudança clinicamente significativa 
em variáveis relevantes. Entretanto, a in-
tervenção real izada pode e deve ser testa-
da em outros países e em outras realidades 
cultu rais. Não há qualquer obstáculo para 
a implementação desse tratamento em ou-
tros países ou outros contextos, pois, para 
além da adequação linguístit:a, não foi feita 
nenhuma outra a lteração pa rticular às es-
tratégias de intervenção que impeça o seu 
uso em culturas diferentes. 
Strl\ ATUAÇÁO 'li \MIIí-:M UTII.lí'.A A 1ERAI'lA 
no R'iQUI~ IA. PoDE DEFINIR, I~M l.INilAS 
GERAIS, O QUE É ESSA TÉCNICA, CO:>.IO A CO-
I IECEll E POR QUE RESOLVEU ADOTA-LA? 
R li<>: A Terapia Focada nos Esquemas 
pode ser descrita como um desenvolvi-
mento das terapias cognitivas, que foi 
concebido para responder às particulari-
dades dos doentes com pato logias da per-
sonalidade. Como estamos interessados 
em tratar perturbações da personalidade, 
resistentes às intervenções individuais, em 
1994 convidamos Jeffrey Young (criador 
da metodologia) para ministrar um curso 
intensivo em Coimbra. Desde esse perío-
do, iniciamos o aprofundamento do mo-
delo da Terapia Focada nos Esquemas e 
começamos a fazer investigação da teo-
ria e formação continuada ao longo dos 
anos. O modelo de intervenção foi sendo 
desenvolvido c, em 2008, foi fundada a In-
lemntionnl Society for Scl~e~nn T/~e~npy, em 
Coimbra, num encontro que juntou 100 
especialistas de 30 países diferentes. A Te-
rapia Facada nos Esquemas propõe que 
a não satisfação de necessidades emocio-
nais e de desenvolvimento, nos primeiros 
anos de vida do indivíduo, conduz à for-
mação de c renças disfuncionais precoces, 
que constinrem o núcleo do autoconceito 
do suje ito. A existência dessas crenças, 
resistentes à mudança, bem como os pro-
cessos de copti1g (esforços para lida r com 
www.ponalcicnciacvida.com.br 
Nas populações de menores em conflzto 
com a ;ustiça, pela fase de desenvolvimento 
em que se encontram, são os precursores 
da perturbação de personalzdade 
antissocial que se revelam prevalentes 
situações de danos) disfuncionais associa-
dos às mesmas geram e mantêm a patolo-
gia da personalidade. A terapia recorre a 
estratég ias cognitivas e comportamentais, 
mas também a de estratégias emocionais e 
relacionais para combater a influência des-
sas crenças no funcionamento cognitivo e 
no comportamento elo indivíduo. É dada 
muita atenção à satisfàção de necessidades 
emocionais pelo próprio terapeuta, num 
estilo de intervenção conhecido como re-
parentização limitada. Por ter se revelado 
muito eficaz no tratamento de perturba-
ções severas da personalidade, principal-
mente perturbação borde rl ine e a narcísi-
ca, está se tornando bem conhecida como 
opção de tratamento para esses casos. 
A TERAPIA DO E sQuEr. IA INTEGRA co-
NI IF:Cir.mNTos DERIVADOS DI~ OUTRO 
SISTEI\IAS TEÓRICOS, COMO A 1b~APIA 
COGNITIVI\ -COMPOI\.TAMENTAI., o CONS-
TRUTI VISMO, A GESTALT-1ERAPIA, A Psi-
Ct\ NÁ LISE, ENTRE OUTRAS. Q UA L DESSAS 
TERAPIAS CONSIDERA A 1\IAIS RELI~VANTE 
PI\R1\ TRI\IIALI IAR COM ESQUEI\11\S? 
R11o: Na verdade, a Terapia Focada nos 
Esquemas sofreu influência de movimen-
tos como o Construtivismo em Psicote-
rapia, influências do modo de intervir na 
Gestalt e, na teoria, incorpora conceitos 
que se assemelham a alguns conceitos 
psicanalíticos. Mas todas essas contri-
buições foram incorporadas num mode-
lo conceitual de matriz cognit iva. Isto é, 
o cérebro é visto como um processador 
ele informação e a experiência precoce 
fica codificada em estruturas de proces-
samento de informação que se formam 
cedo na vida- os esquemas precoces mal 
-adaptativos. É esse modelo que permite 
avalia r e conceituar cada caso clínico. Já 
na in.tervenção, são também integradas 
técnicas oriundas de diversas tradições 
psicoterapêuticas, mas são usadas com 
a finalidade de combater os esquemas 
clisfuncionais do doente, de modo a que 
estes diminuam progressivamente a sua 
influência no processamento de infor-
mação, nas reações emocionais e nas 
tendênc ias para a ação. Nesse sentido, a 
Terapia Focada nos Esquemas inclui um 
modelo conceitual específico e inovador 
e um conjunto de estratégias de interven-
ção que, a inda que provenham de d iver-
sas tradições psicoterapêuticas, são inte-
gradas de modo a rticulado num estilo de 
intervenção específico desse modelo. 
psique ciéncia&vida 13 
A ThRAPIA DO ESQUEI\ IA f.: INDICADA PARA 
QUAIS DIST ÚRBIOS 1\ IENTAtS? 
Rt.JO: A Terapia Focada nos Esquemas foi 
concebida para perturbações da persona-
lidade e é nessas situações que tem sido 
mais estudada e onde está mais inten-
samente comprovada a sua eficácia. No 
entanto, tem sido aplicada, também com 
sucesso, em outras perturbações, como as 
depressivas e transtornos de ansiedade. 
Trabalhos mais recentes e alguns ainda 
em curso definiram modalidades de in-
tervenção em grupo e o modelo tem sido 
proposto para intervir com casais, com 
crianças e também em intervenções para 
doentes com problemáticas criminais 
(por exemplo, agressores conjugais). 
P oDEI\tos AFtRI\ tAR QUE A Tl~RAPLA DO E s-
QUEMA ENSINA A PESSOA A PENSAR DE FOR-
1\IA i\IAIS POSITIVAE DESCONSIDERAR OOG-
i\IAS SOCIAIS QUE PODEi\! NÃO SERV1R PARA 
DETERMINADA PESSOA? 
