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Coaching para os filhos Psicologia Positiva oferece intervenção em ações concretas com foco na relação saudóvel da famflia Arte transformadora O método Tatadrama alia psicodrama e sociodrama, abrindo caminho para a autocompreensão e o desenvolvimento pessoal NEUROPSICOLOGIA ,e./ EJNCLUSAO Pessoas ~om DEFICIÊNCIA COGNITIVA enfrentam dificuldades em encontrar estratégias que possam viabilizar a verdadeira inserção no ensino superior NÚMERO 119- PREÇO R$ 9,80 Jl~~~l~II1~1~llll~llll ~[1111 11111 A TERAPIA DA COMPAIXÃO COM JOVENS INFRATORES, POR DANIEL RIJO 0 FACIS - Faculdade d e Ciências da Sa úde d e São Paulo CRESCIMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL PREPARE-SE E DESTAQUE-SE! Cursos de Pós-Graduação . Arteterapia e Expressões Criativas . Psicologia Junguiana . Psicossomática . Psicologia Integrativa Transpessoal • Cursos cadastrados no Cursos de Extensão .Aconselhamento Genético Humano .Genética do Câncer .Estudos Avançados sobre Mitologia Prepare-se com a FACIS e terá a melhor Pós-Graduação! Com t radição de 24 anos, a FACIS é o caminho certo para o seu c r escimento pessoal e profissional. ( 11 )5085-3141/www.facis.edu.br atendimento@facis.edu.br 0/facisfaculdade e /faculdadefacis Rua Dona Inácia Uchôa, 399 - Vila Mariana - SP 0FACIS Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo Desde 1991 formando profissionais na área da saúde p editorial Gl~ucia Viola. editora Educação 1nc USIVa de fato A integ ração das pessoas com deficiênc ia tem sido uma proposta norteadora na Educação, direcionando programas e políticas educacionais c de reabi litação. A Lei Brasileira de Inclusão, recentemente sa ncionada pela Presidência da Repú- blica, é um movimento de preocupação com o tema, apesar de ter sido assinada pelo Executivo com vetos. Porém, é fato identificar nela maior relação com as questões de acessibilidade, já que, quando o debate é inclusão, logo se pensa em pessoas com deficiência física ou auditiva e visual. Entreta nto, o assunto vai muito além. Temos em pauta, por exem- plo, a deficiênc ia cognitiva. Entre os muitos artigos da lei sobre os direitos das pessoas com defic iência, apenas alguns se direcionam especificamen- te aos que se encontram nesse quadro. Em suma, estão contemplados bene fíc ios que dizem respeito à inclusão na sociedade em seus amplos aspectos, como trabalho, educação, morad ia, entre outros. Mas o ponto está em como assegu rar tudo isso? Estatísticas revela m que o país possui um número expressivo de pessoas que precisam dessa atenção especial. De acordo com a Organização Mundia l da Saúde, 10% da população possuem algum tipo de de ficiên cia, sendo que desse percentual 50% têm deficiência intelectual. Diante deste cenário, a matéria de capa desta edição de PsiqueCiência&Vida alerta para a dificuldade em encontrar estratégias legítimas de inclusão no setor educacional, principalmente quando se trata de deficiência cognitiva. Essa barreira é sentida na educação básica, mas na escola parece que a busca por soluções para concretizar a inclu são do alu no com deficiência in tclectualjá se constituiu como prioridade, ainda que haja lacunas. Contudo, se ampliarmos a ava liação para a instância do e nsino superior, "o processo se torna mais del icado, uma vez que a complexidade do conteúdo acadêmico é muito maior e exige um trabalho ma is minuc ioso", explica a neuropsicóloga e psicopedagoga Carla Daniela Rodrigues, autora do a rtigo. Ela leva nta outros questiona mentos importantes como o despreparo das instituições em relação à prática pedagógica, a fa lta de incentivo na capacitação do professor para lid ar com o processo de aprendizagem e a escassez de psicopedagogos especializados no comando das ações de inclusão. Alguns avanços j á foram conquistados, inclusive na legislação nacional, que pa rte do pressuposto teórico de que todos, indistintamente, faça m-se valer dos mesmos direitos. Esperamos que a educação inclusiva dê mais um passo à frente na prática efetiva para que os a lunos estejam realmente ocupando seu espaço nas escolas regulares de ensino e principalmente nas universidades, caminhando para o futuro. Boa leitura! Gláuc ia Viola psique@esmln.com.br wwwjàcebook.com/ R evt'staPsiqueCiencl'neV!dn "A educação é o grande motor do desenvolvimento pessoal:' N elson Mandelo sumário CAPA A ORDEM ~ INCLUIR Ainda pouco debatida, sobretudo no ensino superior, a inclusão de pessoas com deficiência cognitiva levanta polemica sobre o despreparo das instituições 26 ... _____ ..... ............................ .................................................................................................................................................................................. . ENTREVISTA Daniel Rijo desenvolveu um projeto baseado na Terapia Focada na Compaixão, para trabalhar problemas emocionais de jovens detentos em Portugal SEÇÕES 05 EM CAMPO 16 IN FOCO 18 PSICOPOSITIVA 20 PSICOPEDAGOGIA 32 COACHING 34 LIVROS 48 CYBERPSICOLOGIA 50 SEXUALIDADE 52 NEUROCIÊNCIA 54 RECURSOS HUMANOS 64 DTV Ã LITERÁRIO 66 CINEMA 80 EM CONTATO 82 PSIQUIATRIA FORENSE MATÉRIAS Sfndromes associadas O transtorno de ansiedade generalizada afeta pessoas de todas as idades e tem como um dos efeitos os ataques de pânico Para florescer com os filhos O coaching e a Psicologia Positiva colaboram para o desenvolvimento das relações familiares Brincando para transformar O Método Tatadrama diminui as resistências e abre caminho para a autocompreensão A terapia de pintar Livros de colorir se transformaram em febre para amenizar a ansiedade, mas não trazem todos os conceitos da arteterapia DOSSI~: AS POLrTICAS DO AMOR Descobrir os mistérios desse sentimento, bem como a maneira pela qual cada pessoa o encara, sempre foi - e continua sendo - um desafio para a Psicanálise em campo -MOTIVAÇAO NO TRABALHO ELOGIOS DO CHEFE FUNCIONAM PARA TAREFAS SIMPLES, MAS NÃO PARA OS GRANDES DESAFIOS Segundo pesquisadores da Universidade de G reenwich e de Londres, seu chefe terá de "rebolar" para mantê-lo motivado. Se por um lado ele deve reco- nhecer verbalmente o seu empenho nas tarefa s simples demandadas, por outro, deverá estudar caso a caso a forma de recompensar a realização de um projeto de maio r complexidade. Um estudo revelou que as pessoas relataram menor mo tivação intrínseca para uma tarefa complexa quando a recompensa verbal já era algo esperado - gostaram menos da tarefa e tiveram menos vontade de cumpri-la. Para tarefas simples, por outro lado, a motivação intrínseca dos entrevistados foi maio r quando a recompensa verbal era aguardada - provavelmente porque se a tarefa em si não é motivadora, então o incentivo extra é útil. A pesquisa requereu dos entrevistados o preenchimento de um pequeno ques- t ionário no final do seu dia de t rabalho, a cada dia, por duas semanas. Eles res- ponderam a perguntas sobre uma tarefa específica na qual tinham empen hado um tempo significativo d ia a d ia, relatando sua motivação e recompensas que esperavam receber. Muitas vezes um mero "muito obrigado!" resolve a questão- vale a reflexão dos ocupantes ou aspirantes a cargos de liderança e chefia. Em outras, o melhor é recor- rer a outras estratégias que potencializem a motivação intrínseca e não a diminuam. Para saber mais: Rebecca Hewett, Neil Conway. T he undermining effect revisited: the salience of everyday verbal rewards and self-determined motivatioo. Joumal rf'Orgauizntional Behavior, 2015; DOI: 10.1002/ job.2051 1;1 I 11:1 ~------------------------------------~ ' \V\Vw.portalcicnciaevida.com.br por Jussara Goyano i\ IE\ IÓRIA Cll30RGL'E Pesquisadores da Um'versity o/ Soutl1em Cal!fomia e Wake Fores/ Bapt!St 111/edical Gente r desenvolveram recentemente uma prótese cerebral, cujo objetivo é ajudar as pessoas que sofrem de perda de memória. A tecnolog ia, que incluimicroeletrodos implantados no cérebro, teve um bom desempenho em testes de laborató rio, realizados em animais, e sua aplicação, atualmente, vem sendo avaliada em seres humanos. Com a permissão dos voluntár ios que tiveram eletrodos implantados em seus hipocampos, os cientistas envolvidos puderam ler os sinais elétricos criados durante a formação de uma memória. Em centenas de ensa ios realizados com nove pacientes, a invenção previu com precisão como os sinais seriam traduzidos. LO'\lGO TERi\IO Ainda sobre memória, um novo estudo, anunciado em fi ns de setembro, identificou um número de genes que são reprimidos após a sua fo rmação, fornecendo pistas importantes sobre a maneira como as memórias de longo prazo são construídas. A pesquisa, publicada na revista Sâmce, foi conduzida por pesquisadores do Instituto de Ciências Básicas de Seul e Universidade Nacional de Seul, Coreia do Sul. psique ciência&,•ida 5 ot em campo -CONEXOES NEURAIS NEUROIMAGEM MOSTRA RELAÇÃO ENTRE POSITIVIDADE E ALTA PERFORMANCE O cérebro é um órgão complexo, mas estudos a partir de res- sonância magnética funcional avançam cada vez mais em mostrar como suas áreas são distintamente acionadas a cada atividade ou comportamento que desenvolvemos. A Psicologia Positiva acaba de receber um reforço de uma dessas pesquisas neurocientíficas, desta vez realizada pela Universidade de Oxford, no Reino Unido. Isso porque, segundo cientistas da instituição, há uma forte correspondência entre um determinado co1~unto de conexões no cérebro e os traços de estilo de vida e comportamento positivos. Eles investigaram neuroimagens de 461 pessoas, comparando 280 diferentes medidas comportamentais e demográficas. A variação na conectividade cerebral seguia um eixo em que de um lado es- tava associada ao comportamento positivo, elo outro ao padrão comportamental negativo. A performance positiva (em áreas como vocabulário, memó- ria, satisfação com a viela, renda e anos ele educação, por exemplo) aparece vinculada ao comportamento positivo. Já os comporta- mentos negativos foram associados a raiva, tendência a quebrar regras, abuso de substâncias e má qualidade do sono. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Nature Newvscúmce. Para saber mais: Stephen M. Smith, Thomas E. Nichols, Di ego Vida urre, Anderson M. Winkler, T imothy E. J. Behrens, Matthew F. G lasser, Kamil Ugurbil, Deanna M. Barch, David C. van Essen, Karla L. Miller. A positive-oegative mode of population covariation links brain connectivity, demographics anel behavior. Nature Neuroscimce, 2015; DOI: 10.1038/nn.4125 . 6 psique ciência&vida PARA RIMAR DOR E HUMOR ESTÃO LIGADOS, DIZ ESTUDO COl\ti PACIENTES DE ARTRITE REUMATOIDE O estado de humor de um por- tador de artrite reumatoide está diretamente relacionado à sua percepção de dor - o estado positivo liga-se a relatos de dor menos inten- sa, ao passo que o humor negativo e a depressão se re- lacionam com do- res de maior inten- sidade. A conclusão é de estudo publicado em agosto deste ano no periód ico estadunidense Amzals o/ Behavtoral Medú:àze e, segundo cientistas responsáveis pela pesquisa, a re- lação verificada vale também para popu lações sem o problema da art rite. Trata-se de uma interdependência percebida cotidia namente, mas Ct~o mecanismo ainda não foi desvendado. O estudo em questão diferenciou-se dos demais existentes sobre o tema por empreender um monito- ramento dia a dia do estado de humor e dor dos vo- luntários. Normalmente, as pesquisas nesse campo envolvem registros da variação de humor e dor com intervalos maiores de tempo, em meses, e em ambien- tes controlados. Desta vez, os própr ios participantes da pesquisa registravam, ci nco vezes ao dia, seu esta- do de humor e dor em um d ispositivo mobt!e. Segu ndo depoimento da pesquisadora e nvolvi- da Jennifer E . G ra ha m-Engeland, publicado no site Sci'rmceDat"ly.com, as análises sugerem que o humor positivo momentâneo é mais fortemente associado à flutuação da dor momentânea que o humor negativo, sendo importante, portanto, promover esse estado de humor, em intervenções comportamentais que visem o alívio da dor. Jussara Goyano é jornalista. membro da lnternational Science Writers Association. Estuda Psicologia. Medicina Comportamental e Neurociências. com foco em resiliência. bem- estar e performance. É coach certificada pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. giro escala INSPIRAÇÃO NA DANÇA REVISTA ARTE-EDUCA EF'2- hDIÇ'ÃO 3 A entrevista da edição 3 da revista Arte-Educa EF2 é com a artista Ana Botafogo. Ela conta sua trajetória a té se tornar uma das ma is importantes e vitoriosas bailarinas do mundo. O sonho do balé era distante, embo- ra a menina dançasse desde muito cedo. Com apenas 6 anos de idade, frequentava um conservatório musi- cal. Graças a uma professora muito atenciosa, encantou-se com aquela dança, embora fosse a inda para ela uma brincadeira infant il. Não parou de estudar aquela a r te, mas pensava que seria um hobby. Aos 18 anos, no p rimeiro ano da facu ldade de Letras, foi a Paris se aperfeiçoar no idioma .. - ·--·-- .~--·..-.... - bretão e, claro, dançar nas horas vagas. Sua vida mudou, pois procurou uma companhia de dança por lá. Foi contratada de imed iato em um teste e nunca mais parou. Foi assim que o Brasil ganhou sua ba ila rina mais conceituada, inspiração para gerações de novas aprendizes. UMA SOLUÇÃO SAUDE Pensar pollticas públicas da á r C! a no Brasil requer mais d~logo entre teoria e prática social, lndulndo a Sociologia como recurso slst~mlco da Medicina CLIMA DE INCERTEZA REVISTA SOCIO I ,OGIA EDIÇAO 60 H á um cl ima de incerteza e in- definição no país. Novamente, se apresenta a possibilidade de inte r- rupção do mandato presidencial. D esta vez pelas decla rações de viés golpista do PSDB. Intensificam-se os ataques ao governo, convocam- -se manifestações e os meios de comunicação atacam com requen- tadas denúncias. A opção principal da direita, no sentido mais preciso dos interesses de classe ligados ao grande capita l monopolista, caminha no sentido de produzir uma transição sob um governo fraco, enquanto se gesta uma alternativa para substituí- lo em 2018. A constante ameaça de impedimento da presidente pode ganhar uma dinâmica própria e se viabilizar como alternativa e, dessa maneira, não estaria descartada como possibilidade pelo bloco dominante. Para agravar a situação, a base de sustentação do governo no Congresso está corroída. Veja matéria completa na edição 60 da revista Sociologia. www.ponalcicnciacvicl:tcom.br O NEOATEÍSMO POLÍTICO RI\ lt.;T\ I ILO<.;OFI.\ I DI(,. \O 11'> O neoateísmo voltou a ser tema da revista Filosofia, em sua edição 112. Esse pensamento tem a lg umas diferenças e m relação ao ateísmo do início do século XX. A princípio é possível perceber que o neoateísmo não é niil ista nem tampouco relati- vista. Muito pelo contrário, é posi t i- vo, prepositivo e muitas vezes c ient i- ficista. Sua g rande base de referência é o Darwinismo e sua resposta ao a rg umento de W illiam Paley (con- siderado errôneo, que diz que seres o rganizados precisam de um p roje- tista inteligente para desenhá-los). No entanto, seu ponto mais fo rte de referênc ia está na luta pelos direitos e libe rdades individuais que repre- sentam o Estado Laico. O u seja, o neoateísmo é fundamenta lmente um mov imento po lítico. E se no passado não se o rganizava e não tinha uma plataforma política conjunta, hoje, e m função de seu crescimento, pas- sou a se orga nizar em defesa de um Estado L a ico. psique ciência&vida 7 E N T R E v s T A , TRAÇOS PSICOPATICOS DEJOVENS INFRATORES O psicólogo Daniel Rijo desenvolveu um projeto baseado na Terapia Facada na Compaixão, com o objetivo de regular as dificuldades emocionaisdos chamados delinquentes juvenis do sistema prisional de Portugal Por: Lucas Vasques/ Foto: DivulgaçCio U sar elementos da Terapia Focada na Compaixão (TFC) para minimizar os efeitos das psicopatologias em jovens detentos do sistema prisional de Portugal é o objetivo do projeto desenvolvido por Daniel Maria Bugalho Rijo. O programa, que contemplará jovens infratores, começará, efetivam ente, em janeiro de 2016. Como base para alcançar o sucesso da iniciativa, o psicólogo usará a TFC, que vem obtendo bons resultados para diversos quadros clínicos. O projeto é pioneiro, na medida em que testará o seu impacto na modificação dos traços psicopáticos em delinquentes juvenis. Segundo Rijo, a ideia é adotar em presídios portugueses um ensaio clínico aleatório, em que um grupo de menores delinquentes do gênero masculino, com elevados traços psicopáticos, será selecionado. D epois disso, metade deles receberá 20 sessões estruturadas de Terapia da Compaixão. ''As sessões serão concebidas para auxiliá-los a regular o comportamento impulsivo, a reduzir a agressividade e a desenvolver uma atitude autocompassiva, que lhes permita um maior ajustamento nas relações interpessoais", explica o psicólogo. No final do tratamento, o funcionamento psicológico, emocional e comportamental dos W\V\v.ponnlcicnciaevida.com.br jovens tratados será comparado com o dos jovens do grupo de controle: "Esperamos alcançar melhorias na regulação emocional, no combate aos atos violentos, diminuição dos traços de frieza emocional e maior capacidade de autocompaixão e de compaixão pelos outros". Rijo tem se envolvido em projetos de investigação na área das perturbações da personalidade e do comportamento antissocial. Tem colaborado com instituições públicas e privadas portuguesas em diversos cursos de formação para professores e psicólogos em áreas como indisciplina escolar, comportamento desviante, psicoterapias das perturbações da personalidade, Terapia Focada nos Esquemas e entrevista motivacional com doentes difíceis. Em parceria com o Ministério daJustiça de Portugal, vem desenvolvendo projetos de intervenção e de investigação na prevenção e reabilitação de jovens e adultos agressores, incluindo agressores conjugais. Daniel Rijo é doutor em Psicologia, professor na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, em Portugal, além de, como ele mesmo se define, investigador no Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (Cineicc). Lucas Vasques é j ornalista e escreve para esta publicaçao. psique ciência&vida 9 VOCÊ DESENVOLVEU UM PROJETO DE ThRA- PIA DA COMPA IXÃO COM JOVENS INFRATORES EM P ORTUGAL, QUE COMEÇARÁ EFETIVA- MENTE EM JANEIRO DE 2016. PRIMEIRAMEN- TE, O QUE É ThRAPLA DA COMPAIXÃO? 0.