R11o: Mais do pensar de forma positiva, 
trata-se de corrigir distorções sistemáti-
cas na forma como a pessoa interpreta a 
realidade e as suas experiências. Quando 
alguém possui esquemas disfuncionais 
precoces, seleciona parte da informação 
disponível numa dada situação e, muitas 
vezes, reti ra conclusões precipitadas dos 
acontecimentos e do comportamento dos 
outros em relação a si. A Terapia Focada 
nos Esquemas ensina a pensar de forma 
mais realista e com base na totalidade da 
informação disponível, ajudando o doente 
a não se dei.xar enganar pelos seus pró-
prios esquemas mentais. Poderíamos dizer 
que a Terapia Focada nos Esquemas ensi-
na os doentes a olharem de uma maneira 
inteiramente nova para situações que já 
conhecem, promovendo uma visão de si 
e dos outros mais realista e mais saudável. 
UM DOS OBJETIVOS DA TERAPIA É PROPORCIO -
NAR O AUTOCONHECLMENTO. N A PRÁTICA, 
COMO SE CHEGA A ISSO? 
RttO: Uma parte inicial da intervenção é 
dedicada à identificação dos esquemas dis-
funcionais precoces do doente. Para che-
gar a esses mesmos esquemas, terapeuta 
14 psique ciência&vida 
A reclusão é uma 
oportunidade para 
prom(JVer a mudança. 
Mas se nada for ftito 
corremos o risco de, 
em vez. de conduzir à 
mudança, a expen'ência 
da reclusão agravar 
fatores intrapsíquicos 
sub_jacentes a um 
comportamento 
agresszvo e criminal 
e doente colaboram um com o outro. São 
explo radas experiências nocivas precoces, 
padrões de funcionamento familiar, difi-
culdades do doente nos primeiros anos 
de vida ... esse trabalho ajuda o doente 
não apenas a identificar os seus esquemas 
disfuncionais e a perceber de que modo 
eles distorcem a sua visão da realidade, 
mas também a compreender como eles se 
originaram na sua vida. Nesse sentido, a 
identificação dos esquemas, mas também 
das origens dos mesmos, ajuda o doente a 
se conhecer melhor para depois se libertar 
dessa forma distorcida de olhar para si e 
para os outros. 
E M MÉDIA, QUANTO TEMPO DEMORA UM 
T RATMIENTO COM ThRAPIA DO EsQUEI\<!A? 
Ruo: 1os doentes com patologia da per-
sonalidade, a Psicoterapia dura habitual-
mente entre um e dois anos, com sessões 
semanais que podem ser espaçadas quin-
zenalmente à medida que a terapia avança. 
Em casos mais complicados podem ser ne-
cessárias duas sessões semanais e mesmo 
apoio telefônico entre as sessões. Mas, em 
média, perturbações da personalidade são 
tratadas com sucesso. ao longo de pouco 
mais de um ano de terapia. 
COl\10 RELACIONA O CONCEITO DE lERAPIA 
DO EsQUEI\lA AOS N ÍVEIS DE PENSAl\ IENTO 
PROPOSTOS PELA ThRAPIA COGNITIVA-C OI\-1-
PORTI\JV!ENTA L? 
Ruo: A Terapia Focada nos Esquemas 
pode ser encarada como um desenvol-
vimento da terapia cognit iva clássica. O 
conceito de esquema d isftmcional, bem 
como as distorções cognitivas enquanto 
mecanismos ele manutenção dos esque-
mas, já estão incluídos nas formulações 
ch1ssicas da terapia cognitiva. O modelo 
dos esquemas acrescentou uma taxonomia 
dos esquemas disfuncionais (que são 
18 estruturas cognitivas resultantes de 
problemas em cinco domínios do desen-
volvimento) e chamou a atenção para os 
processos esquemáticos de evitamento 
(não apenas comportamental, mas tam-
bém evitamento cognitivo e emocional), 
bem como para a compensação esque-
mática típica de algumas perturbações da 
personalidade (narcísica, por exemplo). Es-
ses últimos conceitos teóricos não estavam 
anteriormente evidenciados nas terapias 
cognitivo-comportamentais. Mais recen-
temente, na Terapia Focada nos Esque-
mas, foi desenvolvida a teoria dos modos 
esquemáticos para melhor ajustar o mode-
lo aos doentes com patologia da personali-
dade do cluster B do DSM. Essa contribui-
ção diferenciou mais o modelo das terapias 
cognitivo-comportamentais. 
ESSAS TERAPIAS (COGNIT IVO-COMPORTA-
MENTAL, DO EsQUEMA E DA COMPAIXÃO), 
DE CERTA FORi\IA, NÃO CONSIDERAM A UTI-
LIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS. M ESMO AS-
SIM, EM SUA AVALIAÇÃO, EM DETERMINADOS 
CASOS É NECESSÁRJA A INTERVENÇÃO POR 
MEIO DE REI\ tÉDIOS? 
R11o: Q ualquer um desses modelos permi-
te que seja implementada a terapia junta-
mente com intervenções farmacológicas. 
Em casos mais graves (por exemplo, em 
perturbações borderline severas), a medi-
cação pode ser muito úti l para estabilizar o 
humor dos doentes e permitir maior eficá-
cia da Psicoterapia. Em geral, à medida que 
a terapia produz ganhos significativos, a 
medicação pode ser reduzida pelo psiquia-
'"'"'v.ponalcicnciacvida.com.br 
A Terap1a Focada nos Esquemas tem s1do ut1hzada com sucesso em vános segmentos como em 
doentes com problemas cnm1na1s e agressores conJugaiS 
tra, de modo a que o doente aprenda a se 
regular sem necessidade de medicamentos 
químicos. No entanto, há casos que, pela 
sua gravidade, necessitarão sempre de 
apoio psicofarmacológico. Isso é decidido 
em função do caso e da severidade domes-
mo, atendendo igualmente a resposta do 
doente à Psicoterapia (se melhora muito ou 
pouco). Deve ser uma decisão tomada em 
função de cada caso e não em função do 
modelo de intervenção psicoterapêutica. 
VOCÊ ATUA COM JOVENS QUE APRESENTAM 
PERTURBAÇÓES DE PERSONALIDADE E DE 
co~IPORTAt~ IENTO. SAo PESSOAS coNSIDE-
RADAs DE DIFiCIL RELACIONMIENTO. COMO 
CONSEGUE "ENTRAR" NA CAI3EÇA DELES 
PARA AJUDÁ-LOS? 
Ruo: As dificuldades nos relacionamentos 
são parte da psicopatologia da personal i-
dade. Conseguir ser capaz de encarar essas 
dificuldades, de não reagir aos estilos inter-
pessoais dos doentes, fàz parte das com-
petências de qualquer terapeuta que deseja 
trabalhar nessa área. A Terapia Focada na 
Compaixão ensina que a disfunção resulta 
sempre do sofi·imento, mesmo quando o 
estilo do doente contém algum grau de 
agressão a terceiros. Sem deixar de se 
proteger e de colocar limites bem defini-
dos à relação terapêutica (o que será e o 
que não será permitido), os terapeutas são 
treinados para não reagirem emocional-
ww,v.portalcicnci:ICvida.com.br 
No sistema de ;'ustiça 
;uvenzl portuguêsJ é 
qforeetda uma breve 
intervenção ;unto à 
fomília dos agressores 
;uvenisJ com o objetivo de 
apoiar e intenszjicar os 
eifõrços de mudança do 
JOvem. Essa intervenção 
é focultativa 
mente aos comportamentos interpessoais 
dos doentes. Essa competência fàz com 
que as di ficuldades rclacionais passem a 
ser menos evidentes na relação com o te-
rapeuta, abre a porta para um acesso mais 
genuíno à pessoa e, dessa forma, suscita 
no terapeuta uma atitude compassiva para 
com o doente. O que pode incomodar é 
o comportamento da pessoa. Contudo, da 
pessoa em si, é fáci l nos aproximarmos se 
soubermos ter acesso ao verdadeiro Eu, ao 
Eu que sofre. Quando o terapeuta conse-
gue se ligar a esse Eu genuíno (sem defe-
sas, nem estratégias), está na posição certa 
para compreender c para ajudar. 
VOCÊ INTEGRA A EQUIPE 1\IETODOLÓGICA 
DO PROJETO REDE DE M EDir\DORES PARA 
O SUCESSO E SCOLAR, QUE JÁ RECUPEROU 
MAIS DE MIL ALUNOS EM P ORTUGAL. COMO 
FUNCIONA ESSA INICIATIVA? 
RIJO: Trata-se de um projeto pioneiro em 
nível mundial, porque, em resposta a um 
desafio do atual presidente da Repúbl ica 
de Portugal à sociedade civil, um nume-
roso grupo de empresários formou a As-
sociação dos Empresários pela Inclusão 
Social (EPIS), que fi nancia vários projetos 
de intervenção no país, com vista à pro-
moção da inclusão sm.:ial de pessoas em 
risco. Um dos projetos mais ambiciosos 
foi precisamente a criação de uma Rede 
de Mediadores para o Sucesso Esco-
lar. Os mediadores são, em sua maioria, 
psicólogos e professores especificamen-
te t reinados e supervisionados por uma 
equipe metodológica (constituída por 
peritos de várias universidades portugue-
sas), que desenvolveram um procedimen-
to de sc!-eelllilg (triagem) para avaliação 
do risco de insucesso escolar. Essa equi-
pe desenvolveu, também, um conjunto 
de metodologias de intervenção,visando 
resgatar os alunos em risco de insucesso 
para passarem a investir na instituição 
de ensino e alcançarem sucesso escolar. 
Os resultados desse programa têm sido 
muito positivos e o projeto foi internacio-
nalmente reconhecido em nível europeu 
e pela Fundação Bill Clinton como uma 
boa prática no combate ao insucesso 
escolar. Portugal, apesar da acentuada 
melhoria das últimas décadas, apresenta 
ainda taxas de abandono e de insucesso 
escolar que são das mais elevadas na Co-
munidade Europeia. Por isso, a associa-
ção tem recebido respaldo da Presidên-
cia da República, e os empresários que 
a financiam têm mantido esse esforço 
mesmo perante a atual crise econômica 
e financeira. Tem sido muito gratificante 
para todos nós o grau de sucesso dessa 
intervenção, mas também a extensão dos 
programas EPIS, que estão sendo aplica-
dos aos alunos mais novos, provenientes 
de regiões carentes, e, também, aos alu-
nos em abandono escolar. ~ 
psique ciência&vida 15 
in foco por Michele Muller 
Benefícios cognitivos do 
S 
e quisermos alcança r melho-
res resultados acadêmicos 
devemos inves tir ma is tempo 
em at ividades intelectu ais, 
certo? Essa é a lógica que molda o 
siste ma educacional atua l, provoca n-
do o red irecionamento pa ra a sala de 
aul a do tempo - ou ao menos uma 
parte dele - que a ntes e ra dedicado 
a atividades lúdicas, ar t ís ticas e es-
16 psique ciência&vida 
ESPORTE 
AS VANTAGENS DAS 
ATIVIDADES FÍSICAS 
VÃO MUITO ALÉM DE 
QUEIMAR CALORIAS: 
NA INFÂNCIA, AJUDAM 
A DESENVOLVER AS 
FUNÇÕES EXECUTIVAS, 
CRUCIAIS PARA O SUCESSO 
DO APRENDIZADO 
portivas. Mas não es tá func iona ndo. 
Prova d isso está na qua ntidade cada 
vez ma ior de alunos desate ntos, im-
pulsivos e ansiosos. O problema é 
que esse modelo está desconside-
rando o fato de que o in telec to não 
se desenvolve sozinho: ele se forma 
juntamente - e ele mane ira interco-
nectada - aos aspectos físico, social 
e emociona l ela cri ança. 
Desenvolver essas outras d imen-
sões do ser humano não apenas ga-
rante a formação de ind ivíduos felizes 
e saudáveis: é fundamental para o su-
cesso da própria capacidade intelec-
tual. Mais que receber informações, 
cria nças precisam aprender a contro-
lar seus impulsos e sua atenção. Preci-
sam d ividi r e esperar a vez elo outro; 
resolver con n itos sociais; lidar com 
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fr ustrações e derrotas; sentir-se valo-
rizadas c par te de uma equipe; prati-
car o equilíbrio, coordenação motora 
e agi lidade física. Não é na carteira 
escolar que essas habil idades se de-
senvolvem. É na quadra espor tiva, na 
sala de dança ou no tatame. 