\NIEL Ruo: A Terapia Focada na Com- paixão (TFC) é de índole cognitivo-com- portamental, inserida num movimento reconhecido como terapias de terceira geração ou de terceira onda, que rompe com o paradigma dominante nas interven- ções cognitivo-comportamentais. Trata-se de um modelo conceitual que valoriza o peso que variáveis de natureza evolucio- nária têm na explicação do sofrimento humano e da psicopatologia. A partir do conhecimento sobre a forma como a men- te humana funciona, propõe-se ajudar os indivíduos promovendo o funcionamento psicológico e emocional numa mentalida- de evoluída de prestação de cuidados aos outros e ao próprio. Em outras palavras, sendo os mamíferos evolutivamente dota- dos da capacidade de funcionarem numa mentalidade de prestação de cuidados (para poderem assegurar a sobrevivência de seus fi lhos), essa mentalidade pode ser promovida na forma como funcionamos em relação aos outros, mas também em relação a nós próprios (sendo capazes de nos sentirmos seguros perante a adversi- dade e as ameaças da vida, por exemplo). Ao funcionarmos nessa mentalidade de prestação de cuidados em relação a nós mesmos, desenvolvemos uma atitude au- tocompassiva (por oposição ao autocri- ticismo, que é a vergonha de si mesmo), que nos ajuda a enfi·entar os problemas, a tolerar os fracassos e a lidar com as perdas de forma mais adaptativa e tranquila. ThORICAMENTE, COMO FUNCIONARÁ ESSA INTERVENÇÃO, O QUE ESTÁ PLANEJADO PARA ESSA PRÁTICA, QUANTO TEMPO DEVERÁ DU- RAR E QUAIS OS RESULTADOS ESPERADOS? Ruo: A TFC vem obtendo bons resultados para diversos quadros clínicos e este proje- to será pioneiro, na medida em que testará o seu impacto na modificação dos traços psicopáticos em delinquentes juvenis. No que diz respeito ao desenho da investiga- 1 O psique ciênci:t&vid:t Ao fonczonarmos na mentalidade de prestação de cuzdados em relação a nós mesmos, desenvolvemos uma atitude autocompassiva, que nos qjuda a enfrentar os problemas, a tolerar os fracassos e a lidar com as perdas de forma mais tranquila ção, trata-se de um ensaio clínico aleatório (a forma mais vigorosa de testar a eficácia de um tratamento), em que um grupo de menores delinquentes do gênero masculi- no, com elevados traços psicopáticos, será selecionado e metade deles (grupo de tra- tamento) receberá 20 sessões estrutmadas ele Terapia da Compaixão. As sessões se- rão concebidas para auxiliá-los a regular o comportamento impulsivo, a reduzir a agressividade e a desenvolver uma atitude auto e heterocompassiva, que lhes per- mita um maior ajustamento nas relações interpessoais. lo final elo tratamento, o funcionamento psicológico, emocional e comportamental dos jovens tratados será comparado com o dos jovens do grupo de controle. Esperamos alcançar melhorias na regulação emocional, no combate à agres- sividacle, uma diminuição dos traços de fi·ieza emocional e maior capacidade de au- tocompaixão e de compaixão pelos outros. CoMo APRESENTAR A ThRAPIA DA CoMPAI- xAo PARA JOVENS QUE EM SUA MAIORIA NÃO CONHECEM ESSE CONCEITO E, ALÉM DISSO, SÃO NEGLIGENCIADOS E MARGINALIZADOS? COMO FUNCIONA ESSA DINÂMICA? Ruo: O projeto de investigação decorre- rá em centros educativos (unidades de reabilitação em que os menores que são autores de atos criminosos são colocados pelo sistema de justiça português). Nessas unidades de reeducação para a vida em sociedade, os menores já recebem intervenções de diversas naturezas: fi·e- quência de cursos de formação escolar e profissional que os habilite para a con- tinuação dos estudos e para a inserção profissional no final da medida judicial; programas de tratamento ele competên- cias sociais etc. Aos jovens que se encon- tram internos por medida tutelar educati- va, por um tempo suficientemente longo, será proposta a participação voluntária nesse estudo. Pela nossa experiência em projetos anteriores com essa população, a maioria man ifesta desejo de participar e está aberta para receber ajuda psico- terapêutica, uma vez que a internação nesses centros os confronta com as pró- prias necessidades de mudança atitudinal e comporta mental. Muitos desses jovens reconhecem a necessidade ele mudar, embora man ifestem dificuldades e in- consistências quando alcançam algum grau de mudança. Com ajuda psicotera- pêutica, a maioria costuma colaborar e se emprenhar no processo de mudança de um modo sério. A intervenção pode e deve ser apresentada como um veículo para <"Uuclá-los a melhor regular as suas dificuldades emocionais, o seu compor- tamento e saber lidar com situações des- con fortáveis que possam vir a sofrer, mes- mo durante a internação ordenada pela justiça juvenil. Para além dessa atuação, os terapeutas são também treinados no manejo da entrevista motivacional, a fim de promover maior adesão dos jovens à intervenção terapêutica e envolvimento mais intenso no processo de mudança. QUAIS AS RELAÇÕES ENTRE A ThRAPIA DA COMPAIXAO E OS CONCEITOS DA ThRi\PIA CoGNrrrvo-CoMPORTAMENTAL, TAMBÉM ALVO DE SUA PRÁTICi\ CLÍNICA? Ruo:A Terapia Focada na Compai- xão é uma das modalidades de Terapia Cogn itivo-Comportamental atualmente existentes. É considerada uma terapia de terceira geração pois, ao contrário ela cognitiva tradicional, que visa a mu- dança dos conteúdos de pensamento e \Vww.ponalcienciacvid:t.com.br a correção das formas de pensar disfun- cionais, a TFC privilegia o papel que a mente, resultante da evolução, possui na regulação emocional. Dedica-se bastante tempo para "educar" o cliente sobre os di- versos sistemas de regulação do afeto que os humanos possuem, mostrando como o funcionamento no modo de prestação de cuidados, de calor e afeto pode ser ativado para nos apaziguar perante a adversidade e o fracasso. Grande parte da intervenção é focada no desenvolvimento de compe- tências ele autocompaixão, combatendo o autocriticismo e as defesas patológicas que os stúeitos desenvolvem contra o seu próprio autocriticismo. Nesse trabalho, há um foco considerável no "desenvergo- nhamento" do indivíduo, ou seja, na redu- ção dos sentimentos de vergonha, que nos fazem sentir inferiores e sem valor. este aspecto, o foco da intervenção é idêntico ao que já acontece em intervenções cog- nitivas, por exemplo, na Terapia Focada nos Esquemas. No entanto, a postura do terapeuta e as explicações fornecidas ao cliente acerca do funcionamento da nos- sa mente e da produção de cognições disfuncionais são bem diferentes do que se faz na Terapia Cognitivo-Comporta- mental clássica. Na Terapia Focada na Compaixão, a própria relação terapeuta- doente é um ingrediente fundamental da mudança terapêutica e o terapeuta deve ser treinado no desenvolvimento ela auto- compaixão e da compaixão pelos outros. SEUS ESTUDOS DETECTARAM ELEVADA PREVA- LÊNCIA DE PSICOPATOLOGlAS E PERTURBAÇÕES MENTAIS NO SISTEMA PRISIONAL. A QUE SE DEVE ISSO E COi\10 ~llNil\UZAR O PROBI..E!\!A? RIJO: A investigação internacional tem mostrado uma elevada prevalência de per- turbações mentais em amostras forenses. Nos adultos reclusos, as perturbações de personalidade (especialmente a antisso- cial, a paranoide, a borderline e a narcí- sica) podem ser encontradas em cerca de 80o/o dos reclusos do sexo masculino. Nas populações de menores em conflito com a justiça, pela fase de desenvolvimento em que se encontram, são os precursores da www.ponalcicnciacvida.com.br A Terapta Focada na CompatxCío valonza o peso que variávets de natureza evoluctonana têm na exphcaçCío do sofnmento humano e da pstcopatologta Trata-se de um ensazo clínico aleatóno, em que um grupo de menores delinquentes do gênero masculino, com elevados traços psicopáticos, será seleczonado e metade deles receberá 20 sessões estruturadas de Terapia da Compaixão perturbação de personalidade antissocial (a pern1rbação de conduta e a perturbação de oposição) que se revelam igualmente prevalentes. Na verdade, os aspectos iden- ti ficados como fatores de risco para o cri- me são comuns a quem tem predisposição a esse tipo de patologia. A questão que se coloca é a da necessidade de interven- ção em saúde mental na reabilitação dos indivíduos que cometem crimes. Se não forem aval iadas as suas necessidades de tratamento e não for oferecida nenhuma forma ele intervenção especializada, é de esperar que, após o término da medida ju- dicial, a reincidência se mantenha elevada. Alguns estudos mostram que a presença de patologia severa da personalidade em reclusos constitui um fator que dificulta a eficácia das intervenções tradicionais no t ratamento penitenciário (por exemplo, programas cognitivo-comportamentais de competências sociais). Nesse sentido, os detentos deveriam ser avaliados no início da pena e deveriam proporcionar a eles tratamentos diferenciados em fun- ção das suas necessidades de intervenção em saúde mental. Alguns países oferecem unidades especializadas de tratamento dentro dos sistemas prisionais para indiví- duos com tais necessidades. EssAS PERT URBAÇÕES OBSERVADAS SE TRJ\- DUZEI\1 El\1 COMPORTMIENTOS VIOLENTOS DOS DETENTOS E EM QUE MEDIDA O CONVÍ- VIO COM OUTROS ENCARCERADOS t\JUDA A AGRJ\VAR O PROBLEMA? RIJO: Os detentos com patologia mais severa da personalidade (por exemplo, que possuem mais de uma perturbação desse tipo) tendem a ser mais impulsi- vos e a possuírem maior desregulação emocional perante a frustração ou quan- do existe algum conflito interpessoal. Como resultado dessas características, quando se encontram em grupo podem tornar-se mais explosivos e passar ao ato com maior fàcilidade. No entanto, apesar dessas características de impulsividade, a realidade mostra que a grande maioria dos detentos tende a adotar um compor- tamento mais manipulativo dentro da prisão e manifesta menos agressivida- de aberta e direta. Fica-se com a ideia de que o sistema prisional, totalitário e psique ciência&vida 11 fechado, parece capaz de controlar de forma razoavelmente eficaz esse tipo de comportamento. A punição contingente, sempre que um detido descumpre o regu- lamento, parece ser eficaz na regulação do comportamento agressivo dentro dos limites da prisão. A questão importa nte a se ponderar é se, uma vez em liberdade, o sujeito internalizou competências de regulação emocional e comportamental que lhe permi tam funcionar num modo pró-social, mesmo quando já não tem ninguém a controlá-lo o tempo inteiro. 0 TRABALHO QUE VAI DI~ENVOLVER EM PRESfDIOS PRECONIZA lNTERVENÇÓES INDIVI- DUAIS OU fiM GRUPO? Ruo: O ensaio clínico sobre a eficácia da Terapia Focada na Compaixão vai ser realizado no formato de sessões in- dividuais de Psicoterapia. Habitualmen- te, por uma questão de custo/ benefício, atendendo à proporção de técnicos por agressor, a generalidade dos tratamen- tos penitenciários é realizada em grupo (pelo menos parte da intervenção). Isso aconteceu com um projeto anterior - Gerar Percu rsos Sociais - , em que testa- mos o impacto de um programa estrutu- rado de 40 sessões em grupo na melhoria do fu ncionamento cognitivo, emocional e interpessoal dos detentos. Esse progra- ma foi construído com base no modelo ela Terapia l:<Qcada nos Esquemas para as perturbações da persona lidade e pro- duziu bons resultados na investigação que ainda vamos publicar. No entanto, no novo projeto, o primeiro estudo apli- cando a Terapia Focada na Compaixão num contexto forense, a ideia é melho r compreendermos os mecanismos de mu- dança terapêutica. Por isso, optamos pela intervenção em fo rmato individual. 