Mu ito se fala ela importância do 
esporte para a saúde e vigor físico 
da c riança e como fo rma ele com bate 
à obesidade. Uma função releva nte, 
mas que não ga nha em importâ ncia 
dos tantos outros benefícios trazidos 
pelo esporte. A práti ca esportiva -
especialmente das modalidades que 
exige m mais discip lin a e estratégia, 
como dança, artes marciais e j ogos 
em equ ipe- trabal ha várias habil ida-
des que formam as chamadas funções 
executi vas, essenciais para a fo rma-
ção ele um ind ivíduo bem-suced ido 
em todos os aspectos possíveis. São 
as últimas habilidades a amadurecer 
nas pessoas e também as primeiras 
a e nfraquecer quando envelh ecemos. 
Entre as funções executivas fun -
damenta is estão a memória de traba-
lho, que é a capacidade de ma nter as 
in fo rmações na mente para poder 
manipu lá- las ou reproduzi- las, e a 
flex/brlidade cogmtiva, que envolve a 
maneira c ria tiva de pensa r e ele so-
lu cionar problemas. Outra fu nção 
executiva é o controle àúb/tóno, que 
é a autodi sciplina, a capacidade de 
contro lar as próprias emoções e 
ações; ele selec ionar o fo co, a aten-
ção, de não ceder a tentações e não 
agir im pulsivamente. Quem convive 
com c rianças h iperativas e desaten-
tas sabe o quanto essas habilidades 
são crucia is no desempenho soc ial e 
acaclêm i co ela criança. 
Aumentar o número de atividades 
intelectuais e forçar o alu no a se con-
centra r no conteúdo acadêm ico são 
táticas que vêm se mostrando bastan-
te fal has - basta observar o sa lto no 
número de crianças que acabam re-
cebendo esti mu I a ntes para conseguir 
prestar atenção. Pouco é falado, infe-
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AUMENTAR O 
NÚMERO DE 
ATIVIDADES 
INTELECTUAIS 
E FORÇAR O 
ALUNO ASE 
CONCENTRAR NO 
CONTEÚDO SÃO 
TÁTICAS QUE VÊM 
SE MOSTRANDO 
BASTANTE FALHAS. 
O ESPORTE EXERCITA 
A AUTODISCIPLINA 
DE FORMA INTENSA 
E DIVERTIDA 
lizmente, do papel transformador que 
o esporte pode exercer na viela dessas 
crianças, exercitando a autodisciplina 
de forma in tensa e divertida, como 
nenhuma outra atividade exercita. 
A fa lta de autocontrole na infân-
cia é um preclitor m aior de problemas 
no futuro que fatores como histó ri-
co famili a r, coefi ciente de inteligên-
cia (QI) e situação socioeconômica. 
Essa constatação foi feita em um es-
tudo realizado ao lo ngo de 30 anos 
por pesquisadores de d iversas uni-
versidades americanas e canadenses 
(Moffitt e t a i., 2011). Segundo o es tu-
do, que ava liou mil indivíduos, aque-
les que na infância apresentava m 
menos impulsividade e mais contro le 
sobre suas ações se transformaram 
em adultos ma is saudáveis e bem-
-sucedidos profissionalmente, com 
menor chance ele sofrer com abu so 
de substâ ncias e obes idad e ou de se 
envolver e m crimes. 
Para comprovar a relação do espor-
te com o desenvolvimento das funções 
executivas, pesquisadores da Univer-
sidade da Geórgia, nos Estados Uni-
dos, testaram 171 crianças sedentárias 
antes e depois ele um progra ma de 13 
sema nas ele exercício fís ico. Foi con-
fi rmado um aumento de atividade no 
córtex fronta l b ilatera l, associado às 
funções executivas, e uma melhora nos 
testes de inteligência, especialmente 
de raciocínio lógico (Davis, 2011). 
Diversas pesqui sas já haviam de-
monstrado o papel elo esporte no 
desempenh o cogni tivo de adultos e 
crianças. Uma das explicações é o 
maior fluxo sanguín eo no córtex ce-
rebral, favorecendo o aumento de 
sinapses e também o nascimento de 
novas células nervosas. A neurogêne-
se- surg imento ele novos neurônios -
ocorre especifica mente no hipocam-
po, região responsável pela memória. 
Níveis excessivos e prolongados de 
estresse afeta m essa estrutura, que 
geralmen te se apresenta alterada em 
pessoas com depressão. Assim, além 
elos ganhos cognitivos e físicos, as ati-
vidades esport ivas reduzem a chance 
de crianças e adultos sofrerem as con-
sequências do estresse, como ansieda-
de e depressão. 
O esporte, a dança, o circo e as 
brincadeiras existem há milênios, em 
todas as culturas, po r um bom moti-
vo: cumprem uma importante função 
no desenvolvimento de diferentes ha-
bi li dades que são inter-relacionadas e 
que suportam a formação intelectual. 
Assim, práticas que exerci tam a de-
senvoltura física, promovem a inte-
rativiclacle e exigem disciplina podem 
ser mais significativas no desempe-
nho acadêmico que o aumento de ati-
vidades voltadas para a aprendizagem 
de con teúdo. .., 
Michele Muller é jornalista corn especializaçc10 ern Neurociência Cognitiva 
e autora do blog http:/ /neurocienciasesaude.blogspot.corn.br 
psique ciência&vida 17 
+ psicopositiva por Lilian Graziano 
...... 
EDUCAÇAO POSITIVA 
SE FOSSE 
IMPLEMENTADA, 
A EDUCAÇÃO 
POSITIVA TRARIA 
PROFUNDAS 
MUDANÇAS NOS 
PAPÉIS TANTO DA 
ESCOLA QUANTO 
DO PROFESSOR 
18 psique ciência&vida 
S 
ímbolo de status, sacerdócio, mis-
são. Muito já se falou sobre a pro-
fissão do professor que, ao longo 
dos últimos cinquenta anos, tem 
sofrido grandes transformações. Filha 
de professora, consegui testemunhar um 
pouco do prestígio que cercava a profissão 
quando eu, ainda criança, ouvia meu pai 
dizer como se sentiu importante ao namo-
rar uma então "normalista". Sim, esse era 
o nome que se dava às mocinhas que na 
época de mamãe faziam o curso Normal,que lhes conferia o cobiçado título de pro-
fessoras. Papai também brincava que sua 
intenção teria sido a de "dar o golpe do 
baú". Isso porque naquela época professo-
res ganhavam bem. Além disso - e talvez 
justamente por isso - , eram também res-
peitados. Ou seria o contrário, em que a 
remuneração seria a consequência do res-
peito? Creio que ambos. O fato é que a pró-
pria educação foi se transformando. Seus 
meios, seus objetivos, sua importância. 
Quando aos 17 anos tornei-me, tam-
bém eu, professora, cabia a esse profis-
sional formar o caráter do aluno. Não em 
detrimento da família, é claro, mas como 
um importante agente formador. Sempre 
me espanto quando vejo a reação de meus 
alunos de MBA diante de uma cena de fil-
me que utilizo como recurso didático para 
ilustrar um determinado tema. Nela um 
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VALORES E CARÁTER FORAM SENDO 
ESQUECIDOS NO CAMINHO TORTUOSO 
DO VESTIBULAR. PASSAMOS A EDUCAR AS 
CRIANÇAS PARA QUE ENTREM EM BOAS 
FACULDADES SIMPLESMENTE PORQUE, 
AO CURSÁ-LAS, ELAS TERIAM MAIS CHANCES 
DE CONSEGUIR UM BOM EMPREGO 
professor idealista se dirige ao pai de um 
aluno problemático e diz ser sua função 
"moldar o caráter do menino". Na cena 
o pai fica revoltado, dizendo ser apenas 
dele (pai) essa função. Fico perplexa ao 
observar que nessa cena a grande maio-
ria de meus alunos se identifica com o 
pai, achando que, de fato, a formação do 
caráter não seria papel da escola. 
Quando vi essa cena pela primei-
ra vez, imediatamente me identifiquei 
com o professor, na medida em que 
penso exatamente como ele. Mas não 
podemos ser ingênuos. Com o passar 
dos anos, no entanto, o papel do pro-
fessor foi se tornando cada vez mais 
conteudista. Valores e caráter foram 
sendo esquecidos no caminho tortuoso 
do vestibular e de um processo educa-
cional cada vez mais voltado para o ter. 
E cada vez mais distante do ser. 
Passamos a educar nossas crianças 
para que entrem em boas faculdades 
pura e simplesmente porque, ao cursá-
-las, elas teriam mais chances de conse-
guir um bom emprego (leia-se um bom 
salário) num processo educacional com-
pleto e exclusivamente voltado para que 
se tenha mais, se compre mais e se dis-
tancie mais do que poderíamos chamar 
de nossa essência humana. 
Hoje percebo, com tristeza, que o 
ofício de ensinar tem formado indiví-
duos desconhecidos de si mesmos. O 
que me leva a refletir sobre qual seria o 
papel do professor no que poderíamos 
chamar de Educação Positiva, ou seja, 
numa educação que se fundamentasse 
exclusivamente nos preceitos da Psico-
logia Positiva. 
Em primeiro lugar, seria uma edu-
cação para a felicidade, na qual a edu-
cação das emoções seria tão importan-
te quanto o estudo das letras. Contudo, 
a coisa não seria tão simples. Uma edu-
cação baseada na Psicologia Positiva 
deveria promover o florescimento hu-
mano, ou seja, o desenvolvimento da 
criança em todo o seu potencial. E é aí 
que a mágica aconteceria. A promoção 
de uma educação voltada ao floresci-
mento exige autoconsciência. Uma 
autoconsciência que permitisse, antes 
de tudo, o conhecimento da criança 
em relação a tudo o que de melhor ela 
teria a oferecer ao mundo. Nesse ce-
nário, o papel do professor, mero de-
positante numa educação bancária, se 
transformaria radicalmente, passando 
a ser o de um provocador que, por fa-
zer as perguntas certas, por olhar para 
o fundo da alma de cada criança, seria 
capaz de reconduzi-la em direção à 
sua própria essência. 
A Educação Positiva promoveria 
também as virtudes, ocupando-se da ca-
pital importância da formação do caráter. 
Nesse mundo talvez o professor recupe-
rasse seu valor, seu status e talvez, até, 
quem sabe, seu verdadeiro propósito. '1P 
Ulian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP. com curso de extensao 
em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA hstitute on Character. EUA !: professora 
universitc1ria e diretora do hstituto de Psicologia Positiva e Comportamento. 
onde oferece atendimento clfnico. consultoria empresarial e cursos na .Yea. 
graziano@psicologiapositiva.com.br 
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~ 
por Maria lrene Maluf 
Estratégias MENTAIS 
para o desenvolvimento 
NOSSO CÉREBRO PRECISA DE ESTÍMULOS 
PARA CRESCER E SE AUTORRENOVAR 
NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM, 
OTIMIZANDO SUAS POTENCIALIDADES A 
PARTIR DAS TROCAS COM O MEIO E NA 
AQUISIÇÃO DE NOVOS CONHECIMENTOS 
T 
odo bebê humano ainda 
que nascido a termo e sem 
problemas no seu neurode-
senvolvimento, e, mesmo 
possuindo, ao vi r ao mundo, o cérebro 
praticamente formado, precisa de cer-
ca de duas décadas de vida para que 
este exerça plenamente todas as suas 
funções. A razão, embora complexa, 
é simples de se explicar basicamente: 
os neurônios, para crescerem e for-
marem sinapses, não prescindem das 
experiências e trocas com o mundo 
externo, que acontecem até mesmo 
quando a criança está dormindo. 
Assim, nascer com excelentes con-
dições genéticas e gestacionais, em 
meio a um parto bem-sucedido, não 
basta para garantir um bom padrão 
cogn itivo. O ser humano vem ao mun-
do, não dispensando o contato, as tro-
cas constantes com o meio ambiente, 
para sobreviver e se desenvolver. 
Essas experiências vão promover 
alterações estruturais e funcionais no cé-
rebro, por meio de milhões de conexões 
sinápticas, que, ao serem reforçadas, con-
tribuem para o aparecimento e incremen-
to pleno de todas as funções cognitivas. 
20 psique ciência&vida 
Nos primeiros seis anos de vida, 
esse processo ocorre mais intensamen-
te c pode ser afetado por diversos fa to-
res, e por isso tal período é dos mais 
importantes para garantir o sucesso 
das etapas posteriores de desenvolvi-
mento neurológico e da qualidade da 
aprendizagem da criança. 
Ao longo do desenvolvimento, as 
áreas do cérebro não maturam ao mes-
mo tempo. Por exemplo, a percepção 
auditiva tem início durante a gestação 
e continua se desenvolvendo após o 
nascimento. Mas as áreas do cérebro 
envolvidas na memória declarativa 
("as lembranças") e a visão, ao con-
trário, não estão maduras no recém-
-nascido: apenas a devida recepção e 
a troca de informações entre o meio 
ambiente e os diferentes centros ner-
vosos garantem seu aperfeiçoamento. 