0 FATO DE O UNIVERSO PRISIONAL SER DE EX- T REMA COMPLEXIDADE E VULNERABILIDADE I•:XIGE NOVOS MODELOS DE PSICOTERAPIA? RIJO: Inúmeros autores e estudiosos dos sistemas prisionais apontam para várias perversidades ela prisão. A cultura pri- sional é uma cultura totalitária, num 12 psique ciência&vida Pela nossa expenencia com essa população, a maioria maniftsta dese;o de participar e está aberta para receber a;Uda pszcoterapêutzca, umavezquea internação nesses centros os corfronta com as suas pr6pnas necesszdades de mudança atitudinal universo fechado e longe da observação públ ica ou de entidades reguladoras inde- pendentes. A reclusão é uma oportunida- de ún ica para promover a mudança dos autores de atos criminosos. No entanto, se nada for feito nesse sentido, corremos o risco de, em vez de conduzir à mudança, a experiência da reclusão pode agravar mais ainda fatores intrapsíquicos subjacentes a um padrão de comportamento agressivo e criminal. Mais do que novos modelos de Psicoterapia, o universo prisional convida a uma mudança de cultura institucional, fazendo os profissionais que intervêm no sistema prisional passar de uma cultura meramente punitiva para uma cultura de reabilitação. Na verdade, a pena de- terminada por um tribunal é privativa da liberdade ... não inclui outra punição que não a privação ela liberdade. Mas, como evidenciam os estudos de reincidênciacriminal , a reclusão só por si não produz automaticamente a mudança do padrão comporta mental e do estilo de vida. Esse período deve ser aproveitado como uma oportunidade privi legiada para desenvol- vermos esforços de reabilitação. E esses esforços devem envolver todos, desde os guardas prisionais ao pessoal médico, professores, formadores e psicólogos que intervêm junto dos detentos. A ESTRUTURA E AS DINÂMICAS FAMILIMES DOS jOVENS DE1'EI'ITOS SÃO FAT ORES DE RIS- CO OU DE PROTEÇÂO PARA O DESENVOLVI- MENT O DOS PROBLEM AS DE COMPORTAMEN- TO. SUA INTERVENÇÃO TERAP~UTICA PREVÊ UMA ATUAÇÃO JUNT O ÀS FAMfLLAS? Ruo: A quase totalidade dos menores agressores provém de famílias com ele- vada deterioração e instabilidade, onde abundam modelos de comportamento destrutivo e é comum famil iares próximos ou mesmo irmãos mais velhos constituí- rem modelos de criminalidade e desvio social. A questão da responsabilização das famílias e da necessidade de intervenção junto das mesmas vem sendo debatida em Portugal com mais intensidade. Até mui- to recentemente, a Lei Tutelar Educativa (aplicada a menores entre 12 e 16 anos de idade) não contemplava a corresponsabili- zação das famíl ias em relação aos atos cri- minosos. Na verdade, essa é uma questão polêmica, pois, em muitos casos, a estru- tura familiar desses menores é fi·aquíssima e as intervenções oferecidas às famílias são de natureza voluntária e menos intensas do que as que podemos oferecer aos menores. No sistema de justiça juvenil português, é oferecida uma breve intervenção junto à fàmília dos agressores juvenis, com o ob- jetivo de apoiar e intensificar os esforços de mudança do jovem. Essa intervenção é fi1cultativa e as familias podem aceitar ou rejeitar esse apoio. Quando as fa mílias se mostram disponíveis e interessadas podem ser encaminhadas para serviços na comu- nidade que oferecem intervenção familiar de forma mais intensa e prolongada. P ELAS CONCLUSÓES DOS SEUS ESTUDOS, A ThRAPLA DA CO~IPAIXÂO PODE SER USADA EM OUTROS PA!sE_c;, COMO O B RASIL, OU ELA FOI CONCEI31Di\ APENAS PARA A REALIDADE PRISIONAL DE P ORTUGAL? Ruo: Embora o projeto que estamos ini- ciando seja o primeiw a testar o impacto da Terapia Focada na Compaixão deforma vigorosa no contexto forense, já existem al- guns indicadores de que essa modalidade terapêutica tem um impacto positivo com agressores. Um primeiro ensaio feito num \V\V\\·.portalcicnciaevida.com.br projeto de apoio psicoterapêutico indivi- dual, promovido pela Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, junta- mente com uma equipe da Faculdade de Psicologia e ele Ciências da Educação da Universidade ele Coimbra, mostrou que existe mudança clinicamente significativa em variáveis relevantes. Entretanto, a in- tervenção real izada pode e deve ser testa- da em outros países e em outras realidades cultu rais. Não há qualquer obstáculo para a implementação desse tratamento em ou- tros países ou outros contextos, pois, para além da adequação linguístit:a, não foi feita nenhuma outra a lteração pa rticular às es- tratégias de intervenção que impeça o seu uso em culturas diferentes. Strl\ ATUAÇÁO 'li \MIIí-:M UTII.lí'.A A 1ERAI'lA no R'iQUI~ IA. PoDE DEFINIR, I~M l.INilAS GERAIS, O QUE É ESSA TÉCNICA, CO:>.IO A CO- I IECEll E POR QUE RESOLVEU ADOTA-LA? R li<>: A Terapia Focada nos Esquemas pode ser descrita como um desenvolvi- mento das terapias cognitivas, que foi concebido para responder às particulari- dades dos doentes com pato logias da per- sonalidade. Como estamos interessados em tratar perturbações da personalidade, resistentes às intervenções individuais, em 1994 convidamos Jeffrey Young (criador da metodologia) para ministrar um curso intensivo em Coimbra. Desde esse perío- do, iniciamos o aprofundamento do mo- delo da Terapia Focada nos Esquemas e começamos a fazer investigação da teo- ria e formação continuada ao longo dos anos. O modelo de intervenção foi sendo desenvolvido c, em 2008, foi fundada a In- lemntionnl Society for Scl~e~nn T/~e~npy, em Coimbra, num encontro que juntou 100 especialistas de 30 países diferentes. A Te- rapia Facada nos Esquemas propõe que a não satisfação de necessidades emocio- nais e de desenvolvimento, nos primeiros anos de vida do indivíduo, conduz à for- mação de c renças disfuncionais precoces, que constinrem o núcleo do autoconceito do suje ito. A existência dessas crenças, resistentes à mudança, bem como os pro- cessos de copti1g (esforços para lida r com www.ponalcicnciacvida.com.br Nas populações de menores em conflzto com a ;ustiça, pela fase de desenvolvimento em que se encontram, são os precursores da perturbação de personalzdade antissocial que se revelam prevalentes situações de danos) disfuncionais associa- dos às mesmas geram e mantêm a patolo- gia da personalidade. A terapia recorre a estratég ias cognitivas e comportamentais, mas também a de estratégias emocionais e relacionais para combater a influência des- sas crenças no funcionamento cognitivo e no comportamento elo indivíduo. É dada muita atenção à satisfàção de necessidades emocionais pelo próprio terapeuta, num estilo de intervenção conhecido como re- parentização limitada. Por ter se revelado muito eficaz no tratamento de perturba- ções severas da personalidade, principal- mente perturbação borde rl ine e a narcísi- ca, está se tornando bem conhecida como opção de tratamento para esses casos. A TERAPIA DO E sQuEr. IA INTEGRA co- NI IF:Cir.mNTos DERIVADOS DI~ OUTRO SISTEI\IAS TEÓRICOS, COMO A 1b~APIA COGNITIVI\ -COMPOI\.TAMENTAI., o CONS- TRUTI VISMO, A GESTALT-1ERAPIA, A Psi- Ct\ NÁ LISE, ENTRE OUTRAS. Q UA L DESSAS TERAPIAS CONSIDERA A 1\IAIS RELI~VANTE PI\R1\ TRI\IIALI IAR COM ESQUEI\11\S? R11o: Na verdade, a Terapia Focada nos Esquemas sofreu influência de movimen- tos como o Construtivismo em Psicote- rapia, influências do modo de intervir na Gestalt e, na teoria, incorpora conceitos que se assemelham a alguns conceitos psicanalíticos. Mas todas essas contri- buições foram incorporadas num mode- lo conceitual de matriz cognit iva. Isto é, o cérebro é visto como um processador ele informação e a experiência precoce fica codificada em estruturas de proces- samento de informação que se formam cedo na vida- os esquemas precoces mal -adaptativos. É esse modelo que permite avalia r e conceituar cada caso clínico. Já na in.tervenção, são também integradas técnicas oriundas de diversas tradições psicoterapêuticas, mas são usadas com a finalidade de combater os esquemas clisfuncionais do doente, de modo a que estes diminuam progressivamente a sua influência no processamento de infor- mação, nas reações emocionais e nas tendênc ias para a ação. Nesse sentido, a Terapia Focada nos Esquemas inclui um modelo conceitual específico e inovador e um conjunto de estratégias de interven- ção que, a inda que provenham de d iver- sas tradições psicoterapêuticas, são inte- gradas de modo a rticulado num estilo de intervenção específico desse modelo. psique ciéncia&vida 13 A ThRAPIA DO ESQUEI\ IA f.: INDICADA PARA QUAIS DIST ÚRBIOS 1\ IENTAtS? Rt.JO: A Terapia Focada nos Esquemas foi concebida para perturbações da persona- lidade e é nessas situações que tem sido mais estudada e onde está mais inten- samente comprovada a sua eficácia. No entanto, tem sido aplicada, também com sucesso, em outras perturbações, como as depressivas e transtornos de ansiedade. Trabalhos mais recentes e alguns ainda em curso definiram modalidades de in- tervenção em grupo e o modelo tem sido proposto para intervir com casais, com crianças e também em intervenções para doentes com problemáticas criminais (por exemplo, agressores conjugais). P oDEI\tos AFtRI\ tAR QUE A Tl~RAPLA DO E s- QUEMA ENSINA A PESSOA A PENSAR DE FOR- 1\IA i\IAIS POSITIVAE DESCONSIDERAR OOG- i\IAS SOCIAIS QUE PODEi\! NÃO SERV1R PARA DETERMINADA PESSOA? R11o: Mais do pensar de forma positiva, trata-se de corrigir