Ao longo do primeiro ano de vida , 
o crescimento ela substância cinzenta, 
que forma o córtex cerebral, é surpre-
endente, quase triplica e os hemisférios 
cerebrais aumentam em quase 100%. 
Para agilizar esse crescimento, ocorre 
a mielinização, um processo que gera 
uma cobertura sobre os feixes nervo-
sos e assegura que o impulso nervoso 
seja captado e transmitido devidamen-
te e com segurança. 
A primeira área mielinizada no 
lobo frontal do cérebro é a área motora 
primári a, que permi te a execução de 
movimentos voluntários, sem muita 
elaboração. Seguida mente acontece 
a maturação da área pré-motora, no 
córtex pré-frontal, i ncl ispensável no 
planejamento do movimento (Kolb; 
Whishaw, 2002). A forma de movi-
mentação dos bebês, que se t ransforma 
tão abcrrantemente, nos mostra bem 
essa evolução. 
Linguagem, atenção e memória se 
desenvolvem juntas. A li nguagem é 
que permite que a criança organize seu 
pensa mento, se comun ique e interaja 
com o conhecimento, enquanto a me-
mória fixa a nível sináptico e permite 
trazer ã tona seus conteúdos, por meio 
da fa la. 
O aparecimento da linguagem 
depende de processos complexos: as 
áreas encarregadas de fazer aconte-
cer essa incrível capacid ade humana 
são as chamadas áreas de Wernick e 
de Broca. A primeira é responsável 
pelo desenvolvimento da linguagem e 
é a área de compreensão da fala. Fica 
localizada no lobo temporal (área da 
aud ição). Ligada funcionalmente a 
essa área, está a área motorada fa la ou 
área de Broca (lobo frontal esquerdo). 
Mas é na região anterior do cérebro 
(lobos frontais) que acontecem o pla-
nejamento, organização e execução do 
movimento e a aprend izagem motora. 
A região pré-frontal, sede elas 
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Funções Executivas, é responsável 
pela nossa capacidade de planejar, or-
ganizar, persistir no funcionamento 
cognitivo e desenvolver o comporta-
mento social. É a região que permite 
a consciência do eu, a subjetividade, 
os valores, as motivações, ou seja, é a 
á rea mais humana do cérebro (Gold-
berg, 2002). Talvez por esses atributos, 
essa seja a região que tem a maturação 
mais lenta, sendo que a mielinização 
completa só acontece por volta dos 18 
ou 20 anos de idade. 
Em meio a esse complexo cresci-
mento, surgem as questões, as dúvidas 
sobre a melhor época da alfabetização 
de nossas crianças. A Neurociência 
comprova que o cérebro precisa dos 
primeiros 5 ou 6 anos de vida para ha-
ver um amadurecimento neurológico 
suficiente para tal aprendizado. 
As funções corticais que se de-
senvolvem ao longo desses primeiros 
anos de vida são fundamentais para 
o adequado desempenho infantil no 
aprendizado escolar de muitos anos e 
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A NEUROCIÊNCIA 
COMPROVA QUE O 
CÉREBRO PRECISA 
DOS PRIMEIROS 5 
OU 6 ANOS DE VIDA 
PARA ALCANÇAR 
O NÍVEL DE 
AMADURECIMENTO 
NEUROLÓGICO 
IDEAL PARA A 
ALFABETIZAÇÃO 
complexidade crescente. Corresponde 
a uma época marcada por mudanças 
neurológicas e emocionais enormes, e 
representa a hora mais adequada para 
que processos de estimulação especí-
fica na aquisição da leitura, escrita e 
matemática sejam implementados, 
permitindo, assim também, quando 
necessário, medidas profiláticas que 
favoreçam um desenvolvimento mais 
saudável e mais adaptativo daquelas 
que eventualmente apresentem dificul-
dades ou problemas de aprendizagem. 
Somos os mais dependentes entre 
todos os filhotes e o animal que mais 
demora a se tornar apto a enfrentar au-
tonomamente o mundo: somos de uma 
fragilidade impressionante ao nascer, 
e ao crescermos dependemos das es-
tratégias mentais que desenvolvemos, 
para nos defender. 
E por toda a vida precisamos esti-
mular nosso cérebro, para continuar-
mos independentes! -. 
Maria !rene Maluf é especialista em Psicopedagogia. Educaçclo Especial e 
Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associaçclo Brasileira de 
Psicopedagogia- ABPp (gestclo 2005/07). t editora da revista Psteopedagogia 
da ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena 
curso de especializaçclo em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br 
psique ciénci:t&vida 2 1 
/ 
l • 
ANSIEDADE 
POTENCIALIZADA 
Várias patologias relacionadas ao estresse, fobia e ansiedade 
tornam-se perigosamente comuns ao nosso cotidiano. 
O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) afeta pessoas 
de todas as idades e pode passar despercebido por décadas 
Por Luis Gustavo Buzian Brasil 
á uma crescente de-
manda de pacientes 
que sofrem de sinto-
mas de estresse, ansie-
dade e fobias, que são 
diagnosticados com transtorno de ansie-
dade generalizada, uma patologia ainda 
recente e que começou a ser difundida 
há pouco tempo. Existe dificuldade em 
fazer o seu diagnóstico, até porque pode 
estar associado a outras síndromes como 
a do pânico e gerar interferência na quali-
dade de vida e no comportamento. 
O fato é que a ansiedade e o medo 
são elementos emocionais muito atribuí-
dos à vida moderna e são de grande valor 
adaptativo, mesmo sendo experimen-
tados como desconfortáveis na maior 
parte das vezes. Estas são condições que 
podem ser interpretadas como benéficas 
e necessárias no dia a dia, pois existe uma 
relação direta entre seus níveis de ma-
nifestação e os resultados, desempenho 
e eficiência das atividades que executa-
mos em nossas vidas normais. Porém, 
quando esses níveis ultrapassam um de-
terminado limiar, ocorrem prejuízos no 
funcionamento social, o que caracteriza 
um transtorno. 
A novidade nesse campo são os estu-
dos sobre o transtorno de ansiedade ge-
neralizada (TAG) em que sua principal 
característica é a preocupação excessiva. 
É normal nos senti rmos preocupados em 
determinados momentos, porém, nesses 
casos, a ansiedade funciona como um si-
nal que prepara a pessoa para enfrentar 
o desafio e, mesmo que ele não seja su-
perado, favorece sua adaptação às novas 
condições de vida. 
Modelos biológicos 
Os principais modelos biológicos para o TAG são baseados na hipó-
tese de que a ansiedade faz parte de um 
conjunto de comportam entos de defe-
sa ligados à reação a ameaças externas 
e internas, mecanismos os quais estão 
presentes em outras espécies animais e 
preservados ao longo do processo evolu-
tivo. Dessa forma, quando a ansiedade é 
intensa, persistente e desproporcional às 
possíveis causas aparentes, interferindo 
de maneira bem significativa no funcio-
Luis Gustavo Buzian Brasil é médico psiquiatra da Clrnica Maia em Sao Paulo. formado pela 
Faculdade de Medicina do ABC e pós-graduado em Psiquiatria pelo Instituto de Pesquisa e Ensino 
Médico - lpemed-SP. Contato: www.clinicamaia.com.br 
W\\1\v.portalcicnciacvida.com.br 
namento do indivíduo, ela passa a ser 
considerada como uma patologia e deve-
rá ser alvo de intervenção terapêutica. 
A preocupação sentida pelas pessoas 
que sofrem de transtorno de ansiedade 
generalizada encontra-se claramente fora 
de proporção em relação à probabilidade 
real ou impacto do evento temido. Inde-
pendentemente do foco da preocupação, 
esse sentimento temeroso muitas vezes é 
acompanhado por sintomas, tais como: 
inquietação, fadiga, irritabilidade, difi-
culdade de concentração, tensão mus-
cular, dores de cabeça, micção frequen-
te, dificuldade em degluti r, sensação de 
"nó na garganta" e distúrbios do sono. 
Pessoas que apresentam diagnóstico de 
T AG procuram, como consequência, 
esquivar-se das situações. 
Tratamento 
O tratamento do TAG inclui o uso de medicamentos antidepressivos 
ou ansiolíticos, sempre com orientação 
médica, e a terapia comportamental 
cognitiva. O tratamento farmacológico 
geralmente precisa ser mantido por pelo 
menos 24 semanas após o desapareci-
mento dos sintomas e deve ser descon-
tinuado em doses decrescentes, quando 
necessário. Costumam-se obter bons 
resultados com os inibidores seletivos da 
psique ciência&vida 23 
~ SÍNDROME 
recaptação de serotonina (ISRS) - esci-
talopram, fluvoxamina, sertralina, pa-
roxetina - e os inibidores da recaptação 
da serotonina e noradrenalina ou duais 
(IRSN) - venlafaxina, duloxetina - na 
abordagem da remissão dos sintomas 
do TAG. Benzodiazepínicos - broma-
zepam, alprazolam, lorazepam, clona-
zepam, diazepam - são frequentemente 
utilizados no tratamento dos transtornos 
ansiosos, e estudos demonstram melho-
ra dos sintomas do TAG, principalmente 
em situações de desempenho, porém o 
risco de abuso e dependência, bem como 
os efeitos colaterais dos BZD, impede seu 
uso prolongado (fase de manutenção). 
Algumas consequências 
A síndrome do pânico pode ser uma das consequências do TAG, pois 
essa síndrome é um tipo de transtorno 
de ansiedade, na qual ocorrem episódios 
inesperados de desespero e medo inten-
so de que algo ruim possa vir a aconte-
cer, mesmo que não haja motivo algum 
para isso ou sinais de perigo iminen-
te. Ocorre uma desregulação química 
na transmissão de receptores químicos 
neuronais, havendo falha na interpre-
tação das sensações do próprio corpo, 
quando são percebidos erroneamente 
como sinais de grande perigo. 
_______ ___,~.., RA SABER MAIS 
COMO IDENTIFICAR? 
Aprincipal diferença entre uma simples ansiedade (normal) e uma ansiedade patológica encontra-se nos seguintes fatores: 
· Intensidade e duração das manifestações: 
· Grau de limitação provocado: 
· Proporcionalidade entre o evento desencadeante e a reação do indivíduo. 
Características do ataque de pânico 
· Falta de ar e/ou sensação de asfixia e sufocamento: 
· Vertigem. sensaçãode desmaio ou instabilidade em manter-se numa mesma 
posição: 
· Palpitações/taquicardia: 
· Tremores musculares. suor excessivo. ondas de calor ou frio: 
· Medo de morrer: 
· Medo de enlouquecer e perder o controle: 
· Desrealização (sensação de que o ambiente familiar está estranho): 
· Despersonalização (sensação de estranheza quanto a si mesmo). 
Os ataques de pânico são períodos 
de medo, apreensão ou desconforto in-
tensos que surgem inesperadamente, ca-
racterísticos da sindrome, e geralmente 
ocorrem de repente, sem aviso prévio, 
em qualquer período do dia ou em qual-
quer situação, como enquanto a pessoa 
está dirigindo, fazendo compras no shop-
ping, em meio a uma reunião de trabalho 
ou até mesmo dormindo. Por apresentar 
muitos sintomas somáticos, a matona 
dos pacientes que sofrem da síndrome do 
pânico acaba passando por atendimentos 
médicos de diversas especialidades antes 
de chegar ao psiquiatra. 
O transtorno do pânico constitui 
problema de saúde pública. É incapa-
citante, levando ao comprometimento 
da capacidade laborativa e à redução da 
qualidade de vida. Pacientes portadores 
da síndrome, devido ao desespero extre-
mo, correm grande risco de cometerem 
suicídio. 
Síndromes associadas 
Modelos biológicos para o TAG baseiam-se na hipótese de que a ansiedade estâ ligada ao 
comportamento de defesa às ameaças externas e internas. mecanismos presentes em outras espécies 
animais e preservados ao longo do processo evolutivo 
Com o TAG instaurado no paciente, muitos sintomas são apresentados 
e um deles pode estar relacionado à sín-
drome do pânico, mas para que ela seja 
caracterizada, é necessário que os ata-
ques sejam frequentes ao indivíduo e não 
ocorram apenas de forma isolada. O pico 
das crises de pânico geralmente dura cer-
ca de 10 a 20 minutos, mas pode variar, 
dependendo da pessoa e da intensidade 
do ataque. Além disso, alguns sinto-
m as podem continuar por uma hora ou 
mais. Diversas vezes um ataque de pâni-
co pode ser confundido com um ataque 
24 psique ciência&vida '""''v.ponalcienciaevida.com.br 
cardíaco pelas pessoas que apresentam 
tais sensações. Sensação de sufocamento 
e dificuldade de respirar que surgem sem 
motivo aparente também são caracterís-
ticas típicas da síndrome, assim como 
náuseas, parestesias (anestesia ou sensa-
ções de formigamento). 