distorções sistemáti- cas na forma como a pessoa interpreta a realidade e as suas experiências. Quando alguém possui esquemas disfuncionais precoces, seleciona parte da informação disponível numa dada situação e, muitas vezes, reti ra conclusões precipitadas dos acontecimentos e do comportamento dos outros em relação a si. A Terapia Focada nos Esquemas ensina a pensar de forma mais realista e com base na totalidade da informação disponível, ajudando o doente a não se dei.xar enganar pelos seus pró- prios esquemas mentais. Poderíamos dizer que a Terapia Focada nos Esquemas ensi- na os doentes a olharem de uma maneira inteiramente nova para situações que já conhecem, promovendo uma visão de si e dos outros mais realista e mais saudável. UM DOS OBJETIVOS DA TERAPIA É PROPORCIO - NAR O AUTOCONHECLMENTO. N A PRÁTICA, COMO SE CHEGA A ISSO? RttO: Uma parte inicial da intervenção é dedicada à identificação dos esquemas dis- funcionais precoces do doente. Para che- gar a esses mesmos esquemas, terapeuta 14 psique ciência&vida A reclusão é uma oportunidade para prom(JVer a mudança. Mas se nada for ftito corremos o risco de, em vez. de conduzir à mudança, a expen'ência da reclusão agravar fatores intrapsíquicos sub_jacentes a um comportamento agresszvo e criminal e doente colaboram um com o outro. São explo radas experiências nocivas precoces, padrões de funcionamento familiar, difi- culdades do doente nos primeiros anos de vida ... esse trabalho ajuda o doente não apenas a identificar os seus esquemas disfuncionais e a perceber de que modo eles distorcem a sua visão da realidade, mas também a compreender como eles se originaram na sua vida. Nesse sentido, a identificação dos esquemas, mas também das origens dos mesmos, ajuda o doente a se conhecer melhor para depois se libertar dessa forma distorcida de olhar para si e para os outros. E M MÉDIA, QUANTO TEMPO DEMORA UM T RATMIENTO COM ThRAPIA DO EsQUEI\<!A? Ruo: 1os doentes com patologia da per- sonalidade, a Psicoterapia dura habitual- mente entre um e dois anos, com sessões semanais que podem ser espaçadas quin- zenalmente à medida que a terapia avança. Em casos mais complicados podem ser ne- cessárias duas sessões semanais e mesmo apoio telefônico entre as sessões. Mas, em média, perturbações da personalidade são tratadas com sucesso. ao longo de pouco mais de um ano de terapia. COl\10 RELACIONA O CONCEITO DE lERAPIA DO EsQUEI\lA AOS N ÍVEIS DE PENSAl\ IENTO PROPOSTOS PELA ThRAPIA COGNITIVA-C OI\-1- PORTI\JV!ENTA L? Ruo: A Terapia Focada nos Esquemas pode ser encarada como um desenvol- vimento da terapia cognit iva clássica. O conceito de esquema d isftmcional, bem como as distorções cognitivas enquanto mecanismos ele manutenção dos esque- mas, já estão incluídos nas formulações ch1ssicas da terapia cognitiva. O modelo dos esquemas acrescentou uma taxonomia dos esquemas disfuncionais (que são 18 estruturas cognitivas resultantes de problemas em cinco domínios do desen- volvimento) e chamou a atenção para os processos esquemáticos de evitamento (não apenas comportamental, mas tam- bém evitamento cognitivo e emocional), bem como para a compensação esque- mática típica de algumas perturbações da personalidade (narcísica, por exemplo). Es- ses últimos conceitos teóricos não estavam anteriormente evidenciados nas terapias cognitivo-comportamentais. Mais recen- temente, na Terapia Focada nos Esque- mas, foi desenvolvida a teoria dos modos esquemáticos para melhor ajustar o mode- lo aos doentes com patologia da personali- dade do cluster B do DSM. Essa contribui- ção diferenciou mais o modelo das terapias cognitivo-comportamentais. ESSAS TERAPIAS (COGNIT IVO-COMPORTA- MENTAL, DO EsQUEMA E DA COMPAIXÃO), DE CERTA FORi\IA, NÃO CONSIDERAM A UTI- LIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS. M ESMO AS- SIM, EM SUA AVALIAÇÃO, EM DETERMINADOS CASOS É NECESSÁRJA A INTERVENÇÃO POR MEIO DE REI\ tÉDIOS? R11o: Q ualquer um desses modelos permi- te que seja implementada a terapia junta- mente com intervenções farmacológicas. Em casos mais graves (por exemplo, em perturbações borderline severas), a medi- cação pode ser muito úti l para estabilizar o humor dos doentes e permitir maior eficá- cia da Psicoterapia. Em geral, à medida que a terapia produz ganhos significativos, a medicação pode ser reduzida pelo psiquia- '"'"'v.ponalcicnciacvida.com.br A Terap1a Focada nos Esquemas tem s1do ut1hzada com sucesso em vános segmentos como em doentes com problemas cnm1na1s e agressores conJugaiS tra, de modo a que o doente aprenda a se regular sem necessidade de medicamentos químicos. No entanto, há casos que, pela sua gravidade, necessitarão sempre de apoio psicofarmacológico. Isso é decidido em função do caso e da severidade domes- mo, atendendo igualmente a resposta do doente à Psicoterapia (se melhora muito ou pouco). Deve ser uma decisão tomada em função de cada caso e não em função do modelo de intervenção psicoterapêutica. VOCÊ ATUA COM JOVENS QUE APRESENTAM PERTURBAÇÓES DE PERSONALIDADE E DE co~IPORTAt~ IENTO. SAo PESSOAS coNSIDE- RADAs DE DIFiCIL RELACIONMIENTO. COMO CONSEGUE "ENTRAR" NA CAI3EÇA DELES PARA AJUDÁ-LOS? Ruo: As dificuldades nos relacionamentos são parte da psicopatologia da personal i- dade. Conseguir ser capaz de encarar essas dificuldades, de não reagir aos estilos inter- pessoais dos doentes, fàz parte das com- petências de qualquer terapeuta que deseja trabalhar nessa área. A Terapia Focada na Compaixão ensina que a disfunção resulta sempre do sofi·imento, mesmo quando o estilo do doente contém algum grau de agressão a terceiros. Sem deixar de se proteger e de colocar limites bem defini- dos à relação terapêutica (o que será e o que não será permitido), os terapeutas são treinados para não reagirem emocional- ww,v.portalcicnci:ICvida.com.br No sistema de ;'ustiça ;uvenzl portuguêsJ é qforeetda uma breve intervenção ;unto à fomília dos agressores ;uvenisJ com o objetivo de apoiar e intenszjicar os eifõrços de mudança do JOvem. Essa intervenção é focultativa mente aos comportamentos interpessoais dos doentes. Essa competência fàz com que as di ficuldades rclacionais passem a ser menos evidentes na relação com o te- rapeuta, abre a porta para um acesso mais genuíno à pessoa e, dessa forma, suscita no terapeuta uma atitude compassiva para com o doente. O que pode incomodar é o comportamento da pessoa. Contudo, da pessoa em si, é fáci l nos aproximarmos se soubermos ter acesso ao verdadeiro Eu, ao Eu que sofre. Quando o terapeuta conse- gue se ligar a esse Eu genuíno (sem defe- sas, nem estratégias), está na posição certa para compreender c para ajudar. VOCÊ INTEGRA A EQUIPE 1\IETODOLÓGICA DO PROJETO REDE DE M EDir\DORES PARA O SUCESSO E SCOLAR, QUE JÁ RECUPEROU MAIS DE MIL ALUNOS EM P ORTUGAL. COMO FUNCIONA ESSA INICIATIVA? RIJO: Trata-se de um projeto pioneiro em nível mundial, porque, em resposta a um desafio do atual presidente da Repúbl ica de Portugal à sociedade civil, um nume- roso grupo de empresários formou a As- sociação dos Empresários pela Inclusão Social (EPIS), que fi nancia vários projetos de intervenção no país, com vista à pro- moção da inclusão sm.:ial de pessoas em risco. Um dos projetos mais ambiciosos foi precisamente a criação de uma Rede de Mediadores para o Sucesso Esco- lar. Os mediadores são, em sua maioria, psicólogos e professores especificamen- te t reinados e supervisionados por uma equipe metodológica (constituída por peritos de várias universidades portugue- sas), que desenvolveram um procedimen- to de sc!-eelllilg (triagem) para avaliação do risco de insucesso escolar. Essa equi- pe desenvolveu, também, um conjunto de metodologias de intervenção,visando resgatar os alunos em risco de insucesso para passarem a investir na instituição de ensino e alcançarem sucesso escolar. Os resultados desse programa têm sido muito positivos e o projeto foi internacio- nalmente reconhecido em nível europeu e pela Fundação Bill Clinton como uma boa prática no combate ao insucesso escolar. Portugal, apesar da acentuada melhoria das últimas décadas, apresenta ainda taxas de abandono e de insucesso escolar que são das mais elevadas na Co- munidade Europeia. Por isso, a associa- ção tem recebido respaldo da Presidên- cia da República, e os empresários que a financiam têm mantido esse esforço mesmo perante a atual crise econômica e financeira. Tem sido muito gratificante para todos nós o grau de sucesso dessa intervenção, mas também a extensão dos programas EPIS, que estão sendo aplica- dos aos alunos mais novos, provenientes de regiões carentes, e, também, aos alu- nos em abandono escolar. ~ psique ciência&vida 15 in foco por Michele Muller Benefícios cognitivos do S e quisermos alcança r melho- res resultados acadêmicos devemos inves tir ma is tempo em at ividades intelectu ais, certo? Essa é a lógica que molda o siste ma educacional atua l, provoca n- do o red irecionamento pa ra a sala de aul a do tempo - ou ao menos uma parte dele - que a ntes e ra dedicado a atividades lúdicas, ar t ís ticas e es- 16 psique ciência&vida ESPORTE AS VANTAGENS DAS ATIVIDADES FÍSICAS VÃO MUITO ALÉM DE QUEIMAR CALORIAS: NA INFÂNCIA, AJUDAM A DESENVOLVER AS FUNÇÕES EXECUTIVAS, CRUCIAIS PARA O SUCESSO DO APRENDIZADO portivas. Mas não es tá func iona ndo. Prova d isso está na qua ntidade cada vez ma ior de alunos desate ntos, im- pulsivos e ansiosos. O problema é que esse modelo está desconside- rando o fato de que o in telec to não se desenvolve sozinho: ele se forma juntamente - e ele mane ira interco- nectada - aos aspectos físico, social e emociona l ela cri ança. Desenvolver essas outras d imen- sões do ser humano não apenas ga- rante a formação de ind ivíduos felizes e saudáveis: é fundamental para o su- cesso da própria capacidade intelec- tual. Mais que receber informações, cria nças precisam aprender a contro- lar seus impulsos e sua atenção. Preci- sam d ividi r e esperar a vez elo outro; resolver con n itos sociais; lidar com www.ponalcicnciacvida.com.br fr ustrações e derrotas; sentir-se valo- rizadas c par te de uma equipe; prati- car o equilíbrio, coordenação motora e agi lidade física. Não é na carteira escolar que essas habil idades se de- senvolvem. É na quadra espor tiva, na sala de dança ou no tatame. Mu ito se fala ela importância do esporte para a saúde e vigor físico da c riança e como fo rma ele com bate à obesidade. Uma função releva nte, mas que não ga nha em importâ ncia dos tantos outros benefícios trazidos pelo esporte. A práti ca esportiva - especialmente das modalidades que exige m mais discip lin a e estratégia, como dança, artes marciais e j ogos em equ ipe- trabal ha várias habil ida- des que formam as chamadas funções executi vas, essenciais para a fo rma- ção ele um ind ivíduo bem-suced ido em todos os aspectos possíveis. São as últimas habilidades a amadurecer nas pessoas e também as primeiras a e nfraquecer quando envelh ecemos. Entre as funções executivas fun - damenta is estão a memória de traba- lho, que é a capacidade de ma nter as in fo rmações na mente para poder manipu lá- las ou reproduzi- las, e a flex/brlidade cogmtiva, que envolve a maneira c ria tiva de pensa r e ele so- lu cionar problemas. Outra fu nção executiva é o controle àúb/tóno, que é a autodi sciplina, a capacidade de contro lar as próprias emoções e ações; ele selec ionar o fo co, a aten- ção, de não ceder a tentações e não agir im pulsivamente. Quem convive com c rianças h iperativas e desaten- tas sabe o quanto essas habilidades são crucia is no desempenho soc ial e acaclêm i co ela criança. Aumentar o número de atividades intelectuais e forçar o alu no a se con- centra r no conteúdo acadêm ico são táticas que vêm se mostrando bastan- te fal has - basta observar o sa lto no número de crianças que acabam re- cebendo esti mu I a ntes para conseguir prestar atenção. Pouco é falado, infe- 'vww.portalcicnciacvida.com.br AUMENTAR O NÚMERO DE ATIVIDADES INTELECTUAIS E FORÇAR O ALUNO ASE CONCENTRAR NO CONTEÚDO SÃO TÁTICAS QUE VÊM SE MOSTRANDO BASTANTE FALHAS. O ESPORTE EXERCITA A AUTODISCIPLINA DE FORMA INTENSA E DIVERTIDA lizmente, do papel transformador que o esporte pode exercer na viela dessas crianças, exercitando a autodisciplina de forma in tensa e divertida, como nenhuma outra atividade exercita. A fa lta de autocontrole na infân- cia é um preclitor m aior de problemas no futuro que fatores como histó ri- co famili a r, coefi ciente de inteligên- cia (QI) e situação socioeconômica. Essa constatação foi feita em um es- tudo realizado ao lo ngo de 30 anos por pesquisadores de d iversas uni- versidades americanas e canadenses (Moffitt e t a i., 2011). Segundo o es tu- do, que ava liou mil indivíduos, aque- les que na infância apresentava m menos impulsividade e mais contro le sobre suas ações se transformaram em adultos ma is saudáveis e bem- -sucedidos profissionalmente, com menor chance ele sofrer com abu so de substâ ncias e obes idad e ou de se envolver e m crimes. Para comprovar a relação do espor- te com o desenvolvimento das funções executivas, pesquisadores da Univer- sidade da Geórgia, nos Estados Uni- dos, testaram 171 crianças sedentárias antes e depois ele um progra ma de 13 sema nas ele exercício fís ico. Foi con- fi rmado um aumento de atividade no córtex fronta l b ilatera l, associado às funções executivas, e uma melhora nos testes de inteligência, especialmente de raciocínio lógico (Davis, 2011). Diversas pesqui sas já haviam de- monstrado o papel elo esporte no desempenh o cogni tivo de adultos e crianças. Uma das explicações é o maior fluxo sanguín eo no córtex ce- rebral, favorecendo o aumento de sinapses e também o nascimento de novas células nervosas. A neurogêne- se- surg imento ele novos neurônios - ocorre especifica mente no hipocam- po, região responsável pela memória. Níveis excessivos e prolongados de estresse afeta m essa estrutura, que geralmen te se apresenta alterada em pessoas com depressão. Assim, além elos ganhos cognitivos e físicos, as ati- vidades esport ivas reduzem a chance de crianças e adultos sofrerem as con- sequências do estresse, como ansieda- de e depressão. O esporte, a dança, o circo e as brincadeiras existem há milênios, em todas as culturas, po r um bom moti- vo: cumprem uma importante função no desenvolvimento de diferentes ha- bi li dades que são inter-relacionadas e que suportam a formação intelectual. Assim, práticas que exerci tam a de- senvoltura física, promovem a inte- rativiclacle e exigem disciplina podem ser mais significativas no desempe- nho acadêmico que o aumento de ati- vidades voltadas para a aprendizagem de con teúdo. .., Michele Muller é jornalista corn especializaçc10 ern Neurociência Cognitiva e autora do blog http:/ /neurocienciasesaude.blogspot.corn.br psique ciência&vida 17 + psicopositiva por Lilian Graziano ...... EDUCAÇAO POSITIVA SE FOSSE IMPLEMENTADA, A EDUCAÇÃO POSITIVA TRARIA PROFUNDAS MUDANÇAS NOS PAPÉIS TANTO DA ESCOLA QUANTO DO PROFESSOR 18 psique ciência&vida S ímbolo de status, sacerdócio, mis- são. Muito já se falou sobre a pro- fissão do professor que, ao longo dos últimos cinquenta anos, tem sofrido grandes transformações. Filha de professora, consegui testemunhar um pouco do prestígio que cercava a profissão quando eu, ainda criança, ouvia meu pai dizer como se sentiu importante ao namo- rar uma então "normalista". Sim, esse era o nome que se dava às mocinhas que na época de mamãe faziam o curso Normal,que lhes conferia o cobiçado título de pro- fessoras. Papai também brincava que sua intenção teria sido a de "dar o golpe do baú". Isso porque naquela época professo- res ganhavam bem. Além disso - e talvez justamente por isso - , eram também res- peitados. Ou seria o contrário, em que a remuneração seria a consequência do res- peito? Creio que ambos. O fato é que a pró- pria educação foi se transformando. Seus meios, seus objetivos, sua importância. Quando aos 17 anos tornei-me, tam- bém eu, professora, cabia a esse profis- sional formar o caráter do aluno. Não em detrimento da família, é claro, mas como um importante agente formador. Sempre me espanto quando vejo a reação de meus alunos de MBA diante de uma cena de fil- me que utilizo como recurso didático para ilustrar um determinado tema. Nela um www.portalcicnciacvida.co m.br VALORES E CARÁTER FORAM SENDO ESQUECIDOS NO CAMINHO TORTUOSO DO VESTIBULAR. PASSAMOS A EDUCAR AS CRIANÇAS PARA QUE ENTREM EM BOAS FACULDADES SIMPLESMENTE PORQUE, AO CURSÁ-LAS, ELAS TERIAM MAIS CHANCES DE CONSEGUIR UM BOM EMPREGO professor idealista se dirige ao pai de um aluno problemático e diz ser sua função "moldar o caráter do menino". Na cena o pai fica revoltado, dizendo ser apenas dele (pai) essa função. Fico perplexa ao observar que nessa cena a grande maio- ria de meus alunos se identifica com o pai, achando que, de fato, a formação do caráter não seria papel da escola. Quando vi essa cena pela primei- ra vez, imediatamente me identifiquei com o professor, na medida em que penso exatamente como ele. Mas não podemos ser ingênuos. Com o passar dos anos, no entanto, o papel do pro- fessor foi se tornando cada vez mais conteudista. Valores e caráter foram sendo esquecidos no caminho tortuoso do vestibular e de um processo educa- cional cada vez mais voltado para o ter. E cada vez mais distante do ser. Passamos a educar nossas crianças para que entrem em boas faculdades pura e simplesmente porque, ao cursá- -las, elas teriam mais chances de conse- guir um bom emprego (leia-se um bom salário) num processo educacional com- pleto e exclusivamente voltado para que se tenha mais, se compre mais e se dis- tancie mais do que poderíamos chamar de nossa essência humana. Hoje percebo, com tristeza, que o ofício de ensinar tem formado indiví- duos desconhecidos de si mesmos. O que me leva a refletir sobre qual seria o papel do professor no que poderíamos chamar de Educação Positiva, ou seja, numa educação que se fundamentasse exclusivamente nos preceitos da Psico- logia Positiva. Em primeiro lugar, seria uma edu- cação para a felicidade, na qual a edu- cação das emoções seria tão importan- te quanto o estudo das letras. Contudo, a coisa não seria tão simples. Uma edu- cação baseada na Psicologia Positiva deveria promover o florescimento hu- mano, ou seja, o desenvolvimento da criança em todo o seu potencial. E é aí que a mágica aconteceria. A promoção de uma educação voltada ao floresci- mento exige autoconsciência. Uma autoconsciência que permitisse, antes de tudo, o conhecimento da criança em relação a tudo o que de melhor ela teria a oferecer ao mundo. Nesse ce- nário, o papel do professor, mero de- positante numa educação bancária, se transformaria radicalmente, passando a ser o de um provocador que, por fa- zer as perguntas certas, por olhar para o fundo da alma de cada criança, seria capaz de reconduzi-la em direção à sua própria essência. A Educação Positiva promoveria também as virtudes, ocupando-se da ca- pital importância da formação do caráter. Nesse mundo talvez o professor recupe- rasse seu valor, seu status e talvez, até, quem sabe, seu verdadeiro propósito. '1P Ulian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP. com curso de extensao em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA hstitute on Character. EUA !: professora universitc1ria e diretora do hstituto de Psicologia Positiva e Comportamento. onde oferece atendimento clfnico. consultoria empresarial e cursos na .Yea. graziano@psicologiapositiva.com.br \VWw.portalcicnciacvida.com.br E L VIS .PARI. ~slMRRE·~·J ··~ •. : i··~~-~ Um livro repleto de imagens raras e marcantes da carreira do maior astro do rocl<' n 'rol I de todos os tempos. Nas livra rias! •••••••••••••••••••••••• Lafonte www.editoralafonte.com.br facebook.com/edlafonte ~~ psicopedagogia ~ por Maria lrene Maluf Estratégias MENTAIS para o desenvolvimento NOSSO CÉREBRO PRECISA DE ESTÍMULOS PARA CRESCER E SE AUTORRENOVAR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM, OTIMIZANDO SUAS POTENCIALIDADES A PARTIR DAS TROCAS COM O MEIO E NA AQUISIÇÃO DE NOVOS CONHECIMENTOS T odo bebê humano ainda que nascido a termo e sem problemas no seu neurode- senvolvimento, e, mesmo possuindo, ao vi r ao mundo, o cérebro praticamente formado, precisa de cer- ca de duas décadas de vida para que este exerça plenamente todas as suas funções. A razão, embora complexa, é simples de se explicar basicamente: os neurônios, para crescerem e for- marem sinapses, não prescindem das experiências e trocas com o mundo externo, que acontecem até mesmo quando a criança está dormindo. Assim, nascer com excelentes con- dições genéticas e gestacionais, em meio a um parto bem-sucedido, não basta para garantir um bom padrão cogn itivo. O ser humano vem ao mun- do, não dispensando o contato, as tro- cas constantes com o meio ambiente, para sobreviver e se desenvolver. Essas experiências vão promover alterações estruturais e funcionais no cé- rebro, por meio de milhões de conexões sinápticas, que, ao serem reforçadas, con- tribuem para o aparecimento e incremen- to pleno de todas as funções cognitivas. 20 psique ciência&vida Nos primeiros seis anos de vida, esse processo ocorre mais intensamen- te c pode ser afetado por diversos fa to- res, e por isso tal período é dos mais importantes para garantir o sucesso das etapas posteriores de desenvolvi- mento neurológico e da qualidade da aprendizagem da criança. Ao longo do desenvolvimento, as áreas do cérebro não maturam ao mes- mo tempo. Por exemplo, a percepção auditiva tem início durante a gestação e continua se desenvolvendo após o nascimento. Mas as áreas do cérebro envolvidas na memória declarativa ("as lembranças") e a visão, ao con- trário, não estão maduras no recém- -nascido: apenas a devida recepção e a troca de informações entre o meio ambiente e os diferentes centros ner- vosos garantem seu aperfeiçoamento. Ao longo do primeiro ano de vida , o crescimento ela substância cinzenta, que forma o córtex cerebral, é surpre- endente, quase triplica e os hemisférios cerebrais aumentam em quase 100%. Para agilizar esse crescimento, ocorre a mielinização, um processo que gera uma cobertura sobre os feixes nervo- sos e assegura que o impulso nervoso seja captado e transmitido devidamen- te e com segurança. A primeira área mielinizada no lobo frontal do cérebro é a área motora primári a, que permi te a execução de movimentos voluntários, sem muita elaboração. Seguida mente acontece a maturação da área pré-motora, no córtex pré-frontal, i ncl ispensável no planejamento do movimento (Kolb; Whishaw, 2002). A forma de movi- mentação dos bebês, que se t ransforma tão abcrrantemente, nos mostra bem essa evolução. Linguagem, atenção e memória se desenvolvem juntas. A li nguagem é que permite que a criança organize seu pensa mento, se comun ique e interaja com o conhecimento, enquanto a me- mória fixa a nível sináptico e permite trazer ã tona seus conteúdos, por meio da fa la. O aparecimento da linguagem depende de processos complexos: as áreas encarregadas de fazer aconte- cer essa incrível capacid ade humana são as chamadas áreas de Wernick e de Broca. A primeira é responsável pelo desenvolvimento da linguagem e é a área de compreensão da fala. Fica localizada no lobo temporal (área da aud ição). Ligada funcionalmente a essa área, está a área motorada fa la ou área de Broca (lobo frontal esquerdo). Mas é na região anterior do cérebro (lobos frontais) que acontecem o pla- nejamento, organização e execução do movimento e a aprend izagem motora. A região pré-frontal, sede elas www.portalc ienciacvida.com.br Funções Executivas, é responsável pela nossa capacidade de planejar, or- ganizar, persistir no funcionamento cognitivo e desenvolver o comporta- mento social. É a região que permite a consciência do eu, a subjetividade, os valores, as motivações, ou seja, é a á rea mais humana do cérebro (Gold- berg, 2002). Talvez por esses atributos, essa seja a região que tem a maturação mais lenta, sendo que a mielinização completa só acontece por volta dos 18 ou 20 anos de idade. Em meio a esse complexo cresci- mento, surgem as questões, as dúvidas sobre a melhor época da alfabetização de nossas crianças. A Neurociência comprova que o cérebro precisa dos primeiros 5 ou 6 anos de vida para ha- ver um amadurecimento neurológico suficiente para tal aprendizado. As funções corticais que se de- senvolvem ao longo desses primeiros anos de vida são fundamentais para o adequado desempenho infantil no aprendizado escolar de muitos anos e www.ponalcicnciacvidacom.br A NEUROCIÊNCIA COMPROVA QUE O CÉREBRO PRECISA DOS PRIMEIROS 5 OU 6 ANOS DE VIDA PARA ALCANÇAR O NÍVEL DE AMADURECIMENTO NEUROLÓGICO IDEAL PARA A ALFABETIZAÇÃO complexidade crescente. Corresponde a uma época marcada por mudanças neurológicas e emocionais enormes, e representa a hora mais adequada para que processos de estimulação especí- fica na aquisição da leitura, escrita e matemática sejam implementados, permitindo, assim também, quando necessário, medidas profiláticas que favoreçam um desenvolvimento mais saudável e mais adaptativo daquelas que eventualmente apresentem dificul- dades ou problemas de aprendizagem. Somos os mais dependentes entre todos os filhotes e o animal que mais demora a se tornar apto a enfrentar au- tonomamente o mundo: somos de uma fragilidade impressionante ao nascer, e ao crescermos dependemos das es- tratégias mentais que desenvolvemos, para nos defender. E por toda a vida precisamos esti- mular nosso cérebro, para continuar- mos independentes! -. Maria !rene Maluf é especialista em Psicopedagogia. Educaçclo Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associaçclo Brasileira de Psicopedagogia- ABPp (gestclo 2005/07). t editora da revista Psteopedagogia da ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especializaçclo em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br psique ciénci:t&vida 2 1 / l • ANSIEDADE POTENCIALIZADA Várias patologias relacionadas ao estresse, fobia e ansiedade tornam-se perigosamente comuns ao nosso cotidiano. O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) afeta pessoas de todas as idades e pode passar despercebido por décadas Por Luis Gustavo Buzian Brasil á uma crescente de- manda de pacientes que sofrem de sinto- mas de estresse, ansie- dade e fobias, que são diagnosticados com transtorno de ansie- dade generalizada, uma patologia ainda recente e que começou a ser difundida há pouco tempo. Existe dificuldade em fazer o seu diagnóstico, até porque pode estar associado a outras síndromes como a do pânico e gerar interferência na quali- dade de vida e no comportamento. O fato é que a ansiedade e o medo são elementos emocionais muito atribuí- dos à vida moderna e são de grande valor adaptativo, mesmo sendo experimen- tados como desconfortáveis na maior parte das vezes. Estas são condições que podem ser interpretadas como benéficas e necessárias no dia a dia, pois existe uma relação direta entre seus níveis de ma- nifestação e os resultados, desempenho e eficiência das atividades que executa- mos em nossas vidas normais. Porém, quando esses níveis ultrapassam um de- terminado limiar, ocorrem prejuízos no funcionamento social, o que caracteriza um transtorno. A novidade nesse campo são os estu- dos sobre o transtorno de ansiedade ge- neralizada (TAG) em que sua principal característica é a preocupação excessiva. É normal nos senti rmos preocupados em determinados momentos, porém, nesses casos, a ansiedade funciona como um si- nal que prepara a pessoa para enfrentar o desafio e, mesmo que ele não seja su- perado, favorece sua adaptação às novas condições de vida. Modelos biológicos Os principais modelos biológicos para o TAG são baseados na hipó- tese de que a ansiedade faz parte de um conjunto de comportam entos de defe- sa ligados à reação a ameaças externas e internas, mecanismos os quais estão presentes em outras espécies animais e preservados ao longo do processo evolu- tivo. Dessa forma, quando a ansiedade é intensa, persistente e desproporcional às possíveis causas aparentes, interferindo de maneira bem significativa no funcio- Luis Gustavo Buzian Brasil é médico psiquiatra da Clrnica Maia em Sao Paulo. formado pela Faculdade de Medicina do ABC e pós-graduado em Psiquiatria pelo Instituto de Pesquisa e Ensino Médico - lpemed-SP. Contato: www.clinicamaia.com.br W\\1\v.portalcicnciacvida.com.br namento do indivíduo, ela passa a ser considerada como uma patologia e deve- rá ser alvo de intervenção terapêutica. A preocupação sentida pelas pessoas que sofrem de transtorno de ansiedade generalizada encontra-se claramente fora de proporção em relação à probabilidade real ou impacto do evento temido. Inde- pendentemente do foco da preocupação, esse sentimento temeroso muitas vezes é acompanhado por sintomas, tais como: inquietação, fadiga, irritabilidade, difi- culdade de concentração, tensão mus- cular, dores de cabeça, micção frequen- te, dificuldade em degluti r, sensação de "nó na garganta" e distúrbios do sono. Pessoas que apresentam diagnóstico de T AG procuram, como consequência, esquivar-se das situações. Tratamento O tratamento do TAG inclui o uso de medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos, sempre com orientação médica, e a terapia comportamental cognitiva. O tratamento farmacológico geralmente precisa ser mantido por pelo menos 24 semanas após o desapareci- mento dos sintomas e deve ser descon- tinuado em doses decrescentes, quando necessário. Costumam-se obter bons resultados com os inibidores seletivos da psique ciência&vida 23 ~ SÍNDROME recaptação de serotonina (ISRS) - esci- talopram, fluvoxamina, sertralina, pa- roxetina - e os inibidores da recaptação da serotonina e noradrenalina ou duais (IRSN) - venlafaxina, duloxetina - na abordagem da remissão dos sintomas do TAG. Benzodiazepínicos - broma- zepam, alprazolam, lorazepam, clona- zepam, diazepam - são frequentemente utilizados no tratamento dos transtornos ansiosos, e estudos demonstram melho- ra dos sintomas do TAG, principalmente em situações de desempenho, porém o risco de abuso e dependência, bem como os efeitos colaterais dos BZD, impede seu uso prolongado (fase de manutenção). Algumas consequências A síndrome do pânico pode ser uma das consequências do TAG, pois essa síndrome é um tipo de transtorno de ansiedade, na qual ocorrem episódios inesperados de desespero e medo inten- so de que algo ruim possa vir a aconte- cer, mesmo que não haja motivo algum para isso ou sinais de perigo iminen- te. Ocorre uma desregulação química na transmissão de receptores químicos neuronais, havendo falha na interpre- tação das sensações do próprio corpo, quando são percebidos erroneamente como sinais de grande perigo. _______ ___,~.., RA SABER MAIS COMO IDENTIFICAR? Aprincipal diferença entre uma simples ansiedade (normal) e uma ansiedade patológica encontra-se nos seguintes fatores: · Intensidade e duração das manifestações: · Grau de limitação provocado: · Proporcionalidade entre o evento desencadeante e a reação do indivíduo. Características do ataque de pânico · Falta de ar e/ou sensação de asfixia e sufocamento: · Vertigem. sensaçãode desmaio ou instabilidade em manter-se numa mesma posição: · Palpitações/taquicardia: · Tremores musculares. suor excessivo. ondas de calor ou frio: · Medo de morrer: · Medo de enlouquecer e perder o controle: · Desrealização (sensação de que o ambiente familiar está estranho): · Despersonalização (sensação de estranheza quanto a si mesmo). Os ataques de pânico são períodos de medo, apreensão ou desconforto in- tensos que surgem inesperadamente, ca- racterísticos da sindrome, e geralmente ocorrem de repente, sem aviso prévio, em qualquer período do dia ou em qual- quer situação, como enquanto a pessoa está dirigindo, fazendo compras no shop- ping, em meio a uma reunião de trabalho ou até mesmo dormindo. Por apresentar muitos sintomas somáticos, a matona dos pacientes que sofrem da síndrome do pânico acaba passando por atendimentos médicos de diversas especialidades antes de chegar ao psiquiatra. O transtorno do pânico constitui problema de saúde pública. É incapa- citante, levando ao comprometimento da capacidade laborativa e à redução da qualidade de vida. Pacientes portadores da síndrome, devido ao desespero extre- mo, correm grande risco de cometerem suicídio. Síndromes associadas Modelos biológicos para o TAG baseiam-se na hipótese de que a ansiedade estâ ligada ao comportamento de defesa às ameaças externas e internas. mecanismos presentes em outras espécies animais e preservados ao longo do processo evolutivo Com o TAG instaurado no paciente, muitos sintomas são apresentados e um deles pode estar relacionado à sín- drome do pânico, mas para que ela seja caracterizada, é necessário que os ata- ques sejam frequentes ao indivíduo e não ocorram apenas de forma isolada. O pico das crises de pânico geralmente dura cer- ca de 10 a 20 minutos, mas pode variar, dependendo da pessoa e da intensidade do ataque. Além disso, alguns sinto- m as podem continuar por uma hora ou mais. Diversas vezes um ataque de pâni- co pode ser confundido com um ataque 24 psique ciência&vida '""''v.ponalcienciaevida.com.br cardíaco pelas pessoas que apresentam tais sensações. Sensação de sufocamento e dificuldade de respirar que surgem sem motivo aparente também são caracterís- ticas típicas da síndrome, assim como náuseas, parestesias (anestesia ou sensa- ções de formigamento). O tratamento da síndrome do pâ- nico consiste em reduzir o número de crises, bem como sua intensidade. As duas principais formas de tratamento envolvem psicoterapia e medicamen- tos. Ambas têm se mostrado bastante eficientes, sendo que a combinação dos dois tipos de tratamento parece ser ainda mais eficaz do que um ou outro operan- do isoladamente. O tratamento à base de medicamentos inclui antidepressivos, como os inibidores seletivos da recapta- • Atinge a todos • Em relaç~o à frequência do TAG na popula- çoo. estudos apontam que parece n~ ex1st1r prevalênCia entre os gêneros. diferentemente de outros transtornos de ansiedade. como fob1as especificas. ma1s frequentes em mu- lheres. Sobre as características. ambos os se- xos se preocupam excessivamente com Clr- cunst~nCias cotld1anas e rot1ne1ras. ta1s como responsabilidades no trabalho. finanças. saú- de e segurança dos membros da família ou questões menores. como tarefas domésticas. consertos no automóvel ou atrasos a com- promissos. Também podem apresentar medo acentuado e persistente de s1tuaçóes soc1a1s nas qua1s possam ser expostos a posSive1s avahaçóes por parte de outras pessoas. Essas s1tuaçóes 1ncluem comer. falar ou escrever na frente dos outros e conversar com estranhos ou autondades. Crianças com TAG tendem a ex1b1r preocupaç~o excess1va com sua com- petência. a qualidade de seu desempenho ou poss1b1hdade de sofrerem bully1ng (podendo ser verbal ou fis1co) e Julgamento de colegas de seu conv1v1o d1áno. www.portalcicnciacvida.com.br A sindrome do p~mco pode ser uma das consequênc1as do TAG. po1s essa slndrome é um tipo de transtorno de ans1edade. na qual ocorrem ep1sod1os Inesperados de desespero e medo 1ntenso Por apresentar muitos sintomas somáticos, a maioria dos pacientes que sofre da síndrome do p~nico acaba passando por atendimentos médicos de diversas especialidades antes de chegar ao psiquiatra ção da serotonina, como a paroxetina, sertralina, fluvoxamina, escitalopram ou citalopram. Benzodiazepínicos também podem ser prescritos pelos médicos, por um período limitado, devido ao risco de desenvolver sintomas de dependência. Com essa classe medicamentosa, o efeito ansiolítico começa quase imediatamente após a ingestão oral. A terapia cognitivo- -comportamental para o transtorno do pânico engloba componentes de psico- educação, reestruturação cognitiva e in- tervenções comportamentais. C9mplexo prognóstico Enotória a dificuldade de distinção entre um possível cansaço e uma patologia instalada. Por conta da falta de informação e con hecimento por parte da população a respeito do TAG, a maioria dos pacientes chega ao tratamento sem conseguir identificar o momento em que os sintomas começaram e acredita REFERt.NCIAS conviver com eles durante toda a vida. A grande preocupação é que a ansieda- de é comum para a maioria das pessoas que lida com estresses e fadiga todos os dias. O acúmulo de informações, tarefas e atividades é potencial causador de an- siedade, mas ela só é considerada como um distúrbio patológico quando tem ex- trema intensidade e duração, diminuin- do a qualidade de vida e interferindo nas atividades diárias. A complexidade do prognóstico deve-se ao fato de que, ge- ralmente, os sintomas só são percebidos quando já estão em estado patológico e trazendo sérios prejuízos sociais ao su- jeito. A relação com outras patologias associadas também dificulta o diagnósti- co claro. Este ar tigo teve como objetivo esclarecer alguns fatores e alertar para a necessidade de um olhar humanista para a qualidade de vida da sociedade moder- na para que não sejamos representantes de uma população doente. ~ SALUM. G. A; BLAYA. C MN'JFRO. G. G. Transtorno do p.lnico. Disponível em www.sCielo.br/pdf/rprslv31n2a02 MARGIS. R. et ai. Relaçdc> entre estressares. estresse e ansiedade. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul. v. 25. s. 1. Porto Ale8re. abril 2003. BALLONE G. J. Tratamento da ansiedade. PsqWeb. 1ntemet. disponível em wwwpSIQWebmed tx rev1sto em 2007. MIGUR. E C GENTIL. V; GATIAZ. W. F. Clínica Psiquiátrica. BERNIK. M. Re!ev<lncld médiCo-social do transtorno de ~ICO. Revista Psiquiatria Clínica v. 28. n. 1. p. 5-8. 2001. psique ciência&vida SllJTIERSlOCK , •• .é POSSIVEL? Pessoas com deficiência cognitiva ainda têm dificuldades em encontrar estratégias desenvolvidas em universidades que possam viabilizar a verdadeira inclusão, principalmente no sentido de absorver conteúdos acadêmicos P edro é um rapaz de 20 anos de idade. Sempre fora esportista e há dois anos prestou vestibular e foi inserido em uma renomada universidade. Entretan- to, há cerca de um ano, um grave aci- dente automobilístico mudou totalmente sua vida. Pedro teve um traumatismo cranioencefálico. O traumat ismo cranioencefálico é uma lesão no cére- bro, não de natureza genética ou degenerativa, mas causada por uma agressão externa. Constitui um grande problema na sociedade atual, uma vez que, em sua maioria, atinge jovens em idade produtiva, e como poderemos ver devido, também, aos compro- metimentos cognitivos, sociais e emocionais na vida do paciente que sofre tal dano. Os estudos divulgados em 2010 e 2013 pela Orga- nização Mundial da Saúde são assustadores, indicati- vos de uma situação mundial muito crítica no trânsito. No ano de 2010, aconteceram 1,24 milhão de mortes por acidente de trânsito em 182 países do mundo. De acordo com dados da Associação Brasileira de Prevenção a Acidentes de Trânsito, em São Paulo, de cada dez vítimas de paralisia quatro se envolveram em acidentes de trânsito. As batidas de motos, de
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