O tratamento da síndrome do pâ-
nico consiste em reduzir o número de 
crises, bem como sua intensidade. As 
duas principais formas de tratamento 
envolvem psicoterapia e medicamen-
tos. Ambas têm se mostrado bastante 
eficientes, sendo que a combinação dos 
dois tipos de tratamento parece ser ainda 
mais eficaz do que um ou outro operan-
do isoladamente. O tratamento à base 
de medicamentos inclui antidepressivos, 
como os inibidores seletivos da recapta-
• Atinge a todos • 
Em relaç~o à frequência do TAG na popula-
çoo. estudos apontam que parece n~ ex1st1r 
prevalênCia entre os gêneros. diferentemente 
de outros transtornos de ansiedade. como 
fob1as especificas. ma1s frequentes em mu-
lheres. Sobre as características. ambos os se-
xos se preocupam excessivamente com Clr-
cunst~nCias cotld1anas e rot1ne1ras. ta1s como 
responsabilidades no trabalho. finanças. saú-
de e segurança dos membros da família ou 
questões menores. como tarefas domésticas. 
consertos no automóvel ou atrasos a com-
promissos. Também podem apresentar medo 
acentuado e persistente de s1tuaçóes soc1a1s 
nas qua1s possam ser expostos a posSive1s 
avahaçóes por parte de outras pessoas. Essas 
s1tuaçóes 1ncluem comer. falar ou escrever na 
frente dos outros e conversar com estranhos 
ou autondades. Crianças com TAG tendem a 
ex1b1r preocupaç~o excess1va com sua com-
petência. a qualidade de seu desempenho ou 
poss1b1hdade de sofrerem bully1ng (podendo 
ser verbal ou fis1co) e Julgamento de colegas 
de seu conv1v1o d1áno. 
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A sindrome do p~mco pode ser uma das consequênc1as do TAG. po1s essa slndrome é um tipo de 
transtorno de ans1edade. na qual ocorrem ep1sod1os Inesperados de desespero e medo 1ntenso 
Por apresentar muitos sintomas somáticos, 
a maioria dos pacientes que sofre 
da síndrome do p~nico acaba passando 
por atendimentos médicos de diversas 
especialidades antes de chegar ao psiquiatra 
ção da serotonina, como a paroxetina, 
sertralina, fluvoxamina, escitalopram ou 
citalopram. Benzodiazepínicos também 
podem ser prescritos pelos médicos, por 
um período limitado, devido ao risco de 
desenvolver sintomas de dependência. 
Com essa classe medicamentosa, o efeito 
ansiolítico começa quase imediatamente 
após a ingestão oral. A terapia cognitivo-
-comportamental para o transtorno do 
pânico engloba componentes de psico-
educação, reestruturação cognitiva e in-
tervenções comportamentais. 
C9mplexo prognóstico 
Enotória a dificuldade de distinção entre um possível cansaço e uma 
patologia instalada. Por conta da falta de 
informação e con hecimento por parte da 
população a respeito do TAG, a maioria 
dos pacientes chega ao tratamento sem 
conseguir identificar o momento em 
que os sintomas começaram e acredita 
REFERt.NCIAS 
conviver com eles durante toda a vida. 
A grande preocupação é que a ansieda-
de é comum para a maioria das pessoas 
que lida com estresses e fadiga todos os 
dias. O acúmulo de informações, tarefas 
e atividades é potencial causador de an-
siedade, mas ela só é considerada como 
um distúrbio patológico quando tem ex-
trema intensidade e duração, diminuin-
do a qualidade de vida e interferindo nas 
atividades diárias. A complexidade do 
prognóstico deve-se ao fato de que, ge-
ralmente, os sintomas só são percebidos 
quando já estão em estado patológico e 
trazendo sérios prejuízos sociais ao su-
jeito. A relação com outras patologias 
associadas também dificulta o diagnósti-
co claro. Este ar tigo teve como objetivo 
esclarecer alguns fatores e alertar para a 
necessidade de um olhar humanista para 
a qualidade de vida da sociedade moder-
na para que não sejamos representantes 
de uma população doente. ~ 
SALUM. G. A; BLAYA. C MN'JFRO. G. G. Transtorno do p.lnico. Disponível em www.sCielo.br/pdf/rprslv31n2a02 
MARGIS. R. et ai. Relaçdc> entre estressares. estresse e ansiedade. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul. v. 25. 
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psique ciência&vida 
SllJTIERSlOCK 
, 
•• .é POSSIVEL? 
Pessoas com deficiência 
cognitiva ainda têm 
dificuldades em encontrar 
estratégias desenvolvidas em 
universidades que possam 
viabilizar a verdadeira inclusão, 
principalmente no sentido de 
absorver conteúdos acadêmicos 
P 
edro é um rapaz de 20 anos de idade. 
Sempre fora esportista e há dois anos 
prestou vestibular e foi inserido em 
uma renomada universidade. Entretan-
to, há cerca de um ano, um grave aci-
dente automobilístico mudou totalmente sua vida. 
Pedro teve um traumatismo cranioencefálico. O 
traumat ismo cranioencefálico é uma lesão no cére-
bro, não de natureza genética ou degenerativa, mas 
causada por uma agressão externa. Constitui um 
grande problema na sociedade atual, uma vez que, 
em sua maioria, atinge jovens em idade produtiva, e 
como poderemos ver devido, também, aos compro-
metimentos cognitivos, sociais e emocionais na vida 
do paciente que sofre tal dano. 
Os estudos divulgados em 2010 e 2013 pela Orga-
nização Mundial da Saúde são assustadores, indicati-
vos de uma situação mundial muito crítica no trânsito. 
No ano de 2010, aconteceram 1,24 milhão de mortes 
por acidente de trânsito em 182 países do mundo. 
De acordo com dados da Associação Brasileira 
de Prevenção a Acidentes de Trânsito, em São Paulo, 
de cada dez vítimas de paralisia quatro se envolveram 
em acidentes de trânsito. As batidas de motos